sentou-se o mais confortável possível na cama e brincou com os próprios dedos, tentando mudar o rumo de seus pensamentos traidores. No momento, a única coisa que desejava era conversar. Conversar com uma amiga, com alguém em que confiasse, que a ouvisse sem julgamentos, que a conhecesse... Eva. Eva lhe parecia uma boa solução. Além de uma bela amiga, saberia desvendá-la melhor do que ela mesma.
Decidida, a garota se levantou e bateu na porta três vezes, suavemente. Não demorou muito para que um dos soldados a abrisse. Ela pediu para conversar com Eva e o homem a levou para a sala da mulher, em silêncio. Ao chegar à porta, a psiquiatra prontamente abriu, sorrindo abertamente ao ver quem era. Eva dispensou o soldado e entrou, sentando-se no divã ao lado da sala.
- A que devo a honra de sua presença em minha sala às... – olhou para seu relógio de pulso. – Oh, 18h55 da noite! – riu, surpresa. – Hoje não tivemos testes.
- Eu... – engoliu em seco, umedecendo os lábios. Respirou fundo uma vez antes de criar coragem para falar. Vamos lá, . Você consegue. Após uma breve pausa, a garota balançou a cabeça; estava ali para pedir ajuda, e é isso que faria. – Você pode me aconselhar, não pode, Eva? Me ajudar... A lidar. – sussurrou incerta a última palavra, como se nem ela fosse corajosa o suficiente para ouvir seu pedido.
- Posso, querida. – sorriu carinhosa, dando a volta em sua mesa, sentando-se. – O que tem te deixado assim? ?
ergueu o olhar, parcialmente surpresa com o poder de percepção que a mulher tinha.
- Às vezes, acho que você é algum tipo de bruxa, Eva! – riu, incrédula. – Mas sim, é. Eu... Oh, Deus. Eu não consigo nem falar!
- Tivemos algum avanço desde nossa última conversa sobre este mesmo assunto? – cruzou os braços em cima da mesa, observando-a. voltou a abaixar cabeça, respirando fundo. – Parece que sim. Você quer me contar, ?
- Tem saído do controle. – bufou, rolando os olhos. – Nós nos beijamos. – disse sem pestanejar, antes que a coragem lhe faltasse, e Eva arregalou os olhos levemente, sorrindo em seguida. – Eu tive o melhor aniversário de toda a vida, Eva. – ergueu o olhar novamente.
- Ele te beijou ontem?
- Não... Bem, beijou. Mas não foi a primeira vez. A primeira vez aconteceu no dia que eu fugi... O dia foi bem tumultuado antes e...
- E foi por isso que você fugiu. – presumiu, vendo-a franzir o cenho e balançar a cabeça em negação. – , querida. – seu tom de voz alcançou algo mais suave e acolhedor, e a garota encolheu-se sobre o divã, desviando o olhar da psiquiatra. – Como você disse, o dia foi “tumultuado”, os dois provavelmente já estavam cientes de no que essa aproximação resultaria, mais cedo ou mais tarde, e você, por temer o inevitável, quis fugir... Estava com medo. Com medo do futuro e do que ele reservava para ambos. No fundo sabia que não conseguiria, mas era uma tentativa. Ou ao menos de afastá-lo, mesmo sem de fato desejar isso. , não minta para si mesma. Você tomou aquela decisão precipitada por não ter por onde correr, todas as suas defesas próprias já haviam deixado de existir.
ofegou, não conseguindo olhar para o rosto de Eva. Ela estava completamente certa. Nem mesmo a própria havia se dado conta de que no fundo era isso, era uma saída. Uma última tentativa de fugir... Escapar. O medo havia tomado seu ser e nenhuma decisão tomada naquele dia seria livre de insanidade. O medo do desconhecido, o medo de voltar a se deixar ter bons sentimentos, o medo do quê o destino lhe tinha preparado. O medo do motivo daquele medo. Ela estava procurando uma solução para evitar o inevitável. Não parecia muito razoável agora.
- Ontem ele me levou para fora do Ministério. – confessou, vendo Eva abrir a boca, surpresa. A mulher riu, animada, enquanto encostava as costas em sua cadeira, sentando-se mais confortavelmente. – Um lugar aparentemente deserto. Ficamos com o carro lá e depois começou ao longe uma queima de fogos... Foi incrível. – sorriu inconscientemente, lembrando-se da cena. – Foi a coisa mais linda que já assisti em toda a vida. E era só para mim. – desviou o olhar, encarando uma escultura na mesa de Eva. – Nós conversamos... Uma conversa leve, sem preocupações, xingamentos ou explícito desejo de machucar um ao outro. Só eram e , um cara alemão e uma americana se conhecendo.
- E como foi conhecê-lo?
- é muito mais do que demonstra ser. – suspirou, acomodando-se à cadeira. Ela jogou a cabeça levemente para trás, encarando o teto. – É imensamente mais do que só um ... Por trás daquela máscara de insuportável – Eva riu – há alguém caridoso ali. Carinhoso, também. Prestativo. E me conhece... – sorriu fraco, voltando a encarar a psiquiatra. – Me conhece mais do que qualquer um conheceu. Já viu o pior de mim. É como se ele me compreendesse. Embora tenha, numericamente, décadas a menos de idade; ele soube exatamente o que eu sinto e senti com a pressão de ser a filha do presidente dos Estados Unidos. A causa da Guerra. Ele pode até relutar e dizer que não é verdade, mas ele também cresceu sob os olhos da sociedade. Ora, ele é o neto de Yan ! – sorriu sarcástica, gesticulando com as mãos. – também queria ser alguém normal, um médico como todo outro. Mas não, ele tem de cuidar desse maldito Ministério, ter a responsabilidade de arcar com tudo o que o pai e o avô fizeram. Ele não tem nem vinte e cinco anos e já carrega mais responsabilidade do que noventa e nove por cento do mundo.
- Acho que temos uma psicóloga em formação aqui. – sorriu simpática. – Você o analisou muito bem, .
- Não é preciso de muito para ver isso, Eva. Ele é como eu... Exatamente como. – sorriu sem humor, encarando as mãos inquietas em seu colo. – Aliás, não estou dizendo que ele tenha uma áurea em cima da cabeça e seja um anjo, porque não, longe disso. Nem eu. Jamais vou esquecer todas as suas palavras e aquele tórrido dia com Zimmerman. – Eva se levantou, dando a volta em sua mesa e esticou a mão, buscando a da amiga. Ela a entregou, sorrindo fraco. – Mas não deixa de ser ao menos um pouco compreensível... Uma criança que não teve infância, um adolescente que não pôde aproveitar e agora um adulto que não pode se responsabilizar só por si mesmo, mas por milhares de pessoas. pode não admitir, mas jamais foi feliz. E talvez seja por isso que seja assim, tenha tanta dificuldade em ser... Bom. Como ele pode oferecer algo que nunca teve?
- Você me orgulha tanto, . – admitiu, apoiando o queixo nas mãos. Elas sorriram. – Você nunca esteve tão certa. E é por isso que eu insisto em defendê-lo... Os únicos exemplos de amor que teve foram o pai e a avó. A mãe o abandonou ainda bebê para fugir com o motorista do pai. – arregalou os olhos, surpresa. A psiquiatra se apoiou na mesa atrás de si. – E, bem, como você sabe, o pai morreu há alguns meses, poucos dias antes de você acordar. E quanto a avó, sejamos sinceras, o que aquela mulher sabe sobre amor? O único que sentiu foi pelo marido, que faleceu há mais de cinquenta anos. Desde então sua única motivação tinha sido criar o único filho para vingar o marido. E logo depois o neto. Ela criou , mesmo que distorcendo valores, e então ele acha que deve a vida a ela. O que ela diz é lei. O que ela faz é divino. Eu sei que isso não anula tudo o que ele lhe fez, mas... Ao menos justifica em parte.
- Sim. – disse, desviando o olhar para a janela ao lado, pensativa.
- Não se culpe. – a outra a olhou, confusa. – Por estar sentindo isso. A tecnologia evoluiu absurdamente, mas ainda não há uma forma de escolher por quem devemos gostar... Ou nos apaixonar.
- Mas e quanto a Adam? – suspirou, fechando brevemente os olhos. – Eu sonhei com ele esta tarde... Aliás, esse foi um dos motivos pelo qual vim falar com você. – umedeceu os lábios, respirando fundo. – Lá estava eu, com meus melhores amigos e Adam. No lago, como sempre íamos... Já era 1959 e tudo estava em paz. Todo o mal havia sido dissipado. E então, eu estava ali, sem motivo algum para reclamar ou me preocupar, mas não conseguia... Não conseguia agir como antes. Não conseguia ser feliz como era em 57. Faltava algo. Havia um vazio a ser preenchido, mas por quê? Todos que eu amava estavam ali. Meu pai estava vivo, em sua casa. Meus amigos estavam ao meu lado, brincalhões como sempre. E meu noivo... Meu noivo também. No entanto, no ápice do sonho, quando eu ia beijá-lo... tomou seu lugar. – Eva indagou surpresa, prestando atenção. – E então o que faltava, apareceu. Mas minha culpa foi tamanha, que Adam tomou seu lugar novamente. Dois segundos depois, já era de novo. E Adam. E . E eu estava enlouquecendo! – exclamou, respirando pesadamente. – Eu estou enlouquecendo. – voltou a olhar para a psiquiatra, num misto de dor e confusão.
- Não está não. – disse rápido, autoritária. – Você só está confusa com seus sentimentos, o que é imensamente normal. Estranho seria se não estivesse. Você amou Adam, e não quer esquecê-lo, pois acha que ele ainda não a esqueceu. Foi tão lindo o que viveram que se nega a aceitar que acabou. Já com ... Você também se nega a aceitar que está se apaixonando. Que pode se apaixonar pelo sucessor do homem que acabou com sua vida. – olhou para baixo, resignada. Doía ouvir a verdade. – Por mais que eu possa te ouvir e aconselhar, querida, só você pode acabar com essa angústia. Ou o tempo, enfim. Deixe as coisas caminharem assim, como estão. Não dá pra evitar o inevitável. Vamos ver até onde isso irá, certo? – a garota assentiu, suspirando. – Agora vá descansar, já é noite. Tenho que ir para casa. – deu os ombros e a encarou curiosa. Não sabia nada pessoal sobre Eva. Se ela era casada, se tinha filhos... Mas agora não era hora para questioná-la. Recordaria disso num momento mais oportuno.
- Obrigada por me ouvir e ser a minha amiga, Eva. – sorriu sincera, recebendo o mesmo sorriso da outra. – Boa noite. – se levantou, caminhando até a porta.
- Boa noite! – sorriu. – Eu não poderia estar mais orgulhosa de você. – disse baixo, recebendo um sorriso comedido e agradecido de , que saiu.
A noite fora mais fácil do que imaginara. Acabou caindo no sono rápido, talvez fosse a conversa esclarecedora que tivera com Eva mais cedo, ou somente por estar cansada demais... Mentalmente cansada. Esgotada.
Por sorte, não havia sonhado com nada. Ou se sonhou, não foi suficientemente importante para ser lembrado.
Joshua bateu à sua porta pela manhã e ela saiu, como todos os dias. Tomou um banho e colocou roupas limpas – as de sempre. Calça de moletom cinza e uma camiseta branca lisa, e para complementar, tênis de corrida. Ela já estava acostumada com a rotina.
Após trocar-se, encontrou Joshua novamente e ele a levou a sala de reuniões, onde encontraria todos para ouvir os planos do dia. Já havia virado rotina, afinal. A garota cumprimentou a todos, notando a falta de alguém.
.
Ele não iria novamente?
Por quê?
Seu coração apertou e ela suspirou, engolindo em seco. Odiava não ter o controle da situação. Não saber o que estava acontecendo ou o que iria acontecer. Por que iria, ou não. Nos primeiros meses lá estava ele, insistentemente, todos os dias, sem falta. E agora... Agora que ela havia finalmente criado algum vínculo com o maldito, ele f...
- Não acredito que começariam sem mim.
A voz conhecida soou brincalhona; nem tão alta, nem baixa. , que estava de costas, sentiu o coração acelerar instantaneamente e as mãos gelarem no mesmo segundo em que seu cérebro foi capaz de reconhecer de quem era aquela voz e o que ela dizia. Era só o de sempre, e ela jamais foi tão feliz em ouvir suas gracinhas.
Ela jamais foi tão feliz em ouvi-lo.
Eva a encarou com um sorriso enigmático e a garota foi incapaz de não sorrir de volta. Ao virar-se para encará-lo, o suspiro foi inevitável e incontrolável. Ele usava a farda de todos os dias, o cabelo penteado milimetricamente e o sorriso sacana que era seu maior companheiro. não poderia ser mais... . E, oh, como ela estava gostando dele. Daquele à sua frente. Do de dois dias atrás. Do sarcástico de sempre. De, simplesmente, e todas as suas facetas.
Ele a encarava ainda sorrindo, mas já não era o sorriso sacana como há segundos. Era... Diferente. Simpático, talvez. Carinhoso, quem sabe. Saudoso, poderia ser. não conseguia decifrar, mas, sem dúvidas, amava aquele misterioso sorriso. Pois o seu dizia o mesmo.
- Você tem que começar a chegar no horário, . Ainda mais quando é você quem marca uma reunião para anunciar algo importante! – Franz repreendeu e o rapaz rolou os olhos, parecendo entediado.
franziu o cenho e cruzou os braços. O que anunciaria? Ele jamais havia marcado uma reunião. Devia ser algo muito importante para tal feito. Ela poderia ter pensado em todas as possibilidades possíveis para com o Ministério, reformas, nova carga horária, novos testes para a Ironm4x... Mas as únicas coisas que lhe vinham na cabeça eram de caráter pessoal:
Se casar e abandonar o Ministério. Ter engravidado qualquer uma e abandonar o Ministério. Fazer uma longa viagem e abandonar o Ministério. Ter conhecido um irmão bastardo que tomará seu lugar no Ministério.
Eram milhares de opções, e todas elas envolviam seu abandono ao Ministério, e só em pensar na possibilidade todo o corpo de se enrijecia.
- Por que você vai abandonar o Ministério? – a garota disse, sem sequer pensar. Ao terminar a frase, a própria arregalou os olhos. Ela tinha que começar a filtrar melhor seus pensamentos ou acabaria... Em situações tão ridículas quanto aquela. a encarou atônito, mas logo passou a rir.
- Quem disse isso?!
- E-eu... – gaguejou, umedecendo os lábios. – Você acabou de falar isso, não?
- Não. – sorriu, colocando as mãos nos bolsos da calça. A garota deixou os ombros caírem, enquanto suspirava, assoprando alguns fios de cabelos que caíam sobre o rosto. – Mas enfim, vou direto ao ponto: não tem nada a ver com , ou até mesmo de certa forma com o Ministério... Caráter pessoal, caráter pessoal, caráter pessoal...
- Está nos deixando curiosos, . – Eva murmurou já impaciente. Se casar. Ser pai. Se mudar...
- Decidi libertar Peter. – disse, sorrindo. demorou um segundo até entender a frase, e então pôde finalmente respirar aliviada, sorrindo também. Ele não havia esquecido. Não era mentira.
E ele não abandonaria o Ministério.
Seu sorriso aumentou alguns centímetros com o pensamento. Eva e Franz resfolegaram surpresos.
- Como?
- Franz, o homem está aqui desde que nasceu. Vive num quarto escuro sem condições alguma. – admitiu, surpreendendo até mesmo . – Sei que pode ser tarde, mas não o bastante. Ele tem o quê? Cinquenta e oito anos? O que homens de cinquenta e oito anos fazem por aí?! Ora, muita coisa! E, me diga, por que esse homem está aí mesmo? Oh, sim. Por que quando invadiram a Casa Branca encontraram o recém-nascido lá e sentiram pena de mata-lo. Era muito melhor deixá-lo passar a vida inteira sozinho, sem ao menos poder ir à esquina. – disse, sarcástico. mordeu o lábio, emocionada. Ele não podia dizer palavras mais apropriadas. – A lógica disso eu não sei. – deu os ombros. – E não me olhem desse jeito, porque eu continuo sendo o mesmo . Só acho perca de tempo e crueldade demais segurar o homem aqui pelos anos que ainda lhe restam. Não é porque eu sou um que sou iceberg. – olhou brevemente para , que engoliu a seco. – Enfim, acho que os motivos para libertá-lo nem deveriam ser citados, de tão óbvios. Mas é isso. Estou decidido.
- , libertá-lo seria como matá-lo. Ele não saberia viver um só dia aí fora. – Eva disse, surpreendendo .
- Então você está dizendo que é melhor mantê-lo em cárcere privado até que a morte bata a sua porta, Eva? – a garota disse, irritada.
- Não, querida. Não estou falando nesse sentido, mas você não entende. O mundo é muito perigoso, ainda mais para quem nunca o conheceu de verdade... Imagine só: ele se deparar lá fora, completamente sozinho, sem saber ao menos como ir a um supermercado para comprar alimentos. E isso é o mínimo!
- Eva, me desculpe, mas você jamais falou tanta asneira em toda a vida, sem dúvida. – abriu os lábios, enquanto segurava uma risada. Franz iria intervir, mas a garota continuou. – Sei que você é uma das melhores psiquiatras do mundo, entende a cabeça do ser humano mais do que ninguém, mas nisso você está absurdamente errada. Acredite em mim, instinto de sobrevivência é tudo. E, além do mais, ele não é burro e nem um homem das cavernas. Pode nunca ter andado por aí, mas sabe mais até do que eu. E como se não fosse o suficiente, podemos... Vocês podem – se corrigiu – ajudá-lo com algumas aulas. Pagarem o aluguel de alguma casa para ele... – disse, em dúvida, enquanto olhava para . Ele cruzou os braços, esperando que ela continuasse. – Mostrar como ir e se virar em um supermercado. Um hospital. Ligar aparelhos domésticos e voilá! – sorriu, orgulhosa de si mesma. – Devolveram a vida de alguém.
- Nós podemos fazer isso. – disse, aproximando-se da garota. – E, contudo, temos a ajuda da internet. Um clique e tudo está à sua disposição!
- Internet? – questionou, sentindo-se a pessoa mais desinformada e burra do mundo. Talvez fosse. Com o olhar que recebeu de então, teve certeza.
- Oh, meu Deus, você não sabe o que é internet?
sorriu quase com vontade de chorar para a garota; que negou envergonhadamente e ele quis abraça-la com toda a força que tinha no corpo. Se há minutos, discutindo com Eva, ela parecia uma mulher cheia de propriedade e autoridade, agora ela parecia uma garotinha indefesa e inocente. Ele mordeu o lábio, segurando-se para não agarrá-la naquele mesmo minuto. Céus, como sentia vontade daquilo. Como sentia vontade de lhe mostrar o mundo.
- Internet surgiu na década de 60, . – Franz interviu. E o rapaz agradeceu mentalmente, pois não seria capaz de dizer nada além de ficar encarando-a. E não se importava se ela estava incomodada com isso ou não. – E, bem, você já falou com sua avó sobre isso?
A palavra mágica soou e enrijeceu-se, voltando a olhar para o homem. bufou, caminhando até a mesa próxima e sentando-se na cadeira.
- Ainda não. Mas acredito que não tenha nenhum problema. Ela nunca sequer o citou. Não faz parte da... História. – disse baixo, claramente incomodado. – E se não se importarem, eu prefiro não comentar.
- Claro. – Franz disse. – Você não pareceu tão surpresa com a notícia, . – virou-se para a garota, que olhou para rapidamente, sem saber o que dizer.
- Ela já sabia. – respondeu e ela agradeceu mentalmente, suspirando aliviada. – Era ela a maior interessada, não era? – deu os ombros, dando ênfase na obviedade daquilo.
- Eu posso acompanhá-lo nos primeiros dias fora daqui, na parte psicológica e emocional. Sair da zona de “conforto”, com o perdão da palavra, não é fácil, ainda mais em seu caso.
- Isso quer dizer que você concorda, Eva?! – sorriu animada, levantando-se e indo até a amiga. A mulher assentiu, rindo. – Oh, obrigada! – a abraçou de surpresa. e Franz se entreolharam, sorrindo fraco.
- Agora que já está tudo decidido, acho que terminamos por hoje. Amanhã retomamos com os testes da Ironm4x, tudo bem? – se referiu a , que assentiu, ainda abraçava Eva de lado. – Aproveitem que estão como siamesas e já podem se retirar, quero conversar com .
- Quer? – o rapaz franziu o cenho.
- Quero.
- Oh-oh. – riu, puxando Eva. – Até amanhã, senhores. – fingiu um cumprimento, enquanto erguia levemente uma saia imaginaria. Eles riram e as mulheres saíram, conversando.
- Sua avó nem desconfia, não é? – Franz foi direto ao ponto, e sentou-se, entediado.
- Já disse que não, Peter não...
- Não estou me referindo a isso, garoto. – suspirou cansado, sentando-se na cadeira ao seu lado. – Digo sobre você e .
- Eu e ? Não estou entendendo. – pareceu desconfortável, enquanto pigarreava e desviava o olhar. Tinha que aprender a mentir melhor, com certeza.
- Você não quer enganar um senhor de sessenta e tantos anos, não é? – riu fraco, vendo o rapaz encarar o armário ao seu lado como se aquela fosse a coisa mais interessante que já vira. No momento, realmente era. – Seu avô não a prendeu aqui para que o neto se apaixonasse e...
- O que é agora? Eu não estou apaixonado! – disse, irritado, voltando a olhar para o mais velho.
- Isso é muito importante para a sua família, . Eu ainda era uma criança quando a guerra começou, mas sei bem o que todos passaram. Sei o quanto sua fa...
- Me desculpe, Franz. Mas acho que minha vida pessoal só diz respeito a mim mesmo.
- Não há duvidas disso, . – ergueu as mãos, em rendição. – Só acho que... Há muitas mulheres por aí que atravessariam o pacífico nadando para ter algo com você, rapaz. Eu gosto muito de , não me entenda mal. Mas... É sobre você. Sobre o que ela representa para sua família.
- Franz, eu já sou maior de idade e tenho plena consciência das minhas atitudes. Sei que está querendo ajudar, mas... Dispenso. Obrigado, de verdade. E, além do mais, isso não vai dar em nada. É atração, só. – mentiu, esperando que o mais velho acreditasse. Pelo sorriso que o outro deu, era óbvio que não havia. Aprender a mentir, com certeza.
- Ela é uma bela garota. – sorriu, e soube que a situação já estava de certa forma contornada.
- É, não é? – riu, olhando para a mesa a sua frente. – A maldita é bonita como o inferno. – balançou a cabeça em negação. Ou como o céu.
- O disse tudo isso mesmo?! – Peter perguntou, com incredulidade. – O que você fez com ele, ?
- Oi? – riu, balançando a cabeça.
- Você o transformou em outra pessoa! Ele é um ! Jamais tomaria uma decisão como essa, sozinho.
- Nunca pensei em dizer isso, mas... Um sobrenome não determina sua personalidade. Talvez não seja tão ruim quanto demonstrava ser.
- Será mesmo? – entortou o lábio, contrariado.
- Está sendo mal-agradecido dizendo essas coisas, Peter. Ele está te libertando! Até meio que discutiu com todos hoje na intenção de convencê-los a aceitar isso, não que precisasse, já que ele é o herdeiro de tudo isso, mas... – cruzou os braços, repreendendo-o.
- Tudo bem, você está certa. Desculpe. – deu os ombros, esticando as pernas. – Só é difícil... Você sabe, aceitar bondade vindo de um .
- Também foi difícil pra mim. Mas não vamos reclamar, não é? Em time que está ganhando, não se mexe. – sorriu, e, viu a porta se abrir. – Joshua! – sorriu cordialmente. – O que houve?
- está te chamando.
- Eu? Por quê? Fiz algo? – levantou-se, preocupada.
- Isso você terá de perguntar a ele, mas acredito que não. – sorriu, colocando as mãos para trás e dando espaço para que ela passasse. Cumprimentou Peter com um aceno de cabeça e saiu, fechando a porta. – Suas visitas ao estão ficando frequentes... – disse sem pretensão, caminhando ao seu lado. – E que eu saiba, nenhum dos dois foi parar na enfermaria ainda.
- Ora, Josh! - riu, balançando a cabeça em negação. – Falando assim até parece que somos duas crianças de quatro anos que precisam da vigilância dos professores para não se morderem, ou enfiarem o lápis de cor um no outro do outro. – abanou o ar, ainda sorrindo.
- Era quase isso, não era? Com exceção das mordidas, eu acho. E dos lápis, creio eu. – insistiu e não aguentou, somente assentiu, dando uma boa gargalhada.
- Talvez só estejamos mais acostumados com a presença um do outro! Se isso não acontecesse em quatro meses de convivência diária, pelo amor de Deus...! – fingiu indignação, vendo o amigo assentir. – E a sua filhinha, como está?
- Oh, está ótima. Hoje mesmo estava mais saltitante do que sempre! – contou com certa adoração, e achou aquilo extremamente fofo. – Disse que na escolinha estava preparando uma surpresa para mim e para a mãe, à noite irá nos mostrar.
- Que coisa mais gostosa! – sorriu carinhosa. – Não deixe de me contar amanhã qual foi a surpresa. – avisou, já vendo a porta da sala de se aproximar. Ela cruzou os braços, tentando espantar o nervosismo que aquilo lhe causava.
- É claro. Só me lembrar! Aliás, gostaria muito que um dia você a conhecesse. – arregalou os olhos levemente e voltou a encarar Joshua. – O que foi? Você não quer? – riu, confuso de sua reação.
- Oh, não. É claro que quero! – sorriu, ainda surpresa. – É só que... Achei que nunca mais fosse ver alguma criança ou sei lá. E é uma honra saber que você queira que eu conheça sua filha. Mesmo.
- Por que uma honra? Ora, você se tornou uma amiga! Agora só temos que arrumar um jeito para que a conheça, será que deixaria?
- Deixará. – afirmou, sorrindo confiante. – E obrigada, você se tornou um grande amigo também, Josh! – o abraçou de lado. O rapaz riu, não esperava tal gesto, mas logo retribuiu.
- Está entregue. – disse, assim que pararam em frente à porta de . lhe sorriu agradecida e colocou a mão na maçaneta, girando-a devagar.
E, droga, por que ela tinha que ficar tão nervosa para vê-lo? Seu coração palpitou ao abrir a porta por completo e encontra-lo concentrado, olhando para o notebook. Ela engoliu a seco, fechando a porta atrás de si e caminhando devagar até a cadeira, sentando-se.
- Só um minuto. – pediu, ainda sem olhá-la. Ela mordeu o lábio, desconfortável. Como prometido, alguns segundos se passaram e o rapaz virou o rosto para encará-la. – Oi. – sorriu maroto e foi incapaz de segurar o sorriso, também.
- Oi! – exclamou, rindo. continuava encarando-a, e ela não soube descrever de qual modo. Parecia inocente como uma criança, mas no fundo dos olhos mostrava-se malicioso como um homem. Era encantador e sensual ao mesmo tempo. Engraçado, e enigmático. A garota desviou o olhar, passando a encarar a janela ao lado do homem. Parecia mais seguro.
- Você não me contou como Peter reagiu... – disse, finalmente quebrando o silêncio desconcertante.
- Ele não acreditou! – riu, soltando todo o fôlego que estava preso em seus pulmões desde que entrara na sala. Pelo menos aquele assunto era seguro. – Está em estado catatônico até agora, devo frisar. – sorriu, sentando-se mais confortavelmente na cadeira. – Acho que só acreditará de fato, quando ouvir da sua própria boca.
- Vamos providenciar isso em breve, então. – sorriu abertamente, apoiando os antebraços na mesa. – Você realmente acha que isso funcionará?
- Bom, ... – suspirou, sentindo a tensão pesar sob seus ombros. – Sinceramente, acredito. Não deve ser tão difícil viver aí fora, não é?! – afirmou, mas soou mais como um questionamento, e soube que ela não se referia somente a Peter.
- Essa é uma pergunta que eu não saberia responder, . – riu, e ela sentiu que poderia derreter naquele mesmo segundo. Quão maravilhosa era sua risada e suas covinhas? – Vivo aqui desde que nasci, é tudo excepcionalmente normal pra mim. Mas... Ora, ele sabe falar, conversar, interagir... E, o mais importante: tem muita vontade de descobrir o mundo lá fora. Acho que isso e algumas horas e dias de treinamentos serão o suficiente.
- Espero de todo o meu coração que sim! É muito importante, muito mesmo.
- E como você está se sentindo sobre isso? Quer dizer, ele é seu melhor amigo aqui dentro...
- Eu não poderia estar mais feliz. – disse decidida, mais sincera do que jamais fora. – Vê-lo fora daqui é o meu maior desejo. Vê-lo viver... Sair por aí, conhecer novas pessoas, construir relacionamentos, ter a vida que sempre imaginou existir, mas não passava de um sonho impossível. – sorriu, por fim, pensando no futuro. – Saber que, de certa forma, fiz o que sua mãe faria e não pôde... – engoliu em seco, mordendo o lábio e respirando fundo. Aquele assunto era sempre dolorido. – É mais do que eu poderia imaginar.
- Tento imaginar como estaria me sentindo se estivesse no lugar dele... Eu beijaria esse tal de que me libertou, sem pensar duas vezes! Que se dane minha heterossexualidade! – disse brincalhão e gargalhou, jogando a cabeça para trás e batendo palmas. somente riu baixo, observando-a. Gostava de vê-la rir... E gostava ainda mais de ser o motivo de sua risada.
- Veja bem, eu não sei qual é sua opção sexual já que ele passou a vida toda trancafiado aqui – se referiu a Peter –, mas posso tentar arranjar algo, se essa for sua vontade, ! – entrou na brincadeira, o vendo rolar os olhos e rir. Ela não deixou de voltar a gargalhar, também.
- Dispenso, obrigado. – abanou o ar, ainda ouvindo a risada da garota. – ? – chamou. Ela lhe deu atenção, somente sorrindo. – É tão ruim assim estar aqui? – a pegou de surpresa, e ela fechou o sorriso. – Digo, para seu maior desejo ser querer tirá-lo daqui... – umedeceu os lábios, adotando uma postura mais séria. - É realmente o castigo que meu avô planejou para lhe dar, em 57? É tão terrível quanto ele esperava que fosse?
voltou a sentir a tensão sob os ombros, como se um elefante caísse sobre suas costas. Ela respirou fundo algumas vezes, sem encarar nos olhos. Era uma pergunta realmente difícil, e a garota não sabia como e nem o que responder. No começo, de fato, era, não era? O inferno sob a terra. As paredes escuras dos corredores que antecediam seu "quarto" eram assombrosas como um filme de terror. O tratamento que tinha era pior do que um Serial-Killer condenado a prisão perpétua. Ela odiava aquele lugar com todas as suas forças, e desejava estar o mais longe possível dali quanto antes. Cada segundo a mais ali, era como veneno injetado em suas veias. Tudo parecia mórbido. Tudo parecia sem vida... Triste. Desesperador. Depressivo.
continuava encarando-a, apreensivo, curioso talvez... E ela não teve como segurar um repuxar de lábios, como um meio sorriso.
Era ele.
Por sua causa, tudo havia mudado.
Bom, Peter, Eva, Franz e Joshua ajudavam, mas ...
Aquele lugar já não mais parecia o inferno, ou sabe-se lá mais o quê. Os dias já não eram mais tão difíceis, não quando ele aparecia com seu jeito sarcástico e ao mesmo tempo engraçado. Suas gracinhas fora de hora e piadas equivocadas já faziam parte de sua rotina, e ela não a mudaria. Não mais.
O mesmo sorriso que aparecera em seu rosto há pouquíssimos segundos, apareceu no rosto de também.
fechou os olhos e suspirou, tentando afastar o turbilhão de sentimentos que aquele simples gesto de lhe causava.
- Yan ficaria um pouco decepcionado. – foi a única coisa que disse, e isso bastou para que o sorriso de se alargasse de uma orelha à outra. sentiu o coração acelerar mais algumas oitavas e cerrou os punhos, segurando a vontade de dar a volta na mesa e abraça-lo. Ele parecia tão feliz. Tão... Inocente. Ele estava feliz por ela estar bem ali, então? Oh, Deus.
- Mas você ainda sente vontade de sair daqui, certo?
umedeceu os lábios antes de respondê-lo, aproveitou para respirar fundo; ganhando tempo.
- Passar o resto da minha vida aqui, atrás desses enormes muros não é meu projeto de vida, . Nunca foi, e acho que nunca será. – deu os ombros, desenhando círculos imaginários na mesa de mármore. – Assim como eu desejo que Peter saia, também desejaria a minha liberdade. Mas não é assim... – piscou pesadamente, erguendo o olhar. – Minha chance já passou. Há cinquenta e oito anos, na verdade, ela se foi... A chance de ter uma vida normal, trabalhar, me casar, formar uma família, envelhecer como qualquer mulher, esgotou. Isso não irá acontecer, estou fadada a continuar aqui até que meu cronômetro biológico zere. – sorriu sem vida, encarando os olhos atentos de . – No entanto, estou contente por ter ajudado Peter a fazer tudo isso. E, bem, eu prometi que estaria satisfeita em trocar minha liberdade pela dele, e eu cumpro o que prometo.
- Ser um é mais difícil do que você imagina, . – disse, batucando os dedos na mesa. Ele bufou, escorregando o corpo alguns centímetros, sentando-se mais relaxado. estalou os lábios, contrariada.
- Eu fui a filha do presidente dos Estados Unidos. – deu os ombros. Ela sabia mais do que qualquer um como era carregar algum título ou responsabilidade.
- Oh, é verdade. Temos a queridinha da América aqui em minha frente, como pude esquecer? – disse, sorrindo. Não era irônico como se quisesse diminuí-la, mas sim, brincar. A garota balançou a cabeça afirmativamente, sorrindo engraçada. – Como foi ser a filha do presidente, ? – questionou, curioso. No entanto, não foi a pergunta que chamou sua atenção, mas como ele havia dito seu nome. Seu nome dito por sua voz havia causado um grande rebuliço em seu interior. Soava tão bem.
- Difícil. – disse, quando finalmente foi capaz de sair do transe anterior. – Eu ainda era muito nova quando ele foi eleito pela primeira vez. Tinha acabado de fazer 15 anos, estava numa época onde só queria paz para encontrar a verdadeira eu dentro de mim. – riu do quão louco aquilo soava e a acompanhou. – Você sabe, a adolescência é um caos! – rolou os olhos, exagerada. – E só porque queria o contrário, todos os holofotes se voltaram para a filha do novo presidente. A adolescente em formação que só queria ter uma vida como a das amigas.
- Então quer dizer que os repórteres eram seus melhores amigos? – ironizou, com a cabeça levemente apoiada na mão, que estava atrás da cabeça.
- Oh, e como! – riu, entendendo o sarcasmo do outro. – Não te perseguem também, não?
- Não... O neto de Yan não é tão importante quando se tem Lindsay Lohan por aí, a cada minuto dando um novo escândalo.
- Lindsay Lohan?
- Uma atriz. – sorriu, explicando. – Acho que devemos ter aulas de assuntos atuais com a senhorita também, sim?
- Acho que seria mais do que apropriado. – disse e o encarou; sorriu tímida, ao ver que não desgrudava os olhos dela por nada, sequer dizia uma palavra. – Há algo errado? – desviou o olhar, passando a encarar as próprias mãos em seu colo.
- Você... Você é toda errada, .
- Eu? – sussurrou, talvez esganiçada demais. Ela virou o rosto, novamente o olhando. – Por quê?!
- Ora - riu fraco, dando os ombros e indo um pouco mais para frente com a cadeira. Apoiou os cotovelos na mesa, observando cada centímetro de seu rosto. – A começar pelo ano que nasceu. Você sempre foi evoluída demais para ter nascido na década de 50. Já parou para pensar que talvez tudo isso tenha acontecido com um propósito?
- O que te faz pensar isso? – engoliu a seco, balançando os pés timidamente abaixo da mesa.
- Nascer na época errada ou isso ter um propósito?
- Ambos.
- Ambos se encaixam, . Vai me dizer que todas as garotas daquelas épocas tinham tanta personalidade quanto você? Quantas diriam uma frase daquela para o presidente da Alemanha, e ainda ergueria o dedo do meio para dar o toque final? – sorriu engraçado e a garota foi incapaz de não sorrir também, mas ainda olhando para suas mãos. – E não só isso... Mas acredito que a Ironm4x não tenha sido capaz de mudar sua personalidade e pensamentos, não é? E, bem, se você já era assim nos anos 50... – gesticulou com as mãos, ouvindo-a rir. – Você é mais irreverente do que todas as mulheres que já conheci. Não tem medo de se mostrar ou dizer o que tem que ser dito.
- E você acha isso bom? – disse, suspirando. Adam sempre a repreendia por ser daquela forma, dizia que não era digno de alguma mulher falar coisas como aquelas.
- Você acha que não é?! – exclamou, com incredulidade. – , isso é ótimo. – sorriu, por fim. – Essa é uma das melhores qualidades que alguém pode ter: lutar pelos seus ideais. Nossos ancestrais e, principalmente, as mulheres não batalharam tanto por direitos iguais para que não levem adiante esse conceito.
- Você é mesmo aquele cara que estava aqui quando eu acordei da Ironm4x? – mudou de assunto, rindo. sorriu e... Ele estava envergonhado? Aquelas bochechas levemente rosadas diziam isso, não era? O olhar desviado também, não era? Sim. havia sorrido sem graça. – Está com vergonha, ? – ergueu uma sobrancelha, fingindo ameaça-lo.
- Dizem que em situações difíceis, precisamos tomar atitudes difíceis, não é? – sorriu de lado, batucando nervosamente os dedos na mesa.
- Me mandar para Zimmerman não pareceu ser tão difícil para você... – Disse de repente, antes que passasse por seu filtro de pensamento. Suspirou, fechando o sorriso. Nunca havia tocado naquele assunto com ele, e agora que tocara, parecera ainda pior. Queria ter voltado alguns segundos atrás e não dito aquela frase.
- Você é uma pessoa difícil, garota. – riu sem humor. “Vamos, , você consegue. Pedir desculpas, lembra-se? Você consegue. Não deve ser tão difícil. Vamos. Pedir desculpas pela primeira vez na vida, seja digno.” – De... Hm. - bufou, rolando os olhos, irritado consigo mesmo. – Já passou. – deu os ombros, frustrado.
- Está desculpado. – sorriu fraco, levantando-se.
- Aonde vai?
- Dormir. Já está tarde e foi um dia longo. – virou-se de costas, ouvindo murmurar algo. No entanto, ele não falou nada. Contudo, ao tocar na maçaneta da porta, ouviu clara e suficientemente.
- Desculpa.
mordeu o lábio, ainda de costas, e sorriu caladamente. Seu coração se aqueceu de uma forma que ela não soube como explicar ou sequer controlar. Ao ouvir o suspiro resignado de , ela virou os calcanhares, encarando-o de novo. Ele a olhava tímido, confuso, talvez não soubesse o que fazer. Ótimo, pois ela também não sabia.
entreabriu os lábios algumas vezes, na intenção de dizer algo, no entanto, nenhuma palavra era proferida através destes. vasculhava cada centímetro de seu próprio cérebro, tentando encontrar as palavras certas. Contudo, não era surpresa não encontrar também. “- Eu devo dizer algo agora? Porque, sinceramente, eu não saberia o quê.
- Sabe, – umedeceu os lábios, colocando a mão direita no capô do carro, apoiando-se – em 1957 eu não sei. Mas, atualmente, quando se faltam as palavras... Há outra forma de se expressar. – se aproximou enquanto dizia, parando a milímetros de seu rosto.”
Oh, sim. Aquela seria uma ótima saída, e como queria tomar o rosto do homem em suas mãos e beijá-lo até segunda ordem. Beijá-lo como jamais havia beijado homem nenhum. Beijá-lo longa e... apaixonadamente.
Seus devaneios foram interrompidos pela frase que lhe falara, alertando-a:
- Você me desculpa, ?
Disse novamente, agora ela pôde ouvir e ver seus lábios se movimentando enquanto a frase se formava através de sua voz. O rosto estava trincado, assim com a pose parecia que agora era ele quem estava com um elefante imaginário sobre os ombros. A feição implorava que ela dissesse pelo menos algo, ou esboçasse um mínimo sorriso e foi o que ela fez, sem pestanejar.
- Já passou, não? Está tudo bem. Desculpado!
- Mas eu...
E antes que ele terminasse o raciocínio, ambos ouviram uma música alta soar. logo a reconheceu e olhou em volta, procurando de onde vinha o barulho desconcertante.
- É o meu celular. – bufou por ter sido interrompido.
- E você não vai atender?
- Não deve ser nada importante... E nós estamos conversando agora. – tirou o celular do bolso, colocando-o sobre a mesa, sem olhar no visor.
- Se não fosse importante não ligariam. – riu, gesticulando para o aparelho. – Eu espero.
deu os ombros, convencendo-se de que não ganharia naquela pequena discussão. Estendeu o dedo indicador, pedindo por um minuto e ela assentiu, cruzando os braços.
- Alô?
- Finalmente! Achei que nunca mais fosse ouvir sua voz de novo. – a pessoa do outro lado da linha sorriu e pôde ouvir. Era Kyara.
- Kyara, não é uma boa hora agora. – disse, e acompanhou o olhar de sobre si.
- E quando será, ?! – bufou frustrada. – Quando é uma boa hora para mim? Meses atrás toda hora era, todo minuto era. Foi só essa... Tal de aparecer para você me esquecer. Até o nome dela você disse quando eu estava te...
- Kyara! – repreendeu, com medo que ouvisse. – Isso não é assunto para falar por telefone. – massageou as têmporas, cansado de toda aquela ladainha. colocou os braços para trás, encarando o teto como se fosse aquele fosse um ótimo passatempo. Observar tetos, puff. Há coisa melhor?
- Então, quando? Pessoalmente?! – a mulher riu sarcástica. – Ora, por favor, . Nós dois sabemos que você não vai me procurar!
- Hoje, Kyara. Em uma hora passo no seu apartamento, até. – desligou, sem ouvir o que a mulher diria.
continuava encarando o teto, mas já não parecia tão mais suave quanto antes. Ela mordia o lábio nervosamente e batucava os dedos no próprio braço. Aquilo parecia uma discussão de casal.
- Sabe, – disse seca, ainda encarando o teto –, eu estava errada. – sorriu sarcástica, abaixando o olhar para encará-lo. – Ficar aqui é uma merda. – sua feição fechou-se novamente e ela saiu, sem esperar a resposta de . A porta bateu com força e o rapaz entreabriu os lábios, surpreso.
Entretanto, ao fechar os lábios, um sorriso apareceu. Ela estava com ciúmes.
Aquilo era ciúme, não era? Devia ser. Tinha que ser.
Ele riu, olhando para a tela do celular. “Isso não é assunto para se falar por telefone. Em uma hora passo em seu apartamento”. Lembrou-se da conversa que teve com Kyara e uma risada escapou por seus lábios. estava com ciúmes!
Uma ceninha de ciúmes de .
E ele gostava disso.
Gostava absurdamente.
prendeu o lábio inferior entre os dentes e encostou a cabeça no estofado de sua cadeira, encarando o mesmo teto que a garota encarara há alguns minutos.
Onde estava se metendo, afinal? Ele não fazia ideia, mas gostaria de pagar para ver. Deveria valer a pena, não?
O sorriso tímido de veio à sua cabeça, assim como a gargalhada que dera em sua conversa.
Já havia valido a pena.
- Esqueça o que eu disse sobre ! – entrou em seu quarto e bateu a porta com a mesma intensidade que havia feito com a da sala de . Peter arregalou os olhos, assustado com o barulho da porta e com seu tom raivoso. – Eu o odeio! Ele é um babaca, mentiroso, filho da mãe. – rosnou, andando de um lado para o outro.
- O que aconteceu? Ele te fez algo?
- Ele mentiu para mim! – disse, mais incrédula do que nunca.
- Ele não irá mais me soltar? – Peter disse, com certo pesar na voz. Já devia imaginar isso, não era?
- Não! Oh, não. – riu fraco, negando prontamente. – Não tem nada a ver com isso. – bufou, voltando a andar de um lado para o outro. – Ele está envolvido emocionalmente com alguém.
- Não sei se entendi direito, ...
- Ele. Está. Envolvido. Emocionalmente. Com. Alguém. – sibilou, entre os dentes. Oh, céus, ela podia estar mais brava do que estava àquela hora? era um mentiroso. E, por Deus, que fizessem tudo, menos que a enganassem.
- Isso eu entendi, só não entendo o porquê de você estar assim... – ele sabia. Sabia, mas precisava vê-la assumir.
- No dia do meu aniversário conversamos e eu achei – deu ênfase na palavra. – que tivéssemos sido francos um com o outro. Mas parece que não. Você conhece ou já ouviu falar de alguma Kyara?
- Kyara? Não. , do que você está falando? – sorriu fraco, ao vê-la bater a mão na testa repetidamente vezes.
- Ele está namorando! Ou noivo. Ou comprometido, não sei. Só sei que estava falando com uma Kyara – disse enojada. –, e irá ao seu apartamento depois para se resolverem. Babaca mentiroso.
- Que eu saiba, ele não tem ninguém, mas não seria uma surpresa eu não souber. – sorriu, vendo-a colocar as mãos na cintura, encarando a pequena janela. – E no que isso te diz respeito, ? – ela o olhou, engolindo a seco. – Se ele tem alguém ou não... O que isso muda para você?
- Detesto mentiras.
- Você está com ciúmes.
- O quê?! Não estou não. – riu irônica.
- Está sim.
- Não estou, não! Mas que merda, Peter. – bufou, passando a mão nos cabelos, irritada. – Eu só odeio mentiras, e você precisava ver... Nem questão de desmentir ele fez!
- Você deu tempo a ele para isso?
- Não. – admitiu, com o maxilar trincado. – Que se dane, também. Ele, Kyara, e toda essa porcaria de Ministério!
Quando se deu por si, já estava parado em frente ao apartamento de Kyara. Seria uma longa e cansativa conversa, ele tinha certeza. Ao tocar a campainha, não levou mais de um minuto para que a mulher abrisse a porta. O rapaz sorriu inevitavelmente ao vê-la usando somente uma camisola fina preta, que delineava suas curvas e, principalmente, seus seios. A ruiva sorriu de lado, parecendo perceber o que o outro estava pensando.
Ele quase esqueceu quão bonita a mulher era.
- Eu não deveria deixar você entrar, . – balançou a cabeça em negação, estalando o lábio.
- Se preferir, posso ir embora... – apontou para o elevador e a outra rolou os olhos, puxando-o pelo cós da calça. – Melhor assim. – sorriu descarado, já quase se esquecendo do motivo pelo qual foi até lá.
Qual havia sido mesmo?
- Não gosto do modo como está me esquecendo, ... Da última vez que nos vimos mesmo, você foi um imbecil. – deu os ombros, suspirando. Ela foi até o sofá e se sentou, apontando para que ele se sentasse ao seu lado. Ele o fez, suspirando cansado. Oh, sim, ele se lembrava agora.
- Eu não estava, e nem estou, em dias bons, Kyara.
- E me culpa por isso?!
- Não, de forma alguma. Só quero que entenda e não seja tão invasiva.
- Invasiva? Eu fui invasiva?! – riu, incrédula. – Você só pode estar de brincadeira! , você não se comunica comigo há dias, até semanas, e quer que eu faça o quê? Espere?!
- Eu sempre venho, não venho? – sorriu sincero, passando o braço pelo ombro dela.
- E quando você não vir mais? – mordeu o canto do lábio inferior, alisando uma das coxas do homem. – Quem sabe se aquela tal de não fez uma lavagem cerebral com você?
.
Ela tinha que se lembrar da garota, não tinha?
engoliu em seco, encarando o horizonte. O que ela devia estar fazendo agora? Ele daria tudo para saber.
- Eu não estou com ela.
- Realmente espero que não. Não seria nada agradável você me trocar por alguém que acabou de conhecer. – sorriu, erguendo o olhar para encontrar o dele. – Quem é a tal? É amiga do James?
- A conheço do Ministério. – disse a primeira coisa que veio em sua cabeça. Não deixava de ser verdade, de qualquer forma.
- Oh, ela trabalha lá? Te vê todos os dias?! Estou em clara desvantagem. – beijou o canto dos lábios dele que riu fraco, pensativo. – Você está estranho de novo. – murmurou, levantando-se um pouco e passando a sentar em seu colo, com uma perna de cada lado do seu quadril. – Ela não é um bom assunto?
assentiu.
- Como está no jornal?
- Tudo normal. Aliás! – sorriu animada, enlaçando os braços no pescoço de , que sorriu carinhosamente alisando sua cintura. – Talvez eu tenha que ir fazer uma entrevista com vocês do Ministério em alguns dias, tudo bem?
- Qual o assunto? – quis saber, franzindo o cenho.
- 59 anos da terceira Guerra Mundial, bebê. – lhe deu um selinho demorado. suspirou. Aquele assunto de novo? – Está tudo bem, não está? Por favor! – juntou as palmas da mão, como se fosse fazer uma oração. O homem assentiu, sorrindo. – Oba! – comemorou, dando pequenos pulinhos no colo dele, que mordeu o lábio, sorrindo malicioso. – Agora... – sussurrou, levando os lábios ao pescoço dele. – Que tal... Irmos para o quarto? – disse provocante, mordendo suavemente o local.
- Você jamais disse algo mais sensato. – sorriu malicioso, levantando-se com ela ainda em seu colo, as pernas envoltas ao seu quadril.
Seria mentira dizer que não havia gostado ou se satisfeito com a noite carnal com Kyara, mas também seria mentira dizer que não havia se lembrado de a cada hora.
Ao ouvir Kyara chegar ao ápice de seu prazer, fechou os olhos e imaginou se fosse a filha do presidente ali, em seus braços, gritando seu nome. Era inconsciente. Não podia se culpar de algo que não havia feito de propósito... Ora, ele ao menos queria aquilo. Mas era ela ali, era ... Primeiro estava séria e impassível como sempre, mas depois... Depois estava entregue. Seus lábios se curvaram num sorriso satisfeito, tranquilo, e, ao abrir os próprios olhos, não a encontrou. No lugar daquilo, viu a mesma cena mas com Kyara. Era Kyara ali em seus braços, com o sorriso satisfeito, com os cabelos vermelhos emaranhados no travesseiro.
Ah, aquilo estava ficando sério, não estava? Pensar em uma mulher enquanto transava com outra.
Pensar em enquanto transava com Kyara.
Oh, sim, aquilo era mais sério ainda.
A ruiva foi tomar banho e, novamente, havia voltado a tomar conta de seus pensamentos. Sua risada, seu beijo, seu sorriso, sua ceninha de ciúmes... E lá estava novamente, sorrindo como um retardado mental. Em parte, pela endorfina pós-sexo. E em maior parte ainda, pelos pensamentos com a garota.
- Ainda acordado? – Kyara disse, chamando sua atenção, enquanto saía do banheiro enrolada em uma toalha.
- Insônia. – sorriu fraco, apoiando a cabeça no braço.
- Que falta de sorte. Assim que cair na cama, não vou demorar dois minutos para dormir. – bocejou, colocando uma camisa larga. – Ah, não! Droga, você derramou coca-cola no meu tapete novinho?!
olhou brevemente e assentiu, rindo como uma criança que acaba de fazer alguma coisa errada.
- Depois compro outro, tudo bem?
- Não está tudo bem! – bufou, indo até o banheiro e pegando um pano de chão. – Era uma peça única, . – passou a mão na testa, observando a sujeira. – Mas que droga! – sentou-se na cama. rolou os olhos e virou-se de costas. Quatro horas com Kyara era o suficiente. – Você vai dormir? Sério? Passou a insônia?! Ah, que ótimo! – cruzou os braços, jogando o pano longe. – Meu tapete novinho...!
E, como se a reclamação fosse uma canção de ninar, adormeceu mais rápido que imaginara.
