Os cartazes para o baile de formatura já estavam espalhados por todos os cantos do colégio, e muitas meninas estavam eufóricas com a situação. Acompanhante, vestido, maquiagem, limusine, festa. Eleonor e eu não fazíamos parte desse grupo por diversos motivos. Eleonor era lésbica, e não poderia de maneira alguma ir acompanhada de sua namorada, Jenna, e enquanto eu não estava me importando porque nenhum garoto iria me convidar, e eu odeio festas. No dia do baile iríamos a qualquer lugar encher a cara, ilegalmente, e comer muito para aproveitar a sensação de liberdade pós-ensino médio.
Seria clichê demais eu dizer que nós três éramos excluídas, então irei apenas falar que somos garotas que não gostam da convivência com certas pessoas do colégio. Grande mentira a parte da não convivência. Como todas as escolas são basicamente dividas por grupinhos, a nossa não seria diferente, exceto na parte em que todo mundo é amigo de todo mundo – nas coxas, como diz minha mãe – e não existe o pessoal popular, e sim aqueles que são mais conhecidos que os outros. Graças a Deus eu não fazia parte dele. Sempre me assustou chamar atenção, e não seria agora que isso mudaria.
- , você tá ai? – Eleonor passou a mão freneticamente na frente dos meus olhos.
- Tô, o que foi?
- estava contando sobre uma historia muito engraçada dele com o .
- Ah, e qual é a história? – perguntei fingindo falso interesse, como sempre.
- Não vou repetir. Eu não sou papagaio, . – disse com sua grosseria usual para cima de mim.
- Que seja. – peguei minha bolsa e meus cadernos que estavam em cima da mesa e levantei-me.
Geralmente quando um garoto e uma garota brigam no final é porque eles se amam, mas nesse caso é completamente diferente, em partes. Eu meio que sempre tive um abismo pelo , enquanto ele nunca me olhou com outros olhos, mas de uns tempos pra cá meu abismo se tornou apenas um tropeço graças à estupidez dele. sempre foi um grosso, desde que começamos a estudar juntos, isso é, no jardim de infância, e conforme fomos crescendo ele foi ficando mais idiota ainda, porém, esse ano ele se tornou completamente insuportável para cima de mim, enquanto ele é um amor de pessoa – às vezes – com as outras pessoas.
Marchei brava até meu armário e joguei minhas coisas de qualquer jeito, pouco me importando se estragariam a caixa em que estava o bolo de aniversário de .
- Ei, . – ouvi alguém me chamar. , com certeza. Ele sempre vinha atrás de mim após e eu nos estranharmos.
- Oi?! – me virei e dei de cara com aquele par de olhos que faz qualquer mulher suspirar. Quem me dera fosse meu abismo.
- Queria te pedir desculpas pelo , você sabe como ele é... – coçou a nuca, completamente desconfortável e apaixonadamente fofo.
- Relaxa, , você não tem que se desculpar por ninguém, é um...
- Brutamontes? – ele disse com um sorrisinho torto.
- Brucutu. – respondi emburrada.
- Brucutu... – ele colocou a mão no queixo e fingiu pensar. – Da onde surgiu isso?
- Sei lá, só o odeio. – dei de ombros.
- Não, gafanhoto. – ele me segurou pelos ombros. – Você não odeia ele.
- Que seja. – dei de ombros.
- Seus ombros vão cair um dia sabia?
- Minha mãe vivia dizendo isso pra mim.
- A minha também. eu...
O sinal tocou mais estridente do que nunca, e fomos obrigados a tapar nossos ouvidos ou eles ficariam zumbindo o resto do dia. Dei um beijo rápido no rosto dele e saí correndo para a sala de artes. Se tem uma matéria que eu gosto e sou realmente boa é essa. Nenhum dos meus amigos tinha essa aula comigo, então era o momento que eu tinha para ficar focada no que teria de fazer. A professora pediu para que fizéssemos cartazes baseados nos de Toulouse. Algumas meninas pediram para que eu fizesse esboços para elas, mas logo a professora apareceu e as tirou de perto.
Fiz o máximo possível para que ficasse um desenho bom, mas na escola eu não conseguia fazer bons desenhos, embora para a professora eles fossem considerados maravilhosos. O sinal tocou e eu entreguei minha folha, recebendo um olhar maravilhado de volta.
Eleonor e Jenna me arrastaram até meu armário para que pudéssemos pegar o bolo de e cantar parabéns para ele logo. Elas andaram de mãos dadas até o campo onde tínhamos educação física, e eu fui obrigada a carregar o bolo até lá. Os meninos e algumas meninas estavam por lá, e estava se pegando com uma aluna que era uns quatro anos mais nova que ele. Parei de andar quando vi a cena, e correu até mim, puxando-me até lá. Cantamos parabéns e em momento algum se mostrou contente, pelo contrário, ele deixou claro seu descontentamento. Todos nós sabíamos que ele odiava surpresas, e ainda mais surpresas de aniversário, mas custava colocar um sorriso falso no rosto e nos agradecer?
- Valeu, pessoal, valeu. – sorriu de lado. – De quem foi à ideia...
- Da . – Jenna disse com um sorriso.
- Como sempre – ele bufou. – Você sabe que eu odeio essas coisas, . – ele andou bravo até mim.
- Qual é, , dá um tempo vai. – entrou na minha frente. – A garota só queria te fazer uma surpresa, seja legal com ela por um minuto e agradeça ela.
- Não vou agradecer ninguém. – rosnou. – Você é mais inconveniente que eu, . Esse é um, dos milhares motivos pelo qual eu nunca ficaria com você. Um bolo idiota não vai fazer você se tornar atraente pra mim, então pare de tentar me fazer gostar de você.
- Então, . – peguei o bolo que estava nas mãos de Moira. – Vai se foder. – joguei o bolo no chão e pisei nele. – Eu não preciso do seu amor, e nem ser atraente pra você. – gritei já sentindo as lagrimas caírem descontroladamente e me encarou boquiaberto. Se tem uma coisa que ele odeia mais que surpresas é ver mulher chorando. – Você não merece meu amor, nem nada que eu tenha para oferecer, seu estúpido.
- Você não tem nada para oferecer, . – ele disse com desprezo. – É só mais uma sem-sal dentre milhares de outras meninas sem-sal dessa escola.
- Cala a boca, . – o empurrou.
- Qual é, ? Vai brigar comigo por causa dela?
- Não vou brigar com ninguém por causa de ninguém, só para de falar assim da .
- Eu não vou parar. – ele gritou. – Essa idiota precisa de um choque de realidade, e se as amigas lésbicas não vão dar, e muito menos o namoradinho idiota dela vai, eu vou.
- , para com isso. – Eleonor deu um tapa no braço dele e ele a empurrou.
- Po rque vocês sempre a defendem? Por causa do rostinho de boneca? Nem um rostinho de boneca te faz gostosa o suficiente pra cara nenhum, a não ser pro...
deu um soco em e todas as garotas gritaram. Eles começaram a se socar e os meninos tentavam separá-los. Ambos infelizmente eram muito bons de briga, e não iriam parar tão cedo, a não ser que um deles ficasse desacordado. Deixei todos eles lá e corri até meu armário. Uma coisa que me deixa muito mal e triste é que briguem por causa de mim. Eu não fazia ideia do porque foi tão inescrupuloso comigo, e ficou me xingando dizendo que eu não era bonita ou gostosa para ele gostar de mim. Eu não queria que ele gostasse de mim, se eu quisesse tinha dito a ele que gostava dele, mas uma coisa que eu nunca tentei sonhar fosse que um dia e eu seriamos um casal. Éramos diferentes em diversos sentidos, e sim, é idiotice gostar de alguém e não querer nada com essa pessoa.
Quando cheguei em casa, corri para o meu quarto sem nem falar nada para os meus pais. Mamãe com certeza iria vir até aqui querendo saber o que tinha acontecido, e quando eu contasse a ela que o culpado disso tudo era , eu não queria nem ver a confusão que iria ser. As meninas me mandaram milhões de mensagens e eu me recusei a abrir qualquer uma delas, até o momento em que meu celular começou a tocar loucamente e eu teria apenas duas opções: ler as mensagens e responde-las, ou atender o celular.
“, você está bem? Jenna e eu ficamos preocupadas com você”.
“ e foram parar na enfermaria”.
“ está meio mal pelo que disse a você”.
“Você está realmente bem? Por que não me atende?”.
se sentindo mal por algo que ele disse... A mim? Conte-me outra piada porque essa não teve graça. Ele nunca se sente culpado pelas coisas que me diz, e agora ficou com peso na consciência? Mentiroso. Tinha algumas mensagens da Moira e Jenna, perguntando como eu estava ou apenas falando sobre estar se sentindo péssimo por ter sido um babaca. Respondi as garotas e vi que também mandou algumas e não disse nada sobre estar mal ou culpado.
“ , as meninas me disseram que você não deu noticias a elas ainda, você está bem? Está viva? Não tente suicídio, por favor, podemos matar o juntos”.
“Paramos na enfermaria, hahaha. Eu estou bem, me sinto mais leve depois de quebrar o nariz daquele idiota”.
“Como você pode gostar de um cara daqueles? Com tanto homem melhor por aí e você vai querer logo o pior, sua nojenta. Hahaha”.
“Vou ir à sua casa se você não me responder”.
“, você está viva? Não chore por causa do , ele é um desgraçado”.
Como sempre tentava fazer todo mundo rir depois da desgraça. Respondi dizendo apenas que estava bem, e nada mais. Fiz o dever de casa e li algum livro estúpido que eu achei, só para passar o tempo e tentar esquecer as idiotices que eu fui obrigada a ouvir. Minha mãe passou pelo meu quarto milhões de vezes querendo saber o porquê de eu estar abatida e triste, mas eu apenas desconversei.
- , têm gente lá embaixo pra você. – papai disse encostado na porta.
- Quem é? – andei até ele.
