Meu Conto de Natal


Escrita por: Isa Baviera
Betada por: Laura Malik








- Mãe, você não pode me obrigar a ir!
- ! – ela me olhou feio, pela décima vez no dia – Natal é uma data que obrigatoriamente tem que se passar com a família!
- Os não são minha família! Vocês são!
- Eles foram nossos vizinhos por anos! Você amava brincar com o , você se lembra dele?
Esse era o motivo pelo qual eu não queria ter que cruzar Londres, e chegar do outro lado da cidade: . O menino que cresceu comigo, foi o meu melhor amigo durante anos, minha primeira paixão e também a minha primeira desilusão amorosa.
Eu tinha 12 anos quando ele foi embora da Inglaterra, e ele não se despediu, não me deixou um bilhete, não me mandou uma carta, nem me deixou um abraço, nem falou pra minha mãe me avisar.
Ele simplesmente sumiu, como se nunca tivesse existido na minha vida.
Por alguns dias eu não sabia o que fazer, ele era a única pessoa que de fato me conhecia, e me fazia companhia, escutava os meus problemas, brincava comigo, de qualquer coisa que eu quisesse, tanto que o namorado da minha Barbie não chama Ken, ele era o , e como ele mesmo dizia, eu era a Barbie do , então, nada mais justo do que ela chamar .
Eu queria desaparecer quando ele foi embora. Eu queria sumir, junto com ele, queria gritar, queria que ele voltasse, mas isso não aconteceu, e eu não tive notícias dele por seis anos inteiros, 2.190 dias sem qualquer notícia.
A família se mudou para o Canadá porque o pai de recebeu uma proposta milionária para a expansão de sua empresa de tacos de golfe, e não pensou duas vezes em aceitá-la.
Só que hoje, dia 23 de dezembro, minha mãe simplesmente quer me obrigar a ir passar a ceia de natal em uma maldita fazenda da Família . E o pior de tudo, eu não quero mais ver o , assim como eu morri pra ele há seis anos, ele já foi enterrado, junto com as suas lembranças.
- EU NÃO VOU!
- , me ajuda! – ela apelou pro meu pai, que assistia sem se manifestar a nossa quase discussão.
- Você não pode obrigar a menina...
- NÃO PODE ME OBRIGAR, NÃO VOU, ISSO NÃO ESTÁ MAIS EM DISCUSSÃO! – Interrompi meu pai, no momento em que percebi o olhar furioso da minha mãe
- Se você for, eu deixo você ir viajar para a Disney! Eu sei que você tem metade do dinheiro guardado.
Golpe baixo mãe, muito baixo.
- Você vai me dar o resto do dinheiro? Se eu for pra essa ceia de natal estúpida, junto com aquela família mais estúpida? – ela balançou a cabeça positivamente.
Era o meu sonho, desde sempre.
Eu queria conhecer a Disney, o castelo da cinderela, o mundo fantástico do Potter, e agora, depois de anos trabalhando como ajudante do papai Noel nos natais passados, eu tenho a oportunidade da minha vida.
- Tudo bem, eu vou – Concordei, e ponderei por quanto eu estava me vendendo.
- Eu sabia que você não ia negar um pedido meu! – minha mãe vibrou – Eu até comprei uma roupa pra você! Vem ver, filha – ela me puxou escadas a cima pra ver as mais variadas sacolas em cima da sua cama king size, que ela dividia com o meu pai há vinte e cinco anos.
- isso é mesmo necessário? – perguntei me jogando na poltrona, já que a cama estava lotada.
- É mais do que necessário, ! Estou em êxtase por poder rever a minha amiga! – revirei os olhos – Ela me disse que o está ainda mais lindo, como será que ele está? Você não tem curiosidade? – minha mãe suspirou – Sinto tanta falta de como vocês dois eram próximos.
- sempre foi arrogante, mãe, e só se preocupa com ele mesmo! Espero que você não esteja inventando nada porque, em relação a ele, a resposta vai ser sempre não. NUNCA.
- Não fale assim, filha, por favor. – minha mãe disse sem qualquer ânimo – Eu te prometo que não vai ser tão ruim quanto você pensa, se você se sentir mal, a gente volta.
- Mas porque você quer tanto ir?
- Filha, existem coisas na vida que a gente tem que se permitir, e se eu puder te dizer uma coisa só. No natal, realmente os milagres acontecem. Abra o seu coração, e se permita, mais uma vez.

[...]

