Je m'appelle Clair Laboité
Escrito por Batman & Patman | Revisado por Lily E.



“Essa história não tem um final feliz. Isso não é um conto de fadas. Aqui está a história da minha vida. Pessoas que jamais irei esquecer. E, no fim das contas, a vida não é justa. Kurt Cobain sempre esteve certo: ninguém morre virgem. A vida fode com todos nós antes.”


01. Kiss me like you wanna be loved
As palavras ‘, uma das modelos, me pediu para entregar isso para vocês’ pronunciadas por continuavam ecoando na minha mente e eu simplesmente não conseguia esquecer os desenhos, tendo um em especial que estava em minha mão.
Podia jurar que eu estava mais bonito naquele desenho, mas talvez fosse por conta da garota que ali estava, sentada no colo do Louis desenhado. Suspirei e limpei umas lágrimas que escorreram. Não podia acreditar que aquela garota com notável talento para desenho tinha... Câncer. De algum modo, doía até mesmo pensar naquela palavra tão pequena. Ou talvez doesse o que ela representava. Uma doença que levava milhares de pessoas a morte.
Eu estava em pedaços e tudo o que eu queria era encontrá-la e dizer para não desistir, que eu estaria lá apoiando ela. Apoiando . Tudo o que eu sabia sobre ela era seu nome e sobrenome. E que tinha um grande talento.
“One way or another, I’m gonna see ya
I’m gonna meet ya, meet ya, meet ya, meet ya
One day maybe next week, I’m gonna meet ya
I’m gonna meet ya, I’ll meet ya”

Meu celular começou a tocar e eu demorei um pouco para achá-lo e atendê-lo.
– Fala.
– Hey, Louis. Zayn pediu pra dizer que o Niall disse que o Liam disse que o...
– Harry, fala logo. – Disse um tanto impaciente.
– Ok. Não se esqueça que temos uma entrevista daqui dois dias. – Revirei os olhos. Eu era um dos mais responsáveis do grupo e eu sabia que no fim das contas eu que acabaria os lembrando da tal entrevista. Acabei, mesmo assim, agradecendo ao lembrete e desliguei o celular.
Guardei o desenho em uma pasta junto com os outros e deitei-me na cama. Já estava no fim da tarde e eu não queria sair de casa ou ver alguém. A única pessoa que eu queria ver estava em outro país e... Por que eu não ia vê-la? Claro! Estava óbvio desde o começo. Ela não podia vir até mim, mas eu podia ir até ela. Podia conhecê-la.
Abri um grande sorriso e levantei da cama, tirei o pijama que vestia e coloquei a primeira roupa que vi. Peguei minha carteira e o celular e saí correndo de casa, trancando a porta e deixando a chave embaixo do tapete (eu sei, um lugar óbvio para se guardar a chave).
Enquanto saía de casa, liguei para um táxi que não demorou para aparecer. Aparentemente, eu estava com sorte, já que o trânsito estava ótimo. Em pouco tempo, cheguei no aeroporto e fui diretamente até um dos guichês de uma companhia área.
– Com licença, mas quando sai o primeiro voo para Paris? – Perguntei educadamente.
– O próximo voo sai em dez minutos, senhor.
– Uma passagem, por favor. – Pedi e entreguei meu documento quando pedido. Paguei a passagem e saí apressado em direção à ala de embarque, já que não podia perder o voo por nada. Poucos minutos depois, estava confortavelmente sentado em uma poltrona e esperando o avião decolar.
~2h30 minutos depois~
Havia chegado ao meu destino e me encontrava, naquele momento, tentando despistar algumas fãs e arrumar um táxi ao mesmo tempo. No fim das contas, demorei dez minutos para despistar elas e mais três para conseguir um táxi.
O trajeto Charles De Gaulle Airport/Hospital Association Gombault Darnaud não foi muito longo, já que durou quase 25 minutos [N/AB: Google maps é a prova viva]. Paguei o taxista e entrei no hospital, deparando-me com um local arrumado e paredes de tons claros e, como em qualquer hospital, o cheiro de limpeza predominava no local. Certo, não era um cheiro normal de limpeza, era o cheiro característico de hospital.
Respirei fundo aquele ar e fui até a recepção.
– Com licença. – A moça levantou o olhar de algum papel e sorriu.
Ouí. – Acho que não preciso dizer que havia um ponto de interrogação na minha cara.
– Ér... Eu poderia ver a senhorita Laboité? – Perguntei em dúvida.
Excusez-moi, ce que disent? – Certo. Ela não falava a minha língua. Que ótimo, Louis. Respirei fundo e tentei me lembrar de uma frase simples em francês que pudesse me ajudar naquele momento.
– Ahn... Parle... É parle alguma coisa, tenho certeza. – Fechei os olhos. Por que eu tive a ideia de ir pra um país que não tem o inglês como idioma materno mesmo? – Parle you angle? – Perguntei, em dúvida, misturando o inglês e o francês. – Parle you angle, angles, Andes. É algo assim, tenho certeza. – Murmurei o final.
Excusez-moi. – A recepcionista disse e saiu. Ótimo. Olhei apreensivo para os lados. Precisava achar alguém que falasse a minha língua para me ajudar. Quando pensei em seguir a mulher, ela apareceu. E não estava sozinha.
– Com licença, senhor. Posso ajudá-lo em algo? – Suspirei aliviado ao notar que a acompanhante falava inglês com um forte sotaque. Mas falava.
– Oi, sim, claro. Eu queria ver a senhorita Laboité.
– Desculpe-me, senhor...
– Tomlinson, Louis Tomlinson. – Me apresentei.
– Senhor Tomlinson, o horário de visitas já acabou. Se o senhor quiser, pode retornar amanhã. O horário...
– Eu preciso vê-la hoje. Preciso vê-la agora e saber se ela está bem. – Interrompi a mulher.
– Eu entendo, senhor, mas são regras do hospital. O senhor não pode vê-la agora. – Mordi o lábio inferior e concordei com a cabeça.
– Que horas começa o horário de visitas?
– A partir das 14h. – Voltei a concordar, dei meia volta e me sentei em uma das desconfortáveis cadeiras que estavam ali. – Senhor? – A mulher perguntou com dúvida.
– Vou esperar aqui, se não tiver nenhum problema. – Olhei para o meu relógio de pulso. – 18 horas passam rápido. – Disse brincando e pisquei. A mulher revirou os olhos e saiu, me deixando sozinho com a recepcionista que falava francês.
Não sei quanto tempo passou até que a recepcionista parasse de me encarar e voltasse para o seu serviço de... Bem, recepcionista. Só sei que ela estava encarando a tela do computador fazia um tempo. Aproveitei que ela estava distraída e resolvi agir.
Levantei da cadeira e comecei a andar pelo hospital com o intuito de achar o quarto de e vê-la com meus próprios olhos.
Felizmente, para mim, haviam as iniciais dos pacientes nas portas. Tudo o que eu tinha que fazer era procurar por um e um L. Simples, não?
Após caminhar um pouco, me deparei com uma ‘plaquinha’ pendurada em uma porta branca. A placa parecia representar um jardim, já que havia diversas flores pintadas nela. No canto havia um simples “.L.” em preto. Sorri. Aquele deveria ser o quarto.
Dei três batidinhas e abri a porta, coloquei apenas a cabeça do lado de dentro. Apesar da escuridão, eu podia vislumbrar uma silhueta na cama.
? – Murmurei em dúvida e vi o corpo se mexer. Acabei entrando no quarto e fechando a porta. Pensei em ligar a luz, mas não sabia se seria bom fazê-lo. Acabei indo em direção até onde eu achava que ficava uma janela e abri a cortina, deixando a luz fraca da lua entrar no quarto e iluminar fracamente a garota deitada na cama.
Aproximei-me lentamente dela e abri um pequeno sorriso ao vê-la piscando os olhos.
– Oi, . – Disse um pouco baixo.
– Oi. – Ela murmurou.
– Tudo bem? – Perguntei, incerto.
– Quem é você?
– Louis. – A respondi.
– Louis? – Ela perguntou e pareceu pensar um pouco. Logo seus olhos se arregalaram e eu ouvi uma máquina denunciar que seus batimentos haviam aumentado. – L-Louis T-Tom-Tomlinson? Do One Direction? – Ela gaguejou e eu concordei.
– E você é a Laboité. A garota dos desenhos. – Sorri e afaguei sua mão. Brotaram lágrimas em seus olhos e um grande sorriso se abriu em seu rosto. Sorriso que não ficou por muito tempo, já que, no instante seguinte , começou a respirar com dificuldade e a máquina apitava mais alto do que antes.
Acabei me assustando com a situação, sem saber o que fazer. Sem saber o que estava acontecendo. Logo médicos começaram a entrar e, de alguma forma, eu parei do lado de fora do quarto. Tentei entrar, mas uma enfermeira não permitiu.
Um turbilhão de emoções tomou conta de mim e não consegui ficar parado. Fiquei andando de lá pra cá no corredor. Não tentei entrar no quarto novamente, já que sabia que não seria permitido. Após um tempo, acabei me sentando de frente pra porta de , esperando alguém sair e me dar notícias. Notícias boas. Após um tempo, todos saíram e um médico ficou para trás. Percebi que seria ele que me diria algo. Suspirei e levantei. O olhei nos olhos, tentando disfarçar o medo e nervosismo que tinha tomado conta de mim. Não conseguia acreditar no que havia visto, foi como se uma parte do meu coração fosse esmagado, lentamente, como uma tortura infinita.
– O que você é da senhorita Laboité? – o médico perguntou me tirando do transe. Sabia que se dissesse que não era nada e que nunca havia visto ela antes, ele nada me diria. Por isso fiz o que fiz.
– Amigo. Melhor amigo – ele arqueou uma sobrancelha e suspirou.
– O câncer cerebral não pode ser curado completamente, como você já deve saber – concordei em silêncio. – Parece que realmente parou com os remédios e isso contribuiu para a evolução do câncer. As coisas tendem a piorar daqui para frente.
Olhei para frente, pela janela que havia ao lado da porta, pude ver seu corpo imóvel na maca, rodeado de aparelhos médicos. Um nó se formou em minha garganta e eu me forcei a engolir a saliva, eu não sabia o que sentir naquele momento. Raiva, tristeza, preocupação, medo.
– Como vocês deixaram isso acontecer?
– O tratamento é uma escolha do paciente, Louis. Não podemos obrigá-la – ele colocou a mão em meu ombro. – Sinto muito. Por enquanto, estamos injetando o medicamento via intravenosa, assim que ela acordar, um pouco mais sã, será decidido o que iremos fazer. Descanse, rapaz, será um longo dia.
Tentei sorrir em agradecimento ao médico, mas acho que falhei na tentativa. Soltei um suspiro cansado, sentindo todo o meu corpo tenso. Encostei a testa no vidro e fechei os olhos. Ela precisa de mim, e essa é a única coisa da qual eu tenho certeza.
Acabei tomando um café na cantina do hospital e adormecendo numa sala de espera. A barulheira dos passos, dos telefones, das pessoas chegando e saindo, acabaram me acordando. Se eu não tivesse me lembrado do motivo pelo qual eu estava ali, mandaria todo mundo pro além só para poder dormir mais um pouquinho. Enfiei um muffin e uma bala goela abaixo e conferi as horas. Duas em ponto. Ótimo. Sorri indo em direção aos quartos, ninguém poderia me impedir, o horário de visitas estava só começando.
Bati na porta e a abri lentamente, colocando, mais uma vez, meu rosto no vão que se formou ali. piscava lentamente com os olhos fixos no teto. Entrei e fechei a porta com cuidado para não assustá-la, ela parecia aérea.
– Hey, .
Pude ver seus olhos se arregalando, a máquina indicou que seus batimentos estavam rápidos outra vez. Será que ela reconheceu minha voz? Ela levantou a cabeça levemente e eu me aproximei, a ajudando, ela tinha uma aparência frágil, mas não tanto quanto eu sabia que ela realmente estava.
– Louis? – Sua voz tinha um tom surpreso, sorri em resposta. – Achei que tinha sido uma alucinação.
Ela também sorriu, fazendo parte de mim se aliviar. Eu senti uma vontade incontrolável de tocar em seu rosto, ou beijar sua bochecha, mas eu tinha medo de assustá-la ou de causar outro ataque. Seus olhos tinham um brilho cheio de vida, era alegre, contagioso. Diferente da situação em que ela se encontrava, seus olhos estavam saudavelmente animados. Aquilo aqueceu meu coração. Ela não podia parar com os remédios, não podia, de maneira alguma, desistir quando tudo o que eu conseguia ver em seu rosto era a evidente vontade de sair daquela maca e viver.
– Um Mille-feuilles [N/AP: Mil-folhas, um dos meus doces preferidos e é francês, macumba] por seus pensamentos – a voz dela me fez notar que eu já a encarava sem parar, a um bom tempo.
– Mille-feuilles? – minha pronúncia saiu toda embolada e estranha, fazendo com que ela risse, eu suspirei, isso não importava agora. – Eu estava pensando em você.
Ela parou de rir, mas o sorriso caloroso permaneceu em seus lábios.
– Eu ainda não consigo acreditar que você realmente está aqui, Louis – sorri de lado e por impulso, apertei de leve sua bochecha e pisquei para .
No minuto seguinte, ela pareceu se transformar numa estátua, suas bochechas ficaram vermelhas e eu contive a vontade enlouquecedora de apertá-la outra vez. , naquele momento, era a pessoa mais fofa e encantadora de todo o mundo.
– O que eu posso fazer pra que você acredite? – perguntei em voz baixa.
– Acho que eu já acredito, – ela reprimiu um sorriso – mas, você pode cantar pra mim? – perguntou no mesmo tom, como se estivéssemos contando um segredo um ao outro.
Não somos estranhos, é o momento que nos deixou assim. Eu assenti e puxei a poltrona do quarto, a deixando bem perto da maca, comecei a cantar com a voz calma, em um tom mais baixo que normal, como se quisesse acalmá-la, como se assim eu fosse dizer para ela que tudo estava bem e estaria bem enquanto eu estivesse ali. Como se cantando para ela eu a fizesse pensar que desistir era a última coisa da qual ela deveria pensar.
If you ever feel alone... don't... You were never on your own, and the proof is in this song. I've been away for ages, but I've got everything I need – ela parecia ficar cada vez mais concentrada em cada palavra que eu cantava, enquanto eu estava, de um jeito estranho e bom, preso em seu olhar.
Escutei depois de um tempo batidas na porta, quando o médico entrou no quarto, me lembrei do que ele havia me dito horas antes. Aquilo foi como um tapa na minha cara para que eu acordasse e conversasse com , mesmo que ela não me devesse satisfação alguma sobre sua vida. Escutei um “com licença” e ele parou do outro lado da maca, me afastei com a poltrona para facilitar a situação das duas enfermeiras que o acompanhavam.
– Sem querer estragar a alegria de vocês, mas essa mocinha precisa fazer uns exames o mais rápido possível.
Eu concordei com a cabeça e acenei de longe para antes de sair do quarto e deixá-los fazerem seu trabalho. Me encostei no pequeno pedaço de parede entre a janela e a porta do quarto, conseguindo ver o médico de costas a examinando e nada mais que isso. Meus pensamentos foram tomados por perguntas das quais eu não sabia se as respostas seriam positivas ou não, eram perguntas que deixavam uma certa parte minha triste, em dúvida e receosa.
Será que , após a conversa com o doutor, voltaria a tomar os medicamentos? Será que um dia ela superaria tudo isso e teria a chance de ser feliz? , um dia, seria capaz de deixar aquela maca? Aquele quarto? Ela, um dia, teria a chance de viver e conhecer o mundo lá fora? Sua situação melhoraria? Meu maior medo era que as respostas fossem “não”.
Parte do meu cérebro começou a imaginar como seria se tudo desse certo para ela, se o mundo conheceria o seu dom, se as pessoas saberiam seu nome.

