Capítulo Único
Depois de sair do hospital eu vim para casa e me joguei no sofá sem forças para fazer mais nada. Só de pensar que nunca mais estaria ali comigo, me dava uma vontade de desistir de tudo, mas eu havia prometido que cuidaria de nossa pequena Maria Luiza, e eu me manteria ali por ela, somente por ela. O pedacinho de que sempre estaria comigo. Em algum momento da madrugada eu apaguei no sofá. Despertei com o sol invadindo a sala. Olhei para mesinha algo lado do sofá, encontrando uma foto nossa sorrindo. Antes que eu percebesse eu já chorava, lembrando-me de nossos momentos juntos.


Flashback

16 de Abril de 2008

Eu andava distraído em direção ao prédio de Arquitetura quando fui praticamente atropelado por um furacão de cabelos loiros, senti minha camisa ser molhada pelo suco que ela levava em mãos, enquanto seu corpo ia ao chão.
Olhei para baixo, deparando-me com uma menina branquinha, que deveria ter uns 20 anos e ser um pouco mais baixa que eu. Ela me olhava assustada e estava totalmente vermelha, enquanto recolhia suas coisas do chão rapidamente e parecia resmungar algo. Estiquei minha mão para ela, ajudando-a a se levantar.
- Ai, meu pai, como sou desastrada. – ela resmungava, ajeitando suas roupas. – Me desculpe, por favor, me desculpa mesmo. Não era minha intenção, mas eu vinha tão distraída e não vi ninguém vindo na minha direção, e quando vi...
- Calma, tá tudo bem. – interrompi-a – Não foi nada mesmo.
- Olha, se quiser pode me dar sua camisa, que eu levo para casa para lavar. – ela dizia de modo rápido, me deixando meio perdido. – Ai, como eu sou burra, lógico que não tem como ele te dar a camisa e ficar andando por aí sem ela. – eu estava rindo dela reclamando para si mesma, quando ela percebeu: – Tá rindo do quê, hein? Não tô vendo palhaça nenhuma aqui.
- Primeiro fica calma, segundo estou rindo de você conversando sozinha e terceiro meu nome é . É um prazer te conhecer. – eu dizia sorrindo.
- Que mal educada eu sou. Prazer , sou . E mais uma vez me desculpa por isso tudo. – ela estava corada e percebi que ela ficava linda assim.
- Não foi e não precisa se preocupar com a camisa, eu mesmo resolvo o problema. – sorri e resolvi arriscar um convite. – Mas só desculparei se aceitar tomar um café comigo depois das aulas.
- Tudo bem – ela sorria relaxadamente agora.

Terminamos o dia em uma cafeteria que tinha perto da faculdade, tomando um café com muffins e rindo o tempo todo. Durante a conversa descobri que tinha 21 anos, era louca por animais, principalmente cachorros, por isso estudava Veterinária. A menina além de linda, desastrada e simpática, possuía um senso de humor incrível.
Naquele dia começou uma amizade, que mais tarde viraria amor.

20 de Junho de 2008

Naquela noite nós andávamos pela praia rindo de qualquer besteira dita por ela, havíamos saído do cinema há algum tempo, mas não queríamos ir para casa e acabamos parando naquela praia. Ela parecia estar mais linda do que nunca e me encantava a cada segundo. Estava cada dia mais difícil esconder o meu sentimento, às vezes sentia que também sentia algo por mim. Eu estava em dúvida se devia tentar uma aproximação maior e arriscar a amizade ou deixar como as coisas esavam.
- Ei, tá me ouvindo? – estava a minha frente.
- Tô sim. Tava perdido em pensamentos.
- Percebi que fui deixada falando sozinha. – ela fingia estar chateada.
- Foi mal, . – disse, abraçando-a pelos ombros. – O que você estava falando mesmo?
- Dizia já estar tarde e que é melhor irmos embora.
- Eu não quero ir embora, não. Vamos ficar mais um pouco.
- Nem pensar, mocinho, temos que acordar cedo amanhã. Vamos logo.
- Ok. Você venceu.

Andamos abraçados até o carro e fomos cantando Here Comes The Sun, que era a música favorita de , durante todo o caminho até a casa dela. Logo chegamos em sua rua e estacionei em frente a sua casa, descendo e abrindo a porta para . Eu me despedi dela com um abraço e um beijo na bochecha.
Logo eu estava indo em direção ao meu apartamento, com o sorriso de em meu pensamento. Cheguei em casa e após pensar muito, decidi me arriscar.
Foi naquela noite, antes de dormir, que eu tomei a decisão que mudaria minha vida.

21 de Junho de 2008

Diferentemente de todas as manhãs, nesta eu havia acordado animado. Me arrumei rapidamente e logo estava a caminho da faculdade, enquanto cantava uma música qualquer.
Cheguei sorrindo e cumprimentando a todos, deixando alguns surpresos, afinal, eu nunca era simpático às sete da manhã. Encontrei no corredor junto a uma amiga, abracei-a por trás dando-lhe um susto que me fez gargalhar. - Bom dia, flor dia – disse, beijando-lhe a bochecha.
- Bom dia, senhor alegria. – disse ela, retribuindo meu gesto. – E qual o motivo dessa animação toda, hein?
- Estou sentindo que hoje será um ótimo dia, só isso.
- Ué, o que terá de diferente hoje? – ela me olhava curiosa.
- Ainda não posso dizer.
- Poxa, , eu odeio ficar curiosa. Me conta, vai. – ela me encarava com um olhar pidão, na tentativa de me convencer a contar.
- Não é nada, . É bobeira minha. – tentei fugir do assunto, ainda não era a hora certa.
- Porra, , odeio quando você faz isso. – ela disse, fazendo um bico enorme, que a deixava ainda mais fofa.
- Deixa de ser curiosa, menina. Já disse não ser nada demais. – eu ria enquanto jogava meu braço por cima do pescoço dela. – Agora vamos andando que irei te levar até sua sala, depois irei para minha.