- , você é surda?
- Eu não consegui entender, efetivamente, qual é o problema de verdade, amiga!
- Vou começar de novo, vê se para de mexer nessa porcaria de celular – tirei o celular da mão dela, e joguei-o na minha cama, já que estávamos sentadas no chão, arrumando meus acessórios para levar pra fazenda dos .
Ah, além de tudo, eu tenho que dormir lá, na noite do dia 24. E provavelmente do dia 25 para o dia 26. Nada poderia me alegrar mais do que essa notícia.
- Eu entendi, você odeia o , mas não o vê há cinco anos, então para de ser uma criança mimada, e seja legal com ele.
- Oi? Você tá se ouvindo?
- , eu sei que você tem magoa dele por tudo que ele te fez, mas tenta pensar nas coisas boas, não era bom quando vocês eram amigos?
- Era! Óbvio que era e, além de tudo, ele não deixava nenhuma namoradinha dele tirar uma com a minha cara, mesmo com os meus óculos e aparelho nos dentes – eu suspirei.
- Ele tinha muitas namoradinhas?
- Ele era mais velho que eu, amiga, ele tinha uns 14, 15 anos na época. Ele era o cara mais popular da escola, aquele que ficava com quem quisesse.
- E mesmo assim ele escolhia passar os intervalos com você?
- Sim! E sempre éramos dupla em qualquer feira que fossemos participar!
- ELE FOI SEU PRIMEIRO AMOR PORRA! – ela gritou, e me assustou me fazendo derrubar tudo que estava em cima da caixinha – PORQUE VOCÊ NÃO ME DISSE ANTES?
-Ai, cala a boca, sério, que primeiro amor nada, ele era meu melhor amigo!
- Seu melhor amigo, que te protegia de tudo, a pobre e doce menina , e nada era mais importante que ela - Ela disse com voz doce e revirou os olhos.
- Não sei por que eu ainda conto as coisas pra você! – sentei na cama.
- Amiga, é sério, me conta! Você gostava dele? – eu suspirei – Desde quando você tem segredos comigo?
- Para, , não gosto de me lembrar disso! – ela deitou na cama, do meu lado.
- Se você não me contar tudo, eu não posso te ajudar! – eu suspirei.
- Eu gostava dele, muito, muito mesmo – enxuguei as lágrimas que eu nem tinha percebido – E acho que gosto até hoje – suspirei – Nenhum menino nunca foi tão carinhoso, atencioso, fofo, amável comigo quanto o foi.
- É por isso que você não quis nada sério com Ninguém? Nem com o James?
- É, amiga, eu tenho medo, medo que aconteça a mesma coisa. Que as pessoas se cansem de mim, e simplesmente sumam! Eu tenho medo, de tudo.
- , meu Deus, eu não sabia amiga – ela me abraçou – foi embora sem saber que você gostava dele? – eu concordei – Você nem sabe se ele também gostava de você?
- , olha bem pra mim, ou melhor, olha essa foto – abri meu criado mudo, e escondido, bem lá no fundo, tinha uma foto, um tanto quanto velha, minha e do e nós estávamos em uma feira de ciências.
- Desde aquela época você queria ser médica? – Eu concordei – E ele tá vestido do que?
- Rockstar – eu ri – ele queria ter uma banda, viajar o mundo, e ser mais famoso que os Beatles, ele era bom.
- Como você mudou – ela me olhou – você é linda , de verdade, não precisa ficar insegura quanto a isso! Na escola todos babavam, e aposto que mesmo na faculdade de medicina, com todos aqueles nerds esquisitinhos, iguais a você, você vai ser a musa inspiradora!
- Como você é idiota – eu ri, e dei um tapa nela – eu tenho medo de ver o , e desabar
- Não vai acontecer isso! É obvio que não, você é uma garota maravilhosa, incrível! Se você vir ele, vai ser a chance de conversar com ele, você pode pedir explicações
- E se ele falar que se encheu de mim? Que eu sempre fui um problema na vida dele? Eu não quero ouvir isso amiga – abaixei a cabeça entre os joelhos – não quero pensar que eu vivi uma mentira
- Amiga vem aqui – ela me puxou, e me colocou em frente ao espelho – se olha no espelho – ela tirou minhas mãos dos olhos – olha como você é linda! Não só por fora, mas olha pra isso agora! Você é maravilhosa! E por dentro? Eu não preciso nem falar! Você consegue ser ainda mais maravilhosa do que tudo! , quem iria pensar em ser medica por causa das crianças? Olha pra isso! A sua personalidade é mais maravilhosa ainda!
-Você é minha amiga, não conta!
- É ai que conta! Porque eu sei dos seus defeitos, e posso apontar cada um deles, e também sei das suas qualidades! – ela me virou – você vai pra esse natal, e vai ser maravilhoso
- Eu imagino, to tão animada! – revirei os olhos
- Você vai pra essa festa, e se, por algum acaso te disser coisas irritantes, ou que você não queira ouvir, dá um tapa na cara dele, e vai embora, mas por favor, não sai de lá sem falar com ele, ok?
Fiquei em silêncio, porque o silêncio combinava comigo, ele era calmo, não mudava as coisas, fazia tudo ficar em outro patamar.
- , eu estou falando com você, e já estou atrasada pro ensaio do casamento da minha irmã, no mínimo 10 minutos.
- Tudo bem amiga, ok! – eu a abracei - Obrigada por ser tão maravilhosa.
- Quando você voltar, quero em detalhes, que você não possa me mandar por mensagem, ok? – eu concordei de novo – amo você! Fica bem – ela saiu e bateu a porta.
Guardei a foto, dentro do meu livro preferido, e deitei na cama.

