Gimme Shelter


Escrita por: Laura M.
Betada por: xGabs Andriani




Augustine

We watched the ships come in from across the bay
I watched your lips move in wondering what to say
That was good enough?
That was strong enough?
That was good enough for you?


O Sol estava se pondo, mergulhando nas águas límpidas do mar da baía. Era o meu lugar preferido, o píer. Observar os navios sumindo pela imensidão de águas era terapêutico, embora tudo o que aqueles navios representassem para mim agora era apenas a solidão. Mas, após cinco longos e lúgubres meses em regime de silêncio, era um alento que ele estivesse aqui. A sua mão gelada na minha, seus ombros ossudos encostados aos meus. E o seu sorriso que, mesmo sem emitir som algum, colocava um fim àquele regime, ironicamente, ensurdecedor. Eu tinha tantas perguntas, tantas novidades que me sufocavam. Eu queria lhe dizer tantas coisas, mas não tive coragem de interferir nossa atmosfera reconfortantemente nostálgica. À terceira buzina de um dos navios ao fundo, senti seus dedos gélidos deslizarem pelo meu braço, até alcançarem a minha mão e, ali, aninhar-se aos meus dedos. Estava tão magro que seus ossos machucavam meus frágeis dedos, mas não me importei. Era bom ter meu melhor amigo de volta. Era bom ter null null de volta.
Inclinei-me o suficiente para recostar minha testa em seu braço, também magro. Afinal, aquele era null: colocando o bem-estar de outros a frente do seu próprio. E Deus, como eu o admirava. Admirava cada pequena parte de seus ossos, de seu corpo, de seu ser. Levantei a cabeça, encontrando o seu rosto inclinado para o horizonte. Seus olhos, de azuis radiantes e extremamente mais claros naquele dia, estavam tristes e marejados, mas ainda sim, sua beleza continuava intacta. Os cabelos, em um corte desgrenhado, caindo em sua testa, sendo balançado pelo vento apenas evidenciavam o grande período em que estivera longe de mim. Não permitiria tamanho desleixo. Ri de meus próprios pensamentos, rolando os olhos, ao mesmo tempo em que null abriu a boca fazendo menção de se pronunciar, mas fechou-a logo em seguida. Apertei sua mão entrelaçada a minha, incentivando-o. Ele fechou os olhos, soltando um longo suspiro na sequência.
- O que eu devo te dizer, null? O quê? Eu realmente não sei. – null finalmente verbalizou a sua angústia, mantendo-se de olhos fechados. Bom, não havia muito para expressar. “Sinto muito que o seu namorado tenha morrido na guerra”? “Horrível a perda do meu melhor amigo e do seu namorado, mas o que eu posso fazer? Era a porcaria de uma guerra”? Eram opções, mas, sinceramente, eu preferia não escutá-las. null sabia disso. E sabia exatamente o que dizer nessas horas.
- Senti tanto a sua falta. – foi o que disse, doce e choroso, ao esmagar ainda mais meus dedos nos seus. A simples melodia de sua voz fez algo em meu interior se revirar. Talvez minha pequena sementinha também estivesse feliz com o seu retorno.
- A única coisa que me reconfortava de sua ausência era saber que você estava cuidando de null. E de todos os outros soldados estadunidenses. – respondi sincera.
- Mas agora estou aqui pra cuidar de vocês. – null desvencilhou seus dedos magros dos meus e postou delicadamente suas mãos em minha grande barriga. Seu toque era de tamanha delicadeza que, em sua cabeça, minha barriga era feita de vidro. Ou cristal. Não contive um sorriso tímido e leve escapar.
- Não. Você está aqui porque eu preciso de você. – eu posicionei minhas mãos em cima das suas, acariciando-as. – E eu sei que você precisa de mim.
- Vocês precisam de mim. – ele insistiu. Achegou-se mais a mim, deixando-nos frente a frente e encostando sua testa na minha, sussurrou: - E eu quero ser o pai do seu filho.
Ainda me lembro de quando Katherine sentou-se em meu sofá, com os olhos inchados e, com as suas mãos trêmulas, estendeu uma carta timbrada para mim. Não me recordo das palavras escritas na carta, para falar a verdade, quando me dei conta do que se tratava... De que a carta era de condolências, minha visão embaçou, e as lágrimas me impediram de enxergar qualquer sílaba a minha frente. A sensação era semelhante à de uma mão atravessando o seu peito, arrancando seu coração e, quando você estivesse de joelhos, sagrando com o peito aberto, seu coração fosse jogado a sua frente e a única coisa que lhe restara era assistir a sua vida se esvaindo de você. Não que fosse humanamente possível sobreviver a isso, mas, era como eu me sentia. E era exatamente assim que a morte de null null havia me deixado.
No lugar de meu coração, nada além de um vazio completo. Mas, ao ouvir a voz doce e determinada de null (em minha cabeça, pausadamente), dizendo que queria assumir a criança como sua, era como se Deus, com suas mãos divinas, colocasse meu coração onde não deveria ter saído nunca.
- Você... você nã-ão precisa fazer isso. – sem que eu percebesse minha voz tornou-se trêmula, e aos poucos, o tremor tomou conta de todo meu corpo e, inevitavelmente, os soluços escaparam de minha garganta.
Quando dei conta por mim, estava envolta nos braços de null, num abraço reconfortante, enquanto ele acariciava meus cabelos, e repetia:
- Mas eu quero fazer isso... Eu quero. – sua voz soprava suave, mas tudo o que eu me permitia fazer era chorar. Chorar porque eu não tinha mais null null. Chorar porque, quando a criança nascesse, eu teria de aguentar as punhaladas da sociedade e, principalmente, de minha família. E chorar porque null null era o melhor amigo que, nem se eu o tivesse encomendado, seria tão bom.
- Vai ficar tudo bem, ok? – ele esperou que eu me acalmasse, e então tomou meu rosto em suas mãos, limpando os resquícios das lágrimas com o seu polegar. Dei um longo suspiro, seguido de um soluço. – Eu vou assumir esse filho. A gente não precisa casar, se você não quiser, mas eu quero que essa criança cresça tendo uma família. – null sorriu triste para mim, seus olhos azuis completamente marejados. Mas eles não me encaravam. Estavam fitos no céu, como se aquelas palavras não fossem para mim, e sim para null. E foi então que percebi.
Como pudera ser tão burra? Era óbvio que null pediria a null que cuidasse de mim e do bebê. Eu deveria discordar, mas, àquela altura, tudo o que eu queria era ter alguém em quem me apoiar.
- Você é incrível. – limitei-me a dizer, enquanto absorvia as informações. O problema era que na voz doce e gentil de null, os problemas transformavam-se em meros obstáculos. Mas, a começar pelos meus pais, era um obstáculo que tropeçaríamos muitas vezes. Eu não queria me casar. Não seria justo com null. Não seria justo com null.

