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Capítulo 13


A cabeça doía e os olhos ardiam conforme os piscava continuamente tentando acostumar-se com o ambiente escuro que a rodeava, não sabia onde estava, por mais que o lugar não lhe fosse estranho, já havia passado por ali em algum momento, não se recordava qual, mas tinha a lembrança brilhando por sua mente, o corredor sinistro, e a primeira vista, sem um fim, há quanto tempo estaria andando em frente sem chegar necessariamente a lugar nenhum? Não deveria estar depositando todas as suas fichas numa falsa lembrança, mas era exatamente o que estava fazendo naquele momento.
Era um instante daqueles em que se arrependia profundamente de ter por filosofia de vida colocar sua sorte em xeque pelo destino, mesmo que soubesse ter tudo a perder, só queria ver até onde poderia chegar. Era odioso, mas a existência inteira o era, então só o que poderia fazer a si mesma naquele espaço seria continuar em frente. Conforme o extenso corredor tender-se-ia a afunilar sua passagem, indícios de um possível fim daquela tortuosa escuridão arremeter-lhe-iam uma vontade insana de prosseguir até que soubesse com exatidão aonde aquilo tudo poderia dar.
A maçaneta de uma enorme porta rústica brilhava em meio à ausência de luz do corredor infinito, deu-se dois milésimos de segundo para que assimilasse a informação que percorria todos os neurônios de seu sistema nervoso central, para que comandasse as pernas a correrem, levando-a cada vez para mais perto daquele fim incerto que o caminho escuro a levava. Não ousou pensar duas vezes, quando percebeu já tinha uma das mãos girando a maçaneta da porta, esperava encontrar de tudo do outro lado da passagem, inclusive nada, qual não foi sua surpresa ao vislumbrar o enorme salão que a esperava por detrás daquela porta de aspecto ultrapassado, porém forte o suficiente para deter até mesmo um Rabo-Córneo Húngaro, as paredes de pedra escura, iluminadas por tochas, semelhantes ás do corredor, com a diferença de que aquelas que as antecederam estavam por todo o caminho sem emitir o menor sinal de fogo, como se não fossem acesas por séculos.
O salão era grande o suficiente para receber metade da comunidade bruxa do Reino Unido, e talvez verdadeiramente o fizesse, havia vários bancos dispostos, de diferentes tamanhos, os que ficavam nas laterais eram um pouco menores do que aqueles que estavam na frente do salão, sob uma espécie de palanque. Varreu o salão mal iluminado, sentindo aquela mesma sensação de instantes passados, como se já conhecesse aquele lugar, inspecionou cada canto do recinto mais uma vez, Merlin, como se assemelhava a um tribunal. Um momento. Um tribunal? E num piscar de olhos todos os bancos altos sob a tribuna foram preenchidos com rostos, sendo alguns até mesmo reconhecíveis, sentindo-se mal, eles olhou para as pessoas sentadas acima, havia umas cinquenta até onde sua vista alcançava, usavam vestes cor de ameixa com um W bordado em fio de prata do lado esquerdo do peito, e olhavam para ela com ar de superioridade, algumas com expressões bem austeras, outras francamente curiosas. E num lapso compreendeu enfim onde estava. Aquela era a suprema corte dos bruxos, sabia que conhecia o lugar, e realmente, já estivera em algumas audiências no tribunal do ministério da magia, mas em meio a poucas respostas ainda havia dezenas de perguntas rondando sua mente, a que se dava tudo aquilo? Por que todos olhavam diretamente para ela? Recuou alguns poucos passos até estar de volta a frente da velha porta com a maçaneta brilhante que a levaram para o supremo tribunal, sairia daquele lugar, e seria como se nada nunca tivesse acontecido. Porém a maçaneta não girava mais, tencionou chutar a porta escura, mas tudo o que recebeu foi um machucado no pé, seria seu fim?
Com esse pensamento vislumbrou conforme alguns dos archotes se apagavam, tornando o ar daquele enorme salão ainda mais sombrio, encolheu-se contra a parede de pedras escuras e frias, desejando desaparecer, mais do que tudo. Fechou os olhos, teletransportando sua mente para um lugar feliz, e pedindo silenciosamente que seu corpo pudesse ir junto.
- Esperávamos por você, Srta. . - A voz lhe era tão familiar que achou que poderia correr e se esconder contra o peito daquela voz amiga, mas não quando o viu sentado imponentemente no lugar de maior importância na Suprema Corte Bruxa. Cedrico Diggory ocupava o lugar do Ministro da Magia, era evidente que ele tinha o rosto mil vezes mais bonito que o do senhor ministro Fudge, e também de boa parte da comunidade bruxa, porém o que ele fazia ali, essa era uma pergunta que não achava que viesse a ter uma resposta, não tão cedo. - Aproxime-se. - Ele ordenou, e sentiu em suas veias que corriam por todo o corpo o poder da ordem em suas palavras. Assim ela o fez, se aproximou ocupando um banco disposto no meio da parte oval perigosamente defronte as cadeiras altas ocupadas pelos bruxos da corte. O que ela estaria fazendo num julgamento? De quem era aquilo? De quem fora a idéia? Estava a ponto de dar uma de Draco e gritar a plenos pulmões "meu pai vai ficar sabendo disso". Valeria de alguma coisa? - Agora que o réu enfim tomou seu lugar, declaro aberto o julgamento. - Ela engasgou. Seria ela a acusada? Aquele julgamento era então seu? - Acusações? - Cedrico dizia com tédio.
- Acusações. - Começou a dizer uma mulher sentada próxima de Cedrico, com a mesma cara amarrada de todos os outros. - A réu é acusada de violar o decreto de restrição a prática de brincar com os sentimentos de outros bruxos. - teve uma crise de tosse. Recebendo alguns olhares tortos dos buxos da corte. No caso, mais olhares...
- Desculpe? Isso é sério? - se prontificou, incrédula com o que estava acontecendo, e sem saber exatamente o que fazer.
- A acusada não deve falar quando não se é falado com ela. - A mesma bruxa sentada perto de Cedrico cortou-a.
- Mas estão falando de mim. - A garota se levantou da cadeira em que estava, querendo começar uma discussão. De todo jeito, estava para nada naquele tribunal, então, que caísse de uma vez para qualquer coisa.
- Silêncio. - Cedrico ordenou, com um tom de voz de impor respeito, e até mesmo medo. - Eu quero ordem neste tribunal. Mantenha a compostura, Srta. . - Ele avisou, dessa vez se voltando para ela, apontando diretamente para a menina, e indicando a cadeira atrás dela. - Mandem entrar o primeiro julgador. - Bufando voltou para seu lugar, colocando sua melhor cara de tédio no rosto e cruzando as pernas, o que não durou mais de um segundo, com a visão da figura que agora surgia em meio ao show de horror que era o tribunal dos bruxos. Julgou ela mesma que deveria ter sido mandada para um universo paralelo. Nada estava fazendo o menor dos sentidos.
Principalmente porque era Draco Malfoy quem estava parado defronte a Suprema Corte dos Bruxos, olhando na sua direção, mas ouvindo atentamente o que Cedrico lhe cochichava, e acima de tudo, com um sorriso enviesado preso ao rosto. Tão seu. Como aquilo era possível?
- Pode começar, senhor Malfoy. - Cedrico fez um movimento com a mão indicando a Draco para prosseguir com o que é que ele tivesse a dizer, este por sua vez acenou concordando.
- Srta. . - Ele começou, com aquela voz rouca, que ele usava para sussurrar seu nome, lembranças assolaram a mente da pálida garota. - Vou-lhe fazer algumas perguntas se me permitir. - nada disse. Não queria Cedrico chamando-lhe a atenção novamente. - Bem, seu nome é , correto? Filha de Bruce e Elena ? - Ela acenou positivamente. - Desculpe, não ouvi. - Draco a testou.
- Sim, é verdade. - Ela disse com tédio.
- Certo. - Ele cruzou os braços e se aproximou poucos passos próximo a ela. - Sua família então é uma das famílias puro-sangue mais tradicionais do Reino Unido, exato?
- Isso. - Concordou.
- E seus pais, assim como toda a sua família, prezam para que o sangue puro permaneça em sua linhagem? Certo? - Ele sabia exatamente as respostas para aquelas perguntas, que diferença faria ela confirmar ou negar aquilo tudo?
- Correto, senhor. - Rolou os olhos ao responder, e pareceu que aquele movimento não passou despercebido por Draco Malfoy, que juntou os lábios numa linha fina, e se aproximou mais da menina parando diretamente a sua frente, ele se abaixou, e repousou as mãos, uma de cada lado do suporte para os braços da cadeira em que permanecia sentada.
- Então por que é que você continua se relacionando com traidores do sangue? - Draco perguntou proferindo palavra por palavra pausadamente, e com o rosto a milímetros do rosto de , a garota sentia a respiração firme de Draco bater contra sua bochecha, mas as palavras do garoto, essas atingiam em cheio seu peito. Em qualquer lugar do mundo que estivesse, até mesmo quando não soubesse exatamente onde era, sempre iria doer quando Draco a tratava daquele jeito. não respondeu, por fim. Retesou-se e abaixou a cabeça, fugindo dos glóbulos acinzentados de Malfoy. - sem mais perguntas. - Ele anunciou, se distanciando dela de uma vez.
- Obrigado, Sr. Malfoy, então podemos seguir com o próximo julgador, por favor. - Cedrico anunciou de seu banco alto. E pela segunda vez teve certeza de que se estivesse bebendo alguma coisa teria engasgado naquele momento. - A réu é toda sua, Sr. Weasley.
- Tenho certeza que é. - Fred concordou saudando Cedrico com um aceno de cabeça.
- Eu bem que senti o cheiro da escória. - Draco disse com a cara mais fechada que seus punhos, aos quais ele apertava com tamanha intensidade que estavam avermelhados, como ela pode notar.
- Sempre bom te ver, Malfoy. - Fred correspondeu o desprezo do outro garoto. - Vejamos. - Ele examinou por bons minutos antes de dizer alguma coisa. - Srta. , quem, de todo esse tribunal já lhe fez derramar lágrimas por ser um digníssimo babaca? - Ele fora curto, e fora grosso, como nunca o ouvira ser antes, poderia ter chorado naquele mesmo momento.
- Draco. - Ela disse num murmúrio.
- Poderia repetir, por favor, e dessa vez para que todos no juri possam-lhe ouvir. - Fred retrucou.
- Draco Malfoy! - Ela exclamou a contragosto.
- Era só isso o que eu precisava ouvir. - Fred sorria, mas não era para ela, não era o sorriso que ele tinha guardado para ela, era um sorriso maldoso, um ao qual ela não conhecia. - Sem mais perguntas excelência.
- Sr. Malfoy, pode prosseguir com seu interrogatório. - Cedrico ordenou.
- É claro que sim. - Draco logo avançou com uma expressão presunçosa no rosto. - Srta. , me refresque a memória, por favor, diga-me como é seu relacionamento com... Bem, comigo? - Ela o encarou com uma sobrancelha arqueada, sem entender ao certo aonde é que ele pretendia chegar com aquela pergunta, mas tendo plena certeza de que não poderia sair anda de bom daquilo.
- Somos primos. - disse afirmativamente.
- Sim, somos família. - Draco balançou a cabeça num sinal positivo, concordando com aquilo que lhe era dito. - E como você descreveria nossa convivência? - Ele ergueu o rosto cravando seus olhos de cores incompreensíveis nos dela.
- Não consigo dizer em palavras, Draco. - O viu travar o maxilar com sua resposta. Respirou fundo. Tentou explicar aquilo o que não se deveria ser dito em voz alta. - Temos uma ligação muito forte, e que é muito difícil de explicar, tenho certeza que você concorda comigo, acho que não existe palavra no mundo que possa descrever o que eu sinto por você, e eu só consigo sentir.
- Hm - Ele coçou o queixo, e admirou por um segundo a mandíbula perfeitamente esculpida no rosto de Draco. - E você diria que tem o mesmo tipo de relação com seus pais, por exemplo? - Fechou o rosto com a pergunta. Malfoy havia tocado num ponto sensível, e o pior era que ele sabia disso.
- Você sabe que não. - Respondeu a contragosto, virando o rosto, um surto de raiva e descontentamento tomando-lhe o interior.
- Sei, mas o júri não. - Ele apontou para a tribuna, e consequentemente, a todos os bruxos, sentados em seus respectivos bancos altos, que formavam a suprema corte. - Então explique a eles como é a intimidade com seus pais. - O odiou por continuar com aquele assunto, era algo que sua mente evitava em pensar, não conseguia acreditar que naquele momento estaria revelando fatos que escondia até mesmo de si própria.
- É inexistente, meus pais são preocupados demais com suas próprias vidas e não tem tempo para a minha, nossos ápices de demonstração de amabilidade são normalmente quando eles me dizem o que fazer, principalmente com respeito ao que possa prejudicar de alguma maneira a imagem da minha família, porque segundo eles tudo o que eu faço é errado, de alguma maneira. - Resumiu da melhor forma possível a sua não-relação com os pais, juntamente a um apertinho dentro de seu peito, o coração nunca aguentava a intensidade que aquele tópico poderia trazer consigo, por sorte, seu rosto permanecia inerte a qualquer demonstração de sentimento. Sempre bem preparado a mascarar a dor. Tudo estava bem. Ou ao menos era o que fazia com que acreditassem, esperando que algum dia pudesse convencer inclusive a ela própria.
- Um pouco forte. - Draco deu-lhe as costas naquele momento. - Mas me diga, como você se sente sobre isso? - Ele perguntou pausadamente virando minimamente o rosto na direção de , e mesmo que não pudesse vê-lo por inteiro, ela sabia perfeitamente qual a expressão que ele havia assumido.
- Eu queria dizer que não sinto nada, mas creio que não se possa mentir para o Conselho dos Bruxos. - Ela deu de ombros, olhando para seus sapatos, e sabendo que todos os outros olhares estariam presos em si. - Mas a verdade é que normalmente desejo que nunca tivesse nascido.
- E você pode nos dizer o que lhe faz se sentir melhor quanto a tudo isso? Mais precisamente, quem? - Draco frisou essa última palavra, como se soubesse o que viria em seguida. Ele sabia.
- Você - Sentiu o gosto amargo das palavras saindo por seus lábios. - Sempre me faz ver além disso tudo, você sabe, e quando mesmo isso não funciona você simplesmente permanece por lá, ao meu lado, me faz sentir menos sozinha. - A lembrança da imagem que tivera de Draco um dia poderia doer mais que as perguntas que o mesmo lhe fazia?
- E alguma vez o outro senhor, aquele com vestes de segunda mão. - Ele disse torcendo os lábios e indicando com um movimento de ombro para o lado ao qual Fred Weasley permanecia escorado numa pilastra, observando a tudo com seus olhos da cor do mar. - Lhe fez sentir da mesma forma?
- Bem, não. - Seus olhos encontraram aos de Fred por um segundo, mas a conexão tão logo se perdeu, não queria que ele enxergasse dentro de si naquele momento, porque o que ele veria poderia afastá-lo mais do que todo aquele discurso de Draco o fazia. - Mas Fred me ajudou de outra forma...
- Sem mais perguntas. - Draco a impediu de continuar. Ela se calou.
- Sr. Weasley, sabe o que fazer. - Cedrico anunciou com um fio de tédio em sua fala.
- Sim, senhor. - Fred assentiu. - Srta. . - Ele disse, com um sorrisinho fechado preso ao rosto, como aqueles que ele usava quando pretendia fazer uma de suas desventuras. - Eu pretendia fazer a mesma pergunta que fiz anteriormente, porém, graças ao senhor Malfoy, e obrigado por isso Draco, tem outra coisa que quero saber, e consequentemente, que o júri saiba também. Então me diga, que é que fiz por você?
- Preferia que tivesse feito a primeira pergunta de novo. - O fez rir, e ao mesmo tempo, aproximou-o ainda mais de si, Fred prendeu-a contra o apoio para as costas de sua cadeira, depositando uma mão de cada um dos lados dos suportes para os braços da cadeira, acercando seu rosto para mais perto do de . Era intenso. A começar pelo número de expectadores a cena. - Você me encontrou, Fred. - Confidenciou, tão baixo que jurou que nem ele próprio poderia ter lhe escutado. Mas ele o fez. Sabia disso.
- Como? - Ele queria que ela repetisse. Não poderia lhe dar esse gosto. Nunca aliviaria as coisas para Fred Weasley, e era isso o que lhe fazia gostar tanto dele, para tudo o que conquistara com a menina, Fred tivera de fazer a macarena para conseguir. O que o fazia valer tanto a pena.
- Gosto de pensar que antes de você tudo em minha vida era em preto e branco, e quando você apareceu pra mim trouxe junto a cor, e coloriu meu mundo. E desde então, eu não vivo mais com medo de não conseguir agradar a todo mundo, eu simplesmente vivo, por mais difícil que isso possa ser.
- E você considera isso uma coisa boa?
- Desde que eu esteja com você, as coisas só serão coisas, não faz muito tempo desde que você me disse "só fica comigo, é só o que eu preciso" bom, eu também.
- Sendo assim... - Fred se aproximou perigosamente prendendo-a mais contra o acento da cadeira em que estava. Ele desceu uma das mãos até a cintura da menina, apertando-a. Ela não esperava por aquilo. Mas não poderia dizer que não havia gostado.
- Meritíssimo protesto. - Draco explodiu no meio do tribunal, apontando diretamente contra Fred e , seus olhos ardendo em fogo. - Weasley esta flertando com a réu.
- Ele tem razão, Sr. Weasley, contenha-se. - Cedrico concordou com Malfoy, mas o riso preso em sua garganta era inegável.
- Desculpe, Sr. Diggory, sem mais perguntas. - Fred depositou um beijo singelo em uma das mãos de antes de se afastar.
- Sr. Malfoy. - Cedrico fez um movimento para que Draco continuasse com o inquérito.
- Esta bem, Srta. diga de uma vez por todas, com quem queres ficar? Comigo ou com o traidor do sangue. - Ele apontou para Fred sem tirar os olhos de , e esta por sua vez, revesando seu olhar entre um e outro.
- Protesto, vossa excelência. - Fred se aproximou do palanque de Cedrico, ao que tudo indicava ele estava calmo, mas o olhar sanguinário que lançara contra Malfoy era irredutível.
- Negado. - Cedrico vetou o pedido de Weasley. - Como assim negado? - Fred subira alguns decibéis o tom de voz. Já não tão calmo. - Shhh, Sr. Weasley, agora é que esta ficando bom. - Com um movimento de mão e uma cara enfezada afastou Weasley e seus lamentos.
- Então está bem, diga a eles, , com quem você vai ficar. - Fred se transformara, aproximou-se da cadeira em que continuava sentada e levemente empurrou Draco com o ombro. Claro que a ação não passou despercebida pelo garoto. Malfoy devolveu-o com um empurrão ainda mais forte.
- Não me toque, traidor do sangue. - Ele bradou.
- Não se dirija a mim com essa sua cara de duende do Gringotts. - Fred perdera toda a sua armadura de tranquilidade.
- Você ta querendo dizer que eu sou feio? Coitado, feia é a sua mãe, Weasley. - Seria inevitável dizer que aquilo poderia ficar mais feio do que já estava.
- Você vai mesmo meter a mãe nisso? - Fred balançou a cabeça incrédulo. - Eu posso lidar com isso, pois saiba Malfoy que a sua mãe é tão feia que quando ela nasceu o curandeiro gritou "Riddikulus”.
- Seu desgraçado. - Todo o fogo que se via ardendo nos olhos de Draco haviam se perdido por conta do sangue que se apoderava de tudo. - A sua mãe, ela é tão gorda, mais tão gorda, que quando ela entrou em Hogwarts o chapéu seletor pôs ela nas quatro casas.
- Ah é? E a sua mãe... - Fred começou, mas acabara sendo interrompido.
- Parem! Parem com isso já! - , que se levantara abruptamente, sentindo-se estatelada e um pouco ofendida com aquela discussão que tivera inicio por sua causa, e por seus sentimentos mal compreendidos. Naquele momento haviam dois garotos encarando-a com suas melhores expressões de incredulidade, cada um de sua própria forma. Ele soube que algo pior estaria por vir. Por sorte havia um juiz naquela sala, ou seja lá o que Cedrico estivesse representando.
- Cala a boca. - De tudo o que imaginara que eles poderiam fazer jamais imaginou que poderia ter sido tão baixo, e tão infantil, tudo ao mesmo tempo.
- Como é? - Fora Draco quem começara mandando-a se calar, sem entender, e ainda um tanto em choque com a situação quis-se fazer de incompreendida, quem sabe esta faceta não lhe daria algum tempo para pensar em como sair daquela bagunça toda. De preferência algum lugar longe daqueles dois, no fim das contas, depois de tudo o que havia passado, acabara por chegar num consenso de que não queria nem a Draco, nem a Fred, só o que queria era ficar sozinha. Não aguentava mais nem um minuto daquilo.
- Cala a boca, você. - Fred rebatera a Draco, tomando as dores de , e protegendo a honra da garota, como um verdadeiro cavalheiro, imaginou que sentiria seu coração derreter de amores por Fred se não estivesse tão puta com aqueles dois.
- Não, cala a boca, você. - Draco contestou, dessa vez empurrando a Fred com uma das mãos, o garoto se desequilibrou, e por um momento todos na sala de audiências que ainda assistiam a cena, pensaram que o garoto fosse cair. Porém, ele fora mais rápido que a força da gravidade, e no segundo seguinte estava devolvendo o empurrão contra Malfoy, com o dobro da intensidade do primeiro.
- Cala... - E tudo ficou preto e sombrio uma segunda vez.

* * *


-Cala a boca. - Aquelas vozes.
- Não, você cala a boca. - Eram vozes conhecidas.
- Cala a boca, você. - Sabia que já havia ouvido algo parecido em algum lugar.
- Você. - Sua mente, sempre tão lúcida, naquele momento parecia turva, e por mais que pudesse ouvir, nada mais conseguia fazer. Estava presa na escuridão. E sentia dor. Podia sentir suas terminações nervosas tremerem conforme aquela discussão prosseguia-se. Merlin, como gostaria de por um fim naquilo. Gostaria muito de saber como. O que é que poderia fazer? Se nem ao menos a visão tinha, esta que era um dos sentidos básicos de qualquer ser humano por mais trouxa que este pudesse ser. Tinha de fazer alguma coisa.
- Não, cala você. - Era insuportável, sua irritabilidade chegara a um nível excedido que somado a incompreensão do que é que diabos estava acontecendo no mundo fora de sua mente, juntou-se uma força inigualável e num estado final sentiu tremeliques por todo o corpo, para então finalmente abrir os olhos. Ainda não conseguia morrer um dedo sequer. Mas ao menos agora podia ver, num primeiro momento, de forma imprecisa e nublada, mas conforme seus globos oculares de acostumaram com a iluminação fraca de onde estava, ela enfim pode ver, e quis soltar brados de felicidade e vitória por sua façanha, porém tinha plena certeza de suas limitações vocais. Assistia conforme seus olhos desenhavam o mundo a sua frente, tal como era, tal como ela se lembrava de ser.
Estava em Hogwarts, o que quer dizer que estava em segurança. E também estava na enfermaria como pode ver, devido as camas dispostas lado a lado, e o cheiro irritantemente penetrante de limpeza. Não fazia ideia de que dia era, ou ha quanto tempo estava ali, e até o porquê de estar deitada numa das macas da ala hospitalar da escola. Mas bem a sua frente, uma batalha era travada, e seus protagonistas pareciam tão compenetrados em suas respectivas estratégias de guerra que a mínima importância deram a menina que acabara de despertar do sono profundo. Travavam uma guerra atirando pequenos pontos coloridos uns contra os outros, que mais tarde ela viria a descobrir serem Feijãozinhos-de-Todos-os-Sabores, enfim, enquanto a hostilidade entre aqueles dois titãs chegava ao seu ápice, um terceiro expectador mantinha-se ao lado da cena, ocupando a cadeira próxima a cama em que estava deitada. Sempre com sua expressão serena em meio aos olhos dourados característicos dele próprio, Cedrico ocasionalmente balançava a cabeça em repressão aos colegas a sua frente que não demonstravam o menor sinal de requinte ou etiqueta. "O que Tia Ciça diria disso?" Fora o que pensara, ao assistir Draco atirar um feijão verde alaranjado contra Fred, atingindo-o numa bochecha, o garoto devolveu com um feijãozinho de cor azul salpicado de bolinhas brancas, aquele era de sabor de algodão, da mesma matéria prima que usava-se para fazer nuvens, quanto desperdício...
- Calem a boca os dois. - juntara toda sua vontade por paz interior e elevara a voz o máximo que pode para se fazer ouvir por aqueles garotos em guerra. Por sorte, ou talvez por Cedrico, eles haviam parado. Por enquanto.
- . - Ced se levantou num salto, aproximando-se de potencialmente, examinando cada centímetro de seu rosto, ato que a fez corar, ela não saberia dizer qual seria o estado de sua aparência naquele momento.
-Ela acordou. - Draco bradou, aproximando-se também.
- ! Está bem? - Fred veio logo atrás. Aos olhos do leitor poder parecer algo calmo e bem organizado, mas a verdade terrena era que todos falavam de uma vez, um por cima do outro, e conforme chegavam mais e mais perto da menina empurravam-se com os ombros querendo estar mais próximo dela do que o outro. Numa cena mais confusa de se ver, do que fora de se explicar.
- Por que estou na enfermaria? - Era a primeira e mais importante das coisas que precisava saber para se situar no mundo em que vivia, e ao qual gostaria de sumir no exato momento em que despertara.
- Não se lembra de nada? - Cedrico indagou com uma sobrancelha arqueada. E daquela vez ao menos falara sem que houvesse outro dos garotos dizendo algo por cima do que era dito. – Caras, Madame Pomfrey disse que ela deveria descansar, vocês estão destruindo com o tratamento. - Ralhou com os outros dois que por mais quietos que estivessem naquele momento, ainda mantinham-se a todo o vapor aprontando das suas. No final das contas, Draco e Fred teriam mais em comum do que poderiam admitir. Eram os dois Excede Expectativas em arrumar problemas.
- Ouviu só? Sai de cima, idiota. - Draco fora o primeiro a reagir, e como se já não fosse tão comum, empurrara Fred com o ombro, de uma maneira longe do considerado gentil.
- Sai você, seu babaca. - Fred se contrapôs ao garoto excessivamente louro, devolvendo o empurrão. E nisso entraram num efeito bola de neve em que não se afastavam da cama, ao contrário, voltavam a se aproximar ainda mais, e bradando algumas palavras feias um contra o outro conforme se acotovelavam. não estava com saco para eles naquele momento, e nem em nenhum outro, ao menos não depois de terem feito-a de réu num julgamento bruxo sem pé nem cabeça.
- Saiam! - Ela exclamou, tomando de uma vez por todas a atenção daqueles dois inconsequentes.
- O que? - Indagou Draco.
- Como é? - Quis se fazer entender, Fred. Ambos com olhares difusos e incompreendidos.
- Saiam os dois, antes que eu chame Madame Pomfrey. - avisou por fim, e virou o rosto, não querendo olhar nem pra um muito menos pra outro.
- Ela está doida. - Draco queixou-se dando de ombros.
- Não sabe o que esta falando. - Por mais incrível que pudesse pareça, Fred concordara com o menino.
- Ced, me ajude aqui. - Vendo que poderia mais uma vez sua vontade não chegar a lugar algum, pediu por socorro ao cavalheiro da Lufa-Lufa.
- Vamos lá pessoal, deixam-na um pouco, todos sabemos pelo o que a pequena passou. - Cedrico Diggory deslocou seus braços transpassando-os pelos ombros de cada um dos garotos e girando-os para que ficassem na direção da porta de saída da Ala Hospitalar.
- Eu sou da família, e tenho certeza que posso ficar com minha . - Draco frisou as últimas palavras. - Mas para verem como sou legal, só peço que saia a escória. - Ele completou torcendo os lábios. - Bom, de qualquer forma, isso quer dizer que os dois terão que sair. - Ele disse por fim soltando-se do braço de Cedrico que ainda repousava em um de seus ombros. rolou os olhos para o primo.
- MADAME POMFREY! - Ela gritou a plenos pulmões, que aquela altura já funcionavam perfeitamente, sentia ser mestre de seu próprio corpo novamente, poderia caminhar por uma corda banda fazendo malabarismos feito aqueles artistas de circos trouxas de que tanto já ouvira falar. Era dona de si novamente. Mas o sentimento que ainda restava dentro de si era aquele que lhe dizia ter de ficar longe de uma vez por todas daqueles dois garotos, a quem ela jurou não poder viver sem, e que naquele momento não estavam lhe fazendo o bem que um dia pensou que fizessem. Eles estavam deixando-a dividida. E não gostava do gosto daquelas ideias vagando por sua mente, já a muito confusa.
- Calem a boca dela. - Cedrico fora quem dissera, e não pensou que estivesse ouvindo bem o bastante. Arregalou os olhos quando viu os três correrem em sua direção, o que não demorara mais de um segundo, nao dando-lhe nem ao menos tempo para fugir ou fazer alguma coisa contra eles, quando menos percebeu já estavam três pares de mãos tapando-lhe a boca, e três rostos um tanto próximos do seu.
- , eu juro que se você nos meter em encrenca você não vai sair daqui tão cedo. - Draco ameaçou.
- Eu não queria ter que dizer o mesmo, mas já esta dito. - Fred concordara com o garoto, e ele poderia não ter percebido, mas não era a primeira vez que fazia aquilo naquele mesmo espaço de tempo.
- E eu sou obrigado a concordar com esses dois. - Cedrico garantiu.
- Eu preciso ficar longe de vocês. - Após muito se debater conseguiu se soltar dos três garotos ensandecidos que prenderam-na contra o acolchoado da cama. Queria amaldiçoá-los com alguma maldição imperdoável, mas há muito se dera conta de que não sabia bem onde sua varinha poderia estar. Deveria ter prestado maior atenção quando Stefan tentara lhe ensinar feitiços sem usar a varinha. Stefan. A imagem do mercenário e de seu rosto angelicalmente esculpido tomou-lhe a mente, fazendo-a lembrar que ainda tinha uma desventura não terminada para por em prática. E para isso precisaria sair daquele lugar. Estava enlouquecendo com o pouco tempo que apossara desperta na enfermaria, ainda mais com visitantes que se odiavam, feito os três garotos que mantinham-se em pé a sua frente, cada um observando-a a sua própria maneira, mas em todos os olhares poderia ver a incompreensão. Todos aqueles três a conheciam tão bem. Por menor que fosse o tempo que tivesse passado com cada um deles. Deveria ser estranho a eles realmente não entender o que se passava com a menina. Carregava consigo aquela maldição que poderia ser tratada como uma benção ao mesmo tempo. Precisava das pessoas. E essas sabiam disso. E acabavam por fim tornando-se dependentes de e de toda essa sua dependência.
- Wow. - Fred fora o primeiro a se prontificar, tentando impedi-la de se levantar, mas já era tarde demais de qualquer forma chutara a fina manta que a cobria, e jogou as pernas para fora da cama, impulsionou-se com os braços para levantar, ainda sentia-se um tanto mole, e o corpo parecia não responder tão aos seus comandos quando se mexia, acreditou que pudesse ser pelo tempo que passara deitada em sono profundo.
- Ei, calma aí. - Cedrico, que estava mais próximo que os outros dois, a puxou por um dos braços, tardando sua artimanha, ele não soltou-a e fez uma pressão maior com a mão que a segurava, ela sabia que quando a soltasse estaria avermelhada a região, mas não porque ele a apertara com força, era um tanto pálida, feito um vampiro, e escoriações eram tão comuns que já as tratava como velhas conhecidas.
- Fica tranquilinha. - Draco repousou uma mão em seu ombro, ele dera a volta para o outro lado da cama, onde não havia nem Cedrico nem Fred para batalhar por um espaço próximo a menina. Esperto e ardiloso, feito uma cobra.
- Você não pode sair. - Cedrico frisou quando ela puxou o braço que ele permanecia a segurar, de todo jeito, ele ainda não cedera quanto a solta-la.
- Eu vou sair daqui agora. - avisou, tentando mais uma vez se levantar, ao mesmo tempo em que tencionava se soltar dos braços que a prendiam na maca.
- Não pode. - Cedrico exclamou, puxando-a de volta, dessa vez segurando-lhe os dois braços.
- , não. - Fred completou, empurrando os ombros da garota de volta aos travesseiros que havia na maca de .
- Mas o que é isso? - A voz de Madame Pomfrey, curandeira-chefe da Ala Hospitalar de Hogwarts, bradou resplandecendo pelo quatro cantos da enfermaria. – , se eu soubesse que acordaria com intenções de me desacatar teria lhe enfeitiçado com um Petrificus Totalus. - Ela ameaçou se aproximando da maca da menina com a varinha em punho.
- Eu já estou curada, Madame Pomfrey, fez um bom trabalho, lhe agradeço imensamente, mas agora eu realmente preciso sair, tenho umas coisas pra fazer, entende? - fez sua melhor cara de boa menina, e com um discurso de fazer qualquer autoridade da escola rir, ela lançou um meio sorriso convincente a curandeira.
- Minha querida, eu lhe dei uma poção do sono poderosíssima, e diga-se de passagem caprichei na espinha de baiacu, você ainda deveria estar dormindo, mas por não estar não quer dizer seu corpo não esteja, posso ver por seus olhos que você esta mais pra lá do que pra cá. - Madame Pomfrey argumentou, respirando fundo, e fazendo o possível para não elevar o tom de voz com a então enferma. Com aquelas poucas informações, percebeu que era aquele o real motivo da fragilidade que sentia no corpo que não queria responder a seus comandos.
- Eu me sinto ótima. - Mentiu, sentindo a cabeça rodar conforme se mexia, mas não poderia deixar-se mostrar que ainda estava afetada pela poção que Madame Pomfrey lhe dera, tinha de sair da Ala Hospitalar, e tinha bons motivos para isso, só não poderia dizê-los em voz alta. O que era uma pena, e tornava tudo um tanto mais difícil.
- Ah é? - A curandeira a encarou com os braços cruzados e uma sobrancelha arqueada.
- Pode acreditar, veja só. - Daquela vez nenhum dos três meninos tentara lhe impedir, pareciam ter sido petrificados por Madame Pomfrey, não se mexiam, nem nada diziam, um milagre, se quer saber. jogou as pernas para fora da cama, vestia um de seus pijamas de flanela, e se perguntava como diabos haviam colocado aquilo nela, usou de toda a força interior para se içar para fora da cama, e... - Eu não vou... - Iria terminar a sentença com "cair", mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, logo que seus pés tocaram o chão, sentiu as pernas falharam, e assim se viu, bem, caindo. - Talvez eu vá. - Antes que pudesse enfim dar de cara com seu local de origem: o chão, sentiu braços a segurarem, Fred a levantava de um lado, e Cedrico do outro. - Garota atrevida. - Madame Pomfrey ralhou com ela. - Ajudem-na a voltar para a cama, vamos logo com isso, Weasley, pare de ficar olhando pra cara da menina e faça alguma coisa. - Conjuntamente os meninos a repousaram de volta a maca. Evitou o olhar de ambos, um tanto envergonhada por suas últimas ações. - Pronto, isso mesmo, boa garota. - Ela se aproximou pegando o rosto de em suas mãos e examinando cada ponto da menina com olhos rápidos e que varriam tudo o que encontravam, poderia apostar que Madame Pomfrey saberia dizer até mesmo quantas sardas tinha espalhadas por seu rosto.
- Quanto tempo eu ainda vou ficar aqui? - A menina perguntou cabisbaixa, e com uma careta nada amigável.
- Vai ficar mais um dia pelo menos. - arregalou os olhos e sua boca abriu minimamente sem que ela pudesse perceber ou controlar, estava incrédula. - E não me venha com essa cara, , deveria estar me agradecendo, ouvi pelos corredores desse castelo que os alunos do terceiro ano tiveram de escrever sobre tudo o que aprenderam em poções esse ano letivo e que Snape não aceitou nada menos do que dois rolos de pergaminhos. - Ok. Aquele era realmente um bom motivo para estar internada na Ala Hospitalar. A expressão no rosto da menina amoleceu, e é claro, nada passou despercebido por Madame Pomfrey, que sorriu em resposta. - Esta vendo, só? Me agradeça por estar aqui, menina. - Bagunçou alguns dos fios de cabelos no alto da cabeça de , ainda com o sorriso gentil em seu rosto. - Agora descanse, que eu vou lhe preparar outra dose da poção do sono, iras dormir feito uma mandrágora. - Madame Pomfrey ainda ajeitou os travesseiros e o cobertor de antes de se afastar por fim da menina. - Não sei o que pode ter acontecido que lhe fez despertar, , quer dizer, na verdade sei bem sim. - Ela disse mexendo a solução com um movimento de sua varinha conforme colocava mais um ingrediente e outro, lançava olhares de soslaio nem um pouco amigáveis aos garotos que rodeavam a cama da menina enferma. - Eu não quero ter que expulsá-los da enfermaria, meninos, bom, até quero tirá-los daqui sim, é gente demais, a menina precisa descansar, seja lá o que vocês tem para resolver vão ter que esperar receber alta.
- Injustiça! - Fred fora o primeiro a se manifestar.
- Quer falar sobre justiça comigo, Weasley? Darei-lhe alguns lençóis para lavar se vier com insolência para cima de mim. - Madame Pomfrey o ameaçou, e já não havia vestígios daquele sorriso gentil em seu rosto. quis rir.
- Não foi isso que eu quis dizer, Madame Pomfrey, eu só... - Fred tentou se desculpar, imaginando que não seria nada legal um castigo que não envolvesse usar magia.
- Tenho certeza que não. - Madame Pomfrey bufou. - Podem ir saindo, os três, vamos, rapidinho. - Ralhou com os meninos apontando um dedo zangado em direção a porta
. - Madame Pomfrey, mas o que foi que eu fiz? - Cedrico jogara as mãos para o alto, tentando barganhar com a curandeira. Dos três ele seria a principal escolha de para permanecer na sala, mas como sabia que os outros dois excluídos não aceitariam nada bem uma decisão dessas, que saissem os três de uma vez. No final das contas, era um tanto cômico assisti-los sendo defasados por Madame Pomfrey. - Foram Malfoy e Weasley que acordaram , eu não tive nada a ver com isso.
- Diggory, não me faça ter que lhe tirar eu mesma. - A curandeira estava chegando ao limite de sua paciência, que conforme corriam-se pelos corredores do colégio, não era das maiores.
- Eu diria que isso é uma injustiça se não fosse lhe deixar mais irritada. - Fred voltou a se rebelar. - Viu só? Estou sempre pensando no bem comum, não sei porque é que tenho de ser enxotado.
- Meninos, eu estou lhes deixando sobre avisados, não reclamem depois quando contar aos diretores de suas casas que andaram perturbando a paz da enfermaria. - Ela repousou ambas as mãos nos quadris, e aquele movimento fora o suficiente para fazer os três garotos andarem derradeiramente em direção a porta da Ala Hospitalar. - Melhor assim, isso, vão saindo. - Eles cruzavam a saída da porta, primeiro Cedrico, e prendeu dentro de si a vontade de chamá-lo de volta, depois fora Fred quem saíra mandando-lhe uma piscadela, deu um meio sorriso ao garoto, pensando que poderia chamar Fred de volta junto com Cedrico também, o garoto sabia como amolecê-la feito ninguém, mesmo que não soubesse que ela se encontrava num estado de nervos contra ele, ainda não havia apagado de sua mente o pesadelo na corte suprema dos bruxos. - Mas só me faltava essa agora? E você? O que quer, Malfoy? - É claro que um deles daria um pouco mais de trabalho para se fazer ser expulso da enfermaria. Parando para pensar, estava achando estranho que Draco não tivera se manifestado contra nada desde a chegada de Madame Pomfrey, com certeza guardara o melhor para o final. Dito isso, esperou o pior.
- Em primeiro lugar, um pouco mais de respeito. - poderia rir se não fosse tão trágico. Aquela frase era tão Draco que não a de existir palavra que melhor descreva isso do que o seu próprio nome. - E em segundo, não pode me tirar daqui, Madame Pomfrey, sinto muito. - Ele tinha aquele sorriso de canto, sua marca registrada, e pelo olhar em seu rosto poderia-se afirmar que não sentia nem um pouco pelo o que estava fazendo. - é minha prima, e como sou o único representante de nosso sangue presente, permanecerei com ela enquanto aqui estiver.
- Madame Pomfrey, não vai me dizer que caiu na lábia desse babaca? - A cabeça de Cedrico Diggory voltara a surgir pela porta da Ala Hospitalar.
- Outra injustiça! - Fred Weasley também ainda estava por lá. Pontuando as injustiças que ocorriam na enfermaria.
- Chega! - Bradou a curandeira. - Quero todos fora, e o senhor, Malfoy, pois saiba que poderia ser gêmeo siamês de que da mesma maneira eu o colocaria para fora, nem que fosse pela metade, não quero mais ver suas caras pálidas aqui, me escutem bem, e vão logo de uma vez, não estou mais para brincadeiras, a menina precisa descansar.
- Pois saiba que o meu pai vai ficar sabendo disso.
- Um bom dia pra você também.

