CAPÍTULOS: [ÚNICO]





Não Posso Mais Dançar Sozinho






CAPÍTULO ÚNICO


Era mais uma noite fria daquele mês de maio. O outono daquele ano veio surpreendendo com seus ventos gelados e dias inteiros de chuva fina. Morar em frente à praia, afinal, não era assim tão vantajoso. Pelo menos não agora, sem que ela estivesse ali com ele.
Da janela, ele observava a orla vazia, os coqueiros balançando conforme o vento dava a direção pra qual deviam pender e as ondas batendo com certa força. O som era triste agora, vazio. Sem nenhum sentido. Afinal, ele detestava praia. Tudo o que ele havia decidido pra sua vida tinha sido em função dela. E o que lhe restou foi a solidão.
No anelar da mão esquerda estava a aliança. Ainda reluzia sob a luz fraca do abajur da sala. Era inútil assisti-la ali em seu dedo enquanto toda a certeza de que ela jamais voltaria inundava o peito dele.
Por mais amigos que tivesse, nenhum se equiparava às garrafas de vinho que ela havia deixado pra trás. A geladeira já andava vazia fazia um tempo. A pilha de relatórios do trabalho frustrante se acumulava numa escrivaninha, completamente zoneada, de canto de sala.
Ele se sentou com a quinta ou sexta taça de vinho na poltrona que havia sido do avô. Avaliou o ambiente e, mais uma vez, a dor e a angústia se fizeram latentes. Ele se perguntou de novo o que estava havendo com ele. Perguntou-se mais uma vez onde ele havia errado e por que Deus havia sido tão injusto. Perguntou ao universo se ele merecia tanto assim a solidão.
Acendeu um cigarro. Dois. Chegou ao quinto com alguma facilidade. A barba espessa merecia, fazia algum tempo, alguns cuidados. Mas ele não ligava. Pra que ou pra quem ele deveria se arrumar? A quem ele deveria impressionar? Não importava. Não importava a aparência. A solidão não ligava pra isso e o abraçava forte para que não fosse ao barbeiro e deixasse tudo na ordem que estava.
Passou a mão pelos cabelos, tão compridos agora. Mais uma vez avaliou a casa. Centímetro a centímetro, as sombras, as luzes, os cômodos. Ainda havia muito dela ali. Aquilo, talvez, fosse a pior parte. Mantê-la ali, mesmo não a tendo mais em seus braços, em seu colo, respirando próxima ao seu peito enquanto assistiam a qualquer bobagem na televisão.
Pensou consigo que deveria dar uma volta. E, depois de um curto monólogo, onde pesou os prós e os contras daquela saída repentina, chegou à conclusão de que deveria sentir melhor aquele frio corroê-lo. Andar nele não seria mal. Sentir frio, àquela altura, seria ótimo.
Pegou o casaco de moletom azul marinho em cima do sofá. Vestiu e guardou em seu bolso o maço de cigarros e o isqueiro com seu nome riscado na lateral. Era azul metálico e ela havia dado a ele de aniversário no ano anterior. Colocou ainda algum dinheiro, para o caso de querer parar para beber alguma coisa. E saiu, guardando, por fim, as chaves nos bolsos já bem cheios.
Descendo a rua, ele viu pessoas lotarem os restaurantes. Olhava os casais namorando, tocando as mãos, trocando olhares. Aquilo o machucava. Talvez se já a tivesse substituído, arrumado alguém melhor, com um sorriso mais puro e menos manipulador e com olhos tão brilhantes quanto os dela... Alguém que renovasse nele a esperança para com o resto do mundo.
Continuou a observar a rua. Vieram os prédios e, por fim, os casarões de um milhão de décadas que resistiram ao tempo. Um deles, ele sabia, estava abandonado fazia muito tempo. No outro, ele tinha escutado dos amigos uma vez, trabalhavam umas meninas muito bonitas, com as quais muitos deles já haviam saído.
