História por Giulianna Romanelli
Revisão por Giovana


Serendipity: (n) encontrar alguma coisa boa sem ter procurado por isso.


Admito que fiquei com muito medo quando anunciaram que nosso avião faria um pouso forçado no aeroporto de Ontario. Apesar dos meus vinte e seis anos de idade, nunca nada tinha me feito parecer como um garotinho assustado. Bom, aparentemente eu e as centenas de pessoas que havia naquele voo.
Saímos de Los Angeles com destino a Toronto, onde teríamos o primeiro show da turnê no Canadá, mas a viagem foi interrompida logo no início, minutos depois de estarmos no ar. Aparentemente uma das turbinas parou de funcionar logo após o avião decolar e o comandante não conseguiu recuperar de jeito nenhum, sendo assim, foi obrigado a pousar no aeroporto mais próximo.
A empresa se responsabilizou por tudo e tranquilizou todos os passageiros. O único problema é que eles deram a opção de embarcar no próximo voo, que é o que chegaria a Toronto o mais rápido, porém apenas nove horas mais tarde. Isso seria impossível, pois tínhamos uma agenda para cumprir por lá que envolvia uma série de horários.
Voltamos para o aeroporto e a única solução que pensamos foi em alugar um avião particular imediatamente, então nosso assessor ligou para uma empresa de translados particulares, uma que indicaram por ali, e assim que conseguiu fechar um voo para quarenta minutos mais tarde, partimos em direção a um pequeno aeroporto particular da empresa.
Ao chegarmos lá, nos encaminharam direto para a pista e um jatinho já estava preparado para nós. Chegando mais perto pude ver que havia um pequeno grupo que presumi ser a pequena tripulação. Todos estavam na base da escada e nos cumprimentaram educadamente quando nos aproximamos, indicando que subíssemos as escadas e nos preparassem para o voo que partiria em vinte minutos. Assim fizemos, todos nós subimos onde cada um de nós sentou em uma poltrona e afivelou os cintos.
Estávamos todos conversando sobre as expectativas para o Canadá, sobre surpresas para os shows e possíveis passeios para fazer por lá quando uma mulher entrou no ambiente, ela vinha da cabine e estava vestida como qualquer piloto. Ela era simplesmente linda, com o cabelo preso em um rabo de cavalo, os olhos nos avaliando a cada movimento e sua pele lisa que me mostrava que ela não deveria ter mais de trinta anos.
- Olá, sou a comandante e sou eu quem vai pilotar o avião durante esse voo, com a ajuda do meu colega Collins. – A mulher se apresentou para nós, fazendo todos ficarem em completo silêncio e prestando atenção. , um sobrenome de respeito. Gostaria de saber seu nome. – Vocês não precisam se preocupar e garanto a vocês que faremos um voo tranquilo. Agora se me dão licença eu preciso fazer os ajustes finais.
Ela e o tal do Collins saíram, deixando todos boquiabertos. Alguns ali tinham suas namoradas, outros já estavam casados, mas acima de tudo éramos homens e a sua autoridade dos deixou, hm, como dizer? Tentados a ter algo com ela.
- Cara, - sussurrou ao meu lado, de uma maneira que todos poderiam escutá-lo – isso foi sexy!
- Imagina como deve ser fazer sexo com uma comandante? – falou. – E ainda por cima, linda e gost...
- Cara, olha o respeito! – Eu interferi. Algo mexeu dentro de mim enquanto ouvia-os falando sobre a . – Se ela escuta pode derrubar o avião com a gente dentro!
- Meu Deus, quanta bobagem para uma frase só! – Foi a vez do . – Como se ela fosse nos matar e matar a si própria por nós falarmos apenas coisas boas dela. E admita, , você é o que mais tá babando por ela!
- Claro que não, só fiquei admirado por ela ser uma comandante mulher! - Me defendi.
- Vou fingir que acredito. – Ele rebateu. – Mas eu acho que no fim do voo você poderia tentar a chamar para sair, desde que você terminou o namoro, três meses atrás, você não tem saído com muitas garotas. Deveria aproveitar sendo o único solteiro entre nós!
Nessa hora ouvimos a voz da dando um aviso pelos autofalantes de que era para todos nós colocarmos os cintos que dentro de minutos decolaríamos. Logo mudamos de assunto, falando sobre coisas banais, até que sentimos o avião começar a andar suavemente pela pista. Assim que escutamos a mensagem “decolagem autorizada”, o avião passou a ter uma grande aceleração que nos fez ficar presos em nossas cadeiras até levantar voo.
A promessa da comandante de termos um voo tranquilo foi cumprida, ninguém sentiu dores nos ouvidos, não teve turbulência nem nenhum imprevisto. Após algumas horas estávamos pousando em um aeroporto particular em Toronto, no horário previsto para continuarmos tranquilamente com nossa agenda pelo resto do dia.
Todos começaram a sair com suas pequenas bagagens de mão. A comandante e o Collins estavam na porta da cabine enquanto os caras se despediam e agradeciam pelo voo. estava na minha frente e eu era o último daquela fila, enquanto nos aproximávamos ele me cutucava e sussurrava coisas como “pede o telefone dela”, ou então quando Collins entrou novamente na cabine ele sussurrou como se ordenasse “se você não pedir agora mesmo, você é um gay”.
Ao chegarmos perto e sair pela porta, fiquei frente a frente para ela. Ela esperava alguma reação minha, pois eu deveria parecer patético ali.
- Fez boa viagem? – A comandante perguntou.
- Foi muito boa, muito obrigado mesmo. Ér, comandante ... Você vai ficar por aqui durante esses dias? – Eu tomei alguma coragem para formular uma pergunta.
- Eu sempre fico alguns dias após alguma viagem, a não ser que tenha um trabalho urgente. Por quê? Deseja algo, ér... Qual é seu nome mesmo?
Então ela não deveria ser grande fã, pois não me conhecia. O que é estranho, pois a banda já tinha dez anos de carreira e sempre teve grande popularidade. Mas não me importava, foco. – , . É que eu gostaria de saber se...
Nessa hora o Collins voltou e eu perdi a minha coragem. E se esse cara fosse namorado dela? Ou se ela tivesse algum namorado por aí? Vai ver fui eu que perdi a prática de chamar garotas para sair, anos de namoro dá nisso.
- Ah, era uma coisa boba sobre aviões, nada que eu não possa pesquisar no Google. Até mais, obrigado mais uma vez. – Falei e desci as escadas do avião, entrando em um carro que estava estacionado ali e encontrando os garotos.
Quando contei que não tive coragem, todos começaram a me zoar, sem exceções. Mas agora isso não me importava, eu precisava focar na nossa agenda durante os próximos meses.

