Não me acorde. Eu pedia ao meu subconsciente por mais alguns minutos de sono, mas ele insistia em me trazer de volta a realidade. Mais cinco minutos – era o que eu repetia em minha mente preguiçosa enquanto afundava o rosto no travesseiro, me recusando a abrir os olhos para conferir as horas.
Passo minutos no limbo de um sono leve, até sentir sua mão firme percorrer minhas costas com as pontas dos dedos calejados para alcançar a curva de minha cintura, onde começou a fazer um carinho suave. Sinto um arrepio subir por minha espinha, mas tento permanecer imóvel e rígida, se percebesse que eu ainda dormia profundamente ele pararia. Solto um suspiro para soar mais convincente.
Ele agora desliza sua mão por meu ventre e seu braço envolve minha cintura, - maldita sensação na boca do estômago. Posso sentir sua respiração em minha nuca e luto para controlar qualquer reação exagerada que meu corpo pudesse apresentar, mas no momento seguinte ele trilha o caminho até meu seio nu descoberto pelo lençol e eu me vejo obrigada a “despertar” do meu sono profundo. Seguro sua mão e afasto o mais gentilmente que consigo. Não seria uma boa ideia começar tudo de novo.
- Bom dia – falo casualmente enquanto me levanto e vou em busca de minhas roupas.
- Você não precisa das suas roupas agora. Nós ainda nem tomamos café. – Ele sorri de canto, se espalhando preguiçosamente na cama.
- Desculpe, eu não posso ficar.
Visto minha calcinha e coloco a blusa sem o sutiã, fechando os botões sem olhá-lo.
- Você tem compromisso num domingo de manhã? – ironiza divertido. – Nós ainda temos tempo.
- Eu realmente...
- , você gosta mesmo de me fazer implorar pra você ficar – ele ri me interrompendo e veste sua boxer que estava ao pé da cama.
O comentário me trás lembranças e meu estômago revira com a raiva repentina, me fazendo responder entre dentes:
- Tem alguém me esperando e eu não posso me atrasar. – Fecho minha calça jeans e dou voltas atrás de meus sapatos.
- O que houve com você essa manhã? Aconteceu alguma coisa?
Sinto seus olhos acompanhando meus movimentos e meu nervosismo crescendo.
- Não, . Só não posso me atrasar. – Repito, impaciente.
- Tudo bem. Eu te levo então.
- Não, você não vai me levar.
- Por quê? Só vou levar um minuto para me vestir. – ele vai atrás de suas roupas pelo quarto do hotel.
- , não...
- Por que não, ? O que há com...
- Por que eu vou voltar para o meu noivo.
Falo alto e rápido enquanto viro para encará-lo finalmente. Ele paralisa por um segundo.
- Noivo?
- Sim, meu noivo – minha voz soa firme e eu sustento seu olhar.
- Você tem um noivo?
- ...
- Você tem um noivo e não me contou nada?
- Isso ia mudar alguma coisa?
- A gente se encontra numa livraria dois anos depois de você me deixar. Você flerta comigo. Nós passamos a noite de terça feira juntos. No dia seguinte você tem a ideia de passar um final de semana em uma pousada. Nós passamos três dias juntos... três dias juntos. – ele narrava os fatos com indignação -. Por que você fez isso?
Suspiro antes de responder:
- Por que eu me senti atraída por você. Nós ainda temos muita química sexual, temos familiaridade. Nós dois queríamos e aconteceu.
- E agora você simplesmente volta pro seu noivo. Simples assim? Onde ele acha que você esta afinal?
- Ele acha que eu fui passar o final de semana com meus pais.
- Parece então que agora você aceita traição. Depois de quebrar meu flat inteiro, agora você faz isso.
- Cala a boca, , isso não tem nada a ver com aquela noite. – eu aumento o tom de voz sem perceber – Eu e você tivemos uma história...
- Tenho certeza que seu noivo vai entender. Você pretende contar? – ele pergunta irônico.
- Não... Sim... Eu ainda não sei. De qualquer maneira tenho que vê-lo, minha história é com ele agora, há um ano já...
- Então o que você está fazendo aqui comigo? – ele se aproxima e eu prendo a respiração – Por que você me beijou naquele dia?
inclinou a cabeça em minha direção, fazendo nossos narizes quase se tocarem. Eu podia sentir seus olhos sobre mim com intensidade, mas eu estava muito ocupada admirando seus lábios tão próximos e tão acessíveis. Sinto nossas respirações se misturarem e não consigo encontrar uma resposta.
