I Know I'm Not Alone
Escrito por: Marcella Ribeiro | Beta: That

Se havia uma coisa que perturbava a garota, era o fato de estar brigada com . Odiava quando isso acontecia, mesmo que a maioria das vezes fosse por culpa dela.
no momento encontrava-se, ao que acreditava, “dando um tempo” daquela estranha relação que tinham, e isso a incomodava de tal forma que tinha vontade de gritar. Já não se falavam há duas semanas!
não era seu namorado, tampouco era seu amigo. Na verdade, ambos já tinham chego ao acordo de que as palavras “amigo” e “namorado” eram fracas demais pra definir o que realmente acontecia entre os dois. Porque nenhuma das duas palavras mostrava a forma como, de algum jeito, pareciam ligados um ao outro. Ou as formas estranhas nas quais se entendiam e nem mesmo eles sabiam explicar.
Mas e já tinham chego, também, ao acordo de que explicações não eram necessárias.
lembrava-se com muita exatidão cada pedacinho de tudo o que acontecera entre ela e , mas a única lembrança que ia e voltava à sua cabeça, naquele momento, cada vez com mais força, era a briga, na qual, agora admitia, fora uma bela idiota. Sem falar no “egocêntrica”, “filhadaputamente egoísta” e “uma vadia”.
“Uma vadia” exemplificava muito bem a forma como tinha agido com ele.

“Chegou à casa de como sempre fazia nas quintas-feiras, às quatro da tarde. Quando ele abriu a porta, estava com uma cara nada boa, mas não reparou porque ela mesma estava extremamente irritada com Dirk, um garoto com quem estava saindo e acabara de, bem... Dar um belo chute na bunda dela.
Começou a contar a história quando se jogou no sofá, mas o fato de parecer estar distante a maior parte do tempo (o que não era muito comum, já que ele sempre pareceu estar à espera de um motivo pra arrancar a cabeça de Dirk e qualquer outro garoto que se aproximasse
romanticamente de ), a deixou ainda mais irritada.
- O que está acontecendo com você hoje, ? – disse, e finalmente, quando ele olhou nos olhos dela, percebeu que algo tinha realmente acontecido com ele. – O que foi? – perguntou, em uma voz mais branda, mas mesmo assim não tão livre de irritação quanto deveria estar.
- Minha mãe veio aqui. – respondeu, em uma voz rouca e que parecia a de alguém prestes a gritar.
- Ah – foi tudo o que conseguiu responder.
Sabia que tinha um sério problema com a mãe. Não era pra menos: quando tinha 12 anos, ela sumiu. Assim, do nada, sem dar a menor explicação. Como morava com ela, não com o pai, ficou desesperado, achando que algo tinha acontecido, mas logo a mãe entrou em contato, garantindo que estava bem. E garantindo que não voltaria mais; pelo menos, não pra ficar.
ficou, então, entalado em uma casa vazia, sem alguém adulto e responsável em quem se espelhar, a não ser a tia, que morava a alguns quarteirões dali e era a única figura materna que já considerara, mesmo antes da mãe ir embora.
não quis sair da casa – afinal, já era própria – então o pai simplesmente começou a ajudá-lo com as contas, mas desde muito cedo se viu obrigado a trabalhar, ser um adulto (na verdade, uma criança que foi obrigada a crescer cedo e rápido demais), e sempre que a mãe voltava, dizendo querer vê-lo, era sempre uma desculpa pra conseguir algum dinheiro, ficar bêbada e cair no mundo novamente logo depois.
Então, sim, não se dava muito bem com a mãe, porque cedo demais percebeu também que era um mero
recurso nas mãos dela, e que por mais que ele precisasse de uma mãe, ela não precisava de um filho.
- O que ela fez dessa vez? – voltou a falar, e sem querer, usou um tom entediado na voz, como se não aguentasse mais ouvir reclamar da mãe e de como eles sempre brigavam quando ela voltava.
- O de sempre – ele respondeu, sentando-se ao lado dela e colocando as mãos na cabeça – Chegou cheia de abraços e beijos, pegou um dinheiro e se mandou.
- Bom... – disse, tentando parecer compreensiva. Não conseguiria mais mentir pra si mesma nessa questão:
estava de saco cheio de falando da mãe – Não sei por que você ainda se afeta com isso, – por mais que não fosse essa a sua intenção, acabou parecendo que estava dando uma bronca nele – Ela sempre faz isso, você sabe. Devia estar acostumado já.
, por um momento, olhou incrédulo pra ela. Não ouvira nem metade da história que a garota contou sobre o tal garoto, mas isso porque, na cabeça dele, “problemas familiares” tinha muito mais importância na Lista de Assuntos Importantes a Tratar em uma Amizade do que “levar um fora”.
- Fácil pra você falar – ele disse, não em um tom irritado, mas em um tom magoado – você tem uma mãe
de verdade. Não sabe como é estar no meu lugar, não é mesmo?
Sentindo-se injustiçada, fez um gesto de menosprezo com a mão, dando de ombros.
- Ela sempre faz isso, . E eu sempre estou aqui pra ouvir você reclamar dela, já percebeu? – quando viu que ia retrucar, levantou a mão em um sinal de “pare” e continuou falando – Agora, se você acha que é minha culpa se a minha mãe é uma mãe decente e a sua não, eu não sei mais o que te dizer.
Assim que ouviu as próprias palavras, percebeu que tinha ido longe demais. Mas não voltou atrás, nunca voltava. Afinal, não podia voltar no tempo e falar outra coisa. Nem engolir as palavras que acabara de deixar escapar antes que pudesse ouvir.
- Ah – disse em resposta, um “ah” quase chocado – vejo que pra você é mais importante o que o tal do Duck fez do que me ouvir choramingar que nem um bebê por não ter uma mãe
decente, então, não é?
- É Dirk, não Duck – ela corrigiu, ainda mais irritada, e o fato de a estar olhando com estupefação e não irritação, como ela olhava pra ele, só fazia aquela irritação inicial subir um nível. Ou dois. – Talvez seja mesmo mais importante.
Não disse mais nada, porque não tinha realmente mais o que dizer.
então sorriu de um jeito falso, como se ainda não acreditasse que ela estava fazendo aquilo.
- Vá adiante, então – disse, dando de ombros – fale do tal cara que você acha mais importante.
não detectou o sarcasmo na voz dele, e querendo evitar realmente brigar, recomeçou a falar de Dirk, e só depois que fez isso percebeu que não queria que ela falasse daquilo. Queria que se desculpasse.
Ele levantou do sofá, rindo sarcasticamente do jeito que sempre fazia quando ficava nervoso, o rosto já ganhando uma coloração vermelha nada natural.
- Você é inacreditável! – pela primeira vez, tratou-a da forma que ela o estava tratando desde que chegara ali. – Por favor, faça o favor de sair da minha casa.
- O quê? – levantou-se também, mais incrédula do que ele ficou minutos atrás – Você tá me expulsando da sua casa, é isso? Logo
eu?
- Você tá vendo mais alguém aqui, ? Porque eu não tô.
E assim, sem dizer mais nada ou sequer olhar pra ele, ela saiu de lá. Muito mais cedo do que costumava fazer às quintas-feiras. E muito mais estressada do que costumava estar, também.”