Love is an ocean caught in a storm
Breaking down walls and taking its form
The farthest from safety but the closest I've come
As we come undone in Augustine

null’s POV
Eu estive por cinco meses em um dos postos médicos dos Estados Unidos, como médico voluntário, cuidando de cada soldado ferido na guerra do Vietnã. Cuidei de muitos rostos desconhecidos; rostos que nunca cheguei a descobrir se conhecia; e alguns, poucos, rostos que conhecia pouco ou muito bem. Nesse ínterim, me mantive forte, mesmo diante do falecimento de rostos conhecidos. Eu sabia que se eu desistisse, outras famílias perderiam seus pais, filhos, irmãos... E, bom, no meio daquele caos... Tinha null. Ele precisaria de mim. Na realidade... Ele precisou.

- null, mon amour, porque não vai descansar? Seu turno acabou há três horas. – Amellie, como sempre, trouxera uma xícara de café e tentava me convencer de abandonar as horas extras que sempre fazia após meus turnos. Sorri em agradecimento pelo café, depositando um beijo rápido em seus lábios.
- Só estava verificando o medicamento de Phillip. Ele estava resmungando muito de dor. – tomei um gole do café enquanto Melli me olhava como se eu fosse o ato de pacificidade da guerra em pessoa.
- Você tem um coração tão lindo e puro. Já te disse isso, não é? – Melli abriu o sorriso que eu tanto amava e era como se fosse a minha salvação em meio a toda aquela dor. E talvez eu acreditasse em suas palavras.
- Pra estar comigo, você tem uma alma mil vezes melhor do que o meu coração. – ela revirou os olhos, e eu depositei um beijo em sua testa.
Era verdade. Amellie não merecia estar com um cara como eu. Ela era uma linda francesa, de estatura baixa e cachos loiros, estudante de enfermagem nos Estados Unidos. Nós nos conhecemos em uma das festas pelo campus da faculdade e quando se iniciou a guerra, decidimos juntos que nos voluntariamos para os postos médicos. E lá estávamos. Eu tinha muita sorte de tê-la, especialmente por ter me aceitado mesmo sabendo que meu coração era de outra mulher. A mulher de meu melhor amigo. A mulher do meu melhor amigo a qual estava esperando um filho dele.
- Eu vou te fazer me amar e esquecer-se de null. Prometo. – foi o que Amellie me disse quando ficamos juntos pela primeira vez. No mesmo dia em que descobri que null estava grávida. Eu não pude prometer nada a Amellie, mas o carinho que tinha por ela não poderia ser descrito. E toda a sua dedicação a mim fora o que me mantivera firme durante toda aquela carnificina.
- Podemos resolver isso no seu dormitório? – Amellie passou seus braços pelo meu pescoço, abraçando-me e sussurrando próximo ao meu ouvido. Era óbvio que era contra as regras levá-la para o meu dormitório, mas umas escapadas não matariam ninguém, não é?
- Não resisto aos seus pedidos, você sabe. – a abracei pela cintura, e enquanto nos guiava para fora do quarto, ia enchendo-a de beijos rápidos em seus lábios.
- E eu não resisto a você. – seus lábios se abriram num sorriso antes de colarem-se aos meus. Agarrei a cintura dela com afinco e a encostei na parede, impulsionando meu corpo sobre o dela. Um barulho nos chamou a atenção, e por segundos, nos separamos. Olhamos ao redor e nenhum sinal de ninguém. Demos de ombros, pois o barulho deveria ter sido pela força desnecessária ao prensá-la na parede. Mas, assim que nossos lábios se encostaram novamente, o barulho se intensificou e nos deixaram em alerta. O caos que sempre caía sobre a base quando um soldado ferido chegava se instalou em segundos ali. Amellie e eu apertamos os passos para acompanharmos os enfermeiros e a maca que estava sendo carregada. E eu realmente queria ter continuado, ido atrás da maca naquela hora. Mas meus pés se estagnaram no chão. Estava inapto a me mover. O soldado ferido em questão era null null. Meu melhor amigo. E pai do filho da mulher da minha vida.
Meus joelhos fraquejaram ao ver a quantidade de sangue que lavava a sua camiseta branca. Somente voltei a mim quando senti o toque firme das mãos de Amellie nas minhas, me incentivando a acompanhar null.
As próximas horas foram apenas borrões e flashs de desespero. null havia sido baleado no pulmão. As horas seguintes foram completamente vermelhas e dolorosas.
null estava em seu último suspiro, lutando com os médicos para o deixarem ir. Uma grande virtude de null que eu admirava era a sua coragem para bater de frente em todas as dificuldades, mas saber quando era a hora de desistir.
- null. - suas mãos agarraram meu braço, e sua voz não fora nada além de um sopro.
Engoli em seco porque sabia o que viria a seguir e ser forte estava passando longe das minhas condições. Meus joelhos já pareciam gelatinas.
- Não se esforce, null! Shh... - pedi, segurando o choro, os olhos ardendo.
Ele apenas fechou os olhos fortemente, tomando fôlego para continuar.
- Cuide da null por mim. De null e do bebê. – e o seu pedido fora seu último suspiro. Sua última súplica.
E eu cumpriria até o meu último suspiro, também.


