- Então , Napoleão decretou o bloqueio continental à Inglaterra porque ele queria atrapalhar o desenvolvimento dela, para poder desenvolver a França... - falou e eu momentaneamente parei de ouvir. Analisei os traços finos dela: nariz reto, as bochechas coradas, a boca também vermelha e perfeitamente desenhada, e os olhos verdes nada focados. Eles olhavam para um ponto qualquer enquanto ela tentava me explicar sobre as aulas de história que há dias eu não prestava atenção por perceber o que estava aos meus olhos: ela. - Entendeu? - ela falou mais alto, mantendo o rosto no mesmo lugar.
- Oi? - respondi totalmente perdido. Eu não havia prestado atenção em nenhuma palavra que ela falava.
- Você não me escutou, não é? - falou sorrindo e eu fiquei sem graça. Passei as mãos nos cabelos, mesmo sabendo que ela não poderia ver e sorri de lado. Ela passou a mão em seu livro de história e uniu as sobrancelhas, parecendo concentrada. - Quer que eu te explique de novo? - ela virou a cabeça para o lado contrário ao meu, provavelmente pensando que eu estaria daquele lado.
Sorri e toquei o braço dela, sentindo todo aquele conhecido calor entrar em contato com meu corpo. Sorri ao vê-la virar a cabeça e ficar vermelha, com vergonha.
- Acho que não precisa. - eu disse - Que tal a gente comer alguma coisa?
- Vai ser ótimo! - ela disse e se levantou, olhando para frente novamente. - Teria a honra de me levar até a cozinha, senhor? - brincou, com um sorriso largo nos lábios.
- Seria esplêndido. - respondi também sorrindo, olhando nos olhos dela.
Segurei sua mão com carinho e logo agarrou firme meu braço, para começar a me seguir com passos lentos, provavelmente com medo de tropeçar.
Mal sabia ela que eu nunca a deixaria cair.
Ao chegar à cozinha, ajudei a sentar e fui preparar a mesa, pegando o bolo, torradas e requeijão.
- O que vai querer beber? - perguntei, olhando dentro da geladeira.
- Qualquer coisa. - ela me respondeu.
Peguei um suco de laranja, que era o preferido dela, e dois copos. Como sabia da sua dificuldade, coloquei algumas coisas para ela comer em seu prato e o levei para perto dela, encostando-o nas mãos dela, que sorriu agradecida.
O fato de não poder enxergar nunca foi um problema para mim. Ela era uma garota batalhadora, sorridente e linda. Era muito difícil vê-la triste e eu não gostava nada de acompanhar os momentos de insegurança dela, mas eu sempre estaria lá, por ela.
Nós começamos a amizade quando ela entrou no colégio onde eu estudava. Ela estava perdida e entrou no banheiro masculino. Sorte dela que não via nada, mas nós garotos nos assustamos, porque ela aparentemente era normal. Fui o primeiro a falar com ela na escola, e assim, nos tornamos amigos. Grandes amigos. logo se mostrou uma garota extremamente inteligente. Sempre demonstrava compreensão com qualquer pessoa e raramente eu a ouvia falar mal de alguém, era muito carinhosa e depois de dois anos, eu percebi que a amava. Amava tanto que não cabia no meu peito.
As pessoas já haviam percebido isso, já comentavam, mas eu não conseguia falar nada para ela, porque tinha medo. Medo da rejeição, medo de não responder as expectativas dela.
- Posso saber o que você está pensando? - perguntou docemente, com um sorriso tímido nos lábios.
- Só olhando o céu. - respondi qualquer coisa, me arrependendo assim que vi os olhos dela ficarem mais negros. não gostava de ouvir coisas desse tipo porque ela não conseguia compartilhar o momento. - Você começou a ler um livro novo, não? - mudei de assunto rapidamente.
- Sim. - ela respondeu com um sorriso, mas os olhos ainda estavam tristes - É sobre o Occupy Wall Street, sabe? Sobre os movimentos contra o sistema em Nova Iorque.
- Não me lembro disso - respondi vagamente, analisando sua expressão.
- Não foi muito divulgado. - disse simplesmente e voltou a comer.
Ela não estava bem. Ao ver que os movimentos lentos que ela fazia, percebi que havia algo que a atormentava. Levantei-me e ela virou na direção do barulho, parecendo perdida. Sentei-me ao lado dela e toquei sua mão. sorriu tristemente e olhando para frente, apertou minha mão.
