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Beta-Reader: Abby

Prólogo

“[...] eu não quero perder você agora, estou olhando diretamente para a minha outra metade.
O vazio que se instalou em meu coração é um espaço que agora você guarda.
Mostre-me como lutar pelo agora, e eu vou lhe dizer, foi fácil voltar para você, uma vez que entendi que você estava aqui o tempo todo.
É como se você fosse o meu espelho, meu espelho olhando de volta para mim.
Eu não poderia ficar maior com mais ninguém ao meu lado. E agora está claro como esta promessa que estamos fazendo, dois reflexos em um. Porque é como se você fosse o meu espelho, meu espelho olhando de volta para mim[...].” –
Mirrors, Justin Timberlake

1 – Uma antiga promessa
Paris, França, 1830


- Espere! – o rapaz alto dizia para a moça que corria atrevidamente à sua frente – Anne, espere!
Annemarie o olhava com aqueles olhos apaixonados e seguia correndo em direção ao bosque, que naquela altura da noite estava tão escuro quanto o céu.
- Venha, Jean, antes que nos peguem! – a menina de altura mediana ria baixinho de sua fuga com o amado, mas o que ela menos esperava era que aparecesse uma raiz de alguma árvore antiga que tinha saído do solo, fazendo a jovem cair.
- Anne! Você está bem? – Jean, com um pouco de preocupação, ajoelhou-se ao lado de uma Annemarie de bruços no chão negro do bosque. A moça virou-se para o rapaz e começou a rir, fazendo-o rir junto.
- Você é louca, Annemarie! – falou, enquanto segurava o queixo delicado da moça.
- Nós somos loucos. – ela respondeu ligeiramente, corada com o toque do rapaz.
Annemarie e Jean viviam um daqueles romances proibidos, tanto os pais de um, quanto os do outro eram contra essa relação. Não era de menos, pois os dois tinham pretendentes e as famílias não eram, digamos, “amigas”, tinham lá suas diferenças. Fazendo assim os jovens apaixonados terem esses momentos proibidos, com fugas pra lá e pra cá ao meio da noite.
Enquanto a jovem olhava nos olhos null intensos do rapaz, o mesmo mirava a boca naturalmente avermelhada da moça, desejando que seus lábios estivessem em contato imediato. Mas sempre tinha um ponto de preocupação.
- O que houve? – Anne perguntou a Jean ao ver sua expressão facial mudar radicalmente.
- Eu só estou preocupado – suspirou.
Com as duas mãos no rosto do rapaz, Anne disse a centímetros daquilo que ela chamava de rosto perfeito, olhando fundo em seus olhos null, do qual ela faria qualquer coisas para vê-los pela eternidade:
- Aconteça o que acontecer, eu estarei aqui. Eu te amo, Jean, e nosso amor quebra barreiras. – Jean abriu um sorriso torto, aquele sorriso torto que sabia que deixava o coração da jovem bater mais alto, como se fosse saltar pela garganta, em seguida a beijou ternamente, como se quisesse parar o tempo ali para sempre. Ele pressentia algo, e sua intuição não estava enganada. Apenas deixou uma lágrima rolar sem saber o motivo, e limpou-a antes que Anne visse. Ela estava confiante, seus olhos brilhavam como nunca, tinha planejado detalhadamente a fuga, mas o que ela não sabia era que o pai do rapaz sabia de tal rebeldia do filho. Jean esquecera um bilhete romântico caído em baixo de sua cama, sendo visto por uma criada que fora correndo contar ao patrão. Eles mal sabiam que aquilo seria um basta na relação proibida dos dois.
- Ouviu isso? – Jean perguntou, assustado, fazendo Anne rir de sua preocupação.
- Deve ser algum animal que vive aqui – ela sorriu, seu sorriso iluminava aquele ambiente sombrio, fazendo o rapaz perder qualquer noção de perigo.
- Eu te amo tanto – falou, puxando a moça para um beijo mais romântico e intenso que o primeiro, e sem recusar ela se pôs a beijá-lo com a mesma intensidade.
Um barulho forte ecoou pelo bosque, fazendo os pássaros, que estavam dormindo, acordarem e saírem em disparada. Jean interrompeu o beijo, olhando para os lados, não via ninguém na escuridão, mas o medo tomou conta de seu corpo, ele sabia que aquilo fora um tiro.
- Anne, venha! – ele exclamou, ainda com a moça em seus braços, mas ela o olhava como se não tivesse forças para se mover – Anne! – o rapaz reparou o sangue saindo da boca que ele tanto amava beijar – ANNE, NÃO!
- Eu também... te amo – Annemarie sussurrou com dificuldade – Me desculpe. – e foi por uns instantes que aquele olhar brilhante foi se apagando, enquanto, desesperado, Jean a sacudia, pedindo para ficar com ele como havia prometido, em meio a soluços e lágrimas.
Jean não sabia o que doía mais, ver os olhos da amada sem vida, sem o brilho que ele sempre amou, ou se vê-lo sem ela pelo resto da vida. O que seria dele agora? Uma metade dele se foi, e ele não poderia fazer mais nada do que sofrer ao lado do corpo que, agora, Annemarie não ocupava mais.
Chorando desesperadamente, o rapaz a abraçou pela última vez, suplicando suas desculpas, olhando para todos os cantos, querendo alguma pista de quem teria feito algo assim, mas nada. Nada além do silêncio. Limpando algumas lágrimas, ele lhe fez a promessa mais sincera que já havia lhe feito:
- Me espere, Anne, eu vou te encontrar. Me espere, meu amor, eu prometo!

NY City, Estados Unidos – Dias de hoje

Sozinha no mundo, assim que se via null pensando em sua vida de órfã. Desde que seus pais morreram teve que se virar, mas não sozinha, ao contrário do que ela pensa. Como menor, a justiça achou melhor colocá-la em um internato, um dos melhores, pois seus pais haviam deixado a ela uma bela herança, mas só podiam mexer nela seus tutores, dos quais null não tinha ideia de quem seriam. Não tinha e não tem. Se você está pensando que os tutores de null usufruem do dinheiro da moça, está enganado. Eles não podem tocar em nada do que é dela, apenas autorizam coisas, tais como a mensalidade de um do melhores internatos da cidade, o Highway Academy, entre outras coisas necessárias para uma menina que agora tem 18 anos.
As aulas estavam prestes a retornar, mas não tendo para onde ir, null ficava as férias no Highway, afinal, já que pagava uma fortuna por aquilo, devia ao menos aproveitar as férias que o internato proporcionava aos alunos que ficariam. Já estando na escola, ela mal tinha preocupações, apenas com o novo material, que era vendido no campus do Highway.
Desde os doze anos, a veterana frequenta o internato, sabendo de cabo a rabo do lugar, cada rosto era conhecido, por isso era fácil identificar os novatos. null não estava muito intrigada com sua nova turma, provavelmente um ou dois alunos entrariam, eram só essas vagas que restavam em sua sala. A conclusão que a garota chegou é “os mesmos babacas de sempre”. Não, null não é uma completa antissocial, ela tem dois melhores e únicos amigos, null e null. Os três são inseparáveis, como os três mosqueteiros do Highway Academy, cada um com seu estilo próprio: null, a que podemos chamar de geek, null, o esportivo, seu corpo não nos deixa mentir, e null. Bom, null é uma daquelas garotas que não se importam com frescuras, apesar da menina arrancar suspiros masculinos, ela faz do tipo durona, o que explica sua lista imensa de amigos.
- null, e seu uniforme? – null perguntou enquanto separava o dela.
- Ah, não sei, deve estar por aí. – a garota despreocupada respondeu, deitada em sua cama do dormitório.
O Highway era dividido em várias partes, e claro, os dormitórios também. Cada dormitório dava espaço para três alunos, sendo divididos em duas alas, uma feminina e outra masculina, para evitar conflitos hormonais, assim como todo internato.
- null, sério, as aulas começam amanhã! Qual é o seu problema? – a amiga lhe perguntava, intrigada com a falta de interesse.
- Sabe o que é, null? É que passa e entra ano e nada de interessante me acontece nesse lugar. – bufou – E o pior que tenho que aturar esses malditos imbecis, nem parecem adolescentes. Não sei o que seria de mim sem você e o null, sério.
null riu e teve que dar uma provocadinha no coração da amiga, que não entrava nenhum alfinete, quem dirá um cara que a faça ver o mundo cor-de-rosa, talvez fosse isso que null precisava.
- Calma, colega, aposta comigo vinte dólares que esse ano sua vida vai mudar. – null deu uma piscadela esperta, fazendo null revirar os olhos.
- Apostado, eu não acredito que vá mudar algo. – a menina disse, decidida, logo em seguida cuspiu na própria mão.
- O que é isso? – a outra perguntou com uma cara de nojo.
- Vai, cospe na sua – obedecendo, null cuspiu na palma da mão direita – É assim que faço apostas – null riu da cara contorcida da amiga, e num aperto selaram a aposta.
null não podia imaginar, mas sim, precisaria guardar vinte dólares para a amiga.
Uma batida quebrou o silêncio no quarto das meninas, elas eram as únicas naquele dormitório, a cama que sobrava seria de quem entrasse para o mesmo ano que estavam. Talvez fossem os últimos momentos das duas as sós no dormitório. Uma olhou nos olhos da outra, interrompendo a leitura antes de dormirem e ouviram uma voz conhecida.
- Será que sou um gay? – null entrou dormitório a dentro, com uma regata e calça moletom.
- Gay ou não, se alguém te pegar nessa área, vão capar o que tu chama de melhor amigo! – null jogou um travesseiro na cara do rapaz, fazendo-o rir.
- Não, digo, hoje estava me perguntando por que ando com meninas. – ele pôs-se a pensar novamente, enquanto null se levantava para fechar a porta antes que alguém o visse ali.
- Bom, se for julgar pelos meninos daqui, antes nós, divas e poderosas, do que aqueles babacas – null riu do comentário da amiga.
- Divas e poderosas? – null gargalhou, em seguida pôs as duas mãos na boca para não fazer barulho – Menos, null, menos.
- O que você veio fazer aqui, null? – a outra lhe perguntou, fazendo null questionar o mesmo.
- Não posso dar boa sorte para minhas meninas preferidas? – fazendo um bico, null pôs a mão na cintura.
- Okay, null, se você quer a resposta para a sua pergunta, sim, você é um gay. – null terminou, antes de receber seu travesseiro de volta na cara.
- Ownn – null suspirou – Agora sai daqui antes que te peguem aqui, moleque!
Rendido, o rapaz jogou as mãos pro alto, logo em seguida um tchau aéreo para as duas, que fecharam seus livros e puseram-se a dormir.
O dia seguinte seria um longo dia.


2 – O primeiro dia

Reunidos no salão principal do Highway Academy, todos os alunos esperavam ansiosos pela volta às aulas, claro, não aulas, e sim rever os amigos. Eram sete e meia da manhã, todos curiosos para saber sobre os novos alunos, novidades dos amigos e óbvio que loucos para que o discurso do diretor, Sr. Greg Willson, mudasse nem que seja uma vez na vida. Não tiveram sorte, ouviram as mesmas palavras de sempre daquele senhor que aparentava quase cinquenta anos, ninguém sabia ao certo a idade dele.
Já em sua sala, olhando a lista de alunos, null e seus colegas souberam que apenas um novo aluno ocuparia a classe, sendo menino, ela e a amiga apenas se olharam em um tom de aprovação, pois o dormitório seria só das duas novamente.
O aluno novo ainda não tinha chegado, a professora de sociologia esperava mais uns cinco minutos pelo rapaz.
- Já no primeiro dia de aula esse tal de null se atrasa! – reclamou Joe, um dos rapazes populares da escola, popular por ser do time de futebol, popular por não ser feio, popular por ser um dos mais babacas.
- Quieto, Joe! – Sra. Wilma reclamou – O diretor me avisou que ele se atrasaria alguns minutos, por isso estou esperando.
null, nome interessante, pensou null, olhando distraída para a porta, onde tinha uma pequena janela, do tamanho de um rosto, o suficiente para que quem não estava na sala perceber que a professora já estava em aula. Percebendo então que tinha alguém mirando para dentro da sala antes de bater, null olhou para a professora, constrangida de não reparar que tinha alguém ali.
- Entre – Sra. Wilma falou alto.
- Licença – uma voz grave com um ligeiro tom rouco falou – Me desculpe pelo atraso.
Assim que entrou algumas meninas pararam o que estavam fazendo para olhar o rapaz que acabara de entrar com aquele sotaque britânico. Cabelos perfeitamente bagunçados, pele branca e lábios rosados, ele se encaixava perfeitamente no uniforme social que o internato utilizava.
- Não seja por isso, meu querido – gentilmente a professora assentiu para o rapaz – Turma, conheçam o novo colega de vocês, null null. – O rapaz sorriu torto acenando uma vez de leve com a mão para a turma em um gesto completamente simpático, olhando alguns rostos por cima e voltando a atenção para a professora.
- Onde devo sentar? – perguntou.
- Escolha o lugar de sua preferência – a mulher lhe sorriu. – Bem, turma, vamos começar por hoje.
Com apenas dois lugares livres na sala, o tal de null escolheu a penúltima cadeira da segunda fileira, onde não deixou de notar uma garota o observando como se ele fosse algum velho e assustador conhecido.
- Se importa? – perguntou educadamente, antes de se sentar em frente à garota.
- Sim! – engasgou – Não! À vontade – null respondeu, nervosa, ao reparar que estava encarando o rapaz, que percebeu tal gesto, mas o que ela podia fazer? Aqueles olhos null, intensamente null, chamaram sua atenção, como alguma lembrança. Tratou de esquecer essa bobagem e sorriu para disfarçar.
- Prazer, null. – retribuiu o sorriso, o mesmo sorriso torto que dera há poucos minutos.
- null – disse a garota, corando.
Assim que o rapaz virou-se para frente, null e null, um de cada lado da garota, a olhavam com um toque de curiosidade e deboche. null mandou o dedo do meio para os dois e voltou a prestar atenção na professora. Ou ao menos tentou, o perfume daquele null a deixava querendo socar o nariz em seu pescoço. null riu sozinha, ela estava ficando retardada aos dezoito anos. Mas ela tinha que admitir, o garoto sentado à sua frente deixou uma imensa curiosidade sobre ela mesma, e pelo o que a menina reparou, sobre as outras garotas da sala também, de cinco e cinco minutos alguém olhava naquela direção.