Klaus repetia as instruções pela décima vez e só fazia assentir veemente. Ela já sabia aquele discurso de cor e salteado. Sim Klaus, ela já sabia toda a história de seu país. Sabia antes de ser parte do experimento maluco Ironm4x. E não, aquilo não funcionaria para rever seus conhecimentos. Será que ninguém podia entender que a máquina havia realmente funcionado? Não havia corridas, jogos de raciocínios ou testes que a fizessem envelhecer-se ou que sua cabeça parasse de vez de funcionar. Ela ainda tinha os neurônios tão jovens quanto aos dos anos 50.
- O antecessor de John , na presidência dos Estados Unidos?
- Harry S. Truman. – rolou os olhos, entediada.
No entanto, não era isso que a intrigava. Antes fosse. Mas não... Já faziam duas horas desde que ela havia acordado e estava na sala de Klaus. Todavia Franz, Eva e Anette haviam ido cumprimenta-la mais cedo. Só não ele. Só não .
Ele ainda não havia chegado ao Ministério.
Pela primeira vez nesses quatro meses desde que acordara, havia, realmente, se atrasado.
Seu sangue ferveu em pensar qual o motivo do feito, no entanto, se controlou cerrando os punhos embaixo da mesa. Klaus continuava a falar sem parar e ela estava a ponto de erguer uma das mãos para socar seu nariz.
- Além de Elvis, quem eram os mediadores do rock em 50?
- Bill Halley, Chubby Cheker e Chuck Berry... Oh! Chuck Berry ainda é vivo? – questionou, parecendo lembrar-se.
- Está, sim. – Klaus sorriu e a garota o acompanhou, aliviando mais a tensão das costas. - Tudo parece...
A porta abriu depressa e levou a mão ao peito, no susto. Sua feição logo se transformou ao ver quem era, no entanto, não foi o sorriso leve que estava acostumada a dar ao vê-lo. Contudo, o rapaz parecia muito contente. Contente até demais. Era obsceno o sorriso que carregava nos lábios, na verdade. Os cabelos estavam molhados, alertando que havia tomado banho à pouco. Com ela, pensou. Aquilo fisgou seu peito de uma forma que nem a própria soube explicar. Seus lábios apertaram-se numa linha fina, medindo-o de cima abaixo, buscando por mais evidências de Kyara. Um pequeno círculo arroxeado no pescoço de bastou para que ela encontrasse o que (não) procurava. Que bom que tinham feito as pazes, então.
Que esquecessem o que ela havia dito há alguns dias. Ela não estava apaixonada por , ao menos gostava dele. Ela sentia raiva. Estava próxima ao ódio, se fosse ser sincera consigo mesma. Tudo bem, ela podia admitir que sentia talvez um pouco de... Daquilo. Ci... Ciúm... Bom, ela sentia. Mas havia muito mais envolvido. Hoje era um dia importante e ele havia simplesmente se esquecido. estava irritada, e precisava quebrar algo antes que quebrasse a pessoa à sua frente.
Ela engoliu a seco, sentindo a boca secar e virou o rosto, encarando uma paisagem imaginária através da janela.
- Não foi tanto atraso assim, foi? – entortou os lábios, olhando para Klaus. Por que ela não estava o encarando? – Bom dia para você também, . – riu, esperando uma resposta malcriada que fosse, no entanto, ela não veio. Nenhum olhar feio, nenhum xingamento, nem sequer o dedo do meio erguido em sua direção. Nada.
- Não quero nem ver quando Franz te encontrar! – Klaus disse. – Hoje era o dia dos exames de , . Já faz 15 dias desde o último.
O rapaz entreabriu os lábios e fechou os olhos apertadamente. Ele devia ter se lembrado. Era o seu trabalho, a sua responsabilidade.
- Você não está mais em jejum, ? – questionou, esperando sua resposta. Nada, novamente. Era como se não existisse ninguém ali. – Que merda acon...
- Chega atrasado e cheio de palavrões, ? – Franz disse, entrando pela porta. – Responsabilidades!
- Eu quase nunca chego atrasado, será que dá pra parar de tentar bancar meu pai? – bufou, já irritado. O silêncio de estava tirando-o do sério. Aquilo era ainda pior do que se ela estivesse tentando discutir ou xingá-lo. – Eu acabei perdendo a hora, estava mais longe e...
- Não me interessa sobre sua vida pessoal, . Trabalho é trabalho.
- Pelo menos você chegou, . – Eva sorriu, entrando também. Ela foi até , que se virou com um sorriso fraco e a abraçou. – Como está, querida?
A garota somente assentiu, com o mesmo sorriso sem vida nos lábios. Sentiu o olhar de sobre si e mordeu o lábio inferior, queria manda-lo para o inferno. Junto de Kyara.
Ah, merda. Ele havia passado uma noite inteira com ela? respirou fundo, contando mentalmente até dez. A quem queria enganar? Aquilo era ciúme. Oh, ela havia conseguido dizer a palavra finalmente.
E, cacete, como estava com ciúmes.
- Ela está bem, viram só? – disse, gesticulando exageradamente. – Podemos fazer estes malditos exames amanhã. Não vejo motivo pra tanto alarde!
- Admita que é um irresponsável rídiculo, .
A voz de soou mais alta do que deveria, e com a carga certa de frieza que planejava. Franz bufou, massageando as têmporas. Estavam de volta à realidade, afinal.
- Resolveu sair do voto de silêncio? – sorriu sarcástico. E, ora, daquele sorriso não sentia falta alguma. Apostava que ele não havia o dado para Kyara por nenhum minuto da noite anterior. Oh, não. Era melhor não lembrar-se dela, pela sua própria segurança e a do homem no canto da sala.
- Acho que tenho o direito de falar quando bem quiser, e do contrário, o mesmo. – ergueu o olhar, enquanto sentia a garganta secar novamente.
- Mas estavam tão bem... O que houve? – Eva disse, esperançosa.
- Estão assim desde que se viram hoje. – Klaus deu os ombros, levantando-se. – Vou tomar um café forte. – suspirou, caminhando até a porta e saindo.
- Não tenho culpa se ela resolveu pirar. – apontou para a própria cabeça, logo em seguida apontando para a garota.
- Eu?!
- Por Deus! – Eva deu um basta, praticamente num grito. – Será que temos que trancá-los numa sala sozinhos por dias à base de pão e água para finalmente se respeitarem, ao menos um pouco?
- Se quiser um de nós mortos, faça isso. Caso contrário, me mantenha o mais afastada possível desse aí.
- Oh, que medo. Não me deixem sozinho com ela, por favor. – ironizou, rolando os olhos.
- Já chega. – Franz suspirou, com o olhar baixo. – , vá dar uma volta no jardim. está dispensado. Pode voltar para onde estava e passar quanto tempo for necessário, desde que volte amanhã no horário.
trincou o maxilar e passou como um raio pela sala, mas não sem antes esbarrar no ombro de , fazendo-o cambalear.
- Babaca. – sussurrou, bufando mais do que uma chaminé.
Eva e Franz o encararam, esperando respostas. Contudo, somente deu os ombros, também não sabia o motivo.
Aquilo tudo não podia ser ciúmes, podia?
Vendo que não teriam respostas, os mais velhos saíram. Entretanto, Eva parou há metros da porta.
- Ela está acostumada a outros costumes, . – ele a encarou e a mulher tocou seu próprio pescoço. – Por mais avançada que sua mente seja, ela ainda é só uma garota do século XX. – sorriu fraco, colocando as mãos no bolso de seu jaleco e saindo, em silêncio.
suspirou, prendendo o lábio inferior entre os dentes enquanto passava as mãos pelo pescoço, sentindo um pequeno ardor.
Era ciúme.
Seria sádico dizer que estava gostando daquilo?
Meia hora já havia passado desde a tumultuada discussão na sala de Klaus. estava em sua sala, observando-a pela enorme janela, sentada no jardim do Ministério, analisando as pétalas de uma flor que havia encontrado. Mesmo distante, ele conseguia observar um suave sorriso em seu rosto como se aquela rosa fosse a coisa mais preciosa que já vira na vida.
Ele tinha a mesma impressão. E não era da flor que estava falando.
O sol bateu contra a janela, refletindo seu rosto, e ele engoliu em seco. Ia falar com , ela querendo ou não.
Mas, e se ela não estivesse com ciúmes? Se o motivo daquele nervosismo todo fosse outro? Afinal, eles não tinham nada. E, pelo que sabia, a mulher continuava a amar o noivo. Sua expressão se tornou carrancuda e ele respirou fundo. Deixe o orgulho de lado ao menos uma vez, .
E quando deu por si, já estava dando a volta no Ministério. A garota está mesmo destruindo todo o seu autocontrole, . Desmoronando suas barreiras e orgulho. Suas crenças e ideias. Ela está te fazendo mostrar o que estava ali, perdido, escondido como o mais obscuro dos segredos, no fundo de seu peito.
Assim que pisou na grama e procurou com os olhos, no entanto, seus pés pararam de se movimentar. Ela conversava animadamente com Brandon. Animadamente era a palavra.
Um sorriso sem vida se formou em seus lábios e ele ergueu o olhar, trincando o maxilar e cerrando os punhos. Tá com ciúminho, ?
Seu subconsciente falou e ele negou prontamente, balançando a cabeça repetidas vezes. Respirou fundo, e voltou a andar na direção da garota. A poucos metros, Brandon o avistou e ele fez questão de mandar seu melhor sorriso de “saia daí agora ou terá uma conversinha com Zimmerman”. O rapaz engoliu em seco, sorrindo fraco.
- Senhor . – cumprimentou, dando um passo para trás.
- Posso conversar com a , Ninmer? – colocou os braços para trás, sorrindo falsa docemente. continuava de costas, mas agora com as mãos na cintura. Brandon assentiu, abaixando a cabeça e saindo. sorriu ainda mais ao vê-lo assim, às vezes era bom ser o herdeiro de tudo aquilo.
- Não estou nem um pouquinho a fim de discutir de novo, . – virou-se para encará-lo, com os braços cruzados.
- Vim em paz. – fechou mais o sorriso. – Sabe, é a segunda vez em menos de quarenta e oito horas que direi isso, e acredite, eu não me lembro de tê-lo dito mais de uma vez em toda a vida... E, mesmo sem saber o porquê, eu peço desculpas.
ergueu uma das sobrancelhas, analisando suas feições. Parecia ser verdade. Um sorriso de lado tomou seus lábios, mas ela logo fez questão de desfazê-lo.
- Pra que perder seu tempo se desculpando comigo, quando deveria estar com a Kyara? – disse, dando ênfase no nome. – E, aliás, por que está se desculpando? – disse de uma vez, na intenção de corrigir a pergunta anterior. Filtrar pensamentos, garota.
teve que espremer os lábios para não sorrir abertamente, e então umedeceu os lábios:
- Kyara? Quem te disse o nome dela? E como assim eu deveria estar com ela? – arriscou, como se não soubesse do que ela falara. Ele cruzou os braços.
- Você disse ontem. – respondeu rápido. Rápido demais. – Não que eu tenha ouvido sua conversa no telefone, mas...
- Não foi sua intenção, eu sei. – sorriu, dando os ombros. – Mas, caso tenha ouvido, não sei... Era a Kyara, sim. E nós não estamos emocionalmente envolvidos. – sussurrou a última parte, como se fosse um segredo.
Ela parou por alguns segundos, ignorando as bochechas coradas.
- Eu... Eu não me importo. – gaguejou, e se amaldiçoou pelo feito.
- Não estou dizendo que se importa. – defendeu-se, com clara ironia. Ele ergueu as palmas das mãos, em rendição. – Só estou... Você sabe, esclarecendo as coisas.
- Quem é ela? – filtrar os pensamentos antes de saírem pela boca, maldita. Filtrar!
riu, balançando a cabeça enquanto fitava a grama em seus sapatos.
- Nessa você me pegou. É uma amiga, talvez. Uma boa amiga.
- Atualmente amigos significam o quê? Pode ter mudado... – suspirou, abaixando o olhar para os pés também.
- Amigos, são somente amigos. Bons amigos seriam... Amigos com benefícios.
- Vocês transam. – concluiu. voltou a rir e ela teve vontade de lhe dar outro tapa, um tão grande quanto o da primeira vez que o viu. E que se dane se ele a mandasse para Zimmerman.
- A pequena e inocente fala essas coisas? – brincou, mas ela se manteve séria.
Ele não havia a desmentido. Então era verdade. Ela conteve um suspiro irritado, e sentiu a necessidade de se manter mais... Mulher.
- O que te faz pensar que não, ? – abriu um sorriso de lado, com um tanto de malícia. Dessa vez quem fechou o sorriso foi . – Ou acha que nos anos 50 não existia sexo? – riu, parecendo debochada. – Vamos lá, você já foi mais esperto. – levou uma das mãos ao primeiro botão da farda do homem, brincando com ele, enquanto olhava para o mesmo.
engoliu em seco, sentindo o pomo-de-adão saltar.
- John não se orgulharia do que a filhinha está falando... – se recompôs, logo sorrindo de lado também.
- Eu nunca fui muito de orgulhar o papai. – ergueu o olhar, fitando seus olhos. – Sabe, ...
- ? – ergueu as sobrancelhas, surpreso. O sorriso se alargou e algo em seu peito lhe aqueceu. Era bom ouvir seu apelido através dos lábios dela.
- . – sorriu também, mas ainda tinha a sobrancelha erguida, maliciosamente. – É costume atualmente beijar uma num dia e no outro, transar com outra? – entreabriu os lábios para falar, mas ela continuou: – O segundo milênio é, definitivamente – levou a boca à orelha dele, sussurrando – mais divertido. – riu, saindo.
deveria ter sorrido, rido, ou qualquer coisa do tipo. Mas não, ele não fez nenhuma dessas opções. Por que ela achava aquilo divertido? Não deveria ser. Não em seu caso, pelo menos. Ou achava que podia fazer aquilo também? Não se tratava de machismo, mas sim de... Oh, ele não conseguia admitir.
Ela podia ter dito aquilo para provocá-lo também, não podia?
- ? – chamou, virando-se. Ela estava a poucos metros, e o olhou já não tinha mais a malícia de antes. – Amanhã é sexta. – a garota assentiu, esperando que ele continuasse. – Quer dar outro passeio?
entreabriu os lábios parecendo pensativa, mas logo sorriu abertamente.
- Quero, .
E foi aí que ele percebeu que amava ser chamado de , mas adorava ser chamado de .
A mulher saiu caminhando em passos rápidos, enquanto cruzava os braços na tentativa de aquecê-los do vento que soprava em sua direção.
a acompanhou com o olhar e ao vê-la entrar no Ministério novamente, notou que estava com um sorriso idiota plantado no rosto. O sorriso dos perdedores.
Ou seriam ganhadores?
- J, K, L, M... – ensinava Georgia, a nova contratada do Ministério. – É uma sequência, você vê, Peter? – sorriu para o homem, que assentiu prontamente. Ele mantinha as mãos cruzadas, em seu colo, como se sentisse medo ou... Vergonha.
, que estava longe, sorriu ao vê-lo prestar tanta atenção no que a professora dizia.
- Parece que ele está empenhado em aprender, não é?
A voz atrás de si lhe causou arrepios e ela fechou os olhos por alguns milésimos de segundo, inspirando fundo enquanto continuava sorrindo. Quando aquela sensação pararia?
- . – cumprimentou, olhando-o de soslaio. – Aprender a escrever é um grande passo. Como alguém pode já ter lido vários livros e não saber escrever? Oh, Deus. Eu mal acredito que isso está de fato acontecendo. – deu os ombros, segurando as mangas do moletom entre os dedos.
- Estou feliz por isso também. – sorriu.
virou o rosto, passando a encará-lo que ainda assistia Georgia e Peter. O sorriso continuava ali, e ela sentiu o coração acelerar, como de costume. Os olhos estavam repuxados justamente pelo sorriso, deixando-o ainda mais atraente. Percebendo que estava sendo observado, virou o rosto também, abaixando um pouco o olhar para encará-la. Ambos riram, e logo voltaram a olhar para frente.
- Qual será a próxima lição para ele?
- Culinária. – riu do quão absurdo aquilo soava. – Ele precisa aprender a se alimentar sozinho, não é?
- É claro! – riu também. – Quem sabe não temos um futuro aclamado chef de cozinha aqui em nossa frente?!
- Eu já não duvido mais de nada...
- É estranho não ter um dia de testes comigo, e assistir tudo isso com Peter.
- Está se sentindo trocada, ? – olhou-a, sorrindo de lado. – Com saudades, talvez?
A garota rolou os olhos, balançando a cabeça.
- Idiota. – sorriu. – É só diferente, parece que agora sou como vocês... Como se, de repente, trabalhasse aqui?! – disse, incerta.
- Nem pense em salário! – brincou, fazendo-a rir. Ele a acompanhou.
- Por enquanto, não.
- Isso mesmo, Peter. Eu, particularmente, aprecio a letra de mão, mas se você considerar mais fácil a de forma... – disse Georgia, a professora.
- Em livros só colocam a de forma. – deu os ombros, culpado.
- Faça com calma, Peter. – se aproximou, colocando as mãos em seus ombros. – É só o primeiro dia. – sorriu, piscando para o amigo.
- Exato. E acho que por hoje já chega, não é? Não devemos abusar de sua capacidade. – a professora sorriu, recolhendo seus cadernos. – Até amanhã, querido. – acenou, caminhando até a porta. a acompanhou até a saída.
- Estou tão orgulhosa! – sorriu, buscando as mãos do amigo e segurando-as. – Você aprende tão rápido!
- Estou tentando. – assentiu, com um sorriso tímido no rosto.
- E conseguirá.
- Sabe, ... Quando você me disse sobre o amor. Não o que um homem sente por uma mulher, mas o de amigo... Irmão. Eu acho que estou sentindo.
- É mesmo? – sorriu parcialmente emocionada, mordendo o canto do lábio inferior. – Por quem? – brincou, já sabendo a resposta.
- Por você, minha amiga. – suspirou, vendo-a fechar os olhos. – Desde que você chegou aqui, a minha vida... Começou. Eu sei que seu maior desejo era estar com seus amigos e sua família, lá nos anos 50, mas, por mais egoísta que seja: eu fico feliz por você estar aqui. Deus, eu estou feliz! Pela primeira vez na vida, eu sinto a felicidade. – exclamou, e sentiu as lágrimas começarem a se formar em seus olhos, embaçando-os. – Penso que se você tivesse ficado naquela época, eu estaria aqui do mesmo jeito e passaria assim o resto da minha vida. Mas não, você apareceu, e mudou todo o rumo que minha existência tomava. Tem sido muito mais do que uma amiga, mas uma irmã, uma mãe, uma filha... – umedeceu os lábios, engolindo a seco. – E por mais que digam que você foi a “vergonha” da América, eu não acredito nisto. Seu pai se orgulharia tanto! Você é boa. – a garota soltou as mãos dele delicadamente e levou as próprias ao rosto, tentando esconder as lágrimas que já rolavam por ele. – Eu não conheço muitas pessoas, mas tenho certeza de que você é a melhor delas. E tenho mais certeza ainda de que é melhor do que a maioria do que as que vivem aí fora, no mundo atrás dos muros do Ministério. Você pode não ter poupado a vida de inocentes em 57, mas salvou a minha. Me devolveu a vida. Eu te amo, .
E, num soluço, ela tirou as mãos do rosto descobrindo-o, e o abraçou com toda a força que tinha no corpo. Aquele fora o “eu te amo” mais sincero e puro que já havia ouvido em toda a vida. Peter havia lhe mostrado que havia algo bom em estar viva, em estar ali, exatamente naquela época. E, de repente, percebeu que o amava também. Havia se esquecido do que é amar, mas agora podia lembrar-se amar é cuidar, é proteger, é querer a felicidade da pessoa mais do que a própria, é acarinhar, brigar e lutar com todas as forças pela pessoa. É colocar as necessidades da pessoa acima das suas. É doar-se. Seja o amor afetivo, familiar, ou com amigos. Amar é, simplesmente, amar.
Ainda abraçada a Peter, ela abriu os olhos marejados e encontrou na porta, parado, com as mãos nos bolsos da calça como habitualmente, e, ao invés do sorriso debochado que achou que receberia, encontrou um leve sorriso tímido até então desconhecido. Era carinhoso, preocupado e... Emocionado.
Ela se afastou do amigo, sorrindo abertamente para ele. Peter observou que ela olhava por trás de seu ombro e virou o rosto também, no entanto, arregalou os olhos ao ver ali.
- Oh! O senhor está aí há quanto tempo?!
- “Você apareceu e mudou todo o rumo que a minha existência tomava.” – disse, olhando para . Ela juntou levemente as sobrancelhas, encarando-o. – Bem - pigarreou, desviando o olhar –, desde essa parte. Foram lindas palavras, Peter. Tem que ser muito grato a mesmo.
- Não tem nada. – rebateu, se recompondo e sorrindo, ainda olhando para o amigo. – Só são seus direitos, e eu fico muito lisonjeada de fazer parte da sua futura linda história. E eu te amo também.
Peter sorriu, assentindo e se levantando.
- Sabe, vocês dois... – pareceu se lembrar de algo, enquanto sorria. – Temos um corredor subterrâneo no Ministério com alguns quartos, e vocês mais do que ninguém sabem que aquele cubículo escuro que dormem não é apropriado, não é?
- Está querendo dizer o quê, ? – tentou segurar um sorriso.
- Acho que podemos providenciar dois quartos.
Peter arregalou os olhos novamente e olhou para , que sorria balançando a cabeça em negação, enquanto olhava para cima na tentativa de segurar as lágrimas frouxas.
- Meu Deus! Obrigado, senhor ! – riu animadamente, ainda meio descrente. – Eu nunca saí daquele lugar!
- Então fico mais contente ainda de ser o mediador disso tudo. E, além do mais, logo você estará bem longe daqui e não me parece apropriado que a senhorita fique naquele lugar sozinha.
- Ah, . – ela riu, com as mãos na cintura. – Admita que há um coração bonzinho aí no seu peito, é melhor do que essas desculpinhas de donzela indefesa.
- Oh, tudo bem, senhora corajosa. – ergueu as palmas das mãos, em rendição. Ele as abaixou e sorriu. – Vocês podem dormir lá hoje à noite, se quiserem.
- Eu quero muito! – Peter disse, quase como uma criança. e riram.
- Então que assim seja. – assentiu. – Pode voltar para seu futuro antigo quarto, Peter. Mais tarde mando alguém te buscar.
- Sim, Senhor. E obrigado de novo! – assentiu, saindo com a cabeça baixa, mas com o sorriso feliz que agora era tão rotineiro em seu rosto.
e se encararam e sorriram, só havia os dois na sala.
- Nunca serei capaz de te agradecer por tudo que está fazendo.
- Fazer o bem, faz bem, não é? E está me fazendo muito bem. – sorriu. – Pronta para se divertir hoje à noite?
- Quem não está pronto para se divertir?! – disse óbvia, e ele riu, assentindo. – Devo esperar Joshua à minha porta, mais tarde?
- Isso.
E com isso, ela saiu, também com um sorriso no rosto. Ao estar fora da sala, pôde voltar a respirar normalmente.
Oh, sim.
Ela estava apaixonada por .
A noite caiu mais rápido do que esperava, e ela agradeceu por isso. Joshua não demorou a bater à sua porta, e sem mais perguntas a levou até o banheiro para que ela se trocasse. Após um banho relaxante, ela pôde visualizar melhor as roupas em cima da pia. Na verdade, era somente uma peça. Um vestido preto, sem estampa alguma colado ao corpo e pelo menos dois palmos acima do joelho. Ela entreabriu os lábios algumas vezes antes de tomar coragem para vesti-lo, mas quando o fez, gostou do resultado. Encontrou seu reflexo no espelho e sorriu de lado, estava bonita. Talvez mais do que jamais vira.
Olhou para o chão e encontrou o par de sapatos que usaria, e novamente ficou surpresa eram estupidamente altos, com o salto fino, preto e a sola vermelha. Ao calça-los, girou os calcanhares ainda olhando para seu reflexo no espelho e mordeu o lábio. Será que era mesmo que comprava aquelas coisas? Porque se fosse, ele estava de parabéns.
Um pouco ao lado da pia, ainda encontrou algumas maquiagens e sorriu abertamente. Há quanto tempo não via maquiagens?! Decidiu que não era uma boa ideia pensar nisso, entretanto. Fez uma maquiagem simples: cobriu a pele com uma camada fina de pó, um blush delicado nas maçãs do rosto, abusou do rímel e nos lábios usou batom vermelho. O que Jane diria se a visse daquele jeito?! “Você virou uma mulher de bordel, !?” Ela riu com o pensamento e suspirou nostálgica.
Os cabelos estavam soltos como de costume, ao natural. Eles caíam lisos pelos ombros.
Por fim, deu uma última olhada no espelho e quase caiu para trás com tamanha a mudança que tudo aquilo fazia. Ela era outra. Não só fisicamente, mas o seu olhar também... O sorriso. Tudo estava diferente em si, mas para melhor. Ela gostava das roupas atuais, gostava de como se sentia diante desse novo mundo, gostava de estar onde estava hoje.
Joshua bateu na porta e ela a abriu, saindo. O rapaz a olhou boquiaberto e a mulher riu, balançando a cabeça. “Meu Deus, ! É você?!” Ela gargalhou da pergunta besta e o seguiu, até a sala de ... .
Após se despedir de Josh, respirou fundo e quando tomou coragem, abriu a porta depois de dar três toques. ergueu o olhar para encará-la e quando seus olhos foram capazes de traduzir toda a informação, seu queixo caiu.
- Ah, meu Deus, como você é linda. – franziu o cenho, como se dizer aquilo chegasse a doer. Ela riu tímida, olhando os novos sapatos, sem coragem para encará-lo.
- Você tem um ótimo gosto para roupas, . – mudou de assunto, erguendo o olhar.
- Puta merda, você é muito linda! – se levantou, caminhando até ela, que pigarreou, dando um passo para trás.
- Obrigada. – disse, por fim, sorrindo sem graça. – ? – chamou, vendo-o encarar seu corpo. Aquilo era definitivamente constrangedor, mas ela se sentiu aquecida. E não soube se foi da forma inocente.
- , você é a primeira mulher que me faz ficar duro só por estar... Vestida.
arregalou os olhos com a confissão, e foi inevitável não olhar na direção que ele citara. No entanto, desviou logo o olhar.
- Isso não foi nada cavalheiro, . – riu nervosa, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- Certo. – umedeceu os lábios, balançando a cabeça freneticamente. – Desculpa. – riu de si mesmo. – Nossa, desculpa. – engoliu a seco, buscando sua mão.
- Três desculpas em menos de 72 horas. Temos um recorde aqui? – brincou, entregando a mão para ele.
- Você é a mulher mais linda que eu já tive o prazer de observar. – sorriu carinhoso, beijando a mão dela.
- Oh! Obrigada. – riu fraco, puxando sua mão delicadamente. – Para onde vamos?
- Ao baile do século XXI. Uma boate, .
- Com músicas atuais e... Muitas pessoas atuais?
riu de sua inocência e assentiu.
- Vamos?
- Vamos! – sorriu animada, caminhando até a porta. – É você mesmo que compra essas roupas, sapatos e maquiagens?
- Minha empregada compra. Só dou algumas instruções. Você gosta?
- E teria como não gostar?! São lindas. Eu amo como as pessoas se vestem hoje em dia! – riu, só então observando o que ele usava. Era parecido com a roupa da semana anterior, mas agora, usava um blazer, deixando a roupa mais sofisticada. – A parabenize por mim.
- Ela ficará feliz. – sorriu. – Mais tarde Joshua levará Peter ao seu novo quarto.
- Ah, eu quase me esqueci disso! Muito obrigada, de novo, . Isso é tão, tão, tão importante para nós. Nossa! Só de pensar em sair daquele pedaço de inferno é como se eu já tivesse ganhado a liberdade. – riu, enquanto andava encarando os sapatos.
- Fico feliz em ouvir isso. ? – ela o olhou, curiosa. – Ahn, tem algum pedido especial para que alguma música toque hoje? – disse, mas ela soube que aquela não era a frase inicial. Ele iria falar outra coisa, mas desistiu no meio do caminho... Por quê?
- Mm. – murmurou, parecendo pensar. Eles já avistavam o carro de no estacionamento. – Seria clichê demais dizer Elvis Presley? – fez uma careta, e o outro riu, negando.
- Eu suspeitava. Acho que animará a todos!
- É tão velho assim? – continuou com a mesma careta, ao perceber a ironia na voz de . Ele gargalhou, abrindo a porta para que ela entrasse. Ela o fez.
- Um pouquinho, não é?
- Urgh. É. – bufou, colocando o cinto de segurança. entrou também, ainda sorrindo. – Dia mais feliz da sua vida.
- Hm?
- Qual foi o dia mais feliz da sua vida? – encostou a cabeça no banco, virando levemente o rosto para encará-lo.
- O dia que peguei meu diploma. – sorriu, ligando o motor do carro e saindo do estacionamento. – Bom, foi um dos. Já ouviu falar que as coisas mais simples, são as mais felizes? – ela assentiu. – Lembro de um dia que meu pai me levou ao parque, quando eu tinha doze anos. Jogamos bola, corremos... – sorriu nostálgico. – É uma ótima lembrança.
- Você não teve muitos momentos com ele, não é?
- Não. Foram todos baseados em aprendizados para o Ministério, isso quando ele não passava vinte e quatro horas trancado aí...
- Quando tudo aconteceu, ele tinha acabado de nascer. – sorriu fraco, voltando a olhar para frente. suspirou, sorrindo da mesma forma que ela. Tocar naquele assunto sempre era difícil. A cada dia ele sentia mais falta do pai.
Alguns minutos se passaram, e os únicos sons ouvidos no carro eram o da rádio no volume baixo. pareceu incomodada com algo, e após respirar fundo algumas vezes, resolveu quebrar o silêncio.
- , se algum dia a imprensa descobrisse sobre a Ironm4x e sobre mim... O que você acha que fariam?
- Me matariam. – sorriu amargo, olhando para a estrada. – Isso, sem contar uma possível quarta Guerra Mundial.
- Oh, não! – exclamou, surpresa. – Ser o motivo de outra guerra? Não, já foi aventura demais para uma vida só. E... Você não foi o culpado.
- Os Estados Unidos guerreariam sozinhos. Iríamos nos render, eles têm toda a razão. E, – riu, balançando a cabeça. – eu te mantenho em cárcere.
sorriu, segurando o lábio inferior entre os dentes. Ele entregaria a Guerra, hastearia a bandeira branca. Sabia que estaria errado. Seu coração acelerou como de costume, e seu peito aqueceu também.
- Eu ainda não tive um dia mais feliz. – disse baixo, mudando de assunto. – Quer dizer, eu sempre tive dias muito felizes. Bons momentos, também. Lembro de quando ia ao lago com meus amigos e Adam, e, ora, eram momentos especiais. Mas um... Um momento que eu tenha dito ou pensado “este é o momento mais feliz de toda a minha vida e gostaria de permanecer nele para todo o sempre”, não. Ele ainda não aconteceu, e, sinceramente, acho que nunca irá acontecer. – riu sem realmente sentir vontade de rir. O humor estava longe.
- Por que você acha isso?
- Encaremos os fatos, . – disse seu apelido e ele sorriu, encarando a estrada. – Estou presa no Ministério. Na Alemanha. Todos que conhecia e amava não estão mais aqui, e estou fadada a ser estudada pelo resto da vida.
- É um bom argumento.
- É claro que é! – riu, dessa vez com mais humor. – E, como se já não bastasse, por enquanto está mais tranquilo... Mas e quando o Ministério tiver outro líder? – suspirou pesadamente, encarando a janela ao seu lado. – Você irá se casar, e consequentemente formar uma família, logo seu filho ou filha passará a tomar conta do Ministério e... Bem, só Deus sabe o que acontecerá comigo. Eu nem sei se continuarei com essa forma pelo resto da eternidade, ou se envelhecerei como uma pessoa normal. – deu os ombros, vendo os carros passarem à sua esquerda. Eram tão diferentes.
- Primeiro: se a Ironm4x realmente funciona, o que já temos quase cem por cento de certeza você irá envelhecer como uma pessoa completamente normal. É quase como se você tivesse tido transportada como num piscar de olhos, para o século XXI, . – enumerou nos dedos, enquanto o farol estava parado. – Segundo: eu não pretendo formar uma família tão cedo, então não se preocupe. Aliás, você se preocupa muito com o futuro, já percebeu?
- Acho que é compreensível. Estou no futuro.
- Não, você não está no futuro. Está no presente, o que está acontecendo agora é a única coisa que tem que se importar. 57 ficou no passado. 2014 é o presente, e amanhã já é o futuro... Desde que te conheci você teme o que virá a seguir. E acredito que toda a sua vida tenha sido assim. Sempre sofreu por antecipação, não é?
fechou os olhos, rendida, e suspirou pesadamente. Ele estava certo, completamente certo. Lembrava-se no dia em que tudo começou, quando seu pai lhe falou sobre a possibilidade da Guerra e desde então ela havia sofrido. Podia ter aproveitado aquele último dia com os melhores amigos e o noivo, melhor. Deveria ter se esquecido do que viria e curtido cada segundo ao lado deles. Era o seu ultimo dia de paz, literalmente. As duas semanas que antecederam a Guerra, o mesmo. Ela havia passado quatorze dias trancada em seu quarto, chorando e desejando um milagre divino para que o confronto não acontecesse. Mal ficou com o pai e com todos que amava. Jane ia à sua casa praticamente todos os dias, mas ela sempre fazia questão de dizer que estava indisposta. Devia ter aproveitado mais a companhia de quem amava, e não o fez por pensar no que viria a seguir.
E não só em relação àquele momento, mas sempre em sua vida fora assim. Uma vez lembrava-se até de que faltara numa apresentação de ballet por ficar tão nervosa com medo de errar a coreografia que adoeceu. Ou quando deixou de ir a própria festa de aniversário aos dezesseis anos por estar insegura com o quê os repórteres diriam no dia seguinte. Ou até mesmo da vez em que foi apresentada aos pais de Adam estava com tanto receio de não ser aceita, que acabou agindo como um vegetal durante todo o jantar.
Sempre pensara no futuro, às vezes até esquecendo o presente.
- Sempre. – confessou, dando os ombros.
- Eu também. – sorriu. – Mas aprendi que se formos pensar assim, nunca viveremos. Sempre pensamos no que virá depois, e às vezes até deixamos de fazer algo que seria importante para nós, por isso. Nunca vivemos o momento, o hoje. O que tiver que acontecer, acontecerá de qualquer forma. Então, por que não deixamos pra nos preocupar quando estiver acontecendo? Sofrer por antecipação dói demais. Pra que gastar tempo, se a vida é tão curta?
- Você tem razão.
- Eu sempre tenho. – brincou, e ela riu. – Viva o momento. Um de cada vez.
- Talvez eu comece a seguir seus conselhos, .
Músicas do capítulo (são importantes. Dão todo o cenário da cena.): My Songs Know What You Did In The Dark – Fall Out Boy. (música 1)
She Knows – NeYo feat. Juicy J (Pole Art Version). (música 2)
Whataya Want From Me – Adam Lambert. (música 3)
- Talvez eu comece a seguir seus conselhos, . – disse brincalhona, recebendo a risada do outro. – Como são os bailes, atualmente?
- Oh, não. – gargalhou, balançando a cabeça. – Bailes não, ! Pelo amor de Deus, não diga isso. Boates, ok? – sorriu carinhoso, olhando-a de soslaio.
- Tenho 78 anos, . Estranho soaria dizer algo diferente... – lhe mostrou a língua, enquanto ria.
- Você não tem 78 anos, . Tem 22, esqueceu?!
- Nasci em 1936.
- De qualquer forma, dormiu durante 57 anos. Tem 22 e ponto final. – decidiu, e ela mordeu o lábio inferior, sorrindo tímida.
- Tenho 22. – confirmou. – Mas me diz, como são?
- Ah, sim! Bom, eu nunca fui a uma boate nos anos cinquenta, então não posso opinar muito. – rolou os olhos, rindo. – Tem música alta... Pessoas dançando... Não sei. É difícil. – coçou a nuca. – Acho melhor você mesma descobrir, não é? – apontou para frente.
olhou na direção que ele mostrava e encontrou uma fila enorme de pessoas, e, logo à frente, um espaço grande. As paredes eram num marrom claro, e as letras com os dizeres “TRESOR” brilhavam aos seus olhos. O design das paredes também lhe chamava a atenção, eram desenhos diferenciados. O volume estrondeante do som já chegava ao carro, e ela arregalou os olhos. As pessoas tinham algum problema de audição, atualmente?!
- Uau! – foi a única coisa que conseguiu dizer.
- É uma das boates mais antigas e conceituadas de Berlin. – afirmou. – Não precisaremos passar por toda essa fila. Esse é um dos lados positivos de ser neto de Yan e herdeiro do Ministério. – sorriu, erguendo uma das sobrancelhas. E achou aquilo extremamente sexy. – Vem. – acenou com a cabeça, saindo de seu carro e dando a volta, para abrir a porta para a garota.
Ao sair do carro e encontrar equilíbrio nos sapatos, pôde enxergar tudo com mais clareza. As mulheres se vestiam como ela, algumas mais... Vulgares, era óbvio. Até em sua época havia mulheres assim, por que não hoje?
Os homens estavam vestidos como , e andavam em grupos. Assim como as mulheres. As pessoas agora iam aos bailes... Boates com os amigos, e não com namorados, constatou. As risadas altas eram frequentes, e a garota sorriu por isso. As pessoas não se importavam com as opiniões alheias como antes. Algumas mulheres até sorriam e olhavam para outros caras, flertando. Oh, isso era um grande avanço. Elas não tinham vergonha ou medo de serem mal vistas. Eram só elas mesmas e faziam o que sentiam vontade, como sempre desejou. No entanto, o lado bom continuava ali: algumas das amigas e alguns dos amigos se abraçavam, animados com a noite que viria a seguir. E ela pôde enxergar em cada rosto o quão verdadeiras eram. Algumas não, era óbvio. Mas quando não existiria mais falsidade no mundo? A menos todo ele explodisse e recomeçasse do zero.
buscou sua mão e a segurou, começando a andar. Ela sentiu o coração acelerar e encarou suas mãos juntas, como em seu sonho. Um sorriso tomou conta de seu rosto, e ela não pode deixar de rir. Estava feliz. Estava feliz assim como Peter estava, hoje à tarde. Sentia-se feliz como em 57... Tudo parecia bem. Ou quase.
No entanto, a imagem de lhe falando há minutos sobre “viver o momento” ocupou sua mente e ela deixou o passado para trás. Havia passado, como o próprio nome dizia.
Ao chegar na porta da boate, conversou baixo com a promoter do lugar e ela lhe sorriu abertamente. não gostou.
Nem um pouco.
Contudo, quando a mulher abriu passagem e ela pôde observar o interior da boate, seu coração pareceu parar. A música inacreditavelmente alta ocupou seus ouvidos, numa batida ritmada e forte, e seu peito conseguia sentir as vibrações. As pessoas se mexiam no ritmo, mas aquilo não parecia nenhum pouco com dança. Elas dançavam sozinhas, em grupos, mas dificilmente com um par. As luzes eram extremamente escuras, dando lugar à flashes coloridos e alternados de luz. Quando a música atingiu seu ápice, um estouro aconteceu e um jato de fumaça saiu, ocupando todo o lugar. Ela apertou a mão de e ele a olhou, rindo.
- Está tudo bem! – disse alto, para que ela conseguisse ouvir.
- Por que é tão escuro e tão alto?! – disse no mesmo tom, próxima de seu ouvido.
- Talvez para que as pessoas percam mais a vergonha e façam o que não têm coragem de fazer à luz do dia... – olhou-a sugestivamente e ela entreabriu os lábios, desviando o olhar.
- Como se dança?!
- Deixa a música te guiar... Deixe-se levar. – sorriu, começando a balançar os ombros. Ele soltou sua mão e ela engoliu em seco, sentindo aquele vazio novamente. No entanto, o rapaz não se afastou nem por um centímetro. – Com vergonha, ? – ela negou, cruzando os braços como uma criança birrenta. – Só se diverte. – piscou, começando a balançar os ombros no ritmo da música, enquanto fechava os olhos levemente, sentindo a batida. – Se eu abrir os olhos e você ainda não estiver dançando... – abriu, e a encontrou rindo, enquanto balançava a cabeça negativamente. – Ora, ! – disse seu apelido e ela sorriu ainda mais. Era tão bonito. Soava tão bem, dito por ele. Soava melhor do que qualquer coisa que já tivera ouvido em toda a vida. – Vem cá. – puxou-a pela cintura, colando seus corpos. – Só sente... – passou as mãos por seus braços, alisando-os, enquanto os erguia. Ela umedeceu os lábios, sentindo-os secos. Ah, sim. Ela estava sentindo. A batida da música se intensificou e ela fechou os olhos, enquanto sentia lhe guiar, hora ele alisava seus braços, no ritmo da melodia; hora descia ao seu quadril, segurando firme e movendo-o. – Não é difícil... – ela abriu os olhos e viu o quão perto estava dos lábios do homem. Ele engoliu em seco, delineando o quadril dela com os dedos. No entanto, a cena não se passava mais acelerada no ritmo da música, mas era justamente o contrário: como se estivessem em câmera lenta. – Eu vou te beijar. – avisou, e ela somente assentiu, descendo os braços e apoiando-os em seu ombro. se aproximou e não demorou mais de dois segundos para que seus lábios tocassem os dela, num beijo calmo. Ao sentir a língua dele sobre a sua, o arrepio que estava quase desacostumada, voltou. E agora, acompanhado do coração totalmente acelerado. Cada vez parecia ser melhor do que a anterior. subiu uma das mãos para sua nuca, entrelaçando os dedos em seu cabelo, com firmeza. A garota mordeu seu lábio, vendo-o sorrir. Ele soltou seus lábios e beijou seu queixo, logo depois toda a linha do maxilar. Ela prendeu o lábio inferior dentre os dentes e abriu os olhos. Estava indo longe demais.
- ...
- Só aproveita o momento...
- , não. – tocou em seus ombros, afastando-o. Ele não iria brincar com ela. Se estava com Kyara, estava com Kyara.
- Ah, . – torceu os lábios, dando-se por vencido.
- Estou com sede. – sorriu fraco, arrumando os cabelos bagunçados.
- Vou buscar algo para bebermos. Não sai daí. – alertou, e ela assentiu.
Ao vê-lo sair, pôde voltar a respirar normalmente. Aquele homem mexia com sua cabeça e com seu coração, era fato. Mas estava se dando conta de que mexia, e muito, com seus hormônios também. Ela passou a olhar para as mulheres da boate e ver como dançavam, tentou imitar, mas não sabia se estava fazendo certo. Não estava confiante o bastante, ainda. As mulheres eram bonitas, sensuais, dançavam extremamente bem e sabiam como fazer aquilo. Sentiam a música, de fato.
Ao olhar para o bar, onde estava, o encontrou rindo para uma mulher. O quê?!
Sua mandíbula travou e ela engoliu em seco. Ele estava com ela, não sozinho na boate. Pelo rumo que a conversa tomava, ele tentava voltar à pista, mas a mulher insistia em tocar em seu braço, querendo puxar mais assunto. Vadia. sorria sem graça, apontando constantemente para a pista. Deixe-o em paz. Sussurrou para si mesma, enquanto cerrava os punhos e caminhava até o ambiente. Algumas pessoas esbarravam nela, mas a garota ao menos se importava. Não demorou até que chegasse ao bar e tocasse no ombro de , sorrindo.
- Você demorou.
- É. Imprevistos. – sorriu sem humor. – Hilda, tenho que ir. Foi ótimo falar com você, mas como pode ver, minha namorada me chama. Vamos, amor. – e segurou sua mão, puxando-a.
andava meio desnorteada ainda, com os lábios ligeiramente entreabertos. O coração estava a ponto de entrar em colapso e ela sabia disso. Aquela pequena e tão simples frase havia te tirado do controle, ainda mais seguidas do toque de em sua mão, entrelaçando os dedos aos seus. Ela engoliu a seco, queria beijá-lo. Queria esquecer toda a sua história com ele. Queria abraçá-lo sem motivo. Queria ir além.
- Desculpa. Aquela mulher era maluca. – riu, parando num certo ponto e soltando sua mão. – Aqui. – ergueu um copo. – Já tomou vodka?
- O que você acha?! – riu, colocando as mãos na cintura.
- Isso vai ser interessante!
- Não tenho certeza se quero, ...
- Ah, vai. Eu sou o seu médico e estou deixando, confie em mim. – sorriu, lhe entregando o copo.
ainda encarou o líquido por alguns segundos, e então o virou de uma vez só. O nariz e a garganta fecharam por um segundo e ela tossiu, sem fôlego. Era muito forte. gargalhou, com os olhos arregalados.
- Tudo bem?
- Tudo! Uau! – sorriu, chacoalhando a cabeça. – Ah, meu Deus. Eu amo vodka!
- Por favor, não diga que você é um novo James e que fica bêbada rápido?!
- James? E não... Ou acho que não, veremos hoje.
- Meu melhor amigo. – sorriu, observando-a. – Você está tão diferente! – disse alto, já que a música parecia ter aumentado.
- Como? Não estou bêbada ainda, !
- Não é isso. Está... Radiante. – tocou em sua bochecha com o polegar, acariciando-a. – Linda. – concluiu, dando um suave beijo em sua testa, algo que ela achou absurdamente carinhoso. Sem ao menos pensar duas vezes, ela ergueu o rosto, tocando seus lábios suavemente. Um beijo comedido desta vez, e foi impossível que os dois não sorrissem durante. Ela passou a mão que estava com o copo pela cintura do rapaz, abraçando-a; a outra mão tocou seu braço, acariciando-o. estava com seu rosto entre as mãos, acariciando suas bochechas com os polegares. Não importava o quão agitada, animada ou dançante era a música, tudo parecia acontecer lentamente.
sentiu o sorriso de em seus lábios e seu coração acelerou precariamente. Mesmo parecendo impossível, ele diminuiu ainda mais a distancia entre seus corpos e afastou os lábios dos dela, com um selinho demorado. Contudo, seu rosto não tomou o mesmo rumo, já que ele passou a beijá-la. Primeiro o nariz, depois o queixo, as bochechas, a testa e novamente os lábios. Se dependesse de sua humilde vontade, ele continuaria ali para sempre. Oh, sim. Sempre parecia um bom tempo para tê-la nos braços. A garota abriu os olhos devagar, ainda rindo pela demonstração de pequenos beijos. também sorriu, observando-a. Cada detalhe de seu rosto, assim como tinha feito há quatro meses, quando ela estava controlada pelo efeito de calmantes, logo após acordar da Ironm4x. Mas agora era diferente... Não era um olhar científico. Não era na intenção de encontrar rugas, fios de cabelos brancos ou qualquer traço que remetesse à sua real idade. Agora ele observava somente . As suaves e pouquíssimas sardas que tinham em seu nariz e começo das bochechas, os longos cílios fazendo sombra para seus olhos, os lábios precariamente vermelhos pelo batom e talvez um pouco inchados pela continuidade dos beijos que já a tinha dado. Ela inclinou a cabeça um pouco para o lado, sorrindo abertamente, tentando desvendar seus pensamentos. Ela nunca saberia, contudo.
voltou a fechar os olhos e se aproximou novamente, mordendo e sugando suavemente o lábio do rapaz. Ele riu, roçando seus narizes.
Mais alguns longos minutos se passaram, e entre mais duas ou três doses de vodka, ambos já se sentiam ligeiramente mais livres... Oh, sim. Eles precisavam daquilo. Enquanto pudessem, se dariam aquela noite para extravasar todas as tensões que haviam tomado seus corpos há meses. Uma noite... Uma noite para fugir.
- Vou buscar outra bebida.
- Tudo bem. – sorriu, entregando o copo vazio para , que saiu.
(Play na 1!)
A música que começou era ainda mais animada e voltou a se movimentar do jeito que aquelas mulheres dançavam, no entanto, não parecia funcionar; de todo o modo. Elas eram sexys e sabiam como usar o corpo, não.
já estava no bar, e ela agradeceu por isso. Não iria gostar daquelas mulheres esbarrando nele. E ela sabia que se acontecesse, não seria propositalmente. De longe, pôde observar o quão atraente era. Sem pestanejar e deixando de lado o coração apaixonado, ela tinha plena certeza que seu acompanhante era o homem mais bonito daquela boate. Talvez fosse o homem mais bonito da Alemanha, também.
Ele riu para o rapaz que lhe serviu as bebidas e derreteu por dentro. Seu sorriso era, sem dúvida, a coisa mais absurdamente linda que já tivera o prazer de ver em toda a vida. O jeito como seu pomo-de-Adão se mexia a medida que sua risada tomava proporção era... Irritante de tão lindo.
Não era a única que parecia achar isso, entretanto.
Uma loira cheia de curvas dançava no meio da pista, chamando a atenção de todos os rapazes que estavam a sua volta. Ela alisava o corpo, delineando ainda mais seu decote, cintura e quadril. Seu cabelo – provavelmente cheio de descolorante de farmácia – era esvoaçante, e balançava à medida que as batidas da música cresciam. Alguns homens tentavam tocar em sua cintura, mas ela fazia questão de se afastar gentilmente, com um sorriso extremamente sugestivo. So light them up, up, up, light them up, up, up. Light them up, up, up, I'm on fire...
A música fazia questão de contribuir para a situação, e sentiu o sangue ferver ao ver tomando a bebida enquanto olhava curiosamente para a mulher.
E a querida, é claro, correspondia o olhar. o desviou, entretanto, a vadia insistia em dar alguns passos até sua frente, para que ele a olhasse novamente.
Ah, não.
Ela não tinha sorrido para ele, tinha?
Tudo bem. Era um jogo, então. Se ela conseguia ser sexy, por que também não? Ela era uma mulher, tinha um par de seios, um bumbum – até maior que o da loira –, e um rosto atraente. Tinha certeza disso.
Nos anos 50, sempre participava de concursos de danças disfarçada para não ser reconhecida como a filha do presidente e geralmente ganhava todos, no máximo ficava em segundo lugar. Isso quando Jane não participava, mas não vinha ao caso.
Ela era boa, também. Era boa suficientemente como a loira falsificada. Seria melhor do que a tal.
se levantou de sua cadeira no bar e começava a caminhar em sua direção, voltando com duas bebidas. A loira atrevida havia entrado em sua frente.
O quadril de ; que antes se balançava timidamente, agora já tinha tomado outro rumo. Os braços se ergueram acima de sua cabeça; movendo-se no ritmo da música. “Deixe a melodia te guiar”, ela quase conseguia ouvir a voz de lhe dizendo isso e então ganhou mais motivação. Seus olhos se fecharam inconscientemente e ela se imaginou dançando para ele. Somente para ele. A ideia de lhe olhando sedento, a fez umedecer os lábios. Light them up, up, up, I'm on fire...
Ela sentiu o vestido subir alguns centímetros, mas não ligou. Se não se importava com o que pensariam de si nos anos cinquenta, não se importaria agora, sendo uma anônima. Obedecer a regras não era com ela, e todos sabiam disso.
Um par de mãos tomou sua cintura e a garota abriu os olhos, encontrando os olhos arregalados de . Oh, sim, fique surpreso.
- Você está chamando atenção da boate inteira.
- É? – sorriu maliciosa, buscando um dos copo que estava em sua mão. – Como aquela loira que você estava encarando? – virou o líquido claro de uma só vez, e não foi tão ruim quanto o primeiro.
- É a Alexie. Eu a conheço.
não soube se ele viu, mas seus lábios torceram quase que imediatamente numa careta de nojo. Já devia ter transado com a bonitona.
(Play na 2!)
