Escrita por: Letícia Black
Betada por: Caroline Cahill




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Capítulo Quarenta e Um

Velas

Eu odiava fazer malas.
Achava que os armários tinham que ser portáteis; quando a gente precisasse, a gente dobrava e compactava até o menor tamanho, então puxava para dentro do carro e pronto!
Porém, ninguém ainda tinha sido o gênio dos armários portáteis e eu não entendia nada sobre compactação de madeira, então tinha que fazer malas.
Mas pior do que fazer malas, só fazê-las com null berrando todas as coisas que eu possivelmente tinha esquecido de guardar, coisas super inúteis tipo o creme de cabelo e as chaves do meu apartamento.
Tudo bem, ela tinha razão, tinha esquecido tudo o que ela me berrou e, , se eu tivesse esquecido as chaves do meu apartamento, provavelmente estaria dormindo na casa dela até null aparecer — e talvez esse fosse o meu plano.
Não era. Mas podia ser. Porque, na verdade, me parecia uma ótima e perfeita ideia. Afinal, null e eu já havíamos explorado todas as superfícies daquela casa, mas agora teríamos mais casas para explorar; para mim, parecia justo.
null não gostou muito da ideia.
— Não fode! — gritou.
Eu era da opinião que quando o verbo foder vinha com um não na frente, boa coisa não podia ser. Então preferi calar a boca antes que o não fode virasse não vamos foder tão cedo e isso acabasse com a minha alegria.
Eventualmente, virou quando null voltou de sua corrida e entrou no quarto, me encontrando sentado em cima das minhas roupas, mexendo no celular e com nem metade da minha mala pronta.
Ela não disse não vamos foder tão cedo, mas já tinha aprendido que urro de raiva mais batida de porta significava alguma coisa assim. E também significava que eu estava muito fodido.
Então, antes de ficar pior, recolhi todas as minhas roupas da melhor maneira possível e joguei dentro da mala, rezando que ela não fosse checar, como disse que faria. Com um pouco de sorte, ficaria impressionada por eu ter me esforçado e passaríamos daquela sem problemas. Principalmente se conseguisse distraí-la com alguma coisa, mas tudo o que eu conseguia pensar era sexo.
Parecia que não transava fazia meses, mas eram só uns dois ou três dias, desde que null se anunciara menstruada e vetara qualquer coisa próxima demais da região da virilha, apesar dos meus resmungos de que não me importava.
Disse para ela que era só um pouquinhozinho assim de sangue, nada muito diferente de estourar um cabaço, mas ela só me olhou com cara de nojo e me ignorou pela meia hora seguinte, apesar dos meus cutucões e dos meus soprinhos em sua orelha, que a deixaram vermelha como um pimentão de raiva, mas ela segurou seu temperamento ao máximo, antes de começar a berrar comigo um monte de coisas de uma vez.
E aí ela resolveu que era hora de me torturar, me obrigando a fazer as malas e, sim, a tortura se perpetuava por todos aqueles dias.
Ela era muito malvada.
Guardei o celular na cabeceira para me impedir de dar uma checadinha rápida no Facebook quando ela saísse do banho e isso estragasse todo o meu plano de parecer um bom moço, mas quando estava fechando a gaveta, ele tocou e eu xinguei mentalmente o ser que me ligava, que obviamente era null.
— Porra, mané, vai ligar pra sua velha! — já atendi assim.
Ih, continua sem sexo, é? ele riu da minha cara.
Maldito. Babaca. Não devia ter contado nada para ele, mas null estivera com problemas com Maureen, sua prima que ele pegava, e enquanto nós conversávamos e eu tentava lhe arrumar alguma ajuda útil, aquela coisinha tinha escapado e agora ele estava usando para me pentelhar.
— Vá se foder! — gritei.
Não preciso. Minha gata faz isso por mim, não faz? Pelo estalo que ouvi do outro lado, Maureen era tão braba quanto null e ele estava obviamente tão fodido quanto eu. Ótimo. Ai, cacete, eu tô brincando!.
Gargalhei da cara dele, ouvindo um estalo atrás do outro. Não muito distraído pela pequena discussão que soava através do telefone, ouvi null desligar o chuveiro, cantarolando alguma música brega que ela gostava. Ela cantava mal à beça, mas eu não me importava muito. Achava uma gracinha que se esforçasse.
— Vou desligar, babaca! — anunciei, vendo o problema surgindo brevemente, caso null me pegasse com o celular outra vez.
null berrou, antes que eu pudesse apertar o botão vermelho do celular. Revirei os olhos e voltei com ele para a orelha. Sua corrida de abertura. Sexta. Vai ser com o otário do André, de educação física. Cê já viu ele correr, ele é um pamonha, mas é rápido.
null, às vezes, parecia que não me conhecia. Quando ele começava a me alertar dos pontos fortes dos meus adversários, tinha certeza de que ele estivera dormindo nos últimos anos e que nunca tinha me visto correr.
— Burro. — eu lhe disse. — Reflexos lentos... Deve ser moleza.
Todo cheio de si Ele riu. Tudo bem, senhor invencível, só estou avisando porque se o cara te passa... Não tem como vencer.
Espalmei minha mão no rosto, revirando os olhos mais uma vez. Só estava falando aquilo para me irritar e porque não estávamos no mesmo ambiente; se estivéssemos, já teria dado um pedala na cabeça dele e ele já estaria calado.
— Não enche — resmunguei. — Vou desligar, antes que você me foda com a null.
null riu e murmurou um Boa sorte antes de desligar.
Fechei a gaveta com o celular dentro e preparei minha melhor cara de santo quando null saiu do banheiro, com uma toalha enrolada no cabelo, ainda cantarolando a música, mas parou instantaneamente ao olhar para mim e ao redor do quarto, não encontrando nenhum vestígio da minha bagunça de arrumação de mala.
— Você socou tudo dentro, não foi? — perguntou.
Fiz uma careta que me entregou, então ela suspirou e revirou os olhos, virando-se para o armário, torcendo a toalha com o cabelo, antes de começar a se arrumar como se eu nem estivesse ali.
Não me importei, óbvio. Um pouco de curvinhas de null era sempre bom para melhorar o meu dia.
null estava mais magra do que no começo do verão; sua barriguinha discreta quase desaparecera desde lá e era provavelmente minha culpa e de nossas atividades intensas. Não só o sexo, mas as caminhadas, os passeios de cavalo e toda a energia gastada brigando um o outro deveriam ter colaborado com aquilo. Também estava mais morena, pelo mesmo motivo. E apesar de preferir seu corpo com as curvas mais acentuadas de quando ela estava mais cheinha, ela estava ainda mais linda.
Se era possível.
— A gente não pode mesmo ir só depois do Carnaval? — perguntei.
Negou com a cabeça e eu sabia que ela deveria ter presença impecável em todas as matérias desde que começara e provavelmente estava defendendo continuar com isso, o que eu achava brega, mas preferi não insistir. Eu mesmo tinha dito: tudo que quisesse, da maneira que quisesse.
Agora tinha que aguentar.
Resolvi convencê-la a ter uma aula de hipismo após o almoço. Acho que pensou que fosse eu a ensiná-la, mas levei-a para o Pedro, um dos rapazes que cuidava dos estábulos e dos cavalos.
— Pro caso de você querer roubar um cavalo de novo, sem saber montar direito — expliquei.
Porque eu sabia que se Luvas não gostasse tanto de null e não soubesse exatamente o caminho que era para ele fazer, ela provavelmente teria caído e quebrado o pescoço no seu ataque de raiva.
null não gostou quando a deixei com um monte de roupas de montaria, nos estábulos, avisando que estaria esperando por ela em casa. Mas não reclamou, não disse uma palavra sequer. Estava esquisita.
Imaginei que fosse coisa de menstruação. Quero dizer, deve ser mesmo um saco ficar sangrando pelo meio das pernas durante dias, não devia?
Soraia e Marcela chegaram pouco depois, lá para as cinco, para me ajudar. Contei que null estava tristinha e que queria lhe fazer uma surpresa, então elas prepararam um nhoque delicioso, me trouxeram um dos vinhos caros do meu pai e arrumaram a mesa de jantar para a gente, com velas e tudo.
— Pedro disse que vai segurá-la até depois do pôr do sol e tudo o que você tem que fazer é acender as velas, ok? — Marcela me avisou. — Vê se não estraga isso.
Cruzei os braços, na frente do peito e fiz uma careta. Só porque tinha quebrado uma travessa de vidro não significava que ia estragar tudo. Eu era muito bem capaz de acender umas velas.
— Acho melhor eu deixar o nhoque em cima da mesa, porque se for por null pegar no micro-ondas... — Soraia brincou.
As duas ficaram rindo da minha cara de chateado, sentado ao avesso em uma das cadeiras da mesa de jantar, bastante emburrado com a implicância. Marcela se aproximou e passou a mão pelo meu braço, me confortando.
— Nós vamos agora, mas vê se toma um banhozinho antes dela chegar, né? — sugeriu. Arriscou um beijo na minha bochecha. — Bom jantar.
Soraia se aproximou e deixou outro beijo na minha bochecha, mas completou-o com um tapa em minha cabeça.
— Não fiz esse jantar pra você ficar fedido nele, já pro banho!
E ficou de braços cruzados na porta até eu pedir calma e ir para dentro do quarto.
Todas as mulheres eram completamente malucas.
Tomei meu banho mesmo assim e saí correndo do chuveiro, procurando o que vestir, com medo de abrir minha mala e nunca mais conseguir fechá-la. Acabei escolhendo uma blusa amarrotada, a mesma que eu vestira no jantar de Natal na casa do pai dela. Vesti a mesma calça jeans que usava antes do banho e achei melhor trancar a porta da casa para null não entrar e me pegar desprevenido, ainda tentando terminar de fazer as coisas.
O céu já estava saindo do alaranjado para o azul mais escuro quando eu achei por bem começar a acender as velas. Eram muitas e não entendi qual era o motivo de tantas, mas acendi todas mesmo assim. Estavam faltando cinco quando ouvi o barulho da maçaneta se movendo com impaciência.
E então a porta balançou muito.
null, abre a merda dessa porta agora! — berrou do outro lado. Corri para a porta, girando a chave com meus dedos nervosos — E se tiver alguma mulher aí dentro com você, prepare-se para...
Para o quê, nunca descobri. O resto da frase se perdeu quando eu permiti que ela entrasse e ela encarou toda a sala e a cozinha coberta de velas acesas e nossa mesa de jantar posta, tudo com perfeição.
E eu não tinha estragado nada.
— Você não me deixou terminar de acender tudo, apressadinha — resmunguei, encarando-a, enquanto ela olhava o ambiente de boca aberta, sem conseguir processar toda a informação. Arrisquei uma olhada na roupa de cavalgada que Pedro havia arrumado com a prima dele, que aparentemente tinha o mesmo número de null — Você ficou muito gostosa vestida assim.
Passei o braço ao redor da cintura dela e puxei-a para mim e ela veio ainda sem reação, parecendo se embeber de todo o cenário ao redor. Fechei a porta atrás de nós com o pé e arrisquei beijar-lhe os lábios, mas estava distraída demais para corresponder, então acabei encerrando-o com um sorriso.
— Você fez isso tudo? — perguntou. Meneei a cabeça, balançando-a de um lado para o outro. Mais ou menos. null não pareceu se importar — Isso... Eu...
Ela estava sem palavras e eu sorri orgulhoso. Senti seus braços ao redor do meu pescoço e seus lábios vieram vorazes aos meus; não pude impedir que meu corpo evoluísse sozinho para mais, o desejo corroendo cada mísero pedacinho do meu corpo. Minhas mãos foram para sua bunda e a ergui sem muita dificuldade, deixando-a se encaixar em meu colo, fechando as pernas acima da minha bunda.
Caminhei com ela enganchada em mim até a mesa de jantar, na metade que estava sem nada, deixando-a sentar na beirada, as pernas caindo pelo meu quadril, sem soltar sua boca.
— A gente pode jantar depois? — perguntei, nervoso.
null arriscou balançar a cabeça positivamente. Estava nas nuvens; aparentemente, meu esforço em lhe preparar uma surpresa era o suficiente para convencê-la a transar comigo, mesmo menstruada. Isso significava que não teria mais pausas desesperadoras nos próximos meses. Cem por cento de sexo liberado. Vitória.
Eu mesmo arranquei minha blusa, sem me importar em abrir, provavelmente ter arrancado um ou dois botões ao puxá-la por cima da cabeça de qualquer jeito e voltar as minhas mãos para a cintura de null, puxando-a para mim enquanto ela gargalhava. Não entendi o motivo, mas passou a mão pelos meus cabelos, arrumando-o.
— Você fica tão bonitinho ansioso — disse, em meio a um suspiro.
Eu ignorei totalmente o que estava dizendo, lhe mordendo o lábio inferior com um suspiro. Demorei meia vida para lhe tirar a blusa; parecia que tinha desaprendido a despi-la durante aquele tempo, e null não estava muito disposta a me ajudar, beijando e mordendo meu pescoço, provocando arrepios por todo o meu corpo. Devolvi a gentileza, arrancando a minha própria calça com pressa e avançando contra a dela, o que permitiu, mas pareceu endurecer no meu abraço. Quando tentei retirar sua calcinha, parou minhas mãos.
— Eu não... Droga. — murmurou, contra meus lábios. — Eu... — Eu sabia que ela estava prestes a me negar por causa daquela bobeira de novo, então enganchei minha mão em seu seio desnudo e puxei-a para mim, empurrando minha ereção contra ela, fazendo-a soltar um gemido meio suspirado. — Eu posso ao menos me lavar?
Revirei os olhos e puxei sua calcinha mais um pouco, sentindo suas mãos desesperadas, tentando me parar.
null, eu não me importo — murmurei. — Não vou olhar. Ok?
Ela mordeu o lábio inferior e respirou fundo, mas acabou balançando com a cabeça, afirmando que tudo bem. Escorreguei sua calcinha para baixo, até a altura do joelho, sem tirar os olhos dela, embora estivesse me corroendo de vontade de desviar. Pelos cantos, vi-a chutar a calcinha com as pernas e puxou-me de volta pela barra da minha cueca, já abaixando-a, ao que ajudei.
— O jogo é esse — anunciei, segurando o meu pau para encontrar o caminho dela, ao que ela correu para me ajudar, com medo que eu desfizesse minha promessa. — Eu olho pra você e você olha pra mim. Sem revirar os olhos. Sem piscar por tempo demais.
Concordou com a cabeça no instante em que eu a penetrei, segurando-a pela cintura e fazendo-a gemer, fechando os olhos. Nossas mãos que estavam guiando a penetração às cegas se encontraram por um segundo, então a sua subiu pelo meu braço até o meu ombro, no qual se fechou com a outra atrás da minha nuca, e a minha subiu pelo seu corpo, envolvendo seu pescoço, mantendo-a firme, encarando a mim.
Era delicioso assistir null ter um orgasmo. Era ainda mais delicioso assisti-la tentar conter suas expressões de prazer enquanto ia em direção ao orgasmo, com sua boca quase na minha, seus gemidos exasperados soando tão próximos da minha pele quanto podiam.
E quando gozou, finalmente, deixei meu próprio gozo se juntar ao dela, sem mais motivo para morder o interior de minha boca para tentar conter e escondi meu rosto em seu pescoço, aspirando seu cheiro delicioso, misturado com o cheiro do nhoque e o de sexo, no ar.
— Toma banho comigo? — pediu, a voz fraquinha, os braços ao redor de mim, um pouco restritivos.
— Eu acabei de tomar banho, bebê — murmurei.
— Por favor — choramingou. — Depois a gente janta. Por favor.
Suspirei profundamente, entendendo que era apenas ela envergonhada com o fato de estar menstruada. Sabia que suas bochechas estavam coradas sem nem olhar. Então apenas concordei com a cabeça e a ergui no ar, carregando-a para o banheiro.