Após a aula de sociologia, os alunos esperavam em seus lugares o próximo professor.
- Então, null, você é de onde? – null perguntou, simpático
- null, por favor – null sorriu e null assentiu – Venho da Inglaterra.
- Percebi – null respondeu, enquanto null observava os movimentos do novo colega – Pelo sotaque. – null sorriu – Mas você não deveria ser mais antipático?
- null! – repreendeu null, olhando indignada para o amigo, que falta de educação! Espera, desde quando a própria ligava para educação? null riu.
- Nem todos tem esse dom – ao contrário da garota, o rapaz entendera a piada.
Enquanto null observava do outro lado, null, em pensamentos, comparava a voz do rapaz recém-conhecido com as outras vozes masculinas que ela conhecia, era diferente, era marcante. Perguntou-se se eles se conheciam, mas isso era impossível, nem do país ele era. Apenas ficou em silêncio.

A hora do intervalo chegara, null e Raquel esperaram todos saírem da sala, exceto null, que acompanhou com os olhos null null sair, rodeado por Jennifer e cia. A garota revirou os olhos.
- Hey, null, você viu onde está null? – null perguntou, debochado
- Eu estou aqui, imbecil – com mais um reviramento ocular, null respondeu o amigo.
- Onde? Você não é a null, o que fez com ela? – o rapaz seguia com a piada, mas só null riu.
- Eu não vou nem perguntar o que você esta querendo dizer com isso. – tirando os olhos vagos da porta, null fuzilou null com eles.
O que era óbvio, os amigos da garota perceberam que algo a estava incomodando.
- O que houve? – null sentou-se ao lado da menina após a pergunta.
null, que mordia um lápis tão forte, levou um tempo para responder.
- Eu não sei, sinto que conheço esse null de algum lugar... – vagou o pensamento
- ELE NÃO É LINDO? – quase gritando, a melhor amiga de null perguntava animada, fazendo agora com que fosse a vez de null revirar os olhos.
- Cala a boca, null, nada a ver! – tentando negar a si própria, null resmungou. – Mas ele não me parece estranho.
null pegou uma cadeira próxima a ele e sentou-se ao lado de null.
- Conhecer, você não conhece! – exclamou – Não viu de onde ele veio? Ou por acaso você já rodou a bolsa na Inglaterra? – o mesmo se arrependeu do que disse após levar um tapa no braço.
- Engraçadinho, você, querido – null tentou um sorriso forçado que mais pareceu uma cara de vômito.
- Talvez ele seja parecido com alguém que você realmente conheça. – opinou null, enquanto eles concordavam silenciosamente.
- Por que estamos falando mesmo do aluno novo? – null questionou
- Acho que foi porque certa pessoa ficou encantada... – null sorriu maliciosamente para null, que novamente revirou os olhos.
- Ele NÃO faz meu tipo, ok? E além do mais, quem dá bola para a vadia da Jennifer cai no meu conceito rapidinho.
Pontada de remorso? Ciúmes? Como? null não conhece esse tal que chegou, não deve ser isso. Deve ser o fato de que sempre um babaca cai literalmente de boca pra cima de Jennifer, que como dizem, é mais rodada que o limão, passou na mão de cada garoto do Highway.
Jennifer Muller e null nunca serão vistas sorrindo amigavelmente uma para a outra, mas null tinha toda razão. Quando chegou ao Highway Academy, Jennifer fez questão de humilhar a novata órfã, esse bullying também explica parte do fechamento emocional por parte de null. Podia se esperar algo melhor, quando meninos e meninas a ignoravam? Os únicos que não a viram como uma aberração foram os mesmos que seguem até hoje ao lado dela. null cresceu, amadureceu e virou digamos que uma linda, sim, uma linda jovem. Mas, como ela mesma diz, “nenhum daqueles idiotas merecem minha atenção”, era provável que esses garotos que zoavam ela dia e noite, agora estejam arrependidos de tal ato.
- Vamos! – null quebrou o silêncio – Não quero perder o rango por causa de vocês.
Os três se levantaram e seguiram dos corredores iluminados até a cantina do internato.
Após, a primeira aula de educação física do ano letivo iniciaria.


3 – A primeira impressão não é a que fica

Na primeira hora da tarde, a quadra de futebol foi ocupada pela turma de null. Meninos para um lado e meninas para o outro.
null acenava para as amigas, dizendo um “boa sorte” para null. O garoto sabia que esportes não eram o seu forte. null com um sorriso em agradecimento, apenas desejava que aquela aula terminasse logo. Pois bem, sabemos que quando se pensa assim, a coisa tende a ser contrária a nossa vontade.
As meninas estavam aquecendo, enquanto os meninos já estavam treinando algo. Uniformizados com a roupa de ginástica do Highway, começava assim a primeira aula de educação física. Rapazes com calças de abrigo preta e camisetas brancas, meninas com o mesmo, mas ao invés de abrigo, as calças eram de malha.
Jennifer e as amigas estavam nem aí para o aquecimento, estavam mais interessadas no aluno que acabara de entrar no internato, que se fomos analisar, o físico dele era tão belo quanto o rosto. Já Scott e seus parceiros não estavam gostando nada dessa ideia, pois estavam acostumados a serem o centro das atenções femininas, e a chegada de null começara a mudar de rumo essa rotina.
Distraída, aérea desses acontecimentos, null pensava em alguma desculpa para burlar a aula com a amiga, mas pensou melhor, não seria correto esse tipo de atitude, justamente no primeiro dia letivo. Esqueceu essa ideia nem tão brilhante, arrependendo-se segundos depois.
Em milésimos de segundo, algo extremamente veloz lhe atingiu a nuca. O impacto fora tão grande, que a garota caiu de bruços. Ela mal imaginara o que aquele impacto lhe causaria mais tarde, o que lhe causou instantaneamente foi ódio. Ódio de si mesma por não ter burlado a aula a tempo, ódio de todos aqueles que riam da mesma, e ódio de null. Sim, além de ter feito o estrago e rir como um imbecil como os outros, não chegou nem a ajudá-la. Assim, a primeira impressão que teve de null como um rapaz simpático, logo se desfez, tornando-o somente um rapaz alto, bonito e idiota. Como todos.
- null! – null e null se fecharam em volta da garota – Você está bem? – o amigo lhe perguntou, ajudando-a a levantar.
- Me desculpe! – null gritou de longe com a mão direita nos cabelos bagunçados, ainda rindo, fez o gesto para null mandar a bola de volta.
Furiosa, enquanto o garoto sacudia a cabeça, uma null intrigada com a situação chutou a bola para o rapaz. Chutou tão forte que a bola saiu rasgando o ar, a menina desejava que aquela coisa acertasse em cheio o rosto de null, o que seria um pecado estragar aquilo, pensou a mesma, mas diante da situação, aquilo era o que menos importava.
Acontece que a bola atingiu não o rosto de null, e sim algo que, para ele, era bem mais precioso.
Após o golpe, todos olhavam de boca aberta para um vermelho, encolhido e sofredor null. Caindo de joelhos, socou o chão com uma das mãos, enquanto a outra estava ocupada no meio de suas pernas. Olhou para null, que agora ria.
- Qual é o seu problema, garota? – conseguiu dizer em meio de gemidos de dor.
- O problema é que você é um grande idiota! – respondeu seca, virando-se de costas.
- Eu? Idiota? Idiota é você! – null tentou se levantar – Garota louca.
Ninguém falava nada, até que enfim o professor chegou ao local e todos se esqueceram rapidamente do episódio. Menos null, que, magoada, sentou-se no banco mais próximo, não deixando sua expressão raivosa se desmanchar. Menos null, que ficou inquieto a aula inteira, pensando por que aquela menina que parecia tão simpática no início o pegou de ponta. “Afinal, o que isso importava? Dane-se essa louca.” Sacudiu a cabeça e voltou ao que realmente importava naquele momento.

Um pouco zonza, null atirou-se na cama. Nove horas em ponto da noite, e sua cabeça ainda doía um pouco por conta da pancada. Fechou os olhos e entrou em um tipo de transe instantâneo.
“Espere!”, ela ouviu enquanto via um bosque escuro, como se estivesse correndo. “Anne, espere!”

Arrepiada dos pés a cabeça, null abriu os olhos arregalados. O que fora aquilo? A menina supôs que podia ter dado uma breve cochilada e sonhara com aquilo, mas parecia tão real... Pegou o celular para ver as horas novamente e seu coração estremeceu, tinha passado menos de um minuto de quando vira o relógio pela última vez. null saiu do banheiro, vendo o rosto pálido da amiga teve que perguntar:
- O que houve? Parece que viu fantasma!
- O que? Não, nada! – sacudiu a cabeça – Nada não.
- Eu, hein, acho que essa paulada a deixou louca, null!
- Deixa de bobagem... - respondeu receosa, talvez ela tenha mesmo ficado louca.

A semana passou rápido, muito rápido. null e null não falaram mais uma palavra sequer. Sendo assim, o rapaz juntou-se a turma dos que null considerava as piores criaturas do lugar, tornando null mais desprezível do que começou a considerar uma semana atrás. null sabia que ele a olhava de canto quando estava sentado à sua frente, o que a deixa mais furiosa. Se pudesse mudar de lugar a cada um desses momentos, mudaria. O que a deixava presa ali eram as regras de convivência da escola, e claro, seus amigos, um de cada lado.
Será que é sempre assim? O que o amor une, a vida e circunstâncias que ela proporciona separam?
O que null e null não sabiam, era que algo muito além daquele sentimento que crescia em relação um ao outro, os juntariam no futuro. E em tantos outros, se ainda tivessem que vir. Porque como dizem, o ódio está a um passo do amor. E quem disse que eles realmente se odiavam?
O amor nos prega muitas peças, e o ódio algumas vezes é somente uma delas.


4 – Coincidência? Não

Artes, como não gostar de uma aula dessas? Se não gostar, ao menos vamos admitir que é, no mínimo, interessante. Estudar a história de grandes obras, grandes artistas... null amava artes, amava a arte. Tanto que o rapaz se aventurava em algumas pinturas em tela lá em Londres.
null não podia seguir sua vida lá, não depois do que acontecera. Algo que ele não gostava nem de lembrar, algo que o feria até a alma. Desconfiado, apenas pode fugir, fugir enquanto não tinha provas o suficiente, fugir da dor, o que era mais difícil ao se lembrar, e fugir dele...
- Quem aprecia a arte nesta turma? – Sra. Bernadette iniciava a aula, fazendo com que null saísse de seus amargos pensamentos, levantando a mão imediatamente. – Muito bem, alguém mais além de null?
Os alunos se entreolharam, menos null, que sentia repugnância a cada momento que null quisesse aparecer. Era tão óbvio para ela que o sujeito se fazia de simpático e inocente, para conseguir status. Podia apostar que ali algumas semanas, null null se tornaria a cópia perfeita de Scott Sullivan, tal mestre, tal aprendiz. A garota bufou, pode sentir os olhos de escanteio de null, mas pouco se importou.
- Já que ninguém se pronuncia, null... – a professora se mostrava interessada – Tem algum artista que você admire em especial?
Todos olhavam interessados para null null, como se quisessem vê-lo ficar sem resposta ou algo do tipo, mas para a decepção deles, null sabia muito bem dar uma resposta, principalmente sobre algo que ele amava desde pequeno. Demonstrou-se pensativo ao início, como se quisesse decidir por qual artista escolheria. Sua resposta foi admirável, segundo a professora.
- Bom, eu aprecio muitos artistas em geral, desde os abstracionistas aos modernistas, mas a história de Van Gogh me impressiona. – disse confiante, ao mesmo tempo despreocupado.