- Por que, ?
Ele nem precisava me tocar.
- ... não é assim que funciona. – minha voz soa baixa e fraca.
- Como funciona então? – sua mão grande se encaixa na curva de minha nuca e ele puxa meu rosto em sua direção.
Eu espero sentir seus lábios nos meus, mas isso não acontece. Ao invés disso, seu nariz roça minha bochecha lentamente, me trazendo lembranças mais fortes de nossa história. Ele ainda sabia meus pontos fracos, lembrava-se de cada carinho que eu gostava, sabia como mexer comigo mesmo depois de dois anos separados. Sua mão livre estava espalmada em minhas costas fazendo a distância entre nossos corpos ser praticamente zero. Seus lábios eram suaves e gentis no meu pescoço.
- ...
- Você quer ir embora? – seu hálito quente contra minha pele me faz suspirar e fechar os olhos. – Responde, , o que você quer agora?
Droga! Ele não me apertava, não me beijava a força, não me segurava entre os braços me impedindo de ir embora. Então por que eu não conseguia me afastar? E essas malditas perguntas. O que ele esperava que eu dissesse? Eu estou noiva, segui em frente com Ben e as coisas estão ótimas entre a gente. Somos muito próximos e nos entendemos muito bem, Ben me passa segurança e era o que eu precisava.
- Eu quero ir . Preciso ir agora. – coloco as mãos em seu peito, o empurrando levemente e me desvencilhando dos seus braços.
, porém, é rápido e envolve os braços ao meu redor novamente assim que me viro, me abraçando por trás.
- Me responde, , depois eu te deixo ir aonde quiser ir.
- O que você quer ouvir?
- A verdade...
Prendo a respiração novamente quando ele passa a desabotoar os três primeiros botões de minha blusa com lentidão deliberada. Emito um som suave e fecho os olhos ao sentir sua mão fazendo pressão sobre meu seio esquerdo e começar a acariciá-lo. O que eu queria afinal? O que eu estava fazendo ali e por que o trouxe de volta para minha vida? A resposta era simples de se deduzir, mas difícil de admitir. De repente meus jeans pareciam muito apertados, quase irritantes. O polegar de fazia pressão em meu mamilo, comandando as caricias com maestria. Inclino minha cabeça para trás a procura de sua boca e nossos lábios passam a se roçar vagarosamente.
- Você me quer tanto quanto eu te quero. – sua voz era baixa e rouca – Como eu sempre quis desde meus quinze anos.
Suas mãos se fecham ao redor de meus seios, me fazendo arfar contra seus lábios.
- Seu corpo responde tudo que você não quer admitir, .
Ele desliza a língua por entre meus lábios, mas não permite que o beijo comece quando tento.
- Em quem você está pensando agora? Nele ou em mim? – recebo uma mordida no queixo e apoio a cabeça em seu ombro.
Tento puxar seu rosto de encontro ao meu e colar nossos lábios de uma vez por todas, mas ele resiste. permanece impassível e eu fico impaciente.
- Diz, ... – sinto a pressão de suas mãos novamente em meus seios.
- Me beije. – peço num sussurro.
- Diz que fica comigo.
Abro os olhos rapidamente e afasto suas mãos com certa relutância interior. Abotoo os botões da blusa, fugindo de um novo aperto de seus braços.
- , isso não vai acontecer. Nós já acabamos a muito tempo.
- Você precisa saber que eu não vou desistir de você desta vez.
- Nós já desistimos um do outro há dois anos.
- Então eu preciso saber que fiz tudo que estava ao meu alcance pra dar certo.
- Talvez um pouco tarde demais. – tento parecer fria e distante, mas uma pontada de magoa transparece em minha voz.
- Eu tentei de todas as maneiras conversar com você depois daquela noite, tentei por quase três semanas.
- Isso não importa, depois daquela noite não importa. Eu só sinto muito pelo o que nós poderíamos ter sido juntos por todo esse tempo e talvez pelo resto da minha vida.
