Autora: RaphaellaR.|| Beta: Lara


Estava praticamente jogando minhas roupas dentro da mala, meu celular não parava de tocar nenhum segundo sequer, isso tudo pelo simples motivo deu estar atrasada. O que eu deveria ter feito há semanas, estava fazendo agora, que era arrumar minha mala para a viagem. Escutei o barulho de um carro estacionando a frente de minha casa, Fred, meu cachorro, começou a latir desesperadamente e mesmo que o mandasse ficar quieto, não adiantava. Às vezes aquele latido fino me irritava, ainda mais quando estava nervosa. Olhei pela janela e vi no mínimo meia dúzia de carros começarem a estacionar rente a minha calçada. Arrancariam minha cabeça se vissem que eu ainda não estava pronta. A campainha começou a tocar incessantemente, o que me deixou meio apavorada. Desci as escadas correndo e abri a porta. a empurrou, quase fazendo com que a mesma batesse em minha cara, ela estava praticamente espumando pela boca, então dei um sorrisinho amarelo na tentativa de me livrar do belo tabefe que levaria em minha cabeça, mas não adiantou muito, levei assim mesmo.
– Não me diga que ainda não está pronta! – disse ela, colocando as mãos na cintura.
– Bem... – antes de continuar com a frase, levei outro tabefe na cabeça. – Minha mala já está pronta. Só falta pegar a barraca que está na casa da minha mãe e... – me interrompeu.
– Espera aí! Não acredito que ainda não pegou essa barraca! A casa da sua mãe é do outro lado da cidade. – gritou. Arregalei os olhos, com medo do que minha amiga faria comigo. – Eu deveria te matar, sabia?
– Por favor, não faça isso. Porque ainda vou ter que alugar um carro. – agora sim tive que sair correndo, pois senti que seria espancada até a morte.
, volte aqui! Seus dias de vida foram reduzidos a minutos agora! – veio correndo atrás de mim.
– Olhe só, se você me matar, iremos nos atrasar para a viagem. – tentei fazer com que ela se acalmasse. – Vamos fazer o seguinte, peço para que meu irmão nos encontre com a barraca na loja de aluguel de carros. Que tal? – fechou os olhos e respirou fundo.
– Não tem outro jeito mesmo, não é? – neguei com a cabeça, fazendo carinha de coitada. – Então liga logo para ele que vou buscar o resto que falta do pessoal, mas não demore! Vou pedir para te dar uma carona. – quando ela disse aquele nome, olhei-a séria.
– Você não fez isso! – semicerrei os olhos. – Ele estava fazendo faculdade na Califórnia. O que está fazendo de volta à Nova Orleans? – deu um sorrisinho.
– Ele veio passar as férias com a família e minha mãe o obrigou a ir também. Disse que não queria vê-lo trancado no quarto as férias inteiras estudando. – quem não o conhecesse até pensaria que era nerd.
– Sua mãe é um doce de pessoa. – sorri debochada. – Você sabe que seu irmão me odeia!
– Não odeia, só porque você ficou com outro quando namoraram e por isso ele foi embora, não significa nada. – imagina, só não queria ver minha cara nunca mais e ainda achava isso pouco.
– Eu não vou. – joguei-me no sofá, cruzando os braços. – Essas férias eram para serem divertidas, sem trabalho, faculdade ou qualquer outro problema pessoal. Só a galera. – bufei feito uma criança.
– E vai ser. Além do mais, faz parte da galera. – ela sentou ao meu lado. – Anda, já éramos para termos saído, e vamos pegar a estrada no horário mais quente. – deu um beliscão em meu braço. – E a culpa é sua.
– Ok. – ri e passei a mão onde ela havia beliscado. – Vou ligar pro meu irmão. – estiquei o braço e peguei o telefone. – Nos encontramos no posto do Wall.
– Está bem, mas não se atrase mais! – ela se levantou e foi embora.
Liguei para meu irmão mais novo e pedi pra que me encontrasse na loja de alugueis, e que levasse a barraca. Subi para terminar de arrumar minhas coisas e quando finalmente terminei, olhei pela janela, obsevando o carro vinho estacionado na frente de casa. Meu coração se apertou um pouco ao saber que estava dentro dele me esperando. Não sabia o que fazer ou falar, pois a última vez que o vi foi antes de ir para a Califórnia e nós brigamos feio, falamos coisas um para o outro que não precisavam ser ditas. Saí da janela e peguei meu chapéu de praia em cima da cama, ele era grande o suficiente para tampar meu rosto e impedir um contado de olhares com . Para melhorar, coloquei meus óculos de sol, daqueles gigantes. Peguei minha mala e desci, fazendo com que suas rodinhas esmurrassem cada degrau da escada. Fred me seguia contente, achando que viajaria comigo. Abri a porta e empurrei o animal pra dentro, pra que não saísse correndo em disparada para a rua. Tranquei a porta e caminhei até o veiculo, a mala dele se abriu quando me aproximei. Coloquei minha mala dentro e entrei no carro. Ele, como eu, não falou nada, apenas deu a partida e fomos embora. Puxei meu vestido para baixo, tentando tampar minhas pernas, que estavam à mostra; na verdade, fiz isso para poder segurar em algo, estava nervosa demais com a presença de .
– Er... – tentei falar algo, mas fui cortada.
– Por favor, fica calada. – pediu.
Mordi meu lábio inferior e agarrei com mais força ainda a barra de meu vestido. Ele nem ao menos queria escutar minha voz. Já tinha se passado dois anos depois de tudo, mas pensei que ele ainda não me odiasse tanto desse jeito. Peguei meu iPod dentro de minha bolsa e coloquei os fones de ouvido, ligando no aleatório; começou a tocar uma música do Coldplay. Afundei-me no banco do carona e fiquei olhando pela janela a paisagem. Quando chegamos à loja de aluguel de carros, se esticou por cima de mim e abriu a porta, tipo me expulsando do carro. Não o olhei, apenas desci e peguei minha mala. Ele nem sequer me esperou, foi embora e me deixou ali sozinha. Respirei fundo. Tirei meu chapéu, passei a mão em meus cabelos, que tinha um corte chanel, para me certificar que não estavam bagunçados. Entrei na loja e meu irmão já estava lá me esperando.
– Como sempre, enrolada. – disse, jogando a barraca, que deixei cair no chão. Meu irmão cismava que eu tinha reflexo rápido.
– Kevin, você tem que parar de me tacar as coisas, não sou um gato. – reclamei, pegando a barraca e colocando em cima de minha bolsa.
– Claro que é. – riu. – Mamãe disse que se quiser levar o nosso Hummer, você pode. – semicerrei os olhos, tinha algo de errado. – Mas... Tem uma condição.
– Eu sabia. – bufei. – Qual é a condição?
– Que me leve junto. – ele abriu um sorriso enorme.
– Não. Prefiro alugar um carro a te aguentar atrás de mim uma semana no meio do mato. – dei as costas e fui andando em direção à recepção.
! – veio correndo e ficava me cercando. – Olha, se você me levar eu prometo que não vou te perturbar.
– Não vou ficar tomando conta de um garoto de 17 anos. – tentei me esquivar dele, mas foi inútil, já que me fechou.
– Mas não vou dar trabalho, anda, deixa de ser chata! – Kevin estava me irritando para ir nesse acampamento desde o começo.
– Vou me arrepender disso, não vou? – perguntei, soltando o ar e revirando os olhos.
– Não. – ele sorriu mostrando todos os dentes, Kevin sempre fazia essa cara quando fingia ser um bom garoto. – Minha mala já está no carro.
– Nem pense que irei dividir minha barraca contigo! – falei saindo da loja.
– E não vai, trouxe a minha. – passou a minha frente e entrou no lado do motorista.
– Hey, eu quem vou dirigindo. Pode sair daí. – abri a porta de trás e taquei minha mala lá junto da barraca.
– Você é uma chata! – resmungou, pulando para o banco do carona.
Entrei no carro, que não podia ser nada menos monstruoso. Dei meu chapéu e minha bolsa pra que meu irmão segurasse, e o inútil fez questão de colocar no chão. Fuzilei-o com os olhos, acho que vou matar meu irmão antes mesmo de chegar ao Missouri. Liguei o rádio, que tocava uma música agitada. Fomos cantando e balançando a cabeça até chegar ao nosso destino. Dirigi até o posto do Wall, onde todos já estavam me esperando. Desci do carro para comprar algumas besteiras na loja de conveniência enquanto abastecia.
– Meu Deus, pensei que não chegaria nunca mais. – comentou , aproximando-se. – O que seu irmão está fazendo aqui? Pensei que você tinha pego um carro alugado? – perguntou olhando pro lado de fora, onde Kevin estava encostado na lateral do Hummer.
– Resolvi economizar dinheiro. – sorri. Tinha uma menina conversando com , ambos encostados no capô do carro dele. – Quem é a menina que está com seu irmão? – tentei mudar de assunto.
– Está com ciúmes! – deu uma cotovelada em mim e começou a rir. Ela tinha mesmo que acertar meu estômago?
– Não, só quero saber quem é. Já que todos que iam nessa viajem eram nossos amigos, mas agora já estou vendo que tem gente estranha. – torci os lábios, olhando sobre a prateleira de salgadinhos.
– É namorada do . – apenas soltei um murmúrio com a resposta que recebi. – Ele foi pegá-la na rodoviária agora, chegou de última hora, nem eu mesma sabia até chegar aqui.
– Legal. – comentei enquanto ia em direção ao caixa. – Preciso de chocolate, muito chocolate. – peguei várias barras.
– Isso te deixou realmente nervosa. – paguei a conta e saí da lojinha sem falar mais nada.
Essa seria uma das minhas viagens mais incríveis junto do meu irmão, meu ex e sua namorada. Será que tem como ficar pior? Bem, acho que não. Espero que estejam levando bastante tequila. Irei precisar de no mínimo três garrafas para passar a semana. Entrei no carro e abri o vidro.
– Quem vai de carona comigo? – perguntei praticamente gritando, chamando atenção da galera toda.
– Eu e o River. – disse , com sua mochila de trilha nas costas.
– Entra aí! – sorri acenando. – É só colocar a minha mala no porta-malas. – avisei e fechei o vidro, ligando o ar.
Ainda bem que meus óculos escuros não podiam revelar para onde eu estava olhando. estava mais lindo do que antes. Seu sorriso perfeito como sempre. Não, ele estava namorando agora, e nem ao menos queria olhar pra minha cara, não sei por que estou olhando, mas vou confessar que consegui esquecê-lo, e me martirizo todos os dias por ter deixado que fosse embora, ainda mais da maneira que foi. Saí do meu transe quando meu irmão me empurrou.
– Vamos logo. – olhei para trás, checando se os meninos também estavam ali.