- O que houve? - perguntei.
- Como é enxergar? - ela me perguntou, como quem não quer nada. Com carinho, ela colocou a outra mão em cima da minha e a acariciou. Voltei a olhar para o seu rosto, vendo a garota mais forte que existia.
- É simples. - respondi - Mas é ruim. Você olha para as coisas e já julga, sem ao menos conhecer.
- Mas deve ser tão mais fácil! - ela exclamou - Poder fazer qualquer coisa...
- Você também pode fazer qualquer coisa - disse ao sentir o pessimismo tomar conta dela - De um jeito diferente, você pode.
- , - ela me chamou triste - eu amo o jeito que você pensa positivo. - falou, com um sorriso de lado - Mas eu não consigo mais fazer isso! - reclamou, tirando as mãos das minhas e as colocando na cabeça e puxando um pouco os cabelos. Ela fechou os olhos e vi algumas lágrimas escorrerem pela sua pele macia. - Eu não aguento mais saber que eu não vou poder ser uma médica porque eu não consigo enxergar coisa alguma! Não consigo pensar em nenhuma profissão descente por causa dessa porra de visão!
- , não é assim... - comecei me desesperando pelo estado que ela ficava. - Tem tantas coisas que você pode ser, profissões que podem usar da sua audição, do seu bom tato e...
- Mas não é o que eu quero. - ela falou, enxugando as bochechas, mas mantendo os olhos fechados. - E parece que ninguém gosta de mim de uma forma diferente. Parece que as pessoas só conversam comigo por pena e eu...
- Hey! Você está me desconsiderando. - falei mais descontraído, tentando fazê-la relaxar. Entretanto, aquilo me magoou profundamente, porque ela não percebia meus sentimentos. Certamente, se ela enxergasse, ela perceberia o quanto eu fico sem jeito quando estou perto dela, o quanto eu passo a mão pelo meu cabelo quando eu estou nervoso e veria que eu me arrumo todas as manhãs para encontrá-la, mesmo sabendo que ela não me vê. Se ela pudesse olhar nos meus olhos, ela conseguiria perceber que eu a amava. - Pode ter certeza que as pessoas realmente gostam de você. Não tem porque não gostarem. Você é extremamente doce, educada e inteligente. Além do fato de ser terrivelmente bonita.
- Eu não sei se sou bonita - ela falou manhosa e deitando sua cabeça em seus braços sobre a mesa.
- Pode ter certeza que você é, dou a minha palavra. - respondi sorrindo. Pelo menos ela havia parado de chorar. Comecei a fazer carinho na sua cabeça.
- Mas então porque ninguém gosta de mim? - a voz dela saiu abafada.
- As pessoas gostam de você sim. - eu disse, tentando mudar de assunto. Eu achava que não estava na hora de dizer o que eu sentia.
- Não foi nesse sentindo. - disse e levantou seu tronco, ficando de frente para mim. Se ela pudesse ver, tenho certeza que ela estaria analisando o meu rosto, porque no momento seguinte ela procurou com as mãos o meu rosto, e realmente o achou.
Delicadamente, começou a passar seus dedos por todo o meu rosto, desenhando cada detalhe. Ela fechou seus olhos e sua expressão suavizou, e depois de analisá-la, também fechei meus olhos, apenas sentindo o seu toque macio. Os dedos passaram por meus olhos, minha sobrancelha, pela ponta do nariz e demoraram na minha boca, contornando-a algumas vezes. Por onde sua pele tocava a minha pegava fogo. Senti sua respiração ficar irregular, provavelmente igual a minha.
Abri meus olhos e lá estava ela, mordendo levemente seus lábios inferiores, sem a mínima consciência do tanto que ela ficava sexy daquela forma. Suas mãos, que estavam segurando meus ombros, subiram pelo meu pescoço e bagunçaram meu cabelo, enquanto ela soltava lentamente seus lábios.
Eu precisava, naquele momento, beijar aqueles lábios avermelhados tão convidativos. E assim o fiz.
Inclinei meu corpo para frente, enquanto depositava minhas mãos na sua cintura. abriu os olhos, assuntada, mas eu apenas não liguei. Colei nossas bocas, delicadamente, esperando a tensão do corpo dela ir embora, e acostumar-se com a ideia de que estava sendo beijada. Pouco tempo depois, passei a língua por seus lábios e ela os abriu lentamente.
Foi o melhor beijo da minha vida.
