Eu o vi sair pela porta de meu apartamento. As lágrimas continuavam rolando pelo meu rosto de forma silenciosa. As últimas palavras que ele pronunciou ainda ecoavam em minha cabeça: “Acho que não está mais dando certo. Preciso de um tempo para mim. Acabou entre a gente.” Eu ainda encarava a porta por onde ele saiu, esperando acordar de um terrível pesadelo e poder vê-lo ao meu lado novamente, mas não foi o que aconteceu.
Um ano se passou após esse episódio, mas a imagem do que aconteceu ainda é nítida em minhas lembranças. O tempo não havia sido suficiente para apagar meu desejo de tê-lo de volta, porém agora isso era algo que eu já considerava impossível, pois há seis meses ele está junto de outra. Parece estar extremamente feliz; não que isso me incomodasse, eu gosto de vê-lo feliz, mas é complicado ter que aceitar que ele me esqueceu com tanta rapidez, ou esqueceu o que aconteceu entre nós.
Apesar de toda situação, sua nova namorada me pareceu ser boa pessoa. , que é o nome dela, sempre fez questão de me cumprimentar e ser simpática, mesmo sabendo que sou a ex de seu namorado. Nunca fiz pouco caso da garota afinal ela aparenta ser legal, mas de qualquer maneira vê-lo com outra pessoa dói com intensidade em mim.
O nome do “garoto mistério” é , eu e minha melhor amiga o chamamos dessa forma em nossas conversas desde que ele terminou o namoro comigo dizendo que precisava de tempo. Nós dois estávamos muito bem e não havia exatamente um motivo para ele querer acabar com tudo, então pelo fato de não entendermos o que se passou na mente dele o apelidamos assim.
Eu e éramos amigos há anos, quando comecei a sentir algo a mais e ele descobriu. Achei que por ele ter descoberto nossa amizade acabaria, mas as coisas não mudaram até completarmos dezessete anos. Era dia de formatura do ensino médio quando ele de repente me beijou e depois disse que sentiria falta de me ver todos os dias. Minha felicidade foi indescritível.
Engatamos um namoro à distância, pois mudei de cidade para fazer faculdade. Isso não nos afetou durante os quatro meses que ficamos juntos. A cidade para qual me mudei era próxima e procurávamos fazer de tudo para nos vermos em qualquer tempo livre. Eu ganhei um carro de presente dos meus pais, o que facilitava muito as coisas. Sempre confiei inteiramente em e provavelmente ele em mim, pois nunca pegávamos no pé um do outro; quando o ciúme aparecia sabíamos como controlá-lo.
Ele foi várias e várias vezes ao apartamento que comprei com uma poupança, algo que também meus pais fizeram por mim. Agora eu tenho meu próprio salário. Passei a estudar de noite e trabalhar de dia, o que me permitiu ter estabilidade e viver bem na pequena cidade.
Namoramos por quatro meses, como já mencionei, e uma semana antes do término ele começou a ficar distante e parecia me evitar. Tivemos uma briga por telefone em que eu perguntei o que havia acontecido com ele e por que estava me evitando, depois eu disse que ele não era o pelo qual eu havia me apaixonado. Então, o escutei suspirar e depois desligar o telefone. No dia seguinte ele foi até meu apartamento e simplesmente disse que “não estava dando mais certo e que precisava de um tempo para ele”. Ele usou apenas uma desculpa ridícula para fugir sem realmente se explicar. Nesse dia, chorei como se isso fosse capaz de arrancar toda a dor que eu sentia por dentro. Porém o tempo foi passando e ele voltou a se comunicar comigo, de forma bem diferente é claro, afinal já na primeira conversa me contou que estava namorando com . Pois é, ele mesmo me contou isso como se nunca tivesse acontecido nada entre nós e como se nossa amizade continuasse a mesma dos velhos tempos, mas realmente não me importei, era até bom saber que ele não pensava mais em mim, pois assim poderia começar a tentar esquecê-lo o quanto antes. Fingi pular de alegria por ele, pois por mensagem não iria perceber o quanto ainda queria que ele gostasse de mim e não de outra.
Continuamos agindo assim, como bons amigos. Nas poucas vezes que os amigos do ensino médio encontraram um momento para se reunir e matar a saudade, nós dois nos encontramos e sempre estava junto dele. Isso me deixou e ainda me deixa maluca porque obviamente ainda não consegui atingir meu objetivo de esquecer e não sentir mais nada por ele, o que tem me impedido de me interessar por qualquer outro garoto no mundo.
), minha melhor amiga que eu considero uma irmã, sabe sobre essa história toda. Ela está na mesma faculdade que eu e consequentemente na mesma cidade, mas fazemos cursos diferentes. Conhecemo-nos desde a quinta série e por isso confiamos uma na outra para qualquer coisa. Ela me dizia que eu era uma besta de continuar gostando de , que eu deveria abrir meu coração para um garoto legal e interessante. Ela namora , um cara de vinte e um anos, com boa condição financeira e extremamente gente boa. Eles se completam eu admito. ) ficou com alguns garotos antes dele, mas eu soube desde quando ela conheceu que ela não o trocaria por ninguém.
Capítulo II
Hoje é mais um dia de sábado em que eu poderia dormir até tarde, pois não trabalhava aos finais de semana e a faculdade tinha aulas sábado sim, sábado não. Por sorte neste final de semana não haveria nenhum trabalho para fazer então poderia descansar. Então escuto alguém bater freneticamente na porta de meu pequeno e aconchegante apartamento. Revirei-me na cama quente, sem interesse de me levantar. O barulho tornou a invadir meus ouvidos, agora acompanhado por gritos.
- Abre essa porta ! Sou eu! A )! – Gritou a voz de minha melhor amiga.
- TO DORMINDO! – Gritei de volta.
Era possível ela ouvir, pois o cômodo que utilizo como meu quarto ficava praticamente ao lado da porta de entrada.
- ABRE LOGO BICHO-PREGUIÇA! – Ela gritou mais alto.
Eu resmunguei antes de dar um salto para levantar. Era quase uma hora da tarde, talvez por isso ninguém dos apartamentos vizinhos tenha reclamado da barulheira que minha amiga fazia. Atendi a porta do jeito que eu estava, nem olhar no espelho eu olhei, mas isso não era preocupante já que ) já me vira em meus piores dias que superavam a aparência estilo “acabei de acordar”. Ela entrou, estava com uma roupa leve, porém muito bem arrumada, como se estivesse pronta para ir a um churrasco em uma chácara ou coisa assim. Tranquei a porta depois de ela passar e sentei-me ao seu lado no sofá.
- Precisa se arrumar, porque vamos a uma festa na chácara dos pais do . – Ela disse me olhando animadamente.
“Minha dedução estava correta” pensei. Ela sempre se vestia mais ou menos naquele estilo quando ia a uma festa em chácaras, fosse a dos pais do namorado ou em qualquer outra.
- Nem pensar . – Eu respondi ainda sonolenta. – Quero descansar.
- Ah francamente amiga! Você anda muito trancada em seu apartamento, só te vejo ir daqui para o trabalho, do trabalho para faculdade, e da faculdade para cá novamente. Isso não faz bem para ninguém, ! Você vai e ponto final! Ainda mais por que é aniversário do Sr. . – Ela disse mencionando o apelido que dera de brincadeira ao namorado, mas que manteve-se como um apelido só dela para ele.
- Ele não me convidou. – Eu disse tentando escapar.
- Convidou sim, olha só. – Ela mostrou o convite com meu nome. – Ele me pediu para te entregar.
Encarei o convite por alguns segundos depois olhei novamente para ).
- é muito amigo do , não to afim de olhar para a cara dele hoje. – Eu disse encarando o chão e pensando em ter que vê-lo com , estava sendo um tanto dramática, mas realmente não estava com vontade ir para me chatear.
- , você tem que esquecer esse garoto! Já percebeu o quanto está se deprimindo por causa dele, isso não está certo amiga. Já faz um ano, chega disso, ele seguiu em frente e você também tem que seguir.
Tornei a olhar minha amiga que agora expressava consolo, porém firmeza. Percebi que estava determinada a me tirar do meu aconchego de qualquer maneira.
- Ta querendo ir só pra ficar aos beijos com seu Sr. . – Eu dei um empurrão leve nela e gargalhei discretamente. Ela riu também.
- Cala a boca sua tonta! – Ela me empurrou também levemente.
- Tudo bem, eu vou. – Concordei ainda bastante contrariada.