Dei a partida, seguindo os carros dos nossos amigos. Os meninos conversavam e se divertiam falando besteiras, já eu estava quieta voando em pensamentos. O som do carro estava ligado e a música que tocava fazia com que meus dedos ficassem batendo no volante conforme a batida. Pegamos um congestionamento por causa de um acidente que teve na estrada. Meu irmão então resolveu abrir o teto solar do carro e ficar com a cabeça para fora, então juntou River e , e eu tinha agora três crianças pulando e gritando pelo teto solar. Bufei irritada com aquilo, mas não iria descontar neles meu mal humor. Estava calor demais e o ar condicionado não estava dando conta. Esse verão estava sendo severo conosco, e espero que pra onde estejamos indo tenha alguma cachoeira ou lago por perto. Dirigi o dia inteiro até chegarmos. Entramos em uma trilha mal feita para carros até encontrarmos um bom lugar para levantar acampamento. Então paramos em uma clareira bem grande. Estacionei e desci. Já era noite e ali era escuro demais, então acendemos os faróis dos carros para que nos ajudassem a armar as barracas. Peguei minhas coisas e lá fui eu. Comecei a tentar armar meu pequeno iglu, mas era mais difícil do que aparentava, ainda mais porque sou desastrada. Depois de uma meia hora tentando, finalmente consegui. Alguns garotos saíram em busca de gravetos para fazermos uma fogueira. Alguém ligou o som e as meninas já abriram uma garrafa de vodka para começar. Hoje vou beber até não aguentar falar mais. Peguei a garrafa de vodka da mão da e dei uma golada bem grande. Apesar dela estar gelada, pude sentir descer queimando. Escutei os gritos da galera me incentivando para que eu bebesse mais. E naquela noite, ali naquele lugar, eu estava com vontade de perder toda e qualquer sanidade que ainda me restava. Fechei os olhos, joguei a cabeça pra trás e continuei virando a garrafa, até que senti que estava bom o suficiente. Assim que abri os olhos, senti as coisas rodando um pouco, mas nada de mais.
– Que comecem as nossas férias de verão! – levantei a garrafa e gritei.
Geral gritou. Escutei o barulho de uma rolha de champagne sendo estourada, e logo depois alguém me molhou, mas não liguei. Comecei a dançar loucamente, balançando a cabeça de um lado para o outro.
– Vocês já começaram a festa sem nós? – reclamou , voltando junto com os outros meninos com galhos nas mãos. – Qual é o motivo dessa comemoração toda? – perguntou.
– Férias! – gritei e pulei em cima dele. – Vamos beber até não aguentar mais. – entreguei-lhe a garrafa de vodka.
– Quem a deixou beber? – perguntou rindo da minha empolgação.
– Eu! – dei um beliscão em sua bunda, o que o fez rir.
Os meninos fizeram a fogueira bem no meio da clareira. E eu dançava sem medo de estar sendo promíscua, bebia cada gota de álcool como se fosse água, e se todos os caras que estivessem aqui não fossem meus amigos, com certeza pegaria cada um! Passei a mãos em meus cabelos os jogando pra trás e levantei um pouco meu vestido enquanto dançava de uma forma sensual. Os olhos de seguiam cada movimento meu, então dei um sorriso safado, mordendo o canto de meu lábio inferior, eu sabia que por mais que ele estivesse com raiva de mim continuava me achando gostosa e queria meu corpo nu em seus braços. Olhei-o de cima a baixo, ele estava sem camisa, mostrando seu novo físico, que devo confessar que era de matar, minha vontade era de ir até onde estava e agarrá-lo, é claro que a tequila me ajudaria muito a fazer isso. Não conseguia para de olhá-lo nem um segundo. Estava perdidamente louca por novamente. apareceu ao meu lado e abraçou meu pescoço.
– Meu irmão não para de te olhar. – comentou em meu ouvido. – Puxa ele para a moita. – ri com o que ela disse. Até que não seria má ideia.
– Ele está namorando. – falei, dando um gole na garrafa de ice em minha mão. – Não vou querer arrumar confusão. – ah, sim, eu queria. E queria beijar a boca daquele garoto mais uma vez, ou melhor, várias vezes.
– Ninguém vai ver, posso te dar cobertura. – propôs, e eu achei essa ideia muito tentadora. – Seria um crime você deixar aquele pobre garoto apenas na vontade. – parecia um diabinho falando em meu ouvido.
, você gosta mesmo de ver o circo pegar fogo. – dei uma gargalhada. – Então acho que vou tacar fogo na floresta inteira. Me dê cobertura. – acabei de virar minha garrafa de ice e a joguei na fogueira.
Lá vamos nós! Investi no meu poder de sedução. foi para um lado enquanto eu fui para o outro. Peguei uma cerveja no cooler e caminhei até , estendi-a para ele, que me olhou e depois para a garrafa em minha mão.
– Abre pra mim? – pedi, dando um sorriso.
– Com tantos caras aqui, você vem pedir logo para que eu abra a cerveja? – meu sorriso diminuiu gradativamente. Alguém arranja um buraco para que enfie minha cabeça?
– Eu pensei que... – fui interrompida.
– Pensou errado, você está bêbada e dançando feito uma vadia. Se veio até aqui porque eu estava te olhando, perdeu seu tempo. Só fiquei observando como tinha mudado, e não me arrependo em momento nenhum de ter ido embora. – engoli em seco. – E só peço uma coisa, não fala comigo. – senti minhas bochechas ficarem vermelhas.
Se eu estivesse em meu estado normal, sem dúvidas sairia correndo e chorando que nem uma garotinha, mas quando dei por mim, já tinha acertado uma bofetada no meio da cara de . Olhei-o séria, assim como ele, que não tinha acreditado no que eu tinha acabado de fazer. Por um momento pensei que ele revidaria o tapa. Todos nos olhavam agora. saiu andando e me deixou ali. Droga. Agora mesmo ele nunca mais iria querer olhar na minha cara. Espera aí, do que estou falando? Ele me chamou de vadia, eu quem não quero mais olhar para ele. Abri a garrafa de cerveja eu mesma e a bebi de uma só vez. Senti uma lágrima escorrer do canto do meu olho, sequei-a e fui pegar mais bebida. Peguei uma garrafa de bourbon e me sentei em uma cadeira de praia. Fiquei olhando para a chama que consumia os galhos da fogueira. Devo ser uma pessoa muito ruim mesmo para que me odeie tanto assim. Soltei o ar em meu peito e dei um gole no bourbon, que desceu queimando. Eu já estava bêbada pra caramba, até que alguém resolveu sentar-se ao meu lado. Minha cabeça apenas balançava de um lado pro outro bem lentamente, mesmo que a música que tocasse fosse agitada, eu continuava no meu ritmo lento.
– Acho que nosso plano não deu certo. – falou , então percebi que tinha sido ela quem sentou ao meu lado.
– Seu irmão me odeia. – falei enrolado. – Sério, cara. O pior de tudo é que eu amo ele. – comecei a chorar.
– Amiga, não fica assim. – abraçou minha cabeça.
– Eu sou uma vadia. – dei mais um gole na bebida. – Que transa com qualquer um. – as lágrimas desciam ainda mais. Eu sempre fazia isso quando estava bêbada, já estava mais do que acostumada com minhas choradeiras.
– Não é nada disso. Meu irmão é um idiota, não ligue para o que ele diz. – beijou o topo de minha cabeça, tentando me consolar. Claro que não adiantaria, o que falou eu tinha escutado e entendido muito bem e era impossível não ligar.
– Quer saber. – levantei, soltando-me dela, e dei uma cambaleada. – Eu vou beber pra carvalho. – acho que tentei falar caralho, mas minha fala estava tão enrolada que duvido muito alguém ter entendido algo. Não adiantaria em nada ficar chorando mesmo!
, eu acho melhor você parar de beber. – tentou tirar a garrafa da minha mão.
– Não, é minha. – abracei-a como se fosse um objeto muito precioso. – Vou beber ela todinha. – fez uma careta e eu comecei a rir. – Viva!
– Viva, o quê? – escutei alguém perguntar.
– Eu sei lá, porra, estou bêbada. – respondi, dando outra golada.
Fiquei dançando, ou pelo menos tentando. Não ligava pra nada ao meu redor. Perdi a noção do tempo e não faço a mínima ideia de que horas a bebida acabou e eu por fim cai dentro de minha barraca. Acordei pela manhã cedo com calor. Meus olhos doíam, assim como minha cabeça. A garrafa de uísque estava vazia em minha mão. Tentei me localizar onde estava. Sentei e olhei ao redor. Todas as barracas estavam abertas e não tinha ninguém no acampamento. Eu tinha dormido com todo meu corpo para fora da barraca. Passei a mão em meus cabelos, que estavam emaranhados com algumas folhas agarradas nele. Minha boca estava seca. Levantei e entrei na barraca, fechando-a para que eu trocasse de roupa. Coloquei um biquíni e uma mini-saia qualquer. Peguei meus óculos escuros e chapéu, então sai à procura do pessoal. Escutei uns gritos, então os segui, encontrei o povo em uma cachoeira, pulando dentro dela e se divertindo. Vi sentada em uma pedra conversando com . Aproximei-me deles.
– Bom dia, pinguça. – disse .
– É. – fiz uma careta e me sentei do lado de . – Eu fiz vexame, né?
– Nada que você nunca tenha feito antes. – sorriu. Ok, eu sempre fazia vexames. – Como está a cabeça?
– Doendo? – torci os lábios. – Você trouxe remédio pra dor de cabeça? Sei que trouxe.
– Acho que sim. – dei um meio sorriso com a resposta de minha amiga. – Você se lembra de alguma coisa?
– Se está perguntando do fora do século que levei do seu irmão, sim, eu lembro. – soltei o ar. – Acho que vou dar um mergulho.
– Só não bata com a cabeça nas pedras. – pediu , como se falasse com uma criança.
Assenti. Tirei minha saia e meus acessórios e mergulhei da pedra que estava mesmo. Vi meu irmão subir em uma pedra bem alta, dar um mortal e mergulhar de cabeça na água. Pobre Kevin, certamente não tinha um pingo de juízo pulando de cabeça em uma cachoeira, bem, não posso falar muito dele, já que na noite passada paguei o maior mico. Talvez isso seja de família, retardamento mental, algum tipo de doença crônica ou qualquer coisa parecida. Já que minha mãe também não tinha seu juízo perfeito, ao me fazer trazer Kevin pra cá. Fiquei nadando um pouco, na tentativa de relaxar, mas minha briga com não deixava, eu tinha que conversar com ele. E é isso que irei fazer agora. Quando estava saindo da cachoeira, escorreguei em uma pedra sabão e acabei batendo com a cabeça. Como se já não tivesse me avisado para ter cuidado. Fiquei tonta rapidamente, depois senti algo quente escorrer, que sem dúvidas era meu sangue. Tentei levantar, mas tudo rodou e minha visão se apagou. Desmaiei.

