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Quando alguém próximo de você morre, você muda. É algo inevitável e que você em percebe que aconteceu. Um dia quando olhar para trás e perceber como sua vida era e como sua vida está, você se dá conta de que mudou e que as coisas a partir da perda nunca mais foram as mesmas, você nunca mais foi a mesma e nunca voltará a ser. É como se uma parte fosse arrancada – literalmente pela dor da perda – mas de uma forma diferente, uma nova peça de encaixe é colocada onde você perdeu algo, essa peça não se fixa direito, mas querendo ou não, você tem que se acostumar com ela. Existem também alguns estágios que você passa sem nem se dar conta de que isso está acontecendo. São formas que sua mente usa para ajudar no enfrentamento da morte que acredite ou não: nunca vai ser completamente aceita por você. E existe mais uma coisa que é muito interessante sobre a morte. Não importa se você sabe que a morte existe e inevitavelmente vai chegar para cada um de nós, quando alguém próximo de você morre é impossível não iniciar dentro de si uma série de questionamentos sobre vida. É aí que todos os acontecimentos pós morte se ligam. Os questionamentos começam e você muda, você muda quem você era por medo de nunca se tornar quem sonhou ser. Você compara sua vida com a da pessoa que morreu se indagando se ela fez mesmo tudo aquilo que a fazia feliz, se ela fez sua vida valer a pena e baseado nisso você inconscientemente começa a aplicar mudanças a sua vida. Lembro que quando minha mãe morreu eu senti uma absurda tristeza. Uma parte de mim morreu com ela e eu não via mais sentido em viver, tanto que de uma forma inconsciente eu quase dei fim a minha vida. Lembro que quando fui morar com paul fui encaminhado à terapia e fiz isso por um grande período de tempo. Conforme eu ia melhorando eu ia me apegando a idéia de tudo o que minha mãe tinha feito em sua vida. Ela havia casado, criado família e por alguns anos de sua existência ela havia sido muito feliz e isso me conformou de alguma forma. Mas lembro também que conforme eu ia começando a melhorar a culpa surgia em mim de forma absurda, afinal, minha mãe tinha morrido eu não deveria ter o direito de ser feliz novamente. Me senti assim por um curto espaço de tempo, pois logo a culpa sumiu e no lugar de tudo entrou a saudade. Saudade de quem ela era, de quem nós éramos juntos, saudade do seu sorriso. No lugar da enorme tristeza imperou a saudade que quando atingia um alto índice, dava espaço pra dor que era sempre forte e aguda, mas que também não demorava muito a passar. Era como se a peça de encaixe tivesse soltado e machucado, mas aos poucos ela ia voltando ao seu lugar. Dentre todos os estágios que passei com a morte da minha mãe, negação foi o maior e mais duradouro estágio que vivi. Foram três longos e devastadores meses até que eu finalmente entendesse que ela havia partido e nada do que eu fizesse poderia mudar isso. Mas não havia acontecido isso com Paul. Acredito que sempre reagiremos diferentes a cada situação de perda em nossa vida, afinal nenhuma delas é igual. E com Paul foi tudo diferente. Com minha mãe eu esperava e sabia que ia acontecer. Com ele foi de repente. Abrupto. Repentino. Injusto. Não houve negação da minha parte ao receber a notícia da sua morte, tudo o que eu sentia era uma enorme quantidade de raiva. Raiva porque eu não conseguia evitar comparar e pensar em tudo o que ele ainda tinha pra viver e fazer. Raiva por seus planos que foram interrompidos. Raiva por sua morte tão prematura. Eu sentia a raiva corroendo meu peito a cada segundo dentro daquele quarto silencioso em que o som do choro de era o único que preenchia esporadicamente as lacunas do silêncio gritante. Eu sentia raiva por querer me sentir bem e ajudar meus amigos a passarem por aquilo que eu ja tinha passado e sabia bem como ocorria o processo.
A raiva que eu pensei que iria passar pra dar lugar a tristeza não passou, ela continuou, embora tivesse amenizado. Ela estava ali, me deixando com dificuldade de pensar, dormir, de sentir, de saber o que fazer. A grande realidade era que eu estava sem rumo, mas ao mesmo tempo tentando me fazer um rumo para ajudar aqueles ao meu redor que estavam precisando de mim.
Ir para a escola estava sendo um martírio. A mesa não era a mesma e não era a falta de Paul que imperava ali, ele já não pertencia àquele lugar a séculos. A falta de e sim, imperava ali. A primeira se negava a ir à escola, falar com alguém e até mesmo sair do seu quarto. Já havia ido inúmeras vezes até a sua casa mas fui ignorado em todas elas. Ela não queria minha ajuda. estava em casa por estar de atestado médico devido a cirurgia. Sem as duas, a mesa ficava silenciosa e estranhamente vazia e esquisita. Estar em casa também não era mais a mesma coisa e ali sim, a falta de Paul era gritante e sufocante. Por motivos como aquele que eu havia deixado minha casa quando minha mãe morreu. Eu não acreditava que eu seria capaz de lidar com a dor e o caos que minha vida tinha se tornado dentro de um lugar tão cheio de boas lembranças e por alguns milésimos de segundos quando eu recebi a notícia da morte de Paul eu pensei em fazer a mesma coisa, mas dessa vez eu não estava sozinho. Eu não poderia deixar sozinha ali não pelo sentimento que eu mantinha por ela, mas pelo amor que eu mantinha por Paul. Ele não havia me deixado sozinho, então por amor à ele eu não a deixaria sozinha, pois sei que ele iria querer que alguém cuidasse dela. Pela primeira vez eu via as coisas de uma forma bem diferente e me sentia bem culpado pelo que eu havia feito meus amigos passarem três anos atrás. E dessa vez eu havia me prometido que não iria fugir, eu iria enfrentar meus medos e angústias, mesmo que isso significasse entrar todos os dias naquele apartamento e viver como se as coisas pudessem voltar ao normal, como se a vida pudesse seguir seu curso sem que nada tivesse acontecido, porque ela seguiria. Logo, logo as pessoas parariam de perguntar sobre Paul e sobre como os mais próximos dele estariam se sentindo. As pessoas esqueceriam de sua morte e passariam a agir como se devêssemos esquecer também. Aquele era o momento em que a dor se tornava mais aguda, quando todos pareciam esquecer menos você. O barulho de um algo caindo no chão tirou minha mente de seus devaneios. O barulho havia vindo do quarto ao lado e eu levantei depressa para ver se estava bem. Bati na porta do seu quarto duas vezes e como não ouvi resposta abri, apenas para encontrar o mesmo vazio e a porta do fechada e a luz acesa.

-, tá tudo bem? – Chamei batendo na porta. O barulho do chuveiro podia ser ouvido e por cima dele consegui ouvir a voz de .

-Preciso de ajuda, mas eu estou pelada. – Rodei meus olhos pelo quarto para encontrar a porta de seu guarda-roupa aberta. Peguei ali uma toalha e rodei a maçaneta da porta fechando os olhos antes de entrar. Eu conhecia bem aquele banheiro, afinal, ele havia sido meu por três anos, então não foi difícil tatear as cegas a parede e chegar até o Box, desligar o chuveiro e estender a toalha pra .

-Pode abrir os olhos – sua voz estava baixa e constrangida e quando eu a encarei uma enorme e absurda onda de sentimentos tomou conta de mim. Era a primeira vez que nos encarávamos de verdade desde que havíamos nos beijado e aquela simples lembrança fez meu rosto esquentar.

-Tá tudo bem? – agradeci quando ela desviou o olhar, pois eu pude continuar olhando pra ela sem me sentir envergonhado.

-Eu acabei escorregando por estar com um pé só – ela falou olhando para baixo apertando a toalha ao corpo.

-Vem cá – Me abaixei e passei meus braços por seus braços e pernas antes de ergue-la.

-Minha bunda ficou de fora – Ela falou constrangida e eu acabei soltando uma risada nasalada.

-Pode ficar tranquila que eu não estou vendo. – Tentei colocar graça na voz e não transparecer o quanto eu também estava sem graça. Só agora minha mente trabalhava sobre a questão de como seriam as coisas entre nós dali pra frente.

-Você tá com dor? Acha que machucou alguma coisa? Quer ir ao hospital? – Perguntei depois de coloca-la sobre sua cama e observei ela se prender mais ainda a toalha.

-Tô, mas é só minha perna. Tá doendo demais, mas eu acho que é porque deixei de tomar duas doses do analgésico e do anti-inflamatório por estar dormindo. Eu tomei agora e daqui a pouco deve começar a fazer efeito, se não fizer eu vou ao hospital. – Ela terminou a frase olhando em meus olhos e eu me senti um pouco mais aliviado, embora estranho. Muitas coisas estavam em aberto entre nós. Droga.

-Onde eu pego uma roupa pra você?

-Tem uma peça que eu separei ali no banheiro. – ela jogou os cabelos pra trás e eu fui até o local buscar a roupa.

-Quer ajuda? Eu fecho o olho. Juro que não quero me aproveitar do seu corpo. – A frase "seu irmão me mataria por isso" subiu na minha garganta mas eu me obriguei a engoli-la a seco. Paul não poderia me matar porque ele estava morto.

-Eu nunca pensaria isso de você. Pelo menos não mais – Ela tentou ser irônica – E eu preciso de ajuda sim. – Ela mordeu os lábios. – Me ajude a levantar - Acenei positivamente com a cabeça, entendendo à ela meus braços para que pudesse se apoiar. Me virei de costas no momento em que ela ficou em pé e logo em seguida senti a toalha cair aos meus pés. me usava de apoio para que pudesse vestir suas roupas e eu me peguei pensando quando antigamente, eu imaginaria que puderiamos viver essa situação.

- Pode se virar – Fiz o que ela pediu e percebi que estávamos muito próximos, mas nada parece estranho. A proximidade me deu a oportunidade de olhar melhor seu rosto emagrecido, ver suas bolsas embaixo dos olhos, seu sorriso que não tomava mais seu rosto todo e agora era triste. Senti vontade de afagar seu rosto, beijar sua pele e abraça-la com toda força do mundo apenas para tentar fazer com que aquele olhar desse lugar às iris brilhosas que eu sempre admirava. Tudo nela exalava sensibilidade, mas ainda assim ela me parecia firme. Firme de uma forma que eu nunca a tinha visto antes. E absurdamente linda, o que já era seu normal. – Pode me ajudar a ir pra sala? Preciso de um lugar que não seja meu quarto. E pelo silencio daquela TV, acredito que você precisa do mesmo. – Ela quebrou o silêncio pegando em meu braço pra que pudesse se apoiar em mim mas eu novamente passei meus braços por seu corpo erguendo-a do chão.

-Não precisa ser assim - ela revirou os olhos e reclamou que estava com a perna quebrada e não aleijada. Apenas ignorei, porque sabia que no fundo isso fazia com que ela se sentisse segura e isso era o que eu mais queria. Depois de nos posicionarmos no sofá veio o silêncio. Eu não sabia o que falar ou se deveria falar,mas pra minha surpresa ela que deu continuidade aos assuntos.

-TV ou netflix?

-Você ainda pergunta? – Ela tentou sorrir de lado e então conectamos a Tv ao Netflix e optamos por ver Friends. Decidimos também pedir algo de comer e optamos por comida japonesa, já que ela não podia comer nada gorduroso por causa da perna. Comemos e ficamos em silêncio e embora olhassemos para a TV nenhum de nós realmente prestava a atenção ao que estava se passando ali. A mente dela assim como a minha parecia a milhas de distancia daquele apartamento pequeno. Minha mente agora vagava não só na nossa perda, mas nas nossas questões em aberto. Apenas lembrar que eu havia finalmente dito a ela tudo o que eu sentia e que ela não havia sido muito receptiva a isso me deixava extremamente sem graça e eu sentia meu rosto esquentar por estar a meio metro de distância e saber que ela sabia exatamente como eu me sentia.

-Como vão ser as coisas daqui pra frente? Como funciona a vida agora? - Ela perguntou depois de um longo período de silêncio e eu sabia exatamente o que ela estava querendo dizer. Embora eu já houvesse passado por aquilo todo aquele processo era novo pra mim, dessa vez eu não sentia tristeza, eu sentia raiva.

- Primeiro você vai tentar se prender a todas as formas e possibilidades de que isso realmente não está acontecendo. – Eu encarei a foto de Paul do outro lado da sala e me foquei no que eu senti quando minha mãe morreu, não na raiva que eu sentia naquele momento ao encarar o seu sorriso naquela foto. - Você vai ter a sensação de que você está em um filme ou em uma brincadeira de muito mau gosto e que alguém realmente tá tentando gozar com a sua cara. E então vai chegar um momento em que você vai perceber que não é um filme ou uma brincadeira, que isso realmente está acontecendo e ... e isso vai acabar com você. – Eu me virei para olhá-la e inevitavelmente me lembrei de três anos atrás, quando eu me toquei que se eu tivesse continuado da forma que eu estava minha vida iria acabar. – Você vai tentar arrumar maneiras de desacreditar ou fugir da ideia de que isso está acontecendo, mas chega um momento em que se torna inevitável e a dor é tão forte, tão forte que a sensação de que você tem é de que você não consegue respirar e isso causa tanta raiva. – Senti minha voz embargar e engoli a vontade de chorar que subia pela garganta. Não era dor que eu sentia. - A dor e a raiva parecem ser uma só dentro de você e a sensação é que parece que isso nunca vai acabar e de certa forma nunca acaba. A raiva talvez, mas a dor vai estar sempre aqui - coloquei a mão em meu peito - mas com o tempo ela vai diminuindo. Você vai perceber que se a pessoa estivesse viva ela não iria querer isso pra você, e a sua única alternativa vai ser se apegar a essa ideia com todas as suas forças e todos os dias pra continuar. Às vezes a dor vai voltar com uma intensidade absurda, mas uma hora ela vai diminuir e você vai conseguir seguir em frente. Ou pelo menos tentar. É um processo diário. A culpa também vai estar aqui e junto com ela a absurda vontade de viver tudo aquilo que a pessoa não viveu. As coisas vão ser bem esquisitas por um bom tempo e eu não sei o que acontece depois, porque quando eu achei que eu estava chegando nessa fase, parece que a vida apertou reset e eu to vivendo tudo de novo. Mas ao contrário do que os outros dizem, os primeiros dias não são os mais difíceis, eles são os mais fáceis. Fica mais difícil depois, quando a sua ficha começa a cair de que aquela pessoa nunca mais vai voltar, você realmente nunca mais vai vê-la. Quando as pessoas começam a parar de te dar os pêsames, porque pra elas já acabou esse tempo. A pior parte de todas é quando parece que todo mundo já superou e você é a única pessoa que continua a viver aquilo.– Ela me encarava séria e seus olhos estavam marejados

-Nós vamos conseguir passar por isso, certo? – A pergunta dela soou como um apelo e eu me vi segurando em sua mão, principalmente pelo uso da palavra nós.

-Sim, nós vamos. – Ela sorriu mordendo os lábios em seguida.

-Como você está, ? – Seu olhar era tão sincero e preocupado que por um momento quase esqueci de responder a sua pergunta e fiquei ali, parado e encarando-a.

-Uma merda – Eu sorri e ela piscou lentamente. Eu não queria falar de mim, eu já havia passado por aquilo antes e sabia que poderia lidar com tudo o que estava acontecendo, contanto que eu fizesse a raiva passar. Mas pra ela era novo e eu sabia como era esse sentimento – Você tomou os analgésicos que horas? Você precisa ficar de olho pra tomar certinho e você tomou com o estômago vazio? Faz mal – Ela acenou com a cabeça.

-Para de cuidar de mim. – Ela me olhou de uma forma diferente. – Eu estou bem. Eu estava perguntando de você.

-Alguém precisa fazer isso, então deixa fazer. – Fui sincero em minha resposta.

-Alguém também precisa cuidar de você, então me deixa fazer isso. – Sua frase aqueceu meu coração de uma forma absurda e eu não consegui evitar sorrir principalmente depois de ver seu rosto ficar vermelho. - Nós cuidaremos um do outro, eu sei que Paul iria gostar disso. – Ela voltou a olhar pra frente. – Só por favor, não some.

-Eu não vou. – Ela me encarou quando eu falei talvez pra ter certeza de que eu estava sendo sincero – Eu prometo. – Apertei mais ainda sua mão que estava entrelaçada à minha. – Eu não vou a lugar nenhum. - Ela acenou com a cabeça.

-Sabe de uma coisa? Eu nunca soube como vocês se conheceram, como aconteceu isso?

- Nós nos conhecemos na escola quando ele me defendeu de um garoto do ano dele que queria me bater porque a menina que ele namorava terminou com ele e ele acreditava que eu era o motivo – Sorri lembrando. –O garoto era atleta, todo parrudo e veio pra cima de mim depois da aula com tudo querendo me enfiar a porrada e eu nem sabia o que tinha acontecido. O Paul achou covardia esse negócio de bater primeiro e conversar depois e se colocou no meio me defendendo, mesmo não me conhecendo. Acho que ele achou injusta a desvantagem de tamanho. Eu era bem mais magro do que eu sou hoje em dia e não sabia nem bater em uma mosca, coisa que eu ainda não sei. O cara conhecia Paul a bastante tempo então resolveu deixar a história de lado, daí em diante nos tornamos amigos. Ele não saia da minha casa, completamente morava lá – Fechei os olhos com as lembranças não só dele. – ele sempre pedia a minha mãe pra inventar alguma coisa na cozinha, mas ela era péssima em qualquer coisa que envolvesse o fogão, então sempre terminávamos o dia comendo pizza e vendo algum programa besta da Discovery. As vezes ela acertava fazer biscoitos, mas eles sempre saiam queimados. – Sorri de verdade com a lembrança que já estava quase esquecida na minha mente. me encarava atenta e isso fazia meu rosto esquentar – as vezes nós íamos até a outra cidade visitar a tia Rachel, ela sempre nos dava camisinhas. Acho que ela era um pouco responsável pelo lado puta dele. – gargalhou com a informação. –Quando minha mãe ficou doente, o Paul meio que se mudou de verdade lá pra casa pra me ajudar com ela – eu senti minha garganta começar a se fechar ao tocar no assunto.

-Foi câncer né? - ela perguntou delicada e eu voltei a olhar pra cima, pro teto sentindo a raiva dar lugar a dor.