* * *


- ONDE ELA ESTÁ? - As portas da Ala Hospitalar se abriram num estrondo. - QUERO VÊ-LA AGORA! - A voz embargada num misto de ansiedade e preocupação tinha seu tom aumentado conforme ficava mais próxima da cama da menina, como ela pode perceber. - NÃO ME PEÇA PARA ME ACALMAR, SABEM BEM QUEM EU SOU? - Já sabia bem quem era a dona de toda aquela pequena confusão desde muito antes, quando tudo o que conseguia ouvir era o impacto dos saltos de seus sapatos contra o piso de mármore. Por mais que Madame Pomfrey tivesse fechado as cortinas que envolviam a maca em que permanecia deitada nas últimas 48 horas, a menina sabia que alguém se aproximava, e que esse alguém era ninguém mais, ninguém menos, que sua madrinha, sua figura materna, sua Narcisa Malfoy. - Ah, lá esta ela, Lúcio, meu anjo, minha menina. - Não houve como esconder o sorriso que surgia em seu rosto, e quando isto é dito, entenda que me refiro a ambas, neste encontro de mãe e filha. - Shhhhh, esta tudo bem, meu amor, esta comigo agora, , nada mais vai lhe machucar.
- Tia... - tentava dizer alguma coisa conforma era esmagada pelos braços de Narcisa.
- Não precisa dizer nada, querida, eu estou aqui. - A mulher alisava os cabelos da garota, a analisava todo o corpo da afilhada buscando o menor sinal de mals tratos. Não confiava no povo daquela escola. - Está pálida, , eu sabia que não estavam cuidando de você direito neste lugar. - Ela apertava o rosto da menina entre suas mãos, a enchendo de beijos por todos os lados. E , bem, ela não fazia nada que pudesse parar Narcisa. Era bom se sentir em casa. Principalmente com alguém que lhe representava tão bem, este termo "casa". - Eu disse para levá-la para casa, as aulas já estão no fim de qualquer forma, mas é claro que Dumbledore foi contra. - Ela rolou os olhos com a menção do diretor. A menina quis rir. - Seu tio vai falar com ele, colocá-lo em seu devido lugar, não é mesmo, querido?
- Uma coisa de cada vez, Narcisa, uma coisa de cada vez. - Tio Lúcio estava com sua melhor expressão desgostosa olhando com o lábio retorcido pelos domínios da Ala Hospitalar. - Sente-se melhor, filha? - A menina assentiu. - Bom, bom... - Lúcio se aproximou da cama da sobrinha, ficando ao lado de Narcisa, ele apoiou uma mão num dos ombros de , talvez o único lugar que não estivesse sendo tomado por beijos da tia. - Falei com Snape, ele me garantiu que nada disso ira prejudicar suas notas no exame de Defesa Contra as Artes das Trevas, uma aula tão indigna quanto quem a dá. - Ele apertou um pouco a mão que ainda descansava no ombro da menina, talvez sem perceber. - Agora quero que descanse e volte para suas atividades, nosso nome ainda tem certo valor pelos corredores deste castelo.
- Chega, Lúcio, não se preocupe meu amor, seu tio deixou o coração dele em casa. - Narcisa afagou contra seu peito, tencionando que poderia protegê-la do mundo todo se fosse necessário, e ela acreditou que seria possível, Narcisa sempre lhe fora mais mãe que sua própria mãe.
- Vou dar uma palavrinha com Dumbledore. - O tio se afastou depositando um beijo na testa da menina, e tão logo sumiu pelas portas de saída da Ala Hospitalar.
- Isso, vá. - Narcisa fez um movimento com a mão, para que o marido se retirasse de uma vez. – Ah, minha querida, como você esta magra, não esta se alimentando bem, ? - Voltara-se para , analisando a menina pela terceira, ou quarta vez, fazia uma perícia detalhada pelo rosto, braços, mãos, pernas, até no dedinho do pé. - O que foi, Draco? Será que pode mostrar o mínimo de condolência a nossa ? - não o vira chegar, mas nada passava despercebido por Narcisa, o garoto estava parado aos pés da cama da menina, apenas observava, como se fosse uma cena a qual ele gostava de assistir. E sabia que sim. Um momento como aqueles entre os Malfoy, era como estar em casa. Longe das aparências e de todo o resto. - Esta agindo igual a Lúcio, sabe que não gosto disso, por favor, se for para ser assim, o acompanhe para fora daqui, você ainda tem que aprender a separar como agir com a escória e com sua família, meu filho. - Ela advertiu a Draco. - Do momento que cheguei em diante só o que minha irá receber, vai ser amor. Não é, querida? - A menina foi um pouco mais esmagada entre os braços da tia. Com o rosto escondido contra o peito de Narcisa, ainda poderia jurar que teve o vislumbre de um meio sorriso de Draco, que assistia a tudo. Quando Narcisa a soltou, lançou ao filho um olhar penetrante, e com um movimento de cabeça indicou a menina que tinha nos braços. Draco sabia o que tinha de fazer. E soube antes mesmo dele. – Isso, meus queridos, dêem um abraço, aqui não é tão diferente quanto é em casa, bem, tirando a decoração horrível é claro, vocês devem ficar juntos. Sempre. - Ela frizou essa última frase. Aquela altura tinha um dos braços rodeando , e outro Draco. Era como estar em casa. - Hum, ainda acho que estão lhe alimentando mal, meu amor, tenho que falar em particular com essa enfermeira a quem vocês chamam de Madame. - Narciso torceu os lábios ao falar de Madame Pomfrey. - Draco, faça-me a gentileza de ficar com , sim? Mas não da forma que fez antes que chegássemos à escola, minha menina estava sozinha e desemparada nesta sala sem graça.
- Mamãe, já lhe expliquei que Madame Pomfrey não me deixou ficar.
- Não é desculpa, Draco. - Narcisa levantou um dedo, e Draco logo se calou. - Agora com licença, e você descanse, mocinha. - Ela disse, se levantando da maca em que estava. - É tão bom lhe ver. - A tia se preparava para sair da Ala Hospitalar, com certeza iria atrás de Snape, ele sempre fazia de suas vontades naquela escola, mas antes voltou e deixou um beijo plantado na testa, primeiro de Draco, e depois de . - Fiquem juntos. - Ela ainda cochichou a menina por um último momento.

* * *


- E aí? Como você esta?
- Já estive melhor.
- Foi de uma altura muito feia a que você caiu. - Draco sentava-se aos pés da cama da menina, com as pernas cruzadas em posição de índio, por mais próximo que estivesse, ele ainda mantinha certa distância, como se não pudesse chegar mais perto, e também como se não conseguisse, ele parecia travar uma batalha interna, via vestígios em seu rosto. E não tinha nada o que pudesse fazer. E mesmo que o fizesse, não saberia como.
- Eu caí? - Perguntou incerta, ainda não se lembrava com exatidão do que havia acontecido em seu pequeno acidente que a levara para aquelas pequenas férias na Ala Hospitalar. Sim, ainda estava lá.
- Sério mesmo que não se lembra? - Ela balançou a cabeça em sinal negativo.
- Tive alguns flashs de memória, mas nada condizia com o que realmente aconteceu, pelo menos pra mim não fez sentido algum. - A cabeça ainda doía quando se forçava a lembrar.
- Me lembra vagamente de Madame Pomfrey dizer que você poderia ter uma perca de memória momentânea, ou algo do tipo. - Draco coçou o queixo.
- E há quanto tempo estou aqui? - Num súbito imaginou que poderia estar há mais tempo naquela enfermaria do que idealizara.
- Um dia inteiro. - Ainda assim era tempo demais.
- Não.
- Pois é, lhe deram uma poção para dormir, pelo visto você estava muito cansada, Lupin disse a todos que deve ter sido o estresse pelos exames, mas tenho certeza que não foi isso, . - Ele a encarava fundo, seu olhar passava do foco de seus olhos e chegavam ao fundo de sua alma, Draco fazia isso quando queria buscar o menor sinal de que escondia algo. - Afinal de contas, eu ainda lhe conheço muito bem. - Disse por fim, como se lê-se seus pensamentos, e ela sabia que ele poderia simplesmente ter feito isso.
- Foi horrível. - Não havia por que mentir. - Tudo ficou preto e escuro, eu não sabia onde estava, mesmo tendo certeza de que não havia me mexido. - Era tudo o que se lembrava, da escuridão, e não era uma memória agradável, sentia arrepios pelo corpo, e quando dormia seus sonhos se resumiam aquilo, desejava poder esquecer aquele episódio. - Estava sozinha, era frio, e doía, uma dor imensurável, e que ninguém entenderia mesmo que eu desenhasse, porque era dentro de mim, e ninguém poderia ver, era o meu coração.
- E como você suportou a tudo isso? - Ele perguntou num fio de voz. Ele sentia a sua dor. E ela sentia isso nele.
- Não sei se devo lhe dizer.
- , você pode me falar qualquer coisa, tenho certeza que sabe disso. - Draco se aproximou dela, alcançado sua mão, e apertando-a entre as suas.
- Antes. - Viu o olhar do garoto mudar.
- Também tenho certeza que sabe o quanto me machuca com essa palavra. - Ele soltou a mão dela de imediato, recolhendo seu braço, e por mais que tentasse passar despercebido, ela viu que ele se abraçava.
- Eu sei tudo sobre você, Draco. - Ele virou o rosto, quebrando o contato entre seus olhos. - E não adianta fugir dos meus olhos, não sei por que você ao menos tenta, existe uma força magnética entre nós, os seus olhos sempre vão procurar aos meus, e mais, eles sempre irão se encontrar, para que a gente possa ver exatamente o que há com o outro, como eu estou fazendo agora. - Draco tinha seus olhos fechados naquele momento, mas parecia absorver cada uma das palavras de . - Volta. - Ela pediu. - Olhe pra mim. - E ele o fez. - Eu vejo dor, e cansaço? - Viu a expressão dele mudar. O que lhe dizia que havia acertado na mosca. - O que poderia estar lhe deixando sem dormir a noite?
- Na noite passada se retratava em meu sonho, o teu lindo retrato, o brilho dos teus olhos refletiu nas estrelas iluminando meu quarto acabei perdendo o sono mas ganhei inspiração, por isso vim até aqui. - Ele voltara a fugir de seu olhar, encarava o chão, mas tinha um meio sorriso impregnado entre seus lábios.
- E o que fez? - Dessa vez fora quem se aproximara.
- Só fiquei aqui, assistindo-a, admirando-a. - Subitamente Draco levantou seu olhar para que este se encontrasse aos de . - Olho para estes olhos e não penso que eles vão parar de encarar a vida assim, senti falta deles noite passada.
- Sentiu? - Ela queria ouvir mais uma vez.
- Sempre sinto. - Ele voltou a pegar uma das mãos da menina. - Eu faço tudo errado sempre, . - Suspirou, longamente, e ela sentiu que a intensidade do aperto a sua mão fora mais forte. - Eu só... Não queria errar tanto com você... Ao menos, não mais.
- Draco. - No final das contas, os olhos dele não conseguiam ficar muito tempo sem ver aos dela, de maneira alguma. - Foi você.
- Ah?
- Me perguntastes como suportei a escuridão, se lembra? - Ele assentiu. - Poucos antes de apagar eu o senti, sabia que estava comigo, e que não me deixaria por nada, foi o que me deu força. - Draco a envolveu em seus braços, já estavam próximos o suficiente para que ele assim o fizesse. E por um momento fora como se não houvesse mais ninguém, e que um tivesse ao outro só para si.
- Eu não quero te perder. - Ele anunciou baixinho, encaixando seu queixo sob o topo da cabeça de .
- Eu estou aqui. - Ela confirmou, aconchegando-se entre os braços do garoto.
- Sei disso, mas não sei dizer onde sua mente está.


Capítulo 14


Merlin saberia dizer o quão insistente tivera de ser e o tanto de Poção Estimulante que tivera de ingerir para que enfim Madame Pomfrey assinasse sua alta na Ala Hospitalar da escola. Ficara tanto tempo deitada que poderia passar uma semana inteira sem chegar perto de sua cama. E isso é claro que era uma mentira. Sentira mais falta de sua cama de dossel e seu acortinado verde prateado do que sentira dos banquetes de Hogwarts. Tentando não se desviar do seu plano idealizado, afastou tais pensamentos da cabeça. Sabia que não era nada confiável ainda mais quando se tratava de duas das coisas que mais gostava de fazer: comer e dormir. Sem perder tempo, a menina caminhava a passos largos pelos corredores de Hogwarts, ainda vestia seus pijamas. Essa havia sido uma das únicas coisas que tirara proveito em seu retiro de dois dias na enfermaria da escola. Pudera usar pijamas o dia inteiro. Esse ainda era um de seus objetivos de vida. Só usar pijamas. Como há muito notara, sua mente poderia hiperventilar sobre os avanços da medicina e delícias gasosas de um instante ao outro. Buscou focar-se no que tinha para fazer e que não poderia mais ser adiado. Tinha uma missão, que há muito ficara esquecida, mas não havia mais tempo a se perder. As aulas estavam em seu fim, e seu tempo também.
Por sorte, nos dias que se sucederam antes de seu acidente, que a levara a internação, ela havia diagramado todos os horários, caminhos, rotas de fuga, e qualquer coisa que pudesse dar errado naquela desventura, ou tentativa de suicídio, como Cedrico gostava de chamar. Falando dele, era o próprio por quem esperava, escorada na parede fria, ao lado da porta da sala de História da Magia. Se tivesse sido liberada no dia anterior, teria encontrado Diggory num período vago. Quis culpar a Madame Pomfrey por aquilo. Sabia os horários não só de Cedrico, como de Tracey Davis também, desde que começara a preparar o terreno para sua missão secreta. Esta que consistia em fazer uma chamada usando a rede de flu da escola, a partir da lareira de sua sala comunal. Para resumir a história, se fosse pega seria expulsa, assim como seus amigos que a ajudariam. Teria de usar o máximo de cautela possível, dali por diante, já havia começado tudo aquilo errado demais, afinal ainda usava pijamas. Levaram-se ainda alguns minutos até a porta da sala do Profº Beans ser aberta e alunos com caras amassadas e rostos manchados por caminhos de babas, que deveriam ter escorrido conforme estes adormeciam sob seus livros, saírem. Era seleção natural. Completamente impossível assistir a uma aula de História da Magia sem dormir. Muitos dos que passavam por ela sequer a notavam, os poucos que o faziam seguravam o riso pelas vestes que a menina trajava. Não se importava nem um pouco. Fora quando avistou a cabeleira em tons de castanho claro naquele ser tão alto quanto a própria porta, que num segundo o puxou pelo braço em sua direção. O solavanco assustou Cedrico, irritando-o, mas a expressão fechada em seu rosto durara somente o suficiente para seu cérebro captar a responsável por aquilo. Sorriu abertamente para , que correspondeu. 
- Sua cara é de quem fugiu da Ala Hospitalar. - Ele a desafiava a negar. 
- Eu também te amo, Ced. - cruzou os braços na altura do peito, com os lábios apertados num bico birrento. 
- É brincadeira, baixinha. - Puxou-a para um abraço. - É tão bom te ter aqui. 
- Você não vai pensar assim quando souber porque vim atrás de você. - tinha um sorriso de falsa inocência formando-se.
  - Achei que veio me ver porque sentiu minha falta. - Cedrico entrara no jogo. Fazendo-se de ofendido. 
- Preciso que pegue Tracey e vão para o corredor da sala comunal da Sonserina. 
- Você quer agir hoje, - Ele parecia extasiado. E daquela vez nenhum dos dois fingia o que sentia. - Ninguém está preparado pra isso, principalmente você que acabou de sair da enfermaria. 
- Eu sei, mas não temos mais tempo. 
- Se eu acabar indo pra casa mais cedo por essa sua missão suicida você é quem vai explicar para os meus pais. 

* * *


Ela e a lareira se encaravam sem mostrar muito interesse uma na outra. Era irredutível que precisaria fazer alguma coisa mais cedo ou mais tarde, Merlin, como queria que pudesse optar por mais tarde. Havia surrupiado pó de flu da lareira de Professora Trelawney ao fim de uma aula de adivinhação. Não era sua matéria favorita, na verdade, nem mesmo a cursaria se pudesse ter escolhido suas próprias matérias. Algo que não havia acontecido no começo do período letivo. De todo jeito, fosse quem fosse que a tivesse colocado na classe de adivinhação, beijaria a boca dessa pessoa, sem ela, aquele momento só poderia acontecer em sua própria mente. Ou talvez tivesse que ter arranjado pó de flu em outro lugar, e o fim poderia não ter sido tão satisfatório quanto estava sendo agora. 
- Eu sei que é raro dizer isso pra mim mesma, mas, você consegue, .
Bateu uma mão contra a outra, e agarrou um punhado de pó-de-flu que carregava escondido num saquinho preso ao cós de sua saia. Cuidadosamente, e levando mais tempo do que deveria se aproximou da lareira, ajoelhando-se sob sua beirada. Respirou fundo e prendeu o ar. Sem pensar, atirou de uma vez o punho de pó-de-flu contra a lareira. Ela tinha os olhos fechados e imaginava a casa de Stefan com todas as suas forças. 
- Great Hangleton, 38.
  Sabia que as chamas verdes consumiam-na, mas o que sentia era um pouco diferente de quando se é queimado vivo, estava sendo sugada, era como se tivessem arrancado a pele de seu corpo. Lembrou-se por que odiava viajar pela rede de Flu. Tinha de manter a mente limpa de tais pensamentos. Não deveria pensar em nada, na verdade, somente em seu destino. Casa do Stefan. Casa do Stefan. Casa daquele babaca do Stefan. Estava quase desistindo. Faltava pouco para isso. Mas deveria haver alguém prestando atenção nela e cedendo-lhe uma pontada de sorte porque naquele momento se viu diante da sala de estar, da qual tinha uma leve lembrança. Estivera na casa de Stefan apenas uma vez em sua vida. Por razões de segurança. Tinha oito anos na época, e não muito diferente de agora, também não sabia ao certo porque acabara ficando com ele. Descobrira anos mais tarde, pelo próprio Stefan, que o pai havia feito negócios com um bruxo, porém sem saber que o mesmo era lobisomem, quando voltara atrás com as negociações, o lobisomem se enfurecera e jurara se vingar, então até que localizassem Greyback para cuidar do lobo, o pai mantivera resguardada com Stefan. Mas na época em que tudo ocorrera, só o que lhe disseram fora que ficaria com ele por alguns dias. E seria como dormir fora de casa. Evidente que não fora nada do que lhe disseram. Havia escassez de comida e qualquer coisa legal para se fazer na casa de Stefan. Tivera a sorte de a mãe dele aparecer para uma visita esporádica e acabar ficando para cuidar da menina, não sem antes dar umas boas de umas broncas no filho. Lembrava-se da imagem de sua salvadora com um sorriso preso ao rosto. 
Examinando a sala de Stefan, via que ele preservara o ambiente e sua ausência de móveis, tirando uma estante empoeirada cheia de discos de vinil e uma vitrola em excelente estado, que brilhava em contraste com a sujeira, ele não era lá um sujeito zeloso com a casa, talvez fosse apenas com seus maiores bens, usando-se o toca discos como exemplo. Também havia um sofá vermelho e espaçoso, ao qual Stefan ocupava um lugar, ou todos, ele esparramara-se no estofado absorto com um livro em uma das mãos, e um copo com uma bebida viscosa na outra. Aquela cena não era uma cena típica a qual esperava encontrar o bruxo mercenário. Mas era divertido vê-lo tão informalmente. Tomara foco de sua missão. E do que deveria fazer. Já estava naquela lareira há pouco mais de três segundos e, por pior que fosse, tempo era algo que ela não poderia se dar ao luxo de perder. Sem pensar direito no que poderia fazer, decidiu agir e deixar suas dúvidas e incertezas para quando não estivesse não só pedindo para ser expulsa de Hogwarts, como para que seus amigos também fossem, e algo lhe dizia que eles não a perdoariam facilmente se algo viesse a dar errado.
- Stefan!!!! - Ela exclamou. 
E enfim ele dera pela presença da garota.  Ou ao menos parte dela. A primeira reação do bruxo ao ver a menina em sua lareira foi cuspir todo o líquido que tinha na boca. A expressão em seu rosto a teria feito rir se não estivesse numa missão suicida.
Ah não! - Ele fechara os olhos e tapara o rosto com as mãos. Sua cabeça em sinal de negação constante. - Calma, Stefan, ta tudo bem. Tudo isso está acontecendo só na sua cabeça. Você anda muito estressado.  A não está na sua lareira. Você teve uma visão ruim, causada pela falta de sono e excesso de Whisky de Dragão, é só isso, tudo está bem. - Afastando alguns dedos da frente de seus olhos, ele espiou. - Não! Não pode ser! - Gritou de frustração pela imagem da garota, que continuava em sua lareira, ou ao menos parte dela. 
- Oi, Stefan. - Ela saudou, já sentindo uma leve dor constante nos joelhos, que se mantinham dobrados na beirada da lareira de sua sala comunal. 
- Isso é uma pegadinha? Tenho certeza que é dos testes do Bruce. - EI, BRUCE, PODE PARAR, EU JÁ DESCOBRI TUDO. FAZ O FAVOR DE TIRAR A CABEÇA DA SUA FILHA DA MINHA LAREIRA POR FAVOR, OBRIGADO.
- Stefan, para de se fazer de louco e me escuta. - bradou, imaginando que se sairia mais convincente com braços, e não somente uma cabeça falante. 
- BRUCE!!! SUA FILHA ESTÁ FALANDO COMIGO!!! - O bruxo se escondia atrás de uma almofada, que lhe cobria apenas o rosto. 
- STEFAN! - Exclamou. - Sou eu, estou em Hogwarts, usei a rede de Flu. 
- Você não é real. - Ele continuava em negação. 
- Sua mãe te chama de "Tefinho". - Usara um artifício baixo. Mas talvez o único que surtisse algum efeito naquele tapado. 
- Eu nunca devia lhe ter dito isso. - Ele disse, voltando a si. - ! - Stefan se sobressaltou, levantando-se num pulo, finalmente tomando ciência de que a menina estava realmente em sua lareira. - Seu pai sabe que você está na minha lareira? 
- O que você acha? - Ela o respondeu com uma pergunta, e um tanto de desdém na voz. 
- Você ainda vai me fazer perder meu emprego. - Ele cruzara os braços na altura do peito, todo o espanto de segundos atrás abria lugar para o nervosismo de sempre de Stefan. 
- Eu lhe faria um bem. - Ela devolveu. 
- Diz de uma vez o que faz aqui e vaza, não está vendo que estou de folga? - Ele sempre estava de folga quando precisava dele. 
- Você está estranho, digo mais que o normal. - O que era verdade. O sempre tão sério Stefan. Estava comunicativo e sarcástico. Aquele definitivamente não era ele. E seu mau humor característico. 
- Eu to bêbado mesmo. - Deu de ombros. A menina quis rir. Se não fosse tão tão trágico.
- Ta explicado. - Fez-se silêncio. Porque ela não sabia como colocar em palavras o que sentia naquele momento. Até porque Stefan não estava sendo receptivo como ela julgou que ele seria. 
- ! - Stefan estava um tanto irritado com a garota que o enrolava.
- Preciso de ajuda. - Aquelas palavras não tinham um gosto bom. Não era de sua natureza pedir ajuda.  Ainda mais a Stefan, que não tinha nenhuma obrigação quanto a ela. Porém não poderia contar com aqueles que teriam. E era isso que a levara até ali naquele momento. Vira o rosto do bruxo se contrair quando ela finalmente abrira o jogo. 
- Olha só, garota, eu não sei o que é que se passa nessa sua cabeça mas eu trabalho pro seu pai e não pra você. -  Não era como se não esperasse por algo do tipo. 
- Ah. - Ela respondeu monossilabicamente, sabia que seu rosto demonstrava o mesmo que sua mente. Decepção. 
- E nem vem com essa tua carinha, se quer saber pela lareira ela fica um tanto horripilante. - Ele sempre captava esse tipo de mudança de expressão. Afinal, como Stefan não perdia a oportunidade de dizer, em seu ramo, ou você sabe esse tipo de coisa, ou você morre. 
- Pensei que fosse me ajudar. - dissera num fio de voz. 
- Se eu te ajudei antes foi um ato de caridade. To cansado de trocar sua fralda. - Ok. Por aquilo ela não esperara. 
- Stefan, você está um tanto rabugento. - cruzara os braços, movimento que passara despercebido por Stefan, afinal ele não podia ver nada senão sua cabeça, estava um tanto desgostosa com aquela conversa, que em momento algum fora da forma que ela imaginara. - Eu estou com os joelhos esfolados por ficar agachada nessa lareira e correndo risco de ser expulsa da escola. Porque você não quer me ajudar? Pensei que fôssemos amigos. 
- , quando você trabalha no meu ramo você não tem amigo nenhum, se quiser viver, é claro. 
- Eu sou sua amiga. - Ele riu secamente. 
- Garota, você é tudo menos minha amiga. - Epa. Em sua mente bagunçada captara que fora longe o suficiente e que daquele momento em diante estava se humilhando demais. 
- Hm, talvez eu tenha entendido errado então. - Soava o tanto quanto se sentia, impotente. - Desculpe se te atrapalhei no que é que você estivesse fazendo, prometo não te fazer mais perder tempo. - Do outro lado da lareira já se preparava para realmente voltar à sala comunal da Sonserina, dessa vez, com todas as partes de seu corpo. Não conseguiria avançar mais do que aquilo com Stefan. Ele não estava cooperando como quando precisara dele antes. E a pior parte era saber que ele realmente não era obrigado a fazer nada do que ela lhe pedia. - Adeus, Stefan. 
- , espera. - Ele disse de repente. 
- O quê?
- Eu já disse o quanto você é pirralha? - Soava como o velho Stefan outra vez. Tão irritante quanto nunca. Mas também talvez, um tanto amigo. Como sempre. 
- Hoje ainda não. - logo respondeu, daquela vez, sorrindo, e não esperando revidar, como usualmente faria. 
- Do que é que você precisa...
(...)
-... ESTÁ LOUCA? – Nem ao menos terminara de narrar sua brilhante e destrutiva ideia, tudo ao mesmo tempo, para ajudar Hagrid e Bicuço, quando o mercenário explodiu. Em compensação não conseguia ficar brava com ele e sua reação exagerada, aquele ex-auror aceitara ajudar, mesmo não lhe devendo nada, ao contrário, a menina sabia que lhe devia uma vida inteira. Só conseguia encará-lo com um sorriso cativante, cheio de admiração. Alguns meses antes, se tivessem lhe parado e dito que sentir-se-ia afeiçoada a Stefan Kane, cairia na gargalhada, jamais acreditaria, mas hoje, em especial, naquele momento, sabia que aquele cabeça dura era uma das poucas pessoas no mundo com quem poderia contar. E a parte que dizia que Stefan conhecia mais de cento e cinquenta métodos para matar outra pessoa, era apenas um bônus nisso tudo. – Está bem. – Um pouco, bem pouco, mais calmo, ele parecia começar a aceitar. – Eu sempre soube desde a primeira vez que coloquei meus olhos em você e nessas bochechas sobressalentes eu sabia que você não me daria sossego o resto da minha vida. 
- Esse é um daqueles momentos em que você diz , o que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo”. – Stefan riu. 
- Decididamente não. – Ele ainda ria, mas agora lhe devolvia o olhar, com a mesma admiração, de quem faria qualquer coisa pela outra pessoa. Aquele era Stefan. Ou ao menos era o Stefan que o próprio Stefan escondia dentro de si, porque afinal de contas, no ramo dele, ou é isso, ou a morte. – Mas tenho que admitir, , você sabe brincar. 
- Eu também te amo, Stefan. 
- Tá, tá. – Ele fez um movimento de mão, deveria concordar que haviam chegado num lado sentimental demais. Um com o qual nem ela conseguiria lidar. – Estarei aí pela manhã, e espero que fale bem de mim para o seu pai por isso. – Como se ele precisasse de algo do tipo, era o braço direito de Bruce , e sabia que o pai tinha plena consideração por Stefan. Tanto que fora o único a quem lhe confiara a própria filha.  
- Você sabe que isso não vai acontecer. – Disse com um meio sorriso. 
- Eu sei, mas gosto de mexer com você. 
- Você é péssimo. – mandou-lhe língua. 
- E você precisa de mim. – Stefan lhe garantiu, pretensioso como era. 
- É pra isso que servem os amigos. 
- Não somos amigos, pirralha.

* * *


Não era comum quando algo dava certo em sua vida, nunca estava preparada para quando isso acontecia. Era uma sensação estranha, de preenchimento interno, e de satisfação. Mas quando passava jamais conseguia se lembrar de como era, de tão raros e passageiros que eram aqueles momentos. Era estranho, e isso era tudo o que poderia dizer. Sentia-se bem com os resultados positivos daquela conversa que tivera com Stefan. Sabia que ele iria ajudar, mesmo quando fora relutante e dissera que não, sentira que havia uma parte dele dizendo que deveria fazer o contrário. Conhecia-a desde que era um pouco maior que o professor Flitwick, e por mais delicadas que fossem as situações de quando se encontravam, havia sempre aquela camaradagem, com a qual nenhum dos dois saberia lidar, o que os fazia se tratarem por insultos, era mais fácil, mas o que era mais, era a sensação de estar em casa, que a menina sentia quando estava com Stefan. De todos os lugares do mundo, ao menos com ele, por ora, saberia que estaria segura.
Viu-se mais uma vez na sala Comunal da Sonserina, ainda defronte à lareira, sentia as pernas tremeluzentes pelo tempo que permanecera de joelhos ao chão, uma varredura rápida pela área a fez perceber que estava tudo como estivera no momento em que chegara mais cedo, num silêncio sem fim, e o qual ela sabia apreciar como ninguém mais. Com os joelhos palpitando e tendendo a falhar, levantou-se finalmente do tapete felpudo da sala comunal. Ainda havia tanto o que fazer, a cabeça doía, debatia mentalmente se falaria com Hagrid de sua última cartada, mas temia que ele falasse de suas pretensões com alguém com quem ela evitava de falar, se você imaginou que este alguém seria Fred Weasley, está corretíssimo, não o queria envolvido nisso, era muito arriscado, e por mais que soubesse que as coisas tendiam a dar certo quando estavam juntos, não poderia expô-lo daquela vez, até porque isso iria querer dizer que Jorge também teria sua participação. E não saberia como seria a vida se algo desse errado, além de ter de enfrentar suas próprias consequências, ainda teria de conviver com a ideia de que prejudicara seus amigos, alguns um pouco mais que isso, com suas pretensões inconsequentes. Momentos como aqueles a faziam pensar, o que Fred e Jorge fariam?
Invejava-os por serem tão seguros de si, eles sabiam perfeitamente o que fazer, quando fazer, na hora que tem de se fazer. Merlin tinha tanto a aprender com eles. Tinha certeza que se fossem os dois em seu lugar eles contariam apenas um com o outro, e era isso o que ela pretenderia fazer, bem, Stefan seria seu Jorge, apostaria suas fichas todas em Stefan, e não gostava de depositar sua sorte em uma única pessoa. Uma vida toda havia lhe ensinado que pessoas às vezes machucam as outras pelo simples fato de estarem machucadas.
Pensando em machucar, sua mente arrematou-se a algo que vinha perfurando ao fundo de seus pensamentos nos dias que se seguiram de quando estivera internada na Ala Hospitalar da escola, sentia uma pontada de saudades dos pais, não havia recebido nenhuma carta, nem mesmo um bilhete lhe desejando melhoras, ou até perguntando se ainda estava viva, ficaria suficientemente contente se recebesse um cartão com os dizeres “ei, legal que você não morreu" mas pelo visto nem a isso tinha direito. Estavam ambos tão ocupados com suas respectivas vidas, que não tinham o menor tempo para dedicar um segundo ou dois a única filha. Não entendia o porquê de estar se importando com algo do tipo àquela altura de sua existência, mas no fim, por mais que vestisse a carapuça de que não se afetava com isso ou aquilo, ainda era doloroso demais para se suportar a ideia de que estava sozinha.
Normalmente era com Draco que tratava assuntos do coração como aquele, ele sabia curar-lhe o âmago como ninguém jamais conseguira, ou até mesmo o fizera antes, mas nem a Draco tinha mais. A imagem de Bruce emergiu por sua mente, com os cabelos louros sempre bem penteados para trás e as vestes de grife que poderiam até mesmo ricochetear uma maldição, o pai sempre lhe fora mais afetuoso, chamava-a de princesa, desde que se entendia por gente, as palavras tinham um efeito maior sob ela quando era mais nova, hoje, eram só oito letras que não faziam sentido algum. De todo jeito, sabia que o pai estaria à espreita esperando o menor sinal para mover o mundo por ela, só que ele não tinha para lhe dar aquilo que ela mais precisava, que era seu tempo.
Tudo o que aquela garota queria era ser a garotinha do papai, mas aquilo era algo que estava acima de todo o poderio de sua família. Não havia nada que pudesse fazer. Não queria se prolongar pensando na mãe, o retrato de Elena surgia para fazer seu coração doer mais, nunca entendera a mãe, nem mesmo um pouquinho, e sabia que era recíproco, a última notícia que tivera da mesma fora quando Tia Ciça estivera na escola de Magia para ver a afilhada que estava sendo medicada na Ala Hospitalar, a tia queria levá-la para o St. Mungus para que a mãe a examinasse, estava sempre tentando juntar as duas, mas como Elena dissera que não teria tempo para a filha, tudo o que Narcisa conseguiu dizer foi “ah, meu amor, você sabe como é sua mãe..." conforme assistia ao rosto da menina murchar e empalidecer.
Gostava de afastar os problemas, e às vezes imaginar que faziam parte da vida de outra pessoa, era tão mais fácil, o problema era que a menina também gostava de complicar as coisas um tanto quanto, e logo se via numa hipérbole sem fim, ou melhor dizendo, criando teatros em sua mente, que envolviam a família perfeita que há tanto idealizara. Às vezes a vida poderia ser da forma que imaginamos em nossas cabeças, nem que fosse só um pouquinho. Conforme se distanciava dos últimos crepitares que a lareira ainda emanava, ajeitava a saia do uniforme da escola, e se aproximava da grande porta da sala comunal, deixou o refúgio da Sonserina com o pesar de que deveria dar uma deitadinha em sua cama no dormitório das garotas antes. Porém tinha de encontrar Tracey Davis e Cedrico Diggory, que, de acordo com o que haviam planejado, deveriam estar em algum lugar próximo ao corredor para a sala comunal da Sonserina, de tocaia para impedir que qualquer aluno ou alma viva se aproximasse do lugar antes que terminasse o que tinha para fazer.
Algo que nenhum dos dois ainda tinha conhecimento, em certos momentos imaginava que talvez a estivessem ajudando mais para saber de suas intenções do que qualquer outra coisa. Em alguns raros flagrantes sua mente era um espaço um tanto quanto divertido para se estar. Mais à frente, à medida que se locomovia pelo corredor escuro das masmorras, ouvindo apenas o som de seu sapato contra o piso de mármore do castelo, avistou duas figuras, sentadas lado a lado no chão frio, uma delas tinha o rosto brilhante e aberto num sorriso, enquanto o outro estava com os lábios torcidos e um olhar perdido. Eram Tracey e Cedrico, respectivamente. Observando-os com afinco, percebeu que Cedrico parecia um pouco injuriado, e que Davis tagarelava sem parar, aqueles dois sinais foram o suficiente para provar-lhe que havia algo de errado acontecendo por ali. Quer dizer, até ontem Tracey não conseguia dizer mais do que três palavras quando Diggory estava por perto, e todas monossilábicas. diminuiu o ritmo de seus passos, ainda atentando-se quanto ao que se passava entre aqueles dois. Subitamente, Tracey pareceu se mexer aproximando-se ainda mais de Cedrico, descansando uma mão num dos ombros do garoto, assistiu conforme ele prendia a respiração, Ced fechou os olhos e balançou a cabeça negativamente algumas vezes, em seguida, tomou a mão da menina entre as suas, e olhando-a atentamente nos olhos, ele finalmente falou alguma coisa, algo o qual não conseguiu ouvir, impossibilitada pela distância. Apesar disso, as lágrimas que se sucederam descendo em torrentes pelo rosto que um segundo antes brilhava de Tracey Davis fizeram-lhe perceber que nada de bom poderia ter saído daquela cena. Voltou a caminhar, dessa vez, de forma apressada, buscando socorrer a amiga. Ambos pareceram vislumbrá-la ao mesmo tempo, num supetão Cedrico pôs-se de pé para receber a menina, olhou-o com uma sobrancelha arqueada, um tanto desconfiada de Diggory, mas logo se voltou para Davis, dando-lhe as mãos para ajudá-la a se levantar, abraçou-a protetoramente, e sentiu os ombros duros da amiga desfalecerem em seus braços, convergindo com uma dose de soluços que eram repelidos com os afagos de pelas costas da menina. Desejava que os olhares mortais que lançava contra Cedrico pudessem causar-lhe dor. A mesma que Tracey parecia sentir. não sabia o que havia acontecido entre os dois, tinha uma vaga ideia, mas sabia que a angústia da amiga provinha de um lugar apenas, era dor no coração, e esse tipo de aflição, conhecia bem. 
- O que aconteceu? - Ela perguntou a Cedrico, que desviara o olhar há tempos, ele a ouvira perguntar, mas nada dissera, e aquilo somente a preocupava ainda mais, com Ced calado e Davis em prantos, não era algo com o qual ela estivesse acostumada a lidar, normalmente a situação era contrária, e os amigos é que arrumavam uma forma de ajudarem-na. Aquele era um momento para que aprendesse a lidar com alguma coisa, porque se existia algo que fosse de vital importância na vida desta garota, isso com toda certeza seria o valor que ela dá a um amigo. Uma pena que no segundo seguinte seria interrompida, antes que pudesse fazer qualquer coisa. 
Quem quer saber o que está acontecendo aqui sou eu. - Somente sentia um frio na espinha quando ouvia aquela voz ríspida, e nada disto foi dito num bom sentido. - O que foi que eu havia lhe dito, ? Se lembra? Nada mais de escapadelas das aulas! Você acha que estou brincando? Toma-me por um tolo? - O tom severo de Snape poderia diminuir um ser humano no menor dos vermes. - E não ouse responder a nenhuma dessas indagações. 
- Professor, eu posso explicar, Madame Pomfrey... 
- Pro inferno com suas desculpas. - Cortou-a. - E o que é isso? Além de infringir o regulamento da escola e as minhas regras, ainda traz outros dois alunos com você? Está fora de controle, menina? 
- Professor, eu... - Tentou se explicar mais uma vez. 
- O que fizeram à Srta. Davis? Recomponha-se, Tracey. - Aquilo somente a fez chorar ainda mais. quis se juntar a ela. 
- Professor... - Àquela altura sabia que já estaria se humilhando. 
- Eu vou mandá-la de volta para casa, , e não nos veremos no próximo ano letivo. - Estava a ponto de ajoelhar-se e implorar, quando mais uma reviravolta tendeu a ocorrer no segundo seguinte. 
- Senhor... - Ele tinha a voz esbaforida por ter vindo correndo, seus passos ainda ecoavam reverberando pelo corredor conforme se aproximava daquele estranho grupo. - Senhor, professor... - Draco falava de forma entrecortada. - Não foi... - Ele colocara a mão no peito, respirava fundo, puxando ar para que conseguisse falar, ao mesmo tempo, Severo o encarava como se pudesse explodir sua cabeça com o poder da mente. Aquilo não iria prestar. - Não teve nada a ver... - Inspirou profundamente para enfim fazer com que alguma coisa que saísse de sua boca fizesse o mínimo sentido. - Eu...?
- Senhor Malfoy será que eu vou conseguir em algum momento entender o que você está querendo dizer? - Draco engoliu em seco. 
- Professor, o único que se deve culpar aqui sou eu. - A cara de todos se abriu em uma perfeita interrogação. - Minha prima acabou de sair da enfermaria, e eu não pude falar com ela nem mandar notícias para casa porque Diggory a cercou como se ela fosse um pomo de ouro, e, sabe, meus pais não gostam que nos misturemos com gente, bem vamos dizer apenas, que não gostam que andemos com gente feito o Diggory, então eu achei que a namoradinha dele poderia tirá-lo de perto da para variar, mas parece que Tracey os encontrou numa situação comprometedora e imaginou que estaria acontecendo o pior, essa nunca foi minha intenção, de fazer mal a ninguém, principalmente a minha prima e ao nome que carregamos em nossas vestes, da casa Sonserina, por isso peço desculpas, professor, a você e a todos. - As expressões de interrogação abriram lugar para a incredulidade. Levaram-se alguns segundos até que alguém conseguisse dizer alguma coisa, ainda um tanto abalados com o show de Draco. Cedrico tinha os punhos apertados, controlando-se o máximo para não avançar contra Malfoy. Tracey parara de chorar para ouvir a história de Draco. Até mesmo Severo Snape deveria admitir que ele ao menos tentara. 
- Isso tudo se resume em um drama adolescente? - Fora o próprio Snape quem dissera primeiro. 
- Parcialmente. - Draco dava de ombros. Controlado e ponderado, sem demonstrar o menor sinal de que tudo o que dissera não passava de uma história inventada. Não. Ele sempre fora tão bem disciplinado para tratar de seus próprios assuntos. Acreditava que se não fosse o prestígio e ouro de sua família, o primo se daria um tanto bem seguindo a profissão de mercenário. 
- Mas não é desculpa para que estejam fora de suas salas, perambulando pelo castelo como se não tivessem mais nada a fazer. 
- Professor, é como eu lhe disse, senhor, minha prima acabou de sair da internação, quer dizer, olhe para ela, ainda veste pijamas. - Era verdade. A primeira que ele dizia. 
- Eu deveria lhe tirar 50 pontos, Srta. . - Intimara-a. - Sorte a sua que ainda pertence a Sonserina. - Ele dera as costas a menina, voltando-se a Draco. É claro, acreditaria e levaria em consideração tudo o que Malfoy dissesse. Típico. - Ajude sua prima, Sr. Malfoy, e não a perca de vista, estou prevendo que o dia em que irei ter que descontar pontos de minha própria casa está a chegar. - Severo dizia comprimindo as têmporas. - E quanto a vocês, não tem mais nada o que fazer? - Cedrico quando deu por si, agarrou Tracey pela mão e saiu correndo pelo mesmo caminho pelo qual Draco antes viera. 
- Agradeço a compreensão, professor. 
- Espero que não ache que conseguiu me enrolar, Sr. Malfoy. - Snape se virou balançando a capa e se retirando sem olhar para trás. Era como se o sol surgisse de novo depois de um longo tempo de escuridão. Não demorou um segundo da partida do professor para que sentisse o olhar vitorioso e expressão esperta que surgiu no rosto de Draco. Ele a encarava esperando um "muito obrigado" sabia disso, mas também sabia que não diria nada. E poderia resumir toda sua descrença em um único ponto, para Draco surgir de repente com a solução para o probleminha com Severo Snape, ele deveria estar há mais tempo que isso prestando atenção no que fazia antes, seguindo-a. Quando devolveu o olhar ao garoto, seus lábios formavam uma linha e sabia da palidez de seu rosto. Encarava-o sem vida. Sem vontade. 
- Tracey, espere! - A voz de Cedrico reverberou, junto ao som de seus passos, ele corria pelo corredor que antes partira, porém dessa vez à sua frente, uma chorosa Tracey Davis percorria a distância que os acercava para longe dele. A garota passou por Draco e sem os olhar, ou sequer diminuir o ritmo, parou apenas ao chegar defronte a passagem secreta para as masmorras da Sonserina. Ultrapassou a porta escondida e a última coisa que viram foram seus fios louros que despencavam por suas costas, feito cascatas. Cedrico somente a alcançou quando a menina já estava protetoramente dentro de sua sua comunal. Ele ainda chegou a esmurrar as paredes de pedra fria antes de admitir derrota. Refez mais uma vez o caminho até onde Draco e permaneciam em pé, atônitos ao que acabara de ocorrer. 
- Eu disse desde o começo que esse negócio de forjar um namoro entre euzinho e a Tracey não daria certo. - Cedrico dissera, chutando o ar, conforme o surto de adrenalina deixava seu corpo. 
- Foi só por alguns dias, e você viu que no final foi isso o que nos salvou. - refutou. 
- Foram semanas, ! - Explodira. Olhando por cima do ombro em seguida. Com medo de que talvez Severo voltasse para ter um pouco mais com eles. Não o culpava por isso. Sentia-se da mesma forma. 
- É, e quem salvou vocês foi eu, que seja registrado. - Draco se manifestara, batendo com um punho sob o próprio peito. 
- Cala a boca, Malfoy. - Ced e responderam em uníssono. 
- Você se acha perfeito não é mesmo, Diggory? - Malfoy se voltou para o aluno da Lufa-Lufa, o que poderia não ser a mais centrada das ideias, tomando-se em consideração que Cedrico já estava um tanto quanto puto com o garoto pelo que dissera dele minutos antes, e que por mais mentirosas que fossem as palavras, soaram de forma desconfortável aos ouvidos de Ced. E ainda havia mais, Diggory também era alguns palmos mais alto que Draco. 
- Eu não acho nada, a única coisa que eu sei é que alguém tem que ir falar com a Davis. - Cedrico desconversou, talvez por respeito a , não iria entrar em um conflito com Malfoy, por ora. 
- E o que foi que aconteceu, Cedrico? - A menina quis saber. 
- O que não aconteceu, não é mesmo? Desde o primeiro dia eu avisei a ela, eu disse, Davis não se apaixone por mim, Davis isso é tudo de mentira, Davis não fode, Davis não... E ela fez exatamente o que? - Pausa dramática. - Ela se apaixonou por mim, ninguém pode culpá-la, né, afinal... - E ele fez um movimento de mão indicando a si mesmo, com os lábios torcidos, e sua melhor expressão que dizia "bitch, I'm fucking fabulous!" - Bom, se eu to no inferno, eu vou abraçar o diabo, então, meus amigos começaram a me encher e desconfiar desse lance com a Tracey, e como a senhorita estava morta na Ala Hospitalar eu não sabia o que fazer, então numa bela tarde eu dei uns beijinhos em Davis na frente de toda a escola. - arregalou os olhos. Draco apenas soltou um de seus risinhos espertos. Ele assistira a tudo. - É, acabou que eu fodi com tudo. - Admitiu. - Depois disso, ela realmente achou que estávamos tendo um romance, ou eu sei lá, só sei que acabei de ter uma DR com uma menina que nem sequer é minha namorada de verdade, eu fui sincero e disse que não sentia por ela o mesmo que ela estava sentindo por mim, e perguntei se não podíamos ser amigos. - Ele dizia como se aquilo fosse a coisa mais sensata a se fazer quando uma garota lhe entregava seu coração. 
- Ced, eu não entendo bem de relacionamentos, mas eu acho que esse é o tipo de coisa que você não deve dizer a uma garota. - tinha uma sobrancelha arqueada ponderando mentalmente qual seria sua reação se o mesmo acontecesse entre ela e Fred. Ah, Fred. 
- E por que não? - Cedrico tinha os braços cruzados, e parecia não aceitar o ponto de vista da amiga. 
- Ced, coloque-se no lugar de Davis, como você se sentiria se a pessoa por quem tem sentimentos te desprezasse?  
- Cara, eu to por fora de toda essa história maluca mas eu concordo com a , parece errado. - Draco torcera os lábios e balançava a cabeça concordando com o que a prima dissera. 
- E eu não acredito que estou recebendo conselhos de Draco Malfoy. 
- É difícil pra mim também. - Ele se voltou para . - As coisas que faço por amor. - Ela o acotovelou nas costelas, mas também tinha um sorriso preso ao rosto, o sorriso de Draco. E depois descansou a cabeça num dos ombros do garoto. De um segundo a outro, havia surgido um sorriso nos lábios dele, e talvez não seja preciso dizer que sorriso era aquele. 
- Ced, você gosta de Tracey? - perguntou, sentindo Draco passar um braço protetor por sob seus ombros. 
- Eu to confuso, , nem eu mesmo sei mais se estou namorando Davis ou não. - Ele escondeu o rosto atrás das mãos. 
- Eu acho que o que você deve fazer agora é pegar esse amor de amigos que você sente por Davis, ir atrás dela e deixá-la chorar um pouco no seu ombro. 
- Faça-a sentir-se amada, Diggory, mesmo que você não lhe devolva o sentimento, ela ainda precisa de você. - Ele olhava para enquanto dizia, ela não lhe correspondeu o olhar, mas o sentia em si. - Tracey chora porque é seu coração que está doendo, não é uma dor visível, mas é pior que cair de uma vassoura, já senti isso antes, e não quero que ninguém próximo a mim sinta o mesmo. - Soava feito o Draco que costumava conhecer. Aconchegou-se um pouco mais a ele depois disso. 
- Eu não tenho mais nada para fazer mesmo. - Cedrico encarava os próprios sapatos. Quando dera por si, estava caminhando na direção errada, rumava contra a passagem secreta para a sala comunal da Sonserina - Vamos lá, o que estão esperando? Um dos dois vai ter que me liberar para entrar na sala comunal do inimigo. 
- Cedrico, você acabou de ser pego pelo Snape, e agora quer invadir a sala comunal da Sonserina? Sabe que pode ser expulso por isso, certo? - o advertiu, porque sabia que tinha de fazer, mas estava gostando do curso que o amigo seguia. 
- As coisas que faço por amor. - Proferira as mesmas palavras que Draco cochichara a alguns poucos minutos antes, os dois garotos trocavam olhares cúmplices. E não entendera nada. 
- Talvez eu até que meio que goste do Diggory. 