Eu veria de novo, isso era um fato.
Eu teria que falar com ele, quem sabe até abraçá-lo para desejar feliz natal.
Eu poderia falar com ele e pedir algumas explicações? Poderia.
Ele poderia querer falar comigo? Poderia.
Minha faculdade de Medicina poderia começar as aulas amanhã? Impossível.
Eu poderia morrer até amanhã?.Poderia, mas muito pouco provável que isso aconteça.
É , acho que nós vamos nos ver de novo, muito em breve.

[...]

- , eu e seu pai já pagamos a viagem – estávamos saindo de casa – você sai dia 27 pela manhã, e vai passar o ano novo lá, com a como queria! – minha mãe me entregou um envelope, e quando eu abri, tinha mais algum dinheiro ali
- E o que está aí dentro, é nosso presente de natal pra você – eu sorri e os abracei
- Eu só não digo que vocês são os melhores pais do mundo, porque estão me obrigando a ir nessa fazenda – peguei meu celular e comecei a digitar a mensagem pra :SIM,IRIAMOS PARA A DISNEY!
- Filha, vai se arrumar, a gente vai sair daqui as seis da tarde, e eu odeio como você e sua mãe demoraram mil anos pra se arrumar,então melhor começar agora – ele disse e desligou a televisão
- EU ESTAVA ASSISTINDO!
- – meu pai segurou a risada – você já assistiu Titanic mais de mil vezes, já sabe até as falas!
- Vou perguntar de uma vez – eles me olharam juntos – vocês me odeiam? Porque eu acho que sim!
- Claro que não! Nós te amamos! – ela me puxou, enquanto meu pai continuava a ver meu filme – fique ainda mais linda. Disse me enfiando dentro do meu quarto.
[...]
Eu estava enganada, a fazenda da família era a coisa mais linda que eu já tinha visto na minha vida inteira, era uma casa estilo aqueles filmes, totalmente iluminada pelos piscas-piscas que adornavam a entrada da fazenda e trilhavam o caminho pra cair em uma mansão.
Aquela casa só podia ser uma mansão, jamais tinha visto algo parecido.
- Meu Deus, aqui é tão bonito! – minha mãe não se aguentou enquanto olhava. – eu preciso tirar uma foto disso
- Mãe, não! – disse baixinho, enquanto via o Sr. E a Sra. aparecerem em frente a porta. - Por favor, não faz isso.
- ! Que saudades de você! – as duas se abraçaram e eu prendi a minha respiração, com medo de encontrar o a qualquer momento.
- Eu também , você está maravilhosa! Seu – se dirigiu ao Sr. que trocava um caloroso abraço com o meu pai
- Essa é a pequena ? – ela me olhou e abraçou – como você ficou linda! – ela me rodou – e esse vestido? Como você mudou! Quem disse que você ia se tornar essa mulher linda?
- Obrigada senhora. – fiquei vermelha
- iria gostar d te ver assim, dentro de um vestido curto, de salto alto. Ele que já te achava linda, agora então, vai ficar sem palavras. Uma pena que ele tá preso lá no Canadá e não vai conseguir chegar
me achava linda, desde sempre.
Desde sempre.
Ele não vem.
Não vou ver hoje.
Isso era pra ser bom, não é?
- Porque ele não vem? – meu pai perguntou, antes que eu conseguisse refrear meus sentidos
- Ele perdeu o avião, lá no Canadá, hoje cedo, porque teve que ir buscar algum presente perto da nossa empresa, uma coisa que ele tinha que trazer pra Londres. Mas no máximo amanhã à tarde ele está aqui – Sr. sorriu
- ficou tão lindo!
- Ele já era lido – minha mãe, fã número 1 dele, como eu podia ter me esquecido disso.
- Venham queridos, tenho muita coisa para contar, e mostrar a vocês.
Entramos naquela casa, e me faltavam palavras para descrever,todo aquele lugar parecia mágico, e eu realmente me vi dentro de uma história de contos de fada.
- , não acredito que já conseguiu ingressar em medicina! Você só tem 18 anos! – Sra. exclamou, tanto quanto feliz, e eu achei verdadeiramente que ela estivesse feliz
- E o ? Faz o que?
- Ele tá cursando arquitetura – ela sorriu – e parece que agora está no caminho certo.
- Homens dão trabalho na faculdade né?