Ele nunca tinha ido. Achava que não era preciso. Afinal, ele havia encontrado o amor de sua vida. E eles ficariam juntos pra sempre. E nela, e somente nela, ele encontraria tudo o que ele precisava. Grande poço de merda. Ela havia simplesmente ido. E deixado tudo pra trás.
Talvez ninguém olhasse pra ele com desejo naquele estado em que ele se encontrava. Não uma menina comum, obviamente. Se ele pagasse, no entanto, ele seria mimado e cuidado como tanto queria há tempos. Talvez ele não esquecesse dela. Talvez suas esperanças não se renovassem. Mas sua carne se saciaria. Ele não era hipócrita. O toque, os beijos, o sexo como um todo fazia muita falta. Já eram oito meses no vazio. Apenas ele e todas as suas frustrações, presos um ao outro, engarrafados num vidro de vinho barato.
Ele parou diante do portão alto. Respirou fundo, assentiu num gesto idiota de “tudo bem, eu consigo fazer isso” e entrou, de cabeça baixa, no velho casarão. Cruzou o pátio extenso, subiu a escadaria alta, quase infinita, e parou diante da porta de madeira. Hesitou por quase três segundos e, quando pensou em forçar a porta, uma moça de longos cabelos e olhos profundamente saiu.
- Olá – ele disse, num só fôlego.
- Como ousa destratar meus clientes dessa maneira, sua putinha? – Uma velha surgiu atrás dela, dando-lhe um leve empurrão.
Os olhos dela de novo encontraram com os dele. Pareciam cheios d’água, entristecidos, só agora ele havia notado. Sua boca abriu algumas vezes. Diante daquela cena, ele não sabia ao certo como reagir. Simplesmente tomou fôlego. Ele nem sequer havia visto aquela moça uma única vez que fosse, mas não podia vê-la chorar.
- Senhora, ela veio me receber. Desculpe se ela foi rude, mas eu fui um pouco insistente – ele disse de uma única vez.
- Por que eu nunca antes vi o senhor insistente, então?
- Eu ia a casa dele, senhora – a menina falou baixinho, ajudando-o com a mentira. Ela queria que ele se mantivesse ali, fazendo exatamente aquilo. E ele soube disso quando, mais uma vez olhou em seus olhos, antes de continuar com sua atuação.
- Me perdoe, senhora, mas eu precisava vê-la com urgência e ela me disse estar muito ocupada com os outros clientes... Então eu disse que viria pra cá.
- Claro que sim. O senhor paga bem, então? É rico?
- Não há do que reclamar.
- Ótimo. Vai levá-la com você, então? Ou, já que veio... Quer ficar por aqui?
- Na verdade... – Ele a olhou mais uma vez e viu que, notoriamente, ela não queria mais estar ali. – Vim buscá-la.
- Então arraste essa putinha daqui de uma vez, garoto. Ande logo com isso.
- Era o que eu pretendia. Arrastá-la logo daqui – ele segurou a mão da menina enquanto encarava a velha com certa raiva. Os dedos se entrelaçaram num encaixe perfeito. – Vamos?
- Vamos.
Os dois saíram em caminhada pelo pátio, ainda de mãos dadas, sob o olhar severo da velha que se matinha firme no alto da escadaria. Ela ficou ali até que o portão se fechasse e a imagem dos dois desaparecesse da frente do casarão.
Na rua lateral a da velha casa, finalmente, eles pararam. Ele tinha a respiração ofegante e ela, depois de muito resistir, explodiu num choro compulsivo e cheio de dor. Ele a assistiu chorando e, com um nó na garganta, apenas a abraçou. Seu peito ainda descia e subia numa velocidade inconstante. Seu coração batia muito depressa.
Suas mãos tocaram os cabelos da menina, arrumando-os para trás dos ombros. Depois, ele a segurou pelo rosto e secou suas lágrimas com seus polegares, que desenharam as curvas daqueles belos olhos tristes.
