Escrita por: Tori C.
Betada por: Flávia C.




Ok, Paris. A cidade da luz e uma das mais românticas do mundo inteiro. É, é aqui que eu me encontro, na verdade, é que eu moro... Há exatamente 2 anos. Sempre foi um dos meus sonhos vir morar em Paris, a cidade que abriga moda, de uma das melhores culinárias do mundo, etc etc, mas não vim só por causa desse meu sonho. Estou aqui estudando também, estou fazendo a minha faculdade aqui. O que é bastante importante, mas ao mesmo tempo imprevisível por causa do visto, mas isso eu vou fazer bastante questão de sempre renovar, se eu puder é claro... É o que eu mais quero daqui para frente. Quero continuar aqui. Aliás, não estou aqui sozinha, é claro... Que idiotice a se pensar! Eu estou com uma amiga aqui também, a minha melhor amiga e que também teve essa ideia “maluca” de vir para Paris, e eu agradeço não somente a Deus, mas também a Jesus por tê-la aqui comigo. Sobreviver aqui seria difícil sem ela, tenho que admitir. Mesmo sendo chata e irritante de vez em quando, ela é minha melhor amiga, tenho que aguentar, certo? É, é sim.
Agora exatamente me encontro em minha cama, depois de passar algumas horas no cinema – sim, é onde eu trabalho. Aqui tem vários cinemas, digo no máximo dez em uma única rua, então foi fácil arrumar um emprego, apenas “fácil”. Minha carga horária é prática e o salário é bom, ao menos de vez em quando posso assistir alguns filmes por lá de graça. Minhas costas estavam doendo um pouco e o meu estômago reclamando de fome, mas eu estava completamente exausta.
Hoje na faculdade foi meio cansativo, quero dizer, não é fácil ficar atenta num seminário sobre corantes. Era para eu estar prestando atenção, até porque isso é bastante importante para o meu curso – gastronomia – mas hoje eu não estava conseguindo. E ainda mais tudo ser numa língua diferente da sua? Claro que é difícil. Mas eu não tenho que reclamar, estou realizando um dos meus sonhos, então ainda é bom. Ouvi a porta do pequeno apartamento, que eu e conseguimos alugar, bater e eu já sabia que ela tinha voltado. Só não queria ver se ela estava acompanhada ou não, como sempre. Quase todas as semanas tinha um peguete, e eu não estava mesmo afim de saber que era hoje. Talvez eu o visse na manhã seguinte...mas isso não importa agora. O que importa é a minha fome que está consumindo o meu cérebro e fazendo que fique um pouco difícil de pensar. Levantei-me da minha cama, arrastei meus pesados membros até a cozinha e fui fazer um pão com ovo mesmo. O que é que tem? Só porque eu faço gastronomia não posso comer pão com ovo mexido, não? Depois de pôr o ovo no pão, voltei para o quarto com um copo com água gelada. Não ia comer seco, não mesmo. E a preguiça estava pior que o meu cansaço então não ia fazer suco ou tomar suco de caixinha quente. Sentei-me na cama e comecei a comer. Parecia que eu não comia a dias, então se caso alguém me visse diria que eu estava parecendo bicho comendo e iria perguntar onde é que estava os meus modos, mas enquanto a fome tomasse conta da minha mente eu não iria ligar.
Depois de jantar, tomei um banho rápido e fui dormir, afinal, amanhã eu teria aula e teria que trabalhar, mas amanhã era sexta-feira e o turno seria um pouco maior. Na verdade eu tentei dormir, mas as paredes eram finas e infelizmente tive que escutar: “Oh, mon Dieu... eh bien, c'est mieux!” que no caso seria “Oh, Deus...assim, assim é melhor!”, "S'il vous plaît Benjamin sans provocation.” “Por favor Benjamin, sem provocações”. Estava quase gritando para eles pararem, mas eu sei o quanto ela me amaldiçoaria por tal ato, então fiquei calada. Sou eu quem não pego ninguém mesmo, então... Tentei pregar os olhos mais uma vez, mas não tava dando mesmo. Soltei um pequeno “puta que pariu” baixo, peguei meu celular e pus numa das listas mais calmas que eu tinha, e um pouco alto. E então, finalmente peguei no sono. Obrigada The Smiths por ter criado Asleep e Please Please Please Let Me Get What I Want.

Acordei com o celular vibrando e tocando uma daquelas musiquinhas irritantes, era o despertador. Levantei-me meio a força, tomei um banho quentinho, vesti roupas confortáveis e fui para a cozinha, comer pão com ovo de novo mas dessa vez acompanhado de suco de laranja. Dei graças a Deus por não ter ninguém ou não ouvir nenhum barulho na cozinha, fiz o meu café da manhã sossegada e comi. Olhei para a janela para ver se hoje iria chover, afinal nunca se sabe quando vai chover em Paris. Peguei meu casaco, um pequeno guarda-chuva, o pus na bolsa e quando sai novamente do meu quarto para poder ir para faculdade, dei de cara com sentada na sala.
- Já vai?
- É claro, quer que eu perca a primeira aula? Ainda não estou doida...e hoje vai ser um dia longo.
- Ah, então tá bom. A minha primeira aula é só um pouquinho mais tarde hoje, você sabe...
- É, eu sei disso.
- Então tá. Bom dia.
- Obrigada, pra você também... Nos encontramos mais tarde. - falei já próxima a porta. Ela assentiu, saí de casa, fechei a porta e quando já estava passando pelo corredor para ir até as escadas, ouvi alguém vomitar. Droga de paredes finas.