null era filha única dos null, mas passava longe de ser a ricassa mimada que seu status sugeria que fosse. null tinha opinião própria e nunca se calava ou abaixava a cabeça para seus pais. Embora fosse uma garota frágil e extremamente doce, sempre deu seus passos sozinha. A primeira vez que a vi fora em uma festa na nossa cidade, era dia de Santo Agostinho. null null, seu primo, null e eu estávamos nos embebedando escondidos nas escadas dos fundos da igreja quando ela apareceu. De traquinagem para cima dos pais, null fugiu para ir à festa.
Ela estava incrível aquela noite. Seus cabelos cacheados, caindo em seus ombros, com algumas mechas coloridas. Suas pernas estavam com pele demais a mostra com a sua saia vermelha, e sua barriga, também a mostra demais com a sua blusa branca que acabava pouco antes do umbigo, e a jaqueta jeans que identifiquei ser de null. Estava estonteante. Para minhas faculdades mentais de um cara alcoolizado, reparei mais em null do que deveria.
A sensação de encontrar seus olhos, tão lindos e cheios de vida, ainda me arrebata toda vez que essa lembrança me vem a mente. Se amor à primeira vista não existia, eu tinha inventado naquele momento. Ela era incrível.
Juntou-se a nós, sentando-se um degrau abaixo de mim, ao lado de null. E por mais que minha consciência gritasse que não era certo, eu só tive olhos para null o resto da noite. Suas bochechas ficavam redondinhas toda vez que sorria, e elas eram naturalmente avermelhadas. Seus olhos castanhos brilhavam juntamente com seu sorriso. E toda vez que colocava uma mexa de cabelo atrás da orelha e umedecia os lábios quando ficava sem graça, eu me apaixonava um pouco mais. null era graciosa... Mas, minha paixão sempre se manteve presa na forma de carinho de melhor amigo. Já naquela época, ela namorava null null.
O único problema era que, quando eu amava, não sabia conter o sentimento. Eu era intenso. Então null e o mundo sabiam de minha paixão pela bela . Mas acho que minha dignidade de respeitá-los e manter nossas amizades era o suficiente. Pelo menos para null e null.
Quando voltei a cidade, duas semanas após seu falecimento, a primeira coisa que ouvi foi: "Agora você vai conseguir o que sempre quis, null, a null de null". Fraquejei diante desses comentários, mas fiz uma promessa a ele em seu leito de morte. Era uma promessa seria e envolvia o bem estar de outros dois seres humanos que, apesar de não conhecer um ainda, já o amava incondicionalmente. Ignorei os comentários, até mesmo os que saíram da boca da família de null.
- Não entendo a razão para isso, jovem null, mas se tem uma coisa que aprendi nessa vida é que muitas delas simplesmente não têm explicação. – começou John null, pai de null, quando disse que assumiria o filho como meu e, claro, fui pedir permissão para levá-la ao altar.
- Com todo o respeito, eu não quero que o senhor entenda. Apenas que permita que eu faça isso por sua filha. Eu a amo e só quero o bem dela. – rebati. John apenas deu um longo suspiro, e passou a voz para Annelize, sua esposa.
- Eu sinceramente não me importo, Senhor null. null não é mais minha filha. O Senhor faça o que bem entender.
- ANNELIZE! – John a repreendeu, antes mesmo que eu pudesse erguer a voz a matriarca dos null.
- O que foi, querido? Filha minha não entrega sua honra pra qualquer um antes da hora. E Senhor null estava apenas esperando uma oportunidade para agarrá-la.
- Eu terminei aqui! Mando o convite do casório para você, John. – nao esperei o sorriso cínico da matriarca terminar de me irritar. Levantei-me, despedindo-me de John, e deixando a arrogância de Annelize para trás.