- Um amigo seu. – só podia ser o .
Desci correndo com a intenção de mandar o embora o mais rápido possível, mas quando encontrei parado na minha porta com o olho roxo e um negocio no nariz, fiquei estática no lugar. Ele deu um sorrisinho torto e indicou para a cadeira que ficava na varanda. Passei por ele com a maior cara de desprezo e me sentei na cadeira.
- Queria pedir desculpas por hoje. – ele disse sem graça.
- Você realmente quer pedir desculpas ou só está dizendo isso porque alguém provavelmente te fez vir até minha casa?
- Eu vim porque eu quis vir, e não porque me fizeram vir. – respondeu emburrado.
- Eu não sei se devo te desculpar, . Você me magoou muito. – não chore , não chore.
- Sei disso. Não devia ter dito aquilo pra você, e muito menos ter feito você chorar. Você é uma garota bonita, , qualquer cara daria a vida pra ficar com você, mas eu não sou esse tipo de cara. É claro que você não vai entender, mas é a verdade. Sou um grosso e um baita d’um estúpido com você.
- Já me acostumei com isso. – dei de ombros.
- Viu? Você se acostumou com algo que ninguém deveria se acostumar. Você é uma garota incrível, , somos amigos há anos e eu te trato feito lixo.
- Tá tudo bem, .
- Pra você pode estar, mas pra mim não. – ele disse exasperado. – Tenho que fazer algo que posso me redimir um pouquinho com você.
- Não tem não.
- Claro que tenho, , deixa de ser teimosa. Sabe, tem o baile e... As meninas me disseram que você não iria, então...
- Não.
- O quê?
- Não quero ir com você. Pra falar a verdade eu nem quero ir nesse baile idiota.
- , é seu baile de formatura, vai ser a última vez que você vai poder ver todos seus amigos antes de ir pra faculdade.
- Eu só vou para a faculdade uma semana depois do baile, e... Por que você se importa?
- Porque sou seu amigo.
- Não, , você não é meu amigo, e está longe de ser.
- Eu diria que não mereço toda essa hostilidade, mas pensando bem eu mereço. Mas, por favor, , vai comigo. É só um baile idiota. Vamos nele e eu te trago para casa depois disso.
- Se eu for você promete não olhar mais na minha cara?
- Pro... Prometo.
- Tudo bem, agora eu tenho que entrar. Tchau. – andei até a porta. – A propósito. Belo olho roxo.
A manhã de hoje foi resumida em um completo inferno. Jenna e Eleonor decidiram que iriam ao baile, para me acompanhar e me proteger do troglodita , enquanto não olhava na minha cara desde que ele ficou sabendo que seria meu par.
Mamãe me obrigou a ir ao salão fazer cabelo e unhas, o que eu particularmente achei desnecessário afinal, eu odiava todo esse tratamento de beleza, enquanto minha mãe amava. Deixei pra comprar o vestido de última hora porque eu estava pensando em dar um bolo em , mas Eleonor sem querer acabou contando a minha mãe que eu iria com ele ao baile, e ela ficou toda feliz, mesmo não gostando dele. As meninas e minha mãe foram comigo comprar o vestido, e enquanto elas queriam um negócio tipo filme americano, eu estava esgoelando por algo mais simples e que não chamasse atenção. Tentei argumentar sobre as possibilidades de não usar salto, mas não colou.
Depois de horas no salão, com puxões de cabelo e corte nos dedos, eu estava impecavelmente uma menininha de dez anos emburrada no sofá de casa esperando chegar. Papai me encarava de cinco em cinco minutos, e até estipulou um horário para eu chegar, e eu queria muito não ter que sair para ter um horário a cumprir, mas não daria certo. Quando chegou mamãe anunciou para a casa inteira, e foi abrir a porta para ele. Parecia até uma cena de filme americano. Minha mãe com a câmera na mão, meu pai emburrado, um acompanhante com a maior cara de babaca ao ver a garota, só faltava agora a garota toda feliz por ir ao baile com o seu sonho de consumo.
- Quero a em casa antes da meia-noite, entendido? – papai disse bravo.
- Sim, senhor . – disse tão educadamente que pensei nas possibilidades daquele não ser o mesmo que eu conhecia. – Você está... Linda.
- Valeu, agora vamos indo. – disse sem interesse algum nos elogios que ele tinha.
- Calma, filha, vamos tirar uma foto de vocês dois juntos.
- Mãe. – resmunguei.
Depois de muitas fotos, mamãe nos deixou ir. Durante o caminho tentou puxar algum assunto comigo, e começou a falar sobre música, mas eu não dei a menor importância. Tínhamos uma “amizade” de anos e ele mal sabia que tipo de música eu gostava. Quando chegamos ao colégio, correu abrir a porta para mim e entrelaçou seu braço ao meu. Algumas meninas olhavam para nós dois e cochichavam, talvez porque achavam totalmente improvável o par que fazíamos, e eu era obrigada a concordar. Tudo bem, estava muito lindo, mas eu ainda estava muito magoada com ele, e nenhuma beleza me faria esquecer as barbaridades que ele havia me dito. Adentramos o ginásio e nos sentamos com Eleonor e Jenna, que estavam lindas. Elas obrigaram dois amigos nossos a irem ao baile com elas, e eles não recusaram já que também não tinham nenhuma companhia.
- Vocês viram o por aí? – perguntou.
- , você ainda acha que ele vai vir depois do que você fez? – Jimmy disse com a boca cheia de um lanche que estava na mesa.
Eu queria dizer que o baile estava se seguindo as mil maravilhas, mas isso seria uma grande mentira. Eleonor e Jenna estavam se divertindo, enquanto eu fiquei com a maior cara de merda o máximo de tempo possível. Uma música lenta começou a tocar e me olhou sugestivamente, indicando que essa era a hora que eu seria obrigada a dançar com ele. Levantamos-nos e seguimos até o meio do salão. colocou as mãos na minha cintura e um arrepio percorreu por todo meu corpo, me obrigando a abaixar a cabeça para que ele não visse que eu estava ficando envergonhada.
Lights go down
(As luzes se apagam) And the night is calling to me, yeah
(E a noite está chamando para mim, yeah) I hear voices singing songs in the street
(Eu ouço vozes cantando músicas na rua) And I know that we won't be going home
(E eu sei que não vamos estar indo para casa) For so long, for so long
(Por tanto tempo, por tanto tempo) But I know that I won't be on my own, yeah
(Mas eu sei que eu não vou ficar na minha, yeah) I love this feeling and...
(Eu amo essa sensação e...)
Right now
(Agora) I wish you were here with me
(Eu queria que você estivesse aqui comigo) 'Cause right now
(Porque agora) Everything is new to me
(Tudo é novo para mim) You know I can't fight the feeling
(Você sabe que eu não posso lutar contra o sentimento) And every night I feel it
(E toda noite eu sinto que) Right now
(Agora) I wish you were here with me
(Eu queria que você estivesse aqui comigo)
Movimentávamos-nos de acordo com a melodia da musica, hora lento, hora um pouco agitado. puxou meu corpo para que ficasse colado ao e apertou as mãos em minha cintura. Deitei a cabeça em seu ombro e ele me deu um rápido beijo na bochecha. Levantei a cabeça e encostado em um dos pilares, vi usando um smoking que o deixou mais bonito do que nunca. Os cabelos penteados, um copo de cerveja na mão e um sorriso triste no rosto.
Late night, spaces
(Tarde da noite, espaços) With all our friends, you and me, yeah
(Com todos os nossos amigos, você e eu, yeah) Love these faces
(Amor esses rostos) Just like how it used to be
(Assim como como costumava ser) And we won't be going home
(E nós não vamos estar indo para casa) For so long, for so long
(Por tanto tempo, por tanto tempo) But I know I won't be on my own, on my own
(Mas eu sei que não vai ser por minha conta, em meu próprio) I'm feeling like
(Estou me sentindo como)
e eu continuamos a dançar, enquanto não tirava o olhar de nós dois. Estava começando a me incomodar, tanto nos encarando, quanto a situação “romântica” que eu me encontrava com alguém que só me machucou. Algumas meninas começaram a conversar com , mas ele não tirou os olhos do casalzinho que dançava romanticamente no meio da pista de dança.
Right now
(Agora) I wish you were here with me
(Eu queria que você estivesse aqui comigo) 'Cause right now
(Porque agora) Everything is new to me
(Tudo é novo para mim) You know I can't fight the feeling
(Você sabe que eu não posso lutar contra o sentimento) And every night I feel it
(E toda noite eu sinto que) Right now
(Agora) I wish you were here with me
(Eu queria que você estivesse aqui comigo)
Fiz menção de me afastar de e ir até a mesa, mas no mesmo momento em que separei nossos corpos, ele os juntou novamente, e colou seus lábios aos meus. Meu estômago parecia uma montanha-russa em um loop infinito. Eu estava feliz, mesmo não devendo. Meu primeiro beijo estava sendo com o garoto que eu sempre fui apaixonada, quantas garotas conseguem ter essa sorte?
Logo que parti o beijo, sorriu para mim e vi atrás dele. viu o amigo, e se afastou de nós dois, entendendo que queria dançar comigo.
And I could do this forever
(E eu poderia fazer isso para sempre) And let's go crazy together
(E vamos enlouquecer juntos) Lights go down
(As luzes se apagam) And I hear you calling to me, yeah
(E eu ouço você me chamando, yeah)
- Você está linda, . – sussurrou em meu ouvido, e sua voz rouca fez todos os pelos de meu corpo se arrepiar.
- Obrigada. – dei um sorrisinho de lado.
- Estaria muito mais bonita se seu acompanhante fosse outro, sabia?
- Sim, mas esse foi o único jeito que achei para que se esquecesse da minha existência para sempre.
- Não precisava disso, semana que vem você vai ir embora.
- Sei disso, mas queria pelo menos uma semana livre de . – dei de ombros. – E infelizmente acabei ganhando de brinde uma semana livre de .