Acordei já do lado de fora da cachoeira, com geral em cima de mim. Abri e fechei os olhos com força. Se minha cabeça doía antes, agora estava pior. Sentei e Kevin se abaixou ao meu lado, apoiando-me. Sou uma burra mesmo para ter caído, deveria ter tomado mais cuidado.
– Está bem? – perguntou, preocupado. – A pancada que você deu foi forte. – concordei sem responder. – Quer que te levemos para o hospital?
– Não, estou legal. – passei a mão onde acho que havia cortado, mas não tinha nada. – Tive a ligeira impressão que tinha cortado a cabeça. – Kevin examinou.
– Mas não cortou. – levantei com a ajuda do meu irmão. – Está legal mesmo?
– Sim. Obrigada. – o pessoal ainda me olhava preocupado. – O que foi, galera? Estou bem, vão se divertir. – cada um foi para seu lado.
Sentei em uma pedra, ainda tinha que conversar com . sentou-se ao meu lado, não falamos nada apenas ficamos observando os meninos. Alguém me diz por que todos têm que ser tão lindos e maravilhosos? River se aproximou, tirou a camisa e jogou em cima de nós. Eu e ficamos babando. Claro, nós sempre babávamos nos meninos.
– Mãe, me dá um de presente? – perguntou ela, vidrada no River.
– Também posso ganhar um? – perguntei, igualmente hipnotizada. – Não sei porque Deus faz isso conosco. Deve ser algum tipo de teste.
– Nem eu. – saímos de nosso transe quando se uniu a nós.
– O que vocês estão fazendo para estarem com essa cara de idiotas? – comecei a rir quando as bochechas de ficaram vermelhas.
– Bem, tenho uma coisa para fazer. Licença. – sai dali, deixando-os sozinhos.
Vi dentro da água abraçado com sua namorada e toda a segurança que eu tinha antes foi embora. Afinal, o que irei falar com ele? Eu já tinha que ter superado tudo, mas parece que dois anos foram pouco para isso, pois assim que entrei no carro dele senti como se nunca tivesse acabado. Todos os sentimentos e lembranças voltaram. Soltei o ar de meus pulmões. Simplesmente não estava conseguindo olhar para aquele casal sem sentir que era eu quem deveria estar nos braços dele. Tinha que fazer algo. Sai andando no meio da mata até que achei um pequeno riacho, sentei à beira dele e fiquei jogando pedrinhas na água. Passei um bom tempo ali sozinha, até que escutei o barulho de um galho estalando. Levantei rapidamente, assustada com o barulho. Olhei ao redor e não vi nada, apenas escutei uma risada, bufei, sem dúvidas deve ser algum dos meninos tentando me assustar. Voltei a me sentar à beira do riacho, e por um breve momento senti a presença de alguém de pé bem atrás de mim. Virei para ver quem era, mas não tinha ninguém. Torci os lábios. Quando voltei a olhar pra frente vi um menininho de pé do outro lado da margem, suas roupas eram sujas e surradas e sua cabeça tinha uma boina velha; assim que ele me viu, saiu correndo.
– Hey, espera. – atravessei o riacho e fui atrás dele.
O danadinho era rápido e acabou desaparecendo entre alguns arbustos. Caminhei mais um pouco para ver se o encontrava, mas ele tinha sumido. Bufei irritada. Onde aquele menino tinha se enfiado para sumir dessa forma? Quando me virei para voltar, dei de cara com . Soltei um grito alto e coloquei a mão no peito. Meu coração entrou em disparada. De onde ele veio?
– Era você que estava tentando me assustar, não era? – perguntei, tomando fôlego.
– Pra que perderia meu tempo tentando te assustar? – uniu as sobrancelhas, depois as separou, mudando de expressão. – Minha irmã pediu para que eu viesse atrás de você. Estamos arrumando o almoço.
– Hum. , precisamos conversar. – falei logo, antes que ele fosse embora.
– Se for sobre ontem à noite... – cortei-o.
– Me deixa falar e para de tomar conclusões precipitadas. – disse, me compondo. – Da última vez que nos vimos, falei coisas idiotas e me arrependo de todas elas. Não queria ter te magoado. E sei que sou uma burra por ter feito isso. – enquanto falava, fui me aproximando. – Me desculpa por tudo. – fechei os olhos com força, depois os abri, encarando os dele. – Só depois que te perdi percebi que te amava, e droga, continuo te amando como se nunca nada tivesse mudado. Você tem todo o direito de me odiar, mas só queria que me desculpasse. – encarei-o com toda a sinceridade que sentia. – Acho que é isso. – forcei um sorriso, tentando controlar algumas lágrimas que queriam se libertar.
, acho que você percebeu que segui em frente. – pelo que parece, ele se referia à sua namorada. – E pensei que tinha superado tudo o que passamos juntos. Só que quando te olho sinto como se tudo o que eu sentia voltasse também e não quero mais isso. É ruim, sabe, isso dói. – olhou pro lado. – Você não sabe o que passei quando descobri que estava me traindo. – engoli o nó que deu em minha garganta. – Mesmo que te desculpasse, não seria de verdade. Desculpe, não consigo ficar perto de você sem... – ele parou de falar e soltou o ar. – Não dá. O que nós tivemos já teve um fim. – negava com a cabeça.
– Tudo bem, consigo te entender. – abaixei meu olhar e encarei o chão de folhas secas. – Desejo que seja feliz. – tentei dar meu melhor sorriso, mas agora eu já chorava e não conseguia mais segurar.
, por favor. Não faça isso comigo. – fez uma careta de tortura.
– Não, está tudo bem. – sorri, secando meu rosto. – Viu, já passou. – sentia que não me aguentaria de pé ali na frente dele por mais muito tempo. – Diga a que já estou indo ajudar a fazer o almoço.
ficou me olhando enquanto eu só queria correr para bem longe dali. Não conseguia encará-lo, até que ele se distanciou. Sou sensível demais, qualquer coisa me fazia chorar. Sentei sobre um tronco de árvore que tinha no chão, encostei minha cabeça em meus joelhos e desabei. Senti um toque gelado em meu ombro, levantei sutilmente a cabeça para ver quem era. Cai para trás quando vi aquela criança diante meus olhos. O grito de pavor saiu de minha garganta mais alto do que nunca ouvi antes. Metade do rosto do menino não tinha pele, era apenas músculo e osso, suas roupas antigas estavam ensopadas de sangue, sua pele que ainda restava era branca que nem vela, com vários hematomas, seus lábios eram roxos. Ele vinha em minha direção, tentava dizer alguma coisa, na qual não fiz questão de prestar atenção, então comecei a me arrastar para trás e levantei, saí correndo desesperada sem olhar para trás. Esquivei-me das árvores e tomei o cuidado para não cair em nenhuma raiz. Minhas pernas eram mais rápidas do que imaginei. Trombei de frente com alguém. Comecei a gritar e me debater, enquanto os braços fortes me seguravam, na verdade me abraçavam na tentativa de me conter.
– Me solta! – gritei apavorada de olhos fechados, estava completamente apavorada e só queria chegar até o acampamento.
, calma. Sou eu. – reconheci a voz do meu irmão.
Minha respiração estava tensa, minhas pernas tremiam assim como minhas mãos e todo o resto do meu corpo, lágrimas escorriam de meus olhos, e agora não era mais por causa do , e sim pelo pavor que senti a ver aquela criança. Abracei meu irmão com força, agradecendo por estar ali. Kevin afagou minhas costas e tentou fazer com que eu andasse, o que foi completamente inútil, minhas pernas tinham travado e não davam nenhum passo sequer. Então senti seus braços envolverem minhas pernas e costas e me levantarem do chão, feito um bebê. Afundei o rosto em seu pescoço. Meu choro era baixo em seu ouvido, mas acho que ele não se importava com aquilo. Quando chegamos ao acampamento ele me sentou em uma cadeira de praia. As meninas que estavam fazendo a comida vieram até nós, assustadas, para saber o que tinha acontecido. Mais uma vez me encontrei cercada, e no mesmo dia.
, olha pra mim. – pedia , segurando meu rosto com as duas mãos.
Eu fitava o nada, a imagem daquele menino não saia da minha cabeça nenhum segundo apenas. Como tal ainda estaria vivo deformado daquele jeito? Era impossível e eu só podia estar louca ou tendo uma alucinação. Minha cabeça ainda doía bastante, mas agora não estava mais me importando com isso. O choro veio mais forte agora, e com ele chegou um soluço chato.
– Gente, dê espaço para ela. – disse minha amiga, empurrando as pessoas que estavam ao meu redor e se abaixando à minha frente. – Hey, garota. Olha pra mim. – pediu mais uma vez, então a olhei. – Ótimo. Agora me fala por que estava gritando daquela maneira? – seus olhos tinham extrema preocupação.
Olhei para Kevin, que estava de pé ao lado de . Embora ele seja meu irmão mais novo, não aparentava isso, sua estatura física era de um cara mais velho, seu rosto robusto e largo dava essa impressão, além dele ser bem alto. Eu não tinha coragem de contar para ninguém o que tinha visto, no mínimo me chamariam de maluca, ou diriam que a bebida de ontem ainda estava fazendo efeito. Mas era real, o menino me tocou, eu senti seu toque gelado, não estou ficando louca! Meu Deus, que diabos era aquilo? Me deu vontade de chorar e quando dei por mim as lágrimas já estavam escorrendo, e lá estava eu, apavorada novamente. Minhas mãos estavam geladas e tremiam. me abraçou e pediu para que meu irmão pegasse um pouco de água para eu tomasse.

Estava deitada em minha barraca, do lado de fora o escuro predominava e não dava para enxergar um palmo diante do nariz. Todos já estavam dormindo a uma hora dessas, dava para ouvir até alguns roncos ao longe. Embora eu virasse de um lado para o outro, não conseguia pregar os olhos. O vento forte fazia os galhos das árvores balançarem e de repente começou a cair uns pingos fortes. Droga. Iria cair uma tempestade. Levantei correndo, peguei uma pequena lanterna dentro de minha bolsa e saí, corri até o carro para pegar a lona de chuva para cobrir a barraca. Abri a porta traseira, peguei a lona e voltei. Geral estava fazendo a mesma coisa, percebendo que iria chover, enquanto outros apenas optaram por dormir dentro do próprio carro, assim como meu irmão preguiçoso. Estava caindo muita água do céu agora, que foi piorando cada vez mais, deixando-me completamente encharcada. Segurei a pequena lanterna com os dentes e prendi da lona no chão com facilidade, mas o vento não me deixava pegar a outra ponta, até que vi se aproximar todo ensopado, sua camisa estava colada no corpo. Ele conseguiu pegar a outra ponta e a prender. Agradeci mentalmente por isso. Enquanto eu pegava mais uma das pontas, pegou a última que faltava. Conseguimos colocar a lona de tal forma para que não entrasse água e nem fizesse com que a barraca voasse. Entrei dentro dela. Só então percebi que também tinha entrado. Não entendi muito bem, era para ele ter ido para sua barraca.