Quando contei a null, ela sucumbiu em lágrimas nos meus braços. E pela primeira vez, desde a morte do null, desejei que ele ainda estivesse aqui e nada estivesse fora do lugar. Mas meu dever era passar segurança a null, então não verbalizei meus sentimentos.
- Você ainda tem a mim, pequena null. Seu pai também está ao seu lado e tenho certeza que null também. – limpei as lágrimas teimosas que desciam por sua bochecha, acariciando aquela região enquanto tentava dar o meu melhor sorriso de encorajamento.
Pareceu funcionar, porque null abriu um sorriso lindo, apesar de um pouco triste. Mas fazê-la sorrir já era reconfortante.
- null vem para a festa de Santo Agostinho. – ela falou baixinho, aproximando-se de mim. Colei nossas testas, ainda acariciando suas bochechas.
- Então nós vamos à festa? – perguntei, dando um beijo em seu nariz. null suspirou longamente, retribuindo-me com um beijo na bochecha.
- Vou pensar com carinho no seu convite. – Ela falou. Queria que ela fosse, pois não queria que deixasse o mundo dizer a ela como deveria viver. Queria que ela mostrasse que era forte, porque ela era. E queria que ela confiasse em mim para estar lá com ela.
- Tenho ótimas lembranças de lá. Pense com carinho mesmo. – Pisquei para ela, e com a sua cara de desconfiada tive certeza que havia ganhado seu sim.

We dangled our feet over water from the wall
I took your hand ready for the fall
I'd fall fast enough, I'd fall hard enough, I'd fall fast enough
For you…

null’s POV
Eu não podia negar que me sentia traindo o luto pela morte de null indo para a festa de Santo Agostinho. Afinal, todos os anos null, null, null e eu íamos juntos para a festa. Era como a nossa tradição particular. E esse ano, bom... Apenas não parecia certo ir até lá, sentar nos degraus da igreja e rir como se tudo estivesse bem. Mas, como sempre, null possuía o dom de me fazer sentir que era o certo apenas por tê-lo ao meu lado. Estranho porque com null eu nunca tivera essa certeza...
Afastei esse pensamento, no mínimo, perturbador da cabeça quando percebi que a igreja entrava em minha visão. Todas as pessoas com quem cruzava socialmente e me julgavam agora, já estavam lá. Minha hesitação foi eminente. Meus pés se recusaram a dar qualquer passo que fosse. Forcei mais meus dedos entrelaçados aos de null, voltando a sua atenção para mim.
- Ei... – ele soprou baixinho, me puxando para perto dele, tomando meu rosto em suas mãos grandes e ossudas. – Você é forte, lembra? E eu estou aqui... null também. – ele sorriu doce, tentando me passar confiança. Mas eu não era a garota forte que ele dizia, eu era fraca. E cedi a minha fraqueza.
- Eu simplesmente não vou aguentar cada palavra de consolo e pêsame de quem não sente se quer simpatia por mim. Por ele. – cuspi, tremendo-me dos pés a cabeça e deixando as lágrimas seguirem livremente pela minha bochecha.
- null! – null chamou, sacudindo-me levemente pelos braços. Sabia que quando ele não utilizava sua doçura era porque eu precisava me reerguer. – null! – chamou novamente e, após um longo soluço, o fitei. E ele sorria.
- Você está de luto e tem todo o direito de ser ranzinza com todos que dignarem a serem falsos com você. E mostrar um dedo realmente feio para eles. – ele fechou a cara, fingindo estar bravo e em segundos, de lágrimas, passei a risos.
Simplesmente amava a simplicidade de null. Eu o amava.
- Certo. E depois disso a gente corre como se tivéssemos doze anos de novo? – perguntei, abraçando-o e o assegurando que poderíamos entrar naquela festa feito super-heróis. Porque era exatamente essa força que null null me passava.