~*~*~


Estava caminhando pelas rue Saint-Jacques, vendo o rio Sena ao meu lado esquerdo. Era sempre bom passar por aqui, mesmo que, por causa dos ventos, fosse um pouco friozinho. Ouvia em meus fones de ouvido Bitter Sweet Symphony, dava-me uma bela sensação, uma sensação de liberdade e ao mesmo tempo alegria. Era uma boa música para se ouvir enquanto caminha, em qualquer lugar, recomendo. Eu já estava chegando ao meu querido trabalho. Depois de ter almoçado com , fui para mais uma aula e agora cá estou. Cheguei no cinema, e fui até o banheiro para poder trocar de camisa. Na verdade apenas por o colete e prender o meu cabelo.
- No change, I can change, I can change, I can change... - cantarolei enquanto prendia o meu cabelo.
- But I'm here in my mold, I am here in my mold. -Collet cantarolou junto comigo. Colett era uma colega de trabalho, era engraçada, mas não tinha tanta afinidade com ela. Sorri e saí do banheiro depois de lavar as mãos. Guardei todas as minhas coisas no pequeno armário que eles separavam para os funcionários e fui até o meu posto. Vender os tickets. Assim que me ajeitei e fui vendo os filmes que teríamos hoje, um casal de velhinhos chegou até o caixa e o senhor me perguntou qual seria o próximo filme e o horário, já que ele havia esquecido o pequeno horário e filmes da semana que divulgamos.
-Je voudrais deux billets, s'il vous plaît? - ele disse sorrindo. “Gostaria de dois bilhetes, por favor?”.
- Cours. - disse, que no caso seria “é claro”.
- Merci.
- De rien.
Sorri e esperei com que mais pessoas viessem. Geralmente não vinham tantas pessoas, era um cinema onde passavam mais os clássicos, no entanto de vez em quando tinham novos filmes. Mais nas sextas-feiras à noite, que no caso seria mais tarde.
- , você já foi num encontro a cegas? - perguntou Collet. Em francês, é claro... De vez em quando ela arriscava um pequeno português, mas era – na maioria das vezes – brincando.
- Não, para falar a verdade faz um bom tempo que não vou a algum encontro. - falei sorrindo um pouco sem graça. Ela parou de lixar suas unhas, me olhou um pouco incrédula e voltou a lixar as unhas.
- Bem, eu fui a um e é muito bom. Recomendo para você. - sorriu. - Enfim... mas não arrumei ninguém, não.
Ela continuou falando sobre coisas fúteis e eu respondia no que me era possível. Hoje eu não estava muito a fim de papo, mas teria que ser educada com a minha colega de trabalho, certo? E principalmente com os clientes, mas com os clientes não se precisa muito de conversa. Apenas um “cours”, “merci” ,“de rien” eram o suficiente.
A noite logo chegou, mais movimento, mais bilhetes a se vender, mais pessoas desconhecidas e outras conhecidas. E então eu vi alguns colegas de classe e uma das pessoas mais chatas que conheci em toda a minha vida. Vivienne. Dude, além de ter uma voz irritante, ela tem que ter cabelos 'perfeitos', peitos arrebitados e volumosos, ser galinha e dar em cima dos caras da classe. Deus, por quê? Além disso tudo, de esfregar na sua cara que é mais bonita que você, ela tem que ter o 'sotaque perfeito'.
- Olá, chéri. - disse ela com a maior cara de vadia e se passando ser superior.
-Olá, Vivienne - sorri a contragosto. - Já decidiu que filme irá ver?
- Joshua, ma chère, avez-vous décidé? Je ne suis pas d'humeur à elle. -disse ela falando com a pronúncia perfeita, coisa que eu nunca iria me acostumar. “Joshua, querido, você já decidiu? Não estou com paciência pra isso.” O cara disse logo o filme que queria, e assim que pagou ela me soltou um sorrisinho que considerei como ofensivo. Quase soltei uma bala imaginária na cara dela, juro por Deus.
Já eram quase nove horas da noite, meu turno havia acabado. Despedi-me de meus colegas e fui andando de volta para casa, afinal tudo era perto. Não precisava de táxi, carro ou ônibus. De vez em quando usava o ônibus ou o métro, mas só quando ia para algum lugar mais longe do que a faculdade e trabalho. Vi o Sena novamente, porém muito mais bonito do que já era, iluminado pelas luzes verdes, laranjas e até mesmo amarelas. Cheguei enfim no prédio, subi as escadas e antes que eu abrisse a porta, rezei mentalmente para que não tivesse trazido mais alguém consigo hoje. Abri a porta, e a encontrei sentada no sofá, vendo TV. Suspirei aliviada e já estava indo para o meu quarto, quando a ouvi me chamar.
- ?
- Oi?
- Só estava esperando você... Vamos sair hoje?
- Ah, não. Hoje não. Hoje eu tô cansada e só quero descansar, e dormir até amanhã, só acordar de meio dia, se é que me permite.
- Não, eu não permito. Essa é sempre a sua desculpa! Vamos logo, vá tomar um banho que nós vamos sair hoje e ponto final.
- Não, . Por favor, eu lhe imploro! Prometo que da próxima não passa e...
- Nada disso. Essa é mais uma desculpa, eu sei que você está cansada, mas o lugar em que nós vamos hoje é legal e nada cansativo, okay? - rolei os olhos e ela sorriu. - É sério! Não acredita em mim? Você vai ficar sentada, comendo e conversando, olha que coisa boa?! Eu sei que você adora fazer isso, agora pelo amor, vai tomar banho.
- Tá bom! - sorri divertida e fui até o meu quarto jogar as minhas coisas em cima da cama e separar a minhas roupas. Quando estava já abrindo o meu guarda-roupa, ela entrou no quarto.
- Você tá zanzando, vai simbora para o banheiro que eu separo a sua roupa!
Sorrimos e fui correndo para o banheiro antes que ela me batesse. Entrei no banheiro, tranquei a porta e fui até a área do box. Liguei o registro e agradeci mentalmente por estar na água quente/morna.
- Só sei dançar com você, isso é o que o amor faz... - cantarolei enquanto me ensaboava e ouvi reclamar para eu não demorar. Terminei de me ensaboar, me enxaguei, enxuguei meu corpo rapidamente, destranquei a porta do banheiro e saí correndo para o meu quarto. Vi as roupas que ela separou. Era um vestido, um dos meus preferidos, uma legging preta, um cachecol colorido e uma sapatilha preta. Obrigada, , você presta muita atenção como eu me visto. Vesti-me rapidamente, prendi o meu cabelo em um coque, mas não tão lato, um coque charmoso se é que podemos chamá-lo assim, fiz uma maquiagem super simples – apenas um pó compacto, lápis de olho e um batom – e saí do quarto, claro depois de passar perfume – não quero ser chamada de fedida.
- Podemos ir agora? -ela disse um pouco impaciente.
- É claro, amorzinho do meu coração. - falei debochada. Sorri e fui abraçá-la.
- Não me toca! Vamos logo.