Deixei em frente a sua sala e depois fui em direção a meu prédio, no caminho cumprimentando alguns colegas. As aulas passaram rapidamente e logo já era o intervalo, saí da sala e fui em direção ao refeitório, encontrando com na entrada dele. Compramos um lanche e fomos até o jardim, onde sempre ficávamos quando fazia sol, e nos sentamos embaixo de uma árvore, enquanto comíamos. Estávamos falando sobre qualquer banalidade quando eu parei de prestar a atenção no que falava, só conseguindo reparar no movimento que seus lábios faziam, minha vontade beijá-la só aumentava. Resolvi que era hora de agir. Fui aproximando meu rosto do dela, que agora estava com a cabeça baixa enquanto falava, aproveitei e fiquei admirando seu rosto por mais alguns segundos, até ela levantar a cabeça e olhar para mim. Sorri nervoso enquanto o espaço entre nossos rostos diminuíam, quando eu senti alguém tropeçando na minha perna e caindo em cima da e deixando em cima de mim seus livros.
- Me desculpem, por favor. – o garoto tentava pegar os livros e evitar olhar para nós. Ele estava todo atrapalhado. – Mais uma vez, me desculpem. – eu assenti e a tinha a cabeça baixa segurando o riso. Assim que ele se afastou, ambos gargalhamos olhando um para o outro.
Aos poucos o riso foi cessando e um clima estranho surgindo.
- , ér... – ela me encarou esperando que eu falasse algo, mas antes que eu pudesse terminar a frase o sinal avisou que o intervalo chegava ao fim.
- , melhor conversarmos após a aula. Eu vou embora contigo, pode ser? – ela perguntou sorrindo.
- Ok. Então até mais tarde. – dei um beijo em sua bochecha, seguindo em direção ao prédio em que teria aula agora.

Não via a hora de ter chegar o fim da manhã, mas o relógio parecia não cooperar comigo, fazendo as aulas se arrastarem.
O sinal alertou que as aulas haviam terminado, me fazendo respirar aliviado.
Saí praticamente correndo da sala em direção a onde estava. Encontrei-a na porta da sala conversando com sua amiga, Mariléia.
- Hey Mari. – cumprimentei-a com um beijo, me virando para em seguida. – Vamos, ?
- , eu disse pra Mari que você dava uma carona pra ela. Tudo bem pra você?
- Sem problemas, . – concordei sorrindo, mesmo tendo ficado um pouco decepcionado.
- Obrigada, . – Mari agradeceu e foi andando em direção à saída.
- Valeu, babe. – disse a loira. – E eu não esqueci a nossa conversa, mas é melhor a termos lá em casa. Agora vamos. - seguimos Mari em direção ao estacionamento.
O bom de ter Mari no carro era que o clima estava mais leve e o assunto fluía naturalmente. Em pouco minutos, eu já estacionava em frente ao prédio da menina.
- Tchau, . – disse, beijando a bochecha da outra. – Tchau, , valeu mesmo pela carona.
- Não foi nada, Mari.
- Beijos, galera. Até amanhã.
- Até amanhã, Mari. – respondemos eu e .
Voltei à avenida principal indo a caminho da casa de agora. O clima estava um pouco mais pesado agora que estávamos sozinhos. Eu não sabia direito como iniciar a conversar e fiquei esperando para ver se falava algo, mas acho que ela estava tão sem jeito como eu.
Menos de 10 minutos depois e eu já estacionava em frente a sua casa. Desliguei o carro e ela já estava abrindo a porta para sair. Eu fiz o mesmo, dando a volta e me encostando no carro enquanto ela esperava alguma ação minha.
- Então... – ela começou a falar, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. – Acho melhor entrarmos, né? – ela já estava virando o corpo quando eu segurei sua mão e fui a puxando para mim, enquanto a mesma me encarava sem reação. Estava nervoso, muito nervoso, porém não iria voltar atrás agora. Aproximei meu rosto do seu e selei os meus lábios nos dela, foi quando eu percebi que ela ficou ainda mais sem reação e meu nervosismo se elevou. Me xinguei mentalmente, enquanto ia me afastando dela. Abri meus olhos e ela parecia estática ainda. Suspirei.
- , me des.. – não cheguei a completar a frase. Ela me puxou pela nuca, selando novamente nossos lábios e eu senti meu coração bater mais forte. Quando nossas línguas se encontraram achei que o mundo tinha parado, senti correntes elétricas atravessando todo o meu corpo. Ela sorriu enquanto me beijava e isso me deixou mais trêmulo do que já estava, mas feliz, muito feliz. Com um último selinho demorado, separamos nossos lábios. Eu ainda estava sorrindo de olhos fechados, enquanto ela acariciava meu rosto. Abri meus olhos, encontrando com os dela, e percebi ela também sorria.

17 de Julho de 2008

Já tinha quase um mês que eu e estávamos junto, mas ainda não havíamos oficializado nada. Eu queria que tudo fosse inesquecível para ela, por isso esperei até achar a situação perfeita.
À noite, ia para o meu apartamento e provavelmente dormiria comigo. Então decidi que, na manhã seguinte, eu iria surpreendê-la durante o café-da-manhã.
Passei o dia organizando tudo, para que nada desse errado. E agora eu estava no sofá a esperando e tentando conter minha ansiedade para que ela não desconfiasse de nada.
Quando a campainha tocou eu já estava bem mais tranquilo para poder agir normalmente.
- Boa noite, .
- Boa noite, babe. – a loira me cumprimentou com um selinho, e logo foi em direção à sala e se jogou no sofá. – Estou morta, minha mãe me fez andar o dia todo no shopping, no final já não estava nem sentindo meus pés.
- Ai, coitadinha da bebê. – dizia fazendo voz de criança e rindo da cara dela.
- Vai debochando pra você ver se eu faço greve de beijos. – ela gargalhava provavelmente da cara que eu fazia.
- Desculpa, princesa.
- Vou pensar no seu caso.
- Ai, , não seja má. – eu ria enquanto me deitava por cima dela. – Agora me dá um beijo descente.
- Nem pensar, ainda não te desculpei. Mas quem sabe se você fizer uma massagem nos meus pés, eu te recompense no final. – ela me olhava de forma maliciosa.
- Proposta justa, madame. – já fui me sentando e colocando os pés da mesma em meu colo para começar a massagem.
Um tempinho depois eu já tinha terminado a massagem e estávamos deitados no sofá vendo um filme qualquer escolhido por .
- Tô com fome, .
- Tava pensando em pedir pizza, o que acha?
- Pode ser, contanto que venha rápido se não é capaz de eu desmaiar de fome.
- Ligarei para a que entrega mais rápido, sua dramática. – disse, levantando-me e seguindo para a cozinha. – Vai querer de quê?
- Pode ser meia calabresa e meia portuguesa.
- Nem sei pra que ainda pergunto, é sempre essa mesmo.
- É minha favorita, ué.
Liguei para a pizzaria e em menos de meia hora a pizza já tinha sido entregue e nós já estávamos a devorando. Os olhinhos de brilhavam a cada mordida dada, parecia que nunca tinha visto pizza antes. Acabamos de comer e em meio a beijos e risos arrumamos, lavamos e guardamos os talheres.
Estávamos saindo da cozinha quando puxei pela cintura, deixando-a presa entre a parede e meu corpo, dando-lhe um beijo que começou calmo e carinhoso, mas foi ganhando agilidade e aumentando o calor de nossos corpos. Eu apertava sua cintura enquanto tinha a nuca arranhada por . Fomos andando em direção ao quarto sem quebrar o beijo, esbarrando em tudo, mas não ligávamos. Rapidamente me livrei das roupas dela e ela das minhas. Sem muito esperar nossos corpos já estavam sendo fundidos.
Chegamos ao orgasmo praticamente juntos, com nossas testas unidas e olhares conectados. Saí de dentro dela, rolando para seu lado e a puxando para deitar sobre meu peito. Em poucos minutos já havíamos adormecido com a certeza de que aquela noite havia sido a mais intensa de todas e onde o amor esteve mais presente.