A luta contra o sentimento de traição ao luto não acabou ali. Quando encontramos com null, ele sugeriu que fossemos até a escadaria da igreja, onde costumávamos ficar com null nas festas passadas. Não parecia certo, mas quando pensei em hesitar, null já estava ali me abraçando e me lançando o olhar de que tudo ficaria bem. Sentamo-nos nos degraus gelados, com as expressões vazias como se faltasse alguma coisa. E realmente faltava.
null sentou-se um degrau acima de mim, abraçando-me e fazendo questão de acariciar minha barriga. Era um sentimento novo... Parecia errado sentir-me daquele jeito, mas, seus carinhos me deixavam feliz. O bebê parecia feliz, também, pois toda vez que null falava ou acariciava minha barriga, ele se remexia dentro de mim. Sensação única, porque era como se estivesse sendo amada duas vezes. Pelo bebê e pelo homem que o assumiria.
Traição, traição e traição. Era tudo o que passava em minha mente ao pensar nisso. Mas, era de fato, traição a quem? As cinzas de null que logo seriam absorvidas pelo oceano? A memória de namorado fiel dele? Porque a null eu jamais poderia trair... Certo?
E, afinal, eu amava null. Ele sempre fora cavalheiro, gentil, carinhoso e extremamente altruísta em relação a mim. Sua paixão por mim não era segredo para ninguém, muito menos para mim. Ele era apaixonado por mim e, ainda assim, sorria quando lhe chamava de melhor amigo e ajudava null com os presentes e com as cartas que escrevia para mim. Era óbvio que null não conseguiria ser tão romântico quanto null era, era fácil relacionar cada frase a seu criador em minhas cartas. Enfim, era admirável que null me amasse como mulher, mas não abrisse mão de sua amizade comigo e com null.
E eu não devo negar que as minhas estruturas se abalavam frequentemente com o seu amor. Eu era total e completamente apaixonada por null, mas... tremia ao mero toque de null e sentia o estômago afundar toda vez que ele aparecia na porta de minha casa.
- null null! – ouvi a voz de null sobressair-se à dos meus pensamentos e foi então que me dera conta de que estivera quieta por tempo demais.
- Sim, querido null? – sorri tensa para ele, recostando a cabeça no peito de null. Senti os olhos de null brilharem sobre mim e automaticamente minhas bochechas queimaram.
- Eu não vim lá da Suíça pra você não me dar atenção. – ele disse sério, com um bico do tamanho do mundo. Senti-me culpada, porque null era o irmão mais velho que eu não tivera e estava descontando nele um sofrimento o qual ele não tinha culpa.
- Perdão! – estendi minhas mãos para ele que as pegou rapidamente, afagando-as. – Em tempos de guerras e perdas, me sinto extremamente feliz que você esteja aqui, null, de verdade! – fui sincera, recebendo um sorriso gigante dele. E ganhando, também, um pigarro de null. Ri levemente, virando-me para ele.
- Você sabe o quanto a sua presença aqui me deixa feliz também, null... Aliás, nos deixa feliz. – dei um longo beijo em sua bochecha e imediatamente senti seus braços se apertarem cuidadosamente ao meu redor. Por fração de segundos, pareceu errado beijá-lo ali. Na bochecha.
- Eu acho bom mesmo, pequena null. – null sorriu, dando um beijo em meu nariz. Quando voltei a atenção para null, ele nos encarava como se estivesse assistindo o mais lindo filme de romance.
- Então, null... Conta como está sendo estudar na Suíça! – pigarreei, tentando afastar aquela neblina romântica indevida. null afrouxou o seu abraço e eu me senti... Magoada. Deus, eu realmente não sabia lidar com o luto.
- Em tempos de guerras e perdas... – null roubou a minha frase, rindo, e prosseguiu: - É muito bom me manter ocupado com a medicina e sua loucura... – null ia continuar a contar, mas sua atenção se voltou para um grupo de garotas próximo a nós, que cochichavam e apontavam. Era óbvio, não tinha como esconder uma barriga de grávida de sete meses. Abaixei o olhar, mas aparentemente null tinha escolhido aquela luta junto com null.