Ela deu pulinhos animados mesmo estando sentada. Ela ficou sapeando a televisão enquanto tomei banho e me arrumei. Meu estilo era meio rocker em qualquer lugar que eu fosse, mas coloquei uma roupa mais leve também. Nada exagerado. ) gostava das coisas mais clássicas, mas variava bastante o que vestia. Era três horas da tarde quando fomos para a tal festa. Peguei uma carona com minha amiga, deixando meu carro quieto no estacionamento do prédio.
Ao chegarmos já havia bastante gente, me senti bem com o ambiente. Era como um grande quiosque no meio de várias árvores. Encontramos e o cumprimentamos. Eu disse que daria um presente depois e ele nem se importou, disse que nem precisava, mas obviamente eu compraria alguma coisa nos dias seguintes. ) engatou uma conversa com ele que não parecia ter fim, até que ele teve que atender outras pessoas.
Eu e ela fomos passear pelo lugar e encontramos alguns amigos. Ficamos conversando e eu estava começando a pensar que foi bom ter ido à festa, mas quem eu não queria ver apareceu. e sua namorada . Os dois se sentaram na mesma mesa que nós e entraram na conversa também. Tentei não me incomodar e continuei sorridente, ignorei os meus sentimentos e consegui continuar me sentindo bem. Eu e todos os outros conversamos até anoitecer. Depois do canto de parabéns o DJ tomou conta e o pessoal foi dançar.
Eu nunca gostei de dançar, em muito poucas festas me levantei do meu lugar para dançar. Fiquei conversando com quem também não era muito fã de dança até que meus músculos já estavam cansados do tempo em que estive sentada, pedi licença e fui caminhar em volta do lugar. ) não dava nem sinal de querer sair da pista de dança e ir para casa, mas tudo bem, eu não iria reclamar, estava me divertindo também.
Não me preocupei com a terra e a grama que havia ali, pois estava de bota de cano médio, daquelas com tachas e sem salto. Parei de caminhar e encarei o céu em que as estrelas começavam aparecer.
- Festa longa não é? – Disse uma voz que eu conhecia muito bem. Olhei para o lado e mirei . Minhas pernas bambearam.
- Sim. – Eu disse. Há tempos eu já o respondia com palavras curtas nos poucos momentos em que conversamos. Não porque queria ignorá-lo, mas porque queria evitar demonstrar o sentimento que eu ainda nutria.
- Como anda a vida? – Ele perguntou.
- Boa e a sua?
- Boa também. – Ele respondeu. Olhei para os lados discretamente.
- Onde está ? – Eu perguntei por impulso, já que normalmente os via juntos.
- Ela acabou de ir embora. Os pais dela vieram buscá-la porque ela ainda vai viajar hoje. – Ele disse ainda me olhando.
- Legal. – Respondi vagamente voltando a olhar para o céu. Não queria encarar mais aqueles lindos olhos. – Bom, acho que vou procurar a .
Eu sorri levemente para ele. Ele me abriu o sorriso maravilhoso que sempre teve, eu quase me perdi olhando-o. Aquilo me trazia um flashback de momentos. Os piqueniques, os beijos, os abraços, as mensagens durante toda a madrugada, as maiores idiotices possíveis que inventávamos, os filmes que assistimos abraçados, às vezes em que ele tocou violão por algumas horas para eu escutar, às vezes em que deitou a cabeça em meu colo me deixando acariciar seu cabelo e outras tantas coisas que aconteceram. Quando acordei do meu transe rápido e repentino comecei a andar a passos largos, passei ao lado dele sentindo o cheiro do inconfundível perfume. Quase corri para chegar logo ao lugar onde minha melhor amiga estava ainda dançando com o namorado. Eu a puxei pelo braço.
- Vamos embora agora ? Não quero ser chata, estou me divertindo, mas já estamos há horas aqui e você sabe que não gosto muito de fes... – Falei com pressa, mas fui interrompida.
- O que foi que o fez pra você querer sumir daqui desse jeito? – Ela disse praticamente lendo meus pensamentos que estavam parados no momento em que ele sorriu.
- Ele não fez nada! Só estou com vontade ir embora. – Respondi calmamente, porém com um tom firme.
- Ah amiga, é a festa do meu namorado, quero ficar mais com ele.
- Tipo até a festa acabar? – Eu dei risada sabendo que era exatamente isso que ela estava pensando. Ela riu.
- Seguinte. Toma a chave do meu carro, não vai se importar de me levar para casa. Amanhã eu vou até o seu apartamento para recuperar meu carro. – Ela disse a última parte em tom de brincadeira, enquanto me entregava à chave.
- Tem certeza? Vai complicar para você!
- Não, não, fica tranquila! Pode ir. Te vejo amanhã. E cuida bem do meu carro! - Ela me entregou a chave e começou a andar na direção de .
- Diga a que mandei “felicidades” e que gostei da festa! – Eu disse para ela enquanto ainda não estava longe. – Até amanhã!
- Ta! Até! – Ela disse sorrindo.
Dei as costas e fui até o carro de minha amiga. Eu estava evitando pensar em qualquer coisa relacionada a e como se fosse perseguição o vi ao longe junto de alguns amigos. Ele também me viu e provavelmente percebeu que eu estava indo embora, pois acenou de onde estava. Acenei de volta com um leve sorriso e me virei com rapidez. “Chega disso” pensei com determinação. Entrei no carro e dirigi até minha casa.
Na manhã do dia seguinte, antes do meio dia, ) veio buscar seu carro. Ela veio a pé mesmo, pois não morava tão longe de mim. Almoçamos juntas. Uma pizza para diferenciar dos outros dias. Ficamos mais algum tempo juntas e depois ela foi embora.
Capítulo III
A vida sempre passa com rapidez diante dos nossos olhos quando se está ocupada conciliando estudo e trabalho. Logo me vi formada na faculdade aos meus vinte e um anos. Eu e ) havíamos ido buscar nossos diplomas no dia estipulado pela faculdade. Abracei minha melhor amiga com força. Continuaríamos a nos falar, até porque não mudaríamos mais de cidade. Porém não iríamos poder mais nos ver tantos dias como quando estávamos na faculdade.
- Vê se não some sua chata! - Eu disse ao soltá-la e sorri.
- Você também viu senhorita. - Ela respirou fundo, também sorrindo. Nós duas estávamos realizadas por conseguir terminar nossa faculdade. Também já havíamos conseguido emprego na área em que nos formamos.
Alguém cutucou meu ombro e eu me virei, vi que provavelmente tinha vindo comemorar junto de nós a nova etapa pela qual entrávamos. Ele se tornou bastante amigo meu em razão do namoro com ).
- Parabéns pelo diploma meninas! – Ele disse abrindo os braços sugerindo um abraço triplo. Eu e ) o abraçamos. Depois os dois se beijaram e eu fiquei naquela pose típica de quem "está de vela" olhando para o alto ou para as unhas até que se soltassem.
Eu me sentia muito feliz e orgulhosa. De agora em diante era vida adulta totalmente, eu sabia bem que não era fácil, mas sempre gostei de manter o pensamento positivo sobre tudo. Meus pais também estavam orgulhosos, conversava sempre com eles e os visitava sempre que possível e eles sentiam-se felizes por mim. Eu, ) e saímos para comemorar e só voltei de noite para meu apartamento. Um pouco antes de ir dormir recebi uma mensagem de quem eu menos esperava, .
“Fiquei sabendo que recebeu seu diploma da faculdade hoje, meus parabéns, estou feliz por você. Recebi o meu ontem.”
Foi inevitável não me sentir ainda mais feliz do que estava. Eu li a pequena mensagem mais de uma vez e gostei principalmente da parte em que ele disse estar feliz por mim. “Ok, pare com isso. Ele continuará sendo apenas seu amigo para sempre, não se iluda, você não tem mais idade para isso” eu falava para mim mesma em meu pensamento.
“Obrigada e meus parabéns para você também. Fico feliz que tenha dado tudo certo.”
Foi o que respondi me perguntando como ele soube que recebi o diploma. Ele mandou uma carinha feliz como resposta e nossa mini-conversa terminou.
Dois dias depois eu estava entrando pela porta da empresa na qual garanti meu segundo emprego, já na área de Ciências Econômicas em que me formei; um emprego muito melhor que o primeiro. Era tudo de certa forma novo para mim. Já comecei no setor de Economia Agroindustrial devido a minha formação em uma faculdade bem vista.