- Sinto muito.
- Está tudo bem, disse que você ficou chateado por eu ter aceitado ir ao baile com ele logo depois de vocês terem brigado por ele ter sido um idiota comigo.
- disse isso? – ele perguntou levemente irritado.
- Sim. – assenti.
- Mentiroso. – ele rosnou. – Fiquei bravo por ele ter te chamado para vir ao baile com ele, quando sabia que eu iria te convidar.
- Você... Ia me convidar?
- Sim. Tentei fazer isso no dia da briga, mas o sinal tocou e depois não tive outra oportunidade. Pelo menos eu consegui uma dança com você hoje. – ele sorriu torto.
- E com quem você veio? – perguntei curiosa.
- Sozinho. – ele deu de ombros.
Right now
(Agora) I wish you were here with me
(Eu queria que você estivesse aqui comigo) 'Cause right now
(Porque agora) Everything is new to me
(Tudo é novo para mim) You know I can't fight the feeling
(Você sabe que eu não posso lutar contra o sentimento) And every night I feel it
(E toda noite eu sinto que) Right now
(Agora) I wish you were here with me
(Eu queria que você estivesse aqui comigo)
Continuamos a dançar mesmo depois que a música acabou, e outra mais agitada começou. Ao longe pude ver Jenna e Eleonor conversando com um que parecia estar aborrecido comigo e .
- Se eu pudesse iria para Londres com você, mas sabe... Não fui inteligente o suficiente para conseguir passar na faculdade de lá. – ele sorriu.
- Tá brincando, não? Você vai ficar aqui em Manchester, e a universidade daqui é muito boa.
- Mas você não vai estar aqui.
- E qual o problema nisso? A gente pode manter contato mesmo distantes.
- Você nunca vai perceber não? – ele disse triste. – Quantos sinais você vai precisar pra entender que eu gosto de você, ?
- , não tem graça, sabia? – tirei as mãos do ombro dele e me afastei.
- Eu sei disso, e não estou brincando, . Eu sempre gostei de você, só que você gostava do então não fiz nada a respeito disso.
- ... Eu não sei o que dizer me desculpe...
- Não precisa dizer nada, ok? Eu... Eu vou ir embora, .
- , espera. – segurei seu braço. Ele me puxou pela cintura e beijou, e sou obrigada a dizer que foi muito melhor que . Meu estômago não parecia apenas em loop infinito, mas um loop rodeado de borboletas e arrepios. partiu o beijo com diversos selinhos e ficou me encarando com um sorriso enorme no rosto.
- Queria ser seu primeiro beijo, mas infelizmente chegou primeiro.
- Como... Você sabe?
- , você nunca ficou com ninguém, é meio óbvio, não? – ele levantou uma sobrancelha. – Até algum dia, quem sabe. – ele me deu mais um beijo e sumiu dentre as milhares de pessoas, deixando-me sozinha.
Andei com dificuldade até a mesa e a primeira coisa que fiz foi tirar aqueles malditos sapatos. Moira disse que saiu furioso atrás de , e que os garotos foram atrás dele para caso aconteça algo. Fui com ela atrás dos dois e os encontramos discutindo perto do carro de .
- ... Pensasse nisso antes de me obrigar a ir pedir desculpas a ela. – gritou.
- Eu disse pra você pedir desculpas, não convidá-la para o baile. – disse bravo.
- Mas foi o único jeito dela me desculpar.
- E você falhou, porque ela só aceito para que você a deixasse em paz.
- E eu vou deixar.
- Claro que vai. Ela vai embora, seu idiota.
- Quem liga pra isso? É só mais uma garota, . Somos amigos há anos, e você briga comigo por causa de uma garota qualquer? – disse com desdém e eu quis vomitar pelas palavras dele.
- Não é uma garota qualquer. – olhou para o lado e viu Moira e eu. – É a minha garota. Ela é diferente de muitas outras. Ela é bonita e inteligente. E gosta de um cara que ela não tem a mínima vontade de ter um relacionamento com ela. E puta merda. – bagunçou os cabelos e soltou a gravata. – Eu amo ela, , e você não sabe o que é isso porque é um egoísta do caramba.
- Você não a ama, irmão. – colocou a mão no ombro de , e ele a tirou de lá com certa violência.
- Não me chama de irmão. Você não é mais nada meu. Eu nunca pude dizer pra ela o que sentia por sua culpa. Você sempre dizia que ela não ia se importar, e ficava enchendo minha cabeça de merda, e agora... Agora ela vai embora e eu nem sei quando vou vê-la novamente.
- Nunca, eu espero.
avançou em cima de , mas os outros garotos correram e os seguraram antes que fizessem alguma coisa. Eles começaram a gritar um com o outro, e ninguém conseguia entender nada. Um dos meninos, James, veio até Moira e eu, e insistiu para que deixássemos nos levar embora.
A minha casa foi à primeira, e até pensei em convidar Moira para dormir por lá, mas eu realmente queria um tempo só para mim. Quando entrei vi meus pais assistindo a um filme na televisão, e mamãe ficou me enchendo de perguntas sobre como foi, enquanto meu pai a pedia para ficar quieta e me deixar respirar.
Tomei um longo banho e fiquei jogada na minha cama, até que meus pais entraram e se deitaram cada um de um lado na cama.
- Você está bem, princesinha? – mamãe acariciou meus cabelos, fazendo-me ficar sonolenta.
- Sabe mãe, você sempre teve razão sobre o .
- Por quê? Ele te magoou? – papai sentou-se na cama e me encarou preocupado.
- Antes fosse só a mim. Ele... Ele disse umas coisas idiotas outro dia, e hoje também, mas... Ele magoou o .
- O filho dos ?
- Sim. Ele gosta de mim.
- ? – papai arqueou as sobrancelhas.
- Não, o .
- Isso é bom...
- Eu não gosto dele, e também estou indo embora mãe.
- Manchester fica apenas algumas horas de Londres, querida. – papai me abraçou e algumas lágrimas idiotas começaram a escorrer.
- Não. Eu não quero. Não quero mais me lembrar daqui, apenas das minhas amigas e de vocês. Quero esquecer essa cidade.
- Filha...
- É verdade, mãe, as pessoas aqui foram sempre ruins comigo, e eu não gosto dele, e magoá-lo é a ultima coisa que eu quero na minha vida.
- Talvez você goste um pouquinho dele, já parou pra pensar? Ele sempre esteve ao seu lado, ele e , e talvez você possa ter confundido seus sentimentos. – mamãe disse lentamente, como se explicasse a uma criança.
- Isso não vai me fazer ficar, se é o que você está tentando.
- Filha, você já decidiu, e suas coisas estão prontas, só não queremos que você vá, e se arrependa caso um dia volte e ele esteja com outra.
- Eu vou ficar bem, entenderam?
Eu esperava ficar bem e não me arrepender.
Uma semana depois.
Durante uma semana, eu não vi e nem ouvi noticias sobre e . Disseram que estava trancado em casa, e de castigo por ter brigado com e pelas coisas que disse a mim afinal, os pais dele me adoravam. No dia anterior me despedi de todas as pessoas que realmente me importavam nessa cidade, e fiquei feliz em saber que nenhum aluno da minha escola estava de mudança para Londres.
Papai se matava para conseguir colocar todas as minhas coisas dentro da caminhonete, enquanto minha mãe não parava de chorar. Como se ela não fosse chorar mais quando chegássemos, e como eles mesmos disseram, Londres era apenas algumas poucas horas de Manchester. Meus pais tinham algumas economias, e juntaram com o dinheiro que meus avós me deram para que eu conseguisse comprar um apartamento pequeno em Londres e que fosse perto da universidade.
O caminho de Manchester a Londres era de pouco mais de três horas, mas hoje ele parecia relativamente mais longo do que das últimas vezes que eu o fiz. Talvez fosse a ansiedade em chegar logo e arrumar minhas coisas, e claro, me ver livre de qualquer vestígio manchesteriano que pudesse me preocupar no futuro.
Meu pai fez questão de levar todas as minhas malas até o meu apartamento, e minha mãe ficou abraçada comigo o tempo todo. Ela começou a desempacotar as caixas, mas não finalizou porque logo entrou numa choradeira que parecia eterna. Não sabia o porquê disso afinal, eles viriam para cá no fim de semana me ajudar a montar os moveis que deveriam chegar provavelmente hoje, e também tínhamos um acordo de que eu tentaria ir para lá todos os fins de semana.
Era estupidez eu ter corrido para Londres quando eu ainda teria um mês de férias até as aulas na faculdade começarem, mas depois da porcaria que havia sido meu Baile de Formatura, eu só queria me ver longe da maioria das pessoas de Manchester. e eram uma delas.
Mudei meu número de telefone e as únicas pessoas que o tinham eram meus familiares, e minhas amigas. Implorei para que elas não deixassem ninguém ficar sabendo sobre ele, ou ter qualquer notícia sobre mim. Meus pais disseram que eu estava sendo muito radical agindo dessa forma e me afastando das outras pessoas que sempre estiveram ao meu lado. Talvez fosse verdade, mas eu queria uma vida nova, um futuro novo, e quem sabe finalmente aquele príncipe encantado?
Quando compartilhei esse comentário com as meninas através de uma videochamada pelo Skype, elas me disseram que eu havia acabado de perder meu príncipe, porque estava namorando uma menina que ele conheceu na faculdade. Eu não devia, mas senti um aperto no peito e logo desliguei o computador. Fui dormir com os olhos ardendo pelas lágrimas que queriam sair a todo o custo. Minha mãe estava certa, como sempre. Aquela típica coisa de mãe. Ela diz e acontece. Eu gostava de , e tinha misturado isso com uma maldita atração física que eu sentia por , e agora ele estava com alguma idiota qualquer, mas não mais idiota que eu.