Diferente do que pensara que faria, ela não o xingou ou deu meia volta para ir embora. Somente virou-se de costas, apoiando as mãos nos quadris de , que demorou um pouco a captar a mensagem, mas quando o fez, levou as mãos à cintura dela, apertando-a com certa possessão. Seu pescoço estava descoberto e ela sentiu os lábios macios de sobre sua pele, depositando suaves beijos por toda a extensão. Seus olhos voltaram a se fechar e ela mordeu o lábio inferior. Ele, definitivamente, mexia com seus hormônios.
terminou de descer até o chão e subiu devagar, roçando o corpo no de . Ao se levantar por completo, girou os calcanhares para encarar o rosto sedento e levemente corado do homem. Ele subiu as mãos para embrenharem o cabelo da garota, puxando-a para mais um beijo, agora mais intenso e quente que os anteriores. A garota se sentia mais desenvolta, mas não sabia se já era o efeito do álcool em seu sangue ou se pela batida frenética da música que os envolvia. Sem pensar, desceu as mãos pelo tronco de , chegando a barra de sua camisa e levantando-a alguns centímetros, invadindo o tecido e tocando seu abdômen. Ele parecia ser um membro assíduo de academias. E ah, merda, por que ele tinha que beijar seu pescoço daquela forma? O arrepio tomou seu corpo num só segundo e ela prendeu o lábio entre os dentes, ao mesmo tempo em que sentiu os dedos no abdômen de se curvarem, arranhando o local.
O lugar de repente ficou mais quente.
Eles voltaram a se beijar e sentiu as mãos do rapaz descerem para suas pernas, apertando-as com possessão. Um murmúrio surgiu de seus lábios, e... Ah, ela estava excitada? A tensão em suas costas assim que a ideia passou por sua cabeça constatou o fato. Estava deixando tudo ir longe demais... Mas, espera. Por que não poderia ir longe demais mesmo? Ela não fazia ideia. O álcool também causava amnésia?
não soube quanto tempo passou enquanto distribuía mordidas e beijos por toda a extensão do pescoço de , mas despertou no momento em que sentiu uma das mãos do homem deslizar pela parte interior de sua coxa. Ela engoliu a seco, apertando seus ombros. Seus olhos se encontraram, e tudo o que viram foi desejo. Desejo misturado a... Paixão. A garota roçou seus lábios e fechou os olhos, ao mesmo tempo em que o volume na calça de tocou sua barriga, mesmo que por debaixo da calça jeans. Longe demais...
Ela estava pronta para dizer algo, se não fosse os dedos habilidosos do homem tocarem sua calcinha, suavemente úmida. Engoliu a seco no momento em que o sentiu subir e descer o dedo por cima do tecido de algodão, massageando-a. Longe dem... Um gemido escapou por seus lábios e ela entrelaçou os dedos nos fios curtos de seu cabelo, puxando-o ao mesmo tempo em que ele umedecia os próprios lábios com a língua. O carinho começou a ficar mais forte e rápido e ela fechou os olhos, encostando suas testas. Ah, linda... Foi o que sussurrou, numa voz rouca. Todas as pessoas da boate haviam sumido de repente em suas mentes, e sorriu maliciosa, sentindo a boca seca. Tinha que ser tão bom assim?
A fricção do volume de desceu um pouco, parando em seu ventre, enquanto o sentia forçar um pouco contra seu corpo. Ambos sussurraram um palavrão e voltaram a se beijar. O calor começara a aumentar, assim como a movimentação em suas partes baixas. Contudo, quando o rapaz afastou a calcinha de com o dedo indicador, sua consciência voltou.
Longe. Demais.
Ela se afastou num salto, enquanto ofegava. arregalou os olhos, parecendo se dar conta do que aconteceria se fossem mais longe. Ele riu incredulamente, dando um passo para trás. Toda a música, as pessoas e as luzes voltaram à realidade.
desviou o olhar do dele, mas quando o encontrou, ambos voltaram a rir. Ele esticou a mão, e ela aceitou.
- Desculpa. – sussurrou, colocando sua mão em seu ombro. Ele lhe deu um selinho demorado, mas inocente. Ou o máximo de inocência que conseguiria no momento. – Desculpa, . – sorriu, erguendo os lábios e beijando sua testa. Ela mordeu o lábio inferior e assentiu, sem conseguir parar de rir.
Mas já não sabia se era pela bebida.
Ou pela frustração.
A castidade ainda era regra nesse novo século?
Já passava das 05h da manhã quando finalmente conseguiu decifrar os números que seu relógio de pulso mostrava. Depois de algumas doses de bebida, ele já se sentia como James pós uma garrafa de whisky. Tudo, de repente, lhe parecia mais engraçado, mais bonito e mais giratório também.
Mas ele não podia colocar toda a culpa na bebida, contudo. era boa responsável por tudo parecer melhor agora.
Por falar na garota, ela não podia estar mais desnorteada... e feliz, também. A música da boate continuava ensurdecedora, mas ela já estava acostumada com a melodia rápida e todas as onomatopeias das letras. Já nem importava mais, se fosse sincera consigo mesma.
Seu corpo havia se conectado ao ritmo e se movia sozinho, numa dança. Ou pelo menos ela queria acreditar que estava dançando. a encarava e gargalhava, ainda tonto. Ela também estava, de fato. E se equilibrar naqueles saltos estava se tornando cada vez mais difícil.
Já havia perdido a conta de quantas vezes havia beijado e sido beijada por , mas, naquele momento, não se importava. O rapaz a sua frente se aproximava para mais um beijo e ela somente fechou os olhos, deixando-se levar pelas maravilhosas sensações que aquele suave toque lhe proporcionava.
Beijá-lo podia virar rotina.
Tinha plena certeza de que nunca cansaria.
Eles se separaram devagar e voltaram a dançar, como estavam fazendo há quase cinco horas.
Um homem esbarrou em com uma força quase que absurda e ela virou-se para encará-lo. O homem parecia não estar sóbrio, mas com certeza não estava bêbado como ela e seu acompanhante. Ele tinha o cabelo quase raspado, tatuagens pelos braços e ombros, olhos claros e a encarava sorrindo. Um sorriso que, no momento, lhe causou arrepios. tocou em sua cintura.
Ele disse algo que ela não compreendeu, e logo reconheceu o sotaque alemão. Era óbvio.
- Americana.
- Ah! Desculpa, linda, eu não te vi. – sorriu simpático e ela assentiu, voltando a virar-se, mas ele segurou seu braço. – Você é muito linda! – disse alto, já que a música parecia ter aumentado ainda mais o volume.
- Obrigada! – disse, meio embolada pela bebida. cerrou os olhos. Deveria intervir, não devia? E ah, merda, o homem estava com seu gêmeo igualmente gigante ao lado ou era o álcool duplicando sua visão?
- Quer tomar uma bebida comigo?
- Não! – riu, levando a mão à testa. Tontura, tontura...
- Ah, mas por quê? Vamos. E depois podemos... – olhou-a sugestivamente e rolou os olhos. Ele iria intervir.
- Ela disse que não, cara.
O homem riu debochado, medindo-o de cima abaixo.
- Acho que você não está em condições de cuidar nem de si mesmo...
- Só por que bebi algumas doses?! – quem riu debochado dessa vez foi ele, dando um passo à frente. – Ah, cala a boca.
- ... – chamou, tocando em seu ombro.
- Acho que poderia ter escolhido uma companhia melhor, bonequinha. – tocou em seu queixo, e isso bastou. o empurrou com o máximo de força que conseguiu, e ele somente cambaleou um pouco. – Você não fez isso. – sorriu sarcástico, enquanto fechava a mão e a jogou contra o nariz de , que caiu no chão, tamanha a velocidade e força do soco. levou as mãos aos lábios e arregalou os olhos.
- Ah, meu Deus! Seu brutamonte!
se levantou ainda desnorteado pelo soco e pelo álcool, e cerrou o punho, levando-o contra o rosto do homem, que desviou o máximo que conseguiu. O soco ainda pegou do lado de sua cabeça, e esse foi o estopim. O brutamonte deu um chute nas costelas de , que fechou os olhos com força.
Uma pequena roda de pessoas começava a se formar em volta da briga, e logo os seguranças apareceram. tentava a todo custo tirar o homem de cima do seu homem, mas parecia impossível. Ainda mais quando seus movimentos pareciam tão descoordenados e lentos. Nota mental: essa era a primeira e a última vez que bebia assim.
Se a cena não fosse trágica, seria cômica. Os seguranças da boate tentavam a todo modo segurar o brutamontes e chutava o ar, esperando um milagre divino ser o rosto do homem. estava nas costas do tal rapaz, tentando inutilmente puxar seus – ou a falta de – cabelos.
Quando, finalmente, conseguiram segurar o homem, tirar de suas costas e do chão, os levaram para a enfermaria da boate. Ambos tomaram injeções de glicose e ficaram de observação por trinta minutos na sala. Eles se entreolharam sem dizer uma só palavra, enquanto seguravam o riso. A cena era absurda.
Assim que saíram do lugar; o pseudo-casal por uma saída e o homem por outra, e se encararam e... Riram. Gargalharam, na verdade. estava sentado na guia da calçada, com o rosto entre as mãos, enquanto ria alto. tinha umas das mãos encostada à parede, e já tirava os sapatos. Sua risada conseguia ser ainda mais alta que a do rapaz.
- Ah, meu Deus! – tentou recuperar o fôlego, ainda rindo. – Eu amo aquele cara! Ele me vingou!
- Sua idiota. – riu também, levando uma das mãos para o nariz. – Essa porra tá doendo pra cacete.
- Ele me vingou muito bem. – sorriu, sentando-se junto a ele. – Você tá parecendo uma rena com esse nariz vermelho! – exclamou, caindo novamente na gargalhada.
- É isso o que ganho por defender sua honra?
- Oh, sim. Muito obrigada, Sr. . – tocou em seu rosto, analisando o nariz quebrado. – Você é muito frouxo! Como deixou ele te bater assim? – balançou a cabeça em negação, sorrindo.
- Estou quase mandando você ir para o inferno. – sorriu, e ela jogou a cabeça para trás, ainda rindo. – Ah, merda. Ele se aproveitou porque não estou em meu melhor estado!
- Você não está?! Eu nunca coloquei sequer uma gota de álcool na boca, . – estalou os lábios, olhando para o horizonte.
O céu já começava a clarear, e ambos continuavam sentados na guia. Ela já estava sem os sapatos e com o cabelo emaranhado. Ele, com o rosto cheio de hematomas e a camisa amassada. O efeito da bebida já começava a passar, talvez fosse a adrenalina de minutos atrás misturado à glicose em seu sangue, mas o cansaço era maior do que qualquer porre.
- Não?! Mas eu achei... Achei que fosse a garota rebelde dos anos cinquenta. – ele sorriu, virando-se para encará-la.
- Rebelde nos anos cinquenta... Imagine só o que era. Não dar entrevistas a repórteres bisbilhoteiros já era ser rebelde. – deu os ombros, suspirando.
- Meu primeiro porre foi aos dezesseis. – mudou de assunto, não queria voltar ao passado, não agora. – Eu tinha acabado de tirar a minha carteira de motorista e fui com os amigos do colégio ao primeiro bar que vimos. Bebi a noite inteira! Voltei carregado pra casa... Meu pai me deixou de castigo por semanas. – riu nostálgico, fazendo uma careta ao sentir que o chute na costela começava a resultar efeito.
- Mal tirou a carteira e já ficou sem carro?! – sorriu surpresa, analisando-o.
- Não me arrependo, ok? Foi uma das melhores noites da minha vida! James estava junto.
- James, James... É só o que eu ouço falar. Ele deve ser um cara muito bacana.
- E babaca também. – riu, apoiando-se nos cotovelos. – É meu melhor amigo, um irmão. Posso contar com ele pra tudo e ele comigo.
- Assim como eu e Jane éramos. – constatou, sorrindo triste e encarando seus sapatos que estavam ao lado.
- Eram não, ainda são. Por mais que ela tenha... – fez uma pausa, encontrando as palavras certas. – Que ela não esteja mais aqui, vocês sempre serão amigas. Estando próximas fisicamente ou não.
- A bebida te deixou dócil, . Acho que não é seguro! – brincou, voltando a rir.
- Cala a boca. – lhe mostrou a língua, rindo também. – Ainda não acredito em como aquele cara me bateu! Maldito álcool! (Play na 3!)
- Maldito álcool! – repetiu, imitando-o. – Defender a minha honra... Puff! – rolou os olhos. – Você estava era com ciúme! – brincou, cerrando os olhos. riu, e... Ficou vermelho? Ele estava com vergonha?
- Não sou o único que tem ciúmes aqui. – piscou, rindo também. entreabriu os lábios, mas não conseguiu dizer nada. Ele estava assumindo que sentia ciúmes. E ainda estava dizendo que sabia dos ciúmes dela. Ah, Deus. Estava tão na cara assim? – Meu sargento ficaria decepcionado com minha apresentação hoje. – suspirou, tirando a jaqueta do corpo e tentando limpar o sangue seco do nariz.
- Sargento?
- Exército, . – sorriu, fazendo uma careta ao tocar no local machucado.
- Me deixa ver isso. – disse, tocando no rosto dele e logo no nariz e bochechas, observando-os. – E não sabia que fosse soldado.
- Sou neto de Yan ... Acha mesmo que escaparia?
- Achei que justamente por ser neto de Yan , escaparia. – riu, vendo-o fazer uma careta e gemer de dor. – Desculpa. – mordeu o lábio, olhando-o atentamente. Ela se aproximou, tocando em seu supercílio. – Ele pode substituir Zimmerman, futuramente. – sorriu brincalhona enquanto se referia ao brutamontes da boate, e riu, fechando os olhos.
- Eu te mandei mesmo para Zimmerman?
- Mandou. – sorriu sem mostrar os dentes. – Mas está tudo bem agora. Você já pediu desculpas e eu desculpei sinceramente.
- Palavras não voltam no tempo. – suspirou, tocando em seu rosto também. – Acredite, se eu pudesse, o faria. Eu fui ridículo.
- Shh, está tudo bem, !
- Assim que te vi naquela maca no dia seguinte, acabada, eu me arrependi no mesmo segundo. Mesmo sem conhecê-la direito, agora então... – encostou a testa à dela. – Você não tem ideia do quanto gosto de você, . – sussurrou, e ela sentiu o coração... Acelerar? Não. Acelerar era muito pouco comparado ao que sentia. Ele estava absolutamente fora de controle. Queria pular de seu peito para encontrar-se com o de e abraçá-lo. engoliu a seco, piscando longamente. Sua boca secou e ela suspirou, ofegante. Um brilho tomou conta de seus olhos e ela não soube o quê dizer. Mas ele parecia, já que seus lábios se entreabriram e o pomo-de-adão se moveu: – Eu gosto muito de você. – confessou, e logo seus narizes se tocaram, roçando um no outro. Era carinho. , seguindo os próprios conselhos que ele havia lhe dado há alguns dias, fez o que se deve fazer em situações onde palavras não são suficientemente capazes de transmitir o que seus corações dizem: o beijou.
Música do capítulo: Gone Too Soon – Daughtry. Play quando eu avisar.
O beijo foi dado da forma mais apaixonada que conseguiu, e teve certeza que ele sentiu isso, pois sorriu durante. Não era um beijo apressado ou sensual como os que deram na boate, era... Único. De todos os beijos que já tinham dado, aquele era, sem dúvidas, o com mais sentimentos de todos. Ali, naquela calçada parcialmente suja, com o nascer-do-sol, ambos ainda meio alterados pelo álcool, com as roupas amassadas e um estado precário. Foi ali, em meio àquele gesto de carinho, que se deram conta: se antes era dúvida ou negação para si mesmos. Agora já não mais. Estavam apaixonados. Apaixonados como jamais estiveram na vida. Era difícil de acreditar, para ambas as partes, mas estava acontecendo bem diante de seus olhos.
O beijo chegou ao fim com um selinho demorado, e eles sorriram. deveria dizer algo, não deveria? “Eu também gosto, . Na verdade, estou apaixonada.” Parecia fácil em sua mente, mas as palavras teimavam em não sair por seus lábios, e ela obedeceu, mesmo contra a vontade.
- Vou ligar para James vir nos buscar, não quero causar um acidente. – riu, buscando o celular no bolso da calça jeans. – Ele não vai acreditar que me meti numa briga de boate... Eu tenho quase vinte e cinco anos!
Ele havia mudado de assunto, e não soube dizer se agradeceu por isso ou não. Menos de um minuto se passou e ela ouviu xingar o tal amigo durante a ligação, mas de alguma forma sabia que não era como se estivessem brigando. Talvez fossem como ela e Jane, que chamavam uma a outra de “vaca” ou outros adjetivos tão carinhosos quanto. se despediu com um “vem logo, vagabundo. Te explico tudo quando chegar aqui.”
E então era isso... Ela seria apresentada ao melhor amigo de . E estava, possivelmente, bêbada.
Passou-se cerca de meia hora quando James chegou, ele estava emburrado e com muita cara de sono. Era bonito, entretanto. Tinha o cabelo loiro escuro levemente crescido, e os olhos azuis, a barba – da mesma cor do cabelo – estava rala e seu porte era normal. Nem muito magro e nem extremamente forte. Se parecia muito com o físico de . Ele os cumprimentou, olhando curiosamente para a garota, que sorria timidamente.
- Acabaram com você, ! – o homem riu, olhando seu rosto. – Olá. – sorriu para a garota, cumprimentando-a.
- , meu amigo. – apontou, e o rapaz arregalou os olhos, encarando-a surpreso.
- Ah, meu Deus! Você é mesmo dos anos cinquenta?! É a da nossa... História? – riu nervoso, esticando a mão para cumprimenta-la. Ela aceitou, rindo meio desconfortável. – Ca-ce-te, falando é uma coisa... Mas ver. Uau!
E começava tudo de novo...
- Sou a dos anos cinquenta, sim. – riu, coçando a nuca. – Da história, eu já não sei.
- Deixa de ser inconveniente, James. – repreendeu. – Vai, leva a gente pro Ministério.
- Eu sei! Ah, desculpa. Mas é muito... Surreal. Eu me ferrei numa prova por errar algumas questões sobre você, quando estava no colégio!
Ela havia virado matéria de colégio? Oh, Deus. Dessa parte sequer imaginava. E era muito bacana saber.
- Na minha época as provas não eram tão fáceis assim... Imagine só, estudar sobre mim?!
- É! – exclamou, rindo. Ele ligou o motor do carro, e passou a encará-la somente pelo retrovisor. – Isso é tão legal! – soou quase infantil e decidiu que gostava dele.
- É, não é? – riu, sentindo ser observada por .
- Está tudo bem? – sussurrou, e ela assentiu, deitando a cabeça em seu ombro. Ele se surpreendeu no inicio, mas logo voltou a respirar normalmente, segurando a mão dela e entrelaçando seus dedos.
- Como era naquela época? Sabe... O tempo, as pessoas. Deve ser tão inacreditável viver nos dias de hoje quando já se viveu há cinquenta anos!
- É exatamente essa a palavra, James. Inacreditável. Tudo está diferente... Mas, ao mesmo tempo, igual. As pessoas se vestem e agem de diferentes formas, mas continuam com os mesmos pensamentos e até atitudes.
- Faz sentido! – sorriu. – E, caramba, você é filha de John ! Não dá pra acreditar. Essa tal máquina é a melhor invenção que já existiu, !
- James, chega. – repreendeu, mas riu. Riu com vontade. Gostava muito de James. Ele não lhe tratava como uma pobre coitada que passou por uma máquina e perdeu tudo o que tinha. Por mais verdade que fosse, ela odiava ser tratada daquela forma. O rapaz falava como se aquilo fosse algo normal, e ela fosse sua heroína. Um grande personagem da história. Alguém especialmente importante.
- Eu não me importo. Mesmo.
- Ora, me desculpe. Mas admita que é bem bacana, sim?! – ela assentiu, sorrindo animada. – Lily adoraria saber disso! Lembra aquela peça que ela fez, há um ano, ? Era sobre a década de 50.
- Lily? Quem é ela?
- Uma ex-namorada do James.
- Uma vadia qualquer. – o rapaz disse, como um garoto birrento, e exatamente naquele momento soube do que se tratava: ele ainda a amava. E amava muito.
- A vadia te traiu, não foi?
- Foi! Como você sabe? Os chifres estão tão em evidência assim?! – brincou, e ela gargalhou. riu também, acariciando sua mão em seu colo. Ver daquele jeito, sem lembrar do passado ou falar algo relacionado a sua história de um todo, mesmo com o Ministério, era incrível. Apaixonado era pouco.
- Não! – mordeu o lábio, ainda dando risada. – Mas para se referir a ela com toda essa mágoa...
- Com o meu primo. – disse, dessa vez mais sério. – Fui visitá-la um dia de surpresa e... Lá estava ela, enrolada nos lençóis com o babaca.
- Uh! – murmurou, fazendo uma careta. – Qual foi a explicação? “Não é nada do que você está pensando”?
- Nos anos cinquenta essa frase já existia?!
- Acredito que desde que o mundo é mundo essa desculpinha existe... – sorriu, suspirando. – E então, qual foi?
- Ela ficou sem reação na hora, mas depois me procurou pedindo mil desculpas, disse que foi uma fraqueza... Ele a tinha consolado depois de uma briga nossa e acabaram se aproximando. – suspirou, nervoso. – Não importa mais, . – sorriu fraco. – E chegamos! – apontou para o Ministério novamente.
- Foi rápido. – disse, abrindo a porta. – Vou deixa-la lá, tomo um banho e depois pego um taxi até a boate para pegar meu carro. Obrigado, cara. – esticou a mão, despedindo-se. James a segurou, aceitando.
- Depois vou querer saber direito toda essa história, ok, James? Está me devendo. – sorriu simpática e ele assentiu, esticando-se para lhe dar um beijo na bochecha. – Foi um prazer. Até mais!
ajudou a sair do carro e virou-se brevemente para encará-lo novamente, e foi nesse segundo em que viu o amigo sussurrar: “é ela”.
James não poderia estar mais certo, de novo. É ela, meu amigo.
Ambos caminharam para dentro do Ministério e conversavam sobre James, insistia em se desculpar pelas perguntas indiscretas quanto ao seu passado, e ela fazia questão de negar, afirmando que estava tudo bem, tinha adorado James, e, realmente havia.
Ele a levou para um caminho até então desconhecido, o que a deixou apreensiva, mas resolveu confiar nele. Não era difícil, afinal.
Confiar em um ... A que ponto havia chegado? Ela riu mentalmente com o pensamento.
Desceram ao subsolo e encontraram um corredor com algumas portas. foi até a terceira e a abriu. entendeu na hora.
Lembrou-se do dia anterior, quando ele havia dito que Peter e ela se mudariam para um lugar mais apropriado. Havia até se esquecido disso. No entanto, ao olhar o ambiente, um sorriso emocionado tomou seu rosto.
Não era grande, mas nem se comparava ao pequeno cômodo que havia sido seu quarto por todos esses meses. Havia uma cama de solteiro; bem arrumada, e com roupa de cama de verdade. Lençol, travesseiro, e um edredom que parecia tão quente que se controlou para não pular ali no mesmo minuto. Ao lado havia um pequeno guarda-roupa, que ela não entendeu o motivo, mas resolveu não questionar.
(Play!)
Resolveu passar os olhos por todas as quatro paredes do quarto e se surpreendeu ao encarar a que estava atrás de si: haviam três pequenos quadros. Num, Elvis Presley sorria de lado, como sempre fazia. Ela riu, sentindo os olhos marejarem. No do meio, havia ela... Sua melhor amiga, Jane. Ela mordeu o lábio, segurando o choro, mas já havia se tornado impossível. Lembrava-se daquela foto como se fosse há dias; nela, ambas se abraçavam de lado, e tinha a cabeça encostada no ombro da amiga, as duas sorriam alegremente. E a última foto: a última foi seu fim. Ela estava na sacada da Casa Branca, ao lado do pai, e logo abaixo milhares de pessoas com lenços brancos. Era o dia da reeleição de John .
lhe sorriu preocupado e ela também sorriu, mas ainda chorava. A única coisa que conseguiu dizer foi um: “obrigada”, sussurrado. Ele entendeu e se aproximou dela, puxando-a pela mão e a abraçando. O abraço foi como todos os outros... Era seguro estar ali. Passava conforto. Era como estar em casa de novo.
- Shh. Não chora. – pediu, afagando seus cabelos. – Por favor.
Doía. Doía vê-la chorando, por qual motivo fosse. Nunca havia sido assim com ninguém. Mas ver chorando em seus braços era doloroso, ele queria fazer algo que a fizesse parar. Que a fizesse rir, sorrir... Xingar-lhe. Qualquer coisa. Qualquer coisa que tirasse aquelas lágrimas de seu rosto.
- Eu perdi tudo, . – soluçou, contra seu ombro.
engoliu seco, era a primeira vez que ela se abria com ele. Que falava daquele assunto sem que fosse para xingá-lo ou deixá-lo se sentindo culpado. Seu tom era sofrido, mas ela não dizia para atingi-lo. Só queria desabafar, sofrer abraçada a alguém. Ser acarinhada. Protegida. Amada.
E, de novo, não sabia o que dizer ou fazer. Tinha medo de dizer a coisa errada e deixá-la ainda pior, tinha medo de ver aquele choro aumentar consideravelmente. De todas as formas que havia pensado que aquela noite terminaria, aquela era a única que não tinha. Sabia que não era pela boate, pela briga ou pelas perguntas de James. Mas sim, por ter visto as fotos do pai e da melhor amiga. No início do dia, achou que seria uma ótima ideia. Deixar, ao menos em imagem, a presença das pessoas que mais amava em seu quarto, seria uma coisa boa. Agora a ideia parecia ter sido imbecil. Vê-la assim era tão ruim. Ele daria um braço para que ela parasse e voltasse a rir como ria dele machucado, na guia da calçada há uma hora.
- Tudo. Tudo. – resfolegou. – Minha casa, meu melhor amigo, meu noivo, minha quase mãe, minha melhor amiga, o meu pai, minha honra, até o meu país... – afastou o rosto do ombro dele e o encarou. – A minha vida inteira. – umedeceu os lábios, suspirando. – Eu fico imaginando o que eles pensaram quando eu sumi, sabe? – assentiu, levando a mão ao rosto dela, acariciando sua bochecha com o polegar. – Se Yan avisou que eu estava viva, ou que tinha me matado. O que meu pai pensou? Dói tanto pensar no quanto ele sofreu! – mordeu o lábio, apertando os olhos. – E o Adam? Qual foi sua reação a me ver ser levada por aqueles soldados? Porque ele viu! Ele viu assim que me pegaram, sua imagem foi a última que vi. E Jane? Ah, meu Deus! Jane. Ela precisava tanto de uma amiga, precisava tanto de mim! Ela tinha acabado de perder a virgindade com Max e nós nem conversamos sobre isso direito...! – sorriu fraco, e também. – Eu não fui a sua madrinha de casamento, como havíamos combinado aos oito anos de idade. Eu ao menos estava lá para vê-la subir ao altar. Quem a conteve com toda a sua ansiedade? Só eu era capaz! E quando ela descobriu que estava grávida? Ela não contaria para Max logo... Eu seria a sua acompanhante para ir ao hospital, e ajudá-la a preparar uma forma inusitada de contar para o marido. E quando essa criança nasceu? Quem estava lá para ajudá-la com as dores do parto? Max não saberia como é, ele é homem! – riu fraco, levando os lábios a testa de , num beijo suave e demorado. – Como ela se virou todos esses anos sem mim? – disse, com os olhos fechados.
- Eu tenho certeza que em cada um desses momentos de sua vida, ela se lembrou de você. Em todos eles, e ainda em mais. Você sempre esteve lá, não fisicamente, mas emocionalmente... Ah, eu tenho certeza. – tocou na ponta de seu nariz, fazendo-a sorrir levemente. – Ninguém pode se virar sem , depois de tê-la conhecido.
- Eu sou insubstituível. – brincou, já sem mais tantas lágrimas.
- Sem dúvidas! – sorriu abertamente. – Ninguém é tão insuportável, durona, rebelde e incrível quanto você, senhorita vergonha da América.
- Devo levar isso como um elogio? – ergueu uma das sobrancelhas.
- É o maior elogio que já fiz em toda a minha vida! – riu, passando a mãos no rosto dela, secando-o. – Vou tomar um banho e ir para casa. Você vai ficar bem, não é?
- Eu vou.
- Posso confiar em você?
- Pode.
- Posso mesmo?
- Pode, ! – riu, apontando para a porta. – Vai cuidar desse rosto e... Obrigada. – disse baixo, vendo-o sorrir também. – Pelo quarto, pela noite, por me ouvir... Por estar aqui.
- Você tem a vida inteira para agradecer, . Não pretendo sair daqui tão cedo.
E caminhou até a porta, deixando-a com um sorriso bobo nos lábios. Aquele sorriso do qual já estava acostumada, tamanha era a frequência que o mesmo ocupava seu rosto nos últimos dias. Ela ergueu o olhar e encontrou os quadros na parede. havia pedido para que o colocassem ali, para que ela se lembrasse com carinho de seu passado. Para que, mesmo sem tê-los por perto novamente, eles estivessem sempre ali. Fosse fisicamente, ou somente por fotos.
E ainda teve a delicadeza de colocar Elvis. riu, balançando a cabeça. Até Elvis estava na parede de seu novo quarto, no Ministério. O quão inacreditável aquela frase era?
Contudo, a foto de alguém extremamente importante não ocupava aquela parede, também. não havia pedido a quem quer que fosse por uma foto sua com Adam. Por quê?
Adam é... era o seu noivo.
Foi uma das pessoas mais importantes de toda a sua vida.
Ele a amava, e ela... também o amou.
Também o amou.
Não amava mais? travou a mandíbula e se sentou na nova cama, cruzando as mãos e encarando os quadros em sua parede. Ela ainda amava Adam? Se, por um milagre, ele chegasse a sua porta agora, dizendo que também fez parte da Ironm4x e estaria disposto a recomeçar ao seu lado, ela aceitaria?
Seu lábio inferior foi preso nos lábios e seus olhos se fecharam. Ela não fazia ideia. Estava perdida. Àquela altura, sabia mais do que qualquer coisa que estava apaixonada por , mas e quanto a Adam? O que ainda sentia por ele? Continuava amando-o? Sim.
Disso ela sabia.
Só não sabia como. Há várias formas de amor, e não conseguia entender qual era a que sentia por Adam no momento.
Sua cabeça latejou e decidiu que não era hora para pensar naquilo. Precisava de um bom e longo banho, deitar em sua cama e dormir boa parte daquele sábado. E, provavelmente, do domingo também. Só então chegaria segunda-feira e voltaria. A que ponto havia chegado? Contar horas para estar perto de novamente. Ela não se importava com o pensamento, no entanto. Dois dias sem ele.
Dois dias sem suas risadas; debochadas ou não. Dois dias sem ouvir sua voz. Dois dias sem irritá-lo ou ser irritada por ele. Dois dias sem beijá-lo ou tocá-lo. Dois longos dias sem ao menos a sua presença. Realmente, aquele seria um dos finais de semana mais longos de sua vida.
E, realmente, ela estava mais dependente de do que podia imaginar.
Estava mais apaixonada do que conseguia admitir.
O que ela não imaginava era que estivesse na mesma situação. Ainda eram 12h00am e ele já estava acordado, brincando com uma bola de beisebol; jogando-a para cima e logo a pegando, enquanto continuava deitado. Não havia conseguido dormir mais de duas horas.
’ POV.
Deixei em seu quarto e tomei um banho no Ministério. Chamei um táxi e logo estava na porta da boate para buscar meu abandonado e querido carro. Dirigi direto para casa e fiz meus próprios curativos nos meus mais novos machucados o mais rápido possível. Como podia ter deixado aquele maldito me bater desse jeito? Eu não sabia. Soldado do exército e uma vida inteira praticando lutas não poderiam ser em vão. E então veio o álcool... Debilitado como um rato. Mas não importava mais. Aquilo passaria em breve, e eu faria tudo de novo. Faria tudo de novo, e se conseguisse, ainda pior para quem tentasse algo com minha .
Ora. Minha.
Ri amargurado da minha derrota.
Ela não era porcaria nenhuma sua.
A pobre bolinha inocente que antes estava em minhas mãos, agora batia contra a parede do meu quarto. Ela não tinha culpa, mas serviria. Eu precisava descontar a minha raiva em algo. Raiva de , raiva de mim. Raiva do meu avô, da terceira guerra, da Ironm4x, da maldita hora em que pus os olhos naquela mulher.
A mulher que estava acabando comigo, de todas as formas.
Ela havia me xingado. Me batido.
Mulher alguma já levantara a voz comigo, quanto mais me dar um tapa.
Sorri, me lembrando do primeiro dia em que tinha conversado com ela. Ou discutido, como prefira chamar. Ela me intrigara desde seu primeiro olhar. sempre foi o maior mistério que tive em mãos em toda a vida. E que, provavelmente, teria.
Quatro meses haviam se passado. Xingamentos, gritos, humilhação, discussões intermináveis de ambas as partes e cá estava eu agora. Terminantemente e perdidamente apaixonado por .
apaixonado. Isso deveria ser algum tipo de piada, e das boas. Todas as mulheres que tive na vida não passaram de atração, tesão ou algo relacionado. Uma noite, duas, uma semana no máximo. Com exceção de Kyara, era óbvio, mas ela era como uma amiga... Uma amiga com benefícios. Conversávamos, ríamos e fazíamos sexo. Tudo não podia melhorar.
Até ela chegar...
Até se mostrar como de fato era e me deixar assim. Isso sem nem ter chego perto de levá-la para a cama.
Era muito mais do que atração. Não era só por sua beleza – que por sinal, me deixava louco -, mas por quem ela realmente era. Por sua personalidade forte e decidida. Por seu jeito menina e mulher, ao mesmo tempo. Por ser tão forte. Por, apesar de conhecer alguém há somente quatro meses, estar disposta a trocar sua liberdade pela dele, gratuitamente. Ela é incrível, por dentro e por fora. É a mulher que eu, mesmo que inconscientemente, sempre esperei encontrar.
Sentei-me na cama, encarando a televisão desligada a minha frente. Eu queria estar com ela. Queria, absurdamente, tê-la ao meu lado. Queria abraçá-la. Queria beijá-la. Queria rir no vão de seu pescoço e ouvi-la dar aquela gargalhada que tanto amava ouvir. Tê-la em meus braços. Queria simplesmente estar com ela. Mas não só fisicamente, como no Ministério. Queria aqui, na minha casa, no meu quarto, na minha sala, na minha cozinha... Na minha vida. A queria para mim.
Eu poderia ser um médico como todos os que eu conheci na faculdade, trabalhar num hospital tradicional de Berlin. Conhecer em um bar qualquer por ela ser amiga de algum amigo meu. Conversaríamos, iriamos para a cama e quem sabe, quem sabe... Nos envolveríamos. Mas não. Não para . Não para o neto de Yan . A vida não poderia ser fácil justamente com relacionamentos, não era?
Ela tinha que ser . A mulher que cresci ouvindo falar sobre o quão horrível era. Sobre como tinha destruído a nossa família. Como era um monstro.
Ri do quão ridículo aquilo soava. podia não ser uma mulher fácil, podia não ser a bonequinha de porcelana que todos queriam que fosse, mas não chegava perto de ser mau. E era justamente por isso que eu estava apaixonado por aquela mulher. Ela era alguém normal, com erros de verdade. Era boa quando necessário, mas não era boba. Tinha defeitos como todas. Todas as que me envolvi e deixaram-me saber sobre seus defeitos, que não eram poucos e nem simples, tempos depois. Mostravam serem perfeitas. E foi então que descobri: ninguém era. Ninguém era boa o tempo inteiro. Ninguém era caridosa o tempo inteiro. Ninguém era apaixonante o tempo inteiro.
também não.
E era isso. Ela era a mulher mais imperfeitamente perfeita que eu já havia tido o prazer de conhecer.
Meu celular apitou e a foto de Kyara, acompanhada de seu nome, apareceu na tela principal. Ela era uma mulher bonita, muito bonita. Era engraçada e interessante boa parte do tempo. Mas eu não sentia mais vontade... Eu não queria mais estar com ela. Apertei o botão de bloqueio e me levantei. Eu teria de passar o tempo fazendo algo, se não pensando nela. Tinha que ser possível.
E logo me veio à cabeça outra pequena mulher que seria capaz de me fazer esquecer de por alguns minutos: Liebe. A pequena e doce Liebe, minha afilhada. Um sorriso doce tomou meus lábios e me lembrei da última vez que a vira: já fazia três semanas. E eu sentia tanto a sua falta. Ela já estava perto de completar quatro anos e estava crescendo tão rápido.
Joshua era um homem de sorte. Tinha uma família digna de comercial de margarina. não pode ter filhos.
Por que eu estava pensando nela? Balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Eu não deveria associa-la com família. Era impossível. Sair do Ministério, me casar com ela... Era engraçado pensar. Engraçado e sofrido. Aquilo nunca seria possível.
E me casar... Casar-me, provavelmente, era menos provável ainda.
Eu já me via com cinquenta anos, sentado na varanda da minha casa na praia, com um copo de whisky na mão, observando as gaivotas. Parecia saudável.
E solitário.
.
Ah, ...
Fechei os olhos, encostando a cabeça na porta da geladeira. Nós dois estamos destinados à solidão, . Você, no Ministério, e eu, em minha casa de praia.
Eu não queria isso.
Não queria...
A campainha tocou, me fazendo abrir os olhos depressa. Eu não estava esperando por ninguém. Fui até meu quarto e vesti uma camisa qualquer e me dirigi até à porta. Olhei pelo olho mágico e a vi. Minha avó. Fazia dias que eu não a via, e não era surpresa sua procura. Jamais havíamos passado mais de uma semana sem nos falar, e agora estava acontecendo. O fato era que logo depois de sua visita tubulada ao Ministério, mostrando a todos aqueles vídeos e falando aquelas coisas... Eu estava chateado. Estava decepcionado. Ela havia sido má como jamais fora. E má com ela.
não merecia aquilo.
A campainha voltou a tocar e eu acordei dos meus devaneios. Abri a porta e a encontrei, sorridente como sempre fora comigo. Não deixei de sorrir também. Ela era a pessoa que eu mais amava no mundo. Havia me criado, me ensinado valores, me amado. Fora a única figura feminina que tive. Apesar de sua personalidade também forte, de seu jeito muitas vezes duro, ela sempre esteve comigo. Sempre me protegeu. Me cuidou. Foi a minha mãe e avó.
- Querido. – sorriu abertamente, tocando em meus ombros para que eu me abaixasse um pouco, e o fiz. Ela beijou minha testa demoradamente e ao abrir os olhos, encarou meu rosto machucado. – Oh, meu Deus! O que aconteceu?! – entreabriu os lábios, preocupada. Ah, eu tinha me esquecido...
- Vó. – sorri, lhe dando um beijo na testa, também. – Está tudo bem. Fui treinar boxe e... Enfim, foi sem querer. – menti, com um sorriso seguro. Ela pareceu acreditar, já que balançou a cabeça, enquanto ria. Parece que alguém está finalmente aprendendo a mentir.
- Tome jeito, . – me deu um tapa leve no braço, que não havia feito nem cócegas. Ela sorriu comedidamente. – Senti sua falta. Por que não foi mais a minha casa?
Suspirei, abrindo espaço para que ela entrasse e ela o fez, sentando-se no sofá. Elegante e vestida de preto, como sempre. O luto eterno que dizia respeito ao meu avô, e agora ao meu pai.
- Foram dias corridos, vó. Também senti saudades. – fui até o sofá, me sentando também. – Quer beber algo?
- Não, obrigada. Mas me diga... Como estão as coisas?
- Coisas? O Ministério? – eu sabia muito bem do que ela estava falando. – Está tudo certo.
- E ela, querido?
- Ela? – engoli a seco, tentando desviar o olhar dos dela. Não, vó, não...
- Nossa bonequinha de ventrículo, . – sorriu, e eu não sorri de volta. Odiava o modo como falara de . – Você está trabalhando para que ela esteja tendo a pior estádia possível, não está? Me diga... está sofrendo o suficiente?
Não, vovó. Não está. E ao que depender de mim, jamais voltará a sofrer por sequer um só dia.
/’s POV.
- Provavelmente está. – se levantou, com o pretexto de pegar um copo de água no frigobar. – Quem não estaria sofrendo, no lugar dela? – sorriu sarcástico, despejando o liquido no copo. A ressaca começava a dar as caras.
- Em acordar quase sessenta anos depois, na mesma forma física? Eu acho que não, querido... – riu, procurando algum foco de risada no rosto do neto. Não o encontrou, no entanto. Ele tomara um grande gole de água. – Dormiu enquanto no mundo lá fora as pessoas matavam umas as outras, por sua causa. Enquanto ela estava naquela máquina, dormindo e sonhando tranquilamente, seu avô era morto. Nossa família era desfeita. – disse séria, com uma postura firme. inspirou fundo, não aguentava mais aquela conversa. – Ela estava bem, e nós? Nós e todas as pessoas desse mundo sofríamos por sua causa! Por ter sido tão irresponsável e atrevida!
- Então, por que não a mataram naquela época?! – disse, cansado de seu discurso pronto. – Por que escolheram deixá-la viver, dormir tranquilamente como a senhora mesma diz, e acordar maravilhosamente igual a como era cinquenta e oito anos depois? Por quê? Não me parece coerente.
- O que está dizendo, ? – franziu o cenho, desconhecendo-o.
- Você sabe o que estou dizendo, vó. – suspirou, dando outro gole em sua água. – Não seria mais fácil e doloroso tê-la matado na época?! Por favor!
- Você já sabe toda a história... Seu avô estava construindo a Ironm4x e encontrou a cobaia perfeita. Vingança é um prato que se come frio, . Sempre lhe disse isso.
- Foi uma ótima vingança. – sorriu amargurado, jogando a cabeça para trás, encostando-a ao sofá. Ele encarou o teto, que no momento parecia bem mais atrativo do que sua avó. – E eu nem precisei me encarregar disso. Todo o trabalho já foi feito. Acordar todos os dias e ver que perdeu tudo, os amigos, a família, o país, a vida... – repetiu as palavras que ela havia lhe dito nesta manhã, e fechou os olhos brevemente. – Acho que meu avô ficaria orgulhoso.
- Não gostei do tom que usou.
- Que tom usei? – virou a cabeça de lado, encarando a senhora.
- Foi sarcástico... – olhou-o com certo desprezo. – ...
- O que foi, vó?! – bufou, sentando-se normalmente, apoiando os antebraços nos joelhos. – Só estou cansado. Passei a noite fora e estou esgotado.
- Você está agindo como o adolescente rebelde que era aos dezessete anos. – constatou, buscando o olhar do neto. – O que está errado?
- O que está errado? – riu debochado, umedecendo os lábios. – O que está errado?! – repetiu, balançando a cabeça negativamente. – É melhor perguntar o que não está errado. Nada está certo, vó. Tenho vinte e quatro anos e sou herdeiro do Ministério da Alemanha. Odeio aquele lugar. As pessoas que estão nele. – ou quase todas. – Odeio o que faço nele, nem exercer a minha profissão eu posso! Odeio ter que ser responsável por tudo. Odeio a minha casa. – olhou em volta, irritado. – Odeio ter ninguém. Odeio...
- . – incentivou, gesticulando com a cabeça. – Odeia . Diga, desabafe.
olhou para a avó, franzindo o cenho. Ele não a odiava. Não chegava nem perto disso. Era o completo oposto. A mulher, entretanto, parecia desesperada para ouvi-lo dizer aquelas palavras, já que mal piscava e engolia em seco a cada segundo.
- Eu não iria dizer isso. – desviou o olhar. – Iria dizer que odeio tudo em minha vida.
- , não. – sussurrou, balançando a cabeça negativamente. – , olhe para mim. – ele o fez. – Ela não. – disse, parecendo desesperada. Parecendo não, ela estava, e era claro pelo tom de sua voz e seu olhar. – não!
- Não o quê?
- Você está gostando dela. – apaixonado, vovó. – Ah, por Deus! – levou as mãos aos lábios entreabertos, tapando-os. – , você não pode, me ouviu? Ela é só umazinha. Pode até ser um pouco atraente, mas não, você não pode. Está me ouvindo?! Moleque, você está ouvindo a sua avó?! – puxou seu ombro com força e ele quis rir. Rir de nervoso, rir de sua própria desgraça, rir de tristeza. Rir por sua avó estar quase lhe batendo, aos 24 anos. – Você é um ! Um ! A família vem à frente de tudo. Ainda mais de . – disse seu nome com certo nojo, o que o fez travar a mandíbula. – Quer ir para a cama com ela e depois deixa-la à mercê? Ótimo, será ótimo. Mais sofrimento para a garota. Mas gostar dela não!
- Você está gritando.
- Eu não me importo! – se levantou, possessa. – Me desminta agora, . Por Deus! Não me deixe acreditar que estou certa!
- Eu não gosto dela. – disse, convicentemente. Ele falava a verdade, não só gostava dela. Estava apaixonado.
- Eu não acredito.
- Não posso fazer nada, vó... Já disse que não gosto da mulher, agora se não quer acreditar...
- Acho melhor você estar falando a verdade, . Melhor para você e para ela. – suspirou ameaçadora, passando a mão pelos cabelos brancos. – Você não gostaria de ser a maior decepção de seu pai, não é?
Seu ponto fraco. Uma pontada tomou seu estômago e ele ofegou, negando com a cabeça rapidamente.
- Nunca.
- Então é bom que essa atraçãozinha, piedade, ou o que quer que seja, passe o mais rápido possível. Ele não passou a vida inteira trabalhando em algo para que você se apropriasse e o jogasse pelo ralo, em menos de seis meses. Ele confiou a Ironm4x a você, .
- Ele me confiou o Ministério. Eu nem fazia ideia sobre essa máquina!
- Não importa! – disse alto, e se sentiu um garotinho de dez anos novamente. – A Ironm4x é grande parte do Ministério, e quando você tomou posse, logo se tornou responsável por tudo que há nele.
- Eu sei.
- É bom não esquecer-se, então. Estamos conversados, ? – ele assentiu, sério. Sentia-se de novo como o adolescente rebelde que obedecia a avó acima de tudo. – Me acompanhe até a porta. – acenou, e ele se levantou, caminhando até a mesma. – Você sabe que sua avó te ama, não sabe?
- Amo você também. – disse, e naquele momento, ele sabia que não era verdade. Sua avó era a pessoa que mais amava no mundo, mas agora, só conseguia sentir raiva. Desgosto.
- Até logo, querido. E me orgulhe, como tem feito até hoje. – piscou, e deu um passo afora da casa. Seu segurança e motorista já a esperava. Com um breve aceno, a mulher entrou no carro e fechou a porta atrás de si.
O elefante que parecia estar de morada para suas costas saiu, e ele sentiu a respiração se normalizar. Ou quase.
Desde que se deu conta que estava apaixonado por , sua respiração havia virado descompassada. E continuava assim. Mas agora, sem a avó martelando coisas em sua cabeça, ele podia finalmente respirar um pouco mais aliviado.
Fodido, .
Fodido continuava sendo a palavra.
- Nós? Vizinhos?! Que sonho mais louco e invejável, Peter! – riu, ainda deitada em sua nova cama. O tempo lá fora já parecia mais estar escurecendo quando ela finalmente acordou. Hibernar era pouco para o que tinha feito. – E o que mais?
- Você estava grávida, e daria a ele o nome de Peter, em minha homenagem! – o sorriso da garota se fechou, e ela suspirou. Peter estava lhe contando o sonho que teve durante a noite, e tudo estava bem... Até aquilo.
- Foi realmente um sonho louco. – mordeu o lábio, espreguiçando-se. – E impossível. No meu caso, pelo menos.
- Ah, não diz isso... Você pode sair daqui algum dia! tem sido muito bom, principalmente com a senhorita. – sorri sugestivo e ela riu fraco, encarando as próprias unhas.
- Isso não acontecerá, Peter. – concluiu. – Mas ora, deixemos para lá. – deu os ombros, voltando a encará-lo. – Como foi a primeira noite sem mim e meu bom dia?
- Não ouvir os seus roncos foi muito bom!
- Ah, seu mentiroso! – gargalhou, dando um leve tapa em seu braço. – Sei que sentiu minha falta.
- E teria como não sentir, ?!
“Ninguém pode se virar sem , depois de tê-la conhecido.” A frase de ecoou em seu ouvido e ela sorriu, mordendo o lábio inferior.
- Eu também senti e vou sentir ainda mais quando você for embora, mas vou logo colocar um sorriso no rosto por saber que você está feliz e vivendo, finalmente! – tocou em seu rosto, esticando-se um pouco e beijando sua bochecha.
- Será recíproco. – sorriu. – Como foi a noite com ?
- Como foi a noite com ... – repetiu, rindo. Ela não conseguia decifrá-la. – Eu me diverti. – decidiu. – Me diverti absurdamente... Bebi, fiquei bêbada. Morri de ciúmes dele por causa de duas, e mais, mulheres. Ele saiu no braço com um brutamonte por minha causa. Conversamos, rimos, dançamos... Nos beijamos. – Peter sorriu envergonhado. – Conheci seu melhor amigo. Viemos para o Ministério, ele me trouxe ao meu novo quarto e quando vi as fotos – apontou para a parede com os retratos. –, comecei a chorar. Ele me abraçou e me ouviu. Me fez sentir melhor... – suspirou, inconscientemente. – Ah, meu Deus. Estou perdida. – riu, levando as mãos para o rosto, cobrindo-o.
- Foi uma noite boa, então?
- A melhor delas. – tirou as mãos do rosto, e umedeceu os lábios. – Parece que quanto mais tento me enganar, mais apaixonada fico por .
- Você, apaixonada por ... Se há quatro meses eu ouvisse isso, acharia que realmente estávamos num manicômio, como você havia dito.
- Ah, Peter. – deu outro tapa em seu ombro, ainda rindo. – Não é como se pudéssemos controlar... E acredite, eu tentei. Tentei de todas as formas.
- E onde você acha que isso irá chegar?
inspirou, arrumando-se na cama. Aonde iria chegar? Ela não sabia. Não fazia a mínima ideia. Um romance normal entre os dois estava fora de cogitação, e eles ao menos haviam falado algo sobre. Sabia que sentia o mesmo somente por causa seus beijos e sua atitude com ela, porque palavras... Ainda não havia escutado. E nem dito. Mas ações dizem mais do que palavras, não era?
Não era?
Ela não sabia também.
Aquilo nunca daria certo. já havia perdido as contas de quantas vezes havia sido beijada por , mas eles nunca tinham tocado naquele assunto. Sempre beijavam-se, raramente diziam alguma piada de duplo sentido sobre aquilo, e o assunto era esquecido. Nunca haviam falado sobre o aconteceria com os dois. Se eram só beijos, ou... Se havia sentimento.
- A lugar nenhum. – disse, convicta. – Lugar nenhum, Peter. – sorriu sem humor, erguendo o olhar para o amigo. – A quem eu quero, ou queremos enganar? Isso nunca vai dar certo.
- , eu não falei por isso...
- Eu sei, eu sei, Peter. Mas é a verdade. – umedeceu os lábios, sentindo um nó formar-se em sua garganta. – Ah, droga. – riu sarcástica, olhando para o teto. – Droga. Mude de assunto, por favor.
- Ele também gosta de você...
- Peter, mude de assunto. – disse, séria. Não queria chorar, não queria sofrer. “Não sofra por antecipação”. Ela lembrou-se e quis morrer. “Viva o momento”. – Cachorros, Elvis, música, festas, bolo de morango, chocolate, Jane... – começou a recitar coisas que lhe fizessem esquecer-se de . Não parecia resolver, no entanto. – Adam... – mordeu o lábio inferior, respirando fundo. – Adam.
Foi então que ela se deu conta de que não sentia mais o conhecido frio na barriga ao citar o nome dele. Não enchia mais a boca ao dizer aquelas quatro letras; que há alguns meses (ou muitos anos), lhe faziam perder a cabeça.