- As senhoritas perderam alguma coisa aqui nas escadas? Ficaria encantado de ajudá-las a procurar. – ele provocou, educadamente irônico e eu arregalei os olhos para null. É claro, ele ria e estava apenas esperando a hora de se pronunciar, podia ver em seus olhos.
- Acho que quem perdeu alguma coisa foi a sua priminha, não, null? Talvez a virgindade... – uma delas falou.
- A dignidade... – outra voz continuou.
- O pai do filho dela. – a primeira garota completou e aquilo fora como um tiro em meu peito.
- E eu vou esquecer rapidinho que sou homem e vou perder a minha mão nessas caras deslavadas de vocês! – null gritou, por cima da minha cabeça e pude senti-lo se inclinando, mas não lhe permiti levantar. null prendia o riso com os lábios fechados numa linha, mas tudo o que eu queria fazer era cavar um buraco e morrer ali. Não atrevi erguer o olhar até as garotas, apenas pedia baixinho para que null parasse com aquilo. Pude ver pela minha visão periférica que null tentava mandá-las embora com gestos, mas não sei se chegaram partir.
- Quer saber? Chega! – null disse firme, levantando-se e não me dando tempo de reagir.
Ele parou de frente para mim. E em meio aquele caos, só consegui reparar o quanto ele ficava lindo quando se vestia totalmente de preto, destacando aqueles límpidos olhos azuis.
- Caramba, null! Você é uma garota incrível e não merece ser atacada desse jeito pelas escolhas que fez na merda da sua vida pessoal! – ele começou, e eu não sabia o que fazer além de assisti-lo em seu monólogo. – Muito menos quando todos deveriam estar te dando apoio. Mas, sabe? Eu sei que não sou null null e sei que eu nunca posso chegar a ser metade do pai que ele seria pra esse filho, mas... Caramba, eu amo você e esse bebê e quero dar a vocês a melhor vida que vocês possam ter. Eu vou me esforçar para isso todos os dias! – àquela altura, null especulava e falava alto, mexendo nos cabelos a todo o momento, completamente... Nervoso. Eu sabia o que viria a seguir. Ele se ajoelhou da melhor maneira que pode nas escadas, e me deu o sorriso mais lindo do mundo. E então, todos sabiam o que viria a seguir. null retirou do bolso uma caixinha de veludo vermelha e a abriu, revelando um anel de diamantes.
- Aceita se casar comigo e me fazer pai do seu filho, pequena null null? – ele propôs. Cada sílaba saindo de sua boca em câmera lenta, como se o mundo tivesse parando somente para mim e ele. Eu não sabia o nível de erro que estava cometendo ou talvez fosse o melhor acerto da minha vida, mas, no segundo seguinte joguei-me nos braços de null, colando meus lábios nos dele com força. Ele pareceu surpreso a princípio, totalmente tenso ao meu toque, mas aos poucos fora processando que sim, eu estava lhe beijando e cuidadosamente nos levantou, aprofundando o beijo.
Seus lábios tomaram os meus por mais alguns segundos, antes da sua língua invadir a minha boca e o seu gosto me fazer estremecer. O seu beijo fora suave, calmo e... apaixonado. Era urgente também e, infelizmente, ainda possuía um pouquinho de culpa.
null quebrou o beijo, dando um leve selinho em meus lábios.
- Eu te amo. – falei, enquanto roçava nossos narizes.
- Eu te amo mais. – ele abriu um sorriso, abraçando-me.
E foi então que percebi que, metade da festa de Santo Agostinho havia parado para nos assistir. null, vendo de camarote, deixava uma solitária lágrima descer pela sua bochecha. Ele logo a limpou, mas eu vi. Não sabia como aquela cena repercutiria em minha vida, mas, eu tinha uma certeza: Não importava como, eu tinha null null para lutar comigo.