Dois meses depois...
Após o Canadá, finalizamos nossa turnê pelos EUA e tivemos duas semanas de férias. Decidimos ir para a Flórida aproveitar as praias e parques que haviam por ali, para logo depois voltar para Londres.
Embarcamos no Miami International Airport direto para pousar no Aeroporto de Heathrow. Infelizmente não foi um voo completamente sem problemas, teve alguns momentos de turbulência e despressurização, o que me fez lembrar dois meses atrás durante o voo com a Comandante . Nas vezes em que viajava eu me pegava pensando nela e de como nunca tive voo melhor do que com ela.
Ao pousarmos, nos encaminhamos para as esteiras para poder pegar as malas. Quase três meses fora de casa exigia bastante bagagem e era engraçado ter alguns seguranças espalhados a nossa volta, pois poderia haver fãs ali. Quando faltava apenas uma de minhas malas, começou a falar.
- Cara, eu achei que ia morrer durante a turbulência!
- Deixa de ser exagerado, cara, nem foi tão forte assim. – Eu falei virando para ele. De relance eu vi a minha mala preta vindo em minha direção e assim que chegou perto, peguei e coloquei em meu carrinho, indo em direção as portas de saída.
Havia alguns fãs por ali e como eram poucos demos atenção a eles, mesmo estando um pouco cansados. Ao terminar nos encaminhamos para o carro e partimos em direção a casa de cada um. Fui um dos primeiros a deixar o carro e subi rapidamente até meu apartamento.
Entrei e deixei as malas na sala mesmo, corri para o banheiro para tomar um banho e após me sentir relaxado, deitei na minha cama e dormi como não fazia há alguns meses.

