3, 2, 1...
- Feliz ano novo!
- Feliz ano novo... – ele a puxou pela cintura, selando seus lábios num beijo calmo e quente, o primeiro do ano.
- Eu te amo – null partiu o beijo, roçando seu nariz no dele.
- Não mais que eu – null a beijou novamente, com mais intensidade.
- Ei! Arrumem um quarto! – null gritou de longe, recebendo um dedo do meio como resposta – Calma, cara, é brincadeira!
null e null esperaram a gritaria baixar e os fogos cessarem e caminharam abraçados até o amigo, que tinha companhia para o ano inteiro.
- Para quê tanta mulher? – questionou null, com a sobrancelha arqueada...
- Você teve sorte, null... Arranjou um mulherão desse aos 23 anos! – null sentiu as bochechas queimarem, null adorava constrangê-la – Não são todos que nem você, acredite... – olhou para os pés.
O silêncio se instalou entre eles. Aquilo era estranho, eram amigos desde a escola. Mas ultimamente isso vinha acontecendo, as coisas tinham mudado. null e null noivaram recentemente e estavam felizes como nunca. Tinham sua casa na maravilhosa Nova York, empregos bons, amigos incríveis. null continuava solteiro e desempregado, cada vez mais dependente do álcool, mulheres e do dinheiro do papai.
- Bom... Acho que vamos para casa, não é, amor? – null deu um selinho rápido em null, que acenou, concordando – boa noite, null, tome cuidado! – sorriu torto.
- Tchau, cara! Use proteção! – null disse, gargalhando, fazendo null revirar os olhos e pegá-lo pela mão, afastando-o de null.
Atravessaram a Times Square lotada. A noite estava linda, milhares de fogos de artifícios haviam sido lançados e alguns perdidos ainda apareciam. Esgueiravam-se entre as pessoas com um nível elevado de bebida no sangue, ninguém mais estava sóbrio no lugar. Era uma bagunça. null não havia se acostumado rápido como null e null, ela preferia a “bagunça mais calma” de Los Angeles. Sentia saudades da família, dos amigos, da escola. Sentia-se deslocada. Sempre fora simples, preferia o casual, o confortável. Não queria crescer, mas a vida lhe obriga, certo? Desde que conhecera null, seu mundo virara de cabeça para baixo. Ele era seu oposto. Gostava de estar sempre arrumado, frequentava os lugares mais badalados, sonhava em sair de Los Angeles. Nunca imaginou que um dia casaria seu melhor amigo do colegial. Mas tudo é possível.
- Sabe o que eu pedi para esse ano? – null sussurrou no ouvido da garota, que abria a porta do apartamento com dificuldade.
- O que? – disse, entrando e sendo logo prensada contra a porta.
- Você – disse, juntando seus lábios com um certo desespero. null o conhecia e gostava do seu jeito “selvagem” de ser. Deixou que ele a guiasse até o quarto, jogando as roupas pelo caminho. – Essa vai ser a primeira noite do ano...
- A primeira de muitas! – falou sorrindo, e logo depois sentiu seu corpo sendo tomado pelo prazer que o rapaz lhe proporcionava. Ah, null... ele era realmente bom de cama.
***
- E você? O que pediu? – ele mexia a colher dentro da caneca de porcelana vazia enquanto ela esquentava o leite, ele não tomava café para não ficar mais agitado do que já era.
- Como assim? – derramou o leite com cuidado no recipiente que o namorado segurava.
- Ontem à noite... qual foi o seu pedido de ano novo? Só eu contei o meu... – sorriu malicioso, provavelmente se lembrando de acontecimentos recentes.
- Ah... eu pedi várias coisas – disse, puxando a camisa social azul que ela vestia quando percebeu que o dono da mesma estava encarando suas pernas...
- Vamos, null... Me conta. – começou um carinho gostoso na perna da menina, sabia que ela sempre cedia quando ele fazia aquilo.
- Pedi a nossa felicidade, pedi para ter você sempre ao meu lado.
- Você já me tem, null... E não vai me perder, pode ter certeza! Eu te amo, null null! – sorriu, beijando-a.
- E... pedi também pelo null. – fechou os olhos com força, sentindo que se arrependeria de ter contado.
- null? – null arqueou as sobrancelhas, surpreso – Por quê?
- Você sabe, null... Ele é sozinho, não tem emprego, a família não liga para ele... Tem só nos dois, null e null. Quero que ele seja feliz! – abriu os olhos e sorriu fraco.
- Mas ele é feliz, null! Não precisava ter perdido um desejo por ele! – null se afastou, revirando os olhos. null tinha esquecido o quanto ele era supersticioso.
- Não perdi um desejo... Ei, olha para mim – pegou o rosto dele com as mãos, obrigando-o a olhar para ela – Ele mudou. Não é mais o mesmo null da escola de Los Angeles que vivia rodeado de amigos, que tinha o apoio e o orgulho dos pais, que era realmente feliz. Ele anda muito carente, null. Não percebe como seu amigo está para baixo? Apagado?
- Ele está diferente, sim, null, mas não acho que ele precisa da sua pena. – a expressão dela se tornou um misto de indignação e incredulidade – O que você tem a ver com isso?
- O que eu tenho a ver com isso?! – arqueou as sobrancelhas, boquiaberta, mais surpresa ainda – null, você se lembra que EU sou a melhor amiga dele, não lembra? Sempre fui, bem antes de você aparecer na escola!
- Ah! Que lindo! – soltou uma risada nasalada em deboche – A melhor amiga cuidando do melhor amigo! – fez uma voz afetada e se levantou, balançando a cabeça em negação, indo ate o armário pegar o cereal.
- null? Sabe o que é lindo? – se levantou e o abraçou por trás.
- O quê? – ela beijou sua nuca.
- Essa é a nossa primeira briga do ano – sorriu, vendo o namorado sorrir torto.
- Só você, pateta – null se aproximou e beijou o canto dos lábios da menina, e logo depois depositou seus lábios sobre os dela. Então começaram um beijo calmo que foi se intensificando cada vez mais e mais, e tiveram o sábado inteiro para aproveitar.
***
Terceira semana do ano, férias de inverno são curtas na América do Norte. Todos já estavam trabalhando. Pelo menos quem tinha um emprego. Ele andava calmamente pelas ruas movimentadas de Nova York, eram quase 13:30 da tarde, todos em horário de almoço. Menos ele, que acabara de acordar. Sua cabeça doía e latejava, sofria de ressaca constante. Mas mesmo assim, seguia seu caminho até encontrar o bar que conhecia como a palma da própria mão. Sentiu algo vibrar em suas calças, estava tão distraído que pensou ser apenas uma alucinação. Mas logo o aparelho voltou a tremer.
- Alô? – disse colocando o objeto complexo perto da orelha no volume mais baixo possível, odiava celulares.
- Bom dia, flor do dia! – às vezes a voz alegre demais de null irritava null, era muita felicidade para um momento só – Acordou agora?
- Na verdade, sim, acordei. Tudo bem com você, cara? – soltou uma risada baixa. Apesar da voz irritante, ele realmente gostava de null, um dos poucos amigos de verdade que tinha.
- Tudo ótimo! Estou ligando para te fazer um convite!
- null, você tem a null que é gostosa pra cacete, eu não vou ter um relacionamento gay com você! Esquece! – null gargalhou do outro lado.
- Que droga! Nem se for em segredo? - entrou na brincadeira.
- Posso pensar no assunto... Conversamos sobre isso mais tarde, pode ser?
- Claro! Passa aqui em casa depois?
- Passo, sim, no fim do seu expediente, que acaba às...
- Na verdade, estou em casa! – null riu – Que foi? Fui liberado mais cedo! Tenho bons motivos!
- Ui, qual seriam os bons motivos?
- O convite era outro... Está meio em cima da hora, mas sexta eu e a null vamos fazer uma festa aqui em casa, só para os íntimos, em comemoração a...
- ELA TA GRÁVIDA?? – null soltou a pergunta sem querer, um pouco mais alto do que o necessário, assustando null.
- Não, está louco? Usamos proteção, cara! Ainda não, ainda não! Eu fui promovido! E, sabe como é, mulheres comemoram tudo... Por isso estou em casa! – null havia ficado nervoso com a pergunta de null.
- Ah, entendi – disse, sentindo um peso sair das costas, null não poderia engravidar agora, não de null – vai ter bebida?
- Vai, mas se controla... A null esta no seu pé, super preocupada. Você conhece a amiga que tem, não? Fez até desejo de ano novo para você subir na vida! – disse quase em tom de deboche.
- Conheço bem a pessoa... Acho que vou melhorar mesmo, null! Relaxa, só beberei o necessário! – disse entrando no bar com um sorriso brincando nos lábios.
- null? Volta aqui, amor! – o quase sorriso de null se fechou ao ouviu a voz doce de null de longe, do outro lado da linha – É o null? Manda um oi!
- Calma, amor, já vou! null, tenho que desligar, o dever me chama! – riu – Ah, ela disse oi!
- Oi para ela também... Vai lá! Até depois!
- Até!
Guardou o celular quente no bolso e pediu duas lata de cerveja, não estaria nenhum pouco sóbrio naquela festa.
***
Ela se olhou no espelho mais uma vez. Era muito curto o vestido preto básico para uma ocasião como aquela? Muito simples? Muito apagado? Queria passar uma boa impressão para os colegas de trabalho do null, e para os seus colegas de trabalho também. Aquela festa seria grande. Na quarta feira de manhã, quando todos receberam a notícia, null não achou que seria nada demais. Mas null se empolgou e chamou a empresa inteira, seria uma festona. Depois as mulheres que são as exageradas... Mudaram o local, seria em um bar que null conhecia e frequentava, alugaram o espaço para aquela noite.
- Tira uma foto, dura mais – null entrou no quarto, abraçando null por trás e beijando seu pescoço.
- Meu Deus! Tenho um namorado chato pra caramba que não aguenta me ver bonita! O que eu fiz para merecer?! – olhou para cima e fingiu que não viu o noivo lhe beijando a nuca descoberta, já que seu cabelo estava preso em um coque.
- Deve ter sido uma garota muito má na infância – mordeu o lóbulo da orelha dela com delicadeza
- Sempre fui uma garota má – se virou rapidamente, ficando de frente para ele. Movimentou as pernas, descobertas, de um jeito que esbarrassem no membro do rapaz, que gemeu baixinho.
- E eu sempre soube – beijou-a com vontade e desespero. “Eles são insaciáveis”, null comentava sempre que o casal tinha momentos quentes em público. E eram mesmo. Ambos não trabalharam naquela tarde, para preparar a festa, aproveitaram o tempo livre e tiveram uma “tarde calorosa de lazer”. No quarto.
- null... null... Para, eu... – null tentava falar, mas era meio impossível com as carícias deliciosas que o rapaz fazia em seu corpo – É sério, null... A festa... Eu...
- Certo, a festa. Termine de se arrumar, estou esperando na sala. Só preciso resolver, er... Um probleminha. – olhou para baixo e null entendeu, ele estava realmente animadinho.
- Vai lá, amor. – deu um selinho nele – Eu estava pronta, mas alguém me bagunçou! – foi ao banheiro ajeitar o cabelo, que se encontrava todo desgrenhado. Ela estava bonita. Adorava aquele vestido, e tinha caído muito bem com seu sapato de salto vermelho. Pegou sua bolsa em cima da cama e foi para sala. null estava na varanda, olhando para o nada. Ele estava muito bonito também, como sempre. null sentia ciúmes dele, todo simpático, popular, bonito, calmo... Dela, só dela. – Vamos?
***
O bar estava diferente. Luzes mais escuras que o normal. Nenhuma vadia esperando por clientes. Apenas convidados da festa. Todos tinham quase a mesma idade, entre 20 e 25 anos. null e null convidaram os colegas de empresa e deixaram null, null e null encarregados do restante. Ou seja, a festa iria “bombar”. Quando chegaram, o lugar estava cheio, umas 170 pessoas? Estava meio tarde, se atrasaram com o imprevisto. Viram conhecidos da faculdade, desconhecidos, e até algumas almas que fizeram o ensino médio com eles. Como aqueles três tinham tantos contatos? Não importava no momento, depois null perguntaria.
Cumprimentaram todos, os sóbrios e os nem tanto, e foram ate o bar pegar suas bebidas.
- Linda festa! Parabéns, null! Fiz muito bem de te promover. Sempre soube que era um bom rapaz! – apertou a mão do garoto com um sorriso. O dono da empresa era provavelmente o mais velho da festa, deveria estar entre 46 e 50 anos. Uma loira de roupas, no mínimo, indecentes, que deveria ter a metade da idade o acompanhava. – Esta deve ser a famosa null! Prazer, senhorita! – estendeu a mão para a menina surpresa, que logo o cumprimentou.
- O prazer é todo meu! – ela sorria. null falava dela na empresa. Todos sabiam que ele tinha uma mulher.
- Ele te ama muito. – o senhor se aproximou dela e sussurrou em seu ouvido, deixando um null confuso ao lado.
- Eu sei – sussurrou de volta, ainda sorrindo sem perceber. Todos sabiam que ele tinha uma mulher. E que ele a amava.
- Com licença – o chefe piscou e se afastou. null abraçou null pelo pescoço, sentindo seu perfume delicioso tomar o lugar do cheiro de álcool que impregnava o lugar.
- Eu te amo – ela sussurrou.
- Eu também te... – null iria responder, se não fosse interrompido.
- Como vai o casal que esta fazendo a melhor festa do ano? – null chegou afastando os dois, fazendo null bufar e null revirar os olhos – Não queria atrapalhar, desculpa! null!! Vem aqui, cara! null e null chegaram! Demoraram, hein! Estavam fazendo o quê? – null e null se entreolharam. Não iriam responder àquela pergunta. O cheiro de álcool que saía da boca de null estava mais forte do que nunca.
- null, melhor dar um tempinho, não? Senta aqui comigo, senta. – null puxou o amigo pela mão, fazendo-o se sentar no banquinho ao lado do seu. null pegou a garrafa de vodka já pela metade que ele carregava...
- Eu tentei controlá-lo, mas ele só obedece ao null aqui... – null chegou sorrindo e fez um high five com null, que também sorria, e cumprimentou null com beijinhos na bochecha – Está bonita, dona null... Toma cuidado, null, essa aqui vai dar trabalho! – piscou para a garota, que lhe deu um soquinho leve no ombro. Ele não mudara desde o colégio. Aquele era o seu velho null de sempre.
- null? Cadê o null? – null perguntava choramingando – null, eu te amo, cara... Te amo, amigo, TE AMO! – gritou no final quase chorando. Estava completamente bêbado...
- E agora? O que a gente faz? – null parecia sem reação. null estava jogado nos braços dela, chorando e dizendo coisas totalmente aleatórias. Era um bêbado emotivo, tadinho...
- Tem uma ala no segundo andar, com luzes fortes e claras, para os que são frágeis a bebida. – chegou quem faltava. O grupo estava completo agora. null sorriu e pegou um dos braços de null, null pegou o outro – Vamos, null... Cara, eu bebi a mesma quantidade que você e estou quase sóbrio! Temos que te ensinar a beber! null, null, já volto!
Os três se afastaram, deixando o casal sozinho novamente. null tomou um gole de seu drink vermelho e null virou seu copo de whisky.
- Vamos dançar! – puxou a menina para a pista de dança. Normalmente, a garota que puxa o garoto para dançar, para sair. Mas naquele caso era ao contrário, null era a parte animada do casal. A música era agitada. Ambos sabiam a letra. No início, dançaram pulando e sentindo a pequena quantia de álcool já ingerido correr pelo sangue. Pulavam, gritavam, enlouqueciam como todos ao seu redor. Mas null queria contato físico...
Pegou null pela gola da camisa social branca que vestia e roçou seus lábios nos dele devagar. Ele a abraçou pela cintura, forçando seu corpo contra o dela. Movimentavam-se em sincronia, ao ritmo perfeito da música. Ele não aguentou mais os olhares cheios de malícia que ela lançava, puxou-a pelos cabelos e juntou seus lábios num beijo intenso, como sempre. A música acabou e uma desconhecida se iniciou. Mas o beijou não acabou.
- Como eu sempre falo, vocês são insaciáveis. – a voz de null estava próxima a eles. O amigo recebeu um dedo do meio como resposta de ambos – Amo vocês também!
- null! Como ele esta? – null partiu o beijo e encarou null com uma expressão que beirava desespero e preocupação.
- Bêbado. Ele está bêbado, null. Só isso! Você nunca ficou? – disse em tom de deboche, como se fosse óbvio.
- Claro que já, mas não daquele jeito! – colocou as mãos na cintura.
- Ficou, sim, null! Não se lembra da formatura do 3º ano? – null riu com a lembrança, fazendo null revirar os olhos.
- Claro que lembro...
- Quem não lembra? – null disse rindo, mas logo engoliu a risada. null o encarou com a raiva queimando os olhos – Eu não lembro – levantou as mãos em sinal de inocência.
- Ótimo, por que senão...
- null null! Para que tanta braveza? A festa esta só começando! – null chegou, sorrindo como sempre. Apesar de ter uma vida “difícil”, sempre sorria. null o admirava por isso. Ele não era o cara mais feliz da terra, mas tinha amigos maravilhosos, que o amavam de verdade.
- Nada, null! – ela respirou fundo, estava mais calma.
- Ainda bem! Vamos, os três para o andar de cima! – apontou para o teto.
- Para que, null? Estão todos aqui embaixo! – null usou as mão para mostrar as pessoas que dançavam e bebiam, alegres.
- Vamos jogar! – sorriu malicioso.
- O que? – null fez a pergunta que null faria em alguns segundos.
- Verdade ou Desafio.
Capítulo 2
- Caiu null e Josh! – eram quase quatro da manhã. A festa havia acabado as 2:50, mas null insistiu em fazer o tal jogo da garrafa. null não permitiu que fosse na própria festa, seu chefe estava lá. Prometeu, então, que levaria as ultimas 10 pessoas para casa e fariam o jogo. E lá estavam, null, null, null, null, Brian, Josh, Allison, Camilla e null, a galera da escola. O jogo era simples, sempre caiam dois. Um escolhia a pergunta ou o desafio que o outro deveria fazer. Mas só poderiam usar uma vez cada.
- Então, null, o que vai querer? – Josh perguntou arqueando a sobrancelha, malicioso.
- Tem que ser desafio... Ela já usou a verdade que ela tinha direito – null disse, tomando o ultimo gole de sua 7ª garrafa de cerveja, recebendo um olhar intrigado de null.
- Hummm... – Josh jogou sua franja longa para o lado e fez uma cara de pensamento – Desafio você a dar uns pegas no null! – sorriu.
- O quê? – a menina arregalou os olhos – Não vou dar uns pegas no null! – olhou para null, que estava bêbado o bastante para ficar entretido com os cadarços dos próprios sapatos – null, me ajuda!
- null, é só pra relembrar o colégio... – Brian disse, deitando no chão, com Allison no colo. Eles sempre tiveram um caso.
- Gente, eu estou noiva! – levantou a mão direita mostrando o anel dourado que brilhava conforme a luz batia – E meu noivo esta aqui – abraçou null, que fez uma cara confusa.
- Ele deixa! Não deixa, null? – Allison se levantou do colo do loiro para fazer um coque com os cabelos longos e escuros.
- Deixo – null deitou a cabeça no ombro de null – Deixo, deixo, deixo – cantarolou. Naquele momento, null teve certeza. Era a única sóbria no lugar. Camilla estava provavelmente dormindo em algum canto da casa, era outra frágil ao álcool. Josh estava alegre o bastante para não pensar direito. null dormia no sofá marrom, atrás do jogo animado. Brian só pensava em levar Allison para o motel mais próximo. null estava distraidamente em paz, puxando alternadamente seus cadarços, ou os cabelos da namorada. null olhava para algum ponto desconhecido da parede branca que formava a sala. null pegava cada vez mais garrafas de cerveja. null entrava em desespero.
- null, amor. Olha aqui, null! É sério! – puxou o rosto dele para cima, forcando algum tipo de contato visual, mas ele logo fechou os olhos.
- null, quero dormir... me leva pra cama... – ergueu os braços como se quisesse ser carregado no colo.
- Mais um frágil para a lista! – Josh fez o numero três com a mão – Acho que o null é o próximo! – levantou mais um dedo e apontou para o garoto que tinha a cabeça pendida para trás, encostando-se no sofá.
- null? Acorda, null! – null sacodia o corpo do namorado, que resmungava a cada movimento. Ele caíra no sono. null estava perdida.
- Pronto! Ele nem vai ver, null! Alguém chama o null? – Josh disse sorrindo, se divertia com o sofrimento dela. Brian em um pulo estava na cozinha, ajudando null a trazer as garrafas e o convencendo a pegar a amiga.
- Vou ver como o null está! – null falou, nervosa, já ficando de pé, mas Allison foi mais rápida. Entrou no cômodo onde ele estava e sussurrou um “Ele esta ótimo! Dormindo como um anjo! Agora ande, null, quero levar Brian para outro lugar!”. Ela sorria, maliciosa, e null jurava para si que nunca mais veria aqueles rostos na vida dela.
- Eu não vou... – null surgira em sua frente com as mãos na cintura da garota, e em um milésimo de segundo suas bocas já se encontravam unidas. null espalmava as mãos no peito forte de null, tentado partir o quase beijo. null sugava os lábios da garota em tentativas falhas de fazê-la ceder. Não houve contato entre as línguas, null não abrira a boca durante nenhum segundo. Quando finalmente se livrou de null, percebeu que Josh dormira também, e que Brian e Allison haviam deixado a porta aberta, que logo foi fechada por null, deixando o apartamento. null era a única acordada. E sóbria.
Ótimo, ela tinha sido agarrada pelo melhor amigo bêbado e existiam cinco corpos em sono pesado espalhados pela própria casa. Foi para seu quarto e encontrou null na poltrona vinho, roncando alto. Se jogou na própria cama, a única coisa adequada a se fazer era dormir também. Aqueles ali não acordariam tão cedo.
***
Sua cabeça doía mais que tudo. Não conseguia abrir os olhos. Seu corpo estava mole, e pelo nível de conforto, percebeu que estava no chão. Como chegara àquele ponto? O barulho do liquidificador havia o acordado.
- null? – conseguiu sentar, mesmo com dor, e abriu os olhos de leve, sua visão era turva. A claridade do sol machucava.
- null! – ouviu passos rápidos da garota em sua direção – Você esta bem, amor? Fiquei preocupada... Você não se mexia! Nunca bebeu na vida? – sorriu torto.
- Claro que já bebi, null. Você sabe. Mas faz tempo e...
- Não se explique – ela interrompeu e deu um selinho rápido nele – Estou fazendo aquela vitamina que minha mãe fazia para o meu pai sempre que ele chegava vendo pôneis em casa. E... Enquanto eu estou na cozinha, escova os dentes? Por favor! – piscou para ele, rindo e se dirigiu para a cozinha.
null se levantou com dificuldade. Espreguiçou e só ai que percebeu. null estava deitado no sofá. Assustou-se no começo. Cutucou o amigo, e ele nem se mexeu. Deu um tapa na cabeça do garoto, nada. Balançou a cabeça em negação, eles haviam exagerado um pouco. Foi para o próprio quarto se trocar e viu um corpo na sua cama. Era... null?
- null!!! – gritou e logo a menina o abraçou por trás.
- Nossa! Já consegue gritar! Que bom! O que foi? – disse, como se fosse normal ter outro cara na cama deles.
- null, Me diz que você não dormiu com o null do seu lado – disse, sério e se controlando para não espancar o melhor amigo. Sim, null era seu melhor amigo. Mas mesmo assim, era outro homem deitado na cama dele, onde ele dorme com a mulher...
- null, você ficou louco ou o quê? – ela colocou a própria mão na testa do namorado, fingindo medir sua temperatura – Óbvio que não!
- Ele esta deitado na nossa cama – disse, fechando os olhos com força, ninguém sabe o que null null é capaz quando esta com raiva.
- Confiança nível 100 hein, null! Ele passou a noite na poltrona, e eu na cama. De manhã, ele acordou e tentou se levantar, mas caiu no chão. Eu dei um jeito de acordá-lo e levá-lo para a cama. Só queria que ele ficasse menos dolorido. Mas tudo bem, da próxima vez eu deixo o seu melhor amigo morrer de torcicolo – deu de ombros e soltou o noivo, andando em direção à cozinha.
- Só estou me prevenindo – puxou-a de volta, colando seus corpos –, mesmo bêbado e fora de mim, eu te amo – beijou null com vontade, e a levaria para cama se null não estivesse ali.
- Ah! Você não acordou à noite, acordou? – null desceu do colo dele, ficando de frente para o rapaz, com as mãos na cintura e olhar desafiador.
- Não! Na verdade, não me lembro de nada a partir do momento em que eu...
- Quase comeu uma pedra? – ela riu baixo enquanto ele bagunçava os próprios cabelos.
- Isso. Aquilo era uma pedra? Parecia tanto com um chiclete...
- Quando se esta bêbado, um poste de luz pode parecer um gentleman! Digo isso por experiência própria. – olhou para algum canto da parede alta e branca, visivelmente envergonhada.
- Você já falou com um poste, null? – ele riu, incrédulo.
- A primeira vez em que eu fiquei bêbada! O null estava comigo, pergunte para ele depois. Mas isso não vem ao caso!
- Eu pergunto, pode deixar. Falando em null, ele e o null passaram a noite aqui? – apontou o apartamento com os dedos.