Capítulo Quarenta e Dois

Carro

Sexo, claro, aliviou o humor intolerante de null; agora eram apenas reclamações insistentes, sendo a maioria sobre a revisão do carro. Foi exatamente assim do instante em que terminamos o jantar até o minuto em que ela cruzou a porta, de manhã cedinho, e me encontrou com o capô aberto, checando o motor, sem saber exatamente o que eu estava fazendo, mas fingindo que sim.
Ela sorriu e colocou um óculos escuro que a deixou parecendo uma abelha; parei por alguns segundos, admirando-a mesmo assim. Estava com um vestidinho folgado de praia, mas também parecia confortável e era uma óbvia escolha para uma viagem tão longa e cansativa. Eu também tinha escolhido algo bem confortável e prático.
A verdade era que eu estava planejando alguma aventura durante a viagem e aquele vestido que ela escolhera parecia ter sido selecionado a dedo pelas minhas ideias sujas.
— Você pode pegar minhas malas, por favor? — pediu.
Levantei a cabeça do carro e olhei de volta para ela, cerrando os olhos. null tinha uma pilha de umas três malas diferentes, muito mais do que havia trazido. Queria saber o bando de tralha que tinha arrumado pra conseguir multiplicar as bolsas assim, mas preferia não saber. Pensei até que fosse lingerie, mas pela quantidade de calcinha e sutiã que escondi para mim e as que deixei rasgadas e inutilizadas por todo o verão, ela devia estar com meia bolsa, não com três.
— Você não pode ir trazendo pouco a pouco? — perguntei.
Ela apertou os lábios um contra o outro, claramente ofendida com a minha pergunta. Levantei meu corpo inteiro, ficando ereto e suspirei fundo, tentando compreender como null funcionava.
— Seus músculos têm que servir pra algo útil — resmungou, fingindo não se importar.
Caminhei até ela e, sem nem pestanejar, levei um braço para o ao redor de suas pernas, envolvendo-a um pouco abaixo da bunda e a suspendi no ar, sentindo uns tapinhas idiotas no meu ombro.
— Tenho certeza de que servem — retruquei, colocando-a de volta no chão.
Avancei para beijá-la, mas ela manteve minha língua presa dentro de sua boca, mesmo que minha mão estivesse espalmada em sua bunda sem nenhum tipo de repreensão. Era apenas o preço a pagar pela minha rebeldia, embora eu realmente achasse que ela deveria arrastar as tralhas dela sozinha até o carro.
Sei que não era o correto, mas ela estava buzinando no meu ouvido o tempo todo e eu podia resmungar um pouquinho às vezes, não podia?
Quando voltei para fora com todas as malas dela, encontrei-a debruçada sobre o motor do carro, como se entendesse alguma coisa. Mas a parte importante era que seu vestido largo tinha subido uma palma inteira e dava para vislumbrar as bandas cheias de sua bunda, além de um pedaço grande da calcinha. Encarei-a sem disfarçar, deixando uma mala cair no chão, o que chamou sua atenção.
Ela levantou-se, fazendo sua pior expressão de revolta, o vestido voltando para o seu lugar e me deixando levemente decepcionado, como se eu nunca tivesse visto-a nua, como se eu nunca tivesse lambido sua bunda, como se eu sequer tivesse comido ela por trás. Estava começando a achar que não perdia a graça nunca.
— Meu computador está nessa mala, seu maluco! — ralhou comigo. — Se você tiver quebrado ele...
— Eu compro dois novos pra você — garanti.
Ela ainda estava com uma mão apoiada na lataria do carro e a outra, fechada em punho, em sua cintura, indicando sua raiva exagerada.
— E vai refazer todos os meus trabalhos salvos nele, também? — perguntou, batendo o pé no chão com sua sandalinha marrom — Duas vezes, um em cada computador novo, só para garantir?
Estalei a língua e me abaixei um pouco para voltar a colocar a alça da mala em meu ombro, dessa vez com mais cuidado.
— Bom... Não. — respondi.
— Então toma cuidado — resmungou.
Ela ia me deixar louco. Se não fosse pela como andava, pelo seu corpo ou pela maneira que ela fodia ou gemia enquanto isso, seria por aquela bosta de implicância sem fim. Empurrei a alça mais uma vez só para garantir e lançando-lhe um olhar zangado, caminhei até a mala do carro e depositei as bagagens de null por ali.
Quando voltei à realidade das pessoas normais que não tinham que guardar malas de garotas que acumulavam tralhas e eram irritantemente gostosas, ela já estava dentro do carro, parecendo convencida a tirar um cochilo durante a viagem. E que dormisse mesmo! Com aquele humorzinho fodido, não iria conseguir transar com ela de qualquer forma. Não que eu não fosse tentar, claro.
Abaixei o capô do carro de qualquer jeito, provocando um barulhão que fez null se sobressaltar, levantando o óculos dos olhos e cerrando-os em minha direção. Fingi que não era comigo e entrei no lado do motorista, ligando o motor.
— Pronta? — perguntei.
Ela fingiu que nem me ouviu e virou o rosto para a janela. Eu estava ficando puto, então pisei fundo no acelerador, o que a fez sobressaltar e puxar o cinto para prendê-lo no pino, com um resmungo qualquer.
— Eu gostaria de chegar viva em casa, obrigada, null. — murmurou.
Bati com as mãos na merda do volante. Estava tentando fazer as coisas certas com aquela ali, pela primeira vez na minha vida, estava tentando de verdade parar de pisar na bosta ao redor e não foder o que a gente tinha e ela resolvia que podia simplesmente mudar o humor e ser ridícula comigo quando bem entendesse.
Ia ter que me foder bem gostoso para eu perdoá-la.
— Qual é o problema? — perguntei. — O que eu fiz agora? Você não gostou do jantar? Não gostou de eu ter feito exatamente o que você me falou pra fazer pra essa merda de viagem? Qual a porra do problema?
Ela tirou os óculos dos olhos e jogou-o contra a frente do carro, tampando o rosto. Freei, jogando nossos corpos para frente para poder olhá-la, e ela levantou as mãos ao ar como se demonstrasse estar rendida.
— Nada. — disse, mas a maneira com que sua voz soou, parecia que ela tinha deixado algo subentendido que eu não estava compreendendo. — Nada, está, bem? — afirmou, parecendo um bocado mais calma. — Só... não mate a gente.
— Só se você me der um beijo — brinquei.
Pisquei-lhe um olho, sorrindo e ela revirou os olhos. Joguei meu corpo em direção ao dela, o pescoço esticado à frente para que encontrasse seus lábios com os meus. Ela se esquivou um pouquinho só e senti seus lábios de leve.
— E você chama isso de beijo? — perguntei, arqueando uma sobrancelha, sem nem abrir os olhos.
Senti sua respiração em uma lufada de ar quente em minha bochecha e, então, sua boca voltou à minha, desta vez aberta, deixando minha língua invadi-la e explorar aquele território que já devia ter rastros meus em todos os cantos. Beijei-a tão vorazmente, na esperança que isso a desmanchasse, que meu corpo foi empurrando o dela para trás, até que ela foi e eu fiquei, preso pela merda do cinto de segurança.
— Volta aqui — murmurei, fazendo bico. — Vem cá.
Ela gargalhou e me empurrou de volta para o meu lugar, voltando a olhar pela janela, mas agora estava com um sorriso no rosto e balançando a cabeça negativamente, parecendo divertida.
— Anda logo ou a gente não vai chegar nunca em casa.
Fiz bico e não tinha certeza se fui visto; tirei o carro do ponto morto, saindo da fazenda para a estrada.
Dirigi por algum longo momento sem nenhuma conversa e achei que null tivesse realmente dormido, até que peguei o desvio para a cidade onde cresci, distraído e acostumado a fazer aquele percurso sempre e isso tomou sua atenção, fazendo-a se virar para mim.
— Você sente muita falta dela, não sente? — perguntou, mordendo o lábio inferior.
Tirou o olhar da janela e grudou-o em mim, curiosa. Arrisquei-lhe uma olhada, diminuindo a velocidade do carro na estradinha de terra batida que quase ninguém usava nunca, sorrindo de leve para ela.
— Às vezes, acho que eu tô esquecendo como ela era. — confessei, dando de ombros. — Quero dizer, eu vivi mais sem ela do que com ela.
null mordeu o lábio inferior e me avaliou de cima a baixo, como se quisesse entender exatamente o que eu estava pensando quando eu parei o carro e puxei o freio de mão, estacionando-o no acostamento.
— Eu não acho que dê pra esquecer, não — pontuou, mesmo assim.
Deixei minha mão escorregar para sua coxa e apertei-a, subindo levemente seu vestido, pouco a pouco, com medo que qualquer bruta aproximação a fizesse se esvair de meus dedos com mais um ataque de raiva.
— Você já transou em um carro? — questionei.
Ela pareceu me avaliar mais uma vez. Devia ser a terceira desde que levantáramos e eu realmente queria entender o porquê; a gente já tinha transado sei lá quantas centenas de vezes, eu tinha certeza de que ela conseguia projetar meu corpo em qualquer lugar, assim como poderia fazer com o seu.
Qual era o problema?
O incômodo desapareceu da minha mente assim que ela negou com a cabeça, mordendo o lábio inferior. Respirei fundo, já com todas as imagens na minha mente, ventando ideias e uma me pareceu reluzir um pouco mais que as outras.
Afundei minha cabeça no banco, apertando os olhos com um sorriso leve no rosto, já sentindo meu pau crescer por dentro da minha bermuda.
— Vem pra cá, então — murmurei.
Ouvi o tique do cinto sendo desconectado e senti seu joelho se apoiando ao meu lado no banco, ao mesmo passo que abri os olhos para vê-la passando a outra perna por cima do meu corpo, mantendo nossas virilhas a pouco centímetros de distância, ainda com o lábio inferior entre os dentes e parecendo ligeiramente perdida dentro de si; não parecia ser pelas sensações, mas por seus pensamentos, e achei que deveria ajudá-la a clarear a mente, tal como fazia comigo.
Cravei minhas ralas unhas em suas costas, pouco acima de sua bunda e ainda por cima do vestido. Empurrei meu corpo para cima, pegando seu lábio inferior com meus próprios dentes, sentindo sua autoridade distraída se desmanchar e suas unhas irem para o meu peito, também se enfiando por eles, em cima da minha camisa.
— Ai, null, null, null... — acabei dizendo o que se passava pela minha cabeça, exatamente naquele momento. — O que diabos eu faço com você?
Era uma pergunta retórica.
Eu não estava esperando resposta alguma.
E, mesmo assim veio, arrepiando todos os pelos do meu corpo e tirando todo o pouco controle que eu conseguia reter naquele pedaço de mau caminho que era eu.
— Me come — sussurrou, em meu ouvido, como se fosse a coisa mais óbvia e fácil do mundo.
Tenho certeza de que soltei um gemido meio desesperado naquele momento. Porque queria comê-la, sempre queria, mas era ela que estava no comando, desta vez. Eu ainda estava preso pelo cinto de segurança.
Minha pressa pareceu espelhar nela; senti duas mãos em meu zíper, apertando descuidadamente minha ereção crescente ao passo que a tirava para fora. Segurou, passando a mão ao redor do meu pau e movimentou-a para cima e para baixo, ajudando-me a chegar ao máximo do meu tamanho, antes de posicionar-se para que lhe penetrasse, levando minha mão para segurar a calcinha para o lado, para não atrapalhar.
— Rápido — anunciou, ainda sem levar o rosto ao meu para nenhum beijinho. — E depois, você vai terminar de me comer lá fora.
Grunhi, sentindo-a sentar em mim, mas desejando comê-la do lado de fora no mesmo segundo. Levei uma de minhas mãos até sua nuca, puxando-a para a minha boca, mas ela virou o rosto no mesmo segundo, rebolando no meu pau para me distrair.
Mas que porra era essa? Só porque estava por cima, achava que podia mandar e desmandar no que bem entendesse?
Puxei-lhe o cabelo com mais força que o necessário e a prendi no lugar, levando meus lábios aos dela e invadindo sua boca com a minha língua, sentindo seu receio esvair-se pouco a pouco, enquanto eu a beijava. Finalmente gemeu contra meus lábios; resolvi que era melhor mesmo eu tomar as rédeas de vez e abri a porta do carro.
Empurrei-a para fora do meu carro, puto com ela. Puto porque queria entender a merda que estava acontecendo com aquela garota, tirei meu cinto e pulei para fora do carro com o olhar queimando em chamas.
null chegou a dar um passo para trás, assustada, mas peguei-a pelos cabelos e a empurrei de frente contra o carro, me posicionando atrás dela e puxando sua calcinha com força, até rasgá-la embaixo.
Encaixei e empurrei minha ereção para dentro dela, ouvindo-a gemer baixinho, encolhida entre mim e o carro e soltei seus cabelos, pegando-a pela cintura para me apoiar melhor.
— Isso, null — grunhi, entre dentes. — Faz isso mesmo. Me faz de idiota, me trata como você quiser. E sabe o que acontece? — levei uma de minhas mãos em seus cabelos e puxei-o com força, ouvindo-a gemer. — Eu faço o mesmo. Eu maltrato você e você gosta.
Empurrei meu corpo com força contra ela, sentindo-a se encolher ainda mais contra o carro, a respiração alterada, nervosa, ela escondendo o rosto na lataria. Senti uma de suas mãos, tímida, em minha barriga e, então, fez uma pressão incômoda para trás, me empurrando para longe dela.
— Vai me dizer não, null? — perguntei. Não estava desesperado, porém, sabia qual era o seu jogo, embora não conhecesse as regras. — Você acha que consegue? — mordi sua orelha e senti-a gemer, vibrando ao meu redor, o que me fez rir. — Ah, null, entenda, baby. Você é minha, agora. Relaxa e goza.
E foi bem isso que ela fez. Vi-a apertar os olhos e então empurrou a bunda contra mim, rebolando gostosamente, gemendo enquanto gozava. Sorri, satisfeito, e passei meu braço por sua cintura, fundindo meu corpo com o dela mais algumas vezes antes de, também, gozar.
Ela estava com as bochechas coradas e a expressão tranquila quando virei-a de frente para mim e tasquei-lhe o maior dos beijos, pressionando-a contra o carro e a segurando pela cintura. Fiz questão de tentar parecer doce, embora o desespero anterior ainda estivesse entranhado em mim de uma forma latente.
E ela aceitou o beijo, devolvendo-o apaixonadamente, suspirando e gemendo com sua boca na minha, aceitando os apertões em seus seios e os chupões em seu pescoço com suas unhas afundando em meus braços e em meus ombros.
Então, parecia tudo bem. O que fosse que tivesse lhe deixado nervosa, parecia ter se resolvido.
Até que, meia hora depois, quando liguei o carro e voltei a dirigir pela estrada, bem mais aliviado, reparei que ela estava levando a mão discretamente aos olhos muitas vezes. Arrumei o retrovisor para conseguir olhá-la e percebi que estava chorando, mas ao notar meu olhar insistente, apenas colocou os óculos escuros, o fone de ouvido e resolveu me ignorar pelo resto da viagem.
Que inferno de mulher!

Capítulo Quarenta e Três

Estranha

Estacionei o carro na frente do prédio dela e a encarei longamente, mas ela apenas suspirou e abriu a porta, pulando para fora, decidida em suas sandálias. Vi-a caminhar em passos decididos até o porta-malas e soltei o ar de meus pulmões, desconectando o cinto de segurança do pino, abrindo a porta e indo atrás dela com a chave do carro, balançando-a entre meus dedos sinfonicamente.
Eu não queria deixá-la escapar sem entender o que estava acontecendo e se o problema era mesmo comigo. null passara toda a viagem de forma monossilábica e encarando a estrada através da janela. Até em nosso almoço, em uma paradinha rápida em uma pensão bastante simpática no meio da rodovia, ela permaneceu em seu quase silêncio mórbido e torturante.
Abri o porta-malas e ela avançou contra suas bolsas, arrancando tudo o que eu tocava de minhas mãos de forma ansiosa e desesperada. Ainda tentei ajudá-la a se ajeitar com tantas malas, mas fez questão de se afastar e manter minhas mãos longe de qualquer coisa que pudesse tocar.
— Tchau — disse, simplesmente.
Nem a pau.
Puxei-a pela cintura antes que ela pudesse fugir, enfiando meu braço entre suas costas e a mala que pendurara como mochila, mas fui impedido de grudar nossos corpos por outra mala, uma que mantinha segurada firmemente contra a sua barriga. Ainda havia uma terceira, a alça cruzando em transversal em seu corpo, deixando a bolsa pendurada estrategicamente na altura do quadril, ao seu lado.
Era até engraçado que estivesse tentando ser forte e independente, depois de ter passado todo o verão pedindo que eu fizesse coisas para ajudá-la, sobretudo matar pequenas aranhas e outras coisas, o que ela achasse nojento, e carregar peso por ela. Porém, aquilo estava esquisito e me incomodou um pouco. Muito, na verdade.
— Não quer que eu leve lá em cima pra você? — perguntei.
Estava, inclusive, evitando me encarar, mas negou meu pedido com a cabeça, olhando para a bolsa à sua frente, como se estivesse assistindo televisão nela, ou algo interessante assim.
— Me deixaram saber que eu posso pegá-las sozinhas — ponderou.
Torci a cara para o que dizia, mas ela não pôde ver porque não me encarava, então apenas suspirei e a mantive por perto, mesmo com ela tentando se desvencilhar do nosso estranho abraço.
— Alguém me disse que meus músculos têm que servir pra alguma coisa — disse, tentando fazê-la rir.
— Alguém me disse que eles já servem — rebateu.
Suspirei mais uma vez; aquela garota era realmente uma coisinha complicada e difícil. Eu não queria ir embora e deixá-la, não sem conseguir entender o que estava acontecendo, mas eu não conseguia nem ver qual era o problema, muito menos pensar em resolvê-lo em cinco minutos.
Resolvi tentar por baixo, uma coisa mais simples que ao menos me aliviaria e diminuiria a tensão entre nós dois.
— E você não vai nem me dar um beijinho? — perguntei.
Eu pude vê-la desmontar um pouco da armadura que vestira naquela manhã, finalmente dando um sorrisinho tímido. Acabou levantando os olhos, deixando-os se encontrarem com os meus e suspirou, mordendo o lábio inferior, concordando com a cabeça, por fim.
Era impossível saber o que se passava pela cabeça dela, mas não importava; meu coração palpitava de nervoso toda a bendita vez que ela me encarava daquela forma sincera e doce e, desta vez, eu nem estava ligando tanto para o seu sorriso de lado, triste e um pouco magoado, que eu não compreendia o que significava. Aquele olhar era uma declaração dos seus sentimentos disfarçada e acariciava meu ego e toda aquela situação que nos prendera durante a viagem.
Seja lá qual fosse o problema, nada tinha mudado. Ela ainda era toda minha.
Peguei a mala que mantinha a frente do copo e a joguei com cuidado para trás, sobre minhas costas, puxando o corpo de null para mim, agora com o caminho liberado. Saboreei seu cheiro, sabendo que eu não o teria mais ao meu alcance o tempo todo; a lembrança que nos separaríamos nos próximos segundos fez meu estômago se revirar de revolta e cancelar a festa que ele estava começando a preparar para aquela tarde.
Encostei nossos lábios levemente, sabendo que, em seu humor esquisito e alterado, era melhor buscar o que queria pouco a pouco, aproveitando para sentir seu gosto, que estava por deveras salgado, confirmando que o que eu havia visto mais cedo era, realmente, lágrimas escondidas de mim.
Para a minha total surpresa — e eu não sabia porque ainda me sobressaltava toda vez, visto que null era tudo, menos previsível —, foi ela que pediu para aprofundar o beijo, passando os braços ao redor do meu pescoço, acima da sua mala, e mordendo-me o lábio inferior, até que eu acabei cedendo com um gemido faminto, liberando o caminho para que nossas línguas se encontrarem ferozes, como se nem tivessem brincado uma com a outra poucas horas atrás, em nossa parada na estrada.
Gemi, contente, em meio ao nosso beijo, descendo minha mão para a bunda de null e pressionando meus dedos de forma mais pesada, empurrando-a para encostar ainda mais sua virilha na minha. null riu em meus lábios, fazendo o beijo estremecer e encerrou-o, ainda com aquele ar divertido que fez meu coração saltitar.
Ufa. Estava tudo bem.
— Tchau, null — disse, arrancando a mala de minhas mãos.
Coloquei minhas mãos livres no bolso da bermuda, assistindo-a caminhar até dentro do prédio, cumprimentando o porteiro e sumindo através do elevador. Esperei ainda por mais alguns segundos, antes de me pegar chutando uma pedrinha perdida e voltando para dentro do carro.
Eu estava sentindo um vazio estranho.
E me sentia patético. E apaixonado.
Ri sozinho, batucando no volante. Mais ou menos três meses atrás, eu fiz aquele caminho inverso, pensando em uma foda épica para minha coleção; agora, passado esse pequeno período de tempo, estava pensando não em mais uma garota para encher uma lista razoavelmente grande, mas em formas diferentes e prazerosas de se transar com uma única mulher.
Uma garota só. Nunca pensei que isso ia sequer passar pela minha cabeça, mas lá estava eu, rindo à toa da minha cara de imbecil apaixonado por aquela coisinha nervosa.
Demorei ainda cerca de vinte minutos até chegar em casa, estacionei no meu lugar na garagem, pegando minha solitária mala prestes a explodir e subindo de elevador até o quarto andar. Destranquei a porta e entrei distraidamente, apenas para encontrar Maureen, prima de null, cozinhando distraidamente.
Pausei na porta, estranhando, e ela percebeu a movimentação.
— Ah, oi! — exclamou. — Grandão, seu amigo chegou! — anunciou, alegremente.
Grandão? Seja lá qual das minhas dicas null havia usado, mas certamente tinha funcionado muito bem.
null surgiu vindo do quarto dele, apenas de cueca, enfiando uma blusa branca manchada no meio do caminho, que fez Maureen torcer o nariz. Ele se aproximou de mim e me deu um dos seus abraços gays.
— Aê, campeão! Sobreviveu! — riu. Revirei os olhos e vi Maureen sumir discretamente para o quarto, educadamente nos dando privacidade na conversa. — Então, qual a boa?
— Me diz você, qual a boa? — rebati, ainda com o olhar fixo na porta que Maureen estava fechando.
null pegou meu olhar e suspirou. Acabou apontando para o sofá e ambos pulamos por cima das costas dele, sentando-nos lado a lado como as diversas vezes que assistimos futebol e UFC juntos ali.
— Ela largou a faculdade, não estava gostando. A mãe dela está revoltada por causa disso e por a gente estar, tipo, namorando. Sabe... — coçou a cabeça. — Não, não sabe. A mãe dela é alemã, saca. Fica falando na cabeça dela que ela tem que se formar e coisa e tal, mas ela não quer esse curso. Aí as duas discutiram muito e eu falei que ela podia vir pra cá, arrumar um emprego, prestar vestibular de novo, sei lá. Se tiver problema, a gente procura outro lugar, eu não sei ainda.
Assim que null concluiu, eu já estava com a ideia brilhando na minha mente. Com aquele pequeno problema, ia ser infinitamente mais fácil convencer null de que eu podia morar com ela, no apê dela, ao menos com uma desculpinha de até conseguir um novo apartamento.
Eu ia ter null o tempo todo de novo. Estava quase beijando null, mas não o fiz porque... Bem, eu não beijava homens, não.
— E vocês estão namorando tipo mesmo? — perguntei. — Mas não é... errado?
null gargalhou e me deu um soco no peito, sabendo que, mesmo que fosse, eu não me importava. Só estava interessado no assunto.
— Não, a gente não é primo de verdade, tipo, assim mesmo — explicou. — A mãe dela veio fazer um intercâmbio pra cá e ficou por aqui. Ela e minha mãe são melhores amigas desde o ensino médio e a gente foi criado junto, e tal. Acho que o resto você sabe, mais ou menos, como foi.
Eu sabia, mais ou menos, que null caíra de quatro por ela desde quando um perdera a virgindade com o outro, mas ele nunca falara abertamente sobre isso e eu nunca o cutucara o suficiente para fazê-lo falar.
Só que agora compreendia que era a mesma merda da porcaria do feitiço que tinha em null, para mim. E aquela expressão babaca na cara dele devia ser a mesma que eu ficava quando estava com ela ou quando falava dela.
Era até engraçado.
— Então, tudo beleza? — perguntou.
Demorei meio segundo para entender que ele estava preocupado com o problema de Maureen estar, oficialmente, morando conosco.
— De boa, cara — disse. — Cês podem ficar por aqui, eu vou procurar outro lugar pra ficar e tal.
null cerrou os olhos em minha direção, me conhecendo bem o suficiente para ouvir minhas más intenções, mesmo que não as tenha proferido. Meneei a cabeça, rindo e me levantei, recolhendo minha mala abandonada às costas do sofá.
— Ao menos, enquanto não me mudo, vou comer da comida da sua mina, e não as gororobas que a gente faz — declarei.
null gargalhou e eu o deixei sozinho para ir para o meu quarto descansar. Querendo ou não, aquela porra de viagem era cansativa demais e eu precisava esticar o corpo e fazer alguma coisa decente. Esperava, por bem, que os dois não resolvessem transar alto demais e não tirassem minha concentração em fazer nada.
Ainda era cedo, umas três da tarde, mas eu só queria esvaziar a cabeça e tirar um cochilo gostoso, porém, a ausência de null parecia preencher o local e, subitamente, percebi que minha cama ia ficar melhor se ela estivesse ali.
Eu estava em posse do meu celular antes que eu pudesse me conter.
Ei. Queria conversar com você sobre uma coisa depois. Quer sair pra uma pizza?
Eu sabia que eu havia acabado de deixá-la em casa e que seu humor não estava muito bom, mas parecia haver um comichão nervoso em mim que me impedia de me segurar.
Demorou cerca de uma hora inteira até eu perceber que ela não iria me responder. Resolvi acreditar que ela estava dormindo e que era bom que eu fizesse o mesmo, mas arrisquei outra mensagem.
Tudo bem, sem pizza então. Mas ainda preciso falar com você. Posso te pegar amanhã pra faculdade?
Quando acordei, no dia seguinte, ainda estava sem resposta. Eu me arrumei, escovei os dentes, coloquei um perfume que havia ganhado no meu aniversário passado e gostava; esperava que null gostasse também. Tinha sonhado com os lábios dela no meu pescoço e me arrepiava só de pensar naquele sonho ser real.
Que bosta.
— Eu não vou me atrasar por sua causa, seu mané! — null berrava à minha porta.
— Vá se foder, o carro é meu nessa merda! — berrei de volta.
Mesmo assim, pronto, joguei minha mochila pelo meu ombro e saí do quarto, ligando para null e levando o celular à orelha. null revirou os olhos assim que me viu, já saiu na frente abrindo a porta e, quando alcançamos o elevador, a chamada caiu na caixa postal. Desliguei, frustrado.
— Ia dar carona pra ela — expliquei, sob seu olhar curioso.
— E ela não atende? — perguntou. Concordei. — Vai ver, perdeu a hora. Deve estar dormindo ainda, sei lá.
Desde o meio da tarde?
Ainda estava encucado e, agora, nervoso. null preferiu dirigir no meu lugar, quando viu que eu continuava insistindo nas minhas ligações para null. Para acordá-la, eu lhe disse, mas a verdade era que eu estava nervoso.
O dia de ontem não tinha sido muito bom para nós dois. E se eu tinha achado que seja lá qual fosse nosso problema, estava resolvido enquanto apenas estragara tudo, como eu normalmente fazia?
Não encontrei null na faculdade, assim que cheguei. Ela não atendeu nenhuma das minhas ligações, nem respondeu minhas mensagens, convidando-a para almoçar comigo na lanchonete mais da hora do campus. Não consegui achá-la pelos corredores, nos intervalos, nem fora deles.
— Vai ver ela tem um horário diferente do nosso, mané — null me deu um peteleco na cabeça, quando nos encontramos na hora do almoço e eu continuava girando o pescoço de um lado para o outro, tentando ver qualquer vestígio daquelas curvas deliciosas que eu já conhecia bem, mas não me cansava.
Não, null, ela não tinha.
Estivera prestando atenção nela pelos últimos dois anos e tinha encontrado com ela diversas vezes pelos corredores, em nossos intervalos. Sabia que, se não era o mesmo horário, a diferença de minutos devia ser pequena.
E ela não estava me atendendo.
E ela estava estranha ontem.
No momento em que finalmente percebi e assumi que tinha algo muito errado com aquela coisa nova chamada nós, meus olhos finalmente conseguiram identificar suas curvas a uma distância considerável de onde estava comendo meu sanduíche.
Encostada na parede externa do prédio, com os braços ao redor de alguém, as mãos dele em cima de sua bunda, apertando-a. Ria, parecendo despreocupada, e o meu sanduíche escapou de minhas mãos no momento em que ele avançou para beijá-la e eu identifiquei o cara pela terrível técnica de ataque.
Era o melhor amigo dela, o babaca brocha.
Fiquei esperando-a dar um tapa nele, mas ela continuava rindo. E, eventualmente, ele a beijou.
E beijou.
E ela não se afastou.
E meu coração pareceu se rasgar no meio do meu peito.