- Uma moça com olhos tão bonitos não deveria ter um olhar tão triste.
- Obrigada por ter me ajudado, senhor – ela secou as lágrimas com as costas das mãos.
- Senhor? – Ele riu fraco. – Não sou assim tão velho. É que não ando nos meus melhores dias.
- Perdoe-me, não quis ofendê-lo.
- Não ofendeu... Como é seu nome? – Ele perguntou num tom carinhoso, protetor.
- Me chamam de Pérola.
- E deveriam mesmo. Com todo o respeito, a senhorita é linda, como uma joia – ela deu a ele um meio sorriso. – E sorrindo parece que fica ainda mais – foi ele quem sorriu dessa vez. – Me chamo .
- Olá – ela quase riu. – Me perdoe por aquela situação lá atrás, aliás... Por tudo, esse choro agora... Perdão.
- Não se desculpe. Mas se quiser me contar o que houve, acho que temos tempo.
- Deve ser o mínimo que posso fazer.
Longos minutos depois, sentados num banco de praça e comendo pipoca, toda a história havia sido contada. já parecia fissurado em cada gesto de Pérola. Ele sabia que não era seu nome de verdade, mas tudo que ela dizia, parecia muito autêntico e verdadeiro. Ela não estava ali por opção, era um fato. E pra ele, já não parecia ser uma opção ficar longe de alguém tão especial.
Ele, que havia chegado com um propósito tão rarefeito e carnal, já não queria mais sequer um beijo se antes não pudesse cuidá-la da forma que merecia. Por vezes, ele pensou, era melhor ser jogado fora a ser usado de maneira tão devastadora. Ainda assim, Pérola parecia sonhar. E dentro dele, lentamente, a esperança em relação às coisas e às pessoas foi crescendo. Por conta de gente como Pérola, que mantinha em si uma luz tão bonita, isso era possível. Crer era possível. Bastava afastar a maldade que a cercava pra um brilho raro, ainda que tímido, reluzisse.
- E você, ? Qual é sua história?
- Minha história? É triste como a de muitos. Mas é algo que dá pra levar... – Ele sorriu de canto. – Eu me casei dois anos atrás. E há oito meses minha esposa me trocou por outro cara. Acho que acontece muito... Ser trocado. Às vezes as pessoas se frustram e você deve deixá-las ir.
- Algo me diz que não é tão simples assim.
- E não é... Mas não tenho coragem de lamentar sobre a minha vida depois de tudo que eu vi aqui, hoje. Você é inspiradora, Pérola.
- Obrigada, . – ela sorriu de lado. – E sua esposa foi uma boba. Trocar um homem capaz de ajudar uma garota que ele nunca havia visto numa situação daquelas... Não se vê gente como você por aí, em qualquer esquina.
- Eu não pude ignorar seus olhos.
- Obrigada outra vez? – Ela finalmente sorriu abertamente.
- Olha, eu consegui. Arranquei um sorriso seu?
- Não seja convencido.
Pérola manteve o sorriso. Todos os seus dentes estavam expostos. Os olhos reluziam tal qual todo seu rosto. Ela realmente estava feliz e relaxada. Seria pretensioso da parte dele achar que ela estava assim por causa dele? Talvez fosse. Mas aquilo o fazia sentir muito bem. Fazia-o sentir-se como nunca antes.
- , eu preciso voltar.
- Me chama de , apenas. Acho que já posso me intitular seu amigo.
- Amigo?
- Não é bom assim?
- Desde que para Margot você seja apenas um cliente...
- Então me deixe ser o número um pelo menos.
Ela sorriu mais uma vez. Até a hora de voltar, pelo menos, não houve angústia em seu olhar. Uma pena o tempo ter passado tão depressa. Logo estavam diante do portão, despedindo-se no que parecia um adeus. Ele não queria deste jeito. E jurou a si mesmo que voltaria logo. Era um até breve. Até muito breve.