Vários sentimentos passaram pelo meu corpo e uma vontade de sempre ter mais se apossou de mim. Subi uma de minhas mãos para o cabelo dela e segurei sua cabeça. Fiquei de pé e colei nossos corpos, ficando entre as pernas dela. Aprofundei mais o beijo, tentando saciar toda a necessidade dela que eu estava.
me respondia à altura. No começo ela me pareceu perdida, mas depois entrou no ritmo e tudo ficou maravilhoso. Ela passava as mãos por meus cabelos, às vezes o massageando, às vezes o puxando.
Nós paramos quando o ar faltou. Eu a abracei e enterrei meu rosto na curva do seu pescoço, sentindo o cheiro inebriante que tinha. Eu não queria quebrar o momento, não queria fazer nenhum movimento para que a mágica acabasse. Eu tinha medo do que ela falaria, de que ela me repreendesse e pedisse para levá-la para a casa dela.
Ao contrário do que eu esperava, me abraçou apertado e beijou minha clavícula, me deixando extremamente feliz.
- ... - ela me chamou calmamente - você sabia que...
- Eu sei - falei sorrindo, tendo plena consciência do que ela falaria. Eu havia dado seu primeiro beijo e não podia me sentir mais feliz por isso, porque, haja o que houver, eu sempre estaria na memória dela. Dei um beijo em seu pescoço e sorri ao vê-la se arrepiar. Afastei-me dela e, ainda sorrindo, dei um selinho nela. - Como você se sente?
- Sei lá. - respondeu com uma careta bonitinha - Estranha?
- Não, não foi uma boa resposta. - eu falei, cada vez mais maravilhado. Eu queria sentir sua boca na minha, por todos os dias da minha vida. Aproximei de novo e a beijei, e ela, com um meio sorriso, se entregou.
Em meio a conversas e longos beijos, o telefone da minha casa tocou, e era a mãe dela, pedindo para que fosse, urgentemente, para a sua casa. Alguma coisa havia acontecido. Como bom amigo, arrumei suas coisas e a levei para casa.
Naquele dia, eu fui dormir sendo o rapaz mais feliz da Terra.
***
Cinco semanas havia se passado desde que eu e entramos em um relacionamento. Tudo estava indo perfeitamente bem. sorria o tempo todo e eu a acompanhava sempre. Sorrir era parte da minha rotina, principalmente ao vê-la tão feliz.
Nós estávamos juntos o tempo todo, para qualquer coisa. Trocávamos beijos durante as aulas e o tempo que a gente passava na minha casa. Ela ia pra lá todo dia me ajudar com os estudos, mas no final, nós só usávamos o tempo para ficarmos juntos e era ótimo.
Cada dia eu sentia mais encantado por ela, cada vez mais eu descobria uma coisa que por dois anos eu não consegui perceber. E cada vez mais eu sentia que meu amor era para sempre.
Eu me sentia extremamente bem por saber que havia me escolhido para ser dela. Eu sentia mais apaixonado quando via o sorriso dela ao tocar meu rosto e descobrir alguma coisa nele que ela não havia sentido antes, quando escutava algumas palavras gostosas sendo sussurradas por ela em meus ouvidos.
Mas fazia dias que não aparecia na escola. Sua casa estava vazia e ela não atendia o telefone. Eu estava enlouquecendo sem notícias dela.
A última coisa que ela havia me enviado fora um bilhete, com os dizeres "Você vai ter uma surpresa" impressos. Aquilo me matou de curiosidade, porque depois daquele dia, ela não foi mais para a escola.
E naquele instante, eu estava na aula de matemática, que parecia não acabar. Geralmente eu gostava de aritmética, porém eu não conseguia me concentrar em nada que o professor falava com tanto tédio.
Olhei para o relógio. Ainda faltavam quinze minutos para o fim daquele dia escolar. Bufei, frustrado. Onde estaria ?
Era sexta. E toda sexta-feira nós almoçávamos no McDonald's e depois íamos para uma loja de música no centro da cidade. Passávamos juntos o dia inteiro, mas seria a segunda sexta que eu não a encontraria.
O sinal finalmente tocou e eu joguei todos os meus materiais dentro da mochila de qualquer jeito. Estava quase saindo, quando o Sr. Dickens, meu professor, me fez parar.
- , - ele me chamou - você sabe por onde anda?
- Infelizmente, não. - respondi, deixando meus ombros relaxarem e sentindo a mochila ficar mais pesada.