, o que está fazendo? Você tem que tirar essa roupa molhada, se não vai pegar um resfriado. – falei um pouco alto, por causa do barulho constante da chuva batendo contra a lona, mas ele apenas ficou me olhando, sua respiração era pesada. O peito dele subia e descia de forma tensa, seu olhar estava sério demais.
– E vou. – disse, com convicção. Fiquei meio confusa.
Então sem que eu esperasse por aquilo, ele me puxou pela nuca e me beijou. A lanterna escapou de meus dedos. Sua outra mão segurou minha cintura para que eu me aproximasse. Fiquei sem reação com aquilo. Ele tinha dito tantas coisas hoje mais cedo que eu não sabia se deveria ou não retribuir. Mas estava namorando, ele estaria fazendo a mesma coisa que eu fiz quando estávamos juntos. Afastei-o de forma sutil, apenas para que nossos lábios se separassem.
– O que você está fazendo? – perguntei, encostando a ponta de meu nariz no dele.
– Eu simplesmente não consigo ficar perto de você sem te querer. – respondeu ofegante. – Você assombra minha mente durante todos esses anos, não sou tão forte assim para te esquecer. – esbocei um sorriso fraco ao escutar aquilo. Era tudo o que eu queria, tê-lo de volta.
– Mas você está namorando agora, tente resistir um pouco mais. – falei isso querendo dizer outra coisa, que na verdade era para ele não parar. – Além disso, ela pode nos pegar.
– Hayley dormiu tão bêbada que acho difícil notar que não estou ao lado dela. – seus lábios se roçaram nos meus. – Não me manda sair daqui, por favor. – senti seus dedos apertarem minha cintura. Ele praticamente suplicou. Sinceramente, não entendo a cabeça dos homens.
– Não vou. – dei um leve beijo em sua boca, que logo se aprofundou mais.
Fui deitando sobre meu saco de dormir e me acompanhou. Vi sua mão caçando algo, então percebi que era minha lanterna, pois ele a desligou logo depois. Nossas roupas molhadas estavam me deixando com frio. A sensação de tê-lo perto de mim era maravilhosa, do exato jeito que me lembrava. O gosto de sua boca, o jeito como ele me tocava e seu perfume cítrico, era um conjunto que me deixava em êxtase. Minha mente ficava tão embaralhada que eu mal sabia o que estava fazendo, só deixava meu corpo agir por si próprio. Ele se levantou e tirou a própria camisa, aproveitei e fiz a mesma coisa, logo depois senti seu peito gelado contra o meu, o que me causou um arrepio. começou a beijar meu pescoço, enquanto sua mão deslizava pelo meu corpo parando em meu peito e o apertando. Soltei um pequeno gemido com sua ação. Escutei sua risada baixa contra meu pescoço, o que me fez rir também. Minhas mãos deslizavam com força sobre o corpo másculo de enquanto ele se deliciava com o meu. Parecia que tínhamos sede um do outro. Nossos beijos eram profundos demais, cheios de significados. Joguei minha cabeça para trás, começou a descer seus beijos, passando pelo meu pescoço, descendo até meus peitos, mas não parou por ali, continuou seu caminho até chegar em minha barriga e morder o elástico do meu short de dormir. Prendi meu lábio inferior entre meus dentes, dando um sorrisinho sapeca. Com ajuda de suas mãos, ele tirou minhas últimas duas peças de roupa. encaixou seu quadril entre minhas pernas e voltou a se deitar sobre meu corpo. Trocamos de posição, então foi a minha vez de arrancar o resto da roupa dele. Nossa, como eu ansiava por aquilo novamente. Tinha saudades daquele corpo. Passei minhas unhas por dentro de sua coxa e pude senti-lo estremecer com aquilo. Voltei a me deitar.
– Só você sabe do que eu gosto. – escutei sua voz baixa comentar. Esbocei um meio sorriso.
Escutar a voz dele daquela madeira me dava tesão. Passei a mão pelo seu membro, que estava meio duro, mas nem tanto. Pude escutar um pequeno gemido saindo de seu peito. Lambi meus lábios. Comecei a masturbá-lo bem devagar. Vê-lo sentindo prazer me fazia sentir também, me deixava louca. Ele sussurrava insanidades em meu ouvido, quando não mordia meu lóbulo. Sorri com aquilo, era ótimo tê-lo de volta. Senti seus dedos tocarem minha virilha, o que me causou outro arrepio. Fechei os olhos na tentativa de me concentrar no que estava fazendo, mas tirava toda a minha atenção enquanto me tocava. Um gemido baixo saiu dos meus lábios. Minha mão ia aumentando gradativamente a velocidade, assim como a dele em meu clitóris. O pior era que não podíamos fazer muito estardalhaço, embora o barulho da chuva estivesse abafando qualquer gemido que eu soltasse, ou até mesmo o de . Sua mão livre subiu até minha nuca e me puxou para perto. Eu precisava dele mais do que podia suportar, um dia tínhamos prometido a eternidade um ao outro, e agora estávamos sendo amantes. O fogo queimava dentro de meu peito, como se nosso amor nunca tivesse sido apagado. Minha respiração estava tão pesada que me perguntei se aquilo era realmente normal, meu coração em disparada me deixava na dúvida se tudo era mesmo real. Quando senti o corpo dele rolando para cima do meu e se encaixando entre minhas pernas, tive certeza que aquele momento era mesmo de verdade. Minhas mãos envolveram suas costas quentes no instante em que me penetrou. Foi impossível não soltar um pequeno gemido ao senti-lo dentro de mim. As mãos dele seguravam minhas coxas com força, flexionando ainda mais seu quadril contra o meu. Nossos lábios se juntaram.
– Eu te amo. – sussurrou ele entre nosso beijo.
– Eu também te amo, meu amor. – falei e o puxei para um beijo mais intenso.
começou a se movimentar bem devagar, e nem ao menos nos lembramos da camisinha naquele momento. E mesmo que isso fosse errado, realmente não estava me importando. Ele era meu e eu era dele. E isso era o certo, o certo agora. Nós dois vivendo nosso momento mais uma vez, mesmo que fosse o último, não estava ligando. Escutei passos perto da barraca e gelei, até mesmo parei de me movimentar, o que fez parar também.
– Você escutou isso? – perguntei, com medo de alguém nos descobrir ali.
– Escutar o quê? – beijou meu pescoço.
– Passos. – respondi e agora ouvimos uma risadinha, e eu tinha certeza que também tinha escutado.
– Não é nada. – beijou minha boca, fazendo-me esquecer qualquer coisa.

Acordei ainda com o barulho da chuva. Abri os olhos devagar, me sentei e olhei ao redor, já estava claro lá fora. Coloquei qualquer roupa que encontrei, sentindo um pequeno arrepio quando a malha gelada tocou em minha pele quente. ! Ele não estava mais ali. Engoli o nó que deu em minha garganta e passei a mão onde era para ele estar. Dei um sorriso bobo e fechei os olhos, deitando, senti o cheiro de seu perfume em meu travesseiro, então o abracei com força, afundando ainda mais meu rosto no naquele tecido macio e fofo. Uma lágrima escorreu do canto de meu olho, queria tanto que ainda estivesse aqui comigo, acariciando minhas costas, falando todas aquelas coisas que me faziam sorrir. Não conseguia acreditar que ficamos mais uma vez, me sentia tão eufórica que tive vontade de sair gritando e acordar todos. Mas por fim, acabei pegando no sono novamente. Alguém sacudiu minha barraca freneticamente, assustando-me, e isso me deixando profundamente irritada, detestava quando as pessoas me acordavam.
– Vai sacudir a casa dá vó! – xinguei, quase berrando.
– Larga de ser rabugenta, sai logo daí. – era meu irmão. – O dia está lindo! Nem dá para acreditar que choveu a noite inteira.
– Kevin, vai encher o saco de outra. Me deixa dormir! – reclamei, cobrindo até a cabeça, embora estivesse calor.
Escutei o barulho do zíper da barraca sendo aberto. Ele deve estar mesmo a fim de me perturbar hoje. Não dei importância, meu irmão provavelmente pularia em cima de mim, ou puxaria meu edredom.
– Anda, levante. Não pode ficar fechada aqui dentro o dia todo. – resmungou, puxando meu saco de dormir para fora, comigo junto.
– Kevin! – gritei irritada. Eu estava apenas de camiseta e calcinha. – Seu idiota. Era por isso que eu não queria te trazer! – sai de dentro do saco de dormir e o puxei para dentro, arrumando novamente minha “cama” para que eu voltasse a dormir. – Mala!
– Anda, irmãzinha. Para de ser chata. – agarrou-me por trás e saiu me carregando pelo acampamento a fora, embora ele estivesse vazio.
– Seu moleque, me larga. – eu me debatia em seus braços. – Suas brincadeiras não tem graça alguma.
– Tem sim, você que não tem senso de humor. – agora estávamos chegando perto da cachoeira, todo mundo estava lá.
– Você não vai fazer isso! Kevin, se me tacar dentro dessa água gelada eu vou te capar! – ameacei.
– Se conseguir me alcançar. – ele me lançou dentro da água.
Submergi jogando meus cabelos para trás. Minha camiseta branca deveria estar transparente, e minha calcinha não era muito descente para ser mostrada em público. Pude escutar os meninos me chamando de gostosa e qualquer outro adjetivo comparado a esse. Além das risadas, é claro! Minhas bochechas ficaram vermelhas de tanta vergonha. Sai de dentro d’água e então veio até mim, trazendo uma toalha. Ele não ria, nem me olhava pervertido, ao contrário de todos os caras ali. Olhei-o surpresa com sua atitude na frente de todos. Ficamos praticamente um minuto nos encarando antes de eu pegar o tecido verde de suas mãos e me enrolar nele.
– Obrigada. – dei um meio sorriso.
Ele não respondeu, apenas se virou e foi de encontro a sua namorada. Claro, o que eu poderia imaginar depois da noite anterior? não pararia sua vida por minha causa. Afinal, o mundo não gira ao meu redor. Vai ver que foi só uma recaída e nada mais. Embora eu goste de fantasiar demais as coisas. Voltei até o acampamento e dei de cara com se agarrando com . Parei onde estava com a cena que presenciei, depois comecei a rir e então ambos perceberam a minha presença inesperada para a ocasião.
– Não queria atrapalhar. – comentei, colocando a mão na boca, segurando uma gargalhada que queria explodir.
– Tudo bem. – respondeu enquanto minha amiga me fuzilava com o olhar.
– Acho que vou me trocar. Com licença. – entrei em minha barraca e tirei aquela roupa molhada.
Já que não tinha mais nada para se fazer, voltei para a cachoeira e fiquei lá deitada na pedra feito uma lagartixa, ainda com vergonha do ocorrido. Já meu irmão, aquele desgraçado, sumiu! Ainda bem, pois eu seria capaz de arrancar aquilo que ele chama de pinto. Fiquei olhando discretamente para , através das lentes escuras dos meus óculos de sol. Depois de um bom tempo apenas admirando minha bela vista, sentou-se ao meu lado. Não falamos nada, continuei fitando aquele homem lindo.