estava saudável, ela é saudável. Não há e nunca houve câncer no seu corpo. Ela é apenas mais uma garota normal sem uma doença mortal dentro do corpo. Ela tem um namorado. Um cara legal que a respeita, é claro. Não existe um motivo para que ela não tenha um namorado. Ela é linda. Não, ela é perfeita.
Sua risada, seu sorriso, seu sotaque, o modo como franze a sobrancelha quando está confusa, o jeito que ela mexe no cabelo quando está nervosa e os momentos em que fica corada ao receber um elogio. Tudo isso e muito mais a fazem perfeita. São todas essas coisas que costumam passar despercebidas ou consideradas imperfeições, são elas que tornam a tão ela. Que a tornam tão perfeita.
Ela seria mundialmente conhecida por seus desenhos. Acredito que cada pessoa nasce com um dom, o dela era desenhar. As pessoas, com certeza, admirariam o modo de como ela conseguia colocar tudo o que sentia em papéis e quadros sem usar as palavras.
se formaria em uma boa faculdade. Talvez ela tivesse dois – quem sabe três ou quatro – filhos. Seu marido seria o seu primeiro amor, o primeiro namorado. Ele sempre a apoiaria e amaria.
Os dois envelheceriam juntos. O amor deles jamais teria fim. Ela seria feliz como nos contos de fada: para todo o sempre.”
Respirei fundo e resolvi entrar no quarto.
– Eu não quero mais, Dr. – Levantei minha cabeça e olhei em direção à garota que estava deitada na cama, negando algo que eu já sabia o que era. Suspirei e desejei por um momento voltar para os meus pensamentos. Desejei tornar real a vida que havia criado para ela. merece viver. Ela merece ser amada e... Ela não poderia desistir assim.
. – Pronunciei o seu nome e me aproximei dela, olhando em seus olhos. Encostei minha mão à dela e comecei a fazer um carinho ali. Desenhava círculos. – Não desista. – Murmurei. – Só não desista, ok? – Em nenhum momento havia parado de olhar em seus olhos. – Se você não quiser mais lutar por você, então lute por mim. Por favor. Como seu mais novo amigo, estou te pedindo para continuar resistindo. – Só notei que estava chorando quando levou sua mão até meu rosto e limpou algumas lágrimas.
– Eu vi as fotos que a tirou. Eu simplesmente senti que precisava vir até aqui e te conhecer, . Conhecer a desenhista linda e forte que não desiste, que está sorrindo e... – Apenas parei de falar e sentei na poltrona. Limpei as lágrimas que haviam caído e tentei controlar minhas emoções.
– Louis... – A ouvi me chamar. Não estava preparado para encará-la nos olhos e ouvi-la dizer que não podia continuar. Mesmo assim eu a olhei. Eu precisava olhar pra ela, talvez por me sentir abalado com toda aquela situação. É claro que eu não esperava chegar aqui e encontrá-la pulando de alegria e curada, mas eu não imaginara que ela podia estar assim, tão vulnerável. E, de algum modo irônico, eu também estava vulnerável. Eu me sentia impotente por estar ali e simplesmente não poder fazer nada que pudesse ajudá-la, que pudesse acabar com aquela situação. Nesse momento, se alguém me perguntasse que superpoder eu gostaria de ter, não diria o costumeiro ‘voar’. Eu diria que gostaria de ter o poder da cura.
abria a boca e fechava como se quisesse dizer algo, mas fosse incapaz. Eu segurei um soluço e o resto das lágrimas que insistiam em fugir, eu nem era capaz de me entender nesse momento, eu já não sabia o que sentia, o que estava acontecendo comigo nem o que eu queria ao certo... estava me revirando, me bagunçando, me fazendo agir por impulso e ser completamente transparente. Ela estava me mostrando um lado da vida que eu não conhecia tão bem, ela estava, mesmo sem querer, me dando uma lição de vida. Seus olhos transmitiam bilhares de sentimentos em um só segundo, me deixando cada vez mais confuso e ansioso por sua decisão.
– Eu... – ela mordeu o lábio inferior, seus olhos estavam marejados e, sem quebrar a troca de olhares, ela deu seu veredicto. – Vou voltar com os medicamentos. Por você.
Meu rosto ficou pequeno pra suportar o choro estranho de alívio e o meu sorriso. Mas seu rosto tinha espaço o suficiente para os inúmeros beijos que eu distribui por ali. Alegria é uma palavra pequena demais para descrever o que eu sentia naquele exato momento.

02. You wanna be loved
cumpriu com sua palavra. Quando o entardecer começou, a enfermeira chegou com os remédios que ela costumava tomar, numa dosagem um pouco maior, alguns exames ainda não estavam prontos e a espera pelos resultados era uma tortura para mim, enquanto ela não se importava com isso, aparentemente. Talvez fosse porque ela já estava mais do que acostumada com tudo isso e eu não. Ela me perguntava sobre minha vida, como tudo funcionava no meu “mundo” e isso era o suficiente para ocuparmos horas e horas com conversas normais, como se tudo ali estivesse ok.
– Ahn... Louis? – eu olhei em seus olhos e sorri. – Posso te pedir uma coisa?
– O que você quiser, senhora Laboité – ela riu fraco. se ajeitou na maca, indo mais para o canto e bateu fraco com a palma da mão no espaço que sobrou ao seu lado.
– Eu sei que eles meio que não deixam. Por favor? Quero assistir o pôr-do-sol do teu lado.
A voz doce e cansada dela, seu olhar pidão e o pequeno bico em sua boca foram o suficiente para me convencer. Concordei com a cabeça, dando um jeito de me deitar ao seu lado e não machucá-la, puxou minha cabeça para perto de seu corpo, fazendo com que eu ficasse com a cabeça sobre seus seios. Passei um braço ao redor de sua cintura e olhei para a janela. Podia ouvir seu coração bater e, de uma maneira estranha, me senti bem com isso. Me senti bem por seu coração continuar batendo.
A vista dali era realmente perfeita. Nós éramos capazes de ver as inúmeras cores que tomavam conta do céu, os tons de laranja, roxo e rosa se misturando ao redor do Sol que, a cada minuto, descia mais e mais. [jura Brucetricia? Que estranho né, o Sol descendo no céu no final da tarde noss, mt estranho]
– Seria muito te pedir para cantar? – ela sussurrou.
Sua mão pousou em minha cabeça e, assim que comecei a sussurrar a letra de Kiss me [N/AB: sério, faz MUITA diferença ler com a música], começou a fazer em mim o melhor cafuné do mundo.
I’m falling for your eyes but they don’t know me yet. And with a feeling I’ll forget, I’m in love now. Kiss me like you wanna be loved. You wanna be loved, you wanna be loved. This feels like falling in love, falling in love, we’re falling in love.
E foi assim, nos braços de , com os olhos fixos no céu lá fora, recebendo seu carinho enquanto a ponta dos meus dedos faziam círculos em sua cintura, que eu acabei pegando no sono, pela primeira vez nesses últimos três dias, em paz.

Estava acordado fazia poucos minutos, mas não estava com vontade de abrir meus olhos ainda. Queria ficar ali, deitado, com ela. No meio da noite, acabamos mudando de posição. estava com a cabeça sobre meu peito, meu braço continuava ao redor de sua cintura e eu podia senti-la respirar. Um tempo depois a senti se mexer. Abri meus olhos e sorri ao vê-la abrir um pouco os olhos.
– Hey. – Murmurei.
– Bom dia. – respondeu com nítida voz de sono. – Faz tempo que está acordado?
– Um pouco. – Respondi. Um silêncio acabou se instalando entre nós e, quando eu pensei em algo (idiota, vale ressaltar) para falar, disse algo primeiro.
– Eu nunca sei o que falar pra pessoa que dormiu comigo. Digo, depois que eu acordo não sei o que dizer. – A frase acabou me confundindo, mas acabei entendendo do mesmo jeito.
– Bem, se servir de consolo, eu nunca dormi com alguém antes.
– Nunca? – pareceu se surpreender com o que eu disse, o que eu achei estranho. Era tão difícil assim acreditar que eu nunca havia dormido com alguém antes? Certo, com alguém do sexo feminino.
– Bem, eu não estou contando as vezes em que dividi a cama com o Harry. – Ela sorriu. – Sendo sincero, não consigo me lembrar da última vez que dormi tão bem.
No momento em que abriu a boca para dizer algo, uma enfermeira entrou no quarto e quase gritou para que eu saísse da cama. Fiz uma careta que só foi vista pela e eu levantei, sorrindo de lado como se dissesse desculpas para a enfermeira. E foi nesse momento que ela gritou estupidamente alto “Louis Tomlinson!” e eu juro que tentei não ficar com medo dela.
– Ér... – Olhei para trás assustado, apenas para me deparar com uma careta de desagrado feita por . – ‘Posso me esconder embaixo da cama?’ – Sussurrei para , que acabou assentindo. Dei dois passos pro lado, pretendendo ficar do outro lado da cama.
– LOUIS TOMLINSON! – A enfermeira havia gritado novamente, mas dessa vez um pouco mais baixo. Acabei arregalando os olhos e pigarreei, tentando disfarçar o medo.
– S-Sou eu. – Acabei gaguejando, o que a fez dar um gritinho histérico que acaba com qualquer tímpano. Essa era a parte ruim de ser famoso.
– Eu sou sua MAIOR fã!
– Ahn... – Dei mais uns passos, olhando fixamente para a enfermeira, e logo havia uns metros (e uma cama entre nós).
– Eu comprei um...
– Enfermeira Jennifer. – fez com que a mulher olhasse pra ela. Agradeci mentalmente por ela ter feito isso. – Acho que está na hora dos meus remédios.
– Sim, claro. – Ela sorriu e veio na direção de , mas olhando pra mim. Fui me abaixando lentamente até ficar agachado e abracei o pé da cama de hospital. Logo ouvi a porta batendo e ouvi dizendo que a enfermeira já havia saído.
– Certeza que a barra tá limpa? – Perguntei em dúvida, mas acabei levantando e olhei ao redor apenas para confirmar. Suspirei aliviado ao notar que não havia mais ninguém no quarto além de mim e .
– Você realmente ficou com medo dela? – Fiz que sim com a cabeça e ela começou a rir.
– Isso não tem graça, .
– É claro que tem. – Ela disse no meio de risadas. – Você usou a cama pra se esconder. – Fiquei sério por um tempo até que sua risada acabou me contagiando.
Uma enfermeira diferente (amém) bateu na porta e entrou em seguida, se deparando com duas pessoas rindo histericamente.
– Com licença, meus jovens. – Fomos parando de rir aos poucos ao notar a presença dela. – Eu não queria interromper vocês, mas acho que está na hora de alguém tomar banho. – Não sei quem ficou mais vermelho: eu ou . Provavelmente havia sido eu.
– Ér. Acho que eu vou ir e deixar você a vontade. – Disse meio incerto.
– Você volta? – perguntou e eu sorri.
– Sempre, pequena. – Passei a mão em seu rosto e dei um beijo em sua testa. – Vou tentar arrumar um hotel e eu também preciso tomar banho. – Sorrimos e eu saí do quarto, deixando-a sozinha com a enfermeira.
Tirei o celular do bolso para pesquisar algum hotel próximo do hospital, mas não foi possível fazer a tal pesquisa, já que ele havia descarregado. Legal, agora eu teria que achar uma tomada pra colocar ele pra carregar e... Espera, eu não havia trazido o meu carregador. Nem roupas.
Dei um tapa no meu rosto.
– Não acredito que viajei tudo isso e simplesmente não peguei nada. Nada. – Disse pra mim mesmo. O jeito era, então, fazer compras. – Ok, isso soou gay Louis. – Disse pra mim mesmo e fui em direção da recepção. Sorri ao notar que a mesma mulher que me informara do horário de visita estava lá.
– Olá, você sabe me dizer algum lugar em que eu posso comprar um carregador pra celular? – Perguntei sem rodeios.
– Você vai encontrar em lojas que vendem celulares. – Fiquei de expressão vazia (vulgo cara de pastel) ao ouvir a resposta. Pensei em dizer algo tipo ‘não, sério?’, mas acho que no final eu mereci aquela resposta, afinal, minha pergunta foi um tanto idiota. Por isso, apenas murmurei um agradecimento e saí do hospital. Fiz sinal para um táxi que logo parou e eu pedi para que me levasse ao centro. Felizmente, ele falava meu idioma, então acabou que ele me acompanhou durante as ‘compras’ e me indicou um bom hotel para ficar, além de me entregar um cartão com seu número.
– Obrigado, mais uma vez, senhor . – Agradeci novamente o taxista e, enfim, entrei no hotel. Fiz o check in e subi para o quarto. A primeira coisa que fiz foi soltar as sacolas no chão e me jogar na cama confortável. Fiquei uns cinco minutos deitado em silêncio, apenas pensando no que a estaria fazendo no momento.
Acabei resolvendo tomar um banho e escovar meus dentes, duas coisas que não fazia há três dias. [N/AB: o incrível é que a não reclamou né sduhsaudh] Liguei o chuveiro na água quente e me enfiei debaixo da água, senti um pequeno choque quando a água quente entrou em contato com o meu corpo nu [N/AB: corpo nu, oi.], após um tempo me acostumei e senti meus músculos relaxarem.
Me ensaboei e lavei o cabelo com certa lentidão, já que não queria deixar o calor da água. Saí somente depois que meus dedos já estavam enrugados, me sequei e enrolei a toalha na cintura. Limpei com a mão o espelho embaçado e fiz uma careta ao ver meu reflexo. Estava vermelho, culpa da água, é claro.
Saí do banheiro e procurei no meio das sacolas a escova de dente e o creme dental que havia comprado. Voltei para o banheiro após achá-los e, menos de cinco segundos depois, eu já havia voltado para o quarto para achar uma cueca para vestir. Usava uma mão para escovar os dentes enquanto que, com a outra, tentava achar a sacola certa.
Um tempo depois, finalmente havia achado. Peguei a primeira que vi: uma boxer verde. A vesti (usando uma mão só) e voltei para o banheiro. Terminei de escovar os dentes e peguei o meu novo carregador e o celular. Fui até o criado mudo e inseri o carregador na tomada, o conectando em seguida no celular.
Acabei tendo que esperar um pouco para ligar o aparelho, já que ele havia descarregado mesmo. Liguei a TV e sintonizei em um canal qualquer. Pressionei um botão e o celular ligou. Digitei minha senha e arregalei os olhos ao ver que haviam mais de cinquenta ligações e mensagens. Na verdade, um ícone piscava na parte superior do meu celular, avisando que não havia mais espaço para mensagens.
A voz da apresentadora do programa desviou a minha atenção do aparelho. O motivo? Ela simplesmente havia acabado de falar que eu, Louis Tomlinson, estava desaparecido.
CARALHO! Olhei a data e comecei a me xingar. Eu havia sumido e não havia dito nada pra ninguém. Respirei fundo e resolvi apagar umas mensagens para que pudesse enviar uma outra.
“Por favor, reúnam-se todos em algum lugar. Me avisem quando estiverem todos juntos que eu vou ligar para conversarmos.
p.s.: quando eu digo todos, eu quero dizer Harry, Liam, Zayn, Niall e Simon.
Louis”
Apertei o botão send e enviei a mesma mensagem para os caras e o nosso empresário. Fiquei tenso ao pensar em como eles deveriam estar desejando me matar no momento. Eu sentiria o mesmo no lugar deles. Na verdade, acho que os caras estariam preocupados. Quem ia querer me matar seria o Simon.
Me assustei com o barulho que meu celular fez ao receber uma mensagem. Rapidamente a li. Era de Simon. Respirei fundo e tomei coragem para ligar.
O telefone não chegou a tocar uma vez e logo foi atendido.
– Hm, oi. – Disse inseguro. Eu não sabia como agir. Geralmente era eu quem estava do outro lado, preocupado.
– LOUIS! – Ouvi um coro gritar, aliviado.
– ONDE VOCÊ ESTÁ GAROTO? – Fiz uma careta ao ouvir a voz de Simon, o empresário do 1D, se sobrepor às outras.
– Em Paris. – Disse baixo.
– O que você tá fazendo aí? – Niall perguntou. O celular estava no viva voz.
– Primeiramente, eu quero deixar claro que só pedi pra vocês se reunirem porque eu queria falar tudo de uma vez.
– Para o seu próprio bem, eu espero que você tenha sido sequestrado. – Mordi o lábio inferior ao ouvir o que Simon disse e um silêncio pesado se instalou entre nós.
– Louis. – Harry quebrou o silêncio. – Você foi ver ela, não foi? – Não disse nada. Me lembrei do dia que havia chegado e uma lágrima caiu.
– Quem é ela? – Simon perguntou e, creio que foi o Niall, o respondeu. Meu silêncio, aparentemente, bastou como resposta para Harry.
– Como ela está? – Ele perguntou.
– Nada bem, Harry. – Minha voz saiu fraca e a vontade de chorar se apoderou de mim. – Mas ela vai ficar bem. – Disse com esperança e pude ouvir ele suspirar.
– Louis, você sabe que...
– ELA VAI MELHORAR! – Praticamente gritei e respirei fundo, tentando me controlar.
– Nunca esperei isso de você, garoto. – Simon começou a falar, aproveitando que eu havia ficado quieto mais uma vez. – Ainda mais por causa de uma garota.
– Ela não é uma garota qualquer. – Disse mais para mim mesmo, já que, aparentemente, meu empresário não estava escutando.
– Você sempre foi o mais responsável e agora isso! Viaja sem mais nem menos pra ver alguém que nunca conheceu. Francamente, Tomlinson, eu esperava mais de você. – Acabei me sentindo pior ao ouvir aquilo de Cowell. Abri a boca para pedir desculpas, mas acabei dizendo outra coisa no lugar.
– Eu vou ficar. Ela precisa de mim aqui.
– Olha, Louis.
– Não, Simon. – O interrompi. – Eu preciso ficar aqui. Quando eu voltar, participo de qualquer merda que você quiser sem reclamar. Só me deixa ficar aqui agora. – Estava ansioso pelo o que Simon diria, até porque, no fim das contas, eu tinha que concordar com o que ele dizia por conta do contrato. A tensão era palpável nesse momento.
– Uma semana. É isso o que te dou. Nada mais e nada menos. – Sorri, aliviado.
– Obrigado.
– Certo, garotos. Vocês cinco terão uma semana de folga. Vou cancelar os compromissos de vocês. – Ouvi uma cadeira ser afastada e me perguntei onde eles estavam. – E quando você voltar, Louis, teremos uma conversa séria.
– Sim, senhor. – Concordei prontamente.
Aparentemente, Simon havia ido embora e acabou que fiquei conversando com os caras por um tempo, informando eles sobre o estado de . Recebi umas palavras de apoio e eles mandaram beijos e abraços pra ela. Acabei concordando que ligaria pra eles quando a visse, para que eles pudessem falar com ela também.
Encerrei a chamada e fui ver as mensagens que havia recebido naqueles três dias que eu havia ficado sem checar o aparelho. Apaguei a maior parte delas e resolvi entrar no meu twitter apenas para deixar claro que eu não estava morto ou desaparecido, como aquela apresentadora havia dito.
Keep calm, I’m not dead yet”, no momento seguinte havia milhares de replies e eu simplesmente fiquei confuso com tanta gente falando ao mesmo tempo.
Talvez, não tivesse sido uma boa ideia ter entrado no twitter. Respirei fundo e li alguns tweets, respondendo vez ou outra alguém. Fiquei, no máximo, dez minutos no twitter. Não estava com clima de ficar em rede social falando sobre... Bem, qualquer coisa. Queria voltar pro hospital e ficar com a , mas eu sabia que não podia. Havia acabado de dar onze e meia da manhã e faltavam duas horas e meia pra começar o horário de visitas.
Cinco minutos depois, meu estômago roncou/reclamou de fome. Peguei o telefone e liguei para a recepção, pedi para que trouxessem o ‘prato do dia’ para o meu quarto. Quinze minutos depois, com a minha barriga doendo por conta da fome, bateram na porta do quarto.
Levantei da cama e abri a porta. O entregador entrou com um carrinho, que tinha uma bandeja em cima, e deixou o carrinho próximo a uma mesa que ficava de frente pra sacada do quarto. Peguei minha carteira, entreguei uma gorjeta pro rapaz e o agradeci. Fechei a porta e fui até a mesa. Sentei na cadeira e então eu notei que estava apenas de cueca.
– Não acredito nisso. – Disse pra mim mesmo e acabei ignorando o ocorrido. A comida cheirava realmente bem. [N/AB: Louis like Niall pq comida é vida haha]