Hoje já não fazia nem cócegas. Era óbvio que ela continuava amando-o, mas não daquela forma.
Da forma que se sentia ao dizer o nome de . “”, só em pensar, seu estômago revirava.
- Eva. – Peter disse, chamando sua atenção. – Você a conhece... bem? - disse, e ela teve certeza que ele estava fazendo o que ela pediu: mudando de assunto. quis abraçá-lo prontamente, mas não o fez.
- Bem como?
- Sobre sua vida... Se ela tem filhos, é casada... – perguntou em dúvida, e sorriu abertamente. Ele estava interessado na psiquiatra!?
- Eu não sei... Será que temos alguém aqui descobrindo outro sentimento fora o da amizade?
- Não! , por favor! Me respeite. – disse, num tom sério e ela gargalhou, secando os olhos, antes marejados, com as costas das mãos.
- Só estou falando! Não precisa ficar irritado. – continuou rindo, enquanto segurava seu travesseiro.
- Ela só está sendo uma pessoa muito bacana comigo e...
- Também fui uma pessoa muito bacana com você...
- ! – repreendeu, e ela gargalhou ainda mais. Após tentar morder o sorriso, Peter foi vencido e riu também. Amava ver a sua menina rindo.
O sábado terminou depressa, e por mais arrastado que fosse o domingo, não demorou muito para que chegasse ao fim também. E e agradeceram por isso.
Ou não.
Depois da conversa com a avó, desistiu de todos os planos que fazia para o final de semana. Não saiu com James, não foi até a casa de Joshua para ver Liebe. Não fez nada a não ser assistir séries, enquanto tomava cerveja em frente à televisão. Pensando, pensando, e pensando. Em , nas palavras da avó, no pai... Na decepção. Aquilo estava lhe corroendo. Mais do que preferia imaginar...
não estava muito diferente. Mas por motivos diferentes: sua autodefesa, já mais do que fragilizada, gritava para seu coração que aquilo não daria certo. Que era melhor parar, enquanto ainda havia tempo. Se é que ainda havia. Se não daria certo, por que continuar insistindo? Porque você está apaixonada, . A voz ecoava em sua cabeça, e ela tentava ignorá-la. Só não sabia por mais quanto tempo conseguiria.
Brandon veio chamá-la na segunda-feira de amanhã, e estranhou o fato do rapaz não segurar sua muda de roupas nas mãos. Ao questioná-lo, ele disse que pediu para que ela olhasse seu guarda-roupa. A mulher caminhou até o mesmo e abriu as portas; encontrando algumas roupas. Roupas. Ela riu, balançando a cabeça. E não eram só calças de moletom e camisas regatas brancas. Eram shorts, calças – de variados tecidos, camisas, camisetas, jaquetas. “.” Sorriu, mordendo o lábio inferior. Ela buscou uma roupa qualquer e se guiou até a porta novamente. Foi ao banheiro, tomou um banho e seguiu à sala de reuniões.
Encontrou Franz e Eva, e ao olhar para o canto, viu o . Ela sorriu, e ele também, mas não da mesma forma. Era um sorriso comedido, fraco, sem vida. O que havia acontecido?
Após cumprimentar todos com um “bom dia”, ela se sentou. não respondeu.
- Pronta para voltarmos aos testes da Ironm4x? – Franz disse, e ela foi obrigada a rir.
- E algum dia paramos? Achei que estávamos só dando um tempo para cuidarmos do Peter...
- É isso mesmo, querida. – Eva sorriu, apontando para a cadeira ao seu lado. – Estávamos conversando com e... Bem, conte a ela. – incentivou, olhando para o rapaz.
- Vamos pagar para Peter todo o mês uma boa quantia para que ele se sustente sem quer que trabalhar. Funcionará como uma indenização.
notou seu tom frio e sentiu o coração congelar por dentro. Tudo bem, . Dois podem jogar o mesmo jogo.
- Injusto seria se não fosse assim. – disse no mesmo tom, e percebeu Eva tirar os óculos para encará-los.
- Está tudo bem por aqui?
- Comigo está tudo ótimo, mas parece que com ...
- Estou bem também, . Obrigado por se preocupar.
- Vocês não estavam começando a se entender? E por que seu rosto está machucado, ? – foi a vez de Franz questionar.
- Ninguém está se desentendendo aqui, Franz. E isso diz respeito a minha vida pessoal.
- Ele apanhou de um cara. – respondeu, vendo-o virar-se para encará-la, incrédulo. – E nesse momento estou querendo dar um beijo naquele cara por ter feito isso.
- Devia ter feito isso na sexta-feira à noite então. Arrependimentos não são bons, .
- Cala a boca, .
Ele se aproximou, colocando as mãos espalmadas em cima da mesa, à sua frente.
- Vem calar.
- Seria um prazer dar um soco bem dado na sua boca, mesmo. Bipolar!
- , ... – Eva chamou, mas era como se ela não estivesse ali.
- Bipolar por quê? O que eu fiz?!
- O que você fez!? Ah, . Me poupe! – se levantou também, rolando os olhos. Franz olhou para Eva e eles se entenderam com o olhar: era hora de deixá-los a sós. Ambos saíram em silêncio, e funcionou, pois o "casal" ao menos notou. - Você age como se nada tivesse acontecido! Sempre agiu, não é a primeira vez!
Era a hora de colocar as cartas na mesa, e entendeu o recado.
- O que você queria que eu tivesse feito, então? Te visto entrar, corrido até você e beijá-la? É isso? É, . Como eu queria isso...
- Ridículo! Só queria que me tratasse normalmente, não como um cavalo. Não como o de quatro meses atrás.
Era isso então. Causar-lhe raiva, para que talvez ela se tornasse mais difícil e ele seria capaz de esquecê-la. Vamos, , você consegue.
- Desculpe desapontá-la, senhorita ...
- Para. – engoliu a seco, se aproximando dele. Seu tom não parecia ameaçador, mas sim... Preocupado. – Para. Você não é assim. O que houve?
- E você me conhece para saber se não sou assim?
Ela conhecia. Conhecia como não conheceu ninguém. Sabia todos os seus defeitos e acreditava conhecer praticamente todas as suas qualidades também. E, principalmente, sabia quando ele estava mentindo.
- Você sabe que sim. – disse baixo, olhando em seus olhos. Ela queria sentir raiva, queria sentir ódio. Mas não conseguia. Simplesmente, não conseguia. – Se não quer mais continuar com isso... – apontou para os dois, e disse a palavra com certa dor. – Por mim está ótimo. Nós nunca tivemos nada de verdade, mesmo. Nem falarmos sobre isso falamos! – deu os ombros.
- É óbvio que conversamos! Não exatamente sobre, mas pra quê? Sabíamos o que estava acontecendo.
- Sabíamos? – ela riu, debochada. – Você poderia até saber, mas eu não. Nos beijávamos, dizíamos uma palavra ou outra de duplo sentido, ou engraçadinha e pronto, mudávamos de assunto. Pra mim isso não é conversar sobre...
- Eu disse que gostava de você!
- Ótimo, eu também gosto de você. Não te odeio. Mas, e aí? Nos vemos no outro dia e está tudo como antes. Não sei como devo agir, o que falar. Parece que nada aconteceu!
- E o que você queria, ? – engoliu em seco também, gesticulando com as mãos. Ela não sabia. Ou sabia, mas era humilhante demais dizer aquilo, quando claramente não desejava o mesmo. – O que você queria? Que você me beijasse agora e me dissesse que não importa o Ministério, a Ironm4x, a guerra, sua avó. Você enfrentaria tudo para ficar comigo.
Sua avó...
Ela pareceu cair em si, e sentiu os olhos marejarem. Engoliu o choro, no entanto. Estava brava demais para aquilo.
- A vovó fez chantagem emocional, não é?
- O quê?
- Está me tratando assim porque a sua avó falou com você, certo?
- Como você sabe que ela falou comigo? – arregalou os olhos, e logo depois sorriu. Ele quis se enforcar com a gravata no mesmo segundo. A maldita estava blefando.
- Eu sabia! – fechou o sorriso, apontando para ele. – Eu devia imaginar! Deixou escapar para a vovó que me beijou, não foi? E a velha logo fez questão de...
- Não fale assim dela.
- Oh, desculpe. A jovem logo fez questão de dar um puxão de orelha no netinho e cortou a mesada, não foi? – fez um bico, e ele travou o maxilar, com raiva.
- Eu já sei me cuidar muito bem, . Não preciso que ninguém me banque, e não, não tem nada a ver com ela. Estou agindo normal.
- Claro, com certeza. – ironizou, cruzando os braços. – Estamos entendidos, . Espero que esteja tudo entendido para você também. Cansei dessa brincadeirinha de século XXI onde as pessoas ficam com outras, sem compromisso algum ou fidelidade ou sei lá sem mais o quê. Nos beijamos algumas vezes, ótimo. Foi bom para você e para mim. Aconteceu, e não tem como voltar atrás. Mas ainda há tempo, então, ponto final. – levou as mãos inquietas para a cintura.
- Ótimo.
- Ótimo! – sorriu sarcástica e virou-se de costas, para sair. Mas ele não estava suficientemente convencido.
- Por que você ficou com a última palavra?! Era eu quem deveria terminar com a discussão!
- Me poupe, . – virou-se novamente. – Seu mimadinho ridículo, o que é? Quer discutir por dias? Porque, pode ter certeza, eu não me importo.
- Você não respondeu a minha pergunta, por que está fugindo? Com medo, ?
- Medo? – ela riu. – Você realmente acha que eu ainda tenho medo de algo?
- Então por que não me diz? O que queria de mim?
- O que eu queria, não. O que eu quero... - ergueu o indicador, enumerando. – Quero que vá se foder. Quero que vá para o inferno. Quero que se dê muito mal. Quero encher a sua cara de porrada. – terminou, e quis rir. Ela ficava tão fofa quando xingava. Quando estava brava.
- Tanto ódio faz mal ao coração, ...
- Sabe o que faz mal ao coração? Gostar de alguém. Se apaixonar. – engoliu a seco, abaixando as mãos. – Sofrer... Ódio não faz. Raiva muito menos. Pelo contrário, eles nos fazem ter vontade de viver. Somos movidos por ódio, , ou vai dizer que não sabia?
- Eu cresci sobre ódio, .
- Deve ser por isso que se tornou o que é hoje. – disse, machucando a si mesma com aquelas palavras. – Alguém que só sabe... – começou, mas não conseguiu terminar. Só sabe o quê? Ele não era uma pessoa má, e ela sabia.
- Você não acredita nas próprias palavras. – sorriu fraco, encarando-a.
- Certo, . Você não é alguém horrível. Mas continua sendo um netinho da vovó, mimadinho de merda, que não consegue fazer nada sem enfrenta-la. Não consegue ir atrás do que quer, para não magoá-la.
- Por que você acha isso? Quem disse que não vou atrás pelo que quero?
- Não minta para si mesmo.
- O que eu quero, então, ?
- Acho que essa pergunta não acabou muito bem da última vez, quando me perguntou o que eu queria...
- Não estou perguntando sobre você. Mas sobre mim: já que me conhece tão bem assim, me diz. O que eu quero, que não posso correr atrás?
De mim.
- Dos seus sonhos. Esse Ministério não é o seu objetivo de vida, ! Salvar vidas é.
- É minha responsabilidade...
- Foda-se! Deixe isso nas mãos de Franz, de Klaus, ou da sua avózinha querida mesmo. Você vai abrir mão da sua própria felicidade para deixá-la orgulhosa?
- Desde quando isso se tornou uma discussão sobre a minha vida e não sobre nós?
- Não existe “nós”. – disse, dura. Seu maxilar trincou e ela deu um passo para trás. – E desde que você me perguntou o que queria da vida.
- Você sabe muito bem que eu não falava sobre isso.
- Não? Então sobre o quê? – cruzou os braços, esperando sua resposta. Mas algumas vozes no corredor chamaram as suas atenções.
A porta se abriu e de lá uma mulher extremamente bonita, saiu. Era ruiva natural, alta, tinha os olhos extremamente azuis, esguia, e os cabelos eram ligeiramente ondulados. Ela segurava sua bolsa, e um caderno nas mãos. A mulher, que mais parecia a Miss Universo, ou uma modelo de capas de revistas, sorriu ao olhar para . - Kyara?
Ele disse, e sentiu-se murchar por inteira. A maldita era bonita como o inferno.
- ! Amor! – ela sorriu ainda mais, caminhando até ele e beijando o canto de sua boca. deu um passo para trás e quis morrer. Quis pegá-la pelos cabelos e arrancar fio por fio. Quis arranhar seu rosto inteiro, até ver a marca dos vergões. Quis... ser ela. Quis beijar quando bem entendesse, quis chamá-lo de naturalmente. Quis chamá-lo de amor... Que ele fosse o seu amor. Seus olhos encheram-se de lágrima e ela piscou repetidas vezes, tentando fazê-las sumirem. Não soube se conseguiu, no entanto.
- O que está fazendo aqui, Kyara? – disse, parecendo nervoso.
- Esqueceu que viria aqui para fazer as entrevistas? Eu te falei quando foi no meu apartamento... – sorriu carinhosa, e virou-se para o lado, encarando . Olhou-a por inteiro. – Oi! Quem é você? – continuou sorrindo. A maldita tinha que ser simpática também.
- . – disse somente, sorrindo sem mostrar os dentes.
A expressão de Kyara se transformou no mesmo segundo em que ouviu o nome da mulher. Ela fechou o sorriso e juntou as sobrancelhas, olhando rapidamente para . Ele suspirou, cansado.
- ? – repetiu o nome, e assentiu, indo sentar-se. Estava decidido: iria virar homossexual. Chega de mulheres. – Hm, é um prazer conhecê-la. – soou falsa, e ela percebeu. A maldita já a conhecia? Uma leve sensação tomou seu coração ao pensar que havia falado sobre ela. Mas sumiu assim que se perguntou sobre o quê havia falado. A mulher voltou a medi-la de cima abaixo e a garota arrumou a postura, travando a mandíbula.
- E você é... – incentivou-a a continuar, soando um pouco sarcástica.
- Kyara. – esticou a mão para cumprimenta-la, sorrindo sarcástica também. Ela aceitou, apertando-a. – Sou a namorada de , ele nunca falou sobre mim?
- Kyara! – repreendeu, e sorriu de nervoso. Namorada. “Então, ele está te traindo, querida. Sinto muito.” Foi o que diria se não estivesse tão abalada. Um nó apertou sua garganta e ela tentou respirar fundo, sem soluçar. Precisava sair dali antes que começasse a chorar naquele mesmo momento. – Ela não é a minha namorada, .
- Você não tem que me dar explicações sobre a sua vida pessoal, . – riu, tentando soar convincente.
- É, . – riu óbvia, caminhando até onde o homem estava. Ele estendeu a palma da mão para que ela parasse e ela o fez, ficando mais séria. – Você trabalha aqui, não é? – se virou para , que estava desejando que uma bomba caísse em sua cabeça naquele minuto.
- Trabalho.
- Trabalha.
e disseram uníssonos, e Kyara ergueu uma das sobrancelhas, olhando-os.
- Hm! – sorriu. – Vocês estavam conversando? Se eu soubesse, teria vindo mais tarde...
- Você deveria ter marcado uma hora, Kyara.
- Já tínhamos terminado. – disse, encontrando a hora perfeita para sair dali. “Terminado”, oh, sim, eles realmente tinham. Em todos os sentidos. – Todos os assuntos acabados.
- Não concordo, . Os assuntos estão inacabados e, Kyara, se você pudesse voltar out...
- Não. – disse, talvez alto demais. Rápido demais. Desesperado demais. – Kyara, querida, pode fazer o que veio fazer, seja lá o que for. – sorriu cínica, caminhando até a porta. – Foi um prazer imenso conhecê-la.
- Imensurável. – a ruiva disse, sorrindo da mesma forma.
- ...
- . – virou-se, encarando-o. – Recite mentalmente minha lista de “o que você queria, ?” e então tenho certeza de que você vai encontrar os pontos que definem o fim do assunto do qual estávamos trabalhando. As finanças estão péssimas. – a última frase foi mais para despistar Kyara, que ainda os encarava desconfiada. A porta fechou com força atrás de si quando ela saiu. “- O que eu queria, não. O que eu quero - ergueu o indicador, enumerando. – Quero que vá se foder. Quero que vá para o inferno. Quero que se dê muito mal. Quero encher a sua cara de porrada.”
Ao lembrar a lista, dessa vez não quis rir. Quis correr atrás dela, segurar seu rosto, pedir desculpas e confessar que estava apaixonado. Perdidamente apaixonado e que irá passar por cima de tudo por sua causa. Mas ele não ia...
Talvez fosse melhor assim, afinal.
- Namorada, Kyara? – disse frio, virando-se para encará-la. – Sério?
- Essa menininha sem sal, ? Sério?
- Não interessa! É a minha vida, são as minhas escolhas e você não tem que se meter em nada. Em nada, está me ouvindo?
- Tudo isso só por que disso isso pra ela?! Ah, , por favor!
- Não é só isso, Kyara. É tudo! Só porque ficamos às vezes, isso não te dá o direito de chegar ao Ministério a hora que quiser para falar comigo, ou muito menos dar uma entrevista. Não te dá o direito de entrar na minha sala sem sequer bater na porta. De me interromper, de colocar palavras em minha boca. Está entendido? – recitou, e ela rolou os olhos, sentando-se à sua frente. – Ainda mais neste caso. Você queria uma entrevista como qualquer outra jornalista, e eu aceitei, tudo bem. Mas você deveria ter ligado, marcado um dia, e, principalmente, uma hora. Repito: não é porque nos encontramos que você pode fazer o que quiser, ainda mais do lado profissional. Aqui, você é só uma jornalista como qualquer outra. Não misturo o lado pessoal com o profissional, e você sabe disso.
- Como você é chato! – riu, esperando-o rir também, ele não o fez. – Certo, desculpa. E... Não misturar o lado pessoal com o profissional? Que eu saiba, trabalha para você...
- E eu não estou com ela. – disse, óbvio.
- Então espera. – estendeu a palma da mão, figurando sua frase. – Você está gostando da menina sem ao menos ter ido para a cama com ela?!
- Não te interessa, Kyara. – massageou as têmporas, já sem paciência.
- Tudo bem, . – sorriu irônica, buscando seu caderno no colo e colocando-o em cima da mesa. Assim como o gravador. – Podemos começar?
- Com...? – incentivou, rindo. Ela só podia estar de brincadeira.
- A entrevista.
gargalhou audivelmente, e a ruiva bufou, rolando os olhos. Ele jogou a cabeça para trás, e só parou um minuto depois.
- Você é hilária, Kyara. Acha mesmo que eu iria te dar essa entrevista agora?! Marque outro dia, e então eu penso. – sorriu.
- Mas, amor...
- Você sabe que chantagem emocional não funciona comigo. – A menos que você seja .
- Tudo bem. – suspirou, vencida. – Mas não vai ter me feito vir aqui em vão, não é? – ergueu uma das sobrancelhas, olhando-o sugestivamente.
- Eu não te fiz vir aqui. – deu os ombros.
- Ah, para... – sorriu maliciosa. – Nunca pensou em transar no trabalho? – olhou em volta.
- Não estou com cabeça pra isso. – decidiu. Ela fez um bico, mas não o comoveu. Pela primeira vez na vida, não queria fazer sexo. Ou, pelo menos, não com ela. Sabia que futuramente se arrependeria disso, mas agora, não. Não conseguia tirar da cabeça, não conseguia tirá-la do coração... O quão sensível aquilo soava, ele não soube. Mas era só o que sentia. – Se puder ir embora...
- Está me dispensando?
- Estou. – De todas as formas. Sorriu, sem mostrar os dentes.
- Como quiser, . – sorriu sarcástica, como havia sorrido para anteriormente e a odiou um pouco mais por isso. Ele assentiu, mostrando a porta. A ruiva saiu, pisando duro. Dane-se.
fechou os olhos e respirou fundo, jogando a cabeça para trás; encostando-a no estofado de sua cadeira. Outra briga. A última, esperava ele. A partir de hoje iriam apenas conviver, como deviam ter feito do início. Talvez não resultasse naquela maldita angustia que estava sentindo desde que avó saíra de sua casa, no sábado. Sabia que não se odiavam mais – se é que algum dia havia –, então não teriam mais motivos para discutir, não era?
Era.
Porque aquele era a única razão que poderia fazê-los ficarem próximos, mesmo que trocando farpas. A indiferença iria ajudá-los a esquecer de toda essa maluquice de... Paixão. Porque ele iria esquecer. Tinha que esquecer. Tinha que se esquecer da pessoa que mais lhe fez bem em toda a vida. A pessoa que, em tão pouco tempo, o fez mudar. O tornou alguém melhor. O fez confessar coisas que jamais tinha dito a alguém, e que, principalmente, o entendia como ninguém.
Seus olhos abriram-se e ele resfolegou, chacoalhando a cabeça.
“A família vem em primeiro lugar.”
A voz de sua avó ocupou sua mente e ele levou as mãos ao rosto, fazendo pressão contra os olhos. O que seu pai diria àquela hora? Iria ficar do lado de sua avó, era óbvio. Mas... Também iria encontrar uma solução. Mas quê solução? Não havia uma. Era impossível. Ela era a razão dos seus problemas, mas, ao mesmo tempo, a solução de todos eles. “- Desculpe desapontá-la, senhorita ...
- Para. – engoliu a seco, se aproximando dele. Seu tom não parecia ameaçador, mas... Preocupado. – Para. Você não é assim. O que houve?”
Ela o conhecia. Conhecia mais do que ele mesmo. Em quatro meses, havia se tornado, inconscientemente, sua melhor amiga. A mulher que sempre desejou, mesmo sem ter imaginado como seria tal.
E seu rosto confuso, frágil, assim como quando ele a conheceu. Ela estava magoada por estar sendo tratada daquela forma, sem ao menos ter feito algo.
Mas era preciso. Para ambos. “- Acho melhor você estar falando a verdade, . Melhor para você e para ela. – suspirou, passando a mão pelos cabelos brancos. – Você não gostaria de ser a maior decepção de seu pai, não é?”
Lembrou-se das palavras da avó e voltou a suspirar, mas dessa vez sentia os olhos marejados. Ótimo; ironizou. Há um ano, se lhe dissessem que a avó fez mal a alguém, ele riria. Mas não hoje. Não tendo visto como a senhora agiu com ... sabia do que ela seria capaz. E havia prometido a si mesmo que não deixaria que ela sofresse por mais nada.
E nem o seu pai.
Mesmo que ele não estivesse mais ali, não deixaria que ele se decepcionasse.
Seria melhor assim... Melhor sem .
Tudo estava bem antes sem ela, por que não ficaria agora?
Ele quis rir porque não estava bem. Nunca esteve até conhecê-la verdadeiramente.
- Titio ! – Liebe ergueu os bracinhos e foi correndo na direção de , que estava na porta de sua casa.
- Oi, minha princesinha. – sorriu, colocando um dos joelhos no chão e abrindo os braços. A pequena enlaçou os braços em seu pescoço e ele a abraçou com cuidado, erguendo-a do chão logo após. – Que saudade!
- . – Heidi, mãe de Liebe o cumprimentou, com os braços cruzados e o sorriso simpático de sempre nos lábios. Joshua, que acabara de chegar com o chefe, foi até a esposa e a cumprimentou com um beijo rápido. – Querido. – sussurrou, com o rosto próximo ao dele. Comercial de margarina, . Nada é tão perfeito quanto parece... A não ser que seja Heidi e Joshua.
- veio nos visitar, amor. Aliás... Visitar Liebe. – se corrigiu, rindo. A esposa o acompanhou, sorrindo para os dois. – Vou buscar umas cervejas, você quer? – ela negou, e o marido saiu em direção à cozinha.
- Tio, eu fiz uma flor de massinha!
- Fez, foi? E cadê? Eu quero ver se ficou bonita! – brincou, colocando-a no chão. – E olha só se não é a Amélie? – apontou para a boneca que ele havia dado à sobrinha e estava em cima sofá.
- Ela tá mimindo! – explicou com o dedo indicador contra os lábios, fazendo sinal de silêncio.
- Quero estar viva para presenciar se tornando pai. – Heidi riu, sentando-se no sofá, e chamando-o para o mesmo. Ele se sentou, pegando Amélie no colo, enquanto Liebe corria para o quarto com a desculpa de buscar “o jantar de sua ‘filha’”.
- Talvez eu adote uma criança aos 40 anos, quem sabe?
- Ah, cala a boca. – balançou a cabeça, ainda rindo. Joshua voltou com duas cervejas e entregou uma para . – Você vai encontrar a mãe dos seus futuros filhos quando menos esperar. Não é, amor?
- O mais difícil não é encontrar, Heidi. – disse. Joshua se sentou ao seu lado, dando um bom gole em sua garrafa. – Mas sim, saber o que fazer quando encontrar.
- Hm... – murmurou, pensativa. – É algo sobre a tal ? – olhou de soslaio para Joshua, que deu os ombros, dando outro gole em sua cerveja. – Ah, para, . Eu te conheço desde que éramos virgens. E olha... Acho que já faz um bom tempo, viu?
- Aqui titio! – Liebe lhe trouxe um pratinho de brinquedo vazio, e uma colherzinha. – Cê já pode dar pra Amélie.
- Os adultos estão conversando agora, filha. – Joshua repreendeu carinhosamente, e ela suspirou emburrada.
- Eu posso alimentar a filha da minha afilhada e conversar ao mesmo tempo. – riu, pegando a colher de brinquedo e levando a comida imaginária à boca da boneca. – é só um grande problema. O maior que já tive, eu acho.
- Em qual sentido?
- Em relação ao Ministério, óbvio. A garota é... – tentou encontrar as palavras, e umedeceu os lábios. – Eu nem sei por onde começar. Mas acho que essa parte Joshua já deve ter te explicado. – ela assentiu, passando as mãos pelos cabelos da filha. – Resumindo: eu só deveria gostar um pouco menos dela.
- Você está apaixonado. – constatou, sorrindo.
- Por que sempre que falo sobre ela todo mundo tem que falar isso? Está tão na cara assim? Eu realmente preciso de algumas aulas de teatro com a Lily.
- Não! – Heidi riu, encostando a cabeça no ombro do marido. – Só te conheço a tempo demais e nunca vi você falar de alguém assim... Nem com esse brilho no olhar. Essa expressão. – mordeu o lábio, colocando a filha em seu colo. – O titio não está radiante, meu amor? – Liebe deu os ombros, rindo do jeito como sua mãe falava. Todos riram. – Se ela soubesse o que é radiante, diria que está.
- De qualquer forma, Heidi. É impossível. Não tem saída.
- Ah, deixa de ser frouxo, ! Por que não? Vocês são maiores de idade, e se você gosta dela assim, provavelmente é reciproco. Então, me diz, se duas pessoas se gostam e são maiores de idade, têm plena consciência de suas atitudes; por que não ficam juntas?
- Você falando assim faz parecer fácil, mas não é, acredite. – suspirou cansado, sorrindo fraco para a afilhada.
- , você mais do que ninguém sabe por tudo que passei para ficar com Joshua. Eu enfrentei tudo e todos... E olha só, você acha que não valeu a pena? – olhou à sua volta, o apartamento simples, mas confortável. E, principalmente, sua pequena família.
- Seu avô não era Yan e Joshua não era . É uma disputa de titãs, Heidi.
- Que disputa, ? Yan faleceu nos anos cinquenta.
- Mas a senhora continua mais viva do que todos nós, e...
- E que você é um frouxo. – bufou, afagando os cabelos da filha; que já estava sonolenta.
- E eu... Não sinto por ela metade do que você sentia por Joshua quando enfrentou tudo. – engoliu em seco. Não sentia, não é?
- Você ao menos acredita no que está falando?
- Heidi... Meu pai. – disse baixo, mordendo o lábio inferior. – Não vou ser sua maior decepção, mesmo não o tendo mais aqui.
- Você... Ah, . – suspirou cansada, também. – Você sabe o que faz, não sabe? Já é um homem formado, adulto, e com quase vinte e cinco anos. Quer saber de uma coisa? Quando você realmente sentir o que eu senti, não vai ter avó, família, ou história nenhuma que vai impedi-lo de fazer o que for necessário para ter essa pessoa junto de si. Vai passar por cima do que quer que for. E, se quer saber, eu acredito que esse dia não está tão longe. Mas quem sou eu pra dizer? – sorriu sarcástica. – Só não se engane, ok? Não adianta. Uma hora, querendo ou não, vem à tona. E aí, pode ser tarde demais. – trincou o maxilar, observando a afilhada. Ela piscava pesadamente. – Está na hora de dar tchau para seu padrinho, meu anjo. Você e Amélie vão dormir agora. – sorriu, e ela saiu de seu colo, coçando os olhinhos.
- Da próxima vez eu prometo vir mais cedo para brincarmos muito, tá?
- Tá. – sorriu, dando um beijo molhado na bochecha de , que riu, fechando os olhos. – Boa noite, titio ! Dorme com os anjinhos.
- Você também, princesa. O tio te ama. – tocou na ponta de seu nariz com o dedo indicador, ela sorriu com cócegas e sentiu a mãe pegá-la no colo.
- Também! – acenou, sendo levada para o quarto.
finalmente deu alguns goles em sua cerveja e colocou a garrafa sobre a mesa. Pigarreou e virou-se para o amigo.
- O que você acha?
- Sobre tudo isso? Que eu amo demais a minha esposa. – sorriu orgulhoso e riu, balançando a cabeça. Era um jogo perdido. – E que ela está coberta de razão.
- Sabe o que é mais engraçado? Se é que tem algo engraçado nessa história... – Joshua negou. – Com mulheres, amigos, funcionários, ou o quê for, eu consigo me impor como ninguém. Você sabe disso.
- E como! – Joshua riu, e ele o acompanhou.
- Mas quando se trata da minha família... Da minha avó, principalmente. Pareço ser um babaca frouxo como disse a Heidi, mas tem muito por trás, sabe? Eu não posso largar tudo por causa de alguém que conheci há poucos meses. Ainda mais esse alguém sendo quem é. Eu amo a minha avó, Josh. Eu a amo muito! Ela sempre esteve comigo, cuidou de mim durante toda a vida. Por mais... Apaixonado que eu esteja por , não posso decepcioná-la assim. Existem milhões de mulheres no mundo, e eu vou encontrar alguém tão boa ou ainda melhor do que ela.
- Se há uma coisa que eu aprendi na vida, , foi que quando uma coisa é para acontecer, vai acontecer. De qualquer forma. Você querendo, ou não. Lutando contra ou a favor... Se estiver escrito, se realizará. – deu os ombros, dando outro gole em sua cerveja. piscou pesadamente e encarou a janela à sua frente. – Ela te mudou, . – ele o olhou atento. – Ou o fez se mostrar como realmente é.
- Por que acha isso?
- Eu trabalho no Ministério há sete anos, cara. Você está lá basicamente desde que saiu da faculdade, e fora isso, todos os meses ia ajudar seu pai ainda adolescente. Te conheço há tempo demais para saber o quanto mudou. Não se lembra de como agiu quando a conheceu? , você a mandou pro Zimmerman! E ainda ameaçou a Brandon e a mim, caso não obedecêssemos.
- Não precisa me lembrar disso.
- Mas aconteceu. E, admito, até eu não te reconheci naquele momento. Você nunca foi a melhor pessoa do mundo, mas... Você estava perdido. Seu pai tinha acabado de falecer, e toda aquela responsabilidade do Ministério, e ver ... Eu entendo. Você se tornou alguém frio, calculista, rancoroso. Queria humilhá-la de todas as formas. E então... – sorriu fraco, vendo-o suspirar pesadamente, enquanto olhava para a televisão desligada à sua frente. – E então o inevitável aconteceu e acabaram se aproximando. Todo mundo percebeu. Até no mesmo cômodo os dois estavam ficando sem xingamentos e nem nada quebrando. – os dois riram. – E você voltou a ser o que conheci há sete anos. Ou ainda melhor. Ou, não... Voltou ainda melhor. Em todos os aspectos! Até libertar o coitado do Peter, cara.
- Eu devia ter feito aquilo há muito tempo...
- Mas o fez agora, e é isso que importa. E eu sei que não foi só por causa da , mas porque também quis fazer o bem. Aquela mulher me mostrou um que eu nunca sequer havia visto.
- Nem eu. – confessou, sorrindo fraco. Heidi estava voltando do quarto de Liebe, e se sentou no colo do marido. – Algum dia, quem sabe? Quem sabe eu me torne uma versão masculina de Heidi Büscher? – piscou para a mulher, que balançou a cabeça em negação, rindo.
- Você já é , pra que querer ser Heidi Büscher?
- Talvez assim eu crie metade da sua coragem.
- Você já a tem, só ainda não soube como despertá-la. Quando chegar o momento certo, vai encontrá-la. Eu tenho certeza! – sorriu, sentindo o carinho do marido em sua bochecha. observou a cena e sorriu também, era bonito de se ver.
- Tem razão. Eu sempre fui mais corajoso, vai dizer que não se lembra quando fomos naquela mansão abandonada dos Kohls? – riu, lembrando-se da cena que viveram aos 13, e 16 anos; respectivamente.
- Ah, não! Essa foi a única vez que fiquei com medo de algo, e isso já está esquecido. E eu sou a mais velha, sabia de mais coisa. Diga para ele, querido.
- Heidi é a reencarnação da Mulher-Maravilha, chefe. Vai dizer que não sabe?
Eles riram, e o homem recebeu um tapa da esposa, que acabou dando-se por vencida e rindo também.
Músicas do capítulo: Chains – Nick Jonas. (1)
Uncover – Zara Larsson. (2)
- Isso, Peter! Vê como dá toda a diferença? – Bridgit, a cozinheira do Ministério, disse. O homem experimentava um pouco do arroz que havia terminado de fazer. Era uma nova aula de culinária, para que ele aprendesse a cozinhar para quando saísse definitivamente do Ministério. acompanhava a cena de longe, enquanto ria da bagunça que o amigo fazia na cozinha. Mal acreditava que já estava assistindo àquelas aulas há um mês. Ele evoluíra tanto.
- Eu vou querer provar, hein? Não confio muito no Chef Peter.
- É a melhor coisa que já comi na vida, . Qualquer coisa que digam ao contrário é falsa. – disse brincalhão, vendo as duas rindo.
- Bridgit ficará ofendida com o comentário, Peter. - disse, aparecendo na porta. sentiu o coração acelerar como de costume e engoliu a seco, se transformando praticamente em uma estátua de cera do Madame Tussauds. Quanto menos o visse, mais rápido o esqueceria. Ou pelo menos torcia por isso. Tinha que acreditar nisso.
- Senhor . – Peter o cumprimentou, sorrindo. – Você aceita um pouco? – apontou para a panela, e negou, sorrindo cordialmente.
- Acabei de almoçar, mas obrigado. Aposto que está muito bom!
- Modéstia à parte, está, sim. – sorriu tímido. – Não é, Bridgit?
- Sim! Daqui a pouco vai querer tomar meu lugar na cozinha do Ministério. – brincou, e todos riram, inclusive , que estava calada no canto.
- Eu não duvido. – colocou as mãos nos bolsos da calça social, olhando de soslaio para sua garota. – Animado para ver o mundo além do Ministério, Peter? – sorriu fraco, voltando a encarar o mais velho.
- Muito! Mas estou nervoso, também. Não sei como vai ser...
- Você vai ter toda a ajuda que precisar, não tem que se preocupar. Tudo irá dar certo. – disse sinceramente, vendo o outro sorrir, assentindo.
- Obrigado por tudo novamente, senhor .
- Só fiz a minha obrigação.
- Ele só fez a sua obrigação.
e disseram uníssonos e se encararam, primeiro surpresos, e depois rolaram os olhos.
- Eu posso responder sozinho, .
- Oh, algo que pode fazer sem pedir a opinião da vovó? É algo a se comemorar, realmente. – ironizou, sorrindo da mesma forma.
- É ridículo você agir assim. – suspirou cansado, massageando as têmporas.
- Você é ridículo, .
- ... – Peter chamou, com a intenção de acalmar os ânimos.
- Não, Peter. Deixa-a falar... Não tem o mínimo fundamento. Talvez a Ironm4x esteja começando a afetar sua capacidade de bom senso.
- Então estou na Ironm4x desde que nasci, porque sempre fui assim, caso não tenha percebido.
- Você me cansa, garota.
- E você já me cansou há muito tempo! Me cansou antes mesmo de falar comigo pela primeira vez. Me cansou até antes de eu saber da sua existência! – aumentou o tom de voz, com o dedo em riste.
Bridgit saiu à francesa, e Peter suspirou cansado de tudo aquilo também. Até ele, que era tão novo com assuntos sentimentais, sabia o que estava acontecendo ali.
- Lindo show. Quer palmas agora?
- Quero que vá pra...
- ! – Peter foi até a garota, pegando em seu braço. – Vamos para nossos quartos, e você continua sendo mais nova do que eu, então eu mando. Sem reclamação, anda. – apontou para a porta e quis rir, mas mordeu o sorriso. A garota saiu pisando firme, com os braços cruzados. Parecia uma garotinha emburrada.
Fazê-la odiá-lo... Tinha que funcionar.
Ou ele estaria mais perdido ainda.
estava sentada abraçando os joelhos no divã da sala de Eva, que anotava algumas coisas em seu conhecido caderninho.
Suas mãos ainda tremiam de raiva e sua garganta continuava apertada por aquele nó angustiante. Queria odiar , queria sentir vontade de matá-lo, queria... Esquecê-lo. Mas havia se tornado impossível. Depois de conhecê-lo verdadeiramente nas ultimas semanas, odiá-lo estava fora de cogitação. Mesmo quando ele fizesse de tudo para merecer isso.
- Vamos lá. – Eva pigarreou, apoiando o queixo nas costas das mãos. – Pra mim, você vai contar o que tem acontecido com , não é? Estava tudo tão bem até o mês passado...
- Ele é um babaca. Um ridículo. Imbecil. Só isso!
- E por que ele é todas essas coisas? – sorriu fraco. Sabia que aquelas palavras eram da boca para fora.
- Eu não sei! – admitiu, suspirando pesadamente. – Tudo estava ótimo no sábado de manhã, há três semanas... Até ele chegar naquela segunda-feira daquele jeito que você viu. – mordeu o lábio, cruzando os braços. – Eu não fiz nada, Eva!
- Oh, querida. – entreabriu os lábios, caminhando até ela, que fechou os olhos com força e tremeu o lábio, prestes a chorar. Não, , não... – Ei, olhe pra mim, não vai chorar. Ele é um babaca, ridículo e imbecil, lembra? – tirou o cabelo de seu rosto, e a garota abriu os olhos. Eva havia se tornado muito mais do que uma amiga. Ela era como Louise... Como a mãe que nunca teve. fungou, assentindo. Os olhos já estavam marejados.
- Eu tenho certeza que aquela velha maldita fez uma lavagem cerebral nele, não é possível! E ainda tem aquela... Aquela Kyara. – disse com certo nojo e Eva sorriu. – Ela é absurdamente linda e simpática... E deve ser inteligente, também. E disse que é a namorada dele!
- É aquela ruiva que veio ao Ministério alguns dias atrás? – assentiu, rolando os olhos. – Ela é bonita, mesmo, mas... Quer saber? Prefiro você. E pelo jeito que ela saiu da sala do depois... Ele também prefere.
- Faz-me rir, Eva. – suspirou, passando as mãos nos olhos; espantando as gotículas de lágrimas. – Estava tudo tão bem... Bem demais para ser verdade, eu deveria ter desconfiado.
- Ei, ei. Não é assim. Que pensativo depressivo é esse?
- Vamos mudar de assunto. – decidiu, arrumando-se no divã. – Por favor. – sorriu fraco, e a mais velha assentiu, voltando para sua cadeira. – Você sabe tudo sobre mim, Eva... E eu não sei nada sobre você.
- Como assim? – sentou-se novamente, tomando um gole de água.
- Sobre a sua vida pessoal... Você é casada? Tem filhos? Mora com quem?
Eva sorriu abertamente e balançou a cabeça em negação. era mesmo única.
- Os estudos sempre tomaram todo o meu tempo, . E trabalhar num dos maiores e mais perigosos manicômios judiciários do mundo, também. Levei dez anos ao todo entre me formar, fazer especialização, cursos diversos e me aprofundar em certos assuntos. Não sou essa profissional que conhece à toa. – entreabriu os lábios, surpresa. – Tinha quase trinta anos quando terminei a faculdade, cursos e fui procurar algum emprego. Comecei numa clínica de reabilitação para viciados, fiquei lá por alguns bons anos e só sabia cuidar dos meus pacientes. Eles eram meus primeiro e último pensamento do dia. Cheguei a namorar um rapaz, mas ele não aguentou saber que eu preferia meus pacientes a ele. – suspirou, dando os ombros. – Saí dessa clínica, pois queria novos desafios, fiz novos cursos e fui contratada para trabalhar num Sanatório. Nos primeiros anos cheguei a ficar em dúvida se era realmente aquilo que queria para minha pacata vida, mas algumas semanas depois foi totalmente o contrário. Eu tive mais certeza do que nunca que psiquiatria era a profissão que foi destinada para mim. Decifrar a cabeça daquelas pessoas e ajudá-las com seus problemas, suas histórias... Era tudo fascinante. Apesar da, se me permite a palavra, loucura que aquele lugar era. – riu fraco, apoiando o rosto numa das mãos; prestando atenção. Era bom não ser o foco do assunto, para variar. – Cheguei a namorar outra pessoa nesse meio tempo, também. Um psiquiatra, que me entendia perfeitamente em relação ao trabalho. Mas... Bem, ele deve ter enlouquecido um pouco também, pois teve a coragem de me trair com uma enfermeira. Maluco, óbvio. – ambas riram. – E então eu decidi que era hora de uma nova jornada, trabalhei pouco mais de dois anos no FBI, decifrando a mente dos militantes. Foi uma época difícil, eu era ameaçada a cada novo julgamento. Decidi que era hora de novos desafios... Gosto de inovar. Crescer. E prezo muito a minha vida. – riu ainda mais. – Fui contratada por um manicômio judiciário, o mais comentado de todos. O lugar era de dar arrepios! Era escondido numa cidade de interior de Londres, afastado de tudo. As mentes mais insanas de psicopatas que já pisaram neste mundo estão lá, trancafiados pelo resto da vida. – sua postura ficou séria de repente, e a imitou. – O lugar é o inferno na terra, . Você chamava o Ministério de inferno, não é? – riu sem humor. – Espero que nunca tenha o desprazer de chegar perto de um lugar como aquele. Precisei de muito preparo, principalmente emocional, para conseguir ficar ali nos primeiros meses. Admito que, às vezes, sentia vontade de jogar tudo para o alto, mandar aqueles psicopatas para o quinto dos infernos, de onde nunca deviam ter saído, e comprar uma casa na capital, afastada de todas aquelas mentes insanas.
- Deve ter sido terrível, só de pensar já me dá arrepios.
- Até hoje me dá arrepios. Mas eu continuei, fiquei lá por longos oito anos, de muito aprendizado, principalmente. Sou muito agradecida por esse tempo, mas passou. Barth , pai de , me procurou, contou a história sobre a Ironm4x e eu quase pedi que o internassem ali mesmo. – voltou a rir, assentindo. – Mas eu decidi que seria uma boa ideia sair da minha zona de conforto novamente, ver se tudo isso era real mesmo e... Bem, o que é comparado a dezenas de psicopatas, Serial Killers, entre outros? – sorriu carinhosa, e a garota imitou o gesto. – E cá estou eu com o trabalho mais satisfatório que já tive em toda a vida.
- Ah, Eva! – sussurrou, sentindo as bochechas corarem. – Você é uma mulher incrível! Queria eu ter a sua força, coragem e inteligência.
- Você tem, querida. – piscou. – Mas, resumindo: eu nunca tive tempo e nem como me casar, quanto mais ter um filho. Mas veja só como a vida é? Eu acabei ganhando uma.
mordeu o lábio, emocionada. Seu coração se aqueceu de repente e ela se levantou, caminhando até a mulher e abraçando-a com força, tentando passar todo o sentimento que havia adquirido pela psiquiatra ao decorrer dos meses; naquele simples gesto.
Esperava ter conseguido.
Pelo sorriso emocionado que a outra que lhe deu, teve certeza de conseguira.
Quinta, sexta, sábado, domingo. Fazia exatos quatro dias desde que o vira pela última vez. Naquela cozinha, depois da última discussão idiota que tiveram. não havia ido ao Ministério nenhum desses dias, e a garota estava a ponto de pular aqueles muros e procura-lo pela cidade inteira se fosse preciso. Eva dizia não saber nada, mas ela não sabia se conseguia acreditar completamente... Não que não confiasse na psiquiatra, mas porque sua mente doentia a impedia de acreditar que ninguém naquela merda de Ministério sabia sobre o paradeiro do herdeiro dali.
Ela já havia ameaçado chorar uma vez, mas se controlou e respirou fundo, cantando mentalmente as notas de Jailhouse Rock. Ou lembrava-se de Jane e suas ideias malucas. Por enquanto estava dando certo, mas ela sabia que se aquela agonia durasse mais um dia, teria de ser internada no segundo trabalho de Eva.
Ou no último, caso ninguém lhe falasse nada.
Não havia mais cutícula para roer ou chão que aguentasse suas passadas insistentes. E se algo tivesse acontecido com ele? Algum acidente? Se ele tivesse sido assaltado e estivesse machucado, sem ninguém para ajuda-lo? Ao pensar na possibilidade, ela se sentou na cama e tentou controlar a respiração ofegante. Não havia acontecido nada. Não havia acontecido nada. Ela repetia continuamente, como se fosse um mantra.
Ah, maldito.
Ela devia estar feliz por pensar que ficaria mais dias sem suas provocações ou brincadeirinhas de mau gosto, ou simplesmente... Suas repentinas mudanças de humor. A angustia só parecia aumentar e ela resfolegou, jogando os braços e o corpo para trás, deitando-se na cama por completo. Como sentia sua falta.
Preferia mil vezes ouvir milhões de xingamentos e calúnias a ficar sem ele. Sem ao menos saber notícias suas. “Ninguém pode se virar sem depois de tê-la conhecido.”
Ela teria que modificar aquela frase: ninguém pode ficar sem depois de tê-lo conhecido.
Não se tiver o conhecido tão profundamente como havia feito.
Brandon bateu à porta de seu quarto, chamando-a para ir. Outro dia de testes, e, provavelmente, outro dia sem . Ela inspirou fundo e o acompanhou, seguindo para o laboratório. Suas sobrancelhas juntaram-se, numa feição confusa. Laboratório? Mas ela só ia para lá para...
O soldado abriu a porta e apareceu de costas como a primeira vez que o vira há cinco meses. Ele mexia numa das gavetas da pequena sala. Se antes achava que seu coração acelerava ao vê-lo, agora ela tinha certeza que aquilo não era nada comparado à bateria de escola de samba a qual fazia moradia em seu peito, ritmada no momento. A angústia foi embora com um suspiro alto de alívio. Seu corpo todo se arrepiou inconscientemente. Os olhos ficaram marejados no segundo em que o reconheceram.
Ele se virou, colocando as luvas descartáveis e ela sentiu o maxilar trincar. Estava com raiva. Estava com muita raiva. Por que ele havia sumido sem ao menos dar satisfação? Por que voltara como se nada tivesse acontecido, ainda mais com aquela feição serena, sorrindo fraco para ela? Ele não tinha o direito.
Com os passos largos e firmes, entrou na sala e fechou a porta, pedindo licença para Brandon.
- Então é isso, ? Brigamos e você tira umas férias. Eu não, eu tenho que ficar nessa porcaria de Ministério esperando por algo que movimente isso ou esperando que você volte, isso se voltar. – atropelou as palavras ao mesmo tempo em que mantinha o dedo em riste.
franziu o cenho e deu um passo para trás, mordendo o sorriso. Como tinha sentido falta de sua garota.
- Por que eu não voltaria? Esqueceu que tudo isso é meu? Eu tenho responsabilidade. – deu os ombros, ficando mais sério. – Eu só precisava de uns dias pra esfriar a cabeça...
- Por que não voltaria?! – repetiu, rindo sarcástica, cruzando os braços. – Vai que a sua avó mandou você tirar longas férias?
Ele bufou, apoiando-se contra o armário. Estava cansado de toda aquela história.
- Eu deveria, mesmo. Férias prolongadas até os meus quarenta anos. Olha aí, uma ideia boa. Aposto que Franz cuidaria muito bem do Ministério e de tudo que há nele. – referiu-se a ela, que suspirou pesadamente.
- Aposto que ele cuidaria melhor do que o atual responsável. – murmurou, mordendo a parte interna da bochecha.
- Eu tenho certeza que sim. – ergueu as sobrancelhas, dando-se por vencido e apontando para a cadeira ao seu lado. – Exame de rotina.
Ela se sentou e ergueu a manga longa da camisa que usava; uma das que ele tinha colocado em seu guarda-roupa. Ou mandado colocarem.
prendeu um elástico contra seu braço, preparou a agulha e enfiou sob sua pele. apertou os olhos e ele desfez o nó de elástico, olhando-a nos olhos. Quando o sangue necessário ocupou o pequeno bastão, o rapaz tirou a agulha e pressionou um algodão sobre o mínimo furo no braço dela. Já conhecendo aquele rotineiro gesto, pegou o curativo adesivo de sua mão e colocou em si mesma, pressionando-o.
- Isso está cansativo. – confessou, suspirando. – Muito cansativo.
- Você se tornou impossível, . Ainda mais do que já era há cinco meses. – disse, colocando o bastão num pote lacrado, que iria para a parte laboratorial do Ministério.
(Play na 1)
- Eu me tornei? , por favor. – se levantou. – Você some por quatro, quatro porcaria de dias, sem dar satisfações a ninguém, some por querer simplesmente... Pensar. – riu sarcástica, deixando de segurar o braço. – Que pensar o quê, garoto?! Você tem a noite inteira e o dia inteiro para pensar no que quiser. Não precisa ficar sem vir aqui... Não que seja da minha conta o que você faz ou deixa de fazer, mas você chama isso de responsabilidade? – fez uma careta, atropelando as palavras. apoiou as mãos em seu próprio quadril, observando-a. – Umas semanas atrás aparece aqui parecendo um velho rabugento e antipático, depois aquela sua... namoradinha – deu ênfase na palavra –, ou sei lá como chamam hoje em dia. Ela vem até aqui e, que eu saiba, isso é um lugar profissional, não para receber aventuras em plena luz do dia. E ainda mais entrar sem sequer bater na porta, ela não tem educação, não? – entortou a boca, segurando o sorriso que queria escapar. – O que é? Vai rir agora? Eu tenho cara de palhaça, por acaso? – disse séria, mas sentiu o coração se aquecer somente com aquela mínima demonstração do rapaz. – E se tivesse acontecido algo com você? Quem saberia? Você mora sozinho, não mora? E se aquele brutamonte da boate fosse atrás de você, acertar ainda mais as contas? Você tem segurança, por sinal?! É óbvio que não! Você é um imbecil, . Eu tenho que ficar nessa me...
E antes que ela completasse seu raciocínio, sentiu o corpo ser empurrado para a parede atrás de si, com força. Ela gemeu ao sentir o atrito contra suas costas e antes que tivesse noção do que acontecera, os lábios de tomaram os seus, depressa, com raiva, furiosos. No início, a garota tentou afastá-lo, mas à medida que as mãos do rapaz tomaram seus punhos, ela desistiu e se entregou. Precisava daquilo tanto quanto precisava de ar. A língua de ambos se encontrou e então se sentiu liberta. Aquele toque já havia se tornado conhecido. Era como se sempre fizessem aquilo, desde que se entendessem por gente. colocou as mãos em sua cintura, apertando-a e ela gemeu outra vez pela dor prazerosa que sentiu. Suas mãos foram aos cabelos dele, embrenhando-os contra os dedos e puxando-os sem qualquer delicadeza. Queria descontar a raiva que sentia por ali, por mais inútil que fosse.