Todas as vezes que fui a Manchester havia uma carta de , e algumas de . Recusei-me a abrir as de , e todas as de eram pedidos de desculpas, e uma tentativa de reaproximação. Ele também comentou nelas que estava insuportavelmente um garotinho besta de filme americano, todo apaixonado por uma garota que não quer nada com ele. Eu não respondi as cartas dele, e guardei as de em uma caixa junto com outras coisas bobas. Quando eu sentia saudade e o arrependimento era demais, eu me martirizava a ler as cartas escritas por , e caía no choro até dormir.
Se eu tivesse ficado em Manchester com minha vida talvez não fosse do jeito que estava sendo agora. Namorei por quatro meses com um garoto, e percebi que ele não era nem um quarto do que era. Sempre saia com uma pessoa da faculdade todas as noites, e algumas vezes dormia com um cara ou outro. Nada sério, como sempre e também não era o que eu procurava nesse momento. Durante meses me foquei completamente nos estudos e no que eu queria do meu futuro, o que não foi difícil já que passei a vida toda fazendo meus planos futurísticos, mesmo que eles não se realizassem na ordem e forma que eu desejava.
Nunca fui uma pessoa de festividades familiares, sempre odiei tudo isso, o que significa que nunca gostei de Natal e derivados por motivos bobos, mas hoje era um dia que eu não precisei ser forçada por ninguém a confraternizar com a minha família, pois era um dia de extrema felicidade para mim afinal, eu estava literalmente formada e livre de qualquer tipo de “estudo”. O sonho de qualquer adolescente é sempre querer terminar a escola logo, e quando finalizado, a faculdade passa a ser o seu novo sonho de finalização, e eu estava realmente contente com isso.
Meus pais organizaram uma festa com meus amigos dos tempos de escola, pelo menos os que eu mantive contato, e com meus familiares. Era meio estranho ir para Manchester e encontrar meus amigos porque nossos encontros sempre aconteciam em Londres com mais agitação. Minha família queria saber o que eu iria fazer de agora em diante, se voltaria para Manchester ou ficaria em Londres, e os mais velhos queriam saber por que diabos eu ainda não estava com um namorado sendo uma garota tão bonita – palavras deles – como eu. Tecnicamente, eu estava sendo chamada de encalhada, mas eu não deixaria isso me abalar, afinal eu gostava da minha vida agitada e sem regras. Casos de uma noite, muita bebida e milhares de festas. Se eu tenho que agradecer algo pela minha vida de universitária uma dessas coisas foi o fato de eu ter ficado mais mente aberta para tudo. Na faculdade, eu tive experiências que eu jamais pensei em ter na minha vida. Usar drogas, dormir com garotas, beber até cair, até fiquei meio “boca-suja” como diz minha mãe, e até adquiri vícios, sendo o maior deles a maldita nicotina.
- , o que tá fazendo aqui fora, está muito frio, vamos entrar. – mamãe acercou-se.
- Já vou entrar. – levantei o cigarro preso entre os dedos.
- Essa porcaria vai te render um câncer no pulmão.
- Nada de pragas de mãe, por favor, você vai se sentir culpada se eu adquirir um câncer. – disse de forma engraçada tentando tirar a carranca do rosto dela.
- Então pare de fumar. E entre logo, entendeu?
Terminei meu cigarro e entrei pra fazer a social de sempre. Eu estava adorando a bajulação de todos, mas eu queria muito ir dormir, só que parecia que ninguém estava com a mínima vontade de ir embora, e seria rude subir para o quarto enquanto todo mundo estava lá por minha causa. Minhas amigas do colégio estavam todas por lá, exceto Eleonor que não pôde vir. Sempre que nos encontrávamos em Londres, evitávamos falar sobre qualquer pessoa de Manchester que não fosse nossa família, o que significava que eu não tinha nenhuma notícia de , que parara de me mandar cartas, e muito menos de . Quando contei à minha mãe sobre estar arrependida de não ter dado uma chance a , de primeira ela me consolou e fez essas coisas que toda mãe faz quando a filha tem um coração partido, mas depois me deu o maior sermão da face da Terra. Ela insistiu para que eu abrisse as poucas cartas que me enviou, e eu menti dizendo que as queimei.
Aos poucos todo mundo foi sumindo da minha casa, e eu fui para o quarto com uma imensa vontade de descansar porque o dia seguinte seria uma – quase – tortura, já que Moira e Jenna acabaram descobrindo que eu ficaria algumas semanas em Manchester e me obrigaram a passar o dia inteiro com elas. Desde que me mudei para Londres a estadia na casa dos meus pais era de no máximo três dias, e eu geralmente ficava no quarto deles para que pudessem matar a saudades, mas dessa vez me obriguei a ficar no meu quarto, o que me trouxe lembranças muito desagradáveis.
“– Cadê o quando a gente precisa dele? – Moira perguntou beirando a irritação.
- O que houve? – perguntei sem nem tirar os olhos da revista em quadrinhos que eu lia.
- deu uma surra em um garoto no parquinho e agora quer que o vá ajuda-lo porque o irmão do garoto está querendo matá-lo.
- Quantos anos tinha o garoto?
- Tem uns doze.
- tem quinze, onde ele pensa que está com a cabeça? – disse com um tom de voz elevado.
- Eu quem vou saber. – ela deu de ombros. – Agora preciso achar o pra ir tirar aquele imbecil do sufoco. Se você o vir, diga que o está escondido embaixo da ponte do parquinho.
- Tudo bem.
Logo que ela saiu peguei minha mochila e corri em direção ao parquinho na esperança de poder ajudar . Encontrei-o embaixo da ponte, como Moira disse, e se não o conhecesse bem poderia jurar que ele estava se cagando todo.
- Oi, , precisa de ajuda? – perguntei assim que ele virou o rosto em minha direção.
- Eu pedi ajuda do meu amigo , e não da idiota da namorada dele. – ele respondeu grosso e estúpido como sempre. Por que diabos ele insistia em dizer que eu e éramos namorados?
- Não seja estúpido, , só quero te ajudar. Vem, o parquinho está vazio. – estendi a mão para ele, e recebi um tapa na mesma, o que me fez recuar alguns passos.
- Some daqui, , você só atrapalha as coisas, só atrapalha a vida de todo mundo. Aposto que o não está aqui porque devia estar atrás de você, como sempre. Some da minha vida e da vida do meu amigo”.
Talvez eu devesse ter me atentado mais aos detalhes e percebido logo o que ele queria insinuar todas as vezes que dizia que e eu éramos namorados. Admito que logo que fui embora de Manchester e parei para pensar sobre isso, acabei ficando com uma raiva passageira de e o culpando por ser o empecilho entre e eu, pois se ele não gostasse de mim, possivelmente me daria uma chance e quem sabe não me trataria tão mal como sempre fez, mas agora tudo isso são águas passadas e só tenho uma coisa a fazer: esquecer. Mesmo que depois de cinco anos eu não tenha me desligado completamente da de Manchester e criado a de Londres como eu sempre esperei, mas sou uma adulta afinal de contas e já estava na hora de parar de agir feito uma menininha e começar a ser uma mulher. Aproveitaria o dia com as meninas e perguntaria a elas sobre , evitando contar a elas sobre eu não conseguir tirar ele da minha cabeça depois de anos.
Eleonor passou me pra buscar na casa dos meus pais bem cedo, o que resultaria em uma mal-humorada por algumas horas. Eu podia ter vinte dois anos, mas isso não impediu minha mãe de me agasalhar feito um recém-nascido que mora no Alasca. Durante o café com as meninas em uma cafeteira que costumávamos ir com frequência nos tempos de escola, pensei em como perguntar a elas sobre , já que as poucas vezes que elas tentaram falar sobre ele, eu as tratei com hostilidade.
- Essa noite eu estive pensando... - disse meio tensa.
- Você faz muito isso, . Pensa muito. - Jenna disse entre risos e lhe mostrei o dedo do meio.
- Eu estive pensando sobre o .
- ? Que ? - Eleonor fingiu-se de desentendida.
- Aquele que você dispensou? - Moira disse curta e grossa.
- Sim. - respondi sem ânimo.
- E o que tem? - ela perguntou. - Ficou pensando no quão burra você foi dispensando o gostoso do ?
- Qual é, eu não dispensei ninguém, pelo menos não diretamente, e não era nenhum gostoso, ele mal tinha barba naquela época. - disse totalmente na defensiva.
- Se você o visse agora iria engolir o que acabou de dizer. - Moira bebericou seu café e me encarou, como se fosse me contar a cura do câncer. - Agora ele tem barba, queridinha, e são aquelas barbas que deixam os caras totalmente gostosos.
- Como é uma barba que deixa um cara gostoso? - Eleonor perguntou.
- Lésbicas. - ela bufou. - É uma barba tipo Christian Bale, que faz ficar mais delicioso do que nunca. Imagine um cara gato, agora imagina ele de barba, mas mil vezes mais gato.
- Ah. - dissemos.
- E por onde ele anda?
- O Christian?
- Não, Moira. O .
- A última vez que eu falei com ele tem um ano, e ele estava indo para fazer um trabalho, coisa assim lá no México. Depois que terminamos o ensino médio eu não o vi, era mais conversa pelo computador ou celular.
- Que bonitinho. - Jenna disse com um sorriso sonhador no rosto. - Vocês tem quase o mesmo diploma.
- Ele não se formou em artes visuais. Ele fez publicidade, mas é quase a mesma área, não?
- É. - dei de ombros sem me importar muito. - E o babaca do ? - já que estávamos desenterrando o passado, que mal faria perguntar sobre ele.
- Não mantive muito contado com ele, mas o pouco que fiquei sabendo é que ele e os pais se mudaram para América depois que ele entrou em um acidente de carro e quase foi preso.
- Sério? - Eleonor não deixou de demonstrar sua surpresa. - Eu ouvi uns boatos de que eles se mudaram porque ele tava fazendo tráfico.
