Little Ronan



Escrita por: Fernanda C.
Betada por: Layla Freitas


A história de Ronan e sua mãe é encontrada na internet. Os textos originais em inglês. Existem várias histórias, enredos, sentimentos, escritas... Mas, no final, o propósito é igual: Mostrar ao mundo como uma dor da perda é terrível, principalmente para mãe e um amigo.

Lembro-me de quando eu conheci Ronan. Eu era mais nova na época, e considerava-o um pirralho. Eu tinha seis anos enquanto ele tinha dois.

O que uma garota de seis anos queria com um bebê que mal sabia falar, de dois anos? Bom, eu também pensava daquela forma. Eu, considerada uma verdadeira garota prodígio, achava que ele era apenas um bebezão que não sabia ao menos falar.

Como o conheci? É meio óbvio. Minha mãe era melhor amiga de Maya, mãe de Ronan. Elas foram criadas juntas, se formaram juntas, moraram juntas. E, até depois de casadas, foram morar no mesmo condomínio. Quando mamãe se separou de papai, aos meus dois anos, eu fui morar com ele na Austrália. Então, no dia em que o conheci, eu tinha acabado de voltar de viagem, para morar definitivamente com mamãe.

Ele estava vestido com uma roupinha de marinheiro, os cabelos louros e os olhos azuis brilhando diante da luz solar. Eu não tinha intenção nenhuma de me aproximar dele, então o deixei brincando sozinho na sala de estar, junto de seus dinossauros de plásticos e carrinhos. Fiquei prestando atenção em mamãe e Maya, que conversavam sobre como os homens eram imprestáveis. Curiosa como eu era - e ainda sou -, adentrei de supetão na conversa, sendo chutada para perto de Ronan segundos depois.

Ficamos nos encarando por um tempo. Os olhos azuis estavam quase em um tom cinzento brilhante.

Eu simplesmente não resisti àqueles olhos lindos e tão bem desenhados de um bebê indefeso e inocente.

Ele arriscou meu nome, mas saiu totalmente errado. Então, eu ri. Assustada, percebi que uma risada gostosa e contagiante também envolvia a sala de estar.

Era Ronan. Ele olhava-me curioso, o sorriso de dentes de leite. Sua risada era como uma música de ninar: calma, gostosa, contagiante.

I remember your barefeet down the hallway,
I remember your little laugh
Race cars on the kitchen floor
Plastic dinosaurs
I love you to the moon and back


E então, eu fiquei amiga dele. Oh, sim, chame-me de louca por fazer amizade com um garotinho de dois anos, que mal sabia falar. Mas eu tenho orgulho de dizer que fui eu quem ensinou metade das palavras proferidas em seus pequenos anos de idade. Brincávamos de carrinhos no chão da sala. Ora na minha casa, ora na casa dele. Às vezes costumávamos dormir na mesma cama e logo cedo sair para acordar a sua ou a minha mãe, enchendo-as de beijos, abraços e canções barulhentas. Depois, juntávamos todos em uma cama de casal, ouvindo músicas antigas ou simplesmente ouvindo mamãe contar-nos histórias de crianças.

Tomávamos chocolate quente enrolados em um cobertor de lã e assistíamos o DVD do Barney.

Lembro-me claramente de quando ele conseguiu proferir meu nome perfeitamente.

.

Eu ficara tão feliz, que mais tarde, fizera um brinquedo para ele: Um menino, feito de massinha preta.

Ele nunca abandonou o bonequinho, e permaneceu com ele até o fim.

I remember your blue eyes
Looking into mine
Like we had our own secret club
I remember you dancing before bedtime
Then jumping on me waking me up
I can still feel you hold my hand
Little man, and even the moment I knew
You fought it hard like an army guy


Para um garotinho de dois anos, ele era bem esperto. Corria pelos campos floridos e nunca se perdia. Gostava de brincar de massinha comigo; montar bonecos e depois desmontá-los, reconstruindo melhores depois.

Quando completou três anos, fizemos uma festa de super-heróis. Ele dizia que gostaria de ser um, salvar o mundo dos males. É claro que ele conseguia só gargalhadas, afinal, não conseguia nem falar a palavra "super-herói" direito.