via agora o que achava inacreditável. E sabia também que tinha pisado feio na bola. Afinal, ele sempre a aguentava quando estava choramingando por algum garoto com quem não deu certo. Era quase como se ela devesse aguentá-lo quando falava da mãe. Porque, desde o começo, eles se entendiam exatamente por isso: por mais que outras pessoas soubessem de seus problemas, apenas com se sentia seguro o suficiente pra falar sobre aquilo. E só com ela se sentia segura pra falar de todos os garotos com quem não dera certo. E só um com o outro eles conseguiam ser eles mesmos. Sem máscaras, sem precisar esconder algo que achavam feio sobre eles mesmos, sem precisarem parecer simpáticos ou amáveis ou sequer educados quando estavam um com o outro.
Eram o que eram, e era por isso que se tornaram “melhores amigos” (por falta de palavra melhor): podiam ser o que eram na presença um do outro.
Então, é claro, podia ser a garota que não dava certo com ninguém e que se sentia insegura com isso quando estava com . E podia ser o garotinho que ele teve que deixar pra trás aos doze anos e choramingar com ela, porque aquilo era ser verdadeiro. Ser ele. Ser o que queria ser.
E tinha achado mais importante falar sobre o idiota do Dirk! Que, na verdade, só tinha realmente passado pela cabeça dela quando se lembrava da briga com . Ela nem sequer se sentia mal pelo fora que levara! Mas se sentia muito mal pelo o que o fora tinha a levado a fazer.

Nos dias que se passaram – mais uma longa, longuíssima semana para – tentou ligar para . Ligar, mandar mensagem, chamá-lo no chat, mandar sinal de fumaça, mas mesmo assim o garoto parecia realmente chateado com ela dessa vez. Não que não tivesse motivo para estar, porque tinha.
Foi em outra quinta-feira, a exata quinta-feira onde eles faziam o aniversário de três semanas sem se falar direito como nos velhos tempos, que percebeu que se não fizesse algo de verdade pra se desculpar – como, por exemplo, pela primeira vez na vida pedir desculpas para – a amizade deles poderia ir por água à baixo. Estavam se vendo ainda, sim. Conversavam ainda, sim. Mas não era como antes. Havia uma frieza no modo com o qual faziam isso que estava dando um aperto enorme no peito de – no de também, embora ela não pudesse ter certeza disso porque não falava de verdade com ela há três semanas!
No fim daquela quinta-feira, decidiu que faria alguma coisa. E como sabia que, àquele ponto, não era só o fato de voltar a falar com que a preocupava, mas o fato de que ela contribuíra pra que a coisa especial e que ninguém mais tinha que ela e compartilhavam ficasse seriamente abalada, decidiu também que o que quer que fizesse, teria que ser feito muito bem.
Teria de ser algo especial, assim como era amizade deles. Assim como era pra ela. Especial assim como era de uma forma que ninguém nunca conseguiria ser.

