"They are all I need to please me, they can stimulate and tease me, they won't leave in the night..."
A madrugada era congelante no inverno. Os aquecedores estavam ligados, mas não mudava muito. Sentei na beirada da cama e olhei para a direção da janela. Vi um vulto. Quem era? Mamãe estava no quarto dela, meu pai e meu irmão tinham viajado. Era uma rua quase deserta - pacata e de família - os vizinhos eram todos amigos então se sabia que à noite eles não estariam rodando pelo meio do escuro. Eu precisava ver o que se passava lá fora. Levantei da cama, coloquei minhas pantufas azuis e um casaco comprido que estava pendurado no cabideiro e desci as escadas em direção à porta de saída. Estava trancada e as chaves não estavam por ali. Não era de bom tom acordar minha mãe a essa hora por simples curiosidade, mas fui checar se ela estava mesmo dormindo. Subi novamente aqueles degraus que insistiam em ranger e abri uma frecha da porta do quarto dela. Onde ela estava? Meu coração pulou. A janela estava escancarada e as cortinas batiam com o vento forte, o frio entrava por lá e congelei ali. Algo estava acontecendo.
"I've no fear that they might desert me..."
Minha mãe não pularia pela janela nem em um milhão de anos, era mais provável que eu pulasse para de encontro com meu príncipe encantado. "Que besteira..." pensei por um momento. Fui me aproximando lentamente da janela do quarto dela e olhei para baixo. Havia uma caminhonete.
- QUEM ESTÁ AI? - gritei o mais alto que pude e pareceu não ter sido o suficiente.
O vulto correu novamente. Peguei as chaves reservas na gaveta da minha mãe e desci as escadas com toda a velocidade possível. Ouvi um barulho. "A CAMINHONETE!", abri a porta gritando novamente. Tarde demais. A pessoa saiu em disparada atropelando um dos canteiros de flores da mamãe. Não pode ser... Olhei para os dois lados dos jardins e não vi nada. O que estava fazendo aquela pessoa não identificável ali? E onde estava minha mãe? O telefone tocou lá dentro. Corri para atender antes que parasse. Talvez fosse alguma notícia.
- A-alô? - atendi ofegante.
- Não adianta correr já está tarde demais pra isso...
- QUEM TÁ FALANDO? - gritei, interrompendo quem quer que fosse.
- Tome cuidado. Preste mais atenção ao seu redor.
- Socorro... - murmurei quase desfalecendo, deixei que algumas lágrimas caissem pelo meu rosto ainda quente - O que tá acontecendo? ONDE TÁ MINHA MÃE?
Fim de ligação. Ouvi apenas um acorde de guitarra no fundo, mas achei que estivesse ficando louca. Mais louca ainda. Sou mais esperta que isso... Temos identificador de chamadas. Peguei o telefone e fui identificar o número da ligação: Restrito.
"Hold one up and then caress it, touch it, stroke it and undress it..."
Sentei no sofá vermelho de couro e vi que já era impossível conter o choro. Cada lágrima que caia era como um soco na cara. Eu estava parada enquanto alguma coisa estava acontecendo. E o pior: eu não podia fazer nada. Era difícil me ver naquela situação. Estava tarde demais para telefonar para qualquer pessoa. já devia estar dormindo. é minha melhor amiga e mora a poucas quadras daqui, ela poderia vir aqui facilmente se eu telefonasse, mas não tive coragem de perturbar. Alguns minutos se arrastaram... Obviamente eu não conseguiria pegar no sono novamente. Mais alguns minutos de silêncio e resolvi ligar a televisão.
"...etes persas pelo menor preço do atacado! Compre agora e receba grátis esse super manual de como manter seu tapete para el..."
Tip...
"- Eu sei o que você é... Vampiro!"
Tip...
Tip...
