Guess I'll Go Home


Escrita por: Thizi
Betada por: Lila Zardetto


CAPÍTULOS: [1]



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Eu estava com uma mão sobre o volante, enquanto a outra pousava no joelho de , que lia pela milésima vez algum de seus livros favoritos. Vez ou outra ela levantava a cabeça só para verificar o quão perto nós estávamos do nosso destino.
Destino que ela não fazia ideia qual era.
Nós estávamos viajando até a minha cidade natal. Eu havia feito uma promessa, há um tempo, de que a levaria lá qualquer dia. Mas não chegaremos lá em qualquer dia. Chegaremos no
nosso dia, visto que já era quase meia-noite, e então, comemoraremos um ano de namoro.
E o melhor de tudo é que ela não esperava nada disso. Não que eu seja do tipo que esquece o aniversário de namoro – não sou –, mas não se prende a essas coisas. Pelo menos eu achava que não, porque nunca tínhamos comemorado um aniversário antes.
Mais alguns minutos e chegaríamos à cidade.
Eu havia planejado um piquenique no parque onde brinquei minha infância inteira. Iríamos para lá uma hora antes do pôr-do-sol, com o pretexto de simplesmente fazer um lanche normal e quando o sol começasse a se pôr, eu daria a ela uma corrente de prata que havia mandado fazer.
Algo me dizia que ela ficaria em choque, pois como eu disse, ela não se prende a coisas assim, e então ela dirá a frase que costuma dizer sempre quando lhe dou alguma coisa: “não precisava”. Mas no final, acabará aceitando o presente com o maior sorriso de felicidade que pode dar. É assim que a é. É por isso que eu a amo.
– Esse livro é mesmo mais interessante que bater um papo com seu namorado? – perguntei, lançando um olhar divertido a ela, que fechou o livro, me encarando.
– Absolutamente. – respondeu, dando um sorriso de canto. – A diferença é que ele não fica chato nunca.
Olhei para ela, fingindo indignação.
– Ah, então
eu sou chato?
– Sim, e você sabe. – Ela riu, mas logo sua expressão tornou a ficar séria. – E pode fazer o favor de colocar a outra mão no volante?
– Não confia em mim a ponto de dirigir um carro?
– Confio, mas é perigoso. Põe a outra mão no volante, .
Retirei a mão de seu joelho e a coloquei no volante, mas ao fazê-lo, tirei a mão que estava ali antes. Sorri divertido para ela, que me olhou com cara feia.
. – ela falou, calmamente. – Eu estou pedindo para que você coloque as duas mãos no volante porque eu
não quero sofrer um acidente.
– Você não vai sofrer um acidente, . – revirei os olhos, fixando-os nela logo depois. Eu nunca me cansava de encarar seu rosto.
– Eu estou implorando. – Ela lançou seu olhar pidão, mas não funcionou.
Levei as mãos à cabeça, deixando o volante solto. deu um salto em seu banco, apressando-se para tomar posse dele.
, o que você tem na cabeça? – Ela me olhava, furiosa. – Pega isso, ou então troca de lugar comigo. Eu dirijo se você não tem capacidade e faz igual criança.
Peguei no volante, olhando para ela, que estava tão séria quanto eu.
– Está tudo bem, que saco, . – bufei.
No momento em que voltei meus olhos na direção da estrada, algo aconteceu.
Só tive tempo de arregalar os olhos devido ao que vi e ouvi em seguida: uma luz branca muito forte e um som de buzina ensurdecedor.
Então, tudo ficou em completo silêncio e o clarão sumiu.


Acordei assustado. Passei a mão na testa e notei que estava suando frio. Minha respiração estava extremamente alterada.
Tateei o lado oposto da cama, na esperança de tocar o corpo quente de , porém tudo o que minhas mãos encontraram fora o lençol frio... E o vazio.
Vazio.
Era assim que eu estava desde que ela se fora.
Pesadelos sobre aquela noite eram frequentes e me assombravam a cada piscar de olhos, mas eles nunca foram tão similares à realidade quanto o que acabara de ter. Na verdade, não foi um pesadelo, e sim uma memória.
Levantei da cama atordoado e fiquei passeando pelo quarto a fim de espantar aquilo da cabeça.
Desde que se foi, eu parei de viver. A culpa do acidente pesava em minhas costas. Se não tivesse agido como um idiota, nada daquilo teria acontecido. Mas eu não fui punido por aquilo. Na verdade, não fui punido juridicamente, porque a vida me deu a maior das punições, tirando-a de mim. Era assim que eu vivia nos últimos dois meses.
Voltei para a cama, para tentar ter – por mais que soubesse que seria frustrado – uma boa noite de sono. Quando estava prestes a fechar os olhos, encarei o vidro da janela, que estava com a cortina aberta. Pensei na irritação que teria no dia seguinte, quando o sol decidisse nascer e me acordasse devido aos raios que ficariam sobre meus olhos, então, novamente levantei da cama e caminhei preguiçosamente até a janela, ainda encarando o vidro. Dei uma espiada na rua, que estava vazia. Quando terminei de passar o olho por ela, algo atraiu minha atenção.
Eu a vi.
estava ali, do outro lado da rua, me encarando através da janela do meu quarto.
