Capítulo 01
Para a máfia que, mais uma vez, está ao meu lado em mais um crush por alguma pessoa que está em outro continente. Eu amo vocês.
- Bem vinda, filha!
E com um abraço que ela não sentia há pelo menos cinco anos, foi recebida novamente em sua cidade natal: Dublin, na Irlanda. Fazia cinco anos desde que ela havia feito suas malas e pego o primeiro avião para Los Angeles, a fim de dar um rumo na vida – fato esse que nunca aconteceu – e prometeu voltar só quando não fosse mais aquela garota de 18 anos que todo mundo achava bonitinha e tinha acabado de levar o pé na bunda mais épico dos últimos tempos.
- É bom estar de volta – ela sorriu, abraçando sua mãe e dando uma olhada geral no aeroporto.
Aos poucos ela conseguia ver velhos amigos, a tão querida ‘máfia’, como ela e suas amigas costumavam se chamar, seu pai, sua irmã, até mesmo professores. E por que não, sua cachorra. Mas entre esses olhares conhecidos e curiosos, tinha um que ela não tinha conseguido esquecer, aquele mesmo olhar que a perseguia por todas as cidades que ela havia visitado nos últimos cinco anos, que em cada cama que ela já havia deitado tinha a impressão de ver o fantasma desse olhar e de um nunca conhecido corpo. Ele estava ali, a razão pela qual ela tinha ido embora.
- Oi, .
estava ali.
Mas antes de falarmos de como a vida de e se cruzaram e porque hoje ela não quer vê-lo nem pintado de ouro – se bem que ela quer, sim – vamos ver como tudo começou. E essa história começa 24 anos atrás, com uma leve diferença de cinco anos entre uma pessoa e outra, e com vários bebês nascendo ao mesmo tempo. Porém, um bebê era mais especial, era o bebê que carregou no colo em seus primeiros anos de vida, era a protegida dele. Vamos voltar para agosto do ano de 1988 em Dublin, Irlanda.
Entre os meses de maio até meados de setembro, várias mulheres começaram a dar a luz ao mesmo tempo. Conta-se que, um ano atrás, nenhuma mulher naquele bairro irlandês ficava grávida, então todas fizeram uma simpatia da forte e voilá, ficaram grávidas. Talvez essa seja a explicação de Susana, Larissa, Jéssica e Isadora terem nascido na mesma época; e claro, . Mas parece que a produção não parou por aí: a mãe de teve Clair cinco anos depois, e na mesma época nasceram Hells e Bella – irmãs de Jéssica e Larissa. A única filha única da situação era Isadora, já que Susana tinha um irmão mais velho: . tinha cinco anos quando as cinco garotas nasceram em 1988, ele ainda era uma criança e achava um saco ter que ficar cuidando da irmã mais nova que não parava de chorar ou ficar de olho nas outras meninas. O que ele mais achava um saco era o fato de não ter nenhum garoto da sua idade em Dublin e, mesmo com todos esses nascimentos, todas eram garotas. Todas, dali a quinze anos, estariam reclamando de TPM, menstruação, garotos, espinhas, peitos e saias curtas. Ele tinha cinco anos, mas seu cérebro parecia funcionar um pouco mais adiantado do que meninos de sua idade, era evoluído demais.
Depois das meninas recém-nascidas terem completado um mês de vida, as mães resolveram fazer uma festa para comemorar o ‘um mês de aniversário’ na casa da mãe de , já que ela era uma das anfitriãs mais conhecidas em Dublin. , claro, detestou. Como se não bastasse aguentar as fedelhas, ele ia ter que ver rosa e macacões e ursinhos e toda essa parafernalha toda sozinho. Nada contra sua irmã Susana, mas ela podia ser bem barulhenta quando queria. As mulheres começaram a aparecer, a gritaria e baba das crianças também, os bercinhos ficaram lotados de coisas fofas de ‘menininhas’, e emburrou em um canto, enquanto brincava sozinho com seu carrinho que, graças a Deus, a mãe de havia dado pra ele. De todas as crianças, era a única que tinha uma leve simpatia. Ela não era tão chorona e, na maior parte do tempo, ficava com os grandes olhos abertos, encarando tudo e todos, como se quisesse entender o que aqueles adultos tanto falavam.
- Eu acho que ela gosta de você – a mãe de disse quando viu o menino segurando sua filha no colo – , você é um dos únicos que ela fica no colo sem chorar.
- Gosto dela – o menino disse, sentindo uma leve vergonha – Ela não é chata e babona como as outras.
- Elas são nenéns, você já foi assim um dia, sabia?
- Sabia, mas eu acho que era mais legal – ele riu e coçou o nariz com certa dificuldade, já que estava usando seus dois bracinhos para segurar a bebê – A Susana não cala a boca a noite toda.
- ! – a mãe de riu – Ela é sua irmã. Sabia que todo irmão mais velho tem que proteger o mais novo?
- Ela vai parar de chorar um dia?
- Vai, sim – a mulher riu – E você vai amá-la e protegê-la como se ela fosse sua vida. E acho que isso vai acabar acontecendo com a também.
- não tem cara de quem precisa de proteção – olhou para o bebê em seu colo. esticava os pequenos bracinhos na direção do rosto dele e sorria, fazendo aqueles barulhinhos engraçados e fofos que bebês fazem – Ela vai saber se virar sozinha.
- Espero que sim – a mulher sorriu e beijou o topo da cabeça do garoto – Vou lá falar com sua mãe, você pode cuidar dela, por enquanto?
- Aham – ele respondeu enquanto a mãe de se afastava – Você vai ser minha menina favorita, eu gosto de você – e sorrindo, deu um beijo na testa de , fazendo o pequeno bebê sorrir e grunhir de um jeito meigo em agradecimento.
Os anos passaram, as crianças cresceram e também as promessas feitas nesse dia. disse que seria sua favorita, e assim foi... Até a tão odiada adolescência. Ele tinha quinze anos quando teve a primeira namorada, e as outras meninas tinham dez. As outras nem sabiam o que era um namoro ou o que era gostar de alguém, mas não . Ela sempre gostou de , sempre corria para seus braços grandes quando sentia medo, quando não queria dormir sozinha. Escalava a janela do seu quarto nas noites em que os trovões balançavam sua janela e sua porta, e na manhã seguinte sua mãe tinha que ir lá arrancá-la do quarto dele, embora ele não se importasse com isso. Ele a adorava, era sua bonequinha, mais do que sua própria irmã Susana. Mas isso mudou quando uma menina na escola começou a chamar sua atenção, e quando os hormônios que ainda não tinha começaram a falar mais alto para . A menina era bonita e tinha “peito e bunda”, e na concepção das outras, era meio biscate pra quem tem apenas quinze anos. Porém, é isso o que os meninos gostam nessa idade, certo?
Ela e começaram a namorar e ele mudou. Ainda gostava de e a tratava bem, mas ela passou a ser a pirralha amiga de sua irmã. Ela não entrava mais em seu quarto à noite, já que ele provavelmente iria estar com a menina. Ela passou a ficar mais tempo em casa, sozinha e chorando escondida, porque não havia perdido apenas o seu melhor amigo, mas possivelmente sua primeira paixão. A mãe achava bonitinho, e isso também incluía a mãe de . Susana achava chato, sua amiga pagava pau pro seu irmão, e daí? “Supera, você tem dez anos”, era o que ela dizia. Assim como , também era atrevida para a idade, talvez seja por isso que ela e ele sempre se deram tão bem. Ela gostava de ler, passava horas em frente à televisão vendo documentários e jogos de futebol com ele, enquanto as outras faziam casinhas de lençol e brincavam de Barbie. detestava Barbie; “projeto fútil de garota perfeita” era o que ela falava. Bom, agora namorava uma Barbie, e ela odiava a menina por conta disso.
- Tem trabalho de Educação Artística pra semana que vem – Lary dizia enquanto guardava seus lápis de cor em seu estojo rosa – Temos que fazer o mapa da Irlanda.
- Preguiiiiiiiiiiiiiiiiiiiça – Susana falou, jogando as coisas de qualquer jeito na mochila.
- É desenhado? Eu posso desenhar – Jess disse, arrumando os óculos e colocando a mochila nas costas e esperando as meninas levantarem – Isso é, se vocês quiserem.
- O trabalho é em dupla, Jess – Isa disse – Não tem como fazer todo mundo junto.
- SOMOS CINCO! – Su protestou – Quando que os professores vão entender que não dividimos esse grupo?
- A anda em estado vegetativo por culpa do seu irmão, acho que se ela entrar de fininho em alguma dupla, o professor nem vai notar – Lary falou meio rindo, colocando os cabelos longos e cacheados nas pontas pra trás – ?
- Ela não vai te ouvir, está com fones de ouvido.
- Ouvindo o que?
- Hanson.
- Ew! – Jess fez careta – Nada contra, mas isso é fundo do poço.
- E o que você sugere? – Isa fez careta, ela era meio protetora quando o assunto era .
- The Script – ela disse como se fosse a coisa mais normal do mundo – E por falar nisso, tô levando a irmã da pra esse mundo, nada dessas modinhas de música. Tem que ser coisa boa.
- Ai, Jess – Lary riu – Mas enfim, estamos indo embora, vamos chamar a ou nem?
- Minha vontade é deixá-la aí – Su bufou – Que foi? Nem me olhem assim.
- Ela só tá apaixonada pelo seu irmão – Lary disse meiga.
- TODO MUNDO AMA MEU IRMÃO! – Su gritou – Tô cansada disso.
- ? – Isa a cutucou no ombro e levantou a cabeça com os olhos vermelhos e seus longos cabelos e franja espalhados pelo rosto – Já deu o sinal, vamos?
- Eu não anotei nada na aula hoje, o quão ferrada eu estou? – ela perguntou com voz fraquinha.
- Nada que não podemos ajudar – Larissa disse com voz mais branda – Vamos?
- Uhum – se levantou, as amigas a ajudaram a guardar as coisas em sua mochila do Homem-Aranha.
Su ia rolar os olhos quando viu as amigas ajudando , mas quando viu a cara de miserável da amiga, sentiu um pequeno aperto no coração. estava no corredor com a tal namoradinha, e o que mais sua irmã queria fazer no momento era ir lá e dar um soco tanto nele quanto no projeto Barbie. Ele viu as meninas de dez anos saírem com suas mochilas grandes, sorrisos fofos e mãos sujas de canetinhas. Viu de cabeça baixa e os olhos vermelhos e sentiu uma vontade ridícula de ir até a menina ver o que podia estar acontecendo, mas quando o corpo da namorada se juntou ao seu, ele esqueceu por segundos o que ele estava pensando meio segundo atrás. viu a cena, Su viu a cena... Ótimo.
- Vou vomitar – Jess disse – Que graça vocês veem no irmão da Su?
- Eu o amo – disse quase que em um sussurro, Isa a abraçou – E eu só tenho dez anos.
- E ele, quinze – Su disse – E é um babaca. Deixa cueca suja pela casa inteira.
- Ew, nojinho – Lary entortou o nariz.
- Sabe com quem eu vejo você? Tom! – Su disse, apontando para um grupo de quatro garotos mais velhos que elas e mais novos que – Ele é um fofinho.
- O nerd? – Jess olhou com mais cautela, piscando os olhos âmbar – Bonitinho. Meio fofo, digo... Gordinho.
- Hey, não fala assim dele – Su riu – Tom é um cara legal, eu acho que tem uma banda.
- Com treze anos? – Lary arregalou os olhos – Caceta.
- Eles estão olhando pra cá – Isa disse com uma voz meio medrosa. Isa tinha medo de garotos, sempre teve. Garotos são maiores, bobocas e fedem. Em outras palavras, são monstros – Vamos embora?
- Eles só vão falar oi, qual o problema? – Su sorriu – E na verdade, tem só um olhando, melhor, vindo...
- Ele é bonito – disse arrumando a mochila nas costas e limpando o nariz com as costas da mão – Tem sardinhas.
- Tá vindo... Tá vindo... – Isa dizia, apertando a mão de – Quero ir embora.
- Bonita mochila – o tal garoto de sardas disse única e exclusivamente para uma delas. Larissa.
- E-eu? Digo, a mochila? – Lary gaguejou. Ela tinha dez anos, como ia falar com garotos?
- Sim, eu curto, é... – ele apontou pra mochila. Era rosa, da Moranguinho. O garoto coçou a nuca e riu de um jeito engraçado.
- Morangos – disse, dando um empurrão em seu ombro.
- Isso, eu curto morangos – ele sorriu – Valeu – ele fez ‘joinha’ e riu – Meu nome é Danny.
- O dela é Larissa, mas pode chamar de Lary – disse.
Já disse que ela é bem avançada pra idade, certo? Bom, Lary estava em estado de choque com aquele menino de cabelos escuros, olhos azuis e sardas laranjas espalhadas pelo rosto e pelas mãos falando com ela. Su estava em um universo paralelo, analisando o que faria para acabar com o namoro do irmão, Jess olhava “Tom”, o nerd gordinho e Isa queria sair correndo dali. ainda era a única sã e, apesar de estar partindo seu coração, ela gostava demais de Lary e sabia que aquele tal de Danny estava sendo um fofo. Queria que fosse fofo também.
O que aconteceu entre esse dia e os próximos cinco anos pode ser resumido de uma única forma: FOFURAS! Nesse dia, Larissa conheceu o garoto que mudaria sua vida pra sempre. Danny era o garoto gracinha e palhaço de treze anos que disse que ia esperar ela fazer treze anos pra chamá-la pra sair, ou seja, ele teria dezesseis. E assim foi, ele a chamou, e desde então estão juntos – e você vai saber mais pra frente nessa história o quão juntos eles de verdade estão. Jéssica se interessou pelo nerd gordinho que respondia pelo nome de Thomas e apelido Tom, mas nunca teve coragem para chamá-lo pra sair, então os dois, até hoje, encontram-se na zona ‘amiga’. Jess é totalmente apaixonada por ele, e Tom, bom, não sabemos ainda se Tom é mais apaixonado pelas suas gatas, música, comida ou pela própria Jess. Su, com quinze anos, já tinha beijado boa parte dos meninos de Dublin, mas tinha uma queda pelo amigo do irmão: Dean. Dean tinha a mesma idade que , então ele não dava a mínima pra Su, e agora ela entendia a frustração de . Isa perdeu o medo de garotos, mas andava em um relacionamento estável e controlado com os estudos; queria fugir de Dublin e ser uma jornalista de renome no New York Times, e pra isso não podia pensar em garotos, festas, bebidas e muito menos naquele nanico filho da puta amigo de Danny e Tom. Ah sim, o nanico estranho que gosta de lagartos que se chama Dougie chamou a atenção de Isa, mas essa também é uma história que será detalhada mais pra frente.
Eu sei, preciso falar mais dos nossos protagonistas, e , mas ainda há três pessoas que precisam de um destaque em nossa história: Clair, Bella e Hells. As três eram agora as meninas mais novas de dez anos, e a partir dessa idade elas começam a fazer parte do grupo das irmãs mais velhas. Foi nessa época que elas se reuniam na casa de Susana e faziam maratonas de séries favoritas, comiam pipoca e tomavam chocolate quente – alguns batizados com vodka – até altas horas da madrugada. Susana ensinava como era beijar na boca, as mais novas faziam caretas. Nesses encontros que o nome MÁFIA apareceu, e desde então elas se autodenominaram assim. Eram a máfia de Dublin, e, na cabecinha delas, elas iam dominar o mundo. Mal elas sabiam que dessas reuniões ia nascer uma amizade que ia durar pra sempre. Ia passar por crises, especialmente depois que fugisse de Dublin e... Opa, falei demais.
Podemos focar agora no casal principal? Ah sim, obrigada.
Já perceberam que o número cinco é um algarismo que está aparecendo demais em nossa história? E olhem só, estou no momento na página cinco dessa história. Bizarro, hein? Bom, em 1988 nasceram cinco meninas com uma diferença de idade de cinco anos de , e elas têm uma diferença de mais cinco anos com as outras personagens. passou cinco anos longe de Dublin e visitou cinco países nesse intervalo. Ah, conheço uma menina que ficaria fascinada com essa magia numérica, ela está na nossa história também. É a doce Larissa. Mas nossa história não é sobre números, e agora vou dar uma acelerada nela, temos que falar de e . Sim, os dois que todo mundo sabe que são almas gêmeas, que se amam, mas enquanto eles não relaxarem, nada vai acontecer. Assim como nada aconteceu durante os seis meses de namoro dos dois. Oh claro, ainda não cheguei nessa parte. Desculpem.
Quando tinha quinze, tinha vinte. E agora ela estava um pouco melhor do que quando tinha dez anos. Não limpava mais o nariz com as costas das mãos, aprendeu a não deixar o cabelo jogado no rosto e deu um corte mais moderninho, porém a franja continuava ali. Com quinze anos, os hormônios fizeram um lindo efeito, e seu corpo agora não era mais ‘redondinho’, e sim curvilíneo – como sua mãe adorava falar. Ela chamava a atenção dos meninos, e, com isso, chamava a atenção de . Ele agora estava na faculdade, bebendo e curtindo a vida como deveria ser curtida, mas algo ainda o prendia em Dublin, algo muito mais forte que a família e os amigos deixados pra trás. Era ela. Era a menina que ele um dia havia pegado nos braços, e agora, de forma bizarra, ele a queria de volta. Mas demorou mais três anos até que ele criasse coragem para chamar pra sair, esperou a menina fazer dezoito anos para finalmente dizer que gostava dela, e esse dia foi o dia mais feliz da vida de nossa menina da história.
As amigas vibraram, Clair chorava de forma louca, porque ela era doida por . Lary dizia que finalmente teria um casal pra sair com ela e Danny, Susana começou a chamar de cunhada e prometia não ser nem chata e nem ciumenta – coisa que não durou muito, pelo menos a parte da ciumenta. Isadora corria em círculos, porque ela bem lembrava do quanto era doida por ele, Bells e Hells queriam um namorado como , mas ainda eram novas demais pra isso (ambas tinham treze anos), e Jess já estava planejando um casamento, falou que ia fazer os desenhos que iam estar estampados no convite. Claro, não sabia de nada disso.
Ainda era estranho andar de mãos dadas com pelas ruas. Uma vez ela foi sua boneca, uma vez ela dormiu com ele na cama, e agora que eles podiam ir mais além, tinha algo que simplesmente o prendia e não o deixava ir mais adiante. Ele às vezes simplesmente parava e a olhava, sem ela perceber. O rosto com traços fortes e sorriso marcante, o cabelo que ela não mudava o corte desde os dez anos, as roupas estranhas que ninguém nunca usava e só ficavam boas nela, o jeito estranho que ela falava dos livros, como se os personagens fossem reais e que ela os conhecia há um bom tempo como velhos amigos. Havia aquela doçura e anseio de conhecer o mundo que sempre adorou em uma garota, e em não era diferente, ela era a sua garota, na verdade, sempre foi. Talvez seja por isso que ele não conseguia se mover, o medo de magoá-la era grande demais; ele sabia que era virgem, que nunca esteve em um relacionamento sério. Ele tinha vinte e três; ela, dezoito... Na cabeça dele era uma grande diferença. Diferença porque, bom, agora vamos para um lado que nunca fora comentado: a amava. A amava desde a primeira vez que a teve nos braços, desde o primeiro espirro em seu colo, quando ela correu pro seu quarto... Sempre a amou. Talvez esse amor fosse a linha tênue que o segurava para não fazer besteira. Ele sempre fazia besteira nos namoros, por que com seria diferente? E dessa vez ele tinha amor em excesso pela garota, o que tornava a chance de destruir tudo mais palpável. Ele não ia conseguir. E ela, louca e cega de amor, nunca entendeu por que no dia 26 de junho colocou um ponto final no relacionamento.
Era sexo? Porque ela não se importava em transar com ele, na verdade, ela sempre quis isso! Queria que ele fosse seu primeiro, e ele sempre dizia ‘mais tarde, hoje não, não to preparado...’, sendo que era sexualmente ativo desde os quinze anos. começava a achar que o problema era ela. Mas depois ele vinha com carinhos e beijos – cautelosos –, e ela esquecia essa nóia. Então, quando ele terminou o namoro após seis meses, entrou em uma depressão profunda... Que durou dois dias. Ficou dois dias trancada no quarto, sem dormir, sem comer e pensando em como ia fazer para se vingar de . Esqueceria seus beijos, seu sorriso de lado, seu cabelo, seu cheiro, seus braços longos que ela tanto adorava quando estavam ao redor de seu corpo. foi até sua casa nesses dois dias, mas ela não o respondia, e muito menos suas amigas. Ela sabia o que tinha que fazer, e assim o fez. Acordou no terceiro dia com um papel na mão: uma passagem só de ida para Los Angeles. Sua mãe a conhecia muito bem, apenas sorriu e disse ‘faça sua vida’, seu pai não disse nada (como sempre), Clair chorou até cansar o peito. As amigas choraram, ... Bom, o pensamento de era que ele podia morrer, e era isso o que estava acontecendo com ele. estava morrendo, porque talvez ele tivesse tomado a decisão mais burra de sua vida. Será que ela ia voltar?