Para a maioria, aquilo que o rapaz acabara de falar era grego, russo, japonês, qualquer língua que não entendessem. null sentiu uma pontada de admiração no quão aprofundado null era no assunto, xingou-se em pensamento em seguida, não queria sentir nem pena por ele, quem dirá admiração.
- Van Gogh? – exclamou Joe – Esse eu conheço, era meu avô! – impressionante como essas piadinhas sem graça sempre despertavam as risadas de alguns na aula.
- Conte-me mais sobre Van Gogh! – retrucou a professora para o melhor amigo de Scott, que assim que ouviu, ficou quieto sem saber o que dizer – Como era de se esperar – ela o desprezou – null, já que entende do assunto, venha cá e conte para Joe e os seus colegas sobre Van Gogh.
“Ótimo”, pensou null, agora ele tem a plateia que tanto quis.
null caminhou até a frente da sala, null o acompanhou de rabo de olho, mas não pode evitar o contato visual que ambos sofreram quando ele se virou. Tanto ela quanto ele se olhavam com curiosidade e desprezo ao mesmo tempo, se é que isso é possível. Ele fitava aqueles olhos acinzentados brilhantes, e ela aqueles olhos null, malditos olhos null.
- null? – Sra. Bernadette interrompeu aquele momento frustrante.
- Muito bem – pigarreou – Vicent Van Gogh foi um pintor pós-impressionista. Digamos que sua vida foi um fracasso – null assumiu um tom totalmente formal e intelectual, null pode ouvir suspiros de alguma amiguinha insolente de Jennifer e não pode deixar de ter raiva disso – Não teve família, não tinha como se sustentar e mal tinha contatos sociais. Foi descoberto aos 37 anos que ele sofria de distúrbios mentais. Se vocês forem reparar em alguns autorretratos, Van Gogh aparece com uma orelha enfaixada – null seguia com o discurso –, o que tantos chamam de algo realmente louco, eu considero uma loucura romântica, pois ele cortou a própria orelha, embrulhou e mandou de presente para sua amada e amiga prostituta. – enquanto null null falava, a turma em silêncio ouvia, e null sem ao menos perceber estava admirada com tais detalhes que, contados por ele, pareciam um romance – Bom, o triste disso tudo é que Van Gogh se suicidou, e só foi ganhar alguma coisa após sua morte. Uma fama póstuma que veio após suas obras serem expostas em Paris, em 1901. – assim que terminou, null olhou para a professora que o olhava admirada, e suas palmas fizeram null sair do transe que entrara assim que ouvira a palavra Paris.
- Muito bem, null! – Sra. Bernadette aplaudia – Bom, mas na nossa aula de hoje não vamos tratar de nenhum artista conhecido – falou enquanto gesticulava para null voltar ao seu lugar – Hoje vamos falar sobre artistas que não conseguiram nem uma fama póstuma como Van Gogh, eu trouxe alguns slides para vocês. – enquanto preparava a aula, null voltava para seu lugar em frente a null, os dois tentando ao máximo evitar cruzar olhares novamente.
Nem um, nem outro se permitiam prestar atenção nos slides. Suas mentes trabalhavam aflitas tentando negar qualquer sentimento e quando menos esperavam alguém gritou:
- Hey, não é a cara da null?! – null gritara, olhando para null que com uma imensa curiosidade concordava sem tirar os olhos do slide.
null levantou o olhar imediatamente contra a própria vontade, e realmente achou uma semelhança incrível. Principalmente os olhos.
- Meu cabelo é diferente, e meu nariz também! – resmungou, olhando a pintura que mostrava uma jovem loira, com um penteado nobre.
- Me desculpe, professora – null interrompeu - , como é mesmo o nome do artista?
- Se chamava Jean Pierre Chevalier, como sabemos, nada conhecido. Suas obras foram encontradas após estar morto, junto a um diário. Isso reza a lenda, não é – a senhora riu descontraída – Dizem que essa era a amada dele, que perdeu a vida em seus braços. – como se fosse algo não muito convincente, revirou os olhos – Temos outra dele – ela passou o slide mostrando o autorretrato do artista.
“Só pode ser piada”, null pensou ao ver a obra, um rapaz com o semblante triste, porém indiscutivelmente parecido com alguém que ela conhecia, e suas suspeitas foram concretizadas quando null sussurrou:
- Vem cá, mais alguém da turma vai aparecer no slide? – a menina riu baixinho, mas null não pode deixar de ouvir.
Sim, apesar de ter claras diferenças, não se podia negar que ali tinha um retrato mal feito de null null. Sem negar também que o olhar era o mesmo, o mesmo olhar intenso, com os mesmos olhos null. null arrepiou-se, era como olhar um ancestral daquele idiota.
Após mais alguns artistas, a professora propôs a seguinte atividade:
- Eu vou dividi-los em duplas, e cada dupla ficará com um desses artistas que eu também decidirei.
Também? Como assim também? A professora iria escolher as duplas? A resposta era sim, e null, assim como todos, torcia para ficar com um de seus amigos. A professora ia dizendo os nomes até que ela falou os nomes uma dupla e null perdeu as esperanças. null e null iriam fazer o trabalho juntos, ela ficaria com algum imbecil qualquer que Sra. Bernadette escolhesse. Tal foi o desgosto ao ouvir seu sobrenome junto com o que ela menos queria, que ambos protestaram ao mesmo tempo.
- Mas, professora! – null e null falaram juntos, se calando logo em seguida com aquele momento constrangedoramente frustrante.
- Nada de “mas”! Eu decido. – ela retrucou – E vocês vão ficar com Jean Pierre.
“Maravilha”, null pensou ironicamente, e como se não bastasse a sua má vontade, podia sentir as mesmas energias vindas da classe à sua frente.
Ambos não disseram mais uma palavra, apenas aceitaram as ordens da professora, que dera a cada dupla um ticket com uma hora para o uso da biblioteca. null olhou para o papel e mais uma vez o desgosto tomou conta ao saber que iria ficar sozinha com ele naquela sala velha. E o pior, naquela tarde.

- Onde você vai? – null perguntou, animada, para a amiga que pegava o notebook no armário.
- Na biblioteca – a garota revirou os olhos – Fazer aquele trabalho estúpido.
- O meu está marcado para amanhã – null ainda não perdia o humor – Sério, para que tanta revolta?
- Sabe com quem eu terei que fazer? – null bufou – Com o idiota do null!
- Mulher, você tem que se controlar! – null pôs as mãos na cintura – Sabe quantas garotas queriam estar no seu lugar? E aliás, ele te pediu desculpas, você que pisou na bola.
- Acredite, se eu pudesse trocar, já tinha trocado a horas.
A menina deixou o quarto, enquanto Raquel sorria em negação a essas reações.

Como era de se imaginar, a biblioteca do Highway Academy estava velha, claramente abandonada. Não podia se esperar menos, pois os alunos só a usavam para trabalhos como esse, e mesmo assim não tocavam em um livro sequer, apenas a internet vencia a preguiça de pesquisar livro por livro. E, naquele momento que null entrou na sala, percebeu que nem bibliotecária tinha, a peça estava completamente vazia. Só null e os livros.
Sentou-se à mesa de pesquisas, ligando o aparelho que trouxera, não iria esperar o senhor null com a educação que ela não tinha.
A porta rangeu ao abrir.
- Não basta ter que ficar com a única pessoa que eu não queria, ela se atrasa para esse trabalho estúpido.
- Eu também não estou contente – o rapaz cuspiu as palavras – Mas não tenho escolha.
- Vai ficar aí, parado, ou vai ao menos fazer alguma coisa? – null alterou a voz, e null não gostou nada disso.
- Escuta, quem você pensa que é para falar assim comigo? – ele se aproximou, null que ficara incomodada com a situação levantou-se.
- Olha só, null – falou, decidida – Já me conformei em fazer essa droga com você, agora por favor não exija mais que isso, se puder não falar comigo eu agradeceria!
Realmente o rapaz já estava cansado dessa relação que era, no mínimo, idiota entre os dois.
- Sinceramente, o que eu te fiz? – perguntou, olhando para a garota.
- Não gosto de você – respondeu seca, fazendo com que null sentisse involuntariamente uma alfinetada, da qual ele não entendeu o porquê. Do mesmo modo que não entendeu a forma de como reagiu a isso.
- Quer saber? Eu cansei! – null esbravejou, e a passos largos se aproximou da garota a prensando contra uma estante de livros velhos – Olha nos meus olhos e diz que não gosta de mim! – nem mesmo null sabia por que estava agindo desta forma, apenas fitava a garota seriamente, como um impulso.
null estremeceu com a aproximação de null null, ele estava tão próximo que ela podia sentir a respiração do rapaz, tão próximo que ela podia ver cada tom daqueles olhos null, que a fitavam tão intensamente que ela não conseguiu dizer o que ela mais queria no momento. Ou será que ela não queria tanto assim dizer que o desprezava?
O silêncio tomou conta do lugar, e null não sabia o que fazer, nem conseguia tirar seus olhos dos dele.
- E-eu faço minha parte no meu quarto! – ela quebrou o silêncio, e aquele vínculo que seus olhos estavam criando, e tremendo após o leve gaguejo, passou por baixo de um dos braços de null que não se moveu.
Saindo imediatamente da biblioteca, null conseguiu respirar. Enquanto o ar passava por seus pulmões o coração dava um jeito de voltar ao normal. Ao mesmo tempo, null, ainda parado de frente para a prateleira, sorriu em negação, sacudindo a cabeça, pensou em como era um idiota e principalmente no que null não conseguiu dizer.


5 – A história por trás de Jean Pierre Chevalier

Quase que correndo pelos corredores, a respiração de null voltava a se agitar ao lembrar dos olhos null de null, e com a intensidade que os mesmos estavam sobre os dela. Ela sabia que tinha algo ali, sabia que mais cedo ou mais tarde iria descobrir. No mesmo instante a garota relembrou de seu primeiro transe inexplicável, no qual vira um bosque e uma voz chamando-a de Anne.
“Obrigada, Senhor”, a menina agradeceu por pensamento ao chegar no dormitório e perceber que null não estava lá. Em questão de minutos null estava digitando em seu notebook tão desesperadamente quanto quando ficara minutos antes, presa entre os braços de null.
Jean Pierre Chevalier, null colocara em vários sites de pesquisas. Não achava quase nada relacionado ao artista, que por razões desconhecidas era quase que um irmão de null null. Sem muitas opções, a garota clicou em um link qualquer que aparecera nos resultados e, com muita atenção começou a ler.
Jean Pierre Chevalier, nascido e crescido em Paris, pintor francês pouco conhecido que começou a trabalhar em suas obras quando entrou em depressão. Largou a família e viveu por anos na casa de um amigo antes de adoecer gravemente.
Jean Chevalier deixou junto às suas obras um diário, no qual contou o quão sofrível foram seus dias após a morte de Annemarie Boucher, sua amada proibida. O pintor focou-se em pintar retratos póstumos de Annemarie e autorretratos onde se mostra com aparência claramente depressiva. Suas obras são pouco conhecidas ao redor do mundo, até porque o próprio não se interessava por fama, só por distração do mundo a sua volta.

null olhou atentamente para algumas obras que estavam ali, desde aquela, que obviamente era Annemarie, na qual a Sra. Bernadette mostrara na aula, até aos autorretratos de Jean Chevalier. Focou-se em um em especial, que ao invés de triste, Jean sorria e a legenda dizia o seguinte:
“última obra de Jean Chevalier, um pouco antes de sua morte”.

Aquele olhar, aquele sorriso... null de repente parou de respirar.
“Annemarie ficava maravilhada ao ver o sorriso iluminado de Jean Pierre. Para ela aquilo era uma das coisas mais belas que existiam. O mundo se completava quando estava junto a ele, Annemarie ela uma pessoa completa. Tanto que enquanto o olhava sorrindo, brincando com seus cabelos loiros, ela sentia que estava olhando para a sua outra metade, como se Jean fosse seu reflexo perfeito, como se fosse seu espelho.
- No que você está pensando, Anne? – o rapaz de cabelos castanhos lhe perguntava, corando, a menina sorriu.
- Eu estava pensando em nós.
- Em nós? – Jean arqueou a sobrancelha direita – Me diga o que estava pensando. – o sorriso dele iluminou-se de novo, o que só fez Annemarie suspirar mais uma vez.
- Você acredita em almas gêmeas? – com uma voz um pouco mais singela do que a que tinha, Annemarie o perguntou tímida.
Abraçando a menina, Jean não sabia o que responder.
- Se existe, a única explicação para tudo é que estou diante da minha. – o rapaz respondeu sincero, mirando dentro dos olhos acinzentados da garota que o fitava igualmente – Eu sou capaz de jurar que nunca vou sentir isso de novo, a não ser que seja com você!
Uma lágrima acabara de escorrer no rosto delicado de Annemarie.
- O que foi, meu amor? – Jean perguntou limpando a lágrima teimosa que insistia em rolar sobre a bochecha rosada de Annemarie – Falei algo errado?
- Eu não quero te perder! – a menina exclamou – Nunca!
- Acredite, Annemarie, enquanto eu viver, viverei para você! – apesar de sério, o rapaz também temia pelo o mesmo que a moça. Ambos com medo de perder o que havia de mais importante para eles, o amor. Jean abraçou Annemarie, tão seguro do que acabara de dizer que a moça sorriu e devolveu aquele abraço envolvente.”

