Exil


Escrita por:Naná C
Betada por: Caroles




CAPÍTULOS: [Prólogo] [1] [2]



Prólogo


– Tem certeza que tá tudo bem? – ele me perguntou novamente. Mas que caralho! Eu já havia dito que estava bem e lá vem ele me perguntar de novo! Claro que não estava tudo bem, e ele sabia. Mas fazia diferença?
– Tá, eu já disse! – gritei, agitando os braços, com raiva. –Argh! – bufei e saí em passos firmes, na direção contrária à dele. Balançava a cabeça negativamente, ainda frustrada com aquela conversa sem pé nem cabeça. Quer dizer, naquele meu mau humor repentino sem pé nem cabeça.
– Hey, não tá tudo bem! O que aconteceu? – ele me parou, segurando meu braço e me fazendo virar. Estava de frente pra ele, mas não conseguia encará-lo. Olhava pros meus pés, enquanto trocava o peso de lado freneticamente. Não respondi. – O que aconteceu? – ele perguntou, já impaciente.
– Não aconteceu nada, tá? – olhei finalmente para seus olhos. Eram um misto de dúvida, raiva e indignação. Não aguentei olhar por muito mais tempo. – A minha explosão... Bem, você sabe como eu sou, certo? Não podia esperar que eu ficasse muito melhor ao saber que você tá namorando a única pessoa no mundo da qual eu quero distância. – olhei novamente pra ele, que se afastava lentamente de mim e então voltou rápido, praticamente grudado em mim. Ele se curvava pra baixo, para que nossos rostos ficassem da mesma altura.
– É isso? – eu ia abrir a boca pra perguntar o que seria o ‘isso’, mas ele me interrompeu. – É tudo ciúmes, ? – ele gritava na minha cara. – Esse chilique ridículo foi ciúmes?
– Hã? Não! Eu tenho raiva, nojo dela! Você sabe! Eu não to com ciúmes! Eu to morta de raiva de você! Estou com nojo de você! Podia ter escolhido qualquer uma! Você sabe que eu nunca tive problema algum com suas namoradas, tive? Mas a Phyllis? Você sabe o que ela fez comigo! O que ela faz comigo, Harry!
– Você não pode controlar quem eu namoro ou não, . Essa é uma função da minha mãe. E veja só, nem ela consegue dar conta, quanto mais você. E eu que tenho que estar com nojo de você, por recriminá-la assim, sem nem conhecê-la direito! Foda-se, ! E não vai ter sábado do chocolate na minha casa. Estarei comendo outra coisa, se é que você me entende.
Ele piscou e se foi, enquanto eu ficava ali parada, estática. O meu melhor amigo havia acabado de me despachar? Meu melhor amigo me despachou? Queria correr atrás dele e dar um chute muito bem dado no meio das suas pernas. Mas eu não tinha forças pra levantar a perna pra dar um passo, quanto mais um chute. Eu estava com raiva, desapontada, triste, indignada e eu não fazia ideia do que havia acontecido, pra ser bem sincera.
Lágrimas começaram a aparecer e eu estava completamente abalada. A quem mais eu recorreria? Eu só tinha a Harry. Claro que eu tinha alguns poucos colegas, mas amigo mesmo, só o Harry. Saí dali me arrastando e parei na frente do meu carro. Minha boca ainda estava aberta e meu rosto em interrogação. Levantei a mão, abrindo o carro em movimentos lentos. Entrei no carro e, sentindo que estava protegida pelo fumê escuro, me deixei cair sobre o volante, finalmente explodindo em lágrimas.
Depois de chorar por alguns minutos e finalmente me recuperar, achando que Harry havia apenas estourado e dali a pouco me ligaria, se desculpando por tudo, como sempre fazia, liguei o carro e uma chuva torrencial começou. Liguei o rádio e tocava I Wanna Hold Your Hand, dos Beatles. Não me agüentei e desatei a chorar novamente. Era a minha música favorita dos Beatles e eu fazia Harry cantar pra mim sempre que eu estava triste. E ele cantava comigo. Não éramos os melhores cantores do mundo, mas o som era ótimo. Quer dizer, eu não era; Harry cantava muito bem.
Eu dizia que era a nossa música e por isso, ele havia tatuado na lateral exterior da sua mão esquerda ‘when I touch you I feel happy inside’, meu verso favorito da música. Eu disse a ele que assim que me mudasse pra fora da casa dos meus pais, tatuaria a sua frase favorita, da sua música favorita. Ele adorou a idéia e saímos do estúdio de tatuagem de mãos dadas. Qualquer um que nos visse, acharia que éramos namorados. Eu conhecia Harry desde sempre e nos tornamos amigos ainda crianças. Nunca havíamos feito nada além de selinhos. Conhecíamos melhor um ao outro do que a nós mesmos. Harry era o meu porto seguro, eu precisava dele. Mas parece que ele não precisava mais de mim.