Capítulo Quarenta e Quatro

Bêbada

Eu levantei da mesa, derrubando a cadeira com tudo, chamando a atenção de todos ao redor. Ninguém entendeu nada, nem mesmo null, que já acompanhava meu comportamento esquisito há um pouco mais de tempo.
Eu não estava nem aí.
Meus olhos estavam cravados no ponto em que um imbecil parecia comer minha garota, a quem ele tinha ofendido e agredido há um mês, e eu ainda não conseguia entender como ela não tinha feito porra nenhuma para afastá-lo.
Que merda era aquela?
Não fiz pergunta nenhuma, nem quis saber. Arranquei o babaca de perto dela e lhe dei o soco no nariz que ele estava merecendo há muito tempo, fazendo-o cair no chão à minha frente, já sangrando.
— O que você está fazendo? — null surgiu na minha frente, a voz arrastada e a pergunta me deixando muito confuso.
O que eu estava fazendo? O que ela estava fazendo?
Encarei-a de cima a baixo, percebendo todas as pequenas alterações comportamentais discretas, mas ainda assim claras. Aproximei-me e meu nariz identificou o cheiro inconfundível de álcool entrando no meu sistema. Balancei a cabeça negativamente.
— Você está bêbada? — soou como uma pergunta, mas eu não precisaria perguntar. Eu tinha certeza absoluta.
Ela encarou-me com uma expressão zangada e enojada, enquanto seu amiguinho, no chão, jogava a cabeça para trás e tentava conter o sangramento, com a ajuda de uma mina que acabara de chegar até ele.
Agarrei-a pelo braço e estava já puxando-a para levá-la para casa, antes que fizesse qualquer merda pior e se arrependesse pelo resto da vida, já que se sua pequena arte sempre podia chegar em alguém que pudesse colocá-la na mídia ou até seu pai.
— Seu merda! — berrou, tentando puxar seu braço de volta para ela — Me solta, seu babaca, me solta!
Estava à beira do choro e eu não sabia que merda estava acontecendo, mas não a soltei. Nunca que eu ia deixar uma null bêbada, perdida por aí, sendo alvo fácil para lábios alheios.
— Você tá doida, null? — perguntei. — Vou te levar pra casa agora.
Ela puxou o braço novamente e eu não estava esperando tanta força, então acabou com ela escapando do meu aperto. Levou as mãos ao meu peito e me deu um empurrão que me obrigou a dar uns dois passos para trás, devidamente chocado com toda a sua revolta sem motivo.
— Você não manda em mim! — berrou. — Eu não sou sua propriedade!
Da última e única vez que ela ficara bêbada em minha presença, tinha sido muito mais divertido, mas eram ossos do ofício e eu apenas girei meus olhos no ar, buscando a pouca paciência que tinha, já esgotada por tê-la pego beijando outro cara.
Mas iria discutir isso com ela quando estivesse sã e sóbria. Quando estivesse tão horrorizada por beijar null quanto eu estava por tê-la visto nessa situação.
null, por favor, só vamos, ok? — pedi, com o máximo da calma que eu conseguia no momento.
Estiquei minha mão para ela, mas ela estapeou-a, apontando o indicador para mim, prestes a me dar uma bronca. Até bêbada conseguia disposição para brigar comigo por qualquer coisa.
— Eu não vou a lugar algum com você nunca mais! — berrou. — Você não tá vendo? Eu segui em frente! Não vou ficar esperando você enquanto você transa com qualquer uma que bem entender, tá ouvindo? Você nunca mais vai me tocar!
Puta merda.
Eu finalmente entendi sobre o que aquilo tudo era. null estava me dando o troco por algo que eu não sabia que tinha feito e tinha se atracado com null porque sabia que era a coisa que mais me incomodaria que ela fizesse.
A raiva finalmente me acometeu. Quem era ela para resolver me amarrar e depois pisar em mim daquela forma?
— Sua piranha de quinta! — as palavras saíram sem controle. — Sua vadia sem noção de nada da vida, só sabe reclamar, resmungar! Puta! Puta! Puta!
Da mesma forma que null encontrara a coisa que mais me magoaria com facilidade, também encontrei o que mais lhe magoaria sem nem pensar. E da mesma forma que suas ações tiveram reações rápidas, as minhas também.
Eu senti o estouro em minha bochecha antes de sequer reparar que ela tinha se aproximado e se movido para me dar um tapa. Um de verdade, dolorido, diferente dos seus tapinhas de brincadeira que espalhara pelo meu corpo por todo o verão.
Voltei meu rosto para ela, a mão sobre o ardido de onde a sua estivera, e encontrei seus olhos marejados. Soube, então, que tinha cruzado a linha.
Não precisava que dissesse as palavras para saber que eu tinha ido longe demais.
— Nunca mais, null — murmurou, parecendo muito mais sóbria que segundos antes. — Nunca mais. — frisou.
E saiu batendo os pés, passando por um null ensanguentado, que ainda chamou-a, mas a quem ignorou, deixando ainda mais claro que minha teoria estava mais que correta: ela não se importava, sequer queria sair com ele; só precisava que acontecesse o que aconteceu. Só queria me chatear.
E soube o que eu tinha feito de errado, afinal.
Perdi a oportunidade de dizer a ela como me sentia. Não tinha dito "eu também", tinha permanecido com aquela coisa entalada na minha garganta e ela me respondeu que estava tudo bem.
Obviamente, não estava nada bem.
Esfreguei meu rosto e respirei fundo, encontrando null bem atrás de mim, acompanhando tudo. Em uma olhada zangada dele, todo mundo voltou aos seus afazeres, como se nada tivesse acontecido.
— Que merda tá acontecendo, cara? — questionou, preocupado, a mão nas minhas costas, guiando-me de volta para a mesa.
Meu sanduíche estava quase intacto no prato em cima da mesa e eu não comera nada além de uns biscoitinhos amanteigados a manhã inteira, mas simplesmente não sentia fome alguma. Pelo contrário, ao sentar-me à mesa, com null em minha frente e o seu olhar aflito, o cheiro da comida me deixou enjoado e embrulhou o meu estômago.
— Eu caguei tudo, cara — confessei. Minha voz saiu estranha e falhada e eu fiquei com uma súbita vontade de correr para o banheiro e... chorar. — Tem merda até o teto. Eu caguei tudo.
Ele me deu um tapinha desajeitado no ombro. null nunca precisou me consolar porque nunca fiquei na merda. Era compreensível.
— Cê vai dar um jeito, cara — garantiu. — Você sempre dá.
Dessa vez, não tinha tanta certeza assim. Eu tinha demorado dois anos para conseguir convencer null a sequer me beijar; agora, nas minhas mãos, eu a tinha deixado escapar por medo de admitir que ela me fazia sentir o que sentia, e pior: ela tinha dividido comigo seus medos e receios e eu os usara para atingi-la.
Eu era um merda. Ela provavelmente ficaria melhor sem mim.
Não pude evitar continuar procurando-a o resto do dia. Talvez, se tivesse qualquer oportunidade, poderia lhe pedir desculpas, poderia chamá-la para conversar.
Pensei em lhe mandar mensagens, mas ela tinha me ignorado anteriormente e eu sabia que mandar uma agora era quase falta de respeito. O que tínhamos para resolver era para ser feito cara a cara.
Eu não podia escrever "Me desculpe, eu amo você, me perdoa". Podia?
Pouco mais de uma hora depois do final do horário de almoço, estava indo para minha aula, um pouco perdido, e encontrei null saindo do banheiro com a cara toda brilhando de maquiagem. Parecia mais desperta, menos bêbada e não muito bem. Congelei no meio do corredor, completamente sem reação e, no momento em que defini que era melhor caminhar até ela e tentar convencê-la a conversar, null percebeu minha presença, jogou o cabelo de lado e sorriu para o primeiro cara que passou pelo corredor, jogando charme.
O cara foi esperto o suficiente para parar e lhe cumprimentar com um olá, ao que ela respondeu com um sorriso.
Eu sabia que estava com raiva, sabia que tinha feito merda e sabia que, por estar zangada, tinha feito isso porque me viu. Imaginei que se saísse de perto, não iria jogar charme para ninguém.
Da vez seguinte que esbarrei com ela no corredor, tomei cuidado para tentar não deixá-la me ver. Desta, pude ver seus trejeitos cansados, seu humor tão comparado ao meu que quis correr até ela e abraçá-la, jurar que tudo iria ficar bem e que nós só precisávamos nos sentar e conversar por algumas horas.
Então, fiquei completamente irritado.
Porra, ela tinha beijado a bosta do amigo dela! Estava bebendo cedo, ignorara todas as minhas mensagens e ligações e ainda estava me pintando como vilão da história.
Que se fodesse!
Minha raiva durou até o próximo momento que a vi passando por mim no corredor e reparou em mim, parado ali, como se seus olhos fossem treinados para me encontrar, tal como os meus eram para encontrá-la. Fingi mexer no celular, mas já era tarde demais; lá estava ela jogando charme para mais um cara, mesmo que esse tenha apenas tropeçado nos próprios pés e a fizera rolar os olhos.
Não dava. Ver null com outro cara era simplesmente demais para mim. Estava indo segui-la quando ela entrou em uma sala de aula qualquer e, dali, podia ver que estava cheia.
Isso teria que funcionar.
Bati na porta da sala, chamando a atenção da professora. Eu tivera aula com essa também e ela era particularmente fã das minhas gracinhas.
— Posso ajudar? — perguntou.
null estava mordiscando um lápis, nervosa, sentada na primeira fileira da aula e seu olhar curioso virou-se para o objeto da atenção da professora: eu. Sua boca escancarou-se e eu me estufei, orgulhoso por tê-la pego desprevenida.
— Eu gostaria de dar uma palavrinha com a null, tudo bem, professora? — questionei.
O olhar dela foi até null e o seu choque, que se esforçou em parecer menos desajeitada, se confortando na cadeira e cruzando as pernas.
Apertei os lábios com força, porque assim que ela cruzou as pernas e cerrou as sobrancelhas, eu soube que iria negar o pedido.
— Claro, querido — Dona Carmen disse. — Pode ir, null.
— Não tenho nada para falar com ele, professora, pode continuar.
Dona Carmen ficou um pouco perdida por um momento, olhou em minha direção como quem avalia a situação, e eu dei de ombros, sem saber o que fazer, também. Mas null estava decidida em seu lugar e restou a mim dar a volta e procurar onde descontar minhas frustrações.
A resposta veio rápida como vento.
Ou melhor: exatamente como vento.
null pulou nas minhas costas como um sapo, exageradamente amigável em sua preocupação desajeitada.
— Vamos malhar? — perguntou-me.
Era uma indagação que soava como uma afirmação impositiva, na verdade; não me importei muito. Imaginei que algumas horas forçando os meus músculos e socando o saco de areia fossem melhorar o meu sistema nervoso, que acumulava uma bolota de energia na minha barriga, embrulhando meu estômago.
Depois que desperdiçasse essa raiva toda, talvez conseguisse pensar melhor no que fazer para resolver o impasse com null.
Então, fui para a academia. Estava com saudades de perder horas e mais horas nos aparelhos e na sala de boxe. Eu tinha uma hora reservada naquela tarde e foi infinitamente prazerosa. Quando acabei, nem parecia ter brigado com null, estava leve e com a mente limpa e resolvi que a melhor opção era tentar ir à casa dela e falar o que quer que fosse pelo interfone ou gritando na sua porta.
É. Talvez dissesse mesmo.
Eu tinha que deixar de ser tão babaca assim. Era null, só isso. Se eu dissesse que gostava dela, tudo ficaria bem e daria certo.
Esse era o meu plano.
Que desabou no instante que eu saí da sala de boxe, jogando uma toalha pelo meu pescoço e desejando um banho bem fresco antes de pegar o carro — provavelmente tendo uma briga com null pela carona não dada — e ir para casa de null, quando null passou por mim, vestida para malhar daquela forma que me deixava duro em dois segundos, pendurada em uma conversa com André, meu adversário na corrida de sexta-feira.
Fechei os olhos e tomei um longo suspiro, enquanto ele me apontava os dois dedos, em forma de arma, cumprimentando esportivamente e entrava na sala, com null em seu encalço, um sorriso arteiro no rosto que informava que ela tinha percebido que tinha conseguido me atingir.
Todo aquele segundo se passou em câmera lenta, enquanto ela se sentava em uma pilha de steps abandonada no canto, de frente para o saco de areia e o espelho, cruzando as pernas sob o meu olhar intenso. Ela deixou o olhar cair em mim por um momento e seu sorriso se desmanchou em uma expressão de nojo clássica.
Céus, eu só queria beijá-la.
Ela era maravilhosamente teimosa e irritante e tudo o que eu conseguia pensar era no quanto aquilo, mesmo em desespero, era adorável.
— Querendo roubar meus movimentos? — André me perguntou.
Ah, eram os movimentos dele. Quase ri, debochado, mas me segurei. Toda aquela febre de treinar boxe tinha começado quando eu, já com o costume, cheguei à cidade e comecei a ganhar corrida atrás de corrida. Alguém me perguntou e eu disse que o boxe me ajudava a ter reflexos mais rápidos e aí todo mundo correu para fazer boxe também.
Então, se ele tinha algum movimento, era por minha causa.
Ele começou a treinar e tudo o que eu fiz foi balançar a cabeça em sua direção com um sorriso amarelo e voltar o meu olhar para null, que parecia tentar fingir que o assistia lutar, mas eu sabia que estava me olhando por rabo de olho.
— Posso falar com você agora? — perguntei a ela.
Ela ergueu o nariz ao ar, virando o rosto em minha direção, sua expressão austera me informando o quão fodido eu ainda devia estar.
— Não — disse, simplesmente.
— Certo.
Joguei minha bolsa de treino no chão e sentei-me ao lado dela, as pernas em frente do corpo, com os joelhos meio cobrados e as mãos por cima deles, encarando-a. Ela levantou uma sobrancelha, mas logo virou o rosto para André, que tinha parado de treinar e nos encarava, tentando compreender.
— Quero só bater um papinho com ela — informei-o, balançando a cabeça em sua direção. — Estou esperando-a ter um tempo pra mim.
Ela revirou os olhos e cruzou os braços em uma expressão de pura birra infantil que me fez sorrir de lado. André nos olhou, de um para o outro, sem conseguir entender porra nenhuma do que estava acontecendo.
Bem, nem eu entendia muito.
— Olha, eu só tenho uma hora para treinar, então... — murmurou. — Vocês dois podiam me deixar ficar em paz?
null levantou-se em um pulo e arriscou um sorriso totalmente falso para André, que obviamente caiu na dela.
— Me liga — ela lhe disse, fazendo um biquinho. Passou por mim, ainda sentado no chão — Você, não.
E saiu da sala de treino. Levantei-me correndo e fui atrás dela.