- Logo que saímos daqui, teve uma fase rebelde Cris, uma fase que ele não queria nada com nada, nem queria estudar pra qualquer coisa, foi uma fase difícil, mas acho que a Kate o ajudou muito nisso.
- Kate? Quem é Kate? – quis me bater por não ter conseguido engolir essas palavras
- É o anjo da guarda do , eu acho – ela sorriu, e aceitou o champanhe que um dos seus garçons estava servindo – mas, ao que me consta eles só são amigos mesmo.
- Ah, que bom pra ele! É sempre bom ser cuidado – sorri falsamente
Eu já odiava essa Kate, nem mesmo a conhecia e já não ia com a cara dela.
Com toda a certeza do mundo, ela era a garota do , ela era que estava saindo/namorando/pegando/se divertindo
Era ela que tinha feito ele se esquecer de mim.
[...]
- , querida, você pode por favor, pegar mais duas taças lá na sala? Faltam 5 minutos pra meia noite! – eu concordei e entrei
Não aguentava mais fingir que tudo aquilo estava maravilhoso, que eu estava amando ficar naquele lugar. Eu queria ir pra minha casa, voltar a odiar o e não ficar relembrando cada um dos nossos momentos
Eu quero ir pra minha casa, e ficar lá, em paz.
- ? É você? – não reconheci aquela voz de primeira, mas assim que eu levantei a cabeça, me deparei com aqueles olhos e gelei dos pés à cabeça.
Meu menino havia se tornado um homem, um homem lindo,mas que ainda conservava aquele ar de menino que aprontava e depois corria pra mãe
Aquele sorrisinho confiante, que me deixava de pernas bambas.
- Sou, quem é você? – decidi agir com indiferença, eu não tinha muito tempo pra decidir como fazer e achei que aquele era o único jeito de me proteger
- – ele se aproximou – sou eu, o – ele estava perto demais- você não se lembra de mim?
Como eu queria poder dizer que não, como eu queria poder dizer que nem sabia que ele ainda existia nesse planeta.
- FELIZ NATAL GENTEEEEEE! – ouvimos os gritos lá de fora, e nós olhamos
- Ah, lembrei sim, você era meu melhor amigo – cruzei os braços – que sumiu sem dar qualquer tipo de satisfação pra mim
- Eu sou seu amigo ainda – revirei os olhos – Feliz natal, linda – ele se aproximou mais, e me abraçou
Eu gelei.
Eu desmaiei.
Eu achei que todos os ossos do meu corpo tinham virado liquido e eu desmancharia no meio daquela sala.
O abraço dele, que me fazia querer morar lá dentro.
Ainda era o mesmo, o perfume, tudo.
Eu não retribui o abraço, mas perdi o fôlego nos poucos segundos que nossos corpos se encontraram.
- Feliz natal – disse baixinho
- FILHO! Que bom que você tá aqui! – sua mãe nos interrompeu e eu lancei um olhar desesperado a minha mãe que não conseguiu compreender o que eu dizia
Todos se abraçaram, comemoraram o fato de ter voltado a tempo pra ceia. E ficaram conversando por algum tempo. Mas eu não aguentava aquilo.
- Mãe, só vou ligar pra , pras minhas amigas, pra dar feliz natal e já volto – avisei a minha mãe e sai na varanda.
Aquilo era demais pra mim, eu sempre achei que estaria preparada pra ver ele, achei que me comportaria bem, ou pensei que talvez tudo que eu sentisse o tempo já teria pagado.
Mas eu nunca estive tão enganada na minha vida. O sentimento estava intacto, como se estivesse envolto por uma camada de vidro inquebrável, guardado no meu coração, e que jamais deveria ter saído de lá.
Deve ser por isso que dizem que o primeiro amor a gente nunca esquece, deve ser porque ele realmente nunca sai do coração da gente, ele fica sempre lá, guardado, escondido, esperando uma brechinha pra sair.
Uma oportunidade pra sair.
Mas o meu era diferente, eu mataria esse amor, ele tinha que deixar de existir a qualquer custo.
Depois do , não houve mais ninguém que mexesse comigo daquela forma. Não houve ninguém que me fizesse sentir como uma princesa, me sentir especial.
É obvio que eu saí, me diverti, beijei outros caras, mas eu sempre imaginei que o reapareceria pra mim. Voltaria por mim, mas não.