CAPÍTULO 1


Cheguei em casa e meu rosto tinha marcas de lágrima pelas bochechas. Meus olhos e meu nariz estavam vermelhos e inchados. Minha roupa e meu cabelo completamente encharcados. Sentia meu nariz congestionado e minha cabeça latejar de dor.
Eu havia chorado todo o caminho pra casa e parado no meio dele, numa pequena praça no caminho pra fora de York. Primeiramente, minha intenção era ir pra praia, em Filey, me isolar. Mas percebendo a idiotice que eu estava fazendo, já que não tinha dinheiro suficiente pra gasolina e a viagem poderia demorar, acabei parando em um parque qualquer, descendo na chuva e deitando na grama. Algumas árvores faziam com que a chuva caísse com menos força, deixando a grama apenas úmida. Esperei a chuva estiar e como aconteceu o inverso, acabei me molhando toda. De tanto chorar, meu nariz e minha cabeça doíam.
– Minha filha! O que aconteceu? – minha mãe se levantou do sofá, preocupada. – Pra onde você foi? Demorou! E ainda chega assim! Toda molhada... – saiu da sala e entrou no quartinho embaixo da escada. Voltou com umas três toalhas na mão. Vê-la toda preocupada comigo me fez voltar a chorar. – Ai, meu Deus... – ela enxugava o meu cabelo e os meus braços enquanto eu ficava parada feito uma idiota, chorando em pé e sem motivo! – Tira o casaco, bebê... – não liguei pro apelido idiota e o fiz. – Fique só com a calça e a blusa mais leve, por favor, enquanto eu coloco isso pra secar. – foi pegando tudo e indo pra área de serviço. Enrolou-me numa toalha e eu tremia, sem forças e com frio. – Tome um banho bem quente e desça que eu vou fazer seu jantar favorito, querida!
Liguei o amplificador do iPod no banheiro e coloquei pra tocar apenas Green Day. Estava num estado depressivo. Entrei na banheira, depois de esperá-la encher com a água fervendo e afundei, molhando os cabelos que agora estavam apenas úmidos. Voltei à superfície e começava a introdução de Wake Me Up When September Ends. Não poderia ter sido uma música melhor. Fiquei mergulhada na banheira por tempo indeterminado. Só sei que o meu celular não tocou nenhuma vez. Harry não havia ligado pra se desculpar. Imaginando que ele poderia estar na sala, me esperando, levantei depressa, me enrolando numa toalha e aumentando o aquecedor, pra não congelar.
Vesti moletons grossos, meias e pantufas. Desembaracei meus cabelos com pressa e desci ainda com a escova no cabelo, tentando parecer um pouco melhor. Tamanho o meu desapontamento ao chegar à sala e ver só a minha mãe largada no sofá, assistindo TV, mostrando que a minha hipótese havia ido por água abaixo. Funguei, já que meu nariz estava escorrendo. Ótimo, agora ficaria gripada! Mamãe se virou ao me ouvir.
– Querida! O jantar está na cozinha. Como você demorou, eu já comi, mas é só esquentar! – assenti e me dirigi à cozinha, encontrando lasanha de frango. Sorri ao perceber que minha mãe lembrava-se da minha comida favorita. Comi o que havia esquentado e tomei algum suco de caixinha que havia na geladeira. Joguei tudo na pia a anotei mentalmente pra me lembrar de ajudar minha mãe a lavar a louça depois.
Sentei-me no sofá e minha mãe assistia a algum programa de perguntas pra gente velha e inteligente. Não que eu não fosse inteligente, eu era. Mas não como a minha mãe. Ela era professora da faculdade e respondia a todas as perguntas, sem errar nenhuma. Ela bem que podia participar desses shows e ganhar alguns milhares de libras! Ela ria quando as pessoas erravam e logo me entediei, já que não havia acertado nada.
– Vou subir mãe. Boa noite. Amanhã eu lavo a louça, tudo bem? – ela assentiu, me chamando e dando um beijo. Logo voltou sua atenção à TV e eu subi.
Liguei a minha TV e passava alguma reprise de Skins. Deixei-a ligada, ouvindo, enquanto escovava meus dentes e lavava meu rosto. Ao me olhar no espelho, percebi o quão inchada eu estava. Molhei-o mais algumas vezes e caí sobre a cama, vendo Effy fumar um baseado. Fechei os olhos, me imaginando com o Nicholas Hoult e não os abri mais naquela noite.
***