Aí voltamos para o começo da nossa história, a parte do ‘bem vinda’ e do parado no aeroporto. passou cinco anos visitando não apenas os Estados Unidos, mas também Brasil, China, Austrália e Nova Zelândia. Voltou também com cinco novas tatuagens em lugares estratégicos, um cabelo com as pontas vermelhas, mais magra do que antes, porém ainda com as curvas que sua mãe tanto se orgulhava e que tanto gostava. E bom, com nenhum diploma na bagagem porque ela decidiu que não queria estudar, e sim conhecer o mundo; no fundo batia um arrependimento. Vinte e quatro anos nas costas, nenhum diploma, nenhuma faculdade e nenhum curso ou graduação, ela sentia que tinha ficado parada no tempo, especialmente quando encontrou sua tão amada máfia e soube logo de cara que sua irmã mais nova, Clair, era a primeira da sala de Astrofísica na Universidade de Cardiff, no País de Gales. Cardiff também havia sido a casa de Larissa por três anos enquanto ela tirava o doutorado. Suas amigas todas tinham diplomas ou estavam encaminhadas, e o que tinha? Ah sim, ela tinha cinco tatuagens.
Depois de ignorar o comentário de com apenas um ‘oi’ sem graça e se virar para agarrar sua irmã e falar com suas amigas, percebeu que sua volta para Irlanda não ia ser tão fácil como ela imaginava. Deveria ter ficado na Nova Zelândia e casado com aquele cara que dizia ser parente de um mago. Ele era legal, o problema é que se negava a tomar banho de vez em quando. Seu coração ainda batia forte por , e nem ela mesma sabia disso, passou quatro anos sem entrar em contato com ele, apenas no último resolveu responder um dos milhões de e-mails que ele havia enviado e se arrependeu logo depois. A sensação de ser dispensada por ele veio de novo à tona, e ela colocou na caixinha preta de ‘não pensar no assunto nunca mais em minha vida’ que ela guardava no coração. Ali também estava o brasileiro de nome Fred – cinco anos mais novo – que prometeu mundos e fundos, tinha o perfume de almíscar mais gostoso da cidade, mas que, depois de duas semanas, disse estar cansado de relações estáveis. Na verdade, nessa caixinha levava muitos amores. Nunca achou ninguém que quisesse levar um relacionamento sério, que parecesse gostar dela de verdade, sempre tinha azar com garotos, homens e possíveis descendentes de magos neozelandeses. Às vezes as pessoas não nascem com o destino de achar um grande amor, de viver uma louca paixão... Ela já achava que se enquadrava nesse tipo de pessoas, talvez ela não tivesse sorte no amor.
- Vamos pra casa? – perguntou para sua mãe depois de falar com todas as suas amigas, irmã, professores e receber uma lambida no nariz de sua cachorra – Preciso urgente de um banho.
- Na verdade – Susana a abraçou por trás – Você vai pra minha casa.
- Hein? – se assustou. Su era irmã de , como assim ir pra casa dela? – Mãe?
- Então, isso é algo que devemos conversar.
- MÃE!
- Eu e seu pai vamos passar um tempo de férias e...
- UM TEMPO? EU FIQUEI FORA POR CINCO ANOS!
- – Clair segurou a mão da irmã – Muita coisa aconteceu nesses cinco anos.
- Ah claro, e o fato de eu mandar e-mail todo dia não significou nada? Que aconteceu?
- Será que podemos não conversar no aeroporto? – a mãe de parecia cansada, magoada e carregava algo muito forte em seu olhar – Por favor.
- Eu não tô acreditando nisso – bufou – Não estou MESMO! – tentou pegar sua mala de mão do chão, mas perdeu as forças e a deixou cair no chão – Droga.
- Posso? – ele. olhou pro lado e viu a cabeça de ao seu lado, apontando para a mala no chão.
- Por favor – ela respondeu, se colocando novamente de pé e suspirando.
E assim, todos foram para a casa de . O fato é que, após a partida da filha, a mãe de nunca mais foi a mesma. Devo acrescentar que Dublin nunca mais foi a mesma. O fato de ela ser atirada para a idade e ter as ideias mais mirabolantes para a cidade, a deixava em um patamar acima de muita gente na cidade. Todos achavam que seria um ícone irlandês, que ela ia ter futuro, que seria diferente, mas quando ela foi embora, a depressão alojou na família , na família e em parte do bairro. O pai de não falou com a filha nesse tempo, a mãe chorava todo dia e Clair teve que se manter forte e tentar ocupar o lugar da irmã, estudando como louca e passando em três das melhores faculdades do Reino Unido. A mãe de não aguentava ver a mãe de na cidade, e quando as duas se encontravam, choravam e diziam como os filhos eram estúpidos por não estarem juntos e tinham medo de que nunca mais voltasse pra Dublin. , agora com vinte e nove anos, era um publicitário de renome, mas sua vida não possuía grandes acontecimentos no currículo. Nunca namorou sério, nunca casou e só levou um susto quando uma garota aparece em sua casa falando que estava grávida dele; mas como era de se esperar, a menina estava mentindo. continuava com seu melhor amigo Dean – que gostava da irmã dele, mas na falta de , começou a ser super protetor com a irmã e não deixava o amigo chegar perto dela em hipótese nenhuma, e nem deixar os dois sozinhos em casa – morava com a irmã e dava assistência para a família de quando podia.
Jéssica se formou como designer e trabalha em uma gráfica de camisetas. Tom trabalhava lá também, e em todos esses anos, nunca nada aconteceu entre esses dois. Tom era tímido, e com essa timidez, Jess achava que ele não gostava dela, então ela não fazia nada e ele, bom, ele nunca fazia nada. Hells – sua irmã – agora estava com vinte anos e terminava os estudos assim como Clair e Bella. Cada uma em um curso diferente, em uma cidade diferente com namorados diferentes. Ah sim, elas tinham namorado. Isadora conseguia finalmente terminar sua faculdade de jornalismo e já manda mil currículos para todos os países, ainda tinha aquela ânsia de ir embora de Dublin. E claro, deu patada em Dougie durante toda a sua existência, ainda tinha problema com garotos, apesar de não ter mais medo deles. Susana era totalmente apaixonada por Dean, mas com a dificuldade que seu irmão colocava, ficava difícil fazer alguma coisa, então ela preferia passar noites em pubs irlandeses conhecendo novas pessoas e, vez ou outra, acabava na cama de algum deles – sim, plural. E Larissa... bom, dela vai precisar um tempo para falarmos do assunto.
- Nós sofremos com a sua partida, não foi fácil pra ninguém – o pai de dizia.
- Mas eu perguntei se deveria voltar umas trinta vezes, por que vocês nunca me disseram nada? – perguntava – Qual o problema de vocês?
- Qual o seu problema? – seu pai perguntou – Termina um namoro e foge da cidade? Que é isso? E qual foi o propósito dessa fuga? Foi estudar? Tem algum diploma? Porque todas as suas amigas estão formadas.
- Eu não vou falar desse assunto com você – bufou – Não com a pessoa que negou minhas ligações e meus e-mails por tantos anos.
- Ah, agora eu sou o vilão?
- – Clair pedia para a irmã se sentar novamente no sofá – Por favor.
- Não, quer saber! – ela disse – Se vocês querem viajar, vender a casa, irem pro inferno, por favor, VÃO!
- FILHA! – a mãe gritou – Que é isso?
- Eu fiquei cinco anos fora, perguntando todo dia como estavam as coisas por aqui, e quando volto vocês me dizem que vão embora? Por que não me avisaram antes? Eu nem me dava ao trabalho de voltar.
- Quê? – Clair olhou triste – Nem por mim.
- Eu dava um jeito de levar você comigo.
- Mas eu não quero deixar Dublin.
- Você estuda em Cardiff, Clair.
- Mesmo assim – ela disse triste.
- E nós? Como nós ficamos? – perguntou – Vocês vão vender a casa, não vão?
- Você se virou muito bem por cinco anos, acho que consegue se virar sozinha aqui também. Além disso, sua irmã mora em Cardiff, não vai precisar se preocupar com ela.
- Mãe? – a olhou meio desesperada – Você concorda com isso?
- Eu também preciso de férias – ela disse cansada – Não imagina como foi difícil essa temporada sem você.
- Não, eu não imagino! Porque vocês nunca me disseram nada – embargou a voz, isso não podia estar acontecendo – E agora vocês querem que eu more com Susana e . ! A pessoa responsável por eu ter ido embora de Dublin.
- Ele apenas um homem na sua vida, aposto que você teve vários – seu pai disse com certo preconceito – Minha filha viajando o mundo e se deitando com homens. Deve ser por isso que não te quis, ele sim é um cara decente.
- CALA A BOCA! – gritou, ela não acreditava no que ouvia – Vocês todos vão pro inferno, vão pra casa do capeta! – e dizendo isso chutou sua mala que estava no chão, depois se arrependeu. Pegou a mala e saiu de casa, dando de cara com suas amigas e, claro, .
Era uma dinâmica engraçada que eles sempre tiveram. Não importa quão pessoal seja a situação que você está passando, as famílias sempre estavam juntas e todo mundo ficava sabendo do assunto. A máfia sempre estava ali, as suas amigas sempre estavam presentes quando ela precisava. também.
- Vamos pra casa? – Susana sorriu ao ver a amiga transtornada – Eu fiz cookies.
- Vai ter cuecas espalhadas pela sala? – ela perguntou rindo e olhando pra , lembrando-se de como Su reclamava disso quando era criança.
- Já passei dessa fase – ele deu mais um trago em seu cigarro e jogou a fumaça pra cima. havia esquecido quão sexy ele ficava quando fumava.
- Eu tô congelando, podemos ir? – Bella deu dois pulinhos abraçando a si mesma com os braços e todos riram, Bella ainda era a mais criança de todas, apesar de ter vinte anos.
- Vamos logo – Isa disse sorrindo e ajudando a pegar as malas.
As oito garotas mais rumaram para uma casa que se localizada no subúrbio irlandês. A casa ficava em uma esquina, era pintada de verde estranho, talvez para assustar os vizinhos. sempre assustava a vizinhança, ele não tinha exatamente uma cara de bom moço, e sua barba por fazer junto com seu ar e sotaque forte não ajudavam muito. Susana tinha que parecer a legal da família. era um nome forte em Dublin, não se esqueçam de que a mãe deles era a anfitriã mais conhecida da cidade. Mas após sua morte, os filhos sentiram que podiam ser eles mesmos, então resolveram se mudar para o subúrbio, beber até cair, começar a fumar e dar festas que iam toda a madrugada, apesar da reclamação dos vizinhos. Cansaram de ser os filhos educados da Sra. , queriam ser apenas Susana e , recusando-se até mesmo de usar o sobrenome.
se assustou quando viu a casa por dentro. Era agradável e bem a cara dos amigos, meio bagunçada com um móvel de cada cor. Tinha um sofá na sala e colchões espalhados, junto com os puffs e cadeiras. Teve medo de ir até o segundo andar, mas era ali que ia dormir, mais cedo ou mais tarde ia ter que subir por aquela escada estreita e estranha que cheirava a mofo. pegou as malas dela e levou para o quarto onde ela ficaria, aproveitou e disse que ia ficar por lá, já que tinha plena certeza que as garotas queriam fofocar e ele não seria uma boa companhia. Hoje ele não se importava mais com as amigas da irmã, cresceram juntos, ele as tinha como várias irmãs. E o bom, elas não babavam mais, porém ainda choravam. Tirando . Ah, . Quando chegou ao topo da escada deu uma olhada na irmã lá em baixo junto com as meninas, e viu no canto do sofá cutucando a própria unha, mania que ela tinha desde que era criança. Ele riu consigo mesmo, aquela velha queimação no estômago que não era gastrite voltou, talvez fosse ser mais difícil do que ele imaginava viver com ela. A ideia partiu dele, sabiam? Ah, vocês não sabiam. Ele ouviu os pais dela brigarem em uma festa e Dublin e de como não aguentavam mais a cidade e do quão decepcionante era ter como filha e o que fariam quando ela voltasse. não se aguentou e disse que, assim que ela voltasse poderia morar com ele e Susana. Ele não pensou nas consequências, apenas disse a primeira coisa que tinha em mente, e o pior, os pais dela aceitaram. E assim nos encontramos nessa situação de agora.
- Quem faltava acabou de chegar – Jess disse vendo Larissa entrar com um sorrisão no rosto – Olha pra mão dela, olha pra mão dela.
- Quê? – riu – LARISSA!
- ! – ela sorriu grandiosamente e foi até a amiga dar um abraço – Meu Deus, então é verdade? Você vai morar aqui?
- É – suspirou e as meninas riram – Parece que fui expulsa de casa.
- Mas ainda bem que tem a nós – Su disse sorrindo, abrindo uma cerveja com o anel.
- Não via a hora de te encontrar, isso era algo que não podia contar por telefone ou e-mail ou qualquer outro meio de comunicação – Lary parecia em êxtase, não parava de pular sem sair do lugar – Tá pronta.
- Meu Deus, fala logo – sorriu.
- OLHA! – ela estendeu a mão direita e, ali estava.
Um quilate e meio de safira brilhava no dedo anelar de Larissa. pensou que ia vomitar, e não sabia se era de alegria, desespero ou tristeza. Lary ia casar. não segurou o choro e ali mesmo começou a desperdiçar suas lágrimas e sentir seu coração acelerar. Larissa tinha um plano pra sua vida desde que conheceu Danny, e parecia que tudo estava dando certo, assim como para as outras meninas na sala. E tinha o que? Ah, cinco tatuagens, porque agora nem casa ela tinha mais.
- Danny? – ela perguntou e Lary concordou, também começando a chorar – Ai meu Deus, vocês vão ser tão felizes – e dizendo isso, as duas se abraçaram.
- Eu sei, eu sei – Lary disse – E, e agora que você está aqui eu posso fazer o pedido oficial.
- Vai me dar um anel também? – perguntou rindo.
- Infelizmente não, mas eu posso te dar um vestido se quiser – Lary sorriu segurando a mão da amiga – Quer ser minha dama de honra?
- O que? – arregalou os olhos – Eu?
- As outras já disseram que sim, preciso saber de você! Todo mundo sabe que cinco é nosso número da sorte e, bom, contando comigo ainda temos quatro.
- Falta você, – Isa falou ao fundo – Cinco anos sendo quatro de nós, foi complicado.
- Por favor? – Lary pediu fechando os olhos um pouco e ficando com a voz mais aguda, era o jeitinho que ela tinha pra conseguir convencer as pessoas – Se você não for, eu vou rosnar.
- Awn – riu – Claro que sim, Larissa.
- AAAWWWWN!! – ela ouviu as meninas ao fundo e começou a rir.
- Obrigada, obrigada! – Lary a abraçou – Dublin não é nada sem você aqui.
- É bom estar de volta – ela suspirou olhando pra escada e vendo parado ali, sorrindo com as mãos nos bolsos.
Capítulo 02
O capítulo onde todo mundo se apaixonada pelo casal principal, e deseja ter as amigas dela. Bom, eu tenho.
- Chá? – riu quando colocou uma xícara na sua frente – Sério?
- Você adorava chá – ele respondeu com sua voz rouca matinal.
- Peguei raiva de chá quando passei um tempo na China, acho que eles não bebem outra coisa por lá – ela riu – Tem café?
- Tem sim – ele sorriu – Você ainda não me contou das suas aventuras por outros países.
- Não contei que quase casei? – ela falou meio rindo e ele cuspiu o chá em cima da mesa, ela gargalhou – Nossa, eu disse quase.
- Com quem?
- Um cara que dizia ser filho de magos, ou era neto?
- Onde foi isso?
- Nova Zelândia – ela riu colocando café em sua xícara – Mas óbvio, eu disse não. Confesso que fiquei com medo, o cara era meio doido.
- Imagino, ele queria casar com você – a olhou mordendo os lábios e ela fez careta – Brincadeira, .
- Eu sei – ela suspirou, voltando pra mesa e sentando-se ao lado dele – E você? Não vejo aliança em seu dedo e nem fotos de garota nenhuma pela casa.
- Não tenho namorada – ele a encarou – Só eu e a Su contra o mundo.
- Como sempre – sorriu – Vocês dois sempre foram muito grudados, imaginava mesmo que não iam se separar com tanta facilidade.
- Tinha você – ele deixou escapar – Digo, eu, bom eu gostava de ser grudado em você.
- Até passar seis meses comigo e não me querer mais – bebericou o café e a olhou triste – Sério , supera isso. Eu superei.
- Eu não tive minha chance de me desculpar, nem explicar porque eu fiz aquilo, e por quatro anos não tive notícia suas.
- Não queria te ver, nem falar com você – ela suspirou – Foi bem, traumático pra mim quando nós, quando você terminou comigo.
- ... – ele tentou pegar a mão dela que estava em cima da mesa, mas ela recuou.
- , por favor – ela disse – Não vamos falar disso, nem tem o que falar – ela sorriu e deu um beijo no rosto dele – Tá tudo bem.
- – ele a segurou pelo braço quando ela ameaçou levantar – Eu de verdade, sinto muito.
- Eu também – ela disse forçando um sorriso.
Era domingo em Dublin e Susana dormia ainda profundamente em sua cama. Mal ela fazia ideia que seu irmão e estavam no andar debaixo começando a ter uma conversa agradável com olhares que queria dizer muito mais do que simplesmente uma retomada de amizade. A tensão entre os dois era ainda grande e dava pra ser cortada com uma faca, a paixão ainda existia como se nunca tivesse mudado absolutamente nada entre os dois. Quando a viu no aeroporto, o sentimento foi exatamente o mesmo de quando ele a chamou pra sair quando ela tinha dezoito anos, o mesmo formigamento nas mãos e nos pés, a mesma estranha sensação no estômago e o sorriso sem perceber nos lábios. O que passava com era a mesma coisa, porém misturada com aquele medo de que, se ela se aproximasse demais dele, não ia conseguir se separar. Como já fora dito, os dois se amavam e ainda se amam, só falta admitir.
- Que é isso? – perguntou dando um peteleco no jornal que lia deitada no sofá – Esportes?
- Emprego – ela respondeu sem tirar os olhos das ofertas – Preciso me estabilizar aqui em Dublin agora que nem casa eu tenho mais.
- Você tem aqui – ele respondeu sentando na outra extremidade do sofá que estava. Ela se esticou colocando os pés sobre ele – Folgada pouco?
- Desde quando temos frescuras com isso? – ela riu – Sabe de algum lugar por aqui que precisa de alguma coisa? Sei lá, topo até limpar o chão.
- Ah , por favor – ele bufou e bebericou seu chá – Não precisa trabalhar agora, sabe que aqui em casa vamos tomar conta de você.
- Não vou ser sustentada por você ou pela Su, tenho orgulho – ela respondeu estralando os dedos dos pés. fez careta.
- Que horror – ele riu dando um tapa nos dois pés da menina – Modos, .
- Estrala pra mim, então – ela deu de ombros – Estão limpos.
- Me deixa ver – ele pegou um dos pés da menina e fingiu analisá-los. Deslizou os dedos de forma delicada pela lateral dele e ela sentiu cócegas, mas de uma maneira gostosa, do tipo que você consegue suportar – Pra quem andou cinco países, seus pés são macios.
- Eu cuido de mim, – ela suspirou, abaixando o jornal e o encarando – O que você tá fazendo? – ela perguntou quando ele começou a massagear seus pés com os dedos firmes e de maneira forte.
- Tentando te relaxar, aposto que não recebe uma massagem nos pés há muito tempo. Pelo menos não uma massagem minha.
- Você nunca fez massagem nos meus pés – ela riu – Ai, caralho!
- Olha a boca!
- Apertou num pontinho aí que não podia – fez careta – AI!
- É o fígado – ele riu apertando de leve e depois passando o polegar de forma gentil no lugar – Pelo menos é o que dizem, se for o fígado quer dizer que você bebe demais e deve tá toda fodida.
- Muito obrigada, babaca – ela puxou os pés e suspirou – Tinha me esquecido o quão irritante você é às vezes.
- Massagem, ! Massagem – ele ergueu os braços pra cima como quem quer se livrar de uma situação.
- Enfim – suspirou e sentou-se em posição de índio no sofá – Vai me ajudar a achar um emprego aqui ou não?
- Em que você é boa? – jogou a cabeça pra trás e fechou os olhos. Ela em um segundo estava tão perto e agora já se encontrava irritadinha e cheia das frescuras.
- Não sei – ela deu de ombros – Viajar?
- Há, boa resposta – ele riu – Aprendeu alguma coisa nesses cinco anos?
- Hm...
- Sem ser o lado sexual, .