- A Camilla também. – null fez uma cara confusa, quem era Camilla? – Camilla, da escola... Aquela meio ruiva, sabe? Ela, o null e o null passaram a noite aqui. E você, senhor null null, estava dormindo próximo a ela. Eu podia ter dado um chilique igual ao que você acabou de dar esta bem?! – bateu o pé no chão – Ah! E o Josh acordou no meio da noite chamando pela mãe dele, e foi embora. Deixou os sapatos – ela apontou um par de allstars vermelhos bem gastos jogados no canto da sala.
- Pensar nisso esta me deixando com mais dor de cabeça... – colocou a mão na própria testa – Eu perdi muita coisa, não perdi? – fez bico.
- Perdeu, sim. Você cantava em vez de falar. E estava brincando com os cadarços? null, nunca te vi tão besta na vida! – ela riu.
- Primeira e última vez – ele se aproximou para beijá-la, mas ela desviou, rindo sem humor, fazendo-o estranhar.
- Escove os dentes e venha pegar sua gata – deu um tapinha na bunda dele e correu para cozinha. Ela sabia exatamente como provocá-lo.
***
null mexia o líquido esverdeado na jarra. null acabara de acordar e estava com uma bolsa de gelo na cabeça. Tinha se enfiado embaixo da mesa sem querer, e quando acordou, levantou-se com tudo e gerara um “galo”. null beijava loucamente o pescoço de null, atrapalhando a mesma que tentava fazer a tal vitamina há mais de meia hora. Ele estava carente e com dor no corpo.
- null, como esta sua cabeça? – null perguntou e logo em seguida gemeu. null sabia seus pontos fracos.
- Está, sim, null. Mas está doendo interna e externamente. Bebemos muito ontem e eu acho que... null, caralho, para, porra! Daqui a pouco a null tem um orgasmo aqui no meio, espera eu sair, pelo menos! Ai, minha cabeça! – fez uma cara séria e null se afastou, arregalando os olhos, null era meio explosivo às vezes – Obrigado por perguntar, null – sorriu.
- Só uma coisa. Bi. Po. Lar. – null riu, debochando do amigo, que fez menção de levantar.
- null, não liga. Você conhece esse aqui – apontou para o null com o dedão –, quando está com falta de sexo, fica insuportável. Se não melhorar, eu faço greve – se virou para o namorado e arqueou a sobrancelha, mordendo o próprio lábio inferior.
- Desculpa, null! Sério cara, não falo mais nada – null fez uma carinha de piedade.
- Duvido, null! Greve de sexo? Você? Conta outra! – null e null caíram na gargalhada e null revirou os olhos.
- Não ria, null, vamos ver se eu não consigo fazer greve... – ele iria responder e provavelmente se ajoelhar aos pés da namorada, enquanto null ria, caso não tivessem ouvido a voz de null dizendo algo como “Aquilo é um grilo?”.
- Acho que alguém acordou... Depois resolvemos a nossa greve, null, preciso ver o seu amigo frágil ao álcool agora – null saiu da cozinha, quase correndo, e foi para o quarto.
Aquela cena deveria ter sido filmada. Ou fotografada. Mas ficaria para a história. null parou na porta do quarto, incrédula com o que viu. E logo os dois idiotas que estavam com ela na cozinha apareceram atrás da mesma, quase a fazendo cair. Os três ficaram boquiabertos. null estava tentando pegar o tal “grilo”, mas sem camisa. Ele corria pelo quarto e gritava “VOLTA AQUILO, GRILINHO”. Ele caía ou tropeçava nos próprios pés e ria. Depois voltava a caçar o grilo invisível.
- null? – null disse depois que se acostumou com a situação. Ele continuava bêbado.
- null! – abraçou forte o amigo – Me ajuda a pegar o grilo! Eu não consigo! – puxou null para dentro do quarto, o cheiro de álcool da boca de null era repugnante.
- É melhor você colocar a camisa, null! Por que tirou? – null perguntou, ainda da porta, estava com medo de ser atacado pelo amigo, não sabia do que ele era capaz quando bêbado.
- null, o grilo esta na cozinha! Vem comigo – null estendeu a mão para ele e sorriu. O mesmo passou correndo pela menina e foi para a cozinha.
- Que grilo, null? – null riu meio nervoso.
- Quero dar a vitamina para ele e ver se ele volta a ser um pouco normal. Com certeza ele vai ter uma dor de cabeça dos infernos quando voltar a si.
- Eu sei. Ai, null, precisa de umas aulas sobre... – null foi interrompido por um barulho de vidro quebrando – Opa! – os três correram para a cozinha, seria difícil controlar null. Alguém tem um sedativo?
***
Uma semana. Fazia uma semana que não a via. Não teria coragem de olhar na cara dela. Não naquele momento. Os amigos haviam saído na quarta à tarde, mas ele não fora. Ela provavelmente estaria lá. Uma semana que não saía de casa. Quatro dias que não bebia, todo o álcool de sua casa acabara nos três primeiros dias. Estava total e completamente lúcido pela primeira vez em um bom tempo. Dois dias que, basicamente, não saía da cama. Não daria mais para ficar daquee jeito. Levantou-se e se dirigiu a cozinha. Precisava comer, não queria entrar em depressão. Nada nos armários, nada no balcão. Em cima da geladeira, claro! Pegou a pequena escada no canto esquerdo do comodo e subiu. Uma garrafa de vinho pela metade. Perfeito. E uma... caixa? Pegou as duas coisas e desceu. Colocou a caixa em algum lugar da sala e foi pegar a taça. Analisou o pequeno recipiente de madeira clara. Ja tinha a visto, e guardado ali, mas não lembrava o que tinha dentro. Limpou um pouco a grande quantidade de poeira que se encontrava nela. Abriu devagar, sabia que não era nada perigoso, mas tinha certeza que era do passado. null tinha medo do passado.
Eram fotos. Muitas fotos. Da época do colégio, em Los Angeles. Quando se mudaram, todos juntos, para Nova York, ele deve ter guardado a caixa ali, tentando inutilmente esquecer o que acontecera em sua vida naqueles três anos...
FlashBack Março, segundo ano, ensino médio, Los Angeles.
Terceiro horário de uma terça feira qualquer. Os alunos do segundo ano A teriam aula de história. Bem, nem todos. Ele entrou correndo no grande ginásio velho, quase abandonado, já que tudo era realizado no campo. Ele havia visto a garota correndo com as mãos no rosto vermelho. Ouvia choramingos vindo da direita. Respirou fundo. Ela estava chorando. Uma coisa que odiava era ver quem ama chorando. Seguiu o som e encontrou null desolada, embaixo da arquibancada imunda. Nenhum dos dois se importava com a sujeira.
- null? – ela se assustou e fez uma tentativa falha de enxugar as lágrimas.
- null! – ela tentou sorrir. Ficaram se olhando em silêncio durante alguns segundos. Gostavam da presença um do outro. Ela não aguentou, levantou e o abraçou forte, soltando mais lágrimas.
- Calma, null... Ele não sabe a menina maravilhosa que esta perdendo... – null acariciava os cabelos de null.
- Ele não esta me perdendo, null... Eu o amo muito. Não importa! Eu já disse que posso ser a outra! Foda-se aquela tal de Megan, não teria problema nenhum em colocar chifres na testa dela! – disse, ainda molhando a camisa do amigo.
- null... Não é assim! Não estou te falando para parar de amar o null, apenas para dar um tempo. Ele gosta de você e... – ela se afastou.
- Como assim, null? Gosta de mim? – ela arregalou um pouco os olhos, seu choro era mais controlado.
- Sim, null... Respira! – ela respirou fundo e fechou os olhos, ouvindo o amigo com atenção – Ele me disse que gostava de você. De verdade. Quando ele chegou na escola, ano passado, pensou que fôssemos namorados. Somos grudados, não somos? – ele sorriu torto, queria que fossem... Ela concordou com a cabeça – Então... Ele te achava uma gata antes de falar com você! E do nada apareceu aquela tal de Megan dando o maior mole para ele, e você sabe, ela é muito gostosa... – null deu um tapa em null – Bem menos que você, claro! Eles ficaram uma vez, e ela grudou. Eles nem tem nada, sério, ela que não sai do pé dele por causa de uma ficada há mais de um ano. null foi deixando que Megan o “tivesse para si”. E ao mesmo tempo, foi se apaixonando por você. Cada conversa, cada risada, cada sorriso seu, null... Era apaixonante para ele. Quem vê de fora percebe. Ele te olha de um jeito, null...
- Você esta falando sério? – ela sorriu torto. Quase não chorava mais, eram apenas soluços carregados.
- Para que eu mentiria para você? – ele sorriu, tímido.
- Mas... Por que ele não chega em mim? Eu vou ter que chegar nele?
- Claro que não! Ele acha que você gosta de algum babaca do time de futebol, que nem todas as outras garotas desse inferno – ele apontou para a escola.
- Ele não me conhece, então! – disse rindo, os caras do futebol. – Nem que fossem os últimos homens da terra! Não suporto aquele jeito macaco que eles tem, de se acharem os maiorais da escola só por que são gostosos! – null revirou os olhos – Bem menos que o null, claro! – ele arqueou as sobrancelhas, incrédulo – E que você! null, para! Você sabe o quanto eu te acho gostoso!
- Acha mesmo? – ele sorriu, olhando para os pés.
- Acho. E muito! – piscou – Mas não comece a... – neste momento, não tinha mais como null falar. null havia selado seus lábios num beijo quente e desesperado, rapidamente retribuído. null gostava de null, claro que gostava. Era seu melhor amigo bonito, charmoso, gostoso... Ela estava carente. Poderiam ter uma amizade colorida enquanto ela e null não tivessem nada, mas seria apenas uma amizade. Nunca teriam nada demais. Pelo menos, na parte dela. E ele sabia disso.
Agosto, terceiro ano, ensino médio, Los Angeles. “Me encontre no armário do zelador depois do intervalo, o atrás da quadra. Tenho uma surpresa. Acho que te a Beijos.”
A garota amassou o papel e sorriu sem querer. Guardou na pasta que tinha só para os bilhetes que tanto amava. Eles tinham o cheiro dele. A letra dele. Perdeu-se lendo e relendo. O que ele queria daquela vez? Não faziam nem vinte e quatro horas que tinham “se pegado” no quarto do null! Os únicos que sabiam daquele “caso” eram null, null, Cindy (a melhor amiga dela na época) e o cara que havia juntado o casal, null. Mas sem problemas, adoraria matar mais uma aula para encontrar o amor da sua vida. Eles não namoravam. Ainda. Ele “namorava” Megan há quase dois anos. Mas null e null já tinham esse rolo secreto desde Abril, quando ela deu o maior fora de todos no cara mais popular da escola. E ele percebeu que ela o amava, que era recíproco. Nunca trocaram juras de amor, era um romance perigoso e secreto de escola, ninguém desconfiava de nada. Não até aquela tarde.
***
Se desse para passar o tempo com um controle remoto, null o faria. Não aguentava mais encarar aquele mesmo professor há quase uma hora, sabendo que teria mais meia hora de andar-sem-rumo-pelo-pátio e só depois chegaria o que ela tanto queria, a conversa com null. Resolveu ir tomar uma agua para ver se sua agonia passava. Mas não deu certo. Assim que null deixou a própria sala, viu null e Megan no final do corredor, discutindo. Eles não eram um casal meloso, null se recusava a falar com ela. null e Megan conversavam durante as aulas, só. O garoto, muitas vezes, passava mais tempo com null do que com a própria “namorada”, alegando que null era só uma grande amiga. E era verdade, só ocultava a parte dos benefícios. null sorriu, a conversa seria boa.
***
Todos já estavam nas próprias salas. Ela passara o recreio perguntado aos meninos se sabiam o que null queria com ela. Eles negaram, mas conhecia os três, óbvio que sabiam. null então, só pelo olhar ela sabia que viria algo. Algo grande. null e null haviam tido um romance curto. Ninguém nunca soube. Nas tardes que a garota fora na casa dele “para estudo” fizeram outras coisas na imensa casa vazia. Ela tinha um grande carinho por null, mas só. Ele beijava bem, era bom de cama, mas null era dez, cem, mil vezes melhor. Aquilo não vinha ao caso. O corredor estava deserto, ela pisava com calma para não fazer barulho. Chegando ao seu destino, o lugar mais escroto para se conversar, respirou fundo. Contou até dez. null poderia acabar todo o “relacionamento” escondido que mantinham. Podia dizer que a amava. Podia dizer que havia ganhado um vídeo game novo. Podia dizer que na próxima semana se mudaria para o Alasca. Podia dizer que... Em um segundo, o braço forte do garoto saíra do armário e puxara a garota para dentro do mesmo. O lugar estava escuro, e estreito.
- Oi! – ela disse sorrindo, mas ele não vira, estava realmente escuro.
- Oi – ela sentia o nervosismo na voz dele. Ele, novamente, em um movimento rápido juntara seus lábios, num beijo calmo. Ele a puxou pela cintura, acabando com todo o pequeno espaço que podia ter entre eles. E ela entrelaçou os dedos nos fios curtos do cabelo arrepiado do rapaz.
- null... O seu bilhete...
- Eu tenho uma novidade – ele a interrompeu. null sabia que ele estava sorrindo.
- Conte...
- Eu... Vou, er... Terminar com a Megan! – null parou, por que ele faria isso? Ela sabia. Claro que sabia. Mas... Não era possível que... – Para ficar com você. Só com você. – ela ficou em silencio. Sem reação. - null?
- Eu te amo, null! – ela o abraçou com todas as forças. E depois veio um beijo, o mais romântico de todos aqueles quatro meses perfeitos que passaram às escondidas. Não era possível. Era um sonho. Só podia ser.
- Eu também te amo, null! Quero ficar com você para sempre! – naquele momento, null sabia que o que sentia por null, não era um “amor de escola” como sua mãe e os filmes diziam. Era amor de verdade.
Fim do flashback.
null jogou a caixa na parede. Queimaria aquelas fotos. null havia lhe contado tudo nos mínimos detalhes. Lembrava como a garota estava feliz naquele intervalo. Nervosa. null sempre fingira apoiar o romance dos dois, mas a quem queria enganar? Todos sabiam que ele sempre fora apaixonado por ela. Ali tinham fotos que acabavam com ele. Fotos de null e null abraçados, null e null no baile do primeiro ano, null e null no quarto dele, null e null se beijando embaixo da escada em março do segundo/terceiro ano... null e null, null e null, null e null... Ele não conseguia mais olhar para aquilo. Naquele momento, provavelmente null e null, seu melhor amigo, estariam transando na cama dos dois. E ele se excitando com... Fotos? Lembranças de um passado sofrido? Não. Ele precisava beber. Agora.
Capítulo 3
Uma ligação da polícia. Ela entrara em desespero.
- null! Vem logo! Por favor. – null não queria chorar.
- null, calma! Ele está bem, amor! Foi só uma briga de bar! – null dizia tentando acalmar a garota. Mas ele estava aflito também, uma briga de bar.
O lugar estava todo aceso. Assim que entraram, null procurara null com os olhos. Lá estava ele.
- null! Como você está? – ela disse preocupada.
- Ele vai para a delegacia, mocinha. Está sozinha? – o policial loiro de olhos verdes sorriu malicioso para ela, que o encarou com nojo.
- Ela está comigo – null abraçou null pela cintura de lado, puxando-a para perto – null, o que aconteceu?
- Não aconteceu nada, null. Por que você esta aqui? null, você está bonita – ele sorriu todo molengo. Estava completamente bêbado. E algemado.
- null... – null encostou-se no ombro de null, não saberia ate que ponto seguraria o choro.
- Ele bateu no barrista e o ameaçou. Está encrencado, null. – o policial falou cínico.
- Ele vai ser preso? – null perguntou, mais para si do que para o policial.
- Talvez uns dois meses na cela façam ele aprender – sorriu vitorioso.
- Quanto é a fiança? – null perguntou direto, alto e claro.
- Vai pagar por isso aqui? – o delegado segurou null pela parte de trás da gola, arqueando as sobrancelhas.
- Ele é meu irmão. Quer dizer, melhor amigo. Mas o que você tem a ver com isso?
- Tá certo, venham comigo. – e os quatro foram em direção à delegacia de Nova York.
***
Logo null e null chegaram. Eles cinco haviam combinado de assistir o jogo dos New York Knicks contra os Lakers, partida do ano no Madison Square Garden! Ingressos comprados, tudo pronto! Mas null aprontara uma dessas. null havia ligado e desmarcado o compromisso. E logo os cinco estavam juntos, mas não no jogo.
- Ah, cara, eu estava tão animado! – null fazia bico.
- Vão ter outras partidas, a gente vai na próxima! – null sorria fraco, tentava animar a todos, mas antes ela devia se animar.
- Queria tanto ver os Lakers... – null encarava o horizonte através da janela. Ele abraçava a namorada tentando esquentá-la e esquecer o que fazia ali. Esquecer que estava perdendo um jogo que havia feito contagem regressiva para assistir. O time do coração jogando na própria cidade, quase no mesmo bairro! Estava desolado.
- null... – null levantou a cabeça forçando contato visual – teremos outra oportunidade... null precisa de nós... Ele... Ele parece tão sozinho, sabe? E essa bebedeira...
- Ele precisa de um médico, uma clínica! – null pareceu acordar. Este era outro que tinha um carinho enorme por null, não suportava vê-lo sofrendo assim. null e null eram amigos desde a infância, antes de formarem o “grupo inseparável”. Todos mudaram com o tempo, todos para melhor. Com exceção de null.
- Calma, null, ele não precisa disso.
- Precisa sim, null! Ele foi capaz de bater em um barrista, pois o cara negou a vigésima sétima dose... Vigésima sétima, null! E eram o quê, seis e meia da tarde? Que pessoa em sã consciência toma vinte e sete doses de vodka no final da tarde? Droga! – null era explosivo, todos sabiam. E no fundo, ele tinha razão.
- null, não fala assim com ela! Todos nós estamos preocupados e aflitos, não vamos brigar! – null disse recebendo um beijo carinhoso de null.
- Desculpa atrapalhar o momento melaço de casais, mas trouxe notícias. – o mesmo policial, que se chamava Francis, apareceu. – null ficará detido esta noite, mas se quiserem pagar a fiança ele...
- Eu pago... – null disse desanimado, levantando a mão direita, como se fosse se arrepender depois.
- Nós pagamos – null levantou a mão e null logo fez o mesmo gesto, não queria ficar para trás.
- Que lindo, o grupo de amigos se juntando para... – Francis implicava.
- Tem como arrumar logo essa coisa de fiança, policial Francis? Não estou me sentindo bem – mentiu null revirando os olhos.
- Calma gatinha, eu vou trazer os papéis para vocês assinarem – piscou.
- Gatinha é o seu... – null iria falar se null não tivesse apertado seu braço. Não queriam mais confusão. Aquele policial estava tirando todos do sério mas, mesmo assim, era uma autoridade.
- Cuidado, null. Pode acabar engaiolado como o seu amiguinho – sorriu virando as costas.
- null, respira, amor! – null deu um selinho no namorado.
- Ah não, ele parou para falar com aquela secretaria ali! Que é mó gostosa - null disse se sentando na cadeira azul desconfortável que tinha ali.
- Vamos ficar aqui até amanhã – null se sentou também.
- Olha! O jogo vai passar na tv! Pelo menos vamos conseguir assistir! –null disse se sentando e puxando o namorado junto.
- Mas seria bem melhor se estivéssemos lá – null fechou os olhos escorregando pela cadeira. Sabia que o certo era pagar a fiança, afinal null era seu melhor amigo. Mas as coisas não podiam continuar assim, ele teria que prometer que não beberia mais. Eles todos estavam perdendo coisas incríveis por causa da falha de um deles? Não aconteceria de novo, null não deixaria.
***
A luz fraca do sol batia em seus olhos, fazendo-o acordar. Eram 17:30 da tarde. Haviam perdido o sábado inteiro dormindo. Mas NÃO importava, precisavam dormir! A noite de sexta fora cansativa, só chegaram da delegacia depois das duas.
- null? Está acordada? – sussurrou afagando os cabelos longos da amada, ela ficava linda dormindo.
- null... nem consegui dormir. – ela se virou encarando o namorado. Estava cansada, chateada com aquilo tudo.
- Por que, null? Odeio te ver assim, sabia? – beijou a testa dela com carinho.
- Fiquei pensando como ele está. Como passará a noite? Posso ligar para ele, null? Por favor, amor... – ela fez aquela carinha irresistível, sabia que ele cederia.
- Ligue, vá em frente... só não quero você se lamentando depois! – ele se jogou na cama novamente, bagunçando os cabelos mais arrepiados que o normal.
- Pode me castigar depois, eu deixo – sorriu maliciosa levantando-se sensualmente, estava apenas de roupas íntimas. As favoritas de null.
- Vou cobrar! Agora vai logo antes que eu te agarre e te puxe aqui para baixo de novo!- ele mordeu o próprio lábio inferior.
- Quando voltarmos, serei sua escrava – piscou e saiu rindo do efeito causado no namorado.
null colocou uma camisa preta e uma calça jeans. Ouvira null comemorando no telefone, null estava pronto para ser buscado. Ele iria pegar o amigo detido, precisavam conversar. A sós. Seria uma conversa difícil, null sabia o quanto null era orgulhoso. Mas ele iria ouvir.
- null, estou saindo! – beijou a namorada confusa.
- Para onde? – ela arqueou as sobrancelhas.
- Para a delegacia! – disse como se fosse óbvio.
- Ah sim. Senta aí, vou colocar uma roupa rapidinho. – fez menção de sair, mas ele a segurou pelo braço, impedindo sua passagem.
- Amor, você não vai – disse devagar, ela ficaria brava.
- Como assim, null? Claro que eu vou! Deixe-me ligar para null e null, a gente pode tomar um café todos juntos para...
- null - disse, fechado os olhos, ainda segurando a namorada agitada - vocês não vão. Preciso conversar com null. É importante. De verdade. Por favor, amor, entenda... Ele esta em um momento difícil. Não esta sendo fácil para nenhum de nós! – null se jogou no sofá marrom da sala, permanecendo de olhos fechados.
- Não está mesmo! Mas não vai melhorar assim, null... – ela se sentou ao lado dele, acariciando seus cabelos curtos.
- Vai, null. Tem que melhorar. – Abriu os olhos – Vamos combinar assim, eu o pego e conversamos no caminho. Enquanto isso, você liga e chama null e null para virem aqui. Então podemos jantar todos juntos, como antigamente! O que você acha? - sorriu fraco.
- Está bem. – ela olhou para o chão contrariada e ele lhe deu outro beijo, mais demorado.
- Sabia que você entenderia – se levantou – mas, por favor, coloque uma roupa, null. Essa visão privilegiada só eu posso ter. O null já te acha maravilhosa, imagina se te vir assim? – olhou a garota dos pés à cabeça com uma expressão safada.
- Só ele me acha maravilhosa? – se levantou também e fez cara de indignada colocando as mãos na própria cintura.
- Claro que não – null a puxou pela cintura, colando seus corpos – você é minha maravilhosa.
***
Ele dirigia com pressa. Queria chegar logo na delegacia. Mas o que falaria? Era algo a se pensar.
- null? – deixou o celular no banco do passageiro, no viva-voz.
- Fala, null! Qual é a boa? – disse rindo.
- null, você bebeu de novo? – riu em deboche.
- Não! Está louco? Beber novamente nunca mais! – ele gargalhou – null, olha isso!
- null? – null pegou o telefone rindo fraco.
- null? O que está acontecendo? – perguntou confuso.
- Nada, cara. Só o null que não consegue ver um filme de drama sem dar risada! Moramos juntos desde a formatura e ainda não me acostumei. null, isso não foi engraçado! – null ouvia a risada do outro.
- Qual é o filme? – null ria com a situação.
- Titanic. null, o cara vai morrer! – null gritou bufando.
- Meu Deus... Bom, queria pedir um favor para vocês...
- Fala! – null havia saído de perto de null, o barulho fora amenizado.
- Estou indo pegar o null na delegacia e queria que...
- Estamos indo! – null disse rápido.
- NÃO VENHAM! Eu quero falar com ele sozinho. Quero que você e null vão até meu apartamento. A null está sozinha e preocupada. Cheguem lá com umas pizzas, uns filmes, vão distraindo ela. Por favor! Eu levo null para lá depois, passaremos uma noite só dos cinco, esta bem? – estacionava na porta da delegacia.
- Interessante... Vamos nos divertir e distrair muito a null. null, se prepara pro Ménage! – null riu.
- Nem brinca! Quer deixar o null mais umas noites na cadeia? – null apertou o volante com força, ele era possessivo, ciumento.
- Relaxa, null! Só brincadeira, pô!
- Com a mulher dos outros não se brinca! Mas, de boa... Ah, não fala para a null que eu mandei vocês aí, ok? Cheguei na delegacia. E Vai logo pra minha casa, vai!
- Beleza, manda noticias! Falou!
- Falou... – guardou o celular no bolso e saiu do carro.
***
null acabara de sair do banho. Havia colocado um short jeans e uma de suas várias camisetas coloridas e soltinhas. Penteava seus cabelos quando a campainha tocou.
- null? null? – abriu a porta, ainda descalça, e estranhou – nem liguei para vocês ainda! – sorriu.
- Telepatia, colega – null piscou entrando e cumprimentando a garota, ainda surpresa com tal conexão entre eles.