18 de Julho de 2008

Acordei bem cedo naquela manhã e saí da cama tentando não fazer nenhum barulho que pudesse acordar a . Queria passar o resto do dia observando ela dormir, mas tinha muitas coisas para arrumar e ainda precisava tentar controlar meu nervosismo, afinal tudo poderia dar errado e só de pensar nisso eu ficava apavorado.
Comecei a organizar a mesa com as coisas que eu havia comprado no dia anterior enquanto aguardava o resto, que eu havia encomendado, chegar. Na hora marcada a minha encomenda chegou, e eu logo me pus a colocar as coisas nos seus lugares. Havia decidido que não faria nada exagerado, então encomendei algumas flores, que fariam um caminho do quarto até a mesa e alguns balões que foram presos no teto, com trechos de músicas que nós gostávamos. Na mesa, mini cupcakes de diversas cores, que formavam a frase "Eu Te Amo", eram elevados por um suporte em forma de coração e logo abaixo estavam as xícaras que juntas formavam o pedido "namora comigo?".
Em meia hora já estava com tudo pronto. Eu meu preparava para ir acordar a , quando ouvi seus passos no corredor e sua voz me chamando, corri para me sentar à mesa, estava tão nervoso que minha mão tremia e eu suava frio. Logo ela apareceu na sala coçando o olho e observando o redor com a expressão confusa.
- Bom dia, . – tentei dar meu melhor sorriso.
- Que diabos é isso, ? – ela me olhava meio intrigada.
- Ér... uma surpresa. Não gostou? – estava com medo da resposta dela.
- É lindo, , mas por que tudo isso? – ela perguntou enquanto se aproximava da mesa, parecendo só ter reparado na mesma naquele momento. Quando ela viu a frase que estava formada, os olhos dela se arregalaram e a boca se abriu levemente. – , isso é...
- Sim, , é exatamente o que você está vendo. – respondi antes dela terminar a frase. – E então, ?
- Eu não sei o que dizer. – ela sorria, mas sua voz estava levemente embargada. – Acho que nunca pensei em receber um pedido como este, ai, meu deus, , eu amei a surpresa. – ela ainda não havia me dado a resposta, e a cada segundo meu nervosismo aumentava.
- ?
- Eu aceito, , óbvio que eu aceito. – dito isso ela veio em minha direção praticamente se jogando em cima de mim e me beijando apaixonadamente, fazendo-me sorrir entre o beijo e sentindo-a sorrir de volta.

4 de Dezembro de 2008

Andávamos sem tempo nenhum por causa da faculdade, era meu último período na faculdade e dali a três dias seria a apresentação do trabalho final. Eu andava bem nervoso e isso estava começando a refletir em meu relacionamento. Cada dia eu ficava mais ocupado e o tempo para nós dois se reduzia, mas era bem compreensiva. Hoje eu teria que me virar em dez para realizar todas as tarefas e ainda conseguirmos ir à festa da empresa do pai de , eu sabia o quanto era importante para ela e eu largaria qualquer coisa somente para agradá-la.
Umas cinco e meia da tarde eu saí da faculdade, onde passava as minhas tardes atualmente, indo para meu apartamento comer algo e depois me arrumar. O que não estava nos meus planos era o engarrafamento gigante que eu teria que enfrentar. Já estava preso no trânsito há mais de uma hora e não havia andado quase nada, tinha certeza que acabaria me atrasando e me mataria por isso. Foi quase 3 horas depois que eu consegui chegar ao meu prédio, faltavam apenas 15 minutos para hora de eu pegar e eu não conseguiria me arrumar e chegar a tempo em sua casa, por isso resolvi ligar para a mesma, mas no momento que peguei meu celular ele começou a tocar e era ela quem ligava.
- Oi princesa.
- Oi, amor, já tá vindo, né?
- , eu tive um probleminha... – não pude terminar a frase já que fui interrompido por uma nervosa.
- , não acredito que você não vai. Quantas vezes te disse que era importante a sua presença, hein? Porra, , eu venho dizendo isso nas últimas semanas, todo santo dia. E VOCÊ PROMETEU QUE IRIA... – deixei-a falar bastante, mas quando ela começou gritar achei que era hora de interromper.
- LUA... – tive que gritar para conseguir ser ouvido. – Eu vou, meu amor, fica calma, só irei me atrasar um pouco, pois a avenida estava toda engarrafada e eu acabei de chegar em casa, mas dentro de 40 minutos eu estarei aí. Ok? – fiquei aguardando uma resposta enquanto ouvia sua respiração irregular na linha.
- Ai, babe, me desculpa, é que eu estou muito nervosa com essa festa, ela é muito importante para a minha família, você sabe? – ela dizia com a voz calma.
- Sei, . Eu nunca deixaria de ir nesta festa. Você vai me esperar em casa?
- A minha mãe e meu pai irão na frente, mas eu ficarei te esperando.
- , se quiser ir com seus pais não tem problema, meu anjo.
- Não, , eu quero que ir contigo.
- Ok então. Em 40 minutos estou aí. Beijos.
- Beijos. Te Amo. – senti que ela sorria, o que me fez sorrir de volta.
- Também, minha vida.