Fechei os olhos e apertei-os com força, a fim de aguçar a visão, e quando os abri, ela já não estava mais lá.
Atordoado, fiquei longos minutos encarando o mesmo ponto em que ela estava e tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Eu estava alucinando e, mesmo assim, permaneci em pé em frente à janela, na esperança de que voltasse a vê-la.
Quando nada aconteceu e dei-me por vencido, desviei o olhar para o céu. Aquela era uma de minhas atividades regulares. Olhar para cima, na direção para qual tinha partido caminho.
– Se você, em algum lugar aí em cima consegue me ouvir, saiba que ainda te amo. E que sempre, sempre, sempre vou te amar. Me desculpe. – Deixei que uma lágrima escorresse pelo canto do olho, e me dirigi novamente para a cama. Pronto para o próximo round de pesadelos.

Quando meus olhos se abriram, senti o líquido quente escorrer da minha testa e o gosto metálico de sangue invadir minha boca.
Estava de cabeça para baixo. O carro havia capotado inúmeras vezes, e não havia nada que eu pudesse fazer a não ser ouvir os gritos dolorosos e apavorados de enquanto isso acontecia. Até que eles cessaram, e o silêncio voltou a pairar.
Apaguei, e quando acordei novamente, meu corpo estava sendo retirado das ferragens por bombeiros. Olhei desesperadamente para o lado, e ali estava ela. , com os olhos suavemente fechados e a pele pálida. Uma fina, quase imperceptível linha de sangue escorria ao lado do seu rosto, mas seu peito não se moveu em segundo algum. Ela não estava mais respirando.
Meu corpo foi arrastado para fora do carro até uma ambulância, mas eu me forçava contra os dois bombeiros que me carregavam. Eu precisava voltar ao carro e tirar de lá. Ela precisava de minha ajuda.
Toda a minha força investida contra os dois braços que agarravam os meus não foi suficiente para que eu conseguisse escapar, então assim que eles me colocaram sentado na ambulância, imediatamente me levantei e corri até o carro, onde ainda estava desacordada. Tive apenas tempo de enxugar o rastro de uma lágrima que estava em sua bochecha antes que dois braços me agarrassem novamente e me arrastassem para longe dela.
– Vocês não entendem! Ela precisa de mim! Eu preciso salvá-la! – eu gritei, em desespero.
– Não, garoto, você não pode.
– Eu preciso!
– Não há mais nada que se possa fazer. Por favor, acalme-se.
– Me soltem! Eu vou salvá-la! – forcei novamente meu corpo contra os braços dos bombeiros.
– Não será possível, garoto. Ela está morta.
– Não, não está! Voltem lá e tirem-na daquele carro! Agora! Ela está sofrendo! Por favor, não a deixem morrer! – As lágrimas quentes rolavam desesperadamente pelo meu rosto, misturando-se com o sangue.
Fui colocado dentro da ambulância, e tudo o que pude ver antes das portas se fecharem na minha frente, foi o corpo de sendo retirado do carro, e deitado no chão. Os bombeiros tentaram reanimá-la, mas ela não reagiu sequer uma vez.


Acordei com as batidas que vinham do lado de fora da porta do meu quarto.
Encarei o teto por alguns segundos e suspirei.
– Entra. – resmunguei.
– Bom dia, filho. Como está? – minha mãe deu leves passos em direção à cama e se sentou na beirada.
– A mesma coisa de sempre. – respondi com frigidez.
– Teve pesadelos de novo? – ela me olhou, preocupada.
– Tive.
, isso está cada dia pior. Você precisa de um médico, quem sabe com sessões de terapia você consiga se livrar deles...
– Não! – afirmei com convicção. – Não quero me livrar. Eu mereço, eu... – senti meus olhos marejarem, então levantei rapidamente da cama para que minha mãe não visse. – Quero ficar sozinho.
Fingi estar procurando algo na gaveta da cômoda, e mantive a cabeça abaixada. Minha mãe deu um longo suspiro enquanto se dirigia à saída do quarto.
Vesti uma calça jeans e uma camiseta e saí de casa, passando reto por meus pais, que estavam na cozinha tomando café da manhã.
Caminhei em lentos passos até a rodovia e fiquei vagando pelo acostamento por um longo tempo, perdido em pensamentos. Meus pés me guiavam para qualquer lugar, e eu não fazia questão de olhar para a frente e ver onde eu iria chegar.
Uma brisa passou por onde eu andava, e com ela, trouxe o cheiro de pinheiros. O cheiro era similar ao que eu senti na noite do acidente. Instantaneamente, a imagem de veio à minha mente.
Ergui o olhar, e analisei o trecho da estrada no qual eu me encontrava.
Era o mesmo lugar onde o acidente ocorrera. Por que meus pés me guiariam até lá? Por que eu me permitiria andar naquela direção? Estava começando a ficar preocupado com o estágio de depressão no qual eu me encontrava. Eu não tinha mais controle sobre meus pensamentos, meus atos, nada. Tudo o que eu conseguia e queria sentir era a dor de tê-la perdido, e por mais doloroso que isso fosse, era o que mais me deixava perto dela outra vez, e eu não estava nem um pouco a fim de me libertar desse pequeno fio que ainda me ligava à .