Conheci muita gente nova e legal, mas como sempre uma ou outra complicação aparece em meio ao ambiente de trabalho. Eu tinha bastante coisa a fazer. Mas todos os longos dias em que trabalho recebo em troca um novo aprendizado, além do bom salário ao final do mês. Tornei-me importante em minha área profissional e isso me garantiu uma boa renda financeira.
) também estava se dando muito bem na área de trabalho em que estava e eu gosto de saber que minha irmã de coração está indo de bem com a vida, mesmo quando aparece qualquer situação mais complicada. Isso não é algo do que dá exatamente para fugir, a solução é enfrentar até voltar à estabilidade.
Eu não estou preocupada com minha vida amorosa. Depois que comecei a trabalhar e me preocupar com outras coisas decidi que não deixaria isso acabar com meu ânimo. Agora me sentia preparada caso conhecesse alguém interessante. Por mais que meu coração pulasse ao lembrar de , decidi que não permitiria mais que ele atrapalhasse minha vida. Não iria sair investindo em qualquer cara, esperaria até que um que valesse a pena aparecesse.
Hoje é um daqueles dias em que estou cheia de papéis da empresa para organizar sobre importação e exportação. Essa era uma parte de certa forma complicada, mas nada impossível. Coloquei as documentações e registros sobre uma pasta na qual estava algumas outras coisas. Tinha acabado de sair pela porta da empresa, meu carro havia ficado estacionado na frente do lugar, assim como os dos outros funcionários, devido à reforma que faziam no estacionamento.
- Ah preciso organizar esses papéis hoje ainda. - Eu disse mais alto do que esperava enquanto encarava os papéis que eu carregava.
Em minha distração acabei trombando fortemente com alguém, quase derrubando alguns dos papéis soltos por cima da pasta. Fiz praticamente um malabarismo para segurá-los.
- Nossa! – Eu exclamei enquanto segurava desajeitadamente os papéis que ameaçavam cair. Percebi que a pessoa em quem trombei segurou alguns papéis para me ajudar. Levantei meu olhar encontrando dois olhos claros e muito bonitos. - Me desculpe, eu… estava distraída. – Eu disse evitando encará-lo.
- Sem problemas! – Ele disse me olhando nos olhos. - Quem me dera trombar todos os dias com uma mulher linda assim. - Ele disse mais para si mesmo do que para mim então o vi corar quando pareceu cair em si. - Me d-desculpe, eu não quis ser inconveniente.
Eu ri do jeito atrapalhado dele. Perceptivelmente havia soltado aquele elogio ou “cantada” sem querer, pelo jeito que corou ele tinha apenas pensado alto. Estava bem vestido; roupa social, com direito a gravata e tudo, o que o deixava elegante. Tinha o cabelo claro também, combinando com seus olhos. Era muito bonito.
- Está tudo bem… - Eu disse timidamente ainda ajeitando os papéis. – Obrigada.
Fui retomando o meu caminho, desviando o olhar dele. Tentei ser bastante educada, pois ele havia ficado tão vermelho que cheguei a ficar com dó. Normalmente eu afastava qualquer homem que flertava comigo, mas ele não pareceu realmente querer me jogar uma “cantada” e me parecia ser uma boa pessoa. Percebi pelo canto de olho ele me acompanhar com os olhos e parecia estar em intenso conflito interno.
- Ei! Me desculpe, mas…. – Eu parei, virei-me e olhei novamente para ele. - Hã… Qual é o seu nome? - Ele disse a mim sorrindo com certa timidez.
- . - Sorri. Não via problema algum em dizer meu nome.
- Obrigado. Prazer em conhecê-la . - Ele sorriu e virou-se para continuar seu caminho.
- E o seu? - Eu perguntei para não parecer tão grosseira. Ele virou com muita rapidez para me olhar, o que me fez rir e o fez corar novamente, mas agora com menos intensidade que antes.
- . - Ele abriu outro sorriso tímido e charmoso.
Nunca havia conhecido um garoto que me parecia tão fofo e encantador quanto ele, quer dizer, na verdade eu conhecia , que foi tão incrivelmente carinhoso enquanto estivemos juntos. “Essa não, estou pensando nele novamente. Que droga!"
- Bom, vou deixar você continuar seu caminho. - Ele disse retomando também sua caminhada. Fiz o mesmo, indo em direção ao meu carro.
“Que loucura!" pensei ao sentar no sofá de meu apartamento e colocar a pasta e os papéis de lado. Depois de alguns segundos, ali parada, decidi ir realizar meu trabalho com os documentos e registros para no outro dia dar continuidade ao processo de importação e exportação.
Amanheci sonolenta, pois havia trabalhado bastante no dia anterior. Arrumei-me como rotineiramente. Entrei em meu carro e dirigi até chegar à empresa. Fiz minha carga horária um pouco cansada, mas logo chegou o momento de voltar para casa. Parei o carro no estacionamento do prédio em que ficava meu apartamento, repentinamente pensei em ir até uma cafeteria próxima, a qual de vez em quando eu frequentava. O café do lugar é extremamente bom e a atendente me recebe com muito bom humor. Isso me faz bem, principalmente nos dias em que me sinto cansada demais. Caminhei vagarosamente até o local, que estava tranquilo como sempre. Sentei-me diante do balcão e pedi um café. Quando ficou pronto comecei a tomá-lo sem pressa alguma.
- Acho que se trombarmos agora não seria uma boa ideia, não é? - Escutei alguém dizer as minhas costas em tom divertido.
Virei-me devagar e avistei quem eu imaginava que seria: , o moço com quem trombei no dia anterior. Ele se sentou na cadeira ao meu lado pedindo também um café.
- Está me seguindo ou o quê? - Eu ri.
- Não. – Ele disse rindo. – Acredite ou não foi pura coincidência. - Ele me olhou e parecia dizer a verdade. - Me indicaram a cafeteria e como sou tipo um viciado em café decidi vir para cá.
Ele riu novamente e eu ri junto.
- Não sou uma viciada, mas também gosto bastante de café. - Disse encarando a xícara. Suspirei por causa do cansaço que o trabalho causou.
- Dia longo? - Ele perguntou e percebi que ainda me olhava.
- Foi um dia bom. - Respondi esgueirando-me de reclamar. Não gostava de ficar reclamando, muito menos para um homem que acabei de conhecer. - E como foi o seu?
- Foi bom, quer dizer, ainda estou me acostumando com meu novo apartamento.
- Novo apartamento? – Perguntei de certa forma curiosa.
- É… eu fui transferido para cá pela Imobiliária para qual trabalho, sou Corretor e por aqui a chance de venda está bem maior, comprei um apartamento no prédio ali da esquina.
Ele apontou com cautela para o prédio de qual falava. Fiquei perplexa, pois era o mesmo em que eu morava. Dei uma risada de indignação.
- O que foi? - Ele perguntou.
- Meu apartamento também fica naquele prédio.
- Nossa…. que estranho. - Ele disse enquanto franzia a testa, mas sorria.
- Pois é. Bom… - Me levante para ir embora. Havia pagado meu café assim que o recebi, então era somente sair agora. - Vou indo, estou exausta do trabalho.
- Espera! - Exclamou ele virando o resto do café, levantando-se e deixando dinheiro sobre o balcão. - Vamos para o mesmo lado não é mesmo?
Ele ainda parecia tímido, porém muito mais confiante do que no dia anterior. Permiti que ele me acompanhasse e conversamos até chegarmos em frente ao portão do prédio em que surpreendentemente nós dois moramos. Entramos juntos e nos despedimos quando o elevador parou e saiu. O prédio tinha quatro andares e eu morava no terceiro. tinha uma boa conversa. Gostei da companhia dele, mesmo que tenha sido por pouco tempo.
Capítulo IV
Os dias que decorreram foram mais divertidos do que normalmente. me convidou para jantar quando nos encontramos novamente no prédio. Fomos a um restaurante não tão caro em que a comida era ótima. Eu insisti que queria pagar o que eu gastei, mas ele praticamente me proibiu, quis pagar para mim de qualquer maneira e isso foi algo bem cavalheiro, por mais que eu não queria que ele gastasse comigo. Nós ríamos bastante quando estávamos juntos e eu me sentia bem. Quando o encontrava nem tinha tempo de me lembrar de .
tinha grandes diferenças de , principalmente no quesito romantismo, ele era muito cavalheiro e eu me sentia a rainha quando saia com ele; já era mais do tipo que gostava de descontração, tinha seus momentos românticos, mas preferia um relacionamento de igual pra igual, sem muita “melosidade”. Eu não via mal algum no jeito de ser de cada um deles, eu gostava tanto do romantismo quanto da descontração. Sabe, eu ainda não sei por que comparo os dois, já não tinha mais nada a ver com minha vida, a última vez que nos falamos foi no dia que recebi meu diploma, e isso havia acontecido há quase dez meses.
