sentiu algo vibrar debaixo de si e que a fez quase pular do sofá. Com um pouco de preguiça, ou melhor, lerdeza, ela tateou o sofá à procura do seu celular, que ainda continuava a vibrar incansavelmente.
Assim que o encontrou, apertou o botão que abria sua caixa de mensagens e forçou os olhos a se acostumarem com a claridade que o aparelho mandou diretamente em seu rosto.
Ao ler o nome “Katie”, ela apertou o mesmo botão para que pudesse ler a mensagem, sentindo que viriam problemas dali. Katie. Halloween. Festas. Não eram palavras que ficariam bem colocadas na mesma frase.
“Venha me buscar antes que eu faça alguma besteira. Estou bêbada e na casa de . Você sabe onde fica xoxo”
Depois de ler mais ou menos quatro vezes a mesma mensagem, ela conseguiu entender que sua melhor amiga, Katie, estava bêbada na casa do seu ex-namorado que estava dando sua festa anual de Halloween, a qual ela havia sido convidada. Mas, por falta de vontade de ser social, preferiu ficar em casa, ouvindo sua mãe atender a porta a cada cinco minutos para ouvir o famoso coro de “Doces ou travessuras”, que as crianças repetiam cada vez mais histéricas.
- Filha, atenda a porta para mim... – pôde ouvir sua mãe pedir da cozinha.
Um gemido abafado escapou de sua garganta involuntariamente só de pensar em ter que dar de cara com todas aquelas crianças. Não que não gostasse de crianças, porque ela gostava, sempre teve um grande apreço por cada um de seus primos e, quando menor, sempre pedia por um irmão. Mas suas esperanças foram por água abaixo quando seus pais se divorciaram, há seis anos. E, apesar de ter superado todo esse drama familiar, ela ainda sentia uma tremenda falta do pai. Apesar de tê-lo visto no Halloween passado, no qual ele a obrigou a assistir filmes de terror que a deixaram sem dormir direito por semanas.
- ? – sua mãe, que havia entrado na sala, chamou-a, e ela teve a certeza que não era a primeira vez que ela fazia. encarou sua mãe, que mantinha a testa franzida, e seus olhos extremamente castanhos olhando-a com preocupação. Ela odiava que a olhassem assim.
- Oi, mãe... – respondeu, colocando a mão dentro dos bolsos do seu moletom.
- Eu pedi para você me ajudar com a porta, você não ouviu? – perguntou, ainda com aquele olhar preocupado, fazendo querer se jogar pela janela. Mas reprimiu essa vontade, respondendo de imediato: - Na verdade... Katie pediu que eu fosse buscá-la, ela, provavelmente, deve estar bêbada a uma hora dessas, a senhora não quer que nada aconteça com ela, não é mesmo? – perguntou no seu tom mais inocente, o qual sempre convencia sua mãe. Ela recebeu um olhar desconfiado da mãe, mas manteve sua pose para que ela não negasse sua saída.
- Não, não quero. Vá buscá-la e a traga para cá.
- Tudo bem. – respondeu, indo até ela para somente dar-lhe um beijo no rosto e sair rumo às escadas.
entrou em seu quarto e foi em direção a seu armário, pegou seu casaco pesado e vestiu o mesmo. Caminhou até ficar em frente a seu espelho e tirou o elástico do cabelo, fazendo com que a grossa camada de fios voasse até parar no meio de suas costas. Logo depois, levou os dedos ao mesmo, levemente, para que não desmanchasse os cachos que se formavam na ponta, naturalmente. se observou mais uma vez, não se agradando muito das olheiras que se formavam embaixo dos olhos, mas não perderia seu tempo tentando esconder aquilo, somente iria até à casa de , pegaria Katie e a traria de voltar para casa, e esperava que isso demorasse apenas alguns minutos, e que, de preferência, não topasse com nesse trajeto.
A ruptura ainda era recente e estava tentando se acostumar com o fato de que seu doce havia voltado a ser o “Quebrador de Selo” da escola, ou melhor, que nunca havia deixado de exercer esse cargo, já que ele havia feito isso com ela. E, em menos de dois meses! Fazendo-a se sentir uma completa idiota por ter caído na laia dele, afinal, desde o começo, ela sabia que ele tinha essa fama de “usar e depois jogar fora” e se perguntava o que ele havia feito para achar que ele estava realmente mudado, quando, na verdade, continuava o mesmo de sempre.
respirou fundo, tentando se preparar psicologicamente para ir até a casa de e, depois de alguns minutos, ela já estava do lado de fora de sua casa, indo em direção ao seu carro, perfeitamente estacionado na pequena garagem.
Abriu a porta do motorista e, praticamente, jogou-se para dentro do carro, tentando se livrar daquele frio que ela nomeara como: “Frio maldito”. relaxou no banco de couro do carro e ligou o som do carro, colocando para tocar o CD do Kings Of Leon e levou a chave até a ignição, ligando o carro logo em seguida.
dirigiu por todo caminho batucando os dedos pelo volante e cantarolando a música que tocava. Por alguns minutos ela conseguiu relaxar.
estacionou seu carro em frente à casa de e o ar lhe faltou ao olhar para a decoração extremamente tradicional de Halloween. Ainda de dentro do carro, ela pôde ver as luzes escuras piscando, uma música altíssima e os gritos histéricos de algumas meninas, que provavelmente, estavam sendo assustadas. Um gemido sôfrego escapou entre seus lábios só de pensar em entrar naquele lugar. Era completamente assustador e ela tinha medo.