- Sim. Começou no útero e eles fizeram uma histerectomia e ficou tudo bem, mas um tempo depois ela começou a se sentir mal de novo e quando foi fazer exames descobriram que o câncer tinha dado metástase e alcançado o fígado e alguns outros órgãos. Ela já estava entrando em estágio terminal quando descobrimos. Como nós já sabíamos que não tinha mais jeito eu tentei aproveitar o Máximo possível de tempo com ela e a fazer aproveitar o pouco de tempo que ainda tinha. – Pisquei rápido tentando espalhar as lágrimas que começavam a se acumular em meus olhos – Ela amava ir pra estação de metrô e ficar sentada olhando as pessoas passarem e imaginando sobre suas vidas. – Eu ri e também. – Ela era uma pessoa estranha. Mãe, não me ouça falar isso! – Eu disse olhando pra cima – Mas ela era maravilhosa. Uma ótima mãe, com todos os defeitos e qualidades de qualquer mãe. Eu larguei a escola pra poder cuidar dela porque eu não queria deixá-la com ninguém, porque eu sabia que ninguém ia cuidar dela que nem eu. Então o Paul veio me ajudar, porque as coisas foram ficando mais difíceis. Minha mãe perdeu o cabelo, e o Paul e eu raspamos a cabeça pra ela não ficar tão triste. No final ela já não andava mais, mal falava, ela simplesmente não era mais a minha mãe, ela era só a doença. – Foi impossível conter a lagrima de saudade que escorreu pelo meu peito. Há muito tempo eu nem falava sobre ela e só agora eu me dava conta do quanto eu havia sentido falta disso.

- Por isso que você não quis voltar pra casa?

-Sim. Era demais pra minha cabeça. Ela morreu do meu lado enquanto eu segurava sua mão. Os médicos me tiraram do quarto para uma tentativa de ressuscitação, mas não deu certo. Quando eles vieram me dar a notícia oficialmente eu surtei. Eu sabia que ela tinha morrido, eu estava segurando sua mão, eu vi sua ultima respiração, seu corpo ficar imóvel, a maquina parar de registrar batimentos, mas eu não conseguia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, sabe? Eu perdi completamente meu chão, mesmo já sabendo que aquilo aconteceria. Eu não quis voltar pra escola e nem pra casa e sumi. Eu fiquei mais de um mês fora, indo de bar em bar, dormindo no carro ou na rua, bebendo, fumando e me drogando até que eu fui parar no hospital em coma alcoólico. Eu lembro que quando eu acordei no hospital a primeira coisa que eu vi foi Paul e ele estava com uma cara de mal tão grande que eu não consegui falar nada. Eu sabia que eu estava errado, que eu poderia ter sido preso ou morrido em uma das minhas inconsequências e que ele iria brigar muito comigo, mas depois de algum tempo só me olhando ele me abraçou e começou a chorar e naquele momento eu pensei que não era aquilo que minha mãe iria querer pra mim. Mas eu também não queria voltar pra casa, então o Paul alugou esse apartamento e me trouxe pra morar com ele. Seu irmão foi como um irmão pra mim, ele me ajudou e esteve do meu lado sempre.

- O Paul sempre teve esse dom. Ele sempre cuidou de mim. – Ela fez um barulho com a boca e seu queixo ficou rígido –Eu vou sentir muita falta disso. - ela voltou a olhar a TV.

-, eu sei que esse apartamento era do Paul e que eu morava com ele e quando você veio pra cá você veio pra morar com ele e não com o melhor amigo mala, então eu vou começar a procurar algum lugar pra mim.

-Do que você está falando? – Ela perguntou séria. Parecendo não entender o que eu havia dito.

- Eu morava com o Paul, . Ele não está mais aqui. É hora de me mudar. - Eu tentei entender a expressão que se apossou do seu rosto.

-Eu não vou a lugar nenhum, lembra? Você acabou de me prometer. – Ela falou como se fosse uma coisa óbvia –Essa é sua casa.

- Você tem certeza disso? Mudar pra mim não seria um problema . Não precisa ficar com remorso e achar que está me expulsando ou me deixando sem teto.

- Eu quero que você fique .– Ela falou firme – Você se mudar não é nem um hipótese a ser calculada. Essa é a sua casa, assim como também é a minha e o Paul não estar mais aqui não muda nada disso.

-Ok. – Eu concordei com a cabeça e a campainha tocou. Recebemos, comemos e conversamos por horas a fio, sobre coisas aleatórias como filmes, séries e livros até que eu percebi que seus olhos começaram a ficar mais pesados e sua fala mais lenta. Nesse momento, já estávamos deitados e com a televisão ligada no mudo em algum canal qualquer.

-Você quer ir pro seu quarto? – Perguntei e ela acenou negativamente com a cabeça.

-Não, quero ficar aqui. Na realidade eu não queria nem dormir – Sua piscada foi mais lenta ainda dessa vez.

-Você precisa dormir, você está machucada precisa melhorar logo. – Ela piscou e seus olhos não se abriram dessa vez.

-Nós dois estamos e nós dois precisamos – Ela não disse mais nada, apenas se virou de lado se acomodando e caindo no sono. Eu desliguei a luz e fiquei ali no escuro pensando em todas as lembranças que eu havia despertado com aquela conversa e no meio de pensamentos, emoções e sensações eu finalmente também apaguei.




Eu Olhava pro telefone buscando em mim coragem de ligar pra e perguntar como ela estava, mas eu não encontrava essa coragem em mim,ou em nada que eu pudesse procurar na minha mente. Apenas pensar em falar com ela fazia meu estômago afundar dentro de mim, pois me fazia lembrar que minha covardia tinha tirado dela a oportunidade de continuar com Paul, mesmo sabendo que eu não havia planejado nada daquilo. Minha mente vagava por horas nos mares de “e sés” sobre como todos estariam agora caso o acidente não tivesse acontecido e eu pensava muito em como e eu estaríamos, como estaria nossa relação, como estaria minha atração por ele. Eu me perguntava e criava histórias mirabolantes na minha mente de tudo o que poderia estar acontecendo conosco, da felicidade que Paul poderia estar vivendo. Meu coração doía com as imagens que minha mente criava do sorriso do meu irmão e com o choque da realidade de que eu nunca mais teria a oportunidade de presenciar aquilo de novo.

-Hey – abriu a porta da sala chegando da escola, jogou a mochila ao meu lado e se sentou na poltrona do outro lado da sala. Seu sorriso aberto acabou com toda minha distração. Todas as vezes que eu olhava pra ele eu começava a pensar em como eu havia tirado coragem de mim para continuar encarando-o mesmo depois de tudo o que tinha acontecido e eu havia passado a admirá-lo mais ainda por não estar me evitando ou com raiva de mim, ele tinha todo o direito de estar dessa forma, mas ele não estava. Ele estava preocupado e cuidando de mim e eu fazia todo o esforço do mundo para corresponder da mesma forma.

- Você pretende sair dessa sala em algum momento, ou vai fazer dela o seu novo quarto? – Ele abriu os braços jogando-os no encosto do sofá e jogou a cabeça pra trás, fechando os olhos. A sala havia passado a ser inconscientemente o “nosso lugar”. chegava da escola e me passava as matérias que eu estava perdendo, depois por ali mesmo comíamos, conversávamos e no final do dia sempre pegávamos no sono enquanto víamos algumas coisas. ia à escola, mas na maioria dos dias ele voltava cedo ou saia de casa tarde. Seus olhos estavam com bolsas profundas e ele parecia estar exausto. Diversas vezes eu acordava no meio da noite e percebia que ele estava acordado. Eu não falava nada, apenas observava seu rosto que parecia absorto em pensamentos, fazendo questão de não ser notada e nunca fui. Era impossível negar que minha atração por ele havia crescido. E eu não saberia explicar se isso se devia ao fato dele estar sendo tão cuidadoso ou por todas as outras coisas que haviam acontecido. Eu era a bendita garota que ele gostava e isso dava uma sensação boa e ruim ao mesmo tempo.

– Talvez – respondi finalmente deixando o telefone de lado. - Você tem falado com a ?

-Não – Ele abriu os olhos e ergueu a cabeça. – ela continua não querendo falar com ninguém. Eu fui lá algumas vezes mas ela não me recebeu então eu resolvi respeitar esse momento dela. Da mesma forma que em que muitas vezes ela respeitou o meu. – Ele olhava pro nada e eu detestava o fato de que estava me acostumando com aquele olhar. As vezes eu conseguia identificar nele o desespero por estar dentro daquela casa tão cheia de lembranças. O que para mim era bom, para ele não era.

-Eu queria sair um pouco antes de voltar pra escola. Espairecer um pouco a cabeça, esquecer um pouco de tudo o que está acontecendo. Sei lá. Sumir dessa realidade por alguns dias. – Eu me coloquei na mesma posição que ele: com os pés apoiados na mesinha de centro,com os braços abertos no encosto e a cabeça jogada pra trás – Você também precisa sair um pouco dessa casa, . Ficar dentro dela pode até fazer bem pra mim, mas não faz pra você. Você não precisa ficar comigo o tempo todo. – Por mais que grande parte, na realidade acho que tudo em mim não queria que ele se afastasse, eu me sentia bem com sua voz, seu sorriso, ou sua simples presença em silêncio e eu não queria que de forma alguma ele se afastasse de mim. Eu me sentia bem com ele. Meus pensamentos pareciam ficar menos tristes quando ele estava ao meu redor. Eu gostava da proximidade que estávamos desenvolvendo nos últimos dias, havia me dado uma nova força, força essa que eu estava desacreditada de existir. Toda essa proximidade e atração me lembrava do motivo que havia levado nossa vida ao patamar que ela estava, e seria puro egoísmo da minha parte deixar tantas coisas em aberto entre nós sem lhe dar uma luz do que poderia acontecer dali pra frente. Eu deveria deixar de ser covarde e enfrentar de frente toda a minha situação não resolvida com . Eu devia isso à Paul.

-Eu estou bem. – Ele disse com um sorriso carinhoso nos lábios e eu senti vontade de acariciar o seu rosto. Por vezes quando eu acordava e percebia que ele ainda não tinha conseguido dormir eu me imaginava acariciando seus cabelos para tentar ajudá-lo a pegar no sono. Eu também ficava imaginando nosso beijo e como eu tinha vontade de repeti-lo e como eu queria sentir aquela sensação boa em meu peito de novo. Na realidade eu ficava imaginando se seria possível me sentir feliz que nem eu me senti por aqueles breves segundos em seus braços.

- Nenhum de nós está. – Eu suspirei alto tentando afastar tais pensamentos da minha cabeça.

-Não precisa se preocupar comigo, eu já disse isso. – Ele voltou a dizer e me encarou dessa vez. Uma das coisas que havia me chamado a atenção em desde que começamos a nos aproximar, era o fato de que ele sempre olhava em meus olhos. Isso sempre me mostrava o quanto ele estava tentando ser sincero comigo.

-Sim, eu me preocupo. Da mesma forma que Paul se preocupava da mesma forma que eu sei que todos aqueles que estão ao seu redor se preocupam com você. - Ele continuou com o mesmo sorriso no rosto e eu decidi que aquele deveria ser o momento em que deveríamos conversar. Uma das coisas que Paul gostaria de ver era eu resolvendo meus problemas mal resolvidos.

-Você não precisa.

-Sim, eu preciso. Da mesma forma que precisamos conversar. – Eu olhei pra baixo já sentindo meu rosto começar a esquentar e me ajeitei no sofá, sentando ereta. Meu coração havia se acelerado e minhas mãos começaram a suar. - Nós temos algumas coisas que acabaram ficando em aberto depois daquela noite e

-, nós não precisamos falar sobre isso – Ele havia ficado totalmente sem graça.

-Mas nós precisamos. Na realidade eu preciso falar e se eu não falar agora acho que nunca vou conseguir falar – mordi meus lábios e comecei a estalar meus dedos e ele ficou em silêncio me encarando. Olhei em seus olhos e nas inúmeras sensações que aquele olhar andava me causando nos últimos dias. Das sensações boas que por diversas vezes me faziam esquecer as coisas ruins que estavam acontecendo e não era justo deixá-lo sem nenhuma luz. Se eu queria cuidar dele da mesma forma que ele estava cuidando de mim, eu deveria preservá-lo e não magoa-lo da mesma forma que eu não queria ser magoada. Eu deveria ser sincera com ele, da mesma forma que ele estava sempre sendo sincero comigo. – Bom, vamos lá. Você disse que gostava de mim e isso me apavorou. De uma forma boa e ruim ao mesmo tempo, porque , você é um cara incrível! De verdade e eu aprendi a gostar de você e a te admirar, mas eu tenho uma bagagem que eu ainda insisto em carregar comigo e eu acredito que isso pode ser prejudicial se nos envolvermos. Eu amo essa amizade que estamos desenvolvendo e eu não sei se eu estou preparada a arriscá-la sabendo que você tem um sentimento e eu sinto uma atração forte que eu não sei descrever muito bem como é. Meu último relacionamento durou dois anos e eu saí muito magoada dele e eu não sei se eu me sinto preparada pra entrar em outro agora, e eu sei que você não me pediu em namoro você só disse que gostava de mim, mas te conheço a tempo o suficiente pra saber que isso não significa só se pegar por aí. – Ele abriu um sorriso fofo e xoxo ao mesmo tempo. Talvez feliz por saber que eu conhecia suas intenções e chateado por não ser positiva em relação à elas. – Eu não me sinto emocionalmente preparada para envolver mais alguém na minha bagunça, principalmente um alguém que mora comigo, e agora com tudo o que aconteceu então. – Eu estava me abrindo com de uma forma que eu não tinha nem me aberto com Paul. Eu tentava ser o mais sincera possível. – O que não significa que eu não me sinta atraída por você, porque eu me sinto. Não vou mentir sobre isso. – Eu senti meu rosto esquentar muito, principalmente depois do sorriso ladino que ele não conseguiu disfarçar. - Aquele dia foi ótimo ,mas existe um sentimento envolvido em tudo isso e a última coisa que eu quero é te magoar de alguma forma, porque mesmo sem querer você passou a ser uma pessoa importante pra mim. – O sorriso continuava ali em seu rosto, sem aparecer completamente e também sem estar disfarçado. Ele me olhava da forma mais carinhosa que ele já havia me olhado na vida e isso era bom e ruim. Bom porque me confortava saber que existia alguém que me olhasse daquele jeito e ruim, porque se ele continuasse a fazer aquilo por mais tempo eu não sei se seria capaz de resistir.

-Eu realmente não esperava ouvir nada disso. – Seu sorriso finalmente ganhou todo o rosto. – E a sua sinceridade me deixa muito feliz. O fato de gostar de você e vivermos na mesma casa não significa que eu vá fazer as coisas ficarem estranhas e te cercar por todo tempo como se você devesse me dar uma chance. Eu não vou evitar me sentir da forma que eu sinto, mas eu também não vou te forçar ou tentar fazer você se sentir do mesmo jeito. Eu só preciso que você saiba que eu juro que nunca vou tomar nenhuma atitude a não ser que você diga que sim. Eu prometo. – A forma que ele falava fazia com que meu carinho por ele só aumentasse. – Agora vamos mudar de assunto antes que a gente fique constrangido demais para continuar uma conversa. – Eu Acabei rindo com a sua frase e me virando novamente pra frente e deixando meus olhos pararem em um porta retrato de Paul, onde ele ria abertamente em uma foto com uma bandeira dos EUA erguida. Aquela havia sido sua primeira viagem para fora do país e eu lembrava da felicidade dele por isso.

-Paul amava viajar. – Eu disse ainda encarando a foto e consequentemente fez o mesmo acompanhando meu raciocínio.

-Sim. Ele sempre ficava planejando umas coisas loucas e me propondo várias ideias malucas de viagem. Ele tinha uma filosofia que se tudo estivesse desmoronando, você deveria pegar um globo, girar e viajar pro primeiro lugar que seu dedo apontasse, sem medo de nada. Só pra sentir a adrenalina de estar vivo correndo nas suas veias.

-E ele ainda dizia: dane-se dinheiro. – Eu fechei os olhos lembrando o meu irmão falando isso comigo assim que ele foi me buscar para morar com ele. -E ele nunca teve a oportunidade de fazer isso, É incrível como não temos controle sobre nada e não sabemos o que pode acontecer a qualquer momento- me encarou e acredito que nossos pensamentos se cruzaram naquele momento.

-Você teria coragem? – Meu coração se acelerou com a ideia. – Você está de licença e só volta pra escola em alguns dias, eu não me importo de faltar e também tenho bastante dinheiro guardado. A gente vai, passa um dia e volta. Não precisamos fazer muita coisa. – Ele continuou fazendo.

-A gente só vive aquilo que Paul sempre quis viver e não teve a oportunidade. – Eu sorri, sentindo meus olhos marejarem. Eu havia prometido isso à ele quando joguei suas cinzas ao vento, que eu nunca mais deixaria as oportunidades passarem por mim. E eu não deixaria, a partir de sua morte eu estaria me apegando a todas as formas de viver como uma forma de honrar sua breve vida, Mesmo que cada movimento me doesse como se estivessem me arrancando a carne – Eu topo. - abriu um sorriso maior e se levantou quase que correndo e pegando um globo que havia ali na estante. Ele colocou o globo entre nós dois e me olhou com os olhos brilhando.

-Você tem certeza disso? - Ele perguntou e eu acenei com a cabeça.

-A vida é muito curta pra não cometermos nenhuma loucura. – Ele sorriu. Aquela era uma típica frase de Paul.

- Você aponta com o dedo e eu giro a bola, pode ser? – Acenei novamente com a cabeça e ergui o dedo encostando no globo a minha frente. – Fecha os olhos. – Eu fiz o que ele pedia e então senti o globo rodar em volta do meu dedo até que eu o parei. Uma sensação estranha de excitação percorria meu corpo, era medo e vontade ao mesmo tempo. Medo de sair de dentro daquela casa e encarar o mundo sem Paul, medo de me movimentar, de me arriscar, de fazer, de viver. Mas eu não poderia deixar nenhum medo me paralisar mais, pois meu medo idiota da vida havia tirado meu irmão de mim. Abri os olhos e olhei pro local onde meu dedo apontava e abri um breve sorriso, ainda que triste por não ter Paul pra dividir aquela alegria momentânea de cometer uma loucura.

-Pode ir arrumar suas malas, estamos indo pro Brasil.

2


)

Estávamos cometendo uma loucura!
Após viagem decidida e mochilas prontas estávamos a caminho do Brasil com um sorriso no rosto e o coração acelerado.
O que estávamos fazendo era uma loucura total e idiota, mas a simples ideia de sair de dentro daquele apartamento e ir a algum lugar onde a presença de Paul não estivesse tão viva me dava uma certa sensação de alívio. Alívio pra respirar e não ser sufocado com aquela raiva horrível que tomava conta do meu peito.
e eu havíamos estipulado um plano: assistir a um único pôr do sol e voltarmos cedo para casa no dia seguinte. A forma que falávamos dava a entender que estávamos indo ali, do outro lado da cidade o que era engraçado. Estavamos indo à um país totalmente desconhecido e diferente, sem termos a menor ideia do que poderia nos acontecer, apenas para podermos apreciar uma loucura que meu amigo não poderia mais fazer. Tudo poderia dar errado, mas no final de tudo estávamos sentados na poltrona de um avião, pousando em terras estrangeiras e observando o belo céu azul e sol que começavam a nascer no horizonte. Fiz questão de lembrar à de todos os seus remédios e nós fizemos questão também de trazermos apenas uma mochila. Estavamos desembarcando no Rio de Janeiro,que havia sido a primeira cidade de destino disponível e era possível contemplar no rosto de a mesma expressão assustada, excitada e estupefada que sem sombra de dúvidas também estava no meu. Ela parecia mais leve e só por isso essa viagem já havia valido a pena. O sorriso que ela estava dando enquanto olhava pela janela e tirava fotos com seu telefone era um sorriso que eu estava com medo de nunca mais ver. Ao desembarcarmos do avião ajustamos nosso relógio para o horário local e era apenas seis e oito da manhã. Embora eu me sentisse cansado e acredito que também, conversamos e decidimos que iríamos aproveitar o máximo possível daquele dia. Teríamos tempo o suficiente pra descansar na volta pra casa.