Acordei com meu celular tocando e mal olhei o visor ao atender.
- Alô?
- Bom dia, cara! – Eu dormi a tarde e noite inteira? - Eu estou quase chegando à sua casa, ok? – Finalmente tinha descoberto que era do outro lado da linha. – Deixei algumas coisas na sua mala, lembra? Tô indo pegar.
- Sem problemas, acabei de acordar mesmo.
Quando desligou, eu decidi ficar mais alguns minutos na cama, até que cansei e, após fazer as necessidades matinais, fui preparar algum café da manhã. Parece que Judy, uma espécie de governanta que tenho, comprou comida na última semana, facilitando muito para mim. Após terminar tudo, escutei minha campainha tocar.
- Hey, onde estão minhas coisas? – Era isso, nem um “oi” eu recebia do .
- Estão ali no canto, - apontei para as malas que estavam intocadas desde o dia anterior – ainda não abri nenhuma delas, mas as suas coisas estão na mala preta. Pode ir lá e pegar enquanto vou ao banheiro.
Fui até o banheiro e enquanto estava lá escutei gritar meu nome.
- Por que o desespero? – perguntei chegando a sala.
- Tem alguma coisa que queira me contar? – Ele perguntou e me olhou.
- E por que a pergunta? – Aquilo estava muito estranho.
- Porque só tem roupa de mulher na sua mala? Virou gay e não me contou? É por isso que você tá solteiro? E...
- O quê? – Aquelas últimas perguntas me assustaram, fui em direção à mala e pude constatar que realmente aquelas não eram as minhas roupas. – Não é possível, que palhaçada é essa?
- Ufa, menos mal. Bom, se essa mala não é sua, de quem é? – Ele perguntou com a feição curiosa.
Empurrei para o lado e passei a examinar a mala. Havia vestidos, sapatos de salto, lingeries... Foco, . Mas na alça não havia o meu cartão de identificação, havia outro com desenho do Mickey. Segurei para examinar e havia um nome, sobrenome e telefone ali.
- Então, descobriu de quem é a mala? – perguntou segurando uma calcinha, tarado.
E sim, eu havia descoberto de quem era a mala, mas eu estava meio chocado porque havia uma possibilidade de o telefone que estava ali ser o telefone que há meses eu perdi a coragem de pedir.
- A mala pertence à .
- ? Tipo a comandante ? – Ele perguntou. Como assim ele ainda se lembrava dela?
- Sim, não seria muita coincidência, seria? – Era como se eu estivesse apavorado, surpreso, feliz e apreensivo com a possibilidade, tudo ao mesmo tempo.
- Você quer ter uma chance com ela desde aquele voo, alguma coisa nela chamou sua atenção. E não negue, - ele me cortou quando tive a intenção de dizer algo – eu percebi isso, não pergunte como. Somos amigos há anos, então eu percebi de alguma forma.
Ele estava certo, mas como? O que eu faria agora?
- Liga pra ela. – falou como se lesse pensamentos. – Fale que quer destrocar sua mala, isso é, se ela está mesmo com a sua. Mas para isso você precisa ligar e descobrir, ver se ela é a mesma ou apenas um parente. E o DDI é dos Estados Unidos, já aumentam as chances. E é bom você encontrar sua mala porque minhas coisas estão lá!
Após um tempo partiu me deixando sozinho com meus pensamentos. Eu definitivamente precisava ligar pra ela, precisava saber sobre a minha mala e entregar a dela. Peguei o telefone e comecei a discar os números que estavam no cartão da mala. A cada toque eu ficava mais nervoso. Onde já se viu nervoso?
- Alô, é ? – Eu falei após a voz ter atendido.
- É ela mesma, quem fala? – A voz respondeu.
- Então, meu nome é e eu acidentalmente peguei sua mala no aeroporto ontem e...
- Ai meu Deus, ainda bem que você ligou! – Ela me interrompeu. - Você deve ser o “” que está escrito no cartão dessa mala, mas como não tinha nenhum telefone eu não pude fazer nada além de esperar. Eu também peguei sua mala por engano, estava distraída com o fato de eu estar em Londres, desculpa.
- Ahn, sem problemas. – Então não fui só eu o distraído, ainda bem. – Eu queria saber onde posso levar sua mala, você deve estar precisando das suas roupas.
- Sim, eu precisei comprar algumas porque não tinha noção de se veria minhas roupas novamente, - ela parecia envergonhada – então se pudéssemos nos encontrar hoje, seria ótimo para mim.
- Posso passar onde você está em uma hora, o que acha? – Ela assentiu e me passou o endereço. Ela estava hospedada em hotel por perto, seria lá que tiraria minhas dúvidas e pegaria minha mala de volta.
Nos falamos mais um pouco e logo desliguei, indo me arrumar logo em seguida, apenas uma calça jeans e uma camiseta básica preta. Liguei para para mantê-lo informado, fechei a mala e segui em direção à garagem, colocando-a no porta-malas.
Em cerca de vinte minutos eu estava parado da porta do hotel, onde um manobrista abriu a porta e entreguei as chaves a ele. Peguei a mala, onde um dos carregadores queria pegar e levar para mim, mas disse que não seria necessário. No balcão pedi que avisasse e ela autorizou minha subida.
No elevador eu fiquei imaginando as milhões de possiblidades. Era a comandante ? Não era a comandante ? Era muita coincidência ter o mesmo sobrenome? O que ela estaria fazendo em Londres? Quando a porta do elevador se abriu, tentei deixar as dúvidas para trás e segui rumo à porta do quarto da . Toquei a campainha e não demorou muito até que a porta fosse aberta.
E eu poderia dizer que quase cair para trás, mas isso é algo muito “garotinha” para se fazer. Eu fiquei surpreso, claro, mas me mantive em pé para ver que tudo realmente estava acontecendo.
- Então quer dizer que o nome da comandante é ? – Me atrevi a falar.
- Protocolo de voo. Tenho costume de apenas falar meu sobrenome. – Ela comentou e aparentava da mesma forma que eu, como se fosse meu espelho. - Mas que coincidência ser justo você a ter ficado com a minha mala! E engraçado você lembrar de mim após alguns meses, você deve ter feito vários outros voos.
Foi como se tivesse sido pego no flagra com aquela constatação, mas era verdade. Talvez estivesse certo e ela chamasse mesmo minha atenção. Como? Por quê? Eram perguntas que nem eu mesmo sabia responder, mas sabia que valeria o chute.
- Você prometeu que seria um voo tranquilo e foi. Foi o melhor voo que já tive. – Admiti. Ficamos por um tempo em silêncio até que senti o peso sob minha mão e me lembrei do motivo de estar ali. – Onde posso colocar a sua mala?
- Ah, pode deixar ali do lado do sofá que depois eu dou uma olhada. – Ela fez um sinal para que eu entrasse e logo depois que o fiz, ela fechou a porta. - A sua tá lá no quarto. Desculpa por pegá-la, eu já estive em Londres antes, mas não sei por que toda vez parece que é fosse a primeira e fico encantada. Não reparei que não era minha mala e a peguei. Eu ia ligar hoje cedo para a companhia aérea, mas logo você retornou! Obrigada.
- De nada. Na verdade, eu não tinha percebido da troca até hoje de manhã, meu amigo abriu a mala porque havia algumas coisas dele na minha, e percebeu que saias e vestidos não fazem o meu estilo. – Fiz uma piadinha boba para quebrar o gelo e funcionou.
Ela então foi até o quarto e voltou com minha mala, corri para pegar de suas mãos, sabia que não estava exatamente leve. – Ahn, ? O que acha de nós irmos almoçar? Quer dizer, já está quase na hora e você pode me contar um pouco sobre o fato de você ser uma ótima comandante.
- O que você quer dizer com isso, ? – Ela me olhou fingindo estar indignada.
- Nada, só quero almoçar com você. Então, o que me diz?