- Posso sentar com você? – aquela voz grave invadiu meus ouvidos, e se sentou ao meu lado, mais próximo que o necessário, com um embrulho nas mãos.
- A casa é sua, fique à vontade – respondi fitando a decoração de natal lá fora.
- Eu te trouxe uma coisa – ele me estendeu o embrulho – foi por isso que eu perdi o vôo de hoje de manhã, eu tinha que ir buscar isso pra você
- Não precisava ter se incomodado comigo, poderia muito bem ter vindo mais cedo. Eu nem estava esperando qualquer coisa de você – ouvi a porta de vidro ser fechada, com o vento
- , por favor – ele me estendeu, esperando que eu pegasse – a gente não se vê há tanto tempo, e você me trata dessa forma?
– Você queria o que? Que eu me jogasse nos seus braços, te abraçasse, e dissesse que eu senti a sua falta? – ele me fitou, colocando os seus olhos nos meus, como se pudesse ler a minha mente
- Eu pensei nisso, porque eu senti a sua falta
- Me poupe, por favor – levantei do banco, não aguentando mais aquela proximidade
- , é lógico que eu senti!
- Você foi embora , foi embora sem se despedir de mim, sem me dar um abraço, sem dizer pra onde estava indo! VOCÊ ME DEIXOU SOZINHA! SEM SABER O QUE FAZER
- Eu não queria ter feito dessa forma!
- Todo mundo sabia que você ia embora! Eu soube da festa de despedida que organizaram pra você! Eu soube , na noite que você foi embora! Uma das suas namoradinhas veio me perguntar por que você não tinha Aparecido! E queria saber por que eu não fui!
-EU QUERIA TER IDO, EU QUERIA QUE VOCÊ TIVESSE IDO! Você era a única pessoa que valia a pena me despedir!
- Não seja mentiroso! Por favor! Vamos colocar as cartas na mesa! – limpei as lágrimas que escorriam, sem nem eu ter deixado que elas saíssem – você não me mandou uma carta, um e-mail, um sinal de fumaça, uma mensagem de texto ! Você não me mandou nada! Você me largou lá, sem saber o que fazer!
- , me perdoa, por favor, eu não queria que tivesse sido assim!
- Você deveria ter me falado que eu estava exagerando, que nós não poderíamos ser tão amigos assim, você deveria ter me afastado ! – Sentei na cadeira em frente a dele e tampei meu rosto – você não deveria ter me deixado tão próxima de você!
- ! Princesa! – ele tirou minhas mãos do rosto
- Por favor, não me chama assim, eu te imploro, já dói muito lembrar a maioria das coisas.
- A minha intenção nunca foi te magoar, nunca foi te afastar, pelo contrário, eu queria você sempre perto, sempre junto comigo!
- Não mente, não precisamos mais de teatro!
- Eu não to mentindo! Você também não me escreveu, nem me procurou! Sua mãe tem o telefone de casa
- O QUE? VOCÊ QUERIA QUE EU TIVESSE IDO ATRÁS DE VOCÊ? Você ta se ouvindo? Foi você quem foi embora, foi você quem me deixou no escuro, sem qualquer explicação!
- Você podia ter me ligado! Você podia ter mostrado que se importava!
- VOCÊ SEMPRE SOUBE QUE EU ME IMPORTAVA ARRY! Eu aguentei seus amigos me zoarem por muito tempo, aguentei as piadinhas das suas namoradinhas, eu acordava cedo no final de semana pra ir com você nos treinos de futebol! Não to te cobrando! Eu fazia isso porque eu queria, mas você não reconhece!
- é lógico que eu reconheço! Você pensa que foi fácil ser seu amigo? Você pensa que ninguém me olhava torto por ser seu amigo? Você pensa que era tranquilo ir com você pra casa todas as vezes, e ter que voltar as 10 horas? Você pensa que eu gostava de brincar de boneca?
- Eu nunca te obriguei a nada!
- Eu sei! Eu não to te dizendo isso! Eu to te falando que eu também abri mão de muita coisa pra te ter por perto! Que você não é a única que saiu machucada
- Por que você não se despediu ? – eu nem me importava mais com as lágrimas, não tinha mais o que esconder –Por que você não me contou? – disse em um sussurro
- , por favor...
- só me diz isso, por favor, eu preciso que você me explique! – peguei nas mãos dele, por impulso – eu preciso seguir a minha vida.
- Eu me apaixonei por você – ele disse com uma voz fraca – eu não ia conseguir dizer que eu ia embora, sem me despedir, Achei que apenas ir embora ia fazer com que eu te esquecesse, e você também.
- você gostava de mim?