É claro que eu mantinha ) informada. Continuávamos a nos comunicar todas as vezes que era possível. Ela veio em meu apartamento em alguns finais de semana e me contou que ela e haviam noivado. Fiquei muitíssimo feliz pelos dois, eram um casal que se respeitava e que se amava, é claro que eu apoiaria o casamento. Ela ficou entusiasmada quando mencionei , afinal era o primeiro cara por quem eu me interessava depois do estrago chamado , mas eu disse a ela que não iria precipitar nada, se fosse para acontecer, iria acontecer.
A data em que eu completaria vinte e dois anos chegou. ) preparou uma pequena surpresa que realmente me surpreendeu quando cheguei do trabalho. Era uma sexta feira e estavam ), e me esperarando em frente meu apartamento. Fizeram uma algazarra quando eu cheguei, soprando aquelas mini vuvuzelas. Algumas pessoas dos apartamentos vizinhos saíram para ver o que estava acontecendo e acabei recebendo desejos de “feliz aniversário” praticamente do andar inteiro.
Depois de todo esse estardalhaço nós entramos em meu lar-doce-lar. Ficamos algumas horas conversando e comendo o bolo que ) fez e trouxe. Então minha amiga e seu noivo decidiram ir embora. e eu fomos até a frente do prédio para nos despedirmos dos dois, depois entramos juntos novamente e conversando. Ele disse que iria para seu apartamento para me deixar descansar, mas que havia esquecido o celular em meu apartamento então me acompanhou até lá para buscá-lo. Peguei o celular que estava em cima da mesa da cozinha e fui até ele, que estava na sala, próximo a porta que dá saída para o corredor.
- Aqui está. – Eu disse sorrindo e entregando o celular a ele. Ele o guardou no bolso da calça depois me olhou. Chegou mais perto e me abraçou, o perfume forte que ele usava deixou o momento ainda mais agradável.
- Feliz aniversário mais uma vez. – Ele disse enquanto começou a afastar meu corpo a fim de olhar em meus olhos.
Mas antes que eu pudesse responder com um “obrigada”, ou antes mesmo de nos soltarmos totalmente do abraço, ele colocou a mão em minha nuca e me beijou. Ficamos ali pelo que pareceram alguns minutos. Foi um beijo longo e carinhoso. Senti-me muito bem em beijá-lo, me passa tranquilidade, segurança e felicidade. Porém não poderia dizer que foi como quando beijava , quando nos beijávamos eu sentia meu coração palpitar e minhas pernas pareciam não aguentar o peso do meu corpo, além de que eu sentia que o momento seria eterno. “Pare de pensar idiotice, você está beijando um homem lindo, interessante, elegante e romântico. Esqueça o resto” foi o que disse a mim mesma em minha mente. Deixei o momento acontecer sem pensar em nada além do quanto eu e poderíamos ser felizes juntos. Nosso beijo terminou e nós nos olhamos sorrindo por alguns segundos. Depois ele apenas encostou seus lábios nos meus rapidamente.
- Boa noite. – Ele disse sorrindo e saindo pela porta. O acompanhei.
- Boa noite. – Falei sorrindo de volta e encarando aqueles olhos claros encantadores. O observei até que ele sumisse para dentro do elevador.
Voltei para dentro de meu apartamento e tranquei a porta. Sorri feito uma boba, repassando a cena do beijo em minha mente. Nós dois continuamos juntos e o momento pelo qual eu estava esperando chegou. Entrei em férias no trabalho e estava planejando uma viagem. Havia feito uma poupança desde que comecei a trabalhar e reservava parte de meu salário todo mês. Tinha um bom dinheiro agora como esperava e poderia fazer minha tão sonhada viagem para a Austrália. decidiu me acompanhar. Tinha ganhado uma quantia boa em dinheiro com suas vendas nos últimos meses. E agora lá estávamos nós entrando no avião para o começo de nossa viagem.
Aproveitamos ao máximo. Foi divertido ele ter ido comigo, eu me sentia extremamente bem com sua companhia. Passamos praticamente nossas férias todas por lá, o que rendeu muitas fotos bonitas e histórias para contar.
Retornamos bem cansados, porém felizes. Descemos do avião e seguimos em direção a saída do aeroporto, porém senti meu corpo enrijecer-se e parei subitamente de andar quando avistei a imagem de uma pessoa que eu esperava não encontrar nunca mais. estava a alguns metros de mim e ; ele me avistou e abriu o sorriso que eu sempre achei lindo. Senti minhas entranhas revirarem ao sorrir forçadamente para ele e observá-lo vir em direção a mim e meu atual namorado. Parecia que eu ia vomitar a qualquer momento em razão do “frio” na barriga que estava me incomodando. Senti-me mal com minha própria reação ao rever , pois estava bem ao meu lado. Percebi que meu namorado me segurou levemente pela cintura, quando chegou perto, provavelmente para demonstrar que eu já estava acompanhada. Fazia um tempo significativo que não o via, mas eu me senti como sempre. Ele chegou rapidamente até nós e me abraçou sem medo, mesmo com me segurando pela cintura
- Oi! – Ele disse com entusiasmo enquanto me abraçava.
- Ei! - Eu disse cumprimentando-o sem saber bem como reagir.
Eu não havia percebido o quanto aquele abraço me fazia falta até aquele momento. Ele se afastou e franziu levemente o cenho quando mirou e deu alguns olhares para minha cintura no local onde meu namorado segurava com leveza.
- Esse é meu namorado . E , – Consegui com relutância desviar meu olhar de . - esse é meu amigo . - Eu os apresentei, desejando que parassem de se encarar.
- Olá. – disse e estendeu a mão com sua infinita educação e formalidade. apertou a mão de meu namorado.
- E ai. – Ele cumprimentou em seu tom descontraído, mas ainda com o cenho franzido.
Então ele voltou a me olhar e eu não sabia bem o que dizer. Meu coração parecia querer sair voando e eu me xingava mentalmente por isso.
- Caramba, quanto tempo . - Ele disse me analisando e eu quase estremeci ao ouvir meu apelido sair da boca dele depois de tanto tempo.
- Pois é. - Sorri encabulada.
Ele continuava tão bonito. Era como se tivesse sido ontem que estávamos juntos, mas as coisas mudaram, “lembre-se que tudo mudou " eu pensei com insistência “Seu namorado incrível está bem ao seu lado”. Eu e tínhamos vinte e seis anos agora, nossa idade era a mesma, diferente de que tinha vinte e oito. Minha mente começou a trazer um flashback do tempo em que eu tinha dezenove anos e estava junto de , me forcei a pensar nos momentos com meu novo namorado.
- Como vai a namorada? - Eu disse sorrindo. Estranhei o fato de não ver os dois juntos como normalmente estavam aonde quer que fossem.
- Eu terminei com ela... semana passada. - Ele pareceu incomodar-se ao falar, mas não parecia tão triste.
- Mas por que? - Eu disse com real indignação.
- Não… estava dando certo. - Ele hesitou antes de terminar a frase. Era a mesma coisa que ele tinha dito a mim quando terminamos.
Por alguns segundos minha mente se perguntou se estaria como eu fiquei. Esperei que ela estivesse bem afinal não queria que ninguém sofresse como eu sofri.
- Hum… - Eu pronunciei, novamente sem saber o que dizer. não fazia um ruído sequer ao meu lado e isso me incomodava. Eu esperava que ele não tivesse percebido minha estranha reação quando avistei , mas minha razão dizia que era exatamente por ter percebido que estava tão quieto e mantinha a mão em minha cintura.
- Bom... temos que ir. - Disse a ele, e depois olhei para . Eu me sentia levemente contrariada em ter que sair dali, o que não era um bom sinal. “Que situação meu Deus” eu pensava em meio aos meus confusos sentimentos.
- Tudo bem. Foi bom te ver. - sorriu novamente, dando-me um breve abraço de despedida e depois, mesmo não parecendo muito feliz em fazer isso, apertou a mão de .
Eu apenas assenti com a cabeça. E tomamos rumos diferentes, assim como em nossas vidas. segurou a minha mão, virou-se brevemente para trás e depois colocou seus olhos sobre mim.
- Quem era aquele? – Perguntou em um tom seco.
- Eu te disse... Um amigo... - Ele não pareceu satisfeito. - É um amigo de muito tempo. – Eu disse. Não estava querendo explicar que já fomos namorados.