- Meu Deus, cada história mais absurda que a outra. Vamos acreditar que ele está preso na América por causa de um acidente de carro cheio de drogas. - Jenna interrompeu o momento "Clube da Luluzinha".
- A sua foi mais absurda. - disse segurando o riso.
Ficamos quase a manhã inteira na cafeteira falando sobre a vida das pessoas que estudaram com a gente, mas mesmo assim eu não conseguia tirar da cabeça que o magricela e sem um pelo no rosto que eu conhecia podia estar extremamente gato.
Andamos por diversos lugares que costumávamos ir aos fins de semana, e Eleonor nos mostrou onde ficava o prédio que ela trabalhava como advogada. Moira estava em férias eternas depois que trancou a faculdade de medicina, enquanto Jenna fazia trabalhos humanitários em países de baixa renda. Acabou que ficamos na rua o dia todo, e mais a tarde fomos a um pub tomar uma cerveja, que logo virou milhares de canecas acompanhadas de alguns shots de tequila.
- Tá vendo aquele gostoso ali. - Moira apontou um cara sentado no bar.
- O que tem? - perguntei.
- Aposto 50 libras que você vai lá e da a cantada mais podre do mundo nele.
A de antes se recusaria a ir e até pagaria para não ir, mas a de agora adorava uma aposta. Caminhei até ele como quem não quer nada, e me sentei ao lado dele, que continuou bebendo a bebida dele e não deu a mínima importância para mim.
- Me vê a bebida mais forte que você tiver. - pedi ao barman e ele logo me entregou um copo com uma cor que meu nível de bebedeira não me deixou distinguir.
- Não é muito forte para uma moça feito você? - o cara ao meu lado perguntou. Atenção, até que enfim recebi atenção. E como ele era gato, puta merda. Achei a barba tipo Christian Bale.
- Não para mim. - sorri tentando ser sexy, e pareceu funcionar porque ele sorriu em seguida. Virei o conteúdo do copo de uma só vez e agradeci por não sentir nenhuma queimação idiota na garganta. Talvez minha tolerância a álcool tivesse aumentado com o passar dos anos. - E então, você vem sempre aqui? - ele abaixou a cabeça e deu uma risadinha, encarando-me em seguida com um sorriso maravilhoso nos lábios.
- Na verdade... Eu sou filho do dono daqui.
- Você é o dono, tecnicamente falando.
- Sim. - ele deu de ombros.
Acabou que entramos em uma conversa sobre bares e bebidas, e entre um copo e outro ele me convidou para ir a casa dele. O que eu tinha a perder afinal? Olhei para minhas amigas e elas estavam olhando atentamente para nós dois, e fiz um gesto para elas tentando dizer sobre o convite nada descente que me fora proposto. Eleonor entendeu o recado e começou a gesticular que eu deveria ir, e quem era para negar?
Ele abraçou-me pela cintura e me guiou em direção à saída. Quando passei pela mesa das meninas, Moira me entregou disfarçadamente uma nota de cinquenta libras, e me mandei para a casa do filho do dono do bar.
À noite fora realmente boa, e sou obrigada dizer que tínhamos uma química boa. A conversa pós-sexo que todo homem odeia ter com desconhecidas, foi iniciada por ele, e acabei descobrindo que ele era advogado e onze anos mais velho que eu, embora não parecesse. Os milhares de tatuagens que ele tinha pelo corpo o deixavam com um ar mais jovial, e eu nunca acreditaria que ele tinha 33 anos. Ele me contou que também tinha uma banda com alguns amigos, e que sempre tocava no pub do pai, e até me convidou para ir assisti-los algum dia desses. Quando estava pronta para ir embora, acabamos trocando telefones, e foi só nessa hora que eu percebi que não fazia ideia do nome dele, então anotei como "filho do dono do pub".
No caminho - a pé, infelizmente - para a casa dos meus pais, enviei uma mensagem contando para as meninas sobre o "filho do dono do pub". Quando entrei em casa foi como se fantasmas estivessem sentados no sofá da minha casa, o que me paralisou no batente da porta. Os pais de estavam conversando com meus pais, e comecei a achar que falar sobre em voz alta com alguém que não fosse minha mãe, tivesse invocado os até lá. Assim que a senhora me viu, praticamente correu na minha direção.
- Meu Deus, essa é a mesmo? - ela perguntou a minha mãe, que assentiu com um sorriso enorme no rosto. Poxa, eu não tinha mudado muito, só cresci. - , você está linda. Uma mulher feita. E está grande, nem parece àquela menininha baixinha que andava com o . - eu sorri envergonhada.
- Muito obrigada, senhora .
- Querido, olha para ela. - ela me puxou até o sofá e o senhor me olhou bem por cima dos óculos. - Se te visse agora... – ela disse com um olhar sonhador, os mesmos de .
- Ah, o , aquele ingrato. Não dá notícias há semanas. - senhor disse ao meu pai que deu uma longa risada.
- Parece alguém que eu conheço. Quando foi para Londres ligava todos os dias chorando dizendo que estava com saudades. Passou oito meses e esqueceu que tinha família. - papai disse fingindo um descontentamento. - Pelo menos agora ela vai ficar o mês todo por aqui.
- E você volta quando, ? - senhora perguntou.
- Eu volto...
- Infelizmente ela volta no último dia do mês. - mamãe disse brava. - pegou uma raiva de Manchester que só por Deus.
- É uma pena. - ela sorriu. - chega do Haiti no próximo mês, ele iria adorar ver você.
- A que o diga. - mamãe me encarou sugestivamente. É claro que ela acabara de achar uma forma de me fazer ficar, mas nem conseguiria isso.
- não para em casa um mês sequer, está sempre viajando e viajando.
- Com o que ele trabalha mesmo? - mamãe perguntou. Os homens olharem entediados para nós três e sumiram para o quintal. O frio era melhor do que três mulheres fofocando!
- Ele trabalha em campanhas publicitárias, e você, ? Sua mãe disse que você se formou em artes visuais.
- É. - dei de ombros. - Sempre pensei que a coisa toda ia ser com fotografia, mas acabei que escolhendo artes.
- Parece bom. - ela sorriu. - E você sempre desenhou muito bem, diferente do que sempre foi um horror para fazer até campanha pra vender picolé na rua. - ela disse e todas nós acabamos rindo. Era verdade, sempre foi péssimo com isso, e agora é o trabalho dele.
- Mas ele sempre foi bom em socializar. - mamãe disse.
- É verdade. Ele ficou mais homem depois que começou a viajar direto para os países mais pobres. Mudou o modo de pensar dele, e eu agradeço a Deus por isso, lembra-se como ele ficou depois que se formou no colégio? - ela perguntou a minha mãe que assentiu olhando para mim. Pelo visto eu tinha alguma culpa.
- Ah, , se você estivesse aqui para ajudá-lo. ficou impossível, se pegava com na rua sempre que se esbarravam, não que fosse um garoto fácil de lidar, longe disso, mas nunca foi de brigar, então achei estranho esse comportamento dele. Depois ele voltou às pazes com e começou a usar drogas, saia de casa e só voltava dias depois. Foram dias difíceis para eu e o pai dele.
Mamãe e ela entraram em uma conversa sobre a fase turbulenta de , o que foi o estopim para minha mãe falar que me rebelei assim que entrei na faculdade. Eu não conseguia prestar muita atenção no que elas diziam, então pedi licença e fui fumar na varanda, já que os homens ocupavam o quintal. Entre uma tragada e outra tentei imaginar usando drogas, o que pareceu improvável e impossível já que ele sempre odiou isso.
Fui para o meu quarto e enviei uma mensagem de texto para Moira perguntando se ela sabia sobre isso, e ela disse que mais ou menos já que eles sempre conversavam por celular e não sabiam da vida do outro mais do que o que eles mesmos perguntavam. Subitamente me veio à ideia de abrir as cartas que ele me mandou, mas me lembrei de que elas estavam no meu apartamento a quilômetros daqui.
Minha semana foi resumida em shopping, compras, cerveja, festas, e fofoca. Até que foi melhor do que seria caso eu estivesse em Londres nesse momento, assistindo televisão enquanto meus amigos estariam na viagem para Califórnia, viagem essa que meus pais me proibiram de ir porque queriam passar um tempo comigo depois da minha formatura.
"Bom dia, gata do bar, terei a honra de te ter no meu show hoje?"
O filho do dono do pub, Bruce, enviou. Ele anotou meu número como “gata do bar”, muito melhor que eu tinha feito. Bruce e eu trocamos mensagens a semana toda desde o sábado em que nos encontramos e acabou que descobri o nome dele. Não nos vimos nenhuma vez por causa do trabalho dele e com uma ajudinha da minha falta de vontade, mas eu estava seriamente pensando em ir ao pub com minhas amigas e quem sabe repetir o que aconteceu da ultima vez.
"Talvez sim, talvez não, mas saiba que caso eu vá não irei te avisar ;)"
Minha mãe ficou me chamando no andar debaixo, então não pude saber se ele respondeu minha mensagem, o que também não fazia diferença alguma para mim.
Pensei em me produzir e ficar no mínimo sexy para hoje à noite, mas no fim optei pela esculachada que eu era agora. Quando minha mãe me viu descendo as escadas usando tênis, calça jeans toda estraçalhada, jaqueta como sobreposição do moletom, com direito a uma bandana feita de faixa para combinar, ela ficou me encarando como se eu fosse alguém de outro mundo.
- Cadê minha menininha que parecia uma princesa e não uma rebelde? - ela perguntou finalmente sorrindo.
- Que drama, mulher. - papai apareceu na sala. - Coloca um cigarro na orelha pra ficar mais rock 'n roll. - ele disse rindo.
- Assim? - mostrei depois de tirar um cigarro do maço e coloca-lo na orelha.
- Isso, falta umas tatuagens bem loucas e maquiagem pesada.
- Nem pense nisso, .
Papai e eu ficamos enchendo o saco da minha mãe até Moira com o carinha que ela estava saindo virem me buscar, para irmos depois pegar Jenna e Eleonor.
