Half


Escrita por: Jou Battista
Betada por: Lila Zardetto


CAPÍTULOS: [1] [2] [3]



Capítulo 1


Metade pode ser aquilo que te completa, também pode ser aquilo que te destrói. Pode ser aquela dor sem começo ou fim que corrói por suas veias e esmaga suas entranhas, e espreme seus olhos até cair uma cachoeira de lágrimas naquele momento no qual você não deveria chorar. Pode ser, talvez, uma forma de você se concentrar no que é bom, e esquecer do que é ruim, por medo de se decepcionar. Escrever sobre o amor e acreditar que ele realmente está ali não o fará cair do céu bem na sua frente. Falar repetidamente sobre o cara que está na fila do mc donalds, humildemente comprando seu lanche, não o fará ir até você e te perguntar o que de tão importante você perdeu na cara dele. Cantar músicas românticas e imaginar o homem dos seus sonhos ao seu lado, não o fará aparecer. E, ver filmes românticos e imaginar que você é a atriz gostava pela qual o homem gostoso se apaixona, te fará ser uma bela de uma iludida mais do que você já sabe que é. Ficar desejando ser metade de uma laranja, para encontrar a outra, te faz parecer uma louca. Mas você deve parar agora. Pare de procurar o amor. Deixe que o amor encontre você.

Bom, essa é uma história de como o amor me encontrou.