- Alô? – Uma voz sonolenta respondeu do outro lado da linha, e suspirou aliviada.
- Formiga? – ela perguntou, só pra ter certeza que era ele.
- ? É você?
Sim, era o Formiga. Claro, aquele não era o nome dele de verdade. O nome era Marcos, e ela nem sabia por que o apelido dele era Formiga, mas isso não era importante.
- Oi, sou eu – ela respondeu, um pouco cautelosa, pois sabia que ele odiava ser acordado. E quem não odiaria ser acordado à uma da manhã? – Sei que está tarde, desculpa te acordar, mas eu preciso da sua ajuda. Muito mesmo. - Um silêncio tomou conta da ligação, e ela então ouviu um bocejo.
- Hmm... Em quê, exatamente?
- Eu, hmm... É sobre o . Preciso de ajuda pra... Fazê-lo voltar a ser, você sabe... Meu melhor amigo.

- Você tem certeza que está pronta? – Formiga a olhava de rabo de olho, um tanto preocupado enquanto estavam ambos parados em frente à porta de . Ele, dentro do carro. Ela, já do lado de fora, com um violão preto – o de Formiga – nas mãos.
estava visivelmente tremendo, e isso não passou despercebido pelo grande-mas-não-tão-amigo-de--quanto- Formiga.
- Acho que sim – ela disse, tentando sorrir e fazer valer os três dias que levou pra aprender a tocar determinada música naquela coisa que agora carregava nas mãos.
Agradeceu rapidamente ao amigo e, com um “boa sorte” vindo dele, observou-o dar a partida no carro e deixá-la ali, nervosa e sem saber se aquilo daria certo. E se ela esquecesse algum acorde no meio da música? E se esquecesse a música?
Balançando levemente a cabeça pra se livrar dos pensamentos e, quem sabe assim, da tremedeira também, tocou a campainha e esperou.
Pareceram que os segundos até atender a porta duraram horas, mas assim que ele o fez, ela quis desistir de tudo. Sair correndo, como uma adolescente idiota de algum filme americano mais idiota ainda.
- Pra quê o violão? – perguntou, intrigado, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. E então ela se deu conta de que tinha aprendido a tocar e a cantar a tal música, mas não tinha planejado o que fazer para começar a tocar. Muito inteligente, ela pensou. Muito inteligente.
Pigarreou, querendo fazer sumir o bolo em sua garganta.
- Eu quero... Eu tenho que te mostrar uma coisa.
E tomada por uma coragem que, certamente, não era dela, entrou na casa e sentou-se no sofá da sala dele, o mesmo onde, três semanas e três dias atrás, ela foi uma idiota e começou uma briga idiota com o seu “melhor amigo” (por falta de palavra melhor) idiota também.
ainda parecia intrigado com aquilo tudo, mas sentou-se ao lado dela, no mesmo lugar onde estiveram três semanas e três dias atrás.
Sem mais enrolação (e também porque não sabia o que falar), posicionou o violão no colo da forma que Formiga a ensinara e começou a tocar. Logo de primeira, errou, mas respirou fundo e recomeçou, sabendo que não sairia dali antes de terminar o que fora fazer (primeiro porque seria muito covarde de sua parte fugir àquele ponto, e segundo porque não deixaria que fosse a lugar nenhum sem antes explicar o que diabos estava fazendo).
A voz dela não era das melhores, mas dava pro gasto.

- Everybody needs inspiration
Everybody needs a song
A beautiful melody
When the night's so long
Cause there is no guarantee
That this life is easy

Yeah, when my world is falling apart
And there's no light to break up the dark
That's when I, I, I look at you
When the waves are flooding the shore and I
Can't find my way home anymore
That's when I, I, I look at you

When I look at you
I see forgiveness
I see the truth
You love me for who I am
Like the stars hold the moon
Right there where they belong and I know
I'm not alone

Yeah, when my world is falling apart
And there's no light to break up the dark
That's when I, I, I look at you
When the waves are flooding the shore and I
Can't find my way home anymore
That's when I, I, I look at you

não sabia exatamente se queria olhar pra naquele momento, mas ao dar uma leve espiada no garoto, percebeu duas coisas: ele estava com um indício de sorriso no rosto, e ela tinha acabado de errar as notas do violão pela segunda vez.