Capítulo Quarenta e Cinco

Ônibus

Ela estava me ignorando com aquele maldito fone de ouvido de novo e embora eu estivesse quase berrando — e tinha certeza que conseguia me ouvir —, não estava nem aí para a minha cara.
Avancei contra ela, mas apenas saiu correndo à frente, sem se importar com todo o meu esforço em simplesmente somente me ouvir.
null, eu...
Eu quase disse assim mesmo, o clima estando horrível, ela com fones, três pessoas encarando nossa discussão muda como se fossemos uma espécie de reality show ridículo ao que elas estavam acostumadas a assistir na TV.
Mas não pude. Tinha gente demais ali e a ideia de admitir para null já me era complicada, dizer que estava apaixonado na frente de todas aquelas pessoas... Bom, isso parou as palavras antes que elas pudessem ser ditas.
null, por favor, será que a gente pode só conversar um pouquinho? — perguntei, ainda seguindo-a.
Eu tinha certeza de que ela podia me ouvir, mesmo estando com os fones e dois passos na minha frente, sempre. Sabia porque se sobressaltava quando ouvia minha voz, seus pelos se arrepiavam ligeiramente e parecia ainda mais disposta a me manter longe a todo e qualquer custo.
Era até um pouco difícil me concentrar em como resolver assim; aquela mulher me deixava completamente maluco, não só sexualmente falando, mas com todas as suas nuances comportamentais, surpresas e trejeitos. E conseguia me frustrar de todas as formas: não me deixava falar, não me deixava entender o que estava acontecendo, beijava e dava em cima de outros caras — principalmente aqueles que tinha certeza de que iria me afetar — e, por último e mais importante, ficava rebolando aquela bundinha maravilhosamente gostosa em uma calça de academia apenas alguns passos à minha frente sem me dar qualquer direito a proclamar aquele território como meu, mesmo eu sendo o primeiro a fincar minha bandeira nele — e eu finquei-a bem fundo e deixei o território bastante marcado.
Era impossível ter sanidade com ela. Impossível.
null... É só uma conversa — pedi. Peguei-a pelo pulso e ela parou, me encarando com sua expressão chocada. — Vamos só jantar e... — não sabia o que dizer. Vamos só jantar e aí eu te explico que você não precisa se preocupar em eu te trocar porque eu só consigo pensar em você? Não, não ia rolar. — Por favor — murmurei, suplicante, em vez da minha frase completamente constrangedora.
Ela me encarou por um longo momento, me avaliando por inteiro, seus olhos rolando da minha cabeça aos meus pés e de volta, direto nos meus olhos. Acabei suspirando, tentando me acalmar com a sua austeridade controlada — como eu conseguiria competir com aquilo?
Tirou o fone de ouvido e continuou me encarando como se avaliasse. Senti meu pulso cardíaco quase parar e, então, se acelerar com a perspectiva dela estar quase cedendo diante de mim.
Suspirei, já quase aliviado.
— Não — disse, simplesmente, me pegando totalmente desprevenido e puxando sua mão para longe de mim.
Apertei ainda mais seu pulso, sem deixá-la escapar, e ela cerrou seus olhos em minha direção, dando um puxão mais forte que só fez com que eu desse mais um passo em sua direção.
— Será que você pode ser menos zangada só por um segundo? — ela cerrou ainda mais os olhos à minha pergunta e começou a sacudir o braço com violência, o que eu soltei seu pulso, levantando meus braços no ar. — Ótimo! Eu estou tentando ser legal aqui, mas você é simplesmente teimosa demais pra... urg!
Não encontrei palavras para a minha frustração inteira, terminando por sacudir meus pulsos fechados, as mãos ainda enfaixadas do treino, de cima para baixo. Eu não sabia como resolver toda aquela situação com null e tinha a impressão que quanto mais eu deixasse a situação correr, mais enlouquecedora ela seria.
null não estava deixando as coisas fáceis pra mim, o que não era realmente uma novidade. Não achava que estivesse pedindo por algo completamente absurdo: era uma conversa, afinal de contas. Levá-la para jantar, como eu já havia feito antes, e conversar sobre o que poderíamos fazer sobre o nosso relacionamento daqui para frente. Porque eu não fazia ideia do que fazer. Não fazia mesmo.
Queria pegá-la pelos ombros e sacudi-la para que compreendesse o que eu estava tentando dizer, mas tudo o que eu fiz foi passar as mãos pelo meu rosto e esfregá-lo ao limite, tentando manter a calma.
— Teimosa? — perguntou, irônica. — Teimosa, null? Você... — fechou os olhos e respirou fundo, também levantando as mãos ao ar, como eu havia feito apenas alguns segundos atrás.
— Eu o quê, null? — perguntei. — Estou te ligando desde que te deixei em casa e tentando entender que merda tá acontecendo e aí você simplesmente resolve sair por aí tentando pegar qualquer cara que aparece na sua frente.
Ela queria dizer alguma coisa, mas pausou-se, chocada, a boca entreaberta e os olhos mostraram-se magoados. Não entendi nada e aguardei por qualquer outra reação que pudesse me ajudar a desvendar o que estava acontecendo.
— Que bom, não é? — disse. — Estou lhe poupando o trabalho e constrangimento de ter que lidar com uma puta, como eu.
Ah, bosta.
É claro que eu tinha que estragar tudo de alguma forma.
null, eu sinto muito... — tentei.
Ela não estava mais me ouvindo, tinha virado as costas e saído em disparada à frente. Corri atrás dela, na esperança de ainda consegui-la fazer me ouvir, ao menos o meu pedido de desculpas. Agora era tentar balanceá-la para ficar amigável o suficiente para me dar tempo de respirar e lhe dizer como eu me sentia sobre ela e sobre o nós.
Por que eu não podia simplesmente pegá-la pelo braço e gritar "Ei, sua doida, eu tô completamente apaixonado por você, então dá pra você parar de se fazer de difícil e aceitar meu jantar pra gente conversar sobre isso e depois transarmos como loucos"?
Não soava muito romântico, de qualquer forma.
null! — chamei-a mais uma vez, mas ela continuou caminhando rapidamente para longe de mim.
Apertei o passo e a segurei pelo braço mais uma vez e ela se virou em minha direção, já sacolejando o braço e lançando um olhar irado e marejado em minha direção. Engoli a seco, nervoso em tê-la magoado.
Eu sabia. Devia ter dito antes. Agora, simplesmente, nada saía e eu estava dependendo disso para alcançar seus lábios viciantes mais uma vez.
E não conseguia dizer! Que merda!
Ela virou as costas para mim, acabei soltando seu pulso com o choque de vê-la quase chorando e ela caminhou mais alguns passos até o ponto de ônibus, onde já tinham pessoas encarando nós dois como se fôssemos da novela das nove.
— Eu não quis... — estava de volta com os fones de ouvido e isso acabou com a minha paciência. Arranquei-os de sua orelha, largando-os no chão, admirando sua expressão de choque forçada que chegou ao limite da minha ira quando ela levou uma mão ao seu peito, quase rindo da minha cara.
— Que merda que você queria que eu fizesse? — perguntei-lhe. — Pisquei por um segundo e aí te pego beijando outro cara e dizendo que passou na minha frente? — despejei tudo daquela maneira — Estou aqui tentando conversar com você e acertar essa bosta que você fez com a gente e tudo o que você sabe fazer é colocar essa merda de fone de ouvido e sair andando por aí, me ignorando e jogando cabelo pra outros caras só pra me irritar!
Ela apertou os olhos e os pulsos, tentando controlar a raiva sem muito sucesso, enquanto eu respirava apressadamente pelo desmanche de palavras sinceras.
— A bosta que eu fiz? — questionou. — Estou seguindo em frente.
Ela apenas virou as costas para mim e esticou o braço, balançando-o para a rua, onde um ônibus virou-se para estacionar na frente dela, abrindo as portas e mostrando um motorista levantando a sobrancelha para ela.
Ambos, eu e null, reviramos os olhos para tal feito.
— Eu não disse que era para você seguir em frente! — disse a ela.
Não estava mais ouvindo. Subiu os degraus do ônibus, abriu a bolsa externa da mochila e entregou alguns trocados para o cobrador. Bufei em frustração e a segui, mexendo nos bolsos atrás da minha carteira que, por sorte — para pagar a mensalidade da academia —, eu não tinha deixado no carro. Quando finalmente passei pela catraca, null já havia se esgueirado pelos passageiros e estava em um cantinho particularmente mais lotado, no final do ônibus, quase na porta traseira.
Quando cheguei à metade do caminho até ela, o veículo parou novamente e mais pessoas começaram a passar pela catraca, deixando tudo ainda mais impossível e apertado. Alcancei-a, segurando-a pelo antebraço, mas ela fingiu que não estava percebendo que era eu, encarando a janela na sua frente.
null, eu só quero acertar as...
Não terminei de falar. O motorista deu uma arrancada louca que empurrou e massacrou todas as pessoas juntas, compactadas, e eu fui jogado contra null por três pessoas diferentes e... Bom, basicamente, comecei a parar de ficar irritado e quase instantaneamente duro.
Eu estava endurecendo contra a bunda de null, como já havia acontecido antes, mas nunca no meio de uma briga, nunca com aquele nível de tensão e eu estava facilmente fisgado pelo momento.
Ela reparou rapidamente e eu pude ver seus olhos ligeiramente arregalados pelo reflexo do vidro da janela e sorri amarelo, tentando empurrar um pouco as pessoas para me desencostar dela o suficiente para conseguir organizar as coisas que eu precisava dizer em minha mente.
null, a gente...
O que eu tinha para dizer sumiu magicamente. Tinha conseguido um centímetro de distância entre meu pau e a bunda dela, mas ela, inesperada e inexplicavelmente, empurrou a bunda em minha direção e eu arfei, puxando o ar e encerrando a frase drasticamente.
Foda-se. Eu podia dizer depois.
Fingi me ajeitar atrás dela, levantando o braço para segurar na barra de cima e me manter firme. Acabei me esfregando atrás dela e o desajeito com a tensão me fez chutar sua mochila para a escada da porta de trás do ônibus, o que lhe provocou uma risadinha e a fez se abaixar para puxar a mochila de volta escada acima, com a bunda fincada em mim. Fechei os olhos e respirei fundo, meu coração desesperado em meu peito, sentindo-a voltar a ficar em pé, dando uma discreta reboladinha em meu pau.
Ela estava tomando conta de tudo, estava decidindo tudo, estava dominando tudo. E ela mesma havia dito que não era assim que funcionávamos.
Tomei uma lufada de ar e tentei não parecer tão embasbacado com a mudança brusca do nosso humor. Com uma mão, afastei seu rabo de cavalo baixo para o lado e finquei meus dentes em sua nuca, sentindo-a se arrepiar com o contato. Com a outra mão, prendi meus dedos em sua barriga, deixando a palma se encaixar no meio da curva de sua cintura, puxando-a firmemente para o meu corpo.
Sim. Era exatamente assim que a gente funcionava.
— Você é... — não encontrei palavras e todo o meu sangue estava sendo direcionado ao meio das minhas pernas, não ajudando muito meu cérebro a funcionar corretamente.
O que ela era, afinal? Gostosa, inteligente, provocativa? Eu já tinha lhe dito tudo isso, mas nada parecia à altura do que ela realmente era. Subi meus dentes pela sua nuca e encostei apenas a ponta da língua em sua orelha e senti-a empurrar o corpo para trás, apoiando-se em mim.
— Desafiadora — eu decidi. — Desafiadora.
Parecia ser a palavra certa para descrevê-la porque ela me desafiava a cada segundo, me fazendo desejar coisas que eu nunca tinha sequer cogitado querer antes. Eu queria tudo com aquela mulher, desde um singelo passeio brega de mãos dadas a uma transa épica em um avião. Pela primeira vez na minha vida, na noite anterior, desejei ter uma família de verdade, ser pai, casar...
E eu só conseguia ver isso acontecendo com ela.
— Você me deixa maluco, null — murmurei.
Meu pau estava latejando enquanto ela balançava a bunda de um lado para o outro e eu soltava lufadas de ar, impacientes, em seu pescoço, fazendo-a se arrepiar e rebolar ainda mais em meu pau, em um círculo vicioso e completamente delicioso.
Empurrei-me contra ela, mantendo uma mão na barra acima de nossas cabeças e a outra em sua cintura, puxando-a firme contra mim e afundando meu pau em sua bunda, empurrei-me para frente e para trás algumas vezes, me aproveitando do balanço da movimentação do ônibus para me apertar contra ela.
Seu reflexo na janela era estarrecedor. Estava encarando-a por ele, ela de lábios apertados em uma linha contida e os olhos semiabertos, as narinas infladas, puxando o ar cada vez com mais vontade para seus pulmões. Soltei um grunhido baixo, em sua orelha, e sua mão posicionou-se sobre a minha, em sua cintura, apertando-a com vontade como se dissesse por favor, não pare.
Apertei sua mão de volta e tudo o que eu queria que aquele aperto dissesse era eu te amo, porra, dá pra entender isso logo?.
— Ah, null... — sussurrei em sua orelha e senti-a respirar profundamente e a espelhei.
Meu pau estava quase explodindo em minhas calças, sentido o meio de sua bunda naquela calça de malhar apertada se esfregando nele como em uma punheta esquisita e muito mais deliciosa.
Seria melhor sem roupa, pensei. E, com esse pensamento, soltei minha mão da barra de ferro e levei-a exatamente abaixo do seu seio, acariciando-o com o polegar, discretamente. null cansou de apertar os lábios e abriu a boca em um o delicioso e surpreso. A mão que estava em sua cintura desceu um pouco mais e deixei a ponta de meus dedos escorregarem para dentro da sua calça, procurando tatear sua calcinha, porque meu imaginário estava me pregando peças sobre o que ela vestia.
E sabe o que eu encontrei? Nada.
Só consegui ficar ainda mais duro.
— Você não faz ideia do quanto eu quero meter em você agora, bem fundo dentro de você, deixar você toda molhadinha de porra... — sussurrei.
Ela respirou fundo e mordendo o lábio inferior, virando o rosto para mim por um segundo, olhando-me, encarando-me. No momento em que eu avancei para beijá-la, ela ficou na ponta dos pés e puxou a cigarra.
Demorei tempo demais tentando lembrar o que aquilo fazia. E, quando me toquei, ela já tinha escorregado com a mochila para fora do ônibus.
— Peraí, piloto! — berrei, conciso.
E o motorista abriu a porta do ônibus mais uma vez e eu pulei para fora dele, vendo null olhar para trás e parecer ainda mais apressada em correr para dentro do seu prédio. Dei passos largos e consegui alcançá-la, mas não consegui pará-la.
null, espera! — berrei.
Ela atravessou o portão do condomínio e o fechou na minha cara. Minhas mãos ficaram por cima das dela, na grade, e encarei-a meio sem rumo, meio sem compreender porque ela estava fazendo aquilo.
— Não vai me chamar pra subir? — perguntei.
Ela gargalhou na minha cara, parecendo nervosa ao tentar escorregar as mãos para longe das minhas, mas prendi-as, sem deixar.
— Não, null — disse. — Chega de brincar. Chega.
Ela puxou as mãos para longe e escapou. Ainda encarou-me por um longo segundo, antes de virar as costas para mim e sumir pelo hall do prédio com um aceno para o porteiro. E eu fiquei lá, esperando o sangue voltar para o lugar certo.
E, quando eu fiz, recordei-me de que eu tinha deixado o carro estacionado na academia e não fazia porra de ideia nenhuma de que maldito ônibus eu pegava para ir para casa.

Capítulo Quarenta e Seis

Comi

Eu não sabia o que fazer, então preferi ficar em casa naquela manhã. Fiquei na cama, encarando o teto, sentindo aquele bolo preso na minha garganta que sabia que era causado pela vontade e o medo de dizer como eu me sentia por null.
Cheguei a digitar a mensagem. Eu escrevi Ei, null, tentei conversar com você, mas você não me escuta. Eu só queria dizer que....
Amo você.
Apaguei antes que escrevesse as palavras e joguei o celular na parede em frustração e voltei a ficar encarando o teto por longos minutos, sem me decidir qual era a melhor abordagem com null.
Ouvi batidinhas na porta.
— Entra.
Só podia ser Maureen e era ela mesma. Colocou a cabeça loira para dentro do quarto e arriscou um sorriso fraco, mas sincero.
null ligou — disse — Disse que se você não for pra faculdade agora mesmo, ele vai... — suas bochechas coraram e ficou óbvio que era alguma coisa obscena que preferia não repetir — Ele quer que você leve o almoço e depois vá treinar.
Revirei os olhos para o panaca do null, que não conseguia viver um mísero dia sem mim e me deixar em paz no meu problema.
— Loira, diz pro seu namorado me ligar quando ele quiser que eu faça alguma coisa, tá? — resmunguei, me arrastando para fora da cama.
— Ele disse que tentou, mas tava fora... — olhou para o canto e viu o celular jogado no chão do quarto, desmontado — De área. Tá tudo bem, moreno?
Eu ri porque achava engraçado quando ela me chamava de moreno por chamá-la de loira. null cerrou os olhos para as duas primeiras vezes, mas não demorou muito para parar de se incomodar, até mesmo porque era bem claro que quem mandava naquele relacionamento era ela.
Nós, pobres homens, na mão daquelas maníacas controladoras mulheres. Sempre.
— É, é — eu lhe garanti — Bobagem.
Ela olhou-me de cima a baixo de um jeito parecido com o que null fizera diversas vezes no domingo, em nossa viagem, mas deu de ombros e virou as costas para mim, sacudindo a cabeleira loira para fora do meu quarto.
— Preparei a marmita de vocês! — gritou, da cozinha. — Então anda logo, porque null e fome nunca se misturam!
Torci a cara para a preocupação dela, porque meu estômago se revirou com a lembrança de null agindo protetoramente e cuidando de mim por todo o verão. E agora aquela bosta misturada.
Eu tomei meu banho e me vesti, arrumando um plano louco na minha cabeça. Pensei em encurralá-la, puxá-la pelos cabelos até um lugar só nós dois, em mandar uma carta...
Mas achei que a melhor opção era tentar convencer alguém a levá-la até alguma sala e aí eu chegaria e trancaria nós dois e ela teria que me ouvir.
E eu teria que dizer.
Por que null não podia, simplesmente, ser uma garota normal como qualquer outra, que só deixava as coisas rolarem, sem ficar criando teorias mirabolantes e sendo tão cabeça dura assim?
Cheguei à faculdade e encontrei null cheio dos nossos colegas ao redor, mas digitando freneticamente no celular, provavelmente querendo saber onde estava a comida. Arrisquei uma risada, enquanto estacionava o carro e ele acenou freneticamente para mim quando eu desci do mesmo, colocando minha mochila sobre os ombros.
Aí eu percebi que ele não estava acenando exatamente para mim, mas para me alertar, porque apenas dez passos de onde eu estacionei, null estava conversando com André, os cabelos ligeiramente cacheados, de shortinho e uma sandália vermelha com saltos altos o suficiente para que ela estivesse da minha altura, ou maior.
A resposta foi rápida, o incômodo crescente na virilha que me informava que não adiantava o quão irritante ela era, ainda a queria ao meu redor.
Seu olhar se desviou em um sorriso de algo que André lhe dizia e, enrolando uma mecha de cabelo com um dedo, encontrou com o meu. Meneou o rosto e levantou as sobrancelhas como se dissesse Está vendo? Essa sou eu sem você.
Teimosa do cacete.
— Você gosta mesmo do segundo lugar, não é? — perguntei, parando bem atrás de André e boa parte das pessoas ao redor pararam para ver o que ia acontecer.
Todo mundo sabia que nós correríamos um contra o outro na sexta. Estavam esperando uma discussão quente e nem ao menos sabiam o porquê, exceto por null e nossos companheiros, que se aproximaram com olhares preocupados.
— Desculpe? — André se virou para mim, com null exatamente atrás dele, mas se empurrando para o lado para não perder a visão. Estava com um sorriso no rosto e tudo o que eu queria era pegá-la pelo pescoço e grudar meus lábios nos dela.
Apontei para ela, despreocupadamente, como se minha barriga não estivesse se revirando de desejo, raiva e impotência. André acompanhou minha mão e null fez sua melhor cara de desentendida, balançando os cabelos e seus novos cachos ainda com aquele mesmo maldito sorriso.
— Tá tentando comê-la agora, né? — perguntei, implicante e puto da vida — Porque eu comi primeiro. Eu já comi essa daí toda.
null arregalou os olhos em minha direção e tomou rapidamente a dianteira, parando à minha frente com aquela expressão desafiadora que me tirava do sério de tantas maneiras que era provável que eu nem conseguisse contar.
— O que você está fazendo? — inquiriu, com a voz baixa e discreta.
Ah, não. Não. Eu não ia jogar mais a merda do jogo dela. As regras eram minhas e estava na hora de eu colocar todas na mesa.
— Estou falando pra todo mundo que eu comi você. Ou será que você prefere que eu comece a falar de como você gosta de ser comida? — exclamei. — E não sejamos hipócritas, baby, você adora as coisas em público, não é mesmo? Ontem você não estava esfregando essa bundinha linda em mim no ônibus?
null! — reclamou.
Seus olhos arregalados me fizeram engolir as ofensas seguintes, então eu apenas encarei-a com toda a raiva que estava borbulhando em meu corpo.
Quem era ela para fazer aquilo comigo?
Era eu quem magoava as pessoas. Nunca ao contrário.
— Agora você está me ouvindo, é? — questionei. — Que legal, null, parabéns. Sério mesmo.
Ela passou a mão pelo rosto e eu sabia, pela forma com que ela estava puxando o ar, que tentava manter a calma diante das minhas provocações; estava no limite da calma e da paciência e eu queria fazê-la atravessar.
— Cale a boca, null — disse, apenas.
— Por que eu deveria? Você se ofende toda quando eu te chamo de puta gostosa e, veja bem, era um elogio. Mas aí você resolve agir exatamente do jeito que tem medo de ser chamada e quando eu resolvo dizer isso pra você... É simplesmente cale a boca, null? Sério, null, você é totalmente incompreensível.
Senti o fraquejar ofendido do seu olhar enquanto ela me encarava; tentou disfarçar, mas eu percebia seus trejeitos e vi claramente quando as lágrimas começaram a encher seus olhos e já respirei fundo, esperando levar um tapa ou algum fora épico.
Eu merecia. Agora sim, eu merecia.
— É mentira — murmurou, rangendo os dentes.
— Mentira? — quase ri, falando bem alto para que todos pudessem ouvir meu completo desdém. — Você não vai soltar essa agora, vai?
Ela tomou uma lufada de ar e, então, sorriu maleficamente, fazendo os pelos da minha nuca se arrepiarem de tensão.
— É mentira. Você não me comeu toda — continuava sorrindo daquele jeito debochado e convencido. — Você nunca fodeu meus peitos.
Acho que deixei o choque vir à minha expressão, eu tinha certeza de que aquilo passara pela minha cabeça uma meia centena de vezes, mas... Ela tinha razão: eu nunca fodera seus peitos, e aquilo me tirou um pouco o foco.
— Nada que a gente ainda não possa resolver, né? — ri.
Eu ri porque soava como uma piada e eu não queria que soasse. Porque, soando como uma piada e naquela situação em que nos metêramos, não tinha nenhuma chance de ser concretizado, e agora eu quase implorava que fosse.
— Você é um idiota — sussurrou. Fechou os olhos e, por um segundo, eu esperei que ela os abrisse novamente, sorrindo como fazia toda vez que me chamava assim; eu era um idiota, não tinha jeito e estivera comigo de qualquer forma. Porém, antes que ela os abrisse, lágrimas caíram de suas pálpebras e elas se abriram, para me revelar seus olhos castanhos brilhando em raiva. — Eu odeio você! — gritou, me assustando com sua intensidade imediata — Odeio você!
E virou-se de costas para mim, jogando seus cabelos com tal força que bateram em meu rosto — estavam maiores? — e saiu trotando para longe, os pés batendo com força no chão e as mãos fechadas em punho.
Eu tinha apenas deixado tudo pior, mas fingi que estava tudo bem. Estufei o peito e resolvi que era melhor pegá-la nervosa, porque era a única chance que eu tinha de fazê-la me ouvir, então corri atrás dela.
Invadi o banheiro feminino do segundo andar e algumas garotas gritaram de susto e saíram do banheiro, me xingando de todos os nomes possíveis e desnecessários — eu já tinha dormido com pelo menos metade delas.
Havia um pequeno boxe fechado e podia ver os sapatos vermelhos de null através do pequeno espaço entre a porta e o chão. Subitamente, lembrei-me de nosso jantar e nossa quase foda no restaurante — que aconteceu apenas na minha cabeça — e desejei que isso se concretizasse ali.
— Vá embora, null — ouvi.
Sem chances.
Bati na porta do boxe com um pouco mais de força que o necessário; acho que era mais correto dizer que eu soquei-a, antes de levar minhas mãos à cabeça e soltar um urro incompreensivo de frustração.
— Você...! — não sabia nem o que dizer. — Você me deixa doido, null. Que droga!
Um silêncio sepulcral se fez às minhas palavras, interrompido com um fungado de null, dentro do boxe, e pelas minhas passadas duras pelo banheiro, tentando manter a calma, a paciência e o foco.
— Vá embora, null — repetiu.
Ah, não.
Sua voz estava falhada pelo choro e eu voltei quase correndo para a porta fechada do boxe, encostando a testa nele, como se a força de vontade fosse abrir a porta e me deixar alcançá-la de qualquer modo.
null, me desculpe — sussurrei. — Eu... Você... Droga. — simplesmente não saía. Não saía! Que merda! — Por favor, vamos só conversar. Só conversar, eu juro.
Bati na porta mais algumas vezes e encostei minha testa nela, respirando pesadamente. Meu celular vibrou e eu tirei-o do bolso de trás da calça. Arregalei os olhos ao ver que era uma mensagem de null.
Foi impossível não pensar naquele outro momento em que ela estava trancada dentro do quarto e eu, na minha sala, e nós trocamos mensagens sem poder nos alcançar, criando o clima supremo que embalou a primeira vez que transamos.
Infelizmente, era uma mensagem completamente diferente.
VAI EMBORA!. Em letras garrafas.
Mandei um emoticon chorando de volta para ela e ouvi-a soltar uma risada nervosa quando recebeu.
— Desculpa, null — murmurei, contra a porta, me aproveitando do pequeno momento de calma dela para despejar minhas palavras. — Eu fiquei nervoso, você não me escuta... Eu só quero conversar, eu quero te falar uma coisa e é impor...
A porta do banheiro se abriu com um estrondo e congelei, olhando para o reitor, entrando no banheiro feminino com os olhos em brasa em minha direção.
null... Suspensão. — e isso foi tudo o que ele disse.
Certo. Como se fosse a primeira vez que eu entrava em um banheiro feminino daquela faculdade, mas, claro, eu nunca havia entrado em um dos movimentados do segundo andar e, pela primeira vez, estava sendo pego e sendo suspenso como um adolescente que mal conseguia manter o pinto dentro das calças.
Ótimo.
Bem feito foi a mensagem que brilhou na tela do celular, quando eu puxei minha calça jeans de dentro da mochila, para vesti-la depois de quase duas horas de treino desesperado, tentando arrancar toda aquela frustração do meu corpo.
E foi como se eu nem tivesse tocado no saco de areia. Senti todo aquele mar de coisas ao mesmo tempo e decidi. Para mim, já bastava.
— Oi, Suzana! — cumprimentei a garota e ela levantou o olhar em minha direção, os olhos quase arregalados.
— É Stephanie — murmurou, mordendo o lábio.
Ah, ótimo. Certo, não era exatamente a melhor maneira de se começar uma cantada, mas aquela garota me secava toda vez que eu passava por ela e teria que servir. Não era, nem de perto, tão gostosa quanto null, mas... eu precisava me aliviar e null não estava disponível, então...
— Ah, desculpe. Troquei seu nome — ri. — Não sou muito bom com isso, mas... será que eu poderia te pagar uma bebida e compensar o meu engano?
É claro que ela aceitou. E é claro que a noite terminou comigo enfiado no meio dela, no apartamento dela.
E ela roncava.
Lá estava eu, nu em pelo, nem um pouco satisfeito, revirando os olhos e sem conseguir dormir porque a demente roncava alto. Era provavelmente por isso que as colegas de apartamento dela sempre se mudavam e ela não entendia o porquê.
Burra.
Comecei a recolher minhas coisas para dar no pé no segundo em que deslumbrei o fato de que não iria dormir e, quando encostei no meu celular e desbloqueei a tela, lá estava a mensagem de null.
Bem feito? Ela iria ver o que ela bem feito.
Puxei o edredom do corpo de Stephanie levemente e deixei minha boca quase encostar em seu bico e tirei uma foto. Rapidamente, anexei na mensagem, me sentindo estufado pela vingança pura e rápida.
Está vendo? Podia ser você, se você parasse e me escutasse por um segundo só! com a imagem anexada, mandei para ela.
Terminei de me vestir e saí de fininho, mas, aparentemente, a roncadora tinha um sono de pedra e não acordaria nem se eu destruísse o apartamento inteiro.
Desci as escadas. A garota morava no quinto andar e o elevador estava quebrado. Ainda não acreditava que tinha ido até lá em cima só para uma trepadinha de nível baixo — acho que qualquer trepadinha seria de nível baixo depois de null — e atravessei a rua, destrancando o meu carro, jogando minhas coisas no banco do carona.
Meu celular vibrou naquele mesmo segundo e o desbloqueei com um sorriso satisfeito no rosto, sabendo que só poderia ser a resposta de null, mas meu sorriso se desmanchou no mesmo segundo.
Podia ser eu mesmo, se eu não fosse estúpida o suficiente para preferir caras.
E embaixo, anexado com aquelas palavras, eu podia ver a boca de null em um batom vermelho, envolvendo o bico de um seio de uma garota que tinha o braço ao redor de seu pescoço.
Eu mal conseguia respirar.

