How Could This Happen To Me
Autora: Ana | Beta-reader:Brille

Finalmente conseguira pôr a papelada em dia. Estava cansado de ter que lidar com a irresponsabilidade de seu sócio, sem contar e a quantidade de trabalho acumulado que havia ficado para este desde que resolvera tirar duas semanas de férias. Teria uma séria reunião com James após o fim de semana, bastava para ele.
Levantou-se da cadeira e, apesar de esta ser confortável, estalou as costas devido ao longo período que ficara na mesma posição. Espreguiçou-se e soltou um longo bocejo. Mal podia esperar para chegar em casa, tomar um banho e passar o resto da noite abraçado a , sua esposa.
Apesar de estar cansado, arrumou sua mesa, pois não estava nem um pouco a fim de ter que fazê-lo na segunda-feira de manhã. Quando tudo estava em seu devido lugar, pegou sua mochila, apagou as luzes de sua sala, caminhou calmamente pelo corredor e quando chegou às portas do elevador, chamou-o. Em poucos minutos as portas se abriram; ao adentrar na caixa metálica, prontamente apertou o botão que o levaria ao subsolo onde sua moto o aguardava.
Enquanto esperava as portas se abrirem novamente, pegou seu celular, que se encontrava no modo silencioso, para checar se havia alguma mensagem. Constatou que havia cinco chamadas perdidas de um mesmo número, o de . Estranhou o fato, já que ela sabia que ele passaria o dia todo no escritório. Também havia três mensagens de texto, duas eram iguais: ‘você já está vindo?’ e a outra dizia ‘amor, volta logo, preciso falar com você’. Ficou ansioso para saber do que se tratava e discou a chamada rápida para o número dela enquanto as portas se abriam novamente e saía do elevador.
Não obteve respostas, o que o deixou ainda mais ansioso e curioso, então mandou um SMS para ela informando que já estava voltando para casa.
Guardou o celular no bolso da mochila e retirou dela seu ipod e seu capacete personalizado. odiava sua moto e odiava ainda mais que seu nome estivesse gravado nela, mesmo que em letras muito pequenas. Pôs os fones do aparelho eletrônico no ouvido e ligou-o em seguida, ouvindo os acordes iniciais de Love Me Do dos Beatles. Sorriu satisfeito com o som e pôs o capacete, subindo na moto e dando partida logo em seguida.
Quando se aproximava da entrada da garagem, o porteiro, um homem de certa idade, levantou a cancela e ergueu o polegar como agradecimento para o senhor. Acelerou assim que chegou à rua, e aumentou a velocidade no caminho para casa. Não era imprudente assim sempre, mas as ruas já estavam vazias e tinha pressa em chegar ao seu destino.
Acompanhava a letra da musica que tocava, relativamente alta, em seus ouvidos, e não pode ouvir o carro que buzinara para ele, tampouco teve tempo de desviar e evitar a colisão com este. Tudo o que sentiu foi seu corpo sendo arremessado contra o asfalto seco.