Acordei com o despertador. Bip, bip, bip. Pausa. Bip, bip, bip. Pausa. Bufei e bati a mão na mesinha de cabeceira, desligando o despertador em forma de colmeia, que liberava uma abelha sorridente a cada bip. A abelha entrou de uma vez e eu agradeci mentalmente, me virando de barriga pra cima na cama. Observei meu teto. Haviam vários pôsteres das minhas bandas favoritas, dos meus seriados de TV favoritos, dos melhores atores e cantores... Olhei pro meu mais velho dos Beatles. Tinha um coração vermelho, contrastando com P&B do pôster, ao redor de John Lennon. Ri, lembrando quando, aos 12 anos, havia dito que se John Lennon estivesse vivo, eu me casaria com ele, independente da idade, e o faria chutar Yoko Ono. Levantei-me devagar e abri as cortinas, vendo a rua molhada pela chuva e a árvore da frente da minha casa balançando com o vento forte. Meus ombros caíram. Perfeito, mais um dia chuvoso! Essa transição outono/inverno me enlouquecia!
Acabei colocando uma calça jeans grossa e escura, contrastando com uma camiseta vermelha do Led Zeppelin, com mais uns casacos por cima. Prendi o cabelo num rabo de cavalo torto e calcei um par de All Stars velho. Joguei meus cadernos na mochila e desci, encontrando mamãe na cozinha, já arrumada para as aulas. Sorri, peguei um cupcake de baunilha e um que café que ela havia comprado. Sorri agradecendo e saí de casa, me deparando com um frio cortante. Acabei voltando pra pegar um gorro e soltei meus cabelos, pra que ele entrasse. Não entendi o frio que fazia. Geralmente o frio assim só começava no fim de Outubro. Era pra estarem fazendo 10º C, não -3º C. Entrei no carro e liguei o rádio. Tocava um especial americano e 30 Seconds To Mars gritava pelos alto-falantes. Eu gritava junto e depois de umas três ou quatro músicas, estava na escola. As construções antigas pelo caminho me fascinavam e ao mesmo tempo me davam tédio. Eu achava-as lindas e me imaginava na época em que foram construídas. Mas aí me lembrava de museus, que me lembravam passeios escolares, que me lembravam tédio. Que me lembravam Harry, que sempre me tirava dele.
Suspirei enquanto desligava o carro e saía em direção à entrada do colégio. Encolhi-me na minha roupa no momento em que uma rajada mais forte de vento passou, aumentando o frio. Entrei meio escondida, como sempre. Eu não era uma das alunas mais populares, uma das mais inteligentes, uma das mais rebeldes, eu era só uma aluna normal, uma inbetweener. O fato era que ninguém entendia minha amizade com Harry, já que ele era o jogador de rúgbi mais popular. O fato, queridos invejosos, é que Harry não é fútil como o resto de vocês. Ele não queria ser popular, ter essa fama toda. Por isso mesmo se tornou um. Harry mudava cada vez mais fisicamente. Seu rosto tinha traços marcantes, másculos. Seus músculos não podiam mais ser escondidos, seus braços eram definidos. Ele estava alto, chamando ainda mais atenção. Seus olhos brilhavam e seu sorriso branco de comercial era contagiante.
Vi-o sentado em uma mesa com Phyllis, abraçado e rindo com ela. Passei reto e acabei batendo com um garoto que colava panfletos no mural de avisos. Acabei derrubando o monte de papel que ele segurava e enquanto me desculpava, estava abaixada, recolhendo os papéis.
– Ai, Droga! Desculpa! Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa... – eu falava e percebi que ele ria. Olhei pra frente e vi pernas. Levantei mais o olhar e encontrei o garoto olhando pra mim, com quase todos os papéis na mão e sorrindo. – Que foi? – perguntei, tentando ser chata e sair logo dali. É, eu não tinha muitos amigos, mas eu não ajudava para que isso mudasse. – Eu venho te ajudar e você fica me olhando com cara de vento e rindo? – perguntei, em pé, estendendo os papéis que havia recolhido a ele.
– Foi engraçado o seu desespero. – ele falou, calmo, como se eu tivesse falado rindo, em vez de praticamente dar um chute verbal nele. Pegou os papéis da minha mão. – Bem, obrigado, de qualquer forma. – e sorriu. Seu sorriso era lindo. Mas eu não podia me dar por vencida, dei um sorriso com cara de falso pra ele e ele me olhou estranho, acenando com a cabeça e virando, andando junto com a manada, que ia em direção às salas. Virei-me pra ler o panfleto.

Procuram-se integrantes pra banda. Qualquer instrumento serve, mas traga o seu! Auditório, quarta-feira, às 3 da tarde.