Capítulo Quarenta e Sete

Perdedor

Você não pode estar falando sério.
Sim, eu sabia; era provavelmente a coisa mais patética que poderia enviar para ela naquele momento, mas como que iria pensar de forma clara com meu pau duro feito pedra por imaginar aquela cena acontecendo na minha frente?
Fiquei cerca de dez minutos respirando meio que de cachorrinho com uma das mãos apertando o volante e a outra, o celular, clicando na tela toda hora que ele ameaçava desligar suas luzes e me impedir de continuar vendo aquilo.
Minha mente começou a viajar sem a minha autorização. Será que aquilo estava acontecendo naquele momento? Porque, se estivesse, teria que arrombar a casa dela e ok se fosse preso, porque valia à pena. Porém, achava que não e, com mais uma lufada de ar, parei de olhar a foto e comecei a realmente ver.
A garota que estava sendo chupada tinha os braços ao redor do pescoço de null e apenas a boca de null aparecia na foto. Parecia errado. Cliquei para aumentar e a foto abriu inteira; quase me odiei por ter sido tão burro e não ter visto que a mensagem cortara as beiradas de cima e de baixo da foto completa.
Agora sim, podia ver que era uma foto antiga. null parecia um bocado mais nova e tinha madeixas loiras em seu cabelo escuro, que detestei na hora em que vi. Preferia seu cabelo castanho e com aqueles cachos que ela tinha o prazer de esconder.
Outros detalhes também foram de fácil visualização: estava agarrada a uma garrafa de vodka, o que me dizia que aquilo deveria ter acontecido na época que estava com Renan, e a garota seminua tinha marcas de boca em um tom de vermelho pelos seios, colo e pescoço, o que me informava que null andara se divertindo por ali.
Céus.
E perdi o foco outra vez.
Eu posso ir aí?
Estava soando desesperado e sem jeito e, com certeza, pelo silêncio de null, ela estava rindo bastante da minha cara.
Ainda demorou certa de dez minutos até conseguir me acalmar, mesmo que já estivesse dirigindo pela cidade, de volta para casa. Passei em um fast-food e comprei um lanche para ver se esse tipo de comida me fazia relaxar, mas só conseguia pensar no quanto queria foder null, duro e forte, e como só isso iria resolver meu problema.
De volta ao carro, enfiei uma batata em cada canto da boca, deixando-as caindo sobre o lábio inferior e fiz uma careta, tirando uma foto.
Anexei para null.
Estou extinto e mesmo assim você não nem me responde? :(
E nada.
Não tive nada de null por longos dias. Parei de mandar mensagens para ela porque estava começando a ficar vergonhoso. Tentei o Facebook, um dia, mas também não me respondeu. Tentei ligar para ela e caía na caixa postal.
— Tô saindo! — anunciei.
Maureen saiu correndo de onde quer que ela estivesse, de touca e roupão, e se jogou contra a porta do apartamento de braços abertos, em uma dramatização completamente impressionante.
— Aonde você pensa que vai, null? — questionou.
Eu sabia que se resolvesse tirá-la dali, era basicamente só dar um peteleco e ela saía. Ela sabia que se resolvesse tirá-la dali, não haveria nada que pudesse fazer para me impedir, mas, mesmo assim, estava lá eu, frente a ela, de braços cruzados, dando justificativas de para onde ia como se tivesse uns doze anos e ela fosse minha babá ou qualquer coisa assim.
Comecei a pensar que, sim, era minha babá. null devia ter dito alguma coisa sobre não me deixar fazer babaquice, mesmo que, na maior parte das vezes, quem fazia a babaquice era ele.
— Vou na null resolver essa merda logo de uma vez — anunciei. — Não aguento mais isso, vou lá berrar na porta dela e pronto.
Maureen revirou os olhos e também cruzou os braços na frente do corpo, batendo o pé no chão. A imagem me deu calafrios e não sabia exatamente o porquê, mas ela parecia bem zangada.
null, sente no sofá — disse.
— Mas...
— Sente no sofá agora! — berrou.
Engoli a seco e dei de ombros, caminhando até o sofá e me sentando nele, meio displicente. Maureen foi até mim e sentou-se à minha frente na mesinha de centro, puxando as bordas do roupão para se cobrir melhor.
— Não fica brava, loira — disse — Eu só vou...
— Você não vai a lugar algum, null — ela disse, por fim. — Você tem uma corrida em umas horas e, se você sair daqui, duas coisas podem acontecer — falou com tanta propriedade e tanta voracidade que eu me encolhi no sofá — Um, você pode fazer as pazes com ela, o que é ótimo, mas nós só conseguiremos te encontrar em uns cinco dias, quando você finalmente resolver sair da cama — arregalei os olhos e levantei as sobrancelhas. Como que aquela garota me conhecia tão bem assim? — Dois, vocês vão discutir, você vai ficar puto e aí ou a gente vai te encontrar bêbado umas horas depois, ou enfiado em alguma outra mulher pra esquecer que brigou com ela. Estou errada?
Engoli a seco e neguei com a cabeça, sem encontrar uma alternativa para me tirar daquela furada.
— Mas eu...
— Você nada, null. — continuou. — Você vai ficar aí e esperar null voltar com o seu carro e nós vamos para aquela corrida e aí, depois, você pode ir atrás da null e acabar com essa palhaçada infantil que eu não estou entendendo, mas que é ridícula. Dá pra ver que vocês se gostam quilômetros de distância de vocês, mas estão os dois jogando esse joguinho babaca de quem magoa mais o outro. É impressionante!
Ela deu um tapa na perna por cima do roupão e eu estava basicamente assustado. Já havia aprendido que não se mexia com garotas nervosas quando elas tinham certeza de que estavam com a razão — e sempre estavam —, então apenas abaixei a cabeça e respirei fundo, tentando me acalmar.
Resolvi que a melhor maneira era ser totalmente sincero. Não era comum que eu fosse sincero sobre meus sentimentos ou falasse como eu me sentia para ninguém, mas já que estava nesse caminho, achei que era melhor pular de cabeça.
— Eu não vou conseguir — confessei. Maureen franziu suas sobrancelhas e voltou o olhar em minha direção, curiosa. — Não vou vencer. Não consigo nem pensar! Como é que diabos eu vou pensar em alta velocidade? Não dá! Eu não quero ir.
Sua expressão beirava ao cômico, dividida entre o riso e a pena; sabia que estava soando como uma criança mimada, então respirei fundo e entortei os lábios em uma careta quase desesperada, levando as mãos aos cabelos e colocando a cabeça entre os joelhos para ver se, assim, conseguia algum sucesso em organizar meus pensamentos.
Senti as mãos de Maureen sobre as minhas, fazendo um carinho gostoso em meu couro cabeludo, e aspirei, relaxando um pouco.
null disse que você nunca perdeu antes — sussurrou.
Levantei a cabeça e encontrei seu sorriso doce e sincero e concordei. Ela meneou a cabeça, tentando entender o que eu pensava, mas tudo o que eu fiz foi suspirar e deixei a frase que se pontuava em minha mente sair, sem a minha permissão.
— Mas eu sempre perco pra ela.
Maureen soltou uma expressão qualquer, em meio a um suspiro, e passou os braços ao redor do meu corpo, me abraçando. Deixei suas mãos gentis tentarem me acalmar, mas não conseguia. Não dava.
null chegou três horas mais tarde e Maureen garantiu que eu estivesse pronto para a corrida com um discurso de que, mesmo que não estivesse confiante, deveria enfrentar minhas batalhas de cabeça erguida, porque fugir era para as pessoas fracas, e eu não era uma delas — pessoas fracas não ganhavam abraços da Maureen.
Lá estava eu, no camarim-garagem, null me esmagando contra meus cintos, e eu só conseguia pensar que, da última vez, quem fizera isso fora null, e como sentia falta da sua graça e destreza, além de suas pernas longas e torneadas naquele vestido delicioso que usara para me provocar e distrair.
Tomei uma lufada de ar e encostei minha cabeça no encosto da poltrona, fechando os olhos e buscando sabe-se lá qual era a mágica que usava para vencer aquelas corridas.
Não achei.
— Cara, você parece mal — null me disse.
Deu um tapinha descontraído em meu ombro e, se ele não estivesse em posse da chave do meu carro, graças à namorada dele, que achava que eu poderia fugir dali a qualquer minuto, teria socado o meio do nariz pelo comentário.
— Vai à merda, sim? — disse.
Ele gargalhou como se eu estivesse de brincadeira, o que certamente não estava. Eu estava com raiva, mas não era a raiva explosiva que normalmente sentia, era uma raiva apática, como se nada fizesse sentido e estivesse correndo em círculos atrás da minha própria cauda, sem nunca conseguir alcançar.
Porque eu era um idiota e a garota por quem estava caído não me dava nem o benefício da dúvida para escutar o que tinha para dizer.
— Quanto vamos apostar hoje? — perguntou, já indo até minha mochila buscar meu cartão do banco.
Acho que o encarei por quase um minuto inteiro, enquanto ele sacudia o cartão e esperava por uma resposta minha. O que fiz foi suspirar e entortar os lábios em uma expressão de desagrado.
— Aposta no outro cara — mandei.
— É o quê?
— No outro cara — confirmei. — Faça isso, sim?
Ele continuou me encarando com aquela cara de pato que passou do ponto por mais um longo momento antes de finalmente sair do camarim e me deixar sozinho com os meus pensamentos embaralhados.
Eu sabia quando iria ganhar; era lógico que eu soubesse quando iria perder. E, se ia perder, poderia sair ganhando uma boa grana, sem problemas. As apostas sempre eram mais altas para mim — afinal, eu era invencível até o momento. Então, se soubesse perder direito, poderia dizer que tinha perdido para conseguir uma grana?
Talvez. Provavelmente, seria xingado da mesma maneira, mas era mais tranquilo, para mim, parecer calculista do que perdedor.
Tudo o que eu lembro da corrida foi sair da garagem, ver André se curvando pela janela do carona para anunciar que havia dormido com null. Tentei não me importar, mas quando dei a partida, a imagem estava presa na minha mente.
Mas e se não fosse? Tinha um desconforto terrível na minha barriga, ao mesmo tempo em que eu tentava me controlar, pensando que eu também havia dormido com alguém e fizera pior: tirei uma foto e mandei para ela.
E o pensamento me fez capotar na primeira curva...

— Ele me mandou apostar no outro cara — ouvi uma voz dizer.
— Você tá falando sério?
— Claro. E, cara, uma baba. Eu apostei três mil pra ele e quinhentos pra mim e deu quase vinte mil. — era null dizendo. Podia reconhecer.
— Vinte mil? — e era, sem dúvidas, Maureen, surpresa com nossos hábitos de aposta. — Acho que eu não preciso de um emprego. Vou apostar com vocês. Paga minha faculdade?
Ouvi a risada inconfundível de null e, então, um barulho estalado.
— Boba!
— Será que vocês pode, por favor, tentar não ficar com essa coisa melosinha na minha frente? — perguntei.
Ouvi a risada meio sem jeito dos dois e minha cabeça pareceu explodir. Levantei da cama onde tinham me enfiado e, com raiva, arranquei tudo que estava preso no meu corpo, sem me preocupar com o que era.
— Ei! — Maureen reclamou. — Volta pra aí. Você desmaiou e sua cabeça bateu no chão e está em observação.
Levantei a sobrancelha para ela e null estava sorrindo de lado, meio bobo, sem saber do que ele estava achando mais graça.
— Isso já aconteceu antes e você prometeu que eu podia ir na null depois da luta — acusei. — Quero ir. Agora.
Cada segundo parecia se arrastar como uma eternidade, preso na bosta que era aquela falta de resolução de nós dois. Era diferente: se ela me ouvisse e dissesse não, eu ia ficar na merda, mas, aos poucos, talvez conseguisse voltar a pensar direito. Mas sem me ouvir? Sem me ouvir era uma tortura.
Maureen respirou fundo e fechou os olhos. Girou no sofá em que estava sentada, virando-se para null, que ainda estava rindo, e concordou com a cabeça, aprovando o que eu dizia. Era o que ele fazia sempre e eu tinha que gratificá-lo por isso toda vez que podia: se lhe dissesse que queria, muito mesmo, pular de uma ponte, ele provavelmente me empurraria. Era engraçado, até, o quanto ele me apoiava, nas glórias e nas merdas.
Girou a chave do meu carro entre os dedos, o barulho sacolejando um pouco na minha cabeça, ao que eu suspirei.
— Certo. — Maureen disse, mas não parecia muito satisfeita consigo mesma em ser obrigada a concordar com aquilo. — Então vamos.
— Só... — levantei o dedo, pulando da cama e apertando os olhos com força, sentindo como se meu cérebro estivesse se locomovendo e gelatinando dentro da minha cabeça — Será que alguém tem alguma aspirina por aí?
Gastamos mais uns dez minutos para convencer Maureen que podia, sim, sair por aí e só tomar um remédio já ia me resolver. Ela chamou uma enfermeira, que relatou que eu estava bem, que os exames não tinham mostrado nada grave. A mulher me deu um remédio e pediu que esperássemos alguns minutos para ver se a dor de cabeça iria embora; se fosse, eu estaria livre.
Menti.
Ainda sentia pontadas de dor quando cheguei ao carro, mas até estacionarmos na frente do prédio de null, não existia nada além daquele desconforto no estômago, que parecia ser de nervoso.
— Meia hora, null. Se você não voltar em meia hora, a gente vai meter o pé. — null anunciou.
— Certo — respondi. Parecia um bom plano.
Encaramos todos o porteiro, que parecia não muito feliz em ter pego o turno da noite, e estava encarando a rua, parecendo zangado.
— Se o porteiro ligar pra ela... — null alertou.
— Eu vou lá! — Maureen anunciou.
Pulou do carro antes que eu ou null pudéssemos falar alguma coisa e puxou a blusa para baixo, deixando as bordas do sutiã aparecessem. Ri, descendo do carro, enquanto null revirava os olhos e afundava a cabeça no volante, tocando a buzina.
Ela apoiou-se contra as grades do prédio e acenou para o porteiro, que nem pestanejou em abrir a porta para ela. Entrei logo atrás dela e ela foi direto até o porteiro, fazendo a mesmíssima jogada de cabelo e enrolando mechas com os dedos que null fazia para paquerar. Devia ser o truque mais antigo do universo e nós, homens, continuávamos caindo.
Ele nem percebeu quando eu passei direito para o elevador.
Meu estômago estava em festa quando eu atravessei o corredor de null e toquei a campainha do seu apartamento. Ela gritou um já vai animado que eu engoli a seco. Estava esperando alguém? Quem?
Abriu a porta com um sorriso, segurando uma nota de cinquenta reais com os dedos, a mão levantada, distraída. Estava despenteada como se tivesse acabado de levantar da cama e usando apenas uma das minhas camisetas, roubada em algum momento durante nossas férias, com todas aquelas pernas de fora e os pés descalços no chão.
Sua expressão desmanchou ao me encontrar, parado no corredor, sem jeito e com as mãos nos bolsos.
— O que diabos houve com você? — questionou.
E, em sua voz, encontrei a preocupação que me dizia que, seja lá o que eu fosse dizer, ela iria ouvir.