– Eu e o transamos. – falei baixinho atraindo o olhar da minha amiga. – Ontem à noite.
– Agora entendi por que ele está olhando para cá. – riu, e foi aí que percebi, depois de bastante tempo, que ele também me olhava. – Bem, acho que eu e o também fizemos algumas coisas erradas ontem. – encarei-a, sentando e levantando meus óculos.
– Sério? – ela concordou com a cabeça. – Que bom que não fui a única. – rimos juntas. – E aí, foi melhor do que o esperado?
– Demais. – ficou com as bochechas vermelhas. – Então, vocês se acertaram? – senti que ela tentava desviar do assunto.
– Não sei. – respondi seria agora. – Ele tem a vida dele e está namorando. Por mais que eu queira, isso me parece tão errado. – uni as sobrancelhas.
– Então faça ser o certo. – me abraçou. – Quero vocês juntos novamente. É muito chato te escutar choramingar por causa dele.
– Sua besta. – abracei-a. – Obrigada pela força.

Meu irmão foi até a cidade comprar mais comida, junto com outros meninos. Mas eles demoraram além da conta e só chegaram à noite. Quem tinha ficado no acampamento estava morrendo de fome e eu ainda não tinha descartado a ideia de capar meu irmão. Estava sentada em um tronco de árvore na frente da fogueira, observando as chamas dominarem os galhos secos. Alguém sentou-se ao meu lado, mas não olhei para ver quem era, logo depois senti um toque em minhas mãos. Então direcionei apenas meus olhos, vendo ali. Sorri meio sem jeito e puxei minha mão de volta. Talvez se alguém visse aquela cena poderia interpretar de forma errada. Não foi dito nada, ele continuou em silêncio ali e isso estava me incomodando além da conta. Era um silêncio constrangedor. Eu não conseguia dizer uma palavra sequer, mas queria falar tudo que estava pensando e sentindo, só que não podia. Quando fui me levantar, me puxou de volta, fazendo que sentasse novamente em meu respectivo lugar. Olhei para os lados, alarmada, achando que alguém estava nos vigiando ou algo do tipo.
– Acho que precisamos conversar. – disse baixinho.
– Conversar sobre o quê? – perguntei, encarando-o. – Já ficou bem claro que não vai mudar sua vida por causa de ontem. – rebati na defensiva.
– Você sabe que as coisas não são desse jeito. – uniu as sobrancelhas, contrariado com que eu tinha acabado de falar. – Quando voltarmos para a cidade, podemos resolver tudo, mas estragar as férias dos outros não seria algo justo.
– Resolver? Você vai voltar para Califórnia e eu vou continuar em Nova Orleans. Hayley estará lá contigo, enquanto eu estarei a milhares de quilômetros. – me olhou e riu. – Não tem como se resolver algo como isso.
– Está com ciúmes. – disse, divertido, o que me fez dar um tapa em seu braço, em forma de reprovação. – Bem, eu estava pensando em transferir minha matrícula e voltar para casa.
– Ok, pare de brincadeira. Me iludir não tem graça nenhuma. – cruzei os braços virando o rosto para o lado oposto do dele.
– Então fiquei aí pensando se estou mesmo te iludindo depois do que aconteceu. – se levantou e me deixou ali sozinha com meus pensamentos.
Hey, não, volte aqui! Droga! O que eu faço? estava nos dando uma segunda chance depois de tudo o que fiz! Deus, eu tinha que aceitar, precisava aceitar. Comecei a rir sozinha pensando na hipótese de nós voltarmos mesmo e não conseguia me conter. Iria falar com ele, que aceitava. Levantei e escutei o barulho de carros chegando. E os faróis me cegaram. Pelo menos a comida tinha chegado e meu estômago agradeceu muito por isso. Os meninos descarregaram os veículos. Preparamos um churrasco, no qual fiz questão de ajudar, e quando estávamos todos de barrigas cheias, fizemos uma roda em volta da fogueira, ficamos conversando e bebendo. Era inevitável trocar olhares com , além de sorrisos disfarçados. O mais engraçado é que estávamos flertando feitos pré-adolescentes de colegial. Ainda não tinha conseguido me aproximar o suficiente para lhe dizer minha resposta, mas acho que ele já sabia qual era. Até que o River decidiu contar uma história que eles escutaram na cidade, hoje mais cedo, atraindo toda a minha atenção.
– Se for coisa de terror pode ir parando. – logo avisei, dando uma golada em minha cerveja extremamente gelada.
– Larga de ser chata. Anda, comece. – me empurrou, quase me fazendo engasgar.
– Se eu não dormir a culpa vai ser sua! – reclamei e ela me deu língua.
– Ok, vou começar! “No século 18 existia um vilarejo, bem aqui. Ele era como os outros, vários imigrantes fugidos da guerra com suas famílias felizes e seus vizinhos vivendo em perfeita harmonia por estarem longe da destruição. Um vilarejo pacato. – River fazia um suspense com a voz, o que me causava arrepios. Maldito! – Até que em uma noite nublada de outono, onde a névoa baixa cobria relva, foi deixado na porta da igreja um cesto de palha. Dentro dele havia trigêmeos recém-nascidos, no peito de cada um existia uma mancha estranha, no formato de um seis. O padre, com muita pena deles, os acolheu, e diziam que o choro das crianças era tão alto que se escutava a quilômetros. – falava bem devagar olhando para cada um de nós. Abracei meus joelhos. – Ninguém nunca soube de onde eles vieram, ou como foram parar ali, pois poucos peregrinos sabiam da existência do lugar que era tão escondido. Eles eram diferentes das outras crianças, sempre caçando na floresta animais indefesos e os torturando sem piedade alguma. Boatos vieram a surgir, a comoção começou no que antes era um pacato vilarejo e os moradores então os chamaram de irmãos Hell. – escondi meu rosto, aquilo estava me dando medo. Não queria mais escutar. – Os anos foram se passando lentamente para os habitantes da vila, enquanto os irmãos se divertiam fazendo suas bizarrices. Um dia, entediados de caçar na floresta, eles resolveram fazer um jogo. Sem regras e apenas com um objetivo: O vencedor seria quem matasse mais pessoas. Então a brincadeira começou e eram usadas todos os tipos de torturas que se podia imaginar. A chacina ocorreu durante a madrugada, quando os moradores dormiam em suas casas. Os irmãos foram tão sorrateiros quanto se podia ser, por isso não houve gritos. Tudo foi na surdina. Eles sentiam prazer em ver o sangue escorrer pelo chão de madeira que era iluminado apenas pelas chamas fracas de uma vela, tão brilhante como a lua naquela noite, assim como o horror nos olhos das pessoas indefesas, que ao menos conseguiram reagir a tal ato de loucura. – arregalei os olhos assustada, imaginando a cena de puro terror. Meu coração estava em disparada, mas a curiosidade de ouvir o resto da história era maior. – Na manhã seguinte, os lenhadores que tinham viajado para comprar alimentos na cidade chegaram à pequena vila, um cheiro estranho tomava conta do ar. Todas as casas estavam fechadas, ninguém tinha aparecido para recepcioná-los. Tudo estava silencioso demais, nenhum cachorro latindo ou o choro de uma criança pedindo comida. O grupo de lenhadores entrou nas casas querendo saber o que estava acontecendo, mas elas estavam vazias. Os homens, alarmados, se guiaram até a igreja, e assim que abriram a porta encontraram todos, e um banquete estava posto no altar. Cada pessoa estava sentada em seu devido lugar, o cheiro de podre era intenso dentro do ambiente. Eles se aproximaram das pessoas, vendo que estavam todos mortos, e o banquete no altar não era comida, e sim órgãos e pedaços humanos. Assustados demais com aquilo, tentaram fugir dali, mas um barulho alto assustou os homens, então a porta da igreja foi fechada e trancada. Do lado de fora, foram ouvidas risadas altas e estridentes. – o idiota do meu irmão deu uma gargalhada alta me fazendo dar quase um pulo de dois metros de altura. Tive vontade de xingá-lo, mas deixei quieto. – Boatos correram que o riacho que passava por dentro de vilarejo ficou vermelho de tanto sangue. E depois disso ninguém soube de mais nada. Não se sabe se os lenhadores conseguiram escapar da igreja e para onde os irmãos Hell foram, dizem que eles se mudaram para o Texas. Já outros dizem que eles continuaram morando aqui. Bem aqui.” – deu ênfase na ultima frase.
Certo, acho que não conseguiria dormir nunca mais pelo resto da eternidade. Minhas mãos estavam tremendo, odeio ser tão medrosa. Minha respiração estava tensa demais e pensei que iria ter um treco. Todos permaneciam quietos, aposto que estavam refletindo sobre o que River havia acabado de contar. Era claro que isso não passava de uma história urbana. Não era verdade, as pessoas contam essas coisas apenas para assustar os turistas, o que deu muito certo. Meus olhos deveriam estar arregalados como de uma morsa assustada, mas não estava ligando, pois estava mesmo morrendo de medo.
– Ah gente, por que estão com essas caras? É apenas uma lenda local. Sabem que isso é mentira. – disse ele sorrindo balançando a mão, como se aquilo fosse pura balela.
– Quem quer mais cerveja? – perguntou, tentando distrair o povo assustado. Mas não teve muito sucesso.

Dito e feito! Como falei, não estava conseguindo dormir. Por mais que rolasse de um lado para o outro e estivesse morrendo de sono, não conseguia pregar os olhos. Minha mente era fértil demais e fantasiou cenas do massacre, causando-me calafrios. Com isso me esqueci de falar com . Mas estava louca para sair de dentro dessa barraca e me abrigar em seus braços protetores. Me alarmei quando o zíper da minha barraca começou a se abrir lentamente. Meu coração estava em tempo de pular pela boca. Peguei a lanterna e a liguei para ver quem era. apareceu com cara de morcego. Fechando os olhos, como uma gatinha.
– Apaga isso, está me cegando. – colocou a mão na frente do feixe de luz. – Posso dormir aqui? Não estou conseguindo nem fechar os olhos.
– Não me diga. – desliguei a lanterna e fiz uma careta. E essa era a hora de eu dizer: TE AVISEI! – Nem eu. Aquela peste do River não deveria ter contado aquela história, aposto que deve ter assustado a todos.
Dei espaço para que esticasse seu saco de dormir e deitasse ao meu lado.
– E eu devia ter te escutado. – concordou, deitando.
– Sempre tenho razão. No dia que você passar a me escutar vai ser um milagre. – rimos juntas.