Ignorando completamente a minha relutância, meus pés novamente me guiaram para um lugar que eu não queria ir. Era como um ímã me arrastando, e não havia nada que eu pudesse fazer para detê-lo. Parei no meio da estrada, que como sempre, estava vazia. Agachei-me e encarei as quase imperceptíveis marcas de sangue seco que ainda estavam grudadas no asfalto. Qualquer um que passasse por ali a pé – algo que tenho certeza que ninguém faria – poderia passar despercebido por elas. Mas não eu.
Porque eu sabia exatamente o motivo de estarem ali. E a quem aquele sangue pertencia.
Apertei os olhos, a fim de conter as lágrimas que já começavam a se formar e levantei decidido a sair dali o mais rápido possível.
Porém quando virei de costas para voltar, eu a vi. De novo.
Mas dessa vez ela estava muito mais real. Mais real do que todas as vezes que a vi, até mesmo antes do acidente. Ela estava linda. Sempre foi. Mas estava ainda mais. Seus olhos doces me encaravam, e seu semblante era calmo. Um meio sorriso se formava em seus lábios carnudos. Seus fios de cabelo estavam levemente ondulados um pouco abaixo dos ombros e voavam enquanto seu peito inflava e desinflava suavemente. Isso significava que ela estava... Não podia ser. Fechei os olhos e balancei a cabeça em negação várias vezes antes de parar. Eu realmente devia estar ficando louco. Isso só podia ser uma alucinação. Mas quando abri, diferente do que aconteceu durante a madrugada, ela ainda estava ali.
Seu sorriso se alargou mais ainda ao ver o que eu presumia ser o misto de confusão e medo que se estampava no meu rosto.
– Oi. – ela disse, com a voz levemente rouca.
Arregalei os olhos e instantaneamente pensei em sair correndo. Não é todo dia que você encontra o fantasma da namorada morta exatamente no lugar onde ela faleceu. Eu precisava de ajuda.
– Por favor, não tenha medo. – ela sorriu. – Sou eu.
– C-como? – Minha mente estava à milhão, e essas foram as únicas palavras que eu consegui pronunciar.
– Antes que você pense besteira, o que eu tenho certeza que você ainda faz, mesmo depois desse tempo em que eu estive, hum, fora, quero esclarecer: eu não sou um fantasma, tá legal? Por favor, pode me chamar de qualquer coisa, só não me chama de fantasma.
A naturalidade com que as palavras saltavam de sua boca era o mais assustador. Como ela podia não ser um fantasma? Eu a vi morta. E vi os bombeiros não conseguindo trazê-la de volta à vida. Eu vi seu corpo deitado em um caixão, e vi esse mesmo caixão ser colocado sete palmos abaixo da terra.
– Você... Não pode ser... Real! Eu estou ficando louco, eu estou definitivamente louco. – repeti para mim mesmo, balançando a cabeça em negação e começando a andar em círculos.
– Ei! – ela deu lentos passos na minha direção e segurou meu rosto com ambas as mãos. – Eu estou aqui! Você não vê? Estou aqui! Carne, osso, e posso te tocar, ! Um fantasma poderia fazer isso?
– Não.
– Eu voltei, e só quero que você esqueça tudo o que aconteceu!
– Esquecer? – soltei uma risada sem humor. – Como você quer que eu esqueça algo pelo qual eu venho me culpando por meses?
atirou seus braços em minha direção e me apertou em um forte abraço.
– Você não tem ideia do quanto eu senti falta do seu abraço. De quanto eu senti sua falta!
Eu não sabia o que fazer, mas meus braços se fecharam ao redor dela e me permiti sorrir. Algo que não fiz durante os dois longos meses que ela esteve fora.
– Você... Está mesmo aqui! – eu disse, alargando o sorriso.
– Estou. – Ela sorriu de volta. – Eu voltei por você.
– Voltou de onde? Onde você estava, ? Por que ficou fora durante esse tempo todo? Eu sofri como um condenado. Na verdade, continuo sofrendo, e sua família, seus amigos também. Por que você fez isso?
– Shh. – ela colocou o dedo indicador sobre meus lábios. – De que importa? Eu estou aqui agora, não estou? Tudo está bem.
– Onde você estava, ? Você está bem? – o tom nervoso era mais do que perceptível na minha voz.
– Sim, eu estou bem, você não precisa se preocupar. Estou melhor do que nunca.
– Por que você não responde minha pergunta? – aumentei o tom de voz, me arrependendo logo em seguida, ao ver o sorriso de desaparecer de seus lábios.
Ela encarou o chão, e disse:
– Você não precisa saber onde eu estava. O que importa é o que está acontecendo agora. Eu preciso que você esqueça o passado, . Eu não quero mais ver você sofrendo. Você não vê? Eu estou bem, não estou? E eu quero que você também fique.
Passei a mão pelos seus cabelos, encarando seu semblante angelical. Analisei sua testa, e acariciei-a com o polegar. Não tinha nenhuma cicatriz no lugar onde havia o corte no dia do acidente, o que eu achei estranho, mas decidi não perguntar.
fechou os olhos, e formou um sorriso satisfeito nos lábios, enquanto recebia meu carinho.
– Eu também te amo, .
– Como é? – eu ri.
– Eu disse que eu também te amo, seu bobo.
– Mas quem disse que eu te amo? – beijei sua testa.