Depois de comer, descansei por uns minutos, a tv não era capaz de me distrair. Olhei para o relógio, se fosse andando para o hospital, conseguiria chegar na hora certa. Joguei as compras em cima da cama e me arrumei, liguei para o taxista maneiro [N/AP: oi?] e pedi para ele me ensinar o caminho até o hospital. Tenho a leve impressão de que, mesmo decorando tudo o que ele disse, vou me perder.
Dizer que o dia estava bonito era pouco. Tudo parecia estar tão vivo, tão alegre. O céu estava limpo e, de certo modo, eu prefiro ele assim, sem nuvem alguma, sem nada pra atrapalhar a imensidão do seu azul [N/AP: gaaaaay –q n]. Um azul que inevitavelmente me lembrava dos olhos de .
As pessoas, por todos os lados, sorriam, conversavam, gargalhavam ou se prendiam com algo que a tela de seus notebooks lhes mostravam. Agradeci mentalmente a mim mesmo por estar de chapéu e óculos escuros, é sempre um risco andar pelas ruas de uma cidade quando você é conhecido mundialmente. Respirei fundo, voltando a me concentrar nas várias pessoas ao meu redor. Elas estavam vivendo. Estavam fazendo coisas que deveria estar fazendo, estavam ali, aproveitando suas vidas, ou simplesmente tentando ocupá-las com alguma coisa.
Atravessei a rua, logo na esquina havia uma floricultura enorme. As flores me lembraram de um desenho de que estava ao lado do vaso de flores no quarto dela. No desenho, havia um incrível jardim e um casal de costas, caminhando em direção a um banco no que parecia ser o centro desse jardim. Eles tinham os dedos entrelaçados um no outro e lírios rodeando-os.
Parei em frente a um vaso de flores e sorri.
Uma senhora apareceu de dentro do estabelecimento, com um sorriso no rosto e as mãos juntas em frente ao corpo.
– Procurando alguma coisa em especial, meu jovem?
– Ahn, sim. Lírios, de todas as cores – a velhinha riu baixo e fez um gesto com a cabeça para que eu a seguisse, assim eu o fiz.
– Aqui estão... – ela passava a mão nas pétalas de um lírio alaranjado, como se fizesse carinho nele – Parece que hoje alguém terá uma surpresa – ela disse me olhando.
Eu sorri tímido e tirei os óculos.
– Eu gostaria de comprar buquê com o máximo de lírios que puder colocar, por favor.

Saí com um sorriso idiota no rosto da floricultura, segurando um buquê enorme no braço esquerdo. No caminho, pude ver várias mulheres olhando para as flores que eu carregava e suspirando logo em seguida. Espero que a reação de ao vê-las seja boa, seja qual for, só espero que ela goste da surpresa.
Não demorou mais do que quinze minutos e cheguei no hospital, cumprimentei com a cabeça o segurança na porta e a mulher da recepção. Ela abriu a boca para falar alguma coisa e eu sorri, erguendo o braço e mostrando o relógio, aparentemente, ela desistiu de fazer o que pretendia.
Caminhei em direção ao quarto de e notei uma movimentação estranha no corredor. Tirei o óculos e franzi o cenho, o médico estava saindo do quarto dela com um rosto cansado.
– Doutor? – ele pareceu se assustar comigo – Tá tudo bem?
Ele respirou fundo e deu meio sorriso.
está dormindo agora, talvez demore um pouco para acordar, mas tenho certeza de que ela vai gostar de te ver lá quando acordar.
Fiquei com cara de burro tentando entender o que ele quis dizer. Tentando não pensar em nada ruim ou em nenhuma tragédia. Ele me deu dois tapinhas nas costas e eu o cumprimentei com a cabeça, abrindo a porta do quarto e entrando, quase desesperado. Deixei as flores na poltrona e sentei na beirada da maca. parecia mais pálida do que antes.
– Eu estou aqui agora, . Pode descansar tranquila, prometo que vou cuidar de você.
Quando notei que havia dito em voz alta o que pensava, me certifiquei de que ela estava dormindo e não me escutou dizendo essa besteira. Como se eu ali fosse grande coisa. Como se eu fosse mudar alguma coisa, ou salvá-la, caso necessário.
Passei as costas dos dedos em sua bochecha, observando cada parte de seu rosto, querendo decorar cada detalhe do rosto dela. O medo de nunca mais vê-la ainda me assombrava. Respirei fundo e olhei ao meu redor, vi um vaso de flores com algumas rosas já murchas, em cima da mesinha ao lado da maca dela. Me levantei, pegando o buquê e trocando as flores de lugar.
O quarto pareceu ficar mais alegre, se pareceu mais com ela. Olhei outra vez ao meu redor. O quarto parecia vazio, frio. Num estalar de dedos, uma ideia surgiu como uma luz em meus pensamentos. Me aproximei dela e sorri largo, imaginando se ela gostaria disso também.
– Hey, meu anjinho de asas caídas, espero que acorde rápido. Eu vou dar um pulo em um lugar e volto pra você, pra ficar do teu lado e cuidar de ti – beijei sua testa e apertei de leve sua bochecha. – Não vou demorar.

Ter conhecido aquele taxista foi um milagre dos deuses. Graças a ele, eu não demorei tanto quanto pensei que iria. Entrei no hospital, o pessoal que estava ali na entrada me olhava de olhos arregalados. Apertei o passo e, graças a Deus, a recepcionista dessa vez estava mais ocupada com uma mulher desesperada do que comigo.
Olhei pela janela, para dentro do quarto. Ela sorria enquanto fazia carinho num dos lírios, eu sorri assim que vi a cena. Dei uma batida na porta e a abri, colocando minha cabeça para dentro do quarto. estava fungando e com os olhos vermelhos. Meu coração se apertou e entrei meio atrapalhado, por conta das inúmeras coisas que eu carregava.
– Aconteceu alguma coisa? – ela negou com a cabeça, secando uma lágrima.
– Obrigada, Louis, – ela disse mordendo o lábio – por estar me fazendo a garota mais feliz desse mundo. Por fazer com que eu me sinta tão bem e viva, enquanto minha situação é o oposto de tudo isso. Obrigada por tudo.
Torci o nariz e olhei para o teto sorrindo de lado, isso me ajudava a segurar o choro. Ok, eu ando sensível e parecendo um gay, chorando o tempo todo, mas experimenta estar no meu lugar. O medo de perder aumentava estranhamente a cada minuto. Fixei meu olhar no dela, o brilho de seus olhos eram tão vivos quanto o das estrelas. Ela riu fraco, tossindo um pouco.
– O que foi? – ela apontou para o balão de gás-hélio em formato de coração que eu segurava, enquanto, ao mesmo tempo, abraçava um grande esquilo de pelúcia, com o mesmo braço – Ah! São pra você, acho que isso é meio óbvio.
Ela parecia não se cansar de sorrir. E eu, sinceramente, nunca me cansaria de vê-la sorrir. Coloquei o esquilo na poltrona e fui em direção a janela, sim, eu sou idiota e pretendo prender o balão na janela. Mal dei três passos e me chamou.
– O que vai fazer?
– Vou prender na janela – respondi parando e me virando para olhá-la.
– Tenho uma ideia melhor pra essa bexiga – ela disse com um sorriso traquina.

Eu estava outra vez dividindo a maca com ela, mas dessa vez não estávamos prestando atenção no pôr-do-sol, nem no céu e muito menos calmos. Ambos chorávamos de tanto rir. Eu sentia minha barriga doendo e mal conseguia me mexer, meu corpo todo estava mole do mesmo modo que parecia estar.
Countin’ 1, 2, 3, Peter, Paul and Mary – minha voz fina pelo gás hélio cantarolava.
– Uau, que sexy – ela disse, enquanto colocava a bexiga na boca e inspirava.
Cause you know I'd walk a thousand miles if I could just see you... tonight – eu estava quase berrando em meio a risada.
ria de olhos fechados, ela disse que costumava ficar tonta quando ria demais. Nós demoramos a nos acalmar e fazer com que as gargalhadas cessassem. Voltar a respirar normalmente parecia a tarefa mais difícil de fazer naquele momento, me apoiei com o cotovelo no colchão e olhei para ela. Seus olhos vieram de encontro com os meus, seu rosto ganhou uma expressão confusa e então ela começou a piscar rápido como se tentasse ver algo direito.
Suas pupilas não se dilataram, muito menos contraíram, estavam normais.
? – ela apertou os olhos e inspirou forte – ? Você tá bem?
Silêncio. Cutuquei seu braço e ela expirou do mesmo jeito.
– Ahn? – suas pálpebras pararam abertas – O que... – ela pareceu parar para pensar – O que disse?
– Você tá bem? – eu já sabia a resposta, mas perguntei do mesmo jeito.
– Ah, sim. Sim... eu estou. Foi só, só uma coisinha de nada. – ela olhou para a minha mão – Já acabou? – um bico se formou em sua boca e eu evitei pensar sobre como seria beijar seus lábios. Sorri de lado para ela.
– Parece que sim.
Ela bocejou. Instintivamente, coloquei sua cabeça sobre meu peito e a abracei. Não me importei se dali uma hora ou menos iria chegar uma enfermeira com os remédios dela e me tocar pra fora da maca. Mas tudo o que eu realmente queria no momento era aproveitar cada momento que eu tinha com , fosse ela acordada ou dormindo. Tudo de que eu precisava era apreciar cada minuto em que eu a tinha em meus braços, para nunca ser capaz de esquecer como essa sensação é incrível, inexplicável e tão viva. Olhei para o teto, enquanto imaginava o que poderia estar acontecendo com ela. Enquanto também pedia mentalmente aos céus para que ela não sofresse mais, para que tudo não fosse pior do que é agora.
Mas isso parecia pedir demais. E, realmente, é pedir demais? É querer além do possível que tudo desse certo para ela? Eu não me importaria de ter que viver sem ela, se fosse para ela ter um bom futuro, uma vida tranquila. É óbvio que ela não se curaria completamente, mas poderia ter uma boa vida, um futuro. Eu realmente não me importaria de vê-la feliz. Apertei os olhos e bufei. Tem vezes que a vida parece ser injusta demais com pessoas que não merecem.
Fico me imaginando no lugar dela, fico pensando se eu teria a mesma força que ela teve durante todo esse tempo. Eu provavelmente já teria dado um jeito de acabar comigo mesmo. Minha mãe me dizia quando eu era mais novo que algumas pessoas são anjos disfarçados de humanos. Talvez fosse um e estava sendo punida por sei lá o quê. Talvez fosse apenas a . A doce menina de dezesseis que me conquistou sem querer, que me fez temer o dia seguinte, que me renovou.
Como uma vez cantou Ross Copperman, às vezes, nós estamos segurando anjos e nós nunca sequer sabemos disso.
Expirei depois de notar que havia prendido a respiração e, junto do ar, saíram lágrimas que eu jamais queria que ela visse. Eu precisava me manter firme, por nós dois. E estar sempre ali, ao lado de , a ajudando a lutar por mais uma respiração, por mais um batimento cardíaco. Por mais um dia de vida.