Capítulo betado por Gi Craveiro


Capítulo 15


- , você está estranha. - Era a quarta vez em quinze minutos que Tracey Davis proferia aquela mesma frase. Exatamente da mesma forma que agira das outras três vezes, a menina simplesmente deu de ombros e prosseguiu amarrando os cadarços de seus coturnos vermelhos. Tracey, por sua vez, bufou com a atitude da amiga, levantou-se do baú que ficava aos pés de sua cama de dossel, e se aproximou, esparramando-se ao lado de sob o tapete felpudo que ficava entre a cama das duas. - Você até mesmo arrumou sua cama, . - Disse apontando para a mesma. - Tem certeza de que não está com febre? - Tracey ergueu uma das mãos,alcançando a testa da garota ao seu lado, e sentindo sua temperatura, para logo em seguida perceber que não saberia dizer com exatidão se estava febril ou não. - Você está muito estranha.
- Eu não estou. - disse num resmungo.
- , você está penteando o cabelo. - Realmente estava com a escova em mãos, até mesmo ela própria se assustara com o que via, quer dizer, sua vida era seguida no modo automático até a hora do almoço, as manhãs eram difíceis de viver, e mesmo assim, naquele dia havia acordado antes de todas as outras meninas do dormitório e vinha sendo produtiva desde então.
Diferente de alguns poucos meses atrás. Agora conhecia os corredores intermináveis da escola de magia. Poderia andar por horas a fio e mesmo assim encontrar uma saída num caminho alternativo que Fred e Jorge lhe haviam ensinado. Era verdade que aprendera todas as rotas e passagens secretas inimagináveis do castelo por intermédio dos gêmeos, mas também existiam aquelas as quais encontrara por mérito próprio, ou talvez por pura sorte, o que preferia deixar bem em segundo plano na sua linha de pensamentos. Vai reto. Vira. Desce. Agora esquerda. Desce mais. Direita. Continua. Esquerda de novo. A mente trabalhava no automático quando estava perambulado por aí. A diferença era que ao menos por aquela vez tinha realmente um lugar certo a ir. Era tão trabalhoso viver em conflito com sua própria cabeça, que era simplesmente mais fácil, para não se dizer saudável, deixar a coisa seguir da forma habitual. E não retrucaria de jeito algum a premissa de que poderia estar ansiosa. Desconhecia tal sentimento.
não tinha por que sentir ansiedade. E se em algum momento de sua reles vida sentira tal coisa, havia confundido-a com gases. Não sabia o que significava. Era assim que tratava todos os pontos da vida mundana sobre os quais não tinha experiência alguma, ou os que jamais chegara a sentir. Em seu monólogo interior gostava de imaginar que fosse desta forma por ter crescido sozinha. É claro que outrora houvera muito de Draco e dos Malfoy, dos elfos domésticos de sua família, e até mesmo de Stefan Kane em suas lembranças mais remotas. Todavia, em muitas de suas recordações estava nada mais além do que só.
Poderia culpar os pais pelo feito, e muitas vezes o fazia realmente, porventura nunca chegaria a outorgar em voz alta algo que já havia chegado a consentimento num dos lados mais obscuros e tempestuosos de sua mente, que talvez, e somente talvez, tudo fosse sua culpa.
Havia algo de errado com , e sabia disso, porque passava tempo demais presa a sua própria mente, chegando a momentos em que encontrava-se há tanto ausente que muitas vezes não sabia como havia chegado aonde estivesse, ou também, quando falava algo e sua voz saía rouca, devido ao tempo que ficara sem ser usada.
Havia algo de errado com . E talvez não fosse nada. Como queria achar que não fosse. Mas havia aquela sensação na boca de seu estômago e a sensação febril que a acompanhavam naquela caminhada até onde esperava estar sendo esperada. Havia um embaralho incomum rondando-lhe a cabeça. E isso normalmente não era boa coisa. Era o que diziam.
Quando não estava tão segura de si, os pensamentos mexiam com ela, chegando a afetá-la, às vezes conseguia afastá-los, e aquele não era um desses momentos. Fraqueza era feito depressão, você sabe que está ali, mas não sabe como livrá-la de si. A mente é um lugar estranho. Porém não tanto quanto aquele ao qual viria a se juntar.
Próximo aos últimos degraus, bem defronte às portas que davam para o grande salão, lá estava ele, impotente, com seu jeito de quem pouco estava dando uma foda à vida, mas que vivia, mesmo assim, como se estivesse sendo obrigado a manter-se de pé, bem como se cada lufada de ar que inflava seus pulmões afligisse a dor de uma maldição imperdoável. E que de todo modo, para bem ou para mal, vivendo por querer, ou vivendo obrigado, ele fazia aquilo tudo parecer tão fácil. Era impossível de lidar. Sempre se perguntara como o outro fazia para labutar, quando ela não sabia. Ele arremedava ser tão simples. E naquele milésimo de segundo, no qual um milhão de pensamentos cruzavam sua mente turbulenta, ele também a vislumbrara. Não lhe devolveu o olhar de imediato, mas pôde senti-lo sobre si. Num movimento sem pensar saltou dois degraus que ainda restavam, e com os braços abertos agarrou-lhe ao redor do pescoço, e ele num misto de surpresa e euforia simplesmente a recebeu. Abraçou aquela menina, a quem conhecia desde que ela não passava muito acima de seus joelhos, nuns confins de sua mente, gostava da premissa de que a garota era mais sua que dos pais, cuidara dela, muitas vezes sozinho e em outras por seu próprio intermédio, conhecia o gênio difícil dela, e sentia-se tentado a ver até onde este poderia chegar. Talvez por certo tempo, ou ao menos por agora, tudo ficaria bem.

* * *


Antes de começar esse relato, é preciso lembrar que, na concepção de , um dia só tinha seu início depois da hora do almoço. E levando-se isso em consideração, para a menina, ainda era cedo demais, mesmo com alguns tantos alunos passando por ela e por aquele que caminhava a seu lado, as manhãs sempre passavam de um modo automático em sua vida, nunca conseguia se lembrar com exatidão de nada o que se passava nesse período. Era estranho de certa forma participar de coisa que fosse antes da hora do almoço.
Seu cérebro incapacitado devido ao horário não conseguia formular palavras e começar uma conversação com Stefan, sentia-o vibrar dentro de sua cabeça somente por fazê-lo estar presente e participativo naquilo que ela fazia, no caso, andar e respirar. Não poderia pedir mais que isso de seu sistema nervoso central. Uma olhadela para cima, e vislumbrou Stefan acompanhar o olhar dos estudantes que passavam por eles na direção contrária e não desgrudavam os olhos daquela estranha dupla. Deu de ombros. Não era bem como se fosse a primeira coisa extraordinária que fazia por ali.
- É realmente um ótimo dia para visitar Hogwarts. – Stefan resmungou ao seu lado. – Não tomei café, está fazendo um frio do cacete, e essas crianças não param de olhar pra mim. – sacudiu a cabeça para com o egocentrismo do outro. – Qual foi? Perderam o cu na minha cara? – Stefan bradou contra um grupo de garotas do quarto ano que passava por eles. As meninas o encararam ainda mais, e saíram aos risinhos virando-se constantemente, lançando-lhe olhadelas. – Agora estou me lembrando de por que odiava meus tempos de escola.
- Isso te faz um hipócrita, então.
- Perdão? – A sobrancelha articulada que ele lhe mandara fizera-a se arrepender um pouco por ter dito aquilo em voz alta. Mas logo passou.
- No meu primeiro dia em Hogwarts, quando você me trouxe e eu quis voltar pra casa na mesma hora, não se lembra do que me disse? – Deu alguns segundos para ver se ele recordava. Porém o rosto de Stefan continuou límpido com uma expressão de indagação.
– Bem, você me confidenciou que estudara em Hogwarts e que os melhores anos de sua vida haviam sido passados aqui. – Esquisito. As bochechas de Stefan haviam enrubescido.
- Eu posso ter aumentado um pouco a história para te fazer ficar e me deixar em paz. – Ele disse dando de ombros, e apertando o passo, deixando-a para trás. - Vai ser um longo dia... – Resmungou consigo mesma num sussurro.
Cruzavam o corredor que daria acesso às portas para os jardins da Escola de Magia, e consequentemente, a Cabana de Hagrid. teve de correr para alcançar Stefan, que estava bons passos à sua frente, ele não havia desacelerado desde o último trocar de palavras entre eles, e a menina, por sua vez, tivera preguiça de ir atrás dele, ao menos até então. Atravessava finalmente o final daquele corredor, porém quando seguiu por seu adjacente, deu-se de cara com costas que mais pareciam uma muralha à sua frente.
- É um prazer imenso revê-lo, senhor. – A muralha tinha a voz de Stefan Kane. Ah Merlin, era Stefan Kane. Com quem ele falava? Essa era a questão. Sua voz descera alguns decibéis, e ele não parecia ter aquela firmeza iminente e a arrogância implícita. O que fizera aquilo com o inabalável-mercenário-narcisista? (Poderia encher uma página inteira com adjetivos).
- Um prazer ainda maior a mim, Sr. Kane, ainda esses dias comentei com o retrato do Professor Dippet a seu respeito. – O diretor Alvo Dumbledore tinha uma das mãos pousadas sob o ombro de Stefan, justamente a um sorriso preso aos lábios, seus olhos gentis analisavam as feições do mais novo por sobre os óculos de meia lua. Considerou que ainda não tivessem tomado conta de sua presença em meio àquele reencontro, e julgou refazer os últimos passos, fugindo para longe daquela cena enquanto ainda havia tempo. Não sabia lidar com figuras de autoridade.
- Hmm, ele ainda não me perdoou por destruir parte de sua plantação de morangos? – Stefan coçou a nunca, um tanto sem jeito, e mesmo àquela distância poderia jurar ter visto as bochechas dele voltarem a enrubescer. Que dia para Stefan Kane.
- Talvez não tão cedo. – Dumbledore ponderou.
- Isso porque já se fazem o quê? Uns 15, 16 anos? – Tinha uma sobrancelha arqueada em dúvida.
- Dezoito. – Frisou o diretor de Hogwarts.
- Eu não estou tão velho assim, Dumbledore. – Ambos riram. E continuara aonde estava, aquela altura não querendo perder uma vírgula que fosse daquela conversa assombrosamente excêntrica.
- Mas, me diga, a que devemos sua visita em Hogwarts? – Alvo cruzou os seus longos braços na altura do peito, e coçou o queixo, como se tentasse adivinhar antes mesmo de Stefan responder. – Ah, não diga que... – Ele respirou fundo antes de continuar, fazendo prestar ainda mais atenção no que viria a seguir. – Não digas que está aqui em circunstância do Ministro? – Stefan teve um ataque de tosse que perdurou por alguns bons minutos, e que fez a menina ter certeza de que sua presença não era mais despercebida quanto antes. - Está tudo bem, Stefan? – Dumbledore parecia um tanto preocupado, ou talvez curioso fizesse mais jus àquilo que seus olhos transmitiam.
- O ministro estará por Hogwarts hoje? – Ele não deu tempo ao diretor de responder. - Vamos com calma, olha, estou só passando um tempo com minha favorita. – E pela primeira vez naquele meio tempo, os olhos azuis feito o céu de Alvo Dumbledore estavam pousados na jovem menina, que ainda tentava se esconder falhamente às costas de Stefan.
- Pois Fudge e sua comitiva, bem como os Malfoy e seu carrasco, estarão nos visitando no dia de hoje. – Dumbledore disse, dando de ombros, como se aquilo não o abalasse, e realmente não deveria, quer dizer, o cara era Alvo fucking Dumbledore.
- Ah não, muito obrigado, professor Dumbledore, mas se quer saber de uma coisa, onde o ministro está colando, eu estou é vazando. - E assim se fez dita sua palavra.

* * *


- ? Por que tem um garoto ruivo olhando pra você? – Estava de costas ao ponto atrás de sua cabeça o qual Stefan Kane vislumbrava, de olhos arregalados, diga-se de passagem. - Ah não, não, não olhe agora. – Ele a segurou pelos ombros para que não se virasse, movimento que estivera prestes a fazer. - Ele está vindo em nossa direção. – Stefan cobriu o próprio rosto com as mãos, deixando a menina à sua frente livre para se virar-se. – Espera. – Ele mantinha os olhos muito bem abertos, assistindo a aproximação, e ao mesmo tempo incrédulo com aquilo que via. - Você está vendo isso também? - Ele dizia. "São dois garotos ruivos incrivelmente idênticos." "Por favor, me diz que você está vendo isso também? " "Eu não sou louco!"
Àquela altura já havia desistido de dizer alguma coisa, já havia visto Stefan Kane agir daquela mesma forma antes, normalmente ocorria quando ele se sentia desconcertado com alguma coisa, ao passo em que duvidava do universo, porém, em absoluta certeza, na maioria das vezes aquilo era causado por motivos relacionados a garotas.
- Espera um minutinho aí. – Ele voltara a dizer, ou talvez nunca tivesse acontecido uma pausa iminente, e o cérebro de simplesmente trabalhara no automático por alguns minutos, como era normal para ela. – Eu estou vendo o que acho que estou vendo? – Ele dividia seu olhar entre o rosto pálido da menina que agora se mantinha ao seu lado, e da figura ruiva que parecia vir na direção em que estavam. – Você... você está correspondendo aos olhares do moleque? – Sua atenção voltara-se para a menina de uma vez, fazendo-a enrubescer de imediato. - Eu não acredito. – Incrédulo, ele balançava sua cabeça de um lado para o outro. - , quantos anos você tem mesmo? – Ele ainda não conseguia crer no que seus olhos captavam. A menininha, aquela pirralha, que ainda não chegava a altura de seu ombro, estava... Ela estava... Não conseguia nem ao menos proferir as palavras. - Você sabe que está prometida a outro cara, não sabe? – Tomou-a pelos ombros, a vontade era de sacudi-la até que voltasse a si, mas teve que se segurar. – Arrogante? De cabelos lambidos? E que chora pela mãe? Te lembra alguma coisa? – Aquilo bastou para chamar a atenção de , e fazê-la desviar seus olhos do garoto de cabelos ruivos.
- Como é que você sabe essas coisas? – Bradou. - Isso é assunto de família. - Pensara melhor. - Ou pelo menos é assim que nós tratamos. – Cochichou a última parte, que não passou despercebida aos ouvidos de Stefan Kane.
- Queridinha, já te disse que Bruce me conta tudo. Sei até quando ele e tua mãe brigam. O que na verdade é todo o dia. I don’t even care. - Ele deu de ombros.
- Stefan. – Chamou, e o sorriso esperto do mercenário logo desapareceu, ao vislumbrar os olhos da menina, olhos os quais ele conhecia bem, e que lhe mandavam a mensagem de que ela lhe pediria alguma coisa. “ah, que ótimo.”
- Você precisa me tirar daqui. – Ele já esperava por algo do tipo.
- O quê? Por quê? - Parecia surpreso, mas não era trouxa, sabia que era só fingimento, conhecia Stefan Kane, e em alguns poucos aspectos, mínimos para se dizer a verdade, ele gostava de provocar, e além disso, tentava o outro para ver até aonde aquilo poderia dar. Era um jogo para ele, e se quisesse vencer, ou ao menos, não parecer uma palhaça no fim, teria de jogar conforme as regras do mercenário psicótico.
- Fred não pode saber o que vamos fazer. - Disse em voz baixa, atraindo o olhar seguido do sorriso enviesado do ex-auror.
- Hm, então quer dizer que aquele garoto ruivo tem um nome. - Ah se pudesse conjurar uma maldição da morte naquele exato momento.
- Por favor! - Suplicou. Sabendo que Stefan adorava sentir-se no comando de seu próprio jogo mental. Ridículo.
- E eu posso saber o que é que eu ganho com isso? - Tinha uma sobrancelha arqueada, e esperava a próxima jogada da garota, pronto para contra-atacar.
- Aãh? Da próxima vez que eu tiver um problema, não te procuro, pra começar. - Soou incerta. Não é que fosse ruim em negociações nem nada, mas se havia algo que haviam lhe ensinado era que você não faz uma transação com um mercenário, você não negocia, não faz alianças, nem conexões, acordos... Você não confia num mercenário. Porque ele não precisaria contar até dois para acabar com você. E quem havia lhe ensinado aquilo… Bem, fora Stefan Kane.
- Muito pouco. - Stefan cruzara os braços na altura do peito, exalando auto-confiança. - E nós dois sabemos que você não irá chegar a cumprir isso.
- Eu não sei o que você espera de mim. - comprimira a cabeça, sentindo que seu cérebro poderia explodir a qualquer minuto.
- Seu tempo está se esgotando. - Cochichara o protegido do pai. Em vista de que Fred e Jorge já deveriam estar há alguns poucos metros de distância.
- Eu, hm... - Tentava puxar do fundo de sua mente, uma forma infalível de barganhar com Stefan, com uma proposta que nem mesmo ele poderia recusar, e foi então que... - Eu ficarei lhe devendo um favor, Stefan, estarei em débito com você, e poderá me pedir o que quiser quando precisar. - Assistira ao olhar zombeteiro dele mudar ao torcer o lábio, analisava a menina, buscando pelo menor sinal de que ela não estivesse falando sério.
- Você acaba de fechar um acordo com um mercenário, pirralha. - Parecera ser do interesse de Stefan, que sorria abertamente com sua conquista, melhor ainda por ter sido sem esforço algum. - , sabe que se você não fosse tão chata, eu até que iria gostar de você. - Lançou-lhe uma piscadela.
- Eu te odeio.- Murmurara a menina.
- , odiar é uma palavra muito forte. - Proferia Jorge Weasley, que acabara de chegar ao encontro da menina, manifestava-se tomando a atenção dela, ao seu lado encontrava-se o irmão gêmeo, aquele que nutria algum sentimento a mais pela jovem , e que se mantinha quieto, apenas observando, com olhos indagadores na direção do ex-auror.
- Que engraçado, Jorge, não foi você o Weasley que passou a tarde de estudos na biblioteca enchendo um pergaminho com frases de "eu odeio Severo Snape”. - Jorge arregalou a boca, e cutucou o irmão nas costelas.
- Não acredito que disse a ela, Fred. - Ele cruzara os braços na altura do peito e parecia realmente aborrecido com o garoto idêntico a si mesmo, em pé ao lado, e quase se sentiu culpada por ter dito aquilo, quase... - Bem, pois saiba que eu tive meus motivos, . - Talvez Fred e Jorge tivessem tomado algumas lições com Stefan Kane na arte de enganar e conquistar.
- E eu tenho certeza que os seus motivos deveriam ser válidos. - Stefan concordou com Jorge, e aquela fora a primeira vez desde que chegara que o gêmeo Weasley tomava nota de Kane, este por sua vez, parecia ter analisado a Jorge bem mais do que os olhares de medição do menino que agora lhe lançava.
- Estamos indo pregar peças em Pirraça enquanto Pirraça prega peças no pessoal. - Fred dizia com um teor de orgulho e sadismo na voz.
- Quer se juntar a nós? - Jorge indagara, e ambos os irmãos carregavam expressões que somente de olhos fechados e pensando em seus pesadelos que conseguiria responder com um não.
- Vocês estão sempre encontrando formas doentias de se divertir. - Cutucou o gêmeo mais próximo na costela. No caso, Fred. Ele sempre encontrava uma maneira de estar perigosamente perto.
- E como é que vocês vão fazer isso? Se pirraça descobre, não vai largar de vocês até o dia em que se formarem de Hogwarts. - Stefan se manifestara, tomando a atenção dos garotos intensamente ruivos, que até então não haviam tomado ciência de sua presença, ou apenas o ignoraram, o que seria mais plausível.
- Sabe, não é como se já não tivéssemos feito antes. - Fred respondera depois de analisar Stefan por um segundo inteiro.
- Não? - O ex-auror soara incerto aos ouvidos de , e hesitação não era uma palavra comum ao se definir Stefan Kane.
- Cara, não tem ninguém aqui brincando em serviço. - Jorge frisara com veemência o que o irmão havia acabado de afirmar. Um sempre completava o que o outro dizia, e aquilo não passara despercebido por Stefan.
- Esses garotos são legais, . - Ele apontava apontava para os gêmeos, e inusitadamente, tinha um sorriso no rosto enquanto se dirigia a eles. Era estranho, Stefan não costumava gostar... bem, de pessoa alguma. - E o que vocês me diriam se...
- Stefan nós temos que... - o interrompeu, e o amigo mercenário pareceu não gostar de tal ação da menina, uma vez que, devolveu-lhe com a mesma moeda, cortando-a com uma careta.
- Agora não, .
- Stefan... - Ele bufou com a insistência da mais nova.
- , você é uma pirralha chata. - Stefan bagunçara o cabelo em sinal de animosidade. - Vamos logo de uma vez. - Ele puxou-a consigo e se pôs a andar na direção do campo de Quadribol, sem sequer dizer nada a Fred ou a Jorge que continuavam em pé no mesmo lugar, com semblantes confusos.
- Para onde vocês vão? - Fred indagou-os.
- Err... - começara a murmurar alguma desculpa.
- -pai quer vê-la. - Mas é claro que Stefan já tinha um álibi afiado na ponta da língua.
- , como assim? Você vai simplesmente embora? - Agora Fred Weasley parecia perplexo.
- Calma lá, ruivinho, ela volta. - Stefan levantara um dedo, fazendo Fred parar onde estava, sem dar mais nenhum passo na direção deles, e considerou que poderia ser a primeira vez que o garoto obedecia uma figura de autoridade sobre ele. - Ninguém aguenta a garota por tempo demais. - Completou, rindo consigo mesmo.
- Pois discordo de você. - Fred quebrou os poucos passos de distância que mantinham um do outro. E talvez a imagem de Stefan já não lhe indicasse nenhuma autoridade. Aproximou-se tomando uma das mãos da menina nas suas. - Te vejo mais tarde? - Ela acenou positivamente, sentindo as bochechas corarem. - Não me deixe esperando ou vou atrás de você. - Perfez, afastando-se de volta ao irmão, mas não sem antes deixar um beijo no canto da boca da menina .

* * *


- tem namorado. tem namorado. tem... - No momento em que deram às costas aos gêmeos ele começara com aquela sentença cantada que mais parecia a música que deveriam tocar no inferno. - Esse dia acabou de valer totalmente a pena.?- Imaginava que Stefan só poderia sentir tesão pela desgraça alheia. - E agora vamos logo com isso, quero irritar o Pirraça com seu namoradinho. - Ele a cutucara, tentando-a com suas provocações. Pensara que se mantivesse a cara fechada e os lábios calados ele iria acabar cedendo e se cansando de toda a babaquice, mas aquele era Stefan, e ele sabia desvendar qualquer pessoa, criatura, pó de pir-lim-pim-pim, do mundo.
- Eu odeio você. - Empurrou-o com o ombro quando o ex-auror voltara com a cantoria.
- Odeia é?- Instigou.
- E ele não é meu namorado! - frisou, esperando acabar com aquele assunto de uma vez por todas, ou pelo menos, tendo alguma esperança nisso.
- Hum, consigo imaginar alguém que não vai gostar nada disso... - Stefan deixara a frase no ar.
- Papai nunca...
- Não estou falando de Bruce - O tom de sua voz tomara um ar sério, poderia até dizer que, sombrio. - É Draco.
- É, ele não anda muito satisfeito comigo já tem um certo tempo. - Confessou sofregamente.
- Se eu fosse você, , ficaria atenta a ele.
- Por que diz isso?
- Porque ele é um Malfoy. - E nada precisou ser dito além disso.

* * *


- Merlin, como está quente. - Stefan abanava o próprio rosto.
- Isso porque ainda nem passamos pelas estufas.- Comentou , despreocupadamente.
- Não fale comigo como se conhecesse esse castelo mais do que eu, . - Em primeira instância considerou que ele poderia estar brincando, mas alguns segundos lhe bastaram para perceber que Stefan falava sério.
- Às vezes você se ofende muito fácil, já pensou em tratar isso? - Disse com ar zombeteiro, tentando anuviar o clima que se instaurara com o recente mau humor de Stefan, cruzes, ele parecia até mesmo ela própria, e suas manhãs difíceis, quando era obrigada a viver, enquanto tudo o que seu corpo pedia era pela cama. Saudades cama.
- Cada um tem os seus próprios demônios. - Ele dera de ombros.
- Você nunca me fala dos seus. - Cutucou-o.
- E nem nunca o farei.- Stefan tentou pôr um fim àquele assunto.
- Egocêntrico. - murmurara, porém o adjetivo com que classificara Stefan Kane não passara despercebido pelo próprio.
- O que disse? - Quis saber. - Se eu lhe contar uma coisa dessas será uma fraqueza minha a qual você terá conhecimento e isso, minha querida , na arte da guerra significa que eu estaria sensível a você. - E é claro que ele nunca deixaria isso acontecer. Não havia registros em sua memória nos quais Stefan baixasse sua guarda, ele sempre permanecera indomável aos olhos dela, e de todo o resto do mundo mágico. Talvez até a própria mãe o temesse. Hmm, pensando melhor, talvez exagerara. Conhecera Mrs. Kane, e ela era um doce, tão diferente do filho. Não seria certo falar dela dessa forma, mesmo que fosse em meio a seus pensamentos confusos.
- Hum, achei que não tinha nenhum ponto fraco.- Procurara prolongar aquela conversa, tendo em mente que se provocasse Stefan o suficiente talvez conseguisse arrancar algo dele. E se não... Bem, comprovaria que ele era mais ousado do que imaginara.
- É isso o que quero que meus inimigos pensem.
- Você não tem inimigos, Stefan. - Argumentou.
- É, mas Bruce tem, e vários. - Estava certo. Como sempre.
- Não sei por que continua a trabalhar pra ele se é tão ruim assim.
- Bruce sempre me ajudou, se sou alguma merda hoje, foi por ele.
- E eu é que não vou me meter no relacionamento doentio de vocês dois.- Dera de ombros, fazendo que não se importava, quando na verdade torcia para que Stefan falasse mais de seu pai.
- Cuidado. - Avisou. - Eu sei mais formas de matar do que você de se defender, e não esqueça nunca que fui eu quem lhe ensinou tudo o que você sabe. - Ele nunca a deixava esquecer disso. Era verdade, passara anos tomando lições com o mercenário, sem que ninguém mais soubesse, por insistência de Bruce , que não queria que fosse de conhecimento público que a filha sabia conjurar uma maldição imperdoável, por exemplo. Não era algo do qual se orgulhasse, e também não poderia dizer que não era grata por tudo o que aprendera com Stefan, todos os feitiços, encantamentos, histórias, criaturas, lugares mágicos, sabia tanto sobre tanta coisa, e simplesmente não poderia deixar que ninguém mais soubesse de tudo que tinha conhecimento do universo mágico. Era como Kane vivia a relembrá-la, "quando todo mundo souber, ninguém mais precisará saber"; quer dizer, num mundo como aquele em que viviam era bom ter um segredo ou dois, ainda mais quando somente por nascer e receber um sobrenome, você automaticamente recebia todo o peso e inimizade que com ele vinha.
- Nunca vai me deixar esquecer isso? - Lastimou a jovem .
- Como eu posso fazer uma coisa dessas quando você é a única aprendiz que já tive?
- Quer mesmo que eu acredite que Bruce nunca lhe fez treinar mais ninguém? - Estava jogando com Stefan, e dançando por meio das palavras ainda tentando arrancar alguma coisa que não soubesse dele. Era tudo parte de um jogo.
- Garota, você tá de brincadeira? - Ele a encarava como se fosse louca. - Quem me ensinou o que eu sei foi o teu pai, você acha mesmo que ele iria querer que qualquer um soubesse o que ele sabe? Para de falar besteiras.
- Mas e se... - Iria contra-argumentar quando fora interrompida.
- Não. - Stefan não tinha a melhor das expressões em seu rosto. - Será que você não vai parar de me fazer perguntas? Eu sei onde está querendo chegar com tudo isso, e meu conselho é de que pare com isso agora. - Estava sério. O que a fez temer.
- Eu não posso fazer nada, Stefan, nos vemos poucas vezes e de cada três coisas que lhe pergunto, cinco você responde com sarcasmo.
- É, bem, ainda assim poderíamos nos ver menos. E eu estaria numa boa com isso.
- Um dia você ainda vai ter que admitir que me ama.- Provocara-o com seu sarcasmo, numa tentativa de deixar o clima entre eles menos pesado, tendo em mente que ainda precisaria de Stefan, e que não poderia contar com ele mal-humorado. Era mais difícil convencê-lo de fazer suas vontades.
- Eu não. - E a empurrou na grama. E continuou andando. A menina o encarava sem reação com a boca meio aberta e as bochechas coradas pelo susto, incrédula. Em dois passos, Stefan deu meia volta, e com um sorriso de canto retornou até onde estava antes e ergueu uma mão agarrando pelas costas de suas vestes, ele a levantou, e inusitadamente, beijou-lhe a testa. Ele ainda tinha um sorriso de canto preso a seus lábios. - Não diga que nunca fiz nada legal por você.

* * *


Batera três vezes na porta e não fora atendida. Ficou olhando para a grande maçaneta, muito maior que sua própria mão, era um daqueles momentos em que pensava "o que é que Fred e Jorge fariam numa dessas?" O que não chegara a perdurar. Ainda estava com Stefan Kane a seu lado. Ele bufara ressentido por estarem em frente à porta da cabana de Hagrid depois de atravessarem todo o jardim e ele simplesmente não estava em casa?
- Tem alguma coisa errada acontecendo. - Pensou alto.
- Será que ele não pode estar com o hipogrifo, ? Sabe? Últimas palavras? - Stefan ponderou, dando de ombros. - Vamos voltar pro castelo e podemos vir aqui depois, o que acha? Estou cheio de fome. - A menina não deu ouvidos ao ex-auror. Encostou sua cabeça na porta de madeira e colocou seus ouvidos pra trabalhar. Bateu mais algumas vezes esperando ininterruptamente pelo guarda-caça.
- Hagrid. - Chamou cautelosamente colocando todas suas esperanças naquelas palavras. - Hagrid, sou eu, por favor atenda, por favor. Dessa vez não tardou para o barulho da maçaneta girando surgir e a figura de Rúbeo os recepcionar com um olhar de surpresa, ele não tinha a melhor das feições, mas abriu espaço para que eles entrassem.
- Eu disse para que não viesse, . - A voz de Hagrid era dura de se ouvir, como se ele estivesse prestes a desmoronar, a qualquer segundo. - Lhe falei na carta que não precisava passar por isso, e que... - Ele fungou, seus olhos escuros presos a Stefan que se apoiava numa cadeira, logo atrás de . - Mas esse é, é Stefan Kane? Da Grifinória?
- Olá, Rúbeo. - Saudou o mercenário com um sorriso no rosto, forçando sua amabilidade.
- Mas não é possível, já é um homem, um homem feito. - Hagrid quebrou a distância entre eles, e tão logo estava com uma pesada mão num dos ombros do mercenário, admirando-o. - Eu não acredito, creio que já não precise mais ajudá-lo com os logros que os irmãos Trey lançavam em você. - Riram. Parecia ser a primeira vez que o rosto de Hagrid sorria em dias.
- Na verdade encontrei com Gregory Trey no Ministério um dia desses, ele se desculpou pelos tempos de Hogwarts, eu disse que não havia ressentimentos entre nós, e quando ele estava a caminho dos elevadores, eu o petrifiquei. - Riram mais.
- Sem ressentimentos é? - Hagrid àquela altura gargalhava.
- Ele precisava saber que não se brinca com Stefan Kane, não mais.
- Ah garoto. - Hagrid o abraçou pelo ombro em que sua mão ainda repousava. - É bom vê-lo. Estou passando por um período difícil, mas ainda é muito bom rever um rosto amigo.
- Eu sei, Hagrid, desde que me contou a história do hipogrifo venho fazendo o que posso para ajudar.
- O quê? Quer dizer que você é quem nos ajudou com os recursos para o tribunal? - Rúbeo parecia surpreso com a revelação, olhando de para Stefan sem parar.
- Sim, e também falei com alguns amigos do conselho, e... - Ele numerou tudo o que viera fazendo pela causa, o que não era pouca coisa. E que também não passaria despercebido. Ele ainda era Stefan Kane, afinal de contas. - Uma pena que de todas as famílias bruxas sejam logo os Malfoy que estejam envolvidos nessa. Se fossem quaisquer outros em último caso eu poderia dar um susto neles. Mas os Malfoy ainda fazem o nome deles valer alguma bosta de dragão. - Lastimou. - E eles são bons amigos de um lobisomem, né. Não tem como competir com isso.
- Eu lhe agradeço por toda ajuda a mim e ao Bicuçinho, Stefan. - Hagrid esticara os enormes braços, alcançando os ombros de e Stefan, dando-lhes tapinhas amigáveis, que mais pareciam socos. - Se tivesse me dito que você estava por trás de tudo, teria feito um dos meus bolos de frutas para você.
- Eu não sabia que vocês se conheciam. - A menina confessou, estava tão pasma quanto ao gigante com as recentes revelações, ah se soubesse ela que aquele dia suas surpresas estariam longe de terminar, teria voltado para seu salão comunal naquele instante. - Mas ainda não acabamos, Hagrid. - Stefan alertou.
- Que quer dizer? - Rúbeo arregalava os olhos cor de lama mais a cada segundo, a cada nova descoberta sobre o plano de . Ouviram três batidas à porta, e sentiu seu cu trancar, literalmente, olhou para Stefan com os olhos arregalados em pânico, e tudo o que ele fez foi assentir e alcançar sua varinha no cós da calca, e silenciosamente mandar a menina um recado de que deveria fazer o mesmo.
- Hagrid, somos nós. - Uma voz conhecida ressoou.
Num minuto três estudantes com vestes negras e o brasão da Grifinória esculpido no peito surgiram pela porta da cabana. Havia gente suficiente para que começassem uma festa naquele mesmo momento. Harry, Rony e Hermione encaravam e Stefan com a mesma surpresa que esses lançavam aos outros.
- Outro garoto ruivo? Eles estão na moda ou coisa parecida? - Stefan sussurrou para ela, sentiu que poderia rir.
- Er, mas esse daí não gosta de mim. - Cochichou de volta.
- Bem, a gente não pode culpar ele por isso não é mesmo? - Não teve tempo de rebater, o trio já estava próximo a eles diante da mesa, e todos encaravam Stefan, descaradamente.
- Sintam-se confortáveis, meninos. - Hagrid indicou as cadeiras e poltrona a eles. - Da próxima vez vou escrever para que venham imediatamente me ver, quem sabe assim me ouvem finalmente e não se arrisquem por mim.
- Queríamos vê-lo, Hagrid. - Harry fora o primeiro a se manifestar, tocando o braço do gigante amigo.
- Sim, não queríamos que estivesse sozinho hoje. - Hermione se juntou a ele.
- A gente só não sabia que você já estava acompanhado de e do cara que todo mundo está falando pelo castelo. - Ronald completou, sem olhar para , como de praxe. - É verdade que você leva bruxos menores de idade pra Askaban? - Stefan encarou a Rony sem nada dizer pelos primeiros quinze segundos, para então desatar a rir.
- Ron! - Exclamaram em repreensão, Harry e Hermione.
- Cara, tão falando isso aí mesmo de mim em Hogwarts? Não poderia ser melhor, te dou dez galões pra fazer esse boato crescer, garoto. - acotovelou Stefan para que ele percebesse que se perdera da real causa de estarem na cabana de Hagrid. Ele pareceu não gostar da atitude dela.
- Stefan, eu preciso que você me explique o que queria dizer quando falou de que ainda não havia acabado? Dumbledore quem tanto me ajudou vai receber o ministro hoje, e não posso fazer isso contra ele, quer dizer, pensei em soltar Bicuço, pensei muito nisso, mas não posso fazê-lo. Não posso.
- Hagrid... - começou, porém logo fora interrompida por Stefan.
- Você não me entendeu, Hagrid, olhe eu realmente não posso me envolver nesse caso, se Dumbledore que é Dumbledore não conseguiu não adiantaria nada eu tentar. - Ele dissertava mexendo as mãos, enfatizando aquilo que dizia. - E também não posso dar um pequeno susto nos Malfoy, você sabe, Narcisa ainda é cunhada de Bruce, e ele não quis entrar nessa nem mesmo quando pediu. - Indicou a garota com uma das mãos, e fez uma careta logo em seguida, , por sua vez, não saberia dizer o que aquilo poderia significar, por isso deixou passar, somente daquela vez. - O hipogrifo só tem uma chance, uma pequena chance, e é preciso que Malfoy e o Ministro o vejam antes. - Essa era a parte na qual parecia que todos acordavam, visto que assentiram simultaneamente.
- Não. - Rúbeo negou, estava nervoso, podiam sentir a partir de sua voz falha. - Não quero que se arrisquem dessa forma, se algo der errado, se alguma...
- Hagrid, o que de pior pode acontecer comigo? Acabar em Askaban? Lhe garanto que Bruce me tira de lá num peido.
- Não sei, Stefan, também tem Dumbledore, não quero desapontá-lo. - Hagrid permanecia instável com as opções de Stefan.
- Rúbeo, faremos da seguinte forma, vamos fingir que eu não disse nada, simplesmente. - Stefan afagou as costas do gigante, tendo que se levantar na ponta dos pés para isso. Em seguida voltou-se a Ronald Weasley. - Garoto, venha me contar essa história de Askaban direitinho.
- Ah, mas não fui eu quem disse nada, senhor. - Rony soara temeroso ao contato direto de Stefan Kane.
- Senhor? - O ex-auror por sua vez divertia-se com o Weasley. - Você está sendo o garoto ruivo de quem mais gostei por hoje.