– Você disse. – ela ergueu a cabeça e fixou seus brilhantes olhos nos meus. Tão profundos que me faziam esquecer de tudo e de todos ao meu redor sempre que faiscavam em minha direção.
– Quando eu disse isso? Não estou lembrando. – fiz cara de desentendido.
Ela soltou um longo suspiro, como se tivesse perdido a paciência para tentar me explicar algo que eu não conseguiria entender.
– Bom, você disse várias vezes.
– Ah. – soltei um suspiro derrotado. – Nisso você tem razão.
– Eu tenho razão em tudo, . – ela sorriu vitoriosa.
Senti algo pesar no bolso da minha calça e imediatamente soube o que era. Não me lembrava de ter pego antes de sair de casa, mas estava tão atordoado que poderia ter tido uma convulsão sem ao menos perceber, já que tudo o que eu notava eram meus pés se movendo rapidamente em direção à porta.
, eu... – coloquei uma das mãos no bolso e agarrei o objeto. – Quero te dar algo.
Ela me olhou surpresa e assentiu.
Tirei a corrente do bolso e afastei seu cabelo para trás, deslizando-a suavemente pela pele de seu pescoço.
– Oh, ! – ela sorriu encantadoramente enquanto segurava o pingente de coração em seus delicados dedos. – É linda.
– Eu ia te dar na noite do acidente, para comemorar o nosso primeiro ano de namoro, mas... – Ela sorriu e me abraçou mais uma vez.
– Você sabe que não precisava, não é?
– Sei, mas e daí? Você merece.
Eu entrelacei nossos dedos e começamos a caminhar na direção de volta para a cidade.
– Você quer ir pra minha casa? – perguntei, e o sorriso dos seus lábios murchou repentinamente.
– Não, eu...
– Entendo, também acho melhor você ir para a sua. Você precisa ver seus pais. – Não, , eu não vou voltar. – ela disse com firmeza, desvencilhando seus dedos dos meus de uma vez, mas sem perder a calma.
– Como assim não vai voltar? – perguntei, confuso e ao mesmo tempo receoso de que tivesse entendido realmente o que ela quis dizer.
– Eu não vou voltar. – ela repetiu.
– Você não pode ‘não voltar’. Para onde você vai? Eu não vou te deixar sozinha por aí. Eu não vou abandonar a coisa mais preciosa da minha vida, justo agora que a consegui de volta.
deu um sorriso fraco, porém triste.
– Eu não estou sozinha. – ela disse, encarando o chão.
– Com quem você está? Melhor: onde você está? Por que você não responde as perguntas que eu te faço? Eu mereço uma explicação, você não acha? Você não pode simplesmente sumir por dois meses deixando todas as pessoas que você ama e que te amam para trás enquanto eles pensam que você está morta!
, eu... Não posso. – ela disse com a voz embargada. Logo em seguida uma lágrima correu de seu olho. – E eu preciso que você entenda. De alguma forma eu preciso que você não desista de mim, porque eu quero ficar com você, . Mas eu não posso fazer isso se você souber.
As lágrimas rolando de seus olhos agora se tornavam mais intensas e frequentes. E aos poucos eu ia percebendo que eu estava praticamente chegando na mesma situação.
– Eu nunca vou desistir de você. – eu disse.
Colei nossas testas e carinhosamente esfreguei minha bochecha à dela, deixando que nossas lágrimas se unissem e ficasse impossível de dizer quais eram as minhas e quais eram as dela.
segurou meu rosto com ambas as mãos e acariciou minhas bochechas com o polegar, limpando alguns rastros do líquido quente que há pouco escorria por ali. Então ela me beijou.
O beijo que eu nunca mais imaginei que poderia voltar a receber algum dia. Um beijo que eu tinha me acostumado a sentir falta. Apenas o toque de nossos lábios já era o suficiente para fazer daquele o melhor beijo da minha vida. Apenas a sensação de tê-la em meus braços, e de ter seus lábios junto aos meus novamente já me fazia sentir completo. Saber que ela estava ali, que estava de volta, mesmo que desse jeito tão misterioso, já bastava. Porque, de uma forma ou outra, eu a queria de volta. Mais do que qualquer coisa. Eu a queria perto de mim, porque desde que ela se fora, era como se meu coração tivesse parado de bater junto ao seu. E agora, vendo seu peito se mover, em sinal de que estava respirando, e colando meu corpo ao seu, e sentindo as batidas do seu coração, eu sentia o meu coração voltar à vida. Porque era a dona do meu coração, sem mais. E ele não aguentaria ter que vê-la partindo novamente. Então eu não ligava mais para o motivo qual eu não podia saber sobre sua volta. Eu só queria tê-la pra mim, agindo da forma mais egoísta possível. Só para mim. Mais ninguém.
Ela era tudo o que eu precisava.
Quando nossos lábios finalmente se separaram, para poder dar aos pulmões o ar que eles tanto suplicavam, sorriu para mim, de um modo tão encantador e concordante, como se tivesse ouvido todos os meus pensamentos enquanto nossos lábios se tocavam. Eu sorri de volta, e acariciei sua nuca. Ela ergueu-se na ponta dos pés, e sussurrou ao pé do meu ouvido:
– Feche os olhos.