null soltou um ruído, um ruído tão alto que assustou a amiga que acabara de entrar no dormitório. A garota não conseguia respirar, estava totalmente em estado de choque. Ela acabara de ter novamente aquele transe, mas dessa vez foi algo mais forte, dessa fez foi algo diretamente ligado a ela.
- ! ! – null a sacudia pelos ombros – RESPIRA, ! – a amiga que agora assustada com null, também assumiu um tom choroso de preocupação. Correu até o frigobar, pegando um garrafinha d’água e molhou o rosto de null. – O que está acontecendo?
null não conseguia responder, seu coração disparado parecia que iria saltar pela garganta. Ela podia sentir, aquela lembrança era sua. null tinha razão. null conhecia aquele olhar intenso, conhecia aquele sorriso. null amou Jean Chevalier, null foi Annemarie.
- Por favor, null! Me responde! – null choramingou, mas pode perceber que o olhar de null já se mostrava focado nela. Focado, agoniado, assustado... O olhar de null passava tantas emoções diferentes que null perdeu a fala.
- Eu sou ela – null sussurrou assustada e voltou a chorar – Eu sou ela.
- Ela quem? – a amiga intrigada voltou a falar – null, eu quero te ajudar!
Mais que ligeiro, null limpou algumas lágrimas que insistiam em cair e foi fechar a porta. Aquela conversa era séria, não queria ninguém ouvindo.
- Eu preciso te contar uma coisa...
- Isso eu sei, né, minha querida! – null bufou.
- Me promete que não vai me chamar de louca!
null queria dizer que ela já estava parecendo uma, mas apenas concordou sentando-se na cama da amiga que em seguida sentou-se também. null percebeu que null ainda tremia, o que fez foi ouvir a explicação da garota.
- Lembra quando null me deu uma bolada na nuca? – pensativa null continuou – Só pode ter sido isso.
- Sim, é claro que me lembro – segura da lembrança, null respondeu – Mas o que isso tem a ver com o que acabou de acontecer?
- null – a menina se aproximou – Depois daquilo eu tive um tipo de visão, como se fosse um lembrança. Mas durou poucos segundos e eu não me importei, pois não aconteceu mais.
- Visão?
- Sim, uma voz jovem masculina me chamava de Anne, e me dizia para esperar.
- null, acho que você precisa ir ao médico.
- null, por favor! Me escuta! – implorou a garota e null calou-se.
- Eu acabei de ter uma nova lembrança. Mas foi mais forte – null voltou a tremer – Eu pude vê-lo, eu pude senti-lo. null, desorientada, não sabia o que dizer, talvez sua amiga estivesse ficando louca, talvez estivesse precisando de ajuda. Mas ela podia ver nos olhos de null que não estavam nem um pouco loucos. null falava a verdade.
- Vamos por partes, null. O que você acha que desencadeou isso?
null começou a sua teoria, explicando detalhe por detalhe enquanto null a olhava séria. E quando null tocou na parte de Jean e mostrou a história, null gelou lembrando da incrível semelhança entre ela e a tal de Annemarie.
- Pela madrugada! – null sussurrou – E você acha que... – ela não terminou
- EU NÃO SEI! – null gritou – Não pode ser. Eu detesto aquele garoto.
- Mas, null, você sempre disse que conhecia ele de algum lugar, essa é a única explicação.
- Por favor, null, não conte nada ao null. – ela lembrou-se – A propósito, a ninguém.
- Você sabe que me ofende, falando assim – null indignou-se – Mas e se o null...
- Não fala nada! – ela reclamou – Não é ele! – bufou – E outra, eu não tenho certeza de nada ainda, vamos esperar eu ter mais alguma lembrança ao menos.
null tentava se enganar, mas aquele olhar e aquele sorriso não tinham como serem outros, no fundo ela sabia que eram os mesmos. E como null acabara de dizer, explicaria muita coisa.
Uma coisa que null tinha certeza era que se aproximar de qualquer coisa que a levasse a alguma lembrança era inevitável. Sentindo uma grande reviravolta em seu estômago, null deduziu que isso incluiria null... null null.


6 – O esquisito mais certo
ATENÇÃO: se você quiser dar um clima ao capítulo, coloque Mirrors a carregar, eu avisarei quando tiver que dar o play.

Decidida, antes que ficasse tarde, null arrastou-se corredor a fora novamente. Se era para ser feito, que fizesse logo.
Que coisa engraça essa tal de vida que nos coloca em situações como essa.
null vinha sorridente em direção da amiga, como se tivesse achado o pote de ouro no fim do arco-íris. null não tinha tempo para explicações, não agora. Não enquanto estivesse com a mente borbulhando de possibilidades. A única coisa que não saía da cabeça dela era que: sim, ela conhecia null, e não, não foi nessa vida.
- Aonde você vai? – null perguntou, desconfiado.
- Na biblioteca – sorriu para não dar mais explicações, mas não foi muito útil.
- null, são quase sete horas da noite! – o rapaz cruzou os braços – O que você está me escondendo?
null tinha razão, ele a conhecia mais que a própria palma da mão. Era impossível null esconder algo de null.
- null, eu juro que te conto mais tarde. – a garota levantou a mão com o juramento – Mas eu tenho que ir agora.
Sem esperar uma resposta, null seguiu seu caminho. Afinal, a ideia da biblioteca não era tão ruim, só precisava de uma autorização, e foi isso que ela foi buscar.

Já com a chaves em mãos, null foi para o saguão do internato, no qual os alunos gostavam de ficar enquanto não era hora de subir para os dormitórios. Local onde Scott e sua turma adoravam aparecer.
Era mais repugnante ao vivo do que em pensamentos a visão de Scott e Joe, um de cada lado de null, contando piadas sujas e de vez em quando azarando alguma garota que passava. Realmente, aquela imagem não combinava com null.
null retomou a lembrança que tivera de Annemarie com Jean. Jean, tão delicado e cavalheiro, enquanto null não passava de um garoto elegante, mas nada mais. Tão diferentes, não era possível. null se questionou se estava indo pela direção certa, mas não teve dúvidas quanto a isso. Foi só chegar a uma distância suficiente, que quando aqueles olhos null a fitaram e seu coração disparou, ela teve certeza. Era ele. Como não enxergara isso antes? Talvez tenha enxergado, mas a sua teimosia insistia em negar.
- Ora, ora... A que devemos a honra? – Scott falou em um tom malicioso, que se não fosse por algo tão importante, daria meia volta no mesmo instante. Pode-se perceber que null não tinha gostado daquele tom.
- Não vim por você, babaca! – a garota revirou os olhos – Eu vim por ele.
null não pode deixar de escapar uma reação de surpresa. Ele? Ela só podia estar brincando.
- Típico, não é, null? – Scott seguiu – Agora vai correr atrás de null.
- Cala a boca, imbecil! – ela o ignorou e dirigiu-se a null – Venha! – quase que o obrigando.
A garota seguiu na frente, de canto de olho podia perceber que o rapaz a estava seguindo. Sem trocarem uma palavra, ela abriu a sala velha da biblioteca, entrando em seguida. Ainda mais confuso, null seguiu null, observando a garota trancar a porta.
- Posso saber o que está acontecendo? – ele perguntou, não muito satisfeito com todo o silêncio.
Agora null encontrava-se sem saída. Já entrara de ponta cabeça nessa história, não tinha mais volta. Só não sabia por onde começar.
- Sabe, eu não te entendo. – null riu, irônico – Geralmente você é estressada e diz que não gosta de mim, e agora me chama para uma sala vazia para simplesmente ficar me olhando.
- Eu não estou te olhando! – null disse, irritada.
- Ah, não? Engraçado, pois eu estou olhando diretamente para os seus olhos e, adivinha só, eles estão me olhando, sim! – ainda irônico, null cruzou os braços e ficou de frente para a menina – Vai me dizer por que me trouxe aqui?
Era irritante a forma como null se sentia em relação a null. Um pouco era atrativo demais, e outro pouco ela poderia cuspir em sua cara. null respirou fundo, talvez fosse seu orgulho falando mais alto, resolveu dar uma chance ao rapaz que estava ligeiramente confuso à sua frente.
Mas foi ela abrir a boca para falar, e novamente entrou em estado de transe.

“- Ouviu isso? – Jean perguntou assustado, fazendo Anne rir de sua preocupação.
- Deve ser algum animal que vive aqui – ela sorriu, seu sorriso iluminava aquele
ambiente sombrio, fazendo o rapaz perder qualquer noção de perigo.
- Eu te amo tanto – falou, puxando a moça para um beijo mais romântico e intenso que o primeiro, e sem recusar ela se pôs a beijá-lo com a mesma intensidade.
Um barulho forte ecoou pelo bosque, fazendo os pássaros que estavam dormindo, acordarem e saírem em disparada. Jean interrompeu o beijo olhando para os lados, não via ninguém com a escuridão, mas o medo tomou conta de seu corpo, ele sabia que aquilo fora um tiro.
- Anne, venha! – ele exclamou ainda com a moça em seus braços, mas ela o olhava como se não tivesse forças para se mover – Anne! – o rapaz reparou o sangue saindo da boca que ele tanto amava beijar – ANNE, NÃO!”

null grunhiu, da mesma forma que agira mais cedo em frente a null. Mas dessa vez null não estava lá, era só null e null. O ruído fez com que null estalasse os olhos. Primeiro ele achou que era alguma brincadeira sem graça da garota, mas assim que viu as lágrimas correrem, percebeu que era sério. Tão sério que, se ele não estivesse ali, provavelmente null teria desmaiado.
- ! , ACORDA! – assustado, o rapaz correu para segurar a garota, que tentava respirar.
Assim que null a colocou nos braços, foi como se uma corrente elétrica tivesse dado um choque em todo o corpo de null. Ela conseguiu respirar, mas seu coração estava acelerado. Acabara de presenciar a morte de Annemarie, ou seja, a sua própria morte.
null nem soube explicar a si mesmo o que acabara de sentir, por uns instantes pareceu que seu mundo cairia se null caísse. Mas isso não tinha motivos, não para ele. O que diabos estava acontecendo ali? Ele apenas pôde segurá-la firme e olhá-la nos olhos para saber se estava tudo bem.
Do outro lado, ela o olhava também, ambos não conseguiam dizer uma palavra sequer. Apenas o silêncio reinava em meio às respirações ofegantes dos dois.

Dê o play na música

- O-o que está havendo? – null gaguejou um sussurro, como se estivesse forçando aquelas palavras a saírem.
null o olhava nos olhos, aqueles olhos null que por um instante pode ver ali Jean Chevalier, e sua visão borrou-se novamente com algumas lágrimas.
- Eu não sei como explicar. – a garota sussurrou em resposta.
O que ambos sentiram naquele momento foi inexplicável, era como um baque de lembranças que eles nunca tiveram. Não questione se isso é possível, tem muitas coisas na vida que são inexplicáveis, e uma delas é o amor.
Nem null, nem null sabiam ao menos o que se passava no interior de cada um. Foi como se apenas com aquele olhar as coisas ficassem claras e ao mesmo tempo confusas para os dois. null fechou os olhos e suspirou, tentando entender certos sentimentos que naquele momento, tomaram um rumo totalmente diferente do que quando chegara naquela sala. Era como se sua vida não fizesse sentido se não abrisse os olhos novamente e encontrasse os olhos acinzentados de null. Talvez aquilo fosse alguma loucura momentânea, mas não foi bem assim quando abriu os olhos novamente.
Ele estendeu a mão para a altura de seu peito, e como um reflexo, null fez o mesmo. Ambos olhando para as suas mãos antes delas se encostarem. Ao encostar das palmas, se olharam. Sabiam que suas mãos foram feitas para estarem juntas. Ainda null sabia a explicação de seu corpo estar se sentindo completo, mas null seguia confuso com aquele sentimento que nunca tivera antes. Ele sentia que devia protegê-la, guiá-la, amá-la. Ainda no ar, seus dedos se cruzaram, e o coração de ambos estava pela boca.
Com sua mão livre, null limpou algumas lágrimas de null que escorreram involuntariamente, segurando o queixo da menina. Sem dizer ao menos uma palavra, ele soube que ela estava melhor. A conexão entre os dois era tão forte, que ao menos com uma troca de olhar sabiam o que o outro estava sentindo.
null corou ao ver um sorriso escapar de null, o sorriso que ela faria de tudo para ver eternamente. O sorriso que a fazia sentir-se completa e única. O sorriso que ela amava.
Queriam parar aquele momento para sempre, mas a única coisa que conseguiam era aproximar seus rostos cada vez mais.
Quando os lábios de null tocou os de null, algo completamente diferente de tudo que haviam sentido acontecera. Era tão esquisito e ao mesmo tempo tão certo que seus lábios estivessem juntos. Esquisito por sentirem uma saudade daquele beijo que, para eles, nunca existira, não nessa vida. Certo porque sem dúvida nenhuma, aqueles lábios foram feitos para esse beijo. Foram feitos para estar em uma sincronia que não podia existir com outros lábios.
Um beijo terno e fervoroso. Uma paixão que estava guardada há quase dois séculos, e que agora podia se libertar novamente.
Em meio a um suspiro de null, o beijo se quebrou e eles voltaram a se fitar. Não havia palavras entre eles, só olhares.
null passou a mão sobre a pele de null que arrepiou-se em seguida. null sabia que aquele toque era único, voltando a fechar os olhos esperando por um outro beijo.
O segundo beijo foi tão intenso quanto o primeiro, durando alguns momentos para que ambos pudessem respirar.
- Eu não sei o que dizer – null sussurrou novamente, fazendo com que sua voz ficasse ainda mais rouca –, eu não estou entendendo.
- Não diga nada – null respondeu – Apenas deixe que o coração fale.
null não precisava de mais provas, aquilo estava mais que óbvio. null nasceu para encontrar null, e null nasceu para encontrar null.
O destino os colocou juntos novamente, Annemarie e Jean estavam juntos. E a promessa de Jean se cumprira, ele a reencontrou.


7 – Um null null que null não conhecia

Batidas frenéticas na porta da biblioteca fizeram com que null e null se separassem. Ambos não sabiam para onde olhar, nem o que falar. null correu para abrir a porta e quase que agradeceu de joelhos ao ter enxergado a amiga, e não o inspetor.
null, que não deixava nada escapar aos olhos, percebeu que tanto a respiração ofegante quanto a boca avermelhada de null significava algo. Algo que a amiga teria que explicar para ela. Mesmo não tendo muito que explicar, após ver null no mesmo estado.
- null, você sabe que horas são? – null olhava curiosa para os dois – Daqui a pouco o inspetor começa a circular! Ainda bem que null me disse que estava aqui.
Sim, null e null tinham perdido a noção de tempo. Aquele momento tão único tirara completamente a atenção dos dois para o mundo em sua volta, um mundo onde o tempo infelizmente não parava.
- Eu já estava indo. – null respondeu sem graça, sem saber para onde focava os olhos. Ela arriscou focá-los em null, que sem jeito coçava a cabeça, desajeitando um pouco de seu cabelo bagunçado. Sem meia palavra com ele, voltou a olhar null. – Vamos.
Confuso, sem graça, com um toque de frustação por aquele momento ter acabado, null não disse um palavra, tentou levantar a mão para chamar null, mas ela já havia saído da sala.
Seus neurônios trabalhavam mais que nunca, null tinha a impressão que se continuassem assim sua cabeça iria explodir. Acontece que ele não tinha uma explicação para tudo isso que acabara de acontecer. A não ser que... Aquele sonho!
O rapaz riu em pensamento de si mesmo. Como um sonho poderia ser a explicação? Que bobagem.
Mas ele não deixou de pensar em tal sonho que tivera com uma garota que era idêntica a da obra de Jean Chevalier, uma garota incrivelmente semelhante a null.
- Me conta a-go-ra! – null suplicou mais uma vez em sua cama.
- Tudo bem, null, eu conto. – a menina bufou, com medo que se lembrasse, seu coração voltasse a acelerar fazendo seus olhos borrarem com o líquido salgado. O medo nem chegou a dar o ar da graça e null já estava chorosa – É ele – sussurrou.
- O que vocês conversaram? – foi o que null conseguiu dizer
- Nós não conversamos – null entrou em conflito consigo mesma, o propósito dela ir até lá com null era para uma conversa, não para aquilo – Eu não sei nem explicar o que aconteceu lá dentro. – ela limpou a única lágrima que estava pedindo para cair.
Detalhe por detalhe, a menina foi tentando explicar o que acontecera. Assim como null, null começou a choramingar também. null era emotiva, e para ela, uma romântica de carteira assinada, estava presenciando um grande reencontro amoroso, algo que ela nunca imaginaria presenciar.
null mal conseguiu dormir, mas assim fez quando fechou os olhos e relembrou aquele momento.