- E agora, pra onde nós vamos? - Ela perguntou olhando através do vidro para o lado de fora. E antes mesmo que eu a respondesse a mesma abriu um sorriso. – Por favor, diga Copacabana. Eu sempre quis conhecer esse lugar. – Ela mordeu os lábios – Eu juro que se eu não tivesse com o pé quebrado eu ia procurar alguma mulher que sambasse e implorar para que ela me ensinasse. - Eu gargalhei com sua frase. – Paul sempre disse que queria conhecer essa cidade. – Ela terminou com um sorriso triste e respirou fundo, automaticamente repeti sua expressão.

-Podemos ir para Copacabana então. Já ouvi falar do lugar algumas vezes e posso tentar aprender a sambar no seu lugar. – Eu fiz uma dança sem ritmo e uma reverência exagerada e ela revirou os olhos.

-Você não tem ritmo nenhum. - Fiz cara de afetado, o que lhe arrancou um sorriso e então lhe estendi meu braço para que pudesse auxiliá-la a andar até a saída. Ao passarmos pela porta do aeroporto eu senti um calor que eu acho que nunca senti na minha vida e ao olhar para t e sua expressão pude constatar que ela sentiu o mesmo.

-Bom, parece que as pessoas não estavam brincando quando dizem que esse é um país quente. – Ela disse retirou o casaco que estava vestindo e eu parei para fazer o mesmo, Chamando em seguida um taxista.

Entramos no primeiro táxi que parou e pedimos por qualquer hotel em Copacabana. Enquanto o táxi passava por uma orla, eu babava pelo amanhecer e pela visão mesmo que distante que tive do tão famoso pão de açúcar.

- , Nós poderíamos tentar visitar o que você acha? – Ela olhava pra mesma direção que eu.

-Eu acho que seria uma excelente ideia. Assim como eu também acho que deveríamos ir a praia. - Ela abriu um sorriso enorme parecendo uma criança feliz olhando pela janela e eu não consegui não sorrir junto ao ver aquele sorriso em seus lábios, sorriso esse que eu não via a muitos dias. Me fazia bem vê-la bem. Estava complicado pra mim disfarçar a cara de idiota apaixonado, mas eu já estava começando a nem me importar mais com isso. Até ela na verdade parecia não se incomodar mais com isso em todas as vezes que ela me pegava a encarando, já estava passando a ser uma coisa natural entre a gente, porque ela também estava começando a ter o hábito de me encarar de volta. Ela havia me surpreendido com a conversa e com toda a sua sinceridade e eu havia entendido e por mais que não fosse o que eu quisesse, também não era o que eu esperava. Eu não esperava que ela falasse comigo sobre aquilo de forma nenhuma, muito pelo contrário, eu estava acreditando fielmente que ela simplesmente ignoraria, deixaria passar tudo o que tinha acontecido entre nós como se nunca nem tivesse acontecido, mas ela não havia feito isso, então eu estava feliz. Feliz e aliviado. Sua reação estava sendo totalmente diferente de tudo o que eu pudesse imaginar e o negócio era que ela estava totalmente imprevisível para mim naquele momento, por vezes eu a pegava com o olhar distante e com o queixo trincado, horas eu a pegava com os olhos cheios de água olhando pro além e em algumas outras vezes eu a pegava me encarando. Eu entendia todos aqueles sentimentos e como aquilo deveria estar sendo confuso pra ela e o meu receio sobre nossa aproximação havia passado a ser sobre o que ela pensava nutrir por mim. Nós dois estávamos passando por um momento delicado da vida, mas eu tinha certeza do meu sentimento por ela antes de tudo acontecer, ela porém não tinha certeza e talvez nem mesmo consciência de um sentimento por mim e agora que Paul havia partido tudo deveria ter ficado mais confuso e eu não queria de forma nenhuma me aproveitar de uma vulnerabilidade. Qualquer coisa que pudéssemos ter naquele momento seria extremamente impulsionado pela gama de sentimentos que eu tinha certeza que a confundiam , afinal, confundiam a mim também.

-Acabo de me tocar de uma coisa – ela se virou pra me encarar me pegando com aquela cara de bobo admirando seu sorriso, mas nem se tocando disso. Preciso comprar um biquíni.

t)


Quando paramos em frente ao hotel o motorista disse algo que eu não nem prestei atenção, mas sim. Lembrei-me da única palavra que eu sabia em português e antes do táxi partir eu disse um “obrigada” empolgado pro taxista que riu e me deu um aceno com a cabeça. e eu havíamos cada um comprado sua própria passagem, porém quando chegamos e fomos trocar o dinheiro pela moeda local ele me deixou avisada que dali para a frente era tudo por conta dele. Entramos em um hotel bonito, com pessoas que já estavam vestidas com trajes de banho passando por nós e paramos em frente a uma recepção bonita e com mulheres muito bonitas, algumas com a pele bronzeada e eu senti uma baita inveja daquele bronzeado. Elas nos olharam com simpatia e um belo sorriso no rosto. Tudo naquele lugar era belo. Deixei que fizesse as honras e começasse a falar.

-Bom dia! Nós gostaríamos de saber se existe algum quarto disponível – perguntou , o hotel que o motorista havia nos deixado era bem em frente a praia e eu queria muito que tivesse vaga ali para que eu não precisasse procurar outro. Aquele ficava em um ponto maravilhosamente bem estruturado.

-Bom dia, senhor! Vocês não possuem nenhuma reserva? – fez um sinal negativo com a cabeça e eu já estava começando a pensar que daria merda. Rio de janeiro era uma cidade turística, nós estávamos querendo nos hospedar em frente à praia mais famosa do mundo, era óbvio que deveríamos ter cogitado a hipótese de ter tentado uma reserva, mesmo online.

-Nenhuma. – Ele deu um sorriso amarelo e ela fez uma cara meio negativa para o nosso pedido.

-Nós não precisamos nem de quartos individuais. - Eu me apressei em dizer. - Você pode nos dar o que você tiver disponível aí, nós só queremos pra passar a noite mesmo. Deixaremos o país amanhã de manhã, Só queremos assistir ao pôr do sol. – A menina me olhou e eu li seu nome em seu crachá – Por favor Danielly.

-Bom, eu tenho uma suíte simples que vai ficar disponível só a partir das dez da manhã e que deverá ser ocupada de novo amanhã ao meio dia, acredito que consigo encaixar vocês lá nesse meio tempo. Mas só se vocês quiserem aguardar até as dez, é claro. – olhou o relógio que não marcava nem sete e meia da manhã ainda e eu dei de ombros.

-Vamos ficar com esse – Ele disse e eu abri um sorriso.

-Preciso da identidade de vocês, por favor. E caso sejam menores de idade eu preciso da autorização emitida, autenticada e assinada pelos seus pais.

-Nós dois somos maiores de idade – Eu disse entregando minha identidade e sentindo meu coração acelerar. Ela era falsa. era maior de idade, eu não. Para comprarmos as passagens para o Brasil eu havia ligado pro meu pai e pedido para que ele fizesse uma autorização e antes de irmos ao aeroporto nós a pegamos. Meu pai havia achado a ideia uma loucura, mas apoiado totalmente e inclusive dito que me daria um dinheiro extra para que eu pudesse gastar. E eu havia feito ele prometer que não contaria nada a minha mãe. me olhou com os olhos arregalados e eu continuei agindo normalmente. Ele entregou sua identidade e logo em seguida seu cartão para que a moça fizesse nosso devido check in. Ao finalizar ela nos avisou que poderíamos ocupar o quarto apenas depois das dez da manhã e nos deu algumas dicas de lugar para tomar café – além do hotel, claro – e de lojas que pudéssemos comprar algumas coisas. Nós dois optamos por tomar café no hotel e comemos de tudo. Fiquei extremamente apaixonada por pão francês e por açaí, duas coisas que se eu pudesse eu encheria a minha bolsa. Após comermos e ficarmos enrolando um pouco na mesa de café enquanto conversávamos, riamos e imaginávamos como Paul reagiria a determinadas situações, nós seguimos para a loja de souvenir do hotel. Senti vontade de comprar quase tudo e decidi que levaria algumas lembrancinhas para algumas pessoas. Quando o relógio marcou dez horas, eu tinha embaixo do meu braço sacolas com presentes para minha mãe, Emma, Vanessa, Tom, meu pai, – ele estava ao meu lado e ainda assim não me viu comprando - e acabei levando algumas lembrancinhas também para Danny, Harry,Rose e Valerie. Eu havia comprado algumas coisas para mim também no final de tudo, afinal eu também era filha de Deus. No final do nosso tempo de espera, nós fomos conduzidos ao quarto que seria nosso. O quarto era muito bem arrumado, com uma cama de casal, uma televisão, um frigobar, um armário e uma poltrona que ficava mais a frente da cama. Joguei minha mochila ali e segui para o banheiro que era maravilhoso, com uma enorme ducha E uma banheira com hidromassagem. Me senti a diva das divas e voltei pro quarto me jogando na cama. Meu pé começava a incomodar um pouco, mesmo me servindo de apoio para andar desde o momento que saímos de casa. Acredito que isso estava acontecendo porque eu não havia me movimentado muito desde que havia engessado ele.

-Acho justo jogarmos pedra, papel e tesoura para vermos quem fica com a cama. Eu quero muito ser cavalheiro e dizer que fico no sofá, mas acho que simplesmente não vou conseguir sair daqui – que já estava jogado na cama disse e eu me virei para encará-lo. Ele estava muito perto então me afastei no limiar possível para que eu pudesse resistir a qualquer vontade que pudesse sentir na minha cabeça e bloqueei qualquer ideia de contato mais próximo com ele. Eu precisava aprender a me controlar. Meu mix de confusão emocinal estava grande demais e eu precisava afastá-lo disso antes que fizesse alguma besteira. Eu estava me sentindo vulnerável, mas o problema que minha vulnerabilidade se resumia a uma vontade absurda e específica de tê-lo ao meu lado.

- , não somos crianças, podemos muito bem dividir uma cama de casal. Não é como se você nunca tivesse dormido com uma mulher em uma cama e em um quarto sozinho antes. Nós fizemos isso lá no apartamento na última semana, dormindo naquele sofá.

-Só aviso que se você me chutar eu vou chutar de volta. - Ele se sentou.

-Meu chute vai continuar sendo mais potente que o seu. Eu estou com um gesso – Lhe mandei uma piscadela e ele se levantou.

-Vou tomar um banho e trocar de roupa para começarmos nosso tour antes que nosso corpo esfrie e a gente fique com preguiça. – terminou sua frase já dentro do banheiro, onde se trancou.

Aproveitei esse tempo para organizar minha bolsa nova – sim, eu havia comprado uma bolsa de lado florida e linda, sim eu a pessoa sombria que quase sempre andava de preto. – com as coisas que eu havia comprado como: protetor, bronzeador, canga de praia, protetor labial, óculos escuros, chapéu e escolhi também o biquíni que usaria. saiu do banheiro um tempo depois apenas enrolado na toalha, com o cabelo molhado e gotas escorrendo por todo o seu corpo. Minha atração por ele chegou na escala mil por cento naquele momento e eu precisei engolir a seco. Eu não sabia como isso havia acontecido, mas eu havia começado a achar Poynter um cara extremamente bonito e atraente. Ele tinha um corpo mais volumoso devido aos exercícios que praticava e os anos que ele disse ter feito de luta. Ele estalou os dedos e só então me toquei que ele falava algo enquanto eu olhava pra sua barriga.

-Eu perguntei se você vai entrar agora no banheiro ou se eu troco de roupa lá? – Eu fiquei sem graça por estar encarando ele como se ele fosse um pedaço de carne e me virei rápido pegando o biquíni e o vestido que eu havia separado

-Pode se trocar aqui, vou tomar um banho. – Eu respondi sem olhar para ele entrando no banheiro o mais rápido que meu gesso me permitia. Tudo o que eu precisava era de um banho frio para acalmar determinadas ideias que começaram a surgir na minha cabeça.

-Quem é você e o que fez com a que eu conheço?Acho que nunca imaginei te ver de vestido curtinho e florido – perguntou assim que saí do banheiro e eu dei uma voltinha me apoiando na parede. -Eu comprei na lojinha lá em baixo. E isso não é um vestido, é uma saída de praia. E você já me viu com vestido na festa da Nessy – A forma como ele me olhava fazia com que eu me sentisse tão bem, que não deveria ser permitido se sentir daquela forma só com um olhar.

-Você está linda – Ele se aproximou e eu fiquei um pouco tensa, coisa que ele pareceu perceber, mas não se incomodou. Ele soltou meu cabelo bagunçando eles.– Agora você está mais do que linda. Está quase uma brasileira. – Sacudi meus cabelos para colocá-los no lugar e ele se afastou com uma expressão estranha.

-Se não fosse meu pé quebrado, eu sambaria pra você – Tentei fazer graça e dei alguns pulinhos até a cama – E então, pra onde vamos e como vamos? Pão de açúcar mesmo?

-Sim, eu já liguei pra recepção e eles me falaram que é só pegar um taxi e pedir para ele nos levar para a praia vermelha. Lá a gente pega um bondinho até o topo e podemos almoçar por lá mesmo. Me falaram que tem algumas opções de comida, lanches, lojas de souvenirs e tudo.

-Perfeito. E depois disso podemos ir à praia? Eu preciso dar um mergulho no mar. – parou com a mão no bolso e me encarando sério

-Seu pé está com gesso, você não pode entrar no mar.

- Eu tive uma ideia. A gente compra umas três daquelas sacolas de lixo pretas e então enrola pelo meu pé e depois fecha com um daqueles prendedores de plástico que lacram, igual aqueles que usam para prender a mão das pessoas nos filmes sabe? Faz umas camadas de sacola e protetor e por fim vou ter uma super proteção. Não vai ser possível conseguir passar por todas elas.

-Eu não acho que isso seja uma boa ideia. – Ele pareceu preocupado.

-Mas eu acho – Peguei minha bolsa – Se não der certo, não deu, mas a gente nunca vai saber se não tentar, Vamos?

-Se você diz assim. – Ele concordou pegando meus remédios que eu havia esquecido e me seguindo pela porta.

A recepcionista nos ajudou com o táxi e nos deu algumas dicas. Quando eu saí da porta do hotel para entrar no táxi tive a sensação de que estava entrando em uma panela fervendo e fiquei feliz por ter comprado e colocado uma roupa leve. havia feito o mesmo. Ao olhar pela janela enquanto o motorista dirigia pela orla, eu observei muitas mulheres de biquínis totalmente diferentes do que eu estava acostumado a ver na Inglaterra. Ali os biquínis eram menores e o corpo das mulheres muito mais volumosos. Não só mulheres, mas alguns homens que eu vi se exercitando na beira da praia também. Meus pensamentos voaram para os “e sés” e eu comecei a imaginar o que Paul diria ao ver aquela quantidade absurda de mulheres em trajes de banho. O percurso não demorou muito e em pouco tempo já estávamos no alto do morro admirando uma vista maravilhosa, com um sol escaldante batendo no meu corpo. e eu compramos chapéus para nos protegermos um pouco mais, afinal, éramos brancos demais. Lá em cima a variedade de pessoas era incrível. Era possível identificar pessoas que haviam subido pelo bondinho que nem nós, outras que vieram através de uma trilha pela floresta. Haviam pessoas comendo dos lanches vendidos por ali, outras com suas bolsas abertas em cima da mesa e comendo suas próprias comidas em uma espécie de piquenique. Havia um grupo que estava com um violão e eu amei a diversidade daquele lugar.

-Talvez eu esteja apaixonada – Eu disse quando e eu paramos na beira de uma das vistas. O mar e o céu azul, a sensação absurda de se sentir plena e contemplativa. Diante daquilo tudo era impossível não ter a sensação de que em algum momento as coisas ficariam bem, que a dor sumiria e tudo começaria a dar certo. Não dava pra evitar sorrir. Eu só não sabia o porquê. As mãos de que antes amparavam meus braços aos poucos haviam descido e agora estavam entrelaçadas as minhas. Olhei de soslaio para ele sabendo que não poderia ser pega graças aos óculos escuros que usávamos e me perguntei no que ele pensava e se ele estava sentindo o mesmo formigamento na boca do estômago que eu. O peito também doía de felicidade e tristeza. Eu queria guardar aquele momento pra sempre dentro de mim, e numa tentativa que eu sei que seria falha eu peguei o celular para capturar o lugar, o momento ficaria apenas em minha memória. Tirei fotos dos lugares e com também. Tirávamos fotos um do outro, juntos e por vezes pedíamos a desconhecidos que batessem nossas fotos. Depois de um tempo conhecendo toda a extensão da pedra resolvemos comer um pouco de açaí sentados na sombra – é claro – enquanto conversávamos aleatoriedades. Era bom conversar com ele e as coisas pareciam como antes de tudo acontecer, quando fazíamos isso. Em determinado momento da conversa levei um susto quando meu telefone tocou e um susto maior ainda quando vi a foto da minha mãe no identificador de chamadas. Confesso que pela primeira vez em muito tempo eu revivi a sensação da expressão “não passa nem uma agulha”.

-O que foi? – perguntou curioso.

-Minha mãe – eu disse ainda com meus olhos arregalados. Ela não me ligava naquele telefone a meses, desde que eu havia saído de casa.

-Atende – me incentivou e eu respirei fundo antes de atender ao telefone

-Alô – eu disse receosa e com medo de que aquela talvez fosse a última ligação que eu fizesse na vida.

-Hey , onde você está? Eu estou na porta da sua casa. Vim ver se estava tudo bem, mas não te encontrei queria saber se você demora a voltar que ai qualquer coisa eu te espero.

-Hey mãe – foi estranho falar com ela com naturalidade. Pra mim as coisas ainda não estavam resolvidas. – Eu não volto hoje – Tentei não ter medo de falar com minha mãe, afinal aquela era minha vida.

-Onde você está? – Ela perguntou desconfiada. – Você sabe que não deveria ficar saindo de casa, você precisa repousar essa perna pra ela poder melhorar. – Mordi meus lábios. Ela não usava seu tom autoritário, ao invés disso ela parecia preocupada. Ela queria tentar melhorar nossa situação e eu não queria mentir pra não prejudicar essa ideia de mudança.