Li e fiquei imaginando o que ele tocaria. Tinham tickets arrancáveis e puxei um. Guardei no bolso da calça e me dirigi à sala de Biologia. O professor ainda não havia chegado e coloquei os fones do iPod. Deixei os fios pra fora e o aparelho ficou no bolso do cardigã. Fui andando até a minha bancada. Haviam dez bancadas, separadas em duas filas, onde dois bancos ficavam atrás de cada uma. Joguei minha mochila em cima da minha bancada e esperei minha dupla chegar. Vi o professor entrar e nada da minha dupla. Tirei um fone, conseguindo ouvir caso o professor me chamasse e olhei pro banco vazio ao meu lado. Onde estaria Harry?
– Com licença, posso entrar? – uma cabecinha conhecida entrava na sala, com o corpo ainda de fora. O professor se virou do quadro e fez uma cara feia.
– Não deveria. – olhou o relógio. – Já está vinte minutos atrasado. – a cabecinha ia sair. – Mas entre, essa aula é importante. Não quero dar aulas de recuperação no final do ano. – o corpo entrou e o professor virou novamente pro quadro. Esperei que o garoto viesse até a minha bancada e se sentasse do meu lado. Mas ele passou direto e sentou na última bancada, que ficava sempre vazia.
Virei-me indignada pra ele. Ele não olhou sequer uma vez pra mim e toda a tristeza que eu tinha deu lugar a raiva. Coloquei o outro fone e a aula passou rápido. Logo estava no corredor, a caminho da aula de Educação Física.
– Bom, como hoje está frio o suficiente para não usarmos a quadra externa, teremos aula teórica! – ouvi o professor falar empolgado enquanto entrava na área reservada pra E.F. Ouvi falsa empolgação vinda dos alunos após o anúncio e não contive um sorriso. Era sempre assim. Afinal, pra que serve uma aula teórica de Educação Física?
A aula passou ainda mais rápido com os dois fones no ouvido. A seleção era Aerosmith e eu não prestava atenção à aula. Aliás, ninguém prestava. Seguiram duas aulas de História e então o intervalo.
Entrei no refeitório e peguei a minha bandeja. O refeitório era, provavelmente, a maior área coberta da escola. Havia mesas e cadeiras espalhadas por toda parte, o chão branco reluzia, limpo. O teto tinha lâmpadas dependuradas, precisava de uma pequena reforma. A fila pro lanche era grotesca de tão grande e bufei, imaginando o tempo que perderia ali.
– Um bolinho, sim? – pedi, na minha vez. Colocou o bolinho no meu prato com um pote de gelatina vermelha do lado. Peguei a bebida que estava sendo servida e fui me sentar. Diferente de todos os dias, não me sentaria com Harry. Ele não se sentava com os jogadores ou com as cheerleaders. Sentava-se à mesa dos losers comigo e meus colegas dos clubes extracurriculares. Mas ele não estava lá hoje.
– Aí ela disse que a garota que ia fazer a principal não seria eu, fiquei horrorizada quando vi a menina, porque olha... Ela não cantava nada e eu tava quase matando a diretora, afinal, eu havia ensaiado tanto tempo! – , do clube de teatro, falava rápido, como sempre. Ela sempre era a principal nas peças, pelo ótimo desempenho cantando, dançando ou atuando. A garota nova havia roubado seu lugar esse ano e ela estava desolada. – Vou falar novamente com ela e tentar fazer outro teste. Vocês acham que elas são parentes? Devem ser, né? Afinal, porque ela escolheria alguém péssimo? Não to querendo me gabar não, vocês sabem. Mas é que... Sei lá, eu queria tanto isso! – falou, mordendo sua maçã e voltando a falar mais em seguida.
– Olha, , vai ficar tudo bem, você vai ver! Nos ensaios, quando ela perceber que você é a melhor, vai te escolher! Você sabe! – Danny falou. Ele era um primo de tricentésimo grau meu. Danny fazia parte do grupo de teatro e era muito amigo de a). Já meu? Quase nada.
– Pois é! – concordou. Ela era uma das punks da escola e na verdade, não sei por que ela se vestia assim. Era pequena e magrinha, com o rosto delicado e a voz fina. O cabelo loiro era tingido de preto e tinha mechas coloridas espalhadas por todo ele. Usava maquiagem pesada e roupa preta com coturnos.
O intervalo acabou e não vi Harry em nenhuma das aulas que teríamos juntos. Logo passou o almoço e mais aulas. Na hora da saída esperei no portão, até que ele saísse. Passaram quarenta minutos e nada de Harry.
– Hey, o que ainda tá fazendo aqui? – ouvi uma voz conhecida/desconhecida perguntar atrás de mim. Virei-me e encontrei o garoto dos panfletos com uma chave de carro na mão, sorrindo pra mim.
– Não sei desde quando temos intimidade pra saber o que estamos fazendo ou onde. E muito menos o que iainda estamos fazendo ou onde. – falei grossa. Parece que toda a minha raiva havia sido descontada em quem menos merecia. Ele não tirou o sorriso do rosto. Não havia se abalado nem um pouco.
– Perdeu a carona? Se tiver perdido, posso te levar em casa. – ele disse, balançando as chaves na mão. Peguei a minha e mostrei a ele. – Ah, você dá carona. Quem você tá esperando? Porque não tem mais ninguém lá dentro. – ele falou, já andando pro seu carro.
– Hã... Tem certeza? – perguntei, desencostando do portão e indo atrás dele.
– Tenho sim. A não ser que você dê carona ao zelador ou a algum pedagogo. – disse, se virando pra mim. Afastei-me instantaneamente.
– Não, não... Queria ver se encontrava com um amigo, mas já que não tem ninguém, eu... Hã, eu vou embora. – falei, me virando em direção ao meu carro. Argh! Harry filho da puta! Como eu perdi a saída dele? Argh! Bosta, bosta! – Obrigada! – gritei já entrando no carro. Liguei a rádio, meu ritual de sempre, e tocava Oasis. Começou com as músicas mais desconhecidas e depois vieram as mais hits. Tocou Stand By Me, seguida de Don’t Look Back In Anger e veio a minha favorita logo depois: Wonderwall.
Eu sabia aquela música de cor, sabia os segundos de introdução e sabia tocá-la no violão. Aliás, a única música que eu tocava no violão era aquela. Digamos que eu era melhor na bateria. Sempre havia sido.
Eu gritava a música dentro do carro e sempre que parava em algum sinal, tocava meu violão imaginário. Balançava a cabeça no ritmo e cantava fanhoso, devido ao nariz entupido. Parei no último semáforo do caminho escola-casa e encontrei um garoto rindo no carro ao lado. Afinal, eu dançava e gritava dentro de um carro; nem o fumê conseguiria esconder meus gritos ou minha sombra balançante. Abaixei o vidro e um vento frio bateu no meu rosto.
– Tá rindo de quê? – gritei. Acho que estava de TPM.
– Você é muito engraçada. Já te disse isso? – o garoto abaixou o vidro e me deparei com o garoto dos panfletos. Revirei os olhos ao perceber que era ele.
– Agora você me segue também? – perguntei, sem perceber que o sinal havia aberto. Não havia carros atrás de nós, portanto, ninguém nos avisaria do sinal verde.
– Não posso morar na mesma parte da cidade que você? – ele falou como se fosse óbvio e eu fiquei vermelha. Só porque ele era simpático não queria dizer que ele estava afim de mim, certo?
– Esqueci disso. – falei, envergonhada e subi o vidro de uma vez, me escondendo. Olhei finalmente pro semáforo e estava quase amarelo. Acelerei de uma vez e dobrei em qualquer rua, despistando o garoto dos panfletos. Cheguei em casa por um atalho e mamãe não estava em casa.