- null! Eu trouxe uns filmes muito bons! – null mostrou alguns. Entre eles Nemo, Titanic, Sempre Ao Seu Lado... – todos muito engraçados, você vai amar! – ele sorria.
- null, não liga, você conhece esse cara. Ah, trouxemos pizzas também! – sorriu mostrando todos os dentes.
- Vocês são videntes ou o quê? – ela abraçou um de cada lado – null foi buscar o null, daqui a pouco os dois chegam aqui! Noite dos cinco, como antigamente! – eles fizeram cara de surpresa, como se não soubessem.
- Viemos na hora certa! – null beijou a bochecha de null.
- Somos muito, muito bons. – null sorriu vitorioso ajeitando sua tão adorada jaqueta de couro.
- Podemos ver algum filme, null? – null se dirigiu ao aparelho de dvd da sala.
- Claro, vou pegar o sorvete! – ela foi pulando em direção à cozinha.
- Cara, somos ótimos atores - null sussurrou.
- Atores do bem! – null ligou a tv. Seria uma longa noite.
***
A BMW preta andava lentamente pela movimentada Nova York. Ambos em silêncio. null queria começar a conversa, mas não sabia como.
- Para onde vamos? Minha casa é para o outro lado... - null quebrou o silencio.
- Estão todos na minha casa, esperando a gente...
- Então... Obrigado... Por, você sabe... Pagar a fiança... - null olhava através da janela, evitando olhar para null.
- Não fui só eu, null. null e null pagaram também. – fez uma pausa curta – não fiz mais que o meu dever. Não podia ter um irmão na cadeia durante dois meses – aquela palavra, irmão, mexia com null. null era seu irmão. Todos eram, mas nunca havia admitido para si. Sempre soube, mas ouvir null usando aquela palavra lhe fazia bem.
- null... Me desculpe. Eu não deveria ter bebido tanto... Não podia ter bebido tanto. Você deve estar achando que eu sou louco, nunca falo o que eu sinto. Mas esta noite na cadeia me fez pensar. Se eu continuar fazendo essas merdas, vou acabar preso. E a fiança não será algo a se cogitar. Vocês quatro são os únicos da minha família de verdade. Não posso contar com meus pais para algo fora o dinheiro. E às vezes, sinto que posso estar perdendo vocês. Estas minhas atitudes só os afastam. Cara, perdemos o jogo dos Lakers! Lakers... – encostou a cabeça no banco, fechando os olhos – Sou um idiota mesmo...
- Ainda bem que você sabe! – null deu uma risada nasalada, recebendo um soco no braço como resposta – Brincadeira, null. É bom você se abrir assim! Pelo menos comigo. Eu... Eu já tinha preparado um puta discurso só para fazer você entender que beber não é a solução. Mas pelo visto, não vou precisar! Você não vai perder a gente, está bem? Estaremos aqui para tudo. Este é um momento bem gay, mas amigos de verdade sempre tem esses momentos! – null olhou para null, ambos riram do comentário.
- Te amo, gata! – null disse com voz afetada.
- Sai dessa, velho. Minha noiva esta em casa me esperando!
- A null! Como ela está? – null voltou ao normal, mas preocupado.
- Ah, null... Ela ficou realmente preocupada. Passamos a noite na delegacia com aquele policial chato no pé dela. Chegamos exaustos em casa. Dormimos um pouco. Sabe, nos divertimos um pouco. E dormimos novamente. – ele sorriu, aquela tarde havia sido muito boa.
- Entendi – null fechou a cara – Bem que o Francis disse que tinha uma gostosa na sala de espera, com um namorado “filho da puta” na cola. Nem imaginei que poderiam ser vocês! – balançou a cabeça negativamente.
- Ele... Ele chamou a minha null de gostosa? Caralho, ele merecia umas belas porradas. – null respirou fundo acelerando um pouco.
- Ainda bem que não o veremos durante um bom tempo!
- É assim que se fala! – null ligou o rádio, passava uma música que ambos conheciam. Se entreolharam, aumentaram o volume e cantaram loucamente.
- I”M ON THE HIGHHHHHHWAAAAAY TO HELL!!!!!!
***
Eles gargalhavam enquanto subiam as escadas até chegar no apartamento de null, no terceiro andar. Abriram a porta e encontraram algo diferente do imaginado. null e null estavam de pé em frente à TV, jogando um vídeo game da garota. Um vídeo game de dança. null estava sentado no sofá comendo um balde de pipoca e comentando “Faz direito, null!” e às vezes levantava para ajeitar alguma merda do amigo. Bom, ninguém percebeu a presença dos recém-chegados.
- Galera! Quero jogar também! – null disse fazendo os três pararem de dançar.
- null! – null correu ao seu encontro o abraçando com força – Você está bem? – disse preocupada.
- Estou ótimo, null! Só meio sujo, sabe? – olhou para a própria roupa com cara de nojo.
- Ah, claro! Vou pegar uma toalha para você, pode tomar banho! – null disse indo em direção ao quarto de hóspedes.
- E os amigos? Não cumprimenta mais? Educação mandou lembranças! - null disse se aproximando e puxando null para um abraço.
- E você, null? Não vai tirar uma com a minha cara? – abraçou o último – Que putaria é essa de jogo de dança? Ninguém me chamou!
- Queríamos deixar a null feliz, ela nos obrigou! – null fez cara de sofrimento – Sua namorada é malvada, null!
- Eu sei! Mas no bom sentido! Adoro ela malvada – null gritou lá de dentro do apartamento, fazendo o restante rir. Menos null.
- Obriguei nada! Eu dei a ideia e os dois se animaram!
- null, vai tomar seu banho. A toalha está no box! E eu deixei uma camisa e uma bermuda velha que eu tinha no armário em cima da bancada, pode pôr.
- Beleza, já volto! – null piscou se dirigindo ao quarto nos fundos da casa.
- Oi, amor! – null deu um beijo rápido em null, logo ficaram abraçados – null parece bem mais feliz... Como foi a conversa?
- Melhor do que eu imaginava. Ele se abriu completamente! Foi ótimo! – null sorriu.
- Eu sabia que iria dar certo! – null disse encaixando o próprio rosto no pescoço macio do namorado, beijando de leve o local.
- Vai começar... – null revirou os olhos.
- Pô, null! Está cedo para putarias, vai! Vamos comer e depois você e o null vão para o quarto ok? Espera só mais um pouco – null fez cara de súplica, e null lançou uma almofada em sua direção.
- Vamos dançar, vai! - a garota puxou os três para o meio da sala, entregou um controle para cada.
Capítulo 4
Aquela havia sido a primeira noite dos cinco juntos sem bebida. A primeira noite com todos completamente sóbrios. Estavam igualmente felizes, igualmente animados. Todos realmente alegres com a presença uns dos outros. Menos null. Este fingia a alegria, fingia a felicidade. Não conseguia ser feliz com a garota que amava debaixo da asa do namorado/melhor amigo. Sim, ele amava null. Desde a primeira vez que se beijaram, embaixo da arquibancada do ginásio. Ela chorava por causa de outro, mas não fazia mal. Ambos estavam carentes. Trocaram aquele beijo que, no ponto de vista dele, foi o melhor do século. E iniciaram um caso secreto. Bem, era secreto até uma cheerleader descobrir e, com uma foto que comprovava, espalhar para a escola toda. Mas logo null teve acesso à foto e deram um jeito de fazer todos acreditarem que era montagem. Idiotas. null amava null, não null.
Aquela havia sido a primeira noite em que ele dormia fora da própria casa. Resolvera aceitar o convite de null, passaria a noite no quarto de hóspedes do apartamento dele e de null. O apartamento de null cheirava a álcool, cheirava a sexo sem amor. Não queria mais morar ali. Iria morar com null e null, como o combinado do início de tudo aquilo. Seriam os três amigos, só faltaria null. Pena que null tinha uma companhia melhor, bem melhor, e mais cobiçada.
Olhava para o teto escuro, não conseguia dormir. Os gemidos que vinham do quarto ao lado o deixavam louco. Como ele queria ser o cara que levava null ao delírio. Como queria ser o cara que podia chamá-la de sua. Queria ser o cara que a desse carinho, amor, não apenas como amigo. Queria ser o cara da vida dela. Mas, como este cara era o seu melhor amigo, se sentiu no direito de ter uma visão da cena. Levantou-se com mais calma do que o necessário, null e null não o escutariam se aproximando, estariam muito entretidos gemendo e preenchendo um ao outro. Rastejou pelo corredor até alcançar a porta entreaberta do quarto do casal. Graças, estava entreaberta! Assistiu a cena com precisão, toda a concentração que tinha estava sendo utilizada no momento. Queria poder gritar, queria poder entrar naquele cômodo e socar null, tirá-lo dali, impedi-lo de deixar a sua null louca. Sua null... apenas em pensamentos.
O ciúme lhe corroía, por quanto tempo aguentaria? Estava comprovado, eram incansáveis.
***
Os três tomavam café na bancada de mármore da cozinha. Como ele odiava ser a vela, era tão... desagradável. Ela estava linda. Cabelo bagunçado, sem maquiagem alguma. O que lhe estragava eram suas vestimentas, a camisa preta do namorado. E um short mais longo do que gostaria.
- Dormiu bem, null? – null sorria abertamente.
- Muito bem, dona null. Obrigado pelo convite – sorriu, mesmo sendo falso.
- Eu que convidei, beleza? – null fez cara de indignado.
- Relaxa aí, null! Obrigado também – riu.
- Pode vir sempre que quiser! – null o abraçou de lado.
- Eu vou voltar! Podem deixar.
- Mas eu acho que vai ser bom, você morando com os caras... – null comentou .
- Vai mesmo! O trio maravilha! – riram da piada da garota – só vai faltar o null zinho aqui, não é, amor? – ela apertou as bochechas do namorado, que fez careta.
- Qualquer dia eu fujo, null! – ele mostrou a língua.
- Contanto que não tenha vadias envolvidas... – ela deu de ombros.
- Tão liberal assim? Sério mesmo? Nenhuma reclamação? – null fez bico – me espera null, vou fazer as malas!
- Cala a boca null, você sabe que eu te amo mais que tudo nesse mundo! – ela o abraçou pelo pescoço e selou seus lábios num beijo quente. Beijo este que só foi rompido pelo barulho de uma xicara se espatifando no chão.
- Ai! Me desculpem! Foi muito sem querer! Escorregou, acho que devo ter derramado leite na borda e... – null fingiu desespero. Ele deveria ser ator! Tinha esmagado a pobre xícara com as próprias mãos, odiava sentir o amor exalando pelos poros do casal, odiava.
- Sem problemas, null. tem mil dessas no armário! – null sorriu. null deveria ter quebrado a xícara na cabeça do amigo, não na pia.
- Ótimo, assim fico menos culpado! – null sorriu. null se levantou e foi buscar outra xícara para null terminar o café, mesmo contra a sua vontade.
***
Era verdade. O apartamento cheirava a álcool e sexo. Acabaram de chegar ao local para dar uma arrumada e já colocarem para alocação. Ele sempre soube que seria melhor para null morar com null e null. Pena que null sempre fora do contra. null arrumava a cozinha e null o quarto, fazia suas malas. null organizava os enfeites e null varria a casa. Cada um fazia um pouco. Ele lavava os pratos sujos com luvas, não sabia o que null havia usado ali, mas tinha uma ideia. Haviam garrafas quebradas, camisinhas usadas... o lugar era realmente nojento. Ainda bem que null tinha consciência disso. Seria desgastante visitá-lo naquelas condições. null era sortudo, tinha uma mulher organizada em casa. Ela era perfeita. Suspirou pensando na mesma, como conseguira fazer null se apaixonar por ele? Todos os caras do colégio ficavam em cima dela, era só estalar os dedos que teria quem e quantos quisesse, quando quisesse. Tinha null aos pés. Tinha, do verbo não tem mais. Porque, claro, null não gostava da noiva do melhor amigo, não podia gostar. Pelo menos era o que null pensava.
- Como você morava nesse chiqueiro, cara? – null perguntou quando pararam para descansar.
- Ah, sei lá! Não me incomodava. Eu passava o dia bebendo, não ficava sóbrio em horário algum. Só vinha aqui para comer algumas garotas de programa e para tomar banho, nada mais. O resto do tempo era em bares ou em festas. Às vezes, na casa de vocês – sorriu. Apesar de triste, null era sorridente. Para quem via.
- Ou arrumando confusão! – completou null dando um longo gole em sua coca-cola.
- Esse cheiro... queria tanto uma taça de vinho! – null se encostou no sofá velho que tinha ali.
- Nem pense nisso... você diz uma taça, mas bebe quatro garrafas! Vai ser ótimo você morando com a gente, não te deixaremos beber! – null disse apontando para o amigo.
- E eu e a null teremos uma desculpa a mais para visitar vocês! Cara, teremos mais coisas juntos! Todas as sextas, poderemos sair! No próximo jogo dos Lakers, iremos com certeza! – null dizia animado. Seria tão bom sair com os amigos sem se preocupar com a quantidade de doses ingeridas por null, sem ser babá do mesmo.
- Vamos poder jogar mais Just Dance com a null! – null riu, fazendo os outros lhe jogarem almofadas.
- null, você é gay? – null foi direto
- Não! Eu gosto de dançar, preconceito agora? – arqueou as sobrancelhas.
- Não, claro que não. Só queria ter certeza para...
- Calem a boca e terminem de arrumar esse negócio! Quero ir cedo para casa... – null disse se levantando, seguido por null.
- Ao trabalho! – null foi em direção às luvas e jogou um par em cada um – temos muita coisa para fazer...
***
A casa estava em silêncio. Mas tinha gente ali. Ambos estavam no quarto. Debaixo das cobertas. Se encaravam em silêncio, apenas digerindo o que tinham acabado de decidir.
- Você tem certeza? - ela perguntou com medo da resposta.
- Nunca estive mais certo na minha vida! - ele sorriu puxando a amada para um beijo apaixonante.
Marcariam a data do casamento, ainda naquela semana. Estavam noivos desde que saíram de Los Angeles, os pais de null eram severos, ela só sairia de casa casada. Ou noiva. Então null fez o pedido e assim foi, eram noivos desde os 18. Cinco anos se passaram e a relação era igual. De marido e mulher, mas sem aliança na mão esquerda. Agora as coisas seriam diferentes. null queria tê-la para si, mais do que como namorada, como esposa. Não precisavam ter filhos, só queriam ser um do outro, no papel, de verdade. Aquilo era um sonho se realizando para a garota, casar na igreja de véu e grinalda, com o cara que ela mais amava na vida.
- Eu te amo – ela disse colocando um de seus dedos sobre os lábios do rapaz.
- Eu te amo – beijou aquele dedo quente.
Ficaram assim durante mais um tempo, somente trocando juras de amor, como nunca tinham feito, e se olhando em silêncio. Se algum dia alguém duvidara sobre a existência do amor verdadeiro... Aquele casal comprovava, amor de verdade existe. E é maravilhoso, para eles. Nunca estiveram tão certos sobre algo, queriam se casar naquele momento. null já via o futuro. Entrando na St. Patrick’s Cathedral com o vestido mais lindo que já vira. Seria perfeito, tinha que ser!
- Vou ligar para os meninos! Eles serão os primeiros a saber! O null vai ser o primeiro! null! Ele vai ficar tão feliz em ser o padrinho! - null sorrindo e abraçando o namorado com forca, ainda deitados.
- Todos vão ficar felizes... mas, você liga depois da sua mãe e da minha não? – null riu.
- Não... Mas não importa! null, você me faz a pessoa mais feliz do mundo! – o beijou.
- E eu só sou feliz por que tenho você – se beijaram novamente.
- Vou ligar para minha mãe antes que você me seduza, tudo de novo! – levantou-se maliciosa.
- O null tem razão. Somos incansáveis! – null deitou novamente – Ah, null, põe uma roupa, por favor... Não sei se eu aguento te ver assim! – olhou para o corpo nu da garota, que seguia em direção ao armário.
- Estou vestida, null! Se segura! – Gargalhou – Somos incansáveis mesmo... E isso é ótimo! – saiu do quarto rebolando, um dia ela enlouqueceria o futuro marido.
***
Morar com os amigos estava sendo melhor que o esperado. Nos finais de semana, comiam e dormiam tarde. Viam pornografia, filmes, jogavam videogame, conversavam sobre nada. Eram três homens que moravam juntos e se davam bem, sem nenhum pingo de bebida. Mesmo que alguns sentissem necessidade.
null gostava de acordar cedo para “não perder o dia”, fazia o café diariamente e sempre entupia os amigos de panquecas. null deixava a casa sempre limpa, tinha uma mania de limpeza exageradamente grande. Não podia ver uma sujeirinha que pirava, mandava limpar, explodia como sempre. null ajudava um pouco aqui, um pouco ali... nada que mudasse a vida de ninguém.
- O café está pronto, podem vir! – null gritou da cozinha, fazendo null se levantar do sofá laranja de couro da sala e se dirigir ate o amigo.
- Vou me trocar, já estou indo. – null foi para o quarto, havia sujado sua roupa de calda enquanto tentava ajudar null. No quarto, tirou sua camiseta e foi a procura de uma nova. Naquele momento, ouviu seu celular tocar. Bufou e correu em direção ao mesmo, precisava atender. Mesmo sendo cedo, os caras do trabalho poderiam pedir para ele chegar adiantado. Droga, ele amava quartas-feiras. Mas estava enganado. O número do visor era o numero da casa de null e null, seu sorriso se abriu instantaneamente.
- Bom dia, null! – disse indo para a cozinha, mesmo sem camisa.
- Bom dia, null! Feliz quarta-feira para você – ele sentiu que ela sorriu, quartas-feiras eram os dias de null e null.
- Feliz quarta-feira para você também! – null revirou os olhos, achava aquilo simplesmente ridículo. null deu um tapa em null, para null ligar aquela hora tinha que ser importante.
- Está sendo uma ótima quarta-feira! – ela disse animada e rindo.
- Nossa, por que, null? Você parece mais feliz que o normal – riu – tem algum motivo especial?
- null... – ela suspirou – você não vai acreditar!
- null, estou ficando preocupado! O que foi? – null fechou a cara, estava com medo da amiga. null e null se entreolhavam mais do que curiosos, queiram ser aquele telefone.
- Eu e o null... – a garota caiu na gargalhada e null pôde ouvir o namorado da mesma rindo junto.
- FALA LOGO! – gritou.
- Eu e o null vamos nos casar! – a garota gritou, ainda rindo.
- Ai, null! Isso eu já sabia! – revirou os olhos bufando, pensou que seria algo bombástico, como uma gravidez ou algo do tipo – me deixou nervoso para nada!
- null, é serio! Nos vamos nos casar! Vamos ate a St. Patrick’s Cathedral hoje após o trabalho marcar a data! Esse casamento vai sair, null! – a menina falava animada quase comendo as palavras. null ficou sem reação. A felicidade estava corroendo o mesmo por dentro. Queria abraça-los naquele momento! Já pensava na despedida de solteiro do null, em quantas garotas bonitas e gostosas compareceriam... seria maravilhoso! null sempre apoiara aquele casamento, mas achava que era apenas uma desculpa para os pais de null cederem – null? Você esta bem, padrinho?
- Pa... Padrinho? Eu vou ser padrinho? – sorria e gritava no fim da frase – null! Meu Deus! Eu... nem sei como... null! – ele bagunçava os próprios cabelos sem conseguir parar de sorrir.
- Claro que vai! Você e os seus colegas aí da casa! Onde eles estão, na verdade? Quero falar com eles!
- Não acredito, null! Parabéns! Vai sair mesmo! Ah, cara! Vamos comemorar hoje de noite! – null colocava a mão na própria boca, não sabia direito o que falar, só sabia que estava muito feliz.
- Vamos! Agora me deixa falar com o null e com o null, estou atrasada e o null já esta enchendo o saco! – ela riu.
- null? – null tomou o telefone da mão de null, que continuava estático.
- null!
- O que aconteceu? O null não consegue falar! O que você disse para ele? – null ficava cada vez mais nervoso, seria o último a descobrir a grande novidade. Mas já tinha em mente, e não gostava da ideia.
- Nada demais, o null que é um exagerado! Eu e o null vamos marcar o casamento hoje à tarde e...
- VOCES VÃO MARCAR O CASAMENTO? – null deu um pulo ficando de pé e arregalou os olhos, surpreso.
- Vamos... não podemos? – null perguntou com um pé atrás, null parecia assustado com a notícia.
- E COMO NÃO AVISARAM ANTES? – neste ponto, null já ria e abraçava null, ambos muito felizes com a novidade. null queria encontrar algum lugar para enfiar a cabeça, não suportaria ver aquilo.
- Acabamos de decidir, null! Fica tranquilo! Ah, você vai ser padrinho também! – ela disse rindo com a alegria dos amigos, era bom saber que o casamento era apoiado e adorado.
- Sempre soube! Eu que juntei o casal! – sorriu vitorioso.
- Cala a boca, eu que juntei! – null entrou no meio, fazendo null rir.
- Na verdade, foi o null... – null pegou o telefone da mão da namorada, que protestou – Passa para ele, null?
- Claro! null! Volta aqui, porra! Eles vão casar! – null dizia para o amigo, mas falava tão alto e tão alegre que as palavras chegavam em null e null com facilidade.
- Oi... – null pegou o telefone.
- null! Eu queria que você fosse o primeiro a saber, mas a null se empolgou e falou com o null primeiro... você já sabe? Que vamos casar? – null segurou a mão da amada e entrelaçou seus dedos, sorrindo.
- Sim... percebi quando null pulou e quase abriu um rombo no chão. – null fechou se afastou da comemoração que acontecia na cozinha e se sentou no sofá, fechando os olhos. Precisava ser um pouco mais falso, precisava parecer um pouco mais alegre com a situação.
- Não está feliz? – null questionou.
- Claro que estou, só fiquei surpreso! De um dia para o outro... Mas, cara, parabéns... estou muito contente por vocês! – suspirou. Odiava profundamente ser falso com null... ele era um de seus melhores amigos, de verdade, mas quem mandou se apaixonar pela sua garota? E ainda por cima roubá-la? Alguém sairia machucado. E no fim, quem sempre se fode é o null.
- Estamos muito felizes também. Faria a honra de ser meu padrinho? – null sorriu.
- Não posso negar um pedido desses! Claro que serei seu padrinho – null sentia uma leve impressão de que não daria certo.
- Beleza! Hoje à noite vamos sair para comemorar e...
- Hoje? null, minha mãe está na cidade! Vou passar a noite com ela. Desculpa, cara... Me contem tudo amanhã, suave?
- Ah, que pena! Mas conversamos amanhã! Manda um abraço para a dona null, pede a receita dos bolinhos de chocolate!
- Pode deixar! Cuida bem da null...
- Sempre! – desligou o telefone e o jogou em cima da mesinha. Ainda ouvia as vozes de null e null gritando na cozinha, aqueles pareciam mais animados que os noivos. Sua mãe não estava na cidade. Ele mentira. Precisava beber urgentemente.
***
O Swift Bar estava lotado. Eles haviam se atrasado na igreja, mas tinham conseguido uma data maravilhosa! O casamento seria em cinco meses, ou seja, final de agosto. Para ser exato, dia 24 de agosto de 2013. null não conseguira parar de sorrir durante nenhum instante do dia. Quem chegava perto se sentia contagiado. null exalava felicidade, afinal, seria para sempre o marido da pessoa que mais amava no mundo. Estavam muito felizes.
Assim quem entraram no local escuro e cheio, procuraram por null e null, que tinham ligado avisando onde estavam. null os avistou no bar, e puxou o namorado para o local.
- E aí, casal? Agora serão marido e mulher mesmo! Ate que a morte os separe! Está preparada para aguentar esse cara roncando ao seu lado até o fim dos tempos, null? – null disse abraçando a amiga.
- Claro que vou, já aguentei durante sete anos! Não vou desistir nunca mais! – beijou null que a abraçava por trás.
- Decidida hein, null... Essa vai ficar no seu pé para sempre – null riu da cara ameaçadora que null fez.
- Que fique, adoro ela no meu pé – beijou seu pescoço.
- Certo, agora se separem porque senão todos nós presenciaremos uma cena não-tão-agradável de se ver - null disse tirando null de trás de null.
- Por que viemos aqui? – null perguntou olhando o lugar. Era iluminado e colorido com milhares de tipos de bebidas nas paredes, vários garçons, ao dispor. Mas algo ali a incomodava.
- Não sei... null foi visitar a mãe, e acho que poderíamos beber nessa situação especial, ainda mais sem ele! – null disse dando de ombros – mas se não quiserem a gente escolhe outro. Tem aquele McDonalds da esquina que...
- Para de ser idiota, null, a gente vai ficar! – o garoto recebeu um tapa de leve de null, ela era meio explosiva às vezes, que nem ele.
- Como quiser, madame. – null acenou para um garçom que passava, pedindo as bebidas. null ria da discussão que havia ocorrido, e null se segurava para não rir também. Acabaria apanhando se o fizesse.
A cada segundo que passava o lugar ficava mais lotado, mais abafado; as pessoas mais bêbadas, mais loucas. null não beberia demais: sua última experiência no início do ano o havia traumatizado. null era forte, poderia beber o quanto quisesse e mesmo assim só ficaria "alegre". null tomara apenas uma cerveja, levaria o restante para sua casa. null bebia muito, mais do que já bebera em sua vida toda. Ela estava feliz, queria se divertir, afinal, aquilo era uma comemoração, certo?