Gargalhei, toquei nela e logo nos saímos. Fui seguindo a mesma, até porque eu não sabia aonde estávamos indo. Espero que não seja muito longe ou muito movimentado. Não quero ir para nenhum pub ou algo do tipo. Ela acendeu um cigarro, deu duas tragadas e me ofereceu. Não sei quando ela começou a fumar – sempre quis inovar, experimentar coisas novas, então nunca se sabe quando ela vai vim com suas novidades –, mas eu aceitei e dei apenas uma tragada, só para ver como era e se isso saciaria a minha vontade de um dia... Devolvi o cigarro e fomos andando mais rápido. Chegamos ao tal lugar, e vi alguns táxis e outras pessoas entrando no estabelecimento. Para falar a verdade eu não sabia definir o que aquilo era, não tinha nenhuma definição lá e parecia mais um pub. Eu já ia ralhar , quando ela olhou pra mim sorrindo e disse:
- Não é um pub! É um lugar de encontros à cega. Toda semana tem um e...
- , você não me trouxe aqui porque está me achando muito chata e quer que eu arrume alguém, foi? – a interrompi. – Olha, eu já disse a você que não preciso ter uma vida sexualmente ativa como a sua e que não estou precisando de alguém agora...
- Por favor, vamos tentar? Eu sei que você passou por poucas e boas em relação a isso, mas não pode ficar assim pra sempre, não é? Vamos, por favor, .
- Tudo bem, mas só se você der um tempo nessa sua vida sexualmente ativa ou vá pra casa do cara, okay? As paredes são finas e não é nada agradável.
Ela sorriu sem graça e me arrastou até entrarmos no lugar. Até que era vamos dizer que agradável. Baixa luz, cheia de mesas ocupadas e desocupadas, pessoas bonitas e lindas e nem tão bonitas. Havia garçons passando, tudo bem organizado e gracioso. Em média devia ter umas cinquentas mesas, a maioria estava ocupada, mas havia muitas vazias. Era tudo muito bonito, realmente. Sorri agradecida pelo lugar ser legal, e ela sorriu também, talvez esperasse o mesmo que eu.
- Bem, agora você vai pra sua mesa e eu vou para a minha, ok?
- O quê? Como assim? -perguntei confusa.
- Como é que você quer ter um 'encontro' se eu vou estar na mesma mesa que você? Assim não dá, né? -olhei-a com uma certa insegurança e ela reprovou-me com um olhar. - É. Agora vá logo escolher uma mesa pra você que eu estou indo escolher uma pra mim. Não precisa ser muito longe, daí você pode me pedir socorro quando quiser. - continuou e deu uma piscadela, me passando segurança. Assenti e fui então até uma mesa. Sentei-me e vi se sentar em uma mesa um pouco próxima de mim, já tinha um cara sentado lá, então ela começou a conversar com ele.
Depois de ser servida com um vinho tinto e alguns pãezinhos – provavelmente aquilo seria a entrada para o 'jantar' –, fiquei esperando alguém vir até a minha mesa. Algumas novas pessoas – além daquelas que já se encontravam lá – chegaram e ocuparam algumas das mesas que sobraram. Acho que se passaram apenas trinta minutos, mas foram trinta minutos torturantes. Estou me sentindo desleixada, feia, e completamente não apresentável ou até mesmo nada 'pegável'. Pra ser sincera, estou me sentindo no tempo da escola novamente, onde nem mesmo os tribufus me olhavam de um modo que dissesse: “nossa que linda, vem cá.” Deus, por que não aparece um francês super gato, inteligente, engraçado e fofo? Não, eu estou pedindo de mais. Não é porque estou em Paris que o cara dos meus sonhos ou aquele cara que sempre imaginei vai se martirizar aqui na minha frente. Magia não existe e milagres não acontecem comigo. “Ah, por favor para de reclamar, você está em Paris, tentando ganhar a vida, estudando gastronomia e tentando aproveitar também, é só ter um pouco de paciência. Apenas” pensei com os meus botões. Olhei para o meu lado esquerdo, vi duas mulheres conversando; olhei para o meu direito, vi conversar com outro rapaz. Bem, o cara não gostou dela ou ela não gostou dele. Cutuquei a toalha da mesa, ouvi o burburinho e me senti um pouco irritada. Por que eu aceitei vir aqui mesmo? Cutuquei um pão e mexi na taça de vinho, tentando ajeitar. Ouvi alguém coçar a garganta e então levantei a cabeça pra ver se era o garçom, mas não. Não é um garçom e sim um cara bonitinho de olhos e um cabelo organizado mas bagunçado ao mesmo tempo, completamente encantador. Não, isso deve ser da minha imaginação até porque eu estava reclamando agorinha mesmo e -
- Posso me sentar aqui? -perguntou ele com um sorriso ladino. Seus olhos eram brilhantes, eram super . Eu tenho que parar com isso, responder logo. Responde, !
- É claro, claro.
Ele sorriu e sentou-se a minha frente. Pôs uma de suas mãos em cima da mesa e a outra passou rapidamente em seu cabelo desarrrumado/arrumado. Sorriu novamente, só que dessa vez sem jeito e falou:
- Me chamo e você?
- ... hum ... prazer. - falei meio incerta, tentando ajeitar a minha postura. Deus acho que eu to passando mal. Droga de nervosismo e surpresa. Tomei um pouco do vinho e sorri amarelo.
- É um prazer também -sorriu. - Desculpa perguntar, mas já perguntando...você tá bem?
- Ah, sim... Eu, eu estou.
- Tem certeza? - perguntou me olhando minuciosamente, tentando encontrar algum erro em mim, provavelmente. Assenti sorrindo e me passando tranquilidade pro dentro. Ele me olhou nos olhos e eu senti um certo desconforto mas ao mesmo tempo uma vontade não parar de olhar. Começamos a conversar normalmente e eu pude reparar um certo sotaque britânico. Ele tinha que ter sotaque britânico? Acho que pedir muito pode dar certo... Ele tinha um sorriso bonito, dentes brancos e alinhados, tinha seu próprio charme, era delicado, engraçado, não falava besteira, tem um jeito de ser intelectual, inteligente... Chega , acho que tá na hora de parar de citar todas as qualidades do cara em mente e começar a falar normalmente com ele, porque ele tá olhando...
- O que foi? - perguntei franzindo o cenho, fazendo rir.
- Nada. Você é de onde, ?
- Brasil. - falei e cutuquei um dos pãezinhos na cesta.
- Nossa...mas você veio só pra estudar ou por causa do emprego do seu pai ou mãe? Seu francês é bom.
- Obrigada... Eu vim pra estudar e tentar morar aqui. Sempre admirei e sonhei com Paris, viver aqui é um sonho realizado. Meus pais ficaram no Brasil. Reclamaram bastante quando descobriram as minhas ideias e planejamentos, mas depois de ficar reclamando também e dizendo que seria uma boa oportunidade pra mim, aceitaram. Mas ainda reclamam. - falei sorrindo um pouco sem jeito. - Mas e você? Não é daqui com toda certeza. Seu sotaque britânico não me engana.
- Pensei que tivesse. - piscou maroto e logo sorriu. - Sim, eu não sou daqui... Só vim aqui para escapar um pouco da minha família e trabalhar com que realmente gosto. É bom saber que meu sotaque não engana...é uma boa forma de saber que mesmo anos aqui em Paris, ainda tenho um pouco de casa.
- Você trabalha com o quê? - perguntei.
- Trabalho numa galeria de arte. E você?
-Eu tenho trabalhado num cinema, mas estou cursando gastronomia. - falei meio sem jeito, talvez diga-se de passagem com vergonha .- É só um pretexto até arrumar um emprego em algum restaurante...