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Duas noites depois, voltou ao casarão. Dessa vez entrou, tomou um lugar em uma mesa reservada. Assistiu a um show de música verdadeiramente emocionante. Era triste, introspectivo, mas, ainda assim, inspirador. Talvez como todas as meninas daquele lugar. Cheias de sonhos em stand-by.
- ?– A doce voz de Pérola soou em seus ouvidos. Ela estava vestida diferente hoje, com roupas mais apertadas e um salto altíssimo.
- Pérola! – Ele se levantou num pulo e a abraçou forte. – Não sabe quanto senti sua falta!
- Por que não veio antes?
- Achei que era melhor esperar que aquela velha esquecesse meu rosto... Afinal, eu sou o senhor insistente que atrapalhou os planos dela com você, não?
- Ela jamais esquece um rosto – ela suspirou. – Vamos a outro lugar. Aqui não é bom para ficarmos.
- Claro – ele sorriu. – Reparou em algo diferente?
- Cortou o cabelo, não? E fez a barba! – Ela sorriu. – Tenho que correr com você daqui. Antes que te roubem de mim.
Os dois subiram uma longa escada até os quartos e entraram em uma das muitas portas do extenso corredor. As mãos estavam unidas num gesto de carinho. Ela tirou o salto assim que entraram no ambiente que destoava completamente do resto da casa. Era claro, tranquilo.
- Seus olhos são verdes! – Ela sorriu mais uma vez. – Não tinha reparado.
- Era muito cabelo junto – ele riu. – Combina com os seus, então. Não?
- Se você está dizendo...
- E obviamente eu sempre tenho razão.
- Eu me esqueci de te agradecer naquela noite... – Ela se aproximou dele.
- O que você mais fez foi agradecer...
- Obviamente, naquele dia, você não veio à toa – as mãos dela correram o peito largo dele, coberto por uma blusa branca de mangas curtas.
- Eu vim pra te encontrar, só não sabia disso até chegar aqui... – A respiração dele se alterou conforme os dois ficavam mais próximos.
Os lábios por fim se colaram e as carícias foram tornando-se cada vez mais íntimas e intensas. Conforme o tempo corria, os dois pareciam se entregar mais e mais ao que estavam sentindo. Era algo além de atração. Os olhos, por vezes incontáveis, se cruzavam num gesto de redenção. Entre os dois parecia não havia nada a esconder. Eles sentiam que pertenciam um ao outro.
Ao fim, com as pernas entrelaçadas e de mãos unidas, os dois ficaram deitados, escondidos nas cobertas. Sentiam-se diferentes. A sensação de cuidado, que por tanto tempo não abrigava nos dois, era sentida. Realmente eles se pertenciam. Pelo tempo de vida que ainda restasse a eles.
- Pérola, eu preciso te levar comigo.
- Você sentiu saudade de mim, ?
- Muita. Da sua voz, dos seus olhos... Do seu jeito de sonhar com dias melhores... Eu preciso te levar comigo – ele beijou o ombro dela, carinhosamente.
- Eu quero sair daqui. Também senti sua falta.
- Há quanto tempo você trabalha pra essa senhora?
- Faz pouco mais de um ano... Minha mãe morreu e meu padrasto... Bom, deixa pra lá. Faz pouco mais de um ano.
- Vocês contraem dívidas com ela?
- Infinitas... – Ela riu fraco.
- Como ela se chama mesmo?
- Margot.
- Certo – ele se levantou de súbito e começou a se vestir. – Escute, eu preciso ir. Amanhã preciso acordar cedo pra resolver algumas coisas.
- Está tudo bem com você?
- Ainda não... Mas vai ficar, eu prometo – ele deu um beijo na testa dela. – Até logo, pequenininha – e disse, antes de acariciar os cabelos compridos dela e olhá-la, mais uma vez, no fundo dos olhos.