Depois da festa, nós levamos a enorme caixa azul claro para frente do lago perto da sua casa. Lá, nós abrimos cada um deles.

Carrinhos... Carrinhos... Mais carrinhos... Era quase somente isso que Ronan ganhara. Mas ele estava feliz, como estava! Seus cabelos louros estavam para trás, no estilo "boi lambeu" como eu implicava com ele. Se não me engano, sua roupa era uma blusa social azul listrada, com uma calça jeans preta; nos pés, um tênis branco.

Quando não percebeu meu presente no meio da caixa, olhou-me curioso, decepcionado por não receber o meu presente - que mais tarde eu descobriria ser o mais esperado por ele. Com minhas mãos habilidosas, tirei do meio da grama fofinha um outro bonequinho. Desta vez, uma menininha. Tinha um vestidinho lilás que eu mesma fizera - com ajuda de minha mãe, claro. Então, com um sorriso infantil, ele tirou seu bonequinho do bolso, entregando-o a mim. Eu peguei o objeto de massinha, já claramente velho e entortei a mão, colocando junto da minha.

E então assim, nossos bonecos estavam juntos.

Remember I leaned in and whispered to you
Come on baby with me, we’re gonna fly away from here
You were my best four years!


Eu tinha deixado minha mochila na sala de estar, seguindo furiosamente pelo corredor tão conhecido. Fiquei nas pontas do pé para abrir a porta, e então entrar no quarto e contar ao meu amigo como foi o dia. Entretanto, quando adentrei no quarto, encontrei uma cena diferente: Ronan estava arrumado, olhando curiosamente sua mãe arrumar seus cabelos loiros. Quando me viu, abriu um sorriso adorável e feliz.

- !

Então eu sorri incerta, observando Maya olhar para mim, os olhos azuis estavam inexpressivos, abalados. Dirigiu somente um sorriso hesitante, antes de pegar Ronan no colo e puxar minha mão em direção à saída, dizendo as seguintes palavras assim que chegamos na porta de casa:

- Somente diga a sua mãe que venha mais tarde em minha casa. Sozinha. Eu assenti prontamente, entrando em casa. Observei de longe Maya entrar no carro apressada, acelerando em seguida. De uma coisa eu tinha certeza: Tinha algo errado. E eu estava totalmente certa.

Uma semana tinha se passado e eu tinha sido privada de ver Ronan. Eu simplesmente não entendia, porque, de uma hora para outra, todos estavam estranhos? Maya não ia mais em casa como de praxe, mamãe sequer ligava para ela.

Então eu decidi por contra própria que iria descobrir sozinha. Saí como quem não quer nada e corri diretamente para casa do meu melhor amigo. Chegando lá, entretanto, encontrei uma cena bastante confusa. Ronan estava entrando em uma ambulância, junto de sua mãe, chorando copiosamente.

Eu fiquei quieta em meu lugar, pensando que ninguém tinha me notado.

Mas uma pessoa especial tinha: Ronan estivera me observando com seus olhos azuis curiosos o tempo todo.

I remember the drive home when the blind hope turned to crying and screaming why
Flowers pile up in the worst way
No one knows what to say about a beautiful boy who died

Dois meses depois, eu continuava encontrando-me muito pouco com Ronan. Ele tinha estado mais ausente, mais aéreo. Eu tinha plena certeza que ele ainda era o mesmo, só que em uma versão mais lerda. Eu rezava todas as noites para que pudesse ser somente uma fase e logo meu velho amigo louro estaria de volta, sorrindo e olhando-me curioso. Uma amizade de uma garota de sete anos com um bebê de três, isso era realmente possível?

Para mim, naquela época, era.

Um dia, Ronan fora novamente internado. Desta vez, minha mãe estava cansada de fingir-se de indiferente; ela também estivera sofrendo, eu a via chorar em silêncio. Então, decidindo me tirar do escuro, ela me levara ao hospital. Eu fiquei ao lado de fora - como esperado -, ao lado de uma amiga de Maya. Eu não lembro-me muito dela, só sabia que continha um abraço caloroso.

Depois de um tempo dentro daquele ambiente hospitalar, mamãe e mãe de Ronan saíram de mãos dadas, ambas com olhos vermelhos. Então, chamaram-me para tomar café com leite em uma lanchonete.