Capítulo Quarenta e Oito

Confissão

— O que houve? — insistiu.
Senti sua mão em meu rosto e o polegar foi com delicadeza ao meu lábio inferior, no qual constatei uma pequena picada ligeiramente incômoda, mas não o suficiente para que ignorasse o turbilhão de sensações que seu tímido e limitado toque fazia com todo o meu corpo.
Respirei fundo e beijei a ponta do seu polegar, o que a fez soltar um riso meio nervoso, e dei um passo à frente, que a assustou e a fez voltar de forma defensiva com a mão na maçaneta, prestes a me fechar do lado de fora.
Eu não ia deixar. Não sem antes dizer alguma coisa.
null, eu sinto muito, me desculpa. Você está certa, eu sou um idiota — disse, rapidamente e ela levantou as sobrancelhas para mim, um pouco admirada. — Eu... Eu amo você. Por favor, me perdoa.
Avancei contra seus lábios e ela não fugiu ou me parou. A picada em minha boca foi ainda mais forte, mas não me importei. Beijei-a vorazmente, puxando-a pela cintura, porém sem sentir sua resposta.
Acabei por me afastar, nervoso. Qual era o problema com ela? Por que simplesmente não me beijava de volta, ou me empurrava, ou me batia? Qualquer coisa?
Encontrei-a de olhos fechados por um longo momento, mesmo após nossos lábios se afastarem, embora os narizes ainda estivessem quase colados um no outro. Ela abriu-os com cuidado, mordendo o lábio inferior, encarando-me avidamente, como se tentasse me ver por inteiro, sem conseguir me compreender.
— O que foi que você disse? — perguntou.
Ela parecia se embeber de cada nuance de expressão minha e, ao perceber a conotação de sua voz, senti meu estômago se revirar de nervoso. Era aquela voz baixa, sussurrante e desejosa, mas ao mesmo tempo parecia segredar a pergunta com seu tom.
— Me perdoa? — inquiri, mesmo sabendo que não era isso que me pedia.
Ela queria ouvir outra vez. Eu entendia o porquê. Quando ela dissera, achei que podia ouvir sem parar pelo resto da vida.
— Não, null, antes disso — quase revirou os olhos, mas sorriu de lado, tentando parecer tranquila.
Tomei uma lufada de ar e fechei os olhos. Acho que senti minhas bochechas mais quentes que o normal e engoli um montante de saliva que se acumulava em minha boca sem minha permissão, minhas mãos em sua cintura parecendo suar nervosamente.
— Eu disse que amo você — sussurrei.
Ela soltou uma expressão meio perdida e seu rosto pareceu sair do concentrado para o completamente admirado. Durou apenas um segundo, eu encarando suas nuances assombradas; ela passou os braços pelo meu pescoço e deu um pulo, empurrando seu corpo contra o meu, envolvendo suas pernas em minha cintura.
Soltamos ambos gemidos desesperados e nervosos, mas nossas bocas se grudaram com volúpia logo em seguida, calando nossos barulhos primitivos em estalos e línguas se tocando. Senti pontadas ainda mais intensas em minha boca, mas como poderia me importar? Já era complicado o suficiente manter null sustentada no ar quando queria fazer tantas coisas ao mesmo tempo para compensar a semana perdida sem ela.
Com minhas mãos em sua coxa, escorreguei-as com cuidado um pouco para cima, tentando explorá-la sem derrubá-la e quase explodi ao não encontrar nenhum tecido lhe cobrindo o sexo.
Soltei-lhe a boca apenas para gemer, porém, acabou saindo uma pergunta dela, quase que sem o meu consentimento:
— Era isso que você queria ouvir, null? O tempo todo?
Ela tinha procurado o primeiro pedaço de pele meu para beijar quando me afastei e, ao ouvir minhas perguntas sussurradas, gemeu contra o meu queixo, fazendo meu corpo inteiro estremecer deliciosamente.
Suas unhas estavam em minhas costas, meio desesperadas, procurando todo e qualquer pedaço de pele disponível pelas bordas da camiseta, arranhando por cima dela mesmo, como se perder tempo com buscas não fosse exatamente eficiente no momento urgente em que nos encontrávamos.
— Sim — disse, caçando seus lábios com os meus. — Por Deus, é mais do que eu queria, null.
A sua adoração era tão palpável que dava para sentir no ar, então apenas engoli tudo o que minha boca poderia continuar dizendo sem a minha autorização e encaixei-a na dela, desesperado para ter mais.
Com uma fresta aberta nos olhos, procurei por uma superfície que me fizesse liberar as mãos e, em passos pequenos e desajeitados, caminhei até o sofá, deixando-a sentada sobre o braço do mesmo, e liberando minhas mãos para subirem um pouco mais, onde sua bunda desnuda e provocativa estava praticamente implorando pelo meu toque.
Senti-a arfar mais alto e mais desesperadamente ao sentir que eu começava a explorar seu corpo. Nossas bocas acabaram se afastando, o clima não estava muito propício para nos concentramos em manter nossas línguas roçando uma na outra quando outras coisas interessantes podiam ser feitas e assistidas.
Ela jogou a cabeça para trás ao sentir que eu levantara sua camiseta e minhas mãos estavam traçando um caminho lento até sua virilha enquanto ela gemia, implorando por mais, que fosse mais rápido, ao mesmo tempo que me xingava por ser lerdo demais, apertando as unhas em minha nuca e arrepiando os pelos da região.
Ri e levei meus lábios até o seu pescoço exposto e apetitoso, deixando minhas mãos voltarem lentamente para a sua cintura e continuarem indo e vindo apenas por provocar, apenas para destruir com a sanidade dela, como ela havia feito comigo durante aquela semana infernal inteira.
Ela suspirou e pareceu um pouco aérea às minhas caricias e só senti-a estremecer quando mordisquei sua orelha.
— O que foi? — questionei, nervoso.
E se ela estivesse desistindo? E se quisesse discutir seja lá o que fosse bem naquele momento, quando meu pau já estava duro e implorando para fodê-la de forma pesada e por um longo tempo? Suspirei, implorando que não.
— A porta — sussurrou, a voz falhando de desejo, que me fez buscar seus lábios mais uma vez, ignorando suas palavras.
Continuei beijando-a, mas ela mordiscou meu lábio inferior, bem no lugar onde doía mais, e parecia ser de propósito; suas mãos estavam na minha barriga, empurrando-me para longe e me fazendo desencaixar do meio de suas pernas.
— É sério? — perguntei.
Ela riu, mordendo seu próprio lábio e concordou com a cabeça. Grunhi e virei-me de costas, indo fechar a porcaria da porta que, no nosso desespero, tinha feito a sacanagem de ficar escancarada.
Bati-a com raiva, fazendo o barulho estourar por todo o apartamento, e girei a chave que estava na porta só para garantir que permaneceria assim e não nos atrapalharia de novo, mas quando virei-me para o sofá, não encontrei null.
Parei por um longo momento, encarando o braço do sofá, onde eu havia deixado null, me perguntando se não havia sido uma miragem provocada pela minha cabeça magoada do acidente. Aí ouvi seu assobio.
E lá estava ela, de pé, na porta, onde sabia que era o seu quarto, e foi abrindo os botões da minha camiseta que usava lentamente, como se desembrulhasse um presente e tivesse medo de rasgar o papel.
E que presente ela era!
Corri em sua direção, ela soltou um grito assustado e a segui, às gargalhadas. Agarrei-a pela cintura, atravessando o seu quarto e joguei-a sobre sua cama, pulando em cima dela, ouvindo o móvel gemer.
Nos encaramos por um momento, quase esperando que fosse desabar, enquanto balançava para frente e para trás e rimos quando se estabilizou, sem nenhum problema maior além seus barulhos irritantes.
— Acho que alguém precisa comprar uma cama nova... — murmurei, contra a sua boca. — E uma maior, de preferência.
Ela riu e senti suas mãos traçarem o caminho pelo meu peito, enquanto encarava minha camisa, parecendo aérea. Procurei sua boca mais uma vez em um selinho estalado e meio exigente, tentando levá-la de volta ao humor que eu queria, mas apenas sorriu de lado, encarando-me de forma ávida.
— Diz outra vez? — sussurrou.
Droga.
Lá estava aquele reboliço no meu estômago e o nervoso, como se eu nunca lhe tivesse dito e eu não soubesse que sua recepção à informação tinha sido a melhor possível. Era tudo de novo, o nervoso na barriga, as mãos soando, minhas bochechas queimando como se estivessem em brasa pura...
Senti as mãos de null em meu rosto, acariciando minhas bochechas de forma doce, com um sorriso leve e compreensivo nos lábios. Respirei fundo e quase viajei para longe: tudo naquele lugar estava impregnado com o seu cheiro delicioso e a matriz estava bem ali, ao meu alcance.
— Você tem vergonha de me dizer? — perguntou, passando os polegares por ambas as minhas bochechas, não me deixando mentir.
— Eu não gosto muito de falar sobre... — interrompi minha frase e trinquei a mandíbula, nervoso.
null riu e beijou-me os lábios castamente, suas mãos escorregando do meu rosto para os meus ombros, enquanto me avaliava.
— Sentimentos? — completou em forma de pergunta, ao que concordei com a cabeça. Suspirou à minha resposta, mas não cedeu. — Só mais uma vez. Por favor. Eu ainda acho que não consigo acreditar.
Abri os olhos e encarei-a, quase segurando a respiração para me ouvir outra vez, e como que eu conseguiria negar qualquer coisa para aquela mulher? E ainda mais, como negar quando ela estava semivestida daquela maneira, mordendo os lábios de forma sexy?
Acabei por sorrir. Levei cada mão para um lado de seu rosto e a mantive tão próxima de mim que o gosto de seus lábios parecia alcançar os meus, mesmo que não estivessem se encostando.
null Sousa Lourazza — ela levantou as sobrancelhas, quase que surpresa por eu ter conhecimento do seu nome todo e, então, sorriu de forma linda. — Eu amo você.
Ela suspirou, parecendo aliviada, e riu, fechando os olhos, seu sorriso maravilhoso dominando-lhe a face. Levou os lábios aos meus, duas, três vezes, e começou a sussurrar em meio aos beijos.
null, você é um idiota, mas que droga! Eu amo você, seu bobo!
Ri feito o bobo que me chamara e beijei-lhe a boca, puxando seu corpo para o meu com urgência, enfiando minha mão por dentro da camisa semiaberta e apertando-lhe a carne com força, desejando cada milímetro de seu corpo para ser meu.
Empurrei-a com cuidado e escorreguei para baixo, abocanhando-lhe um dos seios, o que a fez arquear as costas e puxar um montante de ar com força, exigindo que mais de seus pulmões do que seus gemidos podiam gastar.
Olhei para ela enquanto descia meus beijos pelo seu busto e barriga, mas ela não estava prestando nem um pouco de atenção. Estava se remexendo, os olhos apertados e uma das mãos estava entranhada em seu cabelo enquanto a outra apertava-me o pulso com força, como se aquele contato lhe desse o que ela precisava para não desmaiar naquele segundo.
Meus lábios chegaram à frente da virilha, mesmo que para isso tivesse que puxar as extremidades da camiseta e estourasse um ou dois botões com a brincadeira: não importava. null agora estava incontrolável, abrira as pernas mesmo sem o meu comando, implorando que eu continuasse e ri, roçando meu queixo pelos seus pelos ralos, escorregando meu rosto cada vez mais para baixo...
O gemido que soltou quando minha língua escorregou pelo meio de seus grandes lábios não me deixava dúvida: os vizinhos estavam ouvindo. Ri contra ela, meus pelos se arrepiando com sua recepção calorosa, sentindo sua umidade e excitação em minha boca.
Não me contive, meu indicador já estava em sua entrada, apenas colocando a capa do dedo para dentro e de volta para fora, só provocando-a, só fazendo-a gritar ainda mais alto para que todos soubessem o que estava acontecendo e nos invejassem.
Continuei beijando-lhe a virilha enquanto implicava com ela aos limites. Gemia e se remexia deliciosamente, até que se irritou e grunhiu, sentando-se abruptamente, puxando-me pela camisa para seus lábios enquanto suas mãos nervosas capturavam vorazmente minha ereção, por cima da calça.
Parei, desta vez era eu o embasbacado e ela que riu de minha expressão, conhecendo tudo o que me excitava, porque era basicamente tudo que fazia. Seus lábios procuraram minha boca castamente e meu dedo, ainda posicionado em sua entrada, escorregou provocantemente para dentro, arrancando-lhe um gemidinho.
A campainha tocou bem naquele momento.
— Está esperando alguém? — perguntei, o eco da memória, assim que eu a vi, se repetindo ao ouvir o barulho.
Ela riu e mesmo que soasse nervosa, parecia que nunca tinha escutado uma piada tão engraçada na vida.
— É pizza — disse.
Murmurei qualquer coisa em resposta e voltei a grudar meus lábios nos dela, o dedo voltando a brincar dentro e fora dela, ao que ela gemeu, encerrando o beijo, mordendo o lábio inferior e apertando os olhos. Suspirou, segurando o meu pulso e eu reclamei, já sabendo o que estava por vir.
— Vá pegar pra mim? — pediu. — Depois a gente continua.
Mordi seu lábio pela provocação em forma de promessa e ela sorriu ao me ver suspirar e levantar da cama, que rangeu novamente e eu ri, vendo-a se assustar e pular de pé.
Quase a agarrei outra vez, mas a campainha se repetiu e caminhei até a porta, encontrando a nota de cinquenta que ela estivera segurando abandonada no chão do apartamento.
O entregador pareceu perceber que eu estava com pressa e fez tudo rapidinho, um pouco assustado e nervoso. Tranquei a porta novamente e deixei a pizza sobre a mesa de jantar, encontrando null parada, encostada no batente da porta do quarto, escorregando um pouco para fora, agora que vira que o entregador já se fora.
Deliciosa e nua, o desespero me fez correr para alcançá-la pela segunda vez naquela noite. Ela riu ao ver que me aproximava, mas o riso se perdeu em um gemido à investida certeira de minha mão em seu sexo, enfiando dois dedos dentro dela de uma vez.
Senti suas mãos se apertando em meu ombro, buscando apoio enquanto sua boca nem se fechava, devido à sequência de gemidos que saiam dela em reação às minhas carícias intensas.
— Diz pra mim — exigi, mesmo que eu soubesse que era possível não ter resposta alguma. — Meu nome. Diz.
null — sussurrou daquela forma cativante que fazia, quebrando o nome ao meio por sua respiração entrecortada.
— Diz quem te deixa maluca de tesão — exigi mais uma vez.
Suas mãos escorregaram dos meus ombros para minha nuca e as unhas se fincaram em minha pele, mostrando seu desespero.
— Você — murmurou.
Mordeu o lábio com o rosto quase grudado ao meu e jogou a cabeça para trás, envolvida nos meus carinhos. Ri contra a pele do seu pescoço e subi meus beijos pelo seu queixo até seus lábios, o inferior ainda preso nos dentes como se ela estivesse tentando se conter.
— Vai gozar, é? — perguntei, e embora estivesse claro para ambos, ela ainda se dignou a concordar com a cabeça. — Goza, sim. Goza pra mim, bebê. — minha boca foi até sua orelha e senti suas unhas fincarem ainda mais fundo em minha pele — Deixa eu ver se é tão gostoso quanto eu lembro.
E foi quase instantâneo. Senti seu líquido em minhas mãos e apertei minha ereção contra sua coxa, desesperado no meu próprio alivio, agora que o dela já chegara.
— Quero sua bunda — anunciei, virando-a de frente para o batente da porta.
Ela ainda não estava cem por cento recuperada de seu orgasmo, mas senti-a rir meio molenga, enquanto abria minha calça jeans e a empurrava para baixo, junto com a cueca, um pouco mais desesperado que o normal.
Quem eu estava enganando? Eu estava sempre desesperado.
— Sério? — perguntou.
Meu pau já estava se encaixando nela e escorregou em seu líquido, para a entrada de sua vagina. A cabeça se acomodou, com saudades, e ela pulou de susto, ainda sensível pelo gozo recente.
— Isso é culpa sua — murmurei. Minhas mãos posicionaram em sua bunda, apertando ambas as bandas com propriedade. — Eu não consigo dormir direito desde que você ficou se esfregando em mim naquele ônibus.
Ela riu, mas seu riso se cessou assim que eu me enfiei dentro dela. Reclamou um pouco por falta de lubrificação, no entanto acabou se perdendo em gemidinhos baixos e desconexos, aos meus desesperados e urgentes.
Não demorou nem um pouco, excitado e sedento como eu estava. Fiquei até um pouco envergonhado por ter acabado tão rápido, mas nada que a tenha incomodado e suspeito que ela talvez nem tivesse reparado. Escorreguei-me para fora dela e ela me deu um beijo e sumiu para o banheiro, dizendo que ia se limpar.
Ri e senti meu estômago roncar ao meu nariz identificar o cheiro da pizza em meio ao tanto de null que estava ali. Peguei a caixa de pizza e sentei-me com ela no sofá, ligando a televisão.
— Isso aqui é muito pouco — resmunguei, assim que ela saiu do banheiro.
Sentou-se ao meu lado, ainda completamente nua, cruzando as pernas como se aquilo lhe fosse totalmente natural. Apenas sorri de lado, bastante distraído pela visão.
— Eu pedi só pra mim, seu bobo. — beijou-me os lábios, puxando o pedaço que estava em minha mão para si.
— Bom, quando eu me mudar para cá, você vai ter que pedir uma bem maior. — pensei alto demais.
— O que... O que foi que você disse? — ela se engasgou com um pedaço de pizza, mas continuou a pergunta mesmo assim.
Expliquei-lhe com calma enquanto comíamos, todo o lance sobre null e Maureen e sobre eu estar precisando de um lugar para morar, já que pretendia deixar os dois com a privacidade deles.
— Eu não sei, null — murmurou. Ainda insisti um monte, dizendo que não era nada que não tivéssemos feito, já que estávamos no meu quarto, na fazenda. — Posso pensar? — perguntou, por fim.
Acabei concordando porque pensar era certamente melhor que não. Ela sorriu e me deu um beijo na boca, tomando um gole da Pepsi, que buscara na geladeira enquanto eu lhe explicava sobre o meu problema, logo em seguida.
Levantou o dedo no ar como se estivesse pensando em algo totalmente crucial e toda a minha atenção se voltou a ela.
— Sabe uma coisa que eu tenho e você não? — perguntou. Neguei com a cabeça, embora pudesse listar uma centena de coisas, começando com boceta, seios e gemidos deliciosos. — Uma banheira.
Minha mente voltou para o momento em que ela contara sua vontade de transar em uma banheira e eu senti meu sorriso se alargando no rosto, na mesma medida que o dela.
A pizza, a fome e o refrigerante ficaram completamente desimportantes depois disso.

Capítulo Quarenta e Nove

Namorada

Minha namorada.
Foi assim que null me apresentou para todo mundo que ele conhecia quando voltou à faculdade. Tinha suspeitas de que ele repetiu as palavras até para quem ele nunca tinha trocado mais do que um bom dia.
Essa é null, minha namorada.
E toda vez que ele dizia isso, eu apertava sua mão com as minhas e me encolhia, um pouco temerosa. Ele passava o braço ao meu redor e sorria confiante, sabendo qual era o meu problema, então tentava relaxar, porque null parecia me conhecer bem demais para o meu próprio bem.
— Você conhece muitas pessoas — reclamei baixinho, quando, em mais um intervalo, ele me apresentou para mais uns três conhecidos.
— E você precisa relaxar — murmurou, capturando meus lábios. — Você acha mesmo que alguém vai tentar fazer qualquer coisa com a minha namorada?
A pergunta ecoou no ar e eu encarei-o para reparar que estava levantando uma das sobrancelhas em um deboche disfarçado. Soquei-o na altura do peito e ele gargalhou, passando os braços pela cintura e enganchando o rosto em meu pescoço, fazendo com que eu sentisse aqueles deliciosos, e agora constantes, arrepios que me causava.
Nossos lábios tocaram-se brevemente e meu celular começou a apitar de forma irritante. Ri e ele suspirou, se afastando.
— Aula? — perguntou, ao que concordei com a cabeça. Suspirou e revirou os olhos. Uma semana e ele ainda estava tentando se acostumar que não perdia aulas e não chegava atrasada também — Te vejo no almoço, então?
Confirmei com a cabeça e null, não se contentando, empurrou-me de forma leve contra a parede do corredor. Senti seus dedos ao lado do meu quadril, as unhas e o topo dos dedos fincados em minha coxa daquela forma que ele fazia só para provocar, só para me deixar saber o que ele tinha em mente.
null... — ralhei com ele.
Ignorou-me como quase sempre fazia e beijou-me a boca com luxúria e, pelo tempo em que me beijou, esqueci que só tinha cinco minutos para chegar à sala.
— É hoje que eu vou poder te comer, é? — perguntou, escorregando os lábios para o meu pescoço e deixando os dentes arranharem minha pele ao se aproximarem da minha orelha.
Suspirei, sem poder conter os arrepios que caminhavam pelo meu corpo inteiro à sua pergunta sussurrada, disfarçada de pedido e, ao mesmo tempo, de promessa.
Aquela tinha sido uma das minhas ideias mais complicadas, geniosas e completamente inteligentes, tinha que confessar. Dissera a null que não nos veríamos fora dos horários da faculdade e da academia durante a semana porque precisava estudar. Aquilo criara uma atmosfera perturbadoramente quente entre nós dois.
E deixara null bastante nervoso e ansioso para o fim de semana.
— Eu não sei... — sussurrei de volta — Hoje ainda é sexta.
— Fala sério, null, vai dizer que... — ia insistir, mas meu celular começou a tocar outra vez e ele suspirou. — Depois conversamos.
Dei um beijinho em seus lábios e escorreguei do seu abraço para sair correndo até o outro lado do prédio e três andares acima, onde teria aula. Na pressa, acabei não seguindo os habituais caminhos afastados e isso me fez topar com quem não queria, de quem eu estava me esgueirando e fugindo a semana inteira.
null! — ele gritou.
Abaixei a cabeça e apertei o passo, tentando passar pelo corredor, que estava fingindo que não o via, mas não consegui. Ele me agarrou pelo braço e me parou, e tudo o que eu fiz foi arriscar um sorriso amarelo.
— O-oi — arrastei a sentença, tentando parecer menos culpada do que estava.
Estava evitando-o desde que eu bebera demais, há quase duas semanas, e ele se aproveitara para me agarrar e me beijar. E eu acabei deixando, porque sabia que isso iria emputecer null aos limites.
Ele me ligava ao menos duas vezes por dia, mandava mensagens e tinha ignorado todas com vigor. E nada de ele desistir.
Eu só desejava que null passasse despreocupadamente por ali naquele segundo e me salvasse dessa, mas sabia que ele não tinha aula naquele andar no dia, então respirei fundo e comecei a listar mentalmente todas as coisas que podiam me safar de null.
Minha aula ia começar e eu não estava nem perto da minha sala.
— Então... — começou. — Você não me atende, não fala mais comigo e fica andando pra baixo e pra cima com esse idiota.
— Esse idiota é meu namorado — arranhei a voz e ele levantou uma sobrancelha. — E ele pode ser um idiota, sim, mas, ao contrário de você, ele se importa.
— Se importa? — riu. — Eu sou a única pessoa aqui que falava com você antes dele aparecer, e ele é quem se importa?
Eu queria dizer que ele não fazia ideia, mas a intimidade que eu tinha com null era especial demais para ser dividida com null. Não seria, decidi, por fim.
null... Você me deixou sozinha, me ignorou por todas as férias, aí resolveu aparecer pro meu aniversário esse ano e, não minta, só porque eu estava com outro cara. Então você ficou revoltado porque a gente estava se divertindo, aí você me bateu, eu torci o pulso e, sabe, o cara que você tá criticando fez de tudo pra melhorar meu aniversário: ele me deu um cavalo, organizou uma festa e tenho certeza de que ele só descobriu que era meu aniversário de manhã, porque eu não disse. Aí, eu chego na faculdade, encho a cara, você me agarra e, não pense que eu não lembro, você estava tentando me arrastar pra qualquer lugar onde eu pudesse ficar sozinha com você. Isso aconteceu comigo e com o null antes da gente ficar junto e sabe o que ele fez? Me deu um banho e me colocou pra dormir. Então, sim, null, ele é quem se importa. E você é um bosta e está me fazendo chegar atrasada na minha aula. Então tchau.
Saí correndo o mais rápido que pude e consegui entrar na sala alguns segundos antes do professor.