- Eu me apaixonei – ele respirou fundo – eu me apaixonei por você, de uma forma que nunca achei que ia ser possível, eu me apaixonei por você, quando você era só uma menina indefesa, que usava óculos e aparelhos nos dentes, que tinha o sonho de ser pediatra, por causa das crianças carentes, Eu me apaixonei pela menina que queria ser uma princesa, e que eu sempre dizia que era a minha Barbie!
- O que? Você gostava de mim?
- Totalmente apaixonado! Foi por isso que eu fiz a sua cabeça pra não ficar com o Rick, lembra? Eu me corroí de ciúmes aquele dia, foi um dos piores, porque você era a minha menina, era a flor que eu estava vendo desabrochar, você era minha!
- Eu também gostava de você – disse baixinho – eu também acho que estava apaixonada por você, eu quis morrer quando você foi embora – ele me olhou assustado, me encarando no olhar
-Eu não acredito – ele apertou as minhas mãos, que ainda estavam sobre as dele – eu estraguei tudo não é? – eu confirmei com a cabeça,chorando, sem esconder mais.
- Você foi o meu primeiro amor , você seria o único com quem eu teria coragem de fazer alguma coisa.
- Eu nunca deixei de te olhar nas redes sociais, eu olhava o seu facebook todo dia, rezando pra que ninguém ocupasse o meu lugar, eu sinto até hoje a minha espinha gelar quando abro o seu facebook e vejo uma foto sua com o , eu sei que ele está com você agora.
- Ele não é nada meu, na verdade – eu suspirei – ele é namorado da minha melhor amiga , não tem nada a ver comigo. – ele sorriu – você deveria ter me mandando mensagem, qualquer coisa .
- Eu sei , por favor, me perdoa, eu nunca falei tão sério na minha vida. Eu não queria que você tivesse sentido a minha falta
- foi impossível, , foi horrível pra mim, ficar sem notícias suas, ficar sem saber o que fazer. Eu me senti abandonada, e você sabia que eu tinha esse complexo
-Eu não quis te magoar, mesmo.
- Mas você me abandonou, mesmo dizendo que era apaixonado por mim – eu suspirei – mesmo me dizendo isso agora, teve coragem de me largar
- Eu preciso que você me perdoe! – eu me levantei e ele também
- , eu queria muito te dizer que isso não significou nada pra mim, mas ainda me dói muito, conversar com você me dá um desespero que você não tem ideia, você perto de mim me deixa sem saber como agir -me escorei na sacada
- Me deixa tentar começar de novo – ele estava perto de mim de novo, por trás – eu quero estar perto de você de novo.
- Eu não sei. Você vai voltar pro Canadá, eu vou ficar aqui em Londres
- Eu vou ficar aqui.
- Como é?
- Eu transferi a minha faculdade!Transferi-me pro mesmo campus que o seu
- Você vai morar lá no alojamento? – ele confirmou – eu não acredito!
- Eu te acompanhei – ele se colocou do meu lado, e segurou a minha mão – por cada segundo, mesmo de longe, querendo que você me odiasse, que me esquecesse.
- Eu não te odeio , longe disso. – suspirei, e inspirei todo o ar que eu conseguia – eu só fiquei muito magoada com tudo isso.
- Eu percebi – ele me virou, e me fez encarar seu rosto – eu estraguei o que a gente poderia ter tido né? – fechei os olhos – eu estraguei quem sabe, a chance que nós teríamos de ser feliz. Mas eu to aqui, eu quero recomeçar.
- Você tem a Kate... – ele me interrompeu, sorrindo
- Ela não foi você, não é você, e nem vai ser. A Kate é minha amiga, nunca nem passou pela minha cabeça ter qualquer coisa com ela.
- Mas a sua mãe...
- Você tem ciúmes, eu sei – ele riu –e eu sei que vou ter muito, olha como você mudou! Você desabrochou, você é a mulher mais linda que eu já vi na minha vida – eu ri descrente – e você é medica!
- Vou começar o primeiro período , to longe de ser medica ainda! – eu o interrompi
- Pra mim, você sempre foi – ele sorriu – me deixa estar na sua vida de novo – ele passou o braço pela minha cintura, me trazendo mais pra perto.
- Vamos com calma, por favor – me afastei dele – eu preciso pensar, preciso colocar as coisas no lugar.
- Eu espero, sério, vou estar do seu lado, eu prometo
- Só não promete o que você não pode cumprir, por favor. Eu não quero me decepcionar de novo.
- Você não vai. – ele me abraçou, e eu, finalmente, pude abraçá-lo de volta.