12:00h

Deus sabe o quanto a chuva é uma ótima desculpa para não sair de casa, então ele resolveu mandá-la para baixo. Havia milhares de histórias que eu precisava ler e corrigir, havia a academia que eu precisava ir, almoço, e... Compras. Na verdade não havia muita opção de comida para o almoço, então eu teria que ir fazer as compras primeiro. Nunca gostei de pedir comida, sou fresca demais para gastar dinheiro com isso, prefiro cozinhar. Vamos dizer que, economizo até os 50 centavos que acho na calçada quase todos os dias, e talvez minhas sortes venham dessas pequenas moedas. Não entendo como alguém deixa escapar 50 centavos todos os dias e no mesmo lugar. Se isso não é sorte, então não sei mesmo o que é. Só sei que naquele momento eu precisava sair. O trânsito estava uma merda, é claro, parece que quando chove as pessoas ficam muito distraídas olhando para as gotas e não andam logo. Eu realmente não entendo porque eles têm que deixar parecer que a chuva atrapalha tudo, quando não tem muita diferença entre dirigir num temporal, á dirigir num sol quente, onde os raios batem no seu olho te deixando cega até você atropelar alguém e causar um alvoroço. Não que eu já tenha feito isso. Eu atropelei foi um gatinho. Mas graças a Deus ele não morreu, só quebrou três patinhas... E quase ficou cego. E parou de miar. Mas se ele tivesse morrido eu nunca poderia viver com isso. E uma das coisas que mais odeio na vida, é mercado. Aquele tanto de gente acumulada. Sou meio claustrofóbica quando se trata de multidão. Peguei as coisas que eu mais precisava, o que com certeza encheu um carrinho enorme, e comprei. Agora, voltar para o carro sem molhar as compras seria um desafio e tanto, eu devia ter pensado nisso antes, mas eu precisava almoçar. Resolvi esperar alguns minutos para ver se a chuva diminuía, se não, eu tentaria colocar todas aquelas sacolas no porta mala o mais rápido possível. Já tinham se passado 15 minutos, e parecia que a chuva estava era aumentando, o que me faria ficar ensopada e as comidas também. Sentei-me no meio fio onde era coberto por um pedaço do teto do mercado, e peguei um dos biscoitos que comprei para comer. Ou eu morreria de fome. Sempre gostei de observar a chuva caindo, poderia passar o resto do dia ali, sempre adorei chuva, me fazia pensar. Principalmente à noite, é um barulho bom de se ouvir quando você não consegue dormir. De uma forma ou de outra, mesmo que atrapalhe às vezes, a chuva é uma coisa maravilhosa.
- Posso me sentar ao seu lado? —Um homem alto, que usava uma blusa branca e uma calça jeans, parou ao meu lado segurando seu carrinho com algumas compras. Dei de ombros e continuei comendo meu biscoito. Talvez ele estivesse tão encrencado quanto eu, e não queria se molhar.
Passou mais 10 minutos de puro tédio, e eu ainda estava sentada ali observando o céu cair, e o homem estava sentado ao lado lendo um livro que eu imaginei ter umas 500 páginas. Juro que nunca fui muito fã de ler livros grandes, geralmente desistia no meio, mas ele estava muito interessado naquele, o que me deixou bastante curiosa.
- O que está lendo? –Perguntei, mesmo sabendo que ele provavelmente não estava querendo ser incomodado. Mas fazer o que. Estávamos nós dois ali, em frente a um mercado, esperando a chuva passar, e ele estava lendo um livro enorme. Eu pessoalmente acho que conversar é mais interessante.
Ele me fitou por um instante, e foi aí que percebi que ele não era nem um pouco feio. Seus olhos eram , e seu cabelo era um preto bem arrepiado.
- Medicina.–Ele falou docemente mostrando-me a capa do livro. Fiz uma careta aleatória e totalmente sem querer.
- Faculdade?
- Não. Sou médico, mas ainda estudo. Nunca é tarde para descobrir novas coisas.
- Imaginei mesmo que você não estava na faculdade.
- Por que? Tenho cara de ser tão velho assim?
- Ah não! –Ri sem graça. –Não foi o que eu quis dizer.
- Ok, então eu só não tenho cara de um adolescente de 19 anos?
- Ahn... Não. - Minhas bochechas àquela altura já poderiam estar pegando fogo. E ele riu. E por algum motivo idiota achei o sorriso dele lindo. O que me deixou sem graça, então resolvi calar a boca e deixá-lo ler.
A chuva estava diminuindo, levantei-me em um pulo, tinha de ser rápida antes que ela resolvesse aumentar de novo. Sorri para o rapaz que também se levantou, e fui em direção ao meu carro. Só na hora de colocar as compras no porta malas percebi o tanto de sacola que tinha, o que não seria problema, pelo menos ficaria longe do mercado por um mês. Senti alguém chegar perto de mim por trás e me virei, dando de cara com o homem que estava sentado do meu lado. Ele sorriu para mim e começou a pegar as compras do meu carrinho e colocá-las no meu carro junto comigo. Sorri agradecida e ele retribuiu. Não sabia por que diabos ele estava me ajudando, mas com certeza a ajuda era bem vinda. Quando mais rápido eu acabasse, mais rápido eu chegaria em casa para comer.
- Sou . E você?
- .
- Nome bonito, !
- Obrigada. O seu também é.
E finalmente, as compras estavam dentro do carro. Suspirei aliviada, não queria ter que enfrentar o trânsito de Londres de novo tão cedo.
- Obrigada pela ajuda .
- Foi um prazer.