Olhei para as minhas mãos nervosas e vi que eu cutucava a toalha da mesa novamente. Retirei as mãos de cima da mesa e as coloquei em meu colo, dessa vez eu poderia cutucar qualquer coisa sem que ele percebesse ou se incomodasse. Deve ser chato, ele poderia estar pensando que eu sou insegura e que pode estar sendo desagradável, mas muito pelo contrário.
- ? , não precisa ter vergonha ou sem jeito pra falar do seu trabalho ou do curso que faz. Sabia que eu gosto muito de comer? Acho um milagre eu não ser bem gordo e poder entrar pela porta. Eu adoraria ter uma namorada que cozinhasse pra mim até porque eu não cozinho muito bem...-ele falou de um jeito brincalhão e me fez me sentir mais calma. Parei de cutucar o meu band-aid que estava no meu dedão esquerdo e sorri. - Então, se sente melhor?
-Obrigada. - falei sincera. - Hey, já que você fala inglês, por que não falamos inglês? Eu cansei um pouco de falar francês...
-Eu aceito. - disse ele sorrindo.
Ficamos conversando sobre tipos de música, sobre a galeria em que ele trabalha e até mesmo sobre pão. Mas infelizmente eu ouvi o pequeno relógio tocar e vi algumas pessoas que estavam sentadas conversando irem para outra mesa. Na hora, me deu desespero, mas quando vi que aqueles olhos olharem pra mim de um modo diferente, quase me derreti feito maria-mole.
- Acho que vamos ter que trocar... - ele falou com um ar tristonho.
- Eu não quero trocar, tem certeza que tem de trocar? - perguntei o fazendo rir.
- Tenho, você nunca ouviu as regras daqui? É como se estivéssemos numa frigideira e pra não queimar a carne você tem que virar o lado. - sorrimos. - Essa comparação foi ridícula, mas ok. Qualquer coisa a pessoa volta para o mesmo lugar, mas eu faria questão de nem me levantar daqui.
- Preguiçoso. - debochei. - Você se levanta ou eu me levanto?
- Eu me levanto, é claro. Até depois. - disse ele de um modo melancólico. Rimos e ele foi para uma mesa próxima. Um cara, vamos dizer que brutamontes, veio até a mesa e se sentou à minha frente. Credo, nem parece ser francês, não tem educação.
- Bonjour, mon amour. - falou tentando, apenas tentando, ser galanteador. Deus, por quê? Traga-me o de volta! Eu imploro de joelhos no milho. - Sou o Artus.
Aquilo estava sendo uma tortura, ele tentava tocar a minha mão. Eu estava num total caso de repulsa. Não aguentava mais aquele vinho e olhar para a cara desse tal Artus. Parecia que ele estava me 'comendo' só pelos olhos. Ele trouxe sua cadeira para mais perto e dessa vez eu pude ver conversando com uma mulher, numa mesa um pouco perto da que eu estava. Seus olhos se encontraram os meus e ele sorriu, mas não só com os lábios e mas também com os olhos. Ele voltou para sua conversa depois da mulher ruiva – por sinal – chamar-lhe a atenção. Olhei para o meu lado direito e vi sorrindo animadamente enquanto conversava com um cara que aparentava ser legal, educado e legitimamente francês. Senti uma mão pesada e grossa tocar a minha e encarei o tal do Artus. Um garçom passou na mesa e isso impediu Artus de se aproximar ainda mais de mim e voltar com a cadeira no lugar. Pedi licença e fui até o banheiro. Eu não estava aguentando mais ficar ali e olhe que no máximo foi uns 5 a 10 minutos. Assim que cheguei, o ambiente era outro. Bem mais claro, de azulejos brancos, com um espelho enorme e bem limpo, e as pias bem limpas e bem brancas. Encarei-me um pouco no espelho, respirei fundo três vezes e quando estava prestes a molhar um pouco o rosto, uma pessoa entrou no banheiro também.
- Aqui está você! - disse com um sorriso nos lábios.
- Quer me matar do coração? - perguntei com a mão em meu peito, ainda tentando respirar normalmente. Tinha pesando que era o tal do Artus.
- Não, claro que não. E então como está sendo? Está gostando? - me metralhou de perguntas enquanto ajeitava seu cabelo.
- Estava gostando, estava sendo legal, até um brutamontes substituir um cara bem legal e...
- Trocaram o ? - me interrompeu.
- Como assim? Você conhece o ? Não sabia disso, ele não falou nada a respeito...
- Eu que pedi pra ele ir até a sua mesa. - me interrompeu novamente. - Ele estava conversando comigo, mas eu vi que ele tinha tudo em comum com você, então eu apontei pra você e ele sorriu. E então ele foi até a sua mesa, depois de me agradecer. Você gostou dele? Ele tem cara de ser bem interessante.
- Ah, claro. - suspirei. - Então quer dizer que você teve pena de mim por estar sozinha na mesa e pediu pra ele ir até lá? Eu já quero ir pra casa.
- Ei! Para com isso! Eu não tive pena de você e para de ser anti-social. Respira fundo, se acalma e volta pra mesa, ok?
- Eu não quero voltar. Tem um cara muito chato, tentando me molestar! - exagerei e nós duas rimos. - Tá, ele não tá tentando me molestar, mas é mal educado e super grosso, além disso fica o tempo todo querendo segurar a minha mão.
- Eu vi, só faltei berrar como uma cabrita na mesa, mas não fiz isso – é claro – pra não assustar o Andrew. Vamos voltar, ok? Aposto que com essa sua demora, o tal do Artus não está lá mais.
Assenti e saímos do banheiro. Fui caminhando vagarosamente ao lado de e quando chegamos perto da minha mesa, ela piscou pra mim e foi pra dela. Vi um par de olhos e um sorriso vitorioso em seus lábios. Lá estava ele. Agradeci mentalmente e me sentei em meu lugar.
- Não gostou da outra mesa? - perguntei.
- Não...ela era bem nervosinha. Acho que o seu amigo tá melhor lá, não acha? - disse ele apontando para a mesa que ele tinha ido. Lá estava a mulher ruiva com quem ele conversa antes e o Artus. Sorri aliviada e ele deu um suspiro audível.
- Acho, tenho a maior certeza do mundo.
- Onde nós tínhamos parado mesmo? - fingiu pensar. - Ah, sim. Esse pão daqui é meio duro...
Gargalhei disfarçadamente, mas depois de ouvir a sua risada, não consegui me controlar. Depois de rir bastante, bebi um pouco de água e o observei acabar com a água de sua taça para água.
- , você já foi para Londres?
- Não, mas penso em ir algum dia... Antigamente, eu tinha uma grande dúvida em ir morar aqui ou em Londres, mas optei por vir pra cá mesmo. - falei dando de ombros. - E você, já foi ao Brasil?
- Não, mas já fui para a Austrália. - falou dando de ombros também, mas de um modo mais francês.
-Ah, vai com a sua Austrália pra lá. - falei como se estivesse irritada, fazendo-o sorrir. Era tão bom vê-lo sorrir por minha causa, mas é ruim ser palhaça? Nossa, eu tô tão por fora dessas coisas, faz tanto tempo que não saio pra um encontro. Vixe, tô parecendo uma velha.
- O que você tanto pensa, hein? - dei de ombros. - Ok. Diga-me sua sobremesa favorita então.
- Torta alemã. - respondi.
- Chocolate, mas aceito uma torta alemã também, sabe?