- Meu Deus, ! Você jogou tudo fora por uma noite. Você preferiu jogar fora cinco anos e tudo que poderíamos ser. Foi uma escolha sua. – ele começa a se exaltar – No entanto aqui estamos, e desta vez eu sou “o outro” e você é a garota que vai sair pela minha porta carregando os sapatos.
A raiva me arrebata de tal forma que posso sentir meu rosto vermelho.
- Seu... você... - você é um cretino idiota. - Eu não deveria ter feito isso. Desenterrar essa história foi outro grande erro mesmo. – começo a andar de um lado para o outro.
- Então por que fez, ? O que nós viemos fazer aqui? Essa foi nossa noite de bônus?
- Eu não te arrastei aqui a força, . O que você veio fazer aqui?
- Não estou escondendo nada. Estou te pedindo pra ficar comigo, eu quero você como queria há oito anos. Você que é a hipócrita aqui, tem um medo estúpido de me amar de novo e esta usando aquela traição como desculpa.
- CALA A BOCA – grito e sinto meus olhos já com lágrimas, mas me obrigo a engoli-las. Aquela não era mais eu – Eu amo o Ben. Ele me da segurança, me entende, me aceita e me da espaço.
- Que tédio, . – ele rola os olhos e eu procuro pelo primeiro objeto para arremessar – Estou começando a achar que fiz um favor ao seu noivo.
- Eu te odeio tanto...
Sigo rápido em sua direção a fim de atingi-lo, mas antes mesmo que eu pense em erguer a mão ele segura meu pulso com força. Com a mão livre segura meu rosto e choca nossos lábios com voracidade. Sua língua invade minha boca e o calor de instantes atrás volta a formigar sob minha pele. Eu quero passar mais um dia sob as cobertas sentindo seu toque. Me condeno mentalmente por minha insegurança, teimosia, falta de controle e hipocrisia. Ele estava completamente certo ao meu respeito.
Permaneço imóvel ao final do beijo, esperando senti-lo perto, sentir sua respiração falha como a minha, mas se afasta.
- Não odeia, não. Você só é covarde.
- , eu não posso começar isso tudo de novo...
- O plano era só uma noite?
- Por favor, me deixa falar. – eu suspiro e busco seu olhar – Infelizmente as coisas mudaram. Nós não somos mais adolescentes e passamos partes importantes de nossas histórias separados. Eu não sou mais a mesma pessoa e sei que você também não é. Eu conquistei alguma atenção com meus desenhos, eles já não são mais feitos em bordas de guardanapos, estou lutando pela minha própria marca assim como você. Esta prestes a abrir sua própria gravadora, levar músicos como você para o mundo. Muita coisa aconteceu e nós não dividimos esses momentos, se fosse para dar certo não era pra perdermos tantas conquistas e sim compartilhá-las.
- , isso não é coisa do destino. Nós perdemos dois anos por puro orgulho. – ele desliza a mão pelo cabelo, demonstrando o cansaço emocional no gesto.
- Mas foram perdidos e não tem como recuperá-los.
- Você quer um conto de fadas e isso eu não posso te dar. Te ofereço tudo que eu sou e tudo que eu sinto por você, tendo a certeza de que você sabe quão verdadeiro tudo isso é. Se você algum dia estiver disposta a aceitar essa realidade, eu vou estar aqui pra fazer o que for possível pra isso dar certo.
- Eu não mereço um conto de fadas?
- Eles não existem, . Quando você estiver pronta para aceitar isso eu vou estar aqui... até lá seu noivo estará ao seu lado, mas ele nunca vai estar a altura das suas expectativas. Ninguém estará.
Abaixo a cabeça e impeço novamente o choro de começar. Calço os sapatos e apanho a bolsa. Já prestes a deixar o quarto, falo:
- , só quero que você saiba que eu não fiz isso por vingança, para tentar te magoar ou...
- Eu sei. - ele me interrompe – Nós temos uma história juntos. Acho que é natural.
- É natural. – repito e fito seus olhos longamente.
Ele sustenta meu olhar de forma enigmática e eu não consigo decifrar suas emoções ou o que se passa em sua cabeça. apenas olha pela segunda vez enquanto eu vou embora, e desta vez parece ainda mais difícil do que jamais foi. Tento partir com a ideia de que se pude perdê-lo uma vez, conseguiria perdê-lo de novo sabendo que a escolha foi minha.

Fim - Parte II



Nota da Autora: Sem nota.


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