Naquele dia, aceitou meu convite e passamos a tarde conversando. Sim, eu disse mesmo “tarde” porque depois do almoço nós fomos bancar uma de turistas por Londres, mesmo que nós dois já conhecêssemos a cidade. Durante a conversa, – ela mesma pediu que a chamasse assim – contou o porquê de ela ter virado comandante, era possível ver a paixão em seus olhos enquanto ela falava.
- Quando eu era pequena eu vinha às vezes até Londres pra visitar o meu avô, e em uma dessas vezes ele me levou em uma apresentação da Royal Air Force. – começou a contar durante a nossa tarde. - Eu me apaixonei, foi como aquelas crianças que sonham em ser veterinárias desde criança, mas eu sabia que esse seria realmente o meu futuro. Apesar de sempre andar de avião para viajar, eu nunca tinha me interessado. Foi só naquela vez que eu me apaixonei completamente.
- E depois? Como foi? – Eu perguntei interessado.
- Eu comecei a pesquisar sobre isso, até que encontrei a melhor escola de aviação dos Estados Unidos. Foi nesse tempo que ficou complicado, eu precisava ser a melhor para passar, e meus pais me deram muita força durante esse período. Muitas vezes deixava de sair com meus amigos para estudar, mas eles entendiam que aquele era meu sonho.
- Onde você estudou? – Eu sempre a incentivava com perguntas, mesmo que bobas ou simples.
- Na Embry-Riddle Aeronautical University, uma das melhores faculdades de aviação dos Estados Unidos e do mundo. Meus pais ficaram orgulhosos quando souberam que passei. – Ela sorria, parece que relembrava aqueles momentos. – Mas eles ficaram um pouco tristes porque eu teria que me mudar para Prescott, no Arizona.
- Eu imagino, foi a mesma coisa quando a banda começou a crescer. – Eu falei, pois me identificava com a situação. - Ao mesmo tempo em que meus pais estavam orgulhosos por eu estar realizando meu sonho, ficavam tristes porque eu viajava cada vez mais.
- Acho que demora para os pais se desapegarem dos filhos... – disse pensativa.
E assim continuamos conversando. Também falamos muita bobagem e futilidades, outras vezes falávamos de assuntos sérios e em outros momentos não falávamos nada, mas o silêncio era confortador.
Quando a deixei em seu hotel, combinamos de agir como turistas novamente no dia seguinte. Assim fizemos nos próximos sete dias, às vezes eu a surpreendia com lugares que ia quando pequeno e eram pouco conhecidos, em outros era ela quem me surpreendia. E assim passamos a criar uma relação forte, em tão pouco tempo.
O dia que mais gostei foi o dia em que fomos visitar o avô dela, ele era super simpático e zeloso em relação à neta. Ele contou várias histórias de quando ela era pequena. Contou que tinha um brilho nos olhos como nunca havia visto em ninguém na vez que a levou para ver a Royal Air Force. E ele mesmo tinha muitas histórias de vida que eram surpreendentes. Em um momento que foi até o banheiro, ele sussurrou para mim:
- Se eu fosse você, não deixava alguém tão especial como a escapar. Eu gostei de você, , você é um bom rapaz.
Ao ouvir aquelas palavras, comecei a refletir o porquê de nunca ter tentado sequer beijá-la. ainda não era minha, mas não estava nos meus planos perdê-la. Foi então que decidi que tentaria ter a minha chance de conquistá-la.