- null, é melhor parar de beber... – null alertou, tentando pegar a taça de sua mão.
- Para, null, sai dessa! Me deixa – ela riu – quero mais uma... null, pega para mim? – ela fechou os olhos, se movendo com a música, totalmente fora do ritmo.
- Se você pegar alguma coisa para ela, null.... – null o encarou de olhos cerrados.
- Relaxa, null! Não vou pegar nada, também acho que ela deveria parar. Até eu já parei! – disse, levantando os braços em sinal de inocência.
- Acho que devemos ir embora – null entrou na conversa, rodando seu banquinho.
- Concordo, mas quero ver essa aqui deixar – null apontou para null e fechou os olhos, colocando as mãos no próprio rosto. Teria que convencê-la de alguma maneira. Estava tarde, e no dia seguinte todos iriam trabalhar. – null... Amor da minha vida...
- Oi, null! Eu já disse que te amo? E que vamos nos casar? Aaaaah, vai ser lindo! OOOOOOH – Ela deu um grito de felicidade, ou pelo menos ele pensou ser de felicidade.
- Sim, vamos nos casar, amor, mas, por favor... Podemos ir para casa? Amanhã teremos um dia cheio! Eu na empresa, você no consultório... – ele sorriu, acariciando o rosto da namorada.
- É, null, aquela empresa cheia de estagiárias loucas por sexo, com fogo até onde der, correndo atrás de você! Com certeza terá um dia cheio! – ela bateu palmas, irônica. Quando null ficava bêbada, falava tudo que pensava.
- null, não inventa! E aquele seu chefe que sempre te come com os olhos? – null entrou no jogo.
- Não dá para comer ninguém com os olhos, null, se liga! – null disse. Sim, ele estava fora de si, mas não tanto quanto da última vez.
- Ajuda muito quem não atrapalha, vamos esperar lá fora – null sussurrou para null e o levou dali; deixaria null convencendo null a sós. null sempre lia os pensamentos de null, por isso se davam tão bem.
- null... Por favor, vamos para casa – ele se aproximou, beijando o pescoço da mesma. Beijaria sua boca, se não estivesse tão cheia de álcool.
- Vamos, com uma condição – ela sorriu, maliciosa.
- Fale, amor...
- Você vai fazer tudo o que eu disser assim que chegarmos, tudo bem? – ela lhe deu um selinho.
- Certo, mas podemos ir? – ele sorriu, quase implorando para ir embora.
- Já estou no carro! – ela disse, sorrindo maliciosa e puxando null pelo braço.
***
Ele acordou com algum barulho da rua. Sua cabeça doía muito. Há quase dois meses não colocava uma gota de bebida dentro da boca, desde que começara a morar com null e null, no começo de abril. Aguentou firme, e nos momentos em que mais precisava de sua companheira preferida – a bebida –, teve seus amigos. Era bom se sentir querido, amado. Mas daquela mágoa, null e null não podiam saber. Optou por mentir. Sua mãe não estava na cidade, continuava em Los Angeles e provavelmente não viria a Nova York tão cedo. Ele precisava beber. Saiu antes dos amigos para um bar quase fora da cidade, e bebeu. Bebeu até o ponto de não se lembrar de mais nada.
O cheiro que impregnava o lugar era de álcool. Muito álcool e sexo. Era seu apartamento. Mesmo que limpo, aquele era o cheiro original. Como havia conseguido chegar ali? Com dificuldade, abriu os olhos e se viu entre duas mulheres bonitas, completamente sem roupa. Aquela noite devia ter sido boa, como queria lembrar... Mas seria melhor se uma daquelas fosse null, pensou. null... Sempre aparecia em sua mente a todos os momentos. Isso era insuportável! Agora que bebera novamente, se lembrou da sensação que se tem quando fica bêbado, a sensação de felicidade quase instantânea, falar tudo que vier à cabeça, não se preocupar com nada. Ficar bêbado era o paraíso de null! Paraíso esse que visitaria mais vezes, mesmo que escondido. Ele tinha um plano.
***
Ela acabara de acordar. Não conseguia abrir os olhos. Não se lembrava da noite passada, só sabia que havia bebido, e muito. Sua dor corporal fez a garota perceber que havia exagerado. Tateou a cama à procura do namorado, ele saberia dos ocorridos. Mas não encontrou nada. Fez um esforço e abriu os olhos. Não havia nada ali. Nenhum null. Ela usava a mesma calça preta e camisa verde da noite anterior.
- null? – chamou, se levantando. Olhou no relógio e... 10:27 da manhã?! Ela tinha que estar no trabalho às 8:00!!! Como null deixou que ela perdesse a hora assim?! Correu para o banho, mesmo com dores, e se arrumou rapidamente. Fez aquela famosa vitamina verde de sua mãe e se sentiu melhor.
- Atende, caramba! – ela gritava com o celular enquanto dirigia.
- Alô? – ele atendeu, sua voz era suave, como sempre.
- null null, como você me deixou perder a hora desse jeito? Vou perder meu emprego e a culpa vai ser toda... – ela soltava as palavras com rapidez e nervosismo.
- null, fica tranquila! Não precisa trabalhar hoje... – ele a interrompeu.
- Como não? – perguntou indignada, dirigindo com mais calma.
- Falei com seu chefe e disse que você não tinha condições de trabalhar. Que tinha passado mal na noite de ontem. E foi mais ou menos o que aconteceu... – ele passava uma tranquilidade absurda para ela.
- E ele acreditou? – riu em deboche, seu chefe não era tão idiota quanto null pensava.
- Na verdade, teremos que levar um atestado médico. Mas esqueceu que um dos seus melhores amigos é um médico bem sucedido de Nova York? – null sabia que ele tinha sorrido ao dizer estas palavras.
- null! Meu médico preferido... null, você pensa em tudo! – ela suspirou, havia sido grossa sem motivo, e ele não perdera a linha durante nenhum segundo.
- Sim, null, pensei em tudo. Está mais calma?
- Muito! Me desculpa? Fui grossa sem motivo....
- Claro que sim!
- Agora, eu me arrumei para nada?
- Pensei nisso também... Venha me buscar para o almoço, está quase na hora do intervalo. Passaremos algumas horas a mais juntos – ele cantarolou a última parte.
- Ótima ideia! Estou chegando, beijos... Te amo – ela sorriu.
- Te amo também, rabugenta – e desligou. null amava aquele cara mais que tudo no mundo. Ele era simplesmente... Perfeito.
***
O restaurante era simples, nada muito sofisticado. Algumas pessoas almoçavam por ali, inclusive o casal. Ele explicava tudo nos mínimos detalhes, da noite louca que passara com a namorada na noite anterior.
- Está brincando que eu queria subir na mesa? – ela riu alto.
- Mais baixo, amor! Sim, você queria – ele riu, lembrando – mas não importa, eu te segurei! E quando eu quis ir embora, você não deixou. Começou a xingar as meninas da empresa! – ele revirou os olhos, como se aquilo fosse um absurdo.
- Só falo o que penso quando estou bêbada – ela disse, olhando para o teto.
- null, você é a única na minha vida, sempre foi e sempre será – ele pegou a mão da amada.
- null, você é o único na minha vida, sempre foi e sempre será – ela sorriu, o imitando.
- Nossa! O melhor foi que eu só consegui fazer você sair de lá com uma condição, que eu fizesse tudo que você mandasse! – ele disse, e ela gargalhou.
- Não acredito! – continuou rindo.
- Disse com todas as letras... Você queria uma noite selvagem, estava até gostando da ideia. Mas na volta para casa, dormiu tão linda no colo do null que tive medo de te acordar e não conseguirmos mais dormir... – fez bico.
- Amor, fica tranquilo... Na sexta eu faço a nossa noite selvagem ok? – ela sorriu, maliciosa – Mas sem bebida!
- Totalmente sóbrios! – ele riu.
- Para nos lembrarmos para sempre!
***
Deitado no sofá laranja de couro, ele estava sozinho no apartamento que dividia com os amigos. Ambos estavam trabalhado. Ambos tinham um futuro traçado, um como médico famoso e outro como grande analista de sistemas. Ele também tinha um futuro traçado: viver do dinheiro do pai, da inveja do melhor amigo, do desejo de ter o que não pode. Enquanto todos se ocupavam com seus empregos, com suas vidas, ele pensava no que fazer com a sua. Não poderia beber perto dos amigos, estes já haviam pensado em internação. Teria que inventar alguma coisa. Ele já tinha em mente o que fazer. Na próxima segunda, iria 'procurar emprego' pela cidade, alegaria que não achava confiável o jornal. Mas, na verdade, estaria em algum bar enlouquecendo. Nos outros dias, poderia gastar seu tempo se embebedando e depois tomava banho em algum outro lugar, para não deixar pistas. Poderia fazer algum tipo de contrato com um hotel, veria depois. O importante era o plano. Naquele momento, não viveria mais sem beber. Ninguém, principalmente seus melhores amigos, poderiam saber o que se passava em sua mente. Não poderiam sequer imaginar que ele era apaixonado pela noiva de um deles, e que bebia escondido para tentar amenizar a dor em seu peito toda a vez que se lembrava que havia perdido a garota de seus sonhos por ter sido frouxo. Frouxo. Ele era e sempre foi um frouxo. Será que mudaria com o tempo?
Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho da porta se abrindo.
- null? Você não deveria estar no trabalho?
- Oi para você também, null... – ele revirou os olhos, correndo para seu quarto – Esqueci minha carteira, preciso de dinheiro para o almoço!
- Ah, sim... null? – null chamou.
- Fala – o garoto apareceu ofegante com os cabelos mais arrepiados que o normal, deveria estar correndo ha um tempo.
- Vou arrumar um emprego!
- Que ótimo! – sorriu – Vem almoçar comigo, então! Você me conta da onde veio essa ideia brilhante! Viu só, a bebida te fazia perder o rumo! – saíram pela porta juntos. Eles eram muito amigos. null se odiava por mentir para null... Se odiava. Sempre fora falso nos momentos necessários, mas não com null. Ele era seu amigo de verdade. Não que os outros não fossem, mas sentia que com null podia ser o null null, sem nenhum tipo de julgamento. Era bom ter alguém para se abrir e conversar, mesmo que indiretamente. Era maravilhoso.
Capítulo 5
(N/a: coloque essa música para carregar e dê play na nota.)
Aquilo se tornou rotina para ele. Desde aquela segunda-feira de manhã, quando a farsa começou, dois meses atrás, ele bebia à vontade todos os dias. Sabia se controlar, bebia só até o próprio limite. Apesar de louco, era um louco na média, conseguia medir a quantidade necessária de álcool para lhe deixar bem. Pegava seu Volvo prata todos os dias, bem cedo, e saía para a cidade vizinha, onde tinha o bar que já conhecia e o hotel que lhe fazia um preço especial; era o melhor cliente. Bebia, se arrumava e voltava. Ninguém imaginava o que ele realmente fazia. Era tão discreto, tão bem pensado, tão perfeito... Mas toda perfeição tem sua falha.
Era uma quinta-feira como qualquer outra, mas ele se atrasou para "seu trabalho". O despertador não apitou, null o acordou com seus gritos desesperados por um par de meias iguais, como todos os médicos metódicos e loucos. A pressa corria por suas veias. Precisava beber! A adrenalina era tanta que esquecera o celular em cima da cama. E justo naquele dia, null não trabalharia. Seu chefe tivera um imprevisto e dispensara todos, fora um tipo de "agrado". Se fosse numa quarta-feira seria melhor, de acordo com null. Estava tudo tranquilo no apartamento. Era sempre tudo tranquilo, monótono. null não gostava de ficar sozinho, ligou para null no intervalo da mesma, combinara de almoçar com null. Seria um dia de descanço, se o celular de null não tocasse.
- Alô? – atendera com receio, o aparelho não era dele.
- Bom dia, o senhor null se encontra? – uma voz feminina de telesexo perguntou.
- Na verdade... Não. Este é o aparelho de celular dele, no momento ele está no trabalho – sorriu, orgulhoso do amigo, finalmente sua vida levava um rumo.
- Trabalho? – a moça riu, debochada – Sesde quando o null trabalha?
- Desde abril, eu acho... Quem é a senhora? – null ficara curioso, null teria um caso secreto e não o contara?
- Ele me conheceu em abril! Mas não importa, importa? Ele é meu cliente. Estou ligando exatamente para cobrar a tarde de ontem.
- Tarde de ontem? Ele estava no trabalho! – null não queria acreditar no que ouvia.
- Meu querido, o null null estava comigo no motel de Vermont, quer o endereço? Ele provavelmente está no bar de Vermont agora, quer que eu cheque, gatinho? – null não conseguia digerir, entender.
- Me passa o endereço do bar – precisava ver aquilo com os próprios olhos.
***
Por esse e outros motivos, odiava quintas-feiras. Eram sempre nubladas, chuvosas, tristes. Nada de bom acontecia nesses dias. Pegara seu carro e fora até o endereço indicado. Era longe para cacete. Estava de preto da cabeça aos pés, usava uma de suas mil jaquetas de couro e óculos escuros. Era dia, quase 14:30 da tarde, e o local era mal iluminado. O cheiro de drogas e vadiagem preenchia as redondezas. Se sentou em um banco afastado e discreto, ninguem o veria ali. Foi quando avistou null. Ele estava completamente bêbado. Havia cinco garotas em volta, três delas seminuas. Era ali que gastava seu dinheiro? Dançavam e bebiam, cantavam e riam. Era bizarro. null gostaria de ter alguma daquelas garotas em sua cama, se houvesse amor. Ou qualquer tipo de sentimento. Mas aquilo? Pagar para vê-las rebolando e te obedecendo? Nunca. Justo quando pensara que null havia mudado de verdade... Ele parecia mais feliz em casa. Talvez a bebiba lhe fizesse realmente bem. O fizesse feliz. E isso era o que null queria, ver null feliz.
Voltando para o apartamento, pensou em contar para todos, em procurar ajuda. Mas null nunca o perdoaria. Guardaria aquele segredo, afinal, aquilo não prejudicava ninguém, prejudicava? A vida de todos estava tão boa... Boa demais para ser verdade. null não queria ter visto nada do que viu. Preferia ser enganado a ter a responsabilidade de saber tudo e não fazer nada sobre. Queria apagar aquilo de sua mente. Então agiria com normalidade, fingiria que fora tudo um sonho. Desde que todos estivessem bem.
***
Sua mãe finalmente viera a Nova York. A garota precisava de ajuda, tinha um casamento em dois meses! Os convites acabaram de chegar, precisavam colocá-los no correio. Chamariam toda a galera da escola, os parentes, colegas de trabalho... Nova York e Los Angeles juntos no casamento do ano!
A decoração seria vermelha. Muitas pétalas de rosas espalhadas pelo local. A igreja era linda, a mais linda que null jamais vira. O salão era simples, sua mãe e sua sogra organizavam os detalhes. Graças a Deus as duas se davam bem. Era junho, tinham julho e começo de agosto. Era agora ou nunca! A garota havia experimentado todos os vestidos da loja e, como imaginado, o último era perfeito. Seria aquele. A calda não era muito longa, era branco e simples. Alguns borbados do início ao fim, sem nenhum tipo de brilho chamativo. null gostava de ser discreta.
- Maravilhosa, filha! – sua mãe chorava desde que chegara, duas semanas atrás.
- Meu filho é um rapaz de sorte! – Sra. null comentava. E null concordava com ela.
- Não consigo nem acreditar que vou me casar com o homem da minha vida! – null se trocava enquanto as duas viam vestidos para madrinhas.
- Vai ser perfeito! – Sua mãe dizia a todo momento.
- null, querida, não se preocupe. Nós duas aqui – apontou para a mãe da garota e para ela mesma – cuidaremos de tudo! Você tem um noivo para segurar durante mais dois meses! Consegue? – sorriu.
- Seguro desde o ensino médio, dois meses não são nada! – era o que ela pensava.
***
Os quatro assistiam a um jogo dos Lakers juntos, no sofá laranja. null fora liberado aquela tarde. Desde que sua mãe chegara em Nova York, sua vida ficara de ponta cabeça. Todos os preparativos da festa estavam deixando-o louco. Nunca imaginara que um casamento fosse tão trabalhoso, por isso existiam suas mães.
- Caralho! Esse time não sabe jogar! – null bufou.
- Está no começo ainda, null, relaxa! – null bateu nas costas do amigo.
- Sempre ganhamos, não? – null sorriu, se levantando para pegar mais refrigerante.
- Melhor time do mundo! – null se esticou no sofá. Era bom relaxar com os amigos. Sua vida mudaria, ficaria de ponta cabeça em dois meses.
- null, pra que o nervosismo? Você e a null já tem vida de casados! Moram juntos, dividem tudo, saem, saem com os amigos... Nada vai mudar! Só vai ter que usar o anel na outra mão! – null disse, voltando da cozinha, e null indo para o quarto.
- Aliança – null corrigiu, sério.
- Por que o null sempre sai quando falamos do casamento? – null perguntou.
- Deve ser a empolgação! Ele não consegue mostrar os sentimentos, vocês sabem... – null disse, voltando a prestar atenção na TV.
- Vou falar com ele – null foi em direção ao quarto de null e bateu na porta – Posso entrar?
- Entra – null estava deitado, encarando o teto. Fazia isso sempre que algo o incomodava.
- O que foi? – null se aproximou.
- Nada, por que algo deveria ter acontecido? – perguntou como se fosse óbvio.
- Você esta perdendo o jogo dos Lakers. Isso não é normal! – null riu.
- Eles são uma merda, não sabem jogar... – null fechou os olhos – estou cansado – suspirou.
- De que? Ver TV? Daqui a pouco a gente pode...
- Da vida, null – interrompeu –, cansado dessa coisa monótona que chamam de vida. Não sei como aguentam ter uma rotina a seguir, sempre tudo programado, tabelado, sabem exatamente onde estarão em cada minuto do dia, isso não te cansa? – null sentou se na cama, com uma esxpressão de adolecente não compreendido.
- Cansa, sim. – null se sentou na poltrona do quarto – Cansa, mas eu me acostumo. Quando temos tudo pronto para nós, parece mais fácil. Parece que podemos prever o futuro e ficamos mais próximos do que queremos, entende?
- Entendo, e não gosto. Eu quero viver o momento, e não pensar nas consequencias, sabe? – se jogou na cama novamente – Quero viver minha vida.
- Então viva, null. Não fique preso dentro de você, faça o que você quiser, mas viva. Mude de vida, sei lá, tome um rumo. – null se virou e saiu, fechando a porta.
- Fazer o que eu quero? Farei o que eu quero... E o que eu quero tem nome, endereço e noivo. Meu melhor amigo... – sorriu malicioso, tinha um plano. null sempre tinha um plano.
***
Chegara do trabalho ainda animado, sairia com seu casal favorito naquela noite! Era uma quarta-feira, ele amava quartas-feiras. Iriam ao Sushi Shop, próximo ao Central Park. Ele amava aquele lugar. Era calmo, agradável, que nem null. Ja estava pronto, jaqueta azul marinho e calça preta. null ficaria em casa assistindo CSI com null, como sempre faziam. Saiu do quarto e pegou sua carteira e seu celular. Sentou-se junto aos outros dois, ainda estava cedo.
- Não vai sair? – null perguntou com a boca cheia de pipoca. Apesar de ter 23 anos agia como se tivesse 10.
- Vou, mas está cedo. Não fale de boca cheia, por favor – null sorriu e pegou um pouco do balde.
- Vocês vão comer sushi? – null perguntou, amava sushi.
- Vamos. Quer ir também? Vamos falar sobre o casamento e... – explicava animado, até null fazer sinal de pare – Eue foi?
- Não quero, obrigado. Prefiro CSI – fez cara de nojo.
- Mas você adora sushi! – null disse, encarando o amigo.
- Hoje não estou com vontade, obrigado mesmo assim – sorriu e foi pegar algo na geladeira.
- Ele está meio estranho, não está? – null deu pause na série, encarando null.
- Está... Achei que fosse algo da minha cabeça, mas desde o casamento ele... Parece pirado – null arqueoou as sobrancelhas, encarando o chão. Não gostava de omitir a verdade, sabia que deveria contar sobre seu 'emprego' e suas bebedeiras.
- Verdade! Bem isso mesmo! Queria poder ajudá-lo...
- Poderemos, quando eu voltar pensamos em alguma coisa. To indo – levantou-se e saiu, não queria ajudar null com aquilo, não agora.
***
O Sushi Shop estava quase vazio quando chegaram. Não poderia ser muito tarde aquele encontro, então marcaram às 19:00. E às 19:00 em ponto o casal pedia a mesa. Seria uma noite divertida, os três se davam super bem. Às vezes era bom ficar sem null e null por perto. Não que atrapalhassem ou algo assim, mas null, null e null eram os mais maduros do grupo.
- Será que o null já está chegando? – null olhava pelo restaurnate à procura do amigo.
- Está, sim, null! Quer apostar que ele vem de jaqueta? – null riu, era um costume de null.
- Tenho certeza que ele vem... Não precisa de aposta – ela sorriu e lhe deu um selinho.
- Fala, casal! – null chegou rindo enquanto eles se beijavam.
- Olá, null! – null disse com um sorriso.
- null! – null abraçou o amigo – Ee veio mesmo de jaqueta!
- O que tem a minha jaqueta? – null olhou para a mesma – Está em perfeito estado!
- Nada, null, nada... – null e null entreolharam-se, se controlando para não rirem. null fechara a cara.
- Falem logo!
- A gente quase apostou que você viria de jaqueta, mas não foi preciso, ambos tínhamos certeza – null deu-lhe um beijinho na bochecha – Senta aqui, vamos pedir! – null riu em deboche balancando a cabeca em negação. Tinha amigos muito idiotas... Mas os amava pra caramba.
***
null já dormia e null não havia chegado ainda. Ele estava no próprio quarto, bolando seu plano. Era perfeito, quase sem falhas. Nunca seria pego! Não queria que ninguém soubesse, nem imaginasse! Aquilo parecia sem pé nem cabeça, mas na mente de null, era maravilhoso. Podia ser um pouco arriscado e violento, mas seria necessário. Seria a sua única oportunidade de sentir null dentro de si novamente. Mesmo que fora de si. Ele precisava de null lhe preenchendo tanto quanto precisava beber. Ela era um vício. E todo vício tinha seus males. Pensar nela era quase pecado, de tão maldosas as ideias que rondavam sua cabeça. null amava null, e a amaria até a morte.
***
Quinta-feira. Sempre chovia. Ele odiava quinta-feira. Por mil motivos. Por mil razões que só ele compreendia. Às vezes null se via sozinho, assim como null, por isso tinham uma conexão. null era ele mesmo com todos, null só se sentia confortável para se abrir com null. Por isso precisavam um do outro.
Mesmo tendo conexões e se dando bem com todos, null gostava da solidão. Preferia a companhia de seus amigos, claro, mas adorava pensar sozinho. Por isso sempre que precisava pensar, ficava ali, dentro do armário. Era seu esconderijo, seu local seguro. Ali tinha mil papéis com anotações do passado. Roupas e coisas úteis de guardar num armário não se encontravam ali. Apenas a pequena 'toca' de null. Todos conheciam o lugar, e sempre que 'perdiam null', sabiam que ele estaria ali. E sempre estava.
Aquele armário tinha cheiro de mofo, mas ele não se importava. Qualquer dia compraria um perfume e espalharia pelo local. E uma lâmpada seria interessante. Naquele momento, pensava nos acontecimentos recentes e tentava ligá-los de alguma forma. null e null se casariam de verdade, aquilo era maravilhoso. Mas null estava mal por algum motivo que ninguém conhecia. Por isso bebia. Isso! null bebia para aliviar algo que tinha no peito. null tentaria descobrir que mágoa era aquela que atordoava o amigo. Mas por que escondido? Claro, o medo de ser julgado. Por que nao contava o que sentia? Seria tão mais fácil... Aquilo tudo começara na época em que o casamento fora marcado. Antes ele aguentava firme. A partir daquele ponto, passara a beber todos os dias; null acompanhava seus passos. null nunca atendia ao celular durante o "horário de trabalho". Trabalho este que ninguém sabe qual é, e ninguém se importa. Suas roupas estão sempre diferentes, ou apenas parecidas, nunca as mesmas do momento em que sai e chega em casa. Um dia, chegara cheirando a álcool, mas null já sabia de tudo, e null não fora esperto o suficiente para pensar. null teria que dar um jeito de descorbrir o que tanto perturbava null. E o faria, o mais rápido possível.
***
A luz era fraca, mas era suficiente para iluminar seus projetos. Gostava de organizar seus planos em papéis, várias pastas trancadas no cofre que tinha embaixo da cama. Escrevia com pressa quando ouviu o barulho da porta de abrindo e apagou a pequena lâmpada. Num segundo, todos seus papéis estavam guardados, ninguém poderia ver aquilo.
- null? Posso entrar? – era null, bater para quê, não é, null?
- Entra! – sorriu amarelo. null acendeu a luz e se aproximou.
- O que estava fazendo, Kednall? – sorriu torto.
- Desenhando – mentiu.
- Posso ver? Adoro seus desenhos – null se inclinou tentando ver algo, mas null o impediu.
- Não, são para o casamento. A null tem que ser a primeira a ver! – Pegou as pastas e as abraçou com força.