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Na tarde seguinte, depois de ligar para o casarão e falar diretamente com Margot, apareceu com uma mochila cheia de notas. Minutos antes da chegada dele, a senhora havia pedido que Pérola juntasse todas as suas coisas e entregou a ela um envelope com os documentos que tinham sido apreendidos por ela.
A menina nada havia entendido, mas, como desculpa, Margot havia dito que Pérola viajaria com um cliente. Seu coração apertou em pensar que o tempo que ficasse fora, não veria outra vez. Mas, como não tinha outra opção senão obedecê-la, fez as malas e desceu para esperar o tal.
- Aqui está, senhora, o valor que combinamos para que a moça venha comigo.
- O senhor é mesmo cheio do dinheiro, não?
- Na verdade, tudo o que eu tinha guardado está nessa bolsa. Somente por ter toda essa quantia é que pude oferecê-la.
- Sua sorte é que essa putinha me dá muito trabalho, caso contrário, esse valor não seria equivalente. Eu jamais venderia um produto que me desse lucro...
- Que alguém ainda tenha pena da senhora, Margot – disse, a encarando no fundo dos olhos. – Onde está minha menina?
- Você pensa que vai ser um sonho? Em um ano essa menina esteve com mais homens que o tipo de mulher que você conhece esteve a vida toda. Não vai ser fácil pra você quando ela for reconhecida como a minha Perolinha... – Margot riu em deboche. – Que alguém ainda tenha piedade de você, rapaz.
- O amor daquela moça já me é suficiente.
- Aliás, ela está na sala te esperando... Aproveite bem o produto. Eu não faço trocas e não aceito devoluções.
saiu em disparada em direção à enorme sala de estar. Alguns homens consertavam coisas no palco e duas meninas conversavam com Pérola. Quando ele a viu, junto às malas, só conseguiu pensar em correr e abraçá-la para logo tirá-la dali.
- Vejo que você já está pronta – ele ajeitou os cabelos dela, como já havia feito algumas vezes antes.
- ... O que...
- Agora está tudo bem, pequenininha – ele disse, enquanto pegava as duas malas da moça e as pendurava nos ombros. – Hoje você vai comigo para nunca mais voltar.
entrelaçou seus dedos com os de Pérola e cruzou o salão de maneira apressada. As meninas que acompanhavam sua garota assistiram àquilo tudo sem entender o que estava havendo, mas não foram atrás de tirar satisfações.
Do lado de fora da casa, na calçada, soltou as bolsas e olhou sua menina nos olhos. Respirou fundo e a apertou profundamente em seus braços. Sentiu seu perfume e a beijou por um longo momento, com ternura.
- , o que está havendo?
- Não sei se isso soa romântico, mas hoje de manhã eu liguei pra cá. Tomei cuidado de fazer isso de um orelhão, afinal, eu não sabia que tipo de pessoa era Margot. Fazia ideia, então... Ah, que importa isso! Eu consegui te tirar daqui. Ela me disse o valor da sua dívida e eu fui ao banco correndo. Vim direto pra cá depois... Eu... Eu não ia suportar...
- ... Você...
- Eu preciso de você, minha pequenininha. Eu não posso mais dançar sozinho. Não posso mais viver sem teu cheiro, sem você...
- ... – Os olhos dela de encheram de lágrimas e seus braços envolveram o pescoço de . Os lábios se tocaram e todo o mundo pareceu fazer sentido. – Eu amo você. Não me restam dúvidas.
- E eu amo você. Desesperadamente.
- Aliás... – Ela se soltou por um instante. – Meu nome é ... Muito prazer? – Ela deu de ombros, tentando conter um riso aliviado.
- – ele beijou as costas das mãos dela. – Quer se casar comigo?


FIM



Nota da autora: 07.04.2015




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