- Eu nem estava pensando nisso – ela mordeu os lábios – Não sei cara, nesses anos eu não aprendi muita coisa, eu mais ficava pensando em curtir a vida e esquecer que tinha família, irmã e... Bom...
- Eu?
- Em parte sim, não vou mentir.
- Precisou de cinco anos pra me esquecer? – ele fez uma cara de metido e começou a rir – E nós nem transamos, caralho!
- Cala boca anormal – esticou o pé e o chutou de leve na coxa, rindo um pouco mais alto – Você não é tãããão especial assim, não se sinta muito.
- Você que está me dando essa moral toda.
- Acabei de mudar de ideia – ela suspirou e levantou do sofá – Vou sair pra encontrar as meninas, quando a Su acordar, pede pra ela me ligar.
- Hey, hey, heeey – foi atrás dela e a puxou pelo braço, segurando forte e aos poucos empurrando contra a parede.
- Que foi? – ela perguntou respirando fundo e, desde que havia voltado da viagem, olhando pela primeira vez em seus olhos.
estava perto dos trinta anos. Não tinha mais aquela aparência de moleque dos vinte e três quando estavam juntos, ou quando tinha quinze e percebeu que de verdade estava apaixonada por ele. Agora ele tinha aquela barba por fazer, um olhar mais expressivo, lábios convidativos e um perfume misturado com o cheiro de cigarro que exalava de sua roupa. sempre fumou, e isso nunca foi incômodo para ela, na verdade dava até um ar mais másculo, se é que pode se falar isso. Na cabeça de , era impossível ele ficar mais másculo e atrativo.
- Janta comigo.
- Isso não parece ser um convite – ela riu nervosa – Tá mais parecendo uma ordem, tipo ‘janta comigo ou eu te mato’.
- Hm, mais ou menos isso – ele fez uma careta engraçada a princípio e depois sorriu de leve – Voltando ao assunto, janta comigo.
- , você nunca me chamou pra jantar, nem quando namorávamos.
- Eu sei, eu sei disso. Eu só, queria conversar com você, a sós.
- Moramos na mesma casa, se quiser conversar comigo é só comprar umas cervejas, sentar no sofá e pronto – deu de ombros, sem querer dar o braço a torcer de que, na verdade, estava louca pra aceitar esse convite.
- Qual a parte do ‘eu quero ter um momento a sós com você que não inclua minha irmã ou qualquer uma das outras amigas doidas de vocês duas’ que você não entendeu ou não quer entender? – ele riu, se aproximando um pouco mais de e ela definitivamente encostando todo o corpo na parede – , por favor...
- Para – ela o cortou – , o que você tá querendo, na boa?
- Sair com você.
- Com o intuito de me levar pra cama depois? – ela riu sarcástica e ele rolou os olhos em desprezo – Desde que eu cheguei aqui eu acho que vi umas cinco garotas diferentes. Todas as manhãs, TODAS! Tinha uma que se chamava Sissy, que tipo de garota se chama Sissy?
- Aquele não era o nome real dela – ele respondeu.
- Ótimo, você come putinhas e nem sabe o verdadeiro nome delas.
- ! – ele suspirou e finalmente, soltou seu braço – Por favor.
- Que? Vai vir com papinho de merda falando que gosta de mim e quer recuperar o tempo perdido?
- Por que você tem que ser tão arisca comigo? A porra do tempo todo.
- Leonina meu amor, vê se aprende – e ela o empurrou pelo peitoral – Você é problema, . E dos GRANDES! - ele olhou para suas partes baixas e depois olhou pra – Não esse “grande” idiota. Você me entendeu.
- Então isso quer dizer que nós dois – ele apontou para si mesmo e depois pra ela, fazendo uma cara de dúvida – Nunca mais?
- Você me teve por seis meses. Na verdade você me teve por uma vida inteira! – ela riu meio desesperada – Eu sempre te amei, sempre te quis! E eu ainda quero, não vou negar isso não – ele pareceu se surpreender – Mas já me fodi bonito por sua culpa, não vou cometer o mesmo erro duas vezes.
- Eu mudei, sabia?
- Que bom – ela disse subindo o primeiro degrau – Porque eu não – e virou as costas.
O problema de é que, agora ela não queria papo com o , especialmente porque sabia que, para se apaixonar de novo – ou colocar a paixão em um patamar realista – era a coisa mais fácil do mundo. Era só ele falar mais mole, jogar ela no sofá e a beijar que pronto, a merda estava feita e ela ia voltar a ficar de quatro por ele. Mas então a lembrança daquele dia de junho, de como ele disse friamente que estava colocando um fim no relacionamento voltavam com tudo, e ela queria que ele fosse pro inferno junto com sua família, tirando a Clair. , como boa leonina, gostava de toda atenção. E agora, ela ia de alguma maneira mostrar isso pra : ela amadureceu, aprendeu muito em cinco anos, e ia provar que ele perdeu a grande chance da vida dele. Isso até certo ponto, porque ela o queria de volta, ela queria deitar em seus braços, na sua cama, sentir aquela barba roçando em seu rosto, se misturar com o seu cheiro, porém no tempo DELA! Seria dessa vez como ela queria, e não ele. Por que tudo tem que girar em torno dele?
E quanto a ? Ele a queria, e ela mal sabe o quão difícil foi pra ele chamá-la pra sair. Ele ficou rolando na cama de um lado pro outro na madrugada ouvindo a risada da menina no quarto ao lado conversando com Isadora e Larissa. Acordou mais cedo e ficou ensaiando jeitos para falar com ela, olhou pro espelho e fez caras e bocas. Molhou os cabelos, os ombros, respirou forte por quase meia hora até ter dor de cabeça e ao fim, não sabia como fazer isso. Com não funcionava o jeito fofo, ela tinha um lado romântico, mas pra chegar até aí tinha que driblar o ‘leão’ que ela era. Como ela disse uma vez ‘tinha que chegar chegando’ e foi isso o que ele fez. Ela pode não ter aceitado a proposta, mas ela disse que ainda o amava, isso foi muito mais do que dizer ‘sim eu aceito jantar com você’. Na verdade essa revelação, era tudo o que ele precisava.
- E vocês dois...?
- Não, Jess! – riu – Foi estranho e ao mesmo tempo gostoso, sabe? Todo aquele formigamento e calor...
- HEEEY! Tá falando do meu irmão, caralho! Chega! – Su disse, levantando a mão pra e fazendo as meninas rirem.
- E por que você não aceitou, ? – Lary perguntou, tomando um pequeno gole do seu Martini – Digo, vocês se amam ainda, não amam?
- Larissa, e eu juntos só pode dar merda! E não me olha com essa cara Susana, e muito menos você, Clair.
- Eu gosto dele como cunhado – ela disse virando seu shot de tequila.
- Quer maneirar no álcool, querida irmã?
- Quer deixar de ser chata? – Isa a corrigiu – Deixa a Clair, ela se virou muito bem sem você aqui.
- Ah, obrigada por me lembrar de que todo mundo se virou bem sem a minha presença aqui, Isadora – bufou – Mais alguém quer dizer alguma coisa?
- Que nervosismo é esse? – Lary parecia preocupada.
- , desde que você chegou estamos querendo conversar com você. Na boa, sem bronca, sem nada – Bella falava com certo receio – Você anda muito estressada.
- EU?
- TÁ VENDO! – Isa riu – Cara, você grita o tempo todo e nem vou começar a falar do , você vira uma fera.
- Eu não tô estressada!
- Está sim – Jess falou baixinho – Desculpa, mas você está.
- Falta de sexo – Su assoviou e bebericou a cerveja – Falo mesmo.
- Manda seu irmão providenciar – Hells brincou e as meninas riram – Acho válido. Na verdade, acho válido vocês voltarem logo, a cidade toda sabe que vocês se adoram.
- Se amam, Hells. A-M-A-M! – Bella soletrou e fez cara feia – Nem me olha assim. Desde que você foi embora só faltou o construir um altar pra você.
- Na verdade ele fez – Su riu – É que ninguém ficou sabendo. Bom, eu fiquei.
- Ele feeeeeeez? – Isa e Larissa perguntaram juntas.
- Que coisa mais linda.
- Doentia você quer dizer – falou – Quem constrói um altar?
- – Jess falou e as meninas riram – Eu deveria ter construído um altar para o Tom.
- Ainda tá nessa?
- Quem sabe dava certo.
- Macumba – Isa disse e todo mundo riu – Acho que dá certo.
- Macumba pro Fletcher? – falou – Jess, aparece pelada na frente dele e dá tudo certo, pelo amor de Deus.
- Ele sai correndo – Jess riu meio triste.
- Ou começa a chorar – Bella disse – Aposto que ele nunca viu mulher pelada.
- Acho que ele nem se olha pelado no espelho – Susana gargalhou e as meninas também – Não imagino jamais o Tom pelado se olhando.
- Ele deve tomar banho de olhos fechados – Clair comentou ainda rindo – Deve ter cheirinho.
- E o que a sua pessoa sabe sobre ‘cheirinho’, hein Clair? – olhou pra irmã mais nova e Clair ficou vermelha de vergonha.
- Como eu disse – Bella comentou – Muuuuuuuuita coisa mudou.
- CLAIR!
- Eu não ia ficar virgem pra sempre – ela riu – E não sou a única, a Hells e a Bella também já perderam.
- HEEEY! – Larissa olhou pra sua irmã – Como eu não sabia disso?
- Você anda aí toda preocupada com seu casamento que, eu me esqueci de comentar.
- Bella – Lary a olhou meio triste – Poxa, eu gosto de saber dessas coisas.
- Foi uma transa, ok! Não é como se eu fosse casar ou algo do tipo – ela olhou com sarcasmo pra irmã e ficou tudo mais ou menos claro. Havia certo incômodo nesse assunto que ninguém, agora, queria comentar.
- Quem quer mais cerveja? – perguntou, se levantando da mesa, querendo quebrar o clima – Alguém?
- Vou com você, – Isa disse se levantando e pegando alguns copos – Quais vocês querem?
- Guiness pra mim – Su e Jess falaram.
- E vocês?
- Não quero nada – Larissa falou – Eu não acredito que você tá brava comigo por causa do casamento. Pensei que você gostasse do Danny.
- Quer mesmo conversar sobre isso na frente das meninas?
- Nós falamos TUDO na frente das meninas – Lary ia chorar – Eu tô, abismada!
- É sério, Larissa? Tudo agora é você e a porra desse casamento. Eu gosto do Danny, o adoro, mas será que tem como lembrar que, na família não existe apenas a Larissa? Tem mais alguém tipo... EU!
- Eu tô tentando te incluir em tudo, Bella! Absolutamente tudo.
- Você esperou a voltar pra ser madrinha, eu nem fui cogitada como madrinha.
- A já era madrinha do meu casamento antes de você nascer, Bella!
- NÃO IMPORTA, ELA TAVA LONGE!
- Meninas – Jess chamou a atenção das duas – Eu sei que nós falamos tudo na frente das outras, mas, podemos conversar sobre isso em outro lugar?
- Não, Jess – Bella levantou e pegou a bolsa – A conversa tá encerrada.
- BELLA!
- Vai fazer o que, Larissa? Me bater? Tô pagando pra ver, você nunca presta atenção em mim, vai querer dar uma de irmã mais velha agora?
- Vem, Bella – Clair disse, vendo Hells se levantar em seguida – Podemos ir pra sua casa, Hells?
- Claro – Hells olhou pra irmã e Jess concordou – Avisem a e a Isa por nós, ok?
- Peçam desculpas – Bella falou. E assim, as três foram embora, meio a contra gosto, mas era melhor do que deixarem Larissa e Bella ali, se matando.
e Isa voltaram pra mesa e viram Lary com a cabeça nas mãos com os ombros mexendo, Su e Jess a olhavam com um pouco de pensa. As outras duas não entenderam nada, colocaram as cervejas em cima da mesa e voltaram a se sentar.
- Aconteceu alguma coisa?
- Bella e Lary brigaram – Su respondeu – As meninas foram embora, sua irmã também.
- Você e a Clair estão bem? – Jess perguntou pegando a Guiness – Tipo, vocês não se falam, muito.
- Acho que esse tempo fora fez com que a Clair mudasse comigo, crescesse, sabe? No fundo, acho que ela me culpa por muita coisa que aconteceu, e isso inclui minha família.
- Eu só fico feliz delas terem elas mesmas, sabe? Aquele trio é tão imbatível quanto nosso quinteto – Isa sorriu.
- Lary, quer alguma coisa? – colocou a mão no ombro da amiga. Larissa ainda chorava baixinho, mas aos poucos ia se acalmando – Podemos ir pra outro lugar.
- Eu quero ir pra casa – ela suspirou – Danny vai pra lá mais tarde, preciso me arrumar.
- O cara vai casar com você, acho que você não precisa se arrumar pra ele – Su falou e as meninas a olharam estranho – Eu hein, que foi?
- Sempre é bom manter essa paixão, Susana – Lary disse – Por exemplo, eu acho que a podia atacar o e...
- E lá vamos nós começar a falar desse assunto de novo – rolou os olhos – Cara, não vai acontecer nada entre eu e o . NADA!
- Isso é o que vamos ver – Jess riu.
- Jess, eu sei que o Tom vai dar carona pro Danny hoje, então.
- Que tem?
- Jeeeeesssss... – as meninas falaram em coro de um jeito romântico.
- Para gente, não tem nada eu e o gordinho.
- ELE TEM APELIDO!
- Gordiiinho!
- Isso é tãão nós com dez anos.
- Tom gordinho – Su fez um coração com as mãos e as meninas gargalharam.
- Odeio todas vocês, todas!
Depois de mais algumas cervejas, as meninas olharam no relógio e viram que estava chegando perto das nove da noite, hora de ir embora, ainda mais em um domingo, considerando que todas trabalham amanhã cedo. Menos .
Jess e Lary foram embora juntas, Jess deu a desculpa que tinha que falar algo com Tom sobre o trabalho de amanhã, mas todas sabiam que ela queria era “ver o gordinho”, nem que fosse por alguns minutos. Isa pegou um táxi e foi quase dormindo o caminho todo pra casa, e Susana... Bem, ela sabia da surpresa que o irmão estava aprontando em casa, suspresa essa que nem e nem você, caros leitores, sabem qual é. Su ligou para um amigo e riu de saber que a amiga tinha uma lista ‘pessoas para ligar no meio da noite’, e achou mais engraçado ainda saber que Dean – melhor amigo de – estava ali. Será que tinha ligado pra ele?
não tomou o ‘não, eu não vou jantar com você’ como sendo algo ruim. Na verdade ele pegou esse não e transformou em ‘não quer jantar comigo, levo a janta até você’, em outras palavras, ele preparou algo especial para . Era péssimo na cozinha e mal conseguia preparar um café ou um chá sem queimar alguma coisa ou acabar ferrando a cozinha inteira. Por isso foi o mais rápido que pode no mercado e comprou as primeiras coisas congeladas que viu pela frente, não estava muito a fim da comida, e sim da companhia de hoje. Colocar tudo em pratos limpos, finalmente ter uma conversa de gente com ela, embora ele soubesse que isso fosse impossível.
- Só me responde uma coisa – Su falou quando estacionou em frente de casa para deixar a amiga – Me explica de novo, por que você e o não estão juntos?
- Susana... – gemeu – Cara, eu dei no mínimo umas mil explicações desde que saímos do bar, e desde quando você se interessa nisso?
- Tá um saco ver vocês dois de “mimimi” pela casa, eu sei que isso tá acontecendo.
- Não tá não – parecia surpresa, o que a Su viu?
- Ai , se você não quer assumir pra sua amiga porque você...
- Nós dois gostamos de ficar por cima – respondeu, a princípio séria, mas depois caiu na gargalhada – Eu nunca transei com seu irmão, mas ele gosta de ficar por cima e eu também, nunca daria certo – ela deu de ombros e Su gargalhava.
- Dois idiotas mandões.
- Sou mesmo, eu gosto de controlar tudo, isso inclui o sexo – mordeu os lábios e sorriu – Meu Deus, eu tô falando de sexo com seu irmão pra você.
- Não acho mais estranho, tô acostumada com as putinhas de sempre que gostam de fazer contato matinal comigo durante o café da manhã – ela riu.
- Enfim – suspirou, pegando sua bolsa e saindo do carro – Que horas você volta?
- Que horas você quer que eu volte? – Su disse voz maliciosa.
- Vai toma no cu – riu.
E dizendo isso, bateu a porta do carro rindo e Su cantou pneus indo para um encontro que nem ela sabia direito se ia dar certo ou não.
Enquanto isso, dentro da casa, olhava de novo a cozinha, a mesa, os pratos pra ver se estava tudo certo. Não se arrumou nem nada pra esperar , já não bastava ele ter arrumado um jantar falso, tinha que se arrumar também? Ele tomou banho, isso já está de bom tamanho, certo? Vestia seu habitual jeans claro, uma camiseta regata preta com uma xadrez por cima. Pés com um sapato estranho qualquer que odiava e ele adorava. Ele cheirava a sabonete... E cigarro. Quanto mais ela demorava pra chegar, mais bitucas apareciam na pia da cozinha. Suspirou fundo dando uma última tragada naquela droguinha lícita que estava em sua mão quando a porta da frente bateu. Ela chegou.
- ? Tá esperando alguém? – ele a ouviu perguntar, e quando apareceu na sala, viu que ela tinha aquele velho olhar desconfiado. Sorriu com isso – Sério, tem alguém pelado na cozinha?
- Por que você sempre acha que tem alguém pelado aqui em casa? – ele riu, se encostando na soleira da porta – Tá bonita.
- Obrigada – ela sorriu, tirando o casaco e o colocando nos ganchos atrás da porta. Deu uma olhada em , ele estava escondendo alguma coisa – Que foi?
- Surpresa – ele sorriu com os lábios fechados – Vem aqui.
- Vixi...
- Quer parar de ser desconfiada?
- Ok, ok...
Quando ela chegou à cozinha, viu a pequena mesa redonda arrumada para um jantar a dois. Dois pratos, dois cálices – até nisso tinha caprichado, abandonou o lado irlandês de querer beber cerveja e comprou vinho – duas velas e um cheiro bom vindo do forno elétrico. Logo supôs que aquele era um jantar para ela, e também deduziu que tinha comprado alguma coisa congelada e agora estava cozinhando no forninho elétrico, não podia exigir muito dele. E isso já era grande coisa.
- Pra que isso? – ela riu – Alguma menina desmarcou com você e pra não ficar chato você tá fingindo que o jantar é pra mim?
- – ele parou atrás dela e colocou as mãos sobre seus ombros – É pra você.
- Pra mim? – ela deu mentalmente graças a Deus que ele estava atrás dela, afinal agora ela sorria – Por quê?
- Porque sim – ele suspirou e cheirou de leve seus cabelos sem ela perceber – Eu te chamei pra jantar, como você não aceitou, trouxe o jantar até você.
- ... – ela se virou pra ele com um sorriso desconfiado – Não vai dar certo.
- Eu não estou tentando nada, estou? – ele a segurou pelo queixo – Ainda não.
É, ele ainda não estava. Ela sorriu e sentou-se à mesa, não permitindo que ele tivesse todo aquele ritual de cavalheirismo puxando a cadeira pra ela e essas coisas. Para total surpresa dos dois, o jantar fluiu de forma calma e sem segundas intenções durante quase uma hora, apenas com indiretas jogadas nas entrelinhas de cada frase ou cada olhar, mas isso era algo que eles já deviam estar acostumados. contava como foi viajar, conhecer novas culturas, novos povos, perder algumas inibições e medos que antes pareciam monstros do armário. Ele, por sua vez, contava como a vida em Dublin havia mudado desde que ela foi embora, e como a família sentiu a falta dela. Na verdade podemos substituir família pelo pronome ‘Eu’ e de ‘como eu senti sua falta’ faria muito mais sentido nessa frase. Mas eles vão ter essa conversa, porque foi pra isso que preparou todo esse jantar. Ele só não sabia direito como ele ia começar, já que não tinha parava quieta.
- Nesse dia, na verdade, foi a primeira vez que eu liguei pra alguém aqui em Dublin, eu tava meio perdida lá na China e tava precisando urgente de um mapa, no caso, o Google Maps!
- Quero voltar.
- E então a Su atendeu ao telefone toda... Hein?
- Quero voltar.
- Voltar pra onde?
- Pra você.
- Nem pensar! – ela respondeu rápida enquanto bebericava o vinho – , já tivemos essa conversa algumas vezes e na verdade eu estava falando disso hoje com sua irmã. Não tem como dar certo.
- E por que não?
- Porque foi você quem me largou, e eu sou bem orgulhosa pra não voltar atrás.
- E se eu quiser voltar atrás na minha decisão?
- Aí o problema é seu – ela sorriu.