Alguns poucos segundos se passaram e ela empurrou seu peito com pouca força. Engoliu em seco e respirou fundo, recuperando o fôlego. olhou-a com certa confusão e dor e ela sabia o que ele sentia. Porque sentia exatamente o mesmo.
Mas não ia deixar-se levar dessa vez. Para seu próprio bem e o dele, ela não podia. Não ia virar o brinquedo ou o casinho de .
apertou os olhos e levou a mão às têmporas, apertando-as, enquanto dava dois passos para trás. Não devia ter feito aquilo, não podia. Tinha decidido nesses dias que conseguiria – por mais difícil que fosse – esquecê-la... E então a viu, e tudo foi pelo ralo.
- Pelo amor de Deus! – ela disse, parecendo desesperada. – Não faz mais isso, . Se você tem um coração, não faz. – sua voz embargou e ela saiu correndo da sala, fechando a porta atrás de si com toda a força que tinha no corpo.
A batida alta da madeira fez fechar os olhos com força, ao mesmo tempo em que se virou contra a parede, cerrou os punhos e acertou um soco contra a mesma. Ele urrou com ódio... Raiva. Insatisfação. Decepção.
jogou na parede o último objeto que encontrou, junto de um grito de fúria, e Peter entrou no quarto, depressa. Observou boa parte da pequena e simplória decoração do quarto da garota no chão e as roupas com o mesmo destino.
Ela estava sentada no chão, abraçando as pernas com o rosto entre as mãos e o cabelo bagunçado.
- O que aconteceu? – o senhor disse e ela soluçou, sem erguer o rosto. Ele caminhou até a garota e se sentou no chão ao seu lado. – Depois vai dar um trabalho enorme pra arrumar tudo... – suspirou, olhando-a. – Mas eu posso ajudar, se quiser.
- Eu não estou chorando. – disse firme, ainda com o rosto entre as mãos.
- E quem falou que está? E, se estivesse, qual o problema disso?
- Não vou chorar por quem não merece. – fungou, e Peter soube que ela estava muito próxima disso. – Achei que minha cota de sofrimento por uma vida tinha esgotado, mas parece que não. – riu irônica, erguendo a cabeça. Ela estava com o rosto vermelho e os olhos marejados, mas não chorava, de fato. – Mas sabe... Não importa mais. Não é uma desilusãozinha amorosa que vai me fazer cair. – se levantou, caminhando até onde as roupas estavam, pegando-as para levar de volta ao guarda-roupa.
- Você não precisa ser forte o tempo inteiro.
- Ou fico forte ou me fodo ainda mais, Peter! – disse alto, jogando as roupas no chão novamente. – Ou eu sinto raiva e ódio, ou choro nessa cama o dia e noite inteiros. Eu to com raiva! Muita raiva! – engoliu em seco, inspirando fundo. Ela fechou os olhos, tentando fazer as lágrimas voltarem. – E apaixonada também. E entre sofrer por isso ou sentir raiva, eu vou ficar com raiva. Não vou cair, está me ouvindo? – mordeu o lábio inferior, controlando o nó que só aumentava em sua garganta. – Sofrendo por um homem que não é Adam, parece até piada. – balançou a cabeça, passando a mão na testa suada. – Sofrendo pelo neto de Yan ! A vergonha da América, com certeza.
- Sabe o que me deixa confuso? Você primeiro me conta uma história de que era uma moça avançada para o seu tempo, que não se preocupava com o que diriam de você... Que estava pouco se lixando pelo que iam pensar. Não é isso que estou vendo na minha frente. Preocupe-se com o que você está sentindo, . Não com como te chamariam, por quem é que está sofrendo... Ou por qualquer coisa ou pessoa.
- Eles sequer estão mais aqui para se preocuparem. – deu os ombros, fungando. – Estou bem, ok? Só com raiva.
- Do ?
- Também. Mas principalmente de mim. De me importar tanto... De deixar isso acontecer. De sentir vontade de jogar tudo para o alto, ir à sala do Zimmerman e pedir para que ele acabe com toda essa merda de dor que estou sentindo. – pegou as roupas do chão e as levou até sua cama, sendo observada por Peter.
- Você está sendo controvérsia.
- Minha vida toda é controvérsia, Peter. – começou a dobrar as peças. – E quando tudo parece estar entrando nos eixos finalmente... – sua voz embargou e ela mordeu o lábio, inspirando fundo. – Quando Deus pareceu ter se lembrado de mim, depois de tanto tempo... Tudo volta a desabar. E isso parece tão pouco comparado ao que passei, mas... Ah.
(Play na 2)
- Não tem que sentir raiva, ...
- Ah, não? – sorriu sarcástica, passando a encará-lo. – Peter, sentimentos ruins anulam os bons, nunca ouviu falar isso? Se eu sentir raiva, logo não vou sofrer. Quando você está bravo com algo, aposto que fica mais motivado. Por exemplo, naqueles filmes que se passam na selva e você acaba de perder todos os seus amigos, mantimentos, está frio... Depois que a tristeza passa, o que vem é o ódio. O ódio do maldito avião que caiu e os deixou ali, dos animais que comeram seus mantimentos e machucaram seus amigos, e até da temperatura. A raiva te cega. Esconde suas dores, mascara seus medos. Você passa a se empenhar em encontrar uma solução para sair dali, e não sossega até encontra-la. A raiva nos faz persistir, nos dá forças. – dobrou a última peça que estava sobre a cama e se sentou. – E acredite, o que eu mais preciso agora é sentir muita raiva para não fraquejar.
- Não entendo muito sobre essas coisas, mas acredito que você esteja precisando de um abraço. – sorriu fraco, sentando-se na cama também. Ela sentiu o lábio tremer e assentiu, sendo tomada pelos braços do mais velho. – Ah, minha menina. – afagou seus cabelos e a sentiu soluçar, prendendo o choro. “Minha menina” a fazia lembrar-se do pai, e segurar as lágrimas naquele momento foi a coisa mais difícil que já fez na vida. – Nem sempre podemos ser fortes, sabia? Às vezes temos que entregar as cartas e deixar o que tiver que acontecer, acontecer. Chorar não é um problema. Não é mostrar que está sendo fraco... É colocar seus sentimentos para fora por serem mais do que você possa aguentar segurar somente internamente. Alguém me falou isso há alguns meses, você a conhece? – fechou os olhos apertados e apertou o abraço do homem, deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto. – Chorar não é demonstrar fraqueza, pelo contrário. E você, senhorita , é a pessoa mais forte que eu conheço.
As palavras soaram como as de e ela ouviu seu choro aumentar audivelmente. Já era tarde demais para segurar ou tentar diminui-lo, ela precisava daquilo. Precisava colocar para fora aquela angustia ou explodiria. O afago em seus cabelos continuou e ela colocou as pernas em cima da cama, deitando a cabeça no colo do mais velho.
- Você vai se sentir bem melhor amanhã, sabia? – ele sorriu, puxando o lençol para cobri-la. – Vai ser como se um peso saísse de suas costas. Confie em mim.
A garota assentiu fracamente e soluçou, abraçando os próprios braços enquanto fechava os olhos. O carinho fraterno de Peter continuou, assim com as suas lágrimas, que rolavam silenciosamente por sua face.
Não era só por . Era por tudo. Havia, de certa forma, superado as perdas das pessoas que mais amara na vida, mas às vezes, obviamente, uma recaída surgia. E momentos como aqueles a faziam piorar ainda mais. Antes, quando estava com , tudo parecia estar bem e continuar da mesma forma. Assim como há um mês, quando ele a abraçou e a acarinhou assim como Peter fazia agora, mas era... diferente. Completamente diferente. Amava Peter e amava seu colo, suas palavras. Mas com ... Ele parecia ser capaz de fazer todas as suas dores sumirem, era capaz de fazê-la ficar bem em minutos.
E hoje parecia ser o culpado por aquela dor. Parecia não; ele era. Talvez até inconscientemente, mas era.
O carinho de Peter pareceu se tornar mais lento e a dor menor. As lágrimas secaram em seu rosto e ela voltou a fechar os olhos.
não soube ao certo quantos minutos ou horas passaram, mas foram muitos, e antes que se desse conta; adormeceu. Adormeceu pensando num futuro paralelo, onde estava tudo bem. Adormeceu com a esperança que quando acordasse, estaria tudo bem.
Adormeceu com a imagem de ali, sorrindo bem à sua frente. Sorrindo para ela. Sorrindo por ela.
acordou no outro dia inesperadamente melhor. Ou menos pior do que estava no dia anterior. O choro, surpreendentemente, havia tirado parte da angústia que carregava no peito nos últimos dias. Ela não soube quando Peter foi embora, mas ao abrir os olhos, ele já não estava mais lá. Sorriu levemente por ter alguém tão incrível quanto ele. Sabia que não seria por muito mais tempo, mas pensar o motivo daquilo já a deixava melhor.
Após sua rotina matinal, a garota foi ao jardim para mais um dia de testes com a Ironm4x. Ela teria que encarar uma hora, então que fosse aquela. Respirou fundo três vezes antes de ver Joshua abrindo o portão, e, encontrou Eva, Franz, e ele. Seus olhares cruzaram-se imediatamente e se desviaram na mesma velocidade. cerrou os punhos e começou a caminhar em direção aos três, com a feição séria.
- Bom dia, querida. – Eva disse e a garota sorriu comedida, acenando com a cabeça.
- . – Franz cumprimentou, num aceno. – Vamos começar com uma corrida e abdominais, tudo bem? – a garota assentiu, engolindo seco ao ver se aproximar com o aparelho que media seus batimentos cardíacos e funcionamento dos pulmões. Ela ergueu a camisa como estava acostumada e o sentiu enlaçar a fita logo abaixo de seus seios. engoliu em seco e rezou para todos os santos para que não conseguisse sentir o quão acelerado seus batimentos estavam, sem antes ela sequer dar um passo de corrida. Soube que foi inevitável, todavia. Tinha certeza de que conseguiria ver seu coração pular através de seu peito se olhasse na direção. Ao terminar o trabalho, ele se afastou ainda em silêncio e cruzou os braços.
Após inspirar longamente, ela começou a correr por toda a pista improvisada. Era estranho correr sem . Era ainda mais estranho começar o dia sem ouvir sequer uma sílaba saindo por seus lábios.
Seria bom correr. Gastar as energias e aliviar a tensão que ainda tinha sob todo o corpo. Descontar no chão a raiva e angustia que sentia, com fortes passadas. A primeira volta foi mais rápida do que imaginara, aquilo era incrível comparado a sensação de liberdade que aquilo lhe causara. Três voltas já haviam sido completadas quando ela se deu conta que as pernas começavam a cansar e a camada fina de suor ocupar parte de seu corpo.
Na quarta volta, ouviu Franz e Eva pedindo encarecidamente que ela parasse, já era o bastante, mas era como se sua vontade de continuar fosse maior do que qualquer coisa. Correr estava, surpreendentemente, ajudando seu coração e sua mente a esquecer-se um pouco da realidade. A descontar tudo ali, no quão mais rápido ela corresse.
A quinta volta estava sendo completada quando ouviu gritar seu nome. Ótimo, pensou. Seu coração acelerou ainda mais e ela não soube se foi por ouvir a voz do homem ou por seus passos estarem ainda mais rápidos. Cada vez mais rápidos. De repente, parecia estar num mundo paralelo. As vozes ao seu redor não faziam sentido, muito menos as coisas. Ela tropeçou nos próprios pés, mas não parou. Pelo contrário, a cada segundo, seus passos só pareciam ganhar mais velocidade. Seu corpo parecia estar entrando em combustão. Os cantos de sua vista embaçaram e ela só conseguia encarar a linha reta. Já havia perdido as contas de em qual volta estava, quando sentiu ser puxada na direção contrária.
- Tá querendo morrer, garota?!
Ela subiu o olhar para seu rosto e umedeceu os lábios, sentindo-os mais secos do que jamais estiveram. estava ofegante, mas não chegava perto do que ela estava sentindo. O ar parecia ter, literalmente, evaporado de seus pulmões, porque ela tentava a todo custo resgatá-lo; sem sucesso. O suor escorria em bicas por suas costas e ela sentia todo o rosto e corpo úmidos.
- Seus batimentos cardíacos saíram do controle! Você tem noção do que é isso?
abaixou a cabeça ao sentir uma forte tontura e apertou os olhos, sendo amparada pelo homem. Ouviu a voz preocupada de Eva e o tom ansioso de Franz e virou-se para encará-los, conseguindo finalmente respirar fundo.
- Estava vendo a hora de você desmaiar, menina! – a psiquiatra repreendeu, esticando a garrafa de água para a outra, que a pegou depressa, tomando boa parte do líquido. Sentiu que ainda a segurava e se afastou, tentando normalizar a respiração.
- Não estava nos ouvindo?
- Não. – respondeu sincera, passando a mão pela nuca.
- Inconsequente. – murmurou, tirando o casaco da farda que usava. – Se desmaiasse e batesse a cabeça na velocidade que ia, eu não quero nem imaginar o que teria acontecido.
- Acho que posso arcar com as consequências das minhas atitudes, .
- Você não faz com o seu corpo o que quiser, lembre-se do por que estarmos aqui.
- Ironm4x, Ironm4x... – rolou os olhos. – Era só o que me faltava. Não ter livre-arbítrio do meu corpo. – riu irônica, medindo-o de cima abaixo.
- Não me importa se quer fazer algum mal contra si mesma, . Eu não vou deixar.
Ela deu outro gole em sua água na esperança que o líquido diluísse o nó que se formara ali. Queria tanto que aquela frase fosse dita no sentido que ela esperava, mas não podia ser, não era?
- Você não tem que deixar ou não deixar nada, . Cuide da sua própria vida e de suas... outras responsabilidades. – cuspiu as palavras, trincando o maxilar. – Tenho certeza de que terá mais êxito.
- O qu...
- Por Deus! – Eva repreendeu, num tom alto. Os dois a encararam. – Já chega, vocês dois, por favor! Ninguém mais aguenta essas briguinhas sem fundamentos, parecem duas crianças. Achei que tivéssemos dois adultos aqui, mas parece que me enganei.
juntou as sobrancelhas e bufou. Nunca havia visto a psiquiatra daquela forma, provavelmente eles haviam passado dos limites, de fato. passou as mãos nos cabelos despreocupadamente, e ela quis sorrir. Ele era lindo.
Ainda insuportável.
Mas absurdamente lindo.
- Está difícil continuar desse jeito. Todos os dias é a mesma ladainha. Trabalhamos por alguns minutos e logo estão trocando farpas, xingando-se... Só falta saírem no tapa, e eu acredito que não demore muito. – foi a vez de Franz falar, e ele estava mais sério do que sempre.
- O jeito vai ser evitar a presença um do outro. – Eva disse, gesticulando com as mãos. e entreabriram os lábios, no entanto, não disseram nada. – Conseguimos outro médico e...
- Temos que manter sigilo, Eva. E, com toda a modéstia, acredito que nenhum profissional esteja mais preparado do que eu para cuidar da... – fez uma pausa, medindo as palavras. – Desse caso.
Eva e Franz se entreolharam e seguraram um sorriso. e não perceberam, entretanto. Estavam ocupados demais encarando os próprios pés.
- Então, podemos ter ao menos uma trégua enquanto trabalhamos? – foi a vez de Franz questionar. Eles assentiram fraco, como duas crianças de pré-escola recebendo bronca do diretor, por morderem um ao outro. – ? ?
- Isso é ridículo, Franz. Não sou mais criança.
- Pois está agindo como uma.
- Tudo bem se agirmos civilizadamente durante os testes, e depois eu voltar a xingá-lo? – questionou, com um sorrisinho brincando nos lábios. Eva e Franz assentiram, rindo fraco. mordeu a parte interna da bochecha, segurando o sorriso também.
- Com essa condição, está tudo bem por mim. – ele disse, dando os ombros.
- Estamos decididos, então. – Eva sorriu voltou à simpatia como habitualmente.
Os testes continuaram e tudo ocorreu normalmente. Ambos cumpriram a promessa, e não trocaram uma só palavra durante todas as duas horas que ficaram juntos. Nem uma palavra ruim, e nem boa. Nada.
E aquilo, por mais masoquista que fosse, deixava ainda mais angustiada. Não ouvir sua voz, sua risada, não ao menos sentir sua presença.
A garota saiu do jardim e foi em direção ao banheiro tomar um banho. Um bom e revigorante banho. A água gelada caiu por seu corpo e ela encostou-se aos azulejos frios da parede, fechando os olhos. Era um jogo perdido. Por mais que tentasse enganar a si mesma, tentasse controlar o próprio coração e cabeça, era mais do que fato: estava irremediavelmente apaixonada por .
O que não seria um problema muito grande, caso tudo continuasse como estava há um mês. E ela nem sabia o porquê havia mudado.
Era possível que ele houvesse assumido o relacionamento com Kyara, não era?
A ideia surgiu em sua mente e ela sentiu os olhos se arregalarem. Só podia ser isso.
Isso e mais uma lavagem cerebral da velha maldita.
Mas ainda assim, Kyara. Isso explicava ela ter ido ao Ministério naquele dia, sem ao menos avisar ou bater à porta. Ela tinha intimidade o bastante para chegar onde e quando quisesse. “! Amor!”. Repetiu mentalmente as duas palavras da ruiva e seu maxilar trincou instantaneamente.
Ele não podia ser o amor dela.
Não podia, porque ainda que em segredo, ele era o seu amor.
estava sentada em sua cama lendo um dos livros que Peter havia lhe emprestado, quando ouviu a porta bater. Por um segundo, imaginou um mundo paralelo onde entrava lhe pedindo desculpas, ou, quem sabe, dizendo que está apaixonado também. No entanto, quando a porta abriu e relevou a pessoa, o roteiro que havia planejado na cabeça em poucos segundos havia se desfeito.
- Joshua. – sorriu, tentando não parecer tão decepcionada quanto estava. – Tudo bem?
- Está, sim! – sorriu também, fechando a porta e apontando para a cama, como se perguntasse se podia sentar. assentiu, dando espaço para o homem. – E você, está bem?
- Estou...? – disse óbvia, rindo fraco. – Por que a pergunta?
- O que dizem nos corredores do Ministério não é bem isso. É verdade que até Eva se descontrolou com você e ?
sentiu o corpo enrijecer-se e engoliu em seco, enquanto apoiava a lateral da cabeça numa das mãos.
- Está tudo normal.
- E o normal de vocês é discutir todo minuto, a ponto de saírem no tapa, se deixarem? – riu, erguendo uma das sobrancelhas; olhando-a desconfiado.
- É por aí. – ela sorriu, mordendo canto do lábio inferior. – Está no nosso sangue, Joshua. Uma americana e um alemão não podem se dar bem, ainda mais diante das circunstâncias.
- Nem todos os lobos têm que seguir a alcateia, . Regras e estereótipos estão disponíveis para serem quebrados.
Ela sabia. Sabia que quebraria todas aquelas “regras” se fosse necessário. Mas não . Ele não seria capaz de largar tudo para ficar com algo... Incerto. Nem a própria sabia se o faria, se estivesse na sua situação. Largar sua família, país, conceitos, deveres, responsabilidades... Quando não se tem mais nada, não se tem o que perder.
se contentou a assentir e piscar longamente, suspirando logo em seguida. Não queria voltar naquele assunto.
- E sua filha, como está? Aliás, como é mesmo o nome dela?
- Liebe. – sorriu orgulhoso, ganhando uma postura mais firme, segura. – Ela está ótima! Cada dia me orgulha mais. Às vezes, me pergunto como posso amar tão imensuravelmente um ser tão pequeno como aquele.
- Dizem que de todos os amores, o que um pai e uma mãe sentem por seu filho, é o maior, mais puro e o mais bonito deles. E eu acredito. O amor... Aquele que sentimos carnalmente é feio.
- Tenho que discordar em parte, . O amor, de todas as formas, é a coisa mais bonita e grandiosa do mundo. O amor nos move.
- O ódio nos move. – o interrompeu, olhando em seus olhos. Ele negou, balançando a cabeça.
- O amor nos move. – repetiu, com um sorriso fraco no rosto. – Nos da vontade de viver, de sorrir, de correr atrás do que queremos; pelo que quer que seja. Sempre que penso na minha vida antes de minha pequena família, antes de conhecer a minha esposa, sinto uma vontade desenfreada de voltar ao passado e perguntar a mim mesmo como consegui viver normalmente sem tê-la. – suspirou apaixonado e a garota não pôde segurar um sorriso. Era linda a forma como ele se referia à mulher. – E Liebe chegou só para somar e fazer com que nosso amor aumentasse, se é que era possível.
- Eu gostaria de conhecê-las. – confessou, desapoiando o rosto das mãos. – Elas devem ser encantado...
Antes que sua frase fosse completada, eles ouviram a porta bater. disse algo como “deve ser o Peter”, e pediu para que a pessoa entrasse. Ao ver quem era, no entanto, seus olhos se arregalaram levemente. Seus membros ficaram tensos e ela entreabriu os lábios, na intenção de dizer algo; não conseguiu, contudo.
- Achei que estivesse sozinha. – disse, fazendo uma quase careta. – Volto outra hora. – apontou por trás do ombro.
- . – Joshua disse, rindo. – Entra, já estou de saída. Estava só conversando um pouco com a . – franziu o cenho e logo depois sua feição mudou, num misto de curiosidade e nervosismo. não entendeu. – Sobre Liebe.
- Oh. – sorriu, parecendo aliviado. – Como a minha princesinha está?
ouviu o que ele dissera e não pôde conter um sorriso. “Como a minha princesinha está?”. Ele ficava inimaginavelmente mais incrível dizendo aquelas palavras. Era quase poético.
Ver sendo carinhoso com alguém, ainda mais com uma criança. Ela conseguia ver a sinceridade nos olhos do homem e sentiu o estômago embrulhar, dando piruetas em seu abdômen. Enquanto Joshua respondia à sua pergunta, a garota só conseguia encarar seu rosto – que continuava com o mesmo sorriso, mas agora parecia tão orgulhoso quanto o do pai da criança.
pai.
Ela sorriu ainda mais com a ideia, mas logo seu sorriso se fechou. Uma criança não pode ser feita sem uma mãe. E, mesmo em seus mais iludidos sonhos, mesmo que a possibilidade de ficar com fosse nula, e eles desafiassem o destino: ela não poderia lhe dar a alegria de ser pai.
Kyara poderia, no entanto.
Talvez já estivesse em seus planos, não era?
- Eu vou ter que ir à sua casa no final de semana para ver esse desenho! – riu, acompanhado do amigo.
- Vai, ou aquela criança enlouquece. – brincou, também rindo. Ele olhou de soslaio para , que estava pensativa. – queria muito conhecê-las. – começou, e a garota virou o rosto rapidamente para encará-lo; atônita. – Você não poderia levá-la também, ?
olhou para a mulher à sua frente, sentada em sua cama, ainda atônita, e sorriu consigo mesmo.
- Você quer, ?
- Eu... Eu quero. – gaguejou, mordendo um sorriso. Segure-se, .
- Feito. Vamos no domingo, tudo bem, Joshua? – sorriu, colocando as mãos nos bolsos.
- Mais do que combinado! – o homem sorriu animado. – Agora tenho que voltar ao meu trabalho. – bateu uma falsa continência e riu, assentindo.
- Vou com você.
- Você não ia falar comigo? – questionou, falando rápido demais. Ela mordeu a língua ao perceber que estava parecendo precipitada e desesperada demais.
- Só queria ver se estava tudo bem. – sorriu sem mostrar os dentes, caminhando até a porta. Ela assentiu, sorrindo da mesma forma. – Boa tarde, . – e saiu, fechando a porta com cuidado. Boa tarde, .
Os dias que seguiram foram absurdamente longos e decepcionantes, segundo . Já era sexta feira à noite, e ela tentava ler o livro de romance que estava em suas mãos. Era impossível, entretanto. As palavras eram lidas, as frases observadas, mas nada parecia fazer sentido na sua cabeça. A concentração estava longe dali, estava em outra coisa; outra pessoa. Desistindo da possibilidade de conseguir entender mais do que uma estrofe daquela página, ela fechou o livro e suspirou longamente antes de fechar os olhos.
A semana havia sido mais tranquila para ela e . Em partes, era óbvio. Não haviam gritado ou se insultado ainda, talvez houvesse uma trégua oficial. Vez ou outra seus olhares se cruzavam, mas ambos prontamente desviavam a direção.
Na quarta-feira, enquanto estava sentada com Klaus em mais uma conversa, ela teve certeza que sentiu o olhar de sobre si, enquanto o rapaz sorria comedidamente. Contudo, ao olhá-lo de volta, o homem fechou o sorriso depressa, trocando-o por uma linha firme nos lábios. Ele estava se obrigando a ser duro, frio, mau.
Estava se negando a aceitar o que estava pensando ou sentindo.
deveria fazer o mesmo, devido às situações. Todavia, não conseguia. Ou ao menos, não tão bem quanto o homem. Às vezes até ria de sua força-de-vontade.
O fato era que sempre a garota conseguiu esconder muito bem todos os seus sentimentos e anseios, mas quando se tratava de ... Era difícil. Era quase impossível sentir raiva quando já havia o conhecido de verdade. Quando já havia visto o seu bem. O quão parecido com ela, ele era.
voltou a abrir os olhos e prendeu o lábio inferior entre os dentes. Toda história tem um final, e ela precisava saber qual era o dela. O mais rápido possível.
- Brötze! Porra! – se levantou do banco da arquibancada, enquanto acenava para o jogador de seu time. – Não, não, não! – fechou os olhos, tirando o boné da cabeça e colocando-o para tapar o rosto quando viu um jogador do time oposto fazer um gol. A arquibancada da torcida adversária vibrou e ele voltou a se sentar, dando um tapa em sua própria perna. James, que estava ao seu lado, já estava com os braços cruzados e a feição fechada, dura. Bayern perder para Dortmund deveria ser ilegal.
- É, . Parece que erraram ao dizer que “sorte no amor, azar no jogo”.
o olhou de soslaio, e deixou a postura cair sobre a poltrona. Obrigado por lembrar, querido amigo.
- Erraram a dizer muita coisa, J. – deu os ombros, vendo um dos jogadores de seu time avançar para o gol. – Isso, isso! – voltou a se levantar, vibrando. – Gol, gol... Gol! – gritou, erguendo os dois braços em comemoração. James se levantou também, e ambos deram um abraço rápido. – Assim que se joga com o Bayern!
- Agora faz sentido: “azar no amor, sorte no jogo.” – James riu, voltando a se sentar. – Dois fodidos, .
- Lily voltou a te ligar?
O rapaz riu sem humor, enquanto olhava o campo à sua frente.
- Disse que quer me ver, que sente a minha falta... Parece piada. Mandei-a procurar pelo filho da puta do meu primo.
- Já faz quase um ano. – suspirou, olhando-o. – Não acha que...
- Não. Eu tenho certeza de que não quero lhe dar outra chance. Um par de chifres já é muito, dispenso um próximo.
- Mas ela...
- Ela o quê, ? – virou-se para encarar o amigo, vendo que o primeiro tempo do jogo havia chegado ao fim. – Ela me traiu e pronto. Me fodi, que bom que ela está se fodendo agora também. Estaríamos juntos em qualquer ocasião, não era? – riu amargurado, dando os ombros.
- Seu namoro estava uma merda, não estava? Você mesmo vivia se queixando...
- Agora o culpado sou eu?! Vá se foder, !
- Não, porra! Não estou falando que é o culpado, de forma alguma. Ela te traiu, errou? Pra cacete. Mas você também errou em tê-la tratado daquela forma, um dia antes. Erro nenhum justifica outro, mas é ao menos compreensível. Já faz quase um ano e a mulher continua te procurando, e você ainda a ama também, e...
- Desde quando você se tornou esse conselheiro amoroso? – zombou, pegando o boné da cabeça do amigo e colocando na própria. – Está à minha frente o cara que há um ano dizia que o amor era uma criação da indústria. Uma ilusão dos românticos... “O coração é só um órgão, J. Não seja trouxa e mariquinha.” – imitou, vendo-o suspirar. – Foi necessário: uma , cinco meses...? – disse em dúvida, e o outro assentiu. – Uma boa dose de discussões infundadas, ódio gratuito, conversas sinceras e momentos para que o fizesse mudar de ideia. Acho que quem ama essa mulher sou eu, . Sinto muito.
- Imbecil. – rolou os olhos, rindo. – Ela não só me fez acreditar nessa merda, como em tantas outras coisas. Destorceu o que eu achava que eram valores, me fez ver o mundo de outra forma... Ah, que merda, James. Por que estamos falando sobre isso mesmo?!
- Porque você veio encher o meu saco sobre a Lily, quando você, na verdade faz, mesmo que em situações opostas, o mesmo.
riu, assentindo contrariado.
- Dois fodidos, J. Dois fodidos!
Já era a terceira roupa que vestia, mas não conseguia se gostar ali. Não para aquela ocasião, e com quem seria.
Já era domingo, e hoje, depois de uma semana cheia de ansiedade, a levaria para conhecer Liebe; a filha de Joshua. O frio parecia não abandonar sua barriga, e ela conseguia até rir por aquilo. Sentia vontade de ficar bonita, de se sentir bonita. Isso não é um encontro, sua idiota. Ela lembrava a todo momento, mas não se tratava somente disso, mas sim, de como a pequena iria vê-la. Crianças, principalmente, levam muito em consideração a primeira impressão, e , sem dúvidas, queria causar uma ótima impressão. Nada é mais puro e sincero do que o carinho de uma criança, e como ela precisava sentir um pouco desse sentimento naquele momento.
Por fim, acabou escolhendo um vestido simples, com pequenas e delicadas flores estampando o tecido leve e azul claro. Não adiantava, ainda se sentia irrevogavelmente mais confortável de vestido do que de calças. Sentia-se melhor, mais bonita. Já pronta, sentou-se em sua cama e deu um longo suspiro. Aonde aquilo iria parar? Quando ia acabar? Instantaneamente, a imagem de e ela na boate, há algumas semanas, ocupou sua mente. Ela fechou os olhos e sorriu fraco, lembrando-se de cada momento daquela noite. Das risadas altas que dera, da sensação de medo do desconhecido que sentiu ao entrar na boate, e logo após sentir a segurança que o rapaz lhe passava através da mão; segura à sua. Os beijos... Os beijos em toda a extensão de seu rosto, e em seguida nos seus lábios. O carinho que podia sentir ali.
“Você não tem ideia do quanto gosto de você, .” “Eu gosto muito de você.”
Suas palavras foram soltas no ar, como se ele estivesse falando aquelas frases novamente, naquele quarto. E eu sou completamente apaixonada por você, seu babaca. Ela ainda não conseguia entender o motivo de sua atual frieza. Seu afastamento... Doía tanto. Quem dissera que o ódio era o oposto do amor estava muito enganado. O oposto do amor é a indiferença.
“Eu gosto muito de você.”
- Idiota. – murmurou sozinha; no entanto, ao ouvir a porta se abrir, encarou , que lhe encarava com um sorriso engraçado no rosto.
- Mas eu mal cheguei e já sou xingado?
- Tão engraçado quanto um velório, . Já te disseram isso? – brincou, fazendo menção ao seu segundo dia no Ministério, onde tinha dito a mesma frase.
Ele riu, assentindo.
- E tão carinhoso quanto um ogro.
- Sábia a pessoa que te falou isso. – ela sorriu, levantando-se. a observou e sorriu carinhoso. Tão carinhoso quanto um príncipe. No entanto, assim como o sorriso se abriu facilmente, se foi com a mesma rapidez. Ele engoliu a seco e apertou os olhos, balançando a cabeça; como se estivesse se punindo por pensar o que estava pensando. arqueou a postura, imitando-o. Dois podem jogar o mesmo jogo... Por mais complicado que seja.
- É melhor irmos ou vamos nos atrasar.
Bipolar. Foi o que ela quis dizer, mas se contentou em assentir e passar depressa por ele, sem sequer abrir a boca.
O caminho em direção à casa de Joshua foi quase que inteiramente em silêncio, a não ser pela música baixa no rádio do carro e por suas respirações entrecortadas.
encarava a janela de vidro ao seu lado e não conseguia deixar de sentir o frio na barriga e a imensa felicidade que tomara seu ser sempre que saía do Ministério. As pessoas livres passeando pela rua, famílias, casais... Parecia um mundo novo. Um mundo diferente do qual ela jamais havia vivido. E era, de toda forma.
Quando já estavam próximos ao destino final, resolveu puxar assunto com a garota. Longe de ser simpático como costumava ser a pouco mais de um mês, havia algo o prendendo, e ela não sabia o quê. Mas, de qualquer forma, era absolutamente melhor do que o silêncio desconfortável. “Chegamos, senhorita querida da América”; foi o que ele disse ao estacionar o carro e mordeu a parte inferior das bochechas para não rir. Acabou retrocando sua delicadeza, e desceu do carro, abrindo a porta por si mesma.
Após tocar a campainha, sentiu o olhar de sobre si e entortou os lábios, virando o rosto para ele; colocando a ponta de sua língua pra fora, como provocação. Ele riu, balançando a cabeça e voltando a olhar para frente.
Se odiarem estava totalmente fora de cogitação.
Não demorou mais de um minuto até que uma mulher alta, esguia, com os cabelos castanhos e levemente iluminados nas pontas, e que não aparentava ter mais do que trinta anos; abriu a porta, com um sorriso extremamente simpático. imaginou que aquela fosse Heidi, a esposa de Joshua. Quando ela os cumprimentou, a garota teve certeza. Após uma brincadeira interna de Heidi com , eles entraram.
“Titio !” uma voz infantil e extremamente doce soou ao longe e viu a exata hora em que o pequeno furacão encontrou os braços de ; que já estava abaixado, pronto para recebê-la. “Que saudade da minha princesa!”
Depois daquela simples cena, a garota não foi capaz de capitar mais nada à sua volta. Não soube quando Joshua a cumprimentou, ou quando sentou no sofá. Seu interior se retorcia estranhamente, assim como seu coração, que estava acelerado desde o momento que vira a criança correndo em direção do padrinho. Seus olhos estavam marejados e um sorriso aberto figurava seu rosto.
Ela queria .
Queria poder demonstrar sua paixão.
Queria ser sua esposa, ser a mãe de seus filhos.
E ela jamais havia tido tanta certeza daquilo quanto naquele momento, encarando ambos sorrindo um para o outro.
Música do capítulo: Wanted You More – Lady Antebellum. Play quando eu avisar!
Mãe de seus filhos... Parecia piada, e das mal intencionadas. Do tipo humor negro.
Seu sorriso se fechou, e ela engoliu a seco.
Ser mãe tinha as mesmas opções quanto ser a esposa de . Ou seja, eram nulas.
E ela não poderia nem culpar a Ironm4x por isso...
- Oi, tia! Eu sou a Liebe.
A pequena de cabelos extremamente louros e lisos, com uma franjinha curta emoldurando o rosto; disse, chamando a sua atenção. Voltar a sorrir foi inevitável. Os olhos azuis da pequena eram como o mar do Caribe e se apertaram quando ela sorriu também, colocando as mãos na cintura.
- Oi, Liebe! Eu sou a . – inclinou-se para frente, apoiando os antebraços nos joelhos e tocando na ponta de seu nariz com o dedo indicador. A pequena riu. – Você é uma princesa! Elizabeth ficaria com inveja.
Todos os adultos riram com a referência à rainha, e quando Liebe percebeu que era uma piada, riu também. quis pegá-la no colo e sequestra-la, tamanha era sua fofura.
- Eu tenho uma boneca princesa! O nome dela é Kaith.
- É mesmo? Eu quero conhecê-la! Ela é tão bonita quanto você?
- É, sim! Espera aí. – disse animada, correndo até seu quarto. mordeu o lábio inferior e sorriu verdadeiramente, vendo-a. É oficial: queria sequestrar a menina.
Mal sabia ela que estava se controlando para não fazer o mesmo que ela pensava fazer com Liebe. Mas sequestrando não só a afilhada, como a ela também.
- Então você é a famosa . – Heidi disse, apoiando um dos braços no ombro do marido; que estava sentado ao seu lado.
- A própria. – riu, entrelaçando as mãos. – A filha do presidente, causa da terceira guerra mundial...
- A amiga do Joshua. – interrompeu-a, sorrindo carinhosamente. assentiu, olhando para o amigo. – Filha, devagar! – disse, ao ver a criança vir correndo com a boneca nas mãos.
- Olha aqui a Kaith. Tio , fala pra sua namolada quem deu! – ergueu uma das sobrancelhas, fazendo todos rirem. Ou quase todos. e se enrijeceram ao ouvi-la dizer “namorada”. A namorada dele é a Kyara, minha princesa.
- Foi o tio que deu a boneca pra Liebe. – sorriu fraco.
- O titio é só o amigo da tia , minha lindinha. – fez questão de corrigir. Vendo a situação constrangedora, Joshua olhou para a esposa, que assentiu, entendendo-o.
- Vamos almoçar? Não sei vocês, mas estou com uma fome absurda! – riu, levantando-se. Todos assentiram, e se levantou, segurando a mão de Liebe, que havia a adorado.
Àquela altura, conseguia quase que sentir-se como alguém normal. Alguém que havia ido à casa do casal de amigos, junto com o namorado. Era bom pensar daquela forma, parecia certo. Parecia que tudo o que procurara na vida, fazia sentido naquela mesa, ao lado de , e em frente ao casal e sua filha. Os quatro conversavam animadamente, sem citar o passado ou fazer qualquer menção ao Ministério. A sensação de leveza que aquela conversa e risada estava trazendo à tão tubulada e insana vida de e era maravilhosamente boa.
Ao fim da sobremesa, a garota ajudou a anfitriã a lavar as louças, e logo após seguiram para a sala. e Joshua estavam conversando a alguns metros; na sacada.
- O sempre foi assim. – Heidi disse, fazendo uma trança no cabelo da filha. – Às vezes é incrível, mas, às vezes... É uma pessoa bem difícil. O conheço desde que éramos virgens. – riu, vendo rir também, surpresa. – Nossas famílias eram amigas, influentes... Um saco, mas você deve bem saber como é isso.
- Em partes, eu e meu pai só viramos influentes depois de sua candidatura, eu tinha quinze anos. A pior fase.
- Papai! – Liebe disse, apontando para Joshua.
- Quer ir com o papai? Vai lá, meu amor. – a mãe colocou-a no chão, sorrindo ao vê-la correr. – Eu era como um pássaro na gaiola. – sorriu fraco, voltando a encarar . – Acredito que não conheça o sobrenome, mas sou uma Büscher, e, bem... Para cada pessoa que morava naquela casa, tínhamos três quartos. Só para você ter uma ideia. Estudei em colégio interno por boa parte da minha vida, primeiro num de freiras, somente para meninas. Depois, num misto. E foi lá que conheci o . Ele era alguns anos mais novo do que eu, e tinha uma marra danada! – ambas riram, e apoiou a lateral do rosto nas mãos. Adorava saber sobre . – Não sei se sabe, mas ele cresceu sem a mãe, e o pai mal tinha tempo para cuidá-lo...
- E aí entra Sophie.
- E aí entra Sophie. – repetiu, afirmando. – Ela sempre cuidou do garoto, ensinou lições, os valores... O deu a ideia do que é amar. Mas, sinceramente, eu não acredito que tenha tido sucesso. Aquela mulher é fria, rancorosa... Vive à custa do passado, do marido que morreu há mais de cinquenta anos. Acho que parte dela se foi junto dele, ou a parte boa, pelo menos... – deu os ombros, passando as mãos nos cabelos; prendendo-o num coque desarrumado. – Mas enfim, achava ser melhor do que todos. Dizia a todo canto que era o neto de Yan e filho de Barth. Mas quando não estava com esses ataques de estrelismo, vivia se sujando no barro com os outros garotos, jogava futebol, tentava fugir do internato vez ou outra... Ele andava com alguns garotos maiores, e foi aí que nos aproximamos. Tínhamos uma turminha, ele era o mais novo de nós. Talvez por isso tenha amadurecido tão rápido. – olhou para na sacada, que ria brincando com sua filha. – Crescemos, nos tornamos adolescentes... E fomos praticamente os únicos que continuaram amigos. Nossas famílias eram próximas, então todo o final de semana tinha uma reunião ou um jantar... Sempre um de nós fugia, revezávamos. – entreabriu os lábios, e logo em seguida começou a rir. – Nenhum de nós suportava aquelas firulas. A não ser quando Barth participava, aí sim fazia questão de estar presente. Ele amava o pai, e o pai também o amava... De seu jeito, mas amava. – sorriu verdadeiramente. – Mas, bem, numa dessas festas, quando eu já tinha vinte e dois, e ele dezenove, aconteceu um jantar no Ministério e fui obrigada a ir. Mesmo querendo fugir e ir badalar com minha melhor amiga. E, sabe, não ter ido naquela festa foi a melhor coisa que podia ter feito em toda a vida. Conheci Joshua naquela noite, ele é soldado como você já sabe, e no dia estava lá.
- Ah, meu Deus! – murmurou, sorrindo carinhosa.
Heidi riu, olhando de soslaio para o marido.
- Eu estava no telhado e lá estava meu príncipe encantado, de farda e tudo. Me aproximei dele, porque não sou boba e nem nada, né?! – as duas riram. – E conversamos madrugada adentro, foi maravilhoso. Ele me contou que o pai havia sido carpinteiro, e a mãe trabalhava numa casa de família. Sua realidade era tão diferente da minha, e ele falava de um jeito tão gracioso sobre isso, sabe? Não reclamava da vida simples. Pelo contrário, havia sido muito mais feliz com aquela vida do que eu, com todos os bilhões dos Büscher. A pobre da história era eu... Pobre de alegria, de amor, de completude. Bom, depois daquela noite eu decidi que precisava ver aquele rapaz de novo. Pedi a ajuda de e ele me ajudou, estava na faculdade de Medicina, mas mesmo assim ajudava com uma ligação aqui e outra ali. Eu e Josh começamos a nos ver cada vez mais frequentemente, e, bem... Eu já estava completamente apaixonada quando nos beijamos pela primeira vez. E depois disso, foi só alegria. Uma vez me deu a maravilhosa ideia de dizer que ia visita-lo para a minha família, e organizou uma viagem para mim e Joshua.
- Ele fez isso? – disse, num fio de voz, desencostando o rosto da mão.
- Fez muito mais do que isso. Me encobriu por longo um ano e alguns meses. Até se prejudicava algumas vezes com o pai e a avó, perdeu duas namoradinhas por ciúmes de mim, até. – riu, e também. Amava aquela mulher. – Bom, como você deve saber e imaginar, mentira tem perna curta... E meus pais acabaram descobrindo meu namoro. Depois de uma boa e detalhada investigação sobre a vida de Josh, descobriram que ele era pobre. Foi como se eu estivesse me relacionando com um bandido, um assassino. – sorriu amargurada, e arregalou os olhos. – Se estes tivessem dinheiro, definitivamente seria melhor para mim, segundo a visão ridícula e preconceituosa da minha família. Depois de muitos meses de intermináveis discussões, tapas, choro e deserdo... Bem, eu tomei coragem e saí daquela casa. Renunciei aos Büscher. Não quis um só centavo, uma só roupa, e se eu pudesse ter tirado o sangue que corre em minhas veias, teria o feito. E não pense que fiz isso por um amor insano ou sei lá, não somente por isso... Mas porque estava cansada daquela vida medíocre. Daquela vida regada a roupas obscenamente caras. Daqueles vinhos de mil oitocentos e bolinha. Daqueles lustres majestosos desenhados por renomados artistas. Eu queria uma vida de verdade, com pessoas de verdade e sentimentos de verdade. – mordeu o lábio, suspirando. engoliu a seco, sentindo os olhos marejarem. Aquilo era incrível. – E bem, quando estava na rua, novamente estendeu a mão pra mim. Mexeu com uns papeis e aumentou o salário de Josh, além de nos ter dado esta casa. Cheguei a trabalhar num escritório por um ano, nos casamos, e acabei engravidando. – riu, fungando. – Liebe foi a surpresa mais incrível que podíamos receber. E bom, como você pode ver, não tenho a casa mais refinada do mundo, compro minhas roupas em supermercado, mas quer saber? É o suficiente. Eu não gostaria de receber um só centavo a mais. Isso basta. A minha pequena família é a mais feliz do mundo, isso eu posso te garantir. Não tenho regalias; cozinho, arrumo a casa com a ajuda de Joshua, cuido da Liebe, brinco com a minha filha, sou esposa, sou mulher. Aos sábados sempre saímos para algum parque, ou simplesmente passeamos. Aos domingos ficamos em casa e vemos algum filme. Um final de semana de desenho, e o outro de comédia ou romance. Apesar de Josh gostar de desenho também... – riu, passando as mãos nos olhos marejados. também riu, secando rapidamente uma lágrima que escorreu.
- Você foi tão corajosa em abandonar tudo! Meu Deus! Você é maravilhosa, Heidi!
- Que nada, boba. – riu, abanando o ar. – Costumo dizer que quando amamos de verdade, podemos fazer qualquer coisa. Só não voar... Bom, não literalmente. – deu os ombros, e ambas riram. Ela ouviu a risada da filha se aproximar e encarou a pequena, pegando-a no colo. – Nós somos muito felizes, não somos, meu amor?
- Somos feliz! – sorriu, sentindo os beijos da mãe no pescoço. Ela gargalhou. – Mamãe! – reclamou, fazendo Heidi coloca-la no chão. – Oi, tia !
- Oi, princesinha! Vem cá, eu vim exclusivamente pra te conhecer, e não fiquei direito com você. Dá pra acreditar nisso?! – fingiu incredulidade e a pequena negou, sorrindo. – Você é muito simpática, bonequinha! – riu, fazendo cócegas em sua barriga.
- Você quer conhecer a Amélie? – olhou de soslaio para Heidi, que sussurrou “boneca”, e ambas riram.
- Eu amaria conhecê-la! Deve estar na hora dela almoçar agora, não?
Liebe assentiu animada com sua interação e pegou Amélie no sofá, trazendo-a e colocando-a no colo de .
- Aqui, fica com a titia . Titia, cuida dela, hein? – apontou, como se fosse uma ordem. assentiu, batendo falsa continência.
- As bonecas parecem bebê de verdade! – sussurrou para Heidi, que assentiu, sorrindo. – Eu teria feito a festa se na minha época fosse parecido com isso.
- Aqui, aqui. Trouxe o papá dela. Você dá, titia? Ela gostou de você. – disse carinhosamente e na hora soube que quem havia gostado dela, tinha sido a própria Liebe. A mulher não aguentou, e acabou puxando-a para encher a criança de beijos. A pequena começou a gargalhar, chamando a atenção de e Joshua.
(Play!)
encarou a cena e foi impossível não sorrir junto. Teve certeza que Joshua continuou a falar, mas nada parecia mais ser digno de sua atenção a não ser a cena de com Liebe. A chuva de beijos chegou ao fim, e Liebe terminou somente sorrindo. No entanto, a mulher continuou brincando com a garotinha, fazendo caras e bocas para a boneca que estava no colo; como se a brincadeira fosse real.
Ele podia observar aquela cena para sempre. E não se cansaria por um só minuto.
sorriu abertamente para Liebe, que lhe deu um beijo estalado no rosto.
O coração do rapaz acelerou dolorosamente, e ele se permitiu encarar cada detalhe do rosto da mulher. Conhecia cada sarda, cada pintinha. O jeito como suas covinhas marcavam quando a garota sorria, a forma como sua sobrancelha esquerda se arqueava sem intenção à medida que ela conversava.
Há sempre um momento em que se começa a amar uma pessoa, não há? Em algum momento da relação, ou do convívio, há uma hora em que você se dá conta que está amando. Pode ser com um mês, ou um ano. E ali, encostado àquele parapeito, observando no sofá da casa de Heidi e Joshua, depois de tumultuados e torturantes quase seis meses de convívio diário, ele acabara de se dar conta.
Estar apaixonado era muito pouco perto do que ele estava sentindo agora. Não condizia com a realidade, parecia esdruxulo. Pacato, mínimo. O que estava fazendo seu coração estar tão absurdamente ritmado, o que estava o angustiando durante os últimos meses, o motivo de sua vontade de estar perto a todo o momento e a sensação inútil de protegê-la, de cuidá-la... Aquele tudo aquilo. Aquilo que jurou não existir, jurou ser invenção dos últimos românticos. “O coração é só um órgão”. Ele quis rir da tolice que a frase soava.
“Ah, meu Deus do céu! A Amélie vai dormir sem tomar o banho dela?!”
disse incredulamente e sorriu, observando a sua menina. A menina que havia se tornado mulher, que havia perdido tudo e se reerguido sozinha... Sem uma mão para puxá-la de volta. Havia escalado todo o poço úmido, rochoso, e alto, sem sequer uma palavra de incentivo. Lá estava ela, mostrando-lhe que era possível voltar a sorrir mesmo depois de o mundo ter desabado sobre sua cabeça.
Não adiantava mais enganar a si mesmo. Não adiantava fingir que não era consigo, que estava longe. Que seria controlável; comedido.
Não era uma atração forte, apesar de sua beleza obscena.
Não era uma confusão de sentimentos.
Não era uma tentativa frustrada de irritar a avó como um adolescente rebelde.
Não era uma simples paixão.
Ele jamais havia sentido aquilo por alguém. De todos os sentimentos que achou que já tivesse sentido, nenhum chegara perto do que ele estava sentindo naquele exato momento.
Que sua avó o odiasse.
Que a Alemanha o odiasse.
Que o mundo o odiasse.
Ele a amava.
Percebendo o olhar insistente de sobre si, o olhou e riu.
- Sua afilhada é um furacão em forma de criança, !
Ele sorriu, assentindo fracamente. Ainda estava meio aéreo. Assumir para si mesmo que a amava era mais forte e intenso do que mil pedradas em suas costas.
Não deixava de ser libertador, no entanto.
A tarde passou rápido, mais rápido do que e gostariam. Acabaram por jantar na casa dos amigos, e logo depois se despediram com um “até logo”. Liebe fez um bico de birra ao vê-los irem embora, mas logo voltou a sorrir quando lhe disse que na mesma semana voltaria para visitá-la. Não disse nada a respeito de , contudo.
Assim que o carro fez a primeira curva na esquina da casa de Heidi e Joshua, suspirou. Olhando-a de soslaio. encostou a cabeça no banco, encarando a janela e o cair da noite. O sinal ficou vermelho e o carro parou, aproveitando a deixa; olhou totalmente para o lado - ainda com a mão na marcha -, e observou o perfil da garota. Ah, merda. Ele realmente a amava.
Se há quase seis meses, quando colocou os olhos nela e sentiu puro e incisivo ódio, hoje o efeito era totalmente contrário. O que podia esperar, no entanto? Não era sua culpa. A vida inteira havia ouvido falar sobre ela, sobre o quão má havia sido, o quão mau havia feito... havia sido a vilã que o atormentou durante toda a vida. A mulher que destruiu a sua família. A rebelde mimada e irresponsável que nem se importara com o fato de ter causado uma guerra.
Ele só havia conhecido um dos lados da história, e o contrário a ela.
Contudo, ali, praticamente seis meses depois de conhecê-la, da convivência diária com a garota... Ele não poderia ter sido mais enganado. Se é que havia um culpado naquela história, era seu avô e sua obsessão por guerra. E, bem, se havia um inocente: era ela.
Um mínimo sorriso apareceu no canto de seus lábios com a convicção e uma buzina o alertou que o sinal já havia aberto. Ele virou o rosto para frente rapidamente e o olhou, no susto.
- Me distraí.
Foi o que disse, engolindo a seco antes de voltar a acelerar o carro em direção ao Ministério.