~*~*~

Eu não queria ir embora. Mesmo que a cadeira já estivesse ficando desconfortável, a presença de era completamente confortável e agradável. Assim que saímos do estabelecimento, estava com o Andrew ao seu lado e estava ao meu. Trocamos nossos telefones, nos despedimos e cada um foi para um lado. ficou no meio do caminho, alegando que iria sair mais um pouquinho com o Andrew e eu fui para casa. Eu já estava tão pertinho do apartamento, mas começou a chover. Por que tinha que começar a chover logo agora? Não podia ser quando eu entrasse em casa, não? Andei apressada até o prédio, subi as escadas correndo cuidadosamente e assim que entrei, tranquei tudo e fui tomar um banho quente. Bem capaz de ficar gripada. Depois de estar bem seca e com o meu pijama, me deitei na cama e fui dar uma olhada em meu telefone. Ver se tá tudo okay com ele, se molhou...
“Foi ótimo ter sua companhia hoje. Adoraria te ver novamente. Boa noite. xLeeyum.”
Por que ele tinha de ser tão educado e ao mesmo tempo encantador? E agora? O que eu respondo? Mas gente que insegurança, tá na hora de parar com isso. Resolvi apenas guardar o aparelho, é melhor não parecer tão desesperada e nem falar alguma besteira. Vamos dar um suspense, certo? Certo.

Acordei péssima. Esse final de semana não foi nada bom, se entupir de remédios, espirrar e tossir feito uma maluca/fumante não é nada agradável. Fora que nariz entupido, febre e moleza, tudo o que completa a gripe se resume a péssimo. Esse foi o meu final de semana. Meu quarto parece mais uma pequena farmárcia/drogaria e a minha cama um ninho de rato junto com o meu cabelo. Eu tinha que ir pra faculdade hoje, seria uma aula importante, mesmo que eu não vá trabalhar hoje. Ok. Vou ligar pro gerente do cinema para avisar.
Dei um jeito no meu quarto e em mim mesma, tomei café com e nós duas fomos pra a faculdade. Assisti às aulas, avisei ao gerente que não iria poder trabalhar hoje e só pelo estado da minha voz, ele me deu dois dias de folga. Isso é uma maravilha. Voltando pra casa, resolvi passar em um mercado ou algo do tipo. Comprar coisa de doente e alguns mimos pra mim. Após comprar tudo no mercado, pra voltar com aquelas sacolas estava sendo um sacrifício. A pessoa doente e inventa de carregar peso, mas que burrice ! Parei um pouquinho, meus braços doíam e eu podia ouvir a minha pulsação forte e rápida em meus ouvidos. Isso não é bom, não é nada bom. Tontura, tosse, tontura, Tum, Tum, Tum, Tum... Ai meu Deus. Eu estou passando mal. Droga de febre. Soltei as sacolas no chão, respirei fundo e passei minhas mãos tremulas em meus cabelos, estou suando frio. Assim que abri meus olhos novamente, olhei para o outro lado da rua e vi uma cena um tanto desagradável. Vi o do outro lado da rua, conversando com uma mulher, em francês para ser mais exata. Seus gestos eram mais delicados, era mais charmoso e encantador. Ele sorriu, ela sorriu e tocou no braço dele, eles se aproximaram ainda mais, ela aprofundou suas mãos nos cabelos macios e desarrumados-arrumados e o beijou. Tum, Tum, Tum , ele retribuía, ela não estava beijando sozinha. Tum, Tum, Tum, eu me sentei no meio fio e fechei meus olhos. Minhas mãos tremiam, essa gripe está acabando comigo. Acho que vou desmaiar...
- ? ?
Oh, não, não, não...
- Sim? - levantei a minha cabeça e encontrei seus olhos perfeitos. - Ah, oi . - falei tentando sorrir, mas essa merda de mal estar está atrapalhando tudo.
- Está tudo bem? Você está pálida...
- Não estou me sentindo muito bem, mas já estou voltando pra casa. Obrigada por perguntar, não precisa se preocupar. - falei me levantando e me arrependi no mesmo instante, mas não deixei isso transparecer e peguei as sacolas, já começando a andar. Ele me olhou desconfiado mas sorriu.
- Quer ajuda? - neguei. - Já sabia que essa seria a sua resposta, mas me dá aqui. Você tá no ponto de quase cair, . Vem cá. - disse e se aproximou de mim com seu perfume inebriante. Ele tomou de mim duas sacolas, me deixando com as mais leves e pegou em minha mão, me acompanhando. Sua mão era grande e em comparação a minha era quentinha. Ele sorriu mais uma vez e Deus, por que ele é tão perfeito? Não reclamei, é claro, mas eu estou completamente desconfortável e desconcertada. Fomos caminhando até o meu prédio, eu já estava me sentindo melhor mas ainda podia ouvir meus batimentos cardíacos em meus ouvidos. Subimos as escadas ainda de mãos dadas, eu abri meu apartamento que dividia com e nós entramos, e foi nesta bendita hora que ele soltou a minha mão. Peguei as sacolas rapidamente e fui para a cozinha para por todas elas lá. Voltei para sala e o encontrei vendo os nossos porta-retratos. Ele se virou e nossos olhos se encontraram, o que me deu uma pequena tontura a mais. Ele viu e se aproximou para me segurar. Estava próximo demais.
- Você está bem? você está pálida demais e quente... - disse me sentando no sofá e se sentando ao meu lado. - O que aconteceu?
- Eu só estou doente, gripada. - sorri sem graça. - Você pode pegar um remédio no meu quarto por favor? E um pouco de água na cozinha...
- É claro. - falou se levantando um pouco sem jeito. Ele foi até o meu quarto e depois até a cozinha, mas logo voltou. Sentou-se ao meu lado e me entregou o comprimido e o copo d’agua. - Seu quarto está parecendo uma farmácia.
Nós sorrimos e eu tomei o remédio. Talvez acalme os meus nervos e hormônios depois dessa febre infeliz. Ajeitei-me no sofá, encolhendo minhas pernas no mesmo e apenas se aproximou mais de mim, me puxando para si.
-Concordo com você... Mas esse foi o meu final de semana.
- O que houve pra você ficar desse jeito?
- Quando eu estava voltando pra casa começou a chover e eu levei chuva. Obrigada por me ajudar, , mas...
- Você quer que eu vá embora? - perguntou de um modo que eu fiquei sentindo pena de falar qualquer outra coisa. Aquilo estava sendo estranho, tenho que assumir, por mais que eu estivesse gostando de estar abraçada a ele.
- Não, é só que eu acho que estou te incomodando e...
-Você não está me incomodando. - me interrompeu. - Não me incomodaria de cuidar de você.
Eu dei um enorme sorriso internamente, mas por fora apenas sorri de lado e me aconcheguei mais nele, que sorria. Eu sentia que o conhecia há anos, mas apenas nos conhecíamos desde sexta-feira.
Ficamos um tempinho no sofá, até a minha febre amenizar um pouco e o meu estomago reclamar de fome. Resolvi fazer crepe, alguns doces ou não...ainda estou decidindo, mas é melhor pedir a opinião dele, certo? E vai – talvez – aparecer para o almoço.
- Você prefere doce ou salgado? - pergunto quando chegamos na cozinha e ele se sentou.
- Adoraria comer um doce, de chocolate. - falou sorrindo bobamente.
Resolvi então que faria dos dois tipos. Peguei o liquidificador, pus todos os ingredientes, mas não fiz muita massa, afinal crepe doce é um pouco enjoativo. Depois que o recheio e a massa estava pronta, eu assei e tudo ficou pronto. Sentei-me à mesa também e começamos a comer. Ele se lambuzava todo com o chocolate, o que me fazia rir e tossir ao mesmo tempo, e ele me olhar um pouco preocupado. Depois de acabar com o crepe, ele começou a passar o dedo no prato, limpando o chocolate e lambendo. Ele olhou para mim com uma cara meio travesso e veio querer me sujar, então eu comecei a correr e fui em direção ao sofá, mas ele foi mais rápido e sujou a minha bochecha. Ficamos nos olhando por alguns segundos, ele foi se aproximando e eu podia sentir sua respiração, e então nossos lábios se tocaram. Eu sentia um misto de sensações, parecia ser o encaixe perfeito, seus lábios eram macios e tinham gosto de chocolate. Eu sorri ao pensar isso, mas depois a minha respiração falhou e nos afastamos.
- Eu estou doente ...
- Eu não me importo.
- Mas eu me importo, não quero que você fique doente. - eu sorri e ele sorriu.