Capítulo betado por Gi Craveiro


Capítulo 16


— Rony!... Eu não acredito... É o Perebas! - Exclamara Hermione de repente atraindo a atenção e o arquear de sobrancelhas de todos. Falara de Perebas, que até onde sabia, era o rato de estimação de Ronald, que há muito se perdera, no caso, dentro do estômago de Bichento. 
— Do que é que você está falando? - Logo quis saber Rony, que assim como todos os outros presentes, assistiu conforme Hermione levou a leiteira que tinha em mãos até a mesa e virou-a de boca para baixo. Com um guincho frenético, e muita correria para voltar para dentro da jarra que seria usada para se preparar uma segunda rodada de chá, Perebas, o rato, deslizou para cima da mesa.
— Perebas! — Exclamou Rony sem entender. — Ele agarrou o rato que se debatia e segurou-o próximo à luz.

 Perebas estava com uma aparência horrível. Mais magro que nunca, perdera grandes tufos de pelos que deixaram pelado seu corpo, o rato se contorcia nas mãos de Rony como se estivesse desesperado para se soltar.
- Err... O garoto sabe que esse rato mais parece morto que vivo? - Cochichara Stefan para , e a menina que estivera presente durante o luto de Rony quando todos acharam que o rato chegara ao seu fim, encarava o bichano de olhos arregalados, com vários questionamentos a respeito de animais mortos-vivos por sua mente.
— Tudo bem, Perebas! — Tranquilizava-o Rony. — Não tem gatos! Não tem nada aqui para te machucar!
E então, Stefan Kane se levantou num pulo com os olhos fixos na janela. 
- Estão vindo. - Ele murmurara.
Sua fala, que era sempre proferida de forma alta e com um tom sarcástico, naquele momento não parecia nem humana. Revelando o pesar que aquelas palavras carregavam. Um grupo de homens descia os distantes degraus, à entrada do castelo. À frente vinha Alvo Dumbledore, a barba prateada refulgindo ao sol poente. Ao seu lado, caminhava, a passos rápidos, Cornélio Fudge. Atrás dos dois vinha o carrasco, Macnair.
— Vocês têm que ir embora — disse Hagrid. Seu rosto normalmente corado, naquele momento estava da cor de pergaminho. — Eles não podem encontrar vocês aqui...
— Vamos sair pelos fundos. – Stefan tomou a frente, enquanto nenhum dos jovens bruxos parecia saber realmente qual o próximo passo a tomar.
-  Eu vou abrir a porta para vocês — disse Hagrid, cujo corpo inteiro tremia.
Os garotos o acompanharam até a porta que abria para a horta, e consequentemente, aonde Bicuço encontrava-se amarrado a um espantalho junto ao canteiro de abóboras.  olhou para Harry de imediato, ele quem tivera a mais próxima das relações com o hipogrifo, a expressão em seu rosto parecia de incredulidade, como se esperasse um último truque do destino, uma última sabotagem, antes que o pior acontecesse. Não havia mais tempo. Até mesmo Stefan, que sempre lhe passara segurança, com sua atitude nada-me-abala, naquele minuto, encarava os próprios pés, sem saber o que dizer. O hipogrifo também parecia saber que alguma coisa estava acontecendo. Virou a cabeça de um lado para o outro e pateou o chão nervosamente.
— Tudo bem, Bicucinho — disse Hagrid com brandura. — Tudo bem... — E se virando para , Stefan, Harry, Rony e Hermione. — Vão, andem logo.
Mas nenhum deles se mexeu.
— Hagrid, não podemos... - começara Hermione.
— Vamos contar a eles o que realmente aconteceu... - Emendou .
— Vão! — Disse Hagrid, ferozmente. — Lançando um último olhar a seu hipogrifo  sentenciado, e depois a Stefan Kane, a quem ainda fez um movimento de cabeça. Não tiveram outra escolha. E Hagrid tornou a entrar na cabana no momento em que alguém batia à porta. Lentamente, numa espécie de transe de horror, contornaram a cabana de Hagrid sem fazer barulho, sendo guiados por Stefan, que àquela altura passara um braço protetor por sobre os ombros de sua protegida. Quando chegaram do outro lado, a porta de entrada se fechou com uma batida seca.
— Por favor, vamos nos apressar — Sussurrou Hermione. — Não posso suportar, não posso suportar...
assentira, compartilhava dos mesmos pensamentos, só não encontrara voz para que pudesse proferir. Já não havia mais nada que pudessem fazer. Stefan permanecia calado, com suas atitudes mudas. Se nem mesmo ele tinha mais esperanças por que há ela de ter? Tudo aconteceu de um segundo para o outro, primeiro assistia Harry, Rony e Hermione começarem a subir a encosta gramada em direção ao castelo, e depois sentia o braço de Stefan, que antes estava repousado sobre um dos ombros dela, escorregar até sua cintura e erguê-la do chão, ao mesmo tempo que com a outra mão ele calava seus lábios. Não que pensasse em gritar, ao menos, partira de tal premissa, mas só até ele caminhar em direção à floresta proibida. começou a se debater.
- Quietinha, , seus amigos precisam sair fora para que eu possa agir. - Acalmou-se um pouco, até porque o mercenário não avançou mais do que algumas poucas árvores a dentro da floresta.
- Stefan... - Sussurrou no momento em que ele afrouxou a mão que tinha contra sua boca.
- Shh. - Ele tinha um dedo contra os lábios pedindo silêncio. Fez um movimento de mão para que lhe seguisse. E ela assim o fez sem questionar. Stefan saiu correndo do seu esconderijo atrás da árvore, saltou a cerca para o canteiro de abóboras e se aproximou de Bicuço. o seguiu assim que seu cérebro processou que deveria ir atrás do ex-auror, e que Stefan estava dando ao hipogrifo de Hagrid uma nova chance de lutar por sua liberdade.
- Que está fazendo? - Perguntou baixinho, ao se aproximar o suficiente de Stefan.
- Calada. - Ele retrucou de imediato. Caminhando a passos lentos na direção do hipogrifo que o encarava persuasivamente com olhos ferozes e que poderiam transformá-lo no mais insignificante dos seres se não tivesse a abordagem correta. Assistira a criatura fazer o mesmo com Draco Malfoy, e por Merlim, aquilo não acabara bem.
- Stefan... - Voltou a chamar, mas dessa vez sua voz saíra reverberando o medo.  - Ele vai te matar.
- Shh... - Stefan soltou de canto de boca. Ele não parecia piscar enquanto encarava os ferozes olhos cor de laranja de Bicuço mais uma vez e fez uma reverência, o hipogrifo dobrou os joelhos escamosos e em seguida tornou a se levantar. O rosto de formou uma interrogação.
- Como fez isso?
- Você está empertigada com esse hipogrifo há meses e não sabia que deve-se prestar uma reverência para que o bicho não te transforme em carniça? - Stefan, com cuidado, começou a desamarrar a corda que prendia o hipogrifo à cerca.
- Bem... - Realmente lembrava-se vagamente de ter lido algo a respeito em algum livro, porém, em sua defesa, a vida real não era como nos livros, ao ler e guardar a informação você se considera mais sábio e sente-se preparado para encarar aquela situação a qual tirara de letra ao passar as páginas do livro, mas quando se tem um segundo para agir ou morrer, tudo é diferente.
- São criaturas arrogantes. - Stefan acariciava a pelugem do longo pescoço da criatura.
- Igualzinho você - Brincou a mais jovem. - Por isso que o entende tão bem. - Recebeu um rolar de olhos de volta pelo comentário.
- Pare de falar besteiras e venha me ajudar, pirralha. - Fizera questão de frisar a última parte.
- Bicucinho. - A menina gemeu, sentindo o corpo inteiro tremer. Lembrando-se exatamente do que acontecera a Draco, e que consequentemente a levara àquela situação.
- Isso, abaixe a cabeça. - Stefan tinha uma das mãos na varinha que ele guardava ao cós da calça. - E não perca o contato visual com ele. - Esperava mesmo que ele soubesse um feitiço para ser usada contra um ataque de hipogrifo. - Não pisque, não pisque. - Bicuço a encarava com seus olhos cor de laranja franzidos da mesma forma que fizera com Stefan, e julgou que se ele fosse atacá-la seria naquele momento em que abriu minimamente o bico, por Merlim, julgara-o errado, e no segundo seguinte lá estava o hipogrifo dobrando o joelho a ela. - Assim mesmo, . - Stefan deu-lhe palmadinhas às costas. - Agora venha para cá. - Puxou-a pela gola das vestes sem a menor cerimônia.
- Como vamos fazê-lo sair daqui? - Ouviu-se perguntar e receber um sorriso arqueado da parte de Stefan Kane.
- Já pensei nisso, não se preocupe.
- Vamos voar? - Quis saber.
- Nem pensar, está louca? - Ele a encarou por um segundo com a testa franzida. Medindo-a. - Faria barulho e atrairia atenção demais.
- O que vai ser então?
- Suborno. - Ele disse erguendo uma saca de ratazanas mortas.
- Você consegue ser brilhantemente baixo em qualquer situação. - Disse não querendo concordar com o brilhantismo do plano de Stefan.
- Alguém precisa ser profissional por aqui, agora, faça algo garota, e solte a fera.
- Não podemos simplesmente levá-lo amarrado? - soltava a corda presa ao tronco que sustentava um velho espantalho em meio as abóboras de Hagrid.
- Você não entendeu nada, não é mesmo? - Stefan voltou-se a ela, incrédulo, fazendo a menina desviar-lhe o olhar, era inteligente, sabia disso, mas Stefan fora quem lhe ensinara grande parte daquilo que sabia, e sempre a pegava com suas expressões interrogativas que a faziam sentir-se uma verdadeira trouxa. Kane, por sua vez, inepto dos pensamentos da garota , estava admirado pela quantidade se perguntas que a poderia fazer quando estava nervosa. E ele não fazia ideia de como lhe passar segurança, ou fazê-la crer em seu senso e capacidade de sair vivo nas mais inusitadas das situações, e nem poderia culpá-la por nada disso, era ele quem era o problema, trabalhava melhor sozinho, mas aquela era uma empreitada de , e por mais que estivesse fazendo tudo, tinha de incluí-la. Sabia da importância que aquelas ações com o hipogrifo do infante Hagrid tinham a ela. E por mais que nunca fosse admitir, nem mesmo se lhe apontassem uma varinha ao pescoço, importava-se com aquela garota. - Esse bicho é orgulhoso demais, acha mesmo que deixaria um de nós sair por aí puxando-o por uma corda? - Respondeu ao questionamento estúpido dela, que não entendeu o motivo do sorriso no rosto do mercenário. Nem ele diria o porquê disso. Nunca.
- Vendo por esse lado...
- Solte-o de uma vez. - Guinchou Stefan, sem paciência.
- Não precisa ser grosso. - retrucou, um tanto ofendida pela falta de respeito mútuo do outro.
- Eu só quero acabar com isso tudo de uma vez. - Aproximou-se dela que soltava o último dos nós que prendiam o hipogrifo. - Boa, . - Nesse tempo, Stefan posicionara-se com uma ratazana gorda e morta, ele levantou-a até que os olhos de Bicuço a encontrassem, e não deu outra, a criatura começou a andar, farfalhando as asas, na direção de Kane e da ratazana. - E você, seu hipogrifo orgulhoso? Quer um agrado? Você quer? Então vai pegar. - Estavam bem à vista da porta dos fundos da cabana. E pelos murmúrios que conseguia distinguir do interior, acreditava que há qualquer momento o carrasco Macnair, Dumbledore, Hagrid e o ministro da magia, estariam todos saindo por aquela porta, a tempo de ver o hipogrifo sentenciado a morrer, trotando pela plantação de abóboras junto da dupla mais sem nexo que poderia existir. Sentiu seus pulmões pararem de puxar oxigênio por alguns segundos imaginando a cena.
- Para onde pensa em levar Bicuço?
- Mas não é obvio? - Ele considerou que a menina estivera brincando, porém, dada a expressão em seu rosto, ela surpreendentemente falava sério. - Vamos deixá-lo na floresta.
- Não. - Disse , com veemência.
- Garota, será que dá pra você confiar no meu trabalho? É a melhor chance que temos, levar o hipogrifo para uma clareira, enchê-lo de comida e com sorte ele vai sentir sede e levantar voo atrás de água fresca.
- Não sei se gosto disso, existem muitas criaturas perigosas na floresta, Bicuço ficaria amedrontado.
- A única criatura com medo aqui é você. - Stefan tinha um sorriso zombeteiro no rosto.
- Fica despreocupada, , eu tô de varinha empunhada e não deixaria nada de ruim acontecer com você. - Ele torceu a boca ao proferir aquelas palavras. - Arrrergh. - Cuspiu.
- Qual o gosto dessas palavras na sua boca?
- Como se eu tivesse engolido um feijãozinho de sabão. - Houve uma troca de sorrisos mútuos entre aqueles que pouco se entendiam. - Agora é sério. - Stefan puxou-a pelo ombro. - Para isso dar certo, eu preciso de você, , sem medo, preciso de você pronta pra usar sua varinha se tiver que assim o fazer. - Kane a encarava profundamente. E ela sabia que não era para frisar suas palavras, e sim para captar o menor resquício de dúvida nos olhos de . - Eu posso contar com você? - Assentiu e trocaram um gesto mudo. Num segundo acreditou estar tendo um momento de compreensão e amizade com Stefan, e no seguinte, ele arremessava as ratazanas que tinha seguras pelo braço que não estava sob um dos ombros da garota, a intensidade do arremesso fez as criaturas mortas ultrapassarem as árvores da floresta, e com isso, uma outra criatura, essa mais viva que as primeiras, saiu trotando na direção que pousara sua comida.
Stefan arrastou pelo colarinho de suas vestes, e seguiram Bicuço, que já desaparecia por entre os troncos das árvores. Num timing digno de aplausos, uma vez que a porta dos fundos da cabana se abriu com violência, não podiam mais ser vistos, porém também não conseguiam avistar a horta de Hagrid. Passando-se um tempo, que poderia ser muito, como também poderia ser tempo nenhum, não saberia dizer, seu peito subia e descia compulsivamente, e seu corpo tremia de nervosismo, ouviu-se o ruído de uma lâmina cortando o ar e a pancada  de um machado. O carrasco, enraivecido, aparentemente brandira o machado contra a cerca. Então, ouviu-se um berreiro e desta vez fora capaz de distinguir as palavras de Hagrid entre os soluços.
– Foi-se! Foi-se! Abençoado seja ele, foi embora! Deve ter se soltado! Bicuçinho, que garoto inteligente!
Desse modo, sobressaltou-se com a figura de Bicuço, que emergira das sombras, e por pouco não voltara a Hagrid, Stefan agarrara-o em tempo, pela corda que antes o prendia ao espantalho da plantação de abóboras. Ele segurava a corda com firmeza e enterrara os saltos do sapato no chão da floresta para reter o bicho.  apurara os ouvidos. Ouvira passos, o carrasco Macnair e alguns xingamentos, o clique da porta e, então, mais uma vez o silêncio.
- Que fazemos agora, Stefan? - Sussurrou , olhando para os lados, esperando por uma resposta.
- E agora que meu plano já era. - Balançara a cabeça de forma carrancuda.
Stefan não parecia abalado com os acontecimentos mais recentes e o fato de não terem sido pegos por um triz. O que fizera sorrir internamente, em meio a todo aquele caos, não existiria pessoa melhor para contar com numa situação feito aquelas. Mas, era o que o ex-auror lhe dizia desde os primórdios, "se apontam a varinha na minha cabeça, a questão não é se render ou ser morto, ainda existem mais 150 formas de sair dessa situação... e eu conheço todas elas."
- Vamos nos esconder aqui? - voltou a perguntar em meio ao silêncio prolongado de Stefan.
- O que precisamos em primeira ordem, é que o ministro da magia não esteja por esses jardins. Vamos esperar até que retornem ao castelo. - Concordava com essa parte. - Depois, bom, vou ter que voar com o hipogrifo para longe daqui. - Essa parte do novo plano de Stefan já não lhe parecia tão agradável. - Não temos muito mais escolhas que isso, . - Ele foi logo se justificando ao ler a expressão no rosto da menina. - E de todo jeito, eu não a vi dando nenhuma ideia melhor.
- Mesmo que levemos Bicuço até o outro lado da floresta proibida, ele ainda irá voltar para junto de Hagrid. - Stefan concordou num movimento de cabeça. - Ele não pode ficar em Hogwarts, e nós não podemos fazer nada até que anoiteça. - Ele agora a encarava, esperando que a menina, com seu olhar perdido, junto as profundezas da floresta, concluísse seu pensamento. - Se ele for visto, será morto, e por Merlim, não teremos mais como reverter isso.
- Pressupondo que eu tenha entendido o que disse, está mesmo considerando que deveríamos ficar com o seu hipogrifo na floresta? De noite? Você? - Seu rosto estava carregado de ironia. Não poderia culpá-lo daquilo, ao menos, não daquela vez.
- Não consigo pensar em nada melhor. - E confirmando o que dizia, ela sacou a varinha do cós da saia de seu uniforme, empunhando-a.
- Você deve voltar para o castelo, . - Ele a chamara por ""?
- Você não acabou de ouvir tudo o que eu disse? - Encarava-o um tanto perplexa. Pelo déficit de atenção, e pelo que ele acabara de falar também.
- Você deve voltar para o castelo. - Voltara a dizer. - Deve ser vista, e devem achar que esteve por lá todo o tempo. - Não compreendia. E Stefan pareceu captar a dúvida na expressão facial da mais nova. - Precisamos de um álibi, , ao menos você precisa de um. - Ele falava sério, e eram raros os momentos em que isso acontecia, inclusive, não conseguiria nomear quando fora a última vez. - Quando eu tirar o hipogrifo dos domínios de Hogwarts você não poderá estar comigo, estará correndo perigo, se formos vistos, se formos apanhados, não serei eu a colocá-la em risco, meu trabalho sempre foi lhe guardar e proteger.
- Mas Stefan...
- Já parou para pensar em como é que eu lhe traria de volta depois? Ou pior, como é que explicaríamos por que é que você estava comigo em primeiro plano? - Ele não alterara o tom voz, mas captara uma veia pulsando em sua testa. Abaixou a cabeça, não tinha mais nada que pudesse dizer, e de todo jeito, Stefan estava certo, não tinha o que discordar dele, se permanecessem juntos, somente iria atrapalhar enquanto o mercenário libertava o hipogrifo. Stefan Kane fez o silêncio que se instaurara entre eles perdurar, e só fez se sobressaltar, quando o sentiu puxá-la para perto, abraçando-a. - Vamos levar esse monte-de-penas daqui.
Os dois adentraram a floresta, andaram cerca de cem metros, Stefan segurando a corda que se prendia ao hipogrifo sem o menor esforço, e este, por sua vez, trotava lado a lado com o ex-auror, seus olhos almejando o que havia dentro da saca que descansava presa num dos ombros de Stefan. Pararam somente quando Kane fez um sinal com a mão, ele prendeu a amarra de Bicuço numa árvore de tronco grosso, ainda acariciou o pescoço da criatura mágica e chamou para que se aproximasse com um movimento de cabeça, deixou-a se despedir do hipogrifo, assistindo enquanto algumas lágrimas teimosas cismavam em escorrer pelo rosto dela, fingira que nada viu, e então juntos fizeram uma última reverência, antes de deixá-lo entre um grupo de árvores, juntamente com o restante das ratazanas mortas que trouxeram.

* * *


- Olhem só ele, aposto que deve estar chorando feito um bebezão dentro daquele barraco.
Aquela voz. Aquele teor sarcástico. E as risadas estrondosas que se seguiam… Só poderia ser uma pessoa. Ou no caso, pessoas.
Pouco depois de se despedir de Bicuço, saíra com Stefan, atravessando a orla da floresta em direção ao castelo, nenhum dos dois falou mais do que alguns murmúrios, sua cabeça pulsava, e seu coração bombeava tão rápido dentro de seu peito, que era capaz de ouvi-lo, preocupava-lhe que algo desse errado, e se Stefan esquecesse onde deixara Bicuço? E se Bicuço escapasse e voltasse para a cabana de Hagrid? E se o ministro o visse? E se? E se? E se...Tentava ocupar sua mente com alguma outra memória, mas estava tudo tão vívido por sua consciência. Não queria deixar Stefan sozinho, mesmo que a ideia tivesse partido dele. E não queria voltar sozinha para o castelo, ficar sem notícias, enlouqueceria se ficasse apenas com seus arrependimentos e teatros mentais. Não teria como saber se tudo iria dar certo no final. Simplesmente ficaria sem saber. Para isso teria de confiar inteiramente em Stefan. E àquela altura ele parecia tão perdido dentro de si quanto ela própria.
Vocês já viram uma coisa mais patética?
Voltaram a ouvir da voz, e em seguida, as risadas que mais pareciam porcos roncando. Sincronicamente, a expressão pesada que carregava em seu rosto fechou-se um tanto mais. É claro que sabia a quem pertencia o clamor, e fazia uma ligeira ideia dos responsáveis pelos sonidos.
Malfoy, Crabbe e Goyle estavam às portas do castelo, próximos às escadarias de pedra dos jardins de Hogwarts, e o primeiro deles tinha um par de binóculos em mãos, que estavam apontados na direção da cabana de Hagrid.
E ainda dizem que ele é nosso professor!
Stefan não deixou que ela continuasse, ficaram escondidos por um ajuntamento de árvores, nas margens da floresta proibida, o que não os impedia de continuar ouvindo o que se saía daquele grupo, que estava fazendo o estômago de embrulhar. Por que Draco? Era o que ocupava sua mente naquele momento. Ele agiria daquela mesma forma se soubesse que ela o assistia?
- Vamos sair daqui, . - Estranhamente Stefan não estava fazendo piada, ou comentários irônicos a seu respeito, envolvendo Draco. Agradeceu-o mentalmente por aquilo. Ele não queria que a menina continuasse assistindo à degradação da imagem que tinha do menino Malfoy, ele, por sua vez, esperava coisas piores do filhote de comensal, em vista de quem era o pai. Mas ao dar-se conta de que não estava fazendo bem à sua protegida, decidiu-se por tirá-la daquele lugar. Não poderiam usar aquelas portas de todo jeito. Já haviam dado alguns passos na direção contrária, a caminho da entrada principal do castelo, quando um farfalhar de folhas e o som de galhos sendo pisados soou atrás de suas figuras. Instintivamente pousou a mão sob sua varinha, ao tempo em que Stefan passava por ela, já com sua varinha empunhada, posicionando-se na frente da menina, em sinal de proteção. A ponta da varinha dele começara a brilhar, na ocasião em que...

- Pare! - À medida em que o semblante que se escondia por detrás de um grupo de árvores se mostrou, sentiu seu corpo congelar. - Somos amigos. - Hermione levantara ambas as mãos em sinal de rendição, e o vulto atrás dela fizera o mesmo, este, que logo se mostraria atendendo pelo nome de Harry Potter.
- Ahhhhh, vocês são loucos? Têm ideia de que eu estava a um milésimo de transformá-los em poeira? - Stefan retrucou, parecia bastante perturbado por quase ter desintegrado dois adolescentes.
- Mas o que... - não chegou a completar sua frase.
PÁ!
Ecoou.
Logo atrás de Harry e Hermione, que tinham suas figuras protegidas pelos troncos das árvores, no alto da escadaria e próximo às portas para o castelo, onde antes estavam três alunos da Sonserina, encontravam-se outros três, dessa vez da casa Grifinória, eram eles, Harry, Rony e Hermione. Essa última com o punho erguido. e Stefan revezavam seus olhares entre a menina à frente deles, e aquela a alguns metros.
- Eles estão aqui, e estão lá, ao mesmo tempo. - Dissera Stefan mais para si mesmo do que para os outros.
- Belo soco. - Retorquira , por sua vez.
- Tempo. - Voltara a dizer Stefan, era possível ouvir as engrenagens de seu cérebro trabalhando, conforme ele processava começando a entender o que acabara de acontecer.
- Não deveriam ter sido vistos, Mione. - , que sabia do segredo de Hermione, advertira-os temerosa. Coisas horríveis haviam acontecido com bruxos que mexeram com o tempo.
- E era o que estávamos tentando fazer, já estávamos aqui quando vocês apareceram, mas Harry escorregou num galho quando viu nossos "eus passados" e Stefan tentou nos enfeitiçar. - Ela se justificou, apontando para o amigo, enquanto este rolava os olhos. sorriu, e perguntou-se mentalmente onde é que deveria estar Ronald?
- Vocês vieram do futuro?
- Ao que parece, ainda estou tentando me acostumar com essa ideia, quer dizer, como a gente faz pra voltar para o presente? - Harry soara perturbadoramente preocupado, o que não era para menos. Infelizmente não poderia ajudá-lo com isso, nunca viajara no tempo, mas quem sabe um dia...

- E só para constar, eu iria fazer mais do que "enfeitiçar" vocês. - Stefan, que parecia ter enfim entendido o que se passava naquele tempo, entoou, dando uma piscadela no final.
- O que está fazendo, Mione? E por que trouxe Harry? - Perguntou, afligindo-se pela resposta que viria a receber.
- sabia todo esse tempo, Hermione? - Harry sobressaltou-se, um tanto indignado.
- Viemos por Bicuço. - Hermione tinha um certo receio em sua voz, ela evitara o olhar de .
- Tarde demais. - Stefan anunciara, fazendo tanto Granger quanto Potter encararem-no de olhos arregalados.
- Como assim? - Hermione começara.
- O carrasco já... ? - E Harry não conseguiu nem terminar o que tentara dizer.
- Não, acalmem-se, não foi nada disso. - Tranquilizou-os, . - Stefan e eu o soltamos.
- Hum, hum. - Murmurara Stefan a contragosto.
- Está bem. - o fuzilava com os olhos. - Stefan fez todo o trabalho. - Ele tinha um sorriso insolente.
- E se sou um foragido da justiça bruxa é por sua causa, . - Hermione e Harry riam da expressão que tomara conta do rosto de .
- Então, onde é que está Bicuço agora? - Perguntou Hermione, olhando para seu relógio.
- Deixei-o amarrado a uma árvore com um saco cheio de ratos há uns dez, ou doze metros, naquela direção. - Stefan apontava para onde estiveram com o hipogrifo pela última vez. Harry e Mione acompanharam seu dedo indicador, e assentiram mutuamente.
- Vamos atrás dele. - Comunicou Hermione.
- Eu pretendia levá-lo para longe de Hogwarts. - Stefan alegara.
- Hm, nós também temos essa pretensão. - Havia algo implícito, mas que Mione não revelara o que seria. Aquilo aquietou .
- Mas precisamos dele para uma última missão. - Harry completou.
- Ah Merlim, se vocês forem pegos eu juro que nego até a morte. - Brincou Stefan, ou ao menos julgaram que fosse brincadeira, de todo o jeito, por bem ou por mal, os garotos riram.
Harry e Hermione caminhavam lado a lado na direção revelada por Stefan, quando Granger voltou-se para e Kane, fazendo seus cabelos oscilarem à relva.
- E mais uma coisa antes de irmos, , Stefan. - Ela dizia, intercalando seu olhar, entre um e depois outro. - Nunca nos viram.

* * *


Stefan decidira que seria melhor se dessem a volta pelo castelo e entrassem pelas portas que davam acesso ao corujal. Estariam atravessando toda a propriedade da escola de bruxaria, literalmente, e se continuassem com o silêncio que se instaurara desde que haviam deixado Harry e Hermione, não seria nem um pouco agradável. Olhava para o rosto de Stefan, esperando alguma forma de contato, algum sinal de que ele não lhe daria o tratamento de quietude, mas ele nem ao menos chegara a lhe devolver o olhar. Arrependia-se de não ter batido o pé, e arriscado que entrassem pelas portas do castelo que davam para os jardins, onde haviam visto Malfoy, e fora exclusivamente por conta da presença do garoto, que Stefan rejeitara a ideia de arriscarem aquela entrada. Não queria que o primogênito de Lúcio o visse por Hogwarts. Subitamente Stefan parara, e , no que lhe concerne, prosseguiu, atônita ao que acontecia, presa dentro de seus pensamentos, somente tomou nota do que ocorria quando sentiu-se ser arrastada por Stefan. Encarou-o empertigada sem saber o que os tinha atingido.
- Não o chamam de Salgueiro Lutador à toa, . - girou o corpo, olhando em volta, e deu-se com a sombra da enorme árvore. Lembrara-se da última vez que avistara o Salgueiro, e aquela não havia, de longe, sido uma de suas noites favoritas. Quer dizer, ao menos o final havia superado expectativas.
- E o que espera que façamos? - tinha uma sobrancelha flexionada.
- Vamos contornar pela floresta, como viemos fazendo até então. - Stefan disse, solenemente, já se virando a caminho da floresta proibida.
- Isso vai levar pelo menos uma hora inteira, porque não podemos simplesmente passar pelo Salgueiro? Se estivermos a uma distância segura ele não irá nos atacar. - rebateu, sem sair do lugar onde Stefan a deixara.
- Sim, há uma distância segura, pela floresta. - A menina balançara a cabeça, em discordância com o que Stefan tinha dito, aquilo o tirara do sério. - Venha logo de uma vez, . - Ele lhe deu as costas, e prosseguiu no sentido da floresta, , por sua vez, cuspira alguns xingamentos e chutara a grama, numa débil tentativa de recuperar a paz interior, para então, finalmente, segui-lo.
E teria feito isso, no entanto, ao se virar, seguindo o mesmo curso que Stefan, algo saltara em sua direção, um enorme cão de olhos claros. Tentou alcançar a varinha, mas era tarde demais, o cão investira dando um enorme salto, e suas patas dianteiras atingiram a garota no peito; caiu para trás num redemoinho de pelos; sentiu o hálito quente do animal, viu seus dentes de mais de dois centímetros, e não conseguia entender por que razão a criatura que em mais de uma situação lhe salvara, naquele fim de tarde estaria atacando-a. Não o via há tempos, normalmente o cão lhe aparecia quando estava sozinha pelos jardins da escola, e na maior parte dessas vezes, inconsolável, o enorme cão lhe fazia companhia, fazia-a não se sentir só. Considerava-o um amigo. E por mais estranho que possa soar sentia-se em completo débito com o animal, que sempre sumia misteriosamente da mesma forma que surgira.
Stefan, vinha a seu socorro, ele tinha a varinha empunhada, e teria feito alguma coisa, mas um grosso tronco de árvore atingira-o diretamente no rosto, e deveria ter sido com tamanha força que o derrubara contra o chão. O Salgueiro Lutador, cujos ramos estalavam como se estivessem sendo açoitados por um forte vento, avançavam e recuavam para impedir qualquer um de se aproximar. , que se contorcia ainda tentando se livrar do Cão, que um dia julgara como companheiro, mas que naquele momento, parecia querer devorar sua cara. Todas as vezes que vira o bicho, partira do pressuposto de que seria uma criatura mágica, um tanto quanto racional, certas vezes achara inclusive que havia sido enviado a ela pelos deuses, para lhe passar perseverança, num constante lembrete de que não estava sozinha nessa árdua jornada repleta de aflições e infortúnios com alguns poucos momentos de satisfação e energia positiva, também chamada de vida. O cão era amigo. E era isso tudo o que sabia sobre ele. Fazendo com que aquilo pelo que estava passando não fizesse o menor sentido.
Por um decurso, veio a seus pensamentos a imagem de alguém que não via há tanto tempo, e que não mandava notícias há outros tantos, pensava em , que também era amigo, um dos melhores amigos que o universo tivera o prazer de lhe brindar, por todos os dois longos anos que passara na França, na Academia Beauxbatons, ele fora o seu mundo inteiro, era de suma importância para aquela garota que toda a pessoa que chegara a fazer a menor diferença que fosse dentro de si, de maneira que não a fizesse se sentir tão desamparada quanto julgava ser, acabava por se apegar àqueles poucos de forma a guardá-los sempre consigo, num lugar especial, dentro do peito, e preso à sua mente, não achava que conseguiria nomear nos dedos de uma mão, outros tão próximos quanto . Sabia que havia evoluído imensuravelmente nesta categoria, e aprendera a deixar as pessoas entrarem, mesmo que fosse somente até a soleira da porta imaginária que dava acesso ao interior da menina, e toda a confusão que esta detinha. Não obstante, havia sido o primeiro. Antes dele, havia apenas Draco, o que para era muito mais que o suficiente, e ainda mais do que ela acreditava merecer. E surgira com seu par de olhos azul piscina, fazendo-a ver um pouco além daquilo que ela conhecia. O primeiro amigo que fizera na vida e por mérito próprio. Não havia família, sangue, legado, não havia nada, só haviam os dois, gostos inusitados e um humor incompreensível. Somente então, fizera-se notar a falta que o amigo deixava dentro de si.
O ataque do Cão seria um aviso dos mesmos deuses que o fizeram encontrá-la num primeiro momento? Uma repreensão por ter deixado o amigo em segundo plano por tanto tempo? Um golpe de discernimento? O que quer que fosse, havia feito com que a criatura negra saísse de cima dela, deixando uma dor imensurável onde antes estiveram as pesadas patas do animal, fazendo-a considerar que poderia ter quebrado um osso ou dois. Tão rápido quanto a deixou, o cão cravou sua mandíbula num dos pés da bota coturno que a menina usava, e começou a arrastá-la, podia sentir as pontas dos dentes dele raspando em seu pé, o desespero mesclado à agonia de estar sendo levada pelo cão com a facilidade com que se arrastaria uma boneca de trapos fizeram-na voltar a se debater, e dessa vez, também a gritar. E Stefan, que ainda tentava se aproximar da menina para resgatá-la, acabara de levar outra lambada da árvore, e daquela vez, aparentava ter sido sério, o ex-auror fora arremessado alguns metros, caíra de forma abrupta contra o chão, e depois, não voltou a se levantar. ainda era arrastada pelo cão, cada vez mais próximos do tronco do Salgueiro Lutador, a menina lutava furiosamente, mas de nada valia seu esforço, o cão fechara os dentes em seu pé. E então, desapareceram pelo buraco entre as raízes.

Capítulo betado por Gi Craveiro


Capítulo 17


Não conseguia gritar, perdera a voz. Talvez pelo pânico, em parte por não ter mais forças para lutar contra a mandíbula do animal que a sacudia e arrastava por uma descida de terra. Engoliu poeira, galhos e pedras raspavam por sua pele conforme prosseguiam, principalmente pelo rosto, podia sentir as feridas que se formavam, o cheiro metálico de sangue, e a dor.
Escorregaram até um túnel muito baixo, sofregamente a menina tentava alcançar alguma coisa que pudesse ajudá-la a se soltar do cão. Cegamente suas mãos buscavam alguma forma de apoio, que não chegou a encontrar. E conforme era levada contra sua vontade por aquela passagem, sentia-se mais esgotada a cada segundo que se passava naquela tortura mental e física. As mãos encontravam-se em carne viva, perdera montes de fios de cabelo que se enroscavam por aquele caminho sinuoso, estava machucada e desamparada.
A passagem não parecia ter um fim, não sabia se era toda a situação de seu sequestro por um cão negro com mais de metade da sua altura que a fizera perder a noção de espaço e tempo, ou se realmente estivesse sendo arrastada por horas a fio. Tinha a impressão de que aquele caminho escuro deveria ser tão longo quanto aquele que tomara junto dos gêmeos, Fred e Jorge, quando estavam fugindo do zelador Filch e sua gata psicótica pelos jardins da escola. O episódio ocorrera haviam inúmeras noites passadas, e por coincidência ou não, quem os levara até a passagem secreta havia sido aquele mesmo canzarrão.
imaginava o que seria aquele cão? Estava mais do que óbvio que era mais inteligente que qualquer outro animal, mágico ou não, que já conhecera. Ele tinha aquele comportamento, no mínimo, peculiar, em que parecia realmente compreender o que acontecia a sua volta, e sobretudo, a estranha ligação que o cão negro tinha com a menina .
Até onde seu cérebro poderia resgatar na história, todas as vezes em que estivera com o enorme cachorro, ele fora nada menos do que amigável e carinhoso, surgia sempre em momentos aos quais a menina mais precisara de alguém, fosse salvando a pele dela e dos amigos, ou simplesmente estando presente. Teria o levado para casa com ela, tamanha havia sido a relação que cultivara com o ser. Logo, não tinha o menor resquício do que levara o cão a atacá-la. Sua mente, que era a única parte de seu corpo que não havia declarado invalidez até então, trabalhava a hipótese do animal nunca ter sido nada daquilo que ela imaginara, não seria a primeira, e com certeza, não era a última vez, que alguém se aproximava dela, conquistava sua confiança, para então mostrar quem realmente era, seu verdadeiro propósito.
Quando isso ocorria, 99% dos casos, eram pessoas querendo se aproximar de sua família, dos negócios de seu pai, do poderio daquela linhagem bruxa... A mesma história de sempre. Essa era uma das principais razões pelas quais a menina decidira há muito tempo se afastar das relações humanas, e era a essência de seu caráter melancólico. Mas nunca jamais imaginou que poderia vir a ser traída por um cão, aquele em especial. O que ele poderia querer com ela? Ou com sua família, em especial? Ele não estaria interessado num emprego, certo? Stefan nunca deixaria o cão tomar seu lugar como guarda costas do pai.
Stefan.
Sabia que não poderia ter esperanças de que o bruxo mercenário pudesse encontra-la, e salva-la antes que algo pior acontecesse. Ele havia desmaiado momentos antes dela desaparecer com o cão por dentre o Salgueiro Lutador. No entanto, aquele cara não era como os outros, e sabia que ele diria exatamente aquelas palavras se estivesse com ela naquele momento, “Já passei por coisas piores”, ele diria, e encontraria uma maneira de tirar a jovem daquela situação, com suas piadas sarcásticas, deboches, e caras feias, mas com um braço transpassado protetoramente pelos ombros da menina. Não obstante, a pequena chama que acalentava um lado de seu peito, continha fé em Stefan Kane.
Respirou fundo, em arquejos curtos e dolorosos, e então o túnel começou a subir, o cão a arrastava com a mesma intensidade e vigor, respirava em arquejos curtos e dolorosos, pensava no que viria a encontrar no fim daquele caminho interminável, para onde estaria sendo levada? Quanto tempo mais aquela tortura iria durar? Em meio a tantas perguntas, perguntas sem respostas, surgira logo a frente uma espécie de abertura, não poderia identificar com clareza, ao menos não quando era arrastada contra sua vontade por um espaço mal iluminado.
Sem hesitar, o animal negro a sua frente passou pela fenda ainda puxando a menina pelo pé, entraram num cômodo sujo e poeirento, um lugar que parecia esquecido, abandonado por anos a fio, com papel de parede descascando, manchas por todo o lado, do chão ao teto, e todos os poucos moveis estavam quebrados. estava esgotada, naquele momento até mais do que quando tivera aquele pensamento pela primeira vez conforme era arrastada pelo túnel, ela queria sua cama, de preferência com as cortinas do dossel fechadas, onde poderia abraçar um travesseiro, e nada mais precisaria ser feito. Mas não tinha como saber o quão distante estaria de seu dormitório. E se quisesse reencontrar sua cama algum dia, os poucos amigos, e, bem, os que eram mais que amigos, teria de reagir. Varreu o área com os olhos arregalados, examinando todos os lados, o cão ainda tinha a boca em seu pé, coberto pelo coturno, que se encontrava coberto de baba e marcas de dente. A arrastava em direção as escadas, e vira uma oportunidade, poderia se segurar num dos degraus, e impulsionar seu corpo para fora daquela empreitada. Voltaria para sua cama e não a deixaria nunca mais, era uma promessa. Tudo estava coberto por uma espessa camada de poeira que irritava seu nariz e fazia seus olhos lacrimejarem. Teria de driblar mais aquela adversidade. Esperava por um surto de adrenalina, quando o cão disparou pelos primeiros degraus levando-a consigo. Estava pronta para agir no próximo segundo, só não esperara que iria desmaiar quando sua cabeça batesse no primeiro degrau da escada. E sua mente se apagou.