— Então, você vai correr nessa sexta? — questionei, sentando à mesa, onde null me aguardava, sozinho.
O final de semana havia se passado, estávamos na nossa segunda semana juntos na faculdade e eu já estava irritada outra vez; tinha odiado ter descoberto que ele ia correr por uma das garotas que ele me apresentara, enquanto retocava minha maquiagem no banheiro. E ela tinha me deixado bastante desconfortável sobre ela já saber e eu não.
Desgraçada. Tinha certeza de que ele já tinha dormido com ela.
— Parece que sim — deu de ombros. — null está tentando. Ele quer que eu fique o mínimo de tempo possível como um... perdedor.
null fez uma careta engraçada quando disse a palavra e eu podia ver que lhe era difícil repetir. Acabei segurando o meu sorriso para que não achasse que eu estava debochando, embora tivesse achado engraçado.
Acabei deixando minha raiva por ter sido a última a saber de lado, visto que ele nem ainda tinha certeza de que iria correr. Era apenas um boato.
— Me desculpe por isso — disse. Escorreguei minha mão por cima da mesa e a enlacei com a dele, que sorriu de forma leve para mim. — Falando em null, onde ele está?
null apontou mais para frente, nas árvores, onde dava para ver null falando no celular e movimentando as mãos como se argumentasse com a própria sombra, parecendo bastante nervoso.
— Discutindo com a loira de novo — respondeu — Não aguento mais esses dois. Quando eu posso me mudar pra sua casa mesmo?
Respirei fundo e contei até dez antes de lhe responder. null vinha insistindo e empurrando a ideia minha goela abaixo quase todos os dias e não estava gostando muito, não.
Tinha suas vantagens, é claro. Ele listara todas elas: sexo livre, carona para a faculdade (mesmo que essa parte já tivesse), despesas divididas... Mas tinham muitas desvantagens também. Eu estaria perdendo meu espaço, teria menos concentração para estudar com ele dominando tudo ao redor... E se nós brigássemos, o que iríamos fazer? Dividir o apartamento no meio e montar trincheiras?
— Sabia que é muito difícil namorar com você? — mudei de assunto, mas isso pareceu apenas diverti-lo.
— É? — questionou, para me fazer continuar falando.
— Tem uma quantidade exorbitante de garotas que só está esperando eu tropeçar para me passar a perna. Tenho certeza de que algumas delas acreditam piamente que você está disponível para namorar qualquer uma só porque está namorando comigo e se me tirarem da jogada, elas podem simplesmente assumir o lugar.
null jogou a cabeça para trás, gargalhando. Senti minha cadeira se arrastando pelo chão e, então, eu estava ao seu lado, com seu braço ao meu redor. Suspirei, levemente.
— Não é muito diferente com você, não — murmurou, na minha orelha, me causando os normais arrepios. — Tem um monte de caras que nem conseguem tirar os olhos de você quando você passa. Se eu piscar, eu perco.
— É? — foi a única coisa que eu consegui argumentar, no momento. Respirei fundo e continuei — Mas na primeira coisa que acontecer, você vai dormir com umas três garotas e tudo bem, não é?
Ele apertou os olhos e sua mão escorregou do meu ombro, me dando espaço, porque ele sabia que era melhor.
— Você ainda está nisso, né? — pontuou. — Foi só uma e foi horrível. Ela roncava.
Não pude evitar o riso e isso pareceu relaxá-lo o suficiente para voltar com a mão ao meu redor, desta vez, sobre minha coxa.
— Mas eu me sinto mal com isso, droga — resmunguei. — Acho que me sentiria melhor se eu tivesse dormido com alguém também.
— E eu me sentiria pior — reclamou. Lá estavam seus lábios na minha orelha novamente, me provocando — Só de pensar em outro cara se divertindo com as minhas curvas todas... Me deixa maluco.
Estapeei a perna dele por reflexo: por que achava que podia me excitar sempre que a gente estava tendo uma discussão que eu classificava como séria? Isso não se fazia; e me odiava por não conseguir me controlar.
— Você é um idiota — disse. — E eu odeio você.
Ele estava rindo o suficiente para me ofender.
— Você me ama.
Tive que rir também.

— Obrigada por ter vindo me buscar — sorri, entrando no carro.
null tinha me ligado umas cinco vezes na última hora. Eu estava esperando um maldito ônibus para me levar ao fim do mundo onde aconteceria o racha naquela noite e nada passara — mas quem se desesperara com essa informação fora null; esperou por uma resposta minha sobre o meu meio de transporte por meia hora. Visto que nada acontecera, ele decidiu por bem ir me buscar.
null nunca vai entrar naquele corrida sem você — resmungou — Ele está nervoso feito o inferno.
Coloquei o cinto se segurança enquanto ele dava a partida no carro e o colocava em uma velocidade repreensível. Ainda faltava certa de meia hora até a corrida de null e não estávamos muito longe, mas null parecia completamente desesperado para chegarmos logo.
— Você disse que ele nunca fica nervoso pra correr — retruquei, um pouco de saco cheio de null sendo grosso comigo o tempo todo.
Ele riu, batucando de leve no volante com os dedos. Acabou concordando com a cabeça, por fim.
— É, mas ele está — virou-se para mim por apenas um segundo, com um sorriso de leve no rosto — Ele luta pelo prêmio, null. E o que ele queria, ele já tem.
Senti minhas bochechas ganharem cor e todo o nervosismo que existia se entranhou em mim, ao passo que eu compreendia o porquê do null estava agindo esquisito comigo — e eu achava que era por causa das fotos que ele tinha tirado de mim e null durante o verão.
— Como assim? — questionei.
null suspirou como se lhe cansasse explicar todas as etapas de um problema quando o que importava era que era apenas um problema sem solução.
— Ele vence porque ele quer o prêmio — repetiu. — Pode ser pelo dinheiro ou por uma garota que ele quer impressionar... — suspirou mais uma vez — Visto que ele ganhou uma baba com as duas últimas corridas e a única garota que quer impressionar é você, ele anda meio desmotivado.
Corei mais um pouco, mas acabei por sorrir. A única garota que ele quer impressionar é você pareceu ecoar como música dentro de mim e, ao mesmo tempo, girou as engrenagens da minha mente para encontrar uma solução.
— Vou dar um jeito nisso — prometi.
null pareceu mais calmo assim que proferi as palavras e sorriu como se soubesse exatamente o que tinha em mente.
Assim que entrei no camarim, null abriu um sorriso para disfarçar o caos em que estava. Era quase engraçado que achasse que conseguia me esconder as coisas, mas não chegava a ser, porque eu estava deveras preocupada.
— Você tá linda — cumprimentou.
Estava sentado na mesmíssima poltrona da noite de nossa primeira aposta, meses atrás, claramente me aguardando. Sorri ao elogio e dei passos largos e decididos até ele, sentando-me ao braço do sofá sem perguntar nada, ao que ele sorriu à lembrança.
Suas mãos foram ambas às minhas coxas devidamente expostas pela saia propositalmente curta que eu vestia.
— Você parece tenso — pontuei, apenas para deixá-lo saber que nem chegara perto de me enganar com sua ladainha.
Ele sorriu, ainda tentando me distrair de seus problemas, porém só pareceu ainda mais nervoso aos meus olhos. Deu dois tapinhas sobre minhas coxas para chamar a minha atenção para elas.
— Põe meus cintos pra mim? — pediu.
Minha barriga se revirou inteira em desejo ao deixar que ele me lembrasse de onde tudo aquilo tinha começado. Com um suspiro e um sorriso, concordei com a cabeça. Levantamos os dois e ele caminhou até o carro, entrando e se acomodando no acento do motorista. Afivelei os cintos, como se já tivesse feito aquilo centenas de vezes antes, tão forte minha lembrança era daquele momento.
Assim que acabei, segurei-o pelas mãos e levei meu olhar aos seus olhos, fazendo-o engolir a seco, sem entender lhufas das minhas intenções.
— Eu não namoro perdedores — disse. null arregalou os olhos para mim — Se você perder essa merda, eu vou te deixar duas semanas sem sexo pra aprender que, pra ficar comigo, tem que se esforçar.
Ele estava me encarando como se não acreditasse que estivesse dizendo aquelas palavras diretas. Sorriu e comecei a ver os traços da sua confiança retornando aos poucos à sua expressão.
— É uma aposta? — murmurou, quase como se não acreditasse. Concordei com a cabeça. — E se eu ganhar?
Mordi o lábio porque não pensara no outro lado. Acabei soltando a primeira coisa que me passou pela cabeça, antes que pudesse me arrepender:
— Você vai ser bem-vindo no meu apartamento.
Levantei-me sem dizer mais nada, ouvindo a batida na porta e um berro de dois minutos do outro lado. null alcançou minha boca, mesmo que eu já estivesse tentando fugir, e sua mão me pegou pela cintura, tentando me fazer sentar em seu colo.
— Vença pra mim, sim? — pedi-lhe, quando se afastou.
E lá estava, em seus olhos brilhantes, a confiança e a certeza pela qual eu havia me apaixonado.