Durante a segunda semana de em Londres eu a chamei para irmos até o Thorpe Park. Ela comentou que desde criança ama montanhas russas, que é a segunda paixão na vida dela, então seria um passeio legal para nós dois. Após termos andado na Stealth Rollercoaster, saímos e estávamos nos encaminhando até a próxima atração quando começou a nevar. O que era estranho porque estava sol até minutos atrás e era verão em Londres.
Após alguns momentos vi colocar a língua para fora, provando a neve. – É sorvete, ! Tem gosto de baunilha!
Depois que ela falou de uma forma infantil, porém fofa, olhei para o lado e vi uma placa onde dizia “Ice Scream Zone”, ela estava certa. Já tinha ouvido falar que anos atrás fizeram isso nesse parque, não sabia que poderia repetir justamente quando eu viria com !
Vê-la completamente suja de neve-sorvete e feliz como uma criança me fez criar a coragem necessária que desejava ter há dias. Coloquei minha mão em sua bochecha para limpar um pouco da neve que havia ali e me aproximei. Beijei sua outra bochecha que também estava suja e ao tocar meus lábios com minha língua pude sentir o sabor do sorvete que falou. Como se ela soubesse o que eu iria fazer, ela deu um passo em minha direção e colocou uma de suas mãos em meu pescoço, como se me desse permissão para o que faria a seguir.
Não aguentei mais a demora e a beijei, finalmente havia feito! E era incrível como nós tínhamos sintonia. Não havia mais os gritos das pessoas nos brinquedos, não havia mais a neve, não havia mais nada além de nós dois. Era clichê, mas eu finalmente descobri que o amor era clichê assim.
Após algum tempo nós nos afastamos e sorriu, colocando os dois braços em minha cintura num abraço, sem deixar de me encarar.
- Vou confessar uma coisa: faz algum tempo que queria fazer isso, mas não tinha ideia de quando e como. – Eu falei deixando a vergonha de lado.
- E eu esperava que você o fizesse. – tentou olhar para o chão, envergonhada, mas eu segurei seu queixo e dei um selinho rápido, que se transformou em outro beijo. – Achei que não fosse fazer nunca, que iriamos apenas ser amigos. – Ela falou quando o outro beijo foi interrompido.
- Algo me chamou a atenção em você desde a primeira vez que te vi, acho que a troca de malas foi algo como destino. – Falei pensativo.
- Talvez sim... Mas foi melhor do que eu esperava.
- Também acho. – Sorri e a beijei mais uma vez. Eu sabia que isso seria algo de que nunca ficaria cansado.
- ... – ela falou após algum tempo em que nos beijávamos – Pilotar é minha paixão maior, montanhas russas são minha segunda. Nessas duas semanas você meio que tá virando a minha terceira... – Ela falou ficando envergonhada de novo.
- Terceira? Como assim terceira? Eu deveria ter virado a primeira! – Eu fingi estar ofendido e ela riu, segurando minha mão e me dando um beijo no rosto e me puxando em seguida.
- Deixa de ser carente e vamos logo, temos o resto do parque para ir! – Ela voltou a ter seu olhar de menina sapeca.
Mas antes de segui-la, eu a puxei e dei mais um beijo. Então eu deixei ser levado por até todas as atrações do parque, mas agora andávamos por todos os lugares de mãos dadas e em todas as filas ficávamos abraçados e trocando carícias. Momentos que eu não gostaria de perder nunca mais.