Como se algo dentro de mim tivesse ativado o piloto automático, meus olhos se fecharam involuntariamente, sendo apenas guiados por sua voz. Ela agarrou minha mão e me fez dar alguns passos em alguma direção que eu não fazia ideia de qual era. Senti suas mãos desvencilhando-se das minhas, e ao mesmo tempo uma brisa suave passou pelo local, trazendo consigo novamente o aroma de pinheiro.
Ainda com os olhos fechados, ouvi o barulho dos pássaros voltando a cantar, e só agora tinha percebido que eles haviam parado desde que tinha chegado ali.
Abri os olhos, preparado para ver o doce rosto de mais uma vez, mas quando os passei pelo local, apenas me deparei com o vazio, justamente da mesma forma que estava quando eu cheguei ali.
Encarei o chão, e notei que ela havia me levado de volta até o pedaço de asfalto onde a estava a mancha de sangue. Não entendi o porquê, e muito menos porque ela havia desaparecido sem ao menos se despedir. Mas no fundo, sentia que aquilo era alguma pista sobre algo que eu ainda não havia decifrado o que era. E algo me dizia que eu voltaria a vê-la.
Ou eu estava louco e imaginando coisas.
Eu definitivamente precisava de ajuda.

Na manhã seguinte, mais precisamente às sete da manhã, acordei disposto a voltar ao local do acidente, exatamente onde a vi no dia anterior.
Dando adeus a qualquer resquício de uma sanidade que eu talvez não tivesse mais, deixei-me levar pela minha vontade. Se enlouquecer era algo que faria com que eu a tivesse por mais vezes, enlouquecer era o que eu faria.
Passei a noite em um sonho tranquilo, sem nenhum pesadelo. A única coisa que me lembrava de ter passado pela minha mente enquanto dormia fora o rosto perfeito de , e a mancha de sangue no asfalto; mas não como uma imagem ruim, e sim o ponto onde eu estava quando a vi, depois de dois longos e sofridos meses. E aquilo, de uma forma estranha, me dava uma sensação de alívio e até mesmo de alegria.
Depois de algum tempo sentado na cama, encarando o nada, levantei e fui até o banheiro. Passei uma água no rosto, escovei os dentes e baguncei o cabelo, deixando-o do jeito que gostava.
Abri a porta do meu quarto silenciosamente e dei passos largos em direção à porta. Apenas quando estava a vinte passos da porta da casa, finalmente soltei o ar que prendia em meus pulmões. Não queria que meus pais acordassem e me enchessem de perguntas, da mesma forma como tentaram ontem à noite, quando cheguei, mas estava tão absorto com meus pensamentos direcionados á , que simplesmente ignorei-os e segui para o meu quarto, trancando a porta assim que entrei.
Não era uma atitude nova, já que eu fazia isso praticamente todas as vezes que eles me dirigiam a palavra.
Em alguns trechos do caminho até a estrada eu me via correndo, ou dando passos apressados. O vento frio e cortante do inverno só contribuiu para que eu ofegasse cada vez mais, o que me resultou em uma falta de ar. Eu não estava me importando com a necessidade de oxigênio que meu corpo parecia gritar para receber enquanto eu corria, enquanto estava indo na direção da única coisa da qual eu era realmente dependente. Meu objetivo era chegar até o ponto onde a vi ontem, o mais rápido possível. Não queria perder tempo, afinal, algo me dizia que ela poderia aparecer por lá a qualquer momento e eu estava decidido a não sair de lá até que a visse novamente.
Quando finalmente cheguei, passei os olhos pelo local, esperançoso por encontrá-la ali. Mas nada além do som dos pássaros nas copas das inúmeras árvores que ficavam dos dois lados da pista.
Sentei-me no acostamento da estrada e fiquei encarando o céu, o vazio, as árvores, meus pés, minhas mãos, e qualquer ponto ao meu redor que prendesse minha atenção. Fiquei assim por horas. E a cada minuto que passava o frio parecia aumentar mais. Amaldiçoei-me mentalmente por não ter pegado um casaco mais grosso antes de sair de casa. Mas eu estava decidido a não sair dali.

A tarde estava na metade, quando o som do cantar dos pássaros cessou, e uma brisa trouxe o aroma dos pinheiros. Meu coração deu um salto, como se quisesse sair literalmente pela boca. Levantei rapidamente, e caminhei na mesma velocidade até a marca no asfalto. O vento morno, diferente da temperatura do parecia rodar em minha volta, mas eu não estava me importando em analisar a situação no momento. Meus sentidos estavam totalmente direcionados ao que viria a acontecer em seguida.
Continuei passando os olhos ao meu redor, e o vento tocando meu rosto e minhas mãos descobertas ficava cada vez mais forte.
“Feche os olhos”, ouvi alguém sussurrar, mas era tão baixo, distante e semelhante a voz de que concluí que era apenas uma lembrança do dia de ontem, quando ela me disse as mesmas palavras nessa mesma situação. Mesmo que fosse apenas isso, agi por impulso e fechei-os. Para que quando abrisse fitasse uma silhueta conhecida ao longe, caminhando em minha direção.
Um sorriso se alargou em meus lábios e eu corri em sua direção. Quando estava a apenas um passo de chocar meu corpo contra o de , abri os braços e avancei o passo que faltava. Prendi meus braços ao redor do seu corpo pequeno e levantei-a, tirando seus pés do chão.