A televisão começou a falhar. Só me faltava essa. Levantei para ver se era alguma coisa com o fio do aparelho. Entrei atrás do móvel da sala e me abaixei para arrumar os fios. A luz da sala piscou. Olhei para a janela e estava nevando. Devia ser isso... Normalmente os sinais dão problema com a nevasca. Normal. Sentei novamente no sofá e deixei a televisão desligada. Olhava para os lados espantada com qualquer movimento que o vento provocasse. Vigiei a janela e a nevasca continuava lá me perturbando ainda mais. E o tempo demorava a passar... No relógio mostravam três e quarenta da madrugada. Que sono... Tentei me encostar no sofá e cochilar um pouco, mas imagens assustadoras perturbavam a minha paz e eu abria os olhos arregalados de espanto. Subi até o meu quarto para pegar meu celular e ver se alguém ainda estava online. Ah! Essas escadas insuportáveis que não param de ranger. Me sinto num filme de terror dentro dessa casa. E vai ver era mesmo... Peguei meu celular que estava sobre a bancada do computador no meu quarto e sentei no puff enorme que ficava no canto do quarto. estava offline. E todos os outros amigos também. Ninguém que importava estava ali. Entrei num blog que eu gostava para ver as novidades e me distrair um pouco, mas fui interrompida bruscamente pelo toque da campainha e desci correndo as escadas. Uma pontada de medo de abrir a porta de casa essa hora. Olhei pelo olho-mágico e não vi ninguém. Estranho. Tirei a corrente de trava e abri a porta. Aquilo era um pesadelo. Não era realidade. Não podia ser. Eu queria morrer ali mesmo. Minhas lágrimas caiam com força e derretia a neve das minhas botas. Minha vontade era pegar uma faca e enfiar no meu peito ali mesmo. Doeria muito menos. Nada nem ninguém conseguiria entender ou me ajudar. Nem eu entendia. Quem? Por quê?
- CACHOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORRO! Apareça! QUEM QUER QUE SEJA, APAREÇA... Apare... - minha voz começou a falhar por causa do frio e minhas lágrimas escorriam cada vez mais, tornando minha visão quase impossível.
Meu coração estava pesando. Eu estava estática. Não sabia o que fazer. A neve caia sobre o sangue escorrido no chão. Abaixei e chorei junto ao corpo gélido. Minha mãe estava morta.
"I can see ev'ry part, nothing hides in the heart to hurt me..."
Fiquei abaixada junto ao corpo sem conseguir me mover, eu chorava desesperadamente. Havia uma marca no pulso dela, não consegui identificar o que era. Precisava ligar para a polícia, para qualquer um que fosse, mas não conseguia me mover. Pelo frio e pela dor. Peguei meu celular no bolso e mandei uma sms para a dizendo que ela precisava vir para a minha casa imediatamente e que ligasse para a polícia o mais rápido possível porque eu não conseguiria falar ao telefone com ninguém.
[Flashback on]
- Filha, eu e seu pai escolhemos esse juntos. Quero que você aproveite essa fase da sua vida... Seus 15 anos. Quando passar você vai ver como foi a melhor!
E ela me entregou uma pequena caixinha preta com um anel dentro. Abri a caixa em desespero para ver o que era. Lembro que me encantei na hora por aquele brilho. Um pequeno diamante. Meus olhos brilhavam tanto quanto ele. Me virei para ela e abracei.
- Obrigada. Amo vocês.
[Flashback off]
Meus dedos estavam congelando. Olhei para eles, que já estavam pálidos, e apertei meu anel. Ele estava sempre comigo. Sempre tive uma amor especial por aquele anel, me trazia lembranças bonitas. Vi o sangue seco pelo chão e comecei a chorar de novo. Aquilo era tão horrível. chegou de bicicleta, jogou-a na grama e veio correndo na minha direção quando percebeu.