- Você está meio perdido com isso. - ele afirmou, olhando para mim, som um sorriso ladino.
- Estou sim. - dei os ombros - Ela não dá sinal de vida!
- Entendo. - meu professor riu pelo nariz.
Depois disso ele me deixou em paz e eu finalmente ganhei o estacionamento, respirando fundo por ter acabado mais um dia de aula.
Escutando uma música qualquer, dirigi até a casa da minha amiga, para ver se eles haviam chegado, mas nada parecia diferente. Então, com os mesmos medos e angústias, voltei para casa, pensando somente em dormir a tarde inteira.
Mas os pensamentos pelos caminhos não me abandonavam. E se ela tivesse ido embora e não houvesse se despedido de mim? Mas ela não era desse jeito, eu sabia que ela iria me contar qualquer coisa. Mas ela poderia ter se machucado gravemente e ter sido levada para um hospital em uma cidade maior. Esta hipótese me fez estremecer e sentir um cala frio descer minha coluna. Não, nada de mal havia acontecido com ela. Nada poderia acontecer àquela pessoa tão doce.
Cantarolando a música que tocava para poder espairecer minha mente, estacionei meu carro no meio fio, não ligando se minha mãe iria se importar. Ao parar em frente à porta principal, avistei um bilhete pregado nela.
"Prepare-se"
Li algumas vezes, tentando encontrar um sentindo naquilo, porém eu não encontrei, então apenas o dobrei e coloquei no bolso da calça jeans surrada que eu usava naquela tarde. Entrei em casa e estranhei não ter encontrado minha mãe ou minha irmã fazendo barulhos por toda parte, mas não liguei.
Tirando o All Star velho e jogando minha mochila em qualquer lugar, subi rapidamente as escadas, louco por me jogar na cama e só acordar duas ou três horas depois. Mas, colado na minha porta novamente, havia outro bilhete. Dessa vez ele tinha um perfume bem familiar que só de sentir fez meu coração bater mais forte.
"Respire fundo, . Acho que vai ser uma boa surpresa!"
Ao contrário do pedido, minha respiração ficou descompassada. Imaginei várias cenas, algumas católicas, outras bem eróticas, sobre o que poderia estar dentro do meu quarto, mas em todas, me esperava lá dentro.
Tentei acalmar minha respiração e tentando puxar a maior quantidade de ar possível, abri a porta.
Lá dentro, eu a encontrei, usando um vestido azul clarinho, que não fazia contraste nenhum com sua pele alva, de costas para a porta e com a cabeça para cima, me fazendo pensar que ela, se enxergasse, estaria observando os meus pôsters na parede. Ela estava com as pernas cruzadas e as costas relaxadas, fazendo com que os ossinhos da coluna dela ficassem expostos. O cabelo castanho estava preso apenas com um grampo vermelho no lado esquerdo da cabeça, enquanto a maior parte das longas madeixas ficava no vão do pescoço, deixando uma parte da região aparente.
Naquele momento eu percebi o quanto eu sentia falta daquela garota.
Soltando o ar lentamente, fiz um ruído qualquer para anunciar minha presença, e ela virou a cabeça na minha direção, com os olhos fechados e um sorriso sapeca.
- ! Onde você estava? Eu fique... - comecei a falar, de pé, olhando para ela e tentando organizar todas as perguntas que passaram na velocidade da luz pela minha cabeça.
- Shh - ela me cortou, sorrindo. - , me faz um favor? - perguntou docemente, me ignorando completamente.
- Aham - falei meio contrariado. Cruzei os braços e esperei que ela me pedisse um copo de água, ou qualquer outra coisa assim, mas fui surpreendido.
- Senta na minha frente? - a garota disse, tentando conter seu sorriso.
Obediente e um pouco em dúvida, eu o fiz.
passou as mãos pelo meu cabelo, ombros e braços. Lenta e carinhosamente, mantendo os olhos fechados e uma expressão feliz no rosto. Eu sorri, matando um pouco a saudade que estava de seus delicados toques. Seus dedos voltaram ao meu rosto, e devagar, ela abriu os olhos, acompanhando os movimentos dos dedos com eles.
Eu fiquei em choque. Ela estava focando o olhar.
sorria abertamente, em êxtase. Seus olhos verdes observavam meu rosto como se fosse a coisa mais perfeita do mundo, sem notar as espinhas espalhadas por ele, sem notar as falhas. Ela estava maravilhada. Ainda acompanhando com as mãos, ela passou a ver meus cabelos, minha roupa, e finalmente, meus olhos.