Don't say a word, I hope that you know
There's truth in the way that we feel
The current is strong
I'll never let go of you

null's POV
Aquela noite estava mais fria. A neve começava a cair do lado de fora de casa e completavam-se duas semanas desde que null partira. Esquentei uma xícara de chocolate quente na esperança que descongelasse, além de meus dedos, o meu coração. Mas fora em vão, lógico. O iceberg que se encontrava em meu coração somente iria começar descongelar no instante em que visse o neném de null... O nosso neném nascendo. E terminaria quando tivesse a confirmação de que fui um bom pai para ele.
Deitei-me no sofá, ainda com a xícara em mãos, já sabendo que não conseguiria dormir aquela noite. Tentei pensar em null para me acalmar, mas... A lembrança do beijo que ela me dera na festa de Santo Agostinho deixava-me ainda mais agitado. Fora tão sincero e errado ao mesmo tempo. Sentia-me traindo null, traindo a sua imagem e o que ele fora de melhor em sua vida: Homem de null. Mas, apesar de errado, aquele beijo significara alguma coisa, certo? Afinal, nós nos casaríamos. Deveria significar algo.
- null, null! – ouvi uma voz me chamar em meio às batidas frenéticas na porta de casa. – null, eu sei que você está aí. – bateu mais uma vez e então eu reconheci a voz chorosa. null.
- Pequena null, o que aconteceu? – perguntei, assim que abri a porta e a encontrei em prantos, com o rosto vermelho provavelmente pelo choro. null se jogou em meus braços, e eu a aninhei em um abraço. Ela tremia, mas nenhum som, além de seus soluços, saía de sua boca. – null, por favor, você está me assustando. O que houve?
- A minha mãe, null... Ela, ela... Surtou. Me bateu, disse que não carregaria o fardo de ter uma filha grávida, viúva e um neto órfão de pai. null, por que ela é tão cruel? – null desabou, cuspindo as palavras com tanta mágoa que fora difícil não cair de joelhos e chorar junto com ela. Respirei fundo, sentindo uma raiva gigante da senhora null. Mas raiva nunca resolveu problemas...
- Vem aqui... Você precisa se acalmar, esse nervosismo não faz bem para o bebê! – a abracei, alisando seus braços e esperando que se acalmasse. – Entra aqui, vou lhe fazer um chocolate quente.
Guiei-a até o sofá, cobrindo-a com a manta que sempre ficava ali, e depositei um beijo em sua testa antes de ir até a cozinha preparar o chocolate quente.
- O que realmente aconteceu? – perguntei assim que regressei a sala, lhe entregando a xícara. null aceitou, pegando-a com uma mão enquanto a outra procurava pela minha.
- Bom... – ela fungou, ressentida, e continuou: - Ela voltou bêbada de mais uma dessas festas, jogando na minha cara os comentários sobre mim e...
Aos poucos, ela fora explicando que sua mãe lhe expulsara de casa e que seu pai não movera um dedo para defendê-la. Eu não lhe respondi de prontidão. Minha cabeça maquinava lentamente quais seriam os nossos passos porque o único apoio que tínhamos estava na Suíça.
- null... Se você quiser desistir, eu entend...
- Eu não vou desistir. Isso é tão importante pra mim quanto pra você. – não deixei que terminasse sua frase. Meu silêncio não era de desistência.
Continuamos ali imersos em nossos próprios pensamentos, a mão de null apertando a minha como se fosse um sinal de que não me deixaria ir embora. Não era necessário, eu nunca iria. Precisava pensar numa forma de sobrevivermos àquela loucura, de sairmos daquela bagunça. De fugirmos. No mesmo instante que a ideia perfeita me ocorreu, null voltou a chorar, então eu tive certeza de que era o melhor a ser feito.
- Eu tenho uma ideia e sei quem pode nos ajudar. – disse com convicção.
- Não quero incomodar null e a família dele... - null ainda choramingava. Eu levei minhas mãos até o seu rosto, afagando-o com carinho. Limpei as lágrimas com o polegar, dando um beijo em cada bochecha.
- Não vai ser preciso. Amellie ficaria feliz em nos ajudar. – falei simplesmente.

***


Uma ligação. Fora tudo o que precisei para contar com o apoio de Amellie. Meu carinho por ela era enorme, então assim que cheguei à cidade, entrei em contato para saber como o clima na base estava. Como ela estava sem mim. Logo, acabava por lhe contar a situação entre mim, null e o falecimento de null. Ela sabia que era questão de tempo eu deixá-la na base para cuidar da minha própria vida. E que a null era a minha vida ela descobrira antes de mim.
As horas que se sucederam a ligação foram de extrema adrenalina e agonia. Se todo o plano de Amellie desse certo, null, o bebê e eu seríamos uma família feliz milhas e milhas distante dos Estados Unidos. Se não desse, eu apenas esperava que poupassem a vida do nosso filho.
Estávamos sentados no trem. A tensão era tão tangível que, se eu quisesse, poderia fazer um nó com ela. Minhas mãos estavam repousadas na barriga de null e seus olhos estavam fitos nas malas aos nossos pés.
- Você tem certeza disso? - ela perguntou após algum tempo.
- Nunca tive certeza de alguma coisa como tenho a de querer uma vida ao lado de vocês. - tentei sorrir o mais doce possível. A situação era tensa demais para que meus músculos faciais correspondessem ao que estava em meu coração, mas pareceu convencê-la. Ela sorriu de volta e voltou sua atenção as malas. O fiscal de passagens passou horas depois em nossa cabine e somente isso a fez despertar.
- null? - chamou, assim que o fiscal foi embora.
- Sim? - incentivei.
- Por que eu sinto que tem algo além da morte de null por trás de tudo isso? - null sempre parecia tão doce, inocente... Mas ela sempre sabia. De tudo.
- Porque tem, eu acho.
- Oh meu Deus! O que é, null? Você sabe que pode confiar em mim! - suas mãos agarraram as minhas, ainda mantendo-as em sua barriga. Seus olhos, sempre tão brilhantes, me fitavam com tanto... Cuidado que não me restava escolha a não ser contá-la.
Havia um segundo motivo tão importante quanto o pedido de null. Talvez fosse um desejo meu, mas... Se o cara lá de cima estava permitindo que as coisas acontecessem daquela forma, quem era eu para me sentir culpado por estar realizando-o? Era a forma correta, eu pensava.
- Certo... – suspirei, inspirando coragem para verbalizar aquilo que por tanto tempo não consegui dizer em voz alta. Sorri-lhe antes de continuar. – Eu não posso ter filhos, null. Sou estéril e não há nada que eu possa fazer a respeito disso. – sua boca se abriu levemente em surpresa. – E essa guerra é minha. null a colocou na minha mão e acredito que essa foi à resposta de Deus por eu ter questionado tanto por não poder ter um filho. – confessei e, sem que eu percebesse, as lágrimas já corriam livres. Senti o abraço forte de null ao redor de meu corpo enquanto ela enchia-me de beijos.
- Eu só não te bato por não ter me contado antes porque, Deus, null, você não pode ser real de tão perfeito. Aceito ser pobre, cuidar do nosso filho a base de água e pão e morar numa casa de pau a pique, o que for... Só quero ter você do meu lado.
Apertei-a em meus braços, sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Ela não tinha ideia do quanto havia me transformado com aquele “nosso” filho.
- Não vai ser necessário nada disso. Amellie faria pela gente tudo o que faço por você. – falei convicto.