O sol brilhava dentro da sala de aula enquanto os alunos saíam para a hora do almoço. null observou um por um sair da sala e quando null ousou levantar-se, o rapaz agarrou seu braço, fazendo com que a mesma sentasse novamente e que com aquele toque suas pernas tremessem um pouco.
null e null que seguiram na frente, perceberam o clima e disseram que a veriam depois, saindo da sala em seguida, deixando somente null Mitchell e null null na sala.
- Você não acha que temos que conversar? – ele falou sereno, porém calmo. Sua voz grave deixava null sem palavras, mas o que eles mais precisavam era conversar. Ela tentou.
- Nós temos muito que conversar.
Ele sorriu, levantando-se da cadeira para se sentar em uma ao lado de null.
- Na verdade, nós nem nos conhecemos direito. – a menina seguiu
- Vamos começar por aí, então – null opinou, embora parecesse calmo, o rapaz estava tão nervoso quanto a garota, mas o próprio se esforçava para isso não transparecer. – Eu ou você?
- Você.
null suspirou. Ele não gostava de falar de si, mas o que podia fazer?
- O que você quer saber? – ele perguntou à garota, o mais simpático que pode.
- null, eu não sei nem quantos anos você tem! – null reclamou, logo em seguida assustou-se com o dedo indicador do rapaz em sua boca.
- Shiu! null – ele fechou os olhos, suplicando, odiava ser chamado pelo sobrenome. E ouvir aquilo de null o tornava tão distante dela que chegou a doer – Me chama de null. – voltou a abrir os olhos, não tendo tempo de ter visto a garota corar ligeiramente com o gesto.
- null... – null corrigiu-se, olhando para seus próprios dedos, que nessas alturas estavam em uma guerra.
- Bom, eu tenho dezenove anos – olhou para a garota, que fitava o chão – E como você já sabe, vim da Inglaterra.
- Seus pais que o mandaram para cá? – null o olhou ingênua, arrependendo-se de tal pergunta que claramente o feriu de alguma forma. Vendo a reação do rapaz, null foi obrigada a voltar a falar – Se tiver algum problema, não precisamos tocar no assunto.
- Não, tudo bem. Você não sabe de nada. – ele sorriu cabisbaixo, olhando pela janela o céu azulado de Nova York. Deu um longo suspiro antes de começar a explicar – Meu pai faleceu antes de eu nascer, minha mãe me criou sozinha.
- Ela o mandou para cá, então? – null arriscou
- Não, ela não pode mais... – o rapaz suspirou – Ela foi assassinada.
null estalou os olhos. Esperava qualquer resposta, menos aquela. Percebeu que null enchera os olhos d’água, mas o mesmo se conteve.
- Eu sinto muito. – a menina voltou a olhar para o chão.
- Tudo bem – null tentou sorrir, segurando a mão da menina – Você não tinha como saber.
- Mas o culpado foi preso? – null não sabia, mas agora tinha tocado na ferida de null.
- Não – o rapaz disse em seco – Ainda estão investigando, mas só pode ser um o culpado. – null apertou tanto a mão de null, que a garota assustou-se de tal ação.
- Quando foi? – ela quis lembra-lo que ele estava segurando sua mão.
- No fim do ano passado – null relaxou a mão, olhando para baixo. – Eu vou te explicar – o rapaz largou a mão da garota, percebendo que embora os recentes acontecimentos, eles não tinham essa intimidade ainda. null quase que implorou em pensamento para que não a soltasse, mas se conteve.
null pensou alguns segundos por onde deveria começar. Optou pelo principal motivo do qual aquele infeliz gostaria de ver sua mãe morta.
- Minha mãe herdou uma grande empresa de meus avós. Uma empresa bastante conceituada na Inglaterra. Por isso não foi muito difícil de me criar sozinha. Acontece que uns anos atrás, ela conheceu um cara, que para ela, seria o cara ideal para viver ao lado dela. – ele sorriu em negação – Mas eu sei bem o que ele queria com minha mãe.
- Eu não estou entendendo muito bem – null interrompeu.
- Sabe por que eu vim para cá? – ao ver a negação de null, null seguiu – Tenho vários amigos de família na empresa, e as suspeitas deles são as mesmas minhas. Eu cresci vivendo lá dentro, eles são a minha segunda família. Minha mãe era querida por todos, não havia nem uma pessoa que a quisesse mal. Claro, isso mudou quando ela apareceu assassinada – null trincou os dentes – O problema é que isso aconteceu depois dela se casar pela segunda vez. E a única pessoa que ganharia algo com isso era ele – o rapaz irritado fechou os olhos – O Charles.
- Mas você, sendo filho, não herda dela?
- Por isso estou aqui. – ele acalmou-se de novo – Achamos melhor eu me afastar de lá, enquanto o assassino estiver à solta. Se for mesmo quem estamos desconfiando, não medirá esforços para se ver livre de mim também.
Desta vez, null que trincou os dentes. Não podia imaginar agora o mundo sem aquele sorriso torto, sem aquele olhar, sem null null.
- E será que é ele? Por que a polícia não o prende logo?
- Por falta de provas! – ele rosnou – Quem mais seria? Ele nunca gostou de mim, quem dirá amou minha mãe. Ela foi cega ao não enxergar o perigo.
- Eu sei como é não ter mãe nem pai por perto – a menina falou baixo
- Sabe? – null perguntou surpreso
- Desde os doze anos.
- Sinto muito – o rapaz falou sincero, voltando a segurar a mão da garota – Quantos anos você tem, mesmo?
- Tenho dezoito.
Os dois ficaram um tempo em silêncio, null absorvendo a história que null null acabara de contar a ela. A fez pensar que muitas pessoas que como ele, viveram ou vivem coisas terríveis.
- Você não é um completo idiota, null. – a garota tentou quebrar o clima pesado que o assunto deixara no ambiente, obtendo sucesso ao ver um sorriso nos lábios rosados do rapaz.
- E você é uma boa ouvinte – ele agradeceu, elogiando-a.
null tentava achar um brecha para chegar ao assunto do dia anterior, o garoto não sabia por onde iniciar.
- Sobre ontem, me desculpa. – null olhou para o chão, mas não por muito tempo. Voltou a encarar os olhos acinzentados de null. – Eu realmente não sei como foi acontecer.
A garota pensou por alguns instantes antes de responder.
- Você não tem culpa. – suspirou – Nenhum de nós tem. Era para acontecer.
- O que você quis dizer com isso? – null ergueu uma sobrancelha.
- De uma forma ou de outra, isso iria acontecer. – percebendo que suas palavras não faziam sentido para null, a menina explicou suas visões e falou sobre a pesquisa que fizera.
null por um lado achou uma loucura tudo aquilo, mas pelo o outro aquela “loucura” fazia sentido, e se encaixava perfeitamente com o sonho e sentimentos que tivera desde a primeira vez que vira null. A impressão que já conhecia aquela garota de algum lugar.
Mais uma vez o silêncio ganhou lugar, eles não conseguiam se olhar, mas seus corações os diziam para fazer exatamente ao contrário.
- Eu nunca senti aquilo na minha vida – foi o que ele conseguiu dizer, achando tão errado o verbo estar no passado. Ele não sentiu, ele ainda sente.
- Está sendo estranho para mim também. – null voltou a observar seus dedos em guerra.
null levantou o rosto na garota pelo queixo, olhando cada detalhe do rosto de null.
- É possível amar uma pessoa sem ao menos conhecê-la? – perguntou com a expressão mista de curiosidade e desespero.
Ao ouvir essas palavras, null podia jurar que todos os ossos de seus corpo tremeram. Sua língua não desenrolava para sair alguma palavra que fizesse sentido, ela apenas não se mexia.
null que também estava nervoso, percebeu o constrangimento que null ficara e pôs a mão que estava no queixo da garota em sua própria cabeça.
null observava os movimentos do rapaz, e já podia notar que aquele gesto de levar a mão a cabeça significava que ele estava constrangido também. Apesar daquilo a atrair um pouco mais a ele, ela seguiu imóvel em sua cadeira.
- Eu não sei null – ela finalmente respondeu baixo – Eu não sei nem o que estou sentindo agora.
No fundo, ela sabia. null queria ser envolta pelos braços de null novamente, queria que seus lábios fossem tocados com a mesma intensidade que foram no dia anterior. Ela queria null null.
- Eu vou ser sincero – null falou no mesmo tom que null falara – Quando eu te conheci, sempre que eu te olhava, sentia que a conhecia de algum lugar. Mas era impossível. – o rapaz olhou para baixo – Confesso que depois senti muita raiva de você, sei que você me entende – null pode perceber um mini sorriso se formar no canto da boca de null – Mas eu sempre me sentia atraído de alguma forma, e depois de ontem, eu não consigo pensar em outra coisa a não ser em você, null.
null falara tão sério e confiante de suas palavras, que null sentiu um arrepio em sua espinha quando o rapaz a olhou diretamente nos olhos.
- Eu mal pude dormir esta noite. – finalizou
- Eu entendo, me sinto da mesma maneira. – null respirou fundo.
Trocando olhares, os dois se aproximaram, e quando seus lábios estavam a centímetros de distância, suas respirações misturadas, ouviram o sinal para o almoço terminar. Ainda não se distanciando, ambos se olhando nos olhos, não diziam palavra nenhuma.
- Eu não consigo mais ficar longe de você. – sussurrou null, mas a distância entre eles era tão pequena que null ouviu perfeitamente.
- Então não fique – null hipnotizada com as palavras de null, respondeu automaticamente.
null fechou os olhos e encostou sua testa na da menina.
- Então é isso? – ele sorriu ainda de olhos fechados – O destino nos colocou juntos?
Essas palavras levaram null entrar em um novo transe, a continuação do que tivera no dia interior.
“Chorando desesperadamente, o rapaz a abraçou pela última vez, suplicando suas desculpas, olhando para todos os cantos querendo alguma pista de quem teria feito algo assim, mas nada. Nada além do silêncio. Limpando algumas lágrimas, ele lhe fez a promessa mais sincera que já havia lhe feito:
- Me espere, Anne, eu vou te encontrar. Me espere, meu amor, eu prometo!”

null acordou do transe, ouvindo null a chamar, e olhando nos olhos do rapaz, os olhos null de Jean Chevalier, respondeu:
- Você nos colocou juntos novamente!