Quando chegamos ao pub encontrei Bruce sentado no bar, como da ultima vez e deixei o pessoal em uma mesa e andei até ele.
- Você vem sempre aqui? - sussurrei no ouvido dele, e vi que ele deu um risinho, virando para me olhar.
- Na verdade... Sou filho do dono daqui. - ele disse entre risos.
- Você é o dono, tecnicamente falando. - dei de ombros me segurando para não rir.
- Sim. - ele deu um sorriso que quase me fez derreter. - Pensei que você não viria, e uau. - ele olhou para minha roupa. - Tá com cara de adolescente que foge de casa pra ver show do Blink.
- Quase isso.
- E o cigarro?
- Ideia do meu pai. - sorri. - Me vê uma Guiness. - pedi ao barman.
- Você deveria provar todas as bebidas do cardápio.
- Isso é um desafio? - arqueei as sobrancelhas.
- Sim, e por minha conta.
- Fechado. - sorri.
Ele me puxou pela cintura, e começou a beijar meu maxilar, trilhando beijos até minha orelha, onde ele soprou levemente me deixando arrepiada. Odeio quando meu corpo tem essas reações automáticas a toques.
- Você é muito gostosa, sabia, gata do bar? - ele sussurrou com a voz rouca.
- Eu faço o possível.
Colei meus lábios no dele e trocamos alguns beijos, até eu resolver leva-lo a nossa mesa e apresentar ao pessoal.
- Gente esse é o Bruce. - puxei-o para se sentar ao meu lado. - Bruce essa é Moira, Johnny, Jenna e Eleonor.
- Agradeça a mim pela junção. - Moira dirigiu-se a Bruce com um sorrisinho beirando a malícia. - Se não fosse por mim não teria ido falar com você.
- Obrigado então. - ele riu.
Comecei meu desafio de beber todas as bebidas do cardápio, e quando Bruce subiu ao palco para tocar, eu já estava na opção nove do cardápio, e Johnny resolveu me acompanhar. A banda do Bruce fez alguns covers de AC/DC, e do Bruce Springsteen, deixando algumas menininhas que estavam na frente do pequeno palco, eufóricas.
Johnny e eu já teríamos perdido as contas de que bebidas haviam passado pela mesa se não fosse por Eleonor. Eu já estava muito alta, e Jenna que resolveu se juntar logo depois parecia pior do que eu. Ficamos bebendo por muito tempo, e eu estava tão bêbada que comi o maior lanche que tinha no cardápio. Quando uma garçonete - gata, por sinal - veio trazer os lanches, eu pensei que aquele negócio na minha frente fosse cabrito de tão grande que ele era, mas no final eu acabei comendo tudo.
Jenna sugeriu que brincássemos de "Eu Nunca", então Bruce pediu duas garrafas de tequila para que pudéssemos jogar.
- Vamos lá. - Moira esfregou as mãos uma nas outras. - Eu nunca fiquei com alguém do mesmo sexo. - ela gargalhou, era obvio que Jenna e Eleonor iam beber, e eu as acompanhei.
- Que ato pecaminoso. - Eleonor dramatizou. - Homem com homem, mulher com mulher. Essas pessoas deveriam ir para o inferno. - ela disse entre risos. - Ok, eu nunca dormi com alguém mais velho. - todos nós acabamos virando o copo de tequila.
- Eu nunca dormi com alguém mais novo. - Johnny disse, e somente ele e Bruce, que me olhou malicioso, viraram.
- Eu nunca usei drogas. - Jenna disse. Eu, Johnny e Bruce viramos. - Chapados. - ela gritou e começou a gargalhar.
- Eu nunca fiz um ménage. - disse. Ninguém virou. - Seus virgens. - gargalhei.
- Eu nunca peidei em uma garrafa para tentar guardar o cheiro. - Moira deu de ombros. Jenna, Johnny e Bruce beberam. - Porcos.
- Eu nunca... - Jenna disse e logo começou a rir. - Porra, tô sem ideias. Eu nunca entrei numa briga. - Bruce, Moira e Johnny beberam.
Continuamos mais algumas rodadas, até começarem perguntas sem sentido nenhum. Johnny e eu voltamos ao desafio das bebidas, e eu já sentia minha cabeça fritando, mas eu não estava com a mínima vontade de parar. Jenna estava mais bêbada que todos, então do nada ela começou a contar uma história sem pé nem cabeça que fez todo mundo começar a rir, até que ela passou a falar da infância dela, e começamos a comparar nossas infâncias. As únicas diferente eram de Bruce e Johnny, já que as meninas e eu fomos criadas juntas.
Um cara com uma barba estilo Christian Bale, veio andando em direção a nossa mesa. Ele estava vestido no maior estilo "badboy" de filme, camisa xadrez, jaqueta por cima, coturno e cigarro na orelha, o par perfeito para mim hoje. Ele parou na nossa frente, ao lado meu e de Moira e encarou a mim e as meninas com um sorrisinho malicioso no rosto, até soltar uma gargalhada e me encarar. Eu devia parar de falar certos nomes em voz alta, porque isso estava invocando essas pessoas até mim. Podia ser só coisa da minha cabeça de bêbada, mas porque diabos ele iria até nossa mesa se não fizesse ideia de quem éramos? Encarei bem o rosto dele, e de repente foi como se a sobriedade me abatesse e eu não tivesse bebido nada. Que porra ele estava fazendo ali?
- Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo, ? Mesmo odiando a cidade, uma hora a gente tem que voltar para o buraco de onde veio. E quem diria você, hein, nem parece mais a de antes. - ele sorriu da forma mais cínica que eu já presenciei na minha vida, e deu uma longa risada. Ele puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado, e ficou me encarando, o que fez meu corpo se arrepiar todo. Odiava ser encarada, ainda mais por ele. E o que diabos ele estava fazendo em Manchester? Esse maldito não tava viajando?
Eu queria fugir dali como uma menininha, mas eu não podia fazer isso por diversos motivos. Olhei para Moira a minha frente que estava com o rosto mais pálido que o meu. Talvez ninguém esperasse por isso, afinal ele não tava na porra de outro continente? Por alguns minutos eu pensei em duas possibilidades, uma delas era esse imbecil ser o , mas ele não tinha crescido e ficado parecido com o nem aqui nem na China. E esse olhar cínico só poderia ser do .
- É, , nem pareço mais aquela que você pisoteava todos os dias. – dei-lhe um sorriso forçado e ele o retribuiu. – O que você quer, hein?
- Não posso vir ter uma conversa com meus antigos amigos de escola? – ele perguntou como se algum dia ele realmente tivesse sentido um pingo de compaixão e gosto por nós.
- Ninguém aqui quer saber de você, . – Jenna rosnou.
- Não seja chata, Jenna. – ele olhou para o braço de Bruce apoiado no encosto da minha cadeira e deu um risadinha que daqui a pouco me faria voar na garganta dele. – Pelo visto você ainda continua com seu gosto refinado para caras maus.
- Dá um tempo. Fala logo o que você quer e se manda. – disse impaciente. Tudo bem que todas as merdas que ele fez para mim foram há anos, mas por causa dele eu fui a idiota que sempre ouvia as coisas e ficava de cabeça baixa.
- Queria falar com você, a sós.
Olhei para o pessoal da mesa e Eleonor negou com a cabeça, mas eu apenas ignorei e me levantei, andando em direção à saída. Encostei-me a parede de entrada e segundos depois ele apareceu, encarando-me dos pés a cabeça.
- Quem diria, hein. A garotinha que parecia uma princesinha de filme da Disney usando calça colada, e até um cigarro na orelha. Deu pra fumar agora?
- Não é da sua conta. – rosnei. – O que você quer? Eu tenho que voltar pra dentro, não quero que você estrague minha noite como fez cinco anos atrás, lembra?
- Seu queridinho não me deixou esquecer. – ele sorriu triste. – Por que você nunca respondeu nossas cartas?
- Mandasse-as para o meu endereço, não pra casa dos meus pais. – dei-lhe um sorriso cínico e ele mexeu a cabeça em negação.
- Como se eu tivesse ele. Você meio que sumiu do mapa, e só suas amiguinhas lésbicas com a vadia tinham ele.
- Não as chame assim, .
- Quando foi que você deixou de falar meu nome com um ar sonhador pra dizer ele com tanto nojo e desprezo?
- Foi naquele mesmo dia que você ferrou comigo e .
- Não ferrei com ninguém, a verdade é que nunca foi um homem de atitude, e isso você tem que admitir, e se alguém ferrou alguma coisa, esse alguém é você. Por sua culpa minha amizade com ele nunca mais foi a mesma, e parecíamos dois galos de briga.
- Isso não teria acontecido se você não tivesse feito escolhas erradas, e olha... Eu quero que vocês dois vão a puta que pariu.
- Meu Deus. – ele exclamou fingindo surpresa. – falando palavrão. Puta merda, eu to falando com a garota certa mesmo? Deixa-me ver, você tem aquelas pintinhas de nascença embaixo do queixo, porque se não tiver é outra pessoa. – ele abaixou-se para checar. Idiota.
- Seu tempo acabou, tchau, . – dei alguns passos e ele puxou meu braço, prensando-me na parede e colando seu corpo ao meu. Em outra época isso poderia até me fazer ter um orgasmo.
- Deixa de hostilidade. Queria voltar às coisas como antes.
- Você pisando em cima de mim? – arqueei a sobrancelha. – Não obrigada.
- Eu mudei. Você pode não acreditar, mas é verdade. Tô tentando concertar um monte de coisa na minha vida, e uma delas é a nossa amizade.
- Nunca teve amizade da sua parte.
- , você lembra quando , você e eu éramos inseparáveis quando pequenos? Antes das meninas aparecerem, e essas coisas?
- Lembro. Você estúpido como sempre e maltratando todo mundo, porque será que eu só me lembro de um grosso e hostil? Ah é, porque você é assim.