- Se você diz... – null se sentou – null, eu preciso te perguntar uma coisa... – parecia incomodado ou envergonhado, passava as mãos pelo cabelo curto muitas vezes enquanto falava.
- Pode falar – se esticou na cadeira.
- Er... O que está te incomodando? – olhou para o teto, se deitando na cama do amigo.
- Me incomodando? Nada, null! O que te faz pensar isso? – falou rápido demais, opa, sinal de nervosismo. Tinha mesmo algo acontecendo com null.
- Não sei... To tentando descobrir! Voce ficou mais sério, não quer mais sair nem se divertir de uns tempos para cá...
- Ah, acho que quero um rumo para minha vida, sabe? Meu emprego, meu salário, tudo se ajeitando... – sorriu.
- Só falta uma mulher, não? – brincou.
- Não – fechou a cara – null, eu preciso dormir... Por favor, podemos terminar isso amanhã?
- Claro... Boa noite. – null se levantou e saiu. null havia mentido descaradamente. Havia algo errado, muito errado.
***
Naquele dia, ela tinha encomendado as lembrancinhas do casamento. Eram lindas! Era uma das últimas coisas a fazer. Faltavam dois meses e o casal já tinha tudo pronto. Era maravilhoso. Curtiam cada momento juntos. Os vestidos, a decoração, o salão... Tudo pago e preparado!
null chegara em casa cansada, tinha trabalhado o dia todo e saíra para ver aquelas coisas. Queria tomar um banho e dormir agarrada ao noivo.
- Deu tudo certo lá, amor? – null a recebeu na porta.
- Tudo ótimo! – deu-lhe um beijo e se jogou no sofá marrom – Só estou cansada. Quero dormir com você, null. Mas só dormir! Agora – ela se levantou e agarrou o noivo, que ficou surpreso com a ação repentina da noiva.
- null... Ambos temos compromissos, esqueceu? – Ele se afastou, envergonhado, também queria dormir com ela.
- Aaaah... Quais, mesmo? – fez uma cara triste.
- Eu, null e null vamos ver o jogo dos Lakers num bar. – ela percebeu que ele vestia a camisa do time – E você vai com null resolver a roupa dele. Foi o único padrinho que não compareceu na prova! – revirou os olhos.
- Claro! Esse null... Fodendo com tudo desde sempre! Bom jogo pra você, null, vou ligar para ele e ver aonde vamos. – foi até a própria bolsa pegando o celular.
- Que braveza! Nem um beijinho de despedida? – null abraçou-a por trás.
- Não merece, mas não resisto – beijou o namorado com vontade, mal sabiam que tudo mudaria naquela noite.
***
Acabara de combinar com ela no StarBar, ali em Manhatan mesmo. Nao queria ir muito longe, podia ser arriscado. Seu plano daria certo. Tinha tudo para dar. O motel era do outro lado da rua, perfeito. Já havia reservado o quarto e pago o garçom. Teria null naquela sexta -feira. null finalmente teria null, mesmo que desacordada.
***
Ele também queria dormir abraçado a null, mas infelizmente não poderia. Quem sabe quando voltassem? Aquele era o jogo da final, precisava assistir. Dirigia sua BMW preta com calma, estava adiantado. Noite com os amigos, jogo dos Lakers... Seria como nos velhos tempos!
O apartamento era no final do corredor do sétimo andar, mas já ouvia a risada de null e os gritos de null. null saía, rindo.
- null! Como é que 'tá? – cumprimentou o amigo.
- Fala, null! O que 'tá acontecendo? – null riu da bagunça visível.
- Você conhece os caras... null está reclamando do tal bar que vocês vão, parece que é um lixo! – null deu um tapa no ombro de null – Se foderam – sorriu.
- Duvido que seja tão ruim! Sabe o nome? – null enrrugou o nariz, não queria ir a um lugar que fazia null gritar desse jeito.
- Vish, nem perguntei! Mas mesmo assim, o null não pira à toa! – riram, sabiam que null ficava puto facilmente, era explosivo e não era segredo para ninguém.
- Bom... Cuida bem da null para mim, beleza? – null colocou uma mão no ombro de null.
- Claro! Cuidarei como se fosse minha – null sorriu.
- Obrigado, null, é bom ter amigos como vocês, em quem posso confiar – abraçou null com carinho.
- Sempre, null, sempre...
Saiu e deixou null se virar com a dupla dinâmica do apartamento. Ainda bem que null não descobriria nada, a última coisa que queria no mundo era ver seus amigos bravos ou tristes. Não suportava a tristeza de quem amava. E ele amava null. Mas amava sua mulher também.
***
- 'Tá brincando que vamos no StarBar? – null sentou no sofá laranja com a mão na testa – É o pior bar da cidade, null!
- Não começa, null. Até parece que você liga pra limpeza! É o único lugar que vai televisionar o jogo! Por favor, caras, só uma noite! – null juntava as mãos em forma de reza.
- Eu já desisti. To brigando com ele desde cedo! – null gritou da cozinha.
- Tem um motel na frente daquela porra... Vai ter gente se comendo lá no meio! – null bufou.
- Você não pode falar nada, null! Você e a null vivem se pegando no meio da gente! – null disse rindo em deboche.
- Ah, vão se foder! É diferente! – null disse com uma expressão que beirava raiva.
- Por que é diferente? – null perguntou, se juntando aos outros dois.
- Por que tem amor no meio. Quando tem amor, não é 'se comer'. É amor, beleza? – encarou null e null alternadamente.
- Olha, null... Desde que você marcou essa casamento, você está tão profundo, tão gay, tão você mesmo! – null fingiu que chorava, esfregando os olhos.
- Só disse a verdade! Agora, vamos ver TV. Tá cedo pra sair – null ligou o aparelho. null riu baixo e se sentou com os outros dois, se null estivesse ali seria melhor ainda!
***
(N/A: dê play.)
Que tipo de buraco era aquele que null tinha metido eles? StarBar... O pior pub que null já visitara. Várias mesas quase coladas, canos espalhados para... Danças eróticas, talvez? Todos bêbados, até garçons.
- null, que lugar é esse? – ela disse, assustada com a 'paisagem'.
- Só te trouxe aqui porque é perto da sua casa, não vamos voltar tarde, vamos? – sorriu – Mas se quiser ir para outro lugar, nós...
- Não, relaxa. Só achei... Diferente do acostumado. – se sentou numa mesa perto da saída.
- Calma, null! Em meia hora, ou menos, podemos sair daqui.
- Certo. – olhava para os pés, não saberia a reação do amigo a pergunta que faria – Você vai beber?
- Só uma champanhe – ele acenou e piscou para um garçom -, para brindar o casamento da menina mais linda do mundo!
- Nossa! Preparou tudo, hein! – Ela pegou a bolsa vinho com detalhes em couro preto, combinava direitinho com seu vestido vinho e seus sapatos de salto também pretos.
- Sou um cara preparado – ele ajeitou a gola da camisa xadrez, fingindo superioridade enquanto sorria.
- Sempre soube – ela piscou.
A champanhe chegara em taças altas e bonitas, já servido. null pegou o da direita assim que foi depositado na mesa. null pegara o da esquerda. Se entreolharam e brindaram, sorrindo.
- Ao seu casamento! – ele disse.
- Obrigada por tudo, null... Você é um dos melhores amigos que eu poderia ter! – ela bebeu todo o líquido em um gole, null sorriu e bebeu o seu também. Odiava fazer aquilo, poderia magoar a todos caso soubessem. Mas a recompensa valia. Afinal, ela nao saberia, a relação deles não mudaria. Mudaria? Talvez ele sentisse mais necessidade de tê-la do que nunca. Mas foda-se, estava tudo pronto, preparado, perfeito. Ela já tinha ingerido todo o líquido.
- null, eu... Minha cabeça está doendo... – ela disse depois de um tempo. Parecia tonta; Ótimo, ele pensou. O remédio já fazia efeito.
- null? Você está bem? – fingiu preocupação.
- Estou... Só um pouco... Tonta... – ela fechou os olhos e colocou as mãos no rosto com força. Sua cabeça latejava.
- Venha comigo – null se levantou e pegou a mão da garota. Deixou o dinheiro do garçom em cima da mesa. Atravessaram a rua com cuidado.
- Vamos para casa, null? – ela já cambaleava.
- Vamos sim, null, só quero pegar uma coisa aqui – levou null para denro do motel. Agora era uma questão de tempo até a garota se encontrar completamente desmaiada, ele era um gênio. Seu plano dera certo.
Capítulo 6
(N/A: coloque essa música para carregar, play na nota.)
null dirigia totalmente contra a sua vontade em direção ao StarBar. O jogo já ia começar e eles estavam atrasados. null havia perdido sua carteira e não sairia sem ela.
O lugar não estava tão cheio e nem tão nojento como sempre. null se sentiu melhor. Ainda eram 21:00, a putaria não começa ainda. Sentou-se numa mesa no balcão e começou a olhar em volta. null pedia um Martini; null, cerveja, e null não beberia. Queria estar lúcido para sua null quando chegasse em casa.
- Gente! Uma bolsa! Quem perdeu? – um garçom levantou a bolsa de couro preto, igualzinha à de null.
- A null tem uma igual, não tem, null? – null perguntou.
- Eu acho... Que é a dela. – null se levantou com a testa franzida indo até o senhor. – Posso ver? – o garçom estendeu a bolsa para null – Obrigado.
Abriu-a com cuidado. Não era possível. Sua carteira, seu celular, a foto dos dois. Era a bolsa de null.
- null... É a bolsa da null – null estava nervoso.
- Mas... Ela está com o null! – null se aproximou com null na sua cola.
- Deveria! E não há como falar com ela – pegou o celular. – Droga! – null bateu na mesa.
- Liga para o null! – null pegou o próprio celular e discou... Caixa postal.
- Droga, droga, droga, droga! – null bagunçava o cabelo – Se eles estiveram aqui, alguém viu! – null foi até o barman com calma, não podia estar nervoso naquele momento. Mas era quase impossível.
- O que vai querer? – o barman perguntou chacoalhando algo.
- Você viu quem estava sentado naquela mesa? Uma garota de 22 anos, cabelos compridos, vestido vinho... Acompanhada de um homem com camisa xadrez... Viu? – null respirava fundo, precisava se acalmar.
- Aaaah, aquela gostosa, vi sim, oh se... – ele não conseguiu terminar a frase, o punho fechado de null havia acertado sua face em cheio.
- Aquela “gostosa” tem dono. Fala, onde ela está? – null gritou e atraiu os clientes para si.
- Ela saiu com o cara, acho que foram para o motel ali em frente – o barman se levantava devagar, com o nariz sangrando. null não acreditava no que ouvia. null e null... Em um motel?! Era mentira, só podia ser mentira!
- null? O que ele disse? – null apareceu com uma expressão preocupada. null fechou os olhos. Passou correndo por null e null e saiu do bar. Mal olhou para atravessar a rua, logo estava na recepção do motel. Os nervos à flor da pele, sangue fervendo. null não faria isso. Não depois de dizer o quanto lhe amava. Não menos de dois meses antes do próprio casamento. Não com o seu melhor amigo.
- Mulher dessa altura – apontou a altura de null – Vestido vinho. Homem alto de camisa xadrez. Estão aqui? – null disse rápido, assustando a recepcionista.
- Boa noite, senhor. Não posso lhe dar informações sobre os hóspedes – a senhora sorriu leve e null fechou os olhos, bufando.
- Por favor, senhora, eu preciso saber. – ele estava nervoso. Sua face, quase vermelha. Queria null ao seu lado, e que tudo aquilo fosse um grande mal entendido.
- Desculpe, não posso. – a senhora deu as costas. null suspirou e esfregou os cabelos.
- Vamos embora, null. null deve estar te esperando em casa! – null sorriu puxando o amigo.
- Não. Ela não está. – sussurrou. null parecia um louco atrás de algo perdido. Mas, indiretamente, estava louco atrás de sua mulher.
- O que quer fazer então, cara? – null perguntou arqueando as sobrancelhas em desafio.
- Checar. – null deu uma última olhada na senhora do balcão, que estava longe no momento, e correu escadaria acima. O motel era tão podre que só tinha dois andares. E escadas, nenhum elevador. A decoração era vermelha e gasta, nada muito bonito ou agradável. null bateu em todas as portas e arrombou algumas. Nada de null e null. Apenas alguns casais, que xingaram ou riram. O segundo andar tinha quatro quartos. Os primeiros três destrancados e vazios. Tinha o último. null já não aguentava correr. null gritava “Volta, null!!” E null corria atrás do mesmo. Os três pararam na frente da última porta. A última. Se a abrissem, poderiam ver um quarto vazio, assim como os outros, e finalmente se acalmarem. Ou poderiam ver um casal qualquer em “momentos íntimos”. Ou... null e null... mas... Não, aquilo era fora de cogitação.
null respirou fundo. Depositou sua mão na maçaneta. Ouviu um gemido. Gemido masculino, no caso. E conhecia aquela voz. Era a voz de null. Não... Em um movimento tirou sua mão da maçaneta e deu dois passos para trás. null nunca faria isso com ele. Não a sua null. Não queria mais abrir aquela porta. Seus olhos já estavam pesados. Sua mente borbulhando mil ideias se passando por ali.
null fechou os olhos, não podia ser verdade.
- null... – null disse colocando sua mão na própria testa – Vamos embora. -
null não se pronunciava. Estava paralisado, mesmo sem ter visto nada.
- Não – null correu em direção à porta e estourou a mesma.
* * *
Ela acabara de acordar. Seu corpo doía, principalmente a região das pernas. Não se lembrava de nada da noite anterior, apenas de ter chegado a um bar com null... Ela, provavelmente, bebeu mais que o indicado, obrigando null a levá-la para casa. Olhou para o lado, onde estava null? Estava meio tonta. Se levantou com dificuldade e foi até a cozinha. Nem sinal do namorado. Era sábado de manhã, onde ele estava? Tomou sua vitamina e ligou para null. Caixa postal direto... Estranho, ele nunca desliga o celular. Ligou para null, tocou, tocou, tocou... Nada... Provavelmente estavam juntos! Claro! Só lhe restava ligar para null.
- null... – ele sussurrou ao atender – Como você... – ele suspirou.
- null? Está tudo bem? – ela franziu a testa e riu; por que o nervosismo?
- Eu que te pergunto! O que deu em você? – ele se segurava para não gritar, não queria acordar os outros.
- Como assim? Bebeu? – ela começou a achar estranho. null nunca havia sido tão frio com a mesma.
- Não, estou completamente sóbrio. Ao contrário de você! – elevou a voz.
- null! Eu bebi um pouco ontem, nada demais! – bufou. – Que saco! Onde está o null? Você sabe?
- Qual é a sua, null? – ele se revoltou. – Faz tudo aquilo e ainda pergunta pelo null? – riu em deboche – Na boa, não tente falar com ele agora, ele está muito mal...
- Mal? Por quê? null, o que está acontecendo? – sabia que tinha algo errado, droga.
- Para de se fazer de besta! – gritou.
- Cala a boca, null – ouviu null de longe – Quem é?
- A null – null? Por que não “null“?
- Desliga. – null disse rápido.
- null! Não desliga! Me explica, por favor – null já tinha a voz chorosa, ela era frágil.
- Não chora! null... Droga! – bufou.
- Vem para cá... Por favor, null!
- Ah, null... Beleza, estou indo. – desligou o telefone.
Ela sentou no sofá marrom da sala. Não tinha ideia do que poderia ter feito. Nunca mais beberia na vida.
* * *
(N/A: dê play.)
Sua mão doía. Ele dirigia com pressa. Para lugar nenhum. Estava no carro há algumas horas. Provavelmente, fugindo. Aquela cena não saía de sua cabeça. Sua mulher... Seu... Melhor amigo? Como puderam? Como ousaram? Não poderia ser verdade! Mas era... Ele havia visto com os próprios olhos. Se qualquer um lhe contasse, não acreditaria.
So this is the end, of you and me
We had a good run, and I'm setting you free
To do as you want, to do as you please
Without me
Remember when, you were my boat
And I was your sea
Together we'd float, so delicately
But that was back when we could talk about anything
Já havia parado o carro algumas vezes. Chovia, e ele chorava. Estava inconformado. Sabe qual é a pior sensação do mundo? Pior que soluço, pior que morte, pior que tudo? A sensação de ter alguém, alguém que você ama mais que tudo, que daria o mundo, a vida por ela, e simplesmente sente que a perdeu. Que foi traído. Que perdeu o coração.
Não conseguia pensar em nada. Se sentia estranho, por que estava assim? Ah, claro... O amor verdadeiro. Ele existe. E apenas fode com a vida dos apaixonados. null não estava bem. Não sabia o que fazer, para onde ir. Desligara o celular, desligara o rádio, desligara a mente. Estava numa situação depressiva. O melhor amigo e a mulher da vida dele numa tacada só. O que faria? Tinha null e null, iria para a casa deles. Mas não agora. Agora precisava pensar. E o casamento? Não teria mais casamento! Claro que não! Como iria casar com alguém que dormiu com o melhor amigo? Não, não teria mais casamento! Foda-se se pagariam o dobro pela desistência, ele pagaria. Foda-se que todos ficariam bravos, ele explicaria. Foda-se.
O que lhe perturbava era null. Como null estava? Estaria mal também? Havia se arrependido? Estaria com null no motel ainda? Estariam juntos planejando a vida? Sempre tiveram um caso? Aquilo era recente? Alguém sabia? Tantas perguntas sem resposta... null estava triste, confuso, louco. Estava sem chão. Seu porto seguro se foi. Seu conforto, sua diversão, seu carinho, seu coração... Seu amor.
Tudo havia escorrido pelo ralo. Não se importaria se morresse agora. Na verdade, era o que ele queria. Desaparecer, nunca mais ver aquelas pessoas na vida dele. Mas enfrentaria tudo, de cabeça erguida, não seria problema. null era um homem forte e decidido. Conversaria com null, entenderia o que tinha acontecido. Podia tentar lutar contra seus sentimentos, mas amaria a garota. Desde sempre, para sempre.
I don't know who you are
And I don't know who you are
And oh, cause I don't know who you are
When you sleep with somebody else
Cause I don't know who I am
When you're sleeping with him
And it's true what they say
Went and threw it away
* * *
O que ele mais tinha medo que acontecesse, aconteceu. Não era para null aparecer! Que porra foi aquela? Estava tudo tão bem, tão certo, tão perfeito... Mas tudo que é perfeito tem sua falha. Ele conseguira o que queria, uma noite com null. Mas conseguira também estragar a vida da garota e do seu melhor amigo! Ótimo, null! Destruíra a vida de duas das quatro pessoas mais importantes da sua vida! Ótimo! E, para piorar, tinha um olho roxo e latejante.
Como apareceria para eles? Deixaria null lhe socar? Bater até a morte? Não, null não é agressivo... Pelo menos quando o assunto é futebol. Fazer “outro plano” não daria certo, já tinha isso em mente. Seus planos começavam perfeitos, acabavam perdidos.
Imaginava que null estava na casa de null e null, pois, obviamente, ele está muito chocado. Logo, fugira. Então null, fugira também. Para o lugar mais desprezível do mundo, seu apartamento.
Aquele lugar continuava sujo, com cheiros de tudo que é horrível. Ele arrumaria depois. Ou contrataria uma empregada gostosa para arrumar.
O grande problema era: não poderia ter null, nunca mais. Ele provavelmente nunca mais se aproximaria dos quatro, seria o culpado da história. Mas não contaria sobre a não participação da garota no caso. Não deixaria null livre, ela teria que lutar e perder para conquistar os amigos de volta. Como null queria que null ficasse longe dos outros três e corresse para seus braços! Isso não aconteceria. Ela era uma garota da verdade, nunca ficaria do seu lado. Então ele não ficaria do dela também. Ele não seria perdoado. Ambos estavam fodidos. Por culpa de um egoísta que só pensa em sexo e nele mesmo, null.
* * *
A garota esperava ansiosamente a chegada do amigo... O que poderia ter acontecido de tão ruim noite passada? Perda dos Lakers? Não, os Lakers haviam ganhado. Então o que era tão horrível a esse ponto? null desligar o celular, null não atendê-la, null ser frio... O que acontecera?
Cada segundo que passava, sua agonia crescia. Seus apartamentos não eram longe, ONDE ESTAVA LOGAN?! null brincava com a caneta em cima do papel. Estava preocupada com null. O seu null. Tinha sumido sem dizer nada! Mesmo que fosse a trabalho, ele teria dito.
A campainha tocou.
- null! – suspirou aliviada, sua tensão acabaria em poucos minutos.
- Oi – ela o abraçou com força, mas ele a afastou, entrando no apartamento.
- null? – estranhou. Ele amava seus abraços.
- null... – fechou os olhos e franziu a testa, estava nervoso – O que você fez ontem... É meio imperdoável, sabe? – a olhou.
- Imperdoável? – riu em deboche – Conversar com null é imperdoável? – indignou-se.
- Vocês não estavam conversando. Não no motel. – null arqueou a sobrancelha, desafiador. null sentou no sofá marrom.
- Motel? Que porra de motel, null? Nós conversamos num bar! – deu uma risada nasalada.
- O motel onde vocês foram transar depois do bar! – bateu palmas – Parabéns! Vocês dois enganaram a todos! Ótimos atores! – sorriu sarcástico.
- Cala a boca, null! – abriu a boca indignada – Como ousa dizer isso?! Você sabe muito bem o quanto eu amo o null, e sabe também que o que sinto pelo null é puro carinho, puro desejo de amizade. Nunca faria isso com o cara da minha vida! – se jogou no sofá, bufando.
- null, nós vimos. Não precisa se preocupar, já sabemos de tudo – sentou-se próximo a ela.
- De tudo o quê, Meu Deus? – fez cara de sofrimento.
- Já que você não facilita, parece que terei de acordar sua memória...
- Por favor!
- Ontem à noite... – suspirou – Eu e os caras íamos assistir ao jogo dos Lakers num bar, o StarBar. – null concordou com a cabeça, pedindo que ele prosseguisse – Chegamos tarde, quase na hora da partida. Vimos uma bolsa vinho com couro preto numa mesa da porta e pesamos ser sua. E, adivinha?! Acertamos! Tinha todos os seus documentos dentro! – null fez uma cara surpresa – null achou tudo muito estranho, por que null te levaria ali? Perguntamos ao barmen e ele disse que viu a senhora – apontou para null – sair acompanhada, em direção ao motel, de um cara alto de camisa xadrez, null. null queria... Fomos ao motel do outro lado da rua. null arrombou todas as portas, inclusive a última.
Flashback
Os três nunca tinham visto uma cena tão desprezível, estranha, inesperada e excitante ao mesmo tempo. null estava deitado, quase por cima da garota, antes de se assustar. null ficou sem reação. Parado na frente da porta recém derrubada. Queria gritar, queria correr, queria bater em null, queria morrer. null sorria de puro nervosismo, tinha medo das ações de null. E null tentava controlar a situação, não queria brigas e nem discussões, por mais impossível que fosse.
null se mexeu por debaixo das cobertas e levantou-se em um pulo, ele provavelmente estava... Se vestindo.
- O que vocês... – começou.
- O que é isso? – null interrompeu com a voz falha.
- Isso? Não é... – null se aproximava nervoso.
- O que é isso?! Droga! – null gritou e quebrou um vaso que tinha no corredor, simplesmente o jogou no chão.
- null, vamos embora – null tentou segurar o amigo, que arrancou suas mãos de sua volta.
- Eu não... Porra! – null fechou os olhos e socou a parede com toda a sua força, entrando no quarto, seguido por null e null.
- null! – null disse. – Calma.
- Calma o caralho! Sabe como eu to me sentindo?! – null encarava null com todos os sentimentos ruins já inventados – Sabe? – se aproximava com um olhar psicopata e lágrimas rolando de seus olhos. Mesmo chorando, sua voz era firme, forte, superior.
- Você...
- Cala a boca – null socou a face de null, que caiu no chão gemendo alto de dor – null... – riu em deboche – Eu confiei em você... Confiei tudo, sempre. Dividi tudo, fiz de tudo... Você era um irmão para mim... Obrigado, melhor amigo – cuspiu as palavras com desprezo e saiu do quarto.
- Você é um filho da puta mesmo, não, null?! – null balançou a cabeça em negação e foi atrás de null.
- null, não é nada disso... – se levantava com dor.
- Não, claro que não... Sempre desconfiei de sua paixonite pela null, mas vocês dois... Simplesmente estão perdidos. null ama os dois. Pelo menos amava. E uma coisa eu tenho certeza, você nunca será perdoado.
Deu as costas. A coisa mais estranha é que, mesmo com a barulheira, null nem sequer se mexeu na cama. Mas os sentimentos estavam tão elevados que ninguém notara este detalhe.
Flashback Off
O chão da garota caiu. Lágrimas escorriam pela sua face gélida pelo nervosismo. Queria se enfiar num buraco, entrara em desespero.
- Não... Não aconteceu nada disso! Eu não fui para um motel com null, eu não sei de nada! null... – ela tremia. Mal conseguia falar, sua voz era falha e gaguejava.
- Vou pegar uma água – disse se levantando.
- Não! – ela o abraçou – Acredita em mim... Por favor... – ela molhava a camisa azul do amigo. null sabia que null amava null. Sabia que ela nunca faria isso. Ela não era capaz. Quem olhava em seus olhos percebia que seu coração já tinha um nome: null. null não veria o casamento do século sendo destruído desse jeito. Não se deixaria levar apenas pelo que vira, pela primeira impressão. Ele pesquisaria e ajudaria a todos a entender que porra havia acontecido ali. Pois a verdade sempre prevalece.