- Hum. - fez uma pausa encarando o chão e depois voltou a me olhar. – Você praticamente paralisou quando o viu.
Eu me senti congelar por dentro, ele havia realmente percebido minha estranha reação. Segurei sua mão com mais força.
- Só fiquei surpresa em vê-lo depois de tanto tempo. – Não menti. Só achei melhor não contar a parte que meu coração disparou e que senti frio na barriga, nada disso era necessário, pois eu não pensava em deixá-lo para correr atrás de , não iria fazer isso nem que me obrigassem.
Despedi-me de no elevador; e quando cheguei em meu apartamento percebi que estava exausta da viagem, então logo fui dormir. No outro dia era domingo e eu marquei de ) vir em minha casa, somente ela, para que pudéssemos conversar. Contei tudo o que poderia e ela me disse o que minha consciência também repetia: “Não volte a pensar em , é besteira. Você está bem com , não destrua isso”. Eu me vi presa a uma batalha entre consciência e sentimento, mas decidi dar ouvidos a consciência assim como à minha amiga.
Na noite desse mesmo dia, que era o meu último de descanso até que chegasse o final de semana, recebi uma mensagem de ninguém menos que .
“Foi bom te ver de novo… Você me faz falta"
Era o que dizia a mensagem. “Isso já virou tortura” foi o que pensei enquanto ainda encarava as palavras. Decidi não responder, eu não seria tão idiota. Ele não teria me procurado tão tarde se realmente me amasse. Não iria sofrer novamente, não mesmo. Ainda mais agora que eu estava muito bem ao lado de .
No dia seguinte me levantei animada para trabalhar. Queria fazer qualquer coisa menos ficar em casa absorta em pensamentos. Mandei uma mensagem de bom dia para ) e outra para meu namorado. Voltei para casa era quase sete da noite, pois eu, , ) e havíamos ido àquela cafeteria para jogar conversa fora. foi para casa de seus pais depois da cafeteria, então tive que voltar ao prédio sozinha, o que não foi tão ruim já que ficava bem próximo. Fui distraidamente mexendo em meu celular, até que cheguei ao portão do prédio. Levei um susto grande quando levantei o olhar e focalizei a imagem de conversando com o segurança do prédio. Fiquei sem reação por um segundo até que o segurança me viu e pronunciou “Ali está ela!” enquanto apontava para mim. veio até mim sorrindo e eu sorri fracamente de volta. Não sabia bem o que pensar no momento.
- Oi! – Ele disse ainda sorridente enquanto me abraçava, assim como fez no aeroporto, mas eu nada respondi desta vez. Ele me soltou. – Estou aqui faz um tempo... Te enviei uma mensagem ontem e achei que talvez você não tenha recebido, sei lá. Decidi que seria melhor vir te ver.
- O que? – Eu disse atônita. Sua expressão foi de confusão. - Como você soube que eu ainda moro aqui?
Percebi que a pergunta foi ridícula afinal eu não tinha tanto dinheiro assim para ficar trocando de moradia, mesmo que já fizesse um tempo desde a última vez que ele esteve ali, porém foi a única coisa que passou pela minha cabeça.
- Eu imaginei que você não tivesse saído daqui, afinal o apartamento é ótimo e você o comprou não faz tanto tempo assim. – Ele respondeu confirmando meu raciocínio. Costumava ser assim entre nós dois, sempre acontecia de pensarmos da mesma forma.
- Recebi sua mensagem ontem. – Retomei o assunto inicial. Ele pareceu ter confirmado algo em seu íntimo em que não queria acreditar.
- Não teve como responder? – Ele perguntou ainda quererendo acreditar que eu não o havia ignorado. Porém era exatamente o que eu tinha feito e era grande a vontade de "jogar isso na cara dele". Pode até parecer infantilidade, mas eu realmente queria evitar que ele pensasse que tem controle sobre mim.
- Eu não quis responder. – Fui o mais fria que pude ao falar. Ele pareceu entristecer-se. – Tenho um namorado e você sabe.
- Eu sei. Só achei que seria bom dizer o quanto sinto sua falta.
- , se você realmente sentisse minha falta não viria me procurar só depois de três anos.
Eu disse e dei as costas a ele, entrando no prédio. Escutei-o chamar meu nome, mas não me virei para dar atenção. Andei com mais rapidez até estar a salvo no meu apartamento. Eu não podia mentir dizendo que ele não mexia mais comigo, mas definitivamente iria barrar esse sentimento. Não queria mais sofrimento.
Capítulo V
Nas semanas seguintes parecia me perseguir. O encontrei mais de uma vez na cafeteria, enquanto eu estava com e recebi algumas mensagens, as quais não respondi, além de uma ligação, que eu não atendi. O cúmulo foi a carta que ele escreveu e pediu para o segurança do prédio me entregar. Junto dela havia uma foto da época em que namoramos. Eu sorri involuntariamente ao olhá-la, mas não me culpei por isso. Foi uma época ótima e as lembranças eram ótimas. Contei sobre essa “perseguição” a , que não se exaltou e manteve-se tranquilo. Dizia que não gostava nem um pouco de , mas que confiava em mim.
Só Deus sabia o quanto eu estava me sentindo mal com aquilo tudo. Afinal meu sentimento por - que pensei que havia se extinguido - voltou a ficar intenso. Porém eu gostava muito de estar com e nem a última coisa que queria fazer era magoá-lo. Estávamos tão bem que não teria como arranjar algum motivo para terminar. Ele era um príncipe, mas por ironia não era ele quem eu queria junto de mim. Comecei a ficar estressada com tudo e com todos, meus amigos e meu namorado me diziam que eu precisava relaxar, pedir licença no trabalho ou algo assim, mas não sabiam o porquê do meu estado de nervos. Só ) que tinha ideia do que se passava e vivia me aconselhando.
- Seja justa como sempre foi amiga e dê um basta nisso, dará tudo certo. – Era o que ela dizia.
Eu sempre gostei de ser muito justa e sincera com todos a minha volta, isso significava que eu não conseguiria – e nem seria certo – agir de outra maneira com e toda a situação já estava tomando muita dimensão. Não era correto estar com ele quando penso em outro. O único problema é o fato dele ser uma pessoa tão boa que chega a ficar complicado para terminar o relacionamento. Fiquei mergulhada nessa angústia até que finalmente decidi ir até o apartamento de , no andar de baixo, para esclarecer tudo. Eu não seria hipócrita a ponto de fingir que algo me incomodava em nosso relacionamento, seria sincera com ele da forma mais sutil que conseguisse.
- Preciso falar com você. - Eu disse quando ele abriu a porta e sorriu surpreso ao me ver.
- O que houve meu amor? - Ele perguntou em tom preocupado franzindo a testa. O sorriso tinha desaparecido de seus lábios.
Eu entrei no apartamento e estava decidida do que fazer, mas mesmo assim sentia-me horrível. Sentei no sofá. Ele fechou a porta e veio até mim, sentando a minha frente. Eu encarei seus olhos claros e cheios de preocupação e estremeci. Eu não sabia como colocar as palavras para fora.
- Está me deixando apreensivo. - Disse ele forçando uma risada.
- Preciso ser muito sincera com você . - Eu finalmente disse ainda encarando-o. Mantive-me firme e não desviei meu olhar. Desejava que ele pudesse enxergar a verdade em meus olhos. - Eu não posso mais continuar com você.
A expressão dele mudou de apreensiva para assustada. Ele parecia não acreditar no que eu falei e eu me sentia como a pior pessoa do mundo. Queria que ele gritasse comigo, dissesse que eu sou uma idiota por querer terminar um namoro que ia tão bem, mas ele simplesmente olhou para os lados e passou a mão pelo queixo, ele fazia isso quando alguma situação não o agradava.
- É por causa do tal do não é? - Ele olhou novamente para mim e eu me assustei sem deixar transparecer. Será que estava tão na cara assim?
- O quê? - Perguntei não acreditando que ele houvesse descoberto.
- Todas às vezes que você me contou que ele estava te perseguindo pareceu diferente, como se quisesse e ao mesmo tempo não quisesse que ele fizesse isso. Você age diferente quando menciona ele. - Ele disse de uma vez só, sem desviar o olhar. Não consegui esconder minha admiração por ele ter percebido isso. - É , te conheço melhor do que pensa. Gosto de reparar em como age.