[...]

- Mãe, se eu perder esse avião, eu juro que nunca mais converso com você! Cadê a ! – eu estava desesperada, era essa a palavra que me definia.
Estava a 20 minutos de o meu vôo sair e eu estava fazendo check in, que demorava mais do que tudo nesse aeroporto
- Filha, calma, deve estar na sala de embarque! Já tentou falar com ela?
- Celular dela está desligado, não ta pegando, sei lá! – minhas bagagens foram despachadas
- Filha, se cuida, me manda notícias todo dia, me manda um Whatsapp, qualquer coisa, posta foto, por favor – minha mãe me abraçou
- pode deixar mãe, me liga no ano novo tá? Mesmo com o fuso, por favor – a abracei de novo – eu amo você, manda beijo pro pai também
Entrei na sala de embarque, onde somente os passageiros podiam ficar, quando meu vôo foi anunciado, imaginei que encontraria na fila, mas me surpreendi quando na porta que dava para a garagem dos aviões, estava escorado ali.
- o que você tá fazendo aqui? – eu o questionei antes de qualquer coisa
- Eu vou pra Disney! – exclamou e eu balancei a cabeça – o que foi?
- , que brincadeira é essa? –olhei em volta
- Você não pegou o presente que eu queria te dar na noite de natal – ele me estendeu o mesmo pacote – abre ele
- , por favor, eu preciso achar a , ela vai comigo, e eu ainda não a encontrei, não podemos ver isso quando eu voltar
- Abre , por favor -eu peguei o pacote, e o rasguei, e quando vi o que tinha dentro, quase não acreditei.
Um dos presentes era o Ken, aquele namorado da Barbie, que nas brincadeiras infantis, eu sempre chamava de . Só que dessa vez, ele usava uma roupa muito parecida com a de um príncipe, especificamente da Fera, da história de ‘’ A Bela e a Fera’’,
O segundo presente, era também uma boneca, como a Barbie, só que ela tinha o meu rosto, o meu cabelo e usava o mesmo vestido que a Bela usou no jantar com a Fera, ainda dentro da história.
- – eu tentei engolir as minhas lágrimas, em vão – eu não acredito que você fez isso.
- Em todo o tempo que a gente ficou separado eu me sentia solitário, eu não tinha ninguém com quem eu pudesse me mostrar de verdade, eu me sentia rodeado por muitas pessoas, mas ao mesmo tempo, a única pessoa com quem eu gostaria de estar, não estava comigo. E essa pessoa , era você. Sempre foi você
- Mas e todas as suas namoradas?
- Não me valeram de nada , nada. Elas não eram você, elas não sabiam que eu odiava levantar cedo e nem me comprovam barrinhas de uva verde, elas não sabem que eu tenho alergia a maça verde e também não imaginam que eu perdia meu tempo vendo desenhos animados
- Nem que você sabia todas as músicas do Hercules – ele riu
- Eu estou longe de ser um príncipe , você sabe disso, mas você – ele chegou mais perto – você é a minha princesa, você é a única pessoa que merece esse título. Você é linda por dentro, e consegue ser maravilhosa por fora
- Você é um príncipe, , um príncipe moderno – eu ri, enxugando minhas lágrimas – você tem atitudes loucas, é arrogante, pretensioso, corajoso...
- eu também sou rico
- Eu não me importo com isso, você sabe
- Eu sei – ele olhou para as minhas mãos – mais uma das suas qualidades, que eu admiro
- o que você tá fazendo aqui?
- Eu quero ficar com você, eu combinei tudo, convenci a a me ajudar, falei com a sua mãe, com a minha, até com o seu pai. Fiz a sua boneca, mas eu não esperava que você tivesse se machucado tanto com o que eu fui fazer.
- Mas a gente tá recomeçando! Somos amigos!
- Eu não quero ser seu amigo, eu não quero ter que ver outro cara ficar com você, namorar você, te causar ciúmes, ter ciúmes, casar com você, ter filhos com você. Eu sou egoísta, você sabe. – ele segurou meu rosto – eu quero ser esse cara! Eu quero ficar com você, eu quero atropelar as coisas entre nós! Eu quero estar com você, nem que seja para te levar pra casa as 8 da noite, eu preciso estar com você.
- Você quer ficar comigo? Mesmo?
- ! É OBVIO QUE EU QUERO! Quero brigar com você, sentir ciúmes, me reconciliar com você, acordar com você reclamando que tá cedo demais pra qualquer coisa, eu quero tudo com você! E eu não aceitaria isso com mais ninguém, porque é com você que eu me sinto em casa, é em você, no seu sorriso, que eu me encontro.
- , eu, não sei, to perdida, confusa
- Não pensa, por favor, não pensa em nada – ele segurou meu rosto com mais força e uniu nossas testas – se você pensar, você não vai me querer de volta, sou todo errado.
Eu fiz o que ele realmente disse, eu não pensei, apenas fiz o que eu tinha vontade desde os meus 11 anos de idade, e eu o beijei.
E dentre todos os beijos da minha vida, o dele era melhor, o dele se encaixa, o dele me fazia querer desmaiar e viver ao mesmo tempo.
- Esse foi o melhor beijo da minha vida – ele disse quando eu precisei de ar pra respirar, e parti o beijo
- Para de falar – lhe dei um selinho – eu não quero saber quantas bocas você já beijou
-Para você de falar, eu não vou te dizer quantas foram, porque eu nunca esperei tanto tempo pra beijar a sua boca. E eu também não quero saber com quantos caras você já dormiu – ofeguei, e ele percebeu – isso é assunto proibido?
- Não , eu fico sem graça de – mordi a boca com força, e ele me beijou de novo – eu, fico, seu lá
- Não tem problema , sexo é uma coisa normal, todo mundo faz! E comigo você sempre pode falar de qualquer coisa!
- Todo mundo menos eu – disse baixinho, e ele me soltou –tá vendo! Eu sabia que não era pra começar com esse assunto!
- Não é isso! – ele me puxou de volta, com força de encontro ao seu corpo – é que eu não posso acreditar que você, desse jeito, nunca – eu olhei feio pra ele – fez nada com ninguém
- Eu nunca tive vontade com ninguém , lógico que teve umas coisas – ele fechou os olhos, como se não quisesse ouvir – mas nunca passei dos limites.
- Você entende porque eu digo que você é uma princesa dos contos de fada? Porque tudo em você é diferente.
- Pra melhor ou pior? – perguntei rápido
- Nem melhor, nem pior – do meu jeito, feita pra mim
- Ah, por quê? Você é virgem? – ele riu – é obvio que não.
- é porque você é só minha, e ninguém vai ter o que eu tenho, nunca.
- você não existe – eu o beijei, de novo, não sei o que acontecia comigo, mas cada segundo sem aquele beijo, me parecia tempo desperdiçado.
- vem viajar comigo? – ele pegou as nossas bagagens de mão – você quer conhecer o seu reino, princesa? – ele me estendeu a mão, como em uma reverencia
- Eu quero, príncipe – eu o puxei pra perto e abracei o seu pescoço – e quero ficar na mesma torre que você.
- você é a minha princesa, nada muda isso. Eu vou fazer a gente dar certo, eu prometo.
- Eu também vou, eu juro.
É, acho que quando a minha mãe me disse que o natal reservava grandes surpresas, eu não esperava que fossem tantas, e que mudassem tanto a vida das pessoas.
A única coisa que sempre deve ser feita, é abrir o coração, e escutar com amor.