Joguei o telefone em cima do sofá e fui para o banho. Meia hora depois eu já estava pronto e a caminho da casa de . Buzinei ao chegar lá, saindo do carro em seguida enquanto saia de casa usando um vestido longo verde escuro que tinha um decote pequeno nas costas e uma grande fenda do lado esquerdo, seus cabelos estavam presos e sua maquiagem leve. Ela estava incrivelmente linda, uma verdadeira princesa. Eu me via cada dia mais apaixonado por aquela menina e hoje, especialmente, eu estava hipnotizado.
Quando ela parou em minha frente eu enlacei sua cintura, puxando-a para perto e beijando-a intensamente.
- Boa noite, babe. – ela disse após o beijo, ainda abraçada a mim.
- Boa noite, princesa. Você está lindíssima.
- Obrigada. E você está um verdadeiro príncipe. – ela me deu um selinho, afastando-se e indo em direção ao carro. – Agora vamos que já estamos super atrasados.
- Vamos. – fui até ela apressadamente, abrindo a porta do carro para a mesma e indo para o lado do motorista logo depois. Fomos o resto do caminho conversando e rindo, como sempre fazíamos quando estávamos juntos.
A festa não seria muito longe dali então levamos poucos minutos até lá. Desci do carro, entregando a chave ao manobrista e indo de encontro a , que me esperava, segurei sua mão e fomos em direção à entrada do salão.
Era a comemoração dos 30 anos da empresa de arquitetura e decoração, uma das mais renomadas do país. Seu pai era um arquiteto famoso e sua mãe uma grande decoradora.
O salão escolhido foi um dos mais caros e mais bonitos da cidade, ele tinha um ar clássico com um toque de modernidade, a decoração era toda em cores claras, dando um ar ainda mais chique ao recinto.
Encontramos os pais de na entrada cumprimentando os convidados, paramos para falar com eles que, como sempre, foram muito simpáticos comigo. Logo estávamos andando pela festa com uma taça de champanhe nas mãos enquanto cumprimentava alguns amigos, sócios e funcionários da família e me apresentava aos que ainda eu não conhecia. Ficamos no bar conversando e aproveitando o tempo junto até a hora do jantar ser servido. Após o jantar a música que até em então era tocada foi substituída por uma mais agitada, fazendo várias pessoas se animarem e irem para pista.
- Babe, vamos para pista? – sabia que ia me pedir isso alguma hora.
- Ai, , vamos ficar aqui na mesa juntinhos, vai.
- Poxa, , o que custa ir dançar comigo só um pouquinho? Nós vamos estar juntinhos do mesmo jeito.
- Você se sabe que eu não gosto e não sei dançar, . – percebi que ela já estava ficando irritada.
- Faz isso por mim, amor, só um pouquinho. – ela me olhava com carinha de criança pidona.
- Eu faço quase tudo por você, menos dançar.
- Ok, , então fica aí sentado com a sua chatice que eu vou dançar sozinha. – ela se levantou emburrada da mesa, indo em direção à pista. Fiquei sentado observando-a começar a se balançar ao ritmo da música. Logo a música mudou e uma batida mais forte começou. começou a se movimentar de forma sensual enlouquecendo-me de um modo que só ela sabia. Vários homens passaram a observá-la também e alguns até se aproximaram um pouco da mesma, o que despertou meus ciúmes, me fazendo levantar rapidamente da mesa e ir para perto dela. Abracei-a por trás, começando a me movimentar no mesmo ritmo.
- Ué, amor, você não me disse que não gostava de dançar? – mesmo sem vê-la sabia que ela sorria de forma debochada.
- Eu continuo não gostando, mas gosto menos ainda de ver esses marmanjos babando em você.
- Sabia que você só viria se fosse assim.
- ! Não acredito que você fez isso de propósito. – disse como se estivesse bravo, fazendo-a gargalhar.
- Ai, amor, a culpa não é minha se você é ciumento demais.
Ficamos na festa por mais um tempo dançando e bebendo. E depois fomos para o meu apartamento terminar a noite.

12 de Dezembro de 2009

Hoje seria um grande dia para , era sua festa de formatura. Sua colação havia sido dois dias antes, numa quinta feira. Eu estava imensamente orgulhoso da minha menina. Sabia que ela seria uma grande profissional, se duvidar a melhor do ramo. Mas aquele dia também seria muito importante para mim por outros motivos, motivos que mudariam a nossa vida.
Eu já estava na sala de esperando ela descer enquanto conversava com meus sogros. Escutei um barulho de salto batendo no chão e me virei em direção à escada. descia as escadas lentamente, segurando a barra do seu vestido. Ela estava magnifica, os cabelos meio presos com cachos caindo por seus ombros. A maquiagem estava forte, destacando seus olhos. Usava um vestido longo rendado preto, com um grande decote nas costas. Poucas joias terminavam o look dela.
Fui esperá-la aos pés da escada, estendendo minha mão para ela segurá-la. Dei-lhe um selinho e nos despedimos de seus pais, indo em direção à festa.
Já havia bastantes pessoas por ali. Fomos em direção à entrada, encontrando com Mari e seu acompanhante no caminho. A parte de dentro se encontrava lindíssima, com uma decoração preta e branca que dava um ar chique. Sentamo-nos em uma mesa e ficamos conversando e bebendo durante um bom tempo, até e Mari inventarem que queriam dançar. Nós as acompanhamos até a pista mesmo contra nossa vontade e começamos a nos movimentar, às vezes brincando e dando muitas risadas.
Avisei a que ia ao banheiro, mas na verdade fui à cabine do DJ, pedir que ele trocasse a música por uma mais lenta. Voltei à pista e ainda estava no mesmo lugar com Mari. A música foi trocada, fazendo e Mari reclamarem. Puxei para dançar, ela riu e se deixou ser conduzida, em um certo momento comecei a sussurrar em seu ouvido:
- Nesse tempo todo que passamos juntos percebi como você se tornou essencial para mim, me mostrou e me ensinou o que é o amor e como e amar alguém incondicionalmente. Agradeço todos os dias por poder ver esse sorriso lindo, ver seus olhos brilhantes me encararem com o mesmo desejo que os meus te olham! E já tem um tempo que eu confirmei que não posso ficar sem você. – soltei-a, ajoelhando-me em sua frente, abrindo a caixinha que escondia um solitário e fazendo a menina arregalar seus olhos. – , aceita se casar comigo?
- Eu aceito. EU ACEITO, MEU AMOR. – coloquei o anel em seu dedo, levantando-me em seguida. Ela me agarrou pelo pescoço, me beijando e deixando algumas lágrimas caírem enquanto as pessoas em volta nos aplaudiam.