Sorrimos de novo e ele foi embora, deixando ali apenas o cheiro de seu perfume. Que só para constar era muito bom. Ao chegar em casa, guardei todas as compras e preparei o almoço. Talvez não fosse necessário ir ao mercado já que fiz apenas batata frita e macarrão. O bom de morar sozinha é que você não precisa fazer muita comida, já que somente você vai comer. Porém às vezes é muito solitário. Eu sinto falta dos meus pais, e da minha família, apesar de que eles estão bem ali em Bournemouth, ainda os sinto muito longe de mim, não é sempre que posso pegar o carro e dirigir até lá para visitar todo mundo. O problema é que só pude encontrar trabalho em Londres, e alias comecei a ganhar muito bem com o que eu fazia, ou seja, era o que me sustentava, e eu ainda mandava dinheiro para a minha mãe. Eu precisava ficar ali, naquele apartamento, sozinha.
Passei a tarde corrigindo textos, e escrevendo artigos, assim eu teria o domingo livre para dormir, e tudo estaria pronto para entregar segunda-feira.
Tudo estava terminado, então aproveitei para aceitar o convite de para tomar vinho na festa dos Lewis. David Lewis era chefe de e sempre dava as melhores festas e com os melhores vinhos, e claro que ela sempre me convidava, só que sair não é muito a minha praia, a não ser que eu tivesse passado o dia escrevendo. Vesti uma roupa decente de festa e fui.
Era realmente chique, um salão enorme cheio de luzes brancas e música clássica. Todos usavam vestidos bonitos e jóias caras. E eu sabendo disso, vesti um preto com decote V, e coloquei um colar de ouro que tem o meu nome escrito que ganhei de natal da minha tia. Soltei meus cabelos loiros e deixei eles caídos pelo meu ombro, não costumava usar ele solto, pois era muito grande e me dava agonia, mas não podia deixá-lo preso naquela festa. me viu e deu um pulo de alegria, chegando em mim em 10 segundos e me dando um abraço de urso.
- Não acredito que você está aqui! Finalmente, . – Ela disse puxando-me para a mesa onde ela estava sentada com seu noivo, , e outros amigos. Me senti constrangida e tímida por estar rodeada de pessoas desconhecidas, ao menos eu tinha . No início não acreditei quando ela me disse que estava noiva, nunca imaginei que ela casaria primeiro do que eu. sempre foi o tipo de mulher que não se entregava a nenhum homem. Nunca amava em um relacionamento. Foi ela quem me disse que casamento era para pessoas fracas e românticas. Ela me disse, quando tinha 15 anos, que nunca se apaixonaria. E ela está noiva. Eu, que sempre me entreguei, eu que já tive 5 namorados e fui traída pelos 5 de formas diferentes, eu que sempre amei demais, e acreditei demais. Eu estou solteira. E vou morrer solteira. Droga.
- Quero que você conheça uma pessoa.
- ... Não...
- Vai . Poxa, faz quantos meses que você não beija alguém? Dez? Você já tem 25 anos mulher, precisa de um homem!
- É por isso que não vou a festas com você.
- Por que? Por que eu sou uma ótima amiga e tento te ajudar?
- Porque você dá uma de cupido e me joga pra cima de caras que não dão a mínima para mim.
- O que? Eu não faço isso! —Ela afinou a voz na defensiva.
- Lembra daquela vez que você me empurrou para aquele professor de educação física, e ele tentou me levar para um motel antes mesmo de eu dizer "oi"?
- Argh, lembro. Por isso você sempre odiou professores de educação física.
- Uhum, e lembra daquela vez que....
- Ta bem, talvez eu tenha te apresentado para homens errados, mas dessa vez é sério. Esse cara é pra você!
- Ah não, quantos anos você tem ? Catorze?
- Para de ser tão chata, vem comigo.
me levou para perto da mesa de ponche e disse para eu esperar ali. A segui com os olhos para ver que homem ela levaria para mim e, ele não era feio, mas parecia ser metido. Não julgo uma pessoa antes de conhecer, mas eu inventaria qualquer desculpa para fugir. Enviei uma mensagem para ela dizendo que não poderia ficar e que fui para casa, e saí correndo para fora do salão.
E então, estava perdida no estacionamento. Estava escuro e era enorme, não lembrava onde deixei o carro, e fiquei uns dez minutos andando para lá e para cá tentando encontrar o maldito carro. Ia dar mais uma volta quando de repente esbarrei em alguém que estava tentando passar para entrar num carro.
- Desculpe...
- Hey... Olha se não é a mulher das compras.
Levantei as sobrancelhas tentando entender as palavras daquele homem, até que vi que era , o homem do mercado que sentou ao meu lado e lia uma espécie de bíblia médica.
- Oi! Então nos encontramos de novo.
- O que faz aqui a essa hora?
- Perdi meu carro.
começou a rir. Não era uma piada, não era nem um pouco engraçado, mas ele estava rindo. Gargalhando. E eu meio que comecei a rir também. Quem em sã consciência perde o próprio carro num estacionamento? Na verdade, pensando bem, era mesmo engraçado.
- Talvez você devesse passar pelas fileiras apertando o botão de destravar as portas na chave, o que apitar é o seu.
- Como não pensei nisso antes?
- Talvez ler livros grandes me deixou mais inteligente que você.
Fiz uma cara de chocada fingindo estar ofendida e rimos juntos.
- Obrigada mais uma vez.
- Boa noite!
Ele entrou em seu carro e foi embora. Talvez fosse uma coincidência enorme ele estar ali, ou talvez eu precisava de um anjo para me dar uma ideia maravilhosa. Achei o meu carro em dez segundos depois disso, e descobri que não estava tão longe, e que eu era uma sonsa. E eu nem tinha bebido nada.