O suspiro de mais pareceu um rosnado de um cachorro encolhido no canto da sala do que simplesmente um suspiro humano. Ele levantou de seu lugar e foi até a garota, sentando-se de frente pra ela, encostando os joelhos. Não disse nada, apenas ficou ali, apoiando os cotovelos nos joelhos e olhando pra como se estivesse esperando outra resposta que não fosse tão ríspida e tão rápida. Olhou-a de baixo pra cima com um singelo sorriso nos lábios, ela o encarou enquanto brincava com sua taça de vinho em mãos. Aos poucos, foi deslizando uma das mãos pelas coxas de e erguendo mais o corpo a fim de ficar totalmente de frente pra ela, enquanto a menina negava pra si mesma o que estava sentindo. Nunca havia percebido que os pequenos toques dele a faziam fraca, debilitada e tonta. Tonta em todos os sentidos, de se sentir até um pouco mais retardada do que já era; o pior de tudo era que ele sabia muito bem disso. Sorriu quando viu morder os lábios e deixar a taça de vinho em cima da mesa, sorriu ainda mais com os olhos quando ela endireitou o corpo na cadeira, ficando mais ereta e podendo encarar melhor aquele homem na sua frente. Suspirou quando impulsionou mais o corpo e seus lábios roçaram de leve, na mesma hora foi como se ela levasse um choque de realidade. Cinco anos pra esquecer esses toques e a respiração dele, não seria agora que tudo voltaria ao normal.
- Eu não vou te beijar – ela sorriu – Então, nem tenta.
- Nem tentei nada – ele riu – ...
- Obrigada pelo jantar – suspirou, afastando a cadeira pra trás e saindo da cozinha.
- Eu amo você! – disse e, logo em seguida fez careta. Isso saiu estranho, bem estranho, mas agora a merda já tinha sido feita. Ok, ele a amava e isso não é exatamente de hoje, mas precisava falar assim?
- ?
- Eu te amo – ele riu – Tá, não foi bonito o jeito que eu falei.
- Você nunca me disse isso, pra eu arrancar um ‘eu te adoro’ era um parto! E um parto NORMAL, daqueles bem dolorosos – ela parecia assustada.
- – ele andou até a menina – Quando nós dois estávamos juntos tinha tanta coisa acontecendo junto, eu não sabia o que eu queria de verdade.
- E agora você sabe? Agora depois desses anos você sabe que me ama?
- Sempre te amei, só tinha medo de falar.
- Eu tinha dezoito e falei, qual o problema de falar isso? Não mata ninguém, e na verdade hoje em dia nem tem esse peso todo.
- Então por que essa surpresa com minha declaração?
- Porque parece que foi um ato desesperado de querer minha atenção, não de que você realmente me ame – ela suspirou – Cara, você não precisa de nada disso pra me ter, pra ficar comigo por cinco minutos, pra conversarmos – ela apontou pra cozinha e suspirou, colocando depois as mãos na cintura – Moramos juntos, crescemos juntos. O que eu mais amo na nossa relação é a ausência de protocolos e frescuras que existem entre homem e mulher. É o que eu te disse, se quiser falar comigo, compra uma cerveja e vamos sentar na sala enquanto vemos South Park, pronto – ela riu.
- Pensei que dessa vez estivesse fazendo tudo certo – cruzou os braços e sorriu olhando pro chão.
- Valeu a intenção – ela riu dando um soco no ombro dele – Agora, vamos quebrar esse climinha e vamos pra sala? Valeu o vinho, mas eu tô doida por uma cerveja gelada! Desde quando irlandeses tomam VINHO?
- Tá vendo, mais uma errata – os dois gargalharam.
Ok, o gelo havia sido quebrado. Agora, que horas ia começar a derreter?
- O que é isso no seu rosto? – a menina perguntou, erguendo o corpo que estava deitado no sofá e indo até .
Os dois estavam na sala, assistindo South Park. deitada com os pés em cima do colo de , enquanto ele bebericava sua cerveja um pouco quente e ela deslizava os dedos pela boca da garrafa, enrolando pra beber porque sempre gostava de vê-lo bêbado primeiro. Enquanto conversavam, ela viu uma pequena cicatriz em cima dos seus olhos, cicatriz essa que não existia quando ela foi embora. Ela decorou seu rosto, até as marcas de espinha da adolescência, então aquilo era novo.
- Não tinha quando eu fui embora – ela falou passando os dedos de leve por cima da cicatriz e tentando focar o olhar ali, e não na boca ou no perfil dele.
- Briga de bar – ele respondeu baixo e com um riso de culpa – Uns dois anos atrás.
- , brigando pelo bares de Dublin – ela gargalhou – Que foi que fizeram com você?
- Não sei – ele virou o rosto – Depois que uma menina foi embora daqui as coisas ficaram complicadas pro meu lado, sabe? – parecia ouvir o tilintar das fadas miseráveis da paixão quando percebeu que já estava, de novo, próxima demais.
- Ela foi embora por uma razão.
- Sabia que, nem sempre, é legal ter razão? – ele colocou a cerveja no chão e foi deitando por cima do corpo dela, deixando-os na horizontal no sofá.
- Por que você tem que ficar por cima? – ela perguntou rindo, já ficando alerta com a situação.
- Porque eu sou mais velho – ele sorriu, finalmente encostando seus lábios nos dela e matando aquela vontade que tanto os consumia.
Capítulo 03
O capítulo da lista dos meninos. Quem que não tem uma lista? Bom, ele não tinha, e foi assim que ele a ganhou. E a máfia adorou.
- tem uma lista – Susana falou, quando chegou na sala trazendo as garrafas de cerveja e o cinzeiro para o irmão e Danny – De todas as meninas que ele já transou.
- O que? – Lary se engasgou e Danny começou a rir daquele jeito desengonçado que, sabe-se Deus como ele conseguia fazer aquilo – Como assim? Isso é nojento!
- Por quê? – perguntou, acendendo um cigarro e já rindo da cara de Larissa, ele sempre achou a menina um pouco puritana demais – Aposto que o Danny também tem.
- Daniel? – Lary olhou pro noivo totalmente horrorizada – Você tem?
- Tenho – Danny disse e a beijou – E você é a número um.
- Eu não, eu não acredito. QUANTAS?
- Ai Lary, que importa? – Su disse, puxando o cigarro da boca do irmão e dando uma tragada de leve – Você é a número um, não é?
- É estranho – ela parecia desconfortável – Eu conheço alguma?
- Não faça essa pergunta – Jess, que estava confortavelmente vendo TV respondeu, o pessoal até assustou – Vai que ele comeu alguma de nós, fica chato.
- DANIEL!
- Jess, não coloca lenha na fogueira – Danny pediu e Jess começou a rir.
- Você já, vocês já...? – Lary olhava pra Su, Jess e Isa que estavam na sala. Todas riam da cara de apavorada da amiga – Eu não acredito! Cadê a ?
- Tomando banho – respondeu – Larissa, relaxa.
- Não dá pra relaxar – ela suspirou – Danny, nós estamos juntos desde os dez anos!
- Treze – ele a corrigiu, fazendo-a pensar muito bem em qual seria o próximo argumento. A última coisa que ela precisava agora era de que Danny começasse a lembrar dos números do namoro, ela tinha tique e perseguição com números.
- Não importa – ela bufou – Estamos juntos desde sempre.
- Nhé, não mesmo – Isa disse, ela também estava quieta assistindo TV com Jess – Eu lembro muito bem quando vocês passaram aquele tempo separados.
- Quatro meses?
- Seis meses – corrigiu, até ele sabia – Que foi? Eu lembro.
- Não sou de ferro, Larissa – Danny a abraçou, ela ainda estava dura no sofá – Sabe, eu sei que você ficou chorando por minha causa, mas, vamos combinar. Você também não foi santa nesse tempo não.
- EEEEEEEEEEEEEEU?
- Larissa, bebe um pouco, por favor? Te amo mais quando você tá bêbada – Susana disse empurrando uma garrafinha pra amiga.
- Não quero beber – ela emburrou – Não terminamos essa conversa, Daniel!
- Lary, por favor! - Danny ia dizendo, mas foi interrompido por uma cheirando a shampoo que descia a escada – Oi Cinderela.
- Não fode, Jones – ela respondeu mal humorada. Todos riram, menos .
- Dormiu mal? – ele insistiu – Ou não dormiu?
- ‘Cê tá de ressaca, amiga? – Isa perguntou, mas quando viu o olhar de Susana mandando ela ‘calar a boca’ se arrependeu de perguntar – Digo, deixa pra lá.
- Tem café?
- No bule – falou meio ríspido.
- Ok – ela bocejou e foi pra cozinha.
Vocês podem estar achando que, no dia do beijo alguma coisa aconteceu. E na realidade, aconteceu sim, mas foi ruim e nada agradável. O telefone de tocou e era uma tal de Sophie dizendo que estava indo pra lá agora. Era domingo à noite, o horário dessa Sophie visitar . Eles tinham esse pacto há certo tempo e ele esqueceu-se completamente disso. viu o celular tocando, ouviu a conversa, viu o quase arrancando o cabelo com as mãos e o que era pra ser uma noite agradável terminou com a menina no quarto trancada se chamando de idiota, batendo do lado de fora e mais tarde, brigando com Su porque ela apareceu em casa com seu amigo Dean completamente bêbado. Desde esse dia, não olha mais na cara dele, e tem lá suas razões. Ele podia pelo menos ter desmarcado com a putinha da noite, né? era a putinha... Melhor ela não ler isso.
- tem uma lista de meninas que ele já transou! – Larissa apareceu na cozinha, vendo a amiga deitada em cima da mesa e com a xícara de café em uma das mãos, quase que dormindo – E eu tenho um pinto! ACORDA CARALHO!
- Oi Larissa – levantou um pouco a cabeça – Que foi?
- Que foi pergunto eu! Estamos aqui hoje porque tá chovendo o mundo lá fora, e eu queria falar com a minha madrinha sabe? Mas acho que ela tá ocupada demais pensando nos problemas que esqueceu que eu vou casar e tô perdida! Mais perdida que filho de puta em dia dos pais.
- Vê se o pai não é o , com tanta puta que ele deve ter nesse caderninho de merda dele – levantou e foi se arrastando até a pia da cozinha – Que dor de cabeça infernal.
- Que aconteceu? – finalmente Lary se acalmou um pouco, não parecia nada bem e com esse mau humor ainda... – Ele fez alguma coisa?
- Fez, ele existe! Esse é o problema!
- Ok, sem respostas clichês, preciso de algo mais palpável!
- Larissa, nós nos beijamos e no meio do beijo a puta da noite ligou perguntando ‘se o esquema estava de pé’, tem noção de como eu me senti? Não durmo há cinco dias.
- Cinco – Lary sorriu, emburrou – Apenas uma linda combinação numérica, só isso – ela riu – Nossa, que bad.
- Bad é pouco – ela bufou – Eu tava quase de novo me derretendo, quase! Tava tudo ótimo, e tinha que acontecer isso.
- E desde então vocês não se falam?
- Se você contar a minha falta de bom humor e as patadas que eu tô dando como uma forma de comunicação, bom, nós estamos – riu sarcástica – É por isso que eu fui embora daqui!
- Não, pode parar! – Lary a abraçou – Sabe, você precisa morar longe dele. Vem morar comigo, a Su vai ter um ataque, mas ela vai entender. E além do mais, eu tô precisando muito da minha madrinha no momento.
- E as outras meninas? E sua irmãããa?
- Bella não fala comigo desde o pub, o que eu acho que são cinco dias também. As meninas já me aturaram demais desde o pedido do Danny, tá na hora de você fazer sua parte.
- Vai me pagar por isso? - começou a rir – Tô desempregada, amiga.
- Pensaremos em algo . E então, topa?
fez um pequeno resumo em sua mente de tudo o que já aconteceu desde que passou a morar com e Susana. Não era apenas o fato dela estar brigada com ele que deixava a atmosfera mais sexy, porque aquela tensão no olhar, entrar em um cômodo e ele estar ali era deliciosamente chato e perigoso. Mas, se ela saísse dali, ia ter que ficar sem o café dele, sem o cheiro do seu sabonete, suas roupas espalhadas pela sala, brigar pra ele abaixar a tampa da privada, sua voz matinal, o contato. Maldito contato! Valia a pena sair dali? Ela estava mais próxima dele do que em toda sua vida, porque ela nunca passou tanto tempo grudada em a ponto de saber até que horas ele usava o banheiro. Sair dali era ruim, chato e nada sexy. Ficar era legal, ficar rolava a possibilidade de uma noite, um beijo, um carinho. Ok, ficar.
- Posso pensar? – sorriu.
- Claro, as portas de casa sempre estarão abertas, ok?
- Obrigada, Lary – e com um abraço, as duas voltaram para a sala.
Danny e fumavam na janela enquanto riam de alguma coisa, com certeza alguma piada babaca contada por um deles. Jess e Isa compartilhavam o mesmo sofá meio espremidas, comentando sobre o último episódio de The Bachelor e como era difícil revelar seu amor para outra pessoa. Jess amava Tom que com certeza a amava de volta, mas era chato demais e não revelava. Isa estava de quatro por Dougie, mas esse era outro lesado no estilo Tom que também não falava nada; e os quatro ficavam nesse impasse, até vai saber quando. Susana era a mais despreocupada de todas, futricava seu Ipod passando por músicas e vídeos até achar as fotos do seu encontro com Dean que ela via escondida, já que não podia revelar pro seu irmão que ela estava, também, apaixonada. Será que ia ficar muito bravo se soubesse que os dois deram uma rapidinha no provador do shopping?
- Tá melhor? – Su perguntou assim que e Larissa sentaram no sofá – Quer comer alguma coisa?
- Obrigada, Su, mas eu tô legal – ela sorriu, deitando no ombro da amiga – O que vocês estão assistindo?
- THE BACHELOR! – Jess e Isa responderam juntas.
- Eu daria tuuuuuuudo por uma rosa do Edward, ele é liiiiiindo!
- Jessica, você não consegue nem um muffin do Tom! – comentou e as meninas começaram a rir, a própria Jess riu.
- Não importa, do Edward eu queria uma rosa – ela falou, virando-se pra TV novamente.
- – Isa a chamou – Sabia que os dois ali têm um caderninho com as meninas que eles já transaram?
- Eu tô te ouvindo, Isadora! – Danny respondeu.
- A Lary me contou na cozinha – ela deu de ombros – Será que é “só um caderninho”, mesmo?
- Tá querendo dizer alguma coisa, ? – jogou a fumaça pra fora e a encarou, passando de leve a língua nos lábios.
- Eu acho que você não tem apenas um caderno, eu acho que deve ter uns cinco, contando pela sua agenda telefônica.
- Você viu minha agenda?
- Cinco, cinco! – Lary ria consigo mesma – Ai, ai...
- Queria ver se você tinha meu número lá ainda – falou meio rindo, mas não gostou.
Saiu da sala aos trancos e barrancos, sem ao menos olhar pra cara dela. Ele não a olhou, mas de resto todo mundo ficou-a encarando.
- Perderam o cu na minha cara, que foi?
- Oh Tourette, respira um pouco! – Danny disse – Sabe o que ele tava me dizendo agora? Do quanto ele sente sua falta.
- Impossível.
- Cabeça dura da porra, tô te dizendo – Daniel suspirou – Pega leve, .
- Eeeeu não queria concordar com o Danny, mas ele tá certo – Susana falou – É um saco ver o falando de você o dia todo quando você não tá perto.
- Ele fala de mim?
- Fala – Su suspirou – O tempo todo.
- E deixa indiretas no facebook – Jess completou – Você saberia disso se tivesse um.
- Tenho vocês pra me atualizarem disso – ela riu.
- A chuva passou – Danny cortou o assunto mais ou menos no meio – O que acham de irmos comprar uma pizza, deixar os dois aqui por umas duas horas e voltamos mais tarde?
- Nem pensar!
- Sabe, essa frase tá saindo demais da sua boca, – Lary riu – Só, conversa com ele. NA TRANQUILIDADE.
- Tá virando “mano” agora? – Isa riu, pegando a bolsa que estava no sofá onde as meninas estavam.
- Jeito de falar – Lary sorriu – Quer pizza do que, ?
- Eu vou com vocês, não vão me deixar sozinha com ele.
- Vamos, porque te amamos – Su deu um beijo na bochecha da amiga – E não quebrem a casa, por favor.
- Não acredito nisso!
- Tchau – e depois da última menina passar pela porta, Danny se despediu.
- Miseráveis – falava consigo mesma. Pensou em abrir a porta e sair correndo atrás deles, mas os passos rápidos e pesados na escada a assustaram.
- – a chamou – Pode vir aqui, por favor?
- Que foi?
- Toma – ele jogou em cima dela um caderno pequeno e fino, capa preta. Parecia novo.
- O que é isso?
- Abre.
abriu a total contra gosto, mas se surpreendeu com o que viu logo na primeira linha. Seu nome estava ali, e era apenas o seu nome a única coisa escrita naquele caderno. Em cima o título ‘Pretensões’ lhe chamou a atenção. Ela era alguma pretensão na vida dele? Ou isso era apenas alguma outra brincadeira de mau gosto?
estava ali parado, esperando por alguma reação dela que parecia não vir nunca! Cutucava as luvas com os dedos furados e suspirava fundo, seu peito parecia que ia explodir a qualquer momento.
- E então? – ele ao fim perguntou, não aguentava mais esperar – Alguma pergunta?
- , que porra é essa?
- É meu caderno – ele riu sarcástico.
- Pretensões?
- Eu posso ficar e ter a garota que eu quiser, eu já tive na verdade, e não foram poucas, foram MUITAS!
- Uau, espero que essa conversa chegue a algum lugar.
- Mas eu quero você – ele a segurou pelo braço, forte e marcando ali seus cinco dedos (oh, cinco de novo!) – Você é a pretensão da minha vida, porque é a única que eu quero e não consigo! Porque eu fico igual um idiota, faço tudo errado quando eu acho que tô fazendo certo.
Ela nem piscava.
- Então, ao invés de ficar aí fazendo piadinhas, você deveria saber melhor da história.
- Eu não sabia...
- E eu ainda te deixei “no topo”, porque eu sei que você gosta de ficar por cima.
Não foi preciso mais que dois segundos pra largar o caderno no chão e pular no colo dele – ainda de pé – deixando de lado toda a parte racional ou chata que ela tinha, e se deixando levar apenas pelas emoções e hormônios. Sei que não ficou surpreso com isso, na verdade era exatamente essa reação que ele estava esperando, porque, assim como um bom caçador, ele seduz a presa e espera por uma oportunidade para dar o bote; nesse caso ele apenas seduziu, porque quem deu o bote foi a própria que caiu nas ladainhas dele. Mas essas, são ladainhas verdadeiras, porque, ela sempre foi o objeto de desejo que ele nunca possuiu e, diferente das outras (muitas, como ele metido gosta de pontuar), não era nada fácil; pelo contrário, era a mais difícil. Leonina, sangue quente, elemento fogo! Quem dominava a situação era sempre ela, e não ele! Nunca ele. Já ouviram o ditado de ‘nunca diga nunca’? É, não tinha ouvido ainda...
Os dois estavam agora no sofá da sala, ainda sentada no colo de , aos beijos e fechando os olhos o mais forte que conseguia, talvez para enganar a si mesma de que aquilo estava acontecendo, ou querendo guardar pra sempre o tão sonhado toque mais íntimo. Ela mantinha as duas mãos enroscadas nos seus cabelos e os puxava com força, o beijo também não estava sendo o mais calmo possível – aposto que ela ia reclamar no dia seguinte que ele não é nada delicado – mas agora, isso não importava. precisava de ar e de mais pele para tocar, por isso largou um pouco os lábios da menina e desceu os beijos para o pescoço, ao passo que com as mãos que antes estavam ocupadas demais apertando as laterais de seu corpo, ia levantando a camiseta dela, mas não com calma, e sim com agilidade. Ela ergueu os braços pra cima o ajudando e voltou a encostar seu tronco no dele, enquanto distribuía beijos pelo colo e seios da garota.
Ela percebeu que aquele sofá estava ficando pequeno demais para a tamanha vontade reprimida dos dois. Levantou-se do nada, deixando-o atordoado e com uma cara de ‘você não vai fazer isso comigo AGORA, vai?’. Ela apenas riu. Como era de se esperar, seus lábios estavam mais inchados e ela gostava de passar a língua por eles, era uma sensação de prazer saber que ainda havia o gosto do cigarro dele ali presente. ia se levantar do sofá para pedir uma explicação para aquilo, mas ela o chutou de volta – com delicadeza, gente – para sua posição inicial e murmurou um ‘fica quieto’ de forma mandona. Ele gostou. É claro que gostou. Ela riu enquanto sentia seu corpo pedindo por mais contato e sua parte íntima quase explodindo dentro da sua roupa. Mas tudo tinha que ser com calma... E com ela no controle.