Nos dias que se passaram, saíamos juntos, mas dessa vez como casal. Algumas revistas e sites já falavam sobre “o novo casal” que se formou, mas eu não me importava e parecia que também não. Para nós o que importava era o tempo que tínhamos juntos. Nós nunca conversamos sobre, mas sabíamos que em um momento ela teria que voltar para os Estados Unidos.
Em um dia eu a chamei para uma reunião social com os caras da banda, todos eles estavam com suas respectivas namoradas, noivas ou mulheres. É claro que todos eles começaram a me zoar, mas adoraram conhecer e saber mais sobre ela, não apenas como a “comandante ”. E ninguém nos perguntava se éramos namorados, não que isso incomodasse, mas nunca pensamos no assunto. Éramos um casal, acabou.
Quando fomos embora, foi até meu apartamento pela primeira vez. Ela viu algumas das manias que eu tinha, alguns dos pertences pessoas que mantinha, algumas lembranças de lugares que visitava e presentes que recebi de fãs. Ela olhava tudo com atenção e às vezes me perguntava sobre algum objeto. Ao fim, sentamo-nos no sofá e ficamos ali por um tempo assistindo televisão até o momento em que ela não era mais interessante. Não era apressar as coisas, mas senti que aquele era o momento para tentar algo a mais.
Eu beijava como se o mundo fosse acabar amanhã e ela me segurava fortemente como se eu fosse escapar. Eu já estava apenas de boxers enquanto o vestido de já estava longe e ela estava apenas com sua calcinha. O sofá já estava apertado e quente quando decidi levá-la agarrada a minha cintura até o quarto para terminar o que começamos na sala. Entre movimentos que nos uniam e gemidos de completo prazer que eu soube que não havia outra pessoa que gostaria de compartilhar noites como aquela, uma noite que foi bem longa e se repetiu diversas vezes.
Ela acabou dormindo ali mesmo com uma camiseta e boxer minha e enquanto a observava dormir eu sabia que logo teríamos que conversar sobre ela ter que voltar para seu país, mas eu ficava inquieto só de pensar o quão próximo a data estava.

- , a gente precisa conversar. – chegou à cozinha ainda com as minhas roupas enquanto eu preparava algo para o nosso café da manhã.
- Bom dia, , dormiu bem? – Eu tentei desviar do assunto, sabia onde ela queria chegar.
- Muito bem... É exatamente por isso que não podemos adiar esse conversa.
- Eu sei. – Desliguei o fogo e sentei na bancada. – , eu não sei como vai ser daqui pra frente, sei que você vai embora em menos de uma semana. Mas eu ainda não estou pronto para ter que dizer adeus.
- , eu também não. Mas eu preciso. – Ela fazia carinho em meus cabelos com uma das mãos. – Pilotar é minha vida e minha carreira, meu trabalho é nos Estados Unidos e eu preciso voltar. E eu não sei o que fazer porque eu gosto tanto de você e vamos estar a um oceano de distância. – Algumas lágrimas já enchiam os olhos da minha menina. Minha... menina?
- Ei, xiu. – A puxei para um abraço. – Eu amo você e não vai ser um oceano que vai mudar isso. Nós vamos dar um jeito, faremos isso funcionar.
- Você... me ama? – se afastou e passou a me encarar nos olhos.
- Amo, - falei com uma certeza que me encheu no mesmo instante que a olhei chorando por nosso futuro incerto – e se for necessário viajar todos os dias até você só para te ver sorrir, eu farei.
me pegou de surpresa ao me beijar com uma paixão completamente cheia de carinho, era possível perceber que ela sorria durante o beijo, assim como eu. Mas ainda faltava uma coisa.
- Hey, venho pensando em algo durante esses dias. Comandante , você aceita esse pobre passageiro sem noção alguma de aviação como seu namorado?
- Eu amo você. - Ela falou e me beijou em seguida, indicando que era um “sim”. Ela era minha e não sabia como driblaríamos a distância, mas não me escaparia assim tão facilmente.

Durante os dias que se seguiram, saiu do hotel e permaneceu em meu apartamento. Visitamos seu avô mais uma vez para contar sobre o namoro e ele adorou saber a notícia, acho até que ele piscou para mim como quem diz “viu como foi bom seguir meu conselho?”. Conversamos a tarde toda e jantamos com ele, até que precisávamos ir embora e se despediu.
Ela iria embora na noite seguinte e nós sabíamos o que isso significava, mas nenhum de nós sabíamos o que aconteceria a seguir. Aproveitávamos todas as noites como se fossem as últimas e cada momento junto era valorizado ao máximo. Nossa última noite não foi diferente enquanto todas as nossas roupas estavam no chão e nossos movimentos sincronizados.