Capítulo 2



Domingo sempre foi um dos meus dias preferidos, apesar de significar o último dia de folga. Chovia muito de manhã, e resolvi ficar na cama até mais tarde. Até que eu precisei levantar para comer; esquentei a comida de sábado e saboreei um delicioso bolo de chocolate de sobremesa.
Resolvi que eu não poderia passar o dia todo deitada, vesti uma roupa confortável e saí de carro, já eram umas 18h da tarde, e faltava pouco para anoitecer, a praça da cidade ficava movimentada neste horário, mas seria ótimo para dar umas caminhadas. Estacionei o carro, e saí andando, certificando-me de que tinha decorado o local onde o carro estava. A praça era grande, dava para dar umas boas voltas por ela. Tinha árvores, jardins, fontes de água, pessoas andando e fazendo piquenique, casais se beijando... Ew. Casais se beijando.
Sempre odiei ver casais quando meu status na vida é solteira. Me da vontade de empurrar a mulher e ficar no lugar dela. Por que casais insistem em mostrar que existe amor em público? Tem gente que realmente não quer ver. Embora eu fizesse isso quando eu tinha um namorado. Os casais quando se amam (ou não), não importa o local onde estão, vão querer ter intimidade, não importa o nível. E eu não era diferente.
Ao sair da praça peguei meu carro e saí dirigindo pela cidade, até cair em um engarrafamento infinito. Estava tudo parado, não sabia o motivo, mas parecia que eu iria ficar ali por um tempo. Botei uma música e fiquei curtindo aquele barulho de buzina de pessoas impacientes. Assim que olhei para o lado notei que havia um homem no carro do lado do meu que me encarava, não demorou muito para eu perceber que era e que ele ria para mim. Não era possível, ele estava me perseguindo.
- Você por acaso está me seguindo, !?—Ele gritou, fazendo-me rir.
- Pode ter certeza que não!
- Você quer jantar comigo?
- O que?
- Quer ir jantar? –Ele disse e eu entendi apenas porque li seus lábios, estava mesmo difícil de escutar. Ele lançou um olhar para uma placa de restaurante que estava bem próximo, liguei o carro e esperei alguns se movimentarem para eu entrar na frente. Demorou quase 15 minutos para conseguirmos, finalmente, entrar no estacionamento. Estacionei o meu carro ao lado do dele e fomos nos sentar em uma mesa. Ele sorria para mim de orelha a orelha.
- Odeio engarrafamentos. –Ele falou baixinho.
- Não devia.
- Por que não?
- Porque se não fosse o engarrafamento, você não teria me encontrado de novo e não estaríamos aqui. – Falei dando de ombros convencida, e ele sorriu para mim. Talvez o sorriso mais lindo que eu já vi na vida.
- Tem razão.
Pedimos o que queríamos, e ficamos ali olhando um para a cara do outro. Na verdade não tínhamos muitos assuntos, não nos conhecíamos. Na verdade também, só falei aquilo porque não aceito que alguém não goste de engarrafamento. Quando estamos atrasados com certeza é um saco ficar parada, sem querer, porque chega aquela ansiedade. Mas quando você não tem compromissos, é ótimo para clarear as ideias. Não vejo problemas em ficar dentro do carro ouvindo as pessoas descontarem a raiva na buzina. Ele não parava de sorrir para mim, o que já estava me deixando envergonhada. Sempre odiei comer na frente das pessoas, assim como odeio ver outras pessoas comerem, esse é um dos motivos pela qual nunca vou me casar, de acordo com a lista de "Motivos pela qual nunca irá casar" que escreve. Mas eu não podia dizer não para , aquele homem parecia tão amigável que era impossível recusar qualquer convite, e isso porque ainda nem nos conhecíamos. Talvez o destino quisesse que fôssemos amigos, porque estava sempre botando ele no meu caminho, e pelo jeito que ele sorria, ele pensava a mesma coisa.
- Então, o que você faz da vida, ?
- Eu sou jornalista, colunista e escritora. Corrijo histórias também, às vezes, para algumas editoras que tem parceria com a revista, como um extra.
- Ah, mulher multitarefas, e você gosta?
- Sim, muito. Eu adoro escrever, e ler. Só não livros do tamanho do seu, esses eu não aguento. –Ele riu jogando a cabeça para trás.
- É um livro muito chato, claro, sobre medicina. Mas eu acho que quando é uma história boa e que te prende, não importa a quantidade de páginas.
- Nunca vi um livro enorme com um conteúdo bom.
- Bom, se quiser te empresto alguns. Tenho vários que provavelmente você vai gostar.
- Como sabe?
- Não sei. Só acho que você vai se interessar, você parece gostar de desafios.
- Ah é? –Sorri para ele bebendo um gole de vinho. –Por que?
- Aceitou jantar com um desconhecido. Que você acha estar te perseguindo.
- Qual é, você está.
- Juro que não!
Rimos e conversamos até os carros voltarem a andar normalmente, então nos direcionamos para fora do restaurante, até os nossos carros estacionados. Ele parou em frente ao meu, e me encarou sorridente.
- Então, nos vemos por aí, certo?
- Pelo jeito, com certeza.
- Mas me dá seu telefone.
- Ok... —Sorri sem graça e digitei o meu número como novo contato no celular dele. Me senti aliviada por ele ter pedido meu número, senti medo dele ir embora e nunca mais nos encontrarmos. Londres é uma cidade muito grande, e ele poderia muito bem sumir por aí.
- Tchau, .
- Tchau, .