Demoraram quase uma hora para me contar e, quando me contaram, eu não entendi muito bem. Disseram que meu pobre amigo continha um tumor, chamado neuroblastoma, meio comum na infância. Eu não era tola, era prodígio. Sabia muito bem o que significava tumor e aquilo me assustou.

Durante noites, eu ajoelhei-me ao pé da cama e rezei fielmente, pedindo Deus que poupasse a vida do meu amado menino louro.

And it’s about to be Halloween you could be anything you wanted if you were still here
I remember the last day when I kissed your face and whispered in your ear:
"Come on baby with me, we’re gonna fly away from here
Out of this curtained room and this hospital gray will just disappear
Come on baby with me, we’re gonna fly away from here
You were my best four years..."


Uma semana antes do Halloween, Ronan estava em casa. Cansado, mas estava.

Eu fiquei tão feliz que entreguei-lhe todos os presentes e desenhos que tinha lhe feito. Doía ver o meu amigo tão apagado daquele jeito.

O choque de realidade veio três dias antes, quando fui levar biscoitos de chocolate que eu mesma preparei para ele.

Ele estava chorando. De dor.

Eu não entendia, ele tinha estado tão bem durante toda semana... Tínhamos escolhido nossas fantasias: Eu, seria uma garotinha-anjo e ele uma mistura de todos os super-heróis. E assim foi que eu lhe apelidei de Super Ronan.

Afastando todos de perto dele, subi em sua cama cheia de aparelhos, abraçando-o de lado. Comecei a cantar sua canção de ninar favorita, vendo-o adormecer em minutos. Eu estive ali com ele, ajudando-o a superar a dor impiedosa. Depois, fiquei simplesmente abraçada a ele, sentindo seu pequeno corpo de criança sumir sob o meu.

O meu eterno irmão e Super Ronan.

Se eu soubesse que aquela seria a última vez que o abraçaria... Eu faria diferente?

What if I’m standing in your closet trying to talk to you
What if I kept the hand-me-downs you won’t grow into
And what if I really thought some miracle would see us through
What if the miracle was even getting one moment with you


Um dia antes do Halloween, recebi a noticia que Ronan tinha partido.

Eu me senti na obrigação de escrever isso a ele, de fazê-lo perceber que sempre será o meu irmão mais novo, o dono dos olhos mais curiosos que eu já vi. O dono do sorriso mais torto e angelical do mundo. Aquele que não mudou por conta de sua doença. Ele continuou lutando como um guerreiro, lutando para mostrar a todos o quanto era forte e poderia lidar com aquilo.

Oh, meu pequenino, você não podia... Ninguém poderia.

Ele tinha aguentado nove meses de luta, o que mais eu queria? Para um pirralho de três anos, ele sobrevivera bastante. E eu fiquei imensamente orgulhosa dele.

Ronan teria seus sete anos ou menos, enquanto eu já tinha meus nove.

O que, provavelmente ele me daria de presente? Um outro casalzinho, como aqueles que fizemos quando ainda estava vivo e bem?

Os bonequinhos que ainda estão em seu quarto impecavelmente arrumado e do mesmo jeito que havia deixado. Às vezes, quando sinto-me só, simplesmente caminho até lá, observando as fotos espalhadas por seu quarto azul clarinho.

Maya, depois do acontecido, criou um blog. Escrevia em como é perder o seu menino. "A dor mais terrível do mundo"

Se para mim, uma mera garotinha de nove anos, estava sendo difícil, imagine para ela? Ter que aguentar todos os brinquedos espalhados pela casa, o cheiro de bebê ainda exalando.

Insuportável.

Esmagador.

Então, olhando para as estrelas, eu nunca esqueço-me de fazer a prece e lembrar-me de que a estrela mais brilhante estava guiando-nos.

A alma mais pura, infelizmente, não estava mais conosco:

Ronan Thompson.

I remember your barefeet down the hallway
Eu me lembro de seus pés descalços pelo corredor
I love you to the moon and back...

Eu te amo daqui até a Lua...




FIM





Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avise por email. Quer saber quando essa fic vai atualizar? Fique de olho aqui. Obrigada. Xx.




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