Alguns meses se passaram...

Eu estava passando pelos Jardim de Luxemburgo e resolvi ficar. Depois daquele dia em que me ajudou e ficou na minha casa durante o dia dizendo que iria cuidar de mim, ficamos mais próximos e nos conhecemos. Ele é um cara legal. Não, essa não é a definição certa para . Ele é completamente encantador, engraçado, lindo, educado, tem o sotaque britânico...e eu estou extremamente apaixonada por ele, mas não sei se isso é recíproco. Isso corrói as minhas entranhas. Sentei-me próxima a uma árvore, estamos na primavera e tudo é muito mais bonito e encantador. Eu não estava me sentindo muito bem. Todos estavam, com toda certeza, pois que não fica feliz ao ver as flores florescerem, tudo ficar mais colorido e a cidade ainda mais linda? Aquilo era aberrante. Fiquei respirando um pouco fundo, fechei os meus olhos e fiquei um pouco ali escutando alguns álbuns antigos que eu tinha na playlist do meu celular. O senti vibrar em minhas mãos e vi que era uma mensagem de .
, onde você está? Podemos almoçar juntas? Xx
Hoje eu não queria almoçar, não estou sentindo fome, nem um pouco, apenas ansiedade. Por quê? Pra que isso? Não tem necessidade, se ele sentisse algo aposto que diria. Mas ele me olha de um modo diferente, toca em minha mão com cautela, me abraça e sorri sempre... Aposto que é apenas amizade da parte dele. Por que eu fui até aquele encontro a cegas? Eu não queria me enrolar com ninguém, sempre dá errado, eu me iludo e acabo me decepcionando, sempre.
“Tudo bem, eu estou indo. Onde você está?”
Respondi logo , pois se eu demorasse ou ignorasse ela iria me matar quando eu chegasse em casa mais tarde. Ela me respondeu logo dizendo onde estava e eu agradeci por ser perto de onde eu estava. Reorganizei minhas coisas, me levantei e fui andando até o restaurante que ela disse estar. Logo a encontrei em frente ao estabelecimento e nós duas entramos. Fizemos os pedidos e ficamos uma olhando pra cara da outra, ela estava com cara de bosta só para constar.
- Você vai encontrar o hoje?
- Ahm...o ? Acho que não, aposto que não. - falei mexendo na toalha da mesa.
- Como assim? Por quê?
- Sei lá, . Não estou a fim.
- Deus, isso é um milagre... O que está acontecendo? Eu sei que você gosta dele, , não precisa mentir ou omitir nada.
- É, mas eu não sei se ele gosta de mim, esse é o problema. Eu não estou a fim de algo que não tenha futuro ou que me machuque. Eu me divirto com ele e tudo mais, sinto coisas muito boas, mas eu queria que ele sentisse o mesmo.
-Ele sente o mesmo, ! Para com isso, é claro que ele sente.
- Não, eu não tenho certeza... De vez em quando eu o vejo com outra mulher. Eu já o vi beijá-la uma vez, naquele dia em que eu estava doente.
- Pode ser que ela seja uma ex-namorada ou sei lá... , ele gosta de você. Dá pra ver só da forma que ele te trata e te olha. Por favor, me escuta. Ele te faz bem, não faz? Por que você não dá uma chance? Tem um cara lindo ao seu lado que gosta de você e você não vai fazer nada?
- Eu vou pensar. - falei assim que os nossos pedidos chegaram.
~*~*~


Depois que o meu turno acabou, eu resolvi que não iria voltar logo para casa, eu precisa espairecer um pouquinho. Comecei a andar e então me lembrei de uma coisa.