Segunda feira não foi diferente dos outros dias da semana. Sim, minha vida era uma grande bola de tédio, e sempre que eu achava algo para torná-la mais legal, esse algo escapava das minhas mãos. E sim, esse 'algo', é um namorado. Nunca tive medo de me entregar, mas a gente se engana com as pessoas. A gente chora, a gente acredita, a gente perdoa, a gente se dedica, a gente ri, a gente se decepciona. A vida é cheia dessas frescuras. Nos olhamos no espelho e enxergamos todos os nossos defeitos, mas o nosso reflexo não mostra o que tem dentro de nós. Por que não posso me olhar e me achar bonita? Porque a sociedade hoje em dia, repara bastante nos detalhes, e cada detalhe é importante. Se você não tem uma pele bonita, então quem tem a pele bonita é melhor que você. Se você não tem um cabelo liso e lindo, então quem tem é melhor que você. Me entende? Nada está bom para as pessoas, elas insistem em julgar tudo que está em sua volta, e quando esse 'tudo' muda, e fica do jeito que ela esperava, ela arranja mais motivos para continuar julgando. Quando alguém não está satisfeita consigo mesma, tenta fazer com que os outros não fiquem satisfeitos com eles mesmos também.
É um ciclo desesperado por uma atenção que eles precisam ter. As pessoas se alimentam de atenção, é por isso que muita gente faz tudo para estar no topo. Muitas vezes me senti sufocada por estar com alguém que realmente não me merecia, mas eu não terminava por medo de ficar sozinha. Ninguém gosta de solidão, nem mesmo quem diz que gosta. É impossível você viver apenas com amigos imaginários, ele não vai secar as suas lágrimas quando a vida te der um belo tapa na cara. As pessoas precisam de outras pessoas. E eu precisava de alguém que estivesse lá embaixo quando eu pulasse do abismo. Mas eu não achava, porque eu sempre tive essa mania de afastar as pessoas boas. Outro motivo pela qual nunca vou casar, de acordo com a lista de . Sempre afasto as pessoas de mim.
Mas minha mãe me disse uma vez: "Quem te ama de verdade te segura quando você está escapando". Ou seja, todas as pessoas que diziam que me amava deixaram que eu me afastasse. Quando eu amo, não deixo as pessoas se afastarem, eu encho o saco dessa pessoa até eu perceber que ela realmente não quer papo comigo. Aí tudo bem. Se a pessoa viesse atrás de mim, uma ou duas vezes, talvez eu não me afastasse mais. Só que nunca vieram. É assim? Temos que demonstrar quando alguém é importante, certo? Ninguém no mundo é adivinha, pelo menos eu não sou. No fundo, é tudo uma grande frescura!
Minha hora de ir embora do trabalho estava quase chegando, e minha coluna sobre o quão a vida pode ser "bela" estava pronta, então mandei para a minha chefe. Arrumei minha mesa como um passa tempo até que deu a hora de sair. Finalmente. Eu gostava de ficar sentada na minha mesa o dia todo escrevendo, era o que eu sempre quis, e eu fiquei muito orgulhosa de mim mesma quando finalmente consegui. Mas às vezes, não posso negar, era muito cansativo.
Cheguei em casa, tomei um banho gelado, coloquei meu pijama (uma calça de moletom rosa e uma blusinha branca), e fui fazer o jantar ao som de Sugar do Maroon 5. Estava pronta para fritar meu lindo peixe quando meu celular tocou, abaixei a música e atendi.
- Alô?
- .
Era a voz de , e um sorriso aleatório surgiu na minha boca. Não que eu estivesse perdidamente apaixonada, não estava, mas eu não parava de pensar nele.
- !
- E aí, tudo bem?
- Sim, e com você?
- Tudo ótimo! Estou atrapalhando?
- Não... Claro que não, eu só estava fazendo comida.
- Olha, você cozinha?
- Sim, só não sei se cozinho bem.
- Uhm, deve cozinhar, certeza.
- Por que não vem avaliar?
- Por acaso isso é um convite?
- Talvez, se você gostar de peixe...
- Adoro peixe.
- Então venha.
- Ok, então eu vou.
- Ok, beijos. –Sorri nervosa, quase dando pulos de alegrias.
- Gata, você tem que me passar o endereço.
- Ah! Sim, claro.
Passei o endereço tentando não esquecer onde eu morava porque naquele momento só tinha na minha cabeça a palavra "gata". Claro que ele falou brincando, claro que já éramos amigos, não podia perder meu tempo pensando que um homem como ele iria querer algo com uma mulher como eu. Vesti uma roupa simples, ele não me veria de pijama. Não mesmo. E eu continuei a preparar a janta, com mais coisas porque desta vez eu teria companhia. Comecei a me preocupar se minha comida era mesmo boa ou se só eu achava isso. Mas ele não falaria na minha cara que sou uma péssima cozinheira. Passou um tempo e a campainha tocou, e não sei de onde tirei forças para ir até a porta.