Ela abriu os lábios para dizer algo, mas antes que ela pudesse dizer algo, eu selei os meus aos dela em um beijo cheio de saudade.
Quando paramos para buscar o ar ela sorriu e me encarou com aqueles faiscantes olhos .
– Oi. – ela disse, calma.
– Oi. – respondi.
– Como você está se sentindo? – ela me encarou, ponderando o seu sorriso.
– Acho que quem tem que responder isso é você.
– Eu já disse que estou bem mais de mil vezes.
– Desculpe, às vezes eu esqueço que...
Ela sorriu fraco.
– Está bem, certo? – ela perguntou e eu assenti.
– Agora estou. E você?
– Também.
– Onde você estava? – não pude deixar de perguntar.
bufou, e seu olhar se tornou triste.
– Eu não posso falar, . Por favor, entenda.
– Por que não? O que aconteceria se falasse?
– Eu não poderia mais ver você. É isso o que aconteceria.
– Você pode, por favor, me explicar o que está acontecendo?
– Não. – ela desviou o olhar para o chão.
– Por quê?
– Eu já disse, ! E por favor, não me pergunte mais coisas que eu não posso responder.
– Como eu vou saber o que você não pode me responder se você não me dá resposta para nenhuma das minhas perguntas?
– Eu já respondi. Eu não posso responder porque senão eu não poderia mais ver você.
Eu não suportaria ter de perdê-la outra vez, então apenas assenti, e logo mudei de assunto.
Ficamos juntos, conversando, nos beijando, até o anoitecer, até que disse que tinha que ir.
Tentei persuadi-la a ficar mais, e novamente a convidei para ir até minha casa. Mas ela negou.
– Por que não? Por favor, .
– Não me peça isso. – ela disse, triste. – Você sabe que não posso aceitar, . As pessoas não podem me ver.
– Como assim, não podem? – Arqueei uma das sobrancelhas.
– Não podem no sentido de que não podem saber que eu estou aqui. – Ela respondeu.
– Por que não?
– Eu pedi pra você não me fazer perguntas que não posso responder, . – ela olhou para cima. – Tenho que ir. Amanhã nos falamos, certo?
– Tudo bem. Que horas você vem? – eu sorri, sem graça. – É que aí eu não preciso vir cedo e ficar o dia inteiro esperando.
– No mesmo horário que vim hoje.
- Certo. – beijei-a novamente, e então ela deu de costas e foi caminhando na mesma direção que veio. Fiquei observando-a caminhar para longe de mim até que ela se distanciou tanto que sumiu. Suspirei e então dei as costas e segui na direção oposta, até minha casa.
Nos dias seguintes, eu sempre voltava lá e e eu passávamos a tarde juntos. Em todos os dias eu tentei fazer com que ela me explicasse o motivo de não podermos sair dali e voltar a viver nossas vidas. Por que diabos ela não podia responder, e por que não podia voltar? Eu a amava. Mais do que tudo, mas eu não poderia viver minha vida toda fugindo de casa todas as tardes para encontrar com ela em algum trecho deserto da estrada. De alguma forma, sua “volta” fez com que minha mente começasse a pensar em voltar ao seu devido lugar e minhas vontades a serem aceitas por mim mesmo, meu estômago mantendo o que eu comia lá dentro, e até meu humor deu um leve salto de “na fossa” para “parcialmente feliz”. Era estranho que isso tenha acontecido tão rapidamente, mas com ao meu lado eu tinha esperança para tudo.
, eu te amo, então eu tenho que ser sincero. Você sabe que eu não posso continuar vindo para cá todas as tardes, eu poderia, se você me dissesse o que está acontecendo, mas você não diz.
Ela me olhou confusa, mas no mesmo instante suas feições se tornaram calmas. Ela também sabia que aquilo não poderia durar para sempre.
– Eu sei. O que você quer fazer? – ela perguntou.
– Eu quero que você seja honesta comigo, . É só isso. Eu simplesmente não aguento mais você não respondendo as perguntas que eu faço. Você tem noção da gravidade disso? Você pretende ficar se escondendo para sempre?
Ela me analisou, como se ponderasse me dizer a verdade, de uma vez. Mas ela não o fez. Simplesmente desviou o olhar por cima do meu ombro, para não olhar diretamente nos meus olhos.
, eu... Eu estou fazendo isso por você. Eu não estaria aqui e agora se eu não te amasse, e por isso, eu preciso que você entenda.
– Entender o que? Tem alguma coisa pra entender? – perguntei. – Eu não sei de nada, então o que você quer que eu entenda? – desentrelacei meus dedos dos seus.
Ela apertou os olhos, e eu pude ver que algumas lágrimas começavam a se formar ali. Dessa vez eu realmente achei que ela fosse me contar tudo, mas não. Ela ficou calada.
Eu esperei que ela dissesse alguma coisa, mas tudo o que ela fazia era morder o lábio e desviar seu olhar do meu.
– Pra mim não dá mais. – Balancei a cabeça negativamente e dei as costas, caminhando para longe dali.
, por favor! Espera! – ela gritou, aos prantos. Mas eu apenas ignorei e continuei caminhando.
O coração na mão, e a dor cortante no meu peito foram comigo durante todo meu trajeto. Eu precisava agir de alguma maneira, precisava fazer algo para que confiasse em mim para me contar a verdade sobre tudo o que ela escondia.