Nunca foi boa na arte de sedução, e no fundo achava isso meio ridículo. Pra que enrolar sendo que toda sensualidade está em um bom corpo a corpo? Tá, as pessoas tendem a ser um pouco visuais e gostam de usar todos os cinco sentidos durante uma relação, mas ela sabia que não era assim – ele beijava e transava sempre com os olhos fechados, ela sabia disso. Com isso em mente, começou a rir quando, aos poucos, foi baixando a bermuda velha que usava (a roupa não era nada apropriada pro momento), e a rodopiou no ar até cair em algum lugar perdido na sala. gargalhou porque, ele nunca a viu assim, tão solta e tão presente. Ela mordeu os lábios e o chamou com o indicador, e imediatamente obteve uma resposta: ele a tomou no colo novamente e começou a beijá-la da mesma forma que estavam se beijando antes. Ele a levou até o canto da sala, perto da cozinha, e a encostou na parede. O baque gelado em suas costas foi grande que um gemido saiu de sua boca, alto e dolorosamente prazeroso. Ela escorregou as pernas pelo corpo dele e começou a abrir sua camisa xadrez, logo em seguida tirou a regata preta que ele usava por baixo. Finalmente, corpo a corpo. Os sentidos começavam a ficar mais aguçados, a respiração mais ofegante e a racionalidade ia para as cucuias.
Peças de roupa foram deixadas pelo caminho na escada, até que finalmente chegaram ao quarto. E, por mais que seja uma parte sensual de nossa história, com esses dois a coisa nunca fica no padrão da normalidade. Ele distribuía beijos por todo corpo nu da garota, pressionando os lábios nas partes certas, apertando com as pontas dos dedos nos centímetros corretos. Ela fechou os olhos e decidiu aproveitar as ondas de calor que seu corpo emanava a cada cinco segundos – CINCO – sentindo arrepios e leves tremores. Escutou-o abrir um pacote e deduziu ser a camisinha; foi nessa hora que ela abriu os olhos. estava pronto para conduzir a situação como sempre fez, mas nem ele sabe decerto porque estava muito escuro e sua cabeça não estava mais funcionando com tanta capacidade, ele se viu embaixo dela. agora estava por cima, encaixando os quadris e sorrindo lasciva.
- Como? Como que...?
- Que foi? – ela riu, descendo o tronco e beijando de leve o rosto dele, roçando os cabelos por seu pescoço – Algum problema?
- Como você faz isso? – ele puxou o lábio inferior dela e mordeu com força.
- Ai – ela riu – Prática.
- Espertinha – ele posicionou as mãos nos quadris dela e a derrubou novamente na cama, segurando seus pulsos com força – Mas o primeiro round sou eu que mando.
Não deu nem para ela pensar em uma resposta que o deixasse de queixo caído, porque ele já estava dentro dela. soltou um grito que fez com que risse alto e a calasse com um beijo desengonçado, a essa altura do campeonato eles não estavam mais tão interessados de como sincronizar os lábios ou a velocidade do beijo.
Quanto mais força ele colocava, mais a cama mexia e mais guardava os gritos para si mesma, coisa que começou a ficar complicado depois de certo tempo. Para amenizar um pouco a situação, ela prendeu as duas pernas ao redor dos quadris dele, dando a sensação de que os movimentos estavam mais firmes e fortes, causando nela mais calor e arritmia. Para não gritar tão alto, fincou as unhas nas costas de e ia deslizando com raiva e força a cada movimento mais firme, mordendo seu ombro vez após vez. Quando sentiu que os arranhões estavam se tornando machucados, passou a puxar os cabelos dele, agora causando nele gritos e gemidos que, até antes, ele estava se controlando pra não soltar. Buscaram os lábios um do outro, porém não se beijaram; ficaram ali com as bocas entreabertas, como se estivessem respirando um o ar do outro. Aos poucos a velha sensação já conhecida começou a tomar forma, formigamento nas mãos e nos pés, a cegueira momentânea e o prazer deslizando pelas veias e corrente sanguínea. Os dois chegaram ao ponto no mesmo instante.
Ela tombou para um lado da cama e ele quase em cima dela, respirando de forma ofegante e sorrindo para o nada – já que o quarto estava bem escuro. Sem perceberem, entrelaçaram os dedos e apertaram forte, um jeito íntimo de dizer ‘sim, nós fizemos isso’, algo que só no mundo dos dois podia existir. Não havia vergonha ali, vergonha que eu digo pelos dois estarem nus e deitados na mesma cama. Acho que eles não pararam para analisar que essa era a primeira vez deles, que nunca ao longo dos anos eles chegaram até aí; mas tudo parecia tão normal e tão destinado a ser, que era como se eles fizessem isso todo dia ou toda semana. Suspiraram mais algumas vezes e, sem dizer nenhuma palavra, encostou seu corpo ao dela, ficando na posição mais romântica que o Kama Sutra nunca descreveu. O famoso ‘conchinha’. Ele nunca havia feito isso com nenhuma outra garota, e ela nunca dormiu assim com alguém. Como eu já disse... Era pra ser, e era pra ser com os dois e mais ninguém.
abriu os olhos e tateou seu lado esquerdo da cama. Num gesto involuntário e quase clichê, cheirou o travesseiro e o lençol, era o cheiro dela. Ou devo dizer, dos dois? Olhou pro relógio na cabeceira e percebeu que tinha apagado por quase quarenta minutos; a barriga roncou – a normal larica pós sexo. Será que o pessoal voltou com a pizza? Forçou um pouco a audição para tentar ouvir alguma coisa no andar debaixo, mas só conseguiu escutar um grito que vinha do banheiro, alguém parecia ter batido alguma coisa em algo. Ele riu.
- ?
- Que foi? – ela perguntou manhosa, abrindo a porta do banheiro e andando com certa dificuldade – Sério, quando você vai aprender a colocar suas coisas no lugar?
- Hã?
- Sapatos, ! – ela apontou pro banheiro – Estão por tooooda parte, tropecei em uns três pares ao mesmo tempo – ela bufou.
- Volta pra cama – ele sorriu de forma marota. Seus olhos sempre ficavam um pouco menores quando ele fazia isso e seu rosto parecia ser o mesmo daquele moleque de quinze anos que aprendeu a amar quando tinha dez.
- Eu tô com fome – ela fez careta, indo até a cama e sentando-se em cima dele, com uma perna de cada lado – Estamos empatados.
- Um a um? – ele riu, passando as mãos pelas coxas da menina e em seguida no seu rosto e cabelo – Eu disse que mando no primeiro round.
- Sei disso, mas você estava meio cansado no segundo então...
- Epa! – ele deu um tapa na perna dela de leve – Compareci, é o que importa.
- Aham – ela gargalhou, prendendo o cabelo em um coque mal arrumado e frouxo.
- Escuta – ia começar a dizer algo quando ouviu barulhos de prato no andar debaixo e um claro ‘MERDA’ sendo dito por Susana – Ai porra!
- Eles já chegaram?
- Já? , estamos na cama há quase duas horas.
- TUDO ISSO?
- Aham – ele gargalhou – Vai, sai de cima.
- Não era o que você estava dizendo uma hora atrás – ela sorriu sapeca caindo desajeitada na cama.
- Se a minha irmã não estivesse em casa – ele falou ficando por cima do seu corpo – Eu juro que teria um terceiro round.
- Como se você desse conta – ela disse com desdém. a calou com um beijo que era pra virar algo mais, mas Su estava lá em baixo – Caralho, como ela grita.
- Sim – eles riram.
corria pelo quarto pegando o que for que achasse para vestir, só colocou um short velho que viu por ali e saiu correndo do quarto, a última coisa que ela queria era que Susana abrisse a porta e desse de cara com ela seminua e completamente nu! Porém, sua estratégia não deu muito certo, já que, ao abrir a porta viu Susana abaixada na escada com a camisa xadrez de em mãos.
Merda, eles espalharam roupa pela casa toda!
- SUSANA!
- – ela, diferente de , respondeu ponderada – Entãããoo, aconteceu alguma coisa aqui nessas duas horas.
- Ugh!
- Sem gemidos, por favor! – ela disse bem maliciosa – Uau, quando eu falei pra não quebrarem a casa eu não disse pra espalharem o DNA de vocês por todos os cômodos.
- Não foi bem assim – parecia totalmente inconfortável, e tentava não transparecer isso, coisa que era impossível.
- Essa camiseta é dele, não é?
- Quê? Essa? – olhou pra própria roupa. Uma bela e larga camiseta do The Who!
- Eu dei pra ele de presente uns três natais passados, achei que tivesse virado pano de chão.
- Tá meio velha – respondeu aleatória. Susana começou a gargalhar.
- PELO AMOR DE DEUS, ADMITE QUE VOCÊS TRANSARAM!
- AHHHHHHHHH SACO!
- SABIIA! Bendito Daniel Jones por ter tido a ideia maravilhosa de ir comprar pizza.
- E por falar em pizza, ainda tem?
- Claro que tem, e enquanto nós comemos você vai me contar TUDO de como foi essas duas horas de amor com meu irmão.
- Credo, credo!
- Credo nada – Su riu – Aproveito e conto como foi com o Dean.
- DEAAAN?
- Aham – Susana estralou os dedos – Quatro vezes.
- Socorro! – as duas começaram a rir como loucas enquanto desciam as escadas.
estava parado na soleira da porta ouvindo a conversa das duas. Teve que se controlar pra não ir lá e agarrar por trás enquanto a menina olhava para a camiseta dele, ela novamente parecia aquela menininha de dez anos. Também teve que torcer os nervos quando Susana citou o nome de Dean... A irmã era mais velha, mas aquele era o melhor amigo dele. Há limites nessa vida, comer a irmã do melhor amigo é o primordial! Mas Dean é um caso a parte. Agora ele tinha que descer e encarar as duas... E dar um jeito em seu estômago que não parava de roncar. Ah, pizza.
- Vocês brigando pra ver quem ficava por cima – Susana ria – Meu Deus, como são tontos.
- Não é questão de ser tonto, se a primeira vez foi dele a segunda tem que ser minha! E olha que eu ainda tentei mandar nas duas.
- Mas não conseguiu – apareceu na cozinha, com o seu visual irlandês de jaqueta de couro marrom e luvas de algodão com os dedos pra fora – Oi, sis.
- Brotha – Susana respondeu – Hm, estranho eu não ficar sem graça na presença de vocês dois.
- Você já viu coisas piores – ele respondeu, tragando o cigarro que estava em seus lábios.
- Sim, e cooomo! – ela disse de forma exagerada – Trouxe sua pizza favorita.
- Valeu, tá quente ainda?
- Não, quer que eu esquente?
- Por favor.
- Ah, vocês dois! – sorriu – Nada como dois irmãos se dando bem, tão fofo.
- Nada como vocês dois se dando bem na cama, tava na hora.
- Por que a Su tem que ser tão direta nas coisas? – olhou pra , que sorria com o cigarro na boca. Se é possível, estava mais sexy.
- Coisas da família – ele respondeu.
- Hm... – ela riu – , posso te perguntar uma coisa?
- Aham.
- Falando sério agora, quantas meninas você já levou pra cama?
- AHHH! – ele jogou a cabeça pra trás e gargalhou, até Su que estava esperando a pizza esquentar começou a rir – Sério, ? Sério meeesmo?
- Só pra saber – ela respondeu, puxando a mão dele pela luva e brincando com a ponta de seus dedos – Digno de comparação.
- Eu não vou te comparar com ninguém. Sem essa!
- Me faaala, eu sei que você sabe.
- Você sabe com quantos caras já dormiu?
- Eu sou a pessoa mais noiada com números, você acha mesmo que eu não sei com quantos caras eu já dormi?
- Você sabe?
- Aham – ela estalou os lábios – Quinze, contando com você.
- QUINZE? – Su e falaram juntos.
- Rodei cinco continentes – ela riu – Não consegui completar o número múltiplo completo de quinze durante meu tempo fora, mas completei com o e bom, ainda ando meio no fuso horário – ela riu sozinha, Su a olhava de boca aberta - Susana, eu sei seu número.
- Ok, ok... – ela voltou pra mesa, trazendo a pizza de – Sua vez, irmão.
- Tô assustado com esse número – ele inalou grande parte da fumaça e a soltou de forma devagar no ar – Hmm...
- ! – , impaciente, lhe deu um tapa na perna – Desembuxa, porra!
- Sei lá, umas sessenta? – riu. Algo me diz que ele tem algo em comum com um certo número “seis”, diferente de que ama o número “cinco”.
- SESSENTA? E TAVA ASSUSTADO COM MEU QUINZE?
- E meia... – ele disse baixinho, rindo como um menino que acabou de prender a irmã mais nova no banheiro.
- Meia?
- Ah – ele deu um último trago e apagou o cigarro na própria mesa – Sabe, quando não tem todo o envolvimento próprio – ele olhou pras duas esperando que elas entendessem o que ele queria dizer – ORAL, PORRA! SÓ ORAL!
- Oral também conta?
- E você não conta como uma “inteira”? - Su disse fazendo aspas.
- Puta merda, então pode aumentar meu número aí – soltou e a olhou totalmente abismado – Sério, coloca uns... Dezessete?
- !
- Quê? Só você pode? Tô longe dos seus “sessenta e meio” – falou rindo e ainda ficou-a encarando, e depois olhava pra irmã.
- Não quero nem saber o seu, Su!
- Acho bom mesmo que não saiba, e se for contar “os meios” da vida, tá fodido!
- Su parceira! – ergueu a mão e as duas bateram um high five – É isso aí.
- Tudo piranha.
- Falou aí o cara mais certinho da Irlanda toda – Su jogou um papel em cima dele, vendo que o irmão começava a ficar meio corado nas bochechas – Sabe, senti saudades disso.
- Do que? – os dois perguntaram juntos.
Antes de responder, Su deu uma boa olhada na visão que tinha em sua frente. estava com os braços ao redor de um braço de e com a cabeça encostada em seu ombro. Ele comia a pizza com a mão livre e parecia sorrir o tempo todo. Ela viu quando deslizou a mão e juntou-a com a do irmão, viu também quando ele beijou os cabelos da menina e ela sorriu de olhos fechados. Por que demoraram tanto tempo?
- Disso – Su apontou pro casal – De vocês.
Capítulo 04
Todo mundo percebeu que cinco é o número da nossa história? E se cinco for o número certo, porém ele for o cara do número errado?
Não digo que uma história de amor precisa ser contada apenas com os bons fatos. Pode ser relatada com os ruins também, certo? Mas, se formos pensar por esse lado, não vai ter fato bom na vida de e , já que os dois mais brigam do que conversam, e não necessariamente se entendem na cama, porque ela já mandou ele pro banheiro várias vezes nessa última semana.
O fato dela não ter arranjado um emprego lhe dava calafrios. Não suportava mais sair com as amigas e ter que ver as meninas pagando a conta, ou até mesmo sua irmã em Cardiff lhe mandando dinheiro – não tinha grana nem pra ir pra Cardiff visitar a sis mais nova, humilhação pura. Ela ficava em casa o dia todo, olhando pro teto ou pra televisão, esperando ou ou Susana aparecerem; às vezes ia com Lary atrás das coisas de casamento. Bom, na verdade esse foi um dia bem legal.
- Onde você tá?
- Vendo vestido de noiva.
- QUÊ?
- Da Larissa, seu animal – não precisava saber que estava dentro de um vestido àquela hora, precisava? – Sabe, já que eu vou ser madrinha, preciso de alguém pra entrar comigo.
- Corta essa, não vou entrar com você.
- E por acaso eu falei que esse “alguém” era você?
- Estou apenas fazendo um comentário.
- Infeliz, devo acrescentar.
Silêncio.
- , eu não vou me casar.
- Não tô te propondo em casamento, !
- Eu sei – ele respirou fundo – Mas você quer isso.
- Como você sabe? – ela perguntou, sentando em um puff com seu vestido branco e fofo que nunca vai saber que ela vestiu.
- Te conheço e definitivamente não é de hoje – ele riu – E se te conheço tão bem assim, você está em um vestido de noiva nesse exato momento.
- CADÊ VOCÊ?
- Viu? – ele riu.
Mais um silêncio.
- Não vai dar certo de novo, não é?
- Se você não quiser nunca casar.
- Mas eu quero – ela passou a mão pelo vestido – Posso ser doidinha pra muitas coisas, mas sonho em entrar na igreja com meu vestido lindo e branco com todas as pessoas olhando única e exclusivamente pra mi-i-im!
- E quem está no altar?
- Costumava ser você.
- Então...
- Mas você não quer estar lá.
- E você está me propondo em casamento, de novo!
- Não estou! Apenas disse que você tava no altar me esperando, não que você vá dizer ‘sim’ na hora certa.
- Eu digo sim pra você quando quiser, mas não numa igreja!
- Qual o problema com casamentos?
- Fodem com os relacionamentos.
- Hello, tem como o nosso não sei o que estar mais fodido?
- Tem – ele riu – CASANDO!
- , eu sou a mulher da sua vida e você é o homem da minha. Nós vamos terminar juntos, casados ou não. Qual o problema de colocar uma aliança no dedo.
- PARA DE ME PEDIR EM CASAMENTO!
- Eu não estou te pedindo, CARALHO! – gritou e as mocinhas bem educadas da loja a olharam estranho – Desculpa, só meu namorado que... – ela pensou duas vezes. Namorado? Era isso o que eles eram? – Licença – ela riu e falou baixo – O que nós somos?
- Você me chamou de namorado? – ria do outro lado da linha – As ordens dos fatores estão confusas. Primeiro sou seu marido e agora namorado?
- Aparentemente você não é nenhum dos dois.
- Eu gosto de namorado.
- Namorado vira marido mais tarde.
- Não precisar virar.
- No meu mundo, precisa!
- Por que você não vem pro MEU mundo, pra variar?
- Quando você vai aprender que as coisas precisam ser do meu jeito?
- E quando você vai aprender que isso é um relacionamento? De merda, mas é!
Preciso falar que eles ficaram em silêncio, de novo?
- Eu amo você!
- Se disso.
- Não fode, por favor.
- Tá...
E eles desligaram.
- As meninas chegaram – Larissa falou, aparecendo só de calcinha e sutiã no quarto onde estava; ela não sabia que a amiga estava com um vestido de noiva – Oi?
- Pra onde tá indo minha vida, Lary? – não era comum isso acontecer. chorava.
- ? – Lary pegou um roupão branco que deveria ser da amiga, e foi até ela – Que aconteceu? O que ele fez?
- Não vamos pra lugar nenhum – a menina fungou – Eu tô aqui, parecendo um bombom de casamento, e eu não tenho marido! Nem futuro com o que cara que eu queria que fosse meu marido.
- Você tá falando em casar? – Larissa sorriu – , você nunca disse nada sobre isso, pelo contrário. Era sempre o papo de não se casar nunca, ser mulher independente...
- Até eu me apaixonar de novo por esse irlandês idiota – bufou – E ele é totalmente contra casamento.
- Vocês conversaram sobre isso?
- Acabamos de falar – ela mostrou o celular – As palavras finais foram “te amo, não fode”. Legal, né?
- Ai amiga – Lary tombou a cabeça pro lado e sorriu – Ele te ama, já é um bom começo, não é?
- Não sei agora me amar é o suficiente.
Larissa ia falar mais alguma coisa, mas três cabeças apareceram no quarto onde as duas estavam. Jess, Isa e Susana chegaram sorridentes, as três estavam acompanhando os surtos de Larissa com o casamento a um bom tempo, e hoje era o dia mais esperado. Finalmente elas iam escolher o vestido de noite, e Lary era bem objetiva! Assim como quando bateu os olhos em Daniel teve certeza que ele era o homem de sua vida, sabia que quando batesse os olhos no vestido certo, entraria com ele na Igreja. Porém, as três se assustaram ao ver com o vestido, e não Lary...
- Errei de noiva?
- Quando que você virou oficialmente minha cunhada?
- Você tá liiiinda, – Isa disse de forma meiga, mas as meninas começaram a rir.
- A Lary continua sendo a noiva principal – falou levantando-se – Não, Su, eu não sou sua cunhada e obrigada Isadora.
- De nada – ela riu.
- Tá acontecendo alguma coisa que eu não sei?
- Não, Su! – falou – Hoje o dia é da Larissa, não é? Então, vamos lá pra outra sala, ver os vestido e tomar muito champanhe, porque OS PREÇOS desse lugar! Só com muito álcool na cabeça – ela sorriu, as meninas acreditaram no discurso dela, menos Susana.
- Hm, ok – Su fez careta – Meninas, vocês podem indo pra lá, vou ajudar a com esse vestido.
- Ok – as três responderam.
Quando elas saíram, e Su ficaram se encarando por um tempo. As cinco amigas tinham uma ligação diferente de qualquer outro tipo de amizade que já existiu, e de duas em duas a ligação mudava. O que Susana tinha com Larissa era diferente do que a Lary tinha com a Isa que era diferente do que a Isa tinha com , e por aí vai. A relação de Su e era baseada no olhar, mais do que em mil palavras; não precisava de muitas explicações ou discursos prontos, bastava um olhar e uma respiração mais alterada pra uma das duas soltar ‘eu sei’ e se abraçarem e, como num passe de mágica, se entenderem. E foi exatamente isso o que aconteceu.