- ... - ela se jogou ao meu lado, me abraçando fortemente.
pegou o meu celular e ligou para a polícia explicando a cena que ela acabara de ver ali. Eles chegaram em alguns minutos. Quatro e cinquenta e sete da madrugada. Pediram que eu e ela saíssemos. Chorando e abraçada com ela, subimos para o meu quarto. Ela estava solidária a mim, via a minha tristeza refletida no olhar dela. Nenhuma palavra adiantaria bem para consolo naquele momento e ela sabia disso. Nos sentamos no tapete do meu quarto e me estiquei para o lado, ligando o amplificador de som. Liguei no aleatório e ficamos deitadas ali ouvindo as músicas enquanto eu encarava fixamente o teto.
- , vou ali na varanda ligar pra casa e avisar que vou dormir aqui. É melhor você tentar descansar, amanhã é nossa prova final de biologia.
A prova de biologia! Eu nem lembrava disso, era tão pequeno comparado a tudo que eu estava pensando, mas eu precisava passar em biologia para conseguir entrar no grupo do grêmio no ano seguinte. foi na varanda do meu quarto, pude ver que enquanto falava com a mãe ao telefone ela olhava eventualmente para o local onde estavam os policiais. Eles acenaram para ela pedindo que alguém descesse para dar algumas informações. Ela desligou o telefone, deixou-o sobre a cama e me avisou que desceria:
- Fique ai, deixa que eu vou, é melhor.
- Obrigada...
Enquanto ela resolvia as coisas por mim, tentei relaxar o corpo para não destruir ainda mais minha vida indo mal também na escola. Comecei a pensar que se aquilo tinha acontecido, não poderia voltar atrás, eu precisava superar e seguir em frente, mas algumas perguntas não saiam da minha cabeça. E quem tinha me ligado? Quem fez aquilo? Por que? Como? Era doloroso. voltou e disse que eles apenas pediram um contato do meu pai. Eles já tinham ido embora, ela tratou de trancar a casa. Abri o colchão extra da cama para que ela dormisse e puxei uma das almofadas da minha cama para dormir ali no tapete mesmo. "Dormir". Às oito horas precisávamos estar na escola, eram cinco e meia. Ficamos em silêncio. E depois de longos minutos, conseguimos cochilar de leve.
"I don't need love, for what good will love do me?"
Acordamos e nos arrumamos bem rápido. Peguei minha mochila e joguei o celular dentro. Descemos para pegar o ônibus da escola.
- Bosta! Tô caindo de sono...
- Te pego um café, pode ser? - pegou a chave da minha mão e entrou correndo para colocar um pouco de café na garrafa térmica para mim. Eu não podia pedir uma amiga melhor que ela.
Sentamos no banco do jardim e eu não parava de olhar para a porta.
- , isso é masoquismo! Vamos esperar o ônibus lá na esquina da frente. - ela me puxou e eu continuei andando e olhando para trás. Nada me faria parar de pensar em tudo que tinha acontecido.
Novamente a voz do telefone me assombrava. Voltava a pensar no que ele tinha dito. Bem, parecia voz de um homem... Quem poderia ser capaz de fazer aquilo? Seria a mesma pessoa que ligou minutos depois? O ônibus passou logo e fomos o caminho ouvindo Nirvana no mesmo fone. Era bom ter tantas coisas em comum com ela, principalmente quanto ao gosto musical. Eu não sabia como seria fazer aquela prova hoje... Quando chegamos na escola, olhei ao meu redor e vi toda aquela gente feliz e sorridente e... Arg! Encarei meu anel nos dedos congelados de frio e coloquei a mão no peito apertando o anel. Como se eu pudesse sentir minha mãe comigo.
- Fala, , beleza, então, eu tava pensando... - se aproximou de mim, gelei ainda mais.
- Na boa, cara, não tô pra papo hoje. - cortei
- Só queria perguntar se você não quer ir no boliche com a gente depois da aula. - ele parecia gentil, e vou confessar que eu ainda sentia algo por ele.
- , acho que você tem que ir sim. Se distrair e tal... - se intrometeu
- Tudo bem. A gente se vê lá. - sorri pequeno e segui para o laboratório de biologia.
me acompanhou e começou a apertar meu braço:
- Ei, ei! Você ainda é afim dele, não é? Dá uma chance...