We'd fall fast enough
We'd fall hard enough
We'd fall sure enough
And never look back

6 anos depois…
null’s POV

O Sol estava se pondo, deixando seus últimos raios iluminarem o rosto cheio de vida de null. Córsega apenas o deixada ainda mais lindo. Ao seu lado, estava Anthony, concentrado em seu papel quase em branco enquanto contava ao pai o que estava desenhando. null ergueu seu olhar até mim, sorrindo, e como um filme os últimos cinco anos passaram em minha mente. A fuga não fora a primeira e muito menos o nosso último obstáculo. A estressante viagem pelos ares e mares, me levaram a níveis horripilantes de complicações no último mês de gravidez. Mas, como null prometera, Amellie esteve sempre nos amparando. Mandando socorro pelos familiares na França ou por ela mesma pessoalmente. Eu seria eternamente grata a ela. Por ter amado tanto null que fizera o possível e o impossível por ele, por mim e pelo nosso bebê. Óbvio, após seu nascimento, a luta não parou por aí, criá-lo em um país onde não dominávamos a língua fora uma enorme batalha, também. Mas... a força de vontade, a determinação, dedicação e o grande homem que null sempre fora nesse ínterim também me vieram à mente, e eu lhe sorri de volta.
- Pai, o senhor está me ouvindo? – Anthony lhe chamou e null voltou a sua atenção para ele.
- Sim, filho?
- Meu desenho está pronto, o senhor quer ver? – Ant abriu um sorriso, erguendo a folha no alto. Tentei dar uma espiada, mas ele não parava de sacudi-la.
- Quero, claro! Mostra e continua explicando pro papai.
E então Ant colocou o desenho de volta a mesa, e levou seus dedos ao que parecia ser uma mulher palito.
- Essa é a mamãe. – ele explicou e sorriu para mim. Depois levou o dedo até uma criança palito.
- Esse sou eu de mãos dadas com a mamãe. – continuou, levando o dedo até um homem palito. – Esse é o papai. – e então, pela primeira vez percebi um quarto boneco de palito. Era um homem. Com asas. – E esse é o meu papai que está no céu, de mãos dadas com o papai.
Ant abriu um sorriso de orelha a orelha, mas null e eu trocamos um olhar de olhos marejados e bocas fechadas em uma linha fina para evitar as lágrimas.
Então, naquele instante, tive a confirmação de que ter fugido e nunca mais olhado para trás fora a melhor escolha da minha vida. Eu não precisava dos meus pais, não precisava ficar nos Estados Unidos. Eu viveria uma vida infeliz, onde seria julgada em qualquer lugar que frequentasse mesmo que tivesse uma vida digna. Tudo o que eu sempre precisei, após a fuga, eu tive. Porque null fora o homem da minha vida e null, nosso anjo protetor.


FIM



Nota da autora: Oioi, essa fic eu escrevi pra um projeto de songfic por aí, mas pelo número limitado de páginas eu não tinha ficado com o final que queria, então aproveitei esse especial pra dar uma mexidinha na minha short xodó hahaha é uma ideia que ja tinha há algum tempo e gostaria muito de abordar o tema :x hehe espero que por ser short, tenham tocado vocês mesmo assim hehe é isso! Deixem um comentáriozinho dizendo o que acharam!
Beijos, cupcakes.



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