- Meu irmão é um babaca – Su falou enquanto a abraçava – Ele não sabe o que está perdendo.
- Ele só não quer casar – fungou – E eu quero.
- E ele é um besta! Se ele te visse de vestido de noiva ia casar na hora. Você fica muito amorzinho em um vestido de noiva.
- Ah, pelo amor! – ela riu – Ou saía correndo como quem vê assombração.
- Isso eu duvido muito – Su soltou o abraço e fez carinho no rosto da amiga – Meu irmão precisa de alguém como você ao lado dele, porém ele precisa admitir isso pra si mesmo ainda.
- Ele me ama – falou como uma criança, os olhos brilhavam e era difícil dizer se era de emoção ou pelas lágrimas – Ele nunca me disse isso. Nunca.
- Mas você sempre soube, não é? – concordou – Porque todos nós sempre soubemos que ele sempre foi completamente doido por você.
- Mas será que isso vai ser suficiente pra segurar um ao outro?
- É suficiente pra você? – Susana sorriu – Porque eu sei que pra ele é, na verdade eu sei que pro meu irmão, você já é mais que suficiente.
- Aiiii, Su!
- Por favor, – Susana sorriu – Pelo menos uma vez na vida, deixa de fazer as coisas do seu jeito.
- Isso é a coisa mais difícil que você está me pedindo.
- Eu sei, por isso eu vou pedir pra você pensar com muito carinho nisso.
- Ok – fungou, a muito contra gosto concordando com Susana.
- Agora vamos tirar esse vestido, caso contrário eu acabo casando com você!
As meninas passaram a tarde toda na loja de noivas, e devo acrescentar que todas ao final do dia tinham experimentado pelo menos uns dois vestidos – sim, vocês não leram errado, eu disse TODAS! Ao final, Larissa escolheu o vestido que sempre quis: uma tomara que caia maravilhoso, calda sereia, colado no corpo. LINDO! As meninas babaram, choraram e disseram que ela seria a noiva mais bonita do mundo, até concordaram que era um vestido fácil de ser tirado no dia da lua de mel, Daniel não iria ter problemas. As outras quatro resolveram que escolheriam o vestido de dama de honra em outro dia, a tarde tinha sido muito longa e com muito champanhe e risadas na cabeça.
Embora a tarde tenha sido recheada de histórias das cinco amigas, de como elas se divertiam quando eram mais novas, como não tinham pretensões algumas e como o mundo era mais feliz, não conseguia parar de pensar em . Susana estava muito bem com Dean, embora o irmão não aprovasse de jeito algum, Isadora tinha pelo menos trocado telefones com Dougie (o esquisito), e Jess... Tom comprou um café pra ela, isso é bom sinal, certo? Com o que mais Tom chamaria a atenção de Jéssica? Com COMIDA, óbvio, e foi assim que ele fez. Larissa estava casando, a primeira oficial da máfia a desencalhar, e era com o homem da vida dela. E ? tinha cinco tatuagens, cinco continentes, era o quinto elemento da máfia mais velha, um sério problema com o número cinco porque ele não combinava em NADA com . Até nisso o filho da mãe saía dos padrões.
Eles não namoraram por cinco meses ou cinco anos, foram por SEIS meses! Ele não terminou com ela no dia 25 de maio (algarismo cinco do mês cinco), na verdade foi no dia 26 de junho (algarismo seis do mês SEIS!). Será que então o problema é o número seis? Se bem que há uma diferença de cinco anos entre os dois, mas em determinada parte do ano há uma diferença de seis anos, já que entre os meses de junho – aniversário de – e agosto – aniversário de – há um espaçamento de dois meses. Dois é múltiplo de seis? Não, nem de cinco! Dois é par. Cinco é ímpar! NÃO HÁ NADA QUE POSSA EXPLICAR ESSES DOIS, não no universo numérico, e – como boa amiga da fissurada Larissa – acreditava piamente que os números podiam ajudar muito, e quanto mais pensava nesse assunto, mais achava que ela e não tinham nada em comum. Se for falar em números, podemos falar da posição “69”, que acho é o único número que os dois concordam. “Meia Nove”. Meia é um jeito de se falar seis, e seis é um número que aparece – pelo menos duas vezes – na história dos dois. “Pelo menos duas vezes na história dos dois”, DOIS! Número par, junto com o seis, diferente do cinco ímpar. Eu tô cansada, e vocês? Se eu fosse você, querido leitor, ou leitora – depende, há gostos pra tudo – eu pularia esse parágrafo. Não se você for a Larissa... Lary vai ler esse parágrafo mais umas duas vezes porque ela vai sorrir e vai saber que foi lembrada na história. Jess vai ler esse parágrafo e pensar ‘GENIAL’ porque ela ama esse tipo de escrita detalhada e cheia de lacunas ideológicas, Jess é de longe o gênio da máfia, é por isso que ela ama o Tom – o nerd gordinho, caso vocês tenham esquecido isso. Susana – caso ela me tivesse no facebook – ia me chamar numa janelinha e surtar ‘MEU DEEEEEEEEEEEEUS QUE FODA’, porque Su é, como costuma dizer por aí ‘fodona’ e expressa seus sentimentos com muito Caps Lock e palavrões, mas nós a adoramos do mesmo jeito. Isadora é a fofa da galera, fofa demais pra caber dentro dessa pessoinha. Isa quando ler isso vai começar a rir e pensar ‘foda, foda, foda’ porque essa é a palavra que ela mais adora dizer e que expressa felicidade. quando ler isso não vai dar a mínima, ela vai fingir que não vai dar a mínima, porque o que ela mais adora é fugir dos problemas. Mas, é meio impossível não dar a mínima pra esse parágrafo sendo que aqui estão OS SEUS PENSAMENTOS! É, ela vai entortar o nariz quando ver que eu escrevi em Caps Lock – ela detesta Caps Lock.
Eu começo a rir quando imagino Clair, Hells e Bella lendo a história. Pra começar, Bella estaria se sentindo prejudicada, já que não está aparecendo suficiente – não é minha culpa se ela é da pá virada e foge da irmã como Diabo foge da cruz, me arrisco a dizer que ela gosta do futuro marido da irmã – Daniel – e por isso que não gosta de ficar muito perto. Mas, hey... É segredo isso, hein? Clair está em Cardiff, acho que é por isso que não aparece muito, e ela não está muito aí pros problemas da irmã, no fundo ela culpa por muita coisa. Claro que a ama, mas no momento ela está curtindo a vida com o seu namorado Jay (parece nome de cara que tá em boyband, não parece?). Jay e todos os seus cabelos cacheados, rosto de moleque e pegada infalível. É disso que Clair precisa... Ela quer que a irmã seja feliz, mas primeiro ela pensa em si mesma. E Hells, está lendo tudo isso e achando fofo e digno de ‘por favor publica isso logo’. Não Hells, a história não será publicada... Não antes de darmos um final feliz para o casal principal, calma que tudo tem seu tempo. Sei que Hells e Bella querem achar um amor nessa história também. Eu juro, vou achar. Acho que vocês podiam perguntar pra Clair se ela não tem mais nenhum amigo pra apresentar... Um Max? Nathan?
Prolonguei demais esse assunto. Alguém mais aí pulou esses últimos parágrafos? Peço perdão, vou retomar a história. e .
- Vamos pra minha casa?
- Desculpa, Jess – bocejou – Eu tô meio cansada e enjoada, eu acho que vou pra casa.
- O não está lá – Su disse.
- Por isso mesmo.
- Pra onde ele foi? – Larissa perguntou curiosa.
- Não sei, ele me ligou falando que ia sair com uns amigos pra “clarear” um pouco os pensamentos – Su debochou – Como se ele tivesse alguma coisa pra clarear.
- A pediu ele em casamento, acho meio óbvio ele sair pra espairecer – Isa riu e depois que viu a careta da amiga, mudou de opinião – Desculpa, amiga.
- Sério, qual meu problema? Eu estava super de boa, nem pensava em casamento! Uma noite com o e PIMBA, eu fico toda confusa.
- Quer que eu fale o óbvio ou você mesma pode chegar a essa conclusão? – Jess perguntou com aquela carinha de ‘você o aaaaamaaaaa...’
- Cala a boca, Jessica – riu.
- Eu nem falei nada, mas pelo visto você concluiu meu pensamento.
- Não é nem questão de concluir pensamento; pensar nisso me dá arrepios e me deixa enjoada.
- Gravidez?
- SUSANA!
- Foi só um comentário.
- Sugestão, eu acho – Isa riu – Peeensa uma mini ou um mini !
- Que pentelhos.
- Pentelhos? Plural? – parecia assustada – Vocês todas parem de desenhar meu futuro, pelo amor de Deus! Vão falar da Larissa.
- Que tenho eu? – Lary sorriu.
- Você tá de casamento marcado, tem um vestido, um marido e você pode começar a falar de filhos – disse histérica – Eu não vou casar, pelo visto NUNCA! Nunca vou ter um vestido, nem marido e terei filhos se fizer inseminação artificial! Ou seja, vai existir uma mini de um pai desconhecido que, não é o !
- Dramática – Susana rolou os olhos – Escuta aqui, meu irmão não é o único homem do mundo. Você não precisa simplesmente mudar seus planos porque um homem não quer casar com você.
- Não é “um homem”, Susana. É o “meu homem” – fez aspas – Aquela desgraça me tem por inteiro, eu não imagino nada disso com outra pessoa.
- Jared Leto?
- Johnny Depp?
- Pessoais REAIS, meninas – riu – Ai, eu preciso de um banho, cama, um cigarro e uma cerveja.
- CIGARRO?
- Ah vá, eu fumo de vez em quando e todo mundo sabe disso.
- Eu não sabia – Isadora fez cara feia – Credo, .
- Credo? Ah, pelo amor.
- Vai morrer de câncer – Larissa disse – E bem devagar.
- Não tenho pressa pra morrer – bufou – E eu vou perguntar de novo, qual a graça de vocês cuidarem da minha vida?
- Não quero que você morra antes do tempo – Su falou – Quero sobrinhos.
- Tenha seus próprios filhos, Susana! – falou, pegando da bolsa um case de cigarro e tirando um de dentro – Vou fumar.
- NÃO, NÃO, NÃO!
- NÃO NA NOSSA FRENTE!
- Danny vai sentir cheiro de cigarro em miiiiim!
- ELE FUMA, LARISSA!
- E daí?
, como sempre não dando atenção pra ninguém, praticamente soltou a fumaça em cima das quatro amigas. Começou a rir quando viu a careta delas, e fez uma careta pior pra Susana, afinal, a amiga dava uns tragos com o irmão de vez em quando.
- Adeus – disse, virando as costas e indo sem rumo para um ponto de ônibus.
- Eu tô muito decepcionada com você – Isadora disse – De todas as pessoas, você era a única que eu não esperava que fumasse.
- Desculpa aí – ela se virou pra amiga – Menos puritanismo, pelo amor de Deus.
- , eu sei que isso é só uma fase e... – Larissa ia começar a falar alguma coisa, mas a cortou logo de cara.
- Fase? Você acha que isso é uma fase? – ela jogou o cigarro com raiva no chão – Lary, eu não tenho um plano de vida, eu não tenho absolutamente nada! Você tem um casamento, um bom marido, uma casa, uma irmã que, por mais seja surtada, ela te ama! Cla nem ao menos fala comigo e me culpa por tudo o que possa ter acontecido na vida dela. Eu não tenho nada, NADA! E o único prazer que eu estava tendo há dois segundos que era um miserável cigarro vocês também tiraram de mim.
- ...
- Me deixem em paz, por favor! – ela ia desmoronar, Susana sabia que ia desmoronar.
- Vem, eu te levo pra casa – Susana ia até a amiga.
- Eu não vou pra casa, eu preciso de um lugar pra ficar sozinha, tudo bem?
- Não vamos deixar você sozinha.
- Se vierem comigo eu vou fumar todos os cigarros de Dublin!
- Danny já faz isso.
- E também.
- Ugh! – gemeu – Sério, vão pra casa, vão passear, fazer qualquer coisa! Eu tô chata e mal educada, não quero ficar com vocês.
- Você disse que ia pra casa uns minutos atrás – Jess arriscou dizer.
- Mudei de ideia, ok? – virou as costas pras amigas – Eu vou pro bar, vou beber, fumar e dar pro primeiro que aparecer.
- Espero que esteja em um bar – Susana disse baixinho.
- EU OUVI ISSO!
não foi para um bar, foi dar uma volta por Dublin. Voltou na escola onde passou os melhores e piores anos de sua vida, voltou na casa de e Susana quando eram mais novos – e de como ela adorava ir lá, e como sua mãe a arrumava com vestidos e lacinhos na cabeça quando era mais nova, lembrava-se claramente de falar que ela parecia uma princesinha, e ela, ficava sem graça. Andou por onde costumava andar quando era criança, sentindo aquela nostalgia gostosa começar a tomar forma e cor. Abraçou a si mesma quando começou a chorar, e mandou seu cérebro parar de ser tão emocional e começar a ser racional. Menos a racionalidade com números, porque isso a deixava doida, e ela começava a culpar todos os anos de amizade com Larissa, a menina tinha problemas com isso e não ela. Fez uma coisa que ela fazia quando era criança, limpou o nariz com as costas das mãos. Riu quando percebeu o que tinha feito, Dublin trazia tantas coisas a tona... Isso incluía . Maldito seja!
Ela não ia desistir assim, antes de falar um monte. Já que ele não queria casar, ele ia pelo menos escutar algumas coisas dessa vez, da última simplesmente fugiu sem deixar uma carta ou uma conversa decente, dessa vez eles iam conversar. Ou pelo menos ia, porque ia ter que ficar calado e só ouvir. Ia ser um monólogo.
Ela achava que não ia encontrar ninguém em casa e que poderia ter seus minutos de prazer sozinha. Susana com certeza ia passar o resto da noite com as meninas reclamando de como era teimosa e as outras iriam concordar, supostamente não era para estar em casa, ele havia avisado a irmã que tinha saído, então... A casa era pra ser só dela, certo? ERRADO! Errado como tudo nessa história. não estava sozinha, Susana tinha ido para a casa de Dean e estava em casa. Assim que abriu a porta, viu sentado no chão encostado no sofá, vendo um programa qualquer de televisão com uma xícara de chá ao lado. A velha roupa de sempre, que ela tanto adorava e não conseguia imaginá-lo usando outra coisa: calça jeans, camiseta de manga comprida por baixo com uma amarela por cima. Os cabelos meio molhados e as luvas de algodão com os dedos para fora. no auge da sua preguiça e cheiro de sabonete em casa. Era o que ela não precisava ver, porque de repente toda aquela conversa no telefone voltou.
- Pensei que você tivesse saído, foi o que a Su disse.
- E onde ela está?
- Deve estar com as meninas.
- E você? Por que não foi?
- Preciso de um banho – ela respirou fundo.
Eles não se encararam durante a troca de palavras, e ela engoliu o choro pela milésima vez no dia. Pensou que agora fosse a hora de falar tudo, todas as suas teorias e o motivo pelo qual eles iam ficar juntos no futuro, mas sabia que se começasse a falar ia também começar a chorar e tem pavor de ver mulher chorando. Marica.
- ...
- Ok, eu vou falar! – deu meia volta quando já estava perto da escada e se voltou para – Eu sei que você deve estar aí todo preocupado por conta da conversa que tivemos no telefone. Mas eu queria deixar uma coisa bem clara: EU NÃO TE PEDI EM CASAMENTO! Foi um comentário, mas eu não diretamente ou necessariamente te pedi em casamento, você que entendeu tudo errado.
- Você estava em um vestido branco quando me ligou, não estava?
- Estava, claro que estava! Toda mulher sonha com casamento, ! E estar naquele clima era como se a nave mãe estivesse me chamando de volta, eu precisava colocar um vestido. E devo te lembrar de que eu quase casei na Nova Zelândia.
- Com um mago.
- Descendente de mago, descendente – bufou – Eu amo você, poxa! Eu te amo antes de eu saber o que era menstruação, ou seja, meus hormônios nem estavam formados ainda.
- Eca.
- Cala a boca – ele riu com os lábios fechados.
- Vem aqui?
- Não quero ficar perto de você agora.
- ?
- Eu quero, mas eu tô tentando fazer manha comigo mesma e não quero ficar perto de você – ela viu se levantar, droga – Fica aí.
- Quer fazer o favor de vir aqui? Você não é mais criança, já tem vinte e quatro anos.
- AINDA tenho vinte e quatro, ainda.
- Vem cá – ele ficou a meio metro de distância – Por favor.
- O que você quer?
- Ficar perto de você.
- Por quê?
- Porque te amo.
- Me ama mais não quer passar o resto da sua vida comigo.
- Quem disse que eu não quero? Não precisamos casar pra ficarmos juntos.
- Precisa siiiiiiim.
- Você quer casar – ele riu – Na verdade, por que você quer casar?
- Porque é legal.
- LEGAL?
- Não só legal, é um sonho. Eu quero entrar em algum lugar com meu vestido branco, todo mundo olhando pra mim, eu me controlando pra não chorar, as meninas lá em cima me esperando e você lá completamente lindo e sorrindo porque tem certeza que eu sou a mulher mais linda e perfeita do mundo e que você deu muita sorte por me encontrar e não foder com a nossa relação – é, ela já estava chorando.
- Uau, devo ser muito sortudo mesmo – ele riu, ela emburrou – Cara, o que eu vou ter que fazer pra você sorrir?
- Não sei, eu só não estou no clima pra sorrir agora.
- Vem aqui comigo – ele estendeu a mão – Só senta comigo no chão e vamos ver TV, fico quieto, eu prometo.
- Por que no chão?
- Um sofá tá cheirando a peido, culpo o Danny! – os dois riram – No outro eu derrubei cerveja e tô com preguiça de limpar.
- Você sabe que a sua irmã vai te matar quando chegar em casa, não sabe?
- Sei, mas com a Su eu me entendo depois – ele sorriu – Vem?
- E meu banho?
- A sala está cheirando a flatulências e cerveja e você está pensando em banho?
- Nojento – ela fez careta – , só hoje eu quero ir pro meu quarto.
- Não – ele cansou desse joguinho e foi até ela.
arregalou os olhos e virou as costas, querendo ir pra escada, mas sentiu a pegando pela cintura e a erguendo do chão. No mesmo momento ela começou a reclamar como a vadia chata que é, e ele só ria da cara dela. Ele era muito maior que e muito mais forte, erguer ela do chão era como pegar um cachorro pequeno no colo – e sim, estou comparando a um cachorro, na verdade um lhasa apsu... Pequeno, chato, ranzinza, orgulhoso e que faz tudo o que quer sem se importar com o dono... era uma lhasa apsu chatinha.
- Senta – ele a colocou no chão ao lado da xícara de chá – E dessa vez não vou pedir por favor.
- Que saco – ela cruzou os braços e por fim, acabou sentando.
- Quer assistir o que?
- Nós nunca vamos dar certo.
- !
- Sério, – ela se virou pra ele – A minha vida inteira girou em torno do número cinco, por alguma razão bizarra do universo! Cinco garotas nasceram em 1988, que por sinal se tornaram grandes amigas. Caso você não saiba somos eu, Susana, Jéssica, Larissa e a Isa.
- Números?
- Não me interrompe – ela colocou a mão em cima dos lábios dele – E olha, eu e você temos cinco anos de diferença, eu tenho quatro amigas e mais eu vira cinco, somos o quinteto perfeito. Visitei cinco continentes, tenho cinco tatuagens...
- Você vai chegar em algum lugar com isso? Parece doida falando desse jeito.
- É claro que eu vou – ela ficou séria – Você não é meu número cinco.
- Hã?
- A soma de 1988, o ano que eu nasci, dá 26. Você terminou comigo no dia 26 de junho, ou seja, algarismos que combinam: vinte e seis a soma do ano com vinte e seis o dia que você terminou comigo, e olha... FOI NO MÊS SEIS! E nós namoramos por seis meses, SEIS DE NOVO!
- Vinte e seis mais vinte e seis dá cinquenta e dois, tem o número cinco.
- Dois é múltiplo de seis.
- Tá vendo, ser o seu número seis não é tão ruim.
- A Larissa não gosta do número seis – riu.
- Ah, Larissa – ele a olhou erguendo as sobrancelhas com um ar de desprezo e depois soltou o ar pela boca bufando, o que pareceu um pouco engraçado e charmoso, devo dizer – Sério? Ela é pirada, .
- Não é não! – parecia ofendida.
- Sua crise com números começou com essa doida, você sabe.
- E ela tá certa – defendia Larissa como se ela fosse uma tese de final de curso; teve que se controlar pra não debochar novamente – Ela não gosta do seis, embora eu sei que com o cinco ela não tem nada contra.