-Eu não posso te dizer, porque se eu te disser você vai surtar, nós vamos brigar e você vai estragar a graça de tudo. – Ela parou do outro lado da linha em silêncio por alguns instantes antes de falar de novo.

- , eu disse que eu estou disposta a mudar, mas isso não vai depender só de mim. Eu prometo que eu não vou surtar, só me diz onde você está pra eu não ficar preocupada.

-Bom, antes que você diga alguma coisa eu quero falar que esse lugar é lindo e que você amaria conhecê-lo.

- , onde você está? – Minha mãe perguntou novamente.

-Brasil. – disse por fim esperando o surto que eu imaginei que estava acontecendo do outro lado da linha, mas ele não veio. Veio só o silêncio.

-Quando vocês voltam? – ela perguntou depois de um tempo em silêncio e eu não consegui entender muito bem o seu tom de voz. E ela falou no plural, ela sabia que estava comigo, o que me fazia calcular que ela não estava tão surpresa assim com a minha viagem. Talvez antes de me ligar ela tenha ligado pro meu pai e ele informou que tínhamos viajado.

-Amanhã de manhã.

-Você está tomando seus remédios? Comendo direitinho? Tem sentido dor?

-Sim, Sim e só um pouco, mas acho que é por causa da falta de movimentação, meus dedinhos ficaram inchados, mas fora isso está tudo bem.

-Ok. – O silêncio ficou na linha de novo – E como que é ai? É bonito? Foi à praia? Como é o sol? A comida? Eu morro de vontade de conhecer esse lugar – ela disse de repente empolgada e eu me assustei e não consegui evitar rir.

-Esse lugar é lindo. As mulheres são lindas e tem umas bundas maravilhosas. O calor é absurdo, eu estou com a cara cheia de protetor solar e de chapéu. e eu ainda não fomos na praia, nesse exato momento estamos no pão de açúcar tomando açaí que é uma das melhores coisas que eu já experimentei na vida e olhando uma paisagem realmente maravilhosa. Está um lindo dia. – Eu sorria quando terminei de falar e me assustei, eu não conseguia lembrar de outra situação em que tivesse acontecido isso enquanto eu conversava com a minha mãe.

-Eu sempre quis conhecer esse país. Vocês estão no Rio de Janeiro né? Eu lembro que enquanto ainda éramos casados seu pai e eu planejamos algumas vezes fazer uma segunda lua de mel ai e nunca deu certo – ela soltou um riso amargo. – Mas quem sabe ainda podemos fazer uma viagem em família e curtirmos juntos um dia?

-Sim! Seria ótimo! Emma amaria esse lugar e tenho certeza que você também. Tem muitas coisas aqui que são a sua cara.

-Que bom. Guarda o nome do hotel que vocês estão ficando pra caso eu queira fazer uma viagem dessas eu possa ter alguma recomendação. Você está ficando em uma suíte ou em um quarto simples? Você tem dinheiro ai? Se quiser posso transferir algum pra sua conta.

-Estou em uma suíte. e eu estamos dividindo uma. O hotel é legal, é bem em frente a praia.

-Você e o estão no mesmo quarto? – Ela me interrompeu.

-Sim, estamos dividindo uma. Só vamos ficar uma noite, não tinha necessidade de gastarmos com dois quartos.

- está acontecendo alguma coisa entre você e esse menino?

-Não – Eu tentei não responder rápido demais para não causar nenhum tipo de impressão errada. – Nós somos só amigos – Foi estranho dizer aquela frase com olhando pra mim e eu agradeci pelo sol e pelo calor que já estava deixando meu rosto vermelho, assim o fato de eu ter ficado sem graça passou em disparada. – Não precisa se preocupar, ok? Eu estou bem. Nós estamos bem. Está tudo bem.

-Ok. Se cuida e vai me mandando noticias ta bom?

-Pode deixar.Tchau. – Desliguei o telefone e ainda me encarava.

-Ela não surtou? – Ele perguntou rindo e eu dei graças a Deus por ele não ter reparado ou feito alguma menção ao fato de eu ter dito que éramos apenas amigos, porque na minha cabeça era isso que eu estava tentando definir que éramos. Não poderíamos ser nada além daquilo naquele momento.

-Nem um pouco – Eu disse guardando o celular e ele pareceu surpreso. -Vivendo e aprendendo que as pessoas nos surpreendem – ele olhou adiante.

-Quer experimentar ir à praia agora? Podemos ficar lá até o por do sol, depois jantarmos alguma coisa por algum restaurante antes de subirmos pra dormir.

-Por mim ótimo, mas em qual praia iremos?

-Eu dei uma pesquisada – Ele me mostrou seu celular – E eu vi que poderíamos assistir o por do sol nessa pedra chamada arpoador, então eu acredito que seria melhor para nós irmos à alguma praia ali perto. – Concordei com a cabeça.

Nós descemos pelo bondinho que pra mim havia sido a pior parte da viagem, afinal, eu detestava a ideia de estar naquele negócio transparente e no alto. Voltamos para o hotel onde guardamos algumas coisas que tínhamos comprado no meio do caminho e depois de almoçarmos e comprarmos sacolas e prendedores, seguimos para a praia. havia sido um verdadeiro cavaleiro, me levando nas costas por toda extensão de areia até chegarmos à uma cadeira e guarda-sol que tínhamos alugado. Após me sentar lá, nós começamos a colocar em prática o plano de proteger meu gesso para que eu pudesse entrar no mar. Enquanto fazíamos isso, acabamos conversando com um casal americano que estava ao nosso lado e que haviam vindo passar a segunda lua de mel ali. Eles nos recomendaram alguns restaurantes, falaram da experiência que tiveram em outras cidades do país e no final de tudo nós acabamos nos adicionando nas redes sociais. Depois da amizade estabelecida, e eu pedimos para que eles tomassem conta das nossas coisas enquanto íamos para o mar. já estava um pouco vermelho, no rosto principalmente, mesmo tento passado protetor e eu tinha certeza que já estava da mesma forma. Ao ficar só de biquíni me senti um pouco constrangida por estar exposta na frente de e ele me deu uma olhada discreta antes de olhar para o lado, o que me fez automaticamente sorrir, era bom se sentir desejada de alguma forma.
Para ir pro mar, havia pego na minha mão e eu fui dando saltinhos pela areia enquanto as pessoas olhavam pra minha perna cheia de sacola preta e riam. Preciso admitir que estava um calor da moléstia ali dentro e que eu sentia que meus dedinhos iriam derreter.

-Tem certeza disso? Você pode molhar esse gesso e tudo piorar, . – parou comigo em frente ao mar que já molhava nossos pés. A água estava gelada, mas nada insuportável.

-Eu não vou vir ao Rio de Janeiro e simplesmente não entrar no mar – Disse convencida e ele revirou os olhos.

-Eu não vou me responsabilizar por isso – Ele soltou minha mão, erguendo as duas no alto – o mar aqui é forte, então...

-Cala a boca e me ajuda a entrar logo – Eu disse pegando de volta sua mão e ele soltou um muxoxo reclamão antes de seguir comigo para dentro do mar.
As ondas eram um pouco fortes, mas nada que não desse pra aguentar. Preocupado e cauteloso, se posicionou atrás de mim apoiando suas mãos em minha cintura nua. Tentei associar o arrepio na minha espinha à água gelada que batia em meu corpo, mas eu sabia que aquela era a maior mentira que eu poderia contar. Ele era o causador das sensações boas que eu sentia no meu corpo naquele momento, do sorriso idiota que estava se formando em meus lábios conforme seu corpo se aproximava mais do meu, colando seu peito as minhas costas.
Eu sabia que da parte do era cuidado, mas minha mente não entendia assim.

-Vamos ficar só por aqui, ok? - Sua voz estava absurdamente perto. E eu virei o rosto para encará-lo deixando que nossa proximidade fosse maior ainda.

-Nos viemos aqui para vivermos uma aventura, esqueceu?

O sorriso que ele abriu estando tão perto foi tão tentador que eu quase não consegui desviar o olhar. -Eu não assumo nenhuma responsabilidade sobre isso

Ele voltou a caminhar comigo para dentro da água. Tudo o que precisávamos para não sermos arrastados era dar uma fixada do pé no chão para que a força não nos carregasse de volta pra areia. Na realidade fixava os pés dele no chão, eu fixava só um e me apoiava nele para não cair. Preciso admitir que eu estava tirando um baita proveito daquela situação.

-Eu preciso dar um mergulho, vamos mais pra frente?

-Você realmente gosta de desafiar a sorte né? - Ele falou rindo, mas percebi que ele estava doido para fazermos o mesmo.
Chegamos mais para frente e nos estabelecemos em um lugar onde nós conseguiamos ou mergulhar ou pular a onda quando ela vinha. Era bom e me ajudava, se mantendo sempre de mãos dadas comigo ou então me segurando pela cintura. Eu gostava do seu toque que era firme e delicado ao mesmo tempo. Em um determinado momento, uma onda mais forte veio e e eu mergulhamos, mas bom, não foi o suficiente para que a força dela não nos levasse e quando dei por mim eu estava dando cambalhota dentro d’agua até que meu corpo arrastou na areia e parou por ali mesmo, jogado.
Quando eu finalmente abri o olho um dos meus seios estava quase a mostra e eu logo o tapei, olhando a minha volta e procurando com os olhos. Ele estava quase do meu lado e ria tanto que ficava quase sem ar. Eu comecei a rir também, me recuperando do susto enquanto ainda estava sentada na areia, sentindo minha bunda ralada doer.

-Nós levamos um caldo histórico – Ele disse no meio da sua gargalhada – Eu senti a minha perna virar, eu devo ter dado umas três cambalhotas e a sua perna do gesso acertou minha costela – Ele voltou a rir copiosamente e eu não sabia se ria da situação ou dele.

-Minha bunda está ralada – Eu disse ainda tentando ajeitar meu biquíni. As ondas vinham e batiam em nós e a nossa sorte era que a praia não estava muito movimentada, talvez por ser dia de semana.

-Sua perna? - Ele perguntou quando parou de rir

-Ainda não to sentindo nada. A única coisa que está me incomodando é o fato de que por estarmos sentados aqui e a onda indo e voltando minha calcinha está ficando cheia de areia – Eu revirei os olhos e ele se levantou me ajudando a fazer o mesmo em seguida.

-Quer entrar de novo? - Ele perguntou parado na minha frente e me segurando pela cintura e eu quis absurdamente beijá-lo. Usei toda minha força de vontade para não olhar seus lábios e fiz uma nota mental de tentar não sorrir feito uma idiota ao tê-lo tão próximo.

-E você ainda pergunta? – Esqueci da minha nota mental no momento em que ele abriu um enorme sorriso, com o cabelo grudado na testa e os olhos quase fechados por causa do sol. Droga, eu estava muito ferrada.

)

Eu carregava nas minhas costas enquanto seguíamos para a pedra chamada Arpoador. Quando ela finalmente pulou das minhas costas e eu senti um baita alívio. Eu havia carregado ela por um posto inteiro da praia e pela areia, o que estava resultando em um cansaço absoluto.

-Filha, não to dizendo que você é gorda, mas que tu é pesada é! Deve ser essa bunda!
tinha um corpo lindo. Ela não era aquele padrão de beleza que se via por ai. Ela não tinha a barriga chapada, as curvas perfeitas mas aos meus olhos ela era absurdamente linda. E tinha uma bela bunda e como ela havia citado bundas aleatórias o dia inteiro me senti na liberdade de comentar a dela. Recebi um tapa que nem o que eu recebi quando falei que ela tinha a bunda tão grande quanto a das mulheres que ela comentava e ela fez uma careta engraçada que eu repeti. Ela estendeu sua canga sobre a pedra e se sentou enquanto eu quase me joguei ali. Meu rosto, peito e costas ardiam um pouco, mas nada na medida do insuportável. Ainda fazia bastante calor, embora já fosse final de tarde e a pedra onde estávamos começava a encher mais. Um dos rapazes do quiosque onde havíamos pegado informações nos disse que as pessoas costumavam assistir ao pôr do sol ali e a bater palma em forma de agradecimento, o que eu achei extremamente legal.

-E o pé? – Perguntei apoiando meu tronco nos braços, quase me deitando e t permaneceu sentada. Logo após termos tomado mais uns três caldos, ela havia começado a sentir dor no pé e o mesmo havia começado a inchar.

-Meus dedinhos ainda estão doendo – Ela começou a mexer nos dedos – Acho que em algum momento dos trinta mil caldos que tomamos eu devo ter batido ele na areia ou alguma coisa do tipo. E ele tá um pouco úmido, acho que entrou água. – Ela fez careta.

-Eu falei que aquela era uma ideia doida. Mas pelo menos deu pra gente se divertir – Eu me sentei reto agora para lhe mostrar meu joelho ralado – E coloca se divertir nisso

-Acredite, seu ralado ainda é melhor que o meu. – Ela fez careta e eu soube que ela estava se referindo ao ralado em sua bunda.

-Dessa vez não vou contestar. Mas quero deixar nota de que se estivesse usando um biquíni maior talvez isso não tivesse acontecido – Eu alfinetei e pisquei pra ela, jogando meu cabelo pra trás e ela desviou os olhos rápido de mim, e eu não entendi. Achei que ela iria fazer algum comentário sobre a alfinetada, mas não. Ela começou a olhar pra frente em silêncio com uma expressão diferente e então amarrou os cabelos de uma forma frouxa. Seus óculos estavam no alto de sua cabeça e ela estava linda. Ficamos sentados por longos minutos em silêncio enquanto o céu ia tomando um tom alaranjado e eu começava a viajar em pensamentos.
Eu conseguia criar na minha mente todas as coisas que Paul poderia dizer naquele momento com relação a tudo. A estar ali, a estar com ela, a estar aproveitando a vida, a estar sem ele. Era como se de alguma forma ele ainda estivesse ali do meu lado falando na minha cabeça. Era tão ruim a sensação de nunca mais, a ideia que cada dia ficava mais óbvia de que nunca mais nos veríamos e compartilharíamos pedaços da vida um do outro. Esse pensamento fez meus olhos marejarem, porque eu tinha certeza absoluta que ele adoraria estar ali. Pela primeira vez eu não senti raiva e sim tristeza que doeu em meu peito não só por ele não estar ali, mas porque naquele momento, observando a beleza daquele lugar e daquela paisagem eu me senti sozinho, mesmo com várias pessoas ao meu redor que riam conversavam e bebiam, com ao meu lado, eu me senti extremamente sozinho e ao olhar pro lado e observar eu tive certeza que ela se sentia da mesma forma. Estávamos sozinhos dessa vez porque nosso ponto de apoio não estava mais ali. Tomei a liberdade de passar meus braços em volta de seu corpo e ela depositou sua cabeça em meu ombro, suspirando fundo. Nós dois não falamos nada, apenas ficamos ali em silencio observando o sol se pôr e a profundidade da beleza daquele lugar.
Não sei por quanto tempo ficamos daquela forma, mas quando desencostou a cabeça de meu ombro já era noite. Eu começava a sentir meus olhos pesados de cansaço e não só os olhos mas o corpo também.

-Acho melhor voltarmos pro hotel – Ela se virou para me encarar e nós continuávamos muito próximos e meus braços continuavam por cima de seus ombros. Eu quis responder ao que ela disse imediatamente, mas meu cérebro não processou muito bem uma resposta, talvez porque ela estivesse muito perto e com metade dos cabelos soltos desprendidos do coque frouxo e me encarando nos olhos. Minha única resposta natural aquela aproximação era encará-la, enquanto eu sentia aquela coisa no meu peito que fazia meu coração se acelerar e meu rosto esquentar. Ela não desviou do meu olhar, mesmo eu estando tão perto. Ela me encarava de volta demonstrando algo que eu não sabia ler e quando meus olhos seguiram instintivamente para seus lábios eu soube que era momento de me afastar, antes que eu fizesse algo que pudesse me arrepender depois.

-Vamos. – Eu preciso de um banho e colocar alguma coisa salgada no estômago e que de preferência não seja água do mar. – Eu me desvencilhei dela me levantando e ajudando-a a fazer o mesmo. A ajudei a colocar as coisas dentro da bolsa e me virei de costas pra que ela pudesse subir novamente.

-Não precisa – Ela disse com pena de mim

-Para de palhaçada e sobe logo. Aproveita que eu to bonzinho – Ela riu subindo novamente nas minhas costas – Vamos comer algo logo antes de subirmos? Assim depois que subirmos não precisamos mais descer, fechado? - Perguntei ajeitando suas pernas em minha cintura e cuspindo seu cabelo que estava entrando na minha boca devido a sua posição com o rosto bem no meu pescoço. Aquilo era quase uma covardia comigo, ter sua respiração assim tão perto.

-Fechado – Ela disse e sacou o telefone. – Agora dá um sorriso que eu preciso registrar esse momento.

t)



e eu havíamos jantado em um restaurante brasileiro maravilhoso e eu sem dúvidas havia incluído aquele cardápio a um dos melhores, senão o melhor que eu já havia experimentado em toda a minha vida. Depois de termos jantado, tomado açai e caminhado mais um pouco pela orla, nós agora já estávamos de volta no quarto. Eu já estava tomada banho e passava uma loção refrescante para peles queimadas que havia comprado mais cedo, quando saiu do banheiro vestindo apenas uma bermuda de pano mole e sem camisa. Ele estava sem camisa, Sem camisa e com os cabelos bagunçados. Aquilo era judiar demais de mim.Uma coisa era ele estar daquela forma em um ambiente publico, outra totalmente diferente era estar assim em um quarto com nós dois sozinhos. Era estranho, porque ficávamos sozinhos em casa o tempo inteiro e eu nunca havia me sentido daquela forma.

-E ai conseguiu secar tudo? – Ele se sentou a minha frente. Meu gesso que estava úmido e eu tinha tido a brilhante ideia de tentar secá-lo com o secador.

-Acho que sim, não molhou muito, nosso plano de proteção digamos que meio que deu certo mesmo – Ele fez um sinal vitorioso e debochado ao mesmo tempo.

-Deixa eu ver – Ele pegou minha perna com o gesso e colocou por cima das suas, passando a tocar meu gesso e a colocar dois dedos pela parte de dentro para ver se ainda estava úmido. – É parece que a Ideia do secador realmente deu certo. Ele deu dois tapinhas leves no gesso antes de erguer o rosto pra mim novamente, depositando sua mão de uma forma simples na minha coxa, mas esse simples gesto me fez arrepiar. Durante todo o dia parecia que seu simples toque estava me dando choque e despertando em mim novas e boas sensações. -Suas costas não estão doendo não? Eu sou pesada. - Disfarcei algo que eu nem sabia que era olhando pras minhas mãos e começando a ler o rótulo do creme que havia nelas. Nunca meus sentimentos me pareceram tão palpáveis antes. Eu parecia a flor da pele quando ele chegava mais perto. Acredito que isso se devia às novas experiências, as emoções, a aventura que estavamos vivendo

-Preciso concordar que você realmente é pesada – Ele se jogou na cama com os braços abertos, fechou com olhos e respirou fundo. Me perguntei o que se passava em sua cabeça. – Mas não estão doendo não, estão só ardendo um pouco. Menos do que eu achei que estaria, confesso. Tudo graças ao seu bendito protetor solar fator trinta mil - Ele abriu os olhos pra me encarar e eu desviei meu olhar novamente para o creme.