For a while we pretended
(Por um momento nós fingimos)
That we never had to end it
(Que nunca tivemos de acabar com isto)
But we knew we had to say goodbye
(Mas nós sabíamos que nós tínhamos que dizer adeus)


- Isso não é um adeus, tá me escutando? – Eu falava com em meio a um abraço. Estávamos no aeroporto em frente ao portão de embarque. – Logo eu irei te visitar, faz tempo mesmo que não vou até a Califórnia!
- Pode não ser tão simples assim, eu trabalho e viajo o tempo inteiro. – tinha lágrimas em seu rosto que faziam meu coração se apertar.
- Hey, o que eu falei? Daremos um jeito. Confia em mim, você confia?
- Claro que sim. – Ela tentava parar o choro. – Eu amo você, , acho que é a primeira pessoa que eu realmente amo, e isso é um saco.
Eu ri da frustração dela. Anunciaram o embarque de seu voo e foi o necessário para eu segurá-la e a beijar como se fosse nosso último beijo. Eu não sabia quando seria próximo, precisava aproveitar o presente. – Amo você, a gente se vê logo.
Ela escutou minhas palavras, me deu um selinho, soltou minha mão e se encaminhou até o portão. Fiquei parado encarando a porta não sei por quanto tempo, mas no momento em que deixei o aeroporto, o voo com destino a Los Angeles já havia decolado.
Eu sentia um vazio dentro de mim, era estranho e assustador. Eu não sabia como preenche-lo e não sabia se devia ou queria. Queria perto de mim novamente e isso bastava. Mas não havia como, não quando ela estava a trinta mil metros de altura em direção ao outro lado do oceano. Mas eu manteria a minha promessa feita a minha namorada. O logo seria em breve.

You were crying at the airport
(Você estava chorando no aeroporto)
When they finally closed the plane door
(Quando eles finalmente fecharam a porta do avião)
I could barely hold it all inside
(Eu mal conseguia segurar tudo isso dentro)
Torn in two
(Dividido em dois)
And I know I shouldn't tell you
(E eu sei eu não deveria ter te contado)
But I just can't stop thinking of you
(Mas eu não consigo parar de pensar em você)
Wherever you are
(Onde quer que você esteja)


As semanas que se passavam eram compostas por nossas ligações que duravam cerca de uma hora, ou dependendo da nossa disponibilidade e agenda. O fuso horário também não colaborava, sempre era noite em um lugar e dia no outro, um sempre estava dormindo e o outro estava trabalhando.
Nos momentos em que conversávamos, contava sobre os lugares que viajava, os passageiros que levava e sobre a possibilidade de pilotar aviões grandes em empresas maiores e renomadas. Eu ficava contente por ela assim como ela sempre sorria quando contava dos shows, cds e prêmios que ganhávamos.
E ao fim de cada ligação nós relembrávamos o quanto nos amávamos e sentíamos saudades. Ainda não tinha ideia de quando a veria novamente, mas meu sentimento não havia mudado durante essas semanas sem a sua presença.

Every night I almost call you
(Toda noite eu quase te ligava)
Just to say it always will be you
(Só para dizer que sempre será você)
Wherever you are
(Onde quer que você esteja)


Em algumas noites eu me pegava pensando se o melhor não seria se terminássemos tudo e cada um tivesse a possibilidade de seguir seu rumo sozinho, sem nada que nos prendesse. Mas então eu sabia que a resposta era “não” e sempre seria “não”, eu esperaria por ela, pois sabia que era a garota da minha vida e não a deixaria escapar.

I could fly a thousand oceans
(Eu poderia voar mil oceanos)
But theres nothing that compares to
(Mas não há nada que se compare a)
What we had and so I walk alone
(O que nós tivemos e assim eu ando sozinho)