* * *
Ele não estava normal. Desde sexta, quando descobrira tudo, sua vida mudara. Virara de cabeça para baixo. Como podia amar tanto uma pessoa a ponto de depender da mesma para tudo? Até para respirar! null precisava de null para respirar... Passou seu sábado no carro, seu domingo numa lanchonete. Não falara com ninguém. Queria se desligar do mundo por, pelo menos, dois dias. Sabia que ficariam preocupados, mas, foda-se, que ficassem. Ele precisava de um tempo, precisava organizar a própria mente, seus pensamentos.
Acordara atrasado para o trabalho, a vida continua. Esqueceu-se do despertador... null sempre o lembrava. Chegou atrasado e com a mão doendo, não é bom socar uma parede. Nem quando se está sentindo o pior sentimento do mundo. Seria obrigado a passar no médico depois, estava ficando inchado e escuro. Merda, nada dava certo.
Na empresa, todos o chamavam, todos queriam sua atenção. Naquele momento, não seria possível. A única coisa que era capaz era desenhar coisas sem nexo num pedaço de papel em cima de sua mesa. Se sentia uma garotinha indefesa. Desde quando um homem de 23 anos se desespera, se destrói assim por uma mulher? Ah! Claro, não era uma mulher, era null.
Não queria pensar em nada, não queria comer nada, não queria fazer nada. Aquilo parecia... Depressão. Precisava, além de null, de seus amigos. Amigos verdadeiros. Como os dois que lhe sobraram.
* * *
Três dias. Quase três dias. Sem ele. Sem ninguém. Apenas ela. Em sua casa. A casa deles. Aquele pensamento lhe matava. A casa não era dela, era dele também. Mas ela estava sozinha, por tempo indeterminado.
Não comia. Não comia há quase um dia inteiro. Seu estômago não reclamava, seu corpo não respondia. Só conseguia ficar deitada e olhar o teto. Costumava fazer isso com null. Encarar aquele teto branco cheio de pequenas borboletas pretas que o enfeitava.
Não dormia. Não dormia desde aquela noite. Noite em que tudo mudara. O que null faria sem null? A cama vazia... null era um nada. null era uma nada em null. Não sabia como continuar. Queria ser forte, mas como? Tudo que fazia era pensar nele. Lembrar-se de seus momentos, suas histórias e tudo que viveriam em pouco tempo.
O casamento. O casamento não importava mais. Ela só o queria. null só queria null. Por mais clichê que seja, ele era sua alma gêmea. Precisava dele para viver.
null havia lhe explicado tudo. Sua vontade era ir matar null. Pedir null de volta. Ter null de volta. Apagar aquela noite de sua vida. Apenas um porém: não tinha esse poder.
Seu único amigo no momento a ajudaria a desvendar esse rolo todo. null era esperto, e acreditava em null. Só não era esperto o bastante para saber onde null estava. Desde sábado não tinham notícias dele. Isso deixava a garota ainda pior. Algo poderia... Não. null estava bem. null estava ótimo. Mas... Ele a ama. Então como ele estava bem sem ela? Ele estava bem?
Sua cabeça doía com os pensamentos sobre um mesmo assunto lhe perturbando. Queria dormir. Queria morrer.
* * *
null havia acabado de pegar null no trabalho e dirigia de volta para o próprio apartamento. null não aparecera. null também não. null lhe chamara, ele a ajudaria, mas não contaria a ninguém antes de ter fatos concretos. Nem a null.
- null... Você acha que eles estão bem? – null perguntou nervoso.
- Claro que estão. Sempre estão bem. Só fiquei preocupado com null... Ele saiu tão... Louco – null arqueou a sobrancelha com a lembrança.
- Espero que estejam... Saudades do null em casa. Já tinha me acostumado. – suspirou. – Mesmo ele fazendo essa merda, ainda serei seu amigo. Eu acho.
- Também serei, não podemos abandonar nem null, nem null, nem null...
- Falando em null, como ela está? Você foi até a casa dela sábado, não? – null olhava o nada. Todos estavam mexidos com a situação.
- Fui sim, mas... Não sei... Ela parece... Depressiva. Preciso fazê-la comer. Mais tarde vou para a casa dela. Deles... Não sei! – disse confuso.
- Depressiva? A null? Nunca pensei que...
- Ela ama o null... – null interrompeu. – Acho que ela não sabia de nada. null a enganou, provavelmente. – deu de ombros.
- Duvido! – null riu.
- Por quê? – null perguntou estacionando o carro.
- Eles tiveram um caso na escola, eu lembro. – levantou um dedo com a sua sabedoria.
- E o que isso tem a ver? Ela nunca gostou realmente de null. Sempre fora apaixonada por null! – null defendia o casal até a morte.
- Claro, claro – disse sarcástico – Abre logo a porta.
- Babaca... – revirou os olhos.
Assim que entraram no apartamento, encontraram uma pessoa no sofá. Arregalaram os olhos juntos, pura sincronia e coincidência. Não esperavam vê-lo ali. Muito menos com o braço engessado.
- null? – null correu até o mesmo – Como você está? – não sabia se o abraçava, se o apertava, se o batia...
- To indo... – tentou sorrir.
- Não esperávamos você, desculpe a bagunça – null olhou para a casa, envergonhado.
- -Relaxa, null... Eu só... – null encarava os pés – Preciso de algum lugar para ficar... Meu carro não é tão confortável quanto parece...
- Cara... – null riu em deboche – Você pode se mudar hoje se quiser! – sorriu e finalmente o abraçou. null se sentiu, hum, seguro com o carinho? Sentia falta do afeto... Há três dias não recebia um sinal de sentimento.
- Mas e a null? – null chegou mais perto dos outros.
- O que tem ela? – null não queria pronunciar seu nome, não se sentia pronto. Não ainda.
- null... – null balançou a cabeça em negação – Você tem que falar com ela.
- Não temos nada a ver um com o outro – olhou para o teto e cruzou os braços em frente ao corpo, visivelmente desconfortável.
- Claro que tem! Vocês dois tem uma história de amor incrível que ainda não está nem na metade! Tenho certeza que tudo foi um mal entendido e que vai acabar se resolvendo rapidamente! – null sorriu vitorioso, sabia que a garota não tinha culpa de nada.
- Se tivéssemos essa tão bela história cheia de sentimentos, ela não teria me traído com o meu melhor amigo – deitou-se no sofá e gritou sobre a almofada amarela. Não queria falar mais nada.
- Suave, chega disso, troquem o disco – null se levantou. – Vamos comer.
Capítulo 7
A vida de todos em Nova York continuava normal. Menos a vida dos cinco amigos. Ainda podiam ser chamados de amigos?
A relação de null e o restante não era a mesma. Fazia duas semanas que só falava com null e com seus colegas de trabalho só quando realmente necessário. Havia emagrecido mais de 3 quilos, afinal, não comia. Só conseguia engolir alguma coisa não muito saudável quando null aparecia e lhe trazia algo irrecusável. Ela estava totalmente perdida. Não haviam contado a ninguém sobre a suposta separação, não haviam conversado desde aquela sexta. Ela tentava todos os dias, diversas vezes, chorava em todas que ele não atendia ou desligava, ou seja, sempre. Sua situação era grave, e todos percebiam. Suas olheiras eram fundas, não se arrumava mais. Para que se arrumaria se não havia mais null null para lhe elogiar?
null parou de trazer garotas para dentro de seu apartamento. Quanto menos o assunto “mulher” fosse mencionado, melhor. Seu amigo não precisava de nenhuma mulher no momento. Só de null. Sua clínica estava cada vez melhor. Seu coração, cada vez mais apertado. Sentia falta de null, sentia falta de null, sentia falta da alegria de null. Sentia falta até da melação do casal... Sentia falta de duas semanas atrás.
null pedira para mudar sua sala, colocá-la em outro andar, sem estagiárias loucas por ele. null ficaria orgulhosa se... Ele fizera aquilo para não ter mulheres por perto e muito menos contato com elas. Viraria gay. Não, não viraria, mas não queria se envolver dessa maneira nunca mais. Amar alguém mais do que a si mesmo doía tanto e machucava tanto que era melhor parar e esquecer as garotas por um tempo. Mas uma não saia de sua mente. null.
null aproveitava sua fase da adolescência de novo. Não se preocupava com nada e nunca estava sóbrio. Bebia dia e noite, noite e dia. Não queria saber da vida nem de ninguém. No fundo, queria null, queria null, null, null... Queria sua vida de volta, o carinho deles. A amizade era algo muito importante para null... Mas este nunca estava lúcido o bastante para enxergar essas coisas.
* * *
Nunca ele pensara que aquele casamento podia acabar. O casal mais lindo, mais perfeito do mundo estava indo por água abaixo! Tinha ate desistido de sua secretária nova, por enquanto, para se concentrar em ajudar null ao máximo. Queria todos felizes de novo. null gostava de pessoas felizes, assim como gostava de quartas feiras.
E era uma. Quarta feira, duas semanas depois do incidente. Ele amava quartas feiras. Logo, tinha de tudo para ser um dia maravilhoso. Suas pesquisas iam bem. E achava que null estava certa, fora enganada por Knedall. null guardava tudo que descobria para si. Todos os vídeos, papeis, bilhetes. Parecia um investigador!
Na segunda após o incidente, assim que saiu da casa de null, voltou ao bar e conversou com o garçom, que atendera null e null. O mesmo negara tudo, mas se referia a null como “o playboy filho de papai que se acha”, ou seja, o garçom não gostava de null.
Descobrira também que o motel era cliente de sua empresa, logo teria acesso aos computadores. Havia armado todo o plano, naquela tarde teria tudo esclarecido. Iria ao motel com tudo pronto e preparado, não poderia enrolar mais, o casamento era no fim de agosto e estavam no meio de julho. Quanto mais rápido, melhor.
O problema eram as hipóteses: ou null realmente não sabia de NADA e null armara tudo, ou... ambos enganaram a todos.
Estava nervoso, não sabia mentir direito, mas daria tudo certo, tinha que dar. Era sua última esperança.
* * *
Acordara cheirando a álcool. Já estava acostumado, não ligava mais. Queria mesmo é que o mundo acabasse durante a noite ou que todos congelassem ou derretessem. Queria morrer. Essa era a vontade de muitos naqueles dias. Estava difícil viver sem ninguém, complemente sozinho. Parecia que ninguém se importava com ele.
Pela primeira vez na vida, sentiu falta de sua mãe. Ela era ausente. Vivia viajando, lhe comprando a felicidade. Tudo que null queria, teria, era uma lei da família. Tudo, menos os pais. Fora praticamente criado pelas mil empregadas de sua casa, e quando chegara a adolescência, descobriu os prazeres proporcionados pela bebida. E prometeu a si mesmo que não largaria dela.
Seu corpo dizia para parar de beber, pelo menos por uns dias, mas sua mente dizia para continuar. Sua cabeça só funcionava com a bebida pelas veias. Sentia necessidade. Precisava de ajuda, mas nunca admitiria a si mesmo.
Levantou da cama devagar, mal se mexia. Usava a mesma roupa de quatro dias atrás, a última vez que tomara banho. Para que ficar cheiroso quando só se sai de casa para beber? Não tem um emprego, não tem amigos, não tem família. Não há motivo para ficar bonito.
Sua garrafa de vodka já estava pela metade. Pegou-a de cima da mesa e sorriu, amava vodka. Quando o vidro chegava perto de sua boca, se inclinando para cima, avistou algo que lhe congelou. Soltou a garrafa, que se espatifou no chão, molhando tudo e subindo um cheiro forte de álcool, e correu em direção à caixa.
Era a mesma caixa de uns meses atrás. Aquela caixa que ele prometera queimar quando estava sóbrio, a caixa que continha uma vida que não existia mais, uma vida feliz.
Decidiu não queimar porra nenhuma. Tinha algo melhor para fazer com a caixa.
* * *
null esperava impaciente a velha senhora que ficava na recepção do motel. Estava ali há uns vinte minutos, esperando a idosa voltar. Os gemidos abafados que ocupavam o lugar já o irritavam, queria acabar logo com aquilo. Queria ir embora. Mas não podia, estava salvando a vida de dois jovens apaixonados.
- Desculpe a demora, senhor null, me acompanhe. – apareceu chamando-o com um sorriso.
- Sem problemas – sorriu de volta.
- Aqui é onde ficam os computadores com os arquivos, por favor, resolva logo este vírus! Bom trabalho. Mais tarde trago um café. – ela lhe deu as costas antes mesmo de ele agradecer. A sala era pequena e escura, coberta por monitores e imagens ao vivo de todos os quartos do motel. Aquilo, pela lei, era contra a mesma. Era invasão de privacidade. Mas, como havia mentido sobre o tal vírus que acabaria com toda a fiação, não denunciaria.
Ele abriu o próprio computador e acrescentou uma nova pasta: “projeto salvação”. Adorava nomear as coisas, ele era metódico. Começou uma busca pelos vídeos daquele sábado. Não queria assistir a uma noite de sexo entre null e null, mas teria que ver pelo menos o início para desvendar algo.
Seu relógio marcava 14:07 da tarde, teria o dia todo! Ótimo! Conseguiria provar que todos estavam errados, menos null.
Encontrou tudo muito bem organizado no monitor das câmeras. Eram pastas com as datas das semanas, foi fácil encontrar duas semanas atrás. O problema era o numero do quarto. E encontrar o sábado, estava em desordem. Clicou no primeiro vídeo, viu uma senhora de uns 60 anos, grisalha e descabelada entrando com um rapaz 40 anos mais jovem. Próximo vídeo! E assim foram os primeiros 69 vídeos. Estava quase desistindo, mas não podia. Não havia assistido nenhum inteiro, apenas o bastante para identificar as pessoas de todos. E a maior parte não era agradável. Clicou no de número 70 e percebeu que já eram 18:39. Pulou alguns minutos, pois o quarto estava vazio, e foi nesse momento que viu. Deu um pulo na cadeira e arregalou os olhos, estava totalmente sem reação.
Viu null entrando no quarto. Arrastando null com os pulsos amarrados pelo chão. Totalmente desmaiada.
* * *
Ela estava voltando de seu intervalo. Naquele dia, o último paciente era às 18:00. Ele acabara de ir embora. Mas ela precisava organizar seus arquivos. Aquele era o primeiro dia em que null parava para arrumar suas coisas, estava finalmente se sentindo menos pior, não melhor. Acho que por ser uma quarta feira ela estava um pouco animada. null sempre a visitava nas quartas feiras. Ambos amavam quartas feiras. O primeiro beijo de null e null foi numa quarta feira... A primeira noite de null e null fora numa quarta feira. Pena que o casamento não podia ser durante a semana. Se é que ainda teria casamento.
Queria ver null, ele era o único que a animava. Tinham se falado de manhã, combinaram de se encontrar às 20:00 no japonês de sempre. Aqueles encontros eram às escondidas. Mas ela não sabia. null não contara a ninguém que andava se encontrando com null, achava melhor esperar tudo se resolver. A menina não tinha ideia do que vinha pela frente.
Queria ver null. Ele não a atendia. Não a respondia. Cortara completamente os meios de comunicação. Talvez por null, null sempre fora muito próximo do amigo e deveria estar lhe apoiando. Mesmo assim, fazia falta.
Queria ver null. Aquele babaca que destruíra sua vida continuava sendo um grande amigo. Um irmão caçula que sempre apronta, mas ainda sim um irmão. Estava preocupada. Sabia que null estava bem pior que null lhe contara, mas... null? Não tinha notícias desde a última vez que o vira. Imaginava que ele voltara a beber, e isso lhe partia o coração. Imaginava quantas moças ele podia engravidar se se descuidasse no desespero em que estava. Imaginava como ele se sentia. Mesmo que tentasse, não saberia. A vida de Kednall, apesar de parecer fácil, era difícil. E null sabia muito bem. Acompanhara todos os acontecimentos de sua vida. Desde a perda de sua única avó presente, que se importava com ele, até a eleição a presidente da turma. Os momentos bons e os tristes, sempre juntos. Mas tudo mudara. null mudara.
Separava seus pacientes pelo nome quando sua porta foi brutamente aberta. Era ele.
- null? – null largou suas coisas na mesa sem cuidado algum e se dirigiu ao amigo com um pequeno sorriso no rosto, que logo foi desfeito – Você... bebeu? – sentiu o cheiro forte do álcool entrar em suas narinas.
- null! Quanto tempo! – sua voz era melosa, voz característica de bêbado. null sentia seu rosto queimando de raiva. Como ele ousa aparecer em seu consultório bêbado daquele jeito?
- null... Sai, por favor. Tome um banho, e depois conversamos! Tenho um encontro com o null daqui meia hora. – ela apontou a porta.
- Não vou sair! Foda-se o null! – ele gargalhou em deboche, fazendo a garota revirar os olhos – Senti saudades, querida. – ele se aproximou, depositando uma das mãos sobre o rosto dela.
- Quem é você e o que fez com o meu kendall? – sentia seus olhos se enchendo rapidamente de água.
- Continuo aqui, null! Só que melhor! – colocou a caixa que tinha nos braços em cima da mesa da sala.
- Foi a bebida... A porra da bebida! – ela choramingava e esfregava a testa em nervosismo – Pare de beber, null, e tenha o amor dos seus amigos de volta!
- Não quero o amor de vocês! Não quero caralho nenhum de vocês! Não gosto de vocês! – ele gritou de volta, assustando a garota. Ele nunca havia gritado com ela.
- Você... Eu pensei que te conhecia... Conhecia de verdade! – balançou a cabeça em negação, enxugando as lágrimas pesadas que escorriam. – Dizem que quando entra o álcool, sai a verdade... E parece que é assim mesmo, cretino. – cuspiu, a raiva estava lhe consumindo.
- -Você me conhece, e muito bem! Não se lembra de dois sábados atrás? – sorriu safado.
- Não me lembro de nada! – levantou a mão, quase acertando a face de null. Mas se conteve. Ele merecia. Mas não ha nada mais perigoso que um bêbado bravo. – Idiota!
- Pode bater, eu deixo! Eu sei que você gostou – ele provocou, fazendo null se sentar, senão bateria mesmo – Vai dizer que não sente falta disso? – pegou uma foto de dentro da caixa. Aquela foto do colegial. Onde eles estavam se pegando no pátio da escola e uma menina fotografara e espalhara para todos. Por que ele tinha aquela foto?
- Não sinto falta de ficar com você, eu sinto falta do meu amigo null null que ia bem na escola, era decente e não se importava com besteiras. Que bebia nos finais de semana e não todas as horas do dia! Daquele null eu sinto falta. Disso – apontou para ele com desgosto – não. – arrancou a foto da mão dele e rasgou em alguns pedaços, sorrindo vitoriosa.
- Vaca! – se aproximou e levantou a mão em direção à face da garota. Ele chorava também. Ela fechou os olhos, esperando a dor lhe invadir e o barulho de um tapa cheio de força e raiva tomar o ambiente. Mas o que ouviu foi o toque de seu celular.
- Alô? – disse manhosa.
- null? – aquela voz... Era a voz que... Tanto sentira falta naquelas duas semanas.
- null! null, eu te... null volta pra mim, null, por favor, eu não sou nada sem você, eu...
- null, me escuta – a voz dele também não era estável. Estava visivelennte nervoso.
- Fale – ela engoliu o choro.
- O null... – suspirou.
- O que tem o null, null?
- Ele... Sofreu um acidente.
Capítulo 8
(N/A: coloque essa música para carregar.)
Sabe quando o mundo cai? Quando tudo estava péssimo, estava começando a melhorar e tudo desaba novamente? Era isso que acontecia. Parecia uma montanha russa. Que sobe até o ponto mais alto, o clímax, e cai. Quando você pensa que acabou e que ficara tudo bem, lá vem outra subida. Mas tudo que sobe, desce.
* * *
null dirigia para sua casa tranquilamente. Eram oito e meia; null e null provavelmente o esperavam com a pizza de quarta feira. null amava quartas feiras.
Abriu a porta e todas as luzes estavam apagadas. Não havia ninguém em casa. Onde estariam sem ele? Jogou-se no sofá e ligou a TV, esperaria os amigos para comer. Só não sabia que teria que esperar muito mais do que achava.
* * *
null arregalou os olhos em sinal de desespero.
- Como assim? – sussurrou. null não...
- Ele... Eu não sei direito! Ele estava indo para a nossa... Quer dizer, sua... Não sei! Para o apartamento, e bateu o carro! Ligaram para o apartamento dele e estou indo para o hospital. Achei importante te ligar. Não sei o que fazer nessas horas, e você... Você sempre sabe – null sorrira fraco, null se lembrara dela.
- Estamos indo! – disse rápido, pegando a bolsa e chamando null, confuso, com a mão.
- Estamos? – null questionou.
- Nos encontramos no hospital. – desligou e deu partida no carro. O que havia acontecido com null?
- null não havia entendido nada e null chorava fraco enquanto dirigia feito louca em direção ao hospital principal de Nova York.
- null... – null chamou baixo.
- Que é? – respondeu com raiva – Não me irrita.
- Aonde vamos? – ignorou a última parte da fala da garota.
- Hospital, o null... – ela encostou a cabeça no volante, haviam parado num semáforo.
- Ele ta bem? – null pareceu preocupado. Mesmo bêbado, tem um pouco de noção.
- Eu não sei... Mas espero que sim.
- Eu te amo. – null soltou firme – Eu te amo, eu te amo, eu te...
- Para com isso, null – null disse o encarando rapidamente.
- Eu sempre te amei desde a escola. Sempre quis fazer o que fiz. – ele sorriu fraco.
- O que você fez? – null disse com a voz falha.
- Te deixei desacordada, e você sabe o resto... – sorriu malicioso.
- Como você... – null brecou, estacionando de qualquer jeito na vaga do hospital – Seu... – saiu do carro antes que falasse besteira. Naquele momento chorava mais que nunca. E mais que nunca queria null ao seu lado, queria que todos percebessem que null fora o filho da puta da história, não ela.
(N/A: dê play.)
Entrou como um furacão no hospital de cor azul clara e olhou em volta. A sala de espera estava cheia. Olhou em volta e encontrou o par de olhos que tanto lhe confortavam, que ela tanto precisava. Se sentiu segura, se sentiu bem. null era tudo que precisava no momento, e ela o tinha na mesma sala.
Correu até ele e, sem pensar duas vezes, pulou no pescoço do garoto, abraçando-o com força. Por incrível que pareça, ele correspondeu com a mesma intensidade.
- null... – sussurrou em seu ouvido – Eu senti tanto sua falta – ela o abraçou com mais força.
- Eu senti... Todos os sentimentos ruins do mundo quando estava longe de você. – fechou os olhos. Como ele sentira falta da voz suave da garota.
- Não quero ficar longe de você, nunca mais. – ela molhava a camisa dele com suas lágrimas. Lágrimas de emoção. Lágrimas de tristeza, lágrimas de tudo.
- Você não vai ficar, amor. Você é meu porto seguro. Descobri o quanto eu dependo de você, a falta que você faz. – ele sorriu fraco, chorando também.
- Você não imagina como é duro acordar e não te ter ao meu lado. Não te contar como foi meu dia, como meus pacientes progrediram. Desabafar com você. – ela sorriu ainda o abraçando. Não se soltariam tão cedo.
- Eu imagino. Sinto falta da nossa casa, nossas noites. De você, null. Eu preciso de você. – a olhou nos olhos, segurando seu rosto entre as mãos.
- Eu amo você – ela sussurrou, ainda choramingando.
- Eu amo você mais, muito mais. – ele a beijou com vontade. Como sentiram falta daquele beijou calmo e cheio de sentimentos que só um podia trazer ao outro. Não importa o lugar; juntos, ambos ficam bem.
Não precisavam de mais nada, tinham um ao outro. null ainda se lembrava do acontecido, mas ele acreditava nela. Acreditava no amor que ela sentia. Ainda se entenderia com null. Naquele momento o mais importante era que eles tinham se acertado. Eles nunca haviam se separado. Mesmo longe e “brigados”, só pensavam um no outro. Não conseguiam se desligar por nenhum instante. O amor é aquela coisa que não deixa a conexão cair.
- Que lindo! – ouviram palmas e a voz de null – Se pegando num hospital! Maravilhoso!
- null... – null fechou os olhos e encostou a testa na de null – Ele está completamente bêbado e invadiu meu consultório. null, eu tenho medo dele. Ele quase me bateu quando eu...
- Ele o quê? – null se separou de null, encarando null, que sorria – Filho da mãe. – null se dirigiu até null.
- null! Que saudades, amigo! Tudo bem com você? – sorria.
- null, não – null disse antes do barulho de um soco bem dado preencher o local.
- Não chegue mais perto da null, entendeu? – null olhou para null caído no chão. Ele estava totalmente desnorteado e bêbado. Se null não estivesse tão bravo, sentiria pena.
- null, vem aqui! – null chamou o mesmo para o outro lado da sala. Todos estavam observando a cena.
- Desculpa, null... Eu precisava! – suspirou – Ele... Não é o nosso null, é?
- O nosso null não existe mais – ela sorriu fraco. – Ele cresceu, mudou.
- Infelizmente, ele mudou para pior. – deu um selinho na noiva. Era bom tê-la de novo.