Ele sorriu levemente agora encarando as mãos, mesmo não transparecendo felicidade. Senti-me estraçalhada por dentro, mas isso só provava que eu não merecia o carinho de , pois eu não o conhecia assim tão bem, não o “estudava”, conhecia apenas o que ele me contava e o que ele demonstrava com mais frequência, não o analisava como gostava de analisar . Prometi a mim mesma que seria totalmente sincera com ele, mas não sabia como dizer que ele tinha razão no que deduziu.
- Me desculpe… - Minha voz saiu mais fraca do que eu pensava, foi quase um sussurro. Lágrimas começaram a surgir em meus olhos e eu desviei meu olhar dele. - A última coisa que queria era te magoar. Me sinto péssima, mas - Minha voz estava extremamente embargada, tentei me recompor inutilmente. - não posso continuar ao seu lado sendo que estou tão confusa. Você não merece isso, não posso mentir e dizer que não sinto nada por . Me desculpe.
As lágrimas escorriam agora e eu não dava conta de limpá-las ou de fazer com que parassem. Era mais complicado do que imaginei terminar com ele. Olhei-o novamente e ele estava com os olhos totalmente marejados. Vi algumas lágrimas rolarem pelo seu rosto. Meu chão firme não parecia existir mais, era como se eu estivesse caindo cada vez mais rápido em um abismo sem fim. Ele suspirou com força, perceptivelmente tentando se controlar; limpou os olhos rapidamente.
- Esse cara não pode te amar como eu posso! Como eu já amo! Por favor não faz isso! - Ele disse suplicando e eu não conseguia abrir minha boca para dizer mais nada.
Balancei negativamente a cabeça como se dissesse que não teria mesmo como continuar o namoro. Minha garganta doía em razão da força que eu fazia para controlar minhas emoções. Passamos alguns minutos naquela situação em que ninguém consegue dizer algo. Tentávamos perceptivelmente não dar lugar às lágrimas.
- Tudo bem . - Ele disse olhando para os lados, ainda derramando algumas lágrimas.
- Não está tudo bem. - Encarei o sofá incapaz de conter o choro.
- Vem cá. - Ele se aproximou me abraçando. Senti ele beijar minha cabeça. - Eu quero que seja feliz e agradeço por ter sido sincera, algo que realmente admiro nas pessoas é a sinceridade.
Ele falou com a voz mais firme. Eu chorei mais descontroladamente em meio ao abraço protetor dele e as palavras que dizia. Como ele era incrível, realmente desejei naquele momento amar ele e não , mas eu não mandava em meus sentimentos. Respirei fundo e consegui parar de chorar, sequei meus olhos como pude e nós nos afastamos. Olhei fixamente em seus olhos.
- Eu que tenho que agradecer… - Suspirei novamente ainda me recompondo. - por estar sendo tão compreensivo. Nunca encontrei alguém como você; e se quer saber nesse momento meu desejo é estar apaixonada por você e não por outro. Isso está sendo bastante difícil para mim, mas eu não posso continuar com você quando sinto algo por outro. Sei que vai encontrar alguém que realmente mereça o amor que você tem para oferecer.
Eu disse tudo com calma e muita sinceridade. Queria que fosse feliz, porque ele merecia isso. Era justamente por ele ser um rapaz tão maravilhoso que estava sendo tão difícil para terminar o namoro. Não queria vê-lo magoado ou triste. apenas sorriu suavemente para mim, mas eu percebi que ele ainda se sentia mal. Então me levantei.
- Acho que já deu a minha hora. - Eu disse tristemente e ele se levantou me acompanhando até a porta. Comecei a fazer o caminho até meu apartarmento.
- Ei! - Ele gritou da porta de seu apartamento e eu me virei. - Talvez possamos ser amigos um dia.
Ele falou com sofrimento na voz, mas sorriu. Eu sorri de volta e apenas assenti, continuando então meu caminho. ficou sabendo do término do meu namoro através de . Eu quis matá-lo por isso, mas ) me acalmou. Continuei minha vida corrida como normalmente, meu trabalho estava ocupando ainda mais o meu tempo, pois era época de alta produtividade para a empresa em que eu trabalhava. Encontrei com no prédio algumas vezes e nós nos cumprimentamos educadamente. Ele parecia estar bem e eu esperava que realmente estivesse. Querendo ou não por mais velhos ou mais novos que sejamos relacionamentos sempre são complicados, às vezes machucam, mas nos fazem crescer em todos os aspectos. O amor é complexo e ao mesmo tempo maravilhoso. Gosto de dizer que esse sentimento é o “aquilo” do conto de Ricardo De Azevedo, em que ele escreve:
“Quando aquilo apareceu na cidade, teve gente que levou um susto.
Teve gente que caiu na risada.
Teve gente que tremeu de medo.
E gente que achou uma delícia.
E gente arrancando os cabelos.
E gente soltando rojões.
E gente mordendo a língua, perdendo o sono, gritando viva, roendo as unhas, batendo palma, fugindo apavorada e ainda gente ficando muito, muito, muito feliz.
Uns tinham certeza de que aquilo não podia ser de jeito nenhum.
Outros também tinham certeza. Disseram: — Viva! Que bom! Até que enfim!
Muitos ficaram preocupados. Exigiram que aquilo fosse proibido. Garantiram que aquilo era impossível. Que aquilo era errado. Que aquilo podia ser muito perigoso.
Outros, tranqüilos, festejaram, deram risada, comemoraram e, abraçados, saíram pelas ruas, cantando e dançando felizes da vida.
Alguns, inconformados, resolveram perseguir aquilo. Disseram que aquilo não valia nada. Disseram que era preciso acabar logo com aquilo ou, pelo menos, pegar e mandar aquilo para bem longe.
Muitos defenderam e elogiaram aquilo. Juraram que aquilo era bom. Que aquilo ia ser melhor para todos. Que esperavam aquilo faz tempo. Que aquilo era importante, bonito e precioso.
Alguém decidiu acabar com aquilo de qualquer jeito.
Mas outro alguém disse não!
E foi correndo esconder aquilo devagarinho no fundo do coração.”
Capítulo VI
Na noite de um sábado em que eu estava de folga fui até a casa de ), que também estava de folga. Conversamos bastante sobre os preparativos para o casamento dela com , que agora estava se aproximando. Depois de passar praticamente o dia inteiro com minha amiga voltei para meu lar. Cumprimentei o guarda do prédio ao passar com o carro até o estacionamento. Logo entrei vagarosamente no lugar em direção ao meu apartamento. Estava um pouco cansada, pois a semana havia sido cheia de coisas para fazer e organizar. Quando cheguei ao corredor do apartamento em que moro avistei com seu violão de sempre pendurado no corpo pela correia. Quase sorri, mas me impedi ao lembrar que não iria aceitar tão facilmente o que ele fizesse. Ele havia sossegado na última semana, não havia mais dado sinal de que continuaria a me procurar e eu senti falta da insistência dele, mas havia aceitado que talvez o que eu pretendia dera certo, pensei que ele havia desistido. Mas lá estava ele, parado, sorrindo para mim. Eu me petrifiquei como sempre acontece quando o vejo, ele começou a tocar e cantar a música Far Away do Nickelback com os olhos fixos nos meus. Meu coração parecia bater em todo meu corpo. Eu sempre amei essa música e ele sabia disso, lembrei da letra e talvez ela realmente traduzisse o que ele queria me dizer. Senti vontade de chorar de emoção enquanto o observava se aproximar, tocando e cantando. Ele tinha dom para isso.
This time, this place
(Desta vez, este lugar) Misused, mistakes
(Desperdícios, erros) Too long, too late
(Tanto tempo, tão tarde) Who was I to make you wait?
(Quem era eu para te fazer esperar?) Just one chance, just one breath
(Apenas mais uma chance, apenas mais um suspiro) Just in case there's just one left
(Somente no caso de restar apenas um) 'Cause you know, you know, you know
(Porque você sabe, você sabe, você sabe)
That I love you
(Que eu te amo) I have loved you all along
(Eu tenho amado o tempo todo) That I miss you
(Que eu sinto sua falta) Been far away for far too long
(Estive tão longe por muito tempo) I keep dreaming you'll be with me
(Eu continuo sonhando que você estará comigo) And you'll never go
(E você nunca irá embora) Stop breathing if I don't see you anymore
(Paro de respirar se eu não te ver mais)
Lágrimas rolaram silenciosas pelo meu rosto, enquanto ainda nos olhávamos. Eu nem pensava mais nada, só o observava com a sensação de que tudo girava a minha volta. Era só ele que eu enxergava.