8 – A ligação de Londres

Uma semana passara. null e null foram se conhecendo cada vez mais e resgatando sentimentos do fundo de suas almas, coisas que nem um, nem outro desconfiavam que podiam existir.
null, que a essa altura já estava por dentro de parte da história, insistia em dizer que os dois estavam namorando. null, por sua vez, negava. Ela e null não estavam namorando, eles ficaram somente uma vez. Embora tudo que tivera acontecido, tudo ainda era muito confuso para os dois. Eles se amavam por causa de Annemarie e Jean, mas será que null e null sentiam a mesma coisa?
Está aí uma coisa que eles teriam que descobrir.
O fato era que se não estavam juntos, pensavam um no outro, pensavam naquele primeiro beijo, pensavam em qualquer fato que os ligassem.
- O que você vai fazer no feriado? – null perguntou à garota enquanto andavam pelo gramado brilhante pela luz solar.
- Eu vou ficar aqui, como sempre. – null revirou os olhos. – E você?
No mesmo instante, o celular de null null tocou, fazendo com que a conversa se interrompesse.
- Fala – após ver na tela quem era, null adotou uma expressão séria – Não, tudo bem, saio daqui no feriado. – por um instante, null sentiu um calafrio. – Ok, tchau.
Ainda um ao lado do outro, null respondeu a pergunta da menina.
- Terei que ir a Londres.
A garota gelou. Por algum motivo aquilo a incomodava, mas ela não tinha a liberdade de falar para null ficar. Afinal, podia ser importante.
- É algo sério? – null perguntou ao notar que a expressão de null não mudara.
- Parece que descobriram algo, você sabe, sobre aquele assunto. – o rapaz a olhou – E me querem lá. Mas é só, ficarei fora no feriado, não quero perder aulas.
Percebendo o incômodo de null, o rapaz não deixou de comentar:
- Que foi? Mal me conheceu e já não vive sem mim? – null riu como uma criança, null, que ficava no seu ombro, olhou para cima com uma cara de poucos amigos.
- Deixa de ser idiota, null! – resmungou, cruzando os braços.
Em segundos, o que null estava segurando para não fazer, esqueceu-se imediatamente. Pondo-se de frente para null, fazendo a menina tremer as pernas ao se aproximar lentamente de seu rosto.
- O que nós combinamos? – perguntou, sua voz grave adentrou os ouvidos de null, fazendo-a se arrepiar.
- null... – null conseguiu dizer.
- É isso aí. – o rapaz sorriu, galanteador, ao conseguir a resposta. – Vem comigo, então. – sussurrou, com seu rosto a centímetros do de null.
- Ir pra onde? – null nem soube como aquelas palavras saíram, ela mal conseguia respirar com aqueles dois olhos null tão perto de si.
- Londres. Não quer conhecer?
- Não sei se posso. Acho que tenho que ter autorização dos meus tutores.
- Por favor! – null choramingou – Além do mais, - ele sorriu – eu lembro perfeitamente de você me dizer para eu não ficar longe.
As bochechas de null coraram. E ao ver os olhos pedintes de null, não pôde recusar o convite. Além de tudo, ela ainda tinha um pressentimento ruim quanto a isso.
- Ok! – rendeu-se – Vou fazer o possível.
Com um sorriso de orelha a orelha, null abraçou a menina, sussurrando um “obrigado” em seu ouvido. null estremeceu com aquela voz dentro de sua cabeça, ela poderia ouvi-la para sempre.
- Estou atrapalhando algo? – a voz que null menos queria ouvir em todos os momentos de sua vida entrou em sua cabeça. Fazendo estragos no momento perfeito irreversíveis.
- O que você quer, Jennifer? – null perguntou, sem perder a pouca simpatia que lhe restava naquele minuto.
- Scott está querendo falar com você, mas acho que você está ocupado. – Jennifer revirou os olhos.
- Tudo bem, já vou encontrá-lo. – null respondeu, sorrindo, Jennifer o olhou com desejo antes de ir embora, fazendo com que null trincasse os dentes.
null esquecera completamente que null fazia parte da “turma” mais escrota do Highway.
- Eu vejo você depois, então. – ele voltou a falar com null, depositando um beijo em sua bochecha. null apenas fechou os olhos antes de sentir null se afastar.
Ela estava com ciúmes? A resposta era sim. null só percebeu que seus dentes doíam quando recebeu o beijo de null.
A garota pegou seu celular e discou alguns números.
- Lauren? – perguntou – Eu preciso de duas autorizações. Uma para sair da escola no feriado e outra para sair do país. – a garota deu um riso ao ouvir alguma coisa do outro lado da linha – Não se preocupe, você sabe que pode confiar em mim. – ouviu mais algumas palavras – Obrigada, Lauren, nem sei como te agradecer.
Feito. null teria a permissão para sair e viajar. Sua primeira viajem para fora do país e seria com null null.

- Eu preciso falar com vocês. – null direcionou-se aos seus dois amigos.
- Fale, menina. – null respondeu.
Apesar da pressa em falar, null pôde perceber que quebrara algum assunto importante entre os dois quando chegara ao local. Tinha algo ali que ela não sabia. Mas isso não importava agora.
- Eu vou ficar fora o final de semana e o feriado.
- O quê? – os dois perguntaram ao mesmo tempo. Não era de menos a surpresa, null nunca saía daquele internato.
- Eu vou para Londres com null.
- Espera... – null disse, confusa – Como assim, você vai para Londres com o null? Vocês não se conhecem nem há um mês, e você já vai viajar sozinha com ele?
- Eu sei que é estranho, null. – a garota respirou fundo – Mas entenda, eu não posso deixar ele ir sozinho. Sinto que é perigoso.
- Você sente que é perigoso e vai com o cara mesmo assim? – null perguntou, intrigado – Você é louca?
null revirou os olhos com o drama vindo dos amigos.
- Só quero que saibam. – respondeu.
- Tudo bem. – null falou – Mas toma cuidado! Pelo o que você me contou, se ele estiver em perigo, você também vai estar.
- Nos liga assim que você pisar lá. – o rapaz saltou, abraçando a amiga.
- Gente, eu só vou amanhã! Vão ser só três dias, parem com o drama.
null se aproximou dos dois, fazendo com que o abraço virasse um triplo.
- É que nós não estamos acostumados a ficar longe de você, cabeçuda!
Os três riram com o comentário de null. Apesar das piadas entre eles, null sabia que podia contar com seus amigos. Sempre.
- Vamos parar com essa melosidade. – null sugeriu, separando-se das garotas.
- Tá certo – null concordou.
- Aproveita aquela cidade linda como se estivesse com a gente. – suplicou null, fazendo a amiga sorrir.
null aproveitaria Londres, aproveitaria como a melhor e pior viagem que poderia ter feito.


9 – A pousada

Um pouco animada e outro pouco receosa, null olhou para trás, observando o Highway Academy por uns últimos instantes antes de entrar no carro prateado que null null alugara. Este, por sua vez, esperava a garota dentro do veículo, sorrindo de leve.
Ao sentar no carona, null sorriu.
- Vamos, então.
- Tudo bem. – ele respondeu.
Ambos em silêncio, apenas curtiam as músicas que tocavam no rádio até a chegada ao aeroporto. null olhava pela janela do veículo, e embora o entusiasmo para conhecer um novo lugar, ela ainda podia sentir uma pontada de agonia quanto àquela viagem.
null, por sua vez, estava feliz pela companhia de null, mas o propósito daquela viagem o deixava nervoso. Será que desta vez conseguiriam prender o culpado? Ele torcia para que sim.

- Posso ajudar em algo? – a aeromoça perguntava aos dois.
- Eu queria água. – null falou, simpático. Era impressionante como a simpatia dele afetava as pessoas, que automaticamente sorriam.
- Tudo bem, e para a senhorita? – a moça dirigiu-se a null.
- O mesmo. – sorriu.
Sentada no lado da janela, null admirava a vista que tinha dali.
- É a primeira vez? – null perguntou, fascinado com a expressão de felicidade de null.
- Sim! – a garota respondeu – É tão lindo ver as coisas aqui de cima.
null aproximou a sua mão da mão de null, segurando-a delicadamente. A mão de null ficava pequena perto da de null, fazendo com que a mão dele cobrisse toda a dela. A garota sentiu o rosto ferver. Era assim toda vez que null a tocava, agora. O rapaz sorriu em resposta, cruzando os dedos com os da menina.
- Eu to feliz que tenha vindo comigo. – falou, sincero. – De verdade, eu me sinto sozinho tendo que voltar para este lugar, depois de tudo.
- Amigos são para isso, não é? – amigos, aquela palavra não combinava com null e null, e os dois estavam cientes disso. Tanto que deu para perceber que ambos não gostaram dela assim que a frase se completou.
- Tem razão. – null respondeu, quebrando o laço que seus dedos faziam com os de null. – Obrigado.
null odiou o fato de ter passado a impressão errada para null. Ela não queria que suas peles parassem de se tocar. Não mais.
Passadas mais algumas horas, o avião pousara em Londres.

- Ali. – null, com as bagagens em mãos, apontava um homem alto e bem vestido. – É o John.
A garota seguiu o rapaz, vendo aquele “John” a olhar, curioso e descontente.
- Achei que viria sozinho, rapaz. – John dirigiu-se a null, que lembrou-se não ter avisado a ninguém sobre null – É sua nova namorada?
null, sem jeito não sabia para onde olhar, e da mesma forma que “amigos” lhe causou uma certa angústia, “nova namorada” lhe pareceu mais errado ainda pelo simples fato de ter havido outra menina que tivesse tocado naqueles lábios que agora pareciam ser tão dela.
- null é minha... – pensou um pouco, lembrando-se de uns momentos antes – Amiga. – null fitou o chão.
- Prazer, null, sou o John!
- O prazer é meu. – null respondeu, sorridente, embora não tendo gostado do jeito como o homem a olhara um pouco antes.
- Onde devemos ficar? – null lembrou-se, pois era óbvio que, em sua própria casa, Charlie estaria.
- Pegue o endereço. – John entregou um pequeno papel a null – É um bom e seguro hotel. – Mais tarde eu te ligo para te passar instruções.
- Tudo bem, John, vou dar ao motorista do táxi. – null respondeu, dando uns tapinhas nas costas do homem enquanto se abraçavam. – Até mais.
Alguns passos adiante, null explicou a null quem era John. O mesmo que o ligara pedindo para que fosse a Londres. A pessoa que ele podia confiar tudo, o melhor amigo que sua mãe tivera.

- Merda! – o homem rosnou ao ouvir a caixa postal. – Foda-se, Charlie que descubra sozinho.

O taxista olhou para os dois jovens que entravam em seu carro, cumprimentando-os com simpatia. null entregou o endereço ao homem grisalho que dirigia.
Maravilhada, null observava cada detalhe que passava perante os seus olhos. Londres era linda, a arquitetura da cidade a deixava encantada. null, que já estava acostumado com aquilo tudo, admirava outra coisa que, para ele, era a melhor maravilha que pudesse contemplar no momento: o sorriso de null.
Quando menos perceberam, o táxi estava diminuindo a velocidade. null não conhecia aquela parte isolada da cidade, que mais parecia abandonada. Pela janela podia notar uma ou outra pessoa mal encarada rondar a rua. Foi quando o carro parou em frente a uma pousada, que claramente estava sentindo os maus tratos e abandono.
- Tem certeza que é aqui? – null perguntou ao taxista, que conferia o endereço no papel.
- Sim, senhor. – confirmou.
- Deve ter algum engano, John me falou que era um bom hotel. – o rapaz confuso olhava para os lados para ver se achava algo.
- Vai ver ele confundiu hotel com pousada. – null disse, olhando para uma placa com a pintura descascada pela ferrugem que dizia “Pousada” em letras vermelhas. Não se podia ver o nome da pousada, pois a ferrugem havia estragado o resto da pintura.
- O endereço é este, não posso fazer nada. – o taxista deu de ombros.
A noite já estava escurecendo a rua, e null não tinha muito o que pensar.
- Certo, vamos ficar aqui essa noite. – olhou para null – Amanhã eu arrumo um lugar melhor.
null concordou, mas aquela aflição de antes voltara. Não era uma boa ideia. Não mesmo.

Assim como estava por fora, a pousada por dentro era descascada. As luzes amarelas eram fracas. null sentia um arrepio ao olhar aquilo tudo e não ouvir um barulho sequer. Era como se a pousada estivesse desabitada. Talvez estivesse, se não fosse um senhora com rugas marcantes entrar na recepção.
- O que vocês querem? – perguntou, seca, estava quase escrito nas rugas da testa da mulher que não recebia ninguém ali.
- Um quarto. – respondeu null, que ao notar como null estava agarrada em seu braço, não seria necessário dois.
A mulher riu desacreditada do que acabara de ouvir, mas não recusou. Afinal, não recebia hóspedes há um bom e longo tempo.
- Escolham qualquer um. – deu de ombros, voltando a entrar pela porta que saíra.
null olhou, confuso, para null e sussurrou, sorrindo para descontrair:
- Ela deve ter muitos amigos.
Os dois foram andando devagar pelo corredor escuro do local, entrando no primeiro quarto que acharam.
O quarto, que parecia não ter sido tocado há um bom tempo, aparentava ser melhor que a recepção. Tirando o cheiro a mofo, o lugar não era tão péssimo. null sentou-se na cama, a única que tinha ali, e lembrou se null e null.
- Droga! – resmungou a garota.
- O que foi? – null perguntou.
- Me esqueci de ligar para null e null.
- Acho que você não vai conseguir, estou tentando ligar para John, mas o celular não tem sinal aqui.
Com um longo suspiro, null percebeu que não ia conseguir ligar para os amigos. O vento que entrou pela janela fez com que null sentisse um novo arrepio. null percebeu e sentou-se ao lado da garota. Sempre quando estava perto de null, o coração de null disparava, mas desta vez foi diferente a disparada, ele sentia que devia protegê-la. Abraçando a garota, null tentava aquecê-la em seus braços, sussurrando um “vai ficar tudo bem” sem saber o porquê de tais palavras, sendo que nada de ruim estava acontecendo.
- Eu preciso falar com eles.
- Eu duvido, mas vamos tentar saber se tem algum telefone aqui. – null respondeu.
Não demorou trinta segundos e eles ouviram um estrondo. Algo tão alto que null assustou-se, agarrando null o máximo que pode.
- O que foi isso? – o rapaz sussurrou.
- Eu não sei. – a garota respondeu.
- Me espere aqui, vou ver o que houve. – null disse, decidido.
- Não vou ficar aqui sozinha, null.
- Por favor! – o rapaz suplicou – Eu já volto.
null aquietou-se quando recebeu um beijo na testa. Observou null sair do quarto e, decidida foi atrás, sem o rapaz perceber. Ela não podia o deixar ir sozinho, ela sentia isso.
Com a pousada vazia, se uma agulha caísse, o mínimo barulho que isso fizesse poderia ser escutado. Assim, null ouviu alguém o seguindo, parando imediatamente.
- O que você está fazendo? – sussurrou tão baixo que null teve que fazer leitura labial para entender.
- Vou com você! – sussurrou da mesma maneira.
null respirou fundo, concordando em seguida. Quando eles chegaram ao quarto de onde a mulher saíra uns tempos atrás, null ordenou que null ficasse do lado de fora. A menina concordou, afinal, ela já tinha desobedecido a ele uma vez.
O rapaz entrou no quarto que estava escuro. Chamou a senhora uma vez e não obteve resposta. Foi quando percebeu que a mesma estava caída a alguns passos dele e aproximou-se da mulher ligeiramente. A única luz que entrava no local era a luz do luar, e foi por causa dessa luz que null pode ver o sangue saindo do ferimento que uma bala deixara no peito daquela senhora que ele não sabia o nome. E foi por causa dessa mesma luz que ele pode ver uma sombra que o fez tremer dos pés a cabeça.
- Ela está morta. – a voz masculina disse a null, com um humor negro. – Como você.