Cheguei em casa e passei direto pelos meus pais e alguns amigos deles que estavam na sala conversando. Me dirigi ao meu quarto, batendo a porta assim que entrei.
Atirei-me na cama e afundei a cabeça no travesseiro, para não gritar de raiva. Tinha feito uma besteira. E uma das grandes. Tudo o que eu mais quis durante dois meses foi tê-la de volta, e lembro que eu dizia a mim mesmo que faria o que fosse preciso para que isso acontecesse. E quando aconteceu, eu agi como um babaca e não dei valor ao que tinha.
Remoendo esses pensamentos, caí num sono profundo.

No dia seguinte, acordei e a primeira coisa que veio na minha mente foi o rosto de .
No segundo seguinte senti meu coração se apertando, e comecei a respirar com dificuldade.
Arrependimento. Era isso o que eu sentia.
O que foi que eu fiz? Como eu pude tratá-la daquela forma? O bem mais precioso da minha vida, que eu pensei que nunca mais fosse recuperar voltou, e voltou por mim. Mais do que nunca, desejei ter morrido naquele acidente. Eu definitivamente não merecia ter saído apenas com um corte na cabeça. Eu estava sendo egoísta, pensando apenas no que era melhor para mim, enquanto o amor da minha vida pensou em mim primeiro.
Sinceramente? Não me importava ter que caminhar até o trecho deserto da estrada todos os dias, contanto que eu a visse. Eu só sabia que queria estar com ela a cada segundo possível.
Disposto a aceitar quaisquer condições que ela me desse, eu saí correndo de casa e corri até o local onde nos encontrávamos.
Esperei por horas e horas. A tarde passou... A noite já estava escura. E não apareceu.
No outro dia, retornei, e repeti o que fiz no dia anterior, mas ela novamente não apareceu.
E assim, durante os outros dois dias seguintes.
Então eu comecei a me desesperar. Ela não podia ter ido embora mais uma vez. Não podia! Eu me culpava por ter sido tão idiota a ponto de perdê-la de novo.
No fundo, eu tentava acreditar que a qualquer hora ela estaria ali comigo. Mas a cada segundo que passava, essa esperança ia perdendo as forças.
Peguei uma foto dos tempos que começamos a namorar, e incrivelmente, não havia mudado nada. Na verdade, agora ela estava mais bonita, mas ainda era muito fácil reconhecê-la simplesmente por olhar aquela imagem.
Saí nas ruas das redondezas do local onde nos encontrávamos, e mostrava sua foto para as pessoas, logo perguntando se tinham a visto por aí. Mas tudo o que recebia eram respostas negativas.
Alguns me olhavam estranho, pois conheciam , ou haviam visto na televisão ou lido nos jornais sobre a sua morte. E eles acreditavam que ela estava morta. E eu não tinha como provar, pois ela não esteve com ninguém além de mim desde que voltou. Os boatos de que eu havia surtado correram rapidamente até chegarem aos ouvidos dos meus pais. E quando eu cheguei em casa, eles estavam sentados no sofá e me lançando um olhar preocupado.
Eles acreditavam que eu estava num estado tão grave de depressão que poderia estar tendo alucinações, ou até mesmo podia ter enlouquecido, já que não recebi nenhum tratamento psicológico depois do acidente. Eles insistiam em falar que eu precisava me recuperar ou me reabilitar. Mas eles não sabiam da verdade, eles não poderiam entender.
Decidi não tentar explicar tudo o que vinha acontecendo nos últimos dias, já que tinha certeza que não acreditariam, e tirariam mais conclusões sobre a minha loucura. Balancei a cabeça positivamente, enquanto eles falavam sem parar e eu não dizia nenhuma palavra. Quando eles terminaram segui para meu quarto e me tranquei lá. Pensar em como me livraria dessa situação agora, era o menor dos meus problemas. O que eu precisava era dar um jeito de ter de volta. De novo.
Andei em direção a cama e notei que havia algo estranho ali. Tomei o objeto nas mãos e demorei um tempo até distinguir o que era.
Uma fita.
Analisei-a com cuidado para ver do que se tratava, mas não havia nada que identificasse o seu conteúdo. Talvez fosse alguma fita de auto ajuda que meus pais tenham deixado para que eu escutasse, já que não me lembrava de ter comprado ou ganhado alguma fita antes.
Pensei em jogar no lixo e apenas ignorá-la, mas algo me dizia que aquilo era algo importante, então tirei um toca-fitas antigo do fundo do meu guarda-roupa, e introduzi a fita ali. Quando apertei o botão de play e a fita começou a tocar, meu coração parou de bater instantaneamente por alguns segundos, meus olhos se arregalaram e eu prendi o ar nos pulmões.
Aquela era a voz de .