Filha, hoje tenho reunião. Chegarei mais tarde. Tem torta de framboesa na geladeira. Se quiser, ainda tem lasanha.

Achei o bilhete na mesinha do meu quarto, no teclado do notebook. Ri, percebendo que ela sabia exatamente onde me faria achar um bilhete. Desci as escadas e parti uma fatia grande da torta, subindo pro meu quarto depois. Coloquei um pijama grande de flanela e liguei o computador, a televisão e o aquecedor.
Passavam clipes na MTV, apresentados pelo Ash Stymest. Suspirei ao vê-lo. Se algum dia eu ficasse famosa ou pudesse escolher um famoso pra me casar, seria ele: o Ash (além de alguns outros... Mas nesses a gente pensa depois). Enquanto o computador inicializava, fiquei vendo as músicas que mais bombavam no mundo. Vi um retângulo vermelho saindo por debaixo da mesa do computador.
Abaixei-me pra pegar e me surpreendi por achar o meu caderno de composições. Eu não o via há meses. Quase dois anos, acho. Eu o tinha desde os meus onze anos, quando disse a minha mãe que queria ter uma banda. Eu disse que queria tocar bateria, guitarra, baixo e ainda assim cantar e compor. Ela riu e me comprou o caderninho e me colocou em aulas de bateria, que sempre fora o meu instrumento prioritário.
Abri o caderno e achei umas composições toscas, mas que podiam ter algumas frases usáveis. Sorri, lembrando de uma das minhas melhores composições e passei as páginas rápido, chegando à minha música favorita. Pelo menos, a minha composição favorita. A música tinha um significado profundo. Mas não era uma história minha, era um fim de namoro de Harry. Ele havia ficado abalado e eu resolvi dar uma música pra ele. Por isso era uma música ‘masculina’. Com isso, entende-se que em vez de ‘HEs’, haviam ‘SHEs’.
Sentei na bateria, rodei as baquetas e peguei o papel, colocando-o num apoio na minha frente. As paredes com proteção acústica me permitiam tocar sempre que quisesse. Era bom. Eu aliviava todas as minhas tensões, todos os meus problemas na minha bateria vermelha. Tinha a logo da marca no bumbo, mas meu sonho era trocar pelo nome da minha futura banda. . Sempre achei que seria um nome completamente maneiro pra uma banda. E adoraria tocar desde rock pesado com ela, até as músicas mais românticas. . Um bom nome. Ótimo, aliás.
Comecei a tocar. Eu não tocava há algum tempo. Meus braços cansavam e eu estava no começo da música! Continuei cantando e tocando do mesmo jeito. Eu era completamente preguiçosa e a bateria queimava todas as calorias que eu precisava perder. Meus braços eram definidos. Nada exagerado, mas, pra uma garota (sem pensamentos machistas, ok?) eu era bastante forte. A música, que Harry havia me ajudado a compor, não tinha nome. Por enquanto.




CAPÍTULO 2


Acordei no outro dia feliz. Eu ainda não falava com Harry, mas havia recebido e-mails de , e Danny, que sentavam comigo no almoço. Chamavam-me pra uma festa e eu aceitei, passando o meu número do celular logo depois. Eles haviam ligado de noite e combinamos tudo. Amizade repentina? É, pode-se dizer que sim. Ou talvez só interesse nas minhas habilidades ‘baterísticas’, afinal, eles haviam me chamado pra tocar na festa, e não participar dela. Não que eu fosse participar, se eu tivesse sido convidada. Eu só não... Sentia-me confortável em festas sem Harry. Uma dependência? É, acho que sim.
– Hey, soube que você aceitou tocar na festa da . – Danny disse, assim que fechei meu armário, pegando as minhas coisas.
– Ahm... É, aceitei. – falei, voltando a andar.
– Valeu, dude. Muito legal mesmo. Chama seus amigos também, . – desde quando tínhamos essa intimidade?
– Ah, claro. Mas eu não vou tocar bateria sozinha, certo? – ele riu, negando com a cabeça.
– Você pode ir ao auditório hoje, às duas e meia, três horas? – assenti e ele saiu. Estranhei já ter ouvido essa data em outro lugar, mas deixei passar.