25 de Setembro de 2010

Enfim tinha chegado o grande dia. O dia do nosso casamento. E eu não poderia estar mais feliz e nervoso. As horas pareciam não passar e o pior é que estava incomunicável em um spa, junto com sua mãe, sua prima e sua amiga, que seriam as madrinhas, há dois dias. Então além de toda a ansiedade ainda tinha a saudade que eu sentia dela.
Já estávamos juntos há 2 anos e três meses, mas eu ainda sentia exatamente a mesma alegria e ansiedade toda vez que ia encontrar e a mesma saudade quando ficávamos longe do começo do namoro, a única coisa que havia mudado era o amor, que a cada dia crescia mais.
Já estava anoitecendo e eu me encontrava quase pronto, só faltava colocar a gravata e o terno, coisas que eu deixaria para colocar na igreja, já que me sentia sufocado usando gravatas e com o nervosismo ia piorar a situação. Desci as escadas que levavam ao andar de baixo da casa de meus pais e encontrei minha mãe ao telefone.
- Filho, era sua sogra, ela avisou que todas já estão prontas e que em meia hora sairão a caminho da igreja. Ela te mandou o beijo e pediu para você ficar calmo.
- Ok, mãe, então vamos logo ou é capaz de eu me atrasar.
- Irei chamar seu pai, pegar minha bolsa e então vamos para a igreja.
Dez minutos depois nos encaminhávamos para a igreja. Logo que chegamos reparei que muitos dos convidados já estavam ali. Minha mãe foi para perto de umas tias minhas enquanto meu pai e eu nos dirigimos para perto de dois primos meus, que eram os padrinhos, e meu sogro.
- Boa noite, . – todos me cumprimentaram sorrindo.
- Boa noite. – sorri retribuindo. Eles engataram em uma conversa qualquer que não me dei ao trabalho de ouvir. Já estávamos ali há mais de 1 hora e nenhuma notícia de . Eu estava quase passando mal de tanto nervoso quando meu sogro se aproximou de mim.
- Calma, meu rapaz. Uma certeza que eu tenho é que este casamento é o maior sonho da minha menina.
- E se ela desistiu, sr. ? E se ela percebeu que pode ser mais feliz sem mim? E se ela percebeu que é demais para mim? E se ela se deu conta que não me ama mais? – já estava me desesperando só de pensar nessas possibilidades. – Eu sinceramente não sei o que será de mim sem a sua filha. Ela é a minha vida.
- E você é a vida dela, . Aquela menina é louca por você. E esteja certo que ela desistiria de tudo no mundo, menos de você. – assim que ele terminou de falar, minha mãe se aproximou sorrindo.
- Ela chegou, meu filho. Agora se arrume e se acalme para receber sua noiva. – ela arrumava minha gravata e meu terno enquanto falava. – E, sr , pediram que o senhor vá lá pra fora. – ele assentiu e foi saindo da igreja. O nosso momento enfim estava chegando.
Logo a marcha nupcial ressoou pela igreja e os dois casais de padrinhos entraram pela mesma. Depois foi a vez da priminha de vir jogando pétalas de rosas. Quando ela apareceu meu mundo parou de girar, eu sentia como se só nós dois existíssemos dentro daquela igreja. Ela estava mais linda que nunca, não existem palavras suficientes para descrevê-la. Usava um vestido branco todo rendado com leve brilho entre as rendas, o cabelo estava ondulado e solto sendo enfeitado por uma tiara de pedras junto ao curto véu. Sua maquiagem era leve, deixando a beleza natural de em evidência. Estava uma verdadeira princesa. A minha princesa. Ela vinha caminhando calmamente na minha direção, de braço dado com o pai, enquanto sorria para os convidados. Já estava começando a achar aquele corredor grande demais quando ela chegou a minha frente. Seu pai a abraçou, sussurrando algumas palavras em seu ouvido e lhe dando um beijo na testa antes de entregá-la a mim, dizendo um “Cuide bem dela, rapaz” antes de ir para o lado da minha sogra. Segurei a mão de , puxando-a para perto de mim e dando-lhe um leve selinho antes de nos virarmos para o altar.
O padre começou a cerimônia, que por escolha nossa não seria muito longa. As palavras ditas por ele eram muito bonitas, e algumas pessoas já estavam emocionadas, mas eu só conseguia me concentrar no olhar brilhante e no sorriso da minha futura esposa. Nós havíamos decidido escrever os próprios votos e a hora de falá-los chegou, trazendo meu nervosismo todo de volta, já que quem começaria seria eu.
- , me lembro até hoje de quando te conheci na faculdade em um simples esbarrão que mudou a minha. Até aquele dia eu não sabia o que era amar, nem que era possível sentir tanta coisa só de olhar para uma pessoa, mas você me ensinou a amar e me mostrou que tudo é possível. Quase dois anos e meio depois eu ainda consigo sentir cada pequena sensação que sentia no início. Sinto meu coração acelerar por te ter perto, uma vontade louca de sorrir ao escutar a sua voz e uma saudade imensurável quando você está longe. Eu sou fascinado por cada pequeno detalhe seu, desde suas qualidades até seus defeitos. Eu amo seus olhos nos meus, sua boca na minha. A perfeição de nossas mãos juntas e o encaixe exato de nossos corpos me faz ter a certeza que fomos feitos um para o outro. Você é minha amiga, minha parceira, minha amante, minha mulher, você é tudo para mim. E hoje eu te entrego oficialmente o que já é seu há muito tempo: meu coração e minha vida. Eu te amo além da vida. – quando acabei de falar estava emocionado, e já chorava, assim como grande parte das mulheres presentes.
- Eu pensei muito no que dizer e depois de ouvir tudo que foi dito agora sinto que não serei capaz de dizer coisas tão bonitas. – ela sorria enquanto limpava algumas lágrimas, eu segurei sua mão, apertando-a e sorrindo de volta. – , eu posso dizer que tive certeza que era você desde a primeira vez que te vi. Era você que eu iria querer ter ao meu lado para o resto da minha vida e hoje ainda não consigo acreditar que este desejo esteja se realizando. Você é meu maior presente, meu maior tesouro e nunca cansarei de agradecer quem colocou você no meu caminho aquele dia, naquele corredor. Eu não tenho como descrever o tamanho do meu amor por você, não há nada tão grande que eu possa usar para comparar, nem o universo é grande o suficiente. Resolvi então tentar explicar o porquê de te amar tanto, eu poderia dizer que era pelo modo como sorri para mim ou jeito que olhos brilham quando me veem, mas eu te amo por você ser quem você é, porque ter o coração maior que o mundo e sempre estar pronto para ajudar e principalmente por você me amar com tanta intensidade e devoção. Eu te agradeço por todo o amor que você me dá diariamente. Você é meu tudo, minha luz nos dias mais nebulosos, meu alento e meu refúgio. Eu não sei mais viver sem você. E até a última batida do meu coração eu te amarei. – agora não só ela chorava como eu também, acho que até o padre ficou emocionado. Cheguei perto, dela dando-lhe um selinho demorado e enxugando algumas lágrimas. Nós nos viramos novamente para o padre, que prosseguiu com a cerimônia. Meu sobrinho levou as alianças, que foram abençoadas pelo padre antes de as colocarmos. Logo depois eu estava beijando enquanto todos aplaudiam. Saímos da igreja sob chuva de arroz e em seguida já estávamos a caminho do salão onde a festa aconteceria. O resto da noite foi perfeito, principalmente a primeira valsa como casados.