Depois de respirar fundo pelo menos umas cinco vezes, abriu a porta do carro, sentindo um vento frio invadir o veículo todo, fazendo-a puxar a porta de volta num susto. Seus músculos se enrijeceram de imediato e seu corpo passou a tremer ao mesmo tempo em que sua respiração formava uma fumaçinha cada vez que ela expulsava o ar de seu pulmão. respirou fundo novamente e, dessa vez, saiu do carro batendo a porta logo em seguida. Encarou novamente a enorme casa e enfiou as mãos no bolso de seu casaco pesado, na tentativa de esquentá-las e repassou seu plano mais uma vez.
“Achar Katie. Pegá-la. Levar para casa”.
Não seria tão difícil, certo?
forçou seus pés a caminharem e, quando se deu conta, já estava pisando na grama do jardim dos , que se encontrava vazio, provavelmente, por causa do frio. continuou caminhando até chegar à grande porta de madeira e, quando tirou a mão direita do casaco para batê-la, viu a luz do poste piscar. olhou para trás, um pouco assombrada e com a respiração falha, para tentar ver se tinha alguma coisa, ou alguém, na rua, mas não tinha ninguém; a rua estava vazia e a luz do poste continuava iluminando do jeito que devia. riu de si mesma, pensando que, provavelmente, estava vendo coisas, já que sempre foi medrosa demais, e o fato de ser Halloween não ajudava muito sua sanidade em manter-se intacta. Todas aquelas fantasias, gritos e filmes de terror a deixavam extremamente nervosa e com medo, tinha fobia a esse tipo de coisas e tentava se manter em casa durante os dias festivos. Não lhe fazia bem ver todos aqueles esqueletos e abóboras que, segundo ela, tinham um sorriso diabólico.
bateu à porta pelo menos sete vezes, não sendo respondida em nenhuma delas, então, levou sua mão, trêmula pelo frio, até a maçaneta da porta, sentindo sua pele se arrepiar com a baixa temperatura da mesma. girou a maçaneta e abriu a porta da casa, deparando-se com um monte de pessoas que corriam e dançavam uma música altíssima de rock, todos fantasiados de forma assustadora enquanto bebiam sob uma luz roxa que piscava sem parar.
tentou ao máximo ignorar o fato de estar tremendo de medo por dentro e adentrou a casa, caminhando até o corredor que lhe parecia claustrofóbico. Enquanto passava, foi assustada por diversos caras do terceiro ano, que cheiravam a cerveja e a suor, fazendo seu estômago embrulhar. Apressou o passo, tentando sair do meio daquele monte de pessoas que se alojavam ali, e passou os olhos por toda sala à procura de Katie, mas ela mal podia enxergar por conta da luz, que insistia em piscar, deixando o ambiente mais assustador ainda. apertou os olhos, forçando a visão para que pudesse ver quem era quem naquela sala e se Katie estava ali.
Após passar os olhos diversas vezes sobre o lugar, percebeu que Katie não estava ali e sim um bando de garotas fúteis, que usavam lingerie como fantasia. não conteve o revirar de seus olhos, era patético ver como elas se portavam e se vestiam para conseguir um homem, como se precisassem deles para viver.
desistiu de observar as garotas e foi caminhando até a escada, subiu dois degraus, ainda percorrendo os olhos pela sala e por conta disso sem querer bateu em alguém, logo sentindo um líquido gelado descer de seu colo até sua barriga.
Um gemido sôfrego saiu por sua boca quando sentiu o líquido percorrer por sua pele e sentiu frio apesar de estar em uma casa cheia de calor humano e de ainda estar com seu casaco pesado.
- Senti falta desse som!
ergueu a cabeça imediatamente, logo após ouvir a voz de ser pronunciada perto demais dela. limitou-se a bufar, afinal, ele tinha estragado completamente seu plano ao dar de cara com ela.
- Vejo que mudou de ideia sobre vir à minha festa. – disse e não conseguiu controlar sua vontade de ser grossa, usando o tom mais rude que tinha:
- Não, eu não mudei de ideia sobre sua festa idiota.
- Então, o que está fazendo aqui? – perguntou, arqueando a sobrancelha enquanto um sorriso convencido dançava no canto de seus lábios extremamente convidativos.
- Não que eu deva satisfações a você, mas Katie me mandou uma mensagem dizendo que estava aqui e me pediu que eu viesse buscá-la. – cruzou os braços sobre o peito, esquecendo-se de sua blusa encharcada de cerveja, provavelmente.
- Acredito que Katie conseguiria mandar mensagem até em coma. – riu descontraído, fazendo olhá-lo enfezada, ela não gostava nem um pouco do seu tom de voz sempre tão... Sarcástico.
- Não me importo com o que você acha, só me diga onde ela está para que eu possa ir para casa trocar minha blusa que você acabou de molhar.
- Olhe, , eu realmente não sei onde ela está. Mas tenho certeza que está se divertindo. – disse calmo, fazendo bufar impaciente.
- E, quanto à sua blusa, eu posso ajudar...
não o deixou terminar e já foi o respondendo com sarcasmo:
- Tirando-a, presumo.
- Eu nem tinha pensado nisso, mas já que você comentou... – ele respondeu ainda mais brincalhão do que antes, fazendo revirar os olhos mais uma vez. - Mas, enfim, não era essa a minha ideia.