Capítulo 3



- Isso está uma delícia, . – falou saboreando um pedaço de peixe. Não havíamos conversado muitas coisas, até porque odeio falar enquanto estou comendo, e acho que ele percebeu isso.
- Obrigada... –Sorri convencida.
Assim que terminamos de jantar, fomos para o sofá assistir um pouco de tv, tomar vinho e conversar. Ele estava usando uma roupa simples assim como eu, e seu cabelo era a coisa mais sexy que já vi, todo arrepiado, juro que daria a vida para tocar ali, e sentir meus dedos afundarem naqueles fios pretos e macios. Ai meu Deus, eu tinha que parar de olhar para ele desta forma, ele nunca iria querer algo comigo.
- Fiquei com medo de perder você. –Ele falou com a cabeça baixa, e me olhou. Estranhei aquela frase e devo ter feito uma careta ridícula de desentendida.
- O que?
- Eu não ia pedir o seu telefone, mas fiquei com medo de nunca mais achar você. Londres é uma cidade enorme... E você é legal.
- Oh, eu fiquei feliz por ter pedido, eu também fiquei com medo. –Sorri para ele envergonhada por estar admitindo isso.
- Você não tem namorado, tem?
- Eu? Não... Claro que não. –Ri como se aquilo fosse uma espécie de piada.
- Ué, como assim? Por que?
- Porque não sou o tipo de mulher que os homens querem namorar.
- Que tipo você é?
- O tipo que fica velha cheia de gatos...
- Não acredito nisso.
- Por que não?
- Porque eu namoraria você.
Meu coração parou. Senti que eu poderia enfartar a qualquer momento, ainda bem que ele era médico. Não senti meu corpo, minha respiração parecia estar descontrolada. Eu não fazia ideia do que dizer. E ele continuava ali me encarando esperando minha resposta.
- Ahm... Ah... Er...
Era a única coisa que saía da minha boca, o que estava me deixando muito constrangida. Eu queria sair correndo, mas aquele era o meu apartamento. E ele começou a rir de mim. E eu não sabia se eu retribuía a risada ou se eu chorava.
- O que foi ?
- Você ta brincando... –Soltei uma risadinha sem graça. –Não faz isso.
- Por que acha que eu to brincando? –Ele falou chegando mais perto de mim, colando as pernas dele nas minhas.
- Porque... Porque sim. Olha para mim.
- Estou olhando para você. E você é linda!
- Não...
- Não, o que?
- ...
- !
Um silêncio constrangedor invadiu a sala, e ele me olhava e eu olhava para ele. Ele não sorria mais, estava sério e olhava em meus olhos, e a cada segundo estava mais perto de mim. Senti como se tudo estivesse em câmera lenta, ou como se todo o mundo tivesse parado e só nós dois estivéssemos em movimento. O rosto dele chegava cada vez mais perto do meu, e eu não conseguia respirar. Então seus lábios tocaram os meus, e uma explosão de sentimentos saiu correndo do meu corpo. Ele segurou meu rosto com suas mãos; seu beijo não era desesperado, como se ele fosse fazer aquilo e depois ir embora e nunca mais voltar. Era calmo, como se ele quisesse aproveitar cada segundo, era doce, e meigo. Seus lábios eram deliciosos. Tinha gosto de paraíso. E eu não podia pensar em mais nada, aquele momento era perfeito. Como o momento em que a música eletrônica chega na parte dançante na balada e o som fica alto e as pessoas começam a pular, as luzes começam a enlouquecer e correr por toda a parte, o chão treme, os corpos suam.
Eu me sentia em uma balada em seu corpo. Ele me abraçava forte, e eu apertava seu cabelo em meus dedos (e eles afundavam, o que me deixou bastante contente). Subi em seu colo, e deixei escapar um sorriso enquanto o beijava. Não separamos nossos lábios em nenhum momento, este foi o primeiro beijo mais longo que já dei. Ele não me soltava, me apertava como se precisasse disso. Então ele parou de me beijar para que pudéssemos respirar, ou então morreríamos sem ar. Eu não me importaria nem um pouco de morrer beijando ele, mas tudo bem. Então ele jogou a cabeça para trás e a deitou no sofá, ainda me segurando em seu corpo, e ele sorriu e suspirou.
- Você é maravilhosa, . Estou falando sério.
- Sou?
- Não paro de pensar em você desde que sentei do seu lado naquele mercado. –Sorrimos e eu lhe dei um selinho. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. –Eu quero saber tudo sobre você. Não vou deixar você ser uma velhinha solitária cheia de gatos.
Então nos beijamos de novo, e de novo, e de novo, seu corpo se encaixava perfeitamente com o meu, seus lábios entravam em uma sintonia incrível junto aos meus. Seu toque, de alguma forma, foi curando todas as feridas que eu tinha dentro de mim. E não porque ele era médico, e sim porque ele era pra ser meu. Não tinha motivos para pensar o contrário. Não nos encontramos tantas vezes por acaso. Ele tinha que ser meu e eu não deixaria ele ir embora.