-Isso aqui é uma loção refrescante pós sol, quer passar? – sacudi a loção que eu tinha em mãos e ele fez um barulho positivo com a boca, erguendo o tronco e estendendo a mao para que eu lhe desse o creme.

-Vira, eu passo - Eu não sei o motivo que me levou a falar aquilo, afinal, eu sabia como eu estava me sentindo e sabia que eu deveria evitar um contato mais próximo, mas eu não queria evitar um contato próximo. Eu queria ele cada vez mais perto. Mas eu não deveria querer. Droga.
se virou e eu comecei a passar o creme em suas costas. Era bom tocar sua pele e sentir o quão quente e macia ele era. Aquele simples toque me fez lembrar como havia sido beija-lo tudo o que poderia estar acontecendo entre nós se eu não tivesse fugido naquela noite. -Eu poderia ficar assim o dia inteiro – Sua voz me despertou e eu sorri sozinha massageando alguns pontos de suas costas e pescoço enquanto ele curtia o gesto. Mesmo tendo terminado de passar o creme, não quis quebrar o contato que estávamos tendo, aquela sensação de proximidade, de aconchego que eu não lembrava que um simples toque poderia me trazer.

-Obrigado - disse ao perceber que eu havia parado e então se virou. Voltei a colocar mais creme em minhas mãos e voltei a espalha-lo por seu peito, ombros,pescoço e seguindo pro seu rosto. Ele fechou os olhos e eu senti vontade de fazer o mesmo e me entregar aquela vontade absurda que eu estava tendo dele naquele momento. Era vontade de esquecer tudo, todos os meus medos, todas as minhas neuras, todas as minhas ansiedades e simplesmente beija-lo, sem nem pensar nas consequencias que isso poderia trazer posteriormente à nós. Quando abriu os olhos eu pensei que talvez ele pensasse a mesma coisa, seu olhar ainda era novo pra mim, era como se ele despisse cada pedaço de mim que eu sempre tentei esconder, como se ele visse tudo e nem se importasse com isso. Era bom ser olhada daquela forma, e por uns instantes de segundo eu desejei que aquela sensação em meu corpo nunca acabasse, que as batidas do meu coração não diminuissem e que a queimação que subia em minha espinha nunca cessasse. Mas isso aconteceu sór por alguns segundos, pois quando se aproximou de mim e me beijou, aquela sim foi a sensação que eu quis poder sentir pra sempre. Quando seus labios se encontraram com os meus, foi diferente da primeira vez, pois agora não havia nervosismo, havia apenas vontade. Minha mão, anteriormente depositada em seu ombro se embrenhou em seu cabelo, trazendo-o para mais perto e suas mãos me envolveram pela cintura. Pode ser clichê dizer, mas nosso beijo parecia se encaixar melhor do que da última vez, nossas linguas de exploravam, nossos corpos se tocavam e a cada simples toque eu queria mais. Queria dar mais dele, dar mais de mim, ter mais de tudo aquilo que estavamos sentindo. Todo meu corpo parecia ser capaz de soltar fogos de artifícios por finalmente estar tendo aquilo que havia desejado durante todo o dia. Nosso beijo foi intensificado e parecia que nós dois conhecíamos a muito tempo o ritmo. Sua mão acariciava a pela nua da minha cintura que estava parcialmente descoberta pela camiseta e eu sentia aquela parte do meu corpo queimar.Na realidade todo meu corpo parecia queimar em vontade conforme ele me beijava e me tocava mesmos sendo de maneira simples. Nosos beijo ia ganhando intensidade a cada segundo e meus dedos se perdiam em seus cabelos tentando trazê-lo para cada vez mais perto. Era diferente dessa vez, era mais intenso, mais verdadeiro e era absurdamente melhor, mas parou. Ele finalizou o beijo mordendo meu labios e se separando de mim, colando sua testa junto a minha respirando ofegante e me olhando nos olhos. Pela primeira vez eu não desviei de seu olhar e então nós dois ficamos ali no silêncio do quarto, com nossas respiações ofegantes,labios vermelhos e corações saltitantes.

-Deveria ser proibido ter você assim tão perto de mim – Ele colocou meu cabelo pra tras da orelha e acariciou o local onde descansou sua mão. Porra , eu quero tanto você – Ele dei um sorriso torto mordendo os labios. Aquela frase foi dita com tanta verdade e intensidade que quase transformou todos os meus órgãos internos em manteira. - Sério , Meu corpo não me deixa mentir. – ele olhou pro meio de suas pernas e eu automaticamente fiz o mesmo, observando sua excitação visível na bermuda. – Mas eu não só quero você, eu gosto de você, e você está passando por um monte de coisas, e eu também, mas eu tenho certeza dos meus sentimentos e eu não quero que algo muito desejado – Ele deu ênfase na frase - Mas extremamente impulsionado acabe te deixando confusa quanto a isso. Eu sei que se continuarmos eu não vou ser capaz de parar e acredito que você também não. E eu quero você, . Nunca pense por um momento sequer que não, mas eu só não quero você assim, desse jeito meio impulsivo. Eu quero algosem arrependimentos depois. – Ele não precisava ter dito nada daquilo, mas o fato dele ter dito aumentou em uns 300 por cento minha alto estima, e eu me peguei sorrindo sozinha. Ele entendia minha confusão e melhor e mais bonito que isso: Ele respeitava ela. Eu fiquei sem saber o que falar enquanto ele continuava me olhando. E então ele levantou, seguindo em direção ao armário e tirando dali mais um edredom e um travesseiro.

-O que você está fazendo? –Eu continuava parada no mesmo lugar, tentando processar os últimos dez minutos. Eu estava impressionada e talvez encantada com aquela atitude dele de parar.

-Eu vou dormir no chão.

-han? Por que?

- Eu não sou fisicamente capaz de dormir a menos de um metro de distância de você. – Ele me olhou carinhoso e eu sorri. Sorri porque Poynter era um cara realmente legal e que não queria apenas algo físico. Ele me queria de verdade.

- , podemos cada um dormir pra um lado, ou sei lá, você não precisa dormir no chão em um hotel que você está pagando, por causa disso. – Eu me levantei pegando as coisas da sua mão e jogando em cima da cama, mas ele me ignorou, voltando a pegar as coisas e a começar a forrar o chão e por fim deitar nele.

-Você está pagando pelo Hotel, não é justo que você fique deitado ai enquanto eu fico nessa cama enorme e confortável.

-Eu vou ficar bem aqui é só eu não olhar pra você – Ele disse em um tom brincalhão e mesmo sem querer eu ri.Eu já não me sentia estranha ou constrangida. Na realidade uma parte de mim se sentia muito feliz com o fato de me querer. Eu sabia que ele era virgem e que esperava que as coisas acontecessem de uma forma especial, o que significava então que ele me considerava especial o suficiente pra isso. Ele colocou um travesseiro na cabeça e eu tive uma ideia. Peguei todos os travesseiros e almofadas espalhados pela suíte do hotel e fiz um muro que dividia os lados da cama.

- – eu o chamei sentada na beirada da cama o cutucando com o pé bom. – – ele ergueu a cabeça e a forma que ele me olhava... – Eu fiz um muro de travesseiros, assim você não precisa dormir no chão no quarto de hotel pelo qual você está pagando.

-Eu estou bem aqui – Ele deu um sorriso fofo e eu resolvi apelar.

-Se você não vier deitar na cama eu vou me deitar do seu lado no chão e começar a beijar seu pescoço – Eu falei em tom brincalhão e seu olhar mudou, mudança que ele tentou disfarçar cerrando os olhos e me mandando uma careta. – Bom, já que você não me da uma resposta – Eu ameacei levantar da cama e ele se sentou.

-Você realmente quer meu corpo. Eu sempre soube disso. Se controla, garota. Eu sou difícil – ele disse em ironia e se deitou do outro lado do muro de travesseiros que poderia ser desmontado com um sopro. Eu queria derrubar aquele muro de travesseiros e voltar a beija-lo, mas apenas me deitei do outro lado e apaguei a luz, tentando fazer o mesmo com a minha cabeça que estava funcionando rápido demais para que eu pudesse pegar no sono.

- – eu chamei e ouvi um “hum” como resposta. – Você está dormindo?

-Não. Muita coisa na minha cabeça pra eu conseguir dormir.

-Obrigada. – Eu disse por fim e tirei os dois travesseiros que me impediam de ver o seu rosto, deixando apenas os que separavam o restante do nosso corpo – Obrigada por ter parado.

-Me desculpa por ter começado. Eu tinha te jurado que só faria alguma coisa se você me falasse que sim e eu não mantive minha promessa.

-Eu você não fez nada sozinho. Eu tenho essas tendências a seguir em frente e me arrepender depois e eu tenho certeza que teria acontecido isso hoje. Não que eu fosse me arrepender de ter feito algo com você mas já aconteceu antes com o Tony, Um dos meus maiores arrependimentos foi ter transado muito cedo. – virou a cabeça e me olhou com uma sobrancelha estranha. – É, eu não sou virgem, talvez agora o encanto acabe. – Eu disse irônica.

-Eu me apaixonei por você e não pelo seu hímen – Nós dois rimos da sua frase e eu senti mesmo no escuro meu rosto esquentar. Ele declarava seu sentimento por mim de uma forma tão aconchegante.

-Você provavelmente é a única pessoa de 18 anos e virgem que eu conheço e eu te admiro imensamente por isso. – Me virei de lado para poder encará-lo mesmo na escuridão e ele acendeu o abajur ao seu lado e se virou da mesma forma – É sério, é extremamente admirável o fato de você esperar pra ser especial, sabe? Eu não me arrependo de ter perdido minha virgindade com o Tony, nós ficamos juntos por dois anos, nos conhecíamos uma vida inteira e acho que seria inevitável isso acontecer. Eu me arrependo de ter feito isso cedo de mais, de não ter esperado, de não ter amadurecido a ideia, de ter simplesmente feito, sabe? – Ele me olhava prestando a atenção de verdade ao que eu falava e eu senti a necessidade de desviar o olhar, eu me sentia bem de falar o que eu estava falando e ao mesmo tempo estranha pois nunca havia falado disso com ninguém – Me desculpa, nós acabamos de nos pegar e eu estou te contando da minha experiencia com outra pessoa.

-Eu gosto de te ouvir, não esquenta. É bom saber o que já aconteceu com você. Quantos anos você tinha?

-Eu só tinha 13 anos e não sabia de nada da vida direito e sexo é bom, é ótimo mas quando acaba, acaba. Você tá ali, com uma pessoa com quem você só compartilhou tesão e nada além disso. Só que eu não sabia disso, e eu aprendi de uma forma muito dolorosa que tesão não é um sentimento, é só uma sensação. É quando ele passa que o sentimento vem e nem sempre o que você sente é agradável. Então obrigada por ter parado e não deixado que eu repetisse o mesmo erro de novo, até porque não seria justo com você. Você merece mais que isso. – Ele sorriu carinhoso e acariciou meu rosto pelos travesseiros e eu acabei fazendo o mesmo. – Eu to tão confusa, . - Abri meu coração de verdade pra ele mais uma vez. Ele fazia isso parecer normal.

-Eu sei. Mas não vamos colocar nossas sensações na frente dos nossos sentimentos, que nem você mesma falou.

-Obrigada.

-Para de agradecer. – Ele se aproximou e me deu um beijo na testa. Eu sorri e fechei os olhos. Talvez eu dormisse melhor naquela noite.

)



Quando eu acordei, não havia travesseiros mais entre t e eu, muito pelo contrário ela estava deitada ao meu lado, com os cabelos jogados por cima do meu rosto e uma das pernas jogadas por cima da minha e meu braço encontrava-se por cima de sua barriga. Me mexi devagar para não acordá-la e consegui lembrar do momento da noite em que acordei sentindo frio devido ao ar condicionado e com preguiça de levantar e aumentar a temperatura eu apenas tirei todos os travesseiros que me separavam de e entrei debaixo de suas cobertas, jogando a minha por cima dela também. Sorri ao olha-la dormindo ali, totalmente tranquila e inocente e fiquei imaginando qual seria sua reação ao acordar e se deparar daquele jeito. Eu queria me mover e sair dali, mas eu simplesmente não conseguia. Eu sempre havia conseguido controlar meus impulsos quando estava com outras garotas e ir devagar mas com era diferente. Todos os meus poros me faziam quere-la mais e mais e era a primeira vez na vida que eu sentia algo tão intenso daquela forma. Eu havia descoberto que não era apenas sentimento, o desejo fisico também era absurdo. Eu queria beija-la, abraça-la e explorar cada centímetro do seu corpo. Era tudo muito novo pra mim. Novo e confuso e tudo o que eu queria era o meu melhor amigo para conversar sobre as coisas que eu estava sentindo e que estavam acontecendo, mas ele não estava mais entre nós. Eu sabia que nem Paul e nem minha mãe gostariam que eu me permitisse ficar da forma que fiquei antes então eu estava lutando com todas as minhas forças contra qualquer indicio da depressão e do impulso absurdo de simplesmente me deixar levar pela dor. Eu estava lutando não apenas por eles, eu estava lutando por t também. Ela precisava de mim para guia-la nesse caminho escuro que ela estava passando, eu era o único que sabia como era estar lá, então eu me sentia na obrigação de ajuda-la, assim como eu me sentia na obrigação de ajudar Vanessa. Mas ela não queria me ver, ela não queria estar comigo, na realidade ela não queria estar com ninguém alem de si mesma e eu havia resolvido dar o espaço que ela precisava. Mas todos os dias eu fazia questão de lhe mandar algumas mensagens apenas para ela saber que eu estava ali. Tom estava com ela e me dizia que ela estava processando ainda toda a ideia. Nenhum de nós estava bem, tudo estava errado e eu acredito que cada um tem a sua própria forma de lidar com as coisas. A de Vanessa nesse momento era ficando reclusa, a de era vivendo da forma que seu irmão gostaria que ela vivesse, a de Tom era vivendo como se nada tivesse acontecido e a minha era lutando para ajudar as duas mulheres que eu mais me importava no mundo. Estava sendo difícil, mas eu sabia que de alguma forma e em alguma hora nós superaríamos isso.

-CUIDADO! - gritou acordando assustada e sentando na cama olhando pra todas as direções . Levei um susto tão grande que pulei quase caindo da cama bem longe dela. Eu estava distraído demais nos meus pensamentos.

- , Hey! – eu me sentei depois do susto chegando perto dela que respirava rápido e mantinha a cabeça abaixada. – Você estava sonhando - Eu coloquei a mão em seu ombro, massageando-os e quando ela levantou a cabeça eu pude ver seus olhos marejados. – Foi só um sonho. – Eu repeti quando ela me encarou.

-Não, não foi. Foi o acidente. – Ela parecia atordoada – Eu não lembrava de como as coisas tinham acontecido mas agora eu lembrei. O caminhão, a batida, Paul – ela me olhou com os olhos arregalados e com lagrimas descendo – eu me lembro de Paul me olhando assustado antes do – ela parou de falar e eu cheguei mais perto, segurando seu rosto entre minhas mãos.

-Não pensa sobre isso. Pensa nele sorrindo, pensa nele na festa no dia anterior ou então nele fazendo alguma coisa idiota. É isso que eu faço.

-Com sua mãe?

-Sim e com ele também. Todas as vezes que a imagem da minha mãe deitada na cama do hospital vem na minha cabeça eu tento pensar nela tentando aprender a jogar guitar hero, ou nela me dando algum esporro por alguma coisa idiota. E com Paul, todas as vezes que eu lembro dele na cama do hospital eu tento pensar no dia em que nós ficamos pelados em cima da mesa na festa da Vanessa. – Ela sorriu ainda com uma lagrima escorrendo por seu rosto.

- Acho que está na hora de irmos pra casa – Ela se sentou ereta, prendendo os cabelos e olhando o relógio de cabeceira. Ainda tínhamos duas horas até precisarmos deixar ao hotel e algumas horas até o horário que tínhamos deixado nossa passagem comprada.

-Esse é o momento em que a adrenalina passa e somos atingidos pelo choque de realidade da vida de verdade que nos espera lá fora eu disse me jogando na cama e olhando pro teto e ela acabou fazendo o mesmo.

-Bem vindos de volta à vida real, sem Paul nela.

-Bem vindos de volta a nossa nova vida real.

3





Eu havia dormido por tantas horas seguidas que eu nem me dei ao trabalho de contar. Logo após e eu termos chegado em casa de nossa “aventura”., eu me sentia um lixo, no sentido cansado da coisa. Mas de alguma forma eu também me sentia leve. Mais leve do que eu havia me sentido no dia que havia jogado as cinzas do meu irmão ao vento. Agora não era uma leveza de sensação de dever cumprido, era algo mais íntimo e profundo e que eu nunca conseguiria explicar. Quando eu acordei, estava estirado no sofá assistindo vidradamente alguma coisa no NetFlix.

-Hey – Me joguei ao seu lado penteando meus cabelos com os dedos, eu ainda sentia areia nele depois de todos os caldos que e eu havíamos tomado.

-Hey bela adormecida. – Ele sorriu carinhoso – Fui no seu quarto umas duas vezes pra ter certeza que você tava dormindo mesmo e não morta - Ele falou sério mas eu ri, me sentindo importante pela preocupação e achando ela desnecessária ao mesmo tempo.– Como está o pé? - Joguei o referido em cima da mesinha de centro e comecei a mexer meus dedinhos fazendo careta.

-Não tá doendo doendoooo, mas também não tá não doendo. Acho que realmente exagerei – Dei de ombros. Eu havia sentido bastante dor na manhã seguinte a ida à praia e meu pé havia inchado bastante. tinha até massageado meus dedinhos que estavam pra fora do gesso, que mais pareciam duas bolinhas de tão inchados. – Pelo menos meus dedinhos desincharam e pararam de parecer bolas de queijo. – Ele acenou com a cabeça e eu percebi que ele parecia cansado.

-Dormiu? – Perguntei tentando soar indiferente, mas estava começando a ficar realmente preocupada. parecia estar sempre acordado e cansado.

- Se comparado a você dormi pouquíssimo, mas dormi sim. E enquanto você dormia eu comprei algo que acho que vai te ajudar – Ele se levantou e trouxe para mim um par de muletas que estavam enroladas em jornal e com um laço feito com uma toalha rosa. – Acho que vai aliviar a pressão do seu pé e vai ser melhor pra você se locomover

-Obrigada, .