- ... - tentei falar, finalmente entendendo o que estava acontecendo.
estava finalmente vendo. Me vendo.
Lágrimas saíram dos seus olhos enquanto ela sorria abobalhadamente. Sem desgrudar os olhos de mim, levou as mãos até a boca, e começou realmente a chorar. E eu apenas a observava.
Passado o choque, eu a puxei para mais perto, dando um abraço muito apertado, sentindo a minha garota se encaixar na curva do meu pescoço, sem parar de chorar.
Eu não podia conter minha felicidade. finalmente estava plenamente feliz. Ela havia conseguido ver. Não consegui segurar e soltei algumas lágrimas, totalmente alegres, sorrindo igual a um idiota. Eu queria gritar a todos o que tinha acontecido.
Ela enxergava!
, ao perceber minha respiração descompassada, afastou um pouco do meu corpo e tentou limpar as lágrimas, minhas e delas.
- Não chora - ela soltou um muxoxo, ficando totalmente adorável.
- , você conseguiu! - eu gritei, ainda sorrindo, e ela me acompanhou.
Inesperadamente, ela se jogou em cima de mim e me abraçou muito apertado, depois me deu um beijo digno de filme. Extasiado, eu apenas pensei em matar minha sede dela, aprofundando cada vez mais o beijo, sentindo cada vez mais a velha sensação de pertencimento me preencher.
Quando o ar faltou, se afastou de mim, com os olhos brilhando e um sorriso rasgando o rosto, e focou no meu rosto. - Finalmente te vejo... - comentou aleatoriamente.
De repente, uma onda de medo se apossou de mim. Meus pensamentos voaram para um possível futuro, em que ela percebesse o quão idiota eu era, o quanto existiam garotos mais bonitos que eu, quando ela começaria a comparar as pessoas, o quanto ela mudaria. Não, ela não poderia mudar. Ela deveria continuar sendo minha , sempre boa e inteligente. Ela não percebeu a mudança na minha expressão, talvez porque não estivesse acostumada a elas, então simplesmente continuou - Você é tão lindo, .
- Você também é linda, – respondi, um pouco mais relaxado, tentando manter fora minhas inseguranças, pelo menos naqueles minutos em que a felicidade estava tão tangível. - Você é linda! - falei mais alto, tomando seu rosto em minhas mãos e capturando seus lábios com meus, em um beijo rápido.
voltou a olhar ao redor, entrando eu outra dimensão. Ela estava descobrindo um mundo que para mim não tinha a menor graça. Olhou para os posters na parede, o guarda-roupa de madeira e o violão encostado no canto. Tudo o que era velho para mim era completamente novo para ela. Eu conseguia ver o quanto ela estava feliz por estar conseguindo ver tudo aquilo.
- Nunca consegui ter uma noção de como seu quarto era. - ela falou - Ele é bem legal.
- Obrigado. - respondi dando os ombros. - Você está conseguindo ver tudo? - perguntei, me sentando direito, estando realmente interessado.
- Não - respondeu, ainda sorrindo - eu consigo ver borrado, como se... Não sei, mas eu vejo tudo tremendo e desfocado. - suspirou - As formas e as cores são melhores. Os médicos disseram que em um ano eu vou ver tudo perfeitamente bem, e que eu tenho que tomar muito cuidado na pós-cirurgia. - Assenti e me encostei à parede, tendo a linda visão dela engatinhando e vindo a minha direção. Ela se sentou entre as minhas pernas e eu a abracei. Ao fechar meus olhos para aproveitar a proximidade dela, senti se mexer e ela se afastou, o que me fez voltar a fitá-la. Delicadamente, ela se sentou de frente para mim e se encaixou entre minhas pernas. encarou meus olhos, e depois sorriu. - Seus olhos são da cor do céu - disse aleatoriamente e tocou meu rosto, mania que eu tinha certeza que ela nunca perderia por causa dos 17 anos que passou apenas conhecendo o mundo dessa maneira. - eles me acalmam. - confessou baixinho. Eu sorri, a puxando para mais perto e lhe dando um beijo na testa.
- Eu posso dizer o mesmo sobre seus olhos - disse sorrindo.
- Obrigada - a vi corar.
- Foi por isso que você faltou por todos esses dias, não foi? - perguntei, sentindo necessidade de saber do sumiço repentino dela.