Flashback

e eu tínhamos combinado de sair juntos. Tudo bem, aquilo iria ser ótimo, eu estava tão animada. Assim que desci o encontrei. Ele estava vestindo uma calça jeans e uma camisa com uma imagem do Napoleão. Eu sorri e ele sorriu enquanto coçava a sua nuca, mostrando um pouco de sua barriga. Super sexy... Pode apostar que estou sorrindo internamente, gargalhando pelos meus pensamentos ridículos. Ele segurou a minha mão e nós fomos andando. Ele ainda não tinha me contado o que íamos fazer hoje e eu estou bastante ansiosa, mas ele simplesmente não fala nada.
- Pra onde estamos indo, hein, ? Você não vai me falar nada mesmo?
- Não.
Apertei sua mão e ele retribuiu sorrindo. Tínhamos chegado. Mas por que estamos no meu trabalho? Olhei-o incrédula e ele sorriu. Nós entramos e vimos qual era a programação dos filmes hoje, eu sinceramente não lembrava, hoje foi um dia de folga pra mim. Decidimos assistir Luzes da Cidade, um dos melhores filmes do Charles Chaplin. Tentei pagar o meu ingresso, mas ele pagou o meu e o dele e nós fomos até a sala. Nos acomodamos em duas poltronas e esperamos o filme começar. Seu joelho roçou no meu e eu senti sua mão tocar a minha. Olhei de canto de olho e vi que ele sorria olhando para mim. Aquilo me fez derreter por dentro, mas apenas fingi prestar atenção no filme. Após algumas risadas e seu braço/joelho roçar ao meu propositalmente – eu acho –, nós saímos do cinema e fomos até uma lanchonete, a qual ele dizia ter um dos melhores sanduíches do mundo e realmente era um dos melhores que eu já comi em toda a minha vida. O queijo parecia chiclete, não que fosse borrachudo, mas sim por toda vez que eu mordesse o pão ele viesse sendo esticado.
- Hum. - gemi. – Nossa, que maravilha!!
- Acho que acabei de ter um orgasmo-mida e você?
- Concordo. E então? Aonde vamos agora? - perguntei limpando as minhas mãos no guardanapo e o jogando fora numa lata de lixo que estava próxima.
- Você vai ver. - disse sorrindo e fazendo o mesmo que eu tinha feito a segundos atrás.
Fomos seguindo, lado a lado. Passamos pelo Sena, pela Île de la Cité e então estávamos em Notre Dame. Eu já tinha passado por alguma algumas vezes, mas nunca parei realmente. Isso é uma vergonha pra mim, com toda a certeza. Infelizmente estava fechada, mas o que eu realmente percebi que não era o lugar exato para onde estávamos indo. Estávamos indo para o Point Zéro, no caso o Kilometre zero. Passamos pela ponte e enfim paramos em frente a estrela. Olhei-o sorrindo e ele sorriu também.
- Você primeiro.
Eu assenti, pisei na estrela e fechei meus olhos. Por Deus, o que eu vou pedir? Pedir para ficar aqui por mais alguns anos? Conseguir finalmente arranjar um emprego em um bom restaurante? Terminar a faculdade? Meus pensamentos correm para tantas coisas, mas enfim param nele. É, isso talvez seja simples. É ele quem eu quero, gostaria de finalmente ter alguma sorte no amor. Pronto. É isso mesmo. Eu quero o comigo. Abri meus olhos e me afastei um pouco. Pude reparar que ele me observava. Ele se aproximou da estrela, fechou os olhos e passou alguns segundos ali, parado e de olhos fechados. Talvez o seu pedido fosse complicado ou até mesmo difícil. O que ele estava pedindo? Ele parou de morder seu dedão e então abriu os olhos com um sorriso maravilhoso em seus convidativos lábios. Sorri não só com meus pensamentos, mas também porque era impossível não retribuir seu sorriso.
- Aonde vamos agora?-perguntou se aproximando de mim.
- Eu não sei...não quero ir pra casa, quero dar um tempinho pra , não quero ouvir algumas coisas. As paredes são finas e é bastante desagradável.
Ele gargalhou e eu sorri meio sem jeito abraçando a mim mesma por causa de um vento frio que acabara de passar. se aproximou ainda mais e eu pude sentir seu cheiro inebriante. Abraçou-me e disse:
- Que tal irmos para minha casa?
~*~*~


Como era um loft, não tinha um segundo quarto – que no caso seria o quarto de hóspedes –, então ele disse que dormiria no sofá da sala e eu o proibi. Era a casa dele, ele não deveria se sentir ou ficar desconfortável, certo? deu a ideia de fazermos chocolate chaud, e eu aceitei. No entanto, eu acabei fazendo sozinha já que ele só atrapalhava e não fazia direito. Enquanto eu terminava, ele resolveu ir procurar alguma roupa dele para que eu pudesse me trocar e me sentisse mais confortável. Assim que ele voltou, me entregou um de seus blusões, e eu fui trocar de roupa no banheiro. Fomos para a sala e eu pude reparar o quão tudo era arrumadinho e impecável. O que me fez sentir um pouco de vergonha e desejo de um dia conseguir fazer isso com o apartamento e com o meu futuro restaurante. Ai, como eu sou sonhadora... Tomamos o nosso chocolate chaud enquanto conversávamos coisas banais. Após lavarmos as xícaras que usamos, demos um bocejo, depois começamos a rir feito duas pessoas com algum retardo mental.
- Acho melhor irmos dormir. - falou dando um bocejo e indo em direção ao quarto. Eu apenas o segui. Ele se deitou na cama e eu fiz o mesmo, um pouco incerta. Nossos braços se roçavam e meus pés frios tocavam seus tornozelos. - Nossa, , que pé frio! Quer que eu pegue uma meia pra você?
Assenti e ele se levantou. Mexeu em algumas gavetas e me entregou um par de meias brancas novas. O agradeci, pus as meias e nos deitamos novamente, do mesmo jeito em que estávamos antes. Uma pequena brisa fria passou pela janela aberta e eu me aconcheguei um pouco mais na cama, me fazendo pegar no sono.
Mexi-me e me senti um pouco desconfortável. Abri meus olhos para ver o que era e acabei levando um pequeno susto. Oh, meu Deus! Eu estou abraçada a ele e meu rosto está na curva do pescoço dele e... Sua pele é tão macia. Deu uma vontade imensa de depositar um beijo ali, mas seria folgado e estranho demais da minha parte e muito apelão. Levantei minha cabeça, rezando para que ele não estivesse acordado, porém ele estava. Puta merda. Ele sorriu e voltou a fitar o teto do quarto. Vi que ele fazia carinho em si mesmo, para ser mais precisa em sua barriga. Ri e ele me olhou como se eu fosse um E.T., o que eu não gostei muito...
- O que foi?
- Por que você tá alisando a sua barriga? - perguntei me sentando na cama e prendendo o meu cabelo de qualquer jeito. Dane-se se estiver parecendo um ninho de passarinho.
- Porque eu me amo. - falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Eu ri, ele riu também, mas depois ficou me olhando. - Você está linda.