Cerca de vinte minutos se passaram até que estacionasse o carro e saísse do mesmo. Antes que pensasse em dar a volta no veículo para abrir a porta do passageiro, já havia saído.
Eles se entreolharam e sorriram fraco, passando a caminhar lado a lado.
- De todos os cenários imaginários, o mais inusitado seria como você age quando está com Liebe. – disse, quebrando o silêncio. riu, olhando-a.
- Aquela criança é de outro mundo, não tem como ser normal com ela. – defendeu-se, erguendo os ombros.
- De fato. Ela é... – tentou encontrar as palavras. – adorável? Adorável parece pouco para descrevê-la. É estonteante, cheia de alegria, carinhosa, simpática... Ah, Deus. Estou apaixonada. – sorriu, derretida. E eu também. Mas por você.
- Bem-vinda ao time. – riu, desviando o olhar. – Heidi e Joshua são ótimos pais. Bem, não teria como ser o contrário. Ambos lutaram muito para ter o que tem hoje, e eu não falo do bem material.
- Eu sei.
franziu o cenho e virou o rosto para encará-la.
- Sabe?
- Sei. Heidi me contou a história dos dois, e... Uau. – sorriu, gesticulando com as mãos. – A coragem que ela teve ao largar tudo... Meu Deus, como a admiro. Eu não sei se teria. – confessou, encarando os pés. assentiu, como se concordasse. – E também contou como você os ajudou.
- Eu não fiz nada demais. O mérito é todo deles.
- Não seja modesto para querer ganhar elogios, ! – brincou, e ambos riram. – Fomos surpreendidos novamente. Você é a caixa de Pandora em forma humana. Abrimos e não sabemos o que sairá de lá...
- Dizem que na caixa de Pandora os sentimentos ruins saíram primeiro, uma enxurrada deles... E então Pandora a fechou. Se ela tivesse insistido um pouco mais, quem sabe os bons não começassem a aparecer, também? A esperança ficou trancada...
- O que está querendo dizer? Sem metáforas, . – disse séria, parando de caminhar no corredor e virando-se para encará-lo.
- ... – procurou as palavras, mas não as encontrou. Ele suspirou, resignado. – Eu ainda tenho alguma chance de ser perdoado por você? – a garota entreabriu os lábios, e deu um passo para trás. – Ah, droga, . Não me faça repetir.
riu de sua batalha interna, e levou as mãos à própria cintura.
- Não estou entendendo aonde quer chegar...
- Você vai me fazer pedir desculpas mesmo, não é? – riu irônico, e ela mordeu o sorriso. – Eu tenho sido um imbecil ultimamente, - umedeceu os lábios ao vê-la erguer uma sobrancelha. Riu. – ou desde sempre. Mas especialmente nos últimos dias. E essa situação está ficando incontrolável, saindo dos limites. Não só para nós, mas para quem está à nossa volta. – assentiu, fechando o sorriso. Ele tinha toda a razão. – Então, bem... Eu proponho que fizéssemos uma trégua, sim? Porque, ora, eu não te odeio – pelo contrário... –, e sei que também não me odeia. Então não precisamos fingir que isso acontece.
- De acordo, Orgulho Alemão. – piscou, erguendo uma das mãos para que ele a segurasse.
- Ótimo, Vergonha da América. – segurou sua mão, levando-a até seus lábios e depositando um suave beijo ali. Ela sorriu, puxando-a levemente. – Boa noite, .
- Boa noite, . – acenou, ainda sorrindo sem ironias ou sarcasmo, e caminhou sozinha até seu quarto.
- É óbvio que não! Somos os melhores do futebol desde sempre, aceite isso, ! – brincou, enquanto conversava com a garota e Klaus.
- Aquela copa de 1954 foi sorte, . Sorte! – avisou, com o dedo em riste.
- Certo, certo, então me diga: nas suas aulas de atualidades, quem venceu a copa deste ano?! – apontou para a orelha, com sinal que ela falasse mais alto.
- S-o-r-t-e. – soletrou e tentou continuar séria, mas acabou rindo. – Não vale!
- Dessa vez tenho que concordar com , ... – Klaus sinalizou pena, e ela assentiu; como se estivesse magoada. Todos riram, por fim.
Eva observou a cena de braços cruzados, no canto da sala. Se alguém lhe dissesse há pouco mais de um mês que aquela cena aconteceria, ela certamente descordaria, e com louvor.
Ela não imaginava como e nem por que, mas de um mês e alguns dias para cá, o relacionamento de ambos haviam mudado. Na segunda-feira, há seis semanas, quando chegou ao Ministério, encontrou os dois conversando sobre a filha de Joshua de forma amigável. Sem gritos, xingamentos ou nada relacionado. Como amigos... Amigos. Ela quis rir e abraça-los. Todos estranharam a situação, mas ninguém teve coragem de perguntar o motivo da mudança. Em jogo que está ganhando, não se muda time. O tempo lhes dariam as respostas necessárias.
No entanto, até o presente momento, as tais respostas não haviam sido mostradas. Não importava, contudo. Eva conseguia enxergar muito bem o que estava acontecendo ali: ambos estavam tentando, mesmo que inconscientemente, adaptar-se um ao outro. Conhecer-se um ao outro, sem pressão, sem pressa, sem a opinião de alguém ou deles mesmos.
A risada de ecoou pelo cômodo e Eva a olhou enquanto sorria. riu também, observando-a.
Não demoraria até que ambos se dessem conta que não havia para onde fugir ou correr. Se tivesse que acontecer, aconteceria. E ninguém poderia impedir.
A tarde já começava a escurecer enquanto terminava de reler um de seus livros favoritos: Calígula.
Entretida com a leitura, se assustou quando a porta se abriu, após alguns toques. Joshua apareceu, e ela sorriu.
- . Interrompo?
- Claro que não, Josh. O que houve?
- Nada sério, não se preocupe. – sorriu, acalmando-a. – James... Você conhece James, não é? – ela assentiu, sorrindo. – Bem, não sei se sabe, mas amanhã é aniversário do ...
- É?! – arregalou os olhos, surpresa.
- É! – afirmou, rindo. – E James está organizando uma pequena recepção surpresa para ele. Você sabe, 25 anos...
- Ah, isso é muito legal! Mas onde eu entro na história? – riu, confusa.
- Você entra na parte em que aparece na festa conosco. Está mais do que convidada.
entreabriu os lábios e os fechou brevemente, trocando-o por um sorriso.
- Está falando sério?
- Óbvio que estou! Você vai, não vai? – a garota assentiu assiduamente, e levou as mãos à boca; rindo.
Estava vivendo num mundo paralelo, com certeza.
acordou no meio da tarde naquele sábado. Já havia recebido diversas ligações o parabenizando por seu aniversário, inclusive da avó; que havia insistido para que ambos fossem jantar em algum restaurante sofisticado, mas ele havia a convencido dizendo que preferia ficar sozinho, assistindo um bom filme e pedindo uma pizza na pizzaria da esquina.
Bom, ficar sozinho não era bem o que ele queria.
Mas, infelizmente, a companhia que desejava seria impossível no momento.
.
Ele sorriu ao lembrar-se, e se deu conta de que ela ao menos sabia que era seu aniversário. Não importava, contudo.
Às 19h00 James lhe ligou, parabenizando-o e convocando-o para sair à noite. Primeiro o rapaz negou piamente, mas acabou aceitando. Sair para um bar era infinitamente melhor do que um restaurante sofisticado com a avó. Parecia mais divertido, pelo menos.
Não demorou mais do que trinta minutos até que o amigo passasse em sua casa, numa espécie de “sequestro”. Não havia dito sequer aonde iriam. riu do mistério, mas não comentou nada. Não queria estragar a surpresa, que a esta altura, já imaginava do que se tratava.
Após um demorado e diferenciado caminho, James lhe disse que haviam chegado ao seu destino. Até então, não havia nada errado ou fora do comum. De fato, era um bar da cidade. O amigo estacionou o carro e os dois saíram, caminhando até a portaria.
encarou o interior do lugar e viu o quão escuro estava. Oh, James, você tem que aprender a fazer festas surpresas, meu amigo.
Ao passarem pelos seguranças, James caminhou à frente e se preparou para o: “surpresa!” que viria em seguida.
As luzes se acenderam, e, dito e feito. Cerca de vinte amigos de estavam presentes, gritando um: “surpresa”; uníssono. Ele riu e aplaudiu, observando-os.
Heidi, Joshua, Liebe, James, Lily, alguns amigos da faculdade, outros do Ministério, e . ?
estreitou o olhar ao encará-la no canto da sala, com um sorriso contido, e mais linda do que nunca. Seu sorriso se fechou, sendo trocado por batidas ritmadas em seu peito.
O resto das pessoas na sala sumiram, transformadas em borrões em volta daquela mulher, que agora olhava em volta, provavelmente sem graça por ser tão encarada pelo dono da festa. Ele voltou a sorrir, mas agora verdadeiramente.
O melhor presente que poderia ganhar de aniversário.
E da vida inteira.
Músicas do capítulo: Better Than Myself – Adam Lambert.
Somethin’ Bad – Miranda Lambert feat. Carrie Underwood.
I Will Be – Leona Lewis. Play quando eu avisar. (Desculpem o número, mas as músicas são bem importantes nesse capítulo. -))
só conseguiu rir envergonhada, enquanto olhava para as próprias sandálias. não parava de encará-la desde que chegara. Bem, ela não tinha muito do quê reclamar também não havia deixado de olhá-lo por um só minuto, mas... Ah, ele estava tão lindo. E aquele sorriso surpreso. Aquele sorriso.
Seria uma prova de insanidade não encará-lo de volta. (Play!) O suspiro resignado foi impossível ser controlado. Ela estava tão apaixonada. Durante aquele mês aquele mês de paz selada, ela teve tempo e coragem de pensar em tudo e se deu conta de que era mais forte do que pensara. Mais intenso do que imaginara.
cumprimentou alguns amigos brevemente e, quando a garota menos esperou, lá estava ele caminhando em sua direção, com as mãos nos bolsos da calça jeans e o sorriso de lado plantado no rosto.
Foi inevitável não rir.
- Quer dizer que temos uma fugitiva aqui? – brincou.
- Espero que o senhor não se importe.
- Prometo não contar para ele. – piscou, olhando-a intensamente. Ela riu sem graça, desviando o olhar. – Obrigado por ter vindo.
- Ah. – deu os ombros, voltando a olhá-lo. – Feliz aniversário! Veja só quem está mais velho agora, huh?
- Culpado. – ergueu as palmas das mãos, derrotado.
riu, estalando os dedos das mãos. Queria abraça-lo. Precisava abraça-lo tanto quanto precisava de ar.
- Ah, droga. – mordeu a parte inferior da bochecha, dando-se por vencida. Mais uma batalha perdida para seu interior. – Eu vou te abraçar, tudo bem? – anunciou, e riu, confuso com o aviso. Nada podia ser normal quando se tratava dos dois, não era?
No próximo segundo lá estava ela, com os braços envoltos ao pescoço do rapaz. sorriu, abraçando sua cintura com força. Como havia sentido falta daquele corpo junto ao seu. Da necessidade de proteção que ele implorava. fechou os olhos e inspirou o perfume do rapaz, sentindo seu coração acelerar ainda mais. Se é que fosse possível.
- Não foi um ano fácil, não é? – ela disse, ainda abraçada ao rapaz que assentiu. – Mas, olha – sussurrou –, com toda a sinceridade que tenho em mim: eu te desejo toda a felicidade do mundo, . – ele se afastou um pouco, só o bastante para encarar o rosto da garota. Mas continuavam abraçados. – Não é porque você é um insuportável, babaca, ogro, idiota, , imbecil... – o rapaz arregalou os olhos e ela riu, continuando: – Estou brincando. Você é tudo isso, sim, mas há muita coisa melhor aí no fundo. E, bem, não é mais segredo para ninguém que eu não te odeie mais. Então... – olhou para seus lábios inconscientemente, mas logo subiu o olhar. – Você me deu o melhor aniversário que já tive, e gostaria de ser capaz de retribuir, mas eu não sei como. – deu os ombros, descendo os braços que estavam enlaçados no pescoço do rapaz. – Enfim, de todas as felicitações clichês que desejam em aniversários, aqueles falsos que dizem da boca pra fora... Eu, definitivamente, quero ser sincera e dizer o meu: felicidade. Seja feliz, . Porque não há nada melhor que eu possa lhe desejar, a não ser isso.
Ele sorriu por fim, e levou os lábios à sua testa depositando um suave, sincero e demorado beijo.
- Obrigado. – sussurrou, colocando seu rosto entre as mãos. – Acredite em mim, : é reciproco.
- Eu sei. – sorriu sincera.
- Vem cá, vou te apresentar para os meus amigos. – pegou em sua mão, arrastando-a pelo bar.
resfolegou no susto, mas logo sorriu. Ele queria apresenta-la aos amigos. Sim, pode não ter sido do modo tradicional. Mas ainda sim, queria que os amigos a conhecessem, soubessem seu nome... Seu estômago embrulhou de um jeito estranho e ela riu, tentando deixar de lado aquela situação.
- Fritz! – chamou, cumprimentando-o e agradecendo os desejos de aniversário. – Olha aqui, essa é a . , Fritz. Fizemos faculdade juntos! – disse animado, vendo-os cumprimentarem-se.
parecia uma criança animada, e foi impossível segurar a risada de .
- Você é do Ministério? Prazer!
- Sou, sim. – entreolhou para , que assentiu fraco. – E o prazer é meu.
- Aproveite a festa, Fritz. E obrigado por ter vindo! Já volto aqui para conversarmos. – avisou, saindo e puxando .
- Você já comeu algo desde que saiu do Ministério?
- Estou bem, . Vá dar atenção aos seus convidados. – sorriu simpática.
- E quem disse que não estou dando? E, aliás, essa festa é para a minha diversão, não é? E estou me divertindo.
- Justo! Mas...
- ! Amor!
A voz estridente soou da porta do bar e virou o rosto depressa para ver se seu cérebro não estava sendo traiçoeiro.
Não estava, infelizmente. Kyara.
A ruiva escultural caminhava em sua direção... Ou na de . Ela segurava uma embalagem de veludo vermelha, combinando com o vestido que a mesma usava. O sorriso perfeito parecia moldar seu rosto, que era envolto pelos cabelos da mesma cor da peça de roupa.
passaria a odiar vermelho – e todas as nuances dele, a partir de hoje. Com certeza.
Passando por seu lado sem sequer notar – ou fingir que não notara – sua presença, Kyara se jogou nos braços de e deu um passo para trás, sorrindo irônica.
- Feliz aniversário, amor! Demorei porque estava comprando essa pequena lembrança. – esticou a mão com a caixinha. – É uma caneta. Sei que gosta, então...
- Não precisava ter se preocupado com isso, Kyara. Obrigado. – sorriu carinhoso, e quis sumir. Ela não podia voltar à Ironm4x e acordar em cinquenta anos, novamente?
- Quando se trata de você, nunca é preocupação. Tudo recompensa. – beijou o canto de seus lábios, e ele riu. – Ah, oi, querida. Tudo bom? – virou-se para , sorrindo. Veja só quem lembrou que tem mais alguém no recinto...
- Ótimo. E com você? Hm, está sujo aqui, . – apontou para o canto de sua boca. Ele passou a mão no local mostrado e ao olhar para os dedos, viu que o batom de Kyara havia sido transferido. Ele piscou pesadamente. Fodido, . Nunca é tarde para lembrar.
- Tudo bem também, linda. Amei o seu vestido! – sorriu. – Agora, se me dá licença... Amor, podemos conversar? – virou-se para , que assentiu sem demonstrar muita emoção. Ele sorriu brevemente, pedindo licença a . – Até logo, querida.
A garota passou a língua pelos lábios, umedecendo-os. Respire fundo, . Sua única vontade era sair dali o quanto antes para poder sentar em sua cama e continuar sua maravilhosa leitura de... Ah, qual livro estava lendo mesmo?
Ela nem conseguia lembrar.
Não conseguia lembrar-se nem de seu sobrenome àquela altura.
conversava no canto do bar junto de Kyara que fazia questão de abraça-lo e tocá-lo a todo o momento.
precisava de ajuda ou as duas opções que estavam em sua cabeça se concretizariam: começaria a chorar ali, no meio do bar. Ou voaria nos cabelos vermelhos da irlandesa.
A segunda opção parecia maravilhosamente boa. Mas talvez não fosse uma boa ideia... Não com tantas pessoas presentes.
Ah, que se dane. Ela precisava de ajuda. Precisava de uma salvação.
Jane diria a coisa certa... riu com a constatação, mas quando virou a direção do olhar, seu sorriso se fechou prontamente. Jane?
Seus olhos lhe diziam uma coisa, mas sua sanidade lhe dizia outra. A mulher no canto oposto do bar, que conversava – ou discutia – com James... Era incrivelmente parecida com Jane. Dando alguns passos, se aproximou e constatou o óbvio: não era Jane. Mas se parecia. O sorriso bobo em seu rosto foi inevitável.
Percebendo o constante olhar da garota sobre si, James virou-se para olhá-la. Ele sorriu, parecendo vê-la sozinha e lhe chamou com um aceno.
- É uma merda estar num lugar onde não se conhece ninguém, ainda mais quando o anfitrião foi sequestrado, não é?
- Definitivamente. – sorriu, girando os tornozelos e encarando a mulher ainda mais precisamente. – Oi!?
- Tudo bom? – sorriu, e viu ainda menos traços parecidos com o da amiga. Ah, ótimo. Ela estava começando a delirar, não era? – Você é...?
- . – preferiu dizer somente o primeiro nome. Por mais que quisesse no momento, não conseguiria prejudicar e o Ministério.
- Sou a Lily, e, bem, se você é amiga do James e do já deve ter ouvido falar sobre mim.
- Temos coisa melhor pra falar do que de você, Lily. – James retrucou, e a outra suspirou parecendo cansada.
analisou a cena e pelo pouco que conhecia das pessoas, não conseguia enxergar naquela mulher alguém ruim... Ou traíra. Ela parecia gostar de James, ainda mais da forma que o encarava agora enquanto ele fingia manter o olhar imponente.
Mas pelo jeito que seu maxilar estava trincado, aquele olhar não dizia o que seu interior realmente queria.
- Mas falamos de você também. – interviu, com um sorriso no rosto. James a olhou incredulamente e Lily deixou um mínimo sorriso de lado aparecer.
- É claro que falamos, mas não do jeito que está pensando. E sim do quão desprezível você foi.
Lily entreabriu os lábios para falar algo, mas logo os fechou. Respirou fundo e se virou para o homem.
- James, você faz parecer que eu sou a culpada por tudo!
- E não é? Era eu quem estava na cama com o meu primo, por acaso?!
- Traição não se trata só do físico, imbecil! – aumentou o tom de voz, e ele gesticulou com as mãos absurdamente nervoso, antes de sair de seu lado. encarou os próprios pés e suspirou. O que se deve fazer numa situação como essas? Ela nem sabia mais interagir com outras pessoas... – Imbecil. – sussurrou, com a voz trêmula. – Desculpa pela ceninha ridícula na sua frente. Eu nem te conheço... Você é amiga do ?
- Ahn, sou, sim. Trabalho no Ministério. – sorriu comedida. Lily assentiu, sorrindo fraco. – Já faz muito tempo que estão separados?
- Um ano praticamente. – deu os ombros, cruzando os braços. – E eu continuo aqui como uma idiota, me desculpando. Implorando por seu perdão. O amor é tão humilhante.
sorriu fraco e sentiu uma imensa vontade de abraça-la.
- Olha, sei que não trocamos mais de vinte palavras, mas... Admita que ele tem motivos para estar assim.
- Tem, é claro que tem. Mas eu também tive. Você não sabe a história por trás da traição, sabe? – balançou a cabeça, negando. – Namoramos por quase três anos, e estávamos passando por uma fase ruim, bem ruim, sabe? Ele queria sair com os amigos, ir a festas... E bem, eu também. Mas para passeios mais simples shopping, parques com as amigas e tudo mais. No entanto, para ele, parecia ser demais. – rolou os olhos. – E então tivemos uma briga feia depois que descobri que ele havia saído na sexta-feira à noite, no nosso aniversário de namoro, sem me consultar e... Bem, era uma despedida de solteiro de um amigo. Eu e o primo de James estávamos muito próximos, ele me ouvia sempre que necessário, me ajudava, me fazia rir e havia se tornado o meu melhor amigo. Enfim, nessa sexta-feira eu fiquei tão, mas tão brava, que quando o primo dele foi me visitar, nós acabamos indo para a cama. Eu juro que não foi o que eu queria! Mas, você sabe, o ódio nos cega. E eu estava com muito ódio. Acabei me deixando levar... E assim que terminou, o arrependimento chegou. Acho que quando eu o beijei o arrependimento já veio... Mas sou uma cabeça dura. No final da noite James foi até minha casa, arrependido de sequer ter citado que ia àquele lugar. E, bem, você já deve imaginar o que ele encontrou... Eu estava encarando o teto e pensando na burrada que havia feito, no quanto amava aquele babaca, e seu primo estava dormindo ao meu lado. Sem sequer um “boa noite”... – ela riu amargurada. – O otário só queria me comer. – disse simplesmente e arregalou os olhos. – Bom, quando a porta abriu e eu vi um James decepcionado e furioso entrar, eu sabia que meu mundo havia desmoronado. Naquela hora, exatamente naquele momento em que vi seus olhos marejados e sua feição decepcionada... Ah, . É , não é? – a garota assentiu, suspirando. – Eu me senti a pior pessoa do mundo, e me sinto assim até hoje. Nesses meses minha vida tem sido um caos, um vazio... Sabe? Há uma lacuna ali. Todas as sextas à noite eu fico em casa, assisto a um filme e vou dormir. Todos os domingos, que sempre saíamos, faço o mesmo... Ah, que merda. Eu não vou chorar. – respirou fundo, pigarreando. colocou a mão em seu ombro, e sentiu o coração apertar. Ela se parecia tanto com Jane. Não só fisicamente... Por que a sua mente tinha de ser tão traiçoeira? Procurar a melhor amiga em cada pessoa nova que conhecia, encontrar traços semelhantes, personalidades parecidas... Como sentia sua falta.
- James é um cara muito bacana e sei que uma hora vai se dar conta de que, por maior que tenha sido a sua parte, o erro foi de ambos.
- Eu já nem tenho mais esperanças. – suspirou, olhando para o homem, que estava no canto do bar tomando um drink. – É engraçado, sabe... Mas eu continuo o amando como no primeiro mês de relacionamento. Nada mudou... E se isso aconteceu, foi para aumentar. Se eu ao menos pudesse voltar àquela sexta-feira...
- Não se pode mudar o passado. Há de se viver o presente e... Bem, esperar pelo futuro. – sorriu, lembrando-se do que havia lhe dito há alguns meses. – E eu tenho certeza de que ele continua te amando tanto quanto. Só tem uma grande magoa... É compreensível, não é? – Lily assentiu, olhando em volta.
- Enfim, vamos ver. – deu os ombros, vencida. – O que você faz no Ministério, ?
sentiu-se enrijecer-se e a tensão cair sobre os ombros. Seu ar saiu pela boca devagar e ela sorriu, parecendo tranquila. Tentando parecer.
- Trabalho com Klaus na parte histórica, nada muito importante. E você, o que faz?
- Olha só, uma historiadora. – sorriu. – Eu sou atriz. Conheci o James na Academia de Arte, aliás. Mas, espera, por que estou falando dele? Ah, eu me odeio! – rolou os olhos, e riu, sentindo duas mãos envolverem sua cintura. Antes que ela pudesse se virar no susto, conseguiu decifrar seu perfume. Ah, aquele perfume...
- Parece que temos uma conversa animada aqui, não é? – sorriu, pondo-se ao lado da garota. – Bom te ver, Lily! E surpreendente também... – franziu o cenho, rindo enquanto olhava para o melhor amigo.
- Pois é, também fiquei surpresa por ele ter me convidado. Mas agradecida. Feliz aniversário, ! – se aproximou, lhe dando um abraço rápido. – Que seja muito feliz!
- Obrigado, Lily. Espero que seja também. – sorriu simpático, e olhou de soslaio para que a esta altura já havia se lembrado de Kyara. – Parece que já se tornaram amigas.
- Ela é ótima! Como eu não a tinha conhecido antes? – Lily disse, rindo. sorriu carinhosamente, abraçando-a de lado.
- Me pergunto o mesmo todos os dias. – sorriu e a garota engoliu a seco, sentindo o coração acelerar pelo menos dez vezes mais. – Apesar de ela ser insuportável cinquenta por cento do tempo. – apertou a ponta de seu nariz, fazendo-a rir.
- Idiota. – balançou a cabeça, rindo.
E assim foram duas horas adentro. tentava dar atenção a cada convidado, mas sempre que podia, ia até que se dividia entre Lily, e entre Heidi e Liebe. Da mesma forma Kyara fazia, mas com , obviamente. Vez ou outra grudava em seu braço, e ele fazia questão de descruzá-los sempre. A hora do parabéns chegou e ficou feliz em saber que tudo continuava igual. Até a cantiga clichê. Após enrolarem e rirem durante a conhecida letra, terminaram aplaudindo que estava claramente sem graça. Perguntaram para quem iria a primeira fatia de bolo e o rapaz desconversou dizendo que seria para si mesmo. No entanto, ao dar a volta na mesa com o pratinho na mão, ele o entregou para . A garota sorriu confusa, mas logo lhe deu um beijo demorado na bochecha, agradecendo.
O homem foi falar com outros convidados, e ela ficou ali, com aquele sorriso apaixonado no rosto. (Play na 2!)
- O primeiro pedaço, então?
Ela já conhecia aquela voz, e reconheceu o sarcasmo dela quase que imediatamente. Colocou um sorriso vencedor no rosto e se virou, encarando a ruiva. De igual para igual, Kyara. Mesmo que não saiba, continuo sendo a... Como é mesmo? Rebelde da América, que fala o que pensa e que não tem medo de quem quer que seja. Quanto mais da repórter de cabelos de fogo. Nunca foi meu forte lidar com jornalistas mesmo...
- Está ótimo, você já provou?
- Bem antes de você, amor. – usou o duplo sentido e percebeu na hora. Ela estava falando de .
- Analogias, então, Kyara? – riu, balançando a cabeça. – Não preciso disso. Posso trabalhar com fatos, nomes, e diretas. Amor, não existe uma ordem de chegada aqui. Não existe nem uma chegada, se quer saber. Quer ficar com ? Fique. Não estou impedindo. Aliás, se há um empecilho... Bem, não sou eu a culpada. Talvez seja ele mesmo.
- Está querendo insinuar que não me quer mais? – ela sorriu sarcástica. – Anjo, você é muito engraçada. Ele me quer como jamais quis mulher alguma, e o próprio me disse isso. Se está pensando em nos atrapalhar, eu sugiro que pense duas vezes.
- Quem está te atrapalhando aqui, palito de fósforo? O faz o que quiser da vida dele, ele tem personalidade suficiente e já é crescido o bastante pra decidir o que quer e o que não quer. Não precisa ser influenciado por ninguém, e, diga-se de passagem: mesmo que fosse, não seria por mim. Não é do meu feitio.
- Você é bem atrevida, hein, garota? Tem quantos anos, quinze?
- Já me disseram isso, água de salsicha. Muitas vezes. E, bem, deixo um mistério. Fica mais divertido assim. – sorriu, erguendo uma das sobrancelhas.
- Como o gosta de alguém tão infantil quanto você?! – riu incrédula.
- É um elogio para mim, ferrugem. Obrigada. E, bem, isso é novidade. Mas agradeço a informação. Não sei se será útil, de toda a forma. Mas...
- Você não sabe com quem está lidando, garota. Eu posso fazer um dossiê da sua vida e publicar no maior jornal de circulação da Alemanha, e eu não queria estar no seu lugar caso isso aconteça.
- Não será como se eu não estivesse acostumada com isso, Kyara. – ergueu o olhar, deixando a feição travada. Um sorriso desafiador brincava no canto de seus lábios, contudo. – Você é quem não sabe com quem está lidando.
- Ah, é? E com quem?
- Está tudo bem por aqui? – chegou, com os olhos arregalados. – Kyara!? ? – olhou-as.
- Descubra sozinha, já que é tão competente, jornalista. E lhe desejo sorte.
- Do que estão falando?
- Suas amizades já foram melhores, amor.
- Kyara, por favor.
riu, mordendo o lábio. Ah, como havia sentido falta daquela .
- Está rindo do quê, garota? Você não vai querer me ver descontrolada.
- Ah, é? E por quê?
- Já chega Kyara. – interviu, segurando seu braço. – Chega. – sussurrou, olhando para a ruiva.
- Chega o quê?! Você não vai defendê-la, !
- Acredito que não precise de defesa, Kyara, pelo contrário. Eu te levo até a porta. – acenou com a cabeça, puxando-a. A mulher olhou-o com os olhos arregalados, incrédulos.
- Você está me expulsando da sua festa?! E da minha vida.
- Tchau, Kyara. – a puxou com força, levando-a a porta, como prometido. – Nos falamos depois, quem sabe.
- !
- Tchau. – disse e virou-se de costas. Estava para nascer mulher que o desrespeitasse.
Ou, bem... Talvez já tivesse nascido. Há setenta e oito anos.
- , ... – estava com os braços cruzados e um sorriso no rosto quando voltou ao centro do bar. – Eu diria que te amo se não te odiasse.
- Você sabe da reciprocidade disso, não sabe? – sorriu, cruzando os braços também.
- Totalmente. – riu.
As horas se passaram e o aniversário chegou ao fim. fez questão de levar para o Ministério, e a mesma não tentou impedi-lo. O caminho foi de certa forma longo, mas cheio de conversas e risadas. Conversavam sobre assuntos aleatórios, sobre a festa, os convidados, Lily e James, o Ministério... Neste quase um mês sem brigas haviam descoberto que assunto era algo que não faltava para os dois. E eram tempos bons juntos, de toda a forma. Podiam passar dias ali, e não seria cansativo.
O homem estacionou o carro e ambos desceram, indo em direção ao quarto de .
- Sabe, ... – disse seu apelido sem ao menos notar e a garota sorriu, prendendo o lábio inferior nos dentes. – Você poderia ter fugido. Ter pedido ajuda... Havia dezenas de pessoas naquela festa, e você... Não fez nada. Por quê?
- Por quê? – repetiu mais para si mesma do que para o outro. Ela não sabia. Não havia sequer pensado na possibilidade. – Eu não faço a mínima ideia. – admitiu, rindo.
- Meus ancestrais estão decepcionados comigo, não estão? – brincou, lembrando-se da conversa que havia tido com ela há alguns meses.
- Yan enlouqueceria. – sorriu, passando a mão pelos braços aquecendo-os. O silêncio predominou e eles se entreolharam, sem saber o que fazer. – Feliz aniversário, .
- Obrigado de novo, . Foi uma ótima noite.
- Eu é que agradeço. Você sabe... Ter acordado da Ironm4x quando é o responsável... Foi muita sorte.
- Ah, é mesmo? – sorriu, apoiando-se despreocupadamente na parede ao seu lado. A cabeça encostada à mesma.
- É. – disse somente, mordendo o lábio. – Obrigada por estar aqui.
- Sempre vou estar, . Você é minha responsabilidade, esqueceu? – levou a mão para seu rosto, acariciando sua bochecha com o polegar.
- Nem se eu quisesse, . – aproximou seu rosto do dele, analisando cada detalhe do mesmo. – Boa noite. – sussurrou.
- Boa noite, linda. – sussurrou também, piscando longamente e aproximando ainda mais o rosto dela beijando sua testa demoradamente. Ela fechou os olhos e sorriu, sentindo o carinho. O carinho que tanto ansiava, e de quem tanto ansiava.
- Acho melhor você colocar essa jaqueta para sair, Peter. Parece estar frio lá fora.
- Será? Ah, meu Deus! Eu nem sei direito como é sentir frio! – riu animado, enquanto terminava de fechar sua pequena mala.
sorriu encostada ao batente da porta. As lágrimas começavam a se formar no canto de seus olhos, mas ela não deixaria que isso transparecesse. O mais velho agora estava sentado em sua cama, olhando seu futuro ex-quarto. Ele riu incrédulo, parecendo ainda não acreditar.
Com ela não era diferente, ainda não conseguia acreditar também. Havia chegado o dia, o grande dia. Peter iria sair do Ministério naquela tarde.
Já havia passado pouco mais de um mês desde o aniversário de , e o processo de ensinamento a Peter havia avançado.
Oito meses. Oito longos e difíceis meses depois de ter acordado da Ironm4x, lá estava ela, na porta do quarto de Peter, pronta para se despedir para que ele tomasse sua vida de volta. Que ele pudesse, finalmente, viver a sua vida.
O nó estava entalado em sua garganta, e ela não sabia qual dos motivos era maior: a felicidade por ele estar saindo, a saudade que iria sentir do amigo, a preocupação do homem na cidade sozinho, ou a alegria de lhe devolver algo que lhe roubaram. E ela tinha certeza: onde quer que Louise estivesse, está feliz pelo filho.
Um suspiro forte foi incontido por e Peter virou-se para encará-la. Ele sorriu, batendo a mão em sua cama, chamando-a para sentar-se.
(Play na 3. Deixem até o final do capítulo.)
- Tudo isso está acontecendo por você.
A garota negou, balançando a cabeça. Seus olhos já não eram mais capazes de segurar as lágrimas, que agora escorriam por seu rosto.
- Está acontecendo porque é o seu direito. Sempre foi! Eu não poderia estar mais feliz, Peter.
- Se você saísse daqui também...
- Não, não. Não vamos falar de mim. Hoje é o seu dia! E me lembre de perguntar à que dia é hoje, pois se tornará o seu aniversário. Você nunca comemorou um, não é? – ele negou, sorrindo timidamente. – Pois então, feliz aniversário! É o seu primeiro dia de vida. De viver de verdade.
- Você ainda será muito feliz, . Você, mais do que qualquer um, merece. E nunca mais repita que algum dia foi a Vergonha da América. Não existe calúnia maior! – exclamou, e a garota sorriu, num soluço. – Os títulos de Queridinha da América, Filha da América... Acho que nenhum deve se encaixar à você. Primeiro porque não precisa provar nada a ninguém. Você é autossuficiente! Mas, ainda assim, se for necessário: considere-se o Orgulho da América, . Todos teriam orgulho de ver a mulher que você foi, é, e sempre será. – tocou na ponta de seu nariz, sorrindo. A garota sentiu o queixo tremer anunciando o choro que viria, e fechou os olhos com força. – Lembra que você me disse que quando amávamos alguém, sempre o sentimento de dizer “eu te amo” viria à boca, e segurá-lo seria impossível? – ela assentiu, abrindo os olhos. – Eu te amo, meu orgulho.
- Eu te amo tanto, Peter! – foi somente o que conseguiu dizer, antes de pular nos braços do amigo e abraça-lo fortemente.
Eles passaram alguns minutos assim, até que Eva chegasse na porta e lhes dissesse que estava na hora. Ambos se levantaram sorrindo e seguiram a psiquiatra.
Na porta do Ministério estavam praticamente todos: Klaus, Anette, Franz, Eva, Brandon, Joshua, e . Cada um se despediu de sua forma, alguns mais demoradamente outros com somente um aperto de mão e desejo de sorte.
Quando chegou a vez de , no entanto, o choro voltou e ela engoliu a seco, respirando fundo.
- Prometa pra mim que será a pessoa mais feliz desse universo, sim? – sussurrou, com a voz embargada. – Que irá viver tudo o que não viveu até hoje, e ainda mais. Que fará cada dia valer a pena. Que dará ao menos cinquenta sorrisos e vinte e cinco gargalhadas por dia. Que todos os finais de semana irá sair e se divertir com seus novos futuros amigos. E que, principalmente, não se esquecerá de mim. – sorriu, e ouviu alguns múrmuros de risadas emocionadas. – Você foi o único que me entendeu e ajudou aqui dentro no início, Peter. Eu nunca, nunca mesmo vou me esquecer disso. De como você tentava me animar todos os dias, de suas palavras de ajuda, mesmo sem saber como fazer isso... Querer me dar alegria, sem ao menos tê-la tido. Você nem me conhecia, e mesmo sabendo que, de certa forma fui culpada por sua permanência aqui... – respirou fundo, tentando recuperar a voz. – cuidou de mim. Sempre quis o meu bem. Você foi o meu irmão, meu pai, meu filho, meu melhor amigo... Estou chorando, mas não é de tristeza, viu? Talvez o único sentimento triste que eu tenha sobre isso seja a saudade que sentirei, mesmo sabendo que você virá me visitar, hm?! – sorriu, fazendo-o sorrir também. Ele secou uma lágrima, com a mão que não estava sobre a dela. – Mas estou muito feliz, meu amor. Muito, muito mesmo. – sua voz saiu fraca e a garota sentiu a mão de sobre seu ombro. – Eu, mais do que qualquer pessoa, sei o quanto sua mãe lhe desejou o bem e sua felicidade. Ela veio meio atrasada, sim, mas nunca é tarde demais. Ai, - suspirou, vendo que o taxi já havia chegado. – você tem que ir. Vai viver, homem! – riu emocionada, fungando. – Eu te amo muito, ouviu? Obrigado por ter sido a minha companhia, a minha esperança, a minha fé, a mão que me segurou.
- Eu te amo, meu orgulho. E você já sabe de tudo que eu te desejo e agradeço. – ela assentiu, lhe dando um abraço ainda mais apertado. – Você é a pessoa mais forte que já pisou nesse mundo. – sussurrou e ela soluçou, sorrindo. – Até mais, Senhor . – esticou a mão para , que sorriu, puxando-o para um abraço.
- Seja feliz aí fora, Peter. Aproveite essa nova chance que a vida está te dando. Nos veremos em breve. – Peter assentiu, sorrindo com o olhar baixo.
- Vamos, Peter? Vou levá-lo até a sua nova casa. – Eva disse, colocando a mão em seu ombro. sorriu, olhando-os... Será? Nada era impossível. Ela acenou por fim para Peter, que foi com o maior sorriso do mundo.
Trocar sua liberdade pela dele... Nunca havia valido tanto a pena.
Quando o homem atravessou o portão, ela fungou e sentiu o choro voltar com força. Iria sentir tanta falta de seu melhor amigo.
De seus conselhos, suas histórias – mesmo que poucas –, suas risadas, seu jeito de acreditar mesmo sem motivos para tal feito, dos inúmeros ensinamentos que havia aprendido durante sua curta – e ao mesmo tão longa – jornada ao seu lado.
Percebendo sua reação, passou o braço por seu ombro abraçando-a. Assim que o mais velho entrou no carro, ela se virou, colocando o rosto no peito de , abraçando-o também. Franz observou a cena e balançou a cabeça, sorrindo fraco.
Os ofegos e soluços de tornaram-se audíveis e embrenhou os dedos em seus cabelos, afagando-os. Levou os lábios ao topo de sua cabeça, num beijo mudo. A garota abraçou sua cintura, apertando-a. Enquanto o rapaz lhe consolava dizendo múrmuros desordenados, ela respirava fundo, fazendo com que o choro começasse a cessar.
Todos os presentes começavam a sair, deixando os dois sozinhos ali. Já faziam, no mínimo, cinco minutos que estavam naquela mesma posição, mas não importava. Era aconchegante, confortável. Era o carinho que ambos tanto ansiaram, mesmo que em diferentes épocas.
“Shh...” repetiu pela milésima vez ainda com os lábios em seus cabelos, e logo já não era mais ouvido o choro da garota. Um suspiro sofrido ou outro, às vezes. Mas ali estavam, na mesma posição, desde que Peter havia saído há bons minutos.
fechou os olhos e se permitiu sentir aquele conhecido cheiro... O cheiro de . Seu perfume próprio. O coração estava acelerado, mas ela já não mais sabia se era pela adrenalina de ver Peter saindo do Ministério, ou pela imensa intimidade que seu corpo e o do rapaz estavam. Jamais havia estado daquela forma. Não com aquela carga de sentimentos.
Alguns beijos foram lentos; outros, mais carnais... Mas ainda assim, naquela época, talvez ainda fosse uma forte atração. Hoje, não. Hoje era muito, muito mais do que aquilo.
Ali, abraçada a , naquele cair de tarde, ouvindo suas palavras consoladoras e seu carinho... Ela não tinha mais dúvidas.
Por um momento chegou a pensar em Adam. Era inevitável naquele momento.
O que ela sabia sobre o rapaz, afinal? Havia estudado com ele durante boa parte da adolescência, sabia o quão bom era... Pelo menos para ela e sua família. Mas, qual era seu cantor favorito? Seu filme ou música favorito? Ele preferia o exército ao trabalho exaustivo ao lado da mãe, em sua farmácia? Quais eram seus defeitos? Seu jeito de dizer que não estava gostando de algo, ou de mostrar o quão inconfortável estava com certa situação? Ele sequer gostava de animais?! Qual era o prato que não comia por nada? Qual era seu signo mesmo? E, que merda, por que ele tinha uma cicatriz no ombro?! Quais eram seus ideais? O que imaginava em seu futuro? Lembrava-se que ele dizia que a imaginava, junto de um filho. Mas... Qual seria seu futuro, sem ela?
Ela o conhecia há anos, mas não sabia quase nada sobre o noivo. Se deve saber coisas assim quando irá se casar com a pessoa, não deve?
E, o mais importante de todos os tópicos: por que ela o amava?
já nem conseguia mais se lembrar. Talvez fora os anos de convivência, o acômodo... Ah, sim, ela ainda o amava. Mas não como homem, não como achava que o amava nos anos cinquenta. E, que agora aquilo parecia tão pouco... Tão insuficiente.
colocou os braços em volta de seu pescoço, deixando-a ainda mais próxima de seu corpo, ainda mais segura, acarinhada... E ela sorriu. Sorriu sem que ninguém soubesse ou imaginasse, pois seu rosto estava escondido contra o ombro dele.
Sorriu por tudo fazer sentido. Sorriu por estar ali, em 2014, naquele exato momento com , o neto de Yan . Sorriu por não ter mais dúvidas. Sorriu por saber que, por mais insano que fosse, não era somente uma paixão. Era muito mais forte, intenso, e absurdamente lindo do que aquilo.
Haviam sido oito longos meses de convivência diária, oito meses de brigas, pseudo-ódio, gritos, choro, alguns sorrisos e muita confusão – em todos os sentidos. Havia, de fato, sofrido com suas palavras e gestos principalmente no primeiro dia. Mas o havia perdoado. Quem não haveria, contudo? Ele só conhecia um lado da história. Ela havia sido sua maior inimiga, mesmo não sabendo de sua atual existência. Ela havia sido o fantasma que o atormentou durante a vida... E que lhe deu um bom tapa no rosto quando lhe viu pela primeira vez. havia sido a vilã do livro de sua vida. Ou, ao menos, dos primeiros capítulos deste.
Nada mais importava, contudo. Principalmente agora... Ali, naquele pôr-do-sol, em frente aos portões do Ministério, em 21 de novembro de 2014, abraçada à ... só sorriu. sorriu por amá-lo.
Aquela era a segunda vez, somente naquele dia, que estava no antigo quarto de Peter. Fazia três dias desde que o homem havia sido liberto, e desde então a garota não recebera notícias suas. Para quem estava acostumada a conviver todas as horas do dia – e da noite – com o senhor, aquilo parecia uma eternidade. A felicidade por vê-lo livre era imensa, mas a saudade era compreensível.
ergueu o olhar ao redor do quarto para observar cada canto, e ao olhar para a porta encontrou com as mãos nos bolsos da calça e um sorriso comedido no rosto.
- Sentindo falta dele?
- Bastante. – sorriu tristonha, suspirando. – É estranho acordar e não vê-lo ou ouvi-lo.
- Não foi a senhorita que suplicou tanto para que ele retomasse sua liberdade? – sorriu, caminhando até a cama e sentando-se, ao seu lado.
- Foi! E não estou reclamando. – riu. – Mas é inevitável não sentir sua falta.
- Eu imagino, vocês eram inseparáveis. – apertou a ponta de seu nariz, fazendo-a rir um pouco mais. Já havia se tornado uma mania. – Mas pensa bem, foi o melhor. Ele está vivendo... Está livre do Ministério.
- Eu sei! Mas tenho medo de que ele não se acostume lá fora... Que não saiba se cuidar.
- Ele foi treinado muito bem para isso, . E, além do mais, se algo, por ventura der errado... Ele tem o nosso telefone. E tem Eva, que sempre vai visitá-lo. Dará tudo certo, linda.
- Dará. – confirmou, sorrindo e olhando para o homem à sua frente o que há poucos dias havia descoberto amar. – Ah, Deus. É óbvio que vai dar certo! Não sei por que estou preocupada. Deve ser a saudade. – deu os ombros, passando a mão no tecido que cobria a cama.
- É, sim. Mas eu prometo que em breve o trarei aqui pra dar um oi para senhora sua melhor amiga. – o sorriso dela aumentou ainda mais e foi impossível conter o próprio. – E eu tenho certeza de que ele está sentindo tanta falta quanto você.
- Ah, sim. Como é mesmo? “Ninguém pode se virar sem depois de tê-la conhecido.”
- Tenho a impressão de já ter ouvido essa frase. – brincou, e ambos riram. – Continua fazendo todo o sentido. – fechou o sorriso, observando-a. fez o mesmo, olhando em seus olhos. – E tudo que eu falei antes, também. Com exceção das ofensas... – sorriu, e a garota continuou séria. “Eu gosto muito de você.” Foi a primeira coisa que veio à sua cabeça, mas bem, ele estava embriagado, não era? – E em maiores proporções. – sussurrou, se aproximando ainda mais. – ?
- , não... Da última vez isso não terminou bem, e você sabe. E eu não quero cometer o mesmo erro.
- Nós nem tentamos! Como você pode dizer que não terminou bem, quando nem se teve o que terminar?
- Você sabe bem do que estou falando... – suspirou, cansada. – , vamos ter calma. Nós...
- Você não acha que já é tempo demais?
- Não, amor. – sorriu, levando a mão até seu rosto e acariciando-o. – Pelo contrário... Dizem por aí que a vida é muito curta, mas hoje eu discordo plenamente. É curta para quem não sabe viver. Em um segundo, você pode mudar o mundo. Quantos segundos temos por dia? Agora, veja por hora, dia, meses... Anos. Às vezes é preciso tempo para se esclarecer, . Para rever as prioridades, retomar seus ideais... Não é necessário ter pressa. Temos todo o tempo do mundo. – o rapaz assentiu, pegando sua mão em seu rosto e beijando-a demoradamente. O que ela não sabia, era que, para ele, não era necessário tempo algum. já tinha plena certeza de seus sentimentos, mas se era isso o que precisava... Não havia problema.
Ela tinha o mesmo pensamento, contudo.
- Sabe, ... – disse de repente, mudando de assunto e chamando a sua atenção. – Eu acredito em karma. Tudo o que você faz, uma hora volta contra você. E acho que acabou sendo isso... Tudo isso – olhou à sua volta, simbolizando o Ministério. – Sabe? Óbvio que não é como se eu tivesse feito tanto mal assim, mas não fui de toda a bondade. – sorriu fraco, e sentou-se mais confortavelmente, analisando-a. – Admito que nunca fui uma pessoa fácil. Não era como se tudo o que os jornalistas falassem fosse em vão... Desde muito nova eu tive a Louise, sempre fui muito bem tratada e acho que isso acabou me prejudicando.
- Mimada, você quer dizer.
entreabriu os lábios para respondê-lo a altura, mas ao ver o sorriso seu sorriso, acabou rindo também. Ele estava certo.
- Talvez. E, bem, eu odiava ser contrariada. Tudo tinha que ter do meu jeito.
- Tinha? No passado? – ergueu uma sobrancelha, sorrindo desafiador.
- No passado, no presente, e no futuro. – lhe sorriu da mesma forma e o rapaz riu, concordando. – Mas acredite, era pior... Bem pior. As coisas aconteciam à minha volta e eu nem me importava. Aliás, só me importava comigo mesma, meus melhores amigos, noivo, pai e Louise. Nem os nomes dos funcionários da Casa Branca eu sabia, . – riu, não parecendo orgulhosa do que dizia. – Lembro que por vezes vinham conversar comigo, ou pedir alguma ajuda e eu... Ignorava. Simplesmente ignorava. Uma vez um dos motoristas me pediu uma folga, pois sua filha estava doente e... Adivinha? Eu neguei. Neguei porque teria uma prova de vestido para um baile da Casa Branca em duas semanas. Aquilo ficou em minha cabeça por dias, mas não cheguei a perguntar se a menina havia melhorado. Talvez tenha ficado com medo da resposta. – deu os ombros, suspirando pesadamente. – E hoje eu me coloco no lugar daquela menina, se eu pudesse ter tido mais algumas horas... Minutos que fosse com o meu pai. Ah, Deus. – riu sem humor, sentindo os olhos marejarem. segurou sua mão. – Eu só me importava comigo mesma e com aqueles que estavam à minha volta. E então meu maior problema eram jornalistas fofoqueiros que queriam saber do próximo escândalo da minha vida... Eles sabiam que algum viria à tona em breve. Era sempre assim. Um após o outro.
- , você era uma adolescente inconsequente como qualquer outra. Não pode se culpar por tudo.
- , eu peguei dinheiro da caridade! – sorriu incrédula consigo mesma, enquanto os olhos continuavam marejados. – E só por diversão. Para ver o que fariam a seguir, se fariam outra festa tão boa quanto àquela para levantarem novos fundos. Acabei gastando o dinheiro em roupas e sapatos. Sempre fingia ir a hospitais, orfanatos, asilos e centros de caridade. Agora, olhe para mim e me diga se eu realmente ia a esses lugares? – ele negou, fazendo uma mínima careta. – No máximo subornava alguém para falar que fui, quando na verdade estava em algum lugar com meus amigos. Eu era oca, . Uma mimada que só se importava com o próprio bem-estar e com as roupas de grife que teria. Tentei por anos me convencer do contrário, que era uma garota comum... Mas não. Querendo ou não, conscientemente ou não, eu amava aquela vida cheia de luxo e mordomias. Adorava ser o centro de tudo. Todos os dias, me amaldiçoava por ter sido a “escolhida” filha do Presidente. Ah, idiota. – riu sem humor novamente, balançando a cabeça. – Eu adorava! Adorava a atenção que recebia. Era alheia a problemas, não tinha preocupações e nem medos. Vivia no meu mundinho ali, na Casa Branca, cercada por jornalistas e fotógrafos. Saía praticamente todos os dias para me divertir enquanto meu pai se preocupava com a situação do país inteiro. Acho que, de certa forma, acabei pagando pelos meus erros. Com uma proporção imensamente maior, claro. – sorriu, e viu sorrir fraco também, desviando o olhar para seu próprio colo. – Só queria que soubesse, , que não sou a santa imaculada como eu própria me trato. Ninguém é bom o tempo todo, não é? Isso acontece com princesas perfeitas de conto de fadas, mas com pessoas normais... Ah, não. Pessoas normais erram, aprendem e pagam pelos seus erros.
- Somos mais parecidos do que eu pensava, mulher. – disse somente, puxando sua mão e beijando as costas da mesma. – A vida está te devendo bons momentos agora.
- Se quer saber, acho que estamos quites. Ver a evolução de Peter e vê-lo liberto já fez tudo valer a pena. Eu finalmente me preocupei com alguém. E me preocupei mais do que com a mim mesma. – sorri orgulhosa e o homem também. – E quer dizer que o Senhor Neto não foi uma pessoa muito boa, também? Por que será que não estou surpresa?! – brincou, e ambos riram.
- Você viu o pior de mim, . Quando acordou, eu estava mais do que fodido pela vida, tinha acabado de perder a pessoa que mais amei e me fez feliz... Meu pai era tudo pra mim. E então você chegou, foi uma baita prepotente e eu tive ainda mais ódio. Não me culpe! – estendeu as palmas das mãos, e ela sorriu, assentindo. – Acho que estamos quites com a vida, .