As aulas passaram rápido e logo era a hora do almoço. Vi Tom e , um casal ‘pop’ da escola. Eram gente fina, não eram como o resto. Eram como Harry, na verdade. Éramos um tipo de colegas. Falávamo-nos na aula, mas só.
, é você que vai tocar bateria na festa da , certo? – Tom perguntou atrás de mim na fila. Virei-me, estranhando ele falar comigo sobre um assunto diferente de Química ou Física.
– É, por quê?
– Vou tocar com você!
– Sério? Nem sabia que você tocava, uau! – ele riu e acenou, pegando seu lanche e indo se sentar. Percebi perguntar com quem ou o quê ele tava falando, algo do tipo, porque ele me apontou e ela olhou pra mim, sorrindo e acenando. Retribui e fui me sentar num parque descoberto, meio escondido.
– Achei que esse lugar fosse só meu, mas tudo bem, pode ficar aqui. – me assustei com a voz que saía de trás da árvore. Dei alguns passos pra trás, apreensiva. – Contanto que não dance extravagantemente ou cante feito louca. – suspirei aliviada. Era o garoto dos panfletos.
– Olha, eu não te conheço, não sei seu nome, esse lugar não é só seu, você me assustou, eu quero comer, eu posso me sentar onde eu quiser, meu nome é . – falei rápido, estendendo minha mão no fim.
– Dougie. – ele disse, apertando a minha, me puxando pra baixo. Sentei-me do lado dele e ele ouvia música. Tirou um fone e me ofereceu. Aceitei e tocava Mr. Brightside, do The Killers. Sorri, cantando a música junto. Era uma das minhas favoritas.
Vez ou outra ele me acompanhava e eu já dançava, como no dia anterior. Ele ria e às vezes tentava me imitar. Acabamos deitados na grama, rindo. Nossos lanches haviam ido pro espaço, porque rolavam pelo chão.
– Cause I’m Mr. Brightside… - eu cantei, gritando, ainda deitada e ele me acompanhou, acabando a música. Virei-me pra ele, que mantinha a cabeça apoiada na mão, deitado de lado, com o cotovelo no chão. Ele sorria. – Que foi? – perguntei, virando pra cima de novo. A copa da árvore tapava boa parte do sol, me permitindo olhar pro céu verde de folhas.
– Faz tempo que não escuto alguém cantar tão mal. – ele disse sério e eu me virei, triste, pra ele.
– Eu sei que não sou a melhor cantora, mas não precisa pegar pesado! Eu sou sensível. – fingi ressentimento e ele desatou em risadas e eu percebi que era brincadeira, rindo junto.
– Sua voz é linda. – eu não me aguentei de tanto gargalhar. Meu abdome doía de tantas risadas. – Sério. Tem um tom perfeito entre o agudo e o grave. Consegue atingir ambos com perfeição. Isso é raro, sabia? – ele falou, como maior entendedor da indústria musical.
– Você só pode ser surdo! – falei, rindo, virando-me pra ele, que se mantinha sério. – Ahm... Você não tá falando sério, certo?
– Claro que estou! – eu tinha a feição assustada. – Olha,– ele disse enquanto se sentava. Fiz o mesmo. – Eu to montando uma banda. Acho que você viu os panfletos, certo? – assenti, tirando o ticket do bolso e mostrando pra ele. – Ótimo! – ele disse, sorrindo. – Que tal você ir hoje ao auditório? Às três? – ah! Essa era a data conhecida!
– Pra quê?
– Cantar, ué! – ele disse.
– Eu achei que você quisesse formar uma banda, não um coral desafinado. E, aliás, eu iria hoje de qualquer jeito. – ele sorriu, mas o sorriso desapareceu ao me ouvir completar. – Mas não pra cantar.
– Não?
– Não. Eu ia tocar bateria. – o sorriso dele voltou no mesmo instante.
– Você não pode fazer os dois ao mesmo tempo? – ele disse, como se precisasse de mim pra viver. Ri com a sua cara.
– Não! Quer dizer, a não ser que a banda tenha o nome que eu escolher! – falei, sentindo-me superior, imaginando que ele poderia nem gostar do nome e teria que aceitar.
– Então eu acho outra cantora. – disse na maior normalidade.
– Espera! Você nem sabe qual o nome!
– Por isso mesmo. – sorriu e o sinal tocou, fazendo-o sair dali e me acordar dos meus devaneios.
– Bem pensado. – falei comigo mesma e saí, em direção à sala de aula.