7 de Julho de 2012

Estávamos sentados na recepção da clínica enquanto esperávamos a nossa consulta. Após quase dois anos de casamento, nós torcíamos para que o resultado do exame de sangue de desse positivo. Ser pais era o nosso maior sonho, e agora que nossas carreiras estavam estabilizadas nós poderíamos tentar ter nosso bebê. Alguns minutos depois a recepcionista nos informou que poderíamos entrar.
- Olá, meus queridos. – a doutora, uma senhora de cinquenta anos, nos esperava sorridente na porta.
- Olá, doutora Matilde. Como está? – abraçou a mulher, recebendo um beijo na bochecha. Ela conhecia a família de há anos, por isso a intimidade entre ambas.
- Estou ótima e vocês, ansiosos?
- Muito, doutora.
- Eu já abri o exame, então já tenho o resultado. – a expressão dela estava indecifrável, aumentando nossa ansiedade. - Ai, doutora, fala logo, antes que eu morra de ansiedade. – falou desesperada, fazendo a médica rir.
- Calma, mocinha. – ela disse, abrindo uma gaveta e tirando um envelope lá de dentro. – Aqui está o resultado. Preferem que eu diga ou vocês mesmo veem?
- Pode dizer, doutora.
- Então parabéns, casal, vocês terão um bebezinho dentro de alguns meses. – eu não sabia se ria ou se chorava tamanha era minha felicidade. Olhei para o lado e vi que estava chorando e rindo ao mesmo tempo. A doutora saiu da sala, avisando que nos daria 5 minutinhos. Levantei-me, puxando junto comigo e abraçando-a, sussurrando em seu ouvido que ela me fazia o homem mais feliz do mundo e ouvindo-a dizer repetidas vezes que me amava. Segurei seu rosto, beijando-a em seguida e apertando seu corpo contra o meu. Assim que nos soltamos a doutora entrou na sala.
- E então meus queridos, como estão se sentindo agora?
- Acho que nunca estivemos mais felizes – respondi sorrindo largamente.
- Eu estou nas nuvens. É meu maior sonho se realizando. – sorriu emocionada.
- Agora vamos tratar de coisas sérias. – a doutora assumiu uma postura mais profissional.
- Algum problema, doutora? – perguntou tensa.
- No seu exame de sangue acusou que você está com uma anemia forte, por isso terá que se cuidar bastante, pois pode ser perigoso tanto para você quanto para o bebê. Eu te passarei uma dieta e algumas vitaminas que irão te ajudar. Além disso, será preciso que você faça bastante repouso e evite pegar peso ou se estressar. Mas não se preocupe, se seguir todas as minhas recomendações sua gravidez ocorrerá de maneira tranquila e você e o bebê ficarão bem. Podemos fazer o ultrassom para descobrir o tempo de gestação e começar logo o pré-natal hoje, então? – e eu assentimos e nos fomos para a sala de ultra, onde se trocou e a médica começou a espalhar um gel sobre sua barriga, ainda lisa. Logo algumas imagens meio distorcidas apareceram na tela e a doutora apontou onde o nosso bebê estava. – Você está com oito semanas, .
- Já dá para saber o sexo? – perguntei esperançoso.
- Ainda não . Só é possível saber o sexo a partir de 12 semanas por um exame de sangue específico ou 16 semanas pelo ultrassom. – ela explicou.
- E o coração quando dará para ouvir? – perguntou com os olhos presos no monitor.
- Se vocês quiserem já dá pra ouvir o coração agora. – a doutora disse.
- Eu quero demais ouvir meu bebê. – afirmou sorrindo e eu concordei com ela.
- Vão querer gravar o momento em dvd?
- Querer nós queremos, mas não viemos preparados para isso. – disse, dando um sorriso meio triste.
- Isso não é um problema, meu querido, eu sempre tenho dvds aqui para esses momentos, vou na recepção buscar. Volto em um minuto. – agradecemos e ela se retirou da sala. Logo já estava de volta colocando o dvd no aparelho. Em alguns segundos um som alto invadiu o ambiente. Era a batida do coração de nosso bebê. Meus olhos encheram de lágrima enquanto sentia apertar minha mão. Agora minha ficha estava caindo de verdade, e meu coração se inundava de amor. Nosso filho já estava no ventre de e em pouco tempo ele estaria em nossos braços.

10 de Outubro de 2012

A gestação de acabava de completar 20 semanas. Todo mês íamos às consultas com sua obstetra e já havíamos descoberto que teríamos uma linda menininha. Não poderíamos estar mais radiantes com nossa vida.
A consulta de hoje me deixou muito preocupado, a anemia de , que era para estar regredindo já que fazíamos tudo que a doutora mandava, estava ainda mais forte, o que era extremamente perigoso na gravidez. A doutora resolveu passar novos exames para , com pedido de urgência, e nos mandou voltar com o resultado na semana seguinte. E recomendou que durante os dias seguintes não fizesse nem esforço e passasse o maior tempo possível de repouso.

17 de Outubro de 2012

estava ainda mais fraca hoje, cada dia ela parecia estar mais pálida e cansada, além das constantes faltas de ar. Eu nem ia mais ao escritório, resolvendo tudo dentro de casa mesmo. Perto de eu disfarçava dizendo que tudo ficaria bem e que não daria nada no exame, mas o medo me consumia diariamente.
A hora de ir à consulta chegou e com ela a tensão pelo resultado dos exames. A recepcionista nos mandou entrar que a doutora Matilde já vinha. Sentamo-nos e alguns minutos depois a doutora apareceu acompanhada de um senhor que parecia ser médico também, os dois estavam com expressões sérias.
- Boa tarde, meus queridos. – ela nos cumprimentou. – Este é o doutor Cezar. Cezar, estes são e .
- Boa tarde. E prazer, doutor. – os cumprimentou, apertando a mão do médico, em seguida eu fiz o mesmo. – Já tem os resultados, doutora?
- Já sim, , e é por isso que o Cezar está aqui hoje, espero que não se importem. – afirmamos que não tinha problema e ela abriu sua gaveta, retirando de lá alguns envelopes. – Aqui estão os exames, e infelizmente os resultados não eram o que eu esperava.
- Doutora, é algo mais sério? – perguntei apreensivo.
- Na verdade é bem mais grave que a anemia, que inicialmente foi diagnosticada, . – quem respondeu foi o doutor Cezar. - Falem logo o que é, por favor. – pediu nervosa.
- , , eu vou precisar que vocês fiquem calmos e principalmente sejam fortes... – interrompeu Matilde:
- Doutora, para de enrolar por favor, eu já estou nervosa e com toda essa enrolação tá piorando. – pediu já chorando.
- Matilde, fale de uma vez. – Cezar pediu, vendo o estado de .
- , minha querida, os resultados do seu exame de sangue apontaram que você está com leucemia aguda em grau avançando.
- Leucemia... – agora chorava de soluçar, sendo aparada pela médica e eu me encontrava atônito. Era como se toda a felicidade estivesse sendo retirada de mim naquele momento. Minha cabeça rodava e meu coração parecia estar sendo esmagado.