- You, appear, just like a dream to me
Just like kaleidoscope colors that
Cover me
All I need
Every breath, that I breathe
Don't you know?
You're beautiful

When the waves are flooding the shore
And I cant find my way home anymore
Thats when I,
I I look at you
I look at you

Yeah yeah...
Oh oh...
You appear just like a dream to me...


Ao terminar, queria muito, muito mesmo continuar olhando pro violão e não levantar o olhar pra ver a reação de , mas o fez e percebeu que ele estava mais perto dela agora. Suas pernas quase se encostavam ao sofá.
- Eu sei que fui uma idiota – começou, pigarreando antes – e eu sei que você estava certo. Eu devia ter te dado atenção, eu sinto muito, , por ter sido uma idiota com você. E...
- Tudo bem, , eu tamb...
- Não, fica quieto – ela disse, meio que sorrindo – eu decorei isso e se você começar a falar agora, vou me perder – com um riso dele, ela continuou: – E eu sei também que às vezes, esse seu probleminha com a sua mãe fica pior, mas eu tenho que defender ela agora. Porque, você sabe... Todo mundo tem algo de bom. Ou já fez algo bom – e, olhando no fundo dos olhos confusos dele, continuou: - então, bem, eu tenho que agradecer à sua mãe, porque mesmo que ela não seja lá muito boa em ser uma mãe, ela fez a melhor coisa que alguém já poderia ter feito nesse mundo.
a encarou por vários segundos, o sorriso crescendo devagar em seu rosto.
- E o que foi essa coisa? – perguntou, a voz um tantinho rouca por estar, mesmo que negasse se o perguntassem, emocionado com aquilo.
- Você, oras – respondeu, do jeito mais descontraído e óbvio que pôde, e sorriu pra ele, largando o violão de lado e sentando-se de modo a ficarem de frente. – Ela fez você, e você é a melhor coisa do mundo.
pousou a mão no rosto dela, fazendo um carinho de leve em sua bochecha, e disse, em um quase-sussurro:
- Acho que você tá desculpada – declarou, e então pousou a outra mão no rosto dela – Mas eu discordo – e com uma pausa estrategicamente calculada, acrescentou: – você é a melhor coisa do mundo.
Sorrindo como sempre sorria ao estar na presença de , percebeu que, sem querer, tinham ficado próximos demais.
E ela não ia negar: era óbvio que já tinha sim pensado em fazer aquilo que as pessoas fazem quando estão com os rostos muito próximos. Já tinha pensado várias vezes, porque afinal, ela e meio que... Se completavam. De todas as formas estranhas e clichês e extremamente estranhas, mas se completavam. E ela sabia que ele já tinha pensado naquilo também.
Então, por que não? Por que não podia ser ele o garoto com o qual a garota-que-nunca-dava-certo-com-ninguém daria certo? E por que não podia ser ela a garota com a qual encararia um relacionamento? Afinal, eles tinham um relacionamento amoroso dentro daquela amizade estranha. Só não era, bem... Completamente amoroso. Mas por que não poderia ser?
Já tiveram, claro, vários daqueles momentos no qual apenas ficavam próximos e se perguntavam por que nunca tinham tentado aquilo antes. Mas só naquela vez parecia certo fazer aquilo. Tentar. Porque, talvez, só àquela hora fosse certo dar aquele passo.
- chamou-o, antes de encostar o nariz no dele – eu não sou a melhor coisa do mundo.
- É sim – ele respondeu – é a melhor coisa no meu mundo.
E, com essa frase, ele deu o passo que ambos estavam pelejando para dar durante aqueles mais de um ano e meio de amizade. E quando os lábios de ambos se chocaram, da forma mais suave que poderia existir, o beijo que tanto esperaram pra acontecer finalmente aconteceu. E não foi nada como diziam nas histórias. Nada de línguas loucas e desesperadas se entrelaçando. Nada de um beijo tão calmo que nem parecia um beijo. Nada de normal em um beijo, porque afinal, aquele não era um beijo normal, porque a amizade deles não era normal. Era certa.
E assim foi o beijo que eles trocaram.

Comentários da autora:
Esta fanfic é baseada na música When I Look at You, da Miley Cyrus, música que foi "sorteada" pra mim em um projeto de um site de fanfics, e resolvi postá-la aqui também, pois gostei bastante do resultado. É uma história sobre melhores amigos, como a maioria das que eu escrevo porque... Bom, amo histórias envolvendo melhores amigos <3 Espero que tenham gostado! :)
Xx


Qualquer erro nessa fic é meu, só meu. Reclamações por e-mail ou pelo twitter.

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