Escutei um barulho de galho estalando. Eu e demos um pulo de susto. Como se já não estivéssemos muito assustada. Depois algumas risadas. Engoli em seco. Comecei a rezar todas as preces que conhecia e até mesmo inventar algumas. Fechei os olhos fortemente unindo as mãos, entrelaçando meus próprios dedos.
– Esses meninos idiotas. Eles vão me pagar. – disse , levantando e saindo da barraca.
– Não me deixa aqui sozinha. – reclamei, pegando a lanterna e indo atrás dela.
Pulei para o lado de fora, seguindo . Estava tão silencioso ali que dava para escutar nossas respirações. Senti que minhas pernas podiam bater uma contra a outra, de tanto que tremiam. Minha amiga parou de andar e ficou estática. Balancei a cabeça e fui ver o que havia acontecido.
– Caralho! Que merda é essa?! – gritou apontando para o menininho que vi outro dia.
– Nos ajudem. – disse ele com aquela voz infantil.
– Corre. Corre. – falei me afastando e puxando pelo braço, que continuava parada.
– Eles estão vindo. Nos ajudem. – repetiu o menino.
Não sabia do que ele estava falando, mas o que eu sabia era que tinha que ir embora daquele lugar naquele exato instante. Corri até a barraca de meu irmão, enquanto a foi até na do .
– Kevin! – chamei, mas ele não estava lá dentro. – Merda! , meu irmão não está na barraca! – gritei alarmada buscando o resto do pessoal.
– Nem e Hayley na deles. – ela me encarou com a mesma feição assustada.
Olhamos em todas as barracas, mas estavam vazias. Pânico era a única palavra que conseguia decifrar o que estava sentindo agora. Como que todos sumiram sem nos avisar?
– Temos que buscar ajuda. – falei desesperada. – Não podemos ficar aqui.
– Mas... Dane-se, vamos. – deixou seus ombros caírem, ela sabia que seria perigoso tentar achar o pessoal no meio dessa mata.
Corri de volta até minha barraca e peguei a chave do carro dentro de minha bolsa. Fomos correndo até ele, assim que entrei no Hummer e girei sua chave na ignição, o veiculo não ligou, nem ao menos reagiu. Olhei para , que estava ao meu lado. Tentei mais uma vez, mas nada aconteceu.
– Me empresta a lanterna, vou olhar o motor. – pediu, então a entreguei.
Vi minha amiga saindo do carro, então abri o capô. o levantou, mas não disse nada. Meus dedos batiam no volante do carro de tanto nervoso que me encontrava. Fiquei olhando para os lados, em busca de algo, ou alguém. Abri a porta e coloquei minha cabeça para fora.
– E aí, ? Tem algo de errado? – perguntei querendo logo que ela voltasse.
– Arrancaram a bateria do carro. – respondeu, abaixando o capô.
Vi um homem atrás dela, ele era estranho, suas roupas eram bem antigas, a pele dele era pálida como papel, sua camisa estava surrada, rasgadas e sujas com alguns botões abertos na altura de seu estômago, mostrando uma marca em seu peito, um suspensório preto segurava a calça dele, que se encontrava no estado tão deplorável quanto ele. Não deu tempo nem deu gritar para que corresse, pois ele a agarrou por trás e a lanterna caiu no chão. Não consegui ver o que estava acontecendo. Quando fui sair para tentar ajudar, vi outro homem, mas ele estava já de pé na porta, com um sorriso de dentes quebrados e podres. Fechei-a na mesma hora e abaixei o pino, trancando-o do outro lado. Pulei para o banco do carona. O cara começou a esmurrar o vidro com alguma coisa, que não faço a mínima ideia do que seja. Tinha dois sujeitos desconhecidos do lado de fora e eles estavam com a minha amiga, eu tinha que fazer algo, mas não fazia ideia do quê. Assustei-me quando o vidro se quebrou e logo depois a porta foi aberta. O homem entrou no carro e puxou meu braço com suas mãos pesadas.
– Me solta! – gritei, tentando me soltar.
! Corre. – escutei a voz do River vinda do lado de fora, então o homem foi puxado.
Consegui abrir a porta do meu lado e sair do carro. Peguei a lanterna que se encontrava no chão. Pude ver River brigando com um cara que era o dobro de seu tamanho, e na mão do grandalhão tinha uma machadinha. Corri na direção deles e pulei nas costas do homem, na tentativa de ajudar meu amigo que estava perdendo a luta, mas fui jogada no chão e, quando o cara se virou para me bater, ou até quem sabe me matar, senti alguém puxar meus braços e me arrastar. Quando River partiu para cima do homem, teve a cabeça decapitada, a qual rolou pelo chão feito uma bola de futebol. Um grito de pavor saiu de minha garganta, ecoando pela floresta.
– Não! – gritei, ainda sendo arrastada. Comecei a me debater. – River! – as lágrimas começavam a descer de meus olhos.
A pessoa que me arrastava me colocou de pé, então percebi que era meu irmão e ele tinha alguns arranhados no rosto suado. Suas roupas estavam sujas e até mesmo rasgadas.
– Só não para de correr. – disse, segurando minha mão. – Está me ouvindo? – acho que fiquei tão catatônica que não conseguia assimilar direito o que ele falava.
– Sim. – falei correndo junto com ele, mesmo não sentindo minhas pernas.
Parecia que meu corpo inteiro havia entrado em piloto automático. Estava me perguntando onde todos estavam, pois não escutava gritos, muito menos passos que não fossem meus e de meu irmão. Aquilo era aterrorizante demais. Não se ouvia nem uma coruja piando ou um grilo cantando. As lágrimas escorriam de meus olhos, molhando meu pescoço e blusa. Corríamos sem olhar para trás, o que me dava ainda mais agonia, precisava de minha ajuda, deixei minha amiga para morrer. Passamos por um pequeno riacho, molhando minhas pernas, logo depois tropecei em algo e caí. Kevin me ajudou a levantar, então iluminei o obstáculo que me fez cair, com medo do que poderia ver, mas percebi que era apenas uma cruz de madeira. Então olhei ao redor e vi que nos encontrávamos em um cemitério. Onde suas lápides não passavam de cruzes grossas de madeira, apenas com uma numeração nelas, não havia nomes. Um desespero maior ainda começou a tomar conta de mim. Senti o ar me faltando, pensei que iria desmaiar. Meu irmão começou a me puxar novamente para que andássemos logo. Dei alguns passos desordenados até conseguir colocar pé ante pé e caminhar normalmente de novo. Então demos de cara com e Hayley. Ambos ofegantes e machucados, Hayley estava bem mais do que ele, ela sangrava e segurava o próprio braço, já estava todo sujo e com um pequeno arranhado no queixo. Seus cabelos completamente bagunçados.
– Vocês estão bem? – perguntou, em sua mão tinha uma lanterna amarela, bem grande, à bateria.
– Acho que sim. – respondi amedrontada, minha voz estava pior do que o imaginado. – O que aconteceu com vocês?
– Alguém entrou na barraca e puxou Hayley para fora. – explicou. – Sabem o que pode estar acontecendo? – olhou cada um de nós, tão apavorado quanto eu.
Negamos com a cabeça. Então alguém apareceu correndo e veio de encontro a nós. Kevin apontou uma arma para a pessoa na defensiva.
– Você está armado?! – gritei, apavorada.
– É um sinalizador. – respondeu ainda apontando para a pessoa.
Era , e vinha logo atrás dela. Minha amiga estava com os braços arranhados e em seu rosto tinha sangue seco, seu cabelo estava completamente desgrenhado e com algumas folhas secas agarradas nele.
– Meu Deus! – fui até ela e a abracei. – Você está bem?
– Agora estou menos pior. Se não fosse por , acho que estaria morta. – olhou para o menino atrás de si.
Ele estava bem, sem nenhum machucado. Dei graças a Deus por isso.
– Certo. O que vamos fazer? – perguntou meu irmão, guardando o sinalizador, ele era o mais tranquilo de todos nós.
– Meu celular está fora de área. – respondeu . – E por mais que corramos nessa mata, iremos nos perder ainda mais. Nesse escuro não dá para ver nada.
– Meu carro teve a bateria arrancada, acho que os outros também tiveram. – falei triste.
– Kevin, dispara esse seu sinalizador. Alguém vai ver e vir nos ajudar. – propôs .
– Claro, nossos amigos psicopatas também. – torceu os lábios.
– Então o que vamos fazer? – finalmente falou, tomando ar. – Não tem muito para onde correr, estamos sem comunicação e meio de locomoção. Parados aqui esperando esses malucos nós não podemos ficar.
– Concordo com . Vamos andar um pouco e procurar um lugar para nos escondermos até o amanhecer. – disse e saiu andando.
Ninguém retrucou uma palavra. Todos começaram a andar novamente, mas em silêncio agora. ia na frente iluminando melhor com sua lanterna grande, enquanto Hayley praticamente se arrastava atrás dele. estava a minha frente, com logo em meu encalço, já Kevin ficou por último. Mil coisas se passavam por minha cabeça, um meio de fugir dali, mas nenhuma boa o bastante para ser executada. O medo não me abandonava nem por um segundo, assim como as lágrimas. A imagem de River sendo morto rodava como um filme repetitivo em minha cabeça. O sangue espirrando de seu pescoço como se fosse um chafariz me fazia chorar ainda mais, ele estava tentando me ajudar e acabou morrendo. Não sei por quanto tempo andamos, mas eu já estava exausta, minhas pernas não estavam aguentando dar mais nenhum passo. O céu continuava escuro. Parei de andar.
– O que foi? – perguntou atrás de mim.
– Estou cansada demais, não consigo mais andar. – falei me sentando no chão tampando meus olhos, que estavam inchados.
– Não podemos parar agora, já deve estar quase amanhecendo. – disse se abaixando ao meu lado.
– Afinal, que horas são? – Kevin perguntou parando atrás de mim. Olhei para eles. olhou em seu relógio de pulso depois de uns tapinhas nele.
– Acho que meu relógio está com a bateria fraca. Está marcando oito horas. – meus olhos se arregalaram.
– O meu também está marcando. – se aproximou de nós.
– Isso só pode ser brincadeira. – levantei e cheguei o relógio de .
– Gente, o que é aquilo? – Hayley perguntou tão baixinho que mal escutamos.