Eu, literalmente, caí da cama. O motivo? Alguém, que eu ainda não sabia quem era, havia entrado e me acordado. Então eu me assustei e caí.
– O que aconteceu? – Ouvi dizer assustada. Resmunguei baixo e me levantei, passando a mão na bunda. Encarei a enfermeira, que parecia se sentir culpada pela minha queda, mas isso não mudava o fato de que ela estava prendendo o riso.
– Eu vim trazer o seu remédio, srta. Laboité. – A enfermeira se aproximou e entregou um copo com remédio e outro com água. Fiquei parado e quieto, com minha bunda doendo por causa da queda. Eu realmente precisava cair de bunda no chão?
– Obrigada. – A enfermeira sorriu e saiu do quarto. Acabei sorrindo também porque não havia sido atacado.
– O que aconteceu? – perguntou de novo e eu fiz uma careta.
– Eu não quero falar sobre isso. – Disse sério.
– Ai meu Deus. – Ela abriu a boca, incrédula. – Louis Tomlinson, você caiu da cama? – Bufei e cruzei os braços na altura do peito. – Não acredito nisso. – começou a rir.
– Isso não tem graça!
– Claro que tem. – Ela afirmou, rindo.
– Não, não tem. Minha bunda tá doendo por causa disso. – Disse com manha e fiz um biquinho, o que somente colaborou para que as risadas aumentassem. Um tempo depois, parou de rir e eu voltei a me deitar do seu lado, mas de lado. mudou de posição e também ficou de lado, o que fez com que ficássemos nos encarando.
– Eu queria fazer uma coisa. – Disse baixo. Não havia necessidade falar alto. Estávamos próximos, muito próximos. Eu podia sentir a respiração calma de bater em minha bochecha.
– E por que não faz? – Ela perguntou.
– Não tenho certeza se você vai gostar.
– Você nunca vai saber se não fizer, Louis. – Sorri de canto e me levantei para evitar uma possível queda. Peguei o meu celular que eu havia deixado em cima da poltrona e deitei na mesma posição enquanto discava um número. – O que você vai fazer, Louis?
– Você vai ver. Quero dizer, ouvir. – Coloquei no viva-voz e fiquei quieto, esperando que atendessem o bendito telefone.
Alô?
– Zayn? – Disse o nome do meu amigo meio em dúvida, já que a voz dele estava... Bem, estranha.
– Louis? – Ele pareceu acordar um pouco, já que sua voz saiu mais audível e menos sonolenta. – Espero que você esteja morrendo, cara.
– Eu não estou morren – comecei a falar, mas fui cortado.
– PORRA. EU TAVA DORMINDO. SABE QUE HORAS SÃO?
– Quatro ou cinco da tarde. – Fiz questão de frisar que não estava de manhã.
– Argh. O que você quer?
– Bem, você foi o primeiro a dizer que era pra ligar e... – Fui mais uma vez interrompido.
– Tá no viva-voz? – Zayn perguntou e eu olhei para , que estava perplexa.
– Sim, está. – Confirmei.
– Legal. Agora o que ela vai pensar de mim? – Ele começou a fazer drama.
– Zayn, menos. – Revirei os olhos.
– Cala a boca, Tomlinson. Eu quero falar com a agora.
– Se eu soubesse que você estava dormindo, teria ligado pro Nialler primeiro.
– Oi, . – Zayn disse, me ignorando.
– O-Oi. – disse após um tempo e eu fiz um legal, como se incentivasse ela a falar algo mais. – T-Tudo bem?
– Estou sim, princesa. E você?
– Eu não sou um mala. – Me defendi.
– Não sabe ficar quieto não? Agora o papo é entre mim e a princesa, ok? – Bufei e resolvi ignorá-lo também.
– Eu estou bem sim.
– O mala do Louis tá se comportando direito? Se ele sair da linha, é só me avisar, ok? – Revirei os olhos, até parece que eu era um irresponsável que pegava um avião pra outro país o tempo todo.
– Ele tá se comportando direitinho sim, Zayn.
. – Interrompi a conversa entre os dois e meu amigo disse algo parecido com ‘não sabe ficar de boca fechada mesmo’ – Você tem mais desenhos? – Perguntei, já armando um plano em minha mente. seria conhecida. Ela e sua história.
– Tenho sim. Estão na segunda gaveta daquele armário. – Ela apontou para um armário que eu não havia notado até então. Concordei e fui até ele. Peguei uma pasta cheia de desenhos e a abri para dar uma olhada neles.
– Tem problema se eu der uma saidinha? – Perguntei – Você vai ficar falando com o Zayn, é claro. E depois você pode ligar pros outros garotos. Se você quiser, pode ligar pro Tom também. Acho que o Fletcher não ligaria de falar com você. Na verdade, você e ele desenham super bem. – Comentei.
– Mas... Você vai sair e deixar o celular?
– Vou. Fique a vontade para ligar para quem quiser da minha lista de contatos, sério. – Afirmei e dei um beijo em sua testa. – Volto daqui a pouco. – Disse para . – E pense bem no que você fala pra ela, sr. Malik.
– Tá, tá. Tchau, ciumento. – Acabei ficando vermelho com o que Zayn disse e agradeci por estar de saída. Acenei para e saí do quarto, mas não sem antes pegar minha carteira, é claro.
Ao sair do quarto e andar em direção a saída, me deparei com a recepção vazia.
– Acho que não faz mal usar o telefone sem autorização – disse pra mim mesmo.
Tirei um papel do bolso em que estava anotado o número do sr. e disquei.
– Senhor ? – Disse após o telefone ter sido atendido.
– Ele mesmo.
– Aqui é o Louis. Eu queria saber se o senhor podia me buscar no Association Goumbault Darnaud.
– Sim, claro. Chegarei em cinco minutos, senhor Louis. – Agradeci e desliguei o telefone. Fui para o lado de fora do hospital e fiquei na frente, esperando. Não sei quanto tempo passou, mas o senhor realmente havia chegado rápido.
– De volta para o hotel, senhor?
– Por favor, me chame de Louis. E não. Eu queria que o senhor me levasse em alguma galeria que expõe desenhos, sabe? – Disse em dúvida.
– Ah, sim. Eu conheço uma graças a minha filha. Ela adora arte. – E o caminho até a tal galeria se transcorreu bem, com falando sobre o amor da filha pela arte e eu fazendo comentários quando achava necessário.

– Chegamos. – O taxista disse no momento em que parava em frente a uma enorme galeria.
– Eu já volto. Acho que não vai demorar muito tempo, o senhor pode me esperar? – Perguntei.
– Sem problemas, Louis. – Agradeci e entrei na galeria, com a pasta com desenhos diversos na mão.
Bonjour, monsieur. – Uma mulher alta e de longos cabelos negros, creio eu, me cumprimentou.
Bonjour. Parlez-vous anglais? – Agradeci pelo senhor ter me ensinado como se perguntava para uma pessoa se ela falava inglês.
Ouí. Posso ajudá-lo em algo, senhor?
– Hm, eu queria saber se vocês publicam desenhos de pessoas desconhecidas.
– Sim, nós expomos trabalhos de desenhistas não-conhecidos. – Sorri aliviado ao ouvir aquilo.
– Ótimo. Eu tenho uns desenhos realmente bons. Você pode dar uma olhada?
– Antes, senhor, gostaria de dizer que somente aceitamos trabalhos realmente bons e que não estamos mais aceitando novos artistas para a exposição desse mês. – Meu sorriso morreu ao ouvir aquilo.
– Certo. Quando vocês vão fazer uma nova exposição?
– Nós fazemos uma exposição a cada mês com durante de três dias. – Concordei – O senhor não é daqui, não é?
– Não, não sou. Você... – Hesitei um pouco – Poderia só dar uma olhada? É muito importante para mim.
– Não vejo mal algum nisso. – A mulher estendeu a mão e eu entreguei a pasta, já aberta. Ela parecia analisar tudo e pareceu se surpreender, já que havia arqueado a sobrancelha diversas vezes. – Mon Dieu. Isso está realmente bom! – Peguei a pasta que me foi entregue e a fechei. – Mas acho que você não se chama Laboité.
– Não, senhora. – Concordei – Minha amiga se chama e eu queria fazer uma surpresa pra ela.
– Qual é o seu nome, meu jovem? – Pensei em inventar um nome, mas talvez fosse melhor dizer quem eu era realmente, afinal, eu queria que fosse conhecida pelo seu talento, não queria?
– Louis. Louis Tomlinson.
– Prazer, Louis. Charlotte Russeau. Sua amiga realmente tem talento. Sempre procuramos expor os melhores desenhos nessa galeria – Charlotte começou a dizer e a andar, então acabei a seguindo – Por isso irei abrir uma exceção e encaixar sua amiga na exposição desse mês.
– MUITO obrigado, Charlotte. Você não tem ideia do quanto isso significa e...
– Preciso que ela venha aqui amanhã, ou hoje, se possível, para assinar um termo que nos autoriza expor cinco trabalhos dela.
– Isso não vai ser possível. – Disse sem toda a animação de antes.
– Como não?
– Ela... – Respirei fundo. – Ela não pode vir porque ela tem astrocitoma e está no hospital. Expor os desenhos dela é uma surpresa que eu queria fazer.
– Eu não... Eu não sabia. – Charlotte pareceu ficar desconfortável com a informação, mas quem não ficaria?! tinha um dom magnífico e também tinha, infelizmente, uma doença mortal. – Eu exponho os desenhos, mas eu vou precisar que ela assine o termo. Eu te entrego os papéis e você me trás eles assinados depois, então.
– Obrigado. – Agradeci e a segui, ambos em silêncio, até uma mesa onde ela separou alguns papéis.
– Ela só precisa assinar onde está marcado com o ‘x’.
– Mais uma vez, obrigado. – Voltei a agradecer. – Charlotte, muitas pessoas aparecem para essa exposição?
– Para ser sincera, não. Aparecem, no máximo, vinte pessoas.
– Se eu conseguir com que mais pessoas apareçam, os desenhos dela poderiam ser expostos mais uma vez? Sem ser na outra exposição mensal? – Perguntei com curiosidade, enquanto formava um plano infalível {Louis vai te ensinar o que significa plano infalível, Cebolinha e n pera} em minha mente.
– De quantas pessoas você está falando?
– Umas cinquenta. Talvez mais. – Disse em dúvida. Eu sabia que tinha muitas fãs em Paris, mas não sabia se elas teriam interesse em aparecer em uma galeria.
– Você está falando sério? – Charlotte perguntou, talvez ela estivesse espantada.
– Sim. Estou.
– Bem, se você conseguir fazer essa mágica, não vejo problemas em expor novamente, já que os desenhos da senhorita Laboité são realmente bons. – Sorri e acertamos uns poucos detalhes a respeito da segunda exposição e dos desenhos que seriam expostos.
Saí da galeria e encontrei o senhor me esperando. Contei para ele o que havia ido fazer lá e ele pareceu ficar animado com aquilo, perguntou se podia contar para a filha e eu concordei, recebendo como resposta um ‘a Aimée vai adorar saber disso. Ela é apaixonada por arte’.

Não demorou muito tempo para que chegássemos no hospital. Infelizmente, o horário de visitas já havia acabado, mas eu havia conseguido, mais uma vez, ir para o quarto de . Dessa vez, eu usei a desculpa de que iria somente pegar minhas coisas que havia esquecido lá e iria sair.
Bati três vezes na porta e entrei. estava deitada, olhando para a janela, e meu celular estava sobre sua barriga.
– Desculpa a demora, pequena. – Me desculpei e dei um beijo em sua bochecha. – O Zayn te perturbou muito? – ficou quieta por um minuto, talvez dois. – ? – A chamei.
– Oi. – Ela parecia um pouco confusa ao me responder.
– Está tudo bem? – Perguntei, a preocupação na minha voz era nítida.
– Sim, está tudo bem. Eu só tava pensando. – Concordei e acabei deixando o assunto Zayn de lado.
– O que você comeu hoje? – Após fazer a pergunta, notei que não havia comido basicamente nada no dia de hoje e meu estômago roncou. O deixei de lado. O importante, nesse momento, era a .
– O mesmo de sempre. – Estranhei a falta de assunto entre nós. estava muito quieta, o que era realmente estranho.
– Aconteceu algo, pequena?
– Não, não. Está tudo bem. – Acabei aceitando a resposta, apesar de não estar cem por cento seguro de que estava realmente tudo bem. Havia algo errado e eu sabia disso, só não sabia o que era.
– Como foi o seu dia?
– Eu falei com o Niall também.
– E como foi? Ele falou muito sobre comida? – Perguntei brincando.
– Ele disse que foi visitar o Zayn porque a comida na casa dele acabou. – Acabei rindo. Fazer aquilo era realmente típico do Nialler. – Foi legal.
– Fico feliz por você ter gostado. – Sorri e deixei a pasta que ainda segurava em cima da poltrona. Coloquei o celular no mesmo lugar. Comecei a deitar na cama e se ajeitou, para que eu pudesse deitar um pouco melhor. Dessa vez, não precisei puxá-la para perto de mim, ela mesma se aninhou junto ao meu peito. Envolvi sua cintura com o meu braço e fiquei fazendo um carinho ali.
– Eu queria passar o dia todo com você assim. – Confessei baixinho.
– Você fica aqui até eu dormir? – Abaixei minha cabeça e fitei os olhos azuis de .
– Não se preocupe, . Eu vou ficar aqui e vou continuar aqui, por você. – Disse sincero. – Eu estarei aqui de manhã, quando você acordar. – Então ela fechou os olhos e se deixou levar pelo sono.
Queria ter tanta facilidade quanto ela tinha para dormir. Eu podia ver seu peito subir e descer sem pressa, sinalizando que ela respirava tranquilamente, que estava tendo um sonho bom. Queria que as coisas fossem mais fáceis, também. Suspirei. O que eu realmente queria era que não estivesse passando por isso. Ela tinha toda uma vida pela frente, mas por culpa de um maldito {queria colocar ‘erro genético’ e mais uns terminhos aí só que acho melhor não né, estou me segurando pra não colocar desde o começo da história dsahusau} câncer, ela estava lá, tendo que se submeter a quimio e radioterapia e exames quase diários para sobreviver. Aquilo não era justo e, mesmo assim, eu queria que ela continuasse ali comigo. Queria continuar abraçando-a sempre antes de dormir. A queria junto de mim para sempre, queria protegê-la de qualquer coisa.
Talvez eu estivesse sendo injusto, pensando apenas em mim mesmo e... Não. merecia viver. E ela iria viver. era uma guerreira e ela ia continuar resistindo. Eu? Eu estaria do lado dela, a apoiando. Eu estaria lá, atrás dela, sempre que ela precisasse de ajuda para levantar. Estaria do lado dela sempre que ela precisasse de apoio para continuar. Estaria na frente dela sempre que fosse necessário para protegê-la de algum perigo. Eu, Louis Tomlinson, sempre estaria lá por ela, pela . A minha , a minha pequena.

Havia pegado no sono um tempo depois de e, diferentemente das outras vezes que havia dormido ali, acordei com o barulho do meu celular avisando que a bateria estava acabando. Ignorei o barulho irritante e fiquei olhando a anjinha ao meu lado dormir.
Sorri. Ela era uma princesa, como Zayn havia dito várias vezes durante a ligação do dia anterior. Me mexi um pouco para poder enxergar que horas eram no relógio que estava usando e prendi a respiração quando deu sinal de que iria acordar, o que acabou não acontecendo. Soltei lentamente a respiração e respirei fundo, havia acabado de dar seis e meia.
Que horas havíamos ido dormir mesmo? Eu não faço a mínima idéia.
Meia hora depois, um médico entrou no quarto e olhou estranhou para mim e , que ainda dormia. Ele simplesmente fez sinal para que eu saísse da cama, o que eu acabei tendo de fazer e tentei, inutilmente, não acordar durante o processo.
– Onde você vai? – Ela perguntou com uma voz sonolenta, os olhos ainda fechados.
– Um médico chegou. Ele pediu para que eu levantasse. – Respondi. – Acho que ele quer fazer alguns exames. Eu tenho que passar no hotel e trocar de roupa, mas se você quiser eu fico mais um tempo aqui.
– Ir pra um hotel? – Acabei sorrindo, ainda estava sobre o efeito do sono. – Você volta?
– Eu sempre vou voltar pra você, pequena. – Dei um beijo em sua testa. – Volto daqui a pouco. – Me despedi, peguei minhas coisas (carteira, celular, óculos e o boné) e a pasta com os desenhos de , juntamente com os termos que deveriam ser assinados. Acenei para o médico antes de sair do quarto.
Liguei para o senhor do meu celular e mal me despedi dele quando o celular descarregou. Achei estranho, já que minha bateria costumava durar pelo menos dois dias. Não tive muito tempo para pensar sobre isso, já que o senhor estava próximo ao hospital, ou seja, ele não demorou a chegar e me buscar.