- E qual seria sua ideia? – perguntou impaciente. Só queria sair dali com Katie e voltar para seu macio sofá, que parecia mais um sonho impossível agora que continuava em sua frente.
- Eu ainda tenho uma blusa sua aqui, está lá no meu quarto, se você quiser nós podemos ir lá e...
- Nem pensar. Você vai lá, pega minha blusa e eu fico esperando aqui.
- Claro, para você fazer um topless para todo mundo na hora que for se trocar. Eu iria adorar.
- Tudo bem, eu vou. – se deu por vencida, já que ele tinha razão. Não teria como se trocar ali, no meio daquele tanto de gente.
- Escolha inteligente, . – declarou, segurando sua mão e a puxando escada acima rapidamente.
Após desviar de dezenas de pessoas, e conseguiram parar em frente ao quarto de .
- Eu realmente espero que seus pais te matem por fazer uma festa tão grande. – disse enquanto tirava uma chave do bolso e abriu a porta do quarto.
- Eles só voltam semana que vem, dá tempo de limpar tudo até lá. – deu um sorriso sapeca enquanto puxava para dentro do quarto e trancava a porta em seguida. olhou assustada.
- Por que trancou a porta?
- Para evitar que um casal entre aqui e se pegue na minha cama, acredite, não é legal dormir numa cama que foi molhada pelos outros.
- Que nojo. – o rosto de torceu em uma careta e riu divertido. Ele gostava dela.
Gostava do modo como ela ficava quando sorria e sentia uma sensação estranha no estômago. Talvez fossem borboletas. não sabia, nunca tinha sentido aquilo antes, e, numa tentativa falha de disfarça o quanto ficava abalado com sua presença, ele preferia fazer piadinhas que na maioria das vezes envolviam teor sexual, que por acaso ela odiava, e sempre acabava com uma vermelha e um tapa no braço.
- Como se você nunca tivesse molhado uma cama! - fez piada, recebendo um tapa forte de .
- Argh! Você é um nojento, . Me dê logo minha blusa que eu preciso achar Katie! – resmungou, sentindo suas bochechas queimarem por conta do atrevimento de . Ele não tinha um pingo de vergonha sobre o que havia acontecido entre os dois, mas ela tinha. E muita. nunca tinha tido um relacionamento tão íntimo com um garoto antes de , e vê-lo falando assim tão na cara dura sobre a primeira experiência sexual dos dois juntos era para lá de vergonhoso.
acompanhou com o olhar enquanto ia até seu guarda roupa e pegava sua blusa azul escura que ela havia deixado ali na primeira vez que dormiu em sua casa. voltou-se para ela e levou a blusa até a ponta de seu nariz, cheirando-a enquanto sorria um tanto quanto malicioso.
- Me dê isso aqui. – puxou a blusa de suas mãos sem um pingo de delicadeza e virou as costas para ele, indo direto para seu banheiro, trancando a porta na chave logo que entrou. Não queria ter que dar de cara com ali dentro, porque ela tinha completa certeza de que ele tinha coragem de entrar ali.
encarou seu reflexo no espelho enquanto tirava seu casaco pesado e encarava sua blusa encharcada, a qual ela tratou de se livrar logo, dando graças a Deus logo que percebeu que seu sutiã não havia molhado também. pegou a blusa que lhe deu e vestiu, tirando a conclusão de que passaria frio. observou a blusa lembrando que havia ganhado de seu pai no natal passado, ela havia chegado pelo correio e, depois de abrir seu presente, correu para ligar para agradecer o presente e depois ficou horas contando seus planos de ano novo para seu pai.
foi interrompida de seus devaneios ao ouvir bater à porta.
- , morreu aí dentro, foi? – perguntou, rindo divertido, e revirou os olhos mesmo sabendo que ele não iria ver e limitou-se a responder: - Não. Já estou saindo!
encarou seu reflexo mais uma vez no espelho e jogou um pouco de água no rosto, secando logo em seguida com a toalha de rosto verde clara que tinha ali. Pegou sua blusa e seu casaco, ambos molhados, e abriu a porta do banheiro, saindo do mesmo e encontrando com um sentado em sua cama, a sua espera.
- Achei que tinha descido com a descarga. – disse brincalhão, levantando-se e vindo em sua direção, estendo-lhe um copo de plástico vermelho.
- Me dá isso aqui. – pegou sua blusa e o casaco, colocando em cima de suas roupas sujas e se virou para ela. - Quer? – perguntou, referindo-se ao copo, e respirou fundo, sentindo seu perfume cítrico cada vez mais perto. - Não, obrigada.
- Desculpa, me esqueci que você é fraca com bebidas. E que foi por isso que te levei pra cama.
- Ah, , me ajuda a encontrar Katie, preciso levá-la para casa. – pediu, sem se importar com o seu comentário grotesco. Se ela não se importasse, não enlouqueceria de raiva.
- Tudo bem, você fica aqui e eu vou procurá-la.
- Por que não posso ir junto? – perguntou, encarando-o.
- Se quiser pode vir, mas eu sei que você tem medo do Halloween. – riu da desgraça de .
Era de fato verdade, tinha medo do Halloween. Afinal, quem com o psicológico em perfeita faculdade gostaria de uma festa que comemora a vinda dos mortos? Ninguém! E, só de pensar que alguém gostava daquela festa, deixava enojada e arrepiada.
- Tudo bem, eu fico. – deu-se por vencida porque não queria que passar pela mesma coisa que passou pelo corredor há alguns minutos.