-Agora você nunca vai poder dizer que eu não te dei nada. - Cerrei os olhos reconhecendo a frase

-Você era fã de One Tree Hill?

-Sempre. Naley forever. - Ele fez uma voz afeminada e eu voltei a me reencostar no sofá.

-Agora acho que nunca devi tanto dinheiro a alguém que nem eu devo a você. – Ele revirou os olhos.

-Isso é um presente.

- Desculpa, rico. – Ele fez uma pose convencida e eu coloquei a muleta de lado, ainda não precisaria dela. – respondeu? – Ele fez um muchoco negativo e suspirou chateado.

-Não.falou que ela ainda não quer falar com ninguém . Estou respeitando esse momento dela - Ele voltou a olhar pra frente. – Mesmo sabendo que isso envolva ela me ignorar. – Ele sorriu chateado e eu percebi o quanto sentia falta dela e o quanto estava sendo difícil passar por esse momento sozinho. – Só estou sentindo falta de poder conversar com ela.

-Está acontecendo o mesmo comigo. Nunca imaginei que isso um dia pudesse acontecer. – Refleti sobre os dezessete anos da minha vida e aquilo me fez concluir que era minha primeira amiga de verdade. E eu podia com convicção aceitar que ela era de verdade e não me trairia ou me enganaria, como acontece com a maioria das amizades femininas que acabam. Ela era um ombro, um ombro pra mim e um ombro pro , aquela amiga com a qual sabíamos que podíamos contar e que sempre estaríamos ali pra ela contar conosco também. Eu sabia que esse era o meu sentimento por ela, mas não sei se ela continuaria se sentindo da mesma forma comigo. Ela poderia começar a me odiar dali pra frente, afinal, eu havia tirado dela alguém muito especial. Mas isso não deveria interferir na relação dela com , ele estava precisando dela, e se ela não estava ali, eu deveria ser o único motivo. – você deveria tentar descansar um pouco, . Você tá parecendo um zumbi.

-Já dormi um pouco por aqui mesmo. – Ele deu de ombros. - To com um pouco de insônia ultimamente, mas daqui a pouco passa. –Ele se virou pra me encarar e logo em seguida revirou os olhos - Para de me olhar desse jeito. Eu estou bem. -

Não, você não está.

-Sim, eu estou. Pelo menos na medida do possível. – Ele sacudiu a cabeça. – quer comer alguma coisa? - Acenei positivamente com a cabeça.

-Posso fazer alguma coisa para nós dois.

-Acho melhor você evitar ficar em pé. Vamos pedir comida, é mais fácil.

-Só concordo se você deixar que eu pague. – Aquilo não era um pedido.

-Fique a vontade – Peguei o telefone e pedi comida japonesa, fazendo questão de colocar tudo o que tinha e não tinha direito no cardápio.

Comemos que nem dois bois e então comecei a ver junto com a série que ele estava maratonando, ele foi me explicando o que já havia acontecido até aquele momento e quando estávamos na metade do segundo episódio, ele caiu em um sono profundo. Eu estava começando a acreditar que a insônia dele tinha alguma referência a estar sozinho, já que ele caia no sono facilmente quando tinha companhia e novamente a ideia do quanto estava fazendo falta à ele voltou a martelar minha cabeça. Com certa dificuldade ajeitei no sofá com coberta e travesseiro e tomando um pouco de coragem resolvi sair de casa. precisava de e ela precisava dele, não era justo ela afastá-lo por algo que havia acontecido por minha causa. Ele precisava saber como ela estava pra poder ficar bem.
Calcei sandálias simples e me vesti de uma forma decente pra poder andar na rua. Já passava das sete da noite e a rua estava menos movimentada do que costume. Usei as muletas que havia me dado para me auxiliar na caminhada e dois quarteirões depois eu já estava extremamente arrependida da decisão de ter vindo a pé.Aquela havia sido uma decisão extremamente precipitada e estúpida, mas eu estava no piloto automático quando sai de casa e simplesmente agi como sempre agia. Peguei o caminho que me levava a casa dela, sem me tocar que aquele era um caminho que eu faria tranquilamente a pé mas com meu pé bom, não se passou na minha cabeça que seria totalmente diferente com meu pé ruim e não sei o que mais doeu, a simples noção de que faltavam ainda alguns muitos quarteirões pela frente ou a ficha ter caído de que eu havia saído sem dinheiro pro taxi. Resmunguei e me xinguei mentalmente algumas vezes, mas mesmo com dor eu insisti em continuar caminhando e quando finalmente cheguei na sua casa eu estava suando e tinha a sensação de que tinha saído de casa uns três anos antes. Parei por um tempo em frente a porta pra descansar e depois de ter retomado um pouco das minhas energias eu bati na porta e aguardei alguns minutos, apenas para não obter nenhuma resposta. Eu sabia que estava ali pois seu carro estava na garagem então antes de decidir ir embora cacei por ali onde ficaria uma chave reserva até que finalmente achei escondida entre a planta que ficava bem do lado da porta de entrada.
Abri a porta e fui a passos demorados e arrastados atrás dela pelos cômodos embaixo, mas não a encontrei. Olhei pras escadas e meu pé latejou extremamente forte e eu cheguei a conclusão de que não conseguiria subir ali. Era exigir demais do meu corpo.

-! – eu gritei dali debaixo batendo a muleta no corrimão da escada – Oh ! – gritei mais alto e batendo com mais força – Eu acho bom você me responder ou descer porque eu não vou sair daqui enquanto você não sair de dentro desse quarto. – Continuei batendo – , me responda! – Me senti uma criança mimada quando está fazendo birra no mercado, mas não desisti - Eu não vou sair daqui! E eu só não vou subir porque meu pé está doendo pra caralho. Você tem que descer! Eu não tenho como voltar pra casa porque eu não trouxe dinheiro pro Taxi e graças a muleta, meu sovaco agora tá assado. – Continuei batendo, mas não obtive resposta, o que me fez suspirar derrotada. – – Eu chamei não gritando dessa vez, mas sim quase chorando de tristeza, raiva, culpa e decepção. Eu havia afastado de mim a única amiga de verdade que eu tinha conseguido fazer. – Eu sei que você tá chateada e que você não quer nos ver e eu te entendo,eu juro. Eu entendo você não querer me ver, afinal fui eu quem tirei Paul de você naquela manhã, se eu não tivesse surtado, ele provavelmente ainda estaria conosco e estaria com você e vocês estariam felizes. Eu sei disso e acredite, isso se passa na minha cabeça o tempo todo. Mas não é justo você afastar o , ele precisa de você e você precisa dele.- Suspirei derrotada, Algumas coisas ainda ficaram na minha cabeça. Eu queria dizer que eu também precisava dela e que ela também precisava de mim, que eu queria que pudéssemos passar por isso juntas e que ela pudesse confiar em mim e me usar como escudo porque éramos amigas, mas não me senti no direito de dizer isso, não quando eu sabia que eu era a responsável por ela estar daquele jeito. O barulho da porta de seu quarto sendo aberta despertou minha atenção e uma de moletom, óculos e cabelos presos apareceu na minha frente.

-O que aconteceu com você? Alguém te jogou em uma frigideira? Você parece que foi frita. – Foi a primeira coisa que ela falou me olhando com a cara estranha.

-Uma longa história – Respondi tentando me desapoiar da parede, mas minha perna doía. Por alguns momentos do trajeto eu havia forçado a perna para caminhar para poder descansar o braço e agora me arrependia amargamente disso.

-Eu não te culpo – Ela se encostou no batente ao lado da escada. – Eu não culpo você ou nem ninguém pelo que aconteceu, muito pelo contrário . Eu não tenho ficado perto de vocês porque eu sei o quanto o Paul era importante pra cada um de vocês e o quanto vocês aproveitaram cada momento que tiveram com ele e o quanto vocês demonstravam isso e Paul sabia o quanto ele era amado por vocês, mas a mesma coisa não acontece no meu caso. Eu não aproveitei, eu não demonstrei e nada disso tem a ver com a questão de tempo, porque eu tive tempo e oportunidade pra isso, eu só fui deixando de lado. Eu fui colocando outras coisas como prioridade na minha vida, eu fui colocando diversão e deixando de lado o cara que eu amava por coisas passageiras, porque eu sabia que a todo momento ele iria estar lá, mas agora ele não está mais e tudo o que eu tenho é uma única noite de lembranças boas e planos idiotas que fizemos antes de dormir e eu não acho justo incomodar vocês com meu arrependimento quando eu sou única e inteiramente culpada por isso. – Eu fiquei por alguns instantes sem saber exatamente o que dizer e processando o que ela havia dito. Ela não achava que a culpa era minha.

-Paul sabia que você o amava – Eu falei por fim – Ele sabia tanto que resolveu colocar um fim nisso de vocês estarem separados. E ele também te amava, . Eu sei disso pelas vezes que ele falou de você pra mim e pela forma que ele te olhava e eu tenho certeza que ele odiaria te ver assim: remoendo tudo o que aconteceu e se culpando por algo que não vai mais voltar. Você poderia ter aproveitado mais? Sim, poderia. Eu também poderia, também poderia ,mas nós não aproveitamos porque não sabíamos que isso acontecer –Por uns instantes eu fiquei na duvida se minha frase era pra convencer à ela ou a mim mesma mas tentei afastar tais pensamentos. Aquele era o momento em que eu deveria tentar ajudar e e deixar qualquer pensamento relacionado à mim de fora. –, você conviveu com meu irmão nos últimos anos, você conviveu com ele na época que o passou pelo luto da mãe e sabe que tudo o que ele mais queria era que tudo ficasse bem, você realmente não acha que é isso que ele espera de nós agora?

-Eu sei. – Ela abaixou a cabeça.

-Nós precisamos de você. A melhor forma de passarmos por tudo isso é passarmos juntos. – Ela voltou a me encarar e desceu as escadas.

-Me desculpa – ela parou na minha frente e eu revirei os olhos.

-Só aceito suas desculpas se você me levar de volta pra casa. Meu suvaco realmente está assado – Ela riu e então me abraçou. Eu sabia que ela faria aquilo e por mais que eu detestasse que me abraçassem eu gostei de ser abraçada por ela e de principalmente abraçá-la de volta. Acho que era a primeira vez que fazíamos isso de verdade.

-Vamos. Não quero ser responsável por você ter que colocar gesso em mais uma parte do corpo – Ela parou na minha frente e se agachou – Sobe - Eu pulei em suas costas e nós duas saímos caminhando da casa e foi impossível não sentir uma dor muito forte no peito ao lembrar a última vez que eu havia saído daquela casa com alguém daquele mesmo jeito e lembrar que isso nunca mais voltaria a acontecer.




Eu estava procurando meu celular quando ouvi o barulho da porta da sala bater. Eu não sabia para onde tinha ido, quando acordei, percebi que estava sozinho em casa e já era noite. Eu havia dormido apenas por algumas horas, mas estava com uma ótima sensação de descanso, mesmo sabendo que meu organismo precisaria de muito mais do que aquilo para descansar. Na realidade eu sentia que precisaria hibernar por meses até me sentir plenamente bem novamente, coisa que nunca aconteceria. Já que não achava meu telefone, procurei por meus cadernos decidindo que deveria estudar. Eu estava com a minha matéria toda atrasada e precisava colocá-la em dia,caso contrário eu correria o risco de perder o ano, coisa que eu não queria que acontecesse de novo. Ouvi duas batidas na porta e gritei um entra e tomei um susto quando me virei e me deparei com e não me encarando parada ali, de calça de moletom, camiseta, cabelos presos e óculos. Ela sorriu leve e pra mim foi quase impossível simplesmente não abrir um enorme sorriso e seguir em direção à minha melhor amiga para dar e receber o abraço que eu estava precisando tanto. Ela me apertou forte quando cruzou seus braços em volta de minha cintura e eu fechei os olhos sentindo seu corpo mais magro que o normal em meus braços. Apenas aquele simples gesto demonstrava o quanto eu havia sentido falta dela e o quanto ela sentia falta de mim sem que nenhum dos dois precisasse dizer alguma coisa.

-Você parece um camarão frito – Ela disse ao se desvencilhar de mim. – Já que não disse você pode me dizer o que aconteceu com vocês?

-Longa história – Eu deixei meus livros de lado, eles já nem me pareciam mais tão importantes.

-História que eu estou disposta a ouvir comendo as duas caixas de pizza que eu deixei no balcão da sua cozinha. – Ela sorriu simples seguindo para porta

-Eu estarei muito disposto a contar – A segui pelo corredor e percebi que não estava li e nem no seu quarto que tinha a porta aberta. – Cadê a ?

-Ela me pediu pra deixa-la na casa do pai, disse que queria dar um espaço para colocarmos as fofocas em dia e que você me atualizaria de tudo o que estava acontecendo. – se sentou no banco do balcão abrindo uma das caixas e eu peguei um refrigerante e dois copos para poder nos servir. Eu não estava com um pingo de fome, devido a quantidade de japonês que havia comido mais cedo, mas aquele era um momento que eu estava sentindo falta demais, então resolvi não ignorar a pizza.

-Ela foi até a sua casa? – Me sentei e ela fez um barulho afirmativo com a boca. – E você a atendeu? – Cerrei os olhos e ela entendeu que eu me referia as inúmeras vezes que eu havia ido lá e ela havia me ignorado.

-Ela começou a gritar que nem uma louca na minha escada que precisava de carona pra voltar pra casa, que tinha ido a pé, que o sovaco dela tava assado. Você queria que eu deixasse a bichinha lá? – Continuei com meus olhos cerrados e ela abaixou os olhos. – Ela se sente culpada, . Por tudo o que aconteceu. Ela se sente responsável pela morte do irmão e eu não poderia deixa-la pensar que eu a culpo por isso– Eu já desconfiava disso, mas agora com afirmando era diferente. – Mas ela não foi a trás de mim por isso, ela está preocupada com você.

-Eu estou bem - Disse entregando o copo à ela.- E você?

- Trabalhando isso. – Ela continuou a sorrir triste. – Mas eu não quero falar sobre isso, eu quero falar sobre tudo o que aconteceu entre vocês dois, como as coisas estão, de onde veio esse bronzeado…

-De onde você quer que eu comece?

-Bom a última informação que eu tenho de vocês é que você havia se declarado pra ela na festa. E depois disso, bom você sabe.

– As coisas não ficaram estranhas com ela sabendo que eu gosto dela, muito pelo contrário. Nós conversamos, ela disse que sente algo por mim mas que é confuso e é bem menos do que eu sinto por ela, tá mais pra uma atração do que um sentimento e então continuamos só como amigos. E numa conversa aleatória nós decidimos fazer uma loucura dessas que Paul vivia falando que queria fazer e então escolhemos um país e fomos assistir ao pôr do sol nele.

-E pra onde vocês foram?

-Brasil. Mais especificamente, Rio de Janeiro. – arregalou os olhos e eu sorri. –Foi tudo muito legal lá, por um momento esquecemos todas as coisas que estavam acontecendo nas nossas vidas e éramos só nós dois sabe? Nós rimos, nos divertimos, fomos à praia... – Eu parei de falar pensando se deveria ou não contar.

-E?

-Nós nos beijamos. Estávamos no mesmo quarto, na mesma cama, já tinha rolado um clima antes, na realidade eu tenho a sensação de que tem rolado um clima sempre, mas eu a prometi que não faria nada se ela não dissesse que sim, primeiro.

-Quando você prometeu isso?

-Quando ela veio conversar comigo sobre nós dois.– fez uma cara estranha.

-Mas mesmo assim você a beijou – Ela deu um sorriso.

-Sim. Foi muito maior do que eu. Esse sentimento é muito maior do que eu pensava, . Estávamos lá, as coisas simplesmente fluíram e quando eu vi nós dois já estávamos nos beijando, mas era diferente. Era mais intenso. Eu precisei usar o auto controle que eu nem sabia que tinha pra parar antes que as coisas ficassem mais quentes. – Eu disse a frase pensando no quanto aquilo soava absurdo.

-Como assim?

-Foi intenso, . O beijo, a forma que nos tocamos. Eu não sei te explicar, meus sentimentos tem ficado mais fortes e está começando a ficar impossível evitar, e ao mesmo tempo que ela diz que não tá pronta, e que ela não quer me magoar, ela tá sempre ali, me encarando de volta, me olhando daquela forma que eu não entendo e me fazendo ficar cada vez mais louco de vontade de beija-la e.. – ao invés de terminar minha frase eu apenas apertei meus cabelos, tentando conter o sorriso idiota que eu sentia vontade de abrir quando eu pensava naqueles simples momentos com ela.

-Como ela reagiu à essa ficada de vocês? - Eu me sentia em uma investigação ou em uma sessão de terapia com a maneira que me perguntava as coisas.

- Foi tranquilo. Ela disse que está confusa, eu sinto que ela tem tentado ser bem sincera comigo sobre isso. Ela me contou um pouco sobre o ex dela e eu vejo que o que aconteceu com eles é algo que mexeu muito com ela. Ela precisa do tempo dela agora. – sorriu

-Eu admiro tanto você, . – revirei os olhos. – Mas quero dizer que com a química que vocês tem e morando sozinhos, vai ser bem difícil se manter no “controle”.

-Já ficando difícil, . – Cocei a cabeça. Ver o tempo inteiro só fazia com que meu desejo por ela aumentasse.

-Eu não sei muito sobre a , , porque ela não me fala. Ela é fechada, mas eu sei que ela topou ir pra um acampamento que ela odiava só por minha causa. Ela também deu uma bolada na cara de uma menina só porque essa menina me acertou. Eu sei que ela não brigou comigo quando me viu vestindo a camisa que ela havia dado à Paul e eu também sei que ela andou vários quarteirões de muleta e com o pé doendo apenas porque estava preocupada com você. Eu sei que antes de tudo isso acontecer ela te encarava de volta e existem outras informações eu não posso te passar por causa do código de lealdade as amigas. Mas com tudo isso que eu sei e que ela me demonstra, eu posso afirmar com toda certeza que estou torcendo absurdamente pra vocês darem certo. Depois de tudo o que aconteceu, vocês merecem ser felizes.

-Eu estou ficando cada dia mais louco por ela. E antes era só emocionalmente, mas agora eu a beijei, eu a toquei então a coisa física também está ficando meio difícil. – riu – você ri? Você tem noção do quanto é difícil e das coisas que se passam na minha cabeça quando ela sai daquele quarto vestindo um short curto? Eu tenho respeito por ela, mas eu sou homem. Resolver esperar para transar com a garota certa não significa que eu não fico excitado ou que eu não tenho vontade. – Ela continuou rindo – Eu estou falando sério. Para de rir. Isso tudo ainda é meio novo pra mim.

- Desculpa. É que você tá tão fofo desse jeito, . – Voltei a revirar os olhos – eu acho lindo, seu respeito e a forma que seus olhos brilham quando você fala dela. Isso parece amor, hein.