* * *


Sabia que seus olhos estavam fechados, podia senti-los. Sabia que estava deitada. Sabia também que era numa cama. Seria a sua própria? Ou estaria na ala hospitalar? Porém, se estivesse aos cuidados de Madame Pomfrey, por que sentia-se tão mal? Só poderia ter sido resgatada, certo? Stefan conseguira encontrá-la? Era a única explicação. Aonde mais estaria? Precisava abrir os olhos, mas tinha medo do que viria a encontrar. E se nunca tivesse se levantado aquela manhã? Poderia aquele ser mais um dos truques de sua mente? Tudo não passara de um sonho ruim? Gostaria de poder se apegar aquela premissa. Todavia, o desconforto que sentia no pé era deveras real para um sonho.
Quereria parar o tempo. Seu último segundo de vida, seria passado exatamente daquela forma, de olhos fechados para os problemas. Se aquele fosse realmente o seu fim, teria vivido a vida que sempre quisera viver? Fizera tudo o que sempre quis fazer? Sentira tudo o que havia para se sentir? Não teria de que se arrepender? Sabia a resposta para todas aquelas perguntas. Não seria a primeira, e quiseras a última vez, que pensava no fim. Sua mente, mente. Poderia entrar naquele estado melancólico por horas, talvez dias. Precisava abrir os olhos. Sentiu a ansiedade começar na boca de seu estômago, e de um segundo para o outro, suas borboletas internas travavam uma batalha. Tinha medo do que poderia encontrar quando acordasse, mas não poderia continuar dentro de si, tinha mais medo ainda de se perder pelas trevas de sua própria mente. Já era tempo de abrir os olhos.
Demorou para se acostumar com a luminosidade que entrava pelas frestas das janelas vedadas com tabuas. Quando finalmente tomou ciência de onde estava, fora apenas para descobrir que não sabia que lugar era aquele. Estava, de fato, deitada numa cama de colunas com cortinas empoeiradas, aquela definitivamente não era sua cama, e aquele não era o dormitório da Sonserina.
- Já não era sem tempo, Srta. . – A menina levantou num pulo sentindo todo o seu corpo reclamar. Sofrera por uma tontura passageira. – Acalme-se. – A voz aconselhou. A voz aveludada de Alvo Dumbledore. Alvo Dumbledore? O diretor encontrava-se sentado numa cadeira de madeira, que rangia conforme ele se remexia, parecia confortável apesar de tudo.
- Profe... Profess... Profess... – Não conseguia proferir nenhuma palavra, quanto mais formar uma frase inteira. Os recentes acontecimentos vieram a sua mente numa enxurrada, e sua única certeza era que, precisava dar o fora daquele lugar. – Professor. – Disse, enfim, após respirar fundo inúmeras vezes. – Professor, o Sr. precisa me ajudar, existe um cão, e ele... – Antes, porém, que pudesse concluir o que dizia a porta que se encontrava entreaberta abriu num solavanco, dando espaço a um animal de grande porte com pelos negros e desgrenhados. Este entrou, e caminhou sem mais delongas até Dumbledore, sentando-se em suas patas traseiras ao lado do bruxo.
- Aaaaaah. – Ela gritou, alcançando a varinha que guardara no cos de um dos pares de seu coturno, porém, sua mão agarrara o vazio. – Minha varinha? – Disse, finalmente, depois que parara de gritar. Desesperada, apalpou toda a cama procurando por seu bem.
- Sua varinha está segura comigo, Srta. . – Dumbledore destacou, levantando a varinha de azevinho e pelo de calda de unicórnio.
- Diretor, acredito que isso não tenha sido nada honroso. – Ele riu.
- Se puder me defender foi este seu amigo que a pegou. – Alvo indicava o cão ao seu lado com o ombro.
- Ele não é meu amigo. – A menina abaixou a cabeça, quebrando o contato.
- Teria certeza de suas palavras, minha jovem? – Indagou Dumbledore. – Se bem sei, e olhe que sei sobre muito, passastes muito tempo pelos jardins de Hogwarts com este velho cão sarnento. – O Cão negro rosnou diante do comentário do diretor. Mais uma vez, agindo como se entendesse.
- O que quer de mim?
- Eu? – Tocou o próprio peito. – Estou aqui somente para garantir sua segurança.
- Então por que estou desarmada? – Contra argumentou .
- Para sua própria segurança. – Ele disse, como se fosse obvio. – Não queremos que faça nada destrutivo.
- Sr., me desculpe, mas nada do que me diz faz o menor sentido. – Estava enérgica, e acima de tudo, irritada, achara que do momento em que abrira os olhos iria encontrar respostas, porém, mais uma vez, estava diante de novas perguntas, as quais não havia replica. – Sei que o Sr. gosta de emendar metáforas aos seus discursos, mas se vai me matar eu prefiro que diga de uma vez. – Dumbledore apenas a estudava por trás dos óculos de meia lua. – Olhe, isso com certeza tem a ver com minha família, e deve ser um mal entendido, pois posso lhe garantir que não sei as defesas dos cofres em Gringotes, não guardamos ouro em casa, e eu não faço a menor ideia de que parte do mundo meu pai possa estar nesse momento.
- Ele está mais próximo do que imagina, Srta. .
- Eu sabia... – Ela murmurou, mais para si mesma do que para os outros.
- Sabia?
- É obvio que isso tudo está relacionado a Bruce, quer dizer, que importância eu teria?
- Você ficaria surpresa.
- Diretor, o Sr. não poderia ir direto ao ponto?
- Deveras, Srta. . – Dumbledore parecia entediado, ele tamborilava os dedos em seu joelho. – Contudo, estamos aguardando mais um convidado. – Por nenhum segundo despregara seus olhos de . Estudando-a. - E seria extremamente deselegante de sua parte se retirar sem recebê-lo.
- O que vocês estão tramando? – Ela lançava olhares furtivos de Dumbledore para o cão. - Quem é que está chamando? – Sem resposta, arriscou. – Pois fiquem sabendo que também estou esperando alguém. – Assistiu Dumbledore mudar de posição na cadeira que ocupava. – E ele vai chegar a qualquer momento para me tirar daqui. – Não tinha certeza em suas próprias palavras, mas fizera sua voz soar com o máximo de confiança possível. – E talvez, houvesse causado impacto, afinal...
- Sirius? – Dumbledore chamou.
E no mesmo momento o cão negro se aproximou dela, , àquela altura, estava aos pés da cama de colunas, próxima a porta, sucumbida pela ideia de correr o mais rápido que conseguisse para longe daquela cena, mesmo que isso significasse deixar sua varinha para trás. Talvez ainda pudesse fazer isso, se conseguisse driblar o enorme animal ao seu lado. Aquele era o tempo. Estava na hora. E iria, mas receou. Ao invés de correr sentiu as pernas falharem. Bem a sua frente, ocorria uma transformação nebulosa. E onde antes havia cão agora era homem.
Uma massa de cabelos imundos e embaraçados caíam até seus cotovelos. Se seus olhos não estivessem brilhando em órbitas fundas e escuras, ele poderia ser tomado por um cadáver. A pele macilenta estava tão esticada sobre os ossos do rosto, que ele lembrava uma caveira. Os dentes amarelos estavam arreganhados num sorriso. Era Sirius Black.
- . – Ele proferira o seu nome com uma voz rouca. – É um prazer finalmente conhece-la. – O foragido de Askaban se adiantou erguendo uma das mãos para a menina. – Bem, ao menos, com minha verdadeira identidade.
- Você é o cão negro. – encolhera-se. – E você é Sirius Black. – Olhava para os fundos olhos azuis dele, esperando que resplandecessem uma aura maníaca, e o que viu, a fez sentir um calafrio por todo o corpo.
- Sabe quem sou? – Sirius Black estava em pé a sua frente. Muito perto. Tudo o que conseguira fazer, fora balançar a cabeça concordando. Infelizmente sabia até muito sobre o prisioneiro de Askaban. – E tem medo de mim? – Ele perguntou, seus olhos, tão frios, procuravam por sinais de fraqueza da menina. Acabara que, aquela frase tivera o efeito contrário em , engolira em seco, mas suas mãos, assim como seu corpo, já não tremiam mais. Não tinha medo.
- E eu deveria temê-lo? – Perguntou de forma insolente.
Sirius Black ainda a estudava.
- O que acharia se eu te dissesse que toda a sua vida fora baseada em mentiras? – A menina dera de ombros.
- Eu não me surpreenderia. - Ele riu.
- És tão durona quanto imaginei que o fosse. – Sirius tocara seu ombro, fazendo-a enrijecer, como se seu toque causasse dor.
- Você me conhece? – Arriscou.
- Eu sei tudo sobre você, . – Sabia que seu rosto formara uma interrogação. Seus olhos estavam arregalados, e a respiração descompassada. O que quereria ele a dizer com aquilo?
- E como isso poderia ser possível? – Ele ignorou sua pergunta. Estava vidrado encarando o rosto da menina, mas não olhava diretamente para seus olhos. Seu olhar vagava de um lado a outro, analisando-a.
- Nariz. – Ele murmurara. – Cabelo, maxilar... – Ainda murmurava palavras sem sentido algum. - E os olhos. – O prisioneiro parecia perdido nas íris da menina. – Ahhhhh, os olhos. – Ele suspirou. – São os olhos, estou certo, Dumbledore? – Chamara pelo diretor, que se encontrava absorto, sentado na mesma cadeira desde que acordara naquele quarto desconhecido.
- Com certeza, os olhos. – Concordara o diretor. A menina congelara, vira o mesmo que eles, e não poderia negar, não para si mesma. – Até um pouco mais, eu diria. - Mas àquela altura Black já se dispersara. Sua atenção estava novamente na jovem bruxa, daquela vez, entretanto, não a encarava de forma que pudesse arrancar seus globos oculares a qualquer momento.
- Perguntastes se a conhecia, lembra-te? - Ela assentiu. - Pois me permita perguntar primeiro, o que me traz aqui?
- Aqui? – Estava insegura quanto aquela indagação.
- Sim, aqui, á você.
Ela demorou a responder.
- Não sabe, é? – Sirius arqueara uma sobrancelha.
- Sei que é primo de minha mãe e tia Ciça. – Ele torcera o lábio com o que ela dissera. - O que nos torna primos ainda mais distantes.
- Não. – Disse o foragido, balançando a cabeça.
- Não? – franzira a testa, desentendida.
Não gostará daquele jogo. Não havia um vencedor.
- Venho lhe observando faz bastante tempo, por todo este ano, para ser mais exato, mas foi só há pouco tempo que passei a compreender-te – estremecera. Não só estivera sendo seguida por Sirius Black, como também fora enganada por ele, arrastada, sequestrada, e sem nenhuma explicação plausível. Ainda não sabia o porquê de estar naquele quarto. Nem porquê chegara até lá num primeiro momento. Não sabia porquê Dumbledore não a ajudava. Não tinha respostas. A dúvida estava consumindo-a. E para completar, o prisioneiro de Askaban dizer que a “compreendia”. Ele tocara num ponto frágil. estava no seu limite. Ele não poderia entende-la, não quando ninguém nunca o fizera. era um enigma, não só para as outras pessoas, mas também para ela própria. Como poderia um homem que nunca vira afirmar que a conhecia tão bem? Conquanto, era o primeiro a dizer isso com veemência. - Você é só, menina, e eu não sei pelo o que você passou, creio que não deve ter sido fácil, mas passara por muita coisa, e isso afetou sua personalidade e seus relacionamentos, você não consegue se aproximar das pessoas, não confia em seres humanos, o que explica o fato de ter me deixado entrar tão fácil na minha outra forma. – assentiu, queria ouvir tudo o que ele tinha a dizer, porque ansiosa por respostas, e para isso tinha de lutar com a voz em sua mente que lhe dizia para abrir aquela porta e correr, correr rápido e para longe. - Você não afasta as pessoas porque quer, a verdade é que teme ficar sozinha, mas a solidão já se tornou parte da sua identidade, e sendo assim você a abraça como a uma velha amiga, você a aceita. – Sirius respirou fundo antes de prosseguir. - E te conhecendo da forma que conheci. Te estudando. Entendendo você. Eu tenho medo de confessar o que tenho a lhe dizer. Mas temo mais ainda passar mais um dia de minha vida com isso guardado apenas para mim. E espero também que por mais que você possa não gostar do que iria lhe dizer. Tome isso como uma lição. E não deixe o medo impedi-la de fazer tudo o que você quiser. – Tocou o ombro da menina, e daquela vez, ela não recuara. - Você é grandiosa menina, e espero nada menos do que grandes feitos de sua parte. – E completou. - Me vejo tanto em você. – Alguma coisa brilhou nos olhos sombrios de Black.
- Como você pode saber tanto sobre mim se nem nunca nos vimos? – achara que tinha perdido a fala, porém, conseguira pôr para fora o que mais martelava dentro de sua cabeça.
- Você deve saber o porquê. – Ele disse, afastando-se, caminhou para próximo da cadeira de Dumbledore, que assistia a cena.
Aquele seria o momento perfeito para a fuga que vinha planejando. Porém, não se mexera.
- . – Estivera com a cabeça baixa durante o curto silencio. Virou-se na direção da voz fraca de Sirius Black, que voltara a chama-la. – Eu lhe observo desde sua primeira noite em Hogwarts. – Não demonstrou surpresa. Nada mais parecia espantá-la. - Se lembra qual fora a primeira coisa que o chapéu seletor lhe dissera?
- “Já atrasamos demais o jantar”? – Arriscara, fazendo aspas com os dedos.
- Bem, não. – Sirius torceu o lábio. - Um pouco antes disso. – , por sua vez, tinha a testa franzida, fazendo um enorme esforço para buscar na memória aquela lembrança.
- Eu disse a ele que era um chapéu velho, e perguntei por quantas cabeças já havia passado. – Sirius parecia incentiva-la a prosseguir. – E ele me disse... – Sua cabeça doía pela intensidade com que tentava alcançar seus pensamentos. – Ah, ele respondeu que estivera por muitas cabeças, inclusive a de meus pais. – Não sabia de que aquela recordação era útil. Mas, de que é que ela sabia, não é mesmo?
- Exatamente. – Sirius sorria, expondo todos os seus dentes amarelos.
- Argh, tudo está tão confuso. – A menina apertara as laterais da cabeça com ambas as mãos. – Num segundo eu penso que estou começando a compreender o que você está tentando me dizer, mas nada parece se encaixar, me diga de uma vez! – estava cansada de questionamentos sem fundamentos.
- Me diga você. – A menina suspirou com a resposta de Black. Ele parecia querer que ela chegasse a suas próprias conclusões, deixando de lado o fato de que não lhe davam informações para isso.
- O QUE QUER OUVIR? – Soara alguns decibéis mais alto do que tencionara, e não dava a mínima. – Que meus pais nunca falaram comigo sobre isso? Nem sobre qualquer outra coisa. Que se eu sei alguma coisa foi porque tia Ciça me dissera, e de má vontade? Se sabe tanto sobre mim, quanto faz questão de dizer, então sabe que minha família não é nem um pouco convencional, os meus pais me odeiam! – Seu coração encolhera-se dentro de seu peito, nunca havia dito aquelas palavras em voz alta, nem para si mesma, nem para ninguém. Era seus segredos obscuros, que guardava no canto mais fundo de seus pensamentos, e que só eram resgatados quando sua mente lhe pregava peças. Parara por um segundo para tomar ar, mas não fora o suficiente, tombou a cabeça para afrente, e seus joelhos falharam, fazendo-a encolher-se no chão sujo. – O que você quer de mim? – Sussurrou. Pelo canto do olho assistiu conforme o prisioneiro de Askaban se aproximava uma segunda vez, continuou a assistir quando ele se sentou ao seu lado.
- Eu preciso que você chegue a suas próprias respostas, , preciso que faça isso por mim, e por você também, sei que não tenho o direito de estar lhe pedindo isso, ou coisa alguma, mas acredite, é necessário. – O viu esconder as mãos nos bolsos, estas tremiam compulsivamente.
respirou fundo.
- Está bem. – Concordara, enfim. – Onde estávamos mesmo? – Buscou na memória, deixando de lado seu surto repentino. – Tia Ciça contou-me algo sobre Hogwarts e lembro-me dela mencionar minha mãe; mas Bruce... – Pensou no pai, e a primeira nota mental fora que não o via desde as férias de natal. – Ele é muito mais velho que elas, devem ter estudado em períodos diferentes. – E dera de ombros, não entendendo de forma alguma como aquelas informações poderiam se ligar a todo o resto.
- Bruce nunca estudou em Hogwarts. – Dumbledore afirmara, tomando uma posição no enredo, e naquele momento, Sirius e o diretor da escola de magia encaravam , como se tivessem lhe dado uma peça importante daquele quebra cabeças.
“- Oh não...” – Ela pensou. Precisou de alguns minutos para o monologo interior, e não importava a forma com que somava os pontos, o resultado da equação parecia ser sempre o mesmo. Considerou que poderia estar esquecendo algo, ou sofrendo algum equívoco, achou até que não havia entendido direito nenhuma daquelas informações. Mas era tudo um pretexto. Não queria acreditar. E de qualquer forma, como haveria de ser possível?
- Você já sabe a resposta. – Sirius dissera ao seu lado enquanto levantava-se. A menina o seguiu. Ele a encarava, sua expressão num misto de curiosidade e receio. Como se o próximo movimento de causasse-lhe pavor. Não poderia culpa-lo, sentia-se da mesma forma consigo mesma. Demorou até sentir-se pronta a deixar seus olhos encontrarem os dele. E sabia que Dumbledore os observava atentamente, com sua presença taciturna. Mas não poderia adiar mais aquele momento, e nem a enxurrada de questionamentos que martelavam sua cabeça. Ouvira muito de Sirius Black, e por mais que tivesse de chegar as respostas por si própria, havia um fato ao qual ambos noticiaram o mesmo. Com a mera diferença de que Black expusera, enquanto guardara para si. Ao menos, até aquele momento.
- Eu também percebi. - Viu o rosto pálido ganhar um brilho diferenciado. E sua expressão segura tornar-se difusa. O viu ansiar por respostas, estas que somente poderia dar-lhe. Os papéis haviam se invertido, porém, não se sentia nem um pouco melhor com isso. - Os olhos. - Sirius tinha uma sobrancelha arqueada. De todo, não esperara por essa. - Os seus, e, bem, os meus. A primeira vez que pus os meus olhos nos seus, foi inegável, acreditei que enxergaria o olhar de um maníaco assassino, sem caráter, com ausência de emoções, achei que veria todo o mal, só não pensei em nenhum momento, que veria a mim mesma, que encontraria olhos idênticos aos meus. – Sirius Black abrira a boca, sem emitir som algum, ele congelara, com sua atenção totalmente voltada a menina a sua frente.
Esperara pelo tempo de Sirius. Ele se aproximara ainda mais dela, a passos minúsculos, e parecia que a distância entre os dois nunca chegaria a ser maior que aquela, onde os ombros se tocavam. O foragido de Askaban levantara uma mão temerosa, que tremia no ar, e a levou de encontro, cautelosamente, até o rosto de , que fechou os olhos quando sentiu o toque aveludado em sua bochecha. Surpreendeu-se por ele não se retesar daquela vez. Sirius tinha o rosto da menina em meio a suas mãos, ela, por sua vez, arriscara abrir minimamente seus olhos, que magneticamente encontraram-se com os de Black. Nada fora dito. E não era como se precisasse.
Poderiam ter-se passado horas, e até dias, não teria como dizer, não com absoluta certeza, tudo o que sabia, com convicção, era que seriam capazes de passar o resto de suas vidas admirando seus olhos no rosto do outro. E o teriam feito. Senão fosse pelo estalo no meio do quarto, seguido pela aparição de uma terceira pessoa. Aquele era o convidado que faltava de Alvo Dumbledore.

Capítulo 18


Nunca vira na vida. Não saberia dizer quem poderia ser. Nem o que se escondia por trás de suas feições. Queria dizer que aquela figura não lhe causava calafrios. E que jamais lhe fizera mal. Queria que tudo isso fosse real. Afinal, a poucos metros de si, no centro do cômodo, encontrava-se o ultimo convidado de Dumbledore. E era sua mãe. Helena varreu o pequeno quarto, e não pareceu surpresa com nada do que via, nem com o prisioneiro foragido de Askaban, muito menos com sua única filha. Ela se voltou primeiramente ao diretor, segurou suas mãos e beijou-as, suas ações eram precedidas por um movimento de cabeça da parte de Alvo. desejou não assistir aquela cena, nem o que viria a sucede-la. E sua vontade somente veio a se confirmar, quando Helena soltou-se de Dumbledore, levantou o pescoço, fuzilando Sirius e com os olhos. Seus globos oculares revezavam-se entre um e outro, para então finalmente;
- Você disse a ela. – Era uma afirmação. Como ela sabia? Foi o primeiro pensamento que martelou a mente da menina . Acreditou que algo em seu rosto teria a entregado. Talvez sua proximidade com Black. Mas, como viria a descobrir, Helena, assim como o próprio Sirius, e também Dumbledore, todos sabiam mais do que haviam lhe dito. E mesmo com o que havia descoberto por intermédio de Black, perdurava tamanha incerteza por sua mente. Queria acreditar no prisioneiro. Por Merlim, era o que mais desejava no mundo. Só que não poderia deixar de lembrar a si mesma, que nada poderia ser tão fácil assim, e se fosse, não seria a sua vida. – É claro que não poderia ter tido a decência de esperar. – Helena caminhava pesadamente na direção dos dois. - Sempre tão impulsivo. – Ela balançava a cabeça em negação. - Preciso lembra-lo que foram essas atitudes que nos trouxeram até esta casa imunda em primeira estancia?
- Vocês se conhecem? - se surpreendera em ouvir sua voz indagando exatamente aquilo o que martelava em sua mente.
- Infelizmente, minha filha. – Helena torcera os lábios, encarando Sirius com escarnio.
- Sabe que não precisa mais deste fingimento. – Toda a atenção voltara-se para a menina, que não tinha uma expressão convidativa no rosto. - Se o que Sirius estava tentando me dizer for realmente verdade, e está se confirmando ainda mais verossímil a cada segundo que se passa, então, eu não pertenço a Bruce, e muito menos a você.
- Você bem que queria isso, não é mesmo? – Helena a fuzilava com os olhos. - Bem, quero que saiba que se estou aqui, é contra a minha vontade.
- Quase não deu para notar. – Sirius rolara os olhos.
- Não sei se percebestes, “mamãe”. – fizera aspas com as mãos. - Mas ninguém parece estar aqui porque quer. – Helena, por sua vez, não dera importância, e prosseguiu...
- Fora uma imprudência, eu os alertei, implorei para que não lhe dissessem nada. Mas Sirius é egoísta. Só pensa em si mesmo. Não se importou com toda a dor que viria a causar.
- Se dependesse de você, a menina viveria o resto de sua vida sem saber. – Sirius tinha um olhar feroz direcionado a mulher.
- É muito nova, não vai entender... – Ela continuou, mas Sirius a cortou.
- Ela é esperta, é...
- Helena, Sirius. – Chamou Dumbledore, atraindo a atenção de ambos, e com um movimento indicou . A menina tinha o olhar perdido, encarava o chão, petrificada, e sua mente parecia estar distante, muito distante. Sabia a resposta, finalmente conhecia a solução, e queria sentir-se satisfeita com aquilo, mas como poderia? Dentre de si, não tão fundo quanto imaginara, a chave estivera por lá todo o tempo. Tentara contestar. Procurara outras explicações. Negara. A verdade sempre iria se sobressair. Não havia luta contra a verdade. Seu maior desejo, o segredo mais obscuro que guardara no fundo de seu coração, tornara-se sua realidade, e era assustador. Não conseguira proferir em voz alta uma única vez. Evitara, inclusive, repetir em sua própria mente. Talvez, e somente talvez, nunca encontraria o equilíbrio, estaria sempre em dissonância contra o universo, principalmente quando renegava as próprias vontades. Aquela seria sua aflição imperial? O corpo voltara a tremer, daquela vez, não pelo medo físico, o pânico vinha do que poderia vir a ouvir, o que mais poderia ser dito? Havia mais, sim, tinha certeza disto, porém, seria ela capaz de suportar?
Decerto teria caído, sentira os joelhos falhar, isto, no exato momento, em que Sirius Black a segurou.
- Eu sempre soube que havia algo de muito errado comigo. – Murmurou, finalmente.
- Nunca mais diga isso. – O sentiu intensificar o aperto em seus braços. - Não existe absolutamente nada de errado com você. És uma menina perfeita. Cuja hamartia fora nascer sentindo o peso dos problemas e decisões erradas de outros.
- Uma das primeiras coisas que me disse fora que minha vida era baseada em mentiras. – Sirius assentira, ao tempo em que encolheu os ombros, soterrado ao peso das palavras que dissera mais cedo a menina. – Então me diga de uma vez, de onde vim? Por favor, eu preciso saber. – Os dois pares de olhos, tão iguais, se encontraram.
- Pare com isso, . – Helena bradara, quebrando o contato visual daqueles dois. Ela tinha uma expressão cansada no rosto, cansada de todos naquela sala. – Você é uma garotinha tão mal-agradecida, qualquer outra criança bruxa em seu lugar iria amar ter tudo o que você tem, nunca nada lhe faltou, sempre teve tudo o que quis, tem poderio e um sobrenome de valor. – Seu olhar pesado decaia sobre a menina, carregado de desgosto. - Mas você, só o que fez a vida toda fora reclamar e pedir por algo que seu papaizinho não poderia lhe dar, outra vida. – Helena deu-lhe as costas. - Bem, sinto muito criança, realmente sinto. – Sentia? De fato? - Mas essa é a sua vida, e Sirius Black pode lhe dizer o que ele quiser, que isso não mudara o fato de Bruce ser seu pai, eu ser sua mãe, e você ser uma .
- Basta, Helena. – Sirius interferiu, ele tomou um dos braços de Helena e puxou-a.
- Não ouse me tocar... – Ela soltou um tapa ardido na mão do prisioneiro que ainda não havia soltado-a.
- Cala a boca. – vociferou. – Você sempre soube, e nunca me disse nada. – Estava de frente a mãe, mas virara o rosto, não queria encará-la, mas as palavras atingiram-na de forma que não conseguira guardar aquele sentimento apenas dentro de si. Queria que aquela estupida reunião, com as figuras mais mal selecionadas de todos os tempos, terminasse. Acreditara que ainda não tinha ouvido o suficiente, e que teria de forçar-se a continuar naquele quarto, com a negatividade de Helena, o silencio de Dumbledore, e, Sirius. Mas se para isso quereria dizer chegar no seu limite mental, aguentaria até o fim? Ou aquele seria o fim para ela? Havia uma arma apontada para ela, que dispararia em qualquer direção a qual ela fosse, e as consequências não pareciam boas de ângulo algum. - O que eu posso ter feito de tão ruim para minha própria mãe me odiar tanto?
- Eu abri mão de muito por você, , e você sempre me pagou com ingratidão.
- Do que é que você... – A testa enrugara e as sobrancelhas contraíram automaticamente. O que ela queria dizer com aquilo?
- Você tinha se parecer com ele, não é? – Era a vez de Helena não encarar . A mais velha circundava a menina, sem olha-la uma única vez, mexia as mãos descontroladamente enfatizando o que dizia. Estava nervosa, e não saberia dizer se seria “por ela” ou “com ela”. – Mesmo rosto, o mesmo jeito, os mesmos olhos. – Helena balançara a cabeça, como que afastando um pensamento ruim. - É claro que você não se lembra, mas éramos muito apegadas em seus primeiros anos de vida. E quanto mais crescia, mais eu via a figura de Sirius Black em você. Eu não suportei. Do momento que passei a ser negligente com você, Narcisa surgiu e a levou de mim, e eu nunca fui atrás. – Receosa, Helena levantou os olhos, e esses se encontraram com os de . – E eu sei que deveria ter sido mais forte, sei que não deveria ter feito isso, mas eu não pude... Olhar para você sempre me fez pensar em Sirius e tudo o que ele me fez, e isso sempre me fez muito mal. – Helena soara incrivelmente verdadeira em cada uma das últimas palavras proferidas. Aquilo fizera o corpo de congelar.
- Então, então, você está dizendo que Sirius, ele é mesmo? E... Bruce? Bruce não é... E você... – Havia confusão na cabeça da menina, mas também existia aquele magnetismo, novo e inexplicável, entre ela e Black. Contra sua vontade seu rosto estava na direção de Sirius. E ela ainda não conseguia pôr em palavras o que martelava sua mente. - Sirius. – Conseguira dizer por fim.
- Se ainda tenho direito a lhe aconselhar, menina. – Recomeçara Helena, que observara todas os últimos movimentos da menina, desvendando algumas de suas ações. - Não endeuse Sirius Black, eu cometi esse erro, e olhe onde estamos agora? – Ela disse indicando o quarto sujo com descaso. Sirius torcera os lábios, ao que parece, contrariado com a atitude e discurso de Helena. - E não me olhe com essa cara, não foi você que disse querer contar toda a verdade, bem, ela será dita, inclusive a sua. – Ela se acercou da filha, e a menina, receosa e sem esperar tal aproximação, dera um passo inseguro para trás. - É claro que tem conhecimento de que todas as famílias bruxas puro-sangue tem um grau de parentesco, sendo Sirius, meu querido primo, de quando meu sobrenome ainda era Rosier Black. – Aquele deveria ser o primeiro momento, desde o início de toda aquela reuniãozinha, que o olhar de ambos se encontrou, Sirius e Helena, e esta sorriu, um sorriso de escárnio, mas ainda assim, sorriu. - O que você, minha filha, não tem consciência é, de meu envolvimento com ele. – sentira a intensidade com que seu rosto movimentou-se arregalando os globos oculares e abrindo a boca, em choque com a revelação. Como estava para se tornar comum, a menina se encontrara, mais uma vez, sem palavras. - Sirius era para mim, o que ele está simbolizando para você neste momento. Um escape de minha realidade frívola. Ele sempre foi este eterno adolescente, com ideais anarquistas e um papo de contracultura. Eu o amava. E Merlim sabe o quanto me arrependo disso. – As feições de Helena voltaram a se fechar, e aquele sorriso, era como se nunca houvesse ocorrido, não haviam indícios que provassem o contrário. - Mas, isso é passado. – Dera de ombros, como se nada daquilo pudesse atingi-la. E falhando miseravelmente. - De minha parte, o que importa a você saber é, Você-Sabe-Quem estava em sua ascensão naquela época, e é claro que Sirius não somente não era partidário do Lorde das Trevas, como também enfrentara a ele e seus comensais sempre que tivera chance. E isso não era um problema para mim, não até descobrir estar grávida. – Pausa dramática. - Eu queria que fugíssemos para o exterior, o mais longe possível de toda aquela guerra. Não achava que tudo poderia ficar pior do que já estava, não até Sirius dizer que não partiria comigo. – “Não”. ouvira ecoar por sua mente, mesmo que contra a própria vontade, fizera exatamente o que Helena lhe aconselhara a não fazer, e não queria admitir nem para si mesma, mas endeusara Sirius Black.
Num primeiro momento, por sua figura no passado simbolizar tudo aquilo o que sempre quisera ser. Sabia da forma com que Sirius abdicara de seu lugar como primogênito dos Black. E depois de conhece-lo, de ouvir o que ele teria a lhe falar, de estuda-lo e buscar entende-lo; sucumbira, transformando-o numa espécie de herói, ele surgira mudando toda uma vida, um ideal, uma forma de pensar. Destroçando certezas e deixando respostas em pedaços. Ele trouxera novas justificativas, para perguntas muito antes deixadas para trás no subconsciente da menina. Ele, que tinha uma voz carregada de verdade e convicção. Ele, que dizia exatamente o que seus ouvidos sempre ansiaram por escutar. Ele, o primeiro a desvenda-la e compreende-la, sem nem nunca antes ter trocado uma palavra que fosse. Como ele seria capaz de tal ato? Não poderia, e não queria acreditar naquilo.
- Então, depois desta desilusão, eu tomei a atitude mais sensata de toda minha vida, recorri a Dumbledore, que prometeu ajudar e guardar este segredo, ele sempre garantiu sua segurança , mesmo depois que me casei com Bruce. – Helena fizera uma careta ao proferir o nome, como se lhe causasse mal-estar. - Mantivemos contato por todo este tempo. Es um grande amigo. – Ela sorrira na direção em que Alvo Dumbledore mantinha-se sentado, dizendo nada, observando tudo.
- Dumbledore sempre soube? – perguntara.
- Eu confiaria minha vida a Dumbledore. – Helena caminhara na direção do bruxo, ainda sorria, e prostrara-se ao lado dele, com uma mão descansando num dos ombros do mais velho.
- E, bem, Bruce? – Havia receio em sua voz. - Ele sabe? – Viu a expressão no rosto de sua mãe mudar.
- Não, e nem nunca irá saber. – Helena cruzara os braços, e em seus globos oculares haviam labaredas de fogo. - Bruce não pode ter conhecimento de que você não é filha legitima dele. – sentiu que medo sucedia a última afirmação de sua mãe.
- Por isso que você nunca me aceitou. – A menina ouvira e analisara todo o discurso de Helena, abaixou os olhos e observou seu corpo, dos dedos das mãos, para as suas juntas e ligamentos, seus pulsos e todo o braço, desceu pelo tórax á barriga, das pernas até a ponto dos dedos dos pés que encontravam-se cobertos pelos coturnos de couro. Podia ouvir os batimentos de seu coração, e se fechasse os olhos chegaria a escutar o sangue fluindo por sua corrente sanguínea. Todos respeitavam seu silêncio. Seu cérebro embaralhado trabalhava sem parar. Chegara a conclusão de que sua vida era uma mentira. Não tinha mais certeza de nada. Seria o céu azul? Hipogrifos podiam voar? Haviam realmente todos os sabores de Feijõezinhos-de-Todos-os-Sabores? Ou eram apenas mais das mentiras que lhe contaram por toda a vida? Entretanto, levando alguns outros fatores em foco, algumas coisas pareciam lhe fazer mais sentido agora, do que jamais fizeram. Tudo se encaixava com suas lembranças mais remotas, o distanciamento, as atitudes frias, todas as discussões; por Merlim, nunca atingiria as expectativas de seus pais, e nem nunca seria o que eles quisessem que fosse, porque simplesmente, não pertencia a nenhum deles. Aquela era a primeira vez, em todos os seus longínquos treze anos de vida, que percebia que não era de ninguém. E como aquele pensamento era libertador. Se estamos para nada, então vamos cair para qualquer coisa. - Passei a vida toda achando que estragara alguma coisa no casamento de vocês no dia em que nasci, mas na verdade o matrimônio de vocês sempre foi uma farsa. Você sempre me manteve afastada, para que eu não lhe fizesse perguntas, para não levantar suspeitas, afinal se Bruce descobre que não sou filha dele, ele lhe mata.
- Ouça bem, , agora que sabe, guardará o segredo como todos nesta sala o fizeram, só concordei em lhe contar porque Sirius pode ser muito persuasivo quando quer, e porque, bem, devo alguns favores a Dumbledore. – Nem mesmo dias debaixo do sol no mais duradouro dos verões poderia tirar o gelo das palavras frias de Helena. - E não se esqueça de que o nome Black carrega muita desgraça.
- Obrigado, Helena. – Sirius fizera uma curta reverencia. - Sempre tão carismática. – Disse, sarcástico.
- Eu reconheço quando não sou bem-vinda. – Naquele ponto, Helena retesara-se junto a velha lareira, tão encardida quanto o resto do pequeno quarto.
- Eu não consigo.... Eu não quero mais saber disso. – , por sua vez, empertigara-se quanto a fala da mãe, murmurava mais para si mesma, porem suas palavras não passaram despercebidas. - De um lado, aquela que queria que eu não soubesse de nada, e do outro aquele que preferiu travar sua guerra pessoal com Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.
Sirius trocara um olhar nervoso com Dumbledore.
- Não posso dizer que está errada, de certo modo eu a abandonei. – Black concordara com a menina, atraindo-lhe atenção. E deixando um sentimento conflituoso dentro dela, onde parte queria arrancar a varinha de azevinho e pêlo de unicórnio, que se mantinha sob poderio de Dumbledore, e lançar uma maldição imperdoável contra o prisioneiro de Askaban. E a outra queria, que talvez tivesse uma força maior que a primeira, desejava que ele simplesmente negasse tudo. - Estava, de fato, envolvido até a cabeça com essa guerra, mas não pelo o que você disse, não por Lorde Voldemort, que se foda Voldemort. – Teria rido do fato de Sirius xingar o temido Lorde das Trevas se a situação não fosse tão trágica por si só. - Meus amigos precisavam de mim. Meu melhor amigo, Tiago, descobrira naquele mesmo tempo que sua esposa também esperava uma criança, e ambos depositaram sua fé em mim. – Viu quando Sirius fechara ambas as mãos num punho com furor. Aquela, de fato, era uma lembrança da qual ainda doía-lhe falar a respeito. Se é que falara desta uma única vez que fosse dos últimos treze anos. - Eu havia prometido a Helena que cuidaria dela e de você, mas não poderia deixar meus amigos, sempre fui leal a eles. – Suas palavras atingiram a menina feito uma corrente elétrica. o entendia. “Mas que estranho”, pensou. De todas as pessoas no mundo, seria um condenado à morte pelos dementadores, aquele a quem ela iria mais se afeiçoar. Naquele momento, e pela segunda vez num mesmo dia, vira um brilho diferenciado no olhar sombrio de Sirius Black. - Eu morreria por meus amigos.
- Acredito em você. – Em sua mente a imagem de Fred e Draco, sobrepunham-se uma a outra, numa espécie de disputa, um querendo aparecer mais que o outro, e mais uma vez quis ter rido de seus pensamentos. - Porque eu teria feito o mesmo.
- Eu disse que lhe conhecia muito bem, e sendo assim, sei de seu desprezo por mentiras e grande fascínio pela verdade. – Àquela altura Sirius se aproximara de forma a estarem apenas um braço de distância, e ela sabia disso porque, realmente, ele tinha um braço estendido onde apoiava a mão num dos ombros da menina. – Quero que saiba por mim, que diferente do que é dito, não traí meus amigos, houve um traidor em nosso meio, sim, mas não era eu.
- Eu sei. – Sirius Black arqueara uma sobrancelha. Confuso com a afirmação da menina, que parecera aceitar seu discurso de forma tão fácil. Como poderia? Ela estaria realmente escutando-o? Porque ele próprio sabia que se pudesse ouvir o que dizia, seu primeiro pensamento seria “Que idiota”. Contudo, como aquela garota, que não chegava a altura de seu ombro, poderia ouvir e compreender? Ela o entendia? Ela o entendia. - Quer dizer, de que outra forma teria a confiança de Dumbledore? – Sirius esboçou um sorriso, e num segundo estava rindo.
- A menina sabe o que diz, não é mesmo, meu velho? – Ele voltara-se a Dumbledore, que assim como , tinha um sorriso preso ao rosto, contagiado pela recente, e inesperada, gargalhada de Black.
- Com toda a certeza, teria transfigurado a Sirius no mais babão dos cães. – Sirius rira mais. - Mas agora, continuem, continuem a história, está chegando no seu clímax. – Como se as palavras estivessem carregadas de magia, o sorriso no rosto de Sirius se fechou. Ele encarava , e queria que seus olhos não chamassem os dela, uma vez que a menina o encarava de volta.
- Bem, ... – Ele começou, sentindo a garganta secar. - O que estou tentando lhe dizer desde a primeira vez que nos encontramos é que eu... Você... eu e você... – Sirius mexia nos longos cabelos desconfortavelmente, sabia que não havia forma fácil de dizer aquilo, por um tempo, conseguira enganar-se do contrário, aquelas quatro palavras sairiam tão fáceis de sua boca quando estivesse frente a frente com a menina pela primeira vez. Por treze anos, somente o que ouvira, fora o som de sua própria voz repetir aquelas quatro palavras. A lembrança de sua cela em Askaban trazia junto calafrios. Teve de se agarrar a uma memória mais recente, talvez, ou quem sabe, com toda a certeza, a melhor que jamais tivera, da primeira vez em que abraçara , em sua mente a imagem ainda era tão nítida quanto quando ocorreu. Lembrava-se da menina sentada numa parte distante dos jardins de Hogwarts, estava sozinha, e chorava. Sirius estava em sua forma mais segura, como animago, não sabia se deveria, mas tão logo viu suas pernas deixarem de lhe obedecer, e automaticamente, conduzi-lo até . Num primeiro momento ela parecera assustada com a visita inesperada, seu rosto vermelho e manchado por lágrimas que escorriam sem parar até o queixo, Sirius pensou em correr para longe, de que forma poderia ajuda-la? Como poderia ser útil e confortador para ela quando mais precisara? Eram inúmeros questionamentos, que ele logo viria a perceber, não tinham a menor importância para ela, que simplesmente transpassou os braços ao redor do pescoço do cão e enterrou o rosto, não se importando com os pelos molhados pelo sereno, nem mesmo com o mal cheiro eminente, ela somente precisava de seu conforto. E nada precisaria ser dito. Sabia que tinha um sorriso em seu rosto, e também sabia que, diferente da lembrança, naquele momento ele precisaria dizer algo, as quatro palavras, ou ao menos, pensou que deveria...
- Eu sei. – segurou-lhe as mãos nas suas ao dizer. Talvez nada precisasse ser colocado em palavras entre aqueles dois. Contanto que o sentimento mutuo, em que poderiam contar um com o outro perdurasse, fora assim desde seus primeiros momentos juntos, e não haviam indícios de que seria diferente. Para Sirius, acima de tudo, a menina tinha esse poder, ainda desconhecido por ela própria, de trazer a ele algo que há muito desconhecia. Paz.
- Depositei minha fé na pessoa errada e paguei por isso de forma pior que os treze anos em Askaban. – Confidenciou.
- E o que no mundo poderia ser pior que Askaban?
- Eu perdi você.

