Naquela noite completava três meses que null estava em Londres, null sabia que mais cedo ou mais tarde ela iria embora, porém, esperava que esse momento nunca chegasse. null mantinha a postura firme, de frente para a janela tentando ignorar o olhar fixo de null em suas costas, tentando não pensar que o momento da partida havia chegado, e agora, mais do que nunca, a partida seria dolorida.
- Você sabe...
- Sim, três meses se completam hoje. - null interrompeu a garota. Ele sabia. Oh, como sabia que hoje se completavam três meses. Desejou fervorosamente poder congelar o tempo e roubá-la para ele, mas ele não podia. Por que havia se apaixonado por ela? Ela disse que partiria, que sempre partiria. null dizia não suportar viver em um lugar mais de três meses, por isso já conhecera o mundo. Para null era difícil dizer se null conheceu o mundo ou se o mundo que havia a conhecido; ela fazia parte do mundo, assim como o mundo fazia parte dela; ele podia passar horas e horas a fio a ouvindo contar sobre as culturas que ela conheceu, sobre os costumes típicos de cada região, sobre as pessoas que ela conhecera, as comidas e as músicas, tudo era encantador na voz da garota. null vinha de uma família de hippies e mochileiros e não negou sua genética; ela morou com os pais num motorhome, indo de estado para estado sem se importar com o que deixava para trás, gostava de ir à escola, pois dizia que era fascinante conhecer tantas pessoas diferentes reunidas em só um lugar e por causa disso, havia aprendido a ler e compreender as pessoas de uma forma simples. Aos 18 anos, decidiu que era hora de viver por si só, deixou os pais e o Brasil, seu país natal, e partiu sem rumo. null achava incrível como null sabia se virar em qualquer lugar e em qualquer situação, quando ela chegava a um lugar novo a primeira coisa que ela fazia era se instalar em um daqueles hotéis baratinhos, dizia que não precisava mais nada do que uma cama e um chuveiro, ter água quente era bônus por se alojar em hotéis e não em campings; depois disso procurava um emprego qualquer de garçonete com um salário suficiente para se manter por um tempo ali. null se sentia grato todos os dias por ter entrado naquele café de esquina por insistência do amigo e assim que seus olhares se encontraram algo disse a null que sua vida seria diferente a partir daquele momento. "Oi, o que posso trazer pra vocês?" foi a primeira vez que ouviu a voz de null, seguido de um sorriso que havia feito null estremecer; o café que null o entregou não era dos melhores, mas null não se importaria de tomá-lo todos os dias se fosse para revê-la. "Sabe, você vem aqui muitas vezes.", null disse a null, e ela tinha razão; havia umas três semanas que ele passava no café no mínimo três vezes na semana e se sentava na mesma mesa, onde sabia que ela o atenderia; "O que eu posso te oferecer hoje?" a garota o perguntou como de habitual, "Seu nome e talvez seu telefone?" null riu e null apreciou aquele som como nenhum outro que já ouvira, "Me chamo null. Eu não tenho um telefone, mas meu expediente acaba às 22 horas." null estava parado na porta do café faltando exatamente 1 minuto para as 22 horas, null sorriu ao vê-lo e ele percebeu que quando ela sorria, seus olhos brilhavam de tal forma que era como se eles também sorrissem. null passou a noite toda com ela, null o contou que fazia apenas um mês que estava naquela cidade e mesmo assim, o levou a lugares que ele nem sonhava existir, era como se cada palavra dita por null fosse um encanto sobre null e ele sentiu que aquela foi a melhor noite da sua vida, porém hoje, ele já não sabia mais qual havia sido a melhor noite da sua vida, pois cada noite que ele passou com null haviam sido formidáveis.
- Parece que foi ontem que nós assistimos o Sol raiar pela primeira vez... - null comentou com null, o induzindo a outro devaneio. Outra coisa que encantava null era o prazer que null sentia ao assistir o sol nascer ou se pôr, ver as nuvens, as estrelas e a lua; null costumava dizer que era guiada pelos cosmos, o que ele achava engraçado. null o ensinou a assistir o céu e se sentir pleno e satisfeito com o ato, outra coisa que seria grato para sempre.
- Ou que você me ensinou as fases da lua e algumas constelações. - null relembrou. Em uma das noites que eles estavam observando o céu, null mostrou a ele algumas constelações e lhe ensinou as fases da lua, "Você me lembra a lua, null.", null disse a ela e pôde perceber a surpresa da garota ao ouvir tal comentário, "Por que null?" "Porque assim como a lua, você emana um brilho, uma luz e faz todos se apaixonarem, devido a sua delicadeza, a sua leveza e a sua majestade." Ao ouvir isso null sorriu de tal forma que o coração do garoto se aqueceu por dentro e num lapso de coragem null revelou que a amava. Como era possível amar alguém em apenas uma semana? null não sabia como, mas sabia que sentia isso em todas as suas entranhas. null não recuou ao ouvir que null a amava, sorriu, um sorriso mais alegre, mais aberto e bonito do que o de costume e lhe deu um beijo suave, depois se aconchegou no peito do garoto e voltou a olhar a lua e as estrelas e null por fim descobriu que poderia viver aquele momento pelo resto da sua vida.