- Com licença, os senhores são os acompanhantes de null null? – uma enfermeira de azul apareceu sorrindo.
- Somos. – null afirmou com prontidão.
- Ele… sofreu acidente grave. – null fechou os olhos, começava a rezar.
- Mas ele está bem? – null perguntou nervoso.
- Por enquanto, sim. Está dormindo no momento, já está no quarto. Acho que amanhã de manhã, depois dos exames, ele estará acordado. – ela sorriu.
- Vou passar a noite aqui! – null disse com pressa.
- E eu também! – null não ficou para trás.
- Podem passar, mas, por favor, não arranjem mais confusão – a senhora piscou e saiu. Seria uma longa noite. E, com muita reza, todos sairiam bem.
* * *
Fora uma noite desconfortável para todos. null havia ficado por lá mesmo, ninguém o levaria para casa. null e null dormiram abraçados num banco da lanchonete do hospital, já que null estava em UTI. E null fora avisado por último, ele ligara para null, preocupado, e correra ao encontro dos amigos.
- Ainda não sei por que você “perdoou” a null! – null sussurrava enquanto a menina estava no banheiro.
- Porque eu a amo? E confio nela? Tenho certeza que foi o porra do null que armou tudo!
- Você quem sabe... – null revirou os olhos.
- To preocupado com o null. Eu o vi dentro do carro e… parecia… grave. – null falava com cuidado.
- Não vai ser nada, não pode ser. null é quase a alma do grupo, o que nos mantém unidos! Ele não vai desistir agora.
- Ele não vai desistir agora. – null repetiu baixo. Estava com medo. null havia feito de tudo para que sempre as coisas dessem certo. E sempre dava.
- Voltei! – null caminhava lentamente em direção aos dois, ela estava abalada.
- Tudo bem, amor? – null a abraçou de lado.
- Tudo mais ou menos. Uma parte de mim quer sair cantando por Nova York, outra quer dormir para sempre. – afundou o rosto na curva do pescoço do namorado.
- Vai dar tudo certo, null, você vai ver – null sussurrou e null bufou com a melação.
- Promete? – ela sussurrou de volta.
- Prometer não da, mas tenho quase certeza de que tudo ficará bem. – tinha que ficar bem.
* * *
Ela não conseguira dormir direito. A mãe de null chegara no meio da noite desesperada atrás do filho e não conseguiam acalmá-la. As enfermeiras não tinham notícias, o sangue fervia nas veias de todos.
Custou a amanhece. O tempo parecia não passar. Assim que a enfermeira se aproximou, null e a senhora null quase voaram no pescoço da mesma.
- Faremos alguns exames. Por favor, tenham calma – ela dizia com cuidado.
- Qualquer coisa, nos avise. – null voltou a se sentar. Não aguentava mais aquela agonia.
- null… eu amo tanto o null… – ela chorava baixinho, sentada no colo do namorado.
- Todos nos o amamos, null. Você sabe que ele é forte, não sabe? – ela concordou com a cabeça. – Então, pronto! Fica tranquila! – o garoto iniciou um cafuné nos cabelos da noiva, que logo dormiu levemente. Mesmo contra sua vontade, precisava descansar. Viriam muitas coisas pela frente.
* * *
Os exames saíram. null estava bem. Seu quadro era estável, e já podiam vê-lo. Um de cada vez entraria no quarto. Sua mãe esperaria ele acordar lá dentro e seria a primeira. Depois null, null, null e null. Estes esperavam em frente ao largo quarto de null. Estavam nervosos.
- Será que ele demora muito para acordar? – null ainda estava meio chorosa, era uma garota sensível nesse tipo de situação.
- Não sei, null. – null a abraçara mais forte. – ele tomou muitos remédios.
- Droga! Quero ver o null! – null disse batendo na parede.
- Não soque a parede, null – null apontou para o próprio braço engessado. null fez carinho no mesmo, já sabia a história do braço de null e do olho roxo de null.
- Não vou socar. Não a parede.
- Não… – null iria responder se não tivessem ouvido um barulho vindo de dentro do quarto.
- O que foi isso? – null ficou aflita.
- Não foi nada, amor – null afagou seus cabelos tentando esconder o próprio nervosismo.
- Vou chamar o Jonathan, ele está cuidando do null e é meu amigo desde que chegamos aqui – sorriu e saiu quase correndo pelo longo corredor do hospital.
- Ele deve ter acordado, só isso!
- Espero que sim.
Jonathan passou pelos dois com pressa e os cumprimentou com um aceno. Entrou no quarto e fechou a porta logo atrás de si. Ele era baixo e magro, quase careca. Deveria ter uns trinta e três anos? Perguntariam a null em outro momento.
* * *
Ele está longe dos outros. O casal e null estavam no pé da porta desde o começo da noite passada. null preferiu ficar em um lugar mais confortável para “curtir” sua ressaca. Estava preocupado com null, claro que estava. Mas sua cabeça doía, seu corpo doía, seu coração doía. null e null haviam voltado. Por quê? Ele não sabia. E nem queria saber. Só queria voltar a vê-los chorando pelos cantos e emagrecendo até a morte. Se ele não estava feliz, quem tirara a felicidade dele não podia estar.
Conseguia observar os movimentos dos três ao longe. Viu um médico entrando no quarto com pressa e se levantou. Será que tinha acontecido algo? Iria se aproximar. Precisava de null, seu único amigo.
Ele andava devagar e com calma, não queria que o vissem antes do necessário. De repente, o médico saiu do quarto e null deu um sorriso tão lindo que deixou null bambo. Logo em seguida abraçou null forte, bem forte. Desistiu de ficar junto deles. null voltava a seu banco afastado, era melhor ficar bem longe do casal antes que fizesse outra bagunça.
* * *
Em alguns minutos, ele entraria no quarto. A Sra. null estava lá dentro, e dali a poucos instantes deixaria null entrar. Ele estava nervoso, seria o primeiro dos amigos a falar com null.
null chorava novamente. Dessa vez era de emoção. null estava bem! Ficaria em observação durante mais um tempo, mas, por enquanto, estava bem.
Estavam os três em silêncio. O único barulho era do choro baixo de null e dos passos rápidos dos médicos. Sentaram se no chão sem dizer uma palavra. Era um momento tenso. Se lamentavam em silencio, tinham medo do que poderia acontecer.
A porta foi se abrindo com calma e logo uma Sra. null sorridente saiu de dentro do quarto.
- Ele está bem! – ela disse juntando as mãos.
- Jonathan falou com a gente! – null sorriu dando a mão para a senhora.
- Posso entrar? – null perguntou com receio.
- Claro! Ele já está esperando alguém! – deu passagem para ele.
Respirou fundo e entrou no quarto. Era grande e espaçoso. null estava deitado na maca de olhos fechados. Ele respirava com dificuldade e os cortes em seu rosto não eram agradáveis. Ele estava bem, de acordo com os médicos, então…
De qualquer jeito, null iria examiná-lo em segredo. Aproximou-se da cama e sorriu.
- null? – sussurrou.
- null! – ele disse baixo e tentou sorrir também. – Como você está?
- To preocupado. Mas sei que você vai ficar bem – deu um leve cutucão em null.
- Já estou ótimo! Tenho umas dores ainda – segurou o peito. – Manda os outros entrarem – ele olhava a porta.
- Só um por vez, infelizmente… Mas os outros três estão aí fora! – null riu baixo.
- Os três? null, null e null? Lá for a com a minha mãe? – null soltou nervoso.
- Sim, os três. null em um lado, null e null abraçados do outro. – suspirou.
- Abraçados? – null arregalou os olhos – Eles voltaram? – sorriu mostrando todos os dentes.
- Voltaram ontem à noite. Foi a primeira vez em que se viram depois do incidente.
- Claro! E não aguentaram, certo?
- Certíssimo. Eeu ainda acho que o null tem que ver direito essa história, mas... – null arqueou as sobrancelhas, não concordava com o perdão precipitado.
- Relaxa! Eu tenho provas! – null riu satisfeito. – Tenho a gravação da noite em que null deixou null desacordada e a levou para o motel. Está no meu computador!
- Desacordada? Mas… Como? – Carlo se assustou.
- Ah, eu não tenho ideia do que null possa ter feito, mas null não tem culpa! Isso é certeza!
- Da onde surgiu esse vídeo? – null desconfiava.
- O motel é cliente da minha empresa, tenho acesso a tudo! – relaxou na cama.
- Acho que o casal ali fora vai ficar feliz – sorriu.
- Vai, e… – fechou os olhos e gemeu.
- null? – null se aproximou do amigo.
- Ta tudo bem, fica tranquilo – suspirou, abrindo os olhos – Queria te pedir algumas coisas…
- O que quiser – se sentou perto da cama.
- Quero que você cuide muito bem do apartamento! Não deixe o null sujá-lo, e mantenha sempre organizado, como eu gosto! – sorriu de lado.
- O que você ta falando, cara? Semana que vem já estaremos os três em casa de novo!
- Nunca se sabe. Olha, caso algo aconteça... – null ia protestar, mas null fez um sinal para ele nem tentar – Deixe-me terminar? Obrigado. Não deixe o null beber… Ele não tem um emprego, nunca teve, ele sempre sai para beber e se enfia em moteis com putas de baixa categoria. – null abriu a boca, mas as palavras não saiam – Chocante, eu sei… Não quis acreditar no começo, mas… É a verdade.
- Ele não vai beber, prometo.
- Isso! – null sorriu – Ah! E continue esse médico metódico que você é!
- Metódico? Eu? – arqueou as sobrancelhas. – Eu não amo quartas feiras sem motivo algum!
- Tenho motivos! – fez bico. – Não fale de quartas feiras! Hoje é quinta, droga. Odeio quintas feiras… – revirou os olhos.
- Eu também odeio, só por sua causa – riu.
Algumas batidas na porta foram ouvidas, null tinha que sair. Abraçou null do jeito que pode.
- Olha, cara, daqui uns dois dias estaremos em casa vendo CSI e batendo no null, suave?
- Com certeza! O null ta fodido – gargalharam.
Era uma quinta feira. Quintas feiras não eram boas, não para eles. null tinha que ficar bem, não era uma opção.
* * *
A garota já estava dentro do quarto há mais de meia hora. Não tinha todo esse tempo, mas precisava de seu melhor amigo. Durante aqueles trinta minutos, null não parou de chorar. null tentava acalmá-la, dizia lhe que tudo ficaria bem. Ela queria acreditar que era verdade. Os cortes profundos em sua testa, o braço quebrado, seu corpo não era mais branquelo. Era quase completamente roxo.
O coração da menina doía, vê-lo assim… A pessoa mais forte que conhecia, seu companheiro… Não queria pensar no pior.
Diversas vezes, o rapaz se contorceu na cama, gemendo de dor. Ele recusara chamar o médico; se o chamassem, não veria os outros dois amigos que lhe faltavam. E mesmo que morresse, queria um tempo com cada um.
- null… – acariciou o rosto da garota.
- Fala, null… – ela aproveitava o carinho.
- Eu sei que você e null já estão bem. Mas tenho uma coisa que vai salvar vocês mesmo! – sorriu.
- O que é? – ela se animou.
- Consegui um vídeo! – ele se sentou com dificuldade – Um vídeo que comprova que você estava desacordada naquela sexta.
- Como? – perguntou boquiaberta. Pensou que nunca descobririam a verdade.
- Tenho meus contatos – deu de ombros e riu da cara de indignação da garota. – O motel é cliente lá da empresa. Mexendo uns pauzinhos, tudo se encaixa! Peguei o vídeo da noite “quente” de vocês. Quer ver?
- Nunca! – ela arregalou os olhos. – Então o null me… Me adormeceu… Enganou e… não quero nem pensar…
- Eu também não acreditei… como ele… foi capaz? De enganar a todos e agir de forma tão… tão suja? – ambos tinham um misto de nojo e desgosto na face.
- Minha vontade é de socá-lo até a morte. Não quero olhar para a cara dele nunca mais e...
- null – null pegou sua mão e a encarou profundamente –, ele estava completamente bêbado. Quero que todos vocês o perdoem. Por mim.
- Por você? – ela suspirou. – Vou pensar.
- Outra coisa – sorriu – Quero que você faça do seu casamento o mais bonito de todos! O melhor do século!
- Claro que vai ser! E você estará lá ao meu lado, como meu padrinho lindo e… – ele soltou um gemido um pouco alto demais e fechou os olhos, demonstrando dor – null! É melhor deitar! – ela o ajudou.
- Ah… Já… Já passou! – ele continuava de olhos fechados.
- Acho bom eu chamar o médico, porque senão… – ela se levantava.
- Não ouse. Por favor… Chame o null. Preciso falar com ele. – sorriu.
- Qualquer coisa, eu estou aqui fora! – ela beijou a mão dele. – Ficarei aqui até que você saia. – ela sorriu e se afastou.
- Acho que não vai demorar muito. – virou-se, tentando amenizar a terrível dor que sentia no abdômen. Queria falar com todos antes de ir embora. Precisava ser rápido.
* * *
Do lado de fora do quarto, os três esperavam. null havia contado que null estava mal e fraco, mas continuava o mesmo null amante de quartas feiras de sempre. null permanecia distante, quanto menos contato, melhor. Pelo menos ali. null estava desolado. Seu melhor amigo numa maca, fraco e doente, não havia nada que ele pudesse fazer. Ouviram a porta se abrindo e de lá saiu uma garota triste e chorosa. Uma null que nenhum conhecia.
- null… não fica assim! – null abraçou a mesma, que desatou a chorar.
- Como quer que eu fique? – perguntou como se fosse óbvio. Ela estava brava. – Quer que eu pule de alegria? Cante na chuva fria lá de fora? Droga, null.
- Certo, amor… se acalma. – ele suspirou, afagando os cabelos da mesma. Já estava acostumado com seus ataques bipolares, ainda mais na TPM.
- Ele quer que você entre – revirou os olhos.
- Eu vou… mas já volto, fica aqui com o null, sim? – ela concordou com a cabeça e null beijou a mesma, entrando no quarto logo em seguida.
- Não fica assim, null! Vai dar tudo certo! – null sorriu para ela.
- Eu sei que vai. Tem que dar! – ela dizia mais para si do que para ele. Queria mais que tudo acreditar naquelas palavras. Mas algo a dizia que, talvez… algo desse errado.
* * *
Ele encarava o amigo deitado com surpresa. Era um gênio! Em que mundo alguém pensaria em olhar as câmeras de seguranças? null sempre pensava nos mínimos detalhes!
- Eu só não… não entendo como tudo deu tão certo! – null bagunçava os cabelos, nervoso. – Quero acabar com aquele desgraçado.
- “Aquele desgraçado” é um dos seus melhores amigos, null. Se controla! – riu. – Já passou! O importante é que estão todos de bem, não é?
- Sim... Eu acho. Agora, onde está esse vídeo? – indagou curioso.
- Na pasta da mesa do meu computador. Entra no meu login e abre o vídeo, só isso. – sorriu.
- Não sei se quero ver… – franziu a testa. – Deve ser muito estranho ver, você sabe… sua esposa com o seu melhor amigo. Mesmo que ela esteja desacordada é, no mínimo…
- Excitante? – interrompeu, gargalhando.
- Nojento! – deu um leve cutucão em null. – Você ficou excitado vendo a minha mulher e…
- null, não é novidade para você que a null é uma gostosa. Todos ficariam. Você também, pode ter certeza! – afirmou.
- Se fode, null. – se encostou à cadeira com violência.
- Agora, na boa, assiste ao vídeo. Só para ter certeza de que... ela estava totalmente inconsciente.
- Eu vou… mas somente o necessário. Posso obrigá-la a fazer o que eu quiser, quando quiser e ainda gritando meu nome! – sorriu vitorioso.
- Aham, claro! – debochou.
- Duvida? – arqueou uma sobrancelha.
- Na verdade… – deu de ombros.
- Se você quiser, eu e a null podemos fazer um showzinho para você assim que estiver melhor!
- Eu adoraria, mas acho que não vou “ficar melhor” – disse com cuidado.
- Como não, null? Para com isso – riu.
- É serio. Não fala para nenhum dos três lá fora. Você é o mais maduro. Por isso estou te contando. Acho que não duro nem três dias – deitou completamente.
- Dura sim! Você é o mais forte do quinteto, cara. Cala a boca! – ficou mais sério. – Você vai estar com a gente no casamento e até o fim da vida!
- null, encare os fatos. Olhe bem para mim. Diga se eu pareço bem, pareço forte. – seus olhos não tinham o mesmo brilho de sempre. Sua pele era branca como as paredes do local que ocupava. Seu corpo gelado, magro, fino como neve. O que lhe mantinha vivo era o calor externo que recebia. O carinho, o amor.
- Você está ótimo! – mentiu.
- null – soltou uma risada nasalada, olhando para baixo. – Eu sinto mais dores a cada minuto que se passa. Sempre soube que eu era um ótimo ator, por isso estão acreditando em mim. Nem tente chamar um médico. Nem tente – disse quando o outro fez menção de se levantar.
- É para o seu bem! – null ia até a porta.
- Espera! – gritou. – Me deixa falar com null, depois você chama o médico!
- Certo. Então vou mandá-lo entrar logo. Cuidado, não se force demais.
- Não vou! – sorriu e viu o outro deixando o quarto.
* * *
Assim que saiu, olhou em volta. null estava sentado perto de uma senhora, mexendo nos próprios botões da camisa. null chorava no colo de null. Este não sabia o que fazer para acalmá-la.
null achava que iria morrer. Ele não podia. Não iria. Não deveria deixá-los ali. null era o único que sempre sabia o que fazer. Com quem falar, aonde ir. O único que sabia pensar.
Ele parecia fraco, mas era um homem forte. Se não queria chamar o médico era porque estava bem. Ele não correria riscos, correria?
- null… – ouviu a voz chorosa da namorada. – Vem aqui?
- Oi, amor. – sentou-se ao lado dela e null revirou os olhos.
- Vou tomar uma água. Tenta se tranquilizar, que está difícil! – saiu bufando.
- O que está te abalando? – null afagava seus cabelos.
- Você não viu? Ele está mal, null! – ela socou a cadeira.
- Ele está fraco. Mas vai ficar bem! Você confia em mim? – ele sorriu.
- Confio. Mas não confio na medicina! Droga, ele tinha que estar pulando agora! – suas lágrimas caiam com frequência, dificultando o trabalho de null para limpá-las.
- Tem como parar de chorar? – beijou a testa da menina. – Odeio te ver assim.
- Me diga como se para que eu paro. Estou com dores de tanto chorar. Droga! – colocou a mão sobre a testa.
- O que foi? – perguntou preocupado.
- Minha cabeça… – fechou os olhos.
- Você está quente, null – null depositou a própria mão na testa dela – Ainda bem que estamos num hospital! – ele sempre via o lado bom de tudo.
- É o nervosismo. Certeza. Sempre tive essas dores repentinas quando algo ruim acontecia. É uma reação. Fica tranquilo. – ela suspirou.
- É melhor você comer. Vem, vamos pegar uma barra de cereais. – disse puxando a menina pelas mãos. Não era só null que estava desconfortável com a situação. null estava destruído por dentro. Odiava ver null e null naquela melação. Odiava. O que lhe restava fazer era entrar no quarto de null.
* * *
Ele nunca tinha visto null assim. Tão vulnerável. Tão desaminado. Tão quinta feira. Nunca, numa amizade de longa data.
- null! Pensei que não viria! – ele sorriu.
- Eu tinha que vir – se sentou perto do mesmo. Seu corpo ainda estava dolorido, por causa da ressaca.
- Se não quisesse, era só falar. – deu de ombros.
- Eu queria. Tanto é que estou aqui – revirou os olhos.
- Como você está? – null sorria. Estava com saudades de null.
- Eu que deveria te fazer essa pergunta, não? – debochou.
- Curto e grosso… quem diria…
- Quem diria o quê? – indagou.
- Quem diria que a bebida muda pessoas da água para o vinho. – suspirou. – Você nunca me tratou assim. Nunca havia feito mal para ninguém. Que merda foi aquela com a null e com o null? Seus melhores amigos, null… sinto que não te conheço mais.
- Conhece, sim. Óbvio que conhece. E aquilo… aquilo deu errado. – olhava para o chão como se fosse algo muito mais interessante. – Não era para vocês terem descoberto. Seria uma noite perfeita, meu sonho se realizando e ninguém deveria saber. Era para ser escondido. – sussurrou a última parte.
- Escondido? Parecia que você queria que os dois terminassem, isso sim! – bufou.
- Na verdade, eu queria a gostosa da Giuia só para mim e para mais ninguém. Mas não desse jeito. Queria que ela me amasse como ama o null. Queria que ela me olhasse como olha o null.
- Não fala assim dela. – fechou a cara. – Olha aqui, null, acho bom você se organizar. Deixe null e null viverem felizes. Eles se amam. Sim, você ama a null, mas ela não te ama. Aprenda a conviver com a verdade. Você pode estar bêbado agora, eu não ligo, mas escute. Quero que pare de beber. Não adianta discutir. Como meu último pedido, quero que pare de beber, entendeu?
- Entendi. Mas último pedido por quê? Cara, se liga…
- Sim, último pedido. null, as pessoas dizem que sentem quando vão morrer. E eu acho que não é tão ruim. Não me importo se vou morrer agora ou daqui a trinta anos. Quero morrer feliz. E isso só vai acontecer se você prometer que o casamento do casal ali fora será perfeito. E que vai parar de beber, ou procurar ajuda para. – o encarou sério.
- Eu prometo. Só não sei como isso vai mudar alguma coisa. Acho que deveríamos…
- null! – null gritou e apertou forte a mão do amigo. – Chama alguém.
Não pensou duas vezes antes de se levantar e começar a gritar a procura de um médico. Logo null, null e null já estavam dentro do quarto também. For a tudo muito rápido.
Os médicos chegaram e colocaram diversos aparelhos em null. A cabeça de null latejava. Não queria ver aquilo. null estava mais pálido. As expresses de dor ficavam cada vez mais evidentes. Ele ficaria bem, não ficaria?
null já não conseguia ver nada. Apenas vários médicos com seus jalecos compridos e aparelhos pontiagudos em volta da cama.
- Tirem eles daqui! – ouviu algum deles gritando.
- Faremos uma operação. É urgente!
- Saiam! – as vozes ficavam cada vez mais longes. As cabeças cada vez mais embaralhadas.
- Eu te amo, null! – ela gritou antes de ser empurrada para fora da sala em cima de null. Antes das vozes serem substituídas pelo silêncio. Antes de tudo ficar escuro.
Capítulo 9
Sabe quando tudo parece que vai desmoronar e simplesmente some? Aquela sensação de paz invade seu corpo e limpa todos os resíduos ruins que lhe corroíam internamente? É uma sensação ótima, de que tudo à sua volta parou. Ou de que tudo ficou bem. Mas, na verdade, não está. Você parou. Somente você.
Essa é a sensação do desmaio. Mil sentimentos e incômodos pelo corpo que em um segundo... passam. E você dorme por um tempo indefinido. A diferença entre um desmaio e a morte é que da morte você nunca acorda. Do desmaio, sim.
Parece um sono. Um sono sem sonho. Um descanso dolorido. Uma recuperação. E era isso que ela precisava. Uma recuperação de todos os acontecimentos recentes. E foi isso que ela teve.
Sua cabeça ainda doía e não conseguia movimentar nenhum de seus músculos. Estava consciente, mas seu corpo não obedecia. Não conseguia abrir os olhos.
Sentiu uma mão na sua. Uma mão quente. Macia. Grande. Conhecia aquela mão. Apertou a mesma do jeito que pôde, tentando mostrar que estava acordada.
- Ela apertou! Ela... Apertou minha mão! – a voz suave de null continuava a mesma. Mas não passava a mesma tranquilidade que ela precisava. Parecia preocupada, nervosa. – null?
Ouviu passos se aproximando com rapidez. Fez de tudo e conseguiu. Com dificuldade, abriu os olhos. A claridade da sala lhe incomodava, sua visão ainda era turva. Mas enxergou três cabeças. Dois homens e uma mulher.
- Não fale, amor. – null acariciou a bochecha dela. – Vai ficar tudo bem – beijou a mão fria da garota. Ela estava deitada. Numa maca.
– null... – ela sussurrou com voz falha. Naquele momento, era melhor ficar quieta.
- Por favor, null. Não fale nada. – era a voz de sua mãe. O que ela estava fazendo ali? null só tinha desmaiado, não? E por que sua voz era tão... Tão abalada?
Decidiu então apenas apertar forte a mão de null, que retribuiu o aperto. Sentia algo ruim no ar. Só não imaginava o que podia ser. Não se lembrava de quanto tempo passara dormindo. Quanto tempo passara desacordada. Não se lembrava de nada que havia acontecido. Nada.
* * *
Aquilo não estava acontecendo. Não podia estar. Sua cabeça era uma confusão. Tudo passava como um flash, não entendia nada, não falava nada. Decidiu se isolar do mundo. Pelo menos naquele momento.
Estava sentado na larga e fria sala de espera em frente aos quartos. Não queria entrar no de null. Não podia entrar no de null.
Droga. Tudo fora tão rápido... Mas null se lembrava de tudo, afinal, acontecera no dia anterior.
Flashback
null estava no quarto com null. null e null tentavam acalmar null. Esta estava num estado deprimente, quase pior que o próprio null. Tentaram de tudo, mas nada adiantava. Ela estava mal.