- Agora nos resta fazer o bem para colher o bem, certo? – ele assentiu, com aquele sorriso que só o próprio era capaz de dar. O sorriso que a fazia perder o fôlego, o sorriso que tanto amava. Foi impossível não sorrir junto.
Era impossível não sorrir quando estava com ele.
- Senhor ? – Brandon chamou da porta que estava entreaberta e o olhou adotando a postura ereta de sempre. – A senhora Sophie está lhe esperando em sua sala.
- O que minha avó está fazendo aqui? – franziu o cenho, questionando-se mais a si mesmo do que ao outro.
- Não se pode mais visitar o meu neto?
A voz da mulher soou ao lado de Brandon, assustando todos os três. se levantou, engolindo a seco. trincou o maxilar, olhando-a diretamente. Brandon deu um passo para trás, sem saber o quê fazer também surpreso.
- Por que não me esperou na minha sala?
- Achei melhor vir visitar a nossa hóspede antes. – sorriu cruel e engoliu a seco, olhando de soslaio para . – E pelo que eu vejo, está muito bem. Infelizmente.
- Não graças a você, velha maldita.
- Não, mesmo! Se dependesse de mim, você definharia naquele cubículo escuro! E é o que você deveria ter feito, ! Não estar de conversinha barata.
- Vó, por favor, vamos para a minha sala. – começou a andar em sua direção, mas a senhora ergueu a palma da mão, pedindo que ele parasse. – Vó.
- Chega disso, . Eu não te criei para ir contra todos os nossos valores!
- Que valores são esses, Sophie? Manter alguém trancada a pão e água por algo que aconteceu há cinquenta e oito anos? Pregar o ódio? Incentivar uma vingança? Cultivar o mal? Me desculpe, mas acho que você distorceu todos os valores cabíveis a um ser humano.
- E quem é você para me falar de valores, garota?
- Ninguém, Sophie. – sorriu sarcástica, e respirou fundo para não responder a avó da pior forma possível. – Assim como você também não é. – Ah, ele quase havia se esquecido de como a garota podia se defender sozinha. Sorriu fraco, olhando-a de soslaio. Como a amava. – Ninguém é! Todos são alguém para outro alguém. Um filho é alguém para sua mãe. Uma amiga é um alguém para sua outra amiga. Seu marido foi alguém para você. Eu fui alguém para o meu pai. Mas para mim, Sophie... Para mim você é ninguém. Para mim você é nada.
- Muito bem, malcriada. Se meu neto não faz isso, eu mesma faço. Rapaz... - acenou para Brandon na porta. – Leve-a para Zimmerman.
- O quê?! – e disseram uníssonos. E Brandon não soube o que fazer.
- Ela não vai a lugar nenhum, vó.
- Você não vai querer me desobedecer, querido. – sorriu incrédula. – Lembre-se de que muito antes de sequer a vadia da sua mãe nascer, eu já era a dona de tudo isso. Não queira comparar forças.
sentiu o ar sumir de seus pulmões e ofegou, com os lábios entreabertos. Ela não sabia se conseguiria aguentar mais sequer uma hora com Zimmerman, quanto mais o tempo que a velha estipularia.
Sem saída, a garota deu um passo à frente, mas sentiu seu braço ser puxado por .
- Você podia até comandar isso há cinquenta anos. Mas, hoje, quem manda aqui sou eu.
A senhora trincou o maxilar e se apoiou em sua bengala banhada a ouro.
- .
- Sophie . – chamou, assentindo. – Sinto muito. não sairá daqui sem o meu consentimento.
sentiu o coração se esquentar de uma forma absurda e o nó em sua garganta se alargar. Ela ia chorar se ele não parasse naquele mesmo momento. Ah, por favor, não pare, .
- Tem certeza, não é?
- Tenho. Eu mesmo posso tomar conta dela, não se preocupe. Julgo o que deve ou não ser feito, não preciso de sua ajuda.
mordeu o interior da bochecha e sentiu os olhos encherem-se de lágrimas, ao mesmo tempo em que abaixou a cabeça. Não queria que a velha pensasse que o choro fosse por sua causa.
- Tudo bem. – assentiu, arrumando a postura. – Também tenho uma certeza, querido: do quão orgulhoso seu pai está. – foi irônica, e soltou o braço de , abaixando a cabeça. Na hora a garota percebeu que aquele era seu calcanhar de Aquiles. – Depois passo em sua casa, terei que fazer uma viagem. – virou-se, apoiando o braço em Brandon. – E espero que durante este tempo você caia em si. – saiu, batendo a porta atrás de si.
sentou-se no colchão e colocou o rosto entre as mãos, respirando fundo. olhou com fúria para a porta. Devia ter acabado com aquela velha enquanto teve tempo.
- Como sempre, tudo perfeito, . – sorriu ao terminar de avaliar o exame de sangue que a garota havia feito naquela quinzena. – Melhor do que todos nós juntos. – riu, acompanhado de todos os presentes Franz, Eva e Klaus.
- Estou pensando seriamente em entrar na Ironm4x. – Eva brincou, e riu, balançando a cabeça. – Vou almoçar, queridos. Te espero depois para a nossa consulta, tudo bem, minha linda? – a garota assentiu, sorrindo.
- Vou com você, Eva! – Klaus disse, levantando-se.
- Não vou almoçar, mas voltarei ao trabalho. – Franz sorriu comedido, e saiu acompanhado dos amigos. Deixando e sozinhos. Já não era mais um problema, contudo.
- Como estão Lily e James, ?
- Feito cão e gato. – deu os ombros, rindo. – Acho que não tem mais jeito. Acabou, de fato.
- Hm, eu acho que não. – apoiou o queixo na mão, olhando-o com o cenho franzido. – Eles se amam! E pelo que ouvi da Lily, a culpa não foi inteiramente dela...
- Ah, . – riu, coçando a nuca. – Mulheres vão sempre proteger umas às outras.
- E homens também. – rolou os olhos. – É sério, . Tenho certeza que ele sabe o que fazia durante o relacionamento, e tenho mais certeza ainda de que também a traiu.
- Mas não com a prima dela.
- Dane-se com quem foi! Traição é tudo a mesma coisa. Por pouco tempo ou por muito. Óbvio que dói mais quando se é com alguém próximo, mas são situações completamente iguais! Ambos traíram a confiança um do outro, os dois estavam irritados... Mas se amavam. E, infelizmente, se deram conta disso quando já era tarde demais.
- Quem vê até pensa que a senhorita é um guru do amor. – sorriu, quebrando a tensão do assunto anterior. Ele apoiou os antebraços na mesa. – Fala com tanta propriedade...
- É, não é? – riu, balançando a cabeça. – São anos de experiência. – brincou, fazendo pose.
- Você já amou alguém na vida, ? – disse, com um sorriso fraco.
Ela ficou séria, surpresa com a pergunta. Arrumou a postura e desviou o olhar.
- Eu prefiro não falar sobre isso.
- Tão reservada assim? – sorriu mais abertamente, mas ela não o acompanhou. – Deve ter sido algo muito importante então. Se até hoje dói lembrar... Babaca.
- E você, ? Já amou alguém?
- Já. – disse somente, suspirando e arrumando os papeis em cima da mesa.
Ele havia dito há meses que não acreditava no amor, ou ela estava errada?
- Enfim. – deu os ombros, pigarreando. – Acredito que eles vão voltar. É só questão de tempo. – voltou a sorrir, e também, mas mais fraco.
- No final de semana eu poderia chamá-los para ir à minha casa... E você também.
- Eu? – arregalou os olhos, e se desapoiou da mesa. – Na sua casa?
- É, ué. – sorriu óbvio. – Tudo bem por você?
- Claro! Ora, sim, . – riu, olhando em seus olhos. Era mesmo possível apaixonar-se ainda mais a cada mínimo detalhe do homem?
Lá estava ela – dois dias após o convite –, na casa de . Sentada desconfortavelmente no sofá, com um sorriso congelado plantado no rosto. Estava nervosa por estar ali, ansiosa pelo que viria a seguir. lhe trouxe um suco e ela se sentiu confortável novamente diante àquele sorriso. E antes que falasse algo, a campainha tocou. Murmúrios de “eu cheguei primeiro”, “não mandei me seguir”, “sai da frente”, “James!”, eram ouvidos através da porta e riu, balançando a cabeça.
Eram como Max e Jane, definitivamente.
- ! – Lily disse, ao mesmo tempo em que um sorriso animado apareceu em seu rosto. quase havia se esquecido do quanto ela lembrava Jane. – Que bom te ver!
- Ótimo te ver, Lily! – se levantou, abraçando-a. – James! – sorriu, abraçando-o também. Ele estava com uma carranca no rosto, mas logo se desfez com um beliscão de em sua barriga.
- E antes que me encham o saco: chamei os dois, sim, e se reclamarem tranco ambos no quarto de hóspedes até que aprendam a conviver um com o outro.
Ao acabar de dizer a frase, no entanto, desatou a rir acompanhado de . Ele havia falado como Franz ou Eva.
James e Lily sorriram, assentindo.
E ali foram duas horas adentro. Em meio a risadas, farpas e pequenas discussões, todos os quatro jantaram e voltaram para a sala. Eram raras as vezes em que James e Lily conversavam um com o outro.
- E aquele dia em que fomos ao restaurante de comida japonesa? Vocês foram ao karaokê e cantaram a noite inteira! – lembrou, na intenção de fazê-los recordarem da época em que namoravam.
- Aquele dia foi ótimo! – Lily disse, rindo.
- Foi a última vez que saíamos todos juntos, antes de você me colocar um belo chifre. – disse com certa mágoa e a mulher ficou séria, passando a encará-lo. – O que é? Só falei a verdade.
- Cansada, James. É isso o que estou. Você age como se eu fosse a culpada de tudo! Eu te traí? Traí, ok. Errei? Muito. Mas você faz parecer como se só eu fosse a única culpada disso tudo, da merda que nosso relacionamento estava, de como... Ah, dane-se! Eu vou embora. – pegou sua bolsa ao seu lado e se levantou.
- Lily, não vai. – disse, levantando-se.
- Deixa ela ir, . Ela sempre foge mesmo.
- Eu fujo? Eu?! James, isso já dura quase um ano! Você me trata como se tivesse sido uma assassina-em-série! Eu estava perdida naquela noite, você foi um babaca e saiu com seus amigos para uma boate no nosso aniversário de namoro, sem nem me avisar! A idiota aqui, ainda com esperanças, vai e faz um jantar para te esperar e... – respirou fundo, engolindo o choro. – E você me deixa lá, plantada. Como sempre havia feito naquelas ultimas semanas. Então seu primo, que havia sido meu melhor amigo por todo aquele tempo, chega e me consola. Diz que eu não te merecia e... Ora, eu fui uma idiota. Acreditei e me entreguei. Quando nos beijamos o arrependimento já veio, mas eu estava com ódio. Estava com muito ódio! Deixei acontecer e lá vem você às 03h00 da madrugada... Eu acordada e pensando no quão imbecil havia sido, e no quão magoada e decepcionada comigo mesma estava, porque... merda! – olhou para cima, tentando fazer as lágrimas voltarem. – Porque mesmo depois de tudo, eu ainda te amava mais do que tudo!
sentou-se novamente e mordeu o lábio, sorrindo emocionada. James suspirou e olhou para as mãos.
- E o resto você já sabe. – deu os ombros, fungando. – Continuo aqui, mesmo depois de praticamente um ano, tentando te fazer entender que eu continuo te amando... – sua voz falhou e ela apertou os olhos. – E agora estou aqui, pela milésima vez, mais envergonhada do que nunca por fazer esse showzinho na casa do , te pedindo perdão. Eu fui uma idiota, e pode ficar tranquilo, não vou mais tirar seu precioso tempo. – respirou fundo. – Abre a porta pra mim, ?
assentiu, suspirando pesadamente. Levantou-se e caminhou ao seu lado até a porta. Lily assentiu para , que sorriu fraco. Quando o dono da casa destrancou a fechadura, ouviu a voz do amigo:
- Espera. – disse baixo, quase como um sussurro. – Lily. – virou o rosto para ela e levantou-se. - Vamos conversar. – acenou para o jardim ao lado, e a mulher assentiu ainda confusa. Deu alguns passos em sua direção e ambos guiaram para o jardim.
encarou , que voltou a sentar-se ao seu lado, e os dois sorriram, sabendo o que cada um estava pensando.
As vozes altas de Lily e James no início da conversa, mas logo o dono da casa ligou a televisão e passou a prestar atenção no que passava, acompanhado de .
Cerca de dez minutos se passaram até que as vozes voltassem ao normal e quase não era possível ouvir o que elas diziam.
Ao olhar para o lado, após mais alguns minutos, conseguiu ver o momento exato em que se abraçaram. Lily estava com o rosto molhado de lágrimas e James com o nariz vermelho e olhos marejados. A garota cutucou a perna de para que ele também visse a cena, e, ao virar-se para vê-los, percebeu que tudo ficaria bem. Se não fosse naquele dia, seria no próximo, ou na semana seguinte... Não importava. Alguma hora voltariam, e agora estava mais próximo do que sempre. Era questão de tempo. sorriu quase que inconscientemente ao ver o amigo beijar o topo da cabeça da ex-namorada, e lembrou-se quase que imediatamente de uma cena extremamente parecida com aquela, que viveu com há uma semana na saída de Peter.
Sem delongas, procurou sua mão no sofá e a cobriu com a própria, enlaçando-as. Primeiro, ela franziu o cenho, mas não demorou a aceitar o carinho. A televisão à frente chamou suas atenções e os dois viraram para continuar assistindo ao filme qualquer que passava. As mãos continuaram entrelaçadas, e, como se já não fosse o bastante, encostou a cabeça em seu ombro, suspirando longamente. O rapaz sorriu, enquanto segurava o lábio inferior contra os dentes.
Era questão de tempo.
Música do capítulo: Tattoo – Jordin Sparks. Play quando eu avisar!
- Eu imagino só a comoção do povo com isso, Klaus! Imagine só: o homem pisou na lua! Ah! – exclamou, sorrindo surpresa. Já era segunda-feira e lá estava ela em mais uma conversa-teste com Klaus. – Mas não acha estranho que não tenha voltado? Ora, isso foi em 1969... Estamos em 2014! O quanto a tecnologia evoluiu nesse tempo todo? É muito... Confuso.
- Sem dúvida! Mas não se sabe o motivo disso. Há suposições, mas nenhum pronunciamento oficial. Não sei se devemos ficar desapontados ou agradecidos...
- Ah, claro! – riu, arrumando-se na cadeira. – É melhor não mexer com o que está quieto, né?! – o historiador assentiu, rindo.
entrou na sala acompanhado de Eva e Franz, todos sorriam e cumprimentaram-se com um uníssono “bom dia!”. sentiu o coração acelerar-se absurdamente, mas quanto a isso não havia novidade, não era? Sorriu internamente com o pensamento e olhou para , esperando o que ele diria.
- Testes físicos e cardiológicos da quinzena... – desenhou um “v” no ar, como se estivesse tudo correto. – Só vou abrir um parênteses que não comentei no exame interior: vamos alterar a sua dieta, . A vitamina D está em nível baixo, e, bem... Não queremos isso, certo? Acredito que não tem nada a ver com a Ironm4x, mas achei bom falar. – sorriu, parecendo orgulhoso de seu pequeno discurso. assentiu e apoiou o queixo contra a mão. Adorava quando ele se tornava o médico. O amor que ele sentia pela profissão era inexplicável. – E, bem, vamos aumentar a dose diária de sol.
- Dessa parte eu gostei! – sorriu animada, apontando para o rapaz.
- É gratificante ver como a Ironm4x deu e está dando certo. Mais de cinquenta anos de trabalho e, por Deus... Se desse algo errado... – Franz disse.
- Ironm4x é o maior sucesso que este mundo já viu, e, provavelmente, verá. – Klaus complementou. e desviaram o olhar dos mais velhos e suspiraram pesadamente. O mundo ao menos saberia sobre a Ironm4x?
- Querida? – Eva chamou e a garota virou o rosto, olhando-a. – Podemos começar a nossa consulta mais cedo hoje? Tenho que ir visitar Peter. – sorriu, e arregalou os olhos surpresa e feliz ao mesmo tempo.
- É claro! Por mim, pode ser até agora mesmo! – riu, acompanhada de todos os presentes.
- Pode levá-la, Eva. – sorriu, assentindo.
Não demorou mais do que pouquíssimos minutos para que elas chegassem à sala de Eva. Como de costume, sentou-se no divã no canto da sala e a psiquiatra foi para sua cadeira.
- Hoje não quero falar sobre mim, a guerra, a Ironm4x ou . – decidiu.
- Não?
- Não. Quero falar sobre Peter. – sorriu, entrelaçando suas próprias mãos.
- Ah, Peter está ótimo, querida! Nos primeiros três dias foi um choque, admito. Ia visitá-lo todos os dias e tentava reanimá-lo, mas foi difícil... – entreabriu os lábios, preocupada. – Mas tudo começou a se acertar desde que conheceu os vizinhos. Está fazendo amigos.
- Ah, isso é tão legal! – voltou a sorrir, mas agora mais aliviada. – Mas, espera, o que ele diz para as pessoas? De onde veio, e...
- Já criamos a história toda, . Peter nasceu nos Estados Unidos e se mudou para a Alemanha ainda pequeno, no entanto, os pais logo o colocaram num internato onde ele passou boa parte da vida. Ao sair do colégio, entrou na faculdade de administração e trabalhou na área nos anos seguintes aqui no Ministério mesmo. Já foi casado... Bem, comigo. – deu os ombros, e arregalou os olhos enquanto ria. – Nos divorciamos há alguns anos e foi quando ele entrou em coma, logo após um acidente de carro. Ficou assim por quatro anos, perdeu boa parte da memória e agora decidiu morar naquela vizinhança mais tranquila. Vou visita-lo vários dias por semana para ajuda-lo a readaptar, e, ah, ele já é aposentado. Tudo certo.
- É genial. Isso explica ele não saber tanta coisa do mundo atual... Tanto ter vivido num internato, quanto passar parte da vida enclausurado no Ministério, e depois o coma... Ah, Eva! Quem teve essa ideia?!
- Quem você acha? – sorriu sugestiva. – O herdeiro .
- Ele pensou nisso tudo?!
- Em cada detalhe.
olhou para o teto e segurou o lábio inferior entre os dentes sorrindo. Ah, por favor, ela podia amá-lo menos?
- É bom vê-los se dando bem. Sabe, se alguém me dissesse que a convivência dos dois se tornaria nisso aqui, há um ano... Ora, eu gargalharia da cara do mentiroso. – a garota encarou a psiquiatra e suspirou longamente. – E é ainda melhor ver o quão feliz está.
- Obrigada. – sussurrou, também sorrindo. – Mas me diz! Sem enrolações, senhorita Eva: e você e Peter?
- O que tem nós, ? – riu, desviando o olhar e balançando a cabeça. – É uma consulta sobre você, não sobre mim.
- Ah, para de ser chata! Isso não é mais uma consulta há meses. E para de ser boba também, não tente esconder nada.
- Olha só quem está dizendo isso! Vejam se não é a pessoa que mais esconde sentimentos de todo o mundo. – rebateu, sorrindo. A outra bufou, rolando os olhos. – Certo, irritadinha. Eu e Peter temos nos aproximado bastante neste tempo... Conversamos muito e temos bons momentos juntos. Rimos... E temos várias coisas em comum. Mas, querida, olhe só para nós, não somos mais dois adolescentes...
- Ah, vai se foder, Eva. – disse incredulamente e a mulher arregalou os olhos. – Desde quando se existe idade para começar a ser feliz?! E, além do mais, um número na sua certidão de nascimento não diz nada. E eu sou a prova viva disso. Fora que, tanto você quanto Peter merece muito isso. Me desculpa, mas não seja idiota dizendo coisas assim! Se dê uma chance. O dê uma chance... E caso não dê certo: não culpe suas idades. Não importa se ainda viverão 1, 5, 10, 20 ou 50 anos. Vivam o agora. O futuro está longe demais para se preocupar com ele. – sorriu de lado e a mulher assentiu, sorrindo comedidamente. ficaria orgulhoso de vê-la falando daquela forma.
- Veja só quem recebeu o conselho hoje. – brincou. – Você está certa, querida. Vamos ver os próximos capítulos dessa história. – piscou, e a garota sorriu orgulhosa. – Agora, se me der licença, eu vou visitar o dito cujo.
- Olha! – riu, levantando-se. – Manda um beijo enorme pra ele, tá? E diz que estou morrendo de saudades. Aliás, morrendo não, vivendo de saudades!
- Pode deixar. Boa tarde, . – acenou, vendo-a sair.
estava com as pernas apoiadas na cabeceira da cama enquanto observava o teto, contando os pontinhos de mofo no gesso branco. Os braços estavam esticados em cima de sua cabeça e a respiração entrecortada. Não podia estar mais entediada naquela terça-feira. Os testes físicos da Ironm4x já haviam acontecido, e sua tarde era livre.
“Livre”.
Era uma palavra engraçada diante à sua situação. Por um momento, ela começou a pensar em como seria sua vida a partir de agora. Iria acordar, ter testes da Ironm4x e depois passar toda a tarde e noite enfurnada naquele quarto. Podia ser pior, contudo.
Ela bufou, começando a batucar os pés na parede. Tinha que arrumar alguma coisa para fazer ou a depressão de meses atrás voltaria a incomodá-la.
Duas batidas na porta antecederam a voz de , que entrou no quarto sem pedir permissão. sentou-se, acenando com a cabeça.
- Entediada?
- Mais do que sempre. – suspirou, encostando as costas na cabeceira da cama e abraçando os joelhos. – Senta.
- Somos dois. – deu os ombros, sentando-se no lado oposto da cama. Já havia virado praticamente rotina as conversas de ambos serem ali, naquele quarto, naquelas mesmas posições.
- Você pelo menos pode sair por aí e arrumar o que fazer... – disse sugestivamente.
- E você não, mocinha. Nem vem. – sorriu, e ela rolou os olhos, mas logo riu. – Acho que posso providenciar um aparelho som e alguns CDs para o seu quarto, o que acha?
- CDs?
- Discos atuais. Bem menores e compactos. – explicou.
- Ah! – sorriu. – Seria ótimo! Eu amo ouvir música.
- Eu sei. Gosto muito também... Acho que a música é capaz de mudar nosso humor, sabe? Se ouvimos uma música animada, logo ficamos animados também. Mas quando ouvimos uma triste...
- Logo estamos tristes. – completou.
- É! E, às vezes, por mais louco que seja, quando estou triste não tem nada melhor do que ouvir uma música lenta. É a melhor companhia.
- Idem. Passei aquelas duas semanas seguintes ao discurso do seu avô, trancada no meu quarto ouvindo meus discos. Era confortante... – sorriu nostálgica, passando a olhar nos olhos.
- É exatamente isso. – sorriu também, tirando os sapatos e colocando as pernas em cima da cama. – O que você vê no seu futuro, ? (Play!)
Ao ouvir a pergunta, a garota engoliu a seco aquela cena era tão parecida com uma das últimas que havia vivido com Adam.
“– Ei, sargento Evans?
- Hm?
- Como você se vê daqui dez anos?
- Bem... Essa é uma pergunta complicada. – riu, voltando a encarar as estrelas. – A única certeza que tenho é que quero estar com você. – ela ergueu um pouco o corpo e lhe deu um beijo rápido, seguido de um sorriso. – Quero ter filhos com você. – olhou no fundo dos olhos dela, encarando sua própria figura refletida ali. – E você? O que vê em dez anos?
- Você. – mordeu o lábio inferior, apoiando-se no cotovelo. – Eu nos vejo, na verdade. – sorriu, levando uma das mãos ao rosto dele, acariciando-o. – Nos vejo assistindo um show do Elvis, com nosso filho nos braços... – Adam riu, negando com a cabeça. – Tudo bem, falando sério. – suspirou. – Eu nos vejo num gramado, como esse aqui... – olhou em volta, sorrindo tímida. – Fazendo um piquenique com o nosso filho, que já vai estar com uns cinco aninhos...”
- ? – voltou a chamá-la e ela ergueu o olhar, voltando a encará-lo. – Você ficou longe de repente.
- Eu prefiro não imaginar como será, . Prefiro que o futuro me surpreenda... De uma forma boa. Pensar no que queríamos e elaborar um plano é muito fácil, mas, infelizmente, nunca nada sairá como queremos. O destino nos prega peças. – sorriu fraco, olhando o horizonte. Estava longe... Estava cinquenta e oito anos atrás, na verdade.
- Fala por experiência própria? – procurou seu olhar, e então ela virou o rosto para olhar em seus olhos novamente.
- Praticamente isso. – deu os ombros, sorrindo sem humor. – Mas, ah, quem não faz planos para o futuro? E isso é horrível, . Você cria esperanças, expectativas... E então a vida não segue o roteiro. É frustrante.
- E se esse outro rumo for melhor do que o planejado? Já parou para pensar?
- No que uma vida trancafiada no Ministério seria melhor do que me casar e estar com um filho de cinco aninhos, num gramado extremamente verde enquanto observava o pôr-do-sol de um dia qualquer?! – disse incrédula, fechando o sorriso. respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos.
- Era assim que você imaginava?
- Oi?
- É assim que você imaginava o seu futuro? – sorriu de lado, dobrando uma das pernas em cima da cama e apoiando o antebraço no joelho.
- Era. – mordeu o canto do lábio inferior, sorrindo fraco. – E, óbvio, estar num show do Elvis. – brincou, e ambos riram. – Mas olha só... Nem chegou perto de se concretizar. Mesmo que eu tivesse ficado nos anos cinquenta... Eu jamais poderia ter um filho.
- ...
- Não, não. Nem venha com sentimentos. – estendeu a palma da mão, com sinal que ele parasse. Por fim, ela sorriu. – Me diz você, : o que você imaginava no seu futuro? Não de hoje para amanhã... Mas de ontem para hoje.
- Eu me via trabalhando num Hospital salvando vidas. Era o bastante. Desde que essa merda de Ministério não existisse e fosse de minha responsabilidade, já estava ótimo. – riu sem humor, e na hora soube que não se tratava só daquilo.
- Antes disso. Me diz de verdade, .
- O quê? Estou dizendo...
- Não está, não. Eu te conheço! Está colocando uma parede por cima da sua verdadeira vontade. Óbvio que queria isso... Mas é mais afundo.
- Você está andando muito com a Eva... – brincou, e ela riu assentindo. – Eu queria ter tido mais tempo com o meu pai. – confessou, ficando mais sério. – O de dezessete anos que imaginava o futuro ao lado da primeira namoradinha imaginava estar no auge de seus vinte e cinco anos ao lado do pai, com um Hospital ao lado do Ministério... Podendo passar aqui para busca-lo todos os dias e logo depois leva-lo em casa, assistirem a um jogo de futebol na televisão ou num estádio... Ou, simplesmente, comprar umas cervejas e assistir a algum filme qualquer que estivesse passando na TV, não importava qual fosse. O que interessava era estar ao lado dele. – engoliu a seco, e a garota soube que ele estava prestes a começar a chorar.
Não se intrometeu, no entanto. Seria bom desabafar... Há quanto tempo ele estaria sem chorar? Quanta mágoa estava guardada em seu peito? Todo aquele papo de preferir morrer a ver a pessoa que ama chorar é balela. Óbvio que não é a melhor alegria do mundo, nem perto disso... Mas às vezes, para seu próprio bem, é necessário chorar. Colocar para fora sua dor, sua raiva, sua tristeza. Guardar é bem pior. A angústia presa no peito não adianta de nada a não ser ainda mais sofrimento. Não se deve dizer a alguém “não chore”, deve dizer “chore... Chore tudo o que está aí preso.” sabia mais do que ninguém o quanto chorar poderia ser libertador. E, naquele momento, conhecendo-o mais do qualquer pessoa, ela sabia que tudo o que precisava era chorar. E ela estaria ali para segurar a sua mão ou abraçá-lo, independente de qualquer coisa.
- Se somando todas as vezes que eu o vi somasse mais de dois anos, seria lucro. Mas, acredite, todas essas horas ou dias foram os melhores de toda a minha vida. Seu único defeito era se dedicar mais a tudo isso aqui do que a própria vida. Acho que no fundo ele tinha certo medo de ser pai... Sabe? Fazer algo errado. – sorriu fraco, e viu seus olhos brilharem com lágrimas. – Ele não chegou a conhecer o pai, então tinha medo de desempenhar a figura paterna comigo. Mas quando o fazia... Ah, . – fungou, com a voz embargada. – Ele era o melhor do mundo. Sei que para você é impossível vê-lo como um homem bom, mas, acredite, pelo menos para mim...
- , amor – soltou as pernas e se aproximou de , passando a segurar suas mãos. – Eu não cheguei a conhecer o seu pai, não tenho nada a falar dele. Conheci Yan, que, você sabe de toda a história e eu nem preciso falar nada. Mas, mesmo com ele, eu sei que bem no fundo... No fundo havia um ser humano com uma família. Eu tenho certeza de que por trás daquela capa de vingador e fã de Hitler – sorriu, e ela também – havia um homem que chegava em casa todas as noites e cortejava a esposa, acarinhava o filho e os amava infinitamente. Assim como o meu pai. E o seu pai, ... Seu pai foi influenciado por sua avó e pela sociedade. Pode ser que ele tenha sido tão carrasco com todos aqui no Ministério como Yan, mas sei que com você, com os amigos dele ou quem estava à sua volta... Ele era somente Barth. E, eu tenho absoluta certeza, de que ele foi um ótimo pai para você enquanto pôde. – assentiu, sentindo o queixo tremer. – Não é a toa que você se tornou quem é hoje. – uma lágrima rolou por seu rosto e a garota levou a mão direita para sua bochecha, secando-a ao mesmo tempo em que a acariciava com o polegar. – Ei, está tudo bem em chorar. Prometo não contar a ninguém. – sussurrou, como se fosse um segredo. sorriu e apertou os olhos, deixando de controlar as lágrimas insistentes.
- Eu sinto tanto a sua falta. – confessou, com a voz entrecortada. Jamais parecera tão frágil, e estava começando a mudar seu raciocínio sobre “preferir a morte à ver a pessoa que ama chorar seria balela”. Sua garganta trancou e ela estendeu as duas mãos, chamando-o para um abraço. – Nós nem chegamos a fazer uma viagem de homens, sabe? – soluçou, e a abraçou. A garota voltou a encostar-se à cabeceira da cama, e repousou a cabeça em seu peito. – Sempre que viajávamos era para tratar algo do Ministério, ou qualquer coisa relacionada aos . – passou a afagar seu cabelo e ele a acariciar sua cintura, enquanto as lágrimas ainda rolavam por seu rosto. Ela tinha plena certeza de que o rapaz jamais havia se entregado tanto quanto naquele momento, e se sentia honrada por ser a primeira pessoa a ver a fragilidade do homem que antes parecia de aço. – Às vezes, sinto vontade de colocar fogo nesse lugar maldito por tê-lo afastado tanto de mim, mas então eu penso no quanto ele amava isso tudo... E mudo de ideia. Sinto vontade de trabalhar cada vez mais e melhor para orgulhá-lo. Ah, ! Como eu queria que ele se orgulhasse de mim, de onde quer que esteja. É o meu maior desejo. E acho que estou falhando.
- , não diz isso. – repreendeu, e esticou as pernas, colocando-as por cima das dele. – Eu tenho certeza de que ele está orgulhoso. Aliás, ele sempre esteve. Ora, já faz quase um ano e o Ministério ainda não entrou em estado de alerta. – brincou, e sentiu o momento em que ele sorriu. – E também tenho certeza de que um dia vocês vão se encontrar e toda essa saudade será sanada. Ou acha que fiquei satisfeita com o tempo que tive com o meu velho? Ah, mas você está muito enganado! Ainda tenho a eternidade para viver com ele. Isso só são férias para descansar de suas broncas sem fundamento. Assim, quem sabe, em outra dimensão ele sinta tantas saudades que se esqueça de brigar comigo pela minha malcriação dessa vida. – riu, ainda acariciando o cabelo de que sorria. – E eu tenho certeza de que nesse exato momento lá está ele com Barth ambos rindo desses dois insuportáveis que ainda não sabem nada da vida.
ergueu a cabeça e fitou seus olhos, arrumou-se na cama e aproximou seu rosto do dela analisando-o.
- Você é a melhor coisa que já me aconteceu, . – sussurrou e ergueu um pouco os lábios, beijando sua testa longamente.
- Coisa, ? Sério? – brincou, fingindo incredulidade, mas logo sorriu segurando seu rosto e secando-o com os polegares.
- Você é inacreditável, mulher. – riu e voltou à posição inicial, mas agora sua cabeça estava encostada em seu colo. – Obrigado. – disse baixo, olhando-a.
- À disposição. – sorriu. – Eu sempre vou estar aqui. – tocou na ponta de seu nariz, brincando. Havia repetido a frase que ele tanto lhe dissera. – Vamos ver agora o que podemos fazer... Você já ouviu a história da chapeuzinho vermelho?
riu e assentiu, mas a garota iniciou a história do mesmo jeito. E assim a tarde se passou, com contando todas as histórias infantis que conhecia, e rindo como um bobo ouvindo suas versões. Vez ou outra ela colocava algum argumento surpresa nas histórias, só para deixa-las mais “emocionante” como a própria se referia.
A intenção da garota no início era fazê-lo esquecer-se um pouco da crise que havia tido. Sabia que aquela era a solução para finalizar o assunto, sair pela tangente. Não adiantaria dizer mil palavras de conforto ou chorar junto do rapaz aquela forma era a correta. Fazendo o assunto tomar um ar leve, por menos possível que fosse, e, aparentemente, havia conseguido.
A risada de ecoava pelo ambiente e aquele era, incorrigivelmente, o som mais incrível que já teria ouvido e ouviria na vida. Viraria uma palhaça para ouvi-la a todo o momento, se fosse necessário.
A frase que havia dito ainda não saíra de sua cabeça, contudo. “Você foi a melhor coisa que já me aconteceu, .” Parecia um poema discursado por Shakespeare ouvir aquilo de . As palavras lhe faltaram no segundo, e brincar com a situação foi a melhor forma que encontrou. Ele podia ter dito por calor do momento... Ou não. No entanto, naquela hora, não parecia importar. Tudo aconteceria no seu tempo, e ela tinha certeza de que o que quer que fosse não iria demorar. E, com o pedido de “mais uma história, por favor! Só mais uma!”, ela teve outra certeza: o amava a cada dia mais.
Trocando de canais assiduamente sem encontrar um só entretenimento na TV, ou no vídeo game, decidiu ir à casa de James naquela sexta-feira à noite. Estava cansado demais para ir a algum bar ou boate, e entediado demais para ficar em casa olhando para o teto. Ir à casa do melhor amigo e conversar seria o ideal.
Sem pensar mais de uma vez, decidiu ir tomar um banho rápido, colocar uma roupa confortável e ir até a casa do amigo. Não demorou mais do que meia hora para chegar em seu apartamento, e ser logo autorizado pela portaria. Subiu os nove andares e tocou a campainha, esperando o amigo abrir a porta. Quando isto aconteceu, contudo, quase caiu para trás.
- Lily?! – arregalou os olhos, e sorriu confuso.
- ! – disse surpresa também. James apareceu ao lado, e sorriu ao ver o amigo. – James não disse que você viria...
- E nem deveria. Decidi de última hora, e... – apontou para o elevador, mas balançou a cabeça, rindo. – Vocês voltaram?
- Ainda não. Estamos indo com calma. – James disse, aparecendo na sala. – Entra, .
- Não... Não! – continuou rindo, ainda meio confuso. – Eu vou embora, mas, cara, eu to muito feliz por vocês!
- Para de ser idiota, . Entra aí. – Lily o puxou e fechou a porta. – Não estávamos transando e nem vamos por enquanto, só estamos nos resolvendo. Senta! – disse animada, como se a casa fosse sua. James balançou a cabeça em negação e acabou rindo. Amava aquela mulher, inegavelmente. – Quer tomar alguma coisa? Vou buscar uma cerveja! – disse sem esperar resposta e saiu, deixando os homens desnorteados.
- Tudo parece igual há um ano. – disse, sorrindo. Sentou-se no sofá, colocando os pés em cima da mesinha de centro.
- Pode tirar, velho. – apontou para seus pés. – Nem o dono da casa ela deixa, imagina... – riu, e o outro o fez rolando os olhos. – É bom tê-la novamente.
- Aqui, ó. – Lily voltou da cozinha com duas garrafas de cerveja. – Pra você também, J. – entregou para o ex-futuro-namorado. – Ah, estou me sentindo como nos velhos tempos!
- Acabei de falar isso pro James.
- , não é bom. – disse, olhando para Lily. – É ótimo. – sorriu, referindo-se a frase anterior. Era ótimo tê-la novamente.
- O que é ótimo, meu lindo? – olhou-o também, tomando um gole de sua cerveja.
- Nada, curiosa. – riu, lhe dando um beijo na bochecha. A mulher deu os ombros, sorrindo convencida de que não saberia.
- A vai ficar radiante quando souber. – sorriu, dando um gole em sua cerveja.
- Ah, a ! Por que não a trouxe aqui hoje? E, aliás, vocês estão juntos? James faz um mistério tão grande! – rolou os olhos, encostando-se no ombro do homem. e James se entreolharam. – Hm, então tem mesmo um mistério aí?
- Lily, é segredo de estado... – James disse, e a garota arregalou os olhos.
- Ela é alguma criminosa?!
- Não! Ah, não. – riu nervoso, deixando sua cerveja em cima da mesa. – Lily... É realmente muito sério, ok? Você não pode sequer pensar em passar isso adiante, e quando digo adiante, é nem para o seu cachorro. Acho que já tem gente até demais sabendo sobre isso...
- Tudo bem, vocês conseguiram me assustar. O que está acontecendo? Quem é ela?
e James se entreolharam outra vez e assentiram, como se dissessem que seria a coisa certa a fazer.
- Volte aos anos cinquenta, Lily. Na terceira guerra mundial... Seus avós devem tê-la vivido. – a garota assentiu, com o cenho franzido. Não conseguia encontrar onde a garota entraria na história. – Agora volte à Alemanha, meu avô com a ajuda de dezenas de cientistas bem treinados criaram uma máquina... Algo como uma câmara que tinha como intuito deixar a pessoa em questão em sua forma atual à que foi colocada na máquina a Ironm4x...
- Isso é algum tipo de brincadeira? – Lily sorriu confusa, olhando para os dois que negaram, sérios.
- Retornemos aos anos cinquenta, agora: havia uma garota... A garota causa de todo o problema, segundo meu avô. A filha do presidente...
- . – o interrompeu e sussurrou mais para si mesma do que para os outros. – ... – se levantou depressa, com os olhos arregalados. – , é ?!
- É. Eu sei que parece impossível, mas...
- Eu sabia que a conhecia de algum lugar! – passou a andar de um lado para o outro, com a mão colada à testa.
- Como? – franziu o cenho, confuso. – Como assim a conhecia?
- Fotos, . Fotos! Muitas fotos. – riu nervosa, parando de andar e virando-se para encará-lo. – Fotos exclusivas, diga-se de passagem. Você por acaso sabe que minha avó é americana, ?! – levou as mãos à cintura, e tinha a respiração entrecortada. – Minha ligação com essa garota é tão forte que... Ah, eu não acredito! – fechou os olhos, apertando-os.
- O que é, Lily? Diz logo de uma vez!
- Acontece, , que a minha avó era a melhor amiga de . Você já ouviu falar sobre Jane, a maior companheira da Vergonha da América?
Música do capítulo: Drown In You – Daughtry. Play quando eu avisar.
Quando as palavras fizeram sentido em sua cabeça, quase chorou. Seus olhos arregalaram-se de tamanha forma, que quase saíram pelas órbitas. Seus lábios se entreabriram e sua boca secou, ao contrário de suas mãos, que começaram a transpirar.
- Agora sou eu que pergunto: isso é algum tipo de brincadeira?!
A morena semicerrou os olhos e bufou, parecendo óbvia.
- Jane? A senhora Jane?! – James perguntou, se referindo à avó da namorada. Tudo não podia ficar mais confuso.
- Ela odeia falar sobre o assunto, para minha avó é como se tudo tivesse ficado naquele século. Só contou para os filhos e netos algumas vezes, e depois enterrou o assunto; dizendo que sofreu demais e que a cada vez que lembra, sofre ainda mais. Ah, meu Deus! – sorriu emocionada, ainda incrédula. – Quando eu era adolescente e ia à sua casa ainda estava interessada na história e ela me mostrava as fotos, algumas filmagens e... Como eu não a reconheci antes?! Eu tinha certeza de que já a havia visto em algum lugar, mas nunca imaginei que fosse . – deu os ombros, rindo.
continuava estático no sofá, somente observando as cenas ao seu redor. Jane estava viva... E estava mais próxima do que imaginava.
- Eu ouço falar sobre essa mulher praticamente todos os dias, Lily. continua amando-a como se nenhum tempo houvesse passado... Ah, droga. Jane está viva! – riu, colocando o rosto entre as mãos.
- E você acha que para a minha avó também não é assim?! Ela guarda uma foto com ela e mais dois amigos na gaveta do criado-mudo. Insiste em dizer que aquela foi a melhor época de sua vida! Sabe em que acredito, ? Acredito em alma-gêmea, seja ela com um homem e uma mulher, numa relação carnal, ou entre pais ou mães e filhos, ou entre amigos. E, olha, se eu pudesse dizer que conheço um exemplo desse, seria entre minha avó e . A sintonia das duas em fotos, os próprios vídeos... Ah! – suspirou ainda emocionada. – Eu vou agora mesmo comprar uma passagem para a minha avó vir aqui! Ela nem vai acredit...
- Não! – disse, quase num grito. – Não, Lily. Nem pense nisso. É segredo de estado, lembra? E há mais coisas envolvidas. Não há essa possibilidade, ou ao menos, não por enquanto... – umedeceu os lábios.
- O quê?! Mas, ! Eu não sei como funciona essa máquina, mas ao que parece, não parece ter muito mais de vinte anos... Internamente e externamente também. – deu os ombros. – Enfim, a minha avó não. Ela está com quase oitenta anos! Você tem ideia? Ela não pode morrer sem antes revê-la!
- Lily, por favor. Eu vou dar um jeito. Só me prometa que não vai dizer nada a nenhuma das duas, por enquanto?
- ...
- Lily, não é brincadeira. – disse sério. – Só me prometa.
- Promete, amor. – James incentivou, e ela fechou os olhos; vencida.
- Tudo bem. Eu prometo. Mas saiba que isso é muito, muito, muito errado.
- Eu sei. – suspirou, cansado. – Mas acredite, eu sou a pessoa que mais quer vê-la feliz nesse mundo inteiro. Só que isso não depende somente de mim, entende?
- Acho que sim.
- Quando eu digo que há muito mais nisso do que você pode imaginar, eu falo sério. É uma briga de gigantes.
- Eu entendi, . Não vou fazer nada. – sentou-se ao lado de James novamente. – ... Eu estive com . – sorriu, incrédula.
- Eu tive a mesma reação, querida. – James sorriu, passando o braço por seu ombro. – Eu nunca fui muito de acreditar em destino, mas depois disso... O quão pequeno o mundo é?!
- Também não acreditava, J., não até conhecê-la. – sorriu fraco, encostando a cabeça no sofá atrás de si.
Lily e James se entreolharam e sorriram cúmplices, não precisavam dizer palavra alguma para saber o que estava acontecendo ali. estava mais envolvido e apaixonado do que ambos pensaram.
E talvez o próprio já reconhecesse isso.
Não era difícil enxergar tal fato, contudo.
- Ah, não. Mentira? – questionou, com um sorriso abobado no rosto.
- Cadê esse desenho? Eu não acredito que a Liebe fez um desenho para mim. – riu, olhando o papel nas mãos de Joshua; os três estavam no Ministério.
- Para nós, seu egocêntrico. – repreendeu, com um sorriso intimidador nos lábios. Joshua riu, e deu os ombros, dando-se por vencido. Quem poderia discutir com , afinal?
Joshua havia vindo naquela segunda-feira com a novidade que Liebe, sua filha, havia feito um desenho para e , durante o final de semana. Ambos mal puderam acreditar, mas acabaram sorrindo como bobos ao ver o papel A4 nas mãos do soldado.
havia ficado em casa por todo o domingo, no dia anterior, e decidido que não comentaria nada sobre Jane com . Ainda era cedo... Muito cedo. Mas o rapaz já não sabia por qual motivo; cedo para perdê-la, ou cedo para que ela fosse liberta dali. Sua avó jamais deixaria que isso acontecesse.
E ele já estava começando a pensar na possibilidade de desobedecê-la por uma das primeiras vezes na vida.
Contudo, sempre que olhava para o rosto da garota ao seu lado, sentia-se cada vez mais preso a ela. Duvidava que um dia seria capaz de deixa-la ir. Era egoísta? Com toda a certeza. Mas, no final, o amor é egoísta.
bateu uma palma assim que Joshua lhe entregou o desenho, e o abriu; sem cerimônia.
- Ah, meu Deus. Que coisa mais fofa! – murmurou, encantada com o papel que segurava.
No desenho estavam os três: , Liebe e . A garotinha de cabelo curto e pintado a lápis de cor amarelo, estava logo no canto esquerdo da foto; de mãos dadas com o padrinho. E logo do lado, segurando também a mão do homem, estava ; que segurava um bonequinho menor, mas logo acima o nome “Amelié”. Alguns corações ainda figuravam a imagem, ao redor do casal.
sentiu o sorriso de contra a sua nuca e mordeu o interior das bochechas, segurando-se para não virar-se naquele mesmo momento e beijá-lo. Ah, seu beijo... Como ela sentia falta de seu beijo. De seu toque. De seu - meio que desengonçado e sem jeito - carinho. Não havia durado mais de um mês todo aquele tubulado e contorcido romance que haviam tido, mas, sem dúvida, foram os melhores momentos que havia vivido desde que estava no Ministério. Só não da vida, porque sabia que para ele, não passava de um caso como todo o outro. Era isso, não era? jamais enfrentaria a família por sua causa. A vontade de rir sem humor veio, mas ela se controlou. Por mais que ele sentisse algo... Algo parecido, ou ao menos metade do que ela sentia, nunca abandonaria sua vida.
Atualmente sabia, sabia que deixaria tudo e todos para tê-lo consigo, poder amá-lo sem julgamentos e olhares repreendedores, viver uma vida normal ao seu lado...
Ah, ela tinha que parar com aquilo ou começaria a chorar no meio da sala. E não poderia culpar o desenho de Liebe por isso.
- Já te avisei para colocar seguranças para essa menina, Hipewitch. Não me responsabilizo pelos meus atos daqui alguns dias. Vou roubá-la! – brincou, fazendo os dois rirem.
- E serei a cúmplice.
- Nem brinquem com isso! Essa menina é a minha vida. – Joshua riu orgulhoso, e o quase casal sorriu. – Agora, se me dão licença, vou voltar ao trabalho. Senhor . – bateu continência, e assentiu, rindo. De qualquer forma, ele continuava sendo seu chefe. O soldado saiu, deixando o desenho com os dois.
- E não é que a criança sabe das coisas? – disse, e se virou para encará-lo. Do que ele estava falando?
- Sabe?
- É lógico! Olha essa boneca no seu colo, não está idêntica a que dei para ela? – brincou, e por um segundo chegou a acreditar que era realmente daquilo que ele estava falando. Ao vê-lo entortar a boca, segurando um sorriso, entretanto, soube na hora que ele estava pregando-lhe uma peça.
- Imbecil. – riu, lhe dando um tapa no braço. – Acho que ela foi muito perfeccionista ao desenhar sua cabeça. Do tamanho de uma ervilha, realmente. – mostrou a língua, e ele fez o mesmo; zombando.
- Vou mandar Zimmerman cortar essa sua língua. – ameaçou, e a outra rolou os olhos.
- Como você poderia viver sem ouvir minha voz, ? Minha língua é indispensável, sinto muito.
- Concordo. Mas não só para falar. – olhou-a sugestivamente e ela fechou o sorriso, engolindo em seco. Com isso não se brinca, ... – Já tem algum compromisso para quinta-feira, senhorita?
- Tenho que checar a minha agenda, Doutor . Mas acredito que estarei livre na data. Por quê? – colocou as mãos na cintura, observando-o.
- Ainda bem, porque pediria que cancelasse todos. – sorriu. – Já tenho planos.
- E eles me incluem?
- Totalmente. Pensei em irmos ao Heising, o melhor restaurante de Berlim, e arrisco dizer um dos melhores da Alemanha.
- Que mimadinho, . – brincou, imitando o modo como ele a chamou, há uma semana. – Deve ser um restaurante muito sofisticado... E devem ter muitos fotógrafos na porta, não seria apropriado. Fora o dinheiro que você vai gastar. Aliás, eu nem sei se me portaria bem num lugar como esse. Já faz cinquenta anos e...
- Ei, ei. Caso não saiba, o Ministério me dá uma boa fortuna toda a semana. Quanto aos fotógrafos, não se preocupe. Normalmente tenho uma entrada secreta nesses lugares e... Sério, ? Você, não saber se portar? Se não quer sair comigo, tudo bem, mas...
- Não! Não é isso, . É só que... Eu não sei onde isso vai dar, entende? E odeio não ter controle da situação. Não saber o que vem depois.
- E quem sabe? Só Deus, pelo que eu saiba. Então não queime seus neurônios enquanto pensa no futuro, lembra? Se preocupe com o presente.
- Tá, tá. Tudo bem. Se a minha presença te faz tão bem assim...
- Faz. – disse, sério. Ela fechou o sorriso brincalhão e trocou por um tímido, contido.
- É recíproco.
- Bom saber disso. – ele sorriu, dando um passo à frente. – Parece que temos um encontro na quinta, então.
- Eu acho que temos. – riu, colocando uma mão em seu peito, fazendo-o parar. – Vou tomar um banho. E você vai cuidar do seu trabalho.
- Sim, senhorita. – disse obediente, dando dois passos para trás. – Tchau.
- Tchau.
Ambos se entreolharam e riram, nenhum dos dois saíra do lugar.
- Insuportável, . Insuportável. – brincou, finalmente saindo.
a viu caminhar corredor adentro e sorriu consigo mesmo, encostando-se à parede ao seu lado. Ele podia ainda não amá-la imensuravelmente assim como Joshua e Heidi se amavam, mas a amava, e disso não lhe restava mais dúvidas. Contudo, do jeito em que as coisas estavam caminhando, duvidava muito de que esse sentimento não se tornasse absurdamente incondicional em pouco tempo. Pouquíssimo.
E, mesmo que sem demonstrar, ele também temia pelo futuro. Pelo que estava por vir. Se tudo continuasse daquela forma, as coisas ficariam ainda mais difíceis.
Impossíveis.
E então ele teria de fazer o impossível se tornar possível, pois tinha absoluta certeza de que não seria mais capaz de ficar longe de .
Ah, puta merda, . Ela repetia para si mesma a mesma pequena frase, há quase trinta minutos. Lá estava, em frente ao seu guarda-roupa, em dúvida com o que usar; como , a filha do presidente. Mimada. Riu inconscientemente com o pensamento e voltou a olhar para a janela pequena de seu quarto. Já estava anoitecendo e ela nem fora tomar banho. Quanto mais se arrumar... Ora, era um encontro! Seu primeiro encontro.
O primeiro encontro, mesmo depois de ter sido noiva de alguém.
Já havia saído enumeras vezes com Adam, era óbvio, mas jamais num encontro. Nada extraoficial. Com , menos ainda. Era complicado... Ainda mais quando se tratava de ir num dos restaurantes mais sofisticados do país, e com quem iria.
Queria estar bonita. Queria que ele a achasse bonita.