10 – Aquele lugar

- O que você está fazendo aqui, Charles? – null perguntou, sério, embora o medo lhe consumisse.
Charles riu, sarcástico, com a pergunta do rapaz. A resposta era óbvia, mas não mediu esforços para responder.
- O que você acha? – riu, grosseiro – Vim terminar meu serviço, me lembre de agradecer ao John depois. – Charles pensou um pouco – Me desculpe, me esqueci que você não vai poder.
O sorriso de Charles fazia null sentir cada vez mais nojo e raiva daquele ser. Mas agora ele estava ferido, uma ferida no peito de null se abriu ao perceber que fora enganado pela pessoa que ele pensava que mais podia confiar. Aquele que sua mãe confiaria a vida. E novamente a Sra. null estava enganada. Charles e John eram cúmplices.
null somente desejava que, naquele momento, null saísse dali enquanto pudesse, sem ser percebida. Esta, ainda escondida do lado de fora do quarto, segurou o grito quando ouviu quem estava lá. null lembrou-se da história de null, e Charles, obviamente era o assassino da mãe dele.
Sem saber o que fazer, colocou a mão na boca para sua respiração não ser percebida. De onde null estava, podia-se ver o homem de costas e null de frente. A garota agora sabia o que sua intuição queria lhe dizer, na verdade a sua intuição lhe gritava “PERIGO”.
- Eu sempre soube que era você, Charles. – null cuspiu as palavras, não querendo tocar no nome do traidor que o levou até lá. – Você é doente!
- Doente? Por quê? – Charles gargalhou – Por querer melhorar a minha vida?
- Melhorar a sua vida tirando a de pessoas inocentes? – desgostoso, null olhou para a mulher sem vida caída a seus pés e lembrou-se de sua mãe.
Enquanto isso, null silenciosamente tentava pegar algum sinal no telefone. Seria mais fácil, pois estavam perto da saída.
- Não importa quem eu tenha que tirar do caminho. – Charles o fitou – E isso inclui você, null.
Do lado de fora, null tremeu ao ouvir as palavras daquele homem. Sua visão borrou com lágrimas. Ela precisava de ajuda, eles precisavam.
- E você não acha que seria muito suspeito se eu sumisse do mapa? – null perguntou, tentando mudar a ideia do assassino.
- Não me virei com sua mãe? Isso é fácil para mim, garoto. – os olhos de Charles ferviam de ansiedade para ver null morto – É como tirar doce de criança.
“Merda”, null pensou. Charles não podia se safar assim. E além de tudo, null estava lá fora. O rapaz engoliu em seco ao pensar no que Charles seria capaz de fazer com null. Ele nunca se perdoaria se algo a machucasse, principalmente por culpa dele.
- Vamos acabar com isso, não é? – o homem aproximou-se alguns passos. – Esse papo furado não vai me levar a lugar algum. – Charles levantou o revólver, mirando na testa de null. – Vamos ao que interessa. – o mesmo deu um sorriso maldoso.
Sem pensar, null saiu em disparada ao ver null fechar os olhos, esperando o tiro. Ela não podia ver aquilo, ela não deixaria isso acontecer. Nem que tivesse que se jogar na frente de null, ela não aguentaria vê-lo morrer.
- NÃO! – null gritou, empurrando o homem que dera o tiro. – Não!
null estalou os olhos ao ouvi-la. Que raios que null estava fazendo?
- QUE MERDA É ESSA? – Charles gritou, irritado, vendo a menina que caiu a sua frente. Distraído com o momento, não pode ver null se aproximar e acertar dois socos no meio de sua cara. Zonzo, Charles deixou a arma cair.
- Isso é o que eu devia ter feito há muito tempo! – pegando a arma do chão, null apontou para a testa de Charles, mas foi interrompido.
- null, não faça isso! – null conseguiu dizer – Não se iguale a ele.
- PARADO, IMBECIL! – null gritou para o homem, que tentou se movimentar. – null, ele matou minha mãe! – voltou a se dirigir à garota.
- Você não é um assassino, null! – sussurrou – Não faça isso.
O rapaz percebeu que null estava sangrando. A raiva tomou conta de todo o seu ser, descendo direto para a sua mão, que acertou um golpe na nuca de Charles. Este agora se encontrava desacordado.
- null! – null se aproximou da menina – Não faz isso, null.
- Eu consegui chamar a polícia. – ela tentou sorrir – Vai ficar tudo bem.
Não, para null não ia ficar tudo bem. O simples fato de null estar perdendo muito sangue o fazia tremer em desespero.
- Não vai ficar tudo bem se você não estiver comigo, null. – null deixou rolar as lágrimas, fazendo null ter um breve déjà vu . A cena estava se repetindo, e null não podia fazer nada. Apenas acompanhou null em deixar as lágrimas rolarem. Ela não estava ligando para o fato da tremenda dor que estava sentindo, a dor em seu peito de ver null assim a deixava no pior estado que podia se encontrar.
- Fica comigo, null. Por favor! – null implorava em meio a lágrimas. – Não faz isso comigo!
A garota tentava o máximo que podia ficar acordada. Seu corpo estava fraco, e o sangue não para de escorrer. Ouviu de longe uma sirene, e com sua visão fraca, percebeu as luzes.
- Eu vou ficar bem. – sussurrou.
- MALDITO! – null gritou para Charles, que não podia lhe ouvir – null, olha pra mim. Fica comigo, null!
Policiais entraram no local, colocando algemas no homem desacordado.
- Ambulância, mandem uma ambulância. Temos feridos no local. – o policial fava no rádio.
Distante de tudo e todos, null só se importava com que os olhos acinzentados de null não perdessem o pouco brilho que restava. Ele queria que ela ficasse o olhando.
null tentou sorrir para acalmá-lo, mas ela estava fraca até para isso. Doía ver aqueles olhos null cheios de lágrimas. Xingou-se em pensamento ao perceber que precisou disso tudo para ela dizer a ele que o amava. Se era para terminar assim, ao menos ela queria poder dizer isso a null uma vez que seja. Então a menina esforçou-se.
- null... – falou baixo, que para ela, foi o mais alto que pode. – Eu... te amo, null.
O rapaz não conseguia falar nada, apenas agarrou a menina em um abraço, tentando de todas as formas descobrir que aquilo era apenas um sonho. Mas o sangue quente de null que lhe encostava o avisava que aquilo não era um sonho. Era o pesadelo da realidade.
null não conseguia mais deixar as pálpebras abertas. Ela já estava achando um desafio conseguir respirar, talvez tivesse chegado a hora dela, afinal?
Os enfermeiros conseguiram a tirar dos braços de null, que estava desolado ao ver que null não estava mais o olhando. null fechara os olhos.

Em algum lugar
Leve... null se sentia muito leve. Talvez tivesse sonhado com aquilo tudo, mas estava tudo tão confuso em sua mente agora. Como podia estar sonhando, se onde ela estava agora que lhe parecia um sonho? Ela não via ninguém, estava tudo tão claro que parecia estar nas nuvens.
Sentiu um calafrio no peito, algo que ela nunca sentira. Então ela os enxergou.
Fazia tanto tempo que não os via que chorou ao notar que eram seus pais que estavam sorrindo para ela. null pôs-se a correr em direção aos dois.
- Mãe! Pai! – ela os abraçou – Eu estava com tanta saudade!
- Nós também, minha filha! – sua mãe lhe afagou os cabelos – Você está linda.
A felicidade de null era tanta que não podia caber em um sorriso. Até ela perceber que tinha algo errado, seus pais já estavam mortos há um bom tempo.
- Onde estamos? – null perguntou, receosa, deixando sua expressão de felicidade se desmanchar. Quis acordar imediatamente ao se lembrar de null desesperado com ela em seus braços, mas se deu conta que não estava sonhando. Aquilo era real.
- Estamos na passagem, filha. – seu pai respondeu.
- Eu não posso ter morrido. – null falou, desacreditada. – Pai, mãe, eu não posso morrer.
Seus pais sorriram, carinhosos.
- Você não morreu, null. – seu pai voltou a falar – Sua alma que se desprendeu do seu corpo.
Desesperada, null não conseguia pensar direito. Ela não podia deixar null. Não podia deixar a história se repetir.
- Eu não posso ir com vocês. – aquelas palavras doeram, mas para null, doeria muito mais saber que null estava sofrendo.
- Nós sabemos, meu amor. – sua mãe a abraçou – Estamos aqui para ajudá-la.
Um pouco mais calma, null tentou se concentrar.
- O que devo fazer?
- Ouça seu coração, filha. – o pai de null falou.
Fechando os olhos, null tentou pensar em algo. Achou tolice de primeira, mas esvaziou a mente e pode ouvi-lo. Tão claramente que podia jurar que null estava ao seu lado.
“Fica comigo, null. Por favor... eu não sei o que vou fazer sem você. Volta para mim. Eu também te amo, minha null.”
Aquilo foi tão forte que null pôde sentir uma lágrima escorrer no seu rosto, mas não havia lágrima ali. Podia sentir null segurar sua mão, mas ela sabia que null não estava lá. De alguma forma, sua alma estava conectada ao seu corpo e ela podia sentir o que se passava com ele.
Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. Enxergou seus pais novamente.
- Você está em coma na Terra, null. – sua mãe lhe explicou. – Tenha calma e paciência.
- Tente novamente. – seu pai sugeriu.
- Eu amo vocês. – null falou abraçando os dois.
- E nós vamos sempre estar com você, filha. – a mãe de null afagou o peito da garota, onde ficava o coração.
Novamente, null tentou de alguma forma ouvir null null. Ela sabia que era por ele que ela conseguiria voltar. Só por ele. Fechando os olhos, null pode ouvir mais perto ainda a voz do rapaz. Como se ele estivesse falando em seu ouvido.
“Eu também te amo, null. Eu também te amo.”
Após esse sussurro que ouviu claramente, null sentiu seus lábios serem tocados, fazendo com que o corpo que ela não estava sentindo vibrasse com aquele toque. null estava fazendo dar certo, ela estava conseguindo.
Ouviu alguns barulhos paralelos, pôde sentir o perfume de null entrar por suas narinas, pôde sentir o calor da mão dele em sua mão.
Mais uma vez tentou abrir os olhos que pareciam tão pesados. Pesados demais. Mas quando abriu, uma luz branca a cegou por momentos, fazendo-a piscar algumas vezes.
Girando a cabeça devagar, perguntou-se onde estava. E a julgar os aparelhos e a cama onde se encontrava, percebeu que estava em um hospital. Percebeu a bolsinha de sangue no alto após seguir a agulha que estava grudada em sua veia. Observando também que null estava dormindo em uma cadeira ao lado, sem soltar sua mão.
A garota tentou mover os braços e as pernas, mas seu corpo parecia estar dormente. Esperou, quieta.
Sob pensamentos, questionou-se se havia ficado entre a vida e a morte. Lembrou-se da visão de seus pais, obtendo a resposta em seguida.
Dizem que quando o amor se une, ele quebra barreiras que ninguém é capaz de explicar. Isso independe de vida, tempo e espaço.
Aquele velho amor que Annemarie e Jean sentiam um pelo outro, estava tatuado em suas almas, algo que nem eles sabiam que era tão grande, tão inquebrável. E agora, nessa vida em que ambos retornaram a se encontrar, ficou ainda mais forte.
Um amor que null e null estavam destinados a viver intensamente.
Conseguindo mover o braço, com a mão que estava livre, null limpou uma lágrima teimosa, tocando logo em seguida nos cabelos bagunçados de null.
- Eu te amo, null.
Ao ouvir o som da voz da menina, null acordou. A sua alegria era tão imensa que ele estava sem palavras. Suas lágrimas diziam tudo. Seu sorriso brilhou, fazendo null sorrir também.
- Idiota! Você é uma idiota, null! – null conseguiu falar em meio do choro – Não faça mais isso comigo! Nunca mais! – beijou cada parte do rosto da garota que conseguiu em meio as palavras. – Nunca.