5 de Novembro de 2012

Inicialmente disse que não iria se tratar pois existiam grandes chances de afetar o bebê, podendo até causar aborto e suas chances cura eram muito pequenas, já que sua doença foi descoberta tardiamente e em estado um pouco avançado. Então após muita conversa entre a nós dois, a doutora Matilde e o doutor Cezar, nos foi apresentada uma solução, um novo tratamento que não era tão agressivo e por isto não faria mal nenhum ao bebê e melhoraria as condições de vida de durante a gestação, mesmo que não a curasse. E após a gestação, ela não amamentaria para que pudesse iniciar a quimioterapia agressiva.

3 de Janeiro de 2013

agora quase não saía mais da cama de tão abatida que estava. Os seus olhos antes tão brilhantes e seu sorriso alegre agora não passavam de meras lembranças. Nossa filha estava bem saudável e era ela o único motivo de eu ainda me manter forte o suficiente, mesmo vendo o amor de minha vida definhar dia após dia.
O quartinho que seria da bebê já estava pronto, havia ficado extremamente lindo. tinha supervisionado tudo de perto, com a ajuda de sua mãe e de Mari.
Perto de eu me mantinha sorridente e brincalhão, tentando sempre lhe passar forças e esperança, mas quando caía a noite e ela dormia, eu me escondia em meu escritório e desabava, deixando o medo me consumir. Eu rezava com todas as minhas forças para que essa fase, que era para ser a melhor de nossas vidas, acabasse logo e com curada, para que nós fossemos felizes outra vez.

6 de Fevereiro de 2013

O parto estava marcado para o dia 10, mas começou a sentir muitas dores então eu corri com ela para o hospital onde a doutora Matilde e o doutor Cezar iriam nos encontrar.
Eu dirigia rapidamente enquanto ela estava deitada no banco traseiro e chorava de dor. Uns vinte minutos depois chegamos ao hospital e já tinha dois enfermeiros nos esperando com uma maca. Peguei no colo, deitando-a na maca e segurando sua mão enquanto íamos para dentro do hospital. A família de chegou dez minutos depois e enquanto eu fazia sua ficha, os médicos de chegaram, indo logo em direção do quarto onde ela se encontrava. Terminei de resolver as burocracias na recepção e fui correndo de volta para onde estava com meus sogros e seus médicos.
A doutora havia mandado colocar remédio para dor no soro de , então ela estava mais calma, e agora respondia algumas perguntas feitas pela médica.
Eu estava em um canto do quarto olhando aquela cena, enquanto sentia meu coração apertar e o medo se espalhar por todo o meu corpo.
Logo tudo estava pronto para o parto e nós fomos encaminhados para a sala onde aconteceria. Eu iria assistir ao parto então tive que ir para uma sala especial me preparar antes de entrar na sala de cirurgia.
Quando cheguei lá, já tinha tomado a anestesia, fui para seu lado, segurando sua mãe e me abaixando para sussurrar que a amava e que tudo ficaria bem. Ela sorriu e apertou minha mão. A doutora Matilde e o doutor Cezar entraram na sala e logo a doutora começava a cesariana. O parto estava ocorrendo de forma tranquila, apesar do estado de saúde de . Minha filha acabava de ser retirada quando os batimentos de começaram a cair rapidamente, fui empurrado para longe dela, enquanto via seus batimentos diminuírem cada vez mais. Doutora Matilde cortou o cordão umbilical de minha filha, entregando-a a uma enfermeira e mandando outro enfermeiro me tirar da sala, a última imagem que tive foi dos olhos de se fechando.
Escorei-me na parede e fui escorregando até o chão apoiando a cabeça entre meus joelhos e deixando o choro que estava preso sair.
O tempo passava e não tinha nenhuma notícia de ainda. Minha filha já estava no berçário, mas eu não tinha forças para levantar dali e ir vê-la.
Quase uma hora depois, doutora Matilde e doutor Cezar saiam da área cirúrgica com expressões cansadas, mas sorrindo.
- Meu querido, pode sorrir novamente, sua esposa tá bem. Ela teve uma parada cardíaca e nós tivemos que reanimá-la e estabilizá-la, por isso demoramos.
- Quando vou poder vê-la? – perguntei respirando aliviado.
- Daqui a pouco ela irá para o quarto e eu mesma irei chamá-lo. Agora vá ver sua filha, que eu sei que você ainda não foi ver. – ela riu, dando um tapinha no meu ombro.
- Agora sim consigo ir curtir um pouco minha pequenininha. – sorri, saindo em direção ao berçário e encontrando meus sogros lá, avisei a eles que estava bem e que em poucos minutos iria para o quarto. Fiquei babando na filha até a doutora me avisar que já estava no quarto e me chamava.
- Oi, minha vida. – entrei sorrindo no quarto, recebendo um sorriso fraco de volta.
- Oi, babe. – sorri com o antigo apelido.
- Como você está?
- Estou bem, na medida do possível. E nossa filhinha?
- Ela está ótima. É uma verdadeira princesa, linda demais.
- Fico tão aliviada de saber que ela está bem. Minha vida valeu a pena só por ter tido você e ela na minha vida.
- Sua vida ainda terá muitos momentos que valerão a pena, .
- Não, , eu sinto que não viverei mais tempo, então agora eu só quero te agradecer por tudo que sempre fez por mim, por ter estado ao meu lado durante todos esses anos, eles foram os melhores da minha vida. Eu tenho certeza que nosso amor irá até além da vida... – uma batida na porta interrompeu , mandei entrar e era a enfermeira trazendo nossa pequena. Colocou-a no colo da mãe, que estava emocionada. – Enfermeira, eu quero amamentá-la, quando poderei?
- Agora mesmo, se a senhora estiver se sentindo bem.
- Estou sim. – após a resposta de , a enfermeira se aproximou, arrumando o corpo de e ensinando-a como deveria amamentar. Quando nossa princesa começou a sugar, os olhos de encheram de lágrimas, me emocionando também com aquele momento lindo. Tirei uma foto das duas juntas, antes de me sentar na ponta da cama, perto das mulheres da minha vida.
- Babe, temos que escolher o nominho dela.
- Eu pensei em Maria Luiza.
- Eu amei, meu amor, é lindo. Nossa Malu. – me aproximei dela, beijando-a e depois dando um beijinho na testa da nossa Malu.
pediu que eu colocasse a pequena no bercinho que tinha ali quando ela já dormia. Falei para descansar um pouco que eu ficaria ali ao lado dela. Menos de dez minutos depois ela já havia caído na inconsciência e eu fiquei na poltrona ao lado da cama, segurando sua mão e velando o seu sono. Rezando para que no final tudo desse certo e que as duas mulheres da minha vida permanecessem comigo por muitos e muitos anos.