Ao entrar no hotel, fui diretamente para o local onde as refeições eram servidas. Meu estômago roncou alto quando senti o cheiro do café da manhã. Acabei pegando um pouco de cada coisa e resolvi beber um suco de laranja no lugar do tradicional café que eu estava habituado.
Tentei comer devagar, apesar da fome. Por conta do horário, não haviam muitas pessoas no ‘restaurante’, então eu acabei ficando apenas com o boné.
Ao terminar de comer, me levantei para me servir mais uma vez. Dessa vez, eu não exagerei e peguei somente algumas coisas. Estava comendo calmamente quando fui cegado por um flash. Desviei o olhar da minha comida e olhei um tanto assustado pra duas garotas que estavam na minha frente.
– Ai meu Deus! Você realmente é o Louis do One Direction! Eu disse pra você, Madison! – Uma garota loira disse animada para sua amiga, também loira. As duas estavam com um sorriso de orelha a orelha.
– Oi, meninas. – Acho um sorriso, tentando ser educado e deixar de lado o fato de ter a minha refeição interrompida. Talvez eu estivesse andando muito com o Niall.
– Ai meu Deus. Posso tirar uma foto com você? – A loira sem nome perguntou animada. Sua animação, que normalmente me contagiaria, estava prestes a me dar dor de cabeça. Na verdade, não era culpa de sua animação, mas sim da sua voz.
– Claro, sem problemas. – Contei até dez mentalmente. Simon provavelmente me mataria se eu fosse desagradável com alguma fã. E eu sei, apesar de poder estar em um dia ruim ou com fome ou cansado, jamais poderia ser rude com algum fã. De algum modo, eles fazem parte de quem sou, se estou onde estou é por conta deles e, se eu não tratá-los bem por serem fãs da banda, eu deveria por serem pessoas. Além de que aquele era meu trabalho. Eu havia escolhido aquele tipo de vida para mim e não trocaria por nada.
A loira se aproximou e eu afastei a cadeira, ficando em pé ao seu lado. Coloquei meu braço ao redor de sua cintura e sorri para a foto. Por um momento, desejei que fosse no lugar dela. Após a foto ser batida, dei um abraço na garota.
– Obrigada, Louis. – Apenas abri um sorriso. As duas estavam prestes a sair quando me lembrei que deveria começar a colocar o meu ‘plano’ em ação.
– Hey. – As chamei e as duas voltaram, notei que Madison relutou um pouco, mas acompanhou a amiga. – Tenho certeza que vocês não são daqui, estou certo?
– Sim, nós somos dos U.S.A.
– Olha, uma amiga minha vai expor uns desenhos durante três dias em um galeria e, se vocês estiverem por aqui e tiverem um tempo e, é claro, se quiserem ir. – Fui interrompido pela amiga de Madison.
– AI MEU DEUS. É claro que vamos estar lá. – Acabei abrindo um grande sorriso, creio que esse foi o motivo da garota ter suspirado. Disse os detalhes da exposição, como local, dia e horário e acabei autografando um guardanapo com seu nome, Judith.
Terminei de comer rapidamente, já que não sabia quantas pessoas que me conheciam podiam aparecer e, dessa vez, eu não teria nenhuma segurança do meu lado.
Aparentemente, eu estava com sorte, já que peguei o elevador com um homem que disse que sua filha era uma grande fã da banda. Acabei dando mais um autografo e evitei perguntar o motivo de sua filha se chamar John.
Entrei no quarto e fui direto pro banheiro, fiz tudo o que tinha pra fazer lá dentro e saí, dessa vez sem nenhuma toalha. Fiquei um tempo mexendo nas sacolas até achar uma cueca. A vesti e peguei o celular, o conectando no carregador. Resolvi guardar as roupas que havia comprado no guarda-roupa do hotel. Não demorei muito tempo nessa tarefa, uma vez que não tinha muitas roupas. Fiz um pedido para que lavassem a roupa que estava suja e resolvi entrar no twitter.
Após uns cinco minutos na rede social, resolvi postar a foto de algum desenho de . Peguei a pasta, que estava em cima do criado mudo, e fiquei folheando os desenhos enquanto tentava escolher um deles.
Me decidi pelo o que deveria ser de um casal. Estavam sentados lado a lado em um banco de um parque. Algumas crianças brincavam do lado esquerdo do desenho, o lado em que a mulher se encontrava. Do lado direito, o lado do homem, havia uma grande árvore e um balão solitário no céu.
Tirei uma foto e postei no twitter, dizendo que o desenho era de uma amiga e que ela iria expor alguns trabalhos. Não dei grandes detalhes nesse primeiro tweet, já que eu queria saber como meus seguidores reagiriam.
Quase no mesmo instante, apareceram vários comentários na foto, muitas em uma língua que não era o inglês. Acabei apelando para um tradutor, já que realmente queria saber o que as pessoas haviam achado.
Fiquei decepcionado ao ler comentários dizendo que estava apenas usando minha imagem para se promover. Me senti mal, pois eu estava tentando fazer uma surpresa (que deveria ser boa, agradável) e aquelas pessoas sequer sabiam o nome da , da minha pequena.
Nesse momento, tive pleno conhecimento do que o Harry sentiu e, mais ainda, do que a deve ter passado.
Respirei fundo e, apesar dos comentários negativos, twitei mais uma vez, dessa vez com detalhes da exposição. Abri um sorriso ao ver pessoas comentando que era uma grande artista e que tentariam ir na exposição.
Houve alguns pedidos para postar outra foto. Fechei os olhos e escolhi um desenho aleatório. Soltei uma risada nasalada ao ver que era um desenho meu e dos caras.
@Real_Liam_Payne you’re looking better here haha just kidding xx
Twittei e, após um tempo, deixei a rede social de lado e resolvi assistir um pouco de TV, desejando que o tempo passasse mais rápido.

Se passou quinze minutos, foi muito. Meu celular apitou, tirando minha atenção da TV. O peguei e vi que era uma mensagem de Harry. Ficamos trocando mensagens por um tempo e logo uma notificação do twitter apareceu no meu celular. Cliquei para abrir e a primeira coisa que vi era que tinha a ver com Niall e Zayn.
“@zaynmalik @NiallOfficial não acredito que vocês ficaram mais de cinco horas no telefone com a amiga do @louis_tomlinson”
O twett era do Tom Fletcher e eu simplesmente não acreditei ao ler o “cinco horas no telefone”, isso explicava, e muito, a bateria do celular ter acabado tão rápido.
“@zaynmalik @NiallOfficial cinco horas? Como assim vocês passaram cinco horas falando com a pequena?”, twittei.
“@louis_tomlinson não tenho culpa por gostar das mesmas que a princesa. Ela e o @NiallOfficial tiveram uma conversa maneira sobre comida”, Zayn respondeu quase no mesmo instante, em seguida chegou algo do Niall.
“@louis_tomlinson ela cozinha bem? Acho que estou apaixonado”, ignorei o twett do Niall, pois não havia gostado de ler aquilo. Como ele poderia estar apaixonado pela ? Isso era... Certo, não era impossível. Apenas não era legal. Eu, pelo menos, não havia gostado nada daquilo.
“@NiallOfficial apaixonado pela princesa? Haha, @louis_tomlinson deve estar agora se mordendo de ciúmes”, acabei também ignorando o twett de Zayn e resolvi ir para o hospital, apesar de ainda estar cedo.
Levantei da cama e fui até o guarda roupa, vesti uma bermuda bege, uma camisa branca e calcei um chinelo estilo havaianas [N/AB: todo mundo usa, recuse imitações]. Coloquei o óculos preto e o boné, guardei a carteira no bolso e, apesar de o celular não estar com a bateria cheia, o desconectei do carregador e o guardei no outro bolso.
Saí do hotel, andando em direção do hospital. Felizmente, não fui abordado por ninguém durante o trajeto, o que me deixou surpreso, já que as fãs da banda deveriam ter chegado à conclusão de que eu estava em Paris por conta do que havia postado no twitter.
Ao chegar em meu destino, passei direto pela recepção e fui rumo ao quarto de . Girei a maçaneta e acabei me esbarrando com alguém que estava saindo.
– Desculpa. – Falei ao mesmo tempo que a mulher. Olhei para seus olhos e juro que já os havia visto em algum lugar.
– Você é da família da ? – Perguntei. Os olhos eram idênticos, ela só podia ser alguma irmã ou prima. Talvez tia.
– Sim, eu sou a irmã dela. – A mulher me respondeu, ela parecia estar um pouco confusa. Então sua boca se abriu e eu percebi que ela havia me reconhecido. – Não acredito. Achei que minha irmã estava delirando quando ela disse que havia conhecido o Louis, digo, você. – Abri um sorriso tímido. – Prazer, Bellatrix. Mas, por favor, me chame de Bella.
– Prazer, Bella. – Nos cumprimentamos com um aperto de mão. – Será que eu poderia, você sabe, entrar e ver sua irmã?
– Ela está dormindo agora. – Suspirei e fiz um gesto de concordância. Apertei a pasta em minha mão com mais força e fixei meu olhar nos olhos de Bellatrix.
– Escuta – comecei –, você não gostaria de, sei lá, ir até um café comigo? Queria conversar com você. – Bellatrix pareceu que ia negar o meu pedido, por isso ‘apelei’. – Tem a ver com sua irmã. – A mulher olhou para a porta que agora estava fechada e acabou concordando.
– Você sabe algum lugar onde possamos conversar em paz? – Perguntei, já que eu não conhecia muitas coisas por ali.
– Tem o Le Caffe. É um pouco longe, mas eu estou de carro. Vamos. – A segui até o seu carro e fomos o trajeto sem trocar uma palavra, o que colaborou para que o trajeto parecesse mais longo do que realmente era.
Entramos no Le Caffe e fomos para uma mesa mais afastada, fizemos nossos pedidos e, após eles chegarem, eu resolvi começar a falar, antes dei um gole no meu frappuccino.
– Você já ouviu falar na Art Nouveau Galerie? – Resolvi começar pelo começo, ou quase.
– Já. Vez ou outra eles expõem trabalhos de artistas amadores. Mas o que isso tem a ver com a minha irmã?
– Eu falei com uma mulher chamada Charlotte e mostrei os desenhos que sua irmã fez. Ela aceitou expô-los. – Bella acabou se engasgando com sua bebida e eu dei leves tapas em suas costas, com o intuito de ajudá-la.
– Você o quê? – Ela disse após se recuperar.
– O problema é que preciso que assine um termo, concordando com que cinco desenhos sejam expostos.
– A é menor. Ela não pode concordar com isso. – Bellatrix disse o óbvio e eu beberiquei minha bebida.
– Exatamente. Mas você pode. – Bella abriu e fechou a boca algumas vezes, sem saber o que falar. – Olha, eu só quero fazer a feliz e eu realmente acho que ela ficaria feliz ao ser reconhecida como a artista que ela é. Ela merece, Bella.
– Eu sei. – Ficamos nos encarando por um tempo, até que ela suspirou. – As pessoas não costumam te dizer não, não é mesmo? – Sorri ao ouvir isso.
– Somente o empresário e os seguranças falam. Mas não é como se eu estivesse ouvindo. – Dei de ombros.
– Bem, eu não irei entrar para a lista. Onde eu assino? – Meu sorriso se alargou e eu tirei o termo de dentro da pasta e entreguei para ela, que leu e assinou em seguida com uma caneta que havia tirado da bolsa. Agradeci e guardei o papel no mesmo lugar de antes.
– E as fotos? Como você vai escolher?
– Na verdade, a vai escolher. Quero que seja uma surpresa, mas ela vai escolher os desenhos. Vou pedir pra ela me dizer quais são os cinco desenhos favoritos, então vou levar eles pra Galeria de Arte.
– Você tem até quando para levar?
– Bem... – Olhei para o meu relógio. – Até hoje, na verdade.
– Nesse caso, – Bella começou a falar e virou, literalmente, sua bebida – é melhor corrermos. – Concordei e fiz a mesma coisa com a minha bebida, mas acabei engasgando, o que fez com que ela risse da minha ‘sorte’. Revirei os olhos e a lembrei de que ela tinha feito a mesma coisa e recebi como uma resposta um olhar do tipo ‘epa, foi mal’. Paguei a conta e voltamos pro carro. Na viagem de volta, o clima estava bem mais leve entre nós, tanto que fomos conversando o trajeto todo e fazendo umas brincadeiras. Ficou acertado que, após fazer o seu ‘top 5’, Bella iria comigo até a Galeria, já que o prazo estava chegando ao fim.

03. We’re falling in love
Chegamos no hospital como se o mundo fosse acabar e, bem, se eu não entregasse os desenhos de ainda hoje, parte dele acabaria.
Entrei no quarto de , ao lado de Bella, às pressas. Fato que fez com que ela se assustasse um tempo depois. Como uma reação retardada, o que me fez franzir o cenho. Em questão de segundos, o rosto de se iluminou e ela soltou uma gargalhada contagiante.
– Do que você tá rindo, pestinha? – Bella perguntou num tom sereno.
– A cara. – Cara? Que cara? Alguém chapou a e não to sabendo. – Vocês. Muito engraçado.
Ela riu mais um pouco e se controlou.
– Ok, mocinha, já está na hora de me dizer uma coisa – ela ficou séria e seu olhar parecia perdido, me sentei na beirada da maca e mostrei a pasta com os desenhos – Quais são os seus preferidos?
sorriu e suspirou.
– Por que você quer saber? – ela perguntou, enquanto via um por um. Olhei para Bella e ela fez um sinal para que eu respondesse logo.
– Quero fazer cópias pra mim. Ter uma parte sua comigo. – parou e olhou em meus olhos, um sorriso perfeito surgiu em seus lábios e eu senti meu coração falhar em uma batida. Se eu pudesse congelar o tempo, se eu pudesse parar tudo, eu o faria. já havia se tornado parte de mim em poucos dias, já havia me prendido mesmo sem querer, ela conseguiu o que ninguém foi capaz. Engraçado como tudo acontece com tanta naturalidade que, quando você vê, já aconteceu. Você já se apaixonou e não há nada que você possa fazer para mudar isso. E eu, realmente, não quero fazer nada para mudar isso.
Mesmo sabendo que eu posso sofrer, eu não tenho um pingo de arrependimento pelo carinho e pelo amor que vem crescendo de um jeito desgovernado dentro de mim. sempre será uma parte minha e de minha história, sempre será aquela que me mostrou que as pequenas coisas da vida são as que nós mais devemos valorizar, que as bobeiras de um dia a dia fazem parte não só de nós, mas de quem realmente somos.
– Quantos eu posso escolher? – sua voz tinha um tom alegre e empolgado.
– Cinco. Quero as cinco que você mais gosta.
Ela concordou com a cabeça e voltou a olhar para suas obras. O primeiro que ela deu para que eu segurasse não aparentava ser um desenho e sim a realidade. Passei a ponta dos dedos sobre o papel só para ter certeza de que eu não estava ficando louco ou coisa do tipo. A chave, que continha um formato antigo, não parecia ser só um desenho. A sombra que ela tinha sobre as letras no fundo, que representavam obviamente uma carta, a fazia parecer real. Me dava a leve impressão de que, em minhas mãos, havia uma carta, com letras bem desenhadas, como faziam nos séculos passados, e então, em cima desta, havia uma grande chave.
O sorriso dela alargou quando me entregou o segundo desenho.
Era uma mão fechada num formato de coxinha segurando um botão. Um botão de uma flor, pra ser bem mais específico, a perfeição dos traços de deixavam o desenho com um aspecto incrivelmente realista. O jogo de sombras, os detalhes da pele dobrada, das pequenas pétalas umas sobre as outras desabrochando e da sépala (aquela famosa parte verde que fica abaixo das pétalas). O terceiro me surpreendeu. De verdade. No centro do papel, havia uma xícara em cima de um pires. Ambos em cima de um pequeno relevo coberto por uma renda. Os detalhes desenhados nas louças eram incríveis, as pequenas folhas enroladas nos seus galhos em pequenos punhados, colocadas em lugares estratégicos, e um ramo destas na beirada da xícara, em sua parte interior. Junto destes galhos e folhas, grandes rosas se destacavam em meio a decoração. Típica imagem que te lembra da família, da casa da vó e da comida gostosa que ela faz pra você com aquele chá delicioso de fim de tarde. Talvez seja esse o significado por detrás dessa imagem.
O próximo desenho que ela selecionou fez com que eu me engasgasse com minha própria saliva. Era um homem sem camisa, com o corpo malhado, e com as partes cobertas por um lençol que sumia em meio ao nada que havia ao redor da imagem. Ele se apoiava com o cotovelo numa mesa de canto, enquanto parecia descansar em uma poltrona. O homem não tinha um rosto, nada além de um queixo com uma barba rala e uma pequena parte do lóbulo.
– Em quem você pensou quando desenhou isso? – perguntei, olhando o desenho.
Escutei a risada fraca de .
– Você não é o único homem sexy desse mundo, Louis. – olhei para ela com uma sobrancelha arqueada e ela piscou, voltando a rir e a escolher um entre os vários desenhos.
Olhei ao redor, nenhum sinal de Bella, tentei não pensar na possibilidade de ela ter saído pela janela. Mas a ausência dela explicava o fato de ter admitido em voz alta que me achava um homem sexy. Ah, meu Deus, será que ela já...
Balancei a cabeça, tentando afastar aquele pensamento absurdo e me concentrar nas obras da . Foi difícil, mas não impossível.
O quinto e último me fez pensar se havia alguma coisa por trás daquele espelho desenhado também no centro da folha, com o reflexo de um olho acinzentado chorando. Os detalhes da borda do espelho eram incríveis e encantadores. Me faziam lembrar de coisas medievais e dos tempos antigos.
Sorri para e apertei a ponta do seu nariz. Ela fez um biquinho fofo e rimos fraco. Ela suspirou, eu precisava ir para a galeria, mas minha vontade era de ficar ali ao seu lado e não ir embora nunca mais.
– Eu preciso ir, amoreco – ela gargalhou e eu a acompanhei.
– Amoreco? Ok, Louis. Você volta, não é? – eu afaguei seu rosto.
– Sim, eu prometo.
Eu não queria ir, sentia que precisava ficar ali, sabe aquele tipo de sensação estranha? Intuição? Então, eu meio que não tinha uma muito boa. Mas, do mesmo jeito, eu me levantei, beijei sua bochecha macia e, após pegar minhas coisas e os desenhos, saí do quarto dela. Eu saí rezando para tudo quanto é deus, que tudo ficasse bem e que essa impressão de que alguma coisa estava prestes a acontecer fosse só besteira minha.
Encontrei Bellatrix na entrada do hospital e ela me levou até a galeria, no caminho conversamos sobre como seria tudo incrível. Os desenhos de expostos, as pessoas reconhecendo seu talento, seu nome se destacando. Nós comentamos a ansiedade pela exposição e combinamos tudo para que não fique sozinha amanhã.
Na galeria, Charlotte nos recebeu com um sorriso acolhedor.
Bonsoir, jeunes.
Bonsoir – repeti ao mesmo tempo em que Bella.
– Charlotte, essa é Bellatrix, a irmã da garota que eu te falei – elas se cumprimentaram sorridentes. – Bem, hm... aqui estão os cinco desenhos – estendi a pasta com eles para Charlotte, ela sorriu animada.
– Parece que teremos uma exposição e tanto amanhã, não é?