Ah, merda. Ela o amava mesmo, não era? Riu com a constatação, e em meio à sua risada solitária, um dos soldados conhecidos do Ministério abriu a porta de seu quarto. Ele estava sério e com a postura ereta, o olhar parado e o uniforme azul: como um verdadeiro soldado.
- Vim levá-la para o banho, senhorita . – disse somente, e a garota assentiu, acompanhando-o. Não demorou muito até que chegassem ao banheiro, e então ele voltou a falar: - O senhor mandou avisar que seus trajes para hoje estão no balcão; se sentir à vontade em usá-los, estão à disposição. Suas palavras.
Suas palavras.
sorriu. Há quanto tempo não falava tão seriamente com ela? Como o verdadeiro herdeiro do Ministério e Doutor ?
A garota agradeceu o novo soldado e entrou no banheiro. Caminhou saltitante até a pia, onde estavam seus trajes. Um vestido azul royal modelo tubinho que ia mais ou menos até a altura de seus joelhos estava dobrado com o maior cuidado sobre o móvel. Logo abaixo, no chão, um par de sapatos de salto fino; pretos. Um conjunto de lingerie de renda preta complementava o local; o quê a deixou extremamente envergonhada. Ainda havia algumas joias em pequenas caixas de veludo, e ela não gostou muito disso. não deveria gastar dinheiro com coisas inutilizáveis como aquelas. Mas tudo bem, não ia reclamar. Qual mulher não gosta de joias? As maquiagens, como de costume, estavam mais ao lado, mas, aparentemente, o arsenal estava ainda maior. Para complementar, alguns acessórios de cabelo.
É... Parece que a garota não era mais a inimiga.
tomou um banho e saiu para se vestir. Colocou a lingerie e sorriu ao olhar-se no espelho. As peças haviam diminuído de tamanho com o passar das décadas, não era? Riu, procurando o vestido na pia. Ao vesti-lo, concluiu que ele se tornava ainda mais atraente no corpo. O modelo, além de colado ao corpo, ainda era de um ombro só. Uma faixa preta amarrada na cintura complementava os detalhes do vestido. Para sentir-se mais elegante e esguia, decidiu colocar os saltos logo. Teve um pouco de dificuldade em apoiar-se, mas logo o fez. Esticou-se para ter uma melhor visão do espelho e decidiu prender o cabelo. Fez um coque no topo da cabeça, deixando alguns fios desconectados. Optou por uma maquiagem leve e sofisticada. Fez uma pele bem feita com os produtos, passou um leve blush nas bochechas, delineou os olhos – e como havia sentido falta de seu delineado puxado! –, passou duas boas camadas de rímel, e colocou o batom mais claro que encontrou, nos lábios. Um tom amarronzado, suavemente rosado. E, por fim, um gloss incolor. Olhou para as joias na pia e escolheu a mais simples: um colar de prata com um pequeno diamante no centro. O par de brincos era igualmente leve, mas elegante. O mesmo diamante do colar estava ali, mas em menores proporções. Usou uma pulseira também de prata.
Com tudo finalizado, deu dois passos para trás; tendo uma visão completa de como estava. Ela sorriu inconscientemente e não encontrou a dos anos 50 ali, nem a de meses atrás do Ministério. Encontrou uma nova pessoa... Uma mulher. Uma mulher que até então desconhecia. Era bonita, madura, forte, corajosa, solidária, mas continuava com uma ingenuidade no olhar. No coração. E que, acima de tudo, tinha esperança. Esperança de voltar a ser feliz, de ter sua liberdade de volta, e, quem sabe, de poder viver o amor que sentia.
Após uma última olhada no espelho, deu meia volta e foi até a porta. O soldado que a havia trazido assentiu sem demonstrar qualquer emoção e lhe disse que a levaria até a sala de , onde ele já a esperava.
O soldado anunciou que já estava pronta e abriu a porta, assentiu sem qualquer sorriso, e disse para que ela entrasse. Ao fazer, no entanto, seus lábios se curvaram assiduamente. O soldado saiu, fechando a porta com cuidado e olhou na direção. quase sentiu vontade de chorar ao vê-la daquela forma.
Ela era inimaginavelmente linda.
A única coisa que conseguia fazer era encará-la como um retardado mental, com aquele sorriso tão retardado quanto. Eu te amo.
Quase escapou por seus lábios, mas ele se conteve. Controle-se, . Foi uma tarefa árdua, mas ele conseguiu. Levantou-se devagar e caminhou até a mulher, parando em sua frente. Ah, como queria beijá-la. Iria dizer que a amava, toma-la em seus braços; diria que enfrentaria o que fosse por sua causa, e logo em seguida a teria ali, em sua sala, com a luz da lua clareando o ambiente através da janela.
- Mas que homem mais elegante! – a garota disse, observando-o. Ela riu, mas ele continuou com o mesmo sorriso no rosto. usava paletó, calça social, camisa e gravata; em tom preto. – Deve estar acompanhado por uma moça à altura, não é?
- Você é muito linda. – disse baixo, erguendo a mão para que ela a segurasse. A garota viu a aliança dos e deu os ombros; resignada. Nem tudo pode ser perfeito, não era? Aceitou a mão, e ele a beijou. – Muito.
- O poder de uma roupa cara e maquiagem.
- Não. Sem qualquer maquiagem no rosto e usando até um moletom surrado. Você é linda de todo o jeito, . Em qualquer época. É linda por dentro e por fora.
- Ah, . – ela sorriu sem graça, e puxou sua mão devagar. – Não é gentil deixar a dama envergonhada, sabia?
- Linda. – repetiu, num sussurro.
- Lindo! – apertou a ponta de seu nariz, fazendo-o acordar de seus devaneios.
ia dizer algo, mas parou no momento em que seu celular apitou. Ele o buscou no bolso e ao ler a mensagem, franziu o cenho, possesso.
- Disseram que não tem reserva. – bufou, dando meia volta e voltando a se sentar em sua mesa. – Pois vão encontrar uma e vão agora. – ligou seu notebook, e rolou os olhos, sentando-se à sua frente.
- Tudo bem, ! Tudo bem. Se eles não têm reserva, o que podemos fazer? Não quero que use seu poder. – ele ergueu o olhar, observando-a. – Ah, para! Podemos sair para outro lugar, não podemos? Pode até ser um restaurante de esquina, eu não me importo. Sabe, ir a lugares diferentes do que estamos acostumados.
- Mas você está tão linda e...
- E o quê, ?! Eu posso muito bem ir a restaurantes de rua, também. Assim, exatamente como estou. E, se quer saber, eu adoraria. Adoraria comer um lanche cheio de gordura e um refrigerante cheio de açúcar! – riu, vendo-o rir também e fechar o notebook. – Não é sobre aonde você vai. Mas sim, sobre com quem está.
Ele voltou a observá-la novamente e o sorriso bobo adotou forma em seu rosto novamente.
- Se quer saber, eu conheço um lugar... Ia lá às vezes com alguns amigos do colégio, e, ah, eu nem sei se aquilo existe mais. – balançou a cabeça, rindo.
- Só saberemos se formos, certo?
- Certo. Mas você vai assim? Tem certeza?
- E por que ir normal, se podemos ir exatamente assim, e nos divertimos mais? – sorriu divertida e se levantou. – Anda, seu almofadinha. Vamos bater um papo com a classe C. – brincou, vendo-o se levantar.
- Eu deveria chamar os jornalistas para isso? num restaurante de quinta categoria...
- num restaurante de quinta categoria, e o pior: com .
Ambos se entreolharam e gargalharam, assentindo. Não tinha saída.
Por fim, segurou sua mão; entrelaçando seus dedos e saiu, rumo ao seu carro no estacionamento.
Trinta minutos foram necessários até que eles chegassem ao tal restaurante, e quando finalmente se recuperou do susto ao ver como o lugar era; começou a rir. Parecia um bar, mas, como havia dito, era um restaurante. Haviam algumas mesas na calçada, e ambos decidiram por ficar ali; sentindo a brisa da noite.
Um atendente do simples restaurante veio atendê-los, e logo pediu duas cervejas e uma porção de batatas fritas. E ela só soube que era isso, por antes ele tê-la avisado. Duvidava se existia idioma mais difícil do que o alemão.
Mas tinha que admitir.
Nada era tão sedutor quanto falando alemão.
- Ich liebe dich!*¹ – disse quando o garçom foi embora e arregalou os olhos, virando o rosto para encará-la. O quê? – É a única coisa que sei falar em alemão! – ela riu, e ele sorri; um pouco decepcionado.
- E quem foi seu professor? Acredito que não tenha sido um muito bom...
- Ah, me poupe. – rolou os olhos, rindo. – Aprendi a falar “eu te amo” na maioria das línguas. Obrigado também. Danke*². – piscou orgulhosa. – O “eu te amo” foi por minha conta, achava que seria interessante ver a diferença dos países ao dizerem o mesmo sentimento. Não dizem que o amor só tem uma língua? Então... – riu. – E o “obrigado” foi por pura obrigação. Seria apropriado a filha do presidente agradecer em todos os idiomas.
- Apropriado. – afirmou, já ouvira aquela palavra milhões de vezes na vida.
- Apropriado. – repetiu, balançando a cabeça. As cervejas chegaram à mesa e abriu as duas, entregando uma para , que deu bons goles de uma só vez.
- Sie*³ – ergueu a garrafa, na intenção de um brinde. riu ao ver que já havia tomado um pouco, mas não se importou e brindou com uma cara de dúvida sobre a palavra que ele havia dito há pouco. – A você. – sussurrou a tradução, sorrindo.
- A nós. – mordeu o canto do lábio inferior, dando mais um gole em sua garrafa e vendo fazer o mesmo. – , posso te perguntar uma coisa? Eu sempre tive dúvida... – ele assentiu, interessado, colocando a cerveja na mesa. – O que é o Ministério? Digo, é óbvio que aquilo não está de pé somente pela Ironm4x e por mim.
- O Ministério é boa parte da Alemanha, ). Temos contato direto com o presidente, e bem, cuidamos da economia, finanças, leis... Fazemos estudos científicos também, como você pode imaginar. Mas ninguém sabe sobre a Ironm4x, a não ser, é claro, os principais membros da nossa equipe.
- Isso parece... Tedioso. – fez uma careta, e ele riu, assentindo. O garçom trouxe as batatas e os dois começaram a comer. – Para você, principalmente, que não queria nada disso.
- Pois é. Mas é apropriado. Sou o único herdeiro .
- Cada um com suas penitencias, não é? – disse brincalhona, e ele riu; dando os ombros. – Ah, vamos deixar esse assunto pra lá. O Ministério está fora de cogitação dos assuntos de hoje: vamos falar sobre o quê?
- Sobre a tamanha atenção que estamos tendo nessa rua. Viramos a atração. – olhou ao redor e ela fez o mesmo. Todas as pessoas que passavam os olhavam, sem pudor ou constrangimento. Era de se esperar, contudo. Duas pessoas vestidas sofisticadamente num restaurante como aquele. Era divertido. – Quando eu vinha aqui com meus amigos do tempo de escola não era assim.
- Óbvio que não, agora você está acompanhado de . – sorriu sem modéstia e brindou com o ar, tomando mais de sua cerveja.
- E está tomando cerveja! – disse rindo, comendo mais algumas batatas. – “ e vão à restaurante barato e tomam cerveja juntos, em 2014.” – sibilou, como se fosse uma matéria jornalística.
- Isso dá uma capa! E das melhores. Sorte do jornalista que publicar. – brincou, ainda rindo.
- Sorte de .
- Desde quando se tornou esse galanteador? – sorriu sinceramente, passando o dedo indicador pela borda da boca da garrafa.
- Desde quando se deu conta de que gosta mais de você do que deveria. – confessou, apoiando os antebraços na mesa de plástico. fechou o sorriso e engoliu a seco.
- está muito ferrada desde que se deu conta do mesmo.
- E o que você acha que eles deveriam fazer?
- Acho que deveriam esperar e ter certeza do que sentem. Só então a solução aparecerá em suas cabeças e nenhum problema será grande o bastante para afetá-los. - deu outro gole em sua cerveja e sentiu a mão de sobre a sua.
- , amor... - disse e ela sentiu o coração se derreter como jamais havia feito. – Eu... – começou, mas parou no mesmo segundo. Sorriu fraco e suspirou. – Eu nunca tenho dúvidas do que sinto.
- É bom saber, , porque eu também não. – sorriu de lado, e ele a imitou.
Passaram o resto da noite conversando aleatoriamente, sobre Liebe, James e Lily, o restaurante que estavam, como a lua estava maravilhosamente linda naquela noite, e não voltaram mais ao assunto anterior, no fundo sabia que ele já estava, de certa forma, esclarecido.
Ou, pelo menos, para o resto do quase um mês que passara desde o jantar. O assunto em questão não havia mais sido colocado em questão, mas a intimidade entre e só crescia. Viviam andando de mãos dadas pelos corredores, e trocando sorrisos. Era claro, quando ninguém estava olhando. Já haviam chegado perto de se beijarem por diversas vezes, mas sempre lhe dava uma risada e desviava. Não queria se envolver ainda mais.
Não enquanto tudo não estava definido.
Era vinte e quatro de dezembro, véspera de Natal, e lá estava na casa da avó para mais um jantar em família como todos os anos.
O problema esse ano, era que ele não se sentia em família.
Não com Sophie, naquela sala de jantar gigantesca e sofisticada, coberta de cristais, móveis e tecidos obscenamente caros.
Ele se sentia em família quando estava com , a qualquer hora do dia, em seu quarto sem nenhum objeto acima de mais de alguns poucos dólares. “Não é sobre aonde você vai. Mas sim, sobre com quem está.” E novamente, ela não poderia estar mais certa.
Já passava das 22h00 quando ele olhou para o relógio da ultima vez. O que a sua garota estaria fazendo àquela hora? Ela estava sozinha no Ministério. Eva a havia chamado para uma confraternização com Peter, mas recebeu uma recusa educada. dissera que preferia ficar sozinha.
Ele não gostava disso, nem um pouco.
O jantar já havia sido servido e ele se sentia como uma casca, seu corpo estava ali, mas não a sua alma. A mesa quilométrica estava posta somente para dois, e aquilo era angustiante. Os assuntos da avó, principalmente. Sobre mais uma de suas viagens, sobre a nova reforma que planejava para a mansão ou relembrando o passado.
Mas tudo estava normal até então. No entanto, ela tocou em seu nome. Tinha que fazê-lo, não era? “Imagine só como deve estar agora! Abandonada num quarto que não deve ter 3m². Sozinha... Ah, eu deveria ter mandado instalar câmeras naquele lugar! E poderia assistir as imagens pelo resto da vida. Então estaria um pouco satisfeita.”
não sabia se ela estava o testando, ou realmente querendo ser tão asquerosa quanto estava sendo no último ano.
E, naquele momento, ele sentiu nojo. A avó o enojou como nunca antes, e diante da cena podre; a primeira coisa que fez foi largar os talheres sobre o prato, ergueu a cabeça devagar e respirou fundo. Vamos lá, . Você consegue.
(Play!)
- Chega. – disse baixo, e a mulher largou os talheres também, olhando-o confusa. – Já chega. Estou cansado dessa história toda, Sophie. Esgotado, para ser sincero. Isso aconteceu há mais de cinquenta anos! Você não entende?! Essa vingança de merda não vai adiantar de nada, já passou. Acabou! Acabou a Guerra. Infelizmente o seu marido se foi com isso, mas você não foi a única a perder alguém... Foram milhares de famílias. – trincou o maxilar, retomando o fôlego para voltar a falar. Sophie estava estática. – E, acredite, elas realmente não tinham culpa de nada.
- O que você está insinuando, ?! O que aquela vagabunda colocou em sua cabeça?
- Juízo. Colocou juízo e um pouco de sabedoria na minha cabeça. E ela não é vagabunda porra nenhuma! Sophie, pelo amor de Deus! Já passou tempo demais! Você está com mais de oitenta anos e não se deu conta de que o tempo não voltará, muito menos o meu avô. Você tem ideia do que aquela mulher já sofreu? Ah, sinceramente! – se levantou, jogando o guardanapo de pano sobre a mesa. – Você perdeu o seu marido, ok. Ela perdeu o noivo, o pai, os melhores amigos, a própria liberdade... Coloque na balança, quem perdeu mais?
- Ela mereceu tudo isso! E merece muito mais! Se não fosse por ela...
- Se não fosse por ela o quê, cacete? – a interrompeu, e a senhora engoliu a seco, mantendo a pose ereta de sempre. – Não seja hipócrita. Como uma guerra se inicia por que uma garota inconsequente diz que o líder do país rival precisa foder mais? – riu irônico, e Sophie levou a mão ao peito; ofendida. – E olha que nem foram essas as palavras que a garota usou. Se há algum culpado nessa história toda, esse culpado é Yan. Aquela menina perdeu toda a vida por nossa causa! Você não enxerga isso?!
- , eu não sei que tipo de bruxaria aquela mulherzinha fez, mas, por favor, sente-se à mesa agora e eu fingirei que não ouvi nada.
- Não ouviu? Então eu posso repetir. – apoiou as mãos nas costas da cadeira, olhando-a nos olhos. – era uma garota como qualquer outra, e que graças ao meu avô e agora a você, perdeu toda a vida. Ela já sofreu mais do que qualquer pessoa que já pisou na terra, e posso te afirmar isso com convicção. No começo, até eu mesmo fiz questão disso. Mas depois... Depois ela me mostrou quem era de verdade.
- Pare, .
- Depois ela me mostrou a garota mulher que era, e então eu comecei a questionar todos os meus ensinamentos e ideais sobre ela; que você, principalmente, fez questão de fazê-lo até os últimos tempos. E conclui: vocês me envenenaram durante toda a vida. Mas, graças a Deus, eu caí em mim a tempo. E se tenho um agradecimento atualmente, posso dizê-lo: obrigado vovó, - ironizou. - obrigado por a terem trazido para mim. A trazerem para o século XXI. A mulher é linda, forte como ninguém, tem mais personalidade do que todos nós juntos, é doce e segura ao mesmo tempo...
- Já chega.
-... Solidária, me mostrou como às vezes é melhor nos preocuparmos com quem está à nossa volta do que com nós mesmos.
- Está me deixando indisposta.
- Ao contrário de você, de todo esse sobrenome e de todas as famílias da redondeza também. Vocês que só se preocupam com o próprio umbigo e com como o champanhe não está frio o bastante. – deu os ombros, sorrindo sarcástico. O nó em sua garganta começava a se alargar e ele respirou fundo. – Têm milhões e até bilhões guardados em bancos internacionais; já no coração... O que tem no coração? Puro ódio, rancor, e mágoa? Sinto muito, senhora . Se for dessa forma, eu prefiro não fazer parte desse teatro. – passou a mão esquerda pela direita; que tinha o anel dos , e a mulher se levantou; atônita.
- !
- Prefiro estar ao lado daquela que é tão contrária aos dizeres que você afirma serem os corretos. – rodou o anel no dedo, e o olhou. – Heidi largou sua família e sua vida por Joshua, um rapaz sem bens, ela foi julgada e condenada pela burguesia, até, no fundo, por mim mesmo. Mas, quer saber? Os Büscher morreriam se vissem a neta maravilhosamente incrível que têm. Heidi não tem mais uma herança bilionária, roupas de marcas, joias, e sua casa completa é metade dessa sala de jantar. – olhou em volta, ainda balançando o anel nos dedos. – Mas ela é feliz. É mais feliz do que qualquer pessoa que eu conheço, e, provavelmente, vou conhecer. Absolvida. E, apesar de não ter todas essas coisas materiais... Ela teve uma em especial, há alguns anos, quando se desvinculou dos Büscher. Teve coragem. Algo que eu já deveria ter tido há muito tempo... Mas parece que só a criamos quando finalmente temos um motivo concreto para fazê-lo. E, Sophie, pode ter certeza de que agora eu tenho. – sorriu sincero, sem ironia ou crueldade.
- O que acha que seu pai está pensando agora, de onde quer que esteja, ? – aquela era sua última carta na manga.
- Eu não sei... – riu, resignado. – Por ter me apaixonado perdidamente por ? Acho que ele não está muito contente. Mas, certamente, ficará feliz por me ver feliz. E, provavelmente, orgulhoso ao me ver liberto da barra da saia da avó.
Sophie manteve o olhar firme, sem qualquer lágrima nos olhos ou nervosismo aparente. Estava somente sendo Sophie ... A mulher sem sentimentos.
- E que ele me desculpe. Que o país me perdoe. E que você entenda algum dia. – tirou o anel dos dedos, olhando-o. – Mas eu cansei. – balançou a cabeça, suspirando longamente. – Cansei de ser o menino de ouro, o fantoche , o que se cala diante de uma ordem e obedece sem se impor... A partir de hoje eu vou fazer as minhas próprias regras, Sophie. – colocou o anel sobre a mesa, vendo a mais velha seguir sua mão com o olhar.
- Espero que tenha certeza do que está fazendo e sentindo.
- Eu nunca tenho dúvidas do que sinto. – sorriu de lado, dando meia volta e saindo da mansão .
Já tinha um destino certo para ir naquela noite de Natal.
Músicas do Capítulo: Try Not Love You – Nickelback. (1)
(2) Tunnel Vision – Justin Timberlake. Play quando eu avisar!
Diário de uma paixão estava sendo seu companheiro naquela madrugada do dia vinte e quatro de dezembro. estava sentada em sua cama, apoiada à cabeceira, enquanto lia mais um livro do autor Nikcholas Sparks. Aquela história em especial lhe dizia algo, talvez por ter se passado nos anos cinquenta... Ou pelo fato do amor ter esperado tanto tempo, e permanecido exatamente da mesma forma com Noah e Allie. Questionava-se a cada estrofe sobre o que havia realmente sentido por Adam. Porque, se havia alguma certeza em sua vida, era de que nunca havia o amado.
Ou, pelo menos, não como descrevem em livros e filmes, e como o que sentia por naquele momento.
Talvez um carinho ou paixão.
Ou ambos.
Ela não sabia, mas sorria ao lembrar-se do ex-noivo.
Ao entrar em certo capítulo do livro, que já era lido pela terceira vez, seus olhos encheram-se de lágrimas. Noah amava Allie absurdamente, e fora capaz de tudo por sua causa. Até mesmo quando mais velhos... Continuava ali, todos os dias, lembrando-a de como – mesmo que ela não soubesse – a amava.
Alguns passos no corredor assustaram , que ergueu a cabeça depressa e franziu o cenho; assustada. Quem poderia estar ali em plena véspera de Natal? Era óbvio que alguns guardas estavam no Ministério, mas não naquele corredor... A garota suspirou, balançando a cabeça, e voltou a encarar o livro. Era melhor esquecer, talvez só fosse sua imaginação fértil. Contudo, quando lera a primeira palavra; a porta de seu quarto abriu num estalo, sem batidas ou um pedido de licença. Ela direcionou o olhar assustado para o local e encontrou . Um ... sorridente. Um diferente de todos que já havia visto. Ele parecia estar mais leve, tranquilo... Não tinha a áurea pesada que costumava carregar, por mais inconsciente que fosse. Ao mesmo tempo em que parecia feliz, parecia perdido. Seu cabelo estava ligeiramente bagunçado e o rosto vermelho. Estava vestido socialmente e a garota sentiu vontade de chorar ao vê-lo ali, parado, tão bonito e... Ah, o que ele estava fazendo em seu quarto no Natal? Ele deveria estar na casa da avó.
Sem pensar duas vezes, ela se levantou, mas quando abriu a boca para dizer algo, ele estendeu a palma da mão, pedindo sua atenção. (Play na 1!)
- Não diz nada, só me escuta. – umedeceu os lábios, sentindo-os secos. A garota assentiu confusa. – , eu cresci ouvindo esse bendito nome. Sobre o quão inconsequente era, o quão irresponsável era, como havia destruído a nossa família... me assombrou por toda a vida. Um fantasma do passado que fazia questão de voltar em cada aula de história, ou reunião familiar que tinha. Sempre ouvi falar que você era a pior pessoa possível, alguém sem escrúpulos e sentimentos que havia causado um mal irreparável...
- , se veio me ofend...
- Fica quieta e me deixa continuar. – pediu, e a garota cruzou os braços, incrédula. – E então há praticamente um ano, na pior fase da minha vida, descobri que essa lenda não havia morrido ou sumido... Pelo contrário. Ela estava bem abaixo do meu nariz, e, por mais impossível que fosse: incrivelmente igual ao que era. Lembro-me da primeira vez que te vi naquela máquina e pensei no que poderia fazer para transformar a sua vida num inferno, para ao menos você passar um pouco da dor que causou nos anos cinquenta. Eu estava empenhado nisso, de verdade. Nos primeiros meses foi fácil, o sentimento era recíproco. Você me odiava e eu te odiava, ótimo. Mas então... Então a convivência diária me mostrou como você era de verdade. – sorriu fraco, sentindo um nó começar a se formar em sua garganta. – E eu não conseguia enxergar aquela garota marrenta que não aceitava ordens e sofria tanto pelas pessoas que perdeu; como a vilã que minha avó sempre me contou. Eu não conseguia ver nesse rosto, a que fez da vida de bilhões de família um verdadeiro inferno. – tocou em seu rosto, acariciando a bochecha com o polegar. estava com os olhos marejados e um nó apertando sua garganta. Onde ele queria chegar? – Brigar com você havia virado rotina, mas eu já não sentia vontade de dizer coisas que te machucassem ou humilhassem... Nós dois sabíamos que, no fundo, não passava de uma troca de farpas mal criada, mas não era sério. E assim os dias foram passando, os meses... E a cada minuto eu conhecia uma nova faceta sua. Sua primeira risada aqui dentro. Seu sorriso que tentava escapar, e você fazia questão de mordê-lo sempre, só para não se dar por vencida. E, de uma hora pra outra eu me dei conta de que não te odiava. Nem chegava perto disso... Eu gostava de você. Gostava do seu jeito forte, prepotente, e ao mesmo tempo doce de ser. Gostava de como defendia seu país e as pessoas que amava, mesmo sendo a total minoria aqui dentro. no Ministério da Alemanha defendendo o próprio país... – riu fraco. – Você nunca temeu... Ao contrário, a cada dia cativava mais e mais pessoas, e eu me vi contra a parede. Entre milhares de razões e uma única emoção. Eu queria estar perto de você, queria estar ao seu lado quando você risse, sorrisse, corresse, chorava...
- O que... – começou, tentando engolir o nó preso na garganta. Era inevitável, no entanto. Ele só se alargava.
- E, num dia qualquer, eu me dei conta de que estava absolutamente fodido. Eu estava apaixonado por . – sorriu sem humor e ela entreabriu os lábios diante da confissão. tirou a mão de seu rosto e a escorregou por seu braço, passando a segurar sua mão. – A única e última pessoa pela qual eu poderia criar algum sentimento bom, por menor que fosse... Eu estava sentindo o maior deles. Você não sabe o quanto foi difícil admitir isso para mim mesmo, ter que passar por cima dos meus próprios valores e do que me foi ensinado, passar pela minha família... Pelo meu orgulho. Mas foi impossível, mulher. – sorriu abertamente, e ela também. – Começamos a nos envolver e eu me perdi completamente, senti medo... Não queria aquilo. Não naquela época. Eu sabia que aquilo cresceria, e tentei a todo custo fazer isso passar, por isso me afastei. Iria ficar cada vez pior, e, olha só? Ficou. Mas cá estou, pouco mais de dez meses depois de colocar os olhos em você pela primeira vez... Com mais certeza do que já tive em toda a vida. E não duvide disso. – mordeu o canto do lábio inferior, sentindo uma lágrima escorrer por seu rosto. ergueu a mão que segurava a sua e a beijou demoradamente, com os olhos fechados. – Eu tentei... Tentei o quando pude. Centenas de razões para odiá-la, mas milhares para amá-la.– sussurrou, levando a outra mão para seu rosto, secando-o.
A mulher engoliu a seco com a revelação e piscou, tentando acordar daquilo que mais parecia um sonho. Fugia completamente da realidade. Da sua realidade.
“Centenas de razões para odiá-la, mas milhares para amá-la.”
Ele a amava? Ah, por Deus. O nó em sua garganta se desfez no mesmo segundo em que o choro começou, um choro silencioso, com direito à um sorriso aberto no rosto. ficou estático, esperando o que ela diria. No entanto, era impossível dizer qualquer palavra que fosse.
Um filme passava por sua cabeça, o filme de sua trajetória no Ministério. E, principalmente, seus momentos com .
Não havia sido por acaso, ela não se apaixonaria justamente por ele se fosse atoa.
Sua briga não era com ele... Não era com a Alemanha. Era consigo, com sua própria capacidade de ter se culpado tanto por algo.
As palavras começaram a se formar em sua mente e ela sorriu ainda mais. Era a hora, não era? A hora em que se torna impossível não dizer as palavras certas.
Lembrava-se da primeira vez em que disse um “eu te amo” para Adam. Foi rápido, sem medo, e na época parecia fazer sentido. Ah, boba . Mal sabia o que viria pelo frente, e o quão grande poderia ser um amor de verdade. Um amor cheio de defeitos, problemas e superações. Um amor que desafiava a tudo e todos, inclusive o tempo. Um amor que começou a partir do ódio... Um amor que se transformou. Pura e genuinamente. Não fora à primeira vista, ou no primeiro mês. Demorara quase dez meses para que ambos se dessem conta do que aquilo realmente era, e que fosse necessário compartilhar tal achado.
- Eu te amo. – sussurrou, olhando em seus olhos também marejados.
E aconteceu, simplesmente. As três palavras mágicas que unidas movem o mundo foram ditas sem pestanejar. Foi fácil... Foi libertador. Dizê-las sem qualquer peso em sua consciência era mágico.
sorriu aliviado e aproximou-se da garota, encostando a testa à sua. Ambos estavam sorrindo aberta e sinceramente. Ele levou as mãos ao seu rosto, segurando-o com a maior delicadeza possível, como algo feito de vidro e que fosse quebrar a qualquer momento. Era frágil e necessitava de cuidados. Era como um bem precioso, desses em que só existe uma única peça. Feito para o colecionador.
era o colecionador e era o seu bem... O maior bem que já teve.
- Eu te amo, . – disse no mesmo tom, sentindo a respiração dela acelerar. – Eu te amo de todas as formas possíveis. Com todos os seus defeitos e qualidades. Te amo mais do que ontem e menos do que amanhã. Te amo há poucos meses, mas que se tornaram os meses mais intensos da minha vida. Te amo mesmo que isso custe a minha paz. Te amo por amar acordar cedo e ser o total oposto de mim. Te amo por defender seus ideais e não se preocupar com o que pensaram ou pensarão de você. – riu, ainda com a testa encostada à dela. piscou, deixando mais duas lágrimas caírem. – Te amo por não conseguir segurar as emoções e demonstrar isso independente do que seja. Te amo, pois sempre que está nervosa com algo, essa veia salta. – delineou a veia de seu pescoço, que estava aparente. Ela sorriu, fechando os olhos. – Te amo por sorrir dessa forma. – roçou o nariz no dela, e logo em seguida os lábios. – Te amo assim, por ser exatamente quem é. – desceu a outra mão para estar também em seu pescoço e o acariciou devagar, sentindo cada detalhe de sua pele.
voltou a fechar os olhos diante ao toque e suspirou, sentindo-se cuidada como não há... Como nunca foi. Ela passou as mãos pelos braços do homem, delineando seus músculos por cima da camisa social. ergueu o rosto e beijou sua testa numa calma invejável, depois desceu para as pálpebras de seus olhos, depois nariz, bochechas, queixo, e parou em frente aos seus lábios. Aquela cena lhe lembrada a de quando foram na boate, um sentimento já existia ali... Mas nem se comparava ao que acontecia naquele momento. Na verdade, não se lembrava de qualquer momento em sua vida que já sentira algo tão forte quanto aquilo. Tão grandioso e... Bom. Libertador. Puro. Intenso. A garota abriu os olhos, esperando pelo beijo que não chegou com a rapidez que ela necessitava. Encontrou um sem o mesmo sorriso de anteriormente e fechou o seu próprio.
- O que houve?
- Me perdoa. Me perdoa por tudo que eu te fiz passar aqui dentro, por tudo que te disse... Por aquele maldito dia com o Zimmerman. – disse sério, com o cenho levemente franzido. Seus dedos tocaram o supercílio da garota, delineando a pequena cicatriz dos pontos que o próprio havia dado no corte feito pelo carrasco. – Eu jamais...
- Ei, shh. – sorriu, levando os dedos aos lábios dele, silenciando-os. – Aconteceu e já passou, meu amor. Não há como voltar no tempo... Lembra? Devemos viver o presente. O que interessa é o futuro. Não dá para voltar para aquele dia, não dá para voltar aos anos cinquenta. E, sinceramente... Daqui em diante eu só quero olhar para frente. Não dá pra mudar o passado, mas dá para fazer um novo futuro.
- Eu quero estar nesse futuro...
- Você já está.
(Play na 2.)
E, ao terminar a frase, decidida como sempre, juntou os lábios aos de , sem mais delongas ou diálogos. O toque ínfimo de seus lábios durou alguns segundos demorados, somente com um sentindo o outro entregue.
Era como um primeiro beijo. Um primeiro beijo de verdade, com todo o sentimento que a situação despertava. voltou a colocar seu rosto entre as mãos, e ela desceu os braços; enlaçando-os à cintura dele, num abraço apertado. Quando suas línguas se tocaram o conhecido arrepio tomou seus corpos, mas agora com ainda mais proporção. Ele a apertou em seu abraço e a sentiu sorrir durante o beijo. Expressar a sensação que aquilo lhe trazia seria impossível. O amor era irrevogável, uma vez que fora consumado naquele beijo após as palavras ditas anteriormente.
Ou, bem, quase consumado.
puxou seu lábio dentre os dentes e a mulher subiu as mãos, passando por suas costas. O beijo foi acelerando, assim como seus movimentos. O rapaz desceu os braços para sua cintura e a trouxe ainda mais para perto, praticamente fundando um corpo ao outro. Começou a dar passos em direção à cama e ela afastou o rosto, passando a beijar seu pescoço; hora mordendo, hora passando a língua e deixando quentes rastros.
- Virgem. – sussurrou de repente contra seu pescoço, e abriu os olhos; atônito. – Eu sou virgem, . – ergueu o rosto, encarando o dele. O rapaz tentou, mas não prender o lábio dentre os dentes foi impossível. Um desejo primata e machista, até então desconhecido por ele, foi desperto. Pensar que seria o primeiro homem a tê-la, a possuí-la era... Incrível. O primeiro homem a senti-la por inteiro, o primeiro homem a vê-la entrar em combustão, o primeiro homem a ter o nome implorado diante o ápice do prazer, o homem que a faria mulher. – Tenha paciência comigo, ok?
E ao ouvir aquele pequeno comentário, um sorriso doce abriu em seus lábios. Não se tratava só de excitação, de puro e carnal prazer. Tratava-se de amor. De carinho, de confiança. Não se tratava de um hímen corrompido, mas sim, do que aconteceria a partir de agora. Era sentimento, paixão. Amor.
- Toda a paciência do mundo. – roçou os lábios em sua testa e desceu as mãos, chegando aos seus quadris; deu um impulso e ela soube o quê fazer. enlaçou as pernas contra sua pélvis e voltaram a se beijar.
Dentre dezenas de mulheres que havia feito sexo, jamais havia tido uma virgem. Ao mesmo tempo em que o sentimento animalesco estava à beira da erupção por seus poros, o nervoso também estava. Não sabia como agir e nem o quê fazer. Na teoria sabia perfeitamente o que acontecia, mas a questão era: o que sentiria ao chegar à barreira? Sabia que a dor seria inevitável, mas... Qual seria a intensidade? Ele quis rir. Estava pensando como um virgem. No entanto, o virgem da situação não era ele.
Mulheres acham que são as únicas que ficam tensas ou angustiadas quando irão perder a virgindade. Mas acabam se esquecendo de que, para o homem, é tão difícil quanto. A responsabilidade é sua.
E agora, beijando , ele se contraíra. A responsabilidade se tornara ainda maior por ser com quem era. Ele amava aquela mulher.
E tinha certeza da carga física e emocional que aquilo lhe proporcionaria.
voltou a andar até a cama e a deitou ali, ficando por cima e começando a distribuir beijos por toda a extensão de seu rosto e pescoço.
, ao contrário, parecia a mais ansiosa dali. Começou a desabotoar os botões de sua camisa social, enquanto mantinha as pernas envoltas ao seu quadril. Ao sentir um músculo crescente sob seu ventre, no entanto, a tensão voltou sobre seus ombros. Ela umedeceu os lábios, terminando de desabotoar a camisa e começar a tirá-la por seus ombros. ergueu o tronco e terminou de fazê-lo, mantendo um sorriso de lado no rosto. O sorriso que a tranquilizou novamente, fazendo-a sorrir também.
E como se fosse seu combustível, ele voltou a beijá-la, mas agora com ainda mais intensidade. Levou as mãos à barra de sua camisa e a ergueu depressa. ergueu um pouco o corpo e o rapaz completou a tarefa, tirando-a por completo. Para sua surpresa, a encontrou sem lingerie. Riu abafado com o rosto em seu pescoço, fazendo-a arrepiar-se.
- Eu juro que desse jeito fica impossível me controlar, . – roçou o nariz no início de seus seios, deixando rastros quentes por onde quer que seus lábios passassem. levou uma das mãos ao seu cabelo, entrelaçando os dedos ali; puxando-os de leve. Ele desceu um pouco mais os lábios e chegou no mamilo, continuando os beijos que vinha distribuindo desde então. No entanto, agora intercalava os beijos com suaves mordidas; fazendo arquear a coluna e deixar escapar um baixo gemido por entre os lábios.
Como reflexo, a garota soltou a mão que estava presa em seus cabelos e a levou às suas costas, arranhando-as sem piedade. Com a outra, desceu pela parte interna de seu tronco, tocando o botão de sua calça social. ergueu o quadril para que ela pudesse desabotoá-la e a garota o fez, empurrando-a com os pés. Seu volume cresceu em sua coxa e ela engoliu a seco, confundindo ansiedade com excitação e excitação com ansiedade. Sem que notasse, o rapaz voltou a descer os beijos por sua barriga, não esquecendo nenhum centímetro do local. fechou os olhos, voltando a colocar as mãos em sua cabeça, afagando seus cabelos. Amava aquele homem e tinha plena certeza do que queria, e queria com ele.
raspou seu membro protegido pelo tecido da cueca pelo joelho de , enquanto começava a passar a língua suavemente pela barra de sua calcinha. Uma de suas mãos guiou-se para o tecido da mesma, acariciando-a. abriu os olhos e olhou para baixo, encontrando um desconhecido. Um com as pupilas dilatadas, um sorriso maroto no rosto e os olhar transbordando luxuria. O que só serviu para triplicar sua excitação.
E seu nervosismo também.
- Relaxa... Vamos no seu tempo. – avisou, num sussurro rouco. Ela assentiu, puxando-o para cima novamente.
Beijando-o novamente.
Ah, ali, sim. Ali ela poderia ficar pelo resto da noite e da vida. Sentindo seu beijo e o quão conhecido era aquele toque ínfimo. A explosão de sentimentos que aquilo lhe trazia.
O toque de sua mão avançou novamente à sua calcinha e ela tentou relaxar as pernas, sentindo seus dedos atravessarem a barreira do tecido. Eles deslizaram com certa facilidade e o homem murmurou um gemido. o imitou, soltando seus lábios e fechando os olhos; jogando a cabeça contra o travesseiro. A excitação crescente de atingiu seu máximo e soube disso quando novamente sua coxa o tocou. Engoliu a seco e fez o que sentia vontade: empurrou sua boxer e o tocou. O homem empurrou o quadril inconscientemente contra sua mão e deslizou outro dedo para sua entrada, inconscientemente. Ambos gemeram baixa e longamente.
Sentindo que não poderia mais esperar tanto, levantou um pouco do corpo e tirou sua própria cueca, jogando-a ao lado da cama. Olhar foi inevitável, e quando o viu, riu.
Riu de nervoso.
Riu de excitação.
Riu de como acordaria na manhã seguinte.
- Caralho.
- Caralho o quê? – disse afobado, vê-la proferir palavrões deixava a situação ainda mais excitante. Não faça isso quando estou me controlando para não te rasgar de uma só vez e sem aviso prévio, .
- Isso vai doer pra caralho. – resmungou, com o cenho franzido. E não teve outra reação a não ser rir do quão doce aquilo havia soado. Riu fraco, fechando os olhos e depositando um beijo demorado em sua testa. – Se eu falar pra parar, você para?
Ele voltou a acaricia-la intimamente e a garota fechou os olhos, mordendo os lábios.
- Na hora que você quiser. – sussurrou contra seus lábios, puxando-o contra os dentes. – Mas não acho que será necessário. – sorriu malicioso e ela teve certeza de que não seria também. puxou sua calcinha para baixo e a fitou, fazendo-a corar. Sorriu divertido e deu um beijo em seu umbigo. Em outra ocasião teria que se lembrar de beijar todo o seu corpo. Sem exceção alguma. Era uma promessa. – Eu vou agora, ok? – avisou, pegando seu próprio membro e o manipulando algumas vezes antes de pincelá-lo contra a entrada dela. engoliu a seco e assentiu, cravando as unhas em suas costas. Seus olhos se encontraram e ele sorriu ao ver quão nervosa a sua menina estava.
Ela não precisava estar.
Ele machucaria a si mesmo antes de machucá-la novamente.
Um pequeno filme passou em sua cabeça. Da primeira vez que a viu por fotos ou vídeos; quando ainda criança, e da primeira vez que a viu pessoalmente. O momento em que havia se apaixonado. O primeiro beijo. A primeira vez que a enxergou fora do Ministério. O primeiro sorriso dedicado somente a si. A primeira gargalhada por alguma de suas bobeiras. E agora ali estava ela, tão frágil e ao mesmo tempo tão mulher.
Ele sorriu sinceramente e lhe deu um beijo rápido, encostando suas testas. Parte de seu membro a invadiu e ela apertou os olhos, arranhando suas costas. Movendo os quadris um pouco, ele foi um pouco mais, até chegar à sua barreira. Passou o polegar sobre seu seio, delineando-o, dando espaço para ela acostumar-se com o corpo estranho em si.
Forçando um pouco mais o quadril ele sentiu quando o hímen se rompeu, e a garota arqueou as costas, num misto de gemido e grito.
- Shh... – ele sussurrou, enquanto descia uma das mãos ao centro de seu corpo, voltando a acaricia-la intimamente, fazendo pressão contra seu clitóris. – Já foi. – sorriu, segurando o lábio inferior contra os dentes.
- Eu te odeio. – sussurrou, mordendo um sorriso maroto que queria escapar por seus lábios.
- Eu te amo. – sussurrou no mesmo tom e ela deixou-se sorrir, lhe dando um selinho demorado. Suas testas voltaram a encostar-se uma à outra e recuou o quadril, voltando logo em seguida; ainda devagar, acostumando-se.
Ele fez isso outra vez, com uma calma invejável. Outra. E na próxima, começou a aumentar a velocidade. Entre uma estocada e outra ouvia os gemidos doloridos de ; que começavam a se dissipar, sendo trocados por murmúrios de alívio. Uma de suas mãos voltou ao seu seio, apertando-o sem medir força. Tinha que extravasar alguma coisa, ou iria fundo e acabaria machucando-a. Ele tinha plena certeza de que suas costas já estavam com vergões, tamanha era a pressão que as unhas da garota faziam. Mais algumas estocadas e ele sabia que estava quase chegando ao ápice. Sem delongas, colocou o rosto dentre o pescoço dela, sentindo seu cheiro e a pequena camada de suor que envolvia seu corpo. Sua mão voltou ao clitóris da garota, massageando-o e friccionando-o na velocidade das estocadas. Os gemidos de ambos foram crescentes, e ao chegar aparentemente no ponto mais sensível do corpo da outra; quando a garota gemeu mais alto e longamente, ele não se conteve e chegou ao seu máximo. Urrou com o rosto ainda em seu pescoço e estocou mais algumas vezes, tentando recuperar o fôlego.
Sabia que não havia o acompanhado, e subiu o rosto, ainda com um sorriso bobo cravado nos lábios. Ela estava com os lábios presos nos dentes e um sorriso malicioso no rosto, ao mesmo tempo em que brincalhão; como se dissesse: “e aí? É isso?”. Ele riu, roçando o nariz na bochecha da garota.
- Não aceito isso. – decidiu, trocando a mão que estava sob sua entrada e retirando-se dela. Um frio tomou sua barriga, mas ele o ignorou. – Direitos iguais, amor. – voltou a acariciá-la, mas agora com ainda mais precisão. Deslizou dois dedos e ela riu anestesiada, arqueando as costas. – Já está relaxada o bastante, não está? – assentiu, com os olhos fechados. – Então deixa vir... – fez pressão com o polegar em seu ponto mais sensível, e a sentiu tremer. Os gemidos ganharam uma proporção ainda maior, agora passando a chama-lo pelo nome também. fechou os olhos, tentando controlar-se e manter a concentração. – Isso, mais alto. Isso, linda... – disse contra seus lábios, e desceu os mesmos, voltando ao seu seio, passando a sugá-los. Uma estocada a mais de seus dedos e pressão do polegar e veio. Veio como uma explosão, uma convulsão. Seu corpo entrou em combustão profunda pela primeira vez na vida e aquela era, de longe, uma das melhores sensações que já havia sentido. Um grito escapou por sua garganta e foi impossível controla-lo. sorriu orgulhoso e mordeu seu lábio, puxando-o. Era lindo assisti-la daquela forma e tinha plena certeza de que a partir de hoje seria impossível viver sem aquela cena ao menos numa precisa rotina.
resfolegou, abrindo os olhos e encarando seu rosto. Os dois estavam com um sorriso abobalhado plantado no rosto, e ao verem que o outro estava exatamente assim, caíram na risada.
- Esperava mais desse tal de sexo. – disse simplesmente, vendo abrir os lábios; ofendido. Ela riu, passando a mão por seus cabelos, afagando-os. – Dói!
- Eu sei, meu amor. – disse somente, e ela teve vontade de agarrá-lo. E o fez. Sentiu vontade e o fez, sem pensar ou esperar. E a sensação de realizar seu desejo era maravilhosa. – Mas isso é só nas primeiras vezes, hm? – prometeu, beijando sua bochecha. – Logo eu te transformo numa ninfomaníaca. – ela franziu o cenho, sem saber o significado da palavra. – Viciada em sexo. – traduziu, vendo-a arregalar os olhos.
- Seu pervertido! – continuou rindo, arrumando-se na cama. – Mas eu gostei disso... Do que fez depois.
- Eu te masturbei.
- É. – sussurrou, envergonhada. Ele riu de sua timidez inadequada, e mordeu sua bochecha; anteriormente beijada. – Ah, merda. – murmurou ao arrumar-se na cama. – Sangrou, não é? – questionou, passando os dedos pelo colchão. assentiu, sorrindo da ingenuidade de sua pergunta. – Ah, merda! Meu colchão! – fez uma careta, e o outro gargalhou. Ela não estava com vergonha então? Estava preocupada por ter sujado seu colchão? Ah, ele a amava muito. – Você vai me arrumar outro colchão, ouviu, ? – fingiu brigar, e ele assentiu, deitando ao seu lado e esticando o braço para que ela encostasse a cabeça em seu ombro.
- Sim, senhora. Podemos redecorar o quarto inteiro se quiser, do jeito que quiser. – afagou seus cabelos, e ela abraçou sua cintura. – Você está bem?
- Estou. – mordeu o interior da bochecha, segurando um sorriso. – Me enganei quando disse que parecia um ogro. Você é um príncipe, todo errado, mas ainda assim, um príncipe. – olhou em seus olhos e ele riu, beijando sua testa. – , o que houve?
- Como assim o que houve? – disse sem entender, enquanto erguia o corpo e colocava um lençol sobre a mínima mancha de sangue que o colchão tinha. Voltou à posição anterior, e ela mordeu o lábio, suspirando; preparando-se para falar o que viria à seguir.
- Você... não veio aqui atoa e nem do nada. O que aconteceu? Hoje é Natal.
Ele estalou os lábios, passando a encarar o horizonte à sua frente. Respirou fundo e deu os ombros, ainda afagando os cabelos da garota.
- Eu não aguento mais a minha avó. – confessou. – Eu a amo... Ou a amei, por toda a vida. Ela cuidou de mim e o resto você já sabe, não quero ser ingrato e nem sou, mas há um ano; mais precisamente desde que você apareceu, ela tem sido uma mulher horrível. É nojento vê-la e assistir o que ela fala sobre você. Eu cansei, chegou o meu limite. – balançou a cabeça e sorriu fraco, beijando seu maxilar. – Não sei você, mas ver e ouvir coisas ridículas a respeito de quem você ama é uma das piores coisas do mundo.
- Ah, meu Deus. – riu carinhosa, levando uma mão para seu rosto e beijando seus lábios longamente. – Odeio a sua avó e isso não é segredo para ninguém, mas ela... Ela é sua avó, . É seu único familiar vivo e, bem, deve te amar.
- Dane-se, . Eu não preciso dela para viver, já sou responsável e tenho meus próprios investimentos. Trabalho arduamente todos os dias aqui e ninguém vai tirar isso de mim. E, quanto a me amar... Tenho bastantes pessoas que possuem o mesmo sentimento por mim, não preciso dela.
- Bom, isso é verdade! – sorriu animada, desenhando círculos imaginários em seu peito. – James, Lily, Liebe, Heidi, Joshua...
- ... – continuou, e ela gargalhou, jogando a cabeça para trás. – Ou estou enganado? – olhou-a sugestivamente, agarrando a mão que estava em seu peito e entrelaçando os dedos.
- Você está certo, amor. – continuou sorrindo, e pensou que poderia viver com aquele sorriso congelado no rosto pelo resto da vida à partir de agora. – Eu te amo, amo de verdade. Amo muito. Amo de uma forma que até me falta o fôlego. Amo absurdamente. Amo tudo o que há em você. Amo por ser quem é. Amo você. – sorriu abertamente e encostou o nariz ao dela, roçando-os. – E você não imagina o quão libertador é dizer isso, .
- Ah, eu sei, sim. – sussurrou, lhe dando um selinho demorado.
olhou seus dedos entrelaçados e só então se deu conta de que faltava algo ali.
- Seu anel. – sussurrou, virando o rosto para encará-lo. – O anel dos , cadê?
- Eu tirei. – suspirou, dando os ombros. – As atitudes deles não me orgulham, . E, bem, se eu não posso tirar o sobrenome de mim... Que ao menos a aliança que me liga aos saia.
- , não é certo... É a sua família.
- Você é a minha família. – disse simplesmente e ela sorriu sinceramente, fitando seus olhos. – Feliz Natal, linda.
- Feliz Natal, meu amor. – segurou seu rosto entre as mãos, distribuindo beijos por sua boca. – Quando eu acordar amanhã, isso ainda vai ter acontecido? – fechou o sorriso devagar, olhando em seus olhos.
- Ao que depender de mim, meu amor, de hoje em diante, todos os dias em que você acordar isso vai ter acontecido. – sorriu de lado, passando a polegar por sua bochecha. voltou a sorrir e duvidou que algum dia já houvesse sido tão feliz. – Boa noite, .
- Boa noite, . – sussurrou na mesma intensidade, sentindo a carga de sentimentos que seus sobrenomes proferidos por suas bocas significavam. Ela voltou a encostar a cabeça em seu ombro e piscou longamente.
O sono não demorou a chegar.
Na verdade, não se lembrara de um dia na vida em que o sono havia vindo tão rápido e tranquilo. Bastou-lhe fechar os olhos, inspirar longamente o cheiro da pessoa que estava ao seu lado e pronto. O sono havia vindo. Durante a madrugada ela não sonhara como de costume; com a época em que sua vida era comum, nos anos cinquenta, contudo, e não se importou nem um pouco. Sabia que sonho algum superaria a realidade.
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