* * *


- Receio que deva se despedir de Sirius neste momento, Srta. . – Dumbledore disse solenemente, ele encarava a porta, que Helena deixara entre aberta no momento em que partira de volta ao Hospital St. Mungus. Ela não se despedira propriamente de nenhum dos outros presentes, com exceção de Alvo Dumbledore. - Temos companhia. – E naquele momento, seus olhos, azuis tão claros quanto agua cristalina, fixaram-se em . - Parece que, conforme dissestes, ele, enfim, veio lhe levar de volta. – Oh, e ela sabia exatamente do que ele poderia estar a se referir, ou melhor, a quem.
A menina de treze anos voltou-se para o prisioneiro de Askaban. Ele não perdera um segundo que fosse do tempo que estivera com ela, a bem da verdade, tempo, fora algo que nunca tiveram. Ela sabia disso, ele sabia disso. Mas tanto um, quanto o outro, vivendo em meio a seus próprios demônios, não deixaram de aspirar tudo o que aquele encontro os propiciara. Cada um, a sua maneira, tivera naquele curto intervalo de tempo, algo que sempre almejaram. E que mesmo sem saber, no caso de ; ou sem esperanças de que um dia pudesse ter, da parte de Sirius, estavam juntos. Finalmente.
- Precisa fazer o certo, . – Sirius quebrara o silencio entre eles, que não deveria ter perdurado por mais que um minuto, mas o tempo, passava numa velocidade diferente para aqueles dois. - É tão fácil fazer a coisa errada, então não.... Se parecer errado, não o faça. Está bem? – Ele alcançara uma das mãos da menina, e a tinha sob proteção das suas próprias. - Se parecer fácil, não o faça. – sentiu a intensidade do aperto em sua mão aumentar. - É a menina mais corajosa que já conheci. E coragem, vem daqui. – Ele completou dando dois toques do lado esquerdo do próprio peito. Seguindo-o, e também sem perceber que o fazia, tocou seu peito, sob seu coração, com a mão livre. E num impulso, sentiu que não tivera o suficiente, queria mais tempo, não poderia deixa-lo partir, e por sua vez, não queria ir. Por que razão não poderiam simplesmente continuar naquele lugar, por mais tempo, ou para sempre? Era injusto. Acabara de conhece-lo, e tinha de se despedir. A vida o trouxera, para o tirar dela, mais uma vez. E como talvez nunca viria a fazer novamente, , conscientemente, soltara sua mão que ainda era segura por Sirius, erguera os braços e os transpassara pelo pescoço de Black. O abraçou. E ele, quando tomou ciência do que a menina acabara de fazer, o devolveu, abraçando-a.
- Quando vou lhe ver de novo? – Ela cochichou.
- Logo. – Garantiu Sirius, com a voz embargada. - Nunca se esqueça do que conversamos, não se esqueça do que eu lhe disse.
- Eu não vou.
Quisera prolongar aquele momento pela eternidade, mas tão logo este pensamento invadiu sua mente, uma voz, que infelizmente, ela conhecia muito bem, ecoou pela casa.
- ? – Chamava. - Eu espero que esteja viva. – Sabia que subia as escadas, pelos degraus que rangiam numa melodia fúnebre. - Porque eu vou te matar. – E conforme dito, escancarou a porta com um chute. Revelando sua identidade. A qual, àquela altura, já não era surpresa para nenhum dos que o aguardavam. Mas, caso reste alguma dúvida, era Stefan Kane. - Ah, aí está você e... – Stefan caminhara na direção de , não dando a menor importância quanto as outras figuras, ao menos, não até seus olhos encontrarem com a imagem do homem por cima do ombro de . – Wow, ohhhhhh!!!! – Stefan gritara audivelmente, dando incontáveis passos na direção contraria, o mais longe possível que aquele pequeno e encardido cômodo permitia. - SIRIUS BLACK, É SIRIUS BLACK, É... NÃO... – Ele gaguejava, seus lábios tremiam, assim como a mão da varinha, por um momento, Stefan Kane esquecera-se de quem era, de que era um bruxo adulto, treinado para enfrentar situações sem solução, contra bruxos e criaturas piores que ele próprio. Não se lembrava que podia matar uma pessoa de 84 formas diferentes. Sucumbira ao pânico de encontrar o foragido de Askaban, vivo, parado a sua frente, e sem nenhum dementador ou grades entre ambos. - , vem já para cá. – Fazia movimentos com a mão, abanando o ar, indicando o seu lado, para que a menina viesse até ele, porque, era evidente que Stefan não conseguiria se mover tão cedo, devido ao recente surto. - Será que sabe ao lado de quem está? – Perguntou com a voz esganiçada, alguns decibéis mais aguda. - Você realmente faz de tudo pra me fazer perder esse emprego. – quis rir da aflição de Stefan, mas a situação não lhe permitia. - Dumbledore! Não vai fazer nada? – O diretor encarava-o como se já esperasse tal reação. - ! – Sem resposta de Alvo, Stefan logo voltou-se para a menina novamente, era a única coisa que impedia de aparatar para longe daquele show de horror. Não poderia ir sem . - Eu não vou repetir. Eu... Eu vou... Eu, é... Askaban... Dementadores... – Ele gaguejava. - Eu vou chamar os dementadores... – Sirius dera um passo na direção de Stefan, e ele ergueu a varinha ainda mais alto, apontando para o peito do prisioneiro. – NÃO! – Gritara. – Não se aproxime. – Stefan segurava a varinha com as duas mãos, e tremia compulsivamente. Aquelas eram duas coisas que ele sempre dissera a para nunca fazer. É. Parece que o jogo virou não é mesmo? - Não sei o que você tem com Dumbledore, não é da minha conta, mas eu vou levar a garota, ela não tem nada a ver com nenhum de vocês... – Aquela altura, ele apontava a varinha contra o rosto de Sirius. - Só me deem a garota. – Pediu. E comoveu-se quanto a honra de Stefan para com ela, considerou realmente ir com ele. - Ninguém precisa sair machucado. – Seria uma afirmação que soara mais como uma pergunta. – Ah, Merlim, por que é que eu estou negociando com o foragido de Askaban? – E da mesma forma que surgira, desaparecera. Stefan sacudira a cabeça de um lado para o outro algumas vezes, emitindo sons estranhos, e fagulhas avermelhadas de sua varinha. Redobrando o controle sobre si mais uma vez. Com um sorriso enviesado, e uma expressão de quem não estava para brincadeira, ele assumira o comando. E estava irritado.
Stefan tinha a varinha empunhada, a mão já não tremia, em seus olhos, labaredas de fogo dançavam, e a ponta da varinha de salgueiro e coração de dragão.
- Expelliarmus. – A varinha do mercenário voou desenhando um arco no ar e pousou na mão de Dumbledore.
- Mas que porra é essa? – Bradou Stefan. Aproximando-se do diretor de Hogwarts com cara de poucos amigos, literalmente, afinal, ele não tinha amigos. Ou ao menos, era o que alegava.
- Tornara-se um ritual de praxe dizer aos recém-chegados para não entrarem em pânico com o que virão a encontrar na Casa dos Gritos. – Então era lá aonde estavam. O túnel levava para além dos limites de Hogwarts, até o vilarejo de Hogsmeade. perguntava-se mentalmente se os gêmeos Weasley tinham conhecimento daquela passagem. E tão logo afastou o pensamento, antes que fosse tarde demais, e sua mente se voltasse apenas a seu Weasley favorito. - Recomponha-se, Sr. Kane.
- A minha varinha, Dumbledore, a minha... – Começou o ex-autor, mas foi interrompido.
- A terá de volta quando deixar de ser destrutivo. – Alvo fez um movimento de mão, indicando que Stefan se acalmasse devidamente. - Agora, Srta. . – Chamou a menina bem ao tempo em que esta redobrava ciência de seus pensamentos, ao menos, por ora. - Creio que não se possa adiar o inevitável, você deve partir com Stefan Kane, sim?
- Tem certeza disto, Dumbledore? – Sirius tinha o lábio torcido, contrariado com o que era sugerido pelo diretor. - O garoto parece um tanto descontrolado.
Dumbledore sorriu.
- A menina causa isso a ele. – O que não deixava de ser verdade. – Stefan é um dos bruxos mais talentosos que conheço. – Também não era mentira. - Já não é sem tempo, Srta. . – Dumbledore estava a sua frente, com uma mão em seu ombro e um olhar consolador preso ao rosto. - Vão, Stefan Kane é agora fiel a seu segredo.
Ela assentiu, mesmo que contra a sua vontade. Estava cabisbaixa. Sentia o olhar de todos voltada a si. Se fosse para partir, que fosse sem despedidas constrangedoras. Odiava ter que dizer adeus. E como se lesse seus pensamentos, Sirius levantou seu rosto pelo queixo da menina, suas mãos deslizaram até as bochechas dela, e por uma última vez, admirou aquele par de olhos, não havia mais nada de sombrio neles, eram azuis feito o céu ao meio-dia, eram olhos de ressaca, como o mar agitado numa manhã fria, eram olhos do tipo que te puxavam para dentro e não deixavam mais sair. Poderia se afogar dentro daqueles olhos. Olhos, estes, tão iguais aos seus próprios. Black aproximou-se de até que seus lábios tocassem a testa da menina. E assistiu-a partir.

* * *


- Esse lugar é mal-assombrado, sabia? – Stefan tentara quebrar o silencio. Como havia feito em algumas outras tentativas frustradas, todas sem êxito. A menina continuava tão calada quanto quando entraram no caminho secreto de volta a Hogwarts, em primeira estância. Desciam as escadas com o bruxo à frente e fechando o pequeno cortejo. Não queria falar. Voltar ao túnel foi difícil. Principalmente com as lembranças, tão recentes, de como e por que entrara lá em primeira estancia. – Você sabe o que isso significa, não sabe? – Perguntou Stefan abruptamente a enquanto faziam seu lento progresso pelo túnel. E a menina soube de imediato que ele não mais fazia eloquência a casa dos gritos.
- Não tenho certeza. – E realmente não o tinha.
Os dois não se falaram mais até chegar ao fim do túnel.
Stefan saiu à frente, e imobilizou o Salgueiro Lutador com um feitiço, ao qual não prestara atenção. Seu corpo poderia estar presente, mas sua mente estava longe. Além do túnel infinito. Da Casa dos Gritos. E de um quarto pequeno e imundo.
Os jardins recebiam os últimos raios de sol, antes que esse sumisse no horizonte, haviam luzes distantes das janelas do castelo. E ainda sem dizer uma única palavra. Eles começaram a andar. Em silêncio eles avançaram, contornavam a orla da Floresta Proibida. não sentia medo. Não sentia nada. Parecia oca, com esta ausência de sentimentos. E pensava em como seria possível. Talvez, tivesse sentido tanto, em tão pouco tempo. Que tivera uma sobrecarga de emoções. Por Merlim, que perdurasse a vida toda.
- . – Stefan quebrara o silencio, mais uma vez. - Você está muito estranha. Quer dizer, mais estranha que o normal. E eu estou começando a ficar preocupado.
Sem resposta, e com uma sobrancelha arqueada, ele prosseguiu.
- Normalmente sei que seu silêncio é por pensar demais e algumas muitas vezes por não precisar de palavras para se comunicar. – E naquele momento, ele puxou-a pelo braço, fazendo com que parasse de andar e o encarasse pela primeira vez desde que deixaram a Casa dos Gritos. – E esse teu silêncio com essa cara melancólica não se encaixam com o que eu sei de você. – Stefan respirou profundamente antes de continuar, era difícil para ele, não era de falar sério, principalmente com a menina , o relacionamento de ambos era baseado em piadas e xingamentos, um contra o outro. Como poderia ser austero com ela? Ainda mais, naquele momento. - Nós não somos os melhores amigos do mundo, de jeito nenhum, nem nunca seremos e você sabe porquê. – “Eu não tenho amigos”. Lembrou-se de ouvir Stefan repetir aquela mesma sentença a ela, incontáveis vezes nos últimos anos. - Mas isso não quer dizer que não me preocupo com você, quer dizer, eu lhe conheço a sua vida toda, praticamente. – Ainda era muito difícil para ele falar com franqueza a ela. Será que não poderia emendar nem mesmo um pequeno insulto e desmoralização contra ? - E você nunca mais vai ouvir essas palavras saírem de minha boca, mas isso, infelizmente, me fez criar certa afeição por você. – “Está bem, agora eu definitivamente preciso ofender essa garota!” Pensava, e já tinha toda uma afronta idealizada em sua mente, mas sua boca acabava por fazer o contrário. - Eu não preciso dizer porque você sabe que pode confiar em mim. – Precisou respirar fundo antes de continuar. Sua voz diminuiu, e se não estivessem sozinhos, somente contando com os sons das criaturas da Floresta Proibida, que se perdiam no ar, talvez a menina não tivesse como ouvir. - Me diz o que aconteceu naquele quarto, me diz o que Sirius Black fez com você, ou pelo menos, me diz o que eu faço para te ajudar? – E então entoou. - Eu faria qualquer coisa.
- Sirius Black – Aquele nome produziam um gosto diferenciado em sua boca - Ele não é quem todos pensam. – Confidenciou. Sem encara-lo.
- Claro que não. – Levantou o rosto, confusa com o que ouvia do mercenário. - Ele é muito pior. – Stefan emendou.
- Você não sabe o que está falando, Stefan. – balançava a cabeça negativamente, em desacordo com os ideais do outro.
- Você enlouqueceu? – Bradou. - Quanto tempo ficou na casa dos gritos? Que tipo de lavagem cerebral ele fez em você? – E ele a encarou, a estudando meticulosamente por um segundo inteiro, sua mente era astuta, e não precisaria de mais do que aquele curto intervalo de tempo para pensar e agir. - Você está sob a Maldição Imperius, não está? – Aquela indagação surgiu feito um soco no estomago para . - Black está controlando você. – Stefan supôs, criara um cenário em sua cabeça, com respostas as quais ele poderia acreditar, em descrença com o que a menina lhe dizia. - Eu juro vou matá-lo. – Num ímpeto, ele deu passos longos e rápidas na direção contrária, no sentido do caminho que o levaria para a Casa dos Gritos.
- Stefan, pare. – o alcançou, agarrou-lhe pelo braço e fizera esforço com os pés contra o chão gramado dos jardins de Hogwarts, para que ele parasse. Não é preciso dizer que não funcionou. Stefan tinha o dobro de seu peso e tamanho. Ele agora, além de caminhar, seguindo o mesmo ritmo, também arrastava a menina atrás de si, que ainda não lhe soltara o braço. - Por favor – Suplicou, e numa última atitude desesperadora, jogou-se contra a grama, levando Stefan a se desequilibrar, o que fora a deixa para que puxasse-o para se sentar a seu lado. E ele assim o fez. Contra a sua vontade. Diga-se de passagem. - Dumbledore estava lá, você acha mesmo que ele compactuaria com Sirius se ele fosse realmente o monstro que todos dizem? – Ele dera de ombros.
- , eu o vi com meus próprios olhos em Askaban! – Exclamou. - Mesmo que não o tivesse feito, ainda não acreditaria que ele não é o que é. – Sua voz aumentara alguns decibéis. - E isso me faz pensar nos seis anos de minha vida, e da sua também, aos quais me dediquei a lhe ensinar tudo o que sabia sobre magia; lhe ensinei feitiços, encantamentos, maldições; lhe ensinei sobre os inimigos de Bruce, e até mesmo a arte das trevas; lhe ensinei a lutar e a se defender. – Fez questão de lançar-lhe um olhar soturno antes de completar. - Eu até mesmo lhe ensinei a matar. – A menina sentiu os pelos de seus braços eriçarem com a imagem daquela lembrança. - E me lembro muito bem que fui eu quem lhe ensinei sobre Dementadores e conjurar um patrono, você sabe o que essas pestes fazem em Askaban, eles sugam toda memória, sentimento e até pensamentos com o menor teor de felicidade. Nada escapa a esses monstros. Nada. – Frisou. - Para um bruxo são, pode-se levar menos que um mês, para que ele enlouqueça completamente. Imagine então, o que se pode acontecer em 12 anos? – Ele bagunçara os cabelos e coçara os olhos, em sinal de nervosismo. - Há um ano, eu estive em Askaban a mando de seu pai, o ministro Fudge também estava por lá, de passagem, me viu e veio conversar, como se eu gostasse dele ou ele de mim. – Dera de ombros. E realmente, Fudge poderia até ser o ministro da magia, mas era um ser humano intragável. - E ele falou sobre Black. – Aos poucos, a menina engoliu o pesar daquele nome como se fosse pó de café amargo. - E como estava assombrado quanto a suas atitudes, disse que haviam papeado, e que o prisioneiro até mesmo pediu o Profeta Diário que Fudge carregava. Eu não acreditei e fui tirar a prova. – rolou os olhos em meio a crescente desconfiança de Stefan. Mesmo ela lhe garantindo do contrário. - Black estava com o jornal que Fudge mencionara, ele lia e murmurava palavras desconexas, andando de um lado para outro em sua cela, mas em comparação aos outros prisioneiros, e tirando toda a sujeira, poderia dizer que ele parecia normal. – Tentou imaginar Sirius em uma cela em Askaban, inteiramente só, e sentiu um aperto no peito. - Então ele me viu, e eu nunca vou esquecer. – A visão de Stefan pareceu escurecer. - Sabe o que ele me disse? – tinha os globos oculares arregalados ansiando que ele prosseguisse. – Ele proferiu cada uma dessas palavras, nesta exata ordem, "mande saudações a Bruce por mim". E eu mandei seu recado a Bruce, sim, e semanas depois Black foge de Askaban. – Pausa dramática. - De repente, Bruce me pede para acompanhá-la a Hogwarts, e eu, feito um trouxa, ainda perguntei "mas ela não estuda em Beauxbatons”? – poderia presumir que Bruce não soubesse onde ela estudava, mas jamais achou que Stefan saberia. - É mais comum do que você poderia imaginar ele fazer esse tipo de confusão. E é claro que você ainda não sabe, mas a resposta pela qual você tanto me atormentou durante nossa viagem o Norte da Grã-Bretanha, bem, é apenas uma, e você a chama de “mãe”. – Oh, como queria poder dizer que não esperava por isso. Do momento que recebera a notícia que não voltaria para o Sul da França em Beauxbatons para o próximo período letivo, seu primeiro pensamento fora exatamente o que lhe era revelado naquele momento, somente mais uma forma da mãe de tornar-lhe a vida um pouco mais miserável. - Ela a queria você sob proteção de Dumbledore e convenceu Bruce disso com seus argumentos de que o único bruxo que Sirius Black sempre temeu fora Alvo. – E tivera que completar em meio a expressão de choque no rosto da menina. - Até mesmo Bruce é esperto o suficiente para recear Black. - Stefan tinha a sobrancelha arqueada, conforme analisava o semblante de . - E você? Acha coincidência? – Ela não respondeu. - Ele estava atrás de você, . Isso está obvio para mim. – Stefan tinha essa capacidade irreconhecível de por meio de um olhar desvendar toda uma sentença. Era o que o diferenciava de muitos no seu ramo. O que o tornava único. E extremamente perigoso. - Eu não sei como, ou porque, mas meu instinto me diz isso. E ele nunca se mostrou impreciso antes.
Nunca.
- Pois pode continuar a confiar em seu instinto. – Começou, . - Não vou negar, ele realmente estava atrás de mim. – Confirmara dando de ombros.
- Não venha com seu sarcasmo numa situação dessas. – Stefan vozeou. Estava inquieto. - Você não faz ideia nem da metade do que sei de Black.
- Eu sei os que ele não fez.
- Por Merlim, , você não é uma trouxa. – Pegou-a pelos ombros e não deixou que seu olhar fugisse ao dele, queria sondar suas expressões faciais, procurando qualquer sinal que condissesse com o que buscava. - O que aconteceu na porra daquela casa? Você não é assim.
- Não sou. – Consentiu. - Eu realmente não sou a mesma que lhe recebeu esta manhã. Nem sou a mesma que você conheceu há tantos anos atrás. – A testa enrugada de Stefan era o sinal de sua frustração por não entender do que a menina falava. - Tudo o que eu era baseava-se numa mentira. Eu não me sinto mais a mesma.
- O que aquele psicopata fez a você? – Silencio. - Eu não vou compactuar com esta loucura. – Ele disse, balançava a cabeça, negando. - Eu vou atrás dele. – Levantara-se.
- Stefan. – pediu alcançado a mãe dele e segurando-a, de forma que ele normalmente cedia a ela. Mas a seus assuntos frívolos. Aquele era um momento de seriedade. Como nunca havia sido antes. E tudo o que o mercenário fizera fora soltar sua própria mão.
- Volte para o castelo, , procure Severo Snape, ele ainda é diretor da Sonserina, acredito eu, peça para que ele lhe mande pra Bruce, ele não vai contestar.
- Stefan, não. – Clamou. - Stefan! – Ele começara a se afastar dela, com passos inseguros e punhos fechados.
- Faça o que eu mandei.
- Não! – Ela correra até ele, parando a sua frente, com os braços erguidos contra seu peito, numa fracassada maneira de abordá-lo.
- Está bem, é assim que você quer jogar? – Kane bufara. - Então vamos, , me diga, me dê uma única razão, me convença de porque eu não devo matar Black agora mesmo? – Ele lhe dera uma oportunidade, não poderia deixar aquela chance esvair-se, não queria ver uma batalha sendo travada, principalmente por aqueles dois. Tinha de agir. Precisava fazer algo. Estava exausta. O que poderia surtir efeito em Stefan Kane? Àquela altura ele estava suficientemente irritado. Diria até mesmo que chegara a seu limite, bem, não estaria muito diferente dela própria. E foi com este pensamento, e com seu corpo formigando, que soltou...
- Ele é meu pai, idiota. – E antes que pudesse se dar as palavras já haviam pulado para fora de si. - Sirius. – Murmurou. - Sirius Black. – Repetiu. - Sirius Black, meu pai.


Capítulo 19


- Sirius é meu pai. – Voltara a repetir, de forma que, quanto mais proferisse aquelas quatro palavras em voz alta, mais essas se confirmariam. – Sirius, tenho de vê-lo. – Àquela altura, já havia se levantado, seu rosto na direção a qual deveria seguir, retroceder, precisava voltar, precisava encontra-lo, uma última vez que fosse. Somente precisava. - Preciso dizer, preciso que saiba. - E saiu em disparada.
Stefan, permanecera atônito, o que para ele significavam dois segundos perdidos assistindo o surto psicótico da menina . Ela não dissera muito, suas frases murmuradas eram desconexas e se fosse analisa-las sabia que chegaria numa resposta a qual não seria nada agradável. E quando percebeu que a menina já se distanciava há uns bons metros a sua frente, Kane, que ainda estava sentado à relva, levantou num pulo.
- Você perdeu completamente o juízo? – Gritou. E sem nenhuma resposta da parte da menina. Ele olhou para um lado, para o outro. Ninguém. Bateu um dos pés contra a grama, insatisfeito, e fez a única coisa que poderia fazer, foi atrás dela. Não sem antes xingar alto, é claro. – Menina, maluca.
Àquela altura, sua distância em comparação a , já não era mais de anos luz, estava apenas alguns passos atrás dela, poderia morrer naquele exato momento se já não conseguisse alcançar uma adolescente de treze anos na corrida.
Mesmo aquela pequena distância, não lhe embasbacava a visão das feições coradas e respiração entrecortada da menina. Também não lhe escapou os olhos úmidos, e as lagrimas que corriam por seu rosto.
“Não”, pensou. Ela chorava. A constatação o fizera diminuir seu ritmo, e os poucos passos que o distanciavam de , se tornaram muitos. Não era bom com sentimentos. Gostava inclusive de acreditar que nem ao menos os possuía. Era oco de emoções. E mesmo assim, aquela garota, a quem conhecera por toda a curta vida dela, ela sentia e parecia sentir três vezes mais que todo o mundo.
Feito um raio de autoconhecimento, um lampejo de constatação reluziu por toda a mente de Stefan Kane.
E então, ele percebeu.
E então, ele soube.
A menina falava a verdade.
E brilhando, feito uma arvore de natal, vislumbrou a imagem de um assassino condenado, ao seu lado, havia um ser angelical, cujo nome, sempre causara a Stefan um certo desconforto, inúmeras noites sem dormir, e uma patética condição de proteção. A qual deveria dar a sua vida, pela dela. E realmente o faria, sem contestar. E aqueles dois seres, tão diferentes um do outro, distintos por todos os ângulos, aqueles dois seres, cujo denominador comum, estivera todo o tempo estampado em seus rostos, e eram azuis, feito o céu numa manhã de verão.

* * *


Ainda corria. Se perguntava quanto tempo mais iria suportar? Como seria possível? Não queria que sua mente voltasse ao mesmo questionamento, as mesmas hipóteses, mesmas sentenças... Não queria retroceder novamente, era doloroso, e não tinha certeza sobre quanta magoa ainda seria capaz de carregar.
Aquelas quatro palavras.
Por Merlin, martelavam sua cabeça havia tanto, para ser mais exata, desde que descobrira que seu digníssimo “animal de estimação” selvagem, seu Cão negro, não era quem pensara que fosse. As portas da percepção abriram-se para , num vislumbre, tudo o que acreditava, todas suas certezas, toda uma vida, já não lhe pertenciam mais.
Fora tudo uma mentira. Uma grande mentira. E de todos os personagens que formavam o cerco desta lorota, todos coadjuvantes, fora ela, a que mais sofrera com tudo isso. Num passado, não tão distante, tornara-se mestre na arte de afugentar suas piores provações bem lá no fundo de sua mente. Agora, porém, não poderia fazer o mesmo. Não, quando tudo parecia finalmente se encaixar.
Quem há de dizer que o equilíbrio, ao qual a menina ansiara por toda uma vida, viria a partir de um assassino condenado. Aquele era o tipo de coisa que só acontecia com . Sabia que deveria temer por isso, quer dizer, seria como sua mãe lhe dissera? O nome Black carregava uma maldição? Acabaria sendo enxotada pela comunidade bruxa, caso descobrissem sua verdadeira linhagem? Quantas suposições. Quanto estardalhaço. E pelo o que? Aquela era sua mente trabalhando, contra ela própria. Já deveria ter se acostumado a isso. Mas a verdade era que, havia muito que não sentia mais medo. Poderia suportar qualquer coisa. Qualquer coisa. Sabia disso. Só o que não aguentaria, seria não ver Sirius Black, por uma última vez, sem dizer o que tivera guardado dentro de si. Todo aquele tempo.
Ainda corria. Os jardins estavam muito escuros, e as únicas luzes vinham das janelas distantes do castelo de Hogwarts. A menina tinha a copa do Salgueiro Lutador em seu campo de visão, e se aproximava mais a cada segundo, mesmo que suas pernas reclamassem e seu musculo tremesse ocasionalmente.
Quando tivera certeza de estar percorrendo os limites do Salgueiro, esperando pelo ruído de galhos ferozes, e xingando-se mentalmente por ter perdido o encantamento que Stefan Kane usara para imobilizar a arvore, mais cedo. De todo jeito, o tronco não se mexera. E em meio a escuridão, pode ver, claramente, as figuras que circundavam o buraco entre as raízes que dava passagem para o túnel e este até a Casa dos Gritos.
Há menos de três horas, ela estivera na mesma posição que agora se encontravam personalidades tão esquisitas e mal selecionadas. Diminuíra o ritmo e conforme se aproximava, tomou o devido cuidado para se misturar as trevas e não dissipar som algum. Silenciosa feito um gato. Estava tão perto. Mas quase parou, quando avistou Harry Potter e Hermione Granger saindo pelo buraco. Seu coração bateu ainda mais rápido, suas pernas quase pararam. Porém. Como se tivesse ficado para trás, surgindo por último, com as roupas sujas, o cabelo enorme, tão pálido quanto a lua cheia aquela noite. Sentiu o coração parar quando se deparou com Sirius Black.
Ainda corria. E sem deixar escapar o menor barulho. Talvez tivesse alcançado Sirius, sem que ninguém a percebesse. Talvez tivesse conseguido. Mas deixou-se esquecer de que era seguida, e diferente dela, ele não tinha o menor problema quanto a ser ouvido.
- . – Stefan Kane bradou. – Você faz de tudo para eu perder esse emprego. Sem dizer uma só palavra, e todos, sem exceções, com expressões num misto de surpresa e assombro no rosto, assistiram terminar sua corrida, cujo ponto de chegada, eram os braços do temido prisioneiro de Askaban.
- ... - O rosto ossudo de Black se abriu no primeiro sorriso verdadeiro que já o tinha visto dar. A diferença que fazia era espantosa, como se uma pessoa dez anos mais nova se projetasse através da máscara de fome. – Você voltou.
- Sirius... – , por sua vez, num reboliço emocional e com a voz embargada, usando de toda sua força de vontade conseguiu dizer aquelas quatro palavras que estiveram engasgadas dentro de si até então. Disse num sussurro para que somente ele pudesse ouvi-la. Aquele era um momento que era somente dos dois. – Você é meu pai.
Os braços de Black a apertaram com mais força contra seu peito.
- Nunca fui muito de sonhar, mas tenho certeza que nem mesmo em meus melhores sonhos imaginei um momento como esse. – sentiu algumas gotas caírem-lhe pelo rosto, o que era estranho por não garoar naquele momento e como logo viria a descobrir, o fio de agua que trilhava um caminho escorrendo por sua face, eram lágrimas. Lagrimas de Sirius Black. – Eu vou limpar o meu nome, serei um homem livre mais uma vez, . – Disse Black abruptamente. – Naturalmente, eu vou compreender se você não quiser, mas.... Bem... pense nisso, se você quiser uma... uma casa diferente.
Uma espécie de explosão ocorreu no fundo do estômago de .
- É o que? – se soltou de Black em euforia. Ele não parecia ter compreendido a exaltação da menina, sentia que havia dito a coisa errada. – Eu? Morar com você?
- Eu só pensei que...
- É claro que eu quero. – tinha a voz quase tão rouca quanto à de Sirius Black naquele momento.
- Você quer? – Perguntou ele, serio. respondeu com um movimento de cabeça. Não que fosse necessário, principalmente, pelo tamanho do sorriso que não lhe deixava o rosto. – Quando esse pesadelo terminar, quero que todos saibam, eu direi a todos, que sou pai.
Várias exclamações se seguiram ao último comentário de Sirius Black.
- Como é que é?
- Não pode ser...
- Almofadinhas...
- Você ficou maluco?
- ...

O rebuliço cessou com Sirius levantando a mão, pedindo silencio e a palavra.
- É, Aluado, meu velho amigo... – Ele se voltara para Lupin. O professor Remo Lupin encontrava-se junto aquele grupo excêntrico, como pode constatar, e aquela não nem mesmo era a figura mais bizarra. Além de Harry e Hermione, que notara num primeiro momento, estavam Rony Weasley, que tinha uma perna toda enfaixada; outro professor, este sendo o diretor de sua casa, Severo Snape, que estava inconsciente; e por último havia um homem muito baixo, quase do tamanho dela própria, seus cabelos finos e descoloridos estavam malcuidados e o cocuruto da cabeça era careca, tinha o aspecto flácido de um homem gorducho que perdera muito peso em pouco tempo, a pele estava enrugada, e havia um ar ratoneiro em volta do seu nariz fino e dos olhos muito miúdos e lacrimosos.
Ele revezava seu olhar, entre os presentes, um a um, até a varinha do professor Lupin, que apontava de viés para o peito do desconhecido. Ele respirava de forma rasa e depressa. nunca o vira na vida e por mais que o encarasse de soslaio, desejou que não o tivesse feito, aquele homem lhe causava calafrios, não gostava da energia que ele transmitia. E, se não estivesse errada, não era a única com tais sentimentos ao homem muito baixo.
– Acredito que se lembre da última vez que nos encontramos há treze anos atrás? – Sirius prosseguira, ele tinha os olhos em Lupin, e uma mão protetora no ombro de . Ao que se parece, Sirius Black e seu professor de Defesa Contra as Artes das Trevas já se conheciam e se tratavam por apelidos íntimos, levando-se em conta a resposta de Lupin.
- Sim, sim, Almofadinhas. – Assentiu Remo Lupin. – Fora a última memória que tive de você por muito tempo, mas, não era como se você estivesse no seu melhor humor, meu amigo. – Ele continuou, um tanto receoso. – Você, basicamente, andou de um lado para o outro e xingou muita gente.
- Eu queria lhe contar... Mas não conseguia colocar aquelas palavras para fora. – simpatizava com aquele sentimento. – Deve ter pensado que eu estivesse louco. – Ele olhou cabisbaixo para Lupin, apreensivo.
Este, por sua vez, riu.
- Disso eu sempre tive certeza, Almofadinhas.
- Queria ter lhe dito antes, e por um tempo, pensei que nunca mais teria a oportunidade de lhe dizer, mas ao que parece, a vida me deu uma nova chance. – Ele suspirou longamente, e... – E essa é minha filha.
Sirius, ou Almofadinhas, abraçara a menina a seu lado, aquela que agora chamava de filha. , no que lhe concerne, descansou a cabeça sob o peito do pai, atenta a cada badalada de seu coração, pulsando. Vislumbrou pelo canto do olho a aproximação de Remo Lupin, talvez Aluado. Ele levou uma mão até o ombro de Sirius, a outro mantinha-se ocupada, apontando sua varinha contra o homem baixinho que completava o cortejo. Os dois amigos trocaram algumas palavras mudas. E um pouco mais distante, ainda pode ouvir uma voz conhecida...
- Estão olhando o que? – Stefan Kane exclamou. – Essas lagrimas são porque vou ter que procurar outro emprego.
O homem muito baixo, a quem com certeza não ia com a cara nem um pouco, começou a arquejar e choramingar, atraindo atenção de todos.
- Um movimento errado, Pettigrew. – Ameaçou Lupin, àquela altura de frente a ele e com a varinha direcionada ao peito do homem.
olhou para Stefan automaticamente e ele tinha os olhos tão arregalados quanto ela acredita que deveriam estar os seus próprios.
- Esse não pode ser... – murmurava.
- Não... – Stefan negara, balançando a cabeça de um lado para o outro, como que tentando espantar aqueles pensamentos.
e Stefan Kane ainda não sabiam disso, mas suas indagações nunca chegariam a ser respondidas. Uma nuvem se mexeu. E inesperadamente surgiram sombras escuras no chão. O grupo foi banhado pelo luar. pode sentir Sirius Black congelar ao seu lado. Ele esticou um braço para fazer a menina ficar atrás de si, ela obedeceu e pode perceber que Stefan fazia o mesmo com Harry, Rony e Hermione. Ambos, os mais velhos, tinham seus olhares fixados à frente, na direção do professor Lupin. E, pela segunda vez naquele dia, desejou que nunca o tivesse feito, quando vislumbrou a silhueta de Remo Lupin, suas pernas começaram a tremer compulsivamente.
- Ah, não! - Exclamou Hermione, do outro lado, afundando as unhas num dos braços de Stefan, que, por sua vez, estava tão perturbado com o que via, que nem ao menos pareceu se importar. - Ele não tomou a poção hoje à noite. Ele está perigoso!
- Puta que me pariu! – Stefan gritara, quando juntou a explicação de Hermione ao fato de que o professor de Hogwarts transformava-se em Lobisomem bem a sua frente.
- Corra. - Sussurrou Black. – Corra, agora.
Mas não podia correr. Ir e deixa-lo? Outra vez? Como poderia?
Harry Potter deu um salto para frente indo na direção de Lupin, que ainda tinha Pettigrew acorrentado, Stefan, prevendo o desastre, o alcançou e puxou-o pelo colarinho das vestes, Harry se desequilibrou com o impacto, e vinha caindo, mas Black o abraçou pelo peito e o atirou para trás.
— Deixe-o comigo... CORRAM!
Ouviu-se um rosnado medonho. A cabeça de Lupin começou a se alongar. O seu corpo também. Os ombros se encurvaram. Pelos brotavam visivelmente de seu rosto e suas mãos, que se fechavam transformando-se em patas com garras. O Lobisomen se empinou, batendo as longas mandíbulas.
- Incarcerous. – Stefan lançou um feitiço que imobilizava o adversário, contanto, é claro, que este fosse humano, o encanto ricocheteou.
- TIRE TODOS DAQUI! – Sirius gritou para Stefan, e no mesmo segundo, desapareceu do lado de . Transformara-se. O enorme cão negro, semelhante a um urso saltou para frente. Quando o Lobisomen se livrou da algema que o prendia, o cão agarrou-o pelo pescoço e puxou-o para trás, afastando-o de todos. Atracaram-se, mandíbula contra mandíbula, as garras se golpeando...
- Impedimenta. – Stefan, indo contra ao que Black acabara de lhe pedir, estava perigosamente próximo a batalha travada entre cão e lobo, tentando ajudar. Mas seus feitiços continuavam a ricochetear o alvo.
-Mobilicorpus. – Ele lançou todo o tipo de feitiço que pudesse imobilizar o Lobisomem. De forma que Lupin não viesse a sofrer quando em sua forma humana outra vez. Nenhum tivera o menor efeito contra a criatura.
- Sectumsempra. – Cansado e, nunca viria admitir em voz alta, nem para si mesmo, um tanto assustado com a situação. Em parte, por nunca ter lidado com um Lobisomem adulto na Lua Cheia antes ou talvez por estar perdendo a justa. Mais do que rápido, ao perceber que alguém, no caso Sirius Black, poderia sair gravemente ferido pelo Lobisomem. Stefan mudara sua tática, de “Stefan amigo de todos”, para “Stefan não vai morrer hoje”. E então...
- Perfurus. – A maldição, como bem sabia, havia sido criada pelo próprio Stefan Kane.
Aquele era um feitiço que levara muitas vítimas inocentes, era a vergonha e ao mesmo tempo o triunfo do mercenário. Era complicado, de forma que sugava toda sua energia; era sigiloso, nunca o conjurara senão como feitiço-mudo; e acima de tudo, era fatal.
A maldição penetrava o corpo do oponente, perfurando-o de um lado e saindo do outro, e poderia levar a uma morte derradeira, dependendo onde atingisse. Stefan, particularmente, não gostava nem um pouco de usar sua maldição, era seu movimento mais desesperador, quando não tinha outra possibilidade. E qual melhor do que quando estivesse prestes a ser morto?
A maldição atingiu o Lobisomem, Remo Lupin, no ombro, e o sangue começou a jorrar. Num minuto, a pelugem acinzentada da criatura, encontrava-se num vermelho vivo.
parou petrificada com a visão, e sabia que não era a única, ao seu lado, Harry Potter tinha a respiração entrecortada e varinha empunhada, ambos demasiado absortos com a batalha para prestar atenção em outra coisa. Fora o grito de Hermione que os despertou. Pedro Pettigrew, o homem baixo e gordo, tinha mergulhado para apanhar a varinha caída do professor Lupin. Rony, mal equilibrado com sua perna enfaixada, caiu. não sabia o que Pettigrew, que havia há anos sido dado como morto, pelo próprio, bem, por seu pai, estava fazendo naquele cortejo. Coisa boa é que não era. De alguma forma sabia que precisava detê-lo e acorrenta-lo mais uma vez. Correu para junto de Harry Potter, queria ajudar.
Houve um estampido, um clarão... e Ronald Weasley estava estirado, imóvel, no chão. Outro estampido... A varinha de Hermione voou pelo ar e tornou a cair na terra fofa.
- Expelliarmus. - Berraram e Harry, ao mesmo tempo, desarmando Pedro Pettigrew.
Harry ainda tinha a própria varinha apontada para Pettigrew; a varinha de Lupin voou muito alto e a agarrara, ainda no ar, quando esta passara por cima de sua cabeça.
- Fique onde está! – Harry gritou, correndo em frente, na direção de Pedro.
Era tarde demais.
E quis poder arrancar seus olhos fora de suas órbitas, uma vez que, naquele momento, aquele homem pequeno e feioso, se transformava num rato, a menina ainda assistiu quando o rabo pelado passou pela algema, que antes prendia-o pelos braços, e o ouviu correr pelo gramado.
Um uivo e um rosnado prolongado e surdo ecoaram.
se virou e deu de cara com o Lobisomem fugindo; galopando para a floresta Proibida.
- Sirius, ele fugiu, Pettigrew se transformou – Harry berrava.
jamais sentira-se mais impotente do que naquele momento. Sirius Black sangrava, ela podia ver os cortes profundos em seu focinho e nas costas brilharem sob a maldita luz do luar. Ao ouvir as palavras de Harry ele tornou a se levantar depressa e, num instante, o ruído de suas patas foi morrendo até cessar ao longe.
Harry e Hermione correram para Rony.
E correra na direção de Sirius. E continuou a correr, inclusive quando fora levantada no ar, por Stefan Kane, que a interceptara antes que a menina pudesse continuar. Ele a pusera num ombro, e logo se arrependera do ato. começara a se debater, feito um peixe recém capturado. E era exatamente como se sentia naquele momento.
- Temos de ajuda-lo, Stefan, é Sirius, eu tenho de...
- A única coisa que eu vou fazer agora é te manter em segurança, sua maluca. – Seu tom era furioso. – Você quase nos matou três vezes hoje, eu fui atingido na cabeça pelo Salgueiro Lutador, eu tive um encontro com o foragido de Askaban, com um Lobisomem que quase me fez cagar nas calças.... Até o ministro da magia você me fez ver hoje. – Ele enumerava os incidentes mágicos daquele dia nos dedos. – Eu não sei se você percebeu, , mas eu cheguei no meu limite.
De tanto a menina se debater, vencendo-o pelo cansaço, ele a pôs no chão, mas ainda tinha um braço bem seguro por suas mãos pesadas.
- Ele é meu pai, Stefan.
- Cala a boca, cala-a-boca. – Ele apontava um dedo contra ela. – Agora vem comigo, ou eu juro, pela varinha de ouro do seu pai, bem... do Bruce, ou, ah, você me entendeu. – Stefan respirou fundo, tentando se acalmar, e falhando miseravelmente. – Não tem mais nada que possamos fazer aqui, . – Ele sussurrou, esgotado.
- Enquanto eu puder fazer algo para ajuda-lo, eu vou. – Com Stefan baixando a guarda, e cessando o aperto em seu braço, se soltou dele, se soltou e correu.
- Você vai acabar se matando. – Ouviu Stefan, sua voz sumindo, assim como ele. Não fora atrás dela.
- Então vou morrer pelo o que é certo. – Seu último vislumbre fora de Stefan Kane tombando sob seus joelhos e Hermione correndo até ele, enquanto o bruxo desmaiava, exausto.