- Sou, mas não fala nisso que me dá até nojo. Odeio romancinho de escola. Acho clichê.
- Oh, , você gosta dele, sempre gostou. E tá na hora de se animar com alguma coisa... - ela disse se afastando enquanto acenava e entrava na sala ao lado para falar com o pessoal do grupo de culinária dela.
Enquanto o professor não chegava para aplicar a minha prova, fiquei sentada e apoiada sobre a minha bancada. As bancadas eram para duplas. Minha dupla era ninguém mais, ninguém menos que... . Ele ainda não tinha chegado na sala. Comecei a pensar onde estariam meu pai e meu irmão, e se a essa hora já sabiam do ocorrido. Meus pensamentos foram interrompidos por um perfume delicioso. .
- Ei, beleza? Tá pronta pra prova? - ele deu um sorriso enquanto me cumprimentava.
- Tô indo... - sorri pequeno novamente.
- Eu soube do que aconteceu, meus sentimentos. - ele parecia tocado com tudo aquilo.
- Obrigada. - ele me abraçou.
Explosões de borboletas no estômago. Meu Deus! Que babaquice ficar apaixonada de novo, no que isso pode ser bom pra mim? O professor entrou na sala rápido e já entregando as folhas da prova para as duplas. Quando passou por mim, abaixou e no meu ouvido sussurrou suas condolências. Todos já sabiam. Encarei a prova, pedi licença ao e virei para ver as questões do verso. Olhei para ele como quem pede socorro por estar perdida. Ele entendeu o recado.
"Diamonds never lie to me, for when love's gone, they'll lustre on..."
[Flashback on]
- Eu prometo que não vou te abandonar...
E me beijou como se fosse a última vez.
[Flashback off]
"E foi", lembrei. Tenho medo de me apaixonar novamente e sentir tudo aquilo de novo. Terminamos a prova. Bem, ele terminou. Levantei para entregar ao professor e saímos da sala juntos.
- Acho que fomos bem. - ri olhando para ele, ele riu de volta.
No caminho para a saída encontramos pegando alguns livros no armário. Ela me viu rindo com ele e logo percebeu que havia algo ali. Se juntou a nós e fomos encontrar nossos amigos para ir ao boliche.
"Diamonds are forever, sparkling round my little finger. Unlike men, the diamonds linger..."
Era sempre assim. Se apaixonar e logo tudo que parecia mágico, perfeito e eterno, simplesmente acaba. O que acontece é que estou com medo de cair nisso novamente. Não vale a pena sofrer assim de novo... Chegamos ao boliche. Comecei a me distrair e cada hora ficava mais divertido. O tempo voou. No final, disse que iria pra casa na frente para arrumar algumas coisas com a mãe e me convidou para dormir lá. Aceitei, claro, seria difícil aguentar ficar em casa sozinha com aqueles pensamentos e lembranças. Logo em seguida meu celular tocou. Era meu pai.
- Filha, eu e seu irmão estamos na casa dos seus avós. O enterro vai ser aqui, depois de amanhã, você vai querer vir?
- Oh, pai... Acho que não. Não gosto de cemitérios. - disse sincera.
- Mas você precisa se despedir da sua mãe. - ouvi um soluço de choro.
- Já fiz isso ontem...
- Tudo bem, mas pense bem.
Desliguei e fui me sentar com no balcão da lanchonete do boliche. Ele pediu um refri para nós dois e uma porção de batatas. Dividimos tudo e ele pagou a conta. Ficamos ali conversando sobre assuntos completamente aleatórios, até que ele se ofereceu para me levar na casa da , ele também morava bem perto.
- Claro... Lógico, se não for te incomodar. - sorri envergonhada.
- Nunca me incomoda, . - ele tirou minha franja do rosto, colocando-a atrás da minha orelha.
"Men are mere mortals who, are not worth going to your grave for..."