Capítulo Cinquenta

Imperfeito

null e eu...
Acho que não havia expressão melhor para simplificar nós dois que explosão.
Talvez altos e baixos se encaixassem de alguma forma. Talvez não.
Mas havia uma coisa que nós não podíamos negar: apesar de tudo o que passamos, nós fomos felizes um com o outro.
Acho que por nós sermos meio irresponsáveis juntos, as coisas tinham o costume de acontecer fora de hora. Foi assim que nos casamos, cerca de um ano depois da minha formatura, porque eu estava grávida.
null estava tentando ser um corredor profissional em qualquer categoria que lhe dessem uma oportunidade, ao desgosto do meu sogro, que só aceitou a situação porque me ofereci para cuidar da fazenda por todo o tempo que null precisasse para realizar seu sonho. Isso significou um bom tempo separados. Ele ia me ver quando tinha um tempo entre as corridas e os treinos e eu ia vê-lo quando meu sogro entendia que meu mau-humor nada tinha a ver com o meu ciclo menstrual — era mais sobre a falta que null me fazia — e me oferecia uns dias em São Paulo, que eram ainda melhores quando minha prima e o namorado se juntavam a nós em seus raros momentos juntos, tentando resolver algo que não havia dado certo e ainda em um relacionamento à distância.
Infelizmente, a vida não era tão fácil e nem todos os sonhos se realizavam. null fora enxotado um pouco depois de seis meses treinando, por seu temperamento difícil. Bem naquela semana, eu tinha trocado o meu anticoncepcional e, enquanto ele estava no avião, me lembro de ter mandado uma mensagem sobre nós precisarmos usar camisinha.
Ele viu? Sim, ele viu. Se importou? Claro que não.
Dois meses depois, lá estava eu com um exame de sangue acusando que estava grávida e extremamente irritada com ele por ter ignorado o meu pedido. Ele me acusou de ter culpa também — poderia tê-lo parado na hora, pedido pela camisinha, mas quem disse que sequer me recordava dela?
Três meses depois, estávamos nos casando. Estava com cinco meses, uma barriga ainda um pouco discreta. Foi no verão, bem próximo do nosso aniversário de três anos de namoro. Não podia dizer que não foi na hora certa ou no tempo correto, mas aquela gravidez... complicava.
Não que não amássemos o bebê que crescia na minha barriga, não que ela fosse indesejada, mas nós não estávamos exatamente prontos para sermos pais.
Porém, quando Tatianna nasceu, ela me trouxe meu pai de volta. Ele passou a me ligar quase todos os dias e se manter disposto a me ajudar com todas as minhas dúvidas, que eram muitas e, às vezes, bem idiotas. null assumiu a fazenda, a contragosto. Um ano depois, o pai dele faleceu. Foi um baque forte no null e o que ele ainda não tinha amadurecido desde o nascimento Tati, amadureceu ali. Ainda era o meu safado, implicante e convencido marido, mas agora parecia ter uma áurea ao redor dele, que fazia com que as pessoas o admirassem e o seguissem.
Ele era um bom pai, o meu null. Melhor do que meu pai foi para mim. Tati o idolatrava absurdamente, o que me deixava com uma pitada de inveja, às vezes. A primeira palavra dela foi papai, o que, era óbvio, havia sido apostado e eu perdi. Ela aprendeu a andar apenas para seguir o pai para cima e para baixo na fazenda — era gostoso de ver. Mas eu ainda sentia pontadinhas de inveja.
Marianna veio quando Tati estava para fazer sete. Nós estávamos prontos dessa vez. Nós, eu e null. Tati foi um caso completamente a parte e demorou quase três anos para ela aceitar a irmã completamente. E só a aceitou quando Anna Júlia nasceu.
— Chega — disse a null, três dias depois de Júlia nascer. Ainda estava esgotada pelas dezoito horas de parto e ainda mais pelas duas noites mal dormidas, amamentando — Se você se atrever a colocar outra criança na minha barriga, eu corto o seu pau fora.
Ele gargalhou e me depositou um beijo no canto dos lábios, se levantando para buscar Ju para mamar.
null fez uma vasectomia naquela mesma semana. Sem me falar nada. Eu achei que foi uma coisa doce — e ele não era muito de fazer coisas doces.
Tivemos um longo período de tranquilidade enquanto nossas filhas cresciam e viravam moças inteligentes e de personalidades tão diversas que eu mal podia acreditar que eram irmãs, tirando pelo falecimento do meu pai, logo após o aniversário de quinze anos de Tati, e tirando uma traição de null, justo em um momento ruim de nosso casamento, nada de desesperador ou preocupador aconteceu. E pelo que sentia por ele e por nossas filhas, acabei perdoando.
Até mesmo porque fiz questão de me vingar dele muito bem. Apenas poupando os detalhes.
Ele entrou na crise da meia idade aos quarenta e seis. Falava de voltar a correr, falava de sair para beber, falava de tentarmos novas posições e lugares muito maneiros que ele gostaria de provar.
— Suas costas não me aguentam mais — brincava, só para deixá-lo irritado.
Mas o problema sério começou depois nossas três filhas resolveram deixá-lo maluco ao mesmo tempo.
Tatianna não morava mais conosco há alguns anos. Ela se mudara para São Paulo, junto com Henrique, que estava tentando a carreira política por lá. Depois, se mudara por uns tempos para os Estados Unidos. Voltou próximo ao seu aniversário de vinte e cinco anos. Cheia de tatuagens, com alguns piercings e com uma linda morena, a qual ela chamava de meu amor.
Eu acho que eu sempre soube da preferência de Tati. Mãe sempre sabe. Ela sempre fora uma garotinha diferente, correndo atrás do pai, interessada em tudo que era classificado como do mundo masculino. Ainda na adolescência, reparara os olhares que ela lançava para uma das colegas, e meu coração se apertava em saber que não era recíproco.
Quando me contou, ainda dos Estados Unidos, não me surpreendi. Disse que queria conhecer sua namorada e me certificar de que merecia o amor da minha filha. Tati, sempre tão durona, tão parecida com o pai em tudo, chorou com a minha aceitação.
null, por outro lado...
— Isso não tá certo, não! — resmungou, em meio ao nosso jantar de comemoração das nossas bodas de prata. — Não consigo, não foi pra isso que eu coloquei aquela desgraçadinha no mundo.
— Olha lá como você chama a minha filha! — ralhei com ele, automaticamente. Eu havia arrastado-o para o nosso quarto no segundo seguinte ao que Tati apresentou a namorada, quando vi sua boca cair e sua expressão se endurecer. — Não foi você que ficou todo maluco quando nós transamos com a Manu? Qual o problema? Por que agora é errado?
Ele não soube responder. Ele nunca soube. Mas nunca aceitou, também. Tati se afastou dele e eu podia vê-la sofrendo por isso, a admiração pelo pai, sempre inflada, murchando pouco a pouco. Era uma pena. Os dois eram exatamente iguais.
Logo em seguida, Marianna achou que era o momento perfeito para anunciar que iria casar. Aos dezenove anos.
Achei que era uma atrocidade com a vida dela. Não disse em voz alta porque null iria surtar se ouvisse minha opinião, mas Mari ainda era virgem e queria casar nessas condições — o que deixei claro para ela que discordava.
— Se você não gostar, se não rolar a química entre vocês, você vai estar casada, e aí? — disse, com todas as palavras.
Ela não me ouviu, porém. E null me perguntava todos os dias se ela estava grávida. Ele odiava o namorado com todas as forças e eu o peguei assustando o coitado do garoto diversas vezes.
Tão corretos, os dois. Tão diferentes do que nós fomos e éramos. Planejando a vida inteira, passo por passo, tudo controlado, documentado e bem pensado.
Eu disse que não podia vê-la feliz no meio de tantas regras.
— Mãe, eu amo regras — confessou — E amo o Edu.
E amava mesmo. Por isso, parei de resmungar.
Mal podia contar quantos fios de cabelo brancos haviam nascido em null, mas podia resmungar sobre o quanto de cabelo ele estava perdendo apenas por tentar arrancar aos montes, toda vez que ficava maquinando a cabecinha sobre nossas filhas.
Aí, bem, é claro que foi a vez da Júlia.
Júlia era eu. Eu na minha pior e mais desprovida de escrúpulos fase. E, por Deus, rezava, sem a parte das drogas.
Ela era uma coisinha pequena, a menor das três e sem expectativas de alcançar a altura, sequer de Tatianna, que era mais baixa que a nossa filha do meio. Aos dezesseis, era exatamente como eu fora, os cabelos ondulados negros, às vezes encaracolados, apenas eram a cereja do topo. Minha menina era uma garotinha de parar um quarteirão inteiro e tinha todas as palavras certas na ponta da língua.
E ela também tinha o meu espírito de revolta e toda a minha vontade por aventura.
null a idolatrava, sem nem perceber que era apenas ele, apaixonado por mim, vendo cada partícula minha que tinha naquela garota. Além de tudo, era a caçula dele, a perfeitinha, a princesinha.
Foi um choque para ele não encontrá-la em seu quarto e, em seguida, não achar seu carro e, ao ativar o GPS, encontrá-la pagando um boquete para o garoto que ela estava ficando há duas semanas (eu sabia, claro, ele nem perto de saber).
null surtou. Pirou completamente. Não fazia coisa com coisa, não falava coisa com coisa. E, com ele, nosso casamento começou a afundar.
Marianna passava os fins de semana atrás de vestidos de noiva, Júlia foi passar uns tempos com a irmã mais velha — na tentativa falha de colocá-la para esfriar — e éramos, em boa parte do tempo, só nós dois. Mas nós estávamos discutindo muito, divergindo por causa da maneira com que estava tratando nossas filhas, superprotegendo todas elas, enquanto eu não via nada de mais em nada do que elas estavam fazendo. Ah, bom, talvez exceto a Júlia. Não que fosse contra ela experimentar, mas a falta de juízo dela me preocupava um pouco sobre outras coisas que vinham com a prática sexual.
Foi mais ou menos por aí que, ao chegar de um dia cansativo, organizando as colheitas da fazenda — já que null se dizia indisposto -, encontrei Kamille, vestindo apenas uma blusa dele, na minha cozinha, tomando um copo de leite.
Trocamos algumas injúrias e a expulsei de casa, antes de quebrar o pau com null.
Foi uma discussão feia, a pior que já tivemos. Ele não aguentou as coisas que eu estava dizendo, soltou meia dúzia de ofensas e palavrões e bateu a porta.
Mari me encontrou chorando copiosamente no chão do quarto — porque era incapaz de deitar na cama onde ele me traíra com ela.
Doce e tranquila como era, ela trocou todas as roupas de cama, me fez tomar um banho e me acarinhou até que o cansaço me dominou e eu dormi.
Acordei com o bafo de cerveja de null em cima de mim.
— Não — empurrei-o.
Ele segurou minhas mãos. Continuei negando e continuei a tentar empurrá-lo. Ele continuou a forçar, beijou meu pescoço, meu corpo traidor reagindo ao dele, mas eu continuei a rechaçá-lo.
— Mas que merda? — questionou, vendo que eu não estava disposta a ceder.
— Me solta — rangi os dentes trincados — Me solta, vai procurar a porra da sua noivinha e trepa com ela, porra!
Ele me soltou, escorregando para fora da cama e deu um soco na parede com tanta força que eu não sabia como ele não tinha quebrado a mão.
— E o que você queria que eu fizesse, caralho? — berrou. — Você só sabe gritar, falar que eu tô errado o tempo todo e nem abre a merda das pernas pra mim mais! Então eu procuro quem abra!
— Então vai!
Ele abriu e fechou a boca algumas vezes, incapaz de encontrar uma resposta que condissesse. Saiu do quarto, batendo a porta e afundei na cama, chorando.
Duas horas mais tarde, ele voltou. Eu fingi que estava dormindo, mas senti-o deitar na cama e, logo a seguir, senti seu nariz em meu pescoço, sugando todo o ar dali, respirando fundo como se buscasse calma.
Eu me mantive congelada no lugar, esperando alguma coisa, qualquer coisa. E nem sabia o quê.
De manhã, antes que ele pudesse acordar, saí de fininho. Mari estava na sala, os braços ao redor das pernas e eu sabia que ela tinha escutado boa parte do que havia acontecido. Uma olhada em mim e ela teve certeza.
— Vou estar no seu tio — disse.
— Eu vou falar com ele, mãe. — prometeu. — Vou conversar com ele. Ele tem que...
— Meu amor — interrompi. — O tempo pra conversar já passou.
Seus olhos se encheram de lágrimas, mas não discordou. Trocamos um abraço breve, mas apertado. E fui para casa do meu irmão, em Brasília.
Henrique estava seguindo exatamente os mesmos passos do nosso pai, para alegria da mãe dele. Aos trinta, ele já estava em Brasília, coisa que meu pai só conseguira aos quarenta e tantos anos de idade.
Ele me recebeu com graças, o que significava que sua mãe estava viajando novamente. Disse que eu podia ficar por quanto tempo quisesse e, no momento que eu não quisesse mais, me ajudava a arranjar um lugar só pra mim.
Também ameaçou null de várias formas. Ele o enxotou e o encarou todas as vezes que ele tentou me ver ou conversar comigo. Os dois quase saíram na porrada uma vez e, se não fosse pelo nosso vizinho, talvez tivessem ambos quebrado um ao outro.
Mas quem estava quebrada mesmo era eu.
Minha cabeça nem conseguia computar todas as coisas que eu estava sentindo. Amava null, com todas as forças do meu ser. Eu estava com raiva dele por ele ter me traído. Estava com nojo dele por ele ter me traído com ela. Eu estava deleitada por ele ainda estar lutando para me ter de volta, mesmo com todas aquelas coisas contras.
Achei que, talvez, se concentrasse minha energia em outra coisa, pudesse perdoá-lo e nós poderíamos voltar para a nossa vidinha pacata no campo.
Então, comecei a me vingar.
Transei com dois caras que ele odiava. Transei com dois de seus amigos de pelada. Transei com um funcionário dele. Transei com desconhecidos. E deixei com que todas as informações chegassem a ele da forma mais suja possível — da boca da Ju.
Que adorou participar da vingança, por sinal.
null ficou puto. Surtou totalmente. E sumiu por quase dois meses.
Ele voltou para o jantar de noivado de Mari. Cheio de olheiras, pediu por Júlia para conversar comigo. Concordei, ao final da festa, apenas porque eu conseguia ver o quão esquisito estava.
Via insegurança em cada partícula do ser dele. As mãos nos bolsos, o desconforto, o olhar baixo. Ele sabia que a situação que nos encontrávamos naquele momento era inteira e totalmente culpa dele.
— Eu sinto muito — foi tudo o que ele conseguiu me dizer, no momento em que aceitei ficar sozinha com ele. Sua voz estava embargada, os olhos cheios de lágrimas não derramadas e ele ainda abriu e fechou a boca algumas vezes, provavelmente querendo dizer mais alguma coisa do que sabia que provavelmente havia ensaiado, mas não conseguiu.
Deixei minhas mãos em seus ombros. Ele levantou o olhar, faiscando em minha direção e nós nos beijamos.
Durou apenas cinco segundos.
— Desculpe — disse. — Achei que eu podia fazer isso, mas não posso.
E fui embora com o estômago embrulhado. A raiva passara, o nojo continuava ali. E eu não sabia o que fazer com aquela dor terrível no meu peito, que me dizia que queria ter ficado, que queria estar com null naquele segundo, mas não conseguia.
— Eu não concordo — Henrique resmungou comigo, no caminho para casa, quando disse como eu me sentia. — Você é uma idiota, mana, cê sabe disso. Esse cara não merece nem uma gota do seu xixi e você tá aí toda chorosa por ele. — apertava o volante com força, como se quisesse que fosse o pescoço de null — Mas se você não quer se desfazer dele, tudo o que você precisa é tempo. Uma hora, talvez, você consiga. Eu não sei.
Concordei com a cabeça.
Tentei levar uma vida normal. Tentei seguir em frente. Nos encontramos várias vezes durante aquele ano, no casamento da Mari, nos aniversários, festas. Divórcio não foi citado por ninguém, em nenhum momento. Era como se houvesse algum acordo silencioso de que as coisas voltariam ao normal, eventualmente.
Ju passou para faculdade que null e eu cursamos quando ainda cursava o segundo ano do Ensino Médio. A escola lhe deu um diploma honorário para ela e null se mudou com ela para Jataí, deixando a fazenda comigo.
Acho que em casa foi mais fácil lembrar de todos os momentos bons e esquecer as coisas ruins. Demorou apenas dois meses para eu ligar para Ju, perguntando se eu podia ir visitá-la e conversar com o pai dela.
— Não conta pra ele, Ju, por favor — pedi, nervosa. — Eu não sei se eu tô pronta ainda, mas acho que preciso vê-lo.
A ideia era passar um final de semana com os dois e ver como me saía de volta a ter null em meu campo de visão. Então eu e minha pequena mala de rodinhas tomamos o rumo do meu antigo apartamento.
As chaves vão estar embaixo do tapete, Ju tinha me dito.
Eu sabia que o plano dela era nos deixar sozinhos um pouco. E estava nervosa por isso.
Girei a chave e entrei no meu antigo apartamento, apenas para encontrá-lo exatamente igual ao que eu havia deixado. Os móveis eram, provavelmente, novos, mas eram extremamente parecidos e estavam exatamente no mesmo local, como se fosse uma espécie de santuário meu. Ou apenas minha filha tivesse o mesmo gosto que eu, também.
E null estava exatamente no meio da sala, com seu saco de areia, socando-o, sem camisa. Prendi a respiração no mesmo instante, sentindo um gancho em minha virilha.
Eu já tinha visto aquela cena tantas vezes, no mesmo lugar e da mesma forma, mas nunca perdia o charme, nunca perdia o gosto.
Deixei minha mala ao lado da porta e, sem cerimônias, caminhei até o sofá e me sentei, cruzando as pernas, os olhos fixos nele. E ele encarou-me, por um momento, seu sorriso sacana no rosto, conhecendo cada partícula minha e todas as minhas intenções.
O cheiro dele, seu suor, impregnava o ar, informando a todos os meus hormônios para entrarem em erupção porque o meu homem, o meu null, estava ali. Com aquele sorriso irresistível.
Ele segurou o saco entre as luvas para pará-lo. Desprotegeu as mãos, sem tirar os olhos de mim e caminhou até o sofá, sentando-se ao meu lado.
Senti seu hálito quente em minha orelha e apertei os olhos, respirando fundo.
— Será que você consegue me beijar agora, huh? — questionou, rouco, mordiscando meu lóbulo.
Minha resposta foi grudar os lábios nos dele.
Transamos no sofá, aos gritos, apertos e chupões, sem nos preocupar com mais nada, além de estarmos juntos outra vez.
Ouvimos barulho de chave na porta e nos entreolhamos com a mesma expressão culpada estampada no rosto.
Corremos para o banheiro, mas era tarde demais.
— Eu não acredito! — Júlia gritou, ao que eu já estava no banheiro e null corria atrás de mim às gargalhadas.
— Fique feliz! — gritou de volta para ela.
Ele bateu a porta e nós gargalhamos. Imprensou-me contra a parede e senti seus lábios em meu pescoço, subindo lentamente para a minha orelha.
— Será que vocês podem acabar logo com isso e me deixar tomar um banho? — Júlia bateu na porta. — Eu tenho uma corrida para ir hoje, sabe?
Minha respiração ainda estava entrecortada e com um pouco de concentração, mas consegui rir. null afrouxou o aperto ao redor do meu corpo com um pouco de receio, como se eu fosse desaparecer a qualquer instante.
— Ah, a corrida — murmurou. — Eu quase esqueci.
Ri e passei os braços pelo redor do pescoço dele, o que o fez soltar um suspiro quase que aliviado, relaxando.
— Você está correndo de novo? — perguntei. — Não está um pouco velho pro circuito?
— Treinando — respondeu.
Soltei um suspiro aliviado, contente em vê-lo envolvido com as corridas, sem ter que me preocupar se ele ficaria inteiro ou não.
— Que legal! — disse, verdadeiramente.
null abriu um sorriso genuíno e pareceu relaxar ainda mais. Seus lábios foram até a minha orelha, mordiscando-a, lentamente.
— Quando a gente voltar, eu vou ter mais um pouco da minha null — murmurou, fazendo minha virilha responder automaticamente aos estímulos depois de tanto tempo.
Suspirei, tentando manter a cabeça no lugar.
— Nós ainda temos que conversar, você sabe — disse.
Ele grunhiu, mas não discordou.

— Ele é um playboyzinho metido a idiota, mais me dá trabalho tirando-a das merdas que ele faz do que tentando colocar alguma coisa naquela cabeça oca que ele tem! — null reclamou, assim que pisamos dentro de casa.
Suspirei, contendo a risada e sabendo que nossa conversa teria que ser adiada mais uma vez.
Minha culpa.
Assim que chegamos para a corrida, perguntei para null se Júlia sempre aparecia quando a competição era com os garotos que ele treinava. Ele franziu a testa e respondeu um não e eu pude vê-lo procurar um padrão, que eu já sabia.
Ela era, mesmo, igualzinha a mim.
No final da corrida, o garoto e ela tinham desaparecido. E null tinha o seu padrão.
— Como você — comparei, sem conter a língua.
O olhar irritado de null veio em minha direção, faiscante. Sorri, tranquila, acostumada em ter sua raiva voltada para mim. Deixei minha bolsa sobre a cômoda ao lado da porta e balancei a cabeça negativamente.
— Você não vê? — tentei explicar — Eu poderia encaixar você, nessa idade, nessa mesma descrição. E a Ju... Ela é como eu, não é?
Ele sentou no sofá, passando a mão pelos cabelos rareados e suspirando fundo. Eu podia vê-lo fazendo a comparação, seu cérebro pensando em alguma coisa que pudesse afastar os dois e manter sua princesinha segura do perigo que o garoto poderia lhe oferecer. Para afastar os pensamentos dele, sentei-me em seu colo, uma perna de cada lado do seu corpo, beijando-lhe os lábios.
Senti seus dedos firmes e ágeis em minha coxa logo em seguida. Apertando os lugares certos, pedindo por mais.
— É melhor que não seja não — murmurou, afastando seus lábios dos meus, me fazendo soltar um suspiro cansado por não tê-lo feito desistir do assunto. — Se forem, eu não consigo lidar com a única opção para o que eles estão fazendo.
Eu não tinha dúvidas de que era aquilo mesmo que eles estavam fazendo, por isso passei minhas mãos pelos braços de null e resolvi provocá-lo ainda mais para ver se, assim, ele se acostumava com a ideia.
— Pense positivo — eu disse — A bunda dela vai ser só dele.
Eu vi o queixo dele cair, a expressão endurecer e eu já estava segurando o riso antes mesmo dele murmurar um:
— Estou traumatizado.
Joguei a cabeça para trás, gargalhando. Ele, para pirraçar, começou a me fazer cócegas. Não demorou muito, eu estava chorando de rir, deitada no sofá e ele com seu corpo sobre mim. Subitamente parou, e continuei a rir.
— Eu amo você — disse.
Eu engoli uma risada no meio dela, meio que congelando na surpresa. Já havia escutado aquelas palavras juntas algumas vezes, e ele as reservava apenas para momentos especiais. Ali, eu sabia, era ele apenas querendo afirmar que nada tinha mudado. E sentia meus olhos ligeiramente marejados.
Mas não podia me abalar.
— Você é um idiota — eu disse, o tom risonho ainda em minha voz.
— Tão român... — coloquei um dedo por cima da boca dele, o impedindo de falar.
— E eu amo você — eu disse.
Ele abriu o maior dos sorrisos e me beijou uma, duas, dez mil vezes. Não muito depois, estávamos nus, suados e satisfeitos no sofá mais uma vez.
— Devíamos nos aposentar e viajar por aí — suspirou, sonhador.
— Brega — murmurei, vendo-o revirar os olhos com a minha resposta — E nós ainda não conversamos.
Ele não pareceu satisfeito.
— É sério. Eu sei que você adora viajar — insistiu. — E eu odeio cuidar da fazenda, você sabe. Mari adora. Ela e o marido vão adorar ficar cuidando daquilo tudo, você sabe.
Eu não tinha certeza se eles iriam aceitar colocar uma fazenda na programação deles, mas não questionei no momento. null os convenceu assim que pôde colocar os olhos neles, na festa de Natal.
E nós nunca conversamos. Mas viajamos. Pelo mundo todo. Dezenas de países, centenas de lugares e nós fodemos na maioria deles.
Voltamos para casa quase um ano depois, só de gastar dinheiro e curtir. Foi uma surpresa para null, quando chegamos ao aeroporto e Tati e a companheira nos aguardavam com um menininho negro de cerca de um ano e meio de idade.
— Adivinha quem é vovô — contei, em seu ouvido, ao ver sua expressão confusa.
E aí eu vi seus olhos se encherem de lágrimas.
Ele nunca havia me dito, claro, mas eu sabia que ele tinha uma certa frustração em não termos um garoto. E ao bater os olhos no pequeno Vinícius, adotado por Tati e Karla há pouco mais de quatro meses, esqueceu todos os preconceitos que tinha, tudo que o impedia de se aproximar das duas e pegou Vinícius no colo.
Se ele fora um pai adorável, ele era um avô sensacional.
Tivemos seis netos. Vinicius, de Tatianna; Melissa e Carolina, de Mariana; Davi Luiz, Guilherme e Susana, de Anna Júlia. Todos com quilinhos a mais, bastante dinheirinhos no bolso e um monte de histórias de terror contadas em noites em que null fazia questão de desligar a luz de toda a fazenda para fingir que não tínhamos energia.
Não sabia se era isso que as pessoas chamam de felizes para sempre, mas parecia assim para mim. Parecia perfeito, mesmo imperfeito. Parecia nós dois.

Posfácio


— Vocês precisam de ajuda? — perguntei, quase inocentemente, esperando ser rejeitada.
— Claro — Tati respondeu, rapidamente.
Terminei de entrar no quarto, quase timidamente, me sentindo meio fora de órbita. Mari e Tati estavam sentadas ao lado de algumas caixas que haviam separado para nós decidirmos o que gostaríamos de ficar ou não. Mari estava com os olhos vermelhos e o nariz inchado, não que fosse muita novidade ela chorar o tempo todo, mas eu não via aquilo como, exatamente, um bom sinal.
E não era.
Ela estava com um álbum de fotos em cima das coxas, ela e Tati estavam admirando algumas fotos e, antes de eu me abaixar para sentar-me do lado livre de Mari, eu podia ver que eram fotos de nossos pais, ainda novos, provavelmente antes mesmo de se casarem.
— Foi romântico, não foi? — Mari questionou e eu não sabia se era para si mesmo ou para nós duas. — Papai não aguentou nem doze horas sem ela e foi também.
— Ai, por favor — desdenhei. — Só você pra ver romance na morte.
— Eu acho que foi romântico, sim, Ju — Tati disse. Eu a conhecia, sabia que ela não achava nada, mas provavelmente só queria me provocar e, por isso, revirei os olhos. — Tenho certeza de que eles estão se amando no céu, agora.
— Mamãe disse que ela não queria ir para o céu — eu disse, saudosa. Tive que arriscar um sorriso. — Ela dizia que todas as coisas legais e todo mundo legal não iam para o céu e que provavelmente devia estar rolando uma feijoada com samba em qualquer outro lugar e que ela não perderia por nada.
Mari e Tati riram. Aquilo era mesmo a cara da nossa mãe.
— Seja lá onde eles estiverem... — Mari disse. Não precisou completar. No ar, eu senti um desconforto no meu nariz e meus olhos pareceram marejar. Ah, não, eu não queria chorar de novo. — Bom, alguém vai querer ficar com isso? — perguntou, apontando para o álbum.
— Eu fico — disse rapidamente.
As duas olharam para mim com surpresa e eu deixei minhas bochechas corarem. Okay, estava certo que aquele álbum era o tipo de lembrança sentimental que Mari guardaria, não eu, mas também tinha sentimentos e também sentia falta dos meus pais. Eu podia guardar alguma coisa legal e aquilo ali parecia perfeito.
Peguei o álbum das mãos de Mari com cuidado e pude vê-la tentando decifrar o que se passava na minha cabeça, sem conseguir. Apenas deslizei-o para o canto do quarto, com cuidado, tencionando recuperá-lo antes de ir embora.
— Certo, meninas — Tati disse — Vamos mexer essas bundas brancas e terminar logo isso aqui.


FIM



Nota da autora: JoD era pra ser uma crítica social e política ao governo brasileiro. Há um ano atrás, quando eu sentei e resolvi escrever, era essa minha ideia.
Um ano atrás. Nossa.
A decisão foi mudando de vertente; eu tinha acabado de sair de duas histórias mais pesadas e eu estava cansada e saturada e, de alguma maneira, JoD cresceu para ser mais leve e divertida. Mas ainda há críticas mastigadas e não processadas pelo Talles, nosso adorado narrador não muito inteligente. Estão ali, de qualquer forma.
Eu não imaginava que ela seria assim. Meu primeiro roteiro era de uma história de cerca de 20 capítulos e a maioria era centrada no drama da Mila com o pai dela. De alguma maneira, no meio do caminho, eu percebi que estava andando pro lado errado. Fiz uma curva perigosa e me joguei.
Vocês vieram atrás. E vocês vieram aos montes.
Nunca tive tanto amor, tanto comentário, tanta gente atrás de mim. E por esses 12 meses com vocês, eu sou muito grata. Muito obrigada.
É com o coração quebrado e partido em mil pedaços que eu deixo Talles e Mila irem.
Mas não muito longe.
Vocês vão encontrá-los por aí, em Toque de Recolher e, (em Na Linha provavelmente só serão citados) futuramente, em Debaixo dos Panos. Espero que se apaixonem pela quadrilogia tal como se apaixonaram pela nossa primeira parte quente e fervente.
Toque de Recolher já está sendo postada aqui. É possível que eles já tenham sido citados, mas não me lembro.
Tenho algumas histórias curtas das aventuras de #Milles pela vida afora e, eventualmente, postarei-as aqui. Espaçadamente e de surpresa. Mas por enquanto, é só.
Eu não posso acreditar que acabou.
Por favor, chorem. Vou me sentir menos patética se não estiver sozinha. E comentem, porque eu preciso saber o que vocês acharam.
Eu amo vocês.
Muito obrigada por tudo. E nós nos vemos por aí.
Beijos,
Letícia Black

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