- O céu está estrelado hoje, mais que os outros dias. - null comentou no momento em que parou ao lado de null.
- Talvez os cosmos queiram dar um pouco de beleza a essa noite triste. - E null se lembrou daquela noite... "Sabe null, acho que nossos caminhos estavam traçados pelos cosmos nas estrelas." "Por que null?" "Porque nós somos duas pessoas totalmente diferentes, você tem uma casa, um lar, amigos e família perto de você, eu não, nunca tive um lar, minha família eu deixei pra traz e o mais perto de amizade que eu tive são as pessoas que convivem comigo por três meses; você tem uma vida fixa null, um futuro e tudo que eu tenho é a estrada, sem saber o que será do dia de amanhã. Seus amigos dizem que a pior bobeira da sua vida foi ter se apaixonado por mim, se meus pais estivessem aqui, eles diriam que você foi a melhor coisa que me aconteceu e que agora eu teria a chance de viver uma vida com um amor como o deles. Você é tudo que eu não sou null e eu sou tudo que você não é, mas nada disso me impediu de te amar." e ao ouvir aquelas palavras, null sentiu que agora ele pertencia a algo no mundo, que alguém o amava por ser quem ele era. Naquele momento null sentiu que os cosmos estavam o abençoando, porém hoje, ele sentia que aquilo era apenas uma brincadeira amarga. Qual era o sentido de ganhar inesperadamente aquilo que você sempre quis e perder tão rápido, sem poder fazer nada?
- Eu amo você null, independentemente do que os cosmos queiram para nós. - null disse tão suavemente quanto as outras vezes que dissera que o amava e encostou a cabeça no ombro de null. "Eu amo você null" ele se lembrava de todas as vezes que ela havia dito aquilo e todas as vezes foram extasiante. Até mesmo o dia em que ela quebrara seu coração pela primeira vez. "null, o que a gente está fazendo é errado, o que eu estou fazendo é errado. Eu vou embora, você sabe que eu vou, eu sempre vou. Eu não quero te magoar mais." null sabia disso, sempre soube, mas conforme as palavras iam saindo da boca de null, era como se cada parte dele quebrasse em pedacinhos. "Eu amo você null, mas eu não posso continuar com isso. O que você vai fazer quando eu for embora? Eu sou um pássaro livre, lembra?" ele perdeu as contas de quantas vezes ouviu aquelas palavras, todas as vezes o machucaram na mesma proporção, mas logo depois tudo se acertava, renovando a falsa esperança de null.
- Eu também amo você, null. - Era possível sentir a dor que null sentia pelo tom da sua voz. Nenhum dos dois jamais imaginaram que iriam passar por uma situação parecida.
- If I leave here tomorrow, would you still remember me? - null cantarolou para null e a memória que a música trouxe perfurou seu coração. "Você merece alguém que fique com você null, alguém que te ame como eu, mas que seja melhor que eu. Alguém que te dê um futuro, coisa que eu não posso fazer." "Eu não entendo null, por que você não fica?" "Eu não posso null." "Por que não? Por que você não tenta?" "Bye bye baby, it's been a sweet love, yeah, yeah, though this feeling I can't change but, please, don't take it so badly 'cause Lord knows I'm to blame, but if I stayed here with you girl, things just couldn't be the same 'cause I'm as free as a bird now and this bird you'll never change, and the bird you cannot change, and this bird you cannot change, Lord knows I can't change, Lord help me, I can't change." aquela foi a primeira vez que null cantou um pequeno trecho da música que ela dizia ser sua definição. "Você tem uma música que te defina null?" "Acho que não null, e você?" "Sim, Free Bird do Lynyrd Skynyrd. Todas as vezes que eu me sinto solitária, é essa música que eu canto. Ela me faz lembrar de quem eu sou."
- Sempre, null. Sempre. Won't you fly high, free bird, yeah? - null cantarolou em resposta com um sorriso triste. Na época ele não conseguia entender por que ela era tão apegada àquela música e hoje ele finalmente entendeu. null compreendeu que, apesar de seu coração pertencer inteiramente a null, o dela pertencia ao mundo. Ela era o mundo. Ele não podia e muito menos queria prendê-la, pois afinal, ela era um pássaro e pássaros são livres, e assim como eles, ela tinha que voar e entoar seu canto em outras árvores. Ela tinha que seguir a sua jornada, conhecer lugares, coisas e pessoas novas, quem sabe até ser o mundo para outro alguém, como ela era para ele. Para ele, naquele momento, bastava ter um pedaço do coração dela. Ele sabia que ela o amava verdadeiramente, null o mostrou o mais puro, singelo e intenso amor; assim como ela seria para ele, ele sabia que seria inesquecível para ela e se sentia grato por isso. null sorriu e depositou um beijo na testa de null, pegou seus pertences e deixou o quarto; quarto que agora estava tão vazio como o coração de null. "Peça as estrelas null, elas ouvirão você." "Como se pede as estrelas null?" "Olhe para o céu, procure a estrela mais brilhante, feche bem os olhos e mentalize a coisa que você mais quer e seu pedido se realizará." ainda parado na janela do quarto, null procurou a estrela mais brilhante no céu aquela noite e fez o seu pedido. Pediu que um dia ela voltasse.