No apartamento
não acreditava que não ouvira seu celular tocar, queria tanto ouvir a voz de , ficara o dia todo sem falar com ele. Leu a mensagem que ele havia lhe deixado e sorriu em saber que logo o veria. Seu sorriso se desfez quando viu que fazia tempo que recebera o recado, não era muito tempo, entretanto mais que o suficiente para que ele chegasse em casa. Começou a ficar desesperada, e tentou se acalmar pensando que a maldita moto poderia ter quebrado, ou algo assim. Seus pensamentos não estavam adiantando muito, então começou a trocar a camisola por jeans e uma camiseta, estava decidida a procurar pelo marido.
Quando já estava com a mão na maçaneta para sair de casa, seu celular tocou. No visor piscava o nome de , para seu momentâneo alivio.
- Alô, ?
- Não, aqui é Ashely, você é parente dele?
- Sim, sou esposa. Cadê ele?
- Bem, eu falo do hospital St. Louis, seu marido sofreu um acidente de moto, e este número foi o último chamado.
- Acidente? – sua voz vacilou enquanto pronunciava aquela palavra. Apertou forte a maçaneta da porta para não cair. – Foi grave? Ele tá bem?
- No momento ele está no centro cirúrgico, sofreu uma hemorragia interna e um possível traumatismo craniano, parece que o capacete estava frouxo.
- Estou indo para aí agora. – desligou o celular e falou para si mesma. – Oh .
Saiu do apartamento, trancando-o, e desceu os lances de escada o mais rápido que pode, não aguentaria esperar pelo elevador e o quarto andar não era tão longe assim do térreo. Por sorte, seu carro estava estacionado em frente ao prédio, o que a fez economizar tempo precioso, chegar o mais rápido possível não faria a cirurgia acabar antes, mas precisava estar perto dele.
Dirigiu chorando durante todo o trajeto, o que sabia que era errado, mas pouco se importava no momento. Estacionou da melhor forma que conseguiu em frente ao hospital e correu para dentro deste, desesperada por informações.
Aproximou-se da recepcionista exigindo saber como estava e apenas foi aconselhada a esperar na sala de espera até o fim do procedimento cirúrgico. Os minutos se arrastavam e nada acontecia, já não chorava mais, mas ainda estava impaciente. Após o que lhe pareceu a eternidade, um homem trajado de verde entrou na sala retirando uma touca, da mesma cor, da cabeça e dirigiu-se a ela :
- Senhora ?
- Sim. Como ele vai ficar?
- Bom, o estado dele é grave, teremos que...
- Deixe-me vê-lô?
- Poderá velo assim que ele acordar.
- Por favor, preciso ver ele – começou a chorar novamente, o que sensibilizou o cirurgião.
- Tudo bem, me acompanhe. – os dois andaram até o quarto de número 221 e, antes de abrir a porta, o médico lhe avisou: – Ele precisa descansar.
assentiu antes de entrar no aposento. Não gostou nada de como o marido estava; seu corpo gelou ao vê-lo naquela situação. Ele dormia, mas não tinha a expressão serena que carregava quando dormia, seu rosto tinha traços visíveis de sofrimento o que fez piorar o temor que sentia, não queria perde-lo, não podia perdê-lo.
Sentou-se na poltrona que jazia ao lado da cama e segurou a mão do marido, acariciando-a levemente. Acabou cochilando junto a , mesmo se esforçando para não fazê-lo, mas estava extremamente cansada.
Acordou assuntada devido a um pesadelo do qual não conseguia se lembrar, olhou em volta e lembrou-se onde estava e porque estava ali. Imediatamente olhou para o homem ao seu lado, este continuava na mesma posição de antes. Levantou-se e foi, relutante, até a maquina de café que vira no corredor. Comprou um cappuccino e voltou para perto do marido. Não aguentava mais vê-lo naquele estado, queria falar com ele, queria que ele lhe dissesse que estava bem, que tudo ia ficar bem, como ele sempre fazia.
Sorveu o conteúdo do copo quase completamente antes de voltar ao quarto, deixando o copo quase vazio na mesinha que tinha no local. Quando se sentou novamente, acordou tossindo. Parecia que ele estava fazendo grandes esforços para abrir os olhos, mas quando o fez, a visão de seus olhos trouxe à um alívio que ela nunca imaginou que sentiria.
- Onde estou? – perguntou confuso, com a voz fraca.
- Calma, amor, estamos no St. Louis. – respondeu vendo uma interrogação se formar no rosto do marido.
- Por quê? O que aconteceu?
- Você sofreu um acidente com aquela maldita moto. – tentou fazer uma piada com a situação, como se tudo já estivesse bem, mas se arrependeu logo em seguida. – Vai ficar tudo bem. – Disse passando a mão pelos cabelos dele.
Ficaram em silêncio enquanto ela acariciava os aranhões do rosto dele. quem quebrou o silêncio ao se lembrar do motivo que o fez querer chegar ainda mais rápido ao lar.
- , o que você queria falar comigo? – ela levou algum tempo para entender ao que ele se referia.
- Não importa agora.
- Importa sim. – disse tossindo e vacilando nas palavras. Parecia que ele ficava cada vez mais fraco, aquilo não parecia certo a ela.
- Estou grávida. – uma lágrima escorreu no rosto dele, fazendo-a chorar também.
- Isso é ótimo, meu an... – ela nunca ouviu o apelido novamente. Chamou por ele repetidas vezes, mas nada aconteceu, o monitor cardíaco exibia uma linha reta e continua. Enfermeiros entraram correndo no quarto e uma mulher do grupo praticamente arrastou para fora do mesmo.
As tentativas de ressuscitação não deram resultado algum, apesar de ninguém ali gostar da situação, já estavam acostumados, sabiam que era hora de declarar a morte de mais um paciente vítima do trânsito.
Mesmo achando que já não lhe restavam lágrimas, chorou como nunca havia chorado antes e como nunca queria voltar a chorar, a dor que sentia era inexplicável. Era como se seu mundo tivesse acabado, sentiu suas pernas fraquejarem no corredor e se arrastou, apoiada na parede, até o chão, onde apoiou a cabeça nos joelhos.
Minutos depois sentiu que alguém puxar seu braço para ajudá-la a se levantar. Era o mesmo médico que falara com ela mais cedo. Este perguntou se ela não queria um calmante, que foi negado veementemente, mesmo com a insistência do profissional, que finalmente parou de oferecer, mas não permitiu que ela fosse embora sozinha.
ligou para , sua melhor amiga, e quando esta chegou, abraçou-a o mais forte que conseguiu. Apesar do conforto que a amiga lhe trazia, sua dor não diminuía. Nada, nunca, poderia substituir a paz que lhe dava.

Oito meses depois chorava novamente, de felicidade, dava à luz ao seu filho com o cara que sempre amou, era mesmo muito triste saber que nunca conheceria o filho e que o garoto jamais poderia conhecer o pai maravilhoso que teria. Claro que ela ainda sentia a falta dele, sempre sentiria, ainda chorava ao olhar as fotos de seu casamento, mas tinha que levar a vida, sabia que ele não gostaria que ela vivesse na tristeza, deveria seguir em frente por ele, por ele e por II, seu filho.


N/A: Espero que não tenha ficado muito. Escrevi essa fic há tanto tempo que no lugar do ipod tinha um MP4 LOL, e tava horrível! Se alguém gostar ficarei muito feliz, se alguém comentar ficarei ainda mais feliz, mas se ninguém comentar também não tem problema algum, acho.


Nota da beta-reader: Encontrou algum erro? Mande um e-mail para drainnotes@live.com ou me avise pelo Twitter.



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