-Tá maluca? – foi minha vez de rir. - Eu gosto dela, pra caramba. Mas não é amor ainda não. Pra amor falta muito.

-Falta muito, muito menos do que você pensa. –Ela acrescentou e eu continuei revirando os olhos.

-Deixa as coisas acontecerem. Se tiver que virar amor, vai virar. –Eu sorri sentindo meu rosto esquentar e meus pensamentos começarem a trabalhar a mil por hora. E se virasse?








Alguns dias se passaram desde que finalmente havia saído do quarto. Eu estava feliz de vê-la interagindo com novamente e comigo também, mas ainda sentia aquela pontada no peito de responsabilidade por ter tirado Paul dela. Era bom tê-la por perto, ali conosco e também deixava as coisas mais fáceis para e eu. Estava ficando cada vez mais difícil evitar minha atração por ele e quando estávamos sozinhos a única coisa que eu conseguia pensar era no quanto eu queria beija-lo de novo. Mas o que me assustava mesmo não era só a atração, era o sentimento que estava ali juntinho. Minha preocupação e carinho por ele pareciam apenas aumentar e por vezes a noite eu me via levantando e indo até a sala só pra poder sentar por lá com ele pois sabia que ele não conseguia dormir. Nós às vezes virávamos a noite conversando aleatoriedades, assistindo a alguma coisa na TV enquanto comíamos, ou até mesmo estudando já que havíamos ficado atrasados nas matérias. De uma forma muito discreta, eu estava cuidando dele e ele estava cuidando de mim.
Ouvi o barulho da campainha e reclamei mentalmente de quem poderia ser aquela hora de um sábado. Eu havia tirado o dia para colocar minhas matérias atrasadas em dia, voltar para escola estava sendo complicado, todos os olhares piedosos direcionados a nossa mesa, as pessoas vindo fazer perguntas,mas estávamos todos encarando as coisas juntos e nos apoiando o que tornava tudo mais fácil. Abri a porta e tomei um susto ao me deparar com minha mãe do outro lado. Eu estava totalmente descabelada e com roupas largadas, já que estava trancada dentro do meu quarto estudando.

-Hey, o que você está fazendo aqui? – Perguntei estranhando e ela entrou com um sorriso nos lábios.

-Você está com uma cor linda! Ela depositou a sacola que trazia em cima do balcão e deu uma olhada na sala e no corredor – Cadê aquele menino, o ?

-Não sei se ele está em casa. Desde a hora que eu acordei eu estou trancada dentro do meu quarto tentando colocar em dia a matéria que eu tenho atrasada – Disse por fim fechando a porta atrás de mim e caminhando em sua direção. Recebi um abraço – que me assustou e me deixou um pouco desconfortável – e um beijo da minha mãe e me sentei no banco do balcão que ficava do lado da sala, enquanto ela contornava o mesmo e entrava na cozinha começando a tirar as coisas que tinha trazido das sacolas.

-Eu trouxe algumas coisas pra fazer o almoço pra vocês. Eu imaginei que adolescentes morando sozinhos não se dão ao trabalho de fazer comida – ela abriu a geladeira e parou de falar – Ou talvez eu esteja errada – Ela sorriu olhando pra comida que tinha ali e eu acabei rindo também devido a sua cara engraçada.

-Eu amo cozinhar e o também, então vira e mexe a gente se reveza na cozinha pra preparar a comida – Eu disse abrindo algumas outras sacolas e encontrei ali algumas frutas, biscoitos e uma vasilha com torta de limão. Foi impossível não abrir um sorriso enorme. Ela havia lembrado.

-Acho que ainda lembro do que você gosta – ela continuava sorrindo e era estranho ver minha mãe ali daquela forma. Ela parecia outra pessoa, literalmente. Minha mãe estava vestida casual. Usando uma calça jeans, uma blusa comum e sapatilhas.

-Sim,acertou em cheio. Mas o que te trás aqui?

-Caso você não lembre, eu tinha vindo aqui alguns dias atrás mas a senhorita não estava em casa. Emma tem perguntado sobre você. Vive me perguntando quando posso trazê-la pra te ver ou quando você vai nos visitar.

-Como ela está?

-Está enorme e cada vez mais inteligente. Decidiu abandonar o ballet e quer fazer alguma luta ou tocar algum instrumento – Eu ri. Eu havia feito exatamente a mesma coisa quando tinha a idade dela.

-Teve um déjà vu, quando ela falou isso?

-Sim – Minha mãe riu. A diferença agora é que eu aprendi com os meus erros e pretendo não repeti-los. – Ela ficou parada me olhando por um tempo antes de começar a mexer nas coisas novamente, anunciando que prepararia o almoço. Perguntei se ela precisava de ajuda e ela negou, então resolvi tomar um banho antes do almoço ficar pronto. Depois de terminar e dar um jeito superficial no meu quarto para o caso da minha mãe querer entrar nele eu bati na porta do quarto de duas vezes mas não tive resposta. Bati mais uma vez e ao não ter resposta nenhuma eu entrei, encontrando ali o quarto vazio e a cama arrumada. Estranhei e voltei pro quarto pra pegar meu telefone para ligar pra ele, mas quando abria a porta do meu quarto ouvi o barulho da porta da sala sendo aberta e logo em seguida a voz dele dando um bom dia pra minha mãe que respondeu de forma simples. Segundos depois apontou no corredor suado e com o celular e os fones nas mãos.

-Hey – ele disse parando na minha frente.

-Acabei de vir do seu quarto. Ia te chamar pra almoçar.

-Eu fui correr. Eu só consigo dormir quando meu corpo chega em um nível de exaustão absurdo , e como fiquei a noite toda acordada resolvi fazer isso agora de manhã mas acabei me perdendo na hora.

-Não tomou o remédio né? – Eu havia convencido a ir no médico para ver sobre sua insônia e ele havia receitado um remédio pra dormir, que ele se negou a tomar.

-Não. Só se a situação chegar em algum nível extremo tipo: To virando Norman Bates – Ele fez graça.

-Bom, só não resolva fazer de mim uma de suas vítimas. – Eu disse me encostando na porta do meu quarto e ele se encostou na parede.

-Pode deixar. Sua mãe está aqui – Ele deu um sorrisinho que parecia sapeca – Você está sendo simpática e educada? – Eu revirei os olhos.

-Ela está tentando. E eu não quero chegar num futuro e perceber que o motivo de sermos afastadas é porque eu era orgulhosa demais pra perdoá-la.

-isso é bom. Na realidade isso é ótimo, t. Paul estaria orgulhoso de você. – Ele sorriu e eu não o encarei. Era melhor evitar encará-lo quando ele sorria.

-Vai tentar dormir ou almoçar?

-Sua mãe não parece gostar muito da minha pessoa, então eu acho que vou tentar sair, fazer alguma coisa por aí e dar um espaço pra vocês. De repente sair com a para mais tarde só deitar na cama e capotar.

-Ela não tem nada contra você. – Ele cerrou os olhos – Ela tem algo contra a filha dela de dezessete anos morar com um cara de dezoito. Só isso. Ela ainda nos vê como crianças. Crianças que na cabeça dela podem estar fazendo outras crianças. – Seu olhar foi divertido.

-Mas mesmo assim, vou deixar que você curta esse momento único da sua vida só com a sua mãe. Se precisar de alguma coisa é só gritar.

-Você precisa colocar sua matéria em dia, . Você também está todo atrasado nas lições.

-Para de se preocupar comigo – Ele disse se desencostando da parede, se aproximando e me dando um beijo na testa. – qualquer coisa grita – ele falou antes de voltar alguns passos e entrar no banheiro. Fiquei parada no mesmo lugar com um sorriso idiota no rosto devido a atitude simples porém carinhosa de e só fui desperta de meus pensamentos quando ouvi a voz da minha mãe me chamando falando que a comida estava pronta. passou por nós alguns minutos depois se despedindo da minha mãe e me mandando uma piscadela que graças a Deus passou despercebida de minha mãe. Nós duas almoçamos, conversamos sobre aleatoriedades e até rimos um pouco, coisa que nunca tinha acontecido. Eu mostrei à ela algumas fotos da viagem e pude notar seu corpo ficar um pouco tenso ao ver minhas fotos com e só ao ver seu olhar que eu reparei que parecíamos um casal em todas elas.

-Vocês dois tem alguma coisa? Alguma espécie de relacionamento? – Ela perguntou depois de um tempo

-Não. Somos só amigos, como eu já te disse.

-Bom, vou acreditar em você. – Ela disse com uma certa repreensão na voz.

-Você não tem outra opção. – Eu acabei sendo um pouco irônica. E minha mãe então se sentou mais séria e me olhou mais séria.

-Eu sei que da ultima vez eu estava toda errada e não acreditei em você e eu sei que eu que escolhi isso, mas eu realmente quero mudar as coisas, filha. – E eu também queria te fazer um pedido e eu não quero que você ache que o fato de ter vindo aqui tem algo a ver com o que eu vou te pedir, ou na realidade convidar a fazer. Até porque eu só recebi essa proposta ontem a tarde – Arqueei minhas sobrancelhas e pedi para que ela continuasse – Eu vou ser eleita a mulher do ano pela revista britânica de negócios. Eles me elegeram uma das mulheres mais bem sucedida de todo o reino unido e vão fazer uma edição especial de fim de ano da revista focando nas pessoas mais bem sucedidas e eles me convidaram para estar na capa. – Fiquei impressionada e feliz ao mesmo tempo. Aquilo era uma enorme conquista para minha mãe e não só pra minha mãe, mas para todas as mulheres.

-Uau! Parabéns! – Eu disse animada. – E o que eu tenho a ver com isso?

-Eles querem uma entrevista especial e uma sessão de fotos. E eu queria muito que você estivesse presente. – Parei processando a ideia de sair em uma revista como um membro de uma família normal, bem sucedida e feliz. Não me agradei da ideia de fingir.

-Eu não acho que isso seja uma boa ideia. Pelo menos eu aparecer na revista. Você deveria aparecer com a Emma – Eu recusei o pedido e pude ver a decepção no seu olhar.

-Eu sei que é pedir muito e que é até injusto dizer que é muito importante pra mim sendo que todas as coisas que eram muito importantes pra você eu deixei de lado. Mas eu vou deixar a proposta em aberto. A sessão de fotos vai ocorrer no final da semana que vem, Se você não quiser participar, sem problemas, eu não faço.

-Você não precisa deixar de fazer por minha causa. – Ela segurou minha mão.

-Se você se sente desconfortável é porque isso te magoa de alguma forma, então eu prefiro não fazer a cogitar a ideia de te magoar novamente de alguma forma. – Ela falou tão sincera que eu tive vontade de abraçá-la, mas não o fiz.

-Eu posso pensar? - Ela concordou com a cabeça.

-Fique a vontade – Ela sorriu

Minha mãe passou mais algumas horas no apartamento conversando, me dando alguns esporros, principalmente quando entrou no meu quarto e percebeu que estava uma bagunça. Ela abriu a porta do quarto de , confundindo com o de Paul e se viu forçada a elogiar a organização do mesmo e falou mais um monte de blablabla que eu ignorei. Ela também me indagou algumas vezes sobre quando eu desmontaria o quarto do Paul, mas eu ignorei todas as suas investidas nesse assunto, fazendo questão de falar de outra coisa. Eu ainda não estava preparada para aquilo.
Após minha mãe ir embora, eu não tive ânimo para voltar a estudar, então me joguei no sofá deixando a TV em canais aleatórios e iniciei uma maratona de That’s 70 show, assistir séries parecia ter se tornado minha rotina e às vezes eu me pegava pensando em todas as coisas que eu faria quando meu pé finalmente estivesse bom.
Eu estava saindo do banho e voltando a me jogar no sofá quando chegou, já era noite e eu imaginei que ele iria direto dormir. Preparei algo e comi e me assustei quando ele surgiu na sala tomado banho e arrumado.

- está nos convocando pra ir pra lá. - Fiz uma careta e abracei mais as cobertas em cima de mim.

-To com preguiça. - deitei em posição fetal me sentindo uma criança birrenta e puxou as cobertas de mim.

-Você é a primeira que fica dizendo que precisamos sair mais dessa casa, mas em toda oportunidade você tenta fugir. Hoje eu não vou deixar isso acontecer. - Ele parou com uma pose séria e estendeu a mão.

-Só se eu puder ir assim - Me levantei e ele acenou com a cabeça, me olhando de cima abaixo. Eu usava uma calça de moletom, uma camisa do Queen e meias.

-Você daria uma bela mendiga. - Ele bagunçou meu cabelo e juntos então seguimos pra casa de .

Ja fazia mais de um mês desde a última vez que havíamos nos reunido ali e por mais que fosse estranho, era confortável. Era acolhedor saber que todos ali partilhavam da mesma dor e estavam se ajudando a superar.

-, deixa eu te apresentar a Kate e Alana. -Tom me chamou assim que que entrei me apresentando as duas meninas que me abraçaram animadas. A primeira eu conhecia, lembrava dela como acompanhante dona festa de aniversário da . A segunda eu não fazia a mínima ideia de quem era.

Enrolei um pouco na conversa e na primeira oportunidade sai de perto dos três e me joguei no sofá onde e Hary jogavam, atrapalhando os dois em suas jogadas e ri empolgada quando percebi que havia feito isso.

-Desculpa, foi totalmente sem querer - fiz cara de inocente e me empurrou, bagunçando meu cabelo que já estava mais do que bagunçado.

-Resolveu sair de casa vestida de mendiga? - implicou comigo e eu revirei os olhos e automaticamente procurei por pela sala. Ele havia entrado comigo nos ombros e ido ao banheiro em seguida, agora conversava come as duas meninas que estavam com ele.

-Me deixa, eu tenho uma luz própria que independe de roupa - Joguei meus cabelos pro lado e me empurrou de novo e eu o ameacei com meu gesso. - Cadê as meninas?

-Eu estou aqui - entrou na sala olhando pros quatro que conversavam perto da porta e cerrou os olhos. - Cadê aquelas vacas que ficaram de passar no mercado e trazer as coisas pra pizza?

-Valerie me ligou quando eu estava chegando pra confirmar os ingredientes e avisando que estava no mercado - se pronunciou.

-Então você que é o cozinheiro? - A menina chamada Alana perguntou com um enorme sorriso insinuante e eu parei de prestar a atenção no que ela falava e voltei a conversar com os meninos.

-Posso jogar com vocês? Já que o me obrigou a sair de casa, quero fazer algo útil. - Joguei minha perna engessada por cima da de que resmungou e peguei o controle de sua mão, começando a discutir com sobre em qual jogo competiríamos. começou a riscar meu gesso com uma caneta que ele achou jogada na mesinha ao nosso lado, dizendo que era o toque final pro meu visual de menor abandonada.

Não demorou nem uma partida antes que Valerie e Rose chegassem com as coisas do mercado e perguntou quem se candidataria a ser seu ajudante, abri a boca pra falar mas a menina nova foi mais rápida que eu, se oferecendo empolgada demais, então fiquei em silêncio.

-Vem aqui que eu preciso falar com você - surgiu que nem uma fantasma do meu lado no exato momento em que pegava o controle de minhas minhas mãos.

-Credo garota, nem parece que me viu ontem, tudo isso é saudade? - Fiz cara de deboche e ela me ajudou a levantar e me carregou pro corredor olhando a minha volta.

-Como estão as coisas entre você e ? - Ela parecia desconfiada.

-Normais? - Ela cerrou os olhos

-Vocês ficaram de novo?

-Não. - Eu comecei a olhar pro lado desconfiada também. - O que aconteceu?

-Essa Alana tá afim do . E como oacha que tu não tá dando ideia, ele resolveu dar uma de cupido e colocar ela na fita dele pra ver se o desencana logo. - Fechei a cara antes mesmo do final da frase e senti aquela pontada no peito que eu sabia muito bem o que era: ciúmes.

-Sério? Ah, legal, se o quiser ficar com ela, de boa - Menti sentindo meu rosto esquentar e minha cara fechar.

-, sou eu. - me segurou pelos ombros. - , sua amiga, não precisa fingir pra mim. - Fiquei encarando por alguns minutos, antes de finalmente despejar.

-Filho da puta esse seu irmão hein - Soltei irritada - Não sabe nem o que tá rolando e sai fazendo uma merda dessas. Olha para a menina, toda gostosona e

-O gosta de você, garota! - Ela me sacudiu. - O já deu um fora nela no meu aniversário, mas ela resolveu insistir. Eu te contei isso não pra você encarar ela como competição, mas pra mostrar pra ela que já tem você no pedaço - Eu ri da forma que ela falou. - Você já tem o , . Ele já é todinho seu. Só não deixa essa menina se meter nisso. Não fui com a cara dela.

-ok.

-ok? Só isso? Ok?

-Claro que não, eu to indo ajudar o a fazer pizza agora. - Sai mancando pelo corredor com atrás de mim rindo.Só quando eu entrei na cozinha que eu realmente fui reparar na menina. Cabelos pretos, grandes e lisos, olhos escuros também, magra de um jeito que eu provelmente nunca seria e ela estava arrumada demais pra uma simples rodada de pizza com os amigos, bem tendo em comparação a minha pessoa, que estava usando calça de moletom e blusa larga.

-Querem ajuda? - Perguntei com ao meu encalço.

-Tá tudo sob controle - Ela foi a primeira a responder.

-Realmente acho que nem tem nada pra você fazer - falou mexendo a massa - Mas senta aqui e entra na conversa - Ele apontou o balcão e me jogou uma azeitona. Ele sabia que eu amava azeitonas e aquele simples gesto fez com que eu me sentisse idiota, não era um cara que precisava que eu estivesse presente pra lembrar de mim e não era aquela menina que estava ali a cinco minutos que iria mudar seu sentimento. Ele era diferente, não que nem os outros caras que eu conheci. Ele não era Tony.

-Se vocês não precisam da minha ajuda então vou voltar a jogar. - Me virei dando meia volta e sentindo aquele sorriso idiota que só Poynter conseguia colocar na minha cara. Com ele era diferente, não havia pressão ou inseguranças. Havia nós dois e a sinceridade que mantínhamos sobre nossos sentimentos. não era Tony. Eu não tinha com o que me preocupar.

-ué? - que ainda estava parada no mesmo lugar do corredor nde eu a havia deixado mexendo no telefone me olhou com uma cara de interrogação.