On my knees, I'll ask
(De joelhos, eu pedirei) Last chance for one last dance
(Uma última chance para uma última dança) 'Cause with you, I'd withstand
(Porque com você, eu resistiria a) All of hell to hold your hand
(Todo o inferno para segurar sua mão) I'd give it all
(Eu daria tudo) I'd give for us
(Eu daria tudo por nós) Give anything but I won't give up
(Dou qualquer coisa, mas eu não vou desistir) 'Cause you know, you know, you know
(Porque você sabe, você sabe, você sabe)
That I love you
(Que eu te amo) That I loved you all along
(Que eu te amei o tempo todo) I miss you
(Eu sinto sua falta) Been far away for far too long
(Estive tão longe por muito tempo) I keep dreaming you'll be with me
(Eu continuo sonhando que você estará comigo) And you'll never go
(E você nunca irá embora) Stop breathing if I don't see you anymore
(Paro de respirar se eu não te ver mais)
So far away (So far away)
(Tão longe -tão longe-) Been far away for far too long
(Estive tão longe por muito tempo) So far away (So far away)
(Tão longe -tão longe-) Been far away for far too long
(Estive tão longe por muito tempo)
But you know
(Mas você sabe) You know
(Você sabe) You know
(Você sabe)
I wanted
(Eu queria) I wanted you to stay
(Eu queria que você ficasse) ‘Cause I needed
(Porque eu precisava) I need to hear you say
(Eu preciso ouvir você dizer)
That I love you
(Que eu te amo) I loved you all along
(Eu te amei o tempo todo) And I forgive you
(E eu te perdôo) For been away for far too long
(Por ter ficado tão longe por muito tempo)
So keep breathing
(Então continue respirando) ‘Cause I'm not leaving you anymore
(Porque eu não vou mais te deixar) Believe and hold on to me, and never let me go
(Acredite e segure-se em mim, e nunca me deixe ir) Keep breathing
(Continue respirando) Cause I'm not leaving you anymore
(Porque eu não vou mais te deixar) Believe it, hold on to me and never let me go
(Acredite, segure-se em mim e nunca me deixe ir) (Keep breathing) Hold on to me and never let me go
(-Continue respirando- Segure-se em mim e nunca me deixe ir) (Keep breathing) Hold on to me and never let me go
(-Continue respirando- Segure-se em mim e nunca me deixe ir)
Os olhos e o sorriso dele eram hipnotizantes. Ele estava próximo o bastante para que eu sentisse seu perfume, que não mudara o cheiro. Quando a música terminou demorei alguns instantes para me lembrar de que ainda não estava disposta a voltar para ele... Bom, na verdade, eu queria, sempre quis, só estava em dúvida se isso seria bom ou não. Sofrer novamente não era uma opção. Sequei as últimas lágrimas dos meus olhos e finalmente consegui desviar meu olhar, mas meu coração não dava trégua alguma, pelo contrário, parecia bater cada vez mais rápido. Senti minhas mãos geladas.
- Vem... entra. – Eu disse indo até meu apartamento e abrindo a porta. Ele entrou depois de mim e eu fechei a porta. Ele tirou o violão e colocou-o no sofá, depois se virou e veio até próximo de mim.
- Esse lugar não mudou quase nada. – Ele disse olhando em volta e depois pousou seus olhos em mim, com um sorriso leve decorando seu rosto. – Gostou da música? Lembrei que você gostava e percebi que era perfeita para descrever o que eu sinto por você e o que eu penso sobre todo esse tempo em que não estamos mais juntos.
- Não começa , por favor. – Eu disse querendo fugir. Eu queria estar com ele, mas tinha medo; estávamos mais velhos e mais maduros agora, mas eu ainda tinha medo que ele fosse embora, que ele me deixasse.
- Fala sério ! O que eu faço para provar que eu te amo e te quero de volta de verdade? – Ele pareceu irritar-se um pouco considerando o tom de voz que passou a utilizar. – Se não gosta mais de mim me diz logo, só vou parar quando tiver certeza que fiz de tudo! Mas isso me agonia! Você está me ignorando totalmente, só que ai terminou seu namoro com o tal do e eu fiquei na esperança que fosse porque ainda gosta de mim, mas você fica agindo desse jei...
- EU GOSTO DE VOCÊ! EU TE AMO, SEU IMBECIL! – Explodi em gritos e ele pareceu assustar-se. Nunca havia gritado dessa forma com ele. - TERMINEI MESMO COM PORQUE VOCÊ NÃO SAI DA MINHA CABEÇA, MAS ACHA MESMO QUE É FÁCIL PARA MIM? VOCÊ SIMPLESMENTE ME DEIXOU ANTES, SEM UMA EXPLICAÇÃO REAL, PORQUE NÓS ESTÁVAMOS BEM E EU ESTAVA LOUCA POR VOCÊ. AGORA, DEPOIS DE TODO ESSE TEMPO, VOCÊ APARECE, CORRE ATRÁS DE MIM E ACHA MESMO QUE VOU ME ENTREGAR A VOCÊ DESSE JEITO? EU SOFRI DEMAIS… Eu… - Descarreguei quase tudo que tinha entalado em minha garganta em um tom extremamente alterado. Levei as mãos na cabeça, segurando meu cabelo, tentando ficar calma. Ele parecia realmente em estado de choque.
Então ele colocou a mão sobre o peito e resmungou algo como “Essa não”. Parecia estar sentindo dor e o sangue que havia subido fervendo em minha cabeça deu lugar a minha preocupação.
- ? – Perguntei com uma voz que ninguém diria ter alcançado o tom de estresse que há alguns segundos alcançou.
Ele fechou os olhos, torcendo a blusa sobre seu tórax. Corri até perto dele que já se agachava no chão.
- ! ! O QUE FOI? - Agora meu tom era de desespero.
Então ele desmaiou sobre meus braços me deixando ainda mais assustada. Eu não sabia o que fazer, estava totalmente em pânico. Mais por instinto do que por consciência, peguei o celular do bolso e disquei o número da emergência. Não sei nem como consegui passar o endereço.
A meu ver eles demoraram séculos para chegar, mas na verdade foram apenas quatro minutos, em que eu fiquei observando atentamente se ele continuava a respirar e se seu coração continuava a bater. Fiquei mais calma quando os enfermeiros chegaram e o colocaram na ambulância, me deixaram ir junto para o meu alívio. Observei fazerem o que era necessário para a sobrevivência de e colocar o aparelho para medir seus batimentos cardíacos, enquanto eu explicava o que ele havia sentido com mais calma do que imaginava que conseguiria.
Capítulo VII
Estando no hospital tive que esperar no hall de entrada enquanto ele era atendido. Liguei para ) e ela junto de logo apareceram, eu os abracei e só nesse momento percebi que tremia. pegou água com açúcar para que eu me acalmasse e se sentou ao meu lado.
Ficamos algum tempo sem notícias e eu contei o que havia acontecido a meus amigos, até que o médico veio até nós. Eu quase pulei do sofá quando o vi se aproximando, mas me controlei. Ele nos cumprimentou e perguntou o que éramos de , eu respondi que éramos amigos dele. O médico disse que precisaria vir alguém da família, pois iria ficar em observação durante aquele resto de dia e durante a noite. Nós garantimos que informaríamos os pais dele, de quem eu ainda tinha o número de telefone, pois de vez em quando conversava com a mãe dele, que era uma ótima pessoa. Porém eles moravam na cidade que meus pais também moravam, a alguns quilômetros de onde estávamos. Informei isso ao médico e ele disse que não tinha problema, o importante era que viesse alguém. Então ele começou a nos explicar o que havia acontecido com .
- Foi um problema de Hipertensão Arterial. - O médico disse – Essa doença causa elevados níveis de pressão sanguínea nas artérias, assim o coração precisa fazer um esforço maior do que o normal para fazer circular o sangue. Nas informações que recebi, consta que ele passou por uma situação de forte emoção e as emoções muito fortes desencadeiam reações no organismo, principalmente em uma pessoa que tem problemas com pressão arterial elevada ou com qualquer outro problema cardíaco; então em razão dele já possuir esse problema de Hipertensão a situação que ele passou afetou o coração, de forma que não funcionasse de maneira adequada. De qualquer maneira, ter dores no peito e desmaio pode significar que o quadro já está mais grave e algum órgão pode estar comprometido. O rapaz está bem, mas vai passar por alguns exames antes de ser liberado.