Acordei na cama do hotel, estranhando a ausência do corpo da enroscado no meu. Suspirei, me espreguiçando. Eu precisava me conter e não ir para o hospital até o final da tarde, caso contrário, eu estragaria toda a surpresa ou simplesmente não sairia do lado de . E isso, por mais que fosse algo bom, não podia acontecer. Eu precisava fazer tudo dar certo, eu precisava fazer com que visse o quanto as pessoas gostaram de seus trabalhos e o quão admirada ela era. Respirei fundo, colocando um sorriso entusiasmado no rosto, pedi o café da manhã pelo telefone e fui para o banheiro fazer minha higiene matinal e tomar um bom banho.
Olhei para algumas roupas tacadas na poltrona que havia no quarto e peguei uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa gola v. Arrumei meu cabelo de qualquer jeito, peguei a chave, carteira com documentos e o celular, liguei para o senhor , que merecia um troféu por estar me ajudando o tempo todo, e ele me levou até a galeria.

O trajeto não foi demorado, mas durou o suficiente para que eu contasse com entusiasmo que seria hoje à tarde o primeiro dia da exposição com alguns dos desenhos incríveis de . me parabenizou pelo o que eu estava fazendo e disse que ela com certeza iria amar a grande surpresa.
Cumprimentei todo mundo que vi na galeria assim que cheguei. Procurei por Charlotte na intenção de ajudar a organizar alguma coisa, algum pequeno detalhe, caso fosse preciso, mas não foi. Ela apenas fez uma reunião agradecendo a todos pelo trabalho duro durante a madrugada para terminar de organizar os quadros pintados e os que emolduravam os desenhos.
O tempo demorava a passar, mas aos poucos eu pude ver os amantes da arte adentrando a Art Nouveau Galerie com animação. Sorri e liguei a câmera, foquei no rosto maravilhado de um senhor em frente ao desenho de , senti meu coração acelerar com a cena. É claro que haviam inúmeras obras incríveis ali, mas era impossível não me prender àquilo.
Conforme o tempo foi passando, fui mostrando com a câmera todas as obras em exposição, deixando a “seção srta Laboité” por último. Eu comentava feito um idiota sobre cada quadro ou desenho como se ela estivesse ali ao meu lado.
Cheguei a perder um bom tempo num quadro, eu não sabia se ria ou se tentava entendê-lo. Então, por via das dúvidas, apenas fiz uma careta esquisita para a câmera e continuei o tour. Às vezes, eu pausava a filmagem para começar a filmar já com o rosto de algum desconhecido comentando sobre as obras que estavam ali e pedia a opinião sobre as de , sem mostrá-las para a câmera ou citar o nome dela. Deixando a explicação de tudo para o final da filmagem.
Entre uma “entrevista” e outra, eu encontrei algumas fãs da banda que ficaram animadíssimas ao me verem. Após as fotos e autógrafos, eu mostrei a elas os desenhos de e filmei suas reações e comentários. Elas gostaram de verdade dos desenhos, eu podia ver seus olhos brilhando para eles.
Eu me diverti, ao mesmo tempo em que conheci novos e incríveis talentos lá na galeria. Mas, mesmo assim, minha mente; pelo menos boa parte dela, estava em e em como ela estaria. Se Bella estaria dando conta de distraí-la da minha ausência.

Eu estava pronto para bater na porta do quarto de , mas esta se abriu e Bellatrix saiu com uma expressão tristonha no rosto. Ela me afastou um pouco do quarto e então suspirou, me olhando nos olhos. Alguma coisa não estava certa.
– O tempo tá correndo, Louis. Não deixe nada para depois – ela colocou a mão no meu ombro e tentou sorrir, mas acabou fazendo uma careta estranha, eu senti um aperto no estômago e coração. – Nada nem ninguém é eterno.
Eu abri a boca para tentar responder e ela deu as costas, rumo a saída daquela ala do hospital. Ela sumiu pelos corredores e meus olhos se fixaram na porta com o L cravado. Tentei engolir o nó que se formou em minha garganta; parecia uma missão impossível. Entrei no quarto com a câmera em mãos, mas logo a deixei na poltrona com o resto de minhas coisas.
– Hey, anjinho – cumprimentei-a com um beijo na cabeça e ela sorriu.
– Tudo bem? – dissemos ao mesmo tempo, o que nos fez rir – Tudo ok. – outra vez.
– Fiquei preocupada com você – confessou e eu sorri largo.
– Me desculpe por não ter vindo mais cedo ou ter passado a noite aqui.
Me sentei na beirada da maca e apertei sua bochecha de leve. Isso é viciante.
– Tudo bem, Louis. O que importa é que você está aqui agora – ela sorriu largo.
– E então, o que os médicos falaram?
A pergunta pareceu pegá-la de surpresa, seus olhos se arregalaram um pouco, se mexeu na maca meio incomoda. Ela respirou fundo e olhou para suas mãos, meio hesitante.
– Olha, não é nada que você precise se preocupar – ela levantou o olhar –, ontem a noite eu tive um “ataque” – fez aspas com os dedos e eu ri fraco, ainda nervoso –, mas você sabe, não é? – ela respirou fundo, parecendo tomar coragem – É normal na minha situação. Assim como meu tempo de vida é menor que o normal, eu tenho câncer. Você sabe, eu sei que sabe. Mas cada tentativa dos médicos pode estar sendo em vão, Louis. E se, por acaso, nada der certo, eu quero que você saiba que é por sua culpa que eu estou vivendo os melhores dias da minha vida e eu serei eternamente grata por tudo.
me puxou pelo braço e me deitou em seu peito, eu estava sem palavras, sem saber o que fazer. A possibilidade de tudo acabar logo havia me assustado. Eu me acostumei e me apeguei muito fácil à presença dela, a tudo com relação a ela. Mordi o lábio inferior segurando um choro que só pioraria a situação. Respirei fundo, tomando coragem para falar.
– Eu trouxe uma surpresa.
Como Bella havia dito, o tempo está passando. Lamentações não mudarão esse fato, só farão com que eu perca meu tempo com . Eu tenho uma vida inteira para poder chorar, , eu já não sei nem se vai estar comigo ao amanhecer. Suspirei, me levantando meio contragosto, afinal, ficar deitado com ela já havia se tornado um costume. O melhor costume de todos. Peguei a câmera e me sentei ao lado de , dessa vez, deitando sua cabeça em meu peito. Ela se acomodou ali e me abraçou. Tenho certeza de que ela estava escutando as batidas desesperadas do meu coração.
– O que tem aí? – ela perguntou baixinho.
– A sua surpresa – respondi no mesmo tom.
Liguei a câmera e deixei a gravação rolar. Ela pareceu se alegrar com o vídeo, eu podia ver na tela da câmera o seu reflexo e suas inúmeras reações.
– Oh, céus. Esse quadro é lindo, Louis.
Ela disse animada e eu concordei sem saber de qual deles ela estava falando. Seu reflexo estava tirando toda a minha atenção do vídeo. E foi assim, até chegar numa das fãs que eu entrevistei.
– “Esse quadro está me seduzindo, eu vou levá-lo para casa e, uhul, amor 24 horas por dia.” – a garota havia dito, ela parecia doida, mas isso a fazia ser engraçada.
riu e fez um positivo com o dedão mesmo sem saber de qual quadro se tratava. Aos poucos, eu fui focando nas obras de e sua risada foi morrendo, dando lugar a uma expressão de descrença e surpresa. Aos poucos, ela pôde entender que aqueles comentários em meio a tudo também se referiam aos seus desenhos.
– Louis... eu, nossa! Meu Deus. Eu não acredito – ela dizia, me fazendo rir com sua reação.
– Shh, só veja – beijei sua cabeça e ela assistiu o resto da exposição com um sorriso gigante.
O vídeo terminou e eu coloquei a câmera na mesinha ao lado da maca. ainda estava com um sorriso bobo e surpresa, o que me deixou incrivelmente feliz.
– Louis, por que você fez isso?
– Porque você merece, . E porque eu gosto de você.
Ela virou o rosto na minha direção com um olhar confuso e o azul dos seus olhos me prendeu.
– Gosta tipo... amigo?
– Não, – respirei fundo, colocando a mão em seu queixo. – Eu gosto, tipo... gosto. Aquele gostar de verdade de alguém, sabe?
Sua boca abria e fechava sem parar e eu ri fraco. Meus olhos desceram até seus lábios e eu não pude controlar o desejo enlouquecedor de unir nossos lábios. Eu não me importei com nada, com o depois ou quaisquer outras coisas. Eu não poderia viver tranquilo sem saber que não aproveitei a oportunidade de demonstrar claramente a ela o que eu sentia. Se palavras não eram capazes, um beijo seria. Então, eu o fiz. Colei minha boca sobre a sua e de começo ficou meio em choque. Fechei os olhos e pude sentir seus lábios sorrirem largo, tentei aprofundar o beijo e ela me ajudou, abrindo sua boca. Suas mãos se agarraram em meu cabelo e meus braços se prenderam ao redor de sua cintura. Me pergunto se o gelo que eu senti na barriga, quando nossas línguas se tocaram, era uma coisa normal, ou se eu estava mais apaixonado por ela do que imaginava ser possível. Naquele momento, eu pararia o tempo, congelaria todos os relógios pra que nunca fosse capaz de sair de meus braços e o beijo jamais acabasse. Naquele momento, eu juro, éramos uma só alma.

Não sei dizer quanto tempo ficamos nos beijando, só sei dizer que havia sido... Não haviam palavras para descrever. Apenas pareceu certo, talvez apropriado. Mas não era somente isso. Eu gosto de . Me atrevo até mesmo a dizer que estava apaixonado por ela, que estava a amando. Em tão pouco tempo, se tornou a pessoa perfeita pra mim, era ela quem estava faltando em minha vida, no meu coração. Eu havia, enfim, encontrado a minha metade.
Mas o destino era cruel, ele sempre foi. A vida não era fácil para ninguém, por que deveria ser comigo? Nesse momento, eu havia notado o quão fácil era se apaixonar, mas ninguém havia me dito que não era fácil lidar com o sentimento. Ninguém havia me dito o quão difícil era. Por que as coisas não podiam ser simples? Eu queria voltar para o começo, para o dia em que a conheci. Todo o tempo do mundo não parece suficiente para mim.
– Louis. – Ouvi a voz da minha pequena me chamar e desejei, mais uma vez, que o tempo parasse. Minha semana estava no fim e eu simplesmente não queria ter de deixá-la. Mas, no fundo, tinha uma voz que me dizia e que eu ignorava. A voz me dizia que não seria eu quem a deixaria.
– Estou aqui, pequena. – Sorri e olhei em seus olhos. Eu adorava quando nossos olhares se encontravam e eu, realmente, me perdia dentro daqueles olhos azuis que tanto diziam para mim. Eles falavam mais do que as palavras. Nem as mais sinceras palavras conseguirão dizer o que eu sinto por
– Você canta pra mim, Boo Bear? Simplesmente não havia como negar um pedido de . Se ela me pedisse para saltar da Torre Eiffel por ela, eu saltaria mais de um bilhão de vezes.
I'm not a perfect person – Cantei a primeira frase da música, perguntando com o olhar se deveria continuar. concordou e fechou os olhos. Estávamos na nossa posição favorita, sua cabeça sobre meu peitoral e meu braço ao redor de sua cintura, como se estivesse lhe passando segurança. Suspirei em determinado momento da música e continuei a cantá-la. – I’ve found out a reason for me, to change who I used to be, a reason to start over new, and the reason is you.
– Por que, Louis? – perguntou baixinho após eu terminar de cantar a música. Fiquei um tempo em silêncio, encarando seu olhos e desejando que ela os abrisse. Eu precisava olhá-la nos olhos naquele momento. Ou talvez eu apenas precisasse saber, precisasse ter certeza, de que ela sempre estaria aqui comigo. Mas eu não podia obrigá-la a ficar para sempre viva e do meu lado e, do mesmo modo, eu não podia obrigá-la a abrir seus olhos. Eu precisava dela de um modo que eu nunca havia precisado de ninguém e isso era... Isso me deixava completamente vulnerável. Eu a amava e simplesmente não conseguia dizer as três malditas palavras, pelo menos não até o momento.
– Você é tudo o que eu quero pra mim, . – Comecei a dizer, encarando suas pálpebras. – Eu... – Respirei fundo e olhei para o teto. Eu tinha que dizer tudo, não podia deixar tudo para depois. – Você é tudo o que eu preciso. Você é simplesmente tudo, . E eu... – Mordi o lábio inferior e voltei a olhar para o seu rosto. Seus olhos estavam abertos e fixos em meu rosto. – , eu só estou tentando dizer que o que eu estou sentindo por você não é um simples gostar. Eu. – Hesitei. Não sabia como continuar. Eu queria continuar, eu precisava continuar. Deveria existir um modo mais simples de dizer as três palavras.
E então eu selei nossos lábios. Não aprofundei o beijo, queria apenas senti-la mais uma vez, por um momento. Queria que ela notasse através daquele beijo que eu a amava. Eu queria fazer com que ela soubesse que eu a amava.
– Eu amo você. – Murmurei contra seus lábios e então pedi passagem com minha língua para aprofundar o beijo. Parecia que nunca havíamos nos beijado antes. Naquele beijo, havia uma mistura de sensações, o amor estava explícito junto com a felicidade. Havia também o medo da separação inevitável, desejei ser uma coisa apenas da minha cabeça.