Ela apontava para longe, a lua cheia ainda estava alta no céu, e iluminava algo que parecia várias casas. Fui andando na frente, aproximando-me mais para ter certeza do que era, na esperança que fosse ajuda. Talvez pudesse ter alguém para nos ajudar, um telefone que funcionasse ou até mesmo um telégrafo já estaria de bom tamanho. A essa altura qualquer tipo de comunicação estava valendo. Escutei os passos dos meus amigos me acompanhando. Puxei um galho de folhas que estava na minha frente, então entrei na clareira. Iluminei com minha lanterna o máximo que consegui. O lugar era uma vila e tinha uma casa ao lado da outra, elas tinham um aspecto sombrio e com certeza estavam desabitadas. Minha lanterna começou a piscar, então se apagou. Droga de pilhas. Olhei por cima de meu ombro e vi que a lanterna de também se apagou, ele a sacudiu, mas ela não voltou a se acender. Isso só podia ser brincadeira. Vi ele pegando o celular, que piscou, então deu o barulho que havia descarregado. Aos poucos o ambiente ao nosso redor foi mudando, tudo tomando cor, ficando iluminado e cheio de vida. Dei um passo para trás, esbarrando em . De repente escutamos muitos gritos e vozes. Umas pedindo ajuda, outros chamando o nome de alguém e até mesmo chorando. Aquilo era ensurdecedor. Tampei meus ouvidos, assim como todos. Então o barulho cessou e tudo ficou em um silêncio bizarro. Ao longe podia ouvir o barulho de uma caixa de música tocar. Tirei a mão de meus ouvidos e olhei para meus amigos.
– O que está acontecendo? – perguntei, assustada.
– Parece que a lenda urbana que o River contou era verdade. – disse olhando ao redor, um tanto quanto curioso.
– Então estamos na vila dos irmãos Hell? – perguntou incrédulo e até mesmo dando uma risada.
– Bem, é o que parece. – respondeu meu irmão, passando os olhos pelo lugar. – Vamos ver se tem alguém aqui.
– Gente, só eu que achei estranho o lugar mudar totalmente de forma? – falei indignada.
– Não. Mas o que podemos pensar? – Hayley me encarou. – Há um minuto isso aqui parecia abandonado e agora tem mais vida do que nós. Você teria alguma explicação para isso? Porque se não tiver, fique quieta e pare de ficar fazendo perguntas que ninguém aqui vai saber responder. – a menina, que até então não tinha me dirigido uma palavra sequer desde que chegou, disse aquilo com extrema arrogância, que desejei que ela sangrasse até morrer.
Todos permaneceram calados, estranhos demais. saiu andando, soltando-se do grupo. Olhei para Hayley e pensei em responder, mas não iria querer arrumar briga a uma hora dessas, ainda mais nas circunstâncias que nos encontrávamos. Fui atrás de minha amiga, que entrou em uma casa qualquer, ali a música era um pouco mais alta. Ninguém veio atrás de nós.
– O que pensa que está fazendo? – perguntei ao lado dela.
– Quero ver de onde vem essa música. – respondeu, sem me dar muita atenção.
– Isso não é uma coisa legal e está me assustando, seria melhor nós ficarmos unidos. – mesmo assim eu a seguia, tentando fazer que desistisse.
– Todos estão assustados. – disse, subindo as escadas. estava agindo de forma estranha.
, pare! – segurei seu braço e a fiz me olhar. – O que está havendo? Vamos sair dessa casa, deixa essa música para lá. – falei, quase em desespero.
– Me solte. – puxou o braço, empurrando-me; segurei-me no corrimão para não rolar escada abaixo.
Ela voltou a subir. Respirei fundo e fui atrás dela, não a deixaria sozinha. Entramos em um quarto, onde um lampião iluminava o ambiente. Em cima de um criado mudo ao lado da cama tinha uma pequena caixa de música aberta, com uma bailarina dançando, ou melhor, rodando. se aproximou dela e ficou parada na frente do móvel olhando a bailarina que girava. Parei no meio do quarto e olhei ao nosso redor. A cama estava bagunçada e tinha uma boneca de pano caída no chão. Abaixei-me para pegar, então escutei um barulho atrás da porta. Levantei depressa e olhei para trás, onde a porta se mexeu um pouco. Meu coração disparou, então dei um passo adiante e empurrei a porta, fechando-a em um baque seco. Tinha uma menininha de cabelos dourados e cacheados agachada no canto da parede. Ela tinha a cabeça baixa e segurava os joelhos com força, estava tremendo. Aproximei-me dela, abaixando para ficar da sua altura e toquei seu ombro.
– Essa boneca é sua? – perguntei de forma amigável, tentando acalmá-la.
– Uhum. – ela concordou e esticou a mão.
Entreguei-a e, quando a menina levantou, pude ver seu pijama ensopado de sangue. O ar me faltou e minhas pernas falharam quando levantei, fazendo-ne cair para trás. Arrastei-me no chão de madeira.
– Eles vão pegar vocês. – riu, abraçando a boneca.
Levantei meio desengonçada e puxei , que continuava parada que nem uma múmia olhando para aquela maldita caixa, mas ela me empurrou mais uma vez. Uni as sobrancelhas, incomodada com sua ação. A menininha voltou a se sentar no chão, mas agora brincava com sua boneca. Escutei passos pesados subindo as escadas, o que me causou pânico. Corri até a porta e vi que não era nenhum dos meninos. Do lado de fora escutei um grito, que supus ser de Hayley. Fechei a porta e a tranquei. Fui rapidamente até o criado mudo e fechei a caixinha de música com violência. Iria parar de agir feito uma menina boba, era caso de vida ou morte, e mesmo que estivesse com medo, teria que fugir e me manter firme. me olhou, mas não tínhamos tempo para isso. Abri a janela do quarto e a empurrei para fora. Ela saiu pela janela e caminhou sobre o telhado da varanda, que rangeu com o nosso peso. Pensei que vazaríamos por ele. Fiz o mesmo, fechando a janela, mas fiquei do lado de fora olhando para dentro, esperando para ver quem entraria no quarto.
? O que eu fiz? – perguntou , voltando e se colocando ao meu lado.
– Ficou parecendo um zumbi olhando para a caixa de música. – respondi e me assustei quando a porta do quarto foi aberta com brutalidade. – Shiu. – fiz sinal para que ela não falasse mais nada.
Um homem grande e robusto caminhou até a menininha que se encolheu em um canto com medo. Ele a puxou pelos cabelos, enquanto a mesma gritava, e a arrastou até a cama. O sujeito tirou uma faca de sua cintura e começou a esfaquear a criança. Tive que colocar a mão na boca para reprimir o grito de horror, não acreditando em tal covardia. Olhei para e fiz sinal para que ela andasse, para que saíssemos logo dali. Andamos pelo telhado até a parte onde seria mais baixa e pulamos. Corremos desesperadas, passando por casas que tinham suas portas abertas e outras que ainda estavam fechadas, mas com marcas de sangue nas janelas, pareciam símbolos daqueles que vemos em filmes de terror, que eu não fazia a mínima ideia do que significava. Entramos dentro de um celeiro que encontramos. Nos escondemos atrás de baldes de leite.
– O que está acontecendo? Eu não me lembro de ter entrado naquela casa. – disse minha amiga, apavorada.
– Não sei. Você escutou uma música e seguiu o som. Parecia que estava hipnotizada. – eu estava ofegante. – Precisamos encontrar os meninos.
– Sim, mas como? Se a lenda que o River contou esta certa mesmo, tem três assassinos lá fora. – choramingou.
– Mas qual é a conexão disso tudo? Como viemos parar aqui? Então todas essas pessoas são fantasmas? Essas coisas não existem. E se existem, já estão mortos, não poderiam nos machucar. – falei tão rápido que tive a impressão de que não tinha entendido.
– Eu já não sei de mais nada. Mas vamos sair daqui. – segurou minha mão. – Vamos encontrar os rapazes.
Nos levantamos e saímos do celeiro. Tudo estava tranquilo, como se nada estivesse acontecendo. Caminhamos lentamente entre as casas procurando qualquer sinal de nossos amigos. Deparamos com o corpo de Hayley sendo arrastado pelo chão de terra, para trás de uma casa. Fomos seguindo ele devagar, era um homem que o arrastava, em uma mão tinha uma foice. Levamos um susto quando alguém nos agarrou por trás e tampou nossas bocas. Percebi que eram e . Eles nos levaram para dentro de uma taberna.
– Vocês estão bem? – perguntou , passando a mão em meu rosto. Concordei com a cabeça. – Fiquei tão assustado, pensei que eles tinham pegado vocês também. – olhou para mim e para .
– Não, fomos mais espertas. – brincou , dando um sorriso. – Sabem o que estão acontecendo? – era a pergunta que não queria calar. – Hey, cadê o Kevin?
– Ele sumiu. tem uma suspeita do que pode estar havendo. – disse e me abraçou. Olhamos para , esperando sua explicação.
– Certo. Se tudo o que minha avó disse é verdade, estamos em uma realidade paralela. – a avó do era médium, canalizadora, essas coisas que mexem com espíritos, mas nunca levamos nada a sério do que ela falava. – Parece que entramos em um plano espiritual, uma espécie de espelho de eco da morte. Uma projeção astral do que aconteceu no passado. – tentou explicar. – Eles ficam repetindo isso sempre, como um looping. Quando tudo acaba, volta para o começo. – se eu tinha entendido bem, nós voltamos para o passado e estávamos vivendo aquele massacre.
– E como saímos disso? – perguntei.
– Aí é que está, não faço a menor ideia. – fechei os olhos reprimindo, minha vontade de chorar. Nós íamos morrer.
– Deve haver algum jeito. Temos que descobrir. – queria ter a convicção da .
– Eles vão nos matar, como fizeram com toda a vila. Não tem para onde correr. – falei, com as lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas.
– Hey. . – segurou meu rosto com as duas mãos. – Vamos ficar bem. Iremos sair daqui e voltar para casa. Ok? – neguei com a cabeça e abaixei o rosto. – Eu te amo, não vou deixar nada de ruim te acontecer. – olhei.
– Promete que nunca mais vai me deixar? – olhei no fundo de seus olhos.
– Prometo. – me beijou.
– Não quero atrapalhar o momento, mas temos que arranjar algum plano. – disse .
Eu e nos separamos e os olhamos.
– Seguindo a lenda. Os irmãos Hell levaram os corpos para a igreja. Mas se chegarmos lá e os encurralarmos primeiro, há uma grande chance de sobrevivermos. – propôs .
tem razão. Vamos. – segurou minha mão com força.
Saímos da taberna e fomos correndo até a igreja, tomando cuidado para não sermos vistos. As portas estavam fechadas, empurramos e então entramos. Nos deparamos com uma mesa de banquete enorme perto do altar, era muita comida e tinha umas três velas postas sobre a mesa. Nos olhamos, então sentamos à mesa, estávamos famintos. Estava tudo com uma cara bem apetitosa. Peguei um pedaço de frango e coloquei em meu prato. Comi com a mão mesmo. O frango tinha um gosto estranho, mas não liguei. Minha fome era demais para isso. Um homem surgiu por uma porta no canto da capela, em sua mão tinha uma vela, por suas roupas, logo presumi que fosse um padre. Ele nos olhou assustado. Limpei minha boca e me pus de pé.
– Quem são vocês? – perguntou o padre.