- Ai.
- Saca só – respirou – O seis é um par que na verdade é metido porque queria ser ímpar, pensa comigo... Seis não deixa de ser um cinco metido, porque dois mais três é igual a cinco, mas dois vezes três é igual seis! Entendeu?
- Então eu seria o seu algarismo metido?
- Isso, você é meu algarismo errado, do contrário.
- É um elogio?
- Não, é a prova concreta que nós vamos dar errado, não importa o que aconteça, nós vamos dar errado porque no universo, você nem faz parte da minha numerologia perfeita. Entendeu? – ele bufou – Que foi?
- Por que eu te amo?
- Eu não sei, não era pra você me amar. Sou estranha, chata e tenho essas paranoias com números, ok eu culpo um pouco a Lary, mas agora isso é parte de mim.
- – ele coçou a nuca e começou a rir – Você aceitaria me amar mesmo eu sendo o avesso dos seus “planos numerólogos”?
- E se der errado?
- É pra dar errado – ele sorriu – Somos humanos e irlandeses, a possibilidade de algo dar errado na nossa vida é quase cem por cento. Não ligamos pra opinião dos outros, fazemos o que gostamos e, o principal, não deixamos nada colocar um rumo na nossa vida, muito menos números.
- O fato de você não querer casar só mostra o quão errado nosso relacionamento vai dar.
- E o fato de que eu quero dar tomar meu café da manhã todo dia pelo resto da minha vida com você, mostra o que? – ele fez carinho no rosto da menina e ela sorriu sem ao menos perceber.
- Que você é imperfeito dos avessos – ela riu.
- – ele segurou em suas mãos e as beijou – Embora eu, agora, não queira casar, eu posso mudar de ideia, se você quiser.
- O que?
- Não acho necessário ter que assinar meu nome em um papel pra mostrar que te amo e agora eu não quero isso, mas eu tô muito a fim de dividir minha cama e meu banheiro com você até um futuro bem distante.
- A Bella diz que dividir banheiro é broxante.
- Que tem de errado nessa família? Todas as meninas são doidas?
- Eu não sei – ela riu – Amo o cérebro das duas, são fantásticas.
- Do que a Bella chamou o Danny um dia? Não me lembro.
- FUDENTE! – lembrou e caiu na gargalhada, assim como – Ai, amo elas.
- E eu amo você – ele sorriu e a selou nos lábios – E então? Aceita, por enquanto o que posso te oferecer? Minha cama, um banheiro só pra você, café junto todo dia e sexo toda noite? – ele riu de forma sacana e sentiu o rosto queimar.
- Vai ter que ser do seu jeito então?
- Isso – ele parecia contente – Só dessa vez, eu prometo.
- Não vai ser tudo fofo desse jeito pra sempre, você sabe.
- Eu sei – ele juntou sua boca na dela por um tempo mais demorado agora, enquanto a abraçava – Se der alguma coisa errada, voltamos pro seu número cinco.
- Promete? – ela sorriu deitando-se no chão e deixando debruçar seu corpo por cima do dela.
- Prometo – ele suspirou e começou a roçar seus lábios nos dela.
- Obrigada por ser meu imperfeito metido número seis.
- Vamos fazer uma diferença com o seu número cinco – ele sorriu – Agora cala a boca e deixa eu te beijar?
- Não, espera – ela o afastou e ele começou a rir – Vamos lá pra cima? Essa sala tá uma bosta e tá precisando de uma limpeza, tipo, urgente!
- Dirty sex, nunca ouviu falar nisso? – ele começou a beijá-la no pescoço, mas ela só sabia rir – Ou dirty talk?
- , não! – ela riu e o empurrou pro lado, deixando o cara com aquela sensação de frustração – Sexo, por enquanto, só na cama e com lençol limpo.
- Lençol limpo? – ele fez careta e ela caiu na gargalhada.
- Ah não, pelo amor de Deus – ela virou as costas ainda rindo e ele levantou e foi atrás dela.
- Quê? Quer sexo limpo vamos transar no chuveiro, ora!
- Eu vou tomar banho e você limpa seu quarto enquanto isso – ela dizia enquanto subia as escadas, estava no primeiro degrau, com os braços cruzados e sorrindo com cara de vitorioso. Essas discussões só surgiam quando tudo estava bem.
- Quer companhia?
- EU QUERO UM QUARTO LIMPO!
Ele caiu na gargalhada. Se sua vida inteira seria desse jeito, brigando porque o quarto tá sujo ou números idiotas, então ele, de verdade tinha encontrado a menina mais perfeita do mundo. Mas claro, ela nunca ia saber disso.
Capítulo 05
O capítulo final. A máfia tá ameaçando se jogar da ponte quando acabar, mas elas sabem que esse, é apenas o começo do pra sempre da amizade. E do futuro imperfeito do casal.
Existe um filme que foi gravado aqui na Irlanda, chamado Leap Year, que conta a história da namorada que decide pedir o namorado em casamento no dia 29 de fevereiro de um ano bissexto, com Amy Adams e Matthew Goode nos papéis principais.
Por que neste dia?
Segundo a tradição irlandesa, nesta data o homem é obrigado a aceitar o pedido de casamento. Isto porque St. Bridget reclamou com St Patrick o tempo que as mulheres tinham que esperar ate o homem tomar a decisão. De acordo com a lenda, St. Patrick disse que as mulheres poderiam fazer isso, porém só no dia 29 de fevereiro. Relatos contam que no século cinco, em alguns países europeus, o homem que não aceitasse o pedido deveria pagar uma multa. A tradição foi alterada com o passar dos anos ,mas na Irlanda muitas moças aguardam ansiosamente o dia 29 de fevereiro. E o dia de tomar aquela iniciativa e pedir que o namorado se case com você.
Acho que é por isso que Larissa escolheu exatamente esse dia para casar com Danny. Vinte e nove mais dois é igual a trinta e um. 31 vira três mais um que é igual a quatro. Droga, não chega em nenhum número perfeito. Mas na cabeça de Larissa chega, o ano bissexto é raro, é único... Ou seja na cabeça de Lary ele vira o número um. Três mais um mais um vira o tão famoso cinco. Larissa chegou a essa conclusão sozinha, então ninguém pode discutir com ela. Abençoa, senhor. E claro, hoje nesse dia tão especial, Daniel não ia poder falar não em pleno altar na frente de todos os convidados. Será que se pedisse em casamento ele diria sim? Na verdade, ele seria obrigado a aceitar. Belo dia, Larissa, belo dia.
- Como estou? – Lary se virou novamente para as amigas.
Seu vestido branco reluzia junto ao sol tímido que entrava pela janela. Era uma linda manhã em Dublin. Cinquenta pessoas esperavam Larissa Camargo – futura Jones – do lado de fora do jardim de sua casa que, ela já dividia com Danny havia um tempo. É claro que o número de convidados precisava ser cinquenta. Os pais de Lary não estavam presentes e nem os de Danny, eles eram adultos independentes que tomavam suas próprias decisões e já sabiam se virar sozinhos a um bom tempo. Não precisava de ninguém ali... Só a máfia. Susana iria entrar com Dean, Clair iria entrar com Jay, Hells ia entrar com um amigo de Jay – Max, o tal cara com nome de boyband, lembram? – Bella (irmã da noiva) ia entrar com um tal cara tatuado e de voz estranha que eu acho fina chamado Adam (meio magrelo também, mas ela tinha apetite sexual por ele de forma feroz). Jess ia entrar com, adivinhem? TOM! É, ela o chamou pra ser seu par – parece cantiga de criança essa frase, me perdoem – e ele disse sim, o que foi muito bom e fez Tom parar de comer por quase um mês. O resultado é que o Tom gordinho virou um Tom “gostosinho” para delírio de Jéssica. Isadora após perder o trauma de meninos disse sim para o pedido de ser a parceira de Dougie e ele iria entrar de braços dados com ela... E ? Ela ia entrar com Lary, enquanto ia estar ao lado de Danny no altar. Não podia ser ao contrário? Não, não podia.
- Daniel pode ir pra cadeia se disser não, então eu me atrevo a falar que se ele te recusar eu caso com você – falou, indo até a amiga e lhe dando um abraço não tão apertado – Você está linda, Larissa.
- Obrigada – ela fungou – Ai meu Deus, eu vou me casar!
- Vai, eu nem acredito – Jess e Bella falaram juntas.
- Cadê as coisas? Cadê as coisas?
- Que coisas, Isadora?
- Algo azul, emprestado e velho! – Isa falava apavorada – Cadê?
- Aquiiiiiiiiiii – Clair e Hells mostraram o pequeno baú de madeira que as meninas guardavam desde que eram crianças.
- Vocês lembraram? – Lary ia desmoronar a qualquer momento – Não acredito!
- Como esquecer? Guardamos essas coisas desde o começo de nossa amizade.
- Eu tinha um certo sexto sentido de que a Lary ia ser a primeira de nós a casar.
- Jura?
- Juro – Susana profetizava – Quando ela conheceu o Danny eu sabia, ia dar casamento na mesma hora.
- Até que o Danny não foi tão lerdo – Jess riu – Se for contar o tanto de homem lerdo que temos na nossa lista.
- Thomas.
- Dougie.
- O Jay não é tão lerdo – Clair riu – Mas não vamos nos casar tão cedo.
- Graças a Deus! – jogou os braços pro ar e começou a rir.
- E o ? – Bella cutucou – Hoje você pedir ele em casamento, .
- É, mas combinamos que não vamos mais falar no assunto, lembra?
- Ah sim, porque compartilhar banheiro é suuuuuuper mais sexy – Bella riu e as meninas também – E nojento.
- Cala a boca Bella, quando você começar a dividir o banheiro com esse tal de Adam você pode dar palpite na minha vida – falou e as meninas soltaram um ‘whooo’.
- , meu amor – Bella pegou um copo de Martini que estava no quarto de Lary, bebericou e começou a brincar com a azeitona no palito – Eu divido muito mais que o banheiro com o A-D-A-M!
- Puuuuuuuuuuuuuuuuuuuta! – Jess, Isa e Hells gritaram juntas enquanto as meninas gargalhavam, e isso incluía a própria Larissa, mesmo ouvindo essa coisas da irmã.
- E essa é minha irmã, senhoras e senhores – Lary falou.
O clima descontraído no quarto de Larissa ainda continuou por alguns minutos, enquanto as meninas davam os últimos retoques na maquiagem e tentavam convencer Lary de que o vestido dela não estava caindo! Danny estava do lado de fora, suando em bicas enquanto fumava ao seu lado sem se importar se Daniel ia ficar com cheiro de nicotina ou não. Quer saber? Vou falar, Danny acabou fumando com e os convidados acharam aquilo um grande absurdo. Que se danem, era o casamento dele.
Queria deixar claro que essa é uma história curta e pequena, e que, embora a essa altura eu sei que todo mundo gostaria de saber como foi a entrada da noiva e das madrinhas e de como a cerimônia foi linda, eu sinto quebrar o coração de vocês, queridos leitores, porque eu vou pular pra parte legal, a parte depois do ‘sim, eu aceito’. Na minha cabeça eu só posso escrever cinquenta páginas, já que cinco continua sendo o número da sorte dessa história, embora o seja o imperfeito seis, e no momento encontro-me com apenas oito folhas restantes, por isso preciso dar uma apressada. Mas tá, eu vou dar um resumo básico.
Larissa, como boa doida em números, não quis atrasar seu horário e entrou no momento certo, sem um minuto a mais ou um a menos. , ao seu lado, tinha que ficar lembrando a amiga de colocar um pé na frente do outro e sorrir, porque Lary estava quase caindo e perdendo a cabeça, e também não conseguia parar de chorar, só se controlou quando viu que Danny também estava chorando... Alguém nesse casal tinha que se manter inteiro, por isso Lary parou de chorar. As meninas ao lado do altar só eram sorrisos, e todos os convidados achavam estranho o fato de Lary não ter escolhido apenas três garotas como madrinhas, esse era o número padrão de casamento. Mas, e daí? O casamento era de quem? Então, Lary ia ter o quanto de madrinhas quisesse, e todo mundo ia ter que aceitar isso. Os meninos do outro lado eram só sorrisos, e tinha que ficar beliscando Dean toda hora pra ele parar de ficar olhando pra irmã dele e murmurando besteiras sexuais, mas foi nessa hora que percebeu que Susana não era mais a sua irmã mais nova que ele podia ficar cuidando, ela já era mulher. Foi nessa hora também que ele viu ao lado de Larissa caminhando pelo corredor de noiva e pensou: “Qual o problema em casamentos?”. Ele a imaginou vestida de noiva, sorrindo como uma princesa. Ele se imaginou no lugar de Danny, seria ele chorando então? Ao fim ele imaginou a vida que teria ao seu lado, a chamando de “mulher” porque ela seria a sua mulher pro resto da vida. E não era isso o que ele queria? Ele queria ser o homem dela, e que ficassem juntos e que pudessem mostrar esse amor e essa vontade para todo mundo. Ele queria um casamento, e nem pode acreditar no que seu cérebro estava gritando agora. Ele queria casar. Droga!
Bella, Hells e Clair já estavam bêbadas dançando ‘We Found Love’ da Rihanna em cima do palco junto com a banda do casamento. Adam, Max e Jay estavam em baixo jogando rosas para as namoradas e rindo de tão engraçadas que elas estavam. Totalmente descabeladas, sem sapatos e com a maquiagem parcialmente derretida, o clima mais parecia uma festa de formatura do que um casamento. E quer saber? Danny e Larissa nem se importavam com isso. O casal estava sentado em uma mesa com o resto da trupe: Jess e Tom, Isa e Dougie, Susana e Dean, e . Antes de colocarmos um ponto final nessa história, vamos falar desse quinteto tão especial. Elas merecem certa atenção especial.
Jess e Tom! Desde quando eu falo mesmo que eles se gostam? Ah, muito tempo, e olha que a história é pequena, pensa se fosse algo gigante? O pequeno gesto de Tom ao final da cerimônia dispensou todas as palavras e Jess apenas o encarou e suspirou pensando ‘finalmente, Tom’ e sorriu. Ele foi até ela e a chamou para sentar-se com ele na mesa junto com o resto do pessoal. Ela aceitou, e no momento em que eles começaram a caminhar lado a lado pela festa, Tom entrelaçou seus dedos no dela, daquela forma bem infantil, porém do jeito que as meninas adoram. Jess sentiu o braço inteiro formigar e pensou que fosse cair ali mesmo; olhou pro lado e viu que sim, era Tom Fletcher segurando sua mão, e ele também sorria. Foi quando ela pensou o FINALMENTE e sabia que, agora sim as coisas iam dar certo. Isadora e Dougie, será que ele conseguiu fazer a menina perder o medo de garotos? Sim, ele conseguiu, porque antes de irem sentar-se à mesa, Dougie chamou Isa para conversar na cozinha e, ali ele a beijou. Daquele jeitinho estranho e desengonçado que é o estilo Dougie, mas conquistou Isadora logo ao primeiro toque. Depois do beijo um olhou pra cara do outro e começaram a rir, pensando ‘por que demoramos tanto tempo pra fazer isso?’. Parecia o certo desde o começo, pra que tanta demora? Susana e Dean, ao contrário de todos os outros casais eram os mais rápidos. Dean não a pediu em casamento nem jurou amor eterno, mas Susana não era fã de contos de fada e muito menos queria casar. Foram correndo pro banheiro dar aquela famosa ‘rapidinha’ já que parecia ter muito tesão dentro dos dois corpos e eles não iam aguentar ficar a festa inteira sem ‘dar uma’. O banheiro era pequeno, apertado e lembrava muito aquele provador no shopping, e Susana era louca por espaços apertados e provadores. Após o banheiro, Susana pediu apenas uma coisa para Dean, que era a última de suas fantasias ‘por favor, a próxima seja no elevador’. Dean concordou, ele era tão tarado quando ela. Larissa e Daniel tinham ‘felizes para sempre’ estampados em seus rostos e por toda a festa. Não tinha uma alma naquele recinto que não concordasse que os dois eram perfeitos um pro outro. Os olhares, os toques, os beijos que pareciam ser perfeitamente combinados, o sorriso apaixonado dela olhando pra ele sem perceber, os pequenos toques de Danny em seus cabelos e ombros só pra deixar registrado pra plateia que aquela menina era dele e unicamente dele. Olhando para os dois, podemos voltar nossa atenção para e . Ah, mas esses dois merecem um parágrafo único. Posso pular a narrativa e ir direto ao diálogo? Tô cansada... E eu acho que ninguém nunca lê parágrafos longos. Não que eu aprove isso, acho feio porque grande parte da história está em parágrafos e não em conversas, mas sempre tem aquela alma preguiçosa que ‘pula tudo e só lê as partes principais’.
- Eu acho que quero isso – disse baixinho ao ouvido de .
- O que eu tô comendo? – apontou para as batatas em seu prato – Quer que eu pegue pra você?
- Não sua idiota! – ele riu e ela parecia não entender mais nada – Isso! – ele apontou para Larissa e Daniel.
- Nossa – ela riu e engoliu sua batata – Fala qual você quer, pra matar um dos dois é rapidinho, se bem que eu acho mais fácil apagar o Danny, de vez em quando a Lary é bem rápida.
- Você mataria um de seus amigos por mim? – ele riu.
- Você tá querendo um dos dois, não quer? Fácil – ela gargalhou. Ninguém nunca entendia esses dois, nem as brincadeiras bizarras.
- Tá se fazendo de tonta ou simplesmente não entendeu o que eu quis dizer antes?
- Se eu falar que não entendi você vai ficar bravo? – ela apontou pra taça de champanhe em mãos, era a quarta? Não, definitivamente era a quinta.
- Ok, eu vou começar de novo – ele tirou a taça da mão da – Eu não quero as batatas e não quero que você mate nenhum dos dois – eles riram – Eu quero viver o que eles estão vivendo.
- Um casamento? – perguntou, ele não respondeu. apenas a ficou encarando, sorrindo com os lábios fechados. Aquilo era um sim? – Você quer casar? !
- Quê? Qual o problema?
- E tooooooodo aquele papo que tivemos de por enquanto dividirmos só a cama e banheiro e aquela coisa bonitinha de café de manhã?
- Quando eu te vi hoje entrando com a Larissa – ele suspirou e fez carinho em seu rosto – Desejei que fosse eu no lugar de Danny e você no lugar da Lary.
- Pela festa?
- Por nós! – ele riu – Por você, porque você merece isso e eu sei que sou o único que vou te fazer feliz do jeito que você quer.
- Humildade mandou lembranças – ela gargalhou.
- Eu tô tentando ser legal e você só fode com o momento.
- Ah, – ela segurou seu rosto com as mãos e o beijou – Então, quer dizer que você está me pedindo em casamento, é isso? – teve que se controlar – E que, ao final, as coisas vão sair do meu jeito?
- ... – eles encostaram as testas – Isso, eu queria...
- Não – ela suspirou e o beijou – Vamos continuar essa conversa em casa, se vai ser do meu jeito, então vai ser assim até a proposta.
- Meu Deus! – ele arregalou os olhos e começou a rir – Eu tô mesmo fazendo a escolha certa?
- Está – ela o puxou pela gola da camisa – Te disse, , eu sou a mulher da sua vida.
- Sempre soube, só não queria falar pra não te deixar metida. Bom, mais metida.
- Leonina – ela falou, dando a velha desculpa do signo – Você nunca vai aprender, vai?
- Vou ter minha vida inteira pra te estudar, – a encarou sério, enquanto ela só pensava em um jeito mais rápido de tirá-lo do casamento e, especialmente tirá-lo de dentro de suas roupas.
Ele sabia o que falar, como falar e quando falar.
Como um bom casamento irlandês, não podia faltar uma boa música, comida e bebida. A parte da comida e bebida já estava perfeita, todos os convidados estavam felizes, agora só faltava a música e dança. Gaita de fole é de longe o instrumento que mais caracteriza a musicalidade do país, por isso Larissa e Daniel escolheram a dedo o que iria tocar em seu casamento. Com bons irlandeses, queriam tudo do bom e do melhor, e queriam dançar e fazer os passos irlandeses até os pés pedirem ‘CHEGA’. A música escolhida para embalar a noite foi dos artistas Davy Spillane e Andy Irvine, os grandes tocadores de gaita de fole na Irlanda.
Assim que os primeiros acordes se perderam ao vento no casamento, junto com o som maravilhoso da harpa irlandesa, todos os convidados se levantaram e foram ao centro dançar, junto com Danny e Larissa. Para vocês terem uma ideia de como eles provavelmente devem ter dançado e de que tipo de música pode ter sido tocada, só lembrarem a cena tão famosa de Titanic. Jack e Rose no convés da terceira classe, dançando e bebendo e dando aquele show na frente de todo mundo. Transfiram esse ambiente para um jardim, ao invés da Rose em um vestido vermelho temos Larissa em um vestido branco, Daniel está até que parecido com Jack e... Pronto. Temos o casamento dos dois, com a mesma música e mesmos passos de dança. Quem não gostaria de estar lá?