O beijo havia tido fim e havíamos retornado para a posição de antes. Não demorou muito para que um enfermeiro entrasse para medicar . Percebi que ela havia ficado um pouco desconcertada pela minha presença, por isso murmurei próximo ao seu ouvido que eu sempre estaria lá do lado dela, independentemente de ela precisar de mim ou não. apenas sorriu e agradeceu.
O enfermeiro saiu do quarto e eu a abracei mais forte, aproximando mais os nossos corpos.
Passamos o restante do dia assim, abraçados, e comigo cantando vez ou outra. Confesso que parava de cantar somente para fazer alguma pergunta banal, para que tivesse que dizer algo. Eu gostava da voz dela.
Em alguns momentos, demorava para me responder, como se estivesse com a mente em outro planeta. Em outros momentos, ela não me respondia, então eu voltava a cantar. De algum modo estranho, parecia sair "do mundo dos sonhos" quando eu estava cantando. Tentei pensar em algo que justificasse isso, mas não consegui pensar em nada que não fosse um tremendo absurdo.
Naquele dia, eu havia cantado de tudo um pouco. De Coldplay havia ido para Miley Cyrus e dela tinha ido para Linkin Park e depois para BackStreet Boys. Até mesmo Taylor Swift e The Wanted eu havia cantado. Foi após cantar Could This Be Love que disse não entender a rixa entre as duas bandas. Para ser sincero, eu também não entendia. Nós nos dávamos bem no começo e, de uma hora pra outra, brigamos e fim. Sequer me lembrava o motivo da briga.

De repente, o médico entrou e abriu a boca para, provavelmente, me mandar descer da cama e deixar deitar sozinha, mas acabou (creio eu) mudando de ideia. Deu uma olhada nos papéis que estavam em sua mão e foi até as máquinas que estavam ligadas a , olhou atentamente para elas e não disse nada. Anotou alguma coisa em sua prancheta.
– Sr. Tomlinson. – Olhei para o médico um tanto apreensivo. – Sinto informar que o horário de visitas acabou há três horas e meia.
– Certo. Eu já estou de saída, senhor. – O médico concordou e se retirou do quarto. pareceu estar alheia àquela curta conversa, então acabou se surpreendendo quando disse que precisava ir. Prometi que chegaria o mais cedo possível no dia seguinte. Selei nossos lábios e desejei boa noite.
Peguei minhas coisas e, ao sair do quarto de , encontrei o médico saindo de um outro quarto.
– Doutor. – Ele olhou em minha direção e eu caminhei até ele. – Eu poderia passar o dia com a , amanhã? Por favor. – O médico ficou quieto, como se estivesse pesando os prós e contras da sua resposta. – Por favor, senhor. E-Eu acho que o tempo de está acabando e eu não quero deixá-la por um minuto.
– Senhor Tomlinson, eu gostaria de deixar, claro que isso é completamente contra as regras do hospital – ele começou –, mas eu sempre penso na felicidade dos meus pacientes e você, com certeza, fez a srta. Laboité feliz durante esse tempo que você passou com ela. Só peço que você não espalhe para ninguém a minha decisão. – Concordei com a cabeça e fiquei parado no mesmo lugar enquanto ele virava as costas e saia andando.
– Isso é um sim? – Perguntei.
– Definitivamente, senhor Tomlinson. – O médico respondeu e eu sorri.

O tempo estava nublado, mas isso não me desanimou. Havia demorado para dormir e, para ser sincero, se eu dormir três horas havia sido muito. Ao contrário do que normalmente aconteceria comigo, eu estava muito animado. Estava cheio de energia e... Sorrindo. Sorrindo por simplesmente sorrir.
Levantei da cama e fiz tudo o que tinha que fazer no banheiro em um tempo recorde. Me troquei e peguei as coisas de sempre (celular, boné, óculos e carteira). Era estranho usar óculos e boné com o tempo nublado, mas o fiz apenas para não ser reconhecido.
Saí do hotel sem tomar o café da manhã. Comeria no caminho para não gastar tempo. Comprei um salgado qualquer e um suco e continuei andando enquanto comia. Parei em um sinal e esperei ele fechar para que eu pudesse atravessar, foi aí que eu a vi.
O sinal fechou e eu atravessei, mudei meu rumo por um momento apenas para entrar em uma outra floricultura.
– Bom dia. – Cumprimentei a vendedora. – Eu queria um buquê de petúnias. – A mulher concordou e já foi atrás das flores, mas eu a interrompi no meio do caminho. – Na verdade, quero um buquê com petúnias, margaridas e orquídeas. O mais colorido possível. Um buquê bem grande. – Disse animado, com um sorriso grande no rosto. Talvez as flores não combinassem entre sim, mas eu não havia as escolhido para que o buquê fosse perfeito.
– Aqui está, senhor. – Meu sorriso se alargou ao ver o trabalho bem feito da mulher. De algum modo, ela havia conseguido criar uma harmonia com as três flores.
– Ainda tem como acrescentar algo? – Perguntei incerto, com uma ideia em mente.
– Sim, senhor.
– Eu queria que tivesse um lírio azul no centro. – A mulher concordou e em poucos segundos o lírio estava lá, se destacando no meio das outras flores. Entreguei o dinheiro para a mulher e saí, mais feliz do que quando entrara, com o buquê. Agora sim eu iria para o hospital.

Cumprimentei a recepcionista, que não barrou minha entrada até a área dos quartos. Talvez o médico tivesse a avisado de que eu poderia visitar de manhã. Um sorriso de formou em meu rosto ao ver a porta do quarto de . Suas iniciais ainda estavam lá, do mesmo jeito. Suspirei ao lembrar da primeira vez que havia entrado naquele quarto, da primeira vez que havia tocado em sua pele, da primeira vez que havia cantado para ela e eu simplesmente não conseguia esquecer o modo que me sentia ao olhar dentro de seus olhos azuis e muito menos a sensação de quando nossos lábios se tocaram. Eu havia demorado tanto tempo para conhecê-la e agora o tempo que passamos juntos não era suficiente. Nunca seria o suficiente.
Parei de adiar o momento tão esperado, coloquei minha mão sobre a maçaneta da porta e a abri. Ao entrar, deparei-me com olhando fixamente para o teto. Ela parecia distraída, mergulhada em um mundo só seu.
– Oi, . – A cumprimentei. Um sorriso um tanto bobo nos lábios. O buquê estava em minhas mãos e eu mal via a hora de ver o seu sorriso quando notasse a variedade de cores das flores. Fiquei parado no mesmo lugar, próximo à porta, enquanto esperava minha presença ser notada.
? – A chamei, agora preocupado. Dei uns poucos passos em direção da cama.
Boo bear! – Ouço a voz de e ela sorri. Seu rosto se vira em minha direção, correspondo ao seu sorriso e fixo meus olhos dentro dos dela. De repente, seus olhos se arregalam e eu paro de andar, sem entender nada. Os aparelhos começam a fazer um barulho que eu não havia ouvido antes. Algo estava errado, muito errado.
Soltei as flores e fui correndo na direção de . O que estava acontecendo com a minha pequena?
? ? – Comecei a chamá-la, desesperado. As lágrimas começaram a se acumular nos meus olhos. Ela estava tendo uma crise. Eu tinha que fazer algo. Eu precisava ajudá-la. Eu precisava... – UM MÉDICO! SOCORRO! MÉDICO! – Comecei a gritar por ajuda, sem sair do lado de . Eu não podia abandoná-la. Simplesmente não podia deixá-la sozinha. Eu havia prometido que sempre estaria lá por ela e era isso o que eu ia fazer. Minha visão começou a embaçar com as lágrimas que começaram a cair.
– Você vai ficar bem, . Eu vou continuar aqui do seu lado, eu prometo. – Murmurei em meio a lágrimas e a abracei. Fiquei balançando nossos corpos para lá e para cá enquanto a ajuda não chegava. Médicos e enfermeiras chegaram e, para ser sincero, somente notei a presença deles quando foi tirada de meus braços e mãos fizeram com que eu me afastasse de . – Não. – Neguei e tentei me aproximar. – Eu preciso ficar perto dela. Ela precisa de mim. – Não sei como consegui manter minha voz firme, ao julgar pelo momento. Tudo o que eu queria era voltar para a minha . Queria segurá-la nos meus braços mais uma vez.
– Alguém tire ele daqui! Nós precisamos salvá-la. – Essas palavras fizeram com que eu percebesse que eu poderia estar atrapalhando os salvadores de . Por isso, me desvencilhei de algumas mãos e fui para um canto do quarto. Eu não sairia daquele cômodo.
Minha percepção de tempo era nula. Tudo o que eu conseguia fazer era chorar e lembrar de tudo o que havia feito com . Ouvia as vozes dos médicos, mas não prestava atenção. Estava compenetrado na minha ‘bolha de lembranças’.
Mas algo, palavras, me tiraram o tempo suficiente da minha bolha para que eu ouvisse o que eu tanto temia.
– Hora do óbito, oito horas e quinze minutos. – Nesse momento, eu simplesmente não aguentei. Caí de joelhos no chão e chorei como um bebê, literalmente falando. Chorei como nunca havia chorado em toda a minha vida. Senti uma mão desconhecida em meu ombro e tentei ignorar o toque, o que foi difícil.
– Eu sinto muito, garoto. – Não disse nada. Não havia algo para ser dito. A pessoa saiu sem dizer algo mais, ou pelo menos eu julgava que ela havia saído.
Com a visão embaçada, caminhei lentamente até a cama onde ainda estava. Deitei do lado dela e a abracei. Tentei controlar minhas lágrimas, sem obter sucesso. Fiquei um tempo ali, chorando e abraçado ao corpo sem vida de .
Shut the door, turn the light off. – Respirei fundo e juntei o resto de autocontrole que tinha para continuar cantando. – I wanna be with you, I wanna feel your love, I wanna lay beside you, I cannot hide this even though I try. – Minha voz falhava em algumas partes, simplesmente não havia como cantar aquela música sem fazer com que mais lágrimas caíssem. – Heart beats harder, time escapes me. Trembling hands touch skin, it makes this harder and the tears stream down my face. – Não consegui cantar a estrofe seguinte. Eu não queria aceitar que ela havia partido, mas ela havia. Respirei fundo e fiz um último esforço por .
Por um momento, durante aquela música, pude voltar no tempo. Por um momento, tudo pareceu como antes e fiquei bem em me enganar por uns poucos minutos, fiquei bem em imaginar que estava apenas dormindo enquanto eu cantava.
Mas eu precisava voltar para a realidade, por mais dura e triste que ela fosse. No final das contas, o lugar de não era aqui na terra. Era no céu, afinal, anjos não pertencem à terra. Ela era, com certeza, o anjo mais lindo de todos.
A verdade é que eu estava apenas tentando ‘arrumar desculpas’, tentando arrumar um meio de amenizar a dor que eu estava sentindo. Mas não havia apenas dor. Havia também um grande vazio, um buraco no lugar em que deveria estar o meu coração.
Não, isso não era verdade. É apenas um modo de falar. Também é um modo de falar que estou com um grande aperto no peito. Mais isso não deixa de ser verdade. Queria voltar no tempo e dizer tudo o que não havia dito antes e fazer todas as coisas que ainda não havia feito. Queria... Apenas passar mais tempo com ela. Apenas tê-la junto a mim por mais um tempo.

– Senhor Tomlinson – uma voz me chamou, ela parecia distante. Talvez fosse apenas coisa da minha mente. Fechei meus olhos com força e fingi que nada havia ouvido. Não queria sair dali e deixar sozinha. Eu não podia deixar a minha pequena sozinha. Sabia que ela não iria mais precisar de mim dali para frente, mas eu precisava dela. Talvez até mais do que eu achava possível. No fim das contas, era eu quem precisava dela e não o contrário.
– Senhor – a voz chamou de novo. Senti uma mão em meu ombro. Meus olhos continuavam fechados. – Senhor – a voz insistiu. Engoli o nó que havia se formado em minha garganta e abri os olhos. Tive que piscar algumas vezes para conseguir ver, de fato, quem era a pessoa. – O senhor tem que se retirar.
Eu não queria sair. O enfermeiro deve ter notado isso ao ver minha expressão.
– Eu sei como o senhor deve estar se sentindo e... – Bufei ao ouvir aquelas palavras.
– Você não tem ideia. – Murmurei.
– É sério, senhor. Te darei mais um tempo para que você possa se despedir. – Não disse nada. Apenas observei ele sair do quarto e pude, mais uma vez, ficar sozinho com .
– Eu queria ter dito mais uma vez que te amo, pequena. – Disse baixo. Queria que todo o mundo soubesse do meu sentimento por ela, mas não havia necessidade gritar aquilo. A pessoa mais importante que deveria ouvir não podia mais o fazer. Mais lágrimas escorreram pelo meu rosto. Dei um beijo em sua testa e fui levantando lentamente. Ajeitei seu corpo na cama e o cobri. Olhei para suas pálpebras e desejei, mais uma vez, que abrisse os olhos.
– Eu amo muito você. – Repeti e fiz um carinho em seu rosto. – Nunca vou te esquecer, pequena. Você sempre vai estar dentro do meu coração. – E foram com essas palavras que eu dei as costas para e saí de seu quarto.
Deixei para trás aquela que eu amava. A dor em meu peito parecia se agravar a cada passo que eu dava em direção a saída.
Senti o vento frio no meu rosto ao pisar do lado de fora do hospital. O tempo havia fechado. O céu estava escuro e não parecia que ainda era de manhã. O clima combinava perfeitamente com o que eu estava sentindo. Eu queria começar tudo de novo.
Caminhei sem rumo pela cidade. Andava a esmo, sem saber para onde estava indo. Quando dei por mim, estava em um parque. Sentei em um dos bancos e foi impossível não lembrar do desenho de . Olhei para o meu lado esquerdo, estava vazio. Ela poderia estar aqui, do meu lado, mas não estava e jamais iria estar novamente.
Jamais a veria sorrir outra vez e muito menos iria poder mergulhar em seus olhos azuis. Eu não cantaria mais para ela. Não faria mais palhaçadas para alegrá-la. Não poderia fazer mais nada. Queria que o dia acabasse logo para, quando eu acordasse no dia seguinte, saber que tudo não passou de um pesadelo. De um sonho esquisito. E a pior parte de tudo aquilo que eu estava sentindo é que eu sabia que não iria durar para sempre. Nunca durava. Mas eu queria que durasse, porque aquela dor era uma forma de me mostrar que tudo aquilo havia sido real.

Senti uma gota de chuva cair em meu ombro. Obriguei-me a levantar. Não sabia há quanto tempo havia ficado sentado naquele banco. Meu corpo protestou com o movimento repentino de levantar, mas a dor física não podia ser comparada a dor emocional de perder .
Saí do parque sem saber qual caminho tomar. Não sabia como havia chegado até ali e não queria ligar para o senhor . Eu não queria conversar sobre o que eu estava sentindo ou dizer o que havia acontecido.
Soltei o ar que havia prendido sem notar e escolhi ir para a esquerda. Depois de muito caminhar, fiquei surpreso ao notar que estava ao lado da floricultura que havia ido mais cedo. A imagem das flores caídas no chão e do corpo inerte de apareceu em minha mente. Fechei meus olhos com força e tentei tirar aquela imagem da minha cabeça. A imagem de ... Morta.
Tentei me lembrar dos bons momentos que passamos juntos, mas lembrar das vezes que ficávamos tão próximos e de seus lábios pressionados contra os meus parecia aumentar a dor em meu peito no lugar de amenizar.
A chuva havia engrossado. Não demorou muito para que eu ficasse ensopado e sentisse frio. Fechei os olhos e respirei fundo. Os abri e atravessei a rua sem olhar para os lados. Ouvi algumas buzinas, mas continuei em frente. De um modo absurdo, eu consegui chegar do outro lado, ileso e encharcado. Fiz o rotineiro caminho até o hotel e a única coisa que fiz ao entrar em meu quarto foi deitar na cama do jeito que estava, sem ligar para o fato de estar molhando tudo, e chorar. Chorar até perder a consciência.