- Traga ela para cá assim que encontrá-la. – pediu e sorriu por vê-la assim tão necessitada dele. Há tempos não via aquela cara de desespero que ela fazia sempre que lhe pedia alguma coisa, e ele gostava de vê-la submissa a ele de alguma forma.
- Eu me voluntariei para encontrá-la, para trazê-la para cá. Eu preciso ganhar algo em troca. – disse malicioso.
- O que você quer? – perguntou entediada.
- Hum... Eu quero...
- Pense no que você quer enquanto procura a Katie. – o empurrou para fora do quarto, fechando a porta na chave logo em seguida.
encarou o quarto entediada e preocupada ao mesmo tempo. A situação de não saber onde Katie estava deixava apreensiva e se perguntando se algo de ruim tinha acontecido com a amiga. Era inevitável e extremamente comum ficar preocupada com Katie, já que ela sempre se metia em confusões e , como a boa amiga que era, sempre lhe ajudava nas enrascadas que ela se metia, que era desde buscá-la bêbada em uma festa até ajudá-la a fugir de casa quando Katie estava de castigo. E sabia que não era certo ajudar a amiga a fazer esse tipo de coisa e já havia falado milhares de vezes para Katie isso, mas Katie era assim, destemida, e não tinha medo do perigo. E por mais que às vezes negasse, queria ser assim também. Queria ser capaz de fazer esses tipos de loucuras adolescentes sem sentir remorso pelos seus pais ou por ela mesma.
rondou o quarto de procurando algo em que pudesse prender sua atenção e afastá-la de Katie só por um momento. foi até a cômoda de , pegou seu perfume, borrifou um pouco no pulso e levou até a ponta do nariz, sentindo seu perfume característico entorpecê-la. fechou os olhos, ainda sentindo o doce perfume, e não impediu que sua mente a levasse de volta para . Ela ainda era apaixonada por ele! E isso era tão óbvio que ela sentia raiva de si mesma, porque era visível que ele não sentia o mesmo. E nem via o porquê de isso acontecer. Afinal, ela nem era tão bonita assim, não tinha os olhos claros e nem o corpo perfeito como os das outras meninas do seu colégio. E se perguntava o que raios havia visto nela. não era nada demais, era uma garota normal. Já não era um cara normal. tinha os olhos mais brilhantes que havia visto na vida e o modo como ele a abraça a fazia se sentir mais segura do antes já esteve.
colocou o perfume de volta e remexeu nas gavetas dele, encontrando a gaveta das cuecas, que estava abarrotada de camisinhas. não conteve seu revirar de olhos, era mesmo um pervertido nojento.
fechou a gaveta antes que ele chegasse ali e a visse olhando suas cuecas, não seria legal ter que aguentar suas piadinhas do tipo: “Se quisesse ver minhas cuecas era só pedir”. Ela não suportaria.
se arrastou até sua cama e se jogou sobre a mesma, sem um pingo de delicadeza, e abraçou seu travesseiro, sentindo seu cheiro característico, o mesmo que ainda cheirava em seu pulso, lhe entorpecer mais um pouco.
sentiu suas pálpebras pesarem e as forçou a se manterem abertas, mas foi em vão, o cansaço foi maior e logo sua respiração se tornou calma e ela dormiu.
acordou num surto com a música alta ainda se fazendo característica no ambiente. Ainda estava no quarto de , abraçada ao seu travesseiro e completamente suada e desnorteada. tentou organizar seu pensamento e percebeu que não havia voltado e que, provavelmente, ainda não teria achado Katie.
levantou-se e foi até o banheiro, jogou um pouco de água no rosto e foi em direção à porta do quarto, ela mesma iria procurar Katie e depois iria embora.
girou a chave na maçaneta, abrindo a porta e em seguida saindo do quarto, virando-se para fechar a porta novamente com a chave e enfiá-la no bolso para que pudesse entregá-la para depois.
se afastou da porta e, sem querer, esbarrou em alguém, dando graças por a pessoa não estar segurando nenhum copo de bebida como quando aconteceu com em poucos minutos.
- Desculpe... – disse envergonhada pela sua própria falta de talento para se conduzir sem esbarrar nas pessoas.
- Desculpe, eu não queria esbarrar em você, eu sou o Norman. Norman Bates! – encarou a figura a sua frente e sentiu uma fisgada no estômago ao encarar olhos castanhos que a olhavam ternos. passou os olhos por sua figura novamente, observando sua camisa listrada azul clara e sua calça também azul, e o modo que sua mão era estendida em sua direção. voltou a raciocinar normalmente depois do susto e sorriu para ele, apertando sua mão como os bons modos empregavam.
- Está tudo bem, Norman. Eu sou a ! – cumprimentou nervosa, sentindo o toque de sua mão fria fazendo toda a extensão de seu braço se arrepiar. não pensou duas vezes em largar a mão dele para sair logo dali. Ele a deixava nervosa.
- Prazer em conhecê-la, . – lhe respondeu risonho.
- O prazer é meu, mas eu realmente preciso ir, preciso encontrar . – tentou sorrir, mas pareceu mais uma careta e se xingou em pensamento por não conseguir nem ao menos forçar um sorriso.
- ? Meu primo?
- é seu primo? – perguntou surpresa e podia jurar que seus olhos estavam arregalados. nunca havia lhe falado sobre um primo chamado Norman. Ele nunca havia lhe falado sobre primo algum!