-Eu não preciso ficar lá. Vou voltar a jogar - dei de ombros e voltei ao lugar de onde havia me tirado.
Quando você é traída, acredito que ocorre uma mudança em você com relação a confiança. Pelo menos ocorreu comigo, Tony e eu eramos amigos desde sempre, ele foi a primeira pessoa que gostei, a primeira pessoa com quem me relacionei, e além da questão física, havia a amizade. Muitos anos de amizade e companheirismo envolvido e quando ele me traiu eu senti que nunca mais confiaria em ninguém. Foi como se uma parede tivesse sido incinerada sem chance alguma de reconstrução. E eu acreditava piamente que isso aconteceria com todas as outras pessoas que eu conhecesse a partir daquele momento, que eu não confiaria, que eu me fecharia e não me abriria pra novas oportunidades de conhecer e confiar em alguém, mas e entraram na minha vida pra me mostrar o contrário. Que nem todo mundo era digno de desconfiança, nem todo mundo era igual e nem todo mundo iria me decepcionar. Não valeria a pena julgar a todos e me privar de todo por causa do erro de um.

-Gente, tava aqui pensando, vamos pra balada depois da pizza? -se pronunciou - Estamos ficando muito tempo só dentro de casa, precisamos sair um pouco. - Ele parecia meio inseguro com sua frase e quando ele me olhou eu entendi que ele esperava minha aprovação pra ideia, talvez ele estivesse pensando que ele iria desrespeitar a memoria do meu irmão com aquele convite, quando na realidade eu acreditava no contrário. Quando faziamos algo que eu sabia que meu irmão gostava, eu sentia como se tivessemos honrando a memoria dele e tudo o que um dia ele foi.

-Eu até acompanharia vocês, mas além de estar vestida de mendiga, meu pé não me deixaria curtir nada.

-Eu fico em casa pra fazer companhia pra . - se pronunciou e e Alana chegaram da cozinha trazendo alguns guardanapos e copos.

-Achei que eu era a companhia oficial da - falou - Vocês vão pra onde pra ela precisar de companhia?

-Dei a ideia de irmos em alguma balada.

-Eu passo, to exausto. - tirou minha perna de um dos lugares do sofá e se sentou depositaado a mesma em seguida em seu colo.

-, acho que a não precisa de babá então. Acho que tá mais do que na hora de você voltar a mexer essa bunda ai - passou por bagunçando seu cabelo e ela revirou os olhos.

-A gente come e vai, por mim tá fechado. - Rose que falou dessa vez.

-É bom que todo mundo vai alimentado, que ai além de economizar dinheiro, ninguém corre o risco de dar PT. - Valerie falou se levantando e procurando alguma coisa dentro da bolsa.

-Eu fico de motorista da rodada, não tô afim de beber hoje. - se ofereceu.

-Fico também sem problemas - se ofereceu mas a grande realidade era que ela não parecia nem um pouco afim de sair.

-ótimo, entõ fechou? - Todos concordaram e assim seguimos a noite, comento pizza e nos despedindo logo em seguida da galera que iria curtir a noitada.
O caminho pra casa foi silencioso e esquisito, eu ficava me perguntando se havia percebido que eu fiquei "incomodada" com a presença da Alana ou se eu havia conseguido disfarçar bem, ao mesmo tempo eu sentia vontade de comentar sobre o fato dela estar afim dele e tinha medo do que poderia parecer e do que ele poderia pensar. E enquanto eu me questionava se falava ou não, já haviamos chegado em casa e eu estava jogada no sofá olhando pra TV que eu havia ligado num canal aleatório apenas pra disfarçar que eu estava totalmente pensativa e confusa.

-Você seria uma pessoa muito legal se abrisse o sofá, sabia? – parou na minha frente trocado de roupa, com um cobertos embaixo do braço fez uma cara de criança inocente que me fez ter segundas intenções com a ideia dele deitado naquele sofá comigo.

-Se eu te dissesse que eu estou extremamente confortável aqui, você acreditaria? – Eu estava deitada de lado no sofá com duas almofadas na cabeça e duas na perna.

-Então vou apelar – Ele sorriu fofo antes de tirar as duas almofadas da minha perna e se deitar no sofá comigo e na minha frente, jogando a coberta por cima de nós dois e se acomodando. Confesso que fiquei sem graça e agradeci por ele estar com as costas e não o rosto virado pra mim. Ele depositou sua cabeça no meu braço que estava estendido e suas costas encostaram-se com meu tronco. Me movimentei, chegando um pouco mais pra trás e depositei minha mão na sua cintura. Quando ele terminou de se acomodar, ficou na minha frente, então precisei subir um pouco para que minha cabeça ficasse entre seu pescoço e eu pudesse ver a TV – agora eu que estou extremamente confortável - eu não vi, mas soube que ele estava sorrindo e mesmo me odiando por isso, eu também sorri. Eu me sentia extremamente bem quando ele estava próximo.

-Infelizmente eu não posso dizer a mesma coisa – Menti e soltei uma risada e foi impossível não reparar que seu pescoço havia se arrepiado, na realidade eu estava arrepiada e provavelmente ficando louca, pois eu estava sentindo uma vontade absurda de passar a mão por seus braços, costas, cabelo, virar seu corpo pra mim e beija-lo.

-Você que quis assim, agora colha as consequências – Ele mexeu a bunda se acomodando mais ainda e pegando minha mão que estava em sua cintura e deixando-a em seu peito, me fazendo abraçá-lo. Estávamos de conchinha e por mais que a situação fosse estranha não era. Era bom. Estar com sempre era bom. Eu estava começando a preferir momentos como esse, onde podiamos ficar perto sem ter ninguém olhando, sem terenfiando uma Alana no meio sem saber de nada que estava acontecendo com a gente, mas ao mesmo tempo eu sentia raiva de mim. Se eu não queria nada com o agora, porque me incomodava tanto saber que tinha outra menina afim dele? Não era justo com ele que eu fosse egoísta a essa ponto,não era justo que eu ficasse segura do fato de que ele não daria ideia pra ela tão facil, não era justo com ele eu agir como se eu pudesse tê-lo na hora que eu quisesse e eu queria. Eu queria ele naquele exato momento, enquanto sentia seu peito subir e descer em minhas mãos. Eu queria ele, mas não devia. Eu queria ele mas tinha medo. Eu não queria querer, mas eu não conseguia evitar sentir. – Eu realmente estou na sua frente né? – ele disse depois de um tempo em silêncio, tempo esse que eu nem lembrei que a TV estava ligada.

-Sim – Disse talvez rápido demais e ele riu. Se virando de frente pra mim e logo em seguida passando por cima,se acomodando agora por trás de mim. Ele esticou o braço para que eu deitasse e passou a mão por minha cintura me puxando pra mais perto. Eu senti todo meu corpo se arrepiar e esquentar. Eu estava sentindo uma atração absurda por ele e sua respiração no meu pescoço não estava ajudando a pensar em outra coisa. Eu tinha certeza que não partia só de mim, a sala de repente parecia ter se convertido em tensão. Eu queria fazer alguma coisa mas eu estava paralisada com a ideia do dia seguinte. Do que fazer depois e de como encarar as consequências da minha atração momentânea. Resolvi mudar o canal da TV e fiquei fazendo isso aleatoriamente por um tempo até parar em um filme de comédia qualquer. Não demorou muito tempo e eu comecei a sentir o corpo de pesar ao meu lado e quando percebi ele já estava completamente adormecido, resultado da noite de insônia e do dia cansativo e agradeci mentalmente por isso. Eu queria sair dali e deixa-lo dormir quieto e confortável mas eu não conseguia. A única coisa que eu consegui fazer foi me virar para ele e encara-lo, me atrevi a mexer em seus cabelos e ele soltou um suspiro em meio ao sono pesado, o que me fez sorrir. Sorrir e praguejar ao mesmo tempo tentando entender o que diabos eu estava sentindo por Poynter.

...


Já era quase cinco da tarde e continuava dormindo pesadamente no sofá. Algumas vezes eu me aproximei dele só pra ter certeza de que ele ainda estava respirando e quando minha dúvida era descartada eu voltava a atenção aos meus cadernos. Bom, eu tentava. Meus olhos pareciam naturalmente atraídos para o ser que dormia ali, seu rosto tranquilo, sua respiração calma. Eu me perguntava quando eu havia começado a achar Poynter bonito, porque me lembro muito bem que assim que eu o conheci, eu não achava. Seus olhos se abriram e eu arregalei os meus, sentindo o enorme constrangimento por ter sido pega o encarando.
v -Bom dia – Ele se espreguiçou e eu peguei o telefone só para confirmar a hora.

-Bom dia? Boa tarde, quase boa noite meu querido – Me levantei, ele ficava bonito demais quando acordava, com aquela boca inchada. Era sugestivo demais pra minha sanidade. - Já passa das cinco. – olhou assustado para a janela que já nem estava mais coberta pela cortina.

-Ual, a muito tempo eu não dormia assim porque você não me acordou?

-Você parecia que estava precisando descansar. Aparentemente esse sofá te faz dormir que nem um bebê.

-Não é o sofá, é a companhia. – Não fique sem graça, não fique sem graça: fiquei sem graça.

-Você precisa começar a sair mais de dentro dessa casa.

- Eu estou bem assim, quando eu não estiver eu te largo por aqui e vou curtir a vida sozinho pelo mundo e pelas boates da vida.

-Só não vale sair por ai pegando um monte de mulher e destruindo sua fama de bom moço. – Ele sorriu abertamente com a minha frase.

-Não precisa ficar com ciúmes – Ele não estava se referindo a esse único comentário. Ele estava falando da noite anterior. E pareceu que ele ia dizer mais alguma coisa mas se silenciou. Se levantando e se enrolando na coberta.

-Já comeu? - Acenei negativamente com a cabeça – Pede algo, vou tomar um banho.

E assim eu fiz. Enquanto eu olhava pra TV e esperava a comida e eu não conseguia parar de pensar. Pensar em todos os prós e contras caso resolvessemos ficar juntos, pensar em todas as coisas que poderiam acontecer, em como as coisas poderiam ser, em como reagiria se eu pedisse pra irmos devagar, se eu dissesse que ainda não sabia exatamente como estava me sentindo. Muitas coisas a pensar e eu não conseguia mexer nenhum músculo para tomar pelo menos uma das atitudes que eu tinha e que mudava de ideia de minuto em minuto.

Quando voltou a pizza já havia chegado e enquanto comíamos tentávamos decidir que tipo de filme assistiríamos.

-Eu não gosto desse filme. Me dá raiva, eles demoram demais pra ficar juntos. Pelo amor de Deus. - Eu falava sobre simplesmente acontece que era a escolha que queria, mesmo já tendo visto o filme outras duas vezes. Chegava a ser engraçado: eu sempre preferia os de terror enquanto ele preferia as comedias românticas.

-Mas a vida levou eles pra rumos diferentes. Isso que é lindo, mesmo tudo dando errado eles acabaram ficando juntos no final.

-Pelo amor de deus, . não foi a vida. Foi o idiota do cara que resolveu levar a outra menina pro baile só porque ela era mais gostosa. Se ele tivesse pensado com a cabeça de cima, tudo teria sido diferente.

-Mas a própria amiga sugeriu isso.

-Ela sugeriu pra não ficar por baixo, mas na verdade ela estava morrendo de ciúmes.

-Se ela não queria que ele fosse, era só ter falado.

-Não é assim que funciona . - Eu estava quase revoltada com ele achar normal. - Eles era amigos, melhores amigos. E ela gostava dele, mas não sabia como ele se sentia, ela não queria jogar uma amizade fora por medo do que ela pudesse estar sentindo, até porque parece que nem ela mesma sabe exatamente o que ela tá sentindo. Mulheres são assim, elas ficam confusas e as vezes fazem o contrario do que deveria fazer por medo, ou insegurança ou por simplesmente tentar saber se o cara realmente tá afim ou se vai desistir de primeira, o que mostra que ele não tava tão interessado assim.

-Mulheres são confusas demais - Ele revirou os olhos. Eu tento entender, as vezes QUASE consigo mas então me perco.

-A gente só tenta se preservar. Ter o coração partido dói. Então a melhor coisa é tentar agir como se nada tivesse acontecendo. Pelo menos até ter certeza absoluta de tudo o que está acontecendo. - Aquela conversa não parecia mais ser sobre o filme.

-Vocês são ciumentas, absurdamente ciumentas, mas tentam com todo afinco não demonstrar isso. Ai se o cara percebe: vocês ficam com raiva. Se ao cara não percebe: vocês também ficam com raiva.

-Não é assim que funciona, mas eu também nem poderia dizer nada sobre ciúmes. Eu não sou uma pessoa ciumenta, de qualquer forma .

-Sim, você é. – Ele se virou pra me encarar – você é extremamente ciumenta, é só ver como você me tratava por ciúmes do Paul.

-Não eram ciúmes – me defendi.

-Era sim, você tinha ciúmes porque ele me tratava como se fosse meu irmão. Admite , você me detestava por um motivo que nem você lembra mais. – Eu não podia negar que ele estava certo, mas eu também não iria admitir isso pra ele.

-Eu só te detestava porque você era implicante comigo, só isso.

-Eu continuo implicando com você até hoje. Mas você mudou e não se irrita mas que nem antes, sabe porque? Por que você não tem mais ciúmes.

-Eu só te conheci melhor e percebi que você não era um babacão, só isso. Não tem nada a ver com ciúmes – revirei os olhos.

-E quando isso aconteceu? Quando você resolveu acreditar que eu não era mais um babacão? – não precisei buscar muito na minha mente pra saber exatamente quando isso havia acontecido. Senti meu rosto ficar vermelho da lembrança. – Anda, responde quando? - passou o braço pelo encosto do sofá ficando mais próximo a mim. Seu olhar exalava graça e curiosidade.

-Quando ao invés de me beijar dentro daquele armário quando brincamos de verdade ou consequência, você simplesmente me desafiou a te conhecer melhor. – Ele abriu um sorrisão tão fofo que eu quase me derreti. – Eu confesso que eu fiquei apavorada de entrar naquele armário porque a sussurrou pra alguém quando saímos da sala: finalmente vai ficar com alguém. Eu queria ter saído correndo dali e fiquei pensando com que cara eu iria te encarar no dia seguinte e se eu saísse, meu irmão nunca mais iria querer deixar eu participar de qualquer brincadeira porque ainda ia me ver como uma menina boba idiota que não aceita nada. Então eu simplesmente fiquei apavorada dentro daquele cubículo . Eu achei que você ia me beijar por obrigação e fazer piada depois, jogar na minha cara dizendo que tinha sido ruim, ou fazer qualquer piada idiota. Mas então você não me beijou, só me desafiou a te conhecer melhor e eu aceitei o desafio. E por causa disso eu cheguei a conclusão de que você não era um babaca

-Eu sou um cara que sempre espera os momentos certos para um beijo. – Ele disse me olhando nos olhos.

-Nisso eu preciso concordar. – Pronto, estava ali o clima que estava rolando mais do que frequentemente entre nós. Ele continuou me olhando nos olhos e eu me mantive fazendo o mesmo com ele enquanto ficávamos em silêncio. Eu queria beija-lo mas eu não poderia ser egoísta que nem eu havia sido da última vez naquele hotel. Ele tinha sentimentos, eu tinha sensações. Não era justo. Mas ao mesmo tempo, até quando eu iria sufocar aquilo que eu estava sentindo dentro de mim e me privar da oportunidade de saber o que poderia dar? Foi esse ultimo pensamento que fez com que eu me aproximasse de e o beijasse. Eu estava ficando cansada de evitar aquilo e era algo que eu precisava com todo desespero do mundo fazer. Ele pareceu surpreso e realmente não estar esperando pela atitude, mas logo depois levou sua mão à mina nuca, se aproximando de mim e aprofundando o beijo. A forma como nossas bocas se encaixavam e se movimentavam, a sincronia das nossas línguas explorando uma à outra era algo que pra mim descreveria maravilhosamente a perfeição. Nossas respirações descompassadas,a urgência que parecia haver em casa movimento nos nossos labios e do nosso corpo, só motrava que queria aquilo tanto quanto eu, o que não era surpresa. A química que parecia exalar de nós ainda era algo surpreendentemente novo pra mim, conseguia me deixar alerta só com um olhar e quanto ele me beijava era como se o simples toque de seus labios fosse uma faisca de chama e todo o meu corpo fosse gasolina. Nossos corpos se aproximaram mais no sofá apertado e meus braços se fecharam com mais vontade em volta de seu pescoço enquanto sua mão seguia pra minha cintura. Eu me perdia em seu cabelo e percorria suas costas aproveitando cada centímetro do seu corpo que estava próximo de mim e fazia o mesmo, descendo sua mão pela minha barriga e assim como eu, levando sempre consigo um pedaço de pano que naquele momento pra mim não era nada bem vindo ali. Eu desejei absurdamente que ele estivesse tocando toda minha pele e não também minha blusa. Foi naquele momento que eu percebi que eu queria mais intensamente do que eu pensava. Talvez juntos, chegamos a conclusão de que precisavamos de um pouco mais de ar e então começou a distribuir seus beijos pelo meu pescoço. Uma onda maior de arrepio e excitação tomou conta de mim e aquilo era novo. Era uma sensação nova a que ele estava causando no meu corpo. Eu sentia meu peito comichar e a pressão entre minhas pernas aumentar e soltei um suspiro mais alto quando a mão de alcançou meu peito, mesmo por cima do sutiã. Eu já havia transado, já havia sido tocada e explorada então a sensação pra mim talvez fosse diferente do que era pra . Embora fosse algo novo, era comum. Comum beijar, tocar, explorar, avançar. Pra ele não. Era tudo inédito. Havia sutileza e carinho na forma como ele tocou meu seio, mas também havia muita vontade na forma que sua mão me envolveu e em como ele retomou nosso beijo, dessa vez com um pouco menos de intensidade do que antes, mas parecia mais intimo, Como se já estivéssemos mais do que acostumados a fazer aquilo. mordeu meu lábio inferior e se afastou de mim apenas o suficiente para que pudesse me encarar bem nos olhos e então sorriu. Eu pensei em palavras, no que dizer, em qualquer coisa, mas pra mim o mundo naquele momento parecia significar apenas aquele sorriso que ele estava dando e a forma que ele estava me olhando.

-Acho melhor eu parar aqui , antes que eu acabe perdendo esse meu timing pros momentos certos. - Ele não se referia mais aos beijos. Ele também queria mais, e como o ser racional que ele era, ele sabia que não seria saudável pra nos dar aquele passo naquele momento. Foi bom saber que ele se preocupava conosco ao ponto de se reservar. E então ele me deu um ultimo beijo e se afastou de mim, mas manteve seus braços por cima de meus ombros, me puxando mais pra ele e me aconchegando em seu peito, virando-se de frente pra TV.

-E então, qual filme vamos ver?

Continua



Nota da autora: CASEI. Agora sou uma Senhora e tenho um marido. Tá sendo tão esquisito isso e tão gostoso ao mesmo tempo que vocês não tem noção. Quero pedir desculpas pela demora da atualização e agradecer as mensagens de carinho e apoio que recebi de cada uma de vocês. E pra recompensar mandei logo uma att dupla. E ai, o que acharam? Não esqueçam de comentar, seja aqui ou lá no grupo do facebook. É sempre bom tr um retorno de vocês.
Até a próxima.
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