EPÍLOGO

“If you could rewind your time would you change your life?”
Se você pudesse rebobinar seu tempo, você mudaria sua vida?
(Stereophonics – Rewind)

Fiz questão de ficar onde ninguém pudesse me ver, onde ninguém pudesse vir e perguntar o que diabos eu fazia ali, ou quem eu era, ou, então, o que eu significava para . Não fui capaz de ver seu corpo sem vida no caixão aberto como seus familiares faziam dentro da pequena capela. Na caminhada até seu túmulo, fui ao lado de Bellatrix por sua insistência.
Paramos muito próximos da cova. Foi como uma tortura estar lá. Mas eu fiquei o tempo todo ali, ao lado do corpo morto de sendo enterrado, e de sua irmã mais velha que chorava sem conseguir se conter. Aos poucos, depois do último punhado de terra, todos se foram, inclusive os coveiros. Eu continuei ali, sem mexer um músculo sequer. Com o olhar fixo em sua lápide.
Laboité
You'll always be sweet 16²
19/04/1997 – 26/01/2014

– Ela amava essa música – escutei a voz de Bella ao meu lado, ela soluçou e tentou segurar o choro. – Preciso realizar o último desejo da minha baixinha – ela disse com um sorriso nostálgico e eu a abracei de lado.
Bellatrix tirou de sua bolsa um tubo, como aqueles de formatura e me entregou. Tirei o óculos escuros e o peguei.
me fazendo surpresas até morta... – disse baixo com um sorriso fraco nos lábios. A palavra “morta” se referindo à me causava calafrios, enjoo e dor.
– Ela havia me dito que não queria que você soubesse que tinha piorado, porque não queria ver você preocupado, muito menos atrás de uma cura pra algo que ela sabia que não existiria. disse também que, mesmo estando no fundo do poço, você foi o fecho de luz que a aqueceu e iluminou.
Mordi com força o meu lábio inferior enquanto as lágrimas rolavam em minhas bochechas, já descontroladas.
– Obrigada por tê-la feito feliz nos seus últimos dias de vida, que tinham de tudo para serem os piores.
Senti os lábios de Bella em minha testa e tentei sorrir, mas tudo o que fiz foi afagar sua mão, como um sinal de agradecimento. Conforme ela se afastava, eu deixava o choro e o caos tomarem conta de mim.
Abri o tubo e retirei o papel grande e grosso [N/AP: OK SEM MALÍCIA É UM MOMENTO TRISTE] de dentro dele. Desenrola-lo fez com que eu soluçasse alto. O último desenho de estava em minhas mãos, com a data de ontem.
Havia lá várias imagens pequenas de nós dois, desenhadas ao redor de uma maior. Essa grande mostrava e eu deitados na maca, com ela dormindo tranquila em meu peito. As várias outras me mostravam em seu colo ou escondido de alguém debaixo na maca. Ela havia desenhado até o grande esquilo de pelúcia e o balão, havia desenhado também seu rosto sorridente e eu de costas, meio curvado, provavelmente rindo também. Em um canto, nós nos abraçávamos, no canto contrário, eu a estava beijando. Perto destes, ela retratou a exposição como se tivesse ido junto a mim.
Guardei o papel com o maior cuidado que eu podia ter naquele estado. Eu não queria nem ferrando estragar aquele desenho. Aquela pequena parte de . Estive o tempo todo com um buquê de lírios em mãos, eles eram brancos com algumas manchas violetas. Minha mão estava cansada de segurá-lo, mas eu não queria soltar dele.
Me ajoelhei em cima da terra e próximo de sua lápide. Deixei o buquê descansar sobre ela. Haviam tantas coisas das quais eu queria dizer a ela, haviam tantas perguntas pra fazer, respirei fundo, tentando controlar o choro. Eu precisava me acalmar pra poder dizer com clareza tudo o que eu tinha vontade.
– Oi, – eu disse depois de alguns longos minutos. – Como é aí? Seja onde for que você está, eu espero que tudo fique bem – me mexi inquieto e sentei como índio. – Será que aí vai ter alguém pra cantar Britney Spears pra você? Ou simplesmente cantar alguma coisa que te faça rir? – eu sorri me lembrando daquele dia – Eu amo o som que saía da tua garganta quando você gargalhava. Era viciante – fechei os olhos, sentindo o vento bater forte em meu corpo. – Você tinha o sorriso mais doce e encantador de todo esse mundo. Na verdade, você ainda tem... ? – chamei seu nome e a imaginei me perguntando o que eu queria – Já lhe disse que seus olhos tem o tom azul mais lindo desse planeta? Já te contei que os seus beijos e abraços são os melhores? – ri fraco, em minha cabeça, as lembranças passavam como um filme – Você cora às vezes, e isso me deixa louco. Você nunca vai ter noção do quão linda és. Por dentro e por fora – suspirei, sentindo uma gota cair em meu rosto. – Sua irmã deveria ter muito orgulho de você. Aliás, todos que te conheceram devem ter. O seu desenho, sabe... ele ficou lindo. Mais que isso. Ficou perfeito. Mas sabe de uma coisa que está me machucando, e muito, com relação a tudo isso? É que tudo isso, tudo pelo que passamos nesses últimos dias, estão se transformando em lembranças e nada mais que isso.
Me permiti voltar a chorar, junto com as poucas gotas que caíam em mim.
– Você está vendo? O céu também está chorando, . Ele parece lamentar que a Terra tenha perdido uma alma tão pura e doce como a sua tão cedo. Mas, pense bem, o que seria de um anjo como você em um mundo tão sujo como esse? O que seria de você em meio a tantas coisas ruins? – respirei fundo – O que será de mim sem o seu cafuné, sem a sua gargalhada, sem seus sorrisos, sem você? – apertei os olhos e fechei as mãos com força – Não que eu me importe comigo, mas, sabe, você também se tornou uma luz para mim. Você me ensinou tantas coisas. Me mostrou o quão importante um pequeno gesto pode ser, mostrou também o valor das coisas que se tornam parte da nossa rotina e, principalmente, me mostrou o valor da vida. Você também me ensinou muitas coisas depois de partir. Você me mostrou o quanto somos capazes de nos arrepender de inúmeras coisas, como, por exemplo, o tempo perdido em que eu não aproveitei ao seu lado. Como eu podia ter feito tantas coisas mais por você, mas não fiz – passei as costas da mão no rosto – Céus! Eu mal te perdi e já sinto uma dor infernal no coração e uma saudade capaz de deprimir metade da população mundial. Sabe, , eu espero, de verdade, que você seja feliz. Que o que for que venha após a morte, lhe traga bons sentimentos e que, se você realmente nascer outra vez, possa ter uma vida longa e feliz. E uma saúde de ferro.
A chuva se intensificou e eu abaixei a cabeça, abrindo os olhos.
– Você gosta de lírios, não é? Você também deve estar odiando ter rosas jogadas acima do seu caixão – ri sem som –, mas eu sei que, no fundo, isso não te incomoda. Porque, mesmo sendo rosas, são uma forma de vida de algum modo, né? – sorri de canto – Será que eu te conheceria se você fosse uma garota cheia de vida e saudável, senhorita Laboité? Será que eu teria me apaixonado por você? Eu arrisco a dizer que, se eu te visse, sentiria, no mínimo, meu coração disparado. Será que as pessoas estariam lendo seu nome estampado nos jornais da cidade, como a jovem falecida mais talentosa do país? Será que seu sonho se realizaria ou você escolheria outro caminho? – olhei para a lápide e suspirei – Você deve estar de saco cheio de me escutar, mas posso te pedir uma coisa? Me perdoa, ? Por ter chegado tarde demais. Por te amar, mas agora estar te deixando partir? – a chuva pareceu engrossar e eu senti um arrepio percorrer todo o meu corpo – Eu te amo, Laboité. E nada, nem a morte, vai mudar o fato de que você foi, e sempre será, a minha garotinha. Um dia, eu prometo, será a nossa vez de ter um felizes para sempre, mesmo sabendo que o para sempre pode acabar a qualquer momento. Bom descanso, fique em paz, meu amor.
Demorei para me levantar, pra poder conseguir ficar de pé, mas, assim que o fiz, caminhei calmamente para fora do cemitério, deixando para trás, a sete palmos do chão, a melhor parte de mim e parte de meu coração.

THE END.



¹ Adaptação de um trecho da música Palavras Sinceras da banda brasileira Hevo 84.
² Trecho da música Amelia - Tonight Alive
³ N/AB = Nota da Autora - Batman. | N/AP = Nota da Autora - Patman.



N/AB: Então... Acho que vou começar a nota explicando o motivo do "Batman" e do "Patman", caso você não queira saber sobre isso, só pule a minha nota e leia a da Patman ou então comente o que achou, ok? Ok. So, let's go! Durante uma das várias madrugadas em que eu e a Pat começamos a trocar idéias (e a escrever) essa história, surgiu a história do Batman. Sei que disse aquela típica frase "nunca viram eu e o Batman no mesmo lugar". Foi aí que eu surgi como Batman haha. Nisso a Pat passou a se chamar Patman :p Claro, depois disso surgiu mais umas bobeiras como catman, ratman, pacman entre outros.
Agora vamos aos agradecimentos. Queria, primeiramente, agradecer a Patman por ter concordado ser minha parceira. Sem a ajuda dela essa história provavelmente não estaria tão diva e aqui. Agradecer a Liz liamda por aceitar betar a fic (não é como se você tivesse escolhe né Liz kk) e por último, mas não menos importante, agradecer a Gabi. Obrigada por ter dito "não acredito que você vai matar alguém de novo", você não sabe como me influencia a matar pessoas e n pera. Sua opinião é importante pra mim e fim.
Ah, claro, eu tinha que esquecer de agradecer alguém. Enfim. Obrigada, Gi Castro por criar 500 Days In London e por autorizar o spin-off.
xx, Batman (também conhecida como Bruceorgia, Georgia, Geo, G).

N/AP: Yooo! Pat (Ou Patman, Pattie, Pathy, Patoca, Brucetricia, Psicopattie, Patinete e tudo quanto é coisa em que tu consiga meter meu apelido) tá na área /dannça
Gente, eu nunca sei como iniciar uma nota, vo te contar, viu... então vou começar agradecendo, pela Ge ter me convidado pra escrever com ela, porque dude, foi um prazer fazer essa parceria contigo. Se não fosse por ela, não teríamos nos descabelado por ter criado tantas cenas e fatos e termos só 6 dias pra escrever tudo e se também, não fosse pela G eu não ficaria chorando a cada cena escrita. Acreditem, nós também sofremos por matar a principal, mas não temos culpa, amamos loucamente assassinar personagens <3 Obrigada G, foram horas incríveis de dedicação á Je m'appelle Clair Laboité
Obrigada Lizz por ser nossa beta e por ser um amor de pessoa. Você ainda vai nos aguentar por um tempo, seja em parcerias ou não u-u huahuaua. Assim como a G disse, obrigada Gi Castro, foi graças a você que pudemos escrever essa fic.
Ahn só uma nota, que não vai mudar em nada na vida de vocês, mas o nome temporário da fic, no período de desenvolvimento dela, foi Batfic OIJREOERWOJI. Lindes né? Eu sei. Um amor.
Espero que vocês tenham gostado, de verdade. A história foi escrita com muito carinho, choro, dedicação e mais choro -q
Obrigada a todos que leram e comentem, nos xingando ou nos amando, pqné. Até breve, pessoal.
Espero que quando vocês olharem para o céu, se lembrem de que aqui, vocês foram o céu do Louis. E também lembrem de suas mortes trágicas MUA HA HA HA HA, ok não. Muito obrigada, mais uma vez, a todo mundo.
xx,
Patman

Nota da beta: Detalhe pequeno: eu vou escrevendo aqui conforme for lendo os capítulos. Essa batfic tá me fazendo morrer por dentro! (Sim, eu estou lendo aos poucos.)
1. Garotas, esse primeiro capítulo me matou! Que lindo! Gente, o Lou é a coisa mais linda e goxtosa (x porque sim) desse mundo! E o pior é que eu tenho plena certeza de que ele realmente faria isso por uma fã! (Ou um fã, dá no mesmo.) Esse é mesmo o meu Boo Bear. <3 ~lágrimas internas porque eu sou chata e ainda não chorei.
2. Alguns comentários alheios: eu realmente imaginei a cena de filme do Lou se dando conta de que estava só de boxer verde quando recebeu o carinha lá no quarto. CARA UHAUHAHAU e também aquele “corpo nu, oi” me fez pensar certas coisinhas... Nada puro da sua parte, dona Georgia. Tsc, tsc. E aquele momento em que “Por que eu tinha que cair de bunda no chão?”. Porque Deus é bom e justo, meu gato, já que essas suas enormes almofadas amorteceram a queda. Já pensou como seria maior a dor se tivesse caído de costas? Agradeça u.u e... Aaaaah, eu morri um pouco a cada demonstração de amor dele por ela! É muito linda a forma como ele se preocupa em deixar tudo perfeito! #DEAD Ok, só mais uma coisa sobre esse capítulo. TOM? ELA PODE LIGAR PRO TOM? FLETCHER? MCFLY? COMO ASSIM? EU TAMBÉM VOU ME INTERNAR NUM HOSPITAL NA FRANÇA E O DIAGNÓSTICO SERÁ “Directionite aguda”, VOCÊS ME OUVIRAM BEM??? Tá, não foi o último comentário. Primeiro, engraçado foi que John era o cara, mas ele disse que era a filha pra não pagar de mandirectioner (?) KKKKKKKKKKKK e, segundo, “e saí, dessa vez sem toalha”. OPA, lets fazer essa cena num filme. Almofadas, preparadas para a fama?
3. Meu Deus. Eu tô morrendo. Como assim? Ele faz tudo aquilo pra chegar no quarto e ela morrer? Puts, gente, eu tô aqui mal. MUITO MAL. Eu ainda vou acabar chorando, porque eu vou reler esse capítulo umas mil vezes e, G, eu ainda quero as músicas pra ouvir enquanto leio a batfic! E VOCÊS SÃO UMAS MALDOSAS QUE ACABARAM COM TODOS OS MEUS FEELINGS ='''''''''(
Ep. ISSO NÃO É JUSTO! NÃO MESMO! E merece uma oneshot pra contar como foi a outra exposição dela e tudo mais, como as pessoas reagiram, como o Lou enfrentou a perda dela... AH, GENTE, NÃO VALE!
Ok, chega de comentário de leitora na nota da beta, minha nota tá maior que a de vocês duas juntas. Nada profissional... pena que não me importo, tsc tsc. Essa é a batfic, eu posso. u.u Eu é que tenho que agradecer a vocês por terem confiado a batfic a mim. Eu vi, aos poucos, o quanto Clair Laboité se tornou importante pra vocês e entendo perfeitamente a situação; qualquer personagem é de extrema importância. Eu simplesmente AMEI betar essa fic e, olha, vocês nem me deram trabalho direito! Só me deliciei lendo, hahaha. Estou, sim, esperando as próximas fics de vocês! Foi um prazer. AH! E aquela “notinha” suuuuperbásica na tabela “[TCHUTCHUCA DO NOSSO <3 & LizSdçDoStyles]” foi simplesmente o máximo, garotas! KKKKKKK Sou a sedução do Styles, 2bjs pro recalque das inimigas. ;*
Mega beijo, minhas gatas! Amo vocês demais. Xx

PS. A cor do título é minha homenagem à Clair. Imagino que o azul dos olhos dela seja assim, forte, profundo, lindo como um céu de início de amanhecer. Qualquer um teria orgulho de uma garota como ela. Os parabéns são pra vocês. E para a Senhorita Clair Laboité.

Nota da BETA: Gostou da história? Comente! Com certeza as meninas ficarão muito felizes. Se encontrar qualquer erro de português ou script na fanfic, não use a caixinha de comentários, fale diretamente comigo.
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