- Sim. Sou filho da irmã do seu pai. Ele nunca te contou? – Norman perguntou interessado olhando com aqueles olhos misteriosos e hipnotizantes.
- Não. Ele nunca me disse que tinha um primo. – sorriu nervosa, passando os olhos pela sala.
- Ele deve ter se esquecido de contar, afinal, nós só nos vemos no Halloween.
- Por que o Halloween? – perguntou, sentindo um frio subir na sua espinha.
- É a época do ano que eu mais gosto, a única época em que eu posso sair. – disse, enfiando a mão dentro do bolso da calça e tirando um saquinho de papel de dentro.
- Quer? – lhe estendeu algo que imaginou ser uma balinha.
se perguntou que tipo de nerd esquisito Norman era para guardar balas no bolso da calça. Aquilo não era muito comum para as pessoas normais, muito menos para as normas higiênicas.
- Não, obrigada. – tentou sorrir de novo, saindo mais confiante dessa vez, e voltou a olhar o corredor à procura de , Katie ou os dois juntos.
- Está procurando alguém além de ? – perguntou e, mesmo que não o encarasse, ela sentia seus olhos sobre ela.
- Minha amiga. foi procurá-la para mim. – explicou.
- Não creio que esteja por aqui... – disse, levando a mão de volta ao bolso junto com o saco de balas.
- Muito menos eu. Vou procurá-lo. Foi um prazer te conhecer, Norman. – ela acenou com a cabeça e começou a andar na direção oposta de Norman.
- Espera! – sentiu Norman caminhar até onde ela estava, fazendo-a prender a respiração, tensa.
se virou para encarar de novo aquele par de olhos castanhos que ela diria ser até psicótico.
- Posso te ajudar? – Norman perguntou enquanto um sorriso inocente pintava no canto de seus lábios. estremeceu com aquilo.
- Eu não sei... – procurou algo que pudesse impedi-la de aceitar a ajuda de Norman, mas não existia. Além do fato de que ela sentia uma pitada de medo dele, não havia nada que o impedisse de ajudá-la.
- Tudo bem, uma ajuda é bem vinda. – forçou um sorriso novamente.
- Obrigado. Eu gostei de você. – Norman comentou, colocando mais uma bala na boca enquanto caminhava ao lado de em direção as escadas de um jeito um quanto delicado e se perguntou se ele era gay. Que antes fosse, pelo menos não tentaria abusar sexualmente dela.
- Por quê? – ergueu sua sobrancelha direita, surpresa com seu comentário.
- Você é gentil, bonita e é namorada do . – Norman sorriu um tanto quanto gentil.
- Ah não, não sou namorada dele. – respondeu nervosa. Será que ainda dava impressão que ela e ainda namoravam? Para Norman deveria dar, já que ele havia a pegado saindo do quarto de um tanto quanto de sorrateira.
- Não é? – foi a vez de Norman erguer a sobrancelha, colocando mais uma bala na boca, e se perguntou se ele comia doces assim frenquentemente, ou se era somente um dos efeitos do Halloween.
- Na verdade, sou ex-namorada, nós terminamos já tem uns dois meses. – contou enquanto segurava no corrimão e começava a descer pelos degraus.
- Por que terminaram? – Norman perguntou quando terminaram com os degraus.
- Bem, ele conseguiu o que queria e terminou comigo, é sempre assim... – declarou com um semblante mais triste do que gostaria que parecesse.
- Me desculpe por falar dele assim. – se desculpou assim que se deu conta de que havia acabado de falar mal de na frente do primo dele.
- Tudo bem, eu sei que ele é assim. – Norman disse quando eles retornaram a andar pela sala com sempre à procura de Katie com os olhos.
- E sinto muito que ele tenha feito isso com você. Você não merecia. – Norman adicionou, carinhoso.
- Obrigada, Norman. – sorriu dessa vez por livre e espontânea vontade.
Norman era gentil e, até agora, estava a tratando melhor do que alguns caras da escola que ela conhecia há anos e isso era difícil de encontrar por ali. Digamos que os garotos de seu colégio não eram tão legais com ela e sempre tiravam sarro, fazendo piadinhas sobre ela, e tinha melhorado quando ela começou a namorar . Não que eles começaram a tratá-la com respeito, porque isso não aconteceu, mas eles pararam de fazer piadinhas e cochichos a cada vez que ela passava por eles na entrada do colégio. Algo que não acontecia com Katie, já que ela era um tanto quanto popular e bonita, suas roupas sempre estavam impecáveis e seus cabelos ruivos andavam sempre esvoaçantes, anunciando sua chegada.
- Então, me diz como é sua amiga para que eu possa te ajudar a procurá-la. – Norman pediu, fazendo com que voltasse sua atenção a ele.
- Bem, ela é alta, tem os cabelos grandes e ruivos, tem olhos claros e provavelmente está bêbada. – ditou e Norman riu.
Sua risada soou perto do ouvido de e ela estremeceu ao ouvir o som que ela considerou macabro, como aquelas risadas de filme de terror barato. balançou a cabeça em negação. Tudo para ela estava macabro e assustador e ela culpava o Halloween por isso. Maldita festa.
- Acho que ela não está aqui. Tem alguma ideia de com quem ela esteja? – Norman perguntou, encarando , que ainda estava paralisada pela sua risada.
- ? Está tudo bem? – Norman perguntou, tocando seu braço com sua mão extremamente fria.