- -


Haviam se passado três anos desde aquela noite e não tinha somente um dia em que null não sentia a falta dela. null viajou para os lugares mais inesperados e em nenhum deles achou algo que a fizesse superar a falta que null fazia. E ali, encostada em uma árvore, ela o viu. "Talvez seja aqui que você pertença, null" seu coração a disse. No momento que seus olhares se cruzaram, o tempo pareceu congelar e nada mais importava, null via null se aproximar dela em câmera lenta, seu coração palpitava mais do que nunca, suas mãos suavam frio. null sorriu, um sorriso que a fez esquecer o mundo.
- Três anos, huh? - Ela quebrou o silêncio.
- Eu sabia que você voltaria null.
- Você sabia? Como?
- Sim. Eu pedi as estrelas. - E ela o abraçou. Abraçou tão forte o quanto pode, tentando transmitir tudo que ela sentiu sem ele, toda saudade e todo o amor.
- Nossos caminhos foram traçados pelos cosmos nas estrelas null.
- Quanto tempo você vai ficar dessa vez? - Ele o perguntou, era possível sentir que o medo que ele sentia da resposta e a felicidade por ela estar ali se mesclavam no ar.
- Talvez seja a minha hora de pousar e construir um ninho. - Levou três anos para ela entender o que seu coração já havia entendido a primeira vez que null sorrira para ela. Ela pertencia a qualquer lugar onde ele estivesse, seu lugar era com ele. null era o lar dela, assim como ela era o dele.


Fim



Nota da autora: Sem nota.




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