* * *


Para além do seu campo de visão, ainda podia ouvir os latidos de um cachorro em sofrimento...
- Sirius — murmurava, olhando para o escuro.
Outro ganido.
Sirius Black estava em apuros.
sentia a respiração falhar. Seu peito doía, do lado esquerdo, como se cutilassem seu coração com um punhal afiado. Os latidos continuaram e pareciam vir da área próxima ao Lago Negro, corria o mais rápido que suas pernas poderiam aguentar, mas era como se não saísse do lugar. Nem mesmo sua mente, deveras esgotada, não fazia um de seus jogos psicóticos com . Talvez, a menina pensava, se todos sobrevivessem, nunca mais correria em sua vida. Mais atrás, captou um movimento, houve um farfalhar de folhas, seguido de um suspiro ofegante, e Harry estava em seu encalço, correndo, trocaram um movimento de cabeça, seguiam o mesmo curso, desabalados na direção dos ganidos do cão. iria se lembrar mais tarde daquele momento, ao qual corria sem parar, quando sentiu o frio, sem perceber o que devia significar.
Os latidos pararam abruptamente.
Quando chegaram ao Lago, viram o porquê Sirius se transformara outra vez em homem. Estava caído de quatro, com as mãos na cabeça.
- Nããão - Gemia - Nããão... Por favor...
Então os viu.
Dementadores, no mínimo uns cem deles, deslizando em torno do lago num grupo escuro que vinha em direção a Sirius Black. Harry congelara e ela própria não se encontrava muito diferente, o frio, que não era de gelo, calafrio, ou invernal... Era de morte. Penetrava suas entranhas, de forma a imobilizar todo o seu corpo, a mão, com a varinha empunhada, tremia compulsivamente, e não obedecia a seus comandos. Iriam todos morrer. A névoa começara a obscurecer sua visão, os Dementadores não estavam somente surgindo da escuridão por todo o lado, estavam cercando-os, eles estavam famintos, haviam muito esperado por aquele momento, por Black.
- , pense em alguma coisa feliz! - Berrou Harry, e jurou que ele havia enlouquecido. O menino erguera a varinha, sua ponta brilhava um feixe de luz prateado. E se lembrou. Harry aprendera a conjurar seu patrono. Ele sabia o feitiço do patrono. Estavam salvos. Poderia, inclusive, sorrir se tivesse o controle de seu corpo. E é claro que, pensara cedo demais.
- , me ajude! – Harry gritou. – Expecto Patronum! Expecto Patronum! – Ele piscava furiosamente tentando clarear sua visão, sacudia a cabeça, como se para livrar-se da leve gritaria que começara dentro dela. sabia como era, se sentia da mesma forma, e não só naquele momento.
A menina levantou o punho que segurava a varinha de pelo de calda de unicórnio. “Eu vou morar com o meu pai. Ele é inocente. Ele vai ficar bem”, se forçou a pensar em Black, e somente em Black.
- Expecto... – Murmurou. – Expecto Patronum, Expecto... – Mas ela não conseguia.
- Expecto Patronum! ! Expecto Patronum...
- Harry, me desculpe, eu não... – A voz embargada pelo choro dificultava sua fala. - Eu não consigo, me-meus pensamentos não são felizes.
Os Dementadores estavam mais próximos, agora a menos de três metros deles. Formavam uma muralha sólida em torno de Sirius, e Harry, cada vez mais próximos.
EXPECTO PATRONUM! - Berrou Harry.
E no mesmo instante Black estremeceu, rolou de barriga para cima e ficou imóvel no chão, pálido como a morte. sentiu seus joelhos falharem e baterem contra a grama fria, logo estava prosternada ao lado de Sirius, deitou a cabeça dele sob suas pernas, tentava reanima-lo de todo jeito, sem o menor resultado, ele perseverava inerte, sem vida.
EXPECTO PATRONUM! – E um feixe de luz prateado saiu da varinha de Harry Potter, pairou como uma névoa diante deles.
O nevoeiro nublou os olhos de . Com um enorme esforço, ela lutou para ver sob a luz fraca do patrono disforme de Harry Potter e quando o viu, ele já estava muito perto, tão perto, que somente o que o impedia era a nuvem de nevoa prateada que Harry conjurara. Uma mão morta e viscosa deslizou para fora da capa. Ela fez um gesto como se quisesse varrer o Patrono para o lado.
- Não... Não... - Ofegara Harry. - Ele é inocente... Ela sentia que os Dementadores os observavam, eram muitos, e podia ouvir a respiração deles, que vibrava feito um vento maligno ao seu redor, pareciam estar avaliando-os.
Então, a criatura ergueu as duas mãos podres, e baixou o capuz para trás. Onde devia haver olhos, havia apenas uma pele sarnenta e cinza, esticada por cima das órbitas vazias. Mas havia uma boca. Um buraco escancarado e disforme, que sugava o ar com o ruído de uma matraca que anuncia a morte.
Um terror paralisante invadiu , de modo que ela não conseguia se mexer nem falar. Harry, por sua vez, mantivera a varinha erguida, mas parecia perdido, o nevoeiro branco que o cercava, também o cegou, ele não viu quando seu patrono piscara, e desapareceu. sentiu seus olhos tão arregalados quanto sua boca, ela assistia a tudo, e viu quando um par de mãos pegajosas, de repente, se fechou em torno do pescoço de Harry Potter, forçando-o a erguer o rosto, ele não parecia enxergar, mexia os braços compulsiva e cegamente, tentando alcançar aquilo o que não viu, e que sabia exatamente o que era.
tinha de lutar. A menina levantou-se, segurando o braço de Sirius Black, os Dementadores não iriam leva-lo. Viria a se lembrar daquele momento, como a primeira vez em que se propôs a levantar, obrigando seu corpo a obedecer-lhe e este não veio a queixar-se ou tombar outra vez. Sua mente trabalhava, estranhamente, ao seu favor.
As palavras retumbavam num ciclo sem fim, “Nenhum dos meus amigos vão morrer essa noite”, “Nenhum dos meus amigos vai morrer essa noite”. Era um hino macabro. E era a única fonte de segurança a qual poderia se agarrar naquele momento. Ela não conseguia ver. Ao longe, ouvia gritos engasgados de Harry, mas ele estava ao seu lado, assim como a criatura. Ela sentiu seu hálito, sentiu seu hálito podre. Pensou que a última coisa que ouviria seriam os urros entalados de Harry. Ergueu a varinha o mais alto que pode, e...
- Expecto Patronum! – Berrara.
Da ponta de sua varinha saiu um fiapinho prateado de luz. Não era forte o suficiente, sabia disso, por ora, afastara o Dementador que tentara se livrar de Harry Potter. O garoto despencara de joelhos ao lado de , buscava apoio nela, e o nevoeiro os afogava. Quando o patrono deformado de se extinguiu, soube que estavam perdidos. Soltou a varinha, e a com a mão livre, segurou a de Harry.
Se fosse morrer, ao menos saberia toda a verdade. sentira a morte sussurrar-lhe no pé do ouvido e jurou que a luz prateada que surgia através do nevoeiro pertencia a ela. A Luz se tornava cada vez mais forte. Estava emborcando na grama, Harry ao seu lado, não morreria sozinha, o rosto no chão, demasiado fraca para se mexer, nauseada e tremula. abriu os olhos uma última vez. A luz se tornara ofuscante, iluminava todo o gramado a seu redor. O frio diminuía. Alguma coisa afugentara os Dementadores, que agora giravam em torna dela, de Sirius e Harry, estavam recuando. O ar reaquecia. Não conseguia mais pensar. Deixou que a morte a levasse, como se fossem velhas conhecidas. E desmaiou.

* * *


estava deitada com os olhos bem fechados. Sentia-se tonta. Ouvia ruídos ao longe, que pareciam viajar muito lentamente dos ouvidos para o cérebro, por isso estava difícil compreender. Suas pernas e braços pareciam feitos de chumbo, as pálpebras demasiado pesadas para abri-las. Sabia que não estava em sua cama de dossel, era a segunda vez em muito pouco tempo, que seu subconsciente despertava num lugar ao qual ela não tinha certeza de onde era.
E pela segunda vez, o medo a sucumbira, com o que viria a encontrar quando abrisse os olhos. Preferia ficar deitado ali, naquela cama confortável, para sempre. Não seria ruim. Seus pensamentos quanto a ficar imóvel e não se mexer nunca mais sempre a tranquilizavam de uma forma doentia. Sentiu sua cama afundar para um dos lados e seu corpo pender para o mesmo lado. Não estava mais tão confortável. Soube que seu cérebro voltara a trabalhar quando a sensação dos lençóis em contato com sua pele lhe trouxera a lembrança de quando se sentira daquela maneira antes.
Estava na Ala Hospitalar de Hogwarts.
Surgiu uma sensação desagradável na boca do seu estômago com o enxame de vislumbres das últimas horas; o Cão Negro, hipogrifo, ministro da magia, sua mãe, Stefan Kane, Salgueiro Lutador, lua cheia, rato, nevoeiro, Harry Potter, feitiço do patrono, o frio, Sirius Black.
Abriu os olhos.
De fato, estava deitada na escura ala hospitalar. Sua primeira visão fora a figura de seu leal protetor, que ele nunca a ouvisse chamando-o desta maneira, Stefan Kane que estava numa posição que aos olhos de qualquer outra pessoa pareceria desconfortável, mas que estava bom o bastante para ele, adormecido, com a boca levemente aberta, e segurando a varinha com tamanha intensidade que deixava suas veias aparentes, desenhando contornos sob a pele. Do jeito que fosse, o semblante de Stefan ainda parecia como que moldado pelas mãos de um Deus. Por cima do ombro de Stefan, em um extremo da enfermaria, avistou Madame Pomfrey de costas para ela, curvada sobre um leito. Eram visíveis cabelos ruivos por baixo do braço de Papoula. Virou a cabeça no travesseiro, e do outro lado, sentado aos pés de sua cama, sendo banhado pelo luar, encontrava-se Alvo Dumbledore.
- Já não era sem temp,o Srta. . – Disse ele com animação, e teve uma sensação de dejavu.
- Professor Dumbledore. – Tinha receio no tom de sua voz, o que ela sabia que não havia passado despercebido aos ouvidos de Dumbledore e ele teria de desculpa-la, em razão dos recentes acontecimentos de quando estiveram naquela mesma situação, mais cedo naquele dia. – Professor, me diga, onde ele está? O que fizeram com ele? Está vivo? Ele...
Dumbledore ergueu a mão para interromper o dilúvio de indagações.
- Creio que me alertara em nosso encontro anterior o quanto estimo emendar metáforas aos meus discursos. – Ela sentiu suas bochechas corarem, quis se esconder debaixo do cobertor, mas Dumbledore não lhe dera tempo. – Deveras, admito que realmente o faço. – Concordara Dumbledore em voz baixa, seus claros olhos azuis correndo de seus dedos entrelaçados pelas próprias mãos para . – Porém, nosso tempo é excessivamente curto, Srta. , e receio que não serei eu a lhe sanar estas dúvidas. – Pausa dramática. – Acabo de despachar Harry juntamente a Srta. Granger. – Não tinha a menor ideia do que ele estava falando. – Preste atenção, se é o que quer, o encontrará no alto da Torre Oeste e terá ainda menos tempo do que tivemos aqui, e se realmente quiser vê-lo por uma última vez, terá de partir... – Ele consultou o relógio cuco na parede oposta. – Agora!
levantou-se num pulo saltando da cama.
Alcançou seus coturnos aos pés da maca que antes descansava seu corpo e não chegou a ouvi-lo reclamar, sua mente, suas mãos e o tempo trabalhavam juntos e de forma tão rápida, que não espaço para mais nenhuma incógnita naquela equação. Apanhou a varinha e já se virava na direção da porta, mas seus olhos bateram antes no tronco de Stefan Kane, que persistia adormecido. Seu olhar correra de Stefan para Dumbledore e o diretor, astuto como era, notara o desconforto da menina.
- Acredito que posso ficar até que ele acorde e impedir que faça alguma besteira quando der pela sua falta. – Dera de ombros. assentiu, com um agradecimento mudo a Dumbledore.
Dera as costas aos dois e virou-se para olhá-los uma última vez antes de fechar a porta atrás de si.

* * *


O hipogrifo pousou com um ruído de cascos nas ameias do castelo de Hogwarts e dois adolescentes escorregaram para o chão. Suas expressões quando a viram eram, de fato, muito parecidas com a que haviam feito mais cedo ao encontra-los no Salgueiro Lutador, os acontecimentos que se sucederam a partir de seu despertar na ala hospitalar poderiam ser comparados a uma tomada de flashbacks.
- Dumbledore. – Fora tudo o que precisara dizer para sanar os olhares postergados de Harry e Hermione.
E então voltou-se para ele que para ela já havia sido cão, tornara-se amigo, para depois ser inimigo, desconfiara-se e ganhara a confiança, havia atacado e também abraçado, ouvira-o e quis não ouvir, conhecera e fora conhecida, de prisioneiro, a foragido e psicopata, de tudo o que ele fora, por agora, a menina aceitara classifica-lo apenas como, pai. Ainda era um sentimento muito recente. E havia tanto que ainda queria saber. Mas, contudo, por ora, aceitá-lo-ia da forma que fosse. Teriam muito tempo para todo o resto. Sabia que sim.
- ... – Havia um sorriso desenhado nos lábios secos de Sirius.
Ele escorregara do lombo de Bicuço e não se retesara quando a envolver a menina em seus braços.
- Eu quis te ver mais uma vez. – Confessou, baixinho, esperando que somente ele pudesse ouvi-la.
- Sirius. – Ofegou Harry. – Eles vão chegar a sala de Flitwick a qualquer momento... – E suas palavras morreram quando Black o puxou pelas vestes para que se aproximasse da cena. Deixou-o lado a lado com a menina. De modo que pudesse admirar aos dois, ao mesmo tempo. Tempo este, que não tinham.
- Vejam só, vocês dois. – Ele dizia, tocando o rosto de cada um deles, Harry e , uma mão em cada. - Enquanto eu não estiver com vocês, mantenham-se juntos, unidos, as coisas ainda vão piorar muito antes de começar a melhorar. E conto com os dois para serem fortes, para me fazerem fortes. – Os olhos azuis do prisioneiro de Askaban brilhavam, talvez mais que a lua cheia que forrava o céu aquela noite. – Somos família, vocês são minha família. – Abraçou-os ao mesmo tempo. – Meu afilhado, minha filha, quem diria que eu seria um homem tão sortudo.
Ele continuava a olhar de Harry para , de para Harry.
– Nós vamos nos ver outra vez. – Sirius Black disse, enquanto montava o hipogrifo mais uma vez. – Vocês são bem filhos de seus pais mesmo. – E, então, apertou os flancos de Bicuço com os calcanhares. Harry e deram um salto para trás quando as enormes asas se ergueram mais uma vez. O hipogrifo saiu voando pelos ares. Ele e seu cavaleiro foram ficando cada vez menores enquanto os observava. Até uma nuvem encobri-los. E eles desapareceram.

* * *


Dumbledore esperara pelo regresso de , de frente as portas magicamente trancadas da ala hospitalar, juntamente com Stefan Kane. Sorrateiramente, deixaram Harry e Hermione, que voltaram da Torre Oeste com a menina, entrarem antes de se lacrar a saída. Como não tivera participação na história do vira tempo, diferente dos outros dois, teria uma abordagem diferente para com o Ministro e Severo Snape, quando estes dessem pela falta de Sirius Black, que àquela altura deveria estar tão longe quanto o outro pai de , hum, este era um assunto complicado. Segundo a história de Severo, os adolescentes haviam sido enfeitiçados por Black pelo feitiço Confundus, incluindo e Stefan, naturalmente, fora nocauteado pelo prisioneiro de Askaban. A julgar por sua expressão, aquilo não o agradava em nada. Mas seria o teatro ao qual teriam de seguir. Ainda antes de ter se dado nota a nova fuga de Sirius Black, Stefan conversava animadamente com Cornélio Fudge a respeito da Copa Mundial de Quadribol, com ao seu lado, rolando os olhos. Alegaram ao ministro que Helena cuidaria pessoalmente das últimas precauções quanto a sua filha. E, é claro, que era mentira.
Souberam que já era tempo de se retirarem quando notícias do desaparecimento de Sirius corria pelos quatro cantos do castelo. O próprio Ministro da Magia os salvaguardara de um enérgico Severo Snape, com seu rosto contorcido, levantando dedos e apontando nomes. Stefan, entretanto, não perdera a oportunidade de se vingar pelo desmerecimento de seu ego na narrativa de Severo.
- O homem parece que é bem desequilibrado. – Ele disse a Fudge.
- Deveras. – O Ministro concordou. – Eu me precaveria se fosse você, Dumbledore.
Stefan Kane se retirou, puxando pelo braço, com um sorriso enviesado no canto do rosto, bastante satisfeito consigo mesmo.
- Aqui se faz, aqui se paga. – Ele murmurava.
Quando, enfim, se despediram, aos pés da gárgula que dava entrada ao escritório do diretor, Stefan tivera permissão de Dumbledore para aparatar de sua sala. O bruxo, que se encontrava ainda muito próximo de seu limite, não teve objeções a oferta de Alvo, principalmente por se conhecer bem o bastante para saber que se tivesse de ir até Hogsmeade para conseguir aparatar, acabaria no Cabeça de Javali.
- Até que foi divertido, . – E se aproximou para cochichar o que se viria a seguir. – Ou eu deveria dizer, Black. – Trocaram olhares cumplices. – Só não se meta em mais confusão, por favor, ao menos pelos próximos quatro anos. – Não parecia mais ter o que dizer, mas também não parecia pronto para partir. – Cuide-se, pirralha. – quis acreditar que suas palavras expressavam um significado maior do que ele gostaria ou chegaria a admitir.
Poderia tudo não ter se passado de um sonho, não poderia?
Era tarde. Muito tarde. E aquela teria sido a última noite dos alunos em Hogwarts, era o último dia do ano letivo, últimos momentos com seus amigos. E ela perdera.
Bem, não poderia dizer que aquele havia sido em vão. Pelo contrário. Aprendera mais sobre si mesma nas ultimas vinte e quatro horas, do que nos últimos treze anos. Era estranho se sentir tão bem, como estava naquele momento.
A caminho das masmorras, imaginava a sala comunal da Sonserina, com sua entrada secreta atrás das paredes de pedra. Pensava no grande salão comunal, a sala com suas janelas que dão para as profundezas do Lago Negro de Hogwarts, onde se podia ouvir a água do lago bater contra elas toda a noite, e ocasionalmente, ver a lula gigante passando.
Por Merlin, parecia ter-se passado uma eternidade desde que estivera no antro da Sonserina pela última vez. Sentia a falta das paredes de pedra, além de seus dormitórios com as camas de quatro colunas e acortinados de seda verde, pensou nas colchas bordadas com fios prateados e nas tapeçarias medievais ilustrando as aventuras de famosos sonserinos adornando as paredes, os lustres de prata pendurados no teto e o piano. Ah, o piano.
Ouviu seu corpo reclamar, pedindo por sua cama. E como queria. Teria de ser arrastada até o expresso de Hogwarts no dia seguinte, uma vez que não tinha planos de levantar-se de sua capa. Nunca mais. Uma onda percorrera seu corpo, fazendo-a apertar o passo, com aquele pensamento. Faltava pouco. E quando virou o corredor adjacente, pode distinguir, finalmente, no fim daquele caminho sem saída, a parede de pedras, a passagem secreta para o salão comunal da Sonserina. Estava a poucos passos, estava quase lá e fora puxada. O susto a fizera perder a voz. Seu corpo deu meia volta e bateu contra uma estrutura de pele macia e coração batendo.
- Eu lhe disse que se me deixasse esperando viria atrás de você.

Capítulo 20


Ah, mas e como é que pudera esperar que fosse de outra forma? Não havia percebido antes, mas havia sentido sua presença. Ela ainda não sabia, porém, havia muito que vinha a sentir quando ele estava por perto, porque conhecia o som de seu coração. Por ventura, sem o discernimento desta virtude, teria confundindo-o com as figuras que se mexiam nos retratas, com os fantasmas de Hogwarts, com as sombras das armaduras que forravam a vastidão de corredores da escola, ou até com dor de barriga. Mas como fora burra. Ele sempre estivera lá, desde o dia um. Estivera observando-a, estudando-a e esperando o momento certo para se aproximar. Como ele sabia a forma com que navegar por sua maré de emoções? Talvez nunca chegasse a descobrir. Mas se estava convencida de algo quanto a ele, e quanto a ela própria, era que, para ambos, aquele era o único oceano ao qual queriam se agarrar. E bem ali, parado a sua frente, estava ele.
Que ouvira, que dera espaço, que protegera, que estivera junto, que fizera rir, que insistira, que ensinara a abrir a porta e dar uma chance para que ele pudesse entrar. Ele.
A quem poderia chamar de seu. Seu Weasley favorito. Fred. Fred Wesley.
- Ah, Fred...
Afundou o rosto tão rápido contra o peito do garoto ruivo, num movimento ao qual ele, por sua vez, jamais esperaria, e que acabou desconcertando-o por alguns segundos.
Pensou que deveria dizer algo, a boca estava seca, a respiração entrecortada, e ainda contava com um estardalhaço na boca de seu estomago, malditas borboletas, sabia que esses eram sinais de seu corpo lembrando-o de que precisava dizer algo a menina. Mas como em muitas outras situações idênticas aquelas, as palavras lhe fugiam.
Ficava tão bobo, tão concentrado na guria, tão perdido por ela, que era por demais impossível se dedicar a qualquer coisa que não fosse aquela garota. Pela varinha de Merlim, ainda podia contar com um último recurso desesperado, esperando que não o achasse mais idiota do que ele acreditava ser, mantivera-se em silencio, mais por não saber o que dizer, do que não ter o que ser dito, porém, prendera-a em seus braços desde que ela se aproximara, num primeiro instante. E por mais que sentisse que somente sua presença e o momento fossem o suficiente para , ele sentia, sentia lá no fundo, sentia dentro de si que haviam palavras querendo sair, que havia uma pequena sentença querendo ser dita, sentia que precisava dizer, e ainda mais, sentia que ela precisava escutar.
Mas.
Como, de fato, viera a aprender, aquela menina tinha seu próprio tempo, vivia sob suas próprias condições, e vinha a surpreender sempre que tomava uma atitude. E talvez ela pudesse ler seus pensamentos, para agir feito uma peça faltante num quebra-cabeças, como o último ingrediente de uma receita, feito o primeiro floco de neve do inverno, ou talvez, quem sabe, ela simplesmente sentisse o mesmo que ele sentia.
- Foi você... – Ela disse, num fio de voz, cujo som era embargado por ainda ter seu rosto apertado contra a camisa do garoto. – Eu pensei em você... – Não achou que estivesse conseguindo captar o sentido de suas palavras, mas só destas arremeterem-se a ele já sentia como se seu coração pudesse pular para fora de seu peito. – A Casa dos Gritos... E havia um lobisomen... Ele tentou matar o cão, meu cão negro... E na Floresta Proibida, os dementadores... E o frio. – Se soubesse a confusão que se formava na cabeça de Fred Weasley com sua narração dos fatos que antecederam sua noite, ele ainda se encontrava na parte em que confidenciara que pensara nele, Fred repetia aquele segundo por sua mente, de novo e de novo, sentindo o êxtase que aquelas palavras lhe causavam. – E foi você, Fred. – Sem se afastar mais do que um centímetro dele, e somente afim de alcançar sua mão antes de continuar. – Quando precisei de um pensamento feliz para conjurar o feitiço, para adiar um pouco mais o fim, você... – Enfatizou. - Você era tudo o que eu via, voltar para você, estar com você e te ver uma última vez.
- Oh, Merlim... – Um tremor perpassou pela coluna de Fred, ele só não sabia que o mesmo acontecera com .
- Eu disse alguma coisa errada? – Cada palavra fora dita carregada de receio por não saber ler o que a expressão de Fred poderia dizer. Um nó formara-se em sua garganta, e jurou que poderia ter desfalecido se ainda não estivesse sendo segura pelos braços firmes do ruivo.
- Você não para de me surpreender. – Inocentemente, acreditara que ao assistir Fred abrir os lábios, ele iria por fim a sua aflição imperial, contudo, ele somente a deixara ainda mais confusa com aquela escolha de palavras. – Você não é fácil... Você me deixa entrar e logo depois me afasta... Você me dá um sorriso e depois um soco... Num segundo eu penso que comecei a te entender e no outro não sei o que estou fazendo... Você é um mistério para mim, , e eu não acho que poderia amar mais ter que lhe desvendar. – Ele soltara seus braços que antes a rodeavam, e com as mãos livres, acariciou as bochechas coradas dela. - Há tempos que venho querendo sentir o gosto dessas palavras em minha boca ao dizer que te amo... Eu te amo, eu te amo por inteira, vou te amar todos os dias de minha vida, e continuarei te amando além de meu último suspiro.
quis dizer, que sentia o que ele sentia; queria ter palavras que soassem tão bonitas ao ouvido dele, quanto as dele, soavam aos dela; queria que quando seus braços o tocassem, ele se sentisse tão protegido quanto ela se sentia, quando tinha os dele ao seu redor; queria que a pele dele formigasse com o contato de seus dedos, da mesma forma que a dela tremia quando ele a tateava; queria que somente com um sorriso pudesse por fim a qualquer de suas agonias, do jeito que os sorrisos dele faziam por ela; queria que seus olhos pudessem ver até o fundo de sua alma, como sentia que os dele enxergavam a dela. Ah, como queria. Porque sentia o mesmo. É claro que sentia. Como poderia vir a negar? Quando contava com aquela convicção batendo de encontro ao seu peito.
Ele ainda tinha as mãos segurando cada um dos lados do rosto dela, imitou seu gesto. Tão logo suas mãos estavam sob as bochechas febris de Fred, seus lábios seguiram o mesmo caminho, porém, estacionaram contra os de Fred Weasley, que, pela segunda vez, em tão pouco tempo, não esperara pela ação da menina, e levara alguns segundos para corresponder ao beijo. Suas bocas se enroscavam, seguindo a dança de suas línguas. E num desses momentos, se afastou minimamente, sem antes deixar de ouvir um resmungo do ruivo.
- Eu te amo. – Sussurrou ela, com sua respiração entrecortada.
E seus lábios se encontraram novamente. Ah, aquela garota.

* * *


- Eu não acredito! – A garota andava de um lado para o outro entre as camas de dossel do dormitório. - Que mundo injusto é esse? – Ela mexia nervosamente no cabelo conforme enrolava os longos cachos num coque alto. - Enquanto Cedrico e eu falamos sobre o cabelo dele, você e aquele seu namoradinho da Grifinória estão dizendo que se amam? – Tracey Davis explodiu, atirando uma almofada contra a amiga.
- Mais baixo, Davis. – , por sua vez, assistia a todo o frenesi da amiga divertindo-se com os eventos que se sucederam a narração de seu mais recente encontro com Fred Weasley.
- O QUE HÁ DE ERRADO COM ESSES GAROTOS DA LUFA-LUFA? – Tracey se jogou contra sua cama, sufocando o travesseiro num abraço e escondendo seu rosto no mesmo.
- Tracy, você e Ced são amigos, esqueceu? – Pontuou. Esperando levar outra almofadada da menina.
- É, mas por culpa de quem? Não é mesmo. – Bufou. - Quer saber, que se dane o Diggory, ele está só me fazendo perder tempo, eu não quero nunca mais olhar na cara dele.
- Sério? – tinha uma sobrancelha arqueada.
- Não! – Conforme esperado, Davis voltou atrás. - Eu amo o Ced, amo tanto quanto ele ama o próprio cabelo.
riu.
- Bom, pelo menos o outro gêmeo ainda está disponível e se ele for idêntico ao irmão como dizem... – Ela ponderou. – Mas... – E ponderou. – Ah, não, não, ele ainda é da Grifinória.
a encarava sugestiva.
- Nada contra meu bem, mas eu não tenho a sua auto suficiência para aguentar os julgamentos do povo dessa casa. – Tracey deu de ombros. Tinha o olhar longe, perdido, ao que , por sua vez, arriscou ser devido toda essa situação que a amiga vivia e sofria em silencio. Um amor não correspondido, o pavor às criticas e apontar de dedos, a baixa auto-estima e a solidão. Aqueles eram sentimentos que deveriam no mínimo serem proibidos de serem sentidos por jovens bruxas à flor da idade. - Você está aqui há bastante tempo para saber como esses Sonserinos são. – A voz fina de Tracey Davis alcançou um tom embargado, como se lutasse contra o choro iminente, e estivesse a ponto de perder esta batalha. - Estamos rodeados por cobras.
- Mas você sabe que é minha cobra favorita. – Brincou , tentando alavancar o alto astral característico da amiga novamente. Sabia que mais tarde viria a debater mentalmente o cume ao qual sua dinâmica social chegara.
- Sei sim. – Um pequeno sorriso incitava surgir no canto da boca da menina cujas feições de angustia ao pouco se dissipavam. - Desde que eu não esteja disputando com a sua outra cobra favorita. – enrubescera instantaneamente. - Você sabe bem de quem estou falando, sorriso pretencioso, gel demais no cabelo? Te lembra alguém.
- Isso fica para outro capítulo, Davis.
- Eu estou ansiosa para saber como o Lord da Sonserina vai reagir quando descobrir que um sonserino, a.k.a pessoa que ele mais ama e odeia, a.k.a sua priminha querida, está se engraçando com um cara da grifinória. E, claro, não qualquer Grifinório, um Weasley. Fora a vez de Tracey em rir às custas da amiga.

* * *


Os resultados dos exames foram divulgados no último dia do ano letivo, os professores haviam afixado os remates no Grande Salão. Em outras palavras, houvera estardalhaço no café da manhã. A garota havia passado em todas as matérias, isto é, segundo relatos de Blásio Zabini, que verificara as notas finais de e Tracey, uma vez que nem uma nem outra dera o ar da graça durante a primeira refeição do dia e última do corpo decente de Hogwarts, por aquele período acadêmico. Enquanto Davis procurava por uma forma de fazer caber em seu malão todos os pertences que trouxera para a escola e aqueles que foram sendo adquiridos com desenrolar do ano, patrocinado por revistas de bruxas adolescentes e visitas as lojinhas do vilarejo local, Hogsmeade. E , bem, à esta altura não é preciso nem dizer que ela ainda não havia aberto nenhum dos olhos, quem dirá o malão.
A manhã chegou à menina carregada de melancolia e não somente por serem os últimos momentos em Hogwarts, havia algo que saturava o ar, os malões fechados, o silêncio nada característico naquele castelo que se tornava quase deserto a cada novo minuto que chegava, as corujas e outros bichinhos de estimação engaiolados e amontoados pelos corredores. Sentia um nó na boca de seu estômago.
Seria aquela a mesma garota que meses antes não queria passar pelas enormes portas de entrada da escola de bruxaria?
Aprendera mais com a vivência que tivera pelos quatro cantos do castelo de Hogwarts, e em alguns curtos momentos, além de seus limites permitidos, do que com os últimos treze, quase catorze, anos de vida. Como uma vez lhe dissera o Chapéu Seletor, o conhecimento que viria a adquirir, iria além das salas de aula. Quem diria que um chapéu poderia guardar tanta sabedoria. Ele sempre soubera. era a astucia, inteligência e determinação, ela era a Sonserina. A casa com um dito cujo desprezo as regras. A casa daqueles que não esperam por um herói, que sabem se prevenir e escapar por seus próprios meios. A casa de quem não perde tempo com opinião de outros. A casa da serpente, de criaturas engenhosas, que sabem se adaptar às situações e recomeçar seu caminho. A casa de laços fortes, a quem merecer. A casa banhada pela luz esverdeada. A sua casa.

* * *


Levantara, ou melhor dizendo, fora arrancada da cama de dossel, por uma última vez, pelos amigos. E quem diria. Amigos. Jamais seria capaz de adivinhar que viria um dia a pronunciar aquela palavra no plural. Sabia que tinha um último compromisso em sua agenda aquele dia, este não constava em seu calendário. Fora intuitivo. Caminhava a passos obstinados, tinha uma grande caixa de Delícias Gasosas pesando debaixo de um dos braços, não vestia o uniforme de costume e era um tanto quanto satisfatório deslocar-se pelo castelo de Hogwarts com a convicção de não se estar atrasada.
Ao alcançar a gárgula de pedra do terceiro andar, qual fora sua surpresa quando a mesma se afastou dando origem a escada circular, que um segundo antes encontrava-se oculta. Não perdera tempo em alcançar a Torre do diretor. E conforme viria a descobrir, era aguardada por Alvo Dumbledore. O escritório esférico a recebera com a luminosidade característica das muitas janelas que o circundavam, alguns passos contra a mesa do diretor, e era recepcionada pelos demasiados retratos dos predecessores de Dumbledore, assim como a ele próprio.
O professor distraia-se com alguns delicados instrumentos de prata que zumbiam e emitiam pequenas nuvens de fumaça, o que seria o suficiente para captar a atenção de qualquer um, aquém , cujo devotamento era para com a bacia de pedra rasa, com entalhes estranhos na borda. O liquido dançava pela penseira numa espécie de redemoinho.
- Conhecendo-a, não esperava vê-la por tão cedo.
A voz calma de Alvo despertara-a do devaneio.
- Sabia que eu viria?
Indagou ao mais velho com uma sobrancelha arqueada.
- Como já disse, não a esperava tão cedo.
O diretor ainda tinha sua atenção voltada aos brinquedos que preenchiam o tampo da longa mesa de madeira.
- Já deve estar cansado de ouvir isso por parte de mim, mas não tenho certeza quanto ao que estou fazendo aqui. – Respirou fundo, quando estava próxima a Alvo Dumbledore ficava temerosa, seu corpo gelava, e sentia-se como se a bruxa mais estúpida de toda Grã-Bretanha. – Só o que sei, é que tinha de vir.
Dumbledore levantou o rosto e seus olhos azuis cristalinos pareciam sorrir ao vislumbrar a jovem bruxa.
- Fico contente que o tenha feito.
- Eu não deixei de repassar repetidas vezes tudo o que me dissera em nossa primeira conversa.
Ele assentira.
- Muito do que me disse, não fizera o menor sentido naquele tempo, mas hoje, sinto que se não tivéssemos tido aquele momento, eu ainda estaria no escuro, ainda não saberia o que sei...
Precisou de um segundo para redobrar o folego. Não era aquele um assunto fácil de se retomar. Principalmente porque estava tão fora de seu próprio controle, quanto estava para Alvo.
- ... E pior, poderia me recusar a acreditar.
- Você é mais forte do imagina, . – Aquele era o tipo de comentário que deixaria qualquer um desconcertado, sobretudo quando vindo de Alvo Dumbledore. - Acredite. – Ele reafirmou o que disse, ao vislumbrar a expressão de choque que tomara conta do semblante da menina. - Me dou ao luxo de saber uma coisa ou duas.
Assistiu Dumbledore piscar um dos olhos, por de trás dos óculos em formato de meia lua, para a menina.
- Em alguns momentos, não deixo de pensar que você anda com um vira-tempo, professor.
Dumbledore riu.
- E se tem algo, que nem mesmo você pode negar, menina, é que já não é a bruxa ingênua que aparatou nesta sala com o semblante infeliz meses antes.
Assentiu, concordando com o mais velho.
- E isso evoluiu de um sentimento para uma convicção, não só sinto, como sei que ainda há um longo caminho a percorrer, mas diferente de antes, minha motivação já não é curiosidade. – Levou a mão ao cabelo, em sinal de nervosismo, aproveitando para colocar uma mecha teimosa atrás da orelha. – Encontrei a verdadeira força.
Naquele acordo mudo, ambos sabiam ao que a mais nova se referia e se você acompanhou esta história até aqui, também sabe.
- Você carrega mais do que segredos agora, . Você carrega a inocência e a verdade de um homem.
Sentiu um aperto no peito com a menção e não pode controlar sua boca de expor o que brilhava por sua mente.
- Acha que voltarei a vê-lo um dia?
Havia esperança em sua voz.
- O destino vive a me surpreender.
Respondeu o diretor com carinho. E prosseguiu.
- À vista disso, sei que ainda posso esperar grandes feitos vindos de você.
sorria, em grande parte pelo o que lhe fora dito pelo professor, e conseguinte pela correlação que a palavra “destino” causava quando entrava em contato com sua mente, posto que o seu, propriamente dito, sempre encontrara-se vinculado à outro. De alguém a quem era doloroso lembrar. Mas que de mãos atadas e coração apertado, não havia, nem poderia esquecer.
E Dumbledore, sendo quem era, parecia ter adivinhado o que a garota estava pensando.
- Mas se ainda posso lhe aconselhar, , não se esqueça que as consequências de nossos atos são sempre tão complexas, tão diversas, que predizer o futuro é uma tarefa realmente difícil. – E continuou. - O problema não está em você. Veja. O real problema é que os seres humanos tem o condão de escolher exatamente aquilo que é pior para eles.
Levou um momento para compreender o que Dumbledore acabara de dizer. E feito um lapso, a luz chegou a seu cérebro na altura que o diretor esticou a mão na direção da menina.
- Embora sigamos caminhos diferentes, nossos corações batem como um só.
Por sua vez, a jovem bruxa erguera sua própria mão, visando entrelaça-la a do professor. Só não contara que o caminho ao qual Dumbledore percorria era na direção da caixa de Delícias Gasosas que ainda carregava debaixo do braço.

* * *


Quando saltara do último degrau de pedra, conforme deixava a passagem secreta para a sala do diretor, esperara seguir direto para a sala comunal Sonserina. Sabia que corria o risco de sofrer algum tipo de lapso no meio do caminho, e marchar rumo as cozinhas, poderia trombar com Pirraça e ter de buscar uma rota alternativa, seria capaz de acreditar até mesmo numa despedida amigável com Pansy Parkinson, só o que realmente não estava esperando de maneira alguma seria trombar contra um conjunto de vestes negras. E, por Merlim, antes tivesse passado por qualquer um dos enredos criados por sua própria mente.
- Mas que diabos... – O homem magro e de pele pálida resmungava. - Pode preparar uma poção do morto-vivo como ninguém, mas não consegue olhar para onde andar. – Ah, Severo. - Eu descontaria pontos da Sonserina se não fosse diretor da casa e se eu descontasse pontos da Sonserina.
- Desculpe, Senhor. - olhava para os pés, não queria encará-lo nos olhos, e jamais assumiria que seria pelo medo que tinha a respeito do professor.
- Para sua própria sorte, , era a você mesma a quem eu procurava. - Ele disse com descaso, marca registrada de Severo. - Isso chegou para você. - Severo lhe estendeu um pacote mal embrulhado em papel pardo, o qual tivera receio de pegar das mãos dele.
- Professor... – Começou. – Obrigada, err... eu...
- Não force a barra. – Severo a cortou. – Agora, me dê licença. Tenho mais o que fazer.
E ele se virou fazendo suas vestes escuras farfalharem, fazendo-o parecer um morcego. O mestre de poções desapareceu no meio de alguns poucos alunos curiosos que circulavam por aquele corredor e observavam a cena de longe, com um certo temor de arranjar problemas com Snape. Algo que não é lá tão difícil de se acontecer.
- Eu não acredito!
Àquela altura já não deveria mais se surpreender com figuras surgindo às suas costas.
- Como você pôde ser repreendida pelo Snape no último dia?
Era Jorge Weasley.
O segundo gêmeo Weasley favorito por parte de . Ele tinha um ombro colado ao dela. E com um segundo de acréscimo, do lado adjascente ao qual se encontrava Jorge, um rosto idêntico ao primeiro surgira.
Ele.
Que estivera presente antes mesmo da primeira indagação do irmão gêmeo. Que involuntariamente prendera a respiração quando o cheiro adocicado da jovem Sonserina alcançou suas narinas, numa forma de guardar o perfume somente para si.
Ele.
Que poderia dizer quando ela estivesse por perto, por conhecer o som, o som de seu coração.
Ele.
Que não mais precisa de apresentações e profundos monólogos.
Ele.
Que somente quebrou o contato de seus olhos com os da menina para enxergar o pacote que esta tinha em mãos. O volume em papel pardo era uma incógnita. Estava mal embrulhado, com seu formato cilíndrico, não era um objeto pequeno, poderia ter o mesmo tamanho que o da garota, mas toda a sua dimensão não condizia com o seu peso. Era o mesmo que segurar uma coruja num ombro. Talvez mais leve? O pacote fino e longo levantava mais perguntas a cada minuto que permanecia embrulhado pendendo sob o braço de .
- Que é isso? – Indagou Jorge.
- Eu não sei...
rasgou o pacote e prendeu a respiração ao ver a magnífica e reluzente vassoura. Sentiu Jorge se afastar na direção que se encontrava o irmão, ele se apoiou em Fred, buscando suporte para sua recente falta de ar.
— Eu não acredito — dissera Fred Weasley, com a voz rouca.
- Não! – exclamou Jorge, que por sua vez, puxara as mãos de encontro a seu peito, abraçando-se.
Era uma Firebolt. O cabo brilhou quando ela a ergueu. Sentiu a vassoura vibrar e a soltou; ela ficou flutuando no ar, sem apoio, na altura exata para montá-la. Os olhos de correram da placa de ouro com o número do registro para a superfície do cabo, dali para as lascas de bétula perfeitamente lisas e aerodinâmicas que formavam a cauda.
Minha Nossa Senhora do Quadribol.
tinha em mãos uma vassoura voadora, de nível profissional, e também o modelo mais rápido que existia no mundo, carregava uma Firebolt.
- Quem foi que te enviou? - Fred perguntou.
- Não sei, não tem bilhete. - dizia, quando, conforme remexia no que sobrara do pacote envolto em papel pardo, deixou uma carta cair por sob seus pés, no mesmo momento, um lampejo brilhou em sua mente, fazendo-na crer que aquela correspondência esperava ser encontrada pela menina. apanhou a carta. Vinha endereçada a ela. E suas teorias traçadas por sua mente conturbada se revelavam reais.
Sentiu o corpo estremecer, e suas mãos vibravam feito bombons explosivos conforme abriu a carta.
Sirius!
Tamanha fora a força de vontade empregada para não deixar que aquelas seis letras escapassem de sua mente e fossem repetidas por seus lábios.