– Não se esqueçam da atividade! – o professor gritava de dentro da sala, enquanto todos saíam. Era a última aula e eu me dirigia ao auditório, pra me encontrar com Tom e Dougie. Será que eles tinham bateria? Dougie pedia pra levarem seus próprios instrumentos... Danem-se, eles me chamaram.
– Hey! – Tom disse ao me ver na porta do auditório. Desci as escadas, largando minha mochila na primeira fileira de cadeiras e tirando minhas baquetas de lá.
– Hey. – respondi, procurando uma bateria com os olhos. Depois de não achar nenhuma por todo o auditório, escutei risadas e um arranhado no chão, vindo de dentro das coxias.
Passados alguns segundos, aparecem Danny e Dougie, empurrando uma bateria e gargalhando. A bateria estava sobre um tipo de palco, uma pequena plataforma, que, sem rodas, arranhava o chão.
– Trouxe as baquetas, pelo menos? Achar isso foi difícil, é bom valer à pena! – Danny disse, descendo do palco. Levantei as baquetas e ele sorriu. Respondi com um sorriso de lado, indo em direção à bateria. Era linda...
Andei ao seu redor, com os olhos brilhando e a boca entreaberta, vislumbrando aquilo tudo.
– Wow! É demais! Onde conseguiram? – perguntei, finalmente desviando meus olhos da bateria e vendo os guys rindo da minha reação.
– Um amigo nosso. Na verdade, você vai meio que competir com ele, sabe como é... Pra ver quem fica na banda. – abri minha boca pra perguntar quem era o tal amigo, mas Dougie completou, ao ver que eu ia perguntar – Ele já deve estar chegando. - assenti.
– Não é bem nosso amigo, é mais amigo do Tom... – ele disse e fiz uma lista mental dos amigos de Tom que poderiam tocar bateria. Todos os nomes estavam riscados, menos o de Harry... Não, não podia ser ele. Podia?
– É seu amigo também. – Tom e Dougie completaram. Bosta era Harry.
– Quem é amigo de quem? – ouvi uma voz conhecida perguntar atrás de mim. Virei-me e encontrei um Harry de braços abertos, um sorriso lindo e olhos maravilhosos... Que desmoronaram ao perceber quem era a garota que se encontrava ali. Eu olhava para o chão, sem conseguir sustentar aquilo. – Hã... Oi. – ele disse, passando por mim. Eu levantei o olhar e ele cumprimentava os garotos. Eles me olharam e eu só dei um sorriso sem dentes, de lado, pra esquecerem o que havia acontecido.
– Quem começa? – Dougie disse animado, batendo as mãos em palmas, subindo ao palco, seguido dos outros três.
– Posso? – Harry perguntou pra mim e eu assenti. Por que eu ainda estava ali? Ele era muito melhor que eu. Eu só havia decidido tocar porque queria passar Harry. Mas era impossível, ele era ótimo. Eu era apenas boa. – Vou começar com uma nova, mais conhecida e mais simples. – concordamos e ele se sentou. Começou a tocar Lost In Stereo, do All Time Low. Os guys o olhavam boquiabertos. Ele era mesmo muito bom. Parou ao fim do refrão, que me fizeram cantar. – Sua vez. – ele disse, me passando as baquetas, que eu recusei, mostrando as minhas.
– Vou de clássico. – disse simplesmente, começando a tocar Cherry Bomb, das The Runaways. Aproveitei pra cantar. Engraçado como aquela música conseguia se encaixar. Toquei como se nunca mais fosse tocar na minha vida. Cantei sem ligar em afinar ou não. Fiz o que eu gostava, e isso era suficiente. Toquei a música até o final e o fazia de olhos fechados. Não queria ver suas reações. Ou a de Harry. Ele nunca havia me visto tocar, eu não o deixava ver.
– Wow. – Danny disse quando eu acabei.
– Olha, ignora a cantoria, foi horrível. Tentou escutar só a bateria? Acho que não devia ter cantado. Estraguei a música. Até a bateria deve ter saído errado! – comecei a falar, me levantando e guardando as baquetas.
– Come on! Foi quase como ver a Sandy West na minha frente! Mas com a voz da Cherie Currie, pra completar! – não contive um sorriso e ele me abraçou.
– Não precisa exagerar tanto, certo? – ele riu e disse que não estava exagerando. – E aí, como vai ser feita a escolha? – eu perguntei, ainda sorrindo.
– Na verdade eu não sei. Seria pelo desempenho, mas vocês são bons demais pra serem desperdiçados. – Dougie começou e eu e Harry rimos e, ao perceber que o fazíamos juntos, paramos instantaneamente. – Então eu... Não sei. Não podemos ficar com dois bateristas. Não podemos deixar um de vocês escapar. Desistência? – ele perguntou, passando os olhares de Harry pra mim e então o inverso. Ele nos olhava suplicante. Não queria ter que escolher. Olhou pra Harry e então pra mim. Percebi que ele se demorava em mim e entendi o recado.
– Ahm... Tudo bem, eu... Eu entendi. – falei, colocando a mochila nas costas e saindo do auditório. Um vento frio me cortou assim que me coloquei no estacionamento e as lágrimas já saíam sem controle. Até então eu não percebia que elas caíam. Entrei no carro com raiva e não me lembrei de ligar o som.
Dirigia em alta velocidade e a calefação estava desligada, me fazendo tremer de vez em quando; tanto pelo choro quanto pelo frio. Ouvi meu celular tocar He Loves You, do The Pretty Reckless. Comecei a cantar com a Taylor Momsen, me esquecendo completamente que era o celular que tocava. A música já estava no meio e eu finalmente atendi o celular.
– Filha? – minha mãe tinha uma voz preocupada.