11 – A volta para Nova York

- Eu não disse que iria ficar bem? – a garota falou. Embora sentisse pequenas dores e fraqueza, ver null sorrindo a sua frente a deixava bem. Afinal, ela fez o certo. – Nem um “obrigado” eu recebo?
- Realmente estou em dúvidas quanto a isso. – null respondeu, ainda com a voz embargada com o choro de felicidade. – Eu fiquei quatro dias desesperado. Foram os quatro piores dias da minha vida.
Quatro? null ficara quatro dias em coma, e para ela aquilo não passou de segundos.
- Mas sem você eu não estaria aqui. – o rapaz continuou – Então obrigado.
null olhou para os olhos null de null, que no momento estavam avermelhados por conta das lágrimas, e sorriu sincera.
- null, na verdade, eu também tenho que te agradecer. – falou – Sem você, eu não estaria mais aqui.
Por mais que null não entendesse as palavras de null, o rapaz a abraçou como se ela fosse o seu mundo, agora. E de fato, era.
- Eu não sei o que eu faria se você não estivesse mais aqui. – o rapaz voltou a lacrimejar.
- Me desculpe. – a garota respondeu – Pelo o que te fiz passar.
null a olhou com tanto amor, agradecendo a tudo por a menina estar ali, com vida, à sua frente. Para ele, nada mais fazia sentido se não estivesse com null, ele pôde sentir isso no momento em que pensou que a tivesse perdido para sempre. null não queria mais ficar longe um dia sequer longe de null, ele não podia.
- Eu desculpo. – ele respondeu, recebendo um sorriso em troca – Se... – null não tinha muito o que pensar, a decisão já tinha sido tomada - ... você prometer que nunca mais vai me deixar.
null riu. Não por deboche, e sim por nervosismo. No entanto, ela se lembrou das palavras de null enquanto seu corpo estava inconsciente. Cada palavra fazendo com que ela tivesse mais vontade de viver. Viver para ficar com null. Seria ela capaz dizer não a uma coisa dessas?
- Eu não me atreveria a dizer não. – null respondeu a si mesma, sendo a mesma resposta para null.
O rapaz cruzou os dedos com os da garota, admirando cada detalhe de seu rosto. Aquele rosto que ele pensou que nunca mais veria sorrindo novamente como estava agora. Um alívio tomou conta dos dois.
null lembrou-se do responsável por toda aquela confusão. Na verdade, os responsáveis.
- O que aconteceu com eles?
A expressão de null mudara. Um pouco de raiva misto com alívio distinguia a situação.
- Foram presos. – null conseguiu sorrir – No fim, eu estava certo o tempo inteiro em relação a Charles. Quanto a John... – o rapaz deu um suspiro de desgosto. Ele podia sentir sua mãe fazer o mesmo de onde estava.
- Que bom que tudo deu certo. – null respondeu, positiva.
Os dois ficaram um tempo em silêncio, até o médico chegar.
- Mas quem eu vejo acordada? – o médico, cuja identificação era Johnson, falou. – Deveria ter chamado alguém, Sr. null.
- Me desculpe, doutor. – encabulado, o rapaz falou. Mas como null poderia raciocinar diante daquilo?
- Tudo bem. – Dr. Johnson sorriu – Quanto a senhorita Mitchell – dirigiu-se a null –, deve ficar em observação por alguns dias. Depois receberá a alta.
A garota sorriu para o médico, que saíra do quarto enquanto fazia algumas anotações.
A cabeça de null esquecera completamente do Highway Academy e seus melhores amigos que lá estavam.
- Calma! – null, que a julgar pela cara de null, soube no que ela estava pensando. – Eu já falei com eles.
- Devem estar me matando mentalmente. – a menina concluiu.
- Na verdade - null sorriu –, eles estão felizes que você está bem.
Mais um alívio tomou conta de null, fazendo a menina fechar os olhos e sorrir. Ali, null teve certeza que podia sentir seu coração bater mais rápido e ao mesmo tempo parar. Aquilo que todos chamam de amor.

Uma semana depois

“BEM-VINDA, MITCHELL” um cartaz feito a mão estava pendurado no saguão principal do Highway. De volta a Nova York, null nunca se sentiu tão querida naquele internato. Até ela descobrir que quem a esperava eram só null e null. Quem mais poderiam estar ali? null apenas se sentiu agradecida por ter os melhores amigos que alguém poderia ter. Apesar dos dois esperarem com um sorriso enorme e cheios de saudades, não podia deixar de notar os alunos curiosos que começaram a parar no local, observando, null e null chegarem de mãos dadas.
- Merda, null! – null falou, abraçando a menina – Você nos deu um susto tremendo!
- E o pior que a gente não podia nem ir lá te ver! – null falou, com lágrimas nos olhos.
- Eu estou aqui, não estou? – a garota abraçou os amigos ao mesmo tempo. – Eu amo vocês.
- Você é uma idiota, null! – null falou – Isso não se faz com os amigos.
- Vocês acham que eu já não falei isso para ela? – a voz grave de null fez com que null e null percebessem que o rapaz também estava lá.
- Minha nossa! null! E você como está? – null abraçou o rapaz.
- Agora? – null olhou a felicidade com que null estava ao rever seus amigos – Agora estou ótimo! – sorriu.
- Nossa, cara! Nem sei o que dizer. – null, sem jeito, apertou o rapaz em um abraço.
Os quatro ficaram se olhando no local. Enquanto isso, os alunos curiosos já tinham se dispersado.
- Nós temos algo a contar. – null tomou a dianteira, sorrindo para null.
null, que já havia desconfiado sobre o assunto, sorriu como uma criança sorri quando vai para a Disney.
- Nós também. – pegando a mão de null, null respondeu ainda sorridente para null.

Aquele ano foi inesquecível para os quatro, principalmente para null e null.
Sendo o último ano de escola deles, cada um tinha que seguir seu rumo agora, mas nunca deixaram de se falar um dia sequer.
null, como único herdeiro, teve que voltar para Londres, onde entraria em uma das melhores faculdades de lá. null? Bom, null fez uma promessa: “Nunca deixar null.” E é claro que ela cumpriu. Não tendo ninguém, só null, null fora com ele.


12 – Então o felizes para sempre existe?

Londres, 7 anos depois
- Está nervosa? – null perguntava, ansiosa, para null.
- É o dia mais incrível da minha vida, como quer que eu esteja? – null respondeu, dando um última olhada no espelho.
- Pronta? – null perguntou a melhor amiga, dando-lhe o braço.
- Não deixe a noiva cair. – null entregou null para null, dando um beijo em seu marido.

O salão da igreja estava cheio. Amigos e velhos colegas, sim, até aqueles do antigo Highway Academy. Todos aqueles que presenciaram de alguma forma o encontro entre null e null.
A decoração era delicada e linda. As pessoas estavam inquietas, até que a marcha nupcial começou a tocar.
Pela porta principal, Thomas, um lindo garotinho fruto do amor entre null e null, entrou com uma almofadinha nas mãozinhas. O afilhado de null e null carregava as alianças. Ouviu-se a admiração de todos no salão.
null, no altar, agachou-se para ficar da altura do menininho.
- É isso aí, garoto! – afagou os cabelos lisos de Thomas – Agora, deixa o resto com o tio null.
null não percebera, mas null já estava indo em sua direção. E ao olhar para frente, pôde ver a mulher que ele mais amava indo ao seu encontro. null estava radiante. Seus olhos acinzentados brilhavam, o que combinava perfeitamente com a decoração. Para null, não existia mais ninguém naquele lugar, só null. null sorrindo para ele.
Voltou à realidade quando null a entregou.
- Está entregue. – null sorriu, depositando um beijo no rosto da amiga. – Cuide bem da minha garota. – dirigiu-se a null, que, no momento, estava lutando para tirar os olhos de null.
- Não precisa pedir duas vezes.
null pôs-se ao seu lugar como padrinho, ao lado de null, que não conseguia conter as lágrimas. Ambos dando as mãos para o pequeno Thomas.
- Eu posso dizer que sou o homem mais feliz e sortudo por estar aqui, prestes a me casar com você? – foi o que null conseguiu dizer ao finalmente ao falar com null.
null não pôde responder, o padre começara a cerimônia. Então só voltaram a se falar na hora dos votos.
- null null, a vida nos colocou juntos por um único motivo: o destino. Você está disposto a enfrentá-lo comigo para o resto de nossas vidas? Na alegria e na tristeza; na saúde e na doença; viver nosso amor que nem a morte pode separar?
Para muitos, aquelas palavras não tinham sentido. Mas para aqueles que sabiam da história dos dois, foi a coisa mais certa a ser dita. null deu aquele sorriso torto que era tão dele.
- Eu não me atreveria a dizer não. – repetiu as palavras que ouvira de null há sete anos, sorrindo. - E você, null Mitchell? Está disposta a viver comigo para todo o sempre? – agora null perguntava a null.
- Se o sempre tiver um fim, quero viver até além dele com você. – a moça deixou algumas lágrimas de felicidade rolarem quando trocaram as alianças. Junto com ela, as mulheres sentimentais do local demostravam comoção.
- Eu te amo, null. – null sussurrou.
O padre dera sinal para o beijo dos recém-casados.
Ouviam-se palmas e assobios. Ninguém podia explicar em palavras a felicidade que ambos exalavam.
De mãos dadas, null e null foram até o carro estacionado em frente à igreja, recebendo um chuva de arroz na saída.
Na porta do carro, null e sua família vieram ao encontro dos recém-casados.
- Vamos sentir sua falta! – null abraçou a amiga.
Enquanto null se despedia dos amigos, Thomas puxou null pela roupa para conseguir atenção.
- Tio null... – o garotinho falou enquanto foi posto no colo pelo padrinho – Não me deixem com saudades.
null riu com a ordem do menino.
- Hey, não se preocupe, garoto! – beijou a bochecha de Thomas – Nem se a gente quisesse, conseguiríamos.
- Tia null, cadê o meu tchau? – chamando a atenção de null, os quatro adultos riam do garotinho, que estava eufórico com suas novas palavras.
- Tá aqui o seu tchau! – null pegou-o do colo de null, dando um abraço apertado seguindo de um beijo. – Me promete uma coisa? – recebendo um balanço de cabeça como sim, null seguiu – Cuida desses dois aí por mim, tudo bem?
- Prometo, tia null! – Thomas sorriu ao ver a moça cuspir na palma da mão e fez o mesmo.
- Esse é o meu garoto! – null sorriu, orgulhosa, ao ver que o afilhado aprendera seu velho costume para apostas e promessas.
- Agora tenho que lidar com mãos cuspidas, obrigada, null. – null reclamou, sorrindo, limpando a mão do filho logo em seguida.
- Até mais, gente. – a moça despediu-se, atirando um beijo para os amigos, entrando no carro logo em seguida.
Já esperando no carro, null sorria como ninguém. Seus olhos null brilhavam feito diamantes. - Pronta? – perguntou a null, com o sorriso de Jean Chevalier.
- Desde 1830.


13 – 60 anos passam rápido
ATENÇÃO: Coloquem Mirrors para tocar novamente. Sim, outra vez, porque ela é a música que me fez escrever essa fic, ela é a trilha sonora dela. Então coloquem e me abracem. A música deve começar agora.

Sentada em sua cadeira de balanço, null se despedia de sua neta, fruto de sua filha, Anne, com Thomas. O beijo que dera no rosto de Julie fora o mais longo que podia dar.
Observou sua filha e seu afilhado partirem com a neta. null sentia-se apenas cansada.
Passara vinte e cinco anos que seu null havia partido, e no entanto, para ela, parecia uma eternidade. A vida que vivera com null não podia ter sido melhor, além de amor, null lhe dera uma família com que sempre sonhou.
Aos oitenta e cinco anos, null Mitchell, sentada à beira da lareira, fechou os olhos para recordar os velhos tempos. Tempos em que ela não moveria uma palha para mudar.
Começou a lembrar-se da primeira vez que vira aquele garoto simpático de cabelos bagunçados e olhos intensamente null entrar pela porta de sua sala de aula. Lembrou-se de cada detalhe da sua história. Desde aquela aula de educação física até o primeiro e inesquecível beijo na biblioteca daquele internato; sua vida passou diante de seus olhos como um filme, um filme que ela daria tudo para viver novamente.
Lembrou-se também desde as primeiras conversas, até a última que teve com null null.
- Você não acha que já está na hora, null? – falou, ainda de olhos fechados, parando de se balançar na cadeira.
Uma brisa bateu em seu rosto, fazendo-a abrir os olhos. E lá estava ele.
Aparentava ser o null null com dezenove anos, sorrindo torto como só ele sabia fazer. Seus olhos null brilhavam novamente.
- Eu demorei? – perguntou, enquanto null sorria.
- Não importa, eu esperei, como o prometido. - a voz falha da velha null ecoava pela sala.
- E eu estou aqui, como prometi. – null, jovem e belo, estendeu a mão para a amada – Está disposta a vir?
- Eu não me atreveria a dizer não.
E ao tocar na mão de null, null sentiu-se jovem e leve novamente, algo que só ele podia fazê-la se sentir assim. Agora null estava completa novamente, sua outra metade acabara de vir lhe buscar.
E como dois reflexos em um, afastaram-se do que chamamos de vida.

"A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace." – Victor Hugo

Los Angeles; Alguns longos anos dali.

O parquinho estava cheio de crianças espoletas correndo. Lucy tinha se perdido de sua mãe. Mas esperta, a garotinha sabia o que fazer: voltar para o lugar onde a vira pela última vez. Correndo, Lucy tropeçou e caiu.
- Obrigada. – disse ao garotinho com os olhos incrivelmente null que lhe ajudou a levantar.
- Não foi nada. – o menino sorriu – Meu nome é Josh.
Os olhos acinzentados da menina brilharam.
- E o meu é Lucy.


FIM



[n/a] Oi pessoas. O que dizer a vocês uma hora dessas? Curtindo ao som de Mirrors? Ok. Eu sei que eu já deixei muita gente em prantos com ILYMM quando ela estava somente no tumblr. Eu mesma não contive minha lágrimas escrevendo os capítulo finais. Mas agora tive a oportunidade de ter novos leitores, e claro, quero saber o que vocês acharam.
Então to esperando qualquer sinalzinho de vocês <3
Aliás, antes que me perguntem. Sim, estou escrevendo um nova fanfic, e acho que ela vai ser um pouco maior que esta pequena It’s Like You’re My Mirror. Mas posso prometer que ela será linda e emocionante!
Agora chegou a hora do agradecimentos. Eu nem sei expressar com palavras o quão feliz eu fiquei com a resposta que tive de todos os leitores de ILYMM. Tanto no tumblr como no twitter. Vocês são meu tudo ok? Cada comentário e tweet com a tag, tudo! Tudo me colocou e ainda coloca um belo sorriso no rosto.
Desde aqueles que acompanharam a fic desde o princípio, até os mais novos. Todos vocês foram, e ainda são importantes pra mim. Então um obrigada de coração <3
Eu prometi citar nomes, mas vi que não vai ser possível. É tanta gente que merece estar aqui que eu não quero esquecer de ninguém. Eu não me perdoaria. Então, se tu é um dos que merecem estar aqui, saiba que você está! A cada palavra de agradecimento.
É isso gente. Espero que vocês tenham gostado de #ILYMM, pois eu escrevi com todo o coração. E obrigada por lerem até aqui, sei que sou chata. Hahaha
Não esqueçam de entrar em contato comigo viram?
Beijos.

Xoxo, Lia Polis



Nota da Beta: NÃO SOU A AUTORA DA FIC. Somente em caso de erros, envie um email para awfulhurricano@gmail.com ou um tweet para @AbbyCJ.


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