- VÃO PRA CASAAAAA!!!!! – Larissa gritou para as amigas quando elas saíram de casa perto da meia noite.
Cada uma em um carro com seu respectivo amor, namorado e agora me atrevo a dizer, futuro marido. Danny puxou Lary pela cintura de volta para dentro e a calou com um beijo. Eles iam arrumar as coisas amanhã, porque a lua de mel ia começar agora. Cada garota foi para um lugar diferente de Dublin, e foram para casa, já que Susana ia dormir com Dean. Ela não conseguia parar de pensar na conversa que teve com no casamento e tinha medo de que ele pudesse mudar de ideia, que fosse apenas um momento. Suspirou e estralou os dedos durante a viagem de volta, percebeu seu nervosismo já que ela estava calada, e isso para era quase impossível de acontecer. Pegou sua mão e a beijou, dizendo que ele continuava seguro do que tinha conversado antes, só não havia pedido ela em casamento ali porque ela pediu para que o pedido fosse feito em casa, coisa que o estava deixando curioso demais.
- E então? Posso propor agora? – riu quando entraram em casa.
- Ainda não – ela sorriu – Vai fumar um cigarro, trocar de roupa e me encontra aqui em baixo daqui a cinco minutos.
- Não pode ser seis?
- Não! Já que você aceitou ser meu marido, embora ainda não tenha feito o pedido, você automaticamente virou meu número cinco, e não mais o seis – sorriu.
- Essa sua coisa com números vai parar algum dia?
- Acho difícil, isso é um problema?
- Não – ele suspirou e tirou o paletó – Tô te esperando aqui embaixo.
- Ok – foi até ele, lhe dando um selinho rápido e correndo andar acima.
No meio do caminho foi abrindo o zíper do vestido e o largando do chão, por baixo da roupa ela estava com um corpete, este que ela nem se deu ao trabalho de tirar. Arrancou as sandálias e as jogou no canto do quarto, os brincos e soltou os cabelos. Estava parecendo meio doida, mas ia entender. Ela sorria, não conseguia parar de sorrir, e torcia para que ele não mudasse de ideia quando a visse descabelada e só de corpete. Abriu a sua mala de roupas – que ela ainda não tinha arrumado em algum armário da casa – e procurou por aquela caixinha azul que ela levava para todos os lugares.
Quando as meninas tinham quinze anos fizeram uma viagem para Nova Iorque com a escola. Nesse dia, e Isadora correram longe para a loja da Tiffany. Se sentiram como naquele filme Bonequinha de Luxo, sabem? E elas eram, duas bonequinhas irlandesas perdidas em uma loja de joias procurando... O que?
Desde sempre queria se casar, desde absolutamente SEMPRE! Carregava consigo uma correntinha de ouro que sua mãe havia lhe dado quando completou cinco anos, era o bem mais precioso que carregava consigo. Quando entrou na Tiffany e deu de cara com um diamante solitário em forma de coração, sabia que aquele era o anel que ela queria em seu dedo quando estivesse noiva, ele a chamava! Ele era seu. Colocou a mão na correntinha que tinha em seu pescoço e quase começou a chorar ao pensar no que sua mãe iria dizer quando soubesse que ela tinha vendido aquela preciosidade para comprar um anel de noivado, sendo que ela nem namorado tinha. Mas, como sempre, não pensava muito nas consequências, ia conversar com sua mãe quando voltasse pra Irlanda. A única coisa que ela conseguia pensar era que aquele anel tinha que ser dela, e ele seria. Não tinha muito dinheiro, mas tinha a corrente... E assim ela o fez.
Desde os quinze anos ela guardava aquele anel com muito cuidado e carinho. Nunca o tinha colocado no dedo, a não ser no dia em que ela a comprou. Desde então, ela nunca mais o tocou, prometeu pra si mesma que só iria abrir aquela caixinha azul de novo quando encontrasse a pessoa certa e ele tivesse coragem de pedi-la em casamento, sabendo que ela era a pessoa mais chata, mandona e orgulhosa da face da terra. Ele teria que amá-la sabendo de todos esses defeitos, e quase nenhuma qualidade, a não ser que ela – – iria jurar seu amor e sua fidelidade para o escolhido por todo o tão imperfeito pra sempre. Essa pessoa seria o único que colocaria as mãos naquele anel, e que deslizaria por ser dedo, olhando em seus olhos e pedindo para ela ser a mulher de sua vida hoje e sempre, e ela ia chorar e dizer sim, e os dois iam gargalhar porque o anel havia sido comprado uns dez anos atrás. Até nisso, até nesse detalhe, tinha que ser do jeito dela. Vai que ele compra um anel feio? E só de pensar na possibilidade dele chamando as amigas para irem a uma joalheria para comprar um anel e elas – fofoqueiras – não se aguentando e contando logo pra que ele ia a pedir em casamento, isso era um pesadelo. Então, poupando o sofrimento de todos, ela já garantiu o anel. Agora ele só tinha que pedir... Só isso.
pegou a caixinha, desceu correndo as escadas e quase tropeçou nos três últimos degraus da escada. Chegou ao andar debaixo mais descabelada do que já estava e encontrou encostado na janela da sala terminando de dar o último trago em seu cigarro. Ele agora estava com a camisa social meio aberta, pra fora da calça e sem sapatos. O jeito descontraído e desleixado que ela tanto adorava. Ela também não estava um primor de beleza, se ela tivesse se dado uma olhada no espelho, tenho certeza que teria pensado duas vezes antes de sair correndo do jeito que saiu. Respirou fundo quando virou e a encarou, ele abrindo o sorriso mais encantador que ela já tinha visto; tamborilando a caixinha entre os dedos. Gesto esse que, claro, não passou despercebido.
- O que é isso em suas mãos?
- Então, é sobre isso que quero falar com você – ela suspirou e sorriu, mostrando a caixinha pra ele – Agora sim podemos continuar com o plano inicial.
- Como assim, ? Até nisso você quer mandar? Você vai me pedir em casamento? Meu Deus! – ele ria, não parecia nada nervoso ou irritado, ele de verdade estava se divertindo com essa situação, até tava pagando pra ver ajoelhada e dando um anel pra ele.
- Nãããão – ela bufou – Senta aí no sofá.
- Esse sofá tá horrível!
- Eu não vou ser pedida em casamento no chão.
- Então eu que vou te pedir? Não vai ser ao contrário?
- Se você for logo pro sofá podemos continuar com essa conversa, agora senta! – até o último minuto ela ia mandar.
não sabia, na verdade ele sabia. ia ser a dona de tudo, ia mandar em tudo. Só no pedido que ela não podia opinar, porque até no anel... Bom, a história vocês já sabem.
- , você sabia que nós estamos discutindo aqui como eu vou te pedir em casamento? Isso não deveria ser romântico? Eu te levando pra jantar, ou me ajoelhando no chão pedindo sua mão...
- Desde quando as coisas entre nós são normais? – ela sorriu e foi até ele – Eu não me importo se você vai me pedir de pé, sentado, deitado, do jeito que você vai achar melhor. Você vai me pedir, e vai fazer usando isso aqui – ela estendeu a mão pra ele lhe dando a caixinha – Sou eu pra você.
- O que é isso? – ele perguntou antes de abrir, mas assim que abriu já teve sua pergunta respondida – UAU!
- É... – ela riu.
- , como você... Quando que você? ME EXPLICA! – ele tirou o anel da caixinha e ficava avaliando – Puta merda, isso deve custar uma fortuna.
- Dez mil dólares – ela colocou as mãos pra trás e balançava o corpo pra frente e pra trás de maneira infantil. engasgou-se com a própria saliva.
- DEZ MIL DÓLARES? GAROTA, O QUE VOCÊ TINHA NA CABEÇA?
- ISSO! – ela apontou pra ele – Homem NENHUM do mundo pagaria esse valor por mim, porque eu acho que não valho tanto assim.
- , não é isso...
- CLARO QUE É! Pra pagar putas eu sei muito bem que tem homem que gasta o dobro, e isso EM UMA NOITE! Agora pra comprar um anel pra suposta mulher que supostamente é a mulher da vida de vocês, fica regulando dinheiro.
- ...
- E é por isso que eu já garanti o meu. Eu quero ser noiva com esse anel, quero saber que mereci esse anel, e quero que seja me dado pelo homem que EU SEI que eu mereço – ela já chorava, qual o problema dessa garota? Ela chorava demais – Eu sei que ele vai conseguir colocar dez mil dólares no meu dedo e não vai se importar porque é quem está usando o anel que é mais importante, e não o dinheiro. Então ele não vai se importar em ter esse “dinheirão” no dedo da mulher que ele ama, porque ela vale muito mais que dez mil dólares.
Suas ideias estavam confusas e ele repetia as palavras. A essa altura, já chorava de soluçar porque, ela sempre soube que homem nenhum aceitaria isso, nem que ele fosse . Que homem ia aceitar uma coisa dessas? Mulher passando por cima dele, gastando mais do que deve em um anel? Tá pra nascer homem que consiga compreender o cérebro de uma mulher cem por cento, que entenda o quão grande essas pequenas coisas valem. Bom, podia não compreender, mas ele aceitava, e isso era meio caminho andado. Olhando de fora, fica a impressão que ele pode ser um cara idiota que faz tudo o que a garota quer, que ela é meio manipuladora e chata demais. Quem os conhece de perto sabe que não é assim, o problema é que ele a ama demais, e isso, pra quem conseguiu ler uma pequena parte da história desses dois, já pode entender. Vocês também sabem que não tem papas na língua na hora de discutir com ou de dizer o que pensa, e que ele não aceita as coisas que diz ou pede apenas para satisfazer seus caprichos. sabe, lá no fundo, que ela está certa em tudo o que diz, ela sempre esteve, e isso é o que dá mais raiva e tesão. Todo esse nervosismo é o puro fato de que, é uma garota como outra qualquer. Que só ama, e gostaria de ser amada, e está com aquela sensação de que acabou de fazer a maior merda do mundo. Ela pensou em virar as costas e sair correndo dali. Deu-se conta de que mal estava vestida, estava toda descabelada e agora, nem mais tinha o anel, porque ele estava com , e se bobear, não tinha nem mais ele.
- Caguei com tudo, não foi? – ela disse ao fim, puxando o cabelo pra trás e tentando se controlar – Me dá o anel.
- Não.
- , me dá o anel.
- Não.
- , me dá a porra do anel.
E não, ele não deu o anel. Ao vê-la daquele jeito teve a certeza de que não podia deixar escapar, e não de novo. “Caguei com tudo”? Pelo contrário, , você acertou com tudo.
ajoelhou-se no chão de frente para ela. Não sorriu, mas suspirou fundo e mais fundo pelo menos umas três vezes. O anel estava em suas mãos, então ele o voltou na caixinha, fechou-a e abriu-a novamente, pra dar a impressão que estava mostrando o anel para pela primeira vez. A olhou de cima a baixo e deu aquela piscada meio sacana que ele sempre dava quando estava aprontando alguma coisa. De repente todo o nervosismo que ela estava sentindo foi embora, e ela sorriu. Sorriu porque ele, novamente do jeito mais imperfeito de todos estava sendo o homem perfeito.
- Você não precisa fazer isso.
- Mas eu quero – ele respondeu sério – ...
- Puta merda!
- Não me interrompe, porra! – agora ele riu – Eu tô tentando de verdade fazer uma coisa séria aqui, , me ajuda.
- Tá, tá, tá – ela riu – Continua, vou ficar quieta.
- Agora fodeu, perdi o clima.
- NÃÃÃÃÃO! – ela gargalhou, ia se levantar, mas ela o empurrou pra baixo, fazendo-o voltar para a posição original – Ãh, desculpa – ela suspirou – Se quiser fazer de pé...
Ele riu com os lábios fechados e se levantou. Foi até a menina, a pegou pela cintura e a beijou. Os lábios dela estavam quentes e inchados, de tanto que ela mordia de nervoso com tudo o que estava acontecendo. Ele a sentiu relaxar em seus braços e, antes dela se entregar por inteiro, ele – ainda a beijando – pegou sua mão e colocou o anel no dedo anelar de sua mão esquerda. assustou abrindo os olhos, viu que a encarava também, então quebraram o beijo. Ele ainda a tinha nos braços, do jeito agora que ele queria.
- Casa comigo de uma vez, porra! – ele “pediu” do jeito dele, da maneira dele.
- Sabia que você ia conseguir fazer o pedido – ela gargalhou.
- Responde!
- EU CASO! – ela sorriu e até se esqueceu de dar uma olhada em seu dedo que agora pesava dez mil dólares, o que ela tinha conquistado valia mais. Era sua vida.
e deram uma apressada na lua de mel, indo pro quarto e comemorando o fato de estarem noivos da maneira que mais gostavam. Na cama! E dessa vez, a deixou ficar por cima todas as vezes, nem se importava com ela se vangloriando depois disso. Deixa-a pensar que ela ganhou, mal ela sabia que ele estava ganhando muito mais. Ele ganhava uma vida que sempre sonhou desde que a pediu em namoro, ou provavelmente desde que a segurou em seus braços ainda quando criança.
“- Eu acho que ela gosta de você – a mãe de disse quando viu o menino segurando sua filha no colo – , você é um dos únicos que ela fica no colo sem chorar.
- Gosto dela – o menino disse sentindo uma leve vergonha – Ela não é chata e babona como as outras.
- Elas são nenéns, você já foi assim um dia, sabia?
- Sabia, mas eu acho que era mais legal – ele riu e coçou o nariz com certa dificuldade, já que estava usando seus dois bracinhos para segurar a bebê...
... - Você vai ser minha menina favorita, eu gosto de você – e sorrindo, deu um beijo na testa de , fazendo o pequeno bebê sorrir e grunhir de um jeito meigo em agradecimento.
Os anos passaram, as crianças cresceram e também as promessas feitas nesse dia. disse que seria sua favorita e assim foi...”
Lembram-se disso? Ah, eu me lembro! Porque quando eu decidi contar a história de e pra vocês, tive plena certeza que essa parte fundamental teria que aparecer no momento em que eles dissessem ‘sim’ um para o outro. Que foi? Eu sabia que eles iam ficar juntos no final, mas ainda não podia contar. Gosto de deixar um suspense.
- O que faremos agora? – perguntou, debruçada no peitoral de brincando pela primeira vez com seu anel de noivado – Como vamos falar para as meninas?
- Por que mulher tem dessas coisas, “ai como vou falar pras minhas amigaaas?” – ele fez uma voz afeminada e ela começou a rir – Fala de boa, oras.
- – ela se apoiou nele – Não é uma notícia qualquer, é casamento. A porra é séria meu querido.
- Começamos com uma notícia ruim, aí vem um choque e depois você fala que vai casar.
- Notícia ruim?
- Sei lá, fala que você descobriu que eu tenho uma bola só ao invés de duas.
- Isso elas deveriam saber a certo tempo, já que hoje não foi nossa primeira noite, e isso seria algo que eu contaria logo DE CARA!
- Caralho – ele riu – Faria tanta diferença assim?
- Sei lá, nunca transei com um cara de uma bola só – teve que se controlar pra não começar a gargalhar – Tá, parei.
- Regra número um, futura esposa, nunca fale dos seus ex na cama.
- Sim senhor – ela fez bico – A regra serve pra você.
- Eu nem queria te comparar com as outras, você acha mesmo que eu ia dar um fora desses?
- Não, mas vai que acontece – ela mordeu os lábios – Ok, mudando de assunto.
- Uhum – ele voltou a fechar os olhos e suspirou, passando os dedos delicadamente pela espinha dorsal de , ou como todo mundo gosta de falar “pelas costas”.
- Como você quer casar?
- Como assim?
- Não sei. Ao ar livre, na praia...
- Em Dublin? Praia?
- Tem umas paradas legais aqui.
- Eu quero casar – ele abriu os olhos e a encarou – Com você, e ponto final.
- Podemos fazer a cerimônia na cozinha, então?
- Por que não?
- Lembra-se daquela parada de eu entrar linda em um vestido com todo mundo olhando pra mim? Então, na cozinha não vai rolar, – ela riu.
- Tá – ele sorriu – Tem uns salões legais aqui, podemos dar uma olhada amanhã.
- Com as meninas?
- Por que “as meninas” precisam estar presentes?
- Porque elas fazem parte da minha vida, e uma delas é sua irmã!
- Elas vão pra lua de mel, também?
- Vai ter lua de mel? – ela arregalou os olhos. Ele pensou nisso?
- Se você quiser.
- EU QUERO!
- Então vai – ele sorriu – Vamos dizer que, quase tudo o que você quiser vamos ter, ou, eu vou te dar.
- Como assim? Quase tudo? O que eu não vou ter?
- Você... – ele ergueu o corpo de repente, derrubando ela pro lado e ficando agora por cima – Nunca mais vai ter o direito de olhar pra outro homem, de ir pra cama com outra pessoa, de reclamar que não é amada e – ele mordeu os lábios a olhando de forma lasciva e nada respeitável – Reclamar que eu não deixo você ficar por cima.
- Além do contrato de casamento, vamos ter que fazer um contrato sexual, você sabe disso – ela sorriu, erguendo um pouco a perna e roçando na dele.
- Como assim?
- Quantas vezes por semana e quantas vezes eu tenho o direito de ficar por cima, porque isso é algo muito importante pra mim.
- Vai ter horário também?
- Não – ela sorriu – Mas não vamos deixar isso de uma forma tão inapropriada, por exemplo, não vou te pegar quando a Su estiver aqui.
- E quem disse que vamos morar aqui? – ele passou de leve o nariz no de e a selou os lábios com carinho. Ela ficou sem respirar durante todos esses segundos.
- Co-como assim?
- Tem uma coisa que você não sabe sobre mim – ele piscou, esticando seu corpo e chegando até a gaveta ao lado de .
Ali também ele guardava uma caixinha.
- ?
- Não é só você que faz planos desde os quinze anos.
- O que é isso? – ela se ergueu na cama, ele fez o mesmo – O que você...?
- Nossa casa – ele abriu a pequena caixinha de madeira, tirando dali uma chave prateada – Que eu oficialmente ganhei quando começamos a namorar.
- O-o que? – ela não respirava – Como assim?
- Ensaiei como te pedir em namoro com quinze anos, mas você ainda tinha dez então seria meio pedofilia – ele sorriu – Pedi pro meu pai guardar a casa que ele ganhou como herança da família, fica a noroeste da Irlanda e, bom, é meio afastado, mas é uma casa.
- ...
- Ele me perguntou o motivo e eu disse que, bom, eu queria morar ali com você.
- Seu pai sabia disso?
- Sabia – ele sorriu, brincando com a chave na mão – O velho falou que me daria a chave quando nós dois tivéssemos idade para namorar. Por isso a chave voltou pra mim no dia em que te pedi em namoro.
- Por que eu nunca soube disso?
- Por que eu nunca soube do seu anel? – ele riu, ela também, mas de forma envergonhada – Sempre foi você, leonina.
- Eu não, eu não... – ela nem conseguia formar frases – Nós temos uma casa? Nossa casa!
- Eu disse pra você que, seria bom de vez em quando você vir pro meu mundo. Também sei fazer umas coisas legais – ele sorriu malandro e ela riu, mesmo com o rosto molhado de lágrimas, era um riso feliz.
- Amo você! Sou completamente louca por você – o puxou pelo pescoço, entrelaçando suas pernas ao redor de sua cintura – Obrigada.
- Pronta pra dividir o banheiro comigo?
- Sempre estive – ela sorriu antes de irem para um terceiro round.
E dessa vez, como presente, ia deixar ficar por cima.
E assim termina a história – por agora – de e . Se vocês gostaram eu não sei, mas eu passei deliciosas páginas rindo com as meninas da ‘máfia’ sobre como esses dois são idiotas. Ah, eu sou amiga das meninas da máfia, caso vocês não saibam, e no fundo, sei que a grande maioria das pessoas que leram gostariam de ser amigas delas também. Ou gostariam de fazer parte da máfia. Infelizmente não tem como, nem eu faço parte.
Sou apenas o narrador – ou seria narradora – dessa história perfeitamente imperfeita. Baseada em números e supertições, em um casal que tinha tudo pra dar certo e ao final deu, como Larissa e Daniel. Ou Susana e Dean, Isadora e Dougie, Jess e Tom, Bella e Adam, Clair e Jay, Hells e Max e óbvio... e . Amo essas pessoas como se elas fossem reais, como se fizessem parte da minha vida diária.
Espero que assim como eu, vocês passem a amá-los também. Não vão se arrepender. E como terminar essa história sem parecer clichê e chata ou soltando aquele ‘e viveram felizes para sempre’. Podemos mudar, o que acham?
E eles simplesmente... Viveram.
comments powered by Disqus