- Bom... Oi, – ela soltou uma risada nasalada, porém pude notar que era sem humor. – Eu pensei por muito tempo em como eu te diria isso. Meus planos iniciais eram de deixar uma carta, mas quando eu tentei segurar a caneta e escrever, eu estava tremendo tanto que ela simplesmente não parou entre meus dedos. Então eu decidi gravar essa fita. Coisa antiga, não é? Mas foi minha única saída. Eu nem sei por onde começar. Então acho que vou logo dizer a verdade: eu estou morta. – Meu coração se apertou, e eu tive vontade e chorar. Não, ela não estava morta! Eu sabia disso! – Na verdade, sempre estive, desde a noite do acidente. E eu não podia responder suas perguntas, porque se o fizesse eu perderia o direito de vir à Terra e ficar com você por aquele mínimo período de tempo. E eu não pensei nas consequências disso, apenas agarrei a chance e voltei, sem pensar no que aconteceria. Eu entendo que você esteja chateado. Afinal, é claro que você não teria paciência para ficar me encontrando todos os dias, ainda mais com essa pessoa que não estava sendo completamente honesta com você. Então eu decidi que seria melhor se eu partisse e o deixasse viver sua vida, quem sabe encontrar outra pessoa, envelhecer ao lado dela... Fazer tudo o que eu e você nunca teremos a chance de fazer. Eu voltei para que você saísse daquele poço de tristeza que você estava desde que eu parti. Eu não aguentava mais vê-lo tendo aqueles pesadelos todas as noites, e se culpando por algo que não foi culpa sua. O acidente foi o que foi: um acidente. Então, naquela noite que você teve aquelas lembranças, era eu colocando-as na sua mente. Tentando te fazer entender o que eu queria que você fizesse, e felizmente, você entendeu. Te ver novamente, poder tocar você, beijar você... Simplesmente estar com você mais uma vez, foi a melhor coisa que já aconteceu na minha... Vida. Ou morte, seja lá o que for. Agora eu posso responder as suas perguntas, já que eu não vou mais voltar, e não corro o risco de ter que perdê-lo por você saber a verdade. Você lembra o que me perguntou? – Instantaneamente lembrei-me das perguntas que eu insistia em fazer, porém não recebia respostas: “Como você está?” e “Onde você está?” – Eu estou bem. Eu estou em casa, nas nuvens. Assistindo tudo aqui de cima. Eu recebi a chance de voltar, a não ser que apenas você me visse, e que eu não saísse dos limites da estrada. Porque bem, esse é um dos privilégios que... Que os anjos tem. era um anjo? – Você sabia que as pessoas que tem mortes injustas ganham este posto aqui no céu? Eu não sabia, mas fico feliz por tê-lo recebido. Bom, eu tenho que ir, . Como eu disse essas palavras em voz alta, o meu prazo aqui na Terra se esgotou, porque esse é tipo um acordo que a gente faz aqui em cima com o Chefe. Podemos voltar, mas com condições, e se quebramos essas condições, nossa presença na Terra é imediatamente revogada. Eu só quero que você saiba que eu não quero vê-lo triste. Eu quero que você seja feliz, porque foi por isso que eu voltei. Para fazer você feliz mais uma vez, mas eu acho que acabei fracassando. – Oh, não, . Você não fracassou. – Lembra quando você sussurrou para o céu que me amava? E que sempre ia me amar? Bom, quando eu respondi você não entendeu, então o que conta é a resposta de agora, certo? Eu também te amo, . Para sempre. Adeus.
A fita acabou, e as lágrimas que já corriam involuntariamente dos meus olhos jorraram mais ainda. Não era possível. era um anjo. Meu anjo. E agora, por causa da minha impaciência idiota eu havia a perdido. Mais uma vez.
Eu não tinha motivos para ser feliz, se não fosse com ao meu lado. Meu coração não suportaria a dor da perda de novo. Ela era tudo o que eu precisava. Como uma droga que eu era dependente.
Caí sobre meus joelhos, e afundei o rosto nas mãos, mas não na tentativa de controlar as lágrimas, já que elas caindo eram as últimas coisas que me importavam no momento.
Eu não aguentaria mais um minuto longe dela. Não mais.
Minha vida não tinha mais sentido se eu não tivesse ao meu lado.
Em um ato desesperado, corri até o banheiro e retirei das gavetas quantidades excessivas de diversos remédios.
Encarei-os por alguns minutos. Mas não estava ponderando o que faria a seguir.
Abri as caixinhas de remédios e os despejei sobre a pia. Logo juntei todos na palma da minha mão e coloquei-os na boca. Engolindo-os todos de uma vez.
Encostei-me à parede e fui deslizando as coisas por ela até atingir o chão. Fiquei lá sentado, aguardando ansiosamente o momento em que a veria novamente.
Sentia que a imensidão que nos separava agora ia desaparecendo, ao mesmo tempo que minhas forças e meus sentidos também.
Era a hora de ir para casa. Para as nuvens, ao lado dela. Onde era o meu lugar.





Fim.



Nota da autora:Oi, gente! Obrigada por terem lido GIGH! Essa foi minha primeira short e tava aqui mofando há um tempão, até que eu decidi postar ela agora. Espero que vocês tenham gostado!
Eu não fazia ideia do que por aqui na n/a, então pedi ajuda pra minha melhor amiga e é isso que ela me mandou dizer: "ESPERO Q TENHAM GOSTADO DA HIST Q MATEI TODO MUNDO" kkkkkkkkkkkkkkk. Pois é, desculpa por isso.
Eu amo conversar, então se vocês quiserem, podem vir falar comigo no twitter (@alltimeows) ou perguntar qualquer coisa no ask (ask.fm/thizianswers) que eu acabei de criar, então vocês podiam ir lá e me tirar do flop, viu?
Xoxo.


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