Fim de Flashback

Bati em minha própria testa ao ver onde eu me encontrava. Eu estava no Point Zéro (Quilometro Zero) de Paris. Por que meus pés me trouxeram pra cá? Desisti de saber a resposta dessa icógnita e fui pisar na estrela prateada. Pisei e pensei o que eu mais queria agora. Na verdade, não precisava nem pensar. Era ele quem/o que eu queria. É ele quem eu quero. Eu quero o para mim. Apenas isso que eu quero. Abri meus olhos e vi todos os turistas que passaram por ali, alguns casais andavam abraçados e sorriam. Foquei meus olhos para a cidade e, Nossa Mãe, como Paris é extremamente linda. E eu estou aqui há quase três anos, dá pra acreditar? Mordisquei meu dedão e fui seguido de volta pra casa. Ouvi alguém me chamar, procurei ver quem era, mas não dei muita atenção, afinal, não existe apenas uma no mundo quanto mais em Paris? Continuei seguindo e ouvi novamente, mas não dei muita atenção. Ao longo que dava mais passos, o caminho ia ficando mais calmo e com menos turistas. Comecei a sentir pingos e parei para ver se o meu pequeno guarda-chuva estava na bolsa, mas não estava. Eu vou me matar! Não quero ficar doente novamente! Continuei a andar um pouco mais rápido. É, está chovendo em Paris... Mas que droga.
- Oi, . - ele falou com a respiração um pouco descompassada e segurando um guarda-chuva acima de nós dois, nos protegendo da chuva.
- Ah, oi. - falei um pouco sem ânimo.
-Eu tava procurando por você... Te vi lá no Point Zéro e te chamei, mas você não me viu. Tá voltando pra casa?
- É, e acho que você vai me levar...
- Já jantou?
- Não.
- Podemos jantar juntos?
- Eu não sei...
- , o que foi? -falou parando subitamente e me fazendo parar também. Agora já estávamos ao lado do Sena, na parte coberta da ponte. Eu queria me matar agora. O que está acontecendo comigo? Eu pedi por ele e agora ele está aqui. , acorda!
- , me responde! Você não tem saído mais comigo, não tem atendido minhas ligações, não fala mais comigo direito... O que eu te fiz? Eu não estou suportando te ver desse jeito, me fala...
“Você não é meu, . Quando estava comigo, eu não sei se realmente estava, não sabia se sentia o mesmo que eu, não sei se sente o mesmo que eu.” Pensei, mas não respondi absolutamente nada.
- , o que eu te fiz? Eu gosto de passar meu tempo com você, gosto de te fazer sorrir, de segurar a sua mão, de saber que você está ao meu lado e gostaria de ter te beijado mais vezes, mas não podia porque não sabia se você gostava. Você nunca falou nada ou reclamou... Mesmo tendo passado esses meses sem dizer nada ou de vez em quando com a Louise, mas ela não é você. Eu sempre sonhei com uma mulher pra mim, mas ela não é nada em comparação a você. Eu te amo, .
Eu estava ouvindo aquilo? Eu não estava conseguindo falar ou expressar qualquer outra coisa, e devia estar com cara de bunda neste exato momento...
- ?
- Hum?
-Fala alguma coisa, eu estou morrendo aqui...
Sorri, aproximei-me dele, pus meus braços em seus cabelos e o beijei. E então disse que o amava, várias vezes durante o beijo. Eu amo .

Epílogo

Chegamos ao meu prédio, subimos as escadas em meio a risadas, pois ficávamos competindo quem chegaria mais rápido e eu estava na frente enquanto ele fingia que ia puxar as minhas pernas. Parecíamos duas crianças. Estava tentando achar minha chave, quando ele roubou um beijo. Achei e abri, dando de cara com falando ao telefone em português.
- Ah, tia, ela acabou de chegar! - tapou o telefone com a mão. - , sua bastarda, onde é que você tava? Quer matar a sua mãe e a mim mesma?
Eu ri e pedi para entrar. Ele entrou e eu fui falar com a minha mãe. Peguei o telefone da mão de e me dirigi ao meu quarto, depois de ver que já conversava com .
- Onde é que você estava, menina? Quer me matar de um ataque cardíaco? Eu não tô aí pra te procurar ou cuidar de você, não estou por perto, não sei quase de nada...
- Calma, mãe. Não faz muito tempo que eu saí do trabalho, eu só fui comprar o jantar e estava chovendo. Eu estou bem.
- Hum...bom saber. E então? Soube por que você achou o seu Étienne que tanto procurava. Quando ia me contar?
- O quê? -gargalhei. - Étinne? Meu Étienne? Ele não se chama Étienne, é , mãe.
Ela começou a me perguntar inúmeras coisas sobre , o que me fazia rir, mas por fim eu consegui desligar. Quando me virei, encontrei na porta, com o seu sorriso encantador.
- Como assim Étienne? Você não me quer mais? - perguntou entrando no quarto.
- Quê? Minha mãe achou que você se chamava Étienne.
Sorrimos pelo ciúme bobo dele – o que eu gostei para ser mais exata –, ele me beijou como forma de desculpas – o que eu também adorei – e nós fomos para a sala para podermos jantar. Abrimos aqueles majestosos sanduíches e nos sentamos no chão da sala.
- Hummmmmmmmmmmmmmmmmm! - gemeu.
- Ela teve um orgasmo-mida na minha frente. - disse indignado.
- Deus, você tá parecendo a Ana Maria Braga. - eu disse e ela gargalhou escandalosamente e quase se engasgou. Eu ri também e ficou nos encarando, então eu tive que explicar a nossa piada interna.
-Ah, tá! Obrigado, amor. - disse ele me agradecendo depois de ter explicado. Dei um beijo em sua bochecha e voltamos a comer.
~*~*~


Era um sábado, estávamos no inverno – próximo ao natal – e todos bem agasalhados. Eu usava uma das minhas toquinhas favoritas e ele usava um gorro engraçado que sua mãe havia lhe mandado. e eu estávamos em uma pâtisserie, e eu estou me corroendo por dentro, aposto que ele também. Bolos lindos, extravagantes e com plena certeza deliciosos eram expostos no balcão, junto com uma árvores feitas de macarons coloridos, bolachas recheadas, bolinhos em miniatura, gâteaux cobertos com glacê de amêndoas, alguns tarte tatins e inúmeros doces. Estávamos na fila, bem perto do balcão para sermos atendidos, e eu não sabia o que eu queria. Olhei-o meio agoniada como que pedindo ajuda e ele disse:
- Pode escolher qualquer coisa e de muito, só porque eu te amo.
Sorrimos por ele ser bem besta. Eu estava me sentindo tão bem e aposto que ele sentia o mesmo. Afinal, nós dois conseguimos o que pedimos no Point Zéro – um ao outro.

FIM



Nota da autora: Hello, hello, people! O que acharam? Enorme, né? Vamos parar de perguntas, porque eu amei escrever essa shortfic mesmo ela sendo grande. Me inspirei bastante no livro Anna e O Beijo Francês e recomendo muito ler para quem ainda não leu. Além de ser uma história maravilhosa, o Étienne St.Clair (um dos personagens principais) é completamente encantador e charmoso, e eu me apaixonei completamente por ele. Adoraria tê-lo para mim, assim como ele existisse [eu faria de tudo para ter um Étienne St.Clair para mim e aposto que você também]. Espero que tenham gostado e é só isso mesmo...até as outras shortfics ou até mesmo fanfics. Um enorme beijo para quem leu e comentem, hein? XTori




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