“Meu Deus” foi o que pensei quando o médico terminou. Senti-me culpada pelo que aconteceu, afinal foi eu quem causou a “emoção forte”. Eu nunca soube sobre esse problema dele e isso me preocupou, ainda mais depois de o médico ter dito que algum órgão poderia estar comprometido. Mas forcei-me a pensar positivo e pedi a Deus que não tivesse nada grave. O médico finalizou dizendo que ele já estava acordado e que poderíamos entrar um de cada vez para vê-lo antes que começassem os exames. ) sabia que eu era quem mais queria vê-lo.
- Vai lá , me dá seu celular que eu ligo para os pais dele enquanto isso. - Ela disse sorrindo.
- Obrigada. - Sorri de volta para ela e entreguei meu celular.
Acompanhei o médico até o quarto onde estava. O médico me deixou entrar e ficou para o lado de fora, encostando a porta. me encarou e sorriu. Estava com uma agulha ligada ao braço que provavelmente levava algum remédio para seu corpo. Aproximei-me e sentei ao seu lado. Segurei a mão que não estava com agulha. Ele apertou-a levemente.
- Você me deu um grande susto. - Eu disse em tom leve. Ele sorriu novamente. Eu abaixei minha cabeça. - Você nunca me falou que tem Hipertensão.
- É coisa pequena. - Ele disse despreocupado.
- Coisa pequena!? – Falei em tom de reprovação. - Você desmaiou de tanta dor! - Senti-me novamente culpada.
- Bom isso foi novo… - Ele disse rindo. – Não tinha sentido dor antes.
Ficamos em silêncio por algum tempo e eu abaixei minha cabeça incapaz de permanecer olhando-o.
- … - Comecei com mais culpa na voz do que eu queria transmitir. - Me desculpa. Eu não queria ter falado com você daquele jeito…
- Ei... – Ele disse soltando minha mão e erguendo minha cabeça em sua direção para que eu o olhasse. – Não precisa se desculpar. É normal eu ter um problema ou outro quando passo por situações que me afetam.
Ele sabia que eu estava me culpando internamente, mas o que me falou fez com que eu me sentisse melhor.
- Sabe... Nessas últimas semanas eu tenho corrido tanto atrás de você, mas... nunca me desculpei pelo que te fiz antes… - Ele disse pausadamente. Abri minha boca para falar que ele não precisava pedir desculpa, mas ele me interrompeu.
- Espera! - Ele continuou sem deixar que eu falasse. - Me desculpa. Sei que não tinha nada de errado entre nós. Fui imbecil de falar que não estava dando certo, porque isso era mentira. Mas foi a única coisa que encontrei a dizer para fugir do que eu sentia. Fiquei assustado por gostar tanto de uma garota e comecei a colocar em minha cabeça que isso me faria mal. Eu não sabia lidar com o sentimento. Mas acredite em mim, no tempo em que estive com a ) você, querendo eu ou não, vinha em minha cabeça, mas eu tive receio de voltar e querer fugir novamente, não queria que você ficasse mal por causa do meu “medo”. – Ele indicou aspas com os dedos. - E de uns tempos para cá perdemos quase totalmente o contato, mas quando eu te vi de novo no aeroporto, nós dois mais maduros, mais adultos, eu tive ainda mais certeza do que sinto. E decidi que não ia te deixar, não ia cometer o mesmo erro que cometi antes…
Ele fez uma pausa, mas continuou a me olhar. Minha garganta ardia por estar segurando o choro novamente. Então não consegui me impedir de sorrir, deixando que algumas lágrimas escorressem. Olhei para o lado, limpei as lágrimas que escorreram e depois voltei fixar seus olhos.
- Eu te amo tanto. - Algo que eu nunca havia dito a ele, exceto no momento anterior a vinda ao hospital. Nós não tínhamos esse costume antes.
- Eu amo você mais ainda. - Ele disse sorrindo. Inclinei-me para beijá-lo, mas parei quando já estava bem próxima a ele. Ele pareceu questionar-me com o olhar sobre o porquê da parada.
- Não quero que você desmaie de novo… - Eu disse sarcasticamente enquanto sorria. – Sabe? Emoções fortes. – Ele riu com gosto.
- Eu não me importo de ter ataques do coração por sua causa. - Ele disse estampando os dentes brancos com o sorriso.
- Seu tonto. - Eu disse rindo e o beijei.
Eu estava com uma saudade extrema daquele beijo, macio e carinhoso. Nos beijamos devagar e com intensidade, como se nunca fossemos parar. Não poderia descrever minha felicidade. Escutei alguém pigarrear às minhas costas. Interrompemos o beijo; encarou esse alguém atrás de mim e eu me virei para olhar. Era o médico. Então eu me levantei encabulada, porém feliz demais para realmente me preocupar.
- Desculpe, sei que meu tempo acabou. – Eu falei ao médico sem conseguir parar de sorrir. Olhei novamente para . - Eu volto quando puder.
Ele assentiu sorrindo para mim. Virei para o médico novamente e fui devagar em direção a porta.
- Com licença, acho que vou ali fora gritar de felicidade. – Eu disse quando passava pelo médico, ele ainda olhava de mim para com a expressão séria. Escutei rir abafadamente. Eu passei para o corredor e fechei a porta. - ISSO! - Eu gritei brevemente e escutei rir alto dentro do quarto.
- Psiu! - Uma enfermeira que passava apressada me advertiu fazendo “cara feia”.
- Desculpe. - Eu murmurei sorrindo. Então fui ao hall de entrada para procurar ) e seu noivo.
As coisas ficaram melhores do que nos sonhos depois disso. Eu e sabíamos como lidar um com o outro; uma briguinha ou outra, porém elas sempre terminavam em abraços ou beijos; nossa experiência em relação ao que aconteceu no passado foi suficiente para entendermos que tínhamos defeitos, mas perto do que sentimos um pelo outro eles nem valor tinham. Conciliamos nossos horários de trabalho e nossas vidas. Tudo era melhor quando eu estava com ele.
Encontrei com algumas vezes e ele viu que eu estava junto de , mas nunca foi mal educado, pelo contrário, sempre nos cumprimentava e parecia tranquilo com a situação. Às vezes eu ficava imaginando se ele não estaria na mesma situação em que eu estive enquanto namorava ; senti-me mal com isso até que eu finalmente o encontrei com outra garota e os dois pareciam felizes. Minha confirmação veio em um dia que parou para conversar enquanto entrávamos no elevador do prédio, como às vezes fazíamos brevemente.
- E ai ! – Ele falou animado e o cumprimentei.
- Como estão as coisas? – Perguntei a ele.
- Ótimas! Sabe... – Ele fez uma pausa me olhando com seu jeito simpático. – Lembra quando me disse que sabia que eu iria encontrar alguém que merecesse o amor que eu tenho a oferecer?
- Lembro. – Eu disse meio tensa, mas sorri, pois ele também estava sorrindo.
- Acho que tinha razão! – Ele disse animado. Depois pareceu assustado, como se tivesse dito algo errado. - Que dizer, - Ele balançou a cabeça timidamente. - não que você não merecesse, você é uma ótima pessoa! Mas eu quis dizer que talvez não fosse para ser com você.
Eu dei uma leve gargalhada. Eu não havia pensado que ele estava me desprezando, eu entendi o que ele quis dizer. Mas ele parecia estar com medo de ter dito algo que me magoasse. era um bom amigo.
- Não se preocupe, eu entendi o sentido. – Ri novamente. – E fico feliz por isso , você merece estar com alguém que te faça feliz.
- Nós merecemos. – Ele falou, mostrando que sabia que eu também estava feliz por ter .
- Sim, nós merecemos. – Concordei me sentindo realmente aliviada e feliz.
Tempo vai, tempo vem, até que eu e fomos padrinhos do casamento de e ); e um bom tempo mais tarde eles do nosso casamento.
Quando eu e meu marido saímos juntos da comemoração de casamento, eu ainda vestida de noiva e ele ainda com o terno, agora usando nossas alianças, símbolo de nossa união, ele disse algo olhando nos meus olhos, algo que nunca vou esquecer e que tenho a certeza que ele também não.
- É daqui até a eternidade. - Ele disse com o olhar fixo em mim. Eu sorri e ele me beijou.
Eu tinha certeza que aquela frase era real, eu sentia isso. O que Deus uniu nada separa. Confesso que com ele ao meu lado passei a acreditar na frase que parece tão irreal e impossível: “foram felizes para sempre".
FIM
Nota da beta: Psiu, encontrou algum erro nessa fic? Mande-me um e-mail ou
um tweet avisando! Ah, não esqueçam de deixar um recadinho,
a caixinha de comentários tá ali esperando! xx