- Está, eu só... Vamos procurá-la lá em cima, ela não deve estar por aqui. – pediu, sentindo-se novamente incomodada pelas fantasias e os gritos histéricos das garotas.
- Tudo bem. Vamos. – Norman confirmou e ele e se guiaram degraus acima novamente.
- Já procurou no terceiro andar? – Norman perguntou.
- Na verdade, eu nunca nem entrei lá. – negou.
- Então vamos, talvez sua amiga esteja lá. – Norman deu de ombros, indo até a escada, e foi atrás.
Ao chegar ao terceiro andar, se deparou com dois longos corredores muito bem iluminados pelas luzes que estavam todas acesas.
- Eu vou por esse lado e você vai por esse para que a gente a encontre mais rápido. – Norman disse e confirmou com a cabeça. observou Norman caminhar em direção ao corredor indicado para ele e depois adentrar uma das portas que havia ali.
sentiu seus músculos ficarem rígidos ao olhar para o enorme corredor que estava a sua frente, o qual estava completamente vazio, somente sendo preenchido pela música alta que continuava a tocar no andar de baixo. continuou encarando o corredor extenso que era por inteiro iluminado com luzes fortes que faziam os olhos dela arderem. respirou fundo, procurando coragem para fazer com que seus músculos trêmulos adentrassem o corredor. Argh, por que tinha que ser tão medrosa? Ou melhor, tão covarde.
respirou fundo novamente, dessa vez com coragem o suficiente para adentrar o corredor e assim o fez, dando alguns passos em direção à primeira porta, mas parou no meio do caminho por conta da luz que apagou, deixando o corredor por completo na escuridão. prendeu a respiração, sentindo seu coração se acelerar e suas pernas falharem de medo. Seu medo tomou mais proporções pelo seu corpo assim que ouviu o ranger da porta ser fechada e uma música que mais parecia ser um ringtone de celular macabro começar a preencher o silêncio que agora era tomado pelo corredor. Seu coração batia violento contra sua caixa torácica, de modo que ela podia senti-lo querer sair pela boca.
A luz voltou a ser ligada, mas logo em seguida apagou, o que aconteceu três vezes. Aquilo só poderia ser umas das brincadeiras de Halloween, uma brincadeira muito sem graça com ela. E se pegasse que estava fazendo aquilo, não seria muito delicada.
- Quem está ai? – perguntou com a voz trêmula quando a luz voltou a iluminar o corredor, apagando novamente logo em seguida.
- Pare com isso, não tem mais graça! – sentia que estava a ponto de começar a chorar, estava apavorada e só queria que o autor daquela brincadeirinha de mau gosto aparecesse para que ela pudesse sair dali.
O ar voltou com rapidez para os pulmões necessitados quando a luz voltou a ligar, mantendo-se acesa dessa vez, e ela encarava o seu redor atônica, procurando um jeito de sair dali. A porta próxima a ela rangeu e seu coração disparou quando ela encarou a figura de Norman parado a sua frente, vestindo um vestido florido com uma peruca longa e de tom grisalho e com um sorriso doentio desenhado em seus lábios. Seus olhos a encaravam de forma possessiva, como se quisesse um pedaço dela.
deu um passo para trás, apavorada não somente pelo seu olhar, mas também pelas suas vestimentas.
- Não tenha medo, querida. – suas palavras foram pronunciadas num tom de voz suave, como uma senhora de idade que fala com seu neto.
Norman começou a vir em sua direção e começou a caminhar para trás, sentindo o medo fazer com que suas pernas tremessem.
- Fica longe de mim. – disparou, ameaçando sair correndo a qualquer instante e Norman sorriu daquele jeito que a deixava arrepiada. Norman pareceu não ligar para seu pedido e continuou vindo em sua direção, fazendo prender a respiração, tensa.
- Eu já disse pra ficar longe de mim. – o empurrou quando ele parou a sua frente.
Norman voltou a encará-la, dessa vez com uma raiva que ainda não tinha presenciado, fazendo-a engolir seco.
Norman voou em sua direção, segurando seu pescoço com força, fazendo-a esmurrá-lo para que pudesse respirar de novo. levantou seu pé até a altura do joelho de Norman, dando-lhe um chute ali e fazendo com ele soltasse seu pescoço logo em seguida, gemendo de dor.
não pensou duas vezes antes de começar a correr corredor a dentro e não demorou muito para ver que Norman corria atrás dela com os olhar que transbordava raiva.
forçava seus pés a irem cada vez mais rápido, mas eles já estavam sem força e desgastados e Norman estava se aproximando cada vez mais rápido. O medo borbulhava em seu sangue quente, que corria sem piedade por suas veias frágeis, fazendo seu coração bater forte contra suas costelas, deixando-lhe cada vez mais sem ar. Ela não escaparia, podia sentir. Não tinha chances de conseguir fugir de Norman e não queria nem ao menos imaginar como acabaria quando ele a alcançasse.
A temperatura baixou bruscamente de uma hora pra outra, tão bruscamente que achou que suas pernas não aguentariam mais e que ela iria cair ali a qualquer minuto, fazendo-a colocar mais força ainda em seus músculos, aumentando a velocidade de seus pés sobre o chão de madeira.
de longe avistou umas das portas abertas e sua luz acesa. Talvez fosse sua salvação!
- Socorro! – forçou mais uma vez sua garganta, segurando-se para não olhar para trás para dá de cara com o macabro Norman, que seguia correndo atrás dela.