- Não sou mais. – ele bufou.
- Difícil acreditar, e... Como você sabia que eu estava aqui?
- No pub? – neguei com a cabeça. – , Manchester pode ser uma cidade grande, mas essa parte em que moramos é muito pequena, e sua mãe comentou com a minha tia que você estava na cidade, e eu não sabia como te achar, e como hoje é sábado resolvi tomar umas cervejas, e boom. Te achei. – ele sorriu.
- Depois me perguntam por que odeio essa cidade.
- E então? Vai me dar uma chance de consertar tudo? – ele perguntou esperançoso. Um lado meu dizia que isso era furada, e que eu deveria chutar as bolas dele e sair dali, mas a outra dizia que eu logo iria para Londres e não veria mais a cara dele, então que mal faria aceitar.
- Você tem menos de um mês pra me convencer de que você não é mais um idiota. Agora some.
Deixei-o parado na entrada, e voltei para nossa mesa onde a situação parecia meio tensa e a conversa era . Fui bombardeada de perguntas sobre o que ele queria, coloquei todos a par da situação. Eu não sabia o que queria dizer quando disse sobre meu gosto por caras maus, mas se ele queria insinuar algo sobre Bruce, eu estava pouco me importando. Jenna e Eleonor foram embora lá pela uma da manhã, e logo Moira e Johnny se foram, deixando Bruce e eu terminar de beber todas as bebidas existentes na face da Terra.
O pai de Bruce, Sean, se juntou a nós. Ele era um senhor bem simpático, e devia ter uns sessenta anos, e bebia mais que Bruce e eu juntos. Ele me contou que era irlandês, e por isso ele e o filho eram fanáticos por bebidas. Por volta das quatro da manhã achamos melhor irmos embora, então Bruce sugeriu que eu dormisse na casa dele, o que foi a ultima coisa que fizemos, pois assim que chegamos abrimos algumas garrafas de uísque e fizemos tudo, menos dormir.
- Bom dia, gatinha. – Bruce sussurrou em meu ouvido.
- Que horas são? – perguntei preguiçosamente. A dor de cabeça que eu estava sentindo não me ajudava em nada para levantar da cama.
- Três da tarde. – ele disse normalmente e eu arregalei os olhos. – Não surte. – ele disse rindo.
- Meus pais devem estar pensando que eu fui sequestrada.
- Eu bem que te sequestraria se você deixasse.
- Proposta tentadora. – mordi a bochecha dele. – Mas tenho muitas coisas a fazer.
- Tipo?
- Eu tenho que ler alguns livros, jogar videogame, me alimentar corretamente, nem só de cerveja e lanches do tamanho da Rússia sobrevive uma pessoa.
- Por que eu nunca te encontrei antes? Podemos ter passado dos anos 2000, mas eu ainda acho super estranho quando uma garota diz que joga videogame.
- Adquiri esse vício na faculdade. – dei de ombros.
- Londres, dando vícios às pessoas desde sempre. – ele riu.
- Eu posso ser muito fácil de persuadir.
Quando cheguei em casa por volta das cinco da tarde, fui obrigada a ouvir minha mãe dizer que de nada adiantava eu vir pra Manchester se não ficava com a família, enquanto meu pai tentava apaziguar. No início, eu acabava ficando triste quando ela dizia isso, mas com o tempo aprendi a ignorar, e era só começar a ajuda-la na cozinha que ela esquecia.
Ficamos eu e meu pai jogando FIFA na sala, enquanto mamãe preparou o jantar. Se tem uma coisa que eu sentia muita falta era a comida da minha mãe, mas acho que isso acontece com todo mundo que sai da casa dos pais. Durante o jantar, minha mãe ficou insistindo para que eu procurasse por algum emprego na cidade, e não em Londres, e ela recusou meu convite de morar em Londres comigo, da forma mais grosseira possível. Apenas disse que eles poderiam se mudar para Londres, que havia muitas casas a venda com um preço bem acessível para eles, e quando meu pai disse que ia pensar no assunto, ela se levantou da mesa e disse que não iria sair de Manchester, e que se eu queria ficar perto da família, eu quem voltasse e não falasse mais sobre eles se mudarem. Depois do pequeno grande ataque, ela subiu para o quarto e não desceu mais.
Como um pedido de desculpa, resolvi lavar toda a louça, coisa que eu odeio fazer, e fui até o quarto me desculpar com ela, mas fui expulsa de lá aos berros.
Tudo bem que ela adorava morar aqui, mas ela deveria entender que não havia necessidade para tanto escândalo, apenas disse que ela podia morar em Londres comigo, e não se mudar da Inglaterra. Não éramos apegados aos familiares daqui, e eles moravam em Bolton, e seria quase a mesma coisa.
Durante a semana eu não toquei nenhuma vez no assunto de mudança com a minha mãe, exceto com meu pai que havia achado maravilhosa a ideia de se mudar.
Bruce tinha ido viajar para Irlanda com os pais, e eu não estava com a mínima vontade de sair em um sábado à noite que estava a ponto de nevar por causa do frio. Convidei as meninas para vir em casa, e elas vieram, exceto por Eleonor que tinha de sair com a mãe. Assim que chegaram subiram correndo para o quarto e entraram fazendo a maior bagunça.
- Meu Deus, faz anos que não entro nesse quarto. – Moira começou a fuçar dentro do guarda-roupa e embaixo da cama.
- , desde quando você virou uma adepta da Apple? – Jenna apontou o notebook e o computador.
- Desde que eu comecei a trabalhar para comprar.
- Só falta você me mostrar o iPad agora, aquela bandeja sem igual.
- Para de inveja, Jenna. – Moira deu um tapa no braço dela. – Podíamos fazer igual aos velhos tempos, fofocar, comer muito.
- É por isso que chamei vocês aqui, dã. – dei um tapa na testa dela. – Sabê, a gente podia pesquisar na internet sobre aquele povinho que a gente não vê há anos. – disse na esperança delas não perceberem que eu queria saber como estava agora.
- Tá. – Jenna sentou-se com o notebook na cama, entre Moira e eu. – Podemos começar pelo Facebook né?
- Sim. – dei de ombros.
- Fala um nome. – Moira me encarou sugestivamente. Merda, ela descobriu.
- Sei lá, coloca qualquer um.
- Pesquisa , Jenna.
Jenna fez login no Facebook e logo pesquisou sobre o . É óbvio que apareceram milhões de caras, mas logo tratamos de clicar apenas nos que nasceram em Manchester, e para minha surpresa só encontramos um de Manchester. O meu de Manchester.
A foto do perfil me lembrava muito o garoto magricela que eu conhecia, e começamos a ver as informações e mostrou que ele estava em um relacionamento sério com uma Sophie Watson desde 2009, o que era um ano depois que eu me mudei para Londres. Achamos algumas poucas fotos deles juntos, e eu tentei não mostrar a elas meu descontentamento, mas Moira percebeu.
- Olha a última postagem dele foi em 2009, e esse está idêntico ao que vi da ultima vez que nos encontramos, acho que ele nem usa mais o Facebook. – Moira pronunciou-se. – A última vez que conversamos, ele me mandou uma foto dele na ponte do Brooklyn com alguns amigos, e ele estava com uma cara mais de homem e barba.
- Que seja. – resmunguei. – Vamos procurar outra pessoa.
- Clica no perfil dessa tal Sophie. – Moira disse enquanto tentava tirar o notebook das mãos de Jenna. – Clica logo.
- Calma, estressada.
A garota da foto de perfil estava com cara de muito mais diferente da garota nas fotos com , o que me fez ficar mais aliviada, mas o problema era que no dela ainda constava que estava em um relacionamento sério com ele, e sua última postagem fora no começo do ano. Talvez ela estivesse indo com ele a essas viagens de trabalho e não se importasse mais com isso.
Procuramos por mais algumas pessoas, até que Moira tomou o computador das mãos de Jenna e pesquisou sobre no Google. Não foram muitas coisas que apareceram, apenas o antigo Facebook dele e dos outros milhares de , e sobre outros caras que não eram ele. Pesquisamos sobre a vida das pessoas a noite toda, até que Jenna teve a brilhante ideia de pesquisar sobre o Bruce, mas eu mal sabia o sobrenome dele.
- Como assim, ? Você tá namorando o cara e não sabe o sobrenome dele? – ela esbravejou.
- Eu não tô namorando ele, estamos saindo...
- E transando. – Moira interrompeu. – Você não faz a mínima ideia?
- Deve ser Wayne. – disse rindo. Elas pesquisaram por Bruce Wayne e quando os resultados de pesquisa apareceram todos ligados ao Batman, uma chuva de travesseiros veio ao meu encontro.
- Como você é palhaça, não? – Moira me empurrou da cama. – Sério, , você não faz ideia de como pode ser?
- É algo com “s”, deve ser Smith, ou Scott, não sei. – dei de ombros. Jenna ficou digitando e clicando em um monte de coisas que eu desisti de ver o que eram.
- Achei um Bruce Stewart idêntico ao seu Bruce. – ela sorriu maliciosa. Olhei na tela do notebook e era o “meu” Bruce abraçado com o pai e uma senhora que devia ser a mãe dele.
- Uh, vamos ver as fotos dele. – Moira disse toda empolgada.
Fuçamos em todas as coisas possíveis no perfil dele, até elas jogarem o nome dele no Google, mas não achamos nada mais de importante. Jenna foi a primeira a dormir, e fiquei pensando em milhões de pegadinhas que eu poderia fazer com ela, embora nenhuma fosse boa o suficiente como as que e faziam. Moira e eu ficamos dando notas aos caras que já tínhamos ficado, classificando se eles tinham boa pegada ou não. Eu sei, totalmente infantil, mas é geralmente isso que acontece quando você está com suas melhores amigas. Fiquei feliz quando no fim da nossa contagem Moira ficou com mais homens do que eu.
- , eu vou te perguntar uma coisa e quero que você seja sincera comigo na hora de responder, tudo bem?
- Tá. - dei de ombros.
- Você gosta do ?
- O quê? Claro que não, eu não o vejo há uns cinco anos, como posso gostar de alguém que não vejo há tanto tempo assim?
- Essas coisas são bem fáceis de acontecer, mas se você diz que não, quem sou eu para tripudiar e dizer que sim. - ela disse com desdém. - E por que você ficou meio triste quando viu que ele possivelmente está em um relacionamento sério?
- Não fiquei triste, apenas surpresa.
- Ficou triste sim, , eu te conheço.
- Tá. - bufei. - Fiquei meio triste porque ele disse que gostava de mim e agora está com outra.
- Não sabemos se ele está, e foi você quem dispensou ele, você queria o quê? Que ele ficasse apaixonado por você a vida toda?
- Não, e eu não dispensei ele.
- Então porque o ignorou? Ele não tinha nenhum meio de falar com você, e mandou aquelas cartas para você, mas você sequer as respondeu. A vida segue, amor. Você deveria aproveitar que tem um gato mais velho na sua e investir nele, em um relacionamento com ele.
- Não quero nenhum relacionamento agora. - disse emburrada.
- Tudo bem, mas fique com ele até sei lá... Você cansar dele ou querer algo mais sério.
- Ok, vou pensar sobre isso. Sabe, eu queria encontrar o , só por encontrar sabe? Saber como ele está e essas coisas.
- Quem sabe o idiota do não te ajude com isso. Ele quer sua amizade, e ele possivelmente ainda possa ter contato com o .
- Tem os pais dele.
- , eles são pais. Sempre quiseram você e o juntos, e se ele estiver namorando, e até casado com essa tal de Sophie os pais dele podem até, sei lá, fazer eles se separarem. Eu posso odiar o , mas ele ainda é a melhor opção pra você.
- Eca, não quero ficar com o .
- Como é burra, meu Deus. - ela deu um tapa na própria testa e me encarou irritada. - Ele é a melhor opção para você descobrir sobre o .
- Ah, claro.
Acabou que eu não tirei isso da cabeça pela noite inteira, e nem consegui dormir. Pensei em mandar uma mensagem ao e marcar de nos encontrarmos, mas lembrei de que eu não tinha o número dele, nem sabia como encontrá-lo, a não ser que ele ainda morasse no mesmo lugar de sempre.
O domingo fora totalmente tedioso. Alguns primos de Bolton vieram para um churrasco e ficaram dando em cima das meninas e se achando os maiorais. Eles só tinham dezessete anos. Bruce tinha voltado de viagem e eu pensei em chamá-lo para ir até minha casa, mas me lembrei de que os iriam vir para o churrasco, e se ele viesse até em casa seria como apresentar meu namorado à família, e estávamos extremamente longe disso, então combinamos de nos encontrar na segunda à tarde depois que ele saísse do escritório. Ponderei por um tempo em perguntar sobre aos pais dele, mas tirei essa ideia rapidamente da cabeça.
Depois que todos foram embora, papai e eu nos sentamos para assistir o jogo, e minha mãe acabou nos acompanhando, o que nós dois achamos estranho já que ela sempre odiou futebol.
- Andei pensando sobre o que você disse, filha, de nos mudarmos para Londres. - ela disse meio relutante.
- Mãe, esquece isso, tá tudo bem.
- Não, , sabe, de início eu pensei que você estava sendo egoísta, mas eu parei para ver e você só quer sua família por perto. Seu pai e eu estamos ficando velhos, e você mora longe, e quer construir um futuro em outra cidade, mas também nos quer por perto, e não custa nada dar uma chance a isso.
- Você quer dizer que está disposta a se mudar para Londres?
- Sim. - ela sorriu com os olhos cheios de lagrimas. - Eu ouvi algumas conversas de vocês dois, e vocês estão certos, não temos nada que nos prenda aqui.
- Mãe, eu tô tão feliz. - abracei-a bem forte que pensei que quebraria o corpo magro dela.
- Estaremos mais perto de estádios para assistir os jogos. - papai disse contente e recebeu um olhar bravo de minha mãe.
Acabamos combinando de que quando eu voltasse para a minha casa eles iriam passar uns dias por lá e eu os ajudaria a procurar por algo. Depois de toda essa história, minha mãe começou a insistir em saber onde eu estava dormindo quando saia nos sábados à noite, e até perguntou se eu estava saindo com alguém, o que fez meu pai ficar bravo. Pais, nunca aceitaram suas menininhas com outros homens que não sejam eles.
Eu neguei é claro, mas ela não pareceu acreditar muito em mim, e disse que tentaria arrancar algo das meninas na próxima vez que as visse. Nota mental: deixar elas longe umas das outras.
Fui para o quarto e fiquei fuçando em alguns sites de imobiliária e pesquisando sobre casas em bairros mais calmos de Londres.
"Consegui o telefone do , HAHA. Diz se eu não sou uma amiga e tanto. Johnny conseguiu para mim, aparentemente eles possuem um amigo em comum. XXX-XXX-XXX, boa sorte amiga ;)".
Moira sem duvidas era incrível. Mandei a ela uma mensagem agradecendo e pensei no que enviar para , mas era tudo muito obvio mesmo.
"Ei, , é a , topa um café amanha às nove?"
O de antes mandaria eu me foder e diria que não acorda antes das onze da manhã, mas eu não sabia o que esperar do novo .
"Oi, , pode ser, em que lugar?"
"Naquela cafeteira perto da nossa antiga escola".
"Tudo bem, até amanhã".
Parte um, concluída.
Eu estava com um pouco de medo do novo , porque eu não sabia o que esperar dele, enquanto o outro era muito previsível e sem surpresas. Fui até o quintal fumar, e vi o balanço que eu costumava brincar com e quando mais novos. Quando éramos apenas três crianças e nenhum de nós era o ignorante, a sem-sal e o apaziguador de brigas.
"Os pais de haviam ido de férias para as Bahamas e o deixaram em casa, então papai e mamãe convidaram para dormir por lá esses dias. Papai estava terminando de montar um balanço com a "ajuda" de e , que mais atrapalhavam do que ajudavam.
- Vem, , já ficou pronto. - papai gritou e eu corri até ele. - Tomem cuidado, hein, crianças. - ele entrou na casa e ficamos os três revezando para poder usar o brinquedo.
- Vocês acham que quando crescermos ainda seremos amigos? - perguntei inocentemente.
- Sim. - disse com um sorriso enorme enquanto balançava. - O que você acha, ?
- Eu sei lá. - ele deu de ombros. - Mas eu acho que o seu tempo já acabou aí, agora é minha vez. - saiu do balanço e o ocupou.
Ficamos o dia inteiro brincando no quintal e aproveitando a pouca neve que caia. Às vezes ficar perto de e era um pouco chato, porque sempre me excluía de algumas coisas e queria só para ele, nunca gostando quando o mesmo me chamava para brincar.
- , eu vou ser seu amigo... - disse com um sorriso enorme. - Para sempre.
- Você promete? - perguntei.
- Sim, e você? Promete que vai ser minha amiga para sempre?
- Prometo. Você nunca vai me esquecer, ou me ignorar?
- Claro que não. Você também não vai fazer isso comigo, não é?
- Jamais. Você é meu melhor amigo. - abracei-o forte e pelo canto do olho vi nos olhar bravo".
Odiava ter lembranças do passado. Eu quem sempre pedia para que ele não me ignorasse e não me esquecesse, acabei fazendo com ele. Talvez promessas de crianças não façam menor efeito e sentido. São apenas crianças, crianças bobas e inocentes, sem a mínima percepção do futuro e de como a vida e as coisas são traiçoeiras.
Não que eu estivesse muito ansiosa para me encontrar com e tomar um pouco de seu sarcasmo matinal, que eu tinha certeza de que ainda existia, mas eu estava ansiosa para saber o que ele falaria de . Talvez fossem coisas boas, talvez ruins, isso não importava muito porque eu queria era ter alguma notícia dele. Nada de rumores ou sobre a fase rebelde que a mãe dele contou, algo que somente uma pessoa que tivesse um grande nível de amizade poderia me contar, e esse alguém era , infelizmente. Quando comentei com a minha mãe que eu iria sair para um café com , ela quase surtou porque pensou que era com ele que eu andava saindo, porém mais uma vez eu fui obrigada a negar tal fato, e dizer apenas que estava tentando trazer laços antigos de amizade, embora a única amizade que eu queria nesse exato momento era a de . Muito obsessivo? Sim!
Cheguei à cafeteria vinte minutos antes do horário marcado e me surpreendi quando vi me esperando em uma mesa na parte aberta. Nada de roupas de badboy como da última vez, apenas a camisa xadrez que antes era amarrada na cintura, e jeans. O mesmo de sempre sem pinta de cara mal. Assim que ele me viu abriu um enorme sorriso e me chamou para me juntar a ele. Só percebi meu nervosismo quando ele ficou me encarando por um tempo e logo pediu por dois cafés gelados com chocolate e chantilly. Ainda bem que ele ainda se lembrava das minhas preferências. Posso ser uma quase viciada em nicotina, mas ainda odeio café profundamente.
- E então, a que devo a honra de te encontrar nessa bela manhã de sol? – ele disse bebericando um pouco de sua bebida.
- Não era você quem queria voltar nossa “amizade”? – fiz aspas com os dedos e ele assentiu rindo. – Como você está? Falaram que você sumiu e essas coisas, nada além de rumores idiotas.
- Depois de toda merda possível que eu e seu amiguinho aprontamos, meus pais me obrigaram a me mudar para Brighton.
- Consigo imaginar todo tipo de coisa. Mas deve ter sido algo muito ruim para os seus pais se mudarem, eles sempre foram as pessoas mais pacientes do mundo com você. – disse tentando não soar irônica. A verdade era que os pais dele nunca o aguentaram. Sempre aprontando, e quando tinham