Era inverno, quando a noite começa a cair, a neve começava a ficar mais forte. percebeu que eu estava com frio e me deu o casaco. Colocou-o sobre as minhas costas e abraçou-me. Naquele momento me senti completamente protegida. Não conseguia pensar em nada de ruim que havia me acontecido, nem as lembranças assombrosas do dia anterior estavam ali. Ele me virou - deixando-me novamente de bochechas coradas - e disse:
- Eu não consigo mais viver sem você. Quero estar contigo onde você estiver. Quero te proteger do seu medo. - sua voz era doce e aveludada.
Eu não conseguia dizer nada, olhei para baixo com um sorriso besta no rosto. Ele levantou delicadamente meu rosto e sorriu sussurrando um "Fica comigo..." e me beijou. Continuamos andando até um jardim antes da casa da . Nos sentamos e ele disse que não queria me ver daquele jeito:
- Você precisa ir no enterro. Precisa dar adeus a sua mãe.
Eu olhei para meu anel novamente e o diamante brilhou com o reflexo da luz. se convidou para ir comigo ao enterro. Aceitei ainda receosa. Combinamos tudo e liguei para o meu pai avisando em seguida. Mais uma vez ele me virara e tascou-me um beijo. Segui para a casa da . Um pouco menos chorosa.
"For what good will love do me? Diamonds never lie to me..."
Já estava de noite. A morava só com a mãe, e ela tinha saído a alguns minutos para comprar umas coisas no mercado. Ficamos na sala assistindo televisão e conversando. Meu celular tocou. Número restrito. Meu coração parou ali mesmo, olhou pra mim assustada com meu desespero. Levantei e atendi na varanda. Não podia ser. Eu não podia acreditar. Era a mesma voz. E não me dizia nada, eu berrava "Alô!" e só ouvia um chiado forte e após um minuto a voz repetiu uma coisa falhada que tinha dito quando atendi. Não consegui identificar. Desliguei espantada. Sentei do lado da e fiquei estática olhando para a tv. Ela trocou de canal e não achou nada de interessante para assistir. Eu continuava ali. Parada. Chocada com o quão assustador aquilo parecia na minha cabeça. Avisei a ela que iria tomar um banho na suíte dela para ver se relaxava. Segui pelo corredor e passei no hall para pegar minha mochila. Puxei de cima da mesa e fui para o banheiro. A água quente caindo sobre as minhas costas me davam algum alívio. Antes de entrar no banho deixei meu celular sobre a mochila no chão. Ele tocou abafado. Era uma mensagem. Abri a cortina, ainda com o chuveiro ligado e olhei para ver o que era. ! Terminei rápido o banho e me arrumei para ver o que era. Ele queria me encontrar amanhã pela manhã. Bem cedo. Cedo demais. Estranhei, mas não exitei em aceitar. Depois de pentear o cabelo, fui contar para a .
- Parece que alguém vai engatar um mega namoroooo... - ela disse zombeteira.
Rimos juntas. Ela continuava zapeando os canais da tv, até que parou em um de música. Estava passando um especial com uma cantora que não conheciamos, mas a música nos chamou atenção. Paramos ali e ficamos assistindo e conversando. Conversando... E a mãe da chegou, fui para o quarto de hóspedes e ela seguiu para o quarto dela. Avisei que sairia bem cedo e não queria incomodar, por isso resolvi que não as acordaria. Entrei no quarto e coloquei meu pijama. Estava sem sono e um pouco ansiosa para o dia seguinte. Puxei a cama para mais perto da janela e fiquei observando a neve cair. Ela caia... Caia mais... E mais forte... E... O sono vinha chegando aos poucos... UM VULTO! Olhei novamente e parecia ter sumido. Deitei tentando esquecer aquilo e cobri a cabeça com o edredom. Dormi.
"Diamonds are forever, forever, forever. (...) Forever and ever."