- Foi. - falou, com um sorriso sapeca - Na sexta mesmo eu fiz a cirurgia, e fiquei em Londres por quinze dias para me recuperar.
- Entendi - disse enquanto arrumava uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. - E como você conseguiu guardar segredo? Isso não é seu ponto forte...
- Foi difícil! - falou rindo - Quase impossível! Mas eu queria tanto que fosse uma surpresa!
- Pode ter certeza que foi. - sorri também.
- Gostou? - ela perguntou, ficando um pouco envergonhada.
- Se eu gostei? - fiz uma careta - , eu adorei! - respondi feliz - Eu fiquei muito feliz com você!
- Aww - ela falou, me abraçando - Senti tanta a sua falta!
- Eu também senti a sua. - beijei o topo da sua cabeça.
Ficamos um tempo em silêncio, apenas sentindo um ao outro. começou a fazer carinho no meu cabelo, e eu fechei os olhos, aproveitando aquilo. Era tão bom tê-la de volta! E tê-la tão feliz!
O silêncio era confortável e a respiração compassada de me acalmava de uma forma inexplicável. Desde que nos conhecemos, ela me trazia paz. O sorriso dela, que carregava um peso enorme nas costas, sempre fora calmo e feliz, e quando eu o via, meu coração batia mais forte e magicamente os problemas desapareciam por algum tempo. A verdade é que era meu porto seguro.
- Mas eu estou com medo. - ela falou de repente e eu até me assustei. Fiz qualquer som com a boca para ela continuar falando - Medo do mundo não ser como eu acho que ele é, de voltar a ver nada, mas principalmente, não poder ver mais você.
- , - eu a chamei. Ela se desencostou de mim, para olhar nos meus olhos. Eu me sentia pronto para falar além do que ela precisaria ouvir naquele momento - não importa o que acontecer, você vai poder contar comigo para tudo. Se essa cirurgia não der certo agora, você, com certeza, pode fazer outra e eu vou estar lá para te guiar, caso você precise, para segurar sua mão em qualquer momento. A gente já passou por tanta coisa junto e você nunca vai estar livre de mim. - parei para poder observá-la por um momento. As bochechas estavam um pouco mais rosadas do que o normal, dando-lhe uma aparência sadia. A boca estava avermelhada e perfeitamente desenhada. Seus olhos, extremamente brilhantes naquele momento, estavam voltados para o meus olhos, ficando um pouco tortos por causa da proximidade. A franja caía delicadamente sobre sua testa, fazendo parecer mais jovem e inocente. E eu tive certeza absoluta do que eu iria dizer. Respirei fundo. - Eu te amo, . Te amo faz tempo, mas eu nunca consegui te dizer. Então, sempre que você precisar de mim, para qualquer coisa, eu vou estar lá por você. - tomando fôlego novamente, eu me obriguei a falar de novo - Eu amo tanto você!
Sem me controlar, e sem pensar em fazê-lo realmente, juntei nossas bocas, dando o melhor beijo da minha vida. me puxou para mais perto, em uma tentativa de fundir nossos corpos, e com uma das mãos, ela puxava meus cabelos, me deixando louco. Eu não sabia o que fazia com as minhas mãos, então eu as movimentava pelo corpo da garota sem nenhum pudor. Sua boca tinha gosto de canela, e aquele beijo estava sendo bem interessante.
Pela falta de ar, dei atenção ao seu pescoço de pele alva, totalmente convidativo. Beijei a região calmamente, depois mordisquei o lóbulo. Ela, parecendo necessitada, guiou minha cabeça até juntar nossos lábios novamente, iniciando uma nova sessão de beijos quentes.
- , - me chamou com a voz rouca, tentando voltar a respirar novamente. Ela estava em cima de mim, totalmente desconcertada, mas não parecia se importar. Voltou a se sentar e eu me levantei, segurando-a no colo. Suas mãos voltaram a serem passadas pelo meu rosto, até que ela tomou fôlego - eu também te amo.
Aquilo foi o suficiente para meu coração disparar e eu sorrir como um idiota. Mas eu era realmente um idiota apaixonado.
Voltei a beijar os lábios de . Lábios que seriam os que, descobri depois, seriam os únicos que eu beijaria para o resto da minha vida.
Fim.
Nota da Autora: O que acharam? Eu acho essa short muito bonitinha e eu decidi divivi-la com vocês. Espero que vocês tenham gostado! Um beijo, Soh.
@heysofiia
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