3 anos depois

- Amor, você vai se atrasar. – sussurrava em meus ouvidos fazendo-me gemer de agonia e de raiva. Era sábado, sete horas da manhã, e ele estava me acordando.
- Para que?
- Você tem compromisso com a , não se lembra?
Abri meus olhos rapidamente e pulei da cama.
- Ela te contou o que era?
- Não, por que? Por acaso não posso saber?
- Não, pode, é que eu não me lembro o que era. –Sorri nervosa e entrei no banheiro.
Tomei um banho rápido e saí, parando na frente do espelho. Fazia tempo que eu não me olhava no espelho e me sentia bonita. Naquele momento eu me senti uma mulher bonita, porque eu tinha alguém que me dava a certeza que eu era. Na verdade nunca acreditei que você precisa de um homem para se sentir bonita, eu comecei a me sentir bonita por mim mesma, comigo mesma, mas ele foi um grande empurrão para eu começar. nunca saiu do meu lado depois daquele dia em meu apartamento, viramos melhores amigos inseparáveis e um casal inquebrável, ele era perfeito para mim, e ele me amava do jeito que eu era, e me aceitava com todos os defeitos que eu tinha por fora e por dentro. Vesti qualquer roupa, pois o compromisso na verdade não era grande coisa.
Estávamos preparando uma festa surpresa para , e ele com certeza já sabia. Ele se tornou muito amigo de , marido de , que não sabe esconder segredo, nem que tente. O aniversário dele seria no dia seguinte, e se ele não se surpreendesse com isso, teria outra surpresinha.
Passei quase o dia todo com , enquanto salvava vidas em pleno sábado. O salão de festas da casa dela já estava pronto, e estava lindo.

- Cheguei, amor.
- Deus do céu, até que enfim, onde você estava? – me agarrou e me jogou no sofá fazendo-me rir.
- Estava com a Evilly, ela queria ajuda para arrumar a casa. Aquela casa é enorme.
- Uhmmm... Então por que a gente não bagunça o quarto pra compensar?
- Ah é? Tudo bem, vamos.

O dia amanheceu uma beleza. Acordei mais cedo que para preparar o café. Gosto de mimá-lo quando ele está ficando mais velho que o normal, assim ele não fica tão deprimido. Fiz um misto quente que ele adorava, coloquei alguns morangos numa vasilha, café, biscoito, botei tudo numa bandeja e levei para o quarto. Coloquei a bandeja do meu lado da cama e subi ficando ao lado dele. Beijei seu rosto lindo. E fiquei ali um momento apenas observando. É estranho como em um dia estamos sem esperanças, perdidos, com o coração quebrado e a alma cansada; e no outro encontramos alguém para nos dar de volta toda a felicidade que perdemos. É, para todo o fim tem um novo começo.
Ainda bem que nunca deixei de acreditar nisso. Acho que pedi tanto um amor que ele acabou vindo, assim que parei de procurar. Porque quando você quer muito uma coisa às vezes acaba não conseguindo, e isso é angustiante. Eu sei que muitas coisas você tem que lutar para ter, e não pode ficar sentada esperando que as coisas caiam do céu. Mas quando se trata de amor... Procurar não vai adiantar. Quando você procura e acha, não acredite que aquilo vá durar. Pode até durar, mas não vai ser tão verdadeiro quanto algo que acontece naturalmente. Nada é mais bonito do que aquilo que te pega de surpresa.
Acordei cantando "parabéns para você", e ele deu um sorrisão para mim e me beijou. Tomou o café da manhã na cama como uma criança boba, dividindo tudo comigo.
- Quero passar muito mais aniversários com você.
- Só porque te dou café na cama.
- Pode ser.
- Vamos sair à noite.
- Pra onde?
- Podemos ir em algum salão beber e dançar juntos. O que acha? Ah, eu te comprei um presente, mas deixei na casa da , podemos passar lá antes de ir, ela aproveita e te dá parabéns.
- Ok, pode ser. –Ele pareceu convencido. Então com certeza tudo daria certo.
Tomamos banho e nos vestimos. Ele usava um terno elegante e eu um vestido vermelho com as costas nuas, e meus cabelos jogados no ombro. Eu estava preocupada, não só com a festa que poderia não dar certo, mas também com a outra surpresa que eu tinha. Não sabia bem se era uma surpresa, era mais uma notícia, e eu não tinha certeza se ele iria gostar ou não. Fomos até a casa da e eu disse a ele que o presente estava lá dentro, entramos na casa e eu chamei por . Tudo estava muito silencioso. apareceu e deu um abraço em desejando-o um feliz aniversário.
- Você esqueceu o presente dele no salão quando a gente chegou, sua cabeça de vento.
Sorrimos uma para a outra e fomos em direção ao salão.
- Vocês vão para algum lugar?
- Vamos sair para dançar. – disse descontraído.
Peguei em sua mão entrelaçando nossos dedos e quando abriu as duas portas do salão, as luzes se acenderam e todos gritaram surpresa. O que deixou atordoado. Ele realmente não tinha desconfiado de nada. Ele se assustou, botou a mão no peito e deu uma gargalhada. Seus olhos brilhavam cada vez mais. Estavam todos os nossos amigos ali, e os dele também. Sua família também estava lá, e até a minha que ele estava louco para conhecer. O que o deixou muito feliz. Ele me deu um beijo e me agradeceu por quase uma hora.