Acordei bem cedo para dar tempo de me arrumar. Provavelmente aquele dia seria muito importante. Coloquei uma blusa vermelha, um shorts jeans e minhas botinhas de couro. Desci e fui esperar ele no jardim onde ficamos no dia anterior, como combinado por ele. Era tão cedo que ainda podia se ver que o sol estava com preguiça de aparecer. Vi os minutos passarem lentamente e comecei a ficar nervosa. Ele chegou. Atrasado, mas chegou. Não disse um palavra e se sentou ao meu lado. Olhou para o meu rosto corado de vergonha e ignorou o sorriso que dei. Então se levantou e virou na minha frente, tirando uma caixinha preta do bolso:
- Fica comigo? Pra valer?
- Pra valer? - eu não podia conter o riso, olhei para ele com os olhos marejados e vi que ele olhava de volta e agora sorrindo.
Era um anel de diamante lindo. E vindo do menino que eu mais amava. Se parecia muito com o que eu tinha nos dedos. Aceitei e vi ele colocar delicadamente na outra mão. Após um longo beijo, eu avisei que iria na casa da buscar minha mochila e voltava. No caminho coloquei os fones de ouvido e liguei no aleatório:
"Diamonds are forever,
They are all I need to please me,
They can stimulate and tease me,
(...) For when love's gone,
They'll lustre on."
Peguei minhas coisas e voltei rápido para não deixa-lo esperando por muito tempo. Quando cheguei ao jardim, não o encontrei. Fiquei trêmula. Meu celular tocou. O número dele. Atendi mais aliviada:
- A-alô? Onde você tá? Foi embora?
- Alô. Eu disse para tomar cuidado.
- QUEM TÁ FALANDO?
Desligou. Era aquela voz. A mesma voz. Meu coração estava a mil, voltei para a casa da correndo com medo de tudo. Olhei para os meus dedos e tirei os dois aneis, colocando-os no bolso com medo de perdê-los. Eu não podia entrar na casa dela. Não podia. Estava impedida. Por um corpo. ... Ele estava morto. Como a minha mãe. Aquilo só podia ser um grande pesadelo. Cai sobre o corpo dele, chorando desesperada, e o beijei. O sangue dele escorria por mim... Ainda quente. E eu sentia aos poucos o corpo dele gelar junto ao meu. Tudo estava se repetindo. E se repetiu, quase que na mesma sequência.
No dia seguinte era o enterro da minha mãe. E o do . Não fui a nenhum. Fui para o pequeno lago da cidade e sentei sobre uma pedra. Peguei os dois anéis na mão e encarei-os triste. Uma lágrima escorreu. Enxuguei e olhei novamente para os anéis. "É, sobramos só nós. Tudo se foi." pensei. Ouvi alguns passos vindo atrás de mim, mas permaneci sentada ali. Ninguém vinha naquele lugar mesmo, eu estava louca. Será? Ouvi uma voz: "Vão se os dedos, ficam os anéis. Não é isso que dizem?" Era o contrário. Bem, eu acho. Mas eu estava chocada. Era a voz. A voz do assassino que me ligara do número restrito. Tive medo de olhar para trás. Ele se sentou ao meu lado. Não acredito... Não pode ser... Olhei novamente ainda chocada... Meu Deus! Você é o assassino?
- , você tá atrasada! Hoje é sua prova de biologia, criatura!
Acordei. Acordei ofegante. Tudo não passara de um sonho. Tudo estava onde deveria.
Epílogo:
Três semanas depois, foi viajar com o pai e o irmão. Quando retornou, encontrou dois corpos dentro do seu armário. Eram sua mãe e . Ela apenas esticou o braço até a mesa, pegando uma tesoura e cravou no peito. Seu corpo caiu no chão, com o impacto, os dois aneis cairam de seus dedos, rolando até a varanda e o vento os derrubou para o jardim. Um vulto passou. O mesmo vulto. E levou os diamantes.
N/A: Então, espero que tenham gostado. É minha primeira fic interativa e também a minha primeira aqui. Ela é meio nonsense e eu tive a ideia para ela quando estava ouvindo a música, dai escrevi ela de uma vez só. Enfim, comentem e me digam o que acharam dela e tal. HAHAHA Obrigada por terem lido =]