Ninguém sabia o que falar. Dois homens entraram na igreja com tochas nas mãos e se aproximaram de nós, iluminando melhor o lugar. Quando olhei para a mesa, achei algo estranho. O porco, na verdade não era um, e sim uma criança, com uma maçã na boca. Senti meu estômago se revirar. Na cesta de frutas tinha órgãos humanos e o frango que tanto brilhava, em vez de gordura, era sangue que o banhava. Aquilo foi o suficiente para que eu vomitasse. se colocou ao meu lado me segurando para que eu não desmaiasse. Os homens ficaram nos olhando.
– A cidade está sendo atacada. – disse um deles. – Aposto que é culpa delas. – apontou para nós.
– Sim, devem ser bruxas. – falou o outro. O padre nos olhou.
Meu Deus! O que temos haver com isso? Não temos cara de bruxas, afinal, de onde esse homem arrancou uma coisa dessas?
– O quê? Vocês são loucos? – perguntou exaltada. – Quem está matando todos são os irmãos Hell. – rebateu revoltada.
– Meus meninos não seriam capazes de tanta crueldade. – respondeu o padre. – Você está tentando nos envenenar com suas blasfêmias. Rapazes, levem-nas para a fogueira.
O quê? Fogueira? Certo, esse padre bebeu vinho demais! Isso não era a era medieval! Isso de queimar as bruxas na fogueira já tinha passado de fase. Não conseguia reagir, meu estômago ainda estava embrulhado. Isso tudo era loucura, não podia estar mesmo acontecendo.
– O quê? – perguntou, puxando para perto dele.
Os homens vieram para cima de mim, mas e se colocaram à nossa frente. Eles partiram para cima dos meninos. e eu saímos correndo da igreja, desesperadas, pedindo ajuda, mas demos de cara com mais homens. Eles pareciam não nos escutar, ou podiam até estar escutando, mas não entendiam, talvez não quisessem nos ajudar. Tentamos correr deles também, mas fomos cercadas. Não tinha para onde correr. Uma roda de sujeitos foi feita em torno de nós. Em suas mãos tinham tochas e objetos pontiagudos. Dois homens pegaram meus braços, comecei a gritar e a me debater, mas não adiantava nada, suas mãos eram fortes demais contra meus braços finos, que já estavam cansados e doendo. Escutei um barulho estranho, parecia de fogos de artifícios. Os caras que me seguravam se assustaram e me soltaram, jogando-se apavorados no chão, assim como os que estavam segurando . Kevin se aproximou e me ergueu. Em sua mão estava o sinalizador, senti-me aliviada de vê-lo bem. Nos demos as mãos para fugir dali, mas quando nos viramos para sair correndo, demos de cara com um homem, o mesmo que vi no quarto da menina. Ele deveria ser um dos irmãos Hell, já que também tinha uma marca em seu peito, que dava para ver com sua camisa aberta. Em sua mão tinha um tridente que pingava sangue. Dei um passo para trás, engolindo em seco. Ele era realmente grande e tenebroso, parecia o monstro mais cruel que podia existir. Seus olhos eram maldade pura, em seus lábios grossos se formou um sorriso medonho. Antes de reagirmos a qualquer coisa, o cara fincou o garfo gigante na barriga de meu irmão, levantando-o do chão como se fosse um punhado de feno. Kevin soltou um grunhido de dor. O sangue escorria de seu corpo, pingando no chão. Houve um impulso, levantando ainda mais o corpo de meu irmão, e o chacoalhando, para garantir que morresse. Gritei em desespero enquanto seu corpo foi atirado no chão bem a minha frente. Ele não respirava mais, muito menos se mexia.
– Bom trabalho, Hell. – disse um dos homens, levantando do chão e me segurando.
Eu não tinha mais reação. Estava em estado de choque. Eles me arrastaram assim como até uma fogueira enorme que ainda não tinha sido acendida, no meio da vila. Não tinha mais o que fazer. Não tinha para onde correr. Nos amarraram em um pedaço grande de madeira, uma de costas para a outra. Vi e sendo trazidos, ambos machucados demais para reagir mais uma vez. Amarraram cada um em um pau de sebo, de frente para nós. Que espécie de pessoas eram aquelas? Em vez de nos ajudar, estavam nos matando. Então percebi que todos não passavam de um bando de maníacos. E que a história não era apenas dos irmãos Hell, e sim da cidade em si que se trucidou a troco de nada. Talvez tenha sido um grupo de jovens que tenha feito a brincadeira, ou então os irmãos eram tão espertos que conseguiram enganar a todos. Fazendo-se de inocentes, mas no final mataram um por um. Também como uma lenda de tal maneira existe se não houve sobreviventes? Olhei para que também me olhava, seu rosto estava todo machucado e ele sangrava. Meu coração ficou apertado ao vê-lo naquele estado e não poder fazer nada. Tentei dar um sorriso, mas acho que não deu muito certo. Falei mais uma vez que o amava, apenas com os movimentos dos lábios, então ele sorriu também. E foi seu último sorriso, pois um homem cortou sua garganta lentamente, fazendo o sangue espirrar feito um jato. Gritei até que minha voz não saísse mais. Tentei me soltar de todas as formas, mas as cordas estavam apertadas demais. Outro homem, que empunhava uma faca em mãos, se aproximou de , ele nos olhou e pediu desculpas por não ter conseguido nos tirar dali. O cara fincou a faca na barriga do meu amigo e começou a rasgar sua pele, os gritos que vinham de eram apavorantes, então tudo ficou em silêncio depois que o sujeito enfiou a mão pelo buraco que fez, e logo em seguida a tirou de lá, com o coração em sua mão. gritava mais do que eu, ao meu lado, ela ainda tentava reagir. Não conseguia mais interpretar as cenas diante de meus olhos, aquilo estava sendo demais para mim. Fomos colocadas no meio da pilha de madeiras.
, foi bom ter te conhecido. – disse , chorando.
– Também foi um prazer ter compartilhado um pedaço da minha vida contigo. – as lágrimas escorriam de meu rosto, mal pude escutar minha própria voz.
Jogaram uma tocha nas madeiras, que pegaram fogo com facilidade. Fiquei olhando os corpos de e ainda amarrados ao pau de sebo. E então vi o menininho, e ele me olhava triste, com um olhar de pena, depois abaixou a cabeça e saiu correndo. Eles foram sumindo do meu campo de visão aos poucos, conforme as chamas subiam cada vez mais. Aquilo estava demorando mais do que o esperado. O calor foi tomando conta de meu corpo, até minhas roupas começarem a queimar, assim como minha pele. Nunca pensei que poderia sentir tanta dor em toda a minha vida, até que não sentia mais nada, e só estava gritando mesmo, pelo pavor que sentia. Até que tudo se apagou.

Pulei, abrindo os olhos olhando ao meu redor. Estava ofegante. Que merda! Onde estava? Eu suava tanto que minha roupa estava molhada, então percebi que estava de pijama e em um quarto de hospital. Kevin dormia em um sofá no canto. Senti minha cabeça doer. O que havia acontecido? Taquei um travesseiro em meu irmão, que acordou assustado. Ri da sua reação, e fiquei feliz por saber que ele estava bem e vivo.
– Como está? – ele se levantou e sentou-se na beira da cama.
– Minha cabeça dói. – reclamei. – O que aconteceu?
– Você foi sair da cachoeira e escorregou, batendo com a cabeça em uma pedra. Teve que levar alguns pontos. – Kevin sorriu. – Vou chamar o médico e falar que acordou. – deu um tapinha em minha perna.
– Fiquei dormindo por quanto tempo? – perguntei, antes que ele saísse do quarto.
– Três dias. – respondeu e saiu.
Então o que eu tive foi um sonho e nada disso era verdade. Que loucura. Comecei a rir, feliz por aquilo tudo ter sido tudo coisa da minha cabeça. Acho que nunca fiquei tão feliz. Todos meus amigos estavam bem, estava bem, Kevin também, eu estava viva! Respirei aliviada, mas me lembrei de que então eu e não tínhamos voltado. E ele ainda deveria me odiar. Essa parte era péssima. Mas quem sabe, se conversarmos, eu poderia resolver isso. Voltei a me deitar. Fiquei fitando o teto, pensando no sonho que tinha tido. Foi tão real. A dor era real, assim como o sentimento. O médico não demorou a chegar. Enquanto me examinava olhei o nome em seu jaleco, para que a conversa não fosse tão forma, meu coração entrou em disparada, e eu jurei que estava delirando ainda, pois estava bordado no bolso com letras vermelhas; Dr. Hell.

I look inside myself
And see my heart is black
I see my red door
And it has been painted black



FIM!


Nota da Autora: Oi, galerinha! Então, o que acharam? Por favor, não me matem e nem me xinguem. HAHA’ Certo, antes que perguntem se irei escrever uma segunda parte, vou logo dizendo: Não, não vou escrever MV2. Pelo simples motivo de não ter como continuar. Foi apenas aquilo e acabou. E eu sei que todos queiram que os principais ficassem juntos, mas bem, de certa forma, no “sonho” dela, eles ficaram. Espero que tenha ficado legal, pois achei que peguei meio pesado em algumas partes, a até eu mesma fiquei assustada com o que escrevi. Não quero traumatizar ninguém! E mais uma vez, quero agradecer as meninas, Thaina, Nanda e Lara. Cada uma por ter tido uma participação para que essa fic esteja aqui. Obrigada garotas. E obrigada a você que está lendo. Espero mesmo ter agradado a todos, e se não consegui, me desculpe. Vou indo nessa. Sentam-se abraçados. E comentem! Beijos, amos vocês.

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Nota da Autora: Sinto que serei esquartejada por ter parado logo aqui! Mas pense, foi por uma boa causa. Million Voices seria postada por inteira, mas como ela ficou um pouco grande, decidi cortá-la pela metade para que não ficasse algo cansativo para a Lara betar, e também para deixar um pouco de água na boca de vocês! Ok, sou uma autora muito má. Faz parte. MV foi escrita para um challenge do grupo We Heart FFOBS, mas que acabou não acontecendo, infelizmente. E também tenho que agradecer a minha amiga Thaina por ter me ajudado e claro, a Nanda por ter me apoiado nessa ideia louca de escrever algo assim. Obrigado meninas. Amo vocês! Então garotas, falando sobre a história, espero que estejam gostando e se preparem, porque agora o bicho vai pegar e a cobra vai fumar. Deixei a melhor parte para o final, claro, não queria estragar logo a surpresa. Coloquei apenas um suspense leve no começo, acho que deu para sentir o que está por vim, ou não. Bem, na minha opinião ficou bem light, nada tão assustador, embora eu queria mesmo que deixassem todos de cabelo em pé! NÃO PERCAM A CONTINUAÇÃO! Isso foi uma ardem. Certo, não estou em condições de dar ordem já que parei na parte boa. Mas então, cabe a vocês saberem ou não, o que vai acontecer no final. E nossa, falei bastante. Irei me calar agora. Beijos e até a próxima.

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Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avise por email ou mesmo no twitter. Quer saber quando essa fic vai atualizar? Fique de olho aqui. Obrigada. Xx.

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