- Tem que ser agora amiga, vai chamá-lo.
segurou minha mão e eu procurei por que estava tomando suco ao lado do balcão junto com os seus colegas de trabalho. Meu coração parecia não estar mais dentro do meu peito, meus olhos ficaram embaçados e eu comecei a tremer. Respirei fundo e fui até ele dizendo que eu precisava conversar. Alguns de seus amigos gritaram enquanto a gente saía: "Eita, cuidado cara". E parecia preocupado. Acho que eu não falei em um tom muito bom.
Andamos até a piscina onde não tinha ninguém e sentamos juntos em uma das cadeiras. Fiquei calada esperando ele dizer algo, mas eu não conseguia olhar para ele. Ele segurou minha mão e sorriu.
- Não vai terminar comigo no dia do meu aniversário né?
- O que? –Encarei seus olhos que estavam incrivelmente assustados e neguei. –Claro que não. Só tenho uma coisa para te contar.
- O que?
- Não sei se você vai gostar.
- Ai meu Deus... Me fala logo.
- Olha, se você não gostar, tudo bem. Você pode me dizer, pode ser sincero. Eu... Não sei.
- Amor, fala. –Ele apertou a minha mão e me encarou com os olhos arregalados.
- Ta bem... Uhm. To grávida. –Falei tão baixinho que nem eu mesma me escutei.
- O que? –Ele disse sério, parecia até que virou uma estátua. Ele me olhava com os olhos cheios de lágrimas e eu comecei a chorar igual um bebê indefeso. Eu estraguei tudo, eu sabia que eu tinha estragado tudo.
- To grávida, ! –Falei mais alto entre lágrimas. E ele não falou nada.
Ele não falou nada, ele mexia a boca, abria e fechava, mas não dizia nada. E eu comecei a ficar desesperada. Até que uma lágrima caiu dos olhos dele. Eu nunca tinha visto ele chorar antes, talvez ele estava triste demais.
- Não acredito! –Ele se levantou e botou as mãos no rosto. E eu não consegui me levantar. Ele se ajoelhou na minha frente desesperado, e parecia bravo. –Como você pôde?
- O que... –Minha voz não saía. Não conseguia dizer nada.
- Como pôde achar que eu não iria gostar disso? Amor essa é a coisa mais maravilhosa do mundo, depois de você é claro. Mas, meu Deus. Você está grávida. – saiu destruindo beijos em tudo que era lugar, meu rosto, minha testa, boca... Barriga. E uma sensação de alívio correu por minhas veias. –Eu vou ser pai.
- Sim. –Falei sorrindo e chorando ao mesmo tempo.
- Casa comigo.
- O que?
- Casa comigo? Eu ia esperar até o final da festa pra pedir, mas, casa comigo? –Ele pegou uma caixa de dentro do bolso e abriu. E dentro tinha uma linda aliança dourada. Minhas mãos foram na minha boca, e eu não tinha o que dizer.
- Sim. Sim, sim, sim, sim. –Ele colocou a aliança em meu dedo e me pegou no colo me beijando como na primeira vez. –Eu... Te... Amo... Muito. –Falei entre beijos. Ele me colocou no chão e segurou meu rosto sorrindo.
- Eu te amo muito mais.

Quem diria que todo aquele clichê faria sentido agora. Eu encontrei a minha metade, e fui a metade de alguém. E não há nada melhor do que ter esperança, porque quando a gente desiste, a gente não ganha.





Fim.





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