- Alguém me ajuda! – continuou olhando e correndo em direção ao quarto, esperando que a qualquer momento alguém que estivesse ali dentro aparecesse e a salvasse. Mas parecia que ninguém, absolutamente ninguém, dentro daquele maldito quarto parecia ouvir suas súplicas desesperadas por ajuda. forçou as pernas novamente, correndo até chegar ao quarto, deparando com o mesmo vazio. Não havia ninguém ali. Num reflexo rápido ela levou a mão até a porta, forçando-a a fechar, mas antes que conseguisse, Norman chegou até ela e a forçou na direção contrária, fazendo-a se abrir novamente e cambaleou para dentro do quarto enquanto encarava a figura mórbida de Norman, que ainda carregava sua fantasia macabra. continuou andando para trás até chegar numa mesa de canto que havia no lado direito do quarto. Estava encurralada. Tudo tinha acabado. Ela iria morrer ali. Norman iria matá-la, ela sabia disso. Mas, mesmo assim, seu coração ainda queria lutar, mesmo o corpo já lhe dando sinais de pura rendição. levou sua mão direita até um abajur que se encontrava no meio da mesa e, sem pensar duas vezes, atirou contra Norman, que cambaleou, deixando cair seu saco de balas, as quais se espalharam pelo chão.
tomou fôlego e correu em direção ao banheiro, que se encontrava do outro lado do quarto, passando por Norman, que ainda se recuperava da pancada que levara. continuou correndo até que pisou no cadarço desamarrado do seu tênis, caindo próxima à cama de casal, que se encontrava exatamente no meio do cômodo.
sentiu uma dor fina tomar conta de seu tornozelo e se apanhou na cama para poder levantar e continuar seu trajeto, mesmo com seu tornozelo aparentemente torcido. deixou escapar um gemido sôfrego ao dar o primeiro passo em direção ao banheiro, sentindo seu tornozelo desaprovar a movimentação, mas mesmo assim ela continuou até entrar no banheiro e empurrar a porta, até que Norman viesse impedi-la novamente.
empurrava com força, mas era fraca demais em comparação com Norman e novamente sentiu suas esperanças escorrerem pelos seus dedos como areia que se esvaíra da mão de uma pessoa. Norman colocou mais força no seu empurrão, fazendo com que a porta se abrisse com força e cambaleou para trás, andando de costa e sentindo novamente que aquele era o fim.
- Não tenha medo, querida. – Norman repetiu, naquele mesmo tom de voz que se igualava com o som de uma mulher idosa falando e logo em seguida levou as mãos ao colo de , empurrando-a para trás. sentiu uma dor enorme na cabeça assim que caiu junto à parede e não demorou muito para sentir um líquido molhar sua blusa azul escura. Em um movimento lento, ela levou a mão ao lugar de onde vinha a dor, molhando os dedos trêmulos e levando até a frente dos seus olhos para que ela visse o líquido vermelho escorrer pela sua mão.
Sangue. Seu sangue.
levou a sua mão até a parede, na intenção de se levantar e sair dali, mas não conseguiu se apoiar, estava fraca e sua mão somente escorregou pela parede, deixando por onde passava um rastro vermelho de sangue pela parede extremamente branca do banheiro, ficando cada vez mais tonta. O ar parecia pesado, começando a entrar cada vez mais lento e devagar por seu nariz enquanto ela ainda encarava a mancha que seu sangue fazia sobre a parede branca do banheiro. sentiu a temperatura de seu corpo se esvair assim como o sangue de seu corpo e sua visão foi perdendo o foco e aos poucos a realidade ao seu redor foi desaparecendo e Norman vindo em sua direção foi a última coisa que viu antes de apagar.
acordou com a luz forte do banheiro vindo diretamente ao seu rosto, fazendo sua cabeça latejar. Ao forçar seus olhos a se abrirem, percebeu que ainda estava sentada no chão do banheiro do mesmo jeito que ela se lembrava antes de apagar. Não sabia como ainda se encontrava viva, e muito menos onde estava Norman. Mas isso ela preferia ficar sem saber. Ao lembrar-se dele, um grito apavorado quis escapar de sua garganta, mas ela o conteve e abraçou os joelhos, sentindo as lágrimas ameaçarem cair de seus olhos e isso ela não impediu que acontecesse. chorava como um criança que havia se perdido da mãe no parque e não sentia a mínima vontade de parar enquanto olhava ao redor, buscando uma resposta para o que tinha acontecido, tendo quase certeza de que aquilo não havia sido uma brincadeira de Norman.
ouviu uma voz conhecida lhe chamar e ela levantou o olhar ao reconhecer a voz de .
- ! – disparou, entrando no banheiro apavorado ao ver sentada no chão abraçando os joelhos e chorando baixinho.
- O que foi que aconteceu? Alguém te assustou, foi isso? – correu até seu lado, abaixando-se até que pudesse vez seu rosto pálido com perfeição.
- Oh, ... – o abraçou com as mãos trêmulas enquanto afundava seu rosto no pescoço de , chorando mais um pouco, ainda apavorada.
- Alguém te assustou? – perguntou novamente, só que dessa vez afagando seus cabelos.
- ! – ouviu uma voz conhecida e tirou seu rosto do pescoço de para encarar Katie, que lhe observava com os olhos arregalados.
- Meu Deus, Katie, onde você estava? Eu te procurei por todo canto! – disparou com a voz fraca, consequência dos seus gritos de pavor.