7 de Fevereiro de 2013

Não percebi a hora que dormi mas acordei com o choro fino de Malu, e percebi que despertava naquele momento e parecia ainda mais abatida e fraca. Pediu que eu a ajudasse a sentar e pegasse Malu. Colocou o seio para fora, que logo foi agarrado pela pequena. Aquela cena era a mais emocionante que eu já havia visto. Meu medo de aquela ser a última vez que eu a veria se apoderava de mim. levantou o olhar para mim e percebi que ela chorava. Aproximei-me, abraçando-a pelos ombros e dando-lhe um leve selinho.
- , vocês são as coisas mais importantes da minha vida. Obrigada por tudo, meu amor. Minha hora está chegando, meu amor. Você precisará ser forte para cuidar da nossa Malu. Eu estarei lá de cima protegendo vocês dois. – o tom de voz dela foi ficando mais fraco, as pálpebras se fechando e os braços soltando nossa filha aos poucos. O aparelho que marcava as batidas do coração de começou a apitar mostrando que seu coração havia parado. Logo médicos e enfermeiros entraram no quarto correndo, tirando minha filha de seus braços e me empurrando para longe de .
As cenas se passavam rapidamente e eu só conseguia encarar tudo atônito. Os médicos tentavam reanimá-la, mas não estava dando resultados, as enfermeiras levaram nossa Malu para o berçário e eu ainda continuava no mesmo lugar sem reação. Após cinco tentativas, os médicos decretaram o óbito dela. Só após um deles vir falar comigo que eu comecei a entender o que estava acontecendo. Corri até a cama, abraçando o corpo da minha menina, enquanto selava meus lábios com os dela, que ainda estavam quentes, sussurrando “eu te amo” diversas vezes. O mundo parecia rodar mais devagar enquanto minha cabeça girava rapidamente. Meu coração tinha ido embora naquele momento junto com ela. Eu nunca mais conseguiria sorrir.

Flashback Off

O telefone tocou, tirando-me de meus devaneios. Mesmo sem nenhuma vontade eu o atendi.
- ?
- Oi, mãe.
- Como você está, meu filho? – perguntou cuidadosa.
- Não sei, mãe, é como se eu não existisse mais.
- Oh, meu filho, você tem que ser forte, a Malu precisará de você. E eu e seu pai estaremos aqui contigo, meu amor.
- Eu sei, mãe. Mas o buraco que está no meu coração ninguém conseguirá fechar. – respondi, deixando algumas lágrimas saírem.
- , o pai de já cuidou de toda a parte burocrática e o velório dela começará em uma hora. Se arrume que seu pai te pegará aí.
- Não precisa, mãe... – ela me interrompeu.
- Vá se arrumar que em meia hora seu pai estará ai.
Fiz o que ela mandou, colocando uma roupa preta e meus óculos escuros, não para esconder meu sofrimento, mas porque meus olhos ardiam e minha cabeça latejava.
Fiquei esperando até ouvir a buzina de meu pai. Entrei em seu carro calado e ele, respeitando a minha dor, deixou que o silêncio permanecesse. O caminho até o cemitério não era tão longo, então mais ou menos trinta minutos depois nós já havíamos chegado lá. Só a minha família e de estavam lá naquela hora. Quando desci todos vieram falar comigo, me dando os pêsames e dizendo que estavam ali para o que eu precisasse. Entrar naquela capela foi o que fez minha ficha cair de vez, estava deitada dentro do caixão, com uma leve maquiagem, provavelmente feita por sua mãe, e usava um vestido branco, que era um de seus preferidos. Mesmo naquele momento ela permanecia tão linda. Eu me aproximei, acariciando seu rosto, que agora estava frio, como nunca antes. Lágrimas rolavam pelo meu rosto e eu não fazia nenhuma menção de limpá-las. Enquanto a olhava, eu ficava me perguntando como viveria minha vida sem aquela que era dona do meu corpo, coração e alma.
Os amigos foram chegando e me cumprimentando, todos falavam quase as mesmas coisas, com a intenção de diminuir meu sofrimento, eu só assentia sem muita vontade de falar com ninguém. As horas iam passando devagar enquanto mais e mais pessoas chegavam, algumas eu nunca nem tinha visto. A hora do enterro chegou e eu pedi aos pais de um momento a sós para me despedir dela.
Cheguei bem perto dela, aproximando meu rosto do seu, como se assim ela pudesse me escutar.
- Minha vida, você se foi antes que eu pudesse te dizer algumas coisas. Eu te prometo que seguirei forte para cuidar da nossa pequena, ela saberá que teve a melhor mãe do mundo, a mais linda, perfeita e incrível. Eu agradeço a você por todos os dias ao meu lado, por ter me feito o homem mais feliz do mundo. E peço que me espere, pois quando a nossa pequena estiver grande e criada eu irei me encontrar contigo. Eu te amo para toda a vida e além dela. E eu nunca vou te esquecer.


Epílogo


Três anos já haviam se passado, Malu estava cada dia mais parecida com tanto fisicamente como no gênio. Ela era minha maior preciosidade. Por ela que eu me levantava sorrindo todos os dias. A falta que eu sentia de me acompanhava a cada minuto, mas eu sabia que ela estava olhando por nós. Todos os dias eu contava uma história diferente de para Maria Luiza. A pequena era encantada pela mãe, mesmo não a tendo conhecido. Tinha uma boneca de pano que havia comprado para Malu logo que descobriu a gravidez e que ela arrastava para cima e para baixo.
Neste momento nós dois estávamos juntos com meus pais e os de no parque fazendo um piquenique. Olhei para longe e vi olhando para nossa filha e sorrindo. Ela olhou em minha direção sorrindo de uma forma orgulhosa, como se mostrasse estar feliz com a criação de Malu. Sorri para ela, vendo-a sumir em seguida.
Minha pequena veio correndo em minha direção, jogando-se em meu colo.
- A minha mãe estava aqui, né, pai? – Malu me pegou de surpresa com a pergunta.
- É, minha filha. Ela sempre estará aqui conosco, minha pequena.


FIM

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