Estava cansado e tudo o que eu queria era um banho e minha cama. Fazia cerca de uma semana que não conversava com e não tinha notícias dela. Ela sabia que eu estava completamente cansado com toda a correria de novo álbum e provavelmente ela também deveria estar fazendo vários voos. Já fazia cerca de oito meses que não nos víamos, desde uma vez em que passei quatro dias em Nova York com ela. Eu estava com saudade, mas ao mesmo tempo eu estava deixando as consequências do tempo e distância chegarem e dominarem meu espírito. Eu a amava, mas não tinha esperanças de reencontrá-la tão cedo. Até eu abrir a porta do meu apartamento.
estava sentada no sofá me encarando, uma mala atrás do mesmo e eu não sabia se corria até ela ou tentava assimilar o fato de que ela estava tão perto de mim após tanto tempo.
- Vai ficar aí parado e nem vai dizer “oi” para a sua namorada? – Ela tinha um olhar brincalhão.
Finalmente consegui me mover, fui até a sua direção, agarrei sua cintura e a beijei. Senti saudade do seu beijo, do seu perfume e seu toque. O arrepio que sinto quando ela passa suas mãos em meu cabelo e o jeito bobo que fico ao seu lado.
- Eu não acredito que está aqui! – Sussurrei após romper nosso longo beijo repleto de saudade. – Por que não me avisou?
- Quis fazer uma surpresa, desculpa. E lembrei que você deixava uma chave reserva com , para o caso de emergências, então eu liguei pra ele e...
- Quer dizer que o sabia que você viria? – Ela afirmou. – E por que ele não me contou?
- Porque então estragaria a surpresa, dãr! – bateu em minha testa como se fosse um retardado. Mas sinceramente minha aparência deveria estar exatamente como um.
- Obrigado por fazer essa surpresa, eu adorei. – Eu já sorria e beijava seu rosto várias vezes por segundo. - Desculpa ter ficado tanto tempo longe, com o lançamento do álbum... Mas não importa, você está aqui e temos que aproveitar o tempo que você for ficar. Quanto tempo dessa vez?
- O tempo que você quiser, .
Eu achei que tinha entendido errado, mas então pegou uma carta e me entregou, incentivando a abrir. Quando o fiz, me deparei com uma carta, parecia um convite para ela trabalhar na...
- British Airways? É isso mesmo? – Eu ainda estava atordoado com os últimos dez minutos.
- Sim, e eu aceitei. Na verdade só falta oficializar essa semana, mas está tudo certo. Ficarei mais perto do meu avô, que precisa de alguém com ele, o emprego é melhor, a cidade é incrível, é uma empresa renomada e o mais importante: não preciso mais ficar a um oceano de distância de você.
Quando ela terminou de falar, eu não queria mais saber de nada. Minha estava ali para sempre e eu poderia beijá-la quando quisesse, e eu queria agora. Relembrei o caminho do quarto para e lá fizemos amor, talvez a melhor vez em toda a nossa vida. Isso porque tinha muito envolvido, todo nosso carinho, saudade, paixão... amor. O amor que nunca morreu apesar de tudo e toda a distância.
E não importa como tudo começou: se foi em um bar, em um show ou em uma troca de malas no aeroporto. O acaso tratou de dar um jeito de nos colocar juntos uma vez e o destino nos uniu novamente, porque foi necessário apenas algumas viagens para encontrar o amor sem que o procurasse, e nunca mais separá-lo.

Fim


Nota da autora: Oi, pessoal! Vou começar dizendo que escrever com POV de outra pessoa, principalmente do sexo oposto, é bem complicado! Você tem que pensar como ele e ver como ele agiria, wow. Segundo: quando vi a ideia do especial, logo quis ter ideias e mandar, por isso agradeço à Juliana, Amanda e Thaís que me deram algumas ajudas, ideias e incentivo. Agradecer também à Ana Elisa, minha parceira de fics, que também me incentivou e me ajudou a encontrar o título perfeito para a shortfic. Acho que é o título mais legal que já dei para uma fic minha! Hahaha. Essa fanfic foi um pouco baseada em mim. Eu sei que era pra ser com tema de Dia do Aviador, mas até ano passado o meu sonho era fazer Engenharia Aeronáutica e se o curso não fosse tão concorrido, eu manteria essa ideia. Hoje é apenas algo que amo muito, aviões são a minha paixão e por isso gostei tanto de escrever essa fic. Enquanto eu escrevia, pesquisei bastante para não jogar coisas sem nexo ou sem lógica, por isso que a faculdade, parques, aeroportos e a RAF são realmente verdadeiras, se tiverem curiosidade é só pesquisar que tem tudo certinho no Google. E a chuva de sorvete realmente aconteceu um dia, e foi esse ano! Imaginem que demais! Hahaha.
A música no final, pra quem não conhece, é "Wherever You Are" do 5 Seconds Of Summer, eu super recomendo! Eles tem estão abrindo os shows da One Direction durante a Take Me Home Tour e se quiserem saber um pouco mais sobre eles, recomendo esse site aqui.
Bom, é basicamente isso que eu queria dizer, eu espero que vocês curtam tanto quanto eu curti escrever. E mandem seus comentários pra eu saber o que acharam, ok? Amo vocês, aproveitem!
xx Giu.

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