Querida ,

Seus olhos escorreram lágrimas de antemão ao vislumbrarem as primeiras linhas da mensagem.

Espero que esta a encontre antes de você deixar Hogwarts.
Bom, Bicuço e eu estamos escondidos.
Não vou lhe dizer onde, caso esta carta caia em mãos indesejáveis.
Como bem sabe, conheço bem as consequências de minhas imprudências, mas como poderia eu prosseguir, sem saber quando a veria de novo, e sem deixar algo que fosse meu com você, senão apenas as memórias de nosso último momento juntos.
O qual venho repassando mentalmente todo o tempo, diga-se de passagem.
Em meu disfarce, tive a chance de vê-la montar uma vassoura, lembro bem de como o brilho que preencheu seu rosto me fez crer que era a primeira vez voava.
Também lembro de algo quente escorrer por minha face conforme a assistia.
Você leva jeito, menina.
Talvez até tenha de voltar a usar meu disfarce no próximo período letivo para vê-la levantar a taça de quadribol.
Dumbledore levou a ordem de compra à Agência-Coruja para mim. Usei o seu nome, mas mandei sacarem o ouro do meu cofre em Gringotes.
Por favor, considere a vassoura o equivalente a treze anos de presentes deste velho.
Gostaria também de me desculpar por não ter feito mais àquela noite, em minha primeira aparição, quando você estava inconsolável na clareira ás sombras do Salgueiro Lutador.
Minha esperança era apenas dar uma olhada em você, e não pude controlar meu anseio em me aproximar. Ah, imprudências.
Suas feições inocentes estão cravadas em meu peito, .
Se algum dia precisar de mim, mande me dizer. Sua coruja me encontrará. Escreverei novamente em breve.
A amo, a amo, amo...
Seu pai.


* * *


sentia-se inesperadamente aquecida e satisfeita como se tivesse bebido uma garrafa de cerveja amanteigada quente, de um gole só. O sol de início de tarde ardia, e o calor sufocante, sinalizavam que todos estavam aproveitando ao máximo aquelas ultimas recordações pelos jardins da escola de magia e bruxaria de Hogwarts. Rodeada por rostos conhecidos, poderia vislumbrar Cedrico pousar após suas últimas acrobacias aéreas sob a vassoura recém adquirida de . O amigo ainda não havia colocado os dois pés no chão, quando Dino Thomas, da Grifinória, seguido por Dimitri Helsemenn e Owen Luftkin, da Lufa-Lufa, e ainda Jorge Weasley, que brigava por uma terceira volta na Firebolt; avançaram todos, cercando Diggory, e seus fios de cabelos que pareciam encantados magicamente, inabaláveis, mesmo após atingir 200 Km/Hora no voo.
Deitada na extensão do gramado, para alguns, sagrado, Campo de Quadribol, descansava a cabeça nas pernas cruzadas de um Weasley. Desviava continuamente seu olhar das acrobacias dos amigos, que faziam fila para subir na vassoura de tecnologia de ponta da menina, no entanto, sua atenção era monopolizada pela vasta paisagem que formava-se acima de sua cabeça, feito um lazer que corta o céu, com cabelos cor de fogo, beijado pelo sol, os grandes olhos azuis, brilhando ao máximo feito vagalumes, e um sorriso repuxado, onde castelos são feitos de areia. Poderia morrer deitada em seus braços, que a envolviam protetoramente, fazendo-a crer que o perigo nunca estará por perto. Um ano poderia passar em um segundo. Estava em paz, estava com...
- Ei... ...
...Pensara cedo demais.
Uma sombra caíra sobre ela.
As sobrancelhas juntaram-se em surpresa com as figuras avantajadas em tamanho e força, porém deficientes em inteligência, talento mágico e pensamento próprio. Eram Vincent Crabbe e Gregory Goyle, com suas longas vestes negras e brasões verde escarlate da casa Sonserina. Por todo aquele período que passara em Hogwarts, não se lembrava de ter trocado mais do que alguns grunhidos com os garotos. Até aquele momento, inclusive, chegara a considerar que não sabiam formar frases completas, em vista de que, além de aterrorizar os estudantes, a única outra coisa que sabiam fazer bem, era rir do que saia pela boca de Draco Malfoy.
Ah.
Não precisou seguir o dedo roliço que Goyle apontava na direção oposta do Campo de Quadribol, tinha plena consciência do interprete pálido, de cabelos louros e sedosos, e olhos acinzentados, aos quais, se recusava a encarar, mesmo com toda a distância entre eles, tanto a longitude física quanto a psicológica, não importava, a menina sabia que uma vez encontrando aquele par de globos oculares, poderia se perder para sempre, e uma vez perdida, somente ele poderia encontrá-la.

* * *


- Você está diferente.
- Engraçado... – Ele torceu os lábios, deixando algumas mechas de cabelo louro escorrerem pelo rosto. Aquele rosto que numa manhã de inverno poderia se camuflar em meio a neve, era cintilante e resplendoroso, não havia uma tonalidade que pudesse representa-lo ao certo, a não ser que existisse uma nomenclatura para a fusão de brilho e transparência, não poderia no mundo existir mistura mais pura, a pigmentação que fosse aquela cor, a sua cor, era a cor favorita de .
Draco não trajava o uniforme da escola, usava vestes cinzentas, um tom mais escuro de que o brilho sombrio de seus olhos. Tão pouco usava o característico gel nos cabelos sempre tão bem penteados. Os fios dourados dançavam por seu rosto, por vezes escondendo parte de seu semblante, o que o carregava de um ar misterioso. Ele tinha a boca seca, o que ela sabia prover da compulsão de arrancar pele dos lábios. E àquela altura, havia um sorriso tímido por se formar.
- ... Eu pretendia dizer o mesmo.
O sorriso já tomava conta do semblante de seu rosto sem cor.
- Esse é o primeiro sorriso sincero que vejo em você... – não pôde deixar de sorrir junto. – ...Em muito tempo.

* * *


- Depois que eu passei a minha perna por cima de uma Firebolt, eu não achei que poderia me surpreender com mais nada, o resto da vida, e olha só onde estamos...
- Valeu, irmão.
Fred revirou os olhos ao primeiro comentário sarcástico que recebia depois de um longo silêncio que se seguiu com a saída da menina . Ainda podia sentir o toque quente dos dedos dela entrelaçados aos seus ou o macio do beijo que ela deixara em seu pescoço antes de ir. Sentia uma dor no peito, no local exato onde minutos antes, repousava a cabeça de .
Ó Merlim, que feitiçaria fora aquela que a garota conjurara nele? Não conseguia tira-la de seus pensamentos. Quando estavam juntos, tudo o que pensava era no quão sortudo era por tê-la ao seu lado. Quando estavam separados, não havia um segundo que não pensasse nos momentos em que estavam juntos. A mãe sempre alertara a ele e os irmãos sobre as drogas, mas nunca falara nada, daquelas com sorriso doce e coração batendo. Aquela garota era sua droga. Sabia disso. Estava fascinado por seus encantos, esses aos quais ela nem ao menos sabia que os possuía. O que a tornava ainda mais cativante, se é que isso fosse humanamente possível. Aquela garota era sua droga. Sabia disso. E, por Merlim, poderia morrer de overdose, se fosse por ela.
- Er, cara, acho que esse não é o discurso motivacional que Fred está querendo ouvir agora.
Fora tirado de seu monologo interior, que em seu subconsciente parecera tão duradouro quanto um concerto d’As Esquisitonas, mas que no tempo comum não perdurara mais do que dois segundos. Dino Thomas fora o dono da sentença que antecedeu uma discussão entre aqueles rostos, tão inusitados, quanto sua situação.
- É, cadê a conexão de gêmeos? – Retorquiu Dimmy.
- De quem é a vez na Firebolt? – Indagara Owen, deixando bem claras suas pretensões.
Era sua vez.
Havia combinado com que sobrevoariam juntos o campo de quadribol por uma última vez antes de se despedirem do castelo. Podia lembrar nitidamente da euforia que atravessou suas veias quando ela lhe sorriu com a proposta. E agora ela estava com Draco.
Ó teoria do caos.
Se fosse para ter uma crise de ciúmes em qualquer momento de sua vida, é claro que não seria trancado sozinho num quarto escuro, se fosse para ser fácil não seria Fred Weasley. Ele estava pregado no gramado por alguma força superior que parecia se divertir com seu sofrimento interno. Estava cercado por caras de caras que ele nunca achou que diria mais do que “ei, empresta um galeão?” e que naquele momento pareciam compadecer com sua situação. Estava fodido.
- Eu estou me sentindo claustrofóbico. – Dera a deixa.
- Weasley, nós estamos num espaço aberto. – Pontuou Dino.
Não sabia por que ainda achara que algum daqueles cabeças de trasgo entenderia que tudo o que ele precisava naquele momento era ficar sozinho.
- É, irmão... – Jorge pousou uma mão solidaria em um de seus ombros. – E eu que pensei que o seu relacionamento a três era entre você, a e eu, agora vejo que fui enganado. – Os outros garotos pareciam respirar fundo para não sucumbir em gargalhadas. - Todo esse tempo seu relacionamento era com o Malfoy, que decepção.
- Você tem sorte de ter a mesma cara que eu e te dar um soco agora seria o mesmo que me bater. – Jorge abraçou o irmão de lado com o braço que antes rodeava seu pescoço, Fred sentira-se sufocado em alguns segundos, mas a intenção fora boa.
O que seria dele sem aquele cara?
- Eu sei que essa pode ser a última coisa que você vai querer ouvir, Weasley. – Não gostaria de admitir que sentira o corpo gelar quando, finalmente, Cedrico Diggory, que até então permanecera calado, porém sempre atento, decidira por se prontificar. – Mas me escuta quando eu te digo. – Ele parecia escolher as palavras certas para terminar aquela sentença. - O Malfoy é daora.
A comoção fora geral.
- Eu quase te petrifiquei, Diggory. – Jorge soltara feito uma bala.
- Eu nunca ouvi tanta bosta saindo de uma boca. – Dino compartilhou sua frustração.
- Cedrico morreu e foi substituído. – Até Owen Luftin, da Lufa-Lufa, que era amigo de Ced desde a primeira noite de ambos em Hogwarts, acabara por concordar com o senso comum.
- Eu também não pensei que essas palavras pudessem sair da minha boca. – Cedrico levantou as mãos num sinal mudo de calma para os companheiros. - E eu não tô falando que a gente devia chamar ele pra jogar Snap explosivo ou trançar nossos cabelos, nada disso, o que eu tô querendo dizer é que Malfoy é bom pra .
Sendo quem era, e falando o que falava, Cedrico já esperara que os olhos de todos os que o cercavam iriam arregalar com sua narração dos fatos. E tinha a convicção de que, da mesma forma que sabia que seu cabelo estava mais bem penteado que pelo de unicórnio, ou da mesma forma que sabia que havia excedido expectativas em seus exames, e até mesmo quando sabia que havia quebrado um coração, naquele momento, e em todos os outros destacados, Cedrico Diggory sabia que estava certo.
- Eu sei que é estranho... – E continuou, em meio a olhares tempestuosos. - ...Mas eu já vi e em algum momento vocês também devem ter visto e tirado a prova por seus próprios olhos. – Num lapso, aquelas memórias refletiram feito flashs de luz por sua mente. Poderia não passar de um coadjuvante com rosto bonito, mas não era nem um pouco trouxa, e passara tempo suficiente no fogo cruzado entre e Malfoy para expor com firmeza o que dizia. - Todo mundo nesse castelo alguma vez já deve ter ficado da mesma forma que vocês estão com o que eu estou falando, quando viram, de alguma forma, como o Malfoy muda quando a está por perto. - Errr, colocando desse jeito... – Owen encarava os próprios pés, com os braços cruzados contra o peito, deliberando os fatos destacados pelo melhor amigo. - Alguém sabe algum feitiço para calar a boca do Diggory? - Será que poderia ser punido no último dia de aulas por transfigurar um garoto desbocado do quinto ano numa mandrágora? Cedrico pontuava mentalmente se valia a pena tentar.
- Eu não estou tomando lados, cara. – Quis deixar claro. - Eu gosto pra caralho daquela garota. – E ouviu sua voz baixar alguns tons quando confessou. - E por algum motivo que vai além da minha inteligência... – fora cortado.
- ...Ou beleza. – Jorge provocou. Riram.
- Weasley, vai se foder. – Ced levantou um dedo malcriado contra Jorge. – E você... – Apontou, em seguida, na direção de Fred. - ...Outro Weasley, ela gosta de você, você sabe.
- Bem... - Fred Weasley encontrava-se numa encruzilhada de emoções, não saberia nomear o que sentia no momento. Não sabia se era ciúmes ou frustração, se era saudade ou melancolia, o que sabia, com certeza, era algo que Diggory acabara por lhe lembrar, era tudo sobre aquela garota.
- Mas ela precisa do Malfoy. – As palavras de Cedrico vieram carregadas de um choque de sinceridade, algo que ele precisava e se negava a escutar. - E você também sabe disso.
Sentiu que havia chegado a seu limite emocional, nunca tivera que lidar com seus sentimentos antes na vida. Se aquilo era o que diziam sobre se apaixonar, cara, como queria voltar a fase em que sentia repulsa por garotas. Suspirou pesadamente antes de se jogar contra a grama e esticar todo o corpo. Aquela era a primeira vez que não se sentia seguro de si no campo de quadribol.
- Ah, cara, me sinto na Ala Hospitalar outra vez. – Comentou, trocando um olhar com Cedrico. - Você se lembra? – Riram.
- E como esquecer? Tenho até um ranking mental de melhores momentos.
Fred se levantou, ainda com vestígios de riso no rosto.
- Eu vou nessa. – Ele anunciou.
- Aonde você vai? – Ced tinha uma sobrancelha arqueada.
- Forge... – O irmão o chamou carinhosamente, era inevitável, a conexão entre aqueles dois nunca falhava, Jorge sabia exatamente o que se passava pela mente de Fred e tudo o que precisara fora uma simples troca de olhares. - Não me diga que...
- Não se preocupe, irmão... – Garantiu, com seu meio sorriso característico, repuxado no canto da boca. - Não vou brigar com o Malfoy, por mais que minha mão esteja tremendo para isso. – Torceu os lábios com a lembrança da última vez que acertara o rosto de Draco. Belos tempos. - Estou indo porque quero estar com ela, e mais, quero que ela saiba disso, que eu estou com ela e que pode contar comigo. – Respirou fundo antes de continuar. - Vou ver minha garota.

* * *


- Da última vez em que estivemos dessa forma... Somente os dois... – A memória parecia fazer bem a Draco, como veio a notar. – ...Você olhou no fundo dos meus olhos e disse que não poderíamos ficar juntos.
A menção daquele episódio dilacerava o coração da menina. E ela poderia não saber disso, mas Malfoy sentia e sentia duas vezes mais.
- Eu acreditei em você, Draco. – A voz tremulou. – Mas cada vez que tento seguir em frente, você aparece. – E a primeira lágrima escorreu deixando um caminho quente por seu rosto. – Talvez só queira que eu seja tão infeliz quanto você.
Num impulso Draco a agarrou pelos ombros, e sem perder o contato visual por um segundo que fosse, ele disse, e a entonação das palavras que saiam por sua boca, deixavam claro que eram carregadas da mais sincera verdade.
- Eu nunca desejaria isso a você, nunca. – Ele virou o rosto antes de dizer. – Quero que seja feliz.
Draco sentiu um formigamento onde aquele par de mãos quentes, e um tanto tremulantes, tocaram-lhe o cenho. Não conseguiu impedir que seus olhos se encontrassem com o oceano cintilante que vivia nos globos oculares dela, tampouco impedira seu coração de pulsar golpeando seu peito.
- Você tem cem milhões de razões que me afastam de você. – Quisera ter o poder de fazer com que aquelas palavras jamais fossem ditas. Aquela sentença o açoitava. E não por ser menor verdade do que queria acreditar. Ao contrário. Sabia que eram reais, carregadas de veracidade. Que merda.
- Então por que é que continua aqui? – Naquele momento, tudo o que poderia fazer para se proteger daquelas palavras que o atordoavam era extravasar sua frustração contra a garota a sua frente. Sabia que era errado, e por Merlim, como estava cansado de errar com ela. Seria tudo tão mais fácil se conseguisse simplesmente odiá-la. Deus, como queria odiá-la.
Ao cuspir sua fala em justaposição a , esperou por lágrimas, esperou por um olhar de desprezo, esperou que ela se afastasse ou que o socasse na cara. Esperou por tudo. Só nunca achou que ela poderia enrolar os braços em seu pescoço, atraindo-o, obrigatoriamente, contra ela, deixando os rostos grudados, e as respirações tornando-se apenas uma. Os olhos se fecharam, querendo guardar aquele momento. E foi quando seus ouvidos se arrepiaram quando os lábios dela, tão próximos, declararam...
- Porque você também é a única boa razão que me faz ficar.
Os próximos minutos passaram em câmera lenta.
Draco perdera-se naquelas palavras.
Ainda poderia não saber, mas aquela cena se repetiria por sua mente mais vezes do que poderia contar, e continuaria se repetindo, até sua última lufada de ar, seu último fechar de olhos, no ultimo pulsar de seu coração... Ela estaria lá.
E talvez por isso seu peito doía conforme deixava escapar aquilo o que martelava sua cabeça.
- Seu mundo seria mais fácil se nos separássemos de uma vez por todas.
- É verdade. – E como se fosse possível, ela se agarrou um pouco mais a ele. - Mas não seria meu mundo sem você nele.
- Você me ama. – Alcançou uma das mãos da menina e apertou contra seu peito. Para qualquer um, seria considerado um ato impensado. Qualquer um, menos ela. Ela sabia, conhecia aquele ser melhor do que qualquer outro no mundo, e de forma que ninguém um dia poderia fazer igual, quem dirá entende-los. Isso era algo que só eles sabiam, somente os dois, e que por mais certeiro que fosse, não poderiam nunca colocar em palavras. E era por isso que , com aquele ato, que Draco não diria, e nem o precisaria, ela sentia, sentia a pulsação de seu coração, e como ele batia, e batia por ela. - Eu sei que é verdade.
- E é claro que eu amo você, Draco. – Levou a mão que ainda repousava de encontro ao peito de Malfoy, e tocou seus lábios, deixando um beijo em sua palma. - Eu sempre amei. Eu o amo mais e mais cada dia, como se fosse possível amar alguém tanto assim. – Ele sorriu. - Saiba que não ficar com você foi a coisa mais difícil que já fiz. – Uma pena que aquele sorriso, diferente de sua pulsação acelerada, não perdurara. - Mas mesmo que eu não estivesse com Fred, eu não poderia ficar com você. – Aquelas palavras eram intragáveis para Draco. E se, para , era doloroso se quer pensar nelas, depois daquele segundo, poderia garantir ser anos-luz pior pô-las para fora. Talvez o que doesse, em si, não fosse revelar para ele que aquele discurso estivera preso dentro dela, o que a afligia de fato era a angustia que tomava conta das feições de Draco Malfoy. - Eu não posso ser quem você quer que eu seja, Draco. – Revelou, em voz sussurrada, torcendo para que ele, de alguma forma, não pudesse ouvir aquilo que há tempos assolava seus pensamentos, uma ideia tola de uma garota mais tola ainda, se levasse em conta que, naquele momento, não havia distância entre eles.
- Eu olho para fora e encaro o nada. – Suas palavras estavam carregadas de um sentimento ao qual não pôde decifrar, por nunca tê-lo sentido. - Eu olho para você e a cada vez que a vejo se afastar de mim, sinto que estou perdendo-a aos poucos, um pedacinho por vez. – Ele respira fundo. - Sabia que esse dia chegaria. E fiz tudo o que estava ao meu alcance para adiá-lo. – Draco esconde o rosto atrás das mãos por um momento, não queria que visse seus olhos, se ela pudesse ver seus olhos, ela veria tudo. - É como se eu parasse de respirar, mas completamente consciente disso. – Ele continua, mas dessa vez sua voz está falhando. - Eu não queria deixar você ir embora. – Sem encontrar força na própria voz, Draco ainda sussurra pesarosamente suas últimas palavras.
Pela última vez em muito tempo, esconde seu rosto na curva do pescoço de Draco Malfoy e com este ato aspira toda a essência de seu ser, guardando-a a sete chaves num espaço de sua mente que é só dele. Ela levanta os braços, e os enrosca ao redor dele. Draco corresponde. Não ouvem. Não pensam. Só sentem.
Passaram horas.
Dias.
Anos.
Vidas?
Quando estavam juntos.
Não existia tempo.
Não existia mundo.
Só existia aquele momento.
E aquele momento era deles.
- Sabe... – Draco cochichou. - Há uma grande diferença entre um grande amor e o amor certo. – Ele se afastou minimamente - Encontrei alguém que me ama e está bem na minha frente. - Tocou-lhe o queixo, levantando o rosto dela, para que encarasse o cristalino de seus olhos. Uma lágrima solitária escorreu formando um caminho úmido pelo cenho de . Simultaneamente. Draco beijou-a no canto dos lábios, onde aquele pequeno indicio de choro, terminava. - Nunca deixe ninguém dizer que você não é forte, é a garota mais forte que conheço.
- Estou usando toda a minha força para deixa-lo ir.
- Tenho que deixar você ir.
- Eu sempre vou te amar.
- Sempre vou te amar. – Draco apertou-a contra seu peito. E naquele momento, ele sabia, ela sabia, seus corações batiam feito um só. - Você está livre para ir.

* * *


Se existia alguma coisa no mundo pior que ver aquela expressão de dor no rosto das pessoas que você ama, ele não saberia dizer. Tinha uma lembrança, um tanto difusa, quando aos cinco anos de idade, num confronto de interesses contra o irmão gêmeo, este acabou perdendo o equilíbrio e caindo da vassoura, d’uma altura razoável, talvez uns oito metros, mais ou menos. O resultado da façanha fora um braço quebrado. Se o tempo apagara de sua memória, as causas que levaram aquele conflito, decerto, que não acreditava que um dia pudesse extinguir a agonia de enxergar o sofrimento estampado na face do irmão.
Talvez a pior parte, além da recordação por si só que surgia sempre inesperadamente, feito um resfriado na primavera. O estigma estava na culpa.
Aquele era um assunto delicado, e se interrogado a respeito, negaria com todas as colocações de indeferimento de seu vocabulário. Não era conhecido por ser um cara sentimental. E certamente, que ainda estava aprendendo a lidar com emoções as quais nem ao menos sabia que existiam. Porque tudo não poderia ser classificado como amor ou ódio, ou talvez, até os dois. Não era disso o que o mundo se tratava, afinal?
Há pouco descobrira que seu eu-lírico era um tanto quanto sensível. E isso significava que quando deitasse para dormir, flashs de suas próprias ações que poderiam ter tido outra abordagem, iriam invadir a mente cansada, com imagens carregadas de arrependimentos, no que ele considerou que seria, o ultimo piscar de olhos daquele dia. Ou até, quando não estivesse lá tão interessado na aula de História da Magia, seus pensamentos poderiam lembra-lo de algo que se esforçava a esquecer. O que, para bem ou para mal, conduzia-o outra vez para a sádica lembrança de Jorge caindo da vassoura.
Num lapso, ocorreu-lhe um pequeno dialogo, há muito escondido por seu oceano particular de recordações, em que o irmão, com menos da metade do tamanho que tinha hoje, amparado pelos braços do pai, momentos antes de aparatar para o St. Mungus, Hospital para doenças e acidentes mágicos. Jorge, com o braço que não estava quebrado, agarrou-o pelo colarinho das vestes, surpreendendo a Fred, que soluçava, como se tivesse sido ele que quebrara uma parte do corpo, como se compartilhasse a dor do irmão gêmeo. E com a voz carregada de tranquilidade e pacatez, Jorge lhe cochichara...
- Ao menos eles saberão como nos diferenciar, Forge.
Agora, porém, aquém das lembranças que compartilhava com Jorge, com quem, instintivamente, aprendera a ler expressões e partilhar sensações, com quem aprendera a ouvir e entender, sem saber, todavia, que um dia viria a usar esse conhecimento que criara com as aulas particulares de vida real, que tivera com o irmão gêmeo.
Porra, quanto de sua vida devia àquele cara. Por que naquele momento, ele sabia que já sentira antes aquele sentimento que se atracava contra seu peito, a medida que, há uma distância segura, que como viria a descobrir, já estar acostumado quando se tratando dela, assistia-a. A menina estava pálida, tão insípida quanto o velho vampiro que habitava o sótão d’A Toca. Ela tinha os olhos claros marejados, e o rosto brilhava, de forma a salientar um choro recente. A boca tremula era o que mais o instigava, como se cada palavra que deixava aqueles lábios causasse-lhe dor.
Desviara o olhar no exato momento em que percebera a aproximação perigosa de Draco Malfoy.
Instintivamente, sabia que se assistisse a cena que viria a se suceder, uma força maior, que se encarquilhava contra seu amago, lhe dizia que aquela não seria a última vez que veria aquele seguimento.
E somente tal possibilidade já era motivo suficiente para se privar de tal hamartia.
Quando seus olhos se voltaram uma segunda vez para o enredo que se passava a sua frente, vira que aqueles dois se abraçavam, parecendo buscar sustento no corpo do outro. Como se dependessem dos braços um do outro para se manterem vivos. Como se fossem um.
Por aquela mesma força maior, que ainda se encarquilhava contra seu amago, dessa vez, no entanto, não conseguira desviar o olhar.
Se tivesse que escolher um momento para que se lembrar. Não seria o primeiro voo na vassoura, nem mesmo o dia das bruxas; nem tão pouco a primeira vez que saíra escondido do dormitório com o irmão; e com muita dor, teria de abdicar do primeiro fim de semana em Hogsmeade, quando passara pela primeira vez pelas portas da Zoncos. Eram todas suas melhores lembranças, aquelas que lhe carregavam de força, que lhe enchiam de certeza, que caracterizavam quem era. Eram suas lembranças. Mas estaria mentindo para si mesmo, se não dissesse que, de todos os momentos, aquele, exatamente aquele, era seu melhor.
Quando a garota de quem gostava, ainda absorta em seus pensamentos, girara o corpo na sua direção, conforme o movimento de sua cabeça, como que por força magnética, atraísse-a para sua direção, conforme aqueles olhos, que pareciam admirar os próprios sapatos, levantavam-se, sorrateiramente, até encontrarem os seus. Aquele baque, de quando focalizava-o à distância, e tomando nota de sua presença; olhos, boca, nariz, todo o rosto parecia sorrir a ele. Os primeiros passos receosos enchiam-se de certeza. O caminhar aumentava o ritmo, e em segundos, ela corria. O semblante, antes, tão apagado, agora, se enchia de rubor, de vida.
Estava cada vez mais perto. Já podia enxergar.... O som de seu riso tão familiar, como sua música orquestrada favorita. Mais perto.
Mais tão perto que já ouvia a respiração ofegante. Tão perto.
Tão perto que num salto, ela se arremessou contra ele, instintivamente, seus braços abriram, pronto para recebe-la, estavam em casa.
- O que faz aqui?
Cochichara.
- Que você acha? Vim por você.
Apertou-se mais forte contra ele.
- Obrigada por me esperar. – Escondeu o rosto no pescoço dele, aspirando o máximo que conseguia. - Tinha que me despedir.

* * *


Enquanto isso.
Numa cena nem tão distante assim.
Um personagem.
Este que não era principal, tão pouco coadjuvante.
Ele, que nem mesmo achou que poderia ter um momento, quem dirá um monologo.
E lá estava.
Vincent Crabbe, com uma ruga no meio da testa, pesadas gotas de suor que escoavam por seu rosto, e uma expressão que poderia ser de dúvida, de fome ou até mesmo ambas, ao mesmo tempo em que, os passos largos tentavam acompanhar um enérgico Draco Malfoy, que disparara a sua frente e a de Goyle. Em meio a respiração ofegante e os roncos de porco tanto de sua mente quanto suas próprias, havia algo que martelava na mente de Crabbe.
Não eram nem uma, nem duas. Haviam infinitas coisas as quais o garoto não conseguia entender, e recentemente, começara a desconfiar que a cada dia surgiam lhe mais dúvidas, e as respostas, por sua vez, tornavam-se mais escassas que os feijõezinhos de sua coleção pessoal de feijõezinhos-de-todos-os-sabores. Eram questionamentos dos mais comuns, como fazer uma poção do Morto-Vivo ou por que as escadas vivem mudando de lugar? Até indagações que poderiam literalmente desestabilizar a mente de qualquer um, como surgia o banquete na mesa do Grande Salão toda noite? Por que tinha de conviver diariamente com sangues ruins? O que os professores ficavam fazendo no castelo de Hogwarts no período de férias?
E como tudo no universo, até mesmo a existência de Vincent Crabbe tinha equilíbrio, e com ela, havia é claro, tudo aquilo o que o jovem conhecia de absoluta certeza.
Ele sabia que tinha de trocar a cueca a cada quatro dias. Sabia que, assim como Goyle, cursavam as mesmas aulas que Malfoy, então só tinham de segui-lo para onde quer que ele fosse no castelo e acabariam aonde deveriam estar. Sabia, com segurança, que poderia comer doze bolinhos de abóbora de uma vez antes de vomitar. Sabia, pontualmente, os horários aos quais eram servidas todas as refeições do castelo. E dentre tudo aquilo o que ele sabia que sabia, com toda a convicção que habitava em seu ser, considerava-se verdadeiro conhecedor quando se tratava de Draco Malfoy. Eram amigos há tempos, e suas famílias ainda há mais tempo que isto. A relação dos garotos poderia ter seus altos e baixos, marcada pela negligência, tratamento de posse, insultos, brigas recorrentes, maldições lançadas às cegas, chegando a um nível tóxico de amizade. Em alguns momentos, bons momentos, eles eram amigos. Eles tinham um elo. E Crabbe escondia um grande segredo de todos, era este, Crabbe ouvia. Ele ouvira tudo aquilo o que Draco contara, de sua própria forma, o que, infelizmente, não fora muito, Malfoy era um tanto quanto reservado neste quesito em particular.
Ele ouvira Draco falar da importância da garota. Ouvira relatos de infância, férias em família, um sonho e outro, experimentos secretos, as fugas, as mudanças de estações, os jogos, o refúgio, um lar. Um pouco disso e um pouco mais daquilo. Crabe ouvia. E não haviam memórias, momentos únicos e vínculos em que não houvesse . Crabbe ouvia. Ele tinha uma pequena ideia do tamanho que era a estima de Malfoy por aquela menina. E era por isso, que não conseguia entender o que poderia ter se passado para que seu amigo pudesse desistir de algo que significava o mundo para ele, a garota .
Crabbe ouvia. E num turbilhão de pensamentos, numa situação a qual nunca se pusera antes, acostumado a digerir um sentimento por vez, uma emoção por momento, um afeto por circunstância. No ato de sentir tudo de uma vez. Crabbe explodiu. E num pulo alcançou Draco. Agarrou-o pelos ombros, soube na hora que Malfoy reprovara a atitude, primeiro, pela forma com que arqueara uma das sobrancelhas, e depois porque aquele era Draco Malfoy. Mas antes que ele pudesse revidar, soltara:
- Draco! – Vociferara Vincent Crabbe. - Por que fez isso?
E então, como se perdesse toda a postura que levara a vida construindo, dando passagem para a verdadeira e inigualável essência de seu ser; os lábios soltaram aquilo, que era tão íntimo, e ao mesmo tempo, tão doloroso, que nem mesmo ele, com toda uma prepotência, encontrara forma de não se deixar machucar, e Draco ouviu, quando sua voz, enfim, confessou.
- Porque a amo e não posso fazê-la feliz.

* * *


O verão sucedeu de repente naquele ano. A manhã do último dia de Junho estava revigorante e dourada feito um pêssego. E, subitamente, guarda-roupas ficaram vazios, malões arrumados, corujas presas em suas gaiolas. Demasiado cedo, chegara a hora de voltar para casa no Expresso de Hogwarts. deu as costas às figuras nos retratos, conforme descia os últimos degraus da Grande Escadaria, pela última vez naquele ano letivo. Pensando na cama de dossel à sua espera nas masmorras da Sonserina. Dois garotos excessivamente ruivos, com sorrisos marotos e semblantes libertinos, ambos muitíssimo idênticos. Pareciam esperar por ela, no saguão de entrada lotado com os demais estudantes.
- Eu sempre tenho a esperança de que eles se esqueçam de entregar as notas e o aviso. – Lamentou Jorge Weasley, exibindo o boletim junto do aviso de que não fizessem bruxarias durante as férias, que haviam sido entregues a todos os alunos.
se virou rindo para as carruagens sem cavalos, que deveria leva-los à estação de Hogsmeade, e que agora vinham sacolejando pelo caminho. No momento seguinte, estavam embarcando no Expresso de Hogwarts. e os Weasley conseguiram uma cabine só para eles, que logo fora ocupada por Rony, Hermione e Harry Potter, este último, encarando súbita e expressivamente a garota, como se tivesse tanto a dizer, e ao mesmo tempo, não precisasse dizer nada, ela correspondeu ao olhar. Sentia o mesmo.
O grupo de seis jovens bruxos rira, conversara, comera Feijõezinhos-de-Todos-os-Sabores, brincara de Snap Explosivo, queimara os últimos Fogos Filibusteiro, aproveitara ao máximo os últimos momentos em que tinham permissão para fazer magia fora da escola. E a medida que, os campos se tornavam mais verdes e mais cuidados, antes que atravessassem as cidades dos trouxas, pôde ter um último vislumbre do castelo de Hogwarts, o que não pode, fora evitar que uma lágrima teimosa escorresse por seu rosto. E, de improviso, sentiu algo quente tocar-lhe a face, no exato ponto, onde segundos antes, a pequena gota que despencara de seus olhos, morrera. Num sinal de reflexo, os olhos se fecharam, e o sentimento fluíra, ao sentir o beijo que Fred deixava marcado em seu rosto.
- A primeira vez que entrei pelas portas daquele castelo. – Confidenciou. – Eu quis ir embora na mesma hora, e agora, conto os minutos para voltar.
- Essa foi a coisa mais bonita que já me disse. - Jorge, que mais cedo, naquele dia, prometera ao irmão que seria um bom gêmeo e não o envergonharia na presença da menina . Sob a influência de algo que ouvira nas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas ministradas pelo professor Lupin, algumas poucas palavras sobre quando as pessoas enxergam bondade e esperam coisas boas. Bem. Ele é que não queria viver atendendo as expectativas de ninguém. E completou. – É claro que vou sentir sua falta também, bobinha, com quem mais eu vou andar pelos jardins a noite? E fugir de aranhas gigantes? Ou enganar o velho Argo Filch? – Pausa dramática. - Com Fred? – E arqueou uma das sobrancelhas, provocando o gêmeo. - Mas é claro que não.
- Você não pode mesmo perder uma oportunidade de me foder, não é mesmo, irmão?
- Eu nem sonharia. - Respondeu Jorge, que parecia um menino cujo aniversário tivesse chegado mais cedo. - De jeito nenhum.
abafara um riso. E como se sua cabeça estivesse debaixo d’água, assistira enquanto aquele rosto, que mesmo carregado de feições irritadiças, era belo. Tudo dela, amava tudo dele, todas as imperfeições perfeitas, daria tudo de si para ele, e sabia que ele lhe daria o mesmo. Nós escolhemos o nosso próprio caminho. Nossos valores e nossas ações, eles definem quem nós somos. Ele era seu fim. Ele era o seu começo. E naquele momento, com o cenho fechado em cólera, numa expressão enfurecida e preparado para derrubar uma pilha de livros na cabeça do irmão gêmeo a qualquer segundo. Poderia passar o resto da viagem e todos os dias de vida que ainda lhe sobravam, apenas admirando-o, numa batalha sem fim contra a vontade interna de sufoca-lo em seus braços, de recitar-lhe alguma música boba, de dar risadas durante a chuva. Bom, talvez já não fosse mais tempo de lutar contra seus instintos. Num ímpeto, segurou o rosto de Fred com ambas as mãos, sentindo o contato da pele do garoto com as pontas de seus dedos, o toque produzindo pequenos choques elétricos.
Aproximou a boca de um dos ouvidos dele, precisava confidenciar-lhe, precisava que ele soubesse.
- Eu só estou aqui porque você quer estar comigo tanto quanto eu quero estar com você. Às vezes o destino parece cruel. Te separa da pessoa que você pensa ser tudo na sua vida. Mas apesar de cruel, duvidoso e infeliz, às vezes, o destino não erra.
- Você não tem a menor noção do seu efeito sobre mim. – Sem o semblante revolto, com as bochechas coradas, sentindo que tinha um ás em suas mangas, deixara-se por levar, hipnotizado por ela, só tinha olhos para ela. Ah, aquela garota.
Sonhara com ele quase todas as noites. Colocara para repetir até pegar no sono todas as músicas que de alguma forma a faziam pensar nele. Estava tentando descobrir exatamente o que queria lhe dizer. Mantinha uma batalha interna contra a vontade de sufoca-lo com seus braços apertando-lhe o pescoço, de lhe recitar os versos de alguma poesia boba, de ouvir risadas durante a chuva.
Bom. Já não era mais tempo de se lutar contra seus instintos. Estava constantemente à beira de tentar beijá-lo. E selou seus lábios aos dele. Naquele tipo de beijo, onde dentes colidem, onde quando ele sorri, você sorri de volta, onde corações batem num ritmo só, onde dois são um.
E soube.
A vida não se resume a momentos finais e sim os momentos que fazem parte da vida. Tudo estava bem.
Não estava mais sozinha.

FIM



Nota da autora: (20.06.2018)
E aí
Vocês acharam que eu não ia me expor hoje?
Por muito tempo achei que esse dia não chegaria, e por um tempo ainda maior nunca pensei que isso poderia acontecer.
Negócio é o seguinte, ninguém que se propõe a publicar aquilo o que escreve, trabalha apenas com uma história. E quando o teu trampo é uma fanfic é pior ainda. Eu tenho pelo menos uma dúzia de hamartias no meu drive, em andamento, esperando por inspiração, aguardando superação sentimental, abandonadas e sem futuro.
Essa Hamartia era só mais uma.
Até eu dividi-la com vocês.
E eu nunca vou saber se foi por que eu passava metade do meu tempo escrevendo, e a outra pensando no que eu poderia escrever. Pode ter sido o capítulo 20, o último capítulo, ele foi uma das primeiras coisas que eu escrevi e foi o que moldou e dimensionou a história toda, ele foi editado, uma, duas ou catorze vezes. Mas aquele primeiro rascunha ainda me deixa arrepiadinha toda a vez que eu o leio. Também pode ter sido o fato de que, na maior parte do tempo, eu tô escrevendo pra mim mesma. Acontece que eu sou a minha leitora número 1. Não tem como isso não soar prepotente, então eu lhes peço desculpas, mas eu realmente pago um puta pau pro meu trampo. E até pode ter sido o amor, o respeito e a gratidão que eu tenho por esses livros, Harry Potter muda a vida e a visão de quem suas páginas leem. Aconteceu comigo e eu sei que rolou o mesmo com muitos de vocês. E também sei que seremos sempre gratos por tudo o que essa série maravilhosa nos ensinou.
Eu não mudaria nada. O começo tímido, de uma escritora bem bem bem amadora, que não colocava lá muita fé no que tava fazendo, que pensava em desistir, que não achava que nada tava bom o suficiente, que comparava todas suas linhas com as de outros; o nortear da escrita e o prazer por cada palavra redigida. Eu tinha epifanias de hamartia o tempo todo. Podia ser na fila do mercado, no banho ou até assistindo algum seriado. As vezes ainda acontece. Essa história me ensinou muito. Me ensinou a errar e aprender com meus erros. Me ensinou a controlar minha ansiedade. Me ensinou a confiar em mim mesma. Me ensinou sobre quem eu sou. E quero aproveitar e deixar registrado um conselho para vocês. Cada um de nós, cada ser humano, é um ser único. E a única pessoa que nos podemos mudar, somos nós mesmo.
Eu posso te garantir que quando o cara chega no ponto de deixar outras pessoas lerem o trampo dele, ou ele quer visibilidade ou ele tá realmente satisfeitíssimo com o que ele fez. E eu não poderia estar mais em feliz com o que a gente construiu por esses capítulos. Cada trecho dessa história tem uma pequena parte de mim, e agora, se você chegou até aqui comigo, existe uma parte minha vivendo em você.
E eu quero te agradecer por isso.
A vocês eu deixo a melhor parte de mim.
Acho que é isso.
Pela última vez, gratidão a você, leitor.

Xoxo

Heloisa Braga
24/05/2018




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