Epílogo.

- Filha, por favor, para de brincar, e vem jantar! – Era a terceira vez que eu chamava Bella pra comer e ela e o não saiam do quarto.
- Eu já to indo mamãe! – ela me apareceu na cozinha, segurando a mão do , e na outra, uma boneca – olha o que o papai trouxe pra mim! – ela veio correndo na minha direção.
Assim que a suspendi no meu colo, vi que ela tinha uma miniatura de si própria nas mãos, vestida exatamente como a princesa do filme enrolados, que era a preferida dela.
- Papai disse que eu sou uma princesa mamãe! Ela é igualzinha a mim! – ela estava eufórica e quase não cabia em si mesma!- Eu posso mostrar pra vovó?
- Pode filha, eu já ligo o computador pra você!
- OBAAAAAAA! VOU COLOCAR MINHA FANTASIA! ME POE NO CHÃO, MAMÃE – a coloquei no chão e a vi cruzar o corredor.
Bella tinha três anos, exatamente o mesmo tempo de formada em Medicina que eu tinha.
- Eu não acredito que você fez uma pra ela – me abraçou, me prensando contra a bancada da cozinha –você é maravilhoso.
- Ela me disse que queria uma igual da mamãe, porque ela adora aquela boneca da mamãe – ele escondeu o rosto na curva do meu pescoço.
- Obrigada – eu o agradeci e ele levantou o rosto.
- Obrigada pelo que?
- Por não ter desistido de mim, por ter me feito acreditar em mim mesma. Por me fazer perceber que tudo merece uma segunda chance, e por me dar as melhores coisas da minha vida: você, nossa casa, nossa filha. E por esses quatro anos de casamento.
- Você é a melhor coisa do mundo – nós nos beijamos intensamente, até ouvir o tilintar dos sapatinhos de Bella
- Eu amo você, meu príncipe!
- Eu te amo mais, minha rainha! – disse, e me beijou enquanto levantava Bella que nos abraçava.
- Aqui pode ser o reino da família , não pode papai? – Ela disse contente, e eu não podia negar, jamais, meu reino era meu milagre de natal.
- Doutora ? – eu me derretia quando ele me chamava assim – vou precisar dos seus cuidados mais tarde – ele sorriu safado
- Senhor , estarei de plantão pra você, a noite toda!
- Você vai trabalhar mamãe? – fiz que não com a cabeça – OBAAAAAA! ENTÃO A GENTE PODE ESCREVER AS CARTINHAS PRO PAPAI NOEL! – e ela desceu do colo, buscar tudo que precisava, já eu, tinha tudo que eu precisava, e só podia agradecer.
E o natal, desde aquele dia, há 10 anos, tinha se tornado a minha data favorita, dentre todas as outras.

FIM.



Nota da autora (27/01/2015): Sem nota.


comments powered by Disqus

Qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.