De repente ouviram a voz de null pedindo ajuda. Não pensaram duas vezes antes de saírem correndo em direção ao quarto onde o mesmo estava. Já se encontrava aos prantos junto a null.
null se contorcia e debatia contra a cama dizendo coisas sem nexo. Uma chuva de médicos caiu sobre o local tornando tudo uma bagunça. Da onde surgiram?
null e null conversavam aflitos. Os médicos nos empurravam para fora do quarto. null ouviu null gritando algo como “Eu te amo, null“ e logo em seguida cair nos braços de null. O mesmo se desesperou e começou a gritar por ajuda e mil declarações de amor juntas. Todos estavam com medo.
null ajudou null a levar null para um lugar mais calmo. Ela custava a acordar. Chamaram um médico, afinal, estavam num hospital. Ela tinha tido um tipo de um surto nervoso. Um desmaio repentino. Teria que ficar internada.
Então a levaram para um quarto próximo ao de null, que estava sendo operado. Ninguém entendera o que aconteceu com o mesmo.
null tentava assimilar tudo que estava se passando naquele hospital. null chorava. Por null, por null, por tudo. Ele era forte e firme, mas sempre tem um momento em que tudo desaba e não conseguimos segurar. null era o único realmente consciente ali. E, por isso, tinha uma carga maior de medo. Uma carga maior de realidade.
Flashback off
Pensava em tudo que havia acontecido na noite anterior. E tudo que poderia acontecer. Tinha medo, mas ninguém precisava saber.
- Ela acordou. – null chegou e se sentou ao lado de null.
- Está bem? – tentou sorrir.
- Acho que sim. Está fraca e, aparentemente, não sabe o que está acontecendo. – olhou para o chão. – Tenho vontade de voltar no tempo, sabe... – encarou a parede branca que tinha à sua frente – Voltar no tempo e não fazer nada do que fiz. Deixar null e null serem felizes, arrumar um emprego, não beber a esse ponto. Queria deixar null orgulhoso – sentiu os olhos se enchendo de lágrimas.
- Ele tem orgulho de você, null. Claro que tem. E ele ficará bem, você vai...
- Olha o estado dele! Ele disse que vai morrer, porra! – gritou, deixando as lágrimas rolarem livremente por sua face.
- Fica calmo. Esses médicos são bons!
- Só queria que ele visse que eu mudei. E que farei de tudo para o casamento ser o melhor, para arranjar um emprego, uma esposa, uma vida própria – abraçou as pernas. Mesmo parecendo impossível, ele tentaria. Por null ele tentaria. Ele havia pedido. E null o obedeceria. Mesmo contra sua vontade, amaria null até o fim dos tempos, mas seguiria em frente. Não se passa a vida toda batendo na mesma tecla.
* * *
Ela já se sentia melhor. Sua cabeça apenas incomodava, não latejava como antes. Seu corpo já se mexia quase normalmente, estava um pouco dura. Sua mãe fora buscar um lanche lá fora, deixando null e null sozinhos.
- Então, null... Vai me explicar o que aconteceu? – sorriu fraco. Sua voz era rouca, havia ficado um tempo sem falar.
- Eu... Posso sim... – ele ainda choramingava. null estava preocupada, nunca havia visto o namorado assim em anos de relação.
- null, pode falar. Eu... Odeio te ver assim, amor – deu lhe um selinho do jeito que pode. Estava sentada na maca do quarto frio e estreito, null ao seu lado numa cadeira alta e desconfortável.
- Nem sei por onde começar – bufou. – Ontem... Ontem estava... Tudo bem! – ele riu nervoso. – Estava tudo ótimo! null estava melhorando e nós, juntos, até que... null fora conversar com ele e... Eu não sei. – balançou a cabeça negativamente.
- null, se quiser parar, eu...
- Não – interrompeu – Eu preciso por para fora. Dizem que quando se sente angustiado, o melhor é contar para alguém.
- Então, conte. – segurou sua mão.
- null entrou no quarto e depois de alguns minutos saiu gritando por ajuda. Fomos correndo até o quarto, muitos médicos, uma grande baderna. Você desmaiou nos meus braços, null precisava de uma operação. Foi horrível. – começou a chorar de novo e null acariciou seu rosto, secando algumas lágrimas – Ele estava péssimo. Pela primeira vez pensei que... Ele... – engoliu as palavras – Ele está bem.
- Como ele está? – sua expressão mudou completamente. Agora era preocupada. Estranha. Lembrou-se de tudo. De como havia visto null naquela situação... Deprimente.
- Esta na UTI do hospital. Ninguém pode vê-lo, ninguém pode entrar. Foi uma cirurgia difícil. Muitos médicos, muitas horas... Ele teve uma hemorragia interna – null apertou os olhos, lembrando – Foi grave.
- Mas ele vai ficar bem, não vai? – ela já sentia seu rosto quente. Sentiu um incômodo no peito. Aquilo não era... Um sinal? Não, óbvio que não.
- Acho que sim, null. Mas não chora! Você não pode! Não agora! Para com isso, null! Não posso ficar sem você, não agora – abraçou a namorada e ambos começaram a chorar. Não sabiam o que fazer. Só precisavam um do outro para continuar.
Foram interrompidos por batidas apressadas na porta.
- Entre – null disse se recompondo.
- Desculpe incomodar... – uma enfermeira baixinha entrou no quarto, cabisbaixa.
- Pode falar – null respirou fundo, controlando seu choro.
- O amigo de vocês... – o incomodo se repetiu no peito da garota – Ele... – null fechou os olhos – Acaba de falecer. – a mulher iniciara um discurso desnecessário.
* * *
Naquele momento, null e null apenas se entreolharam. Não conseguiam mais escutar nada ao seu redor. Estavam assimilando as palavras daquela desconhecida. Aquilo só podia ser um sonho. Sonho não, pesadelo. O pior pesadelo de todos.
Se abraçaram forte e, em uma sincronia de outro mundo, começaram a chorar. Choraram um nos ombros do outro. Não importava se alguém veria aquela cena. Não importava quanto tempo ficariam ali. Como sempre, precisavam um do outro.
A enfermeira viu que estava atrapalhando e se retirou com cuidado. Entendia o sofrimento do casal. null e null se entreolharam novamente e ele segurou o rosto dela com as mãos.
- O que faremos agora? – ela sussurrou. Tinha medo de tudo, da resposta, do futuro. De tudo.
- Não sei, null... Não sei. – ele a beijou calmamente. Por mais estranho que possa ser, um beijo no meio do choro para eles era confortante. Para os dois trazia uma onde de tranquilidade que, por mais rápida que fosse, era sempre muito boa, prestativa, necessária.
Continuariam se beijando caso não fossem interrompidos por um barulho alto de algo se quebrando e alguns gritos logo em seguida. null olhou para null e se levantou com pressa, indo até a porta. Ela não podia sair da maca por causa dos soros em suas veias.
- Merda – ouviu null sussurrar e logo depois sair correndo. Merda.
* * *
Só podia ser brincadeira. Cadê as câmeras? Os repórteres dizendo “parabéns! Você caiu na pegadinha do canal 20!” Cadê as tortas para jogar um na cara do outro? Cadê? Aquilo tudo não era verdade.
null não estava morto. Alguém, com certeza, estava tirando uma com a cara dele. E se null pegasse esse “alguém”... Estaria perdido.
Seu melhor amigo não podia morrer. Mesmo que já tivesse sentido que aquilo aconteceria, a realidade lhe queimava. Ouvir da boca das pessoas o transtornava. Deixava null louco.
Todos agiam normalmente. Mas, a partir dali, nada seria igual. Nada. Sua vida virara de cabeça para baixo, como continuar sem null? Sem a única pessoa com quem podia ser o verdadeiro null null?
Tinha que liberar sua raiva. Precisava descontar em algo. Viu um carrinho de remédios passando e não pensou duas vezes. O segurou firme e virou com tudo no chão. Todos os vidros se quebraram. Algumas pessoas gritaram. Era isso que ele queria. Gritos. Transtorno. Medo. Tudo que ele sentia queria que o mundo sentisse.
- null... – null o segurou pelos braços. Recuou um pouco ao ver o sorriso diabólico que tinha no rosto de null – Vem comigo – choramingava.
- Não, null. – ele riu – Não vou com você.
- null... Nós todos estamos sofrendo. Todos estamos sentindo o mesmo, e precisamos ficar unidos. – suspirou.
- Ele não morreu.
- Eu queria que não tivesse... – null o abraçou com receio, mas logo foi retribuído. Apesar dos desentendimentos, os dois sempre foram e sempre seriam muito amigos. Só não poderiam dividir a mesma mulher.
- O que vai ser de nós sem ele? – null perguntou entre lágrimas.
- Vai dar tudo certo. – e o levou para o quarto de null, onde os três se lamentariam juntos, em silêncio.
* * *
Existem momentos em que palavras não são necessárias. Nem ações. Momentos em que tudo precisamos fazer é pensar. Ou simplesmente ficar parado. Se ficarmos parados, tudo passa. Quase tudo. O tempo, a alegria, a tristeza... Tudo. A única coisa que não passa é a realidade.
null decidiu ficar parado. Pelo menos naquele momento. Estava na cafeteria do hospital, aguardando seu café. O mesmo chegara, e ele não bebera. Não queria fazer mais nada. Daria de tudo para ter uma última conversa com null. Todos dariam.
Não podiam culpar a medicina, null acompanhou tudo de perto. O possível foi feito. O quadro de null era estável, ninguém sabe como de uma hora para a outra ele simplesmente... Se foi.
Tão jovem, tão saudável, tão amigo. Faria tanta falta. Sempre teriam lembranças. Às vezes, lembranças são melhores do que qualquer coisa. Poderiam se lembrar de tudo que passaram juntos. De todos os momentos, as aventuras, os perigos.
Mas, com as lembranças, vêm as fantasias. Fantasias só fazem mal. Fantasias do que poderia ser feito se houvesse tempo. Do que teria sido melhor. Do que poderia ser evitado.
Não adiantava pensar naquilo agora. O mais importante era encontrar os outros e ver como estavam. Tinha esse dever, era o mais velho da turma. O difícil seria entrar naquele apartamento novamente. Se sentar no sofá laranja que null havia escolhido. Entrar no armário onde ele ficava para pensar. Comer com a louça que ele tinha comprado. Assistir suas séries favoritas. Tudo os fazia lembrar Logn. Tudo. Seria tudo difícil. Muito mais difícil.
Capitulo 9 – Parte II
(N/A: coloquem essa música para tocar.)
Foi na quinta feira da outra semana. Estavam todos de preto. Foi a mistura de Los Angeles e Nova York antes do casamento. Todos os amigos do colégio, os colegas da empresa, a família. Todos. null era uma pessoa realmente querida.
null andava próxima ao caixão, abraçada a null. Ambos choravam. Quase todos choravam. Ela carregava um lírio branco, a flor favorita de null.
Garoava em cima deles, uma quinta feira como todas as outras. Chuvosas, frias, tristes. Sem null, todos os dias seriam assim.
null ainda não acreditava em tudo aquilo. Era o último de todos. Estava lá no final. Não queria ouvir lamentações. Não queria ouvir as orações. Queria se despedir de seu melhor amigo, sozinho. Um último momento, só com ele.
null estava com sua mãe. As mães dos cinco estavam ali. Todas se consolando. E null ajudando. Era o mais controlado. Mas, por dentro, era o que mais sofria. Morou com null durante cinco anos. Só com null. Já estava acostumado a ser acordado com gritos, ou acordá-lo com gritos. O que seria dele agora?
O que seria de todos agora? O que seria de Nova York sem a alegria que null null trazia consigo? Com quem null vai conversar abertamente? Com quem null vai poder ser ele mesmo? Onde null vai encontrar alguém que sempre lhe apoiei? Acabara de perder seu braço direito, seu melhor amigo! Onde vai encontrar? Quem aguentaria as loucuras de null? Quem seria o explosivo bipolar dos cinco? O que sempre concerta as merdas dos outros? Quem leria os pensamentos do null? Quem entenderia null apenas com um olhar? Ninguém... Pois null null era insubstituível.
Enquanto andava, null prometia a si mesmo que nunca mais beberia. Prometia a null. Sabia que de algum lugar ele sempre o olharia. Sempre null seria seu porto seguro, seu guardião.
De repente, a multidão parou. null entendeu. Era hora de enterrá-lo.
O senhor que realizava o enterro disse muitas palavras bonitas e confortantes, como em todos os enterros. Mas poucos prestaram atenção. null observava o corpo sem vida de null bem vestido no caixão. Como queria não ter visto aquilo. Pior que morrer era ver alguém realmente amado morrendo. Perder alguém. Sentir aquele vazio insuportável que todos falavam dentro do peito. E ela finalmente entendia como aquela sensação era horrível.
Capítulo 10
Ela se olhava pela última vez no espelho. Não daria para esperar mais. Estava tudo perfeito. Quase perfeito. Faltava uma das pessoas mais importantes, seu padrinho.
Tentou tirar aquele pensamento de sua cabeça. Não tinha mais tempo para arrumar a maquiagem.
Mesmo que indiretamente, null estava ali. A St. Patrick’s Cathedral estava toda decorada com vários tons de verde e azul. Sim, eles haviam mudado tudo de uma hora para outra. Queriam que fosse para null.
A data fora alterada, não tinham condições de casar numa data tão próxima ao... Acontecimento. Remarcaram para o dia 21 de agosto, quase um mês depois. Era o dia do aniversário de null. Verde e azul eram suas cores favoritas, e seus lírios brancos decoravam toda a extensão da bela igreja.
Por ser naquela data, muito choravam de emoção com a homenagem. Muitos choravam de tristeza pela lembrança. Muitos choravam pelos dois motivos.
- Filha, esta na hora. – seu pai entrou pela pequena porta da sala onde ela estava. Seu vestido era longo e simples, bordado da cabeça aos pés. Estava deslumbrante – Você está... Linda! – seu pai beijou sua mão.
- Obrigada, pai! – ela o abraçou com força – Por tudo.
- Não há de quê, filha... Você é uma garota muito forte. Ele deve estar muito orgulhoso – sorriu. null sabia que ele se referia a null. E sabia que o mesmo estava muito orgulhoso, não importava o lugar.
A igreja estava lotada. A música dos acordeons era alta e clássica. Fitas verdes e azuis espalhadas por todos os cantos. Pessoas conhecidas acenavam incansavelmente. O tapete azul bebê era coberto por lírios brancos. Estava tudo muito bonito, maravilhoso.
Avistou seu noivo no altar. Ele sim estava um príncipe. O cara mais bonito do mundo. Vestindo um terno escolhido pelo próprio null null.
null já sentia as lágrimas caindo pelo seu rosto e seu sorriso crescia a cada passo. Queria se casar logo! O padre fez aquele discurso longo e importante dos casamentos, mas o casal não fez questão de prestar atenção. Naquele momento, decorar cada pedacinho da face um do outro era mais produtivo.
- null null, você aceita null null como sua legítima esposa? – finalmente a pergunta tão esperada.
- Aceito! – sorriu.
- null null, aceita null null como seu legítimo esposo?
- Aceito! – alianças foram devidamente colocadas.
- Pode beijar a noiva! – selaram seus lábios num beijo calmo e todos aplaudiram. Pétalas caíram sobre o casal, o beijo foi aprofundado. Se null estivesse ali, com certeza diria que eram incansáveis.
* * *
Os quatro andavam juntos pela rua fria de Nova York em direção ao cemitério. Não houve festa de casamento. Não houve comemoração fora da igreja. Os quatro ainda de trajes sociais andavam naquele sábado ensolarado de 21 de setembro. Comemorariam o casório ao lado da pessoa que mais ajudou a realizá-lo.
Assim que atravessaram os portões do cemitério, avistaram o túmulo de null. Este sempre tinha flores. Haviam pegado o costume de visitá-lo no mínimo uma vez na semana. Carregavam algumas fotos, alguns lírios, algumas faixas. null entraria na festa.
- Deu tudo certo, null! – null sorriu para a lápide e se sentou junto a ela. Aquele cemitério não era triste e frio como os outros, era alegre e cheio de vida. O sol batia em todos os pontos do mesmo, não era assustador.
- Vai sujar seu vestido, amor – null pediu para a mesma se sentar no seu colo. Ela logo obedeceu.
- São incansáveis, não, null? – null riu debochado.
- Talvez um pouco – null beijou null.
- Acho que devem guardar as putarias para mais tarde – null revirou os olhos. Este estava lidando bem com a “perda de null”. Havia encontrado uma garota no seu novo emprego. Sim, emprego. Ele era garçom de uma lanchonete, mas estava de bom tamanho.
- Pode deixar – null piscou.
- O casamento foi lindo! Seria muito melhor se você estivesse lá – null brincava com a grama encostada no caixão – Você estava. Aí do paraíso, tenho certeza que você viu tudo de camarote! – ela sorriu.
- Acho que ele gostou... Olha como o dia esta bonito! É em nossa homenagem, null. Deu tudo certo. Porque o null quis! – os quatro olharam simultaneamente para o céu.
- Muito obrigada, null. Por tudo – suspirou a garota.
- Pelo vídeo que reafirmou nosso casamento. – null suspirou.
- Pela ajuda que nos deu e ainda nos dará – null sorriu.
- Por ser esse amigo insubstituível, inesquecível... – null observou as nuvens com atenção – Olha ele ali! – apontou para uma que parecia um homem falando.
- Olha você aqui – null apontou para uma forma que lembrava uma garrafa.
- Não mais, null. Sabe que eu nunca mais ingeri uma gota de bebida! – se irritou.
- Relaxa, null... É brincadeira.
- Olha o null e a null – null apontou para duas formas compridas que se fundiam – Incansáveis!
- Olha você, null – null apontou para qualquer coisa.
- Não entendi – ele franziu a testa, tentando enxergar algo similar a ele.
- Era só para você não se sentir excluído – ela sorriu.
- Acho que precisamos de um médico – null disse deitando na grama verde.
- Terapia – null o seguiu.
- Já temos! – null fez null deitar na grama, e ela deitou-se sobre ele – null é nosso terapeuta.
Era tão bom acordar sentindo o cheiro dele. Sentir a pele dele sob a sua. O amor quente pelo quarto. Era tão bom...
Tudo tinha melhorado. Quando tudo aconteceu, o mundo dos quatro pareceu desabar. Todos perderam o rumo. Mas logo o encontraram de uma forma mais segura. Naquele momento, três meses depois, todos tinham uma vida própria e, podemos dizer, bem sucedida. Mesmo com o sucesso individual, não se separaram por nenhum momento. Aquele ditado: longe, mas sempre perto? Era exatamente assim a vida deles.
Seguiram caminhos diferentes, mas se cruzavam. null havia arranjado emprego de garçom na lanchonete do hospital de Manhattan. E agora, em dezembro, fora promovido a gerente, pois tinha se mostrado um ótimo trabalhador, que cumpria suas responsabilidades da melhor maneira possível. Ele tinha mudado de verdade. null estava orgulhoso, mesmo que de outro mundo.
Lanchonete do hospital de null. Sim, null conseguiu se tornar um dos donos daquele hospital. Esse era seu sonho. Ter um hospital, passar para a área administrativa. E chamou a empresa de null para lhe ajudar com o que não sabia fazer. Os três amigos na mesma área, juntos todos os dias. Almoçavam e conversavam. Era como nos velhos tempos... Só sentiam falta de algo... Ou melhor, alguém.
Nos finais de semana, quando não estavam cansados, saiam os cinco. null, null, null, null e Olive. Esta era a mais nova namorada de null. Ela trabalhava com null, e este achou que seria uma ótima ideia apresentá-la ao melhor amigo. E foi mesmo.
null era o solteiro, mas não se importava. Quando aparecesse uma oportunidade, ele não pensaria duas vezes. Mas, enquanto isso... Era melhor deixar tudo como estava.
Ele se mexeu. Estava acordando. Era uma quarta feira, mas estavam de ferias, era quase ano novo. Poderiam dormir ate tarde. Ou se divertir ate tarde.
- Bom dia, amor – ela disse puxando as cobertas para si. Estava frio.
- Bom dia, querida – ele beijou sua testa – Dormiu bem? – sorriu.
- Alguém não me deixou dormir – ela sorriu maliciosa.
- Que pena! Mas tenho certeza que você não queria dormir...
- Não mesmo – ela se deitou por cima dele – Eu te amo!
- Eu te amo mais, certo? – se beijaram com calma. Pelo menos o início era calmo. O beijo foi ganhando profundidade e outros carinhos, se acumulando.
- null! – ela disse ofegante, partindo o beijo – Que horas... Que horas são?!
- Isso não importa! – retrucou procurando a boca da menina novamente.
- É sério! Hoje é quarta! Precisamos... Precisamos ver o null! – ela sorriu. A partir de agosto os quatro visitavam o cemitério todas as quartas feiras, lá pelas 17:00. Mas, como estavam de férias, marcaram um pouco mais cedo naquele dia.
- Tudo bem... Depois terminamos isso! Vou me trocar para sairmos. – ele disse se levantando e indo até a cozinha, sua calça deveria estar por lá.
null deitou na cama novamente. Ela achava que sua vida tinha acabado quando null se foi. Mas com o tempo ela percebeu. Ele não tinha ido. Só fisicamente. Ele ainda estava entre eles e sempre estaria.
* * *
Assim que se levantou, sentiu um incomodo no estômago. Aquilo estava começando a entrar para sua rotina. Não era nada forte, só vários incômodos na região da barriga. Ela estava...
- null! – ela foi ao encontro do marido, que preparava algo para comerem.
- Diga, amor. – ele mexia em algo.
- Há quanto tempo não usamos proteção? – sua ficha caiu. Alem da falta de proteção desde o início das férias, duas semanas atráss, sua menstruação estava atrasada.
- Desde... O início das férias... – ele ficou boquiaberto – null... Você...
- Eu não sei! – ela ficou com medo da reação dele. Haviam parado com as proteções, mas nunca tinham conversado sobre o assunto.
- Pois saiba – ele disse a abraçando forte – que eu sempre vou estar aqui, para tudo! Amor da minha vida! – beijou null com carinho. null sempre quisera ser pai, ainda mais de um filho com null.
* * *
Ele andava sozinho pelas ruas de Nova York naquela manhã fria. Tudo tinha acontecido tão rápido. null e null estavam tão bem, null com Olive e o hospital... Ele sem beber. Aquilo o deixava realizado. Desde agosto não bebera. E não sentia que precisaria de ajuda tão cedo.
Sentiu seu celular tremendo no bolso, quase um déjà vu do começo do ano.
- Alô? – atendeu rápido.
- Bom dia, null! – era null... tinha que ser null aquela hora da manhã.
- Bom dia, null – a relação dos dois havia voltado a ser normal. O vídeo fora assistido em grupo, null sentiu um arrependimento do tamanho do mundo. No início, null não conseguia perdoá-lo. Mas quando o casamento chegou e null fora um dos primeiros a ajudar, percebeu que ele havia mudado, e lhe deu outra chance. Mas mesmo assim, ainda tinha um pé atrás.
- Depois que sairmos do cemitério você tem algum compromisso?
- Não, por quê? – franziu a testa, lá vem bomba.
- Nós vamos comemorar! Agora sim, null null está grávida! – grávida? Como... null estava grávida...
- Ela está... grávida? – precisava de um tempo para assimilar aquilo. Ele tinha aceitado o casamento, a união do casal, mas... um bebê? null estaria presa a null para sempre.
- Sim! E estamos muito felizes! – ouviu a garota rir no fundo.
- Parabéns, casal! Assim que nos encontrarmos, abraçarei os dois! – riu nervoso. Não sabia o que dizer.
- Acho que já pode se preparar, estou te vendo do outro lado da rua – null acenou para null sorrindo. Este parou de andar e tentou sorrir, acenando de volta.
- Certo, estou chegando! – respirou fundo, desligando o aparelho. Mesmo que não quisesse admitir, ele ainda amava null. Seria difícil vê-la segurando um bebê de outro homem. Mas suportaria, tinha que suportar. null daria um jeito de esquecer a null Amada e gerar a null Melhor-Amiga, para o bem de todos.
Se encontraram em frente ao cemitério, onde null já esperava. Sem dizer nenhuma palavra, os quatro se abraçaram. Todos sabiam que, com ou sem null, suas vidas estavam apenas começando.
FIM
n/a:.
Bom, eu nunca escrevi uma fic de verdade. Já li milhões e já escrevi um imagine para uma pagina aleatória de facebook, brochante. Ter uma fic no ffobs era um sonho para mim, e mesmo nesse tumblr, eu sei que é o ffobs. #sonhoserealizando.
Eu amei escrever essa coisa toda, se é que pode ser considerada uma fic, pois no meu ponto de vistam, não ficou como eu queria. Como o tempo era curto, vou tentar melhora-la com calma, mas por enquanto... aqui está. Muito obrigada a quem chegou até o final! Sei que o começo é muito MUITO clichê, mas como minha amiga fala “se é Clichê, é por que as pessoas gostam”. Obrigada a todos os meus amgos que me aguentaram falando dessa fic no ultimo mes, obrigada pela paciência. E muito obrigada a Abby, que sempre me salva <333 ainda vou escrever muitas fanfics, essa é só o começo ;)
Nota da Beta: Erros? Envie diretamente para mim pelo email awfulhurricano@gmail.com ou através de um tweet para @AbbyCJ (lembrando que eu NÃO sou a autora da fic). Não use a caixinha de comentários, por favor. xx Abby