– Oi, mãe... – falei. Não conseguiria esconder a voz de choro dela, e, mesmo que conseguisse, ela teria descoberto ao chegar em casa.
– O que aconteceu? O Harry me ligou, avisando que você tinha saído do colégio com raiva, tá tudo bem, meu amor? – ela perguntou, com uma típica voz de preocupação.
– Mãe, a culpa é do Harry! – desviei de um carro na frente de uma maneira brusca, me jogando pros lados. Coloquei o cinto de segurança com uma mão, segurando o celular nos ombros e o volante com a outra. Ouvi algumas buzinas e revirei os olhos. Abaixei o vidro e estirei o dedo, puxando-o pra dentro e acelerando logo em seguida.
Coloquei o telefone no suporte específico pra isso e ativei o viva-voz.
– Olha mãe, eu to dirigindo, sim? Assim que chegar em casa eu penso se explico. Não to com cabeça. Desculpa, te amo. – soltei um beijo estalado no ar e não esperei resposta, desliguei.
Suspirei e logo estacionei em casa. Vi minha mãe pela janela da cozinha e percebi que ela tentava fingir que não havia me visto, sem muito sucesso. Sorri, com sua tentativa de me agradar e entrei em casa.
– Já, já, mãe. Mas eu prometo que eu conto. – disse e subi às escadas rápido, mas não rápido o suficiente pra não ouvir um ‘YES’ da minha mãe. Ri, ligando a calefação, a TV, enchendo a banheira, os amplificadores do iPod e o computador.
Entrei na banheira depois de cheia e só então percebi o quanto meu humor oscilava nos últimos dias. Havia um calendário por ali e confirmei o que já imaginei que fosse o motivo. Isso mesmo, TPM. Agradeci mentalmente por não estar enlouquecendo e tomei meu banho calma, tentando esquecer o ocorrido no auditório. Sinceramente, se eles queriam uma banda de homens, por que me chamaram? Havia um propósito que não fosse rir da minha cara naquela “audição”? Porque eu não o descobri.
Acabei meu banho e, ainda de roupão, resolvi tocar alguma coisa. Peguei as baquetas na bolsa e toquei as partes animadas de Lost Without You e Stay Together For The Kids, do Blink. Queria esvaziar minha raiva e os refrões loucos das músicas me ajudaram. Coloquei as músicas pra tocar no iPod e cantei com o Tom Delonge.
Só parei quando percebi que, em vez de secar, estava voltando a ficar molhada, sendo dessa vez de suor. Vesti-me com um blusão do Manchester United que havia ganhado do meu pai na última visita à sua casa – meus pais eram divorciados e ele morava em Manchester. Eu o visitava uma vez a cada quinzena e ele e mamãe não tinham problemas – e coloquei uma calça de moletom qualquer. Calcei minhas pantufas de zebra e desci, penteando os cabelos.
– Oi, filha! Tá melhor? – minha mãe não olhava pra mim, ela respondia às perguntas da TV.
– Sim, sim. Foi só uma crise de TPM, eu não deveria ter reagido como reagi.
– Reagiu à... – mamãe falou, pedindo pra que eu continuasse. Sorri e me joguei ao seu lado no sofá. Ela deixou a TV no mudo e se virou pra mim, adorando o momento mãe e filha.
– Um garoto que eu conheci me chamou pra tocar numa banda. Eu cheguei lá e descobri que o Harry ia ‘competir’ comigo. Foi injusto, mãe, você sabe como o Harry toca bem. – ela assentiu em silêncio, sem querer me interromper. – Nós tocamos e eles consideraram empate. Queriam que alguém desistisse, já que nos acharam muito bons. Aí ele começou a olhar de um pro outro e parou um tempão em mim.
– E o que tem isso, minha querida? – ela perguntou, sem entender minha angústia.
– Ele queria que eu desistisse, mãe! – falei e ela pareceu entender.
– Claro que não, querida! Já pensou se ele queria só te olhar como estava olhando pro Harry e parou pra te admirar? – ela perguntou, sorrindo.
– Por que ele ia me admirar, mãe? Ele é lindo! Eu sou só... normal. – falei cabisbaixa e ela suspirou. – Não adianta discursar sobre o quão linda eu sou, mãe. Você não conta. E, aliás, ele queria que eu desistisse, mãe! Só tinham homens na banda, pra que iam me querer? Eu ia estragar toda a fantasia de turnê com orgia deles, mãe! – ela arregalou os olhos com o que eu disse e caímos na risada.
– Querida, claro que eles iam querer você na orgia, ué! – minha mãe falou séria e eu arregalei os olhos. – AI. MEU. DEUS. MÃE. Você não disse isso! – falei e ela começou a rir.
Acabamos conversando bobagens por toda a noite, enquanto comíamos o resto da torta de framboesa.
– Acho que por hoje é só. Olhe só a hora! – ela disse espantada ao olhar pro relógio. – Já pra cama, mocinha! Amanhã você tem aula e eu trabalho! Vamos, vamos! – ela falou, enquanto me empurrava escada acima.
Revirei-me por um tempo na cama, pensando no que mamãe havia dito. Será que Dougie realmente havia parado pra me observar e não pra pedir que eu desistisse? Não, é claro que não. Por que ele faria isso? Tudo bem se fosse a Phyllis – claro que o Harry ia ter ciúmes, mas ela era bonita -, mas eu? Não mesmo.


CONTINUA OU FIM



Nota da autora: Gente, escrevi isso há tanto tempo que vocês não imaginam! Mas achei ela tão legal que me deu vontade de continuar! E se tiver alguém me importunando, pedindo mais... bem, fica mais fácil, né?! Hahahah Acho que por enquanto é só! Beijo e espero que tenham gostado!

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