- Eu estava no hospital com meu pai, ela quebrou o braço quando caiu da escada. – Katie se aproximou assim como , que ainda abraçava de lado, e observou seus cabelos naturalmente ruivos se esvoaçarem a medida que ela caminhava.
- Mas você me mandou uma mensagem, pediu que eu viesse te buscar, disse que estava bêbada! – disse, percebendo o estado completamente sóbrio da amiga.
- Eu não te mandei mensagem! – Katie negou, encarando com olhos confusos.
- Mandou sim. Foi por isso que saí de casa, você disse que estava aqui.
- Eu não mandei mensagem alguma, o capeta do meu irmão jogou meu celular dentro da privada ontem, eu te falei isso, não se lembra?
- Mas eu tenho certeza que recebi uma mensagem sua, eu li, dezenas de vezes. – protestou indignada, não estava mentindo. Tinha recebido a mensagem de Katie e é por isso que ela estava ali.
- Não mandei mensagem para você, . – Katie respondeu, o mais calma que pôde.
- É claro que mandou, olhe... – juntou forças e tirou seu celular do bolso, indo direto até a caixa de mensagem, encontrando-a vazia. Não havia mensagem de Katie! Não havia mensagem alguma!
piscou os olhos algumas vezes, tentando entender a situação e, quando finalmente se deu conta do que tinha acontecido, provavelmente um par de minutos depois, ela se limitou a encarar Katie com os olhos desesperados.
- Eu tenho certeza de que tinha mensagem, uma mensagem aqui, Katie! – disparou desesperada. Ela não estava ficando louca, tinha plena certeza do que tinha visto e tinha de fato visto a mensagem de Katie, não estava enganada.
- E eu tenho certeza de que não te mandei nada. – Katie respondeu, ainda com um semblante calmo.
- Esquecendo essa maldita mensagem, como você veio parar aqui? – perguntou, interferindo na conversa das duas pela primeira vez.
- Vim com seu primo, Norman... – sentiu o característico frio da espinha voltar e ela se encolheu mais ainda nos braços de .
- Primo Norman? – perguntou confuso e assentiu.
- Sim, seu primo Norman, nós estávamos... – continuou, sentindo um aperto esmagar seu peito. Era horrível contar tudo o que aconteceu sem que se passasse em sua cabeça um filme lento e aterrorizante de tudo que aconteceu.
- , eu não tenho nenhum primo chamado Norman. – negou, encarando-a.
- É claro que tem, ele é filho da irmã do seu pai, vocês são primos! – disparou nervosa.
- , meu pai é filho único, não tenho primos por parte de pai, somente de mãe. – explicou e sentiu seus olhos se arregalarem mais uma vez. Não podia ser verdade, estava ficando louca? Era isso?
- Não pode ser, ele... – sussurrou fraca, tentando se manter sana.
- Não pense nisso agora, vamos sair daqui. – disse e Katie confirmou ao seu lado.
- Não consigo andar, meu tornozelo dói. – reclamou.
, sem pensar duas vezes, pegou-a no colo e abraçou seu pescoço, olhando para Katie, que estava atrás dos dois. Ao olhar para Katie, percebeu que a parede do banheiro onde estava encostada há poucos segundos estava extremamente limpa e não com o seu sangue, como ela se lembrava. Mas como poderia aquilo estar limpo se ela ainda sentia a dor do corte em sua cabeça? Como poderia Katie não ter mandado a mensagem quando ela mesma havia lido quase um milhão de vezes? E como poderia não ter um primo chamado Norman?
Era isso? Ela estava mesmo ficando louca? Era seu destino passar o resto de sua vida em um manicômio por causa de mensagens não enviadas, primos que não existiam...
não pôde segurar um gemido sôfrego ao imaginar sua própria sentença e a olhou preocupado.
- Está doendo tanto assim? – perguntou, entrando no quarto, mas não respondeu, não tinha forças para isso quando havia acabado de descobrir que era uma possível esquizofrênica.
a colocou sentada na cama de casal e pôde examinar todo quarto dali, não havia abajur quebrado e nem mesmo balas espalhadas pelo chão, tudo estava devidamente no lugar. gemeu quando levou a mão até seu tênis, lhe causando uma dor imensa no tornozelo.
- Acho que quebrou... – comentou.
- Vamos para o hospital. – Katie disse e pegou no colo novamente, saindo do quarto.
fechou os olhos para que não pudesse ver aquele corredor macabro de novo e só voltou a abrir quando estava no seu carro, o qual Katie ligou, levando todos em direção ao hospital.
Depois de muito chorar e gritar enquanto o médico colocava seu pé de volta no lugar, relaxou na cama de hospital que ela não achava muito confortável, mas como estava muito cansada, nem se importou com esse pequeno detalhe, só queria dormir um pouco. O que não aconteceu, já que uma enfermeira baixinha entrou no quarto com uma caixa na mão e sorriu para ela com um ar maternal.
- Uma pessoa deixou isso para você. – a enfermeira parou ao lado de , entregando-lhe a caixa.
- Sabe quem foi? – perguntou, olhando-a.
- Não. Abra e depois descanse um pouco, tudo bem?
- Claro. – confirmou e observou a enfermeira sair do quarto e logo voltou a encarar a caixa em suas mãos, puxando a fita que lhe rodeava logo em seguida.
Os olhos de se arregalaram ao encarar o vestido florido junto com a peruca grisalha, seu coração disparou e ela gritou, jogando a caixa no chão assim que terminou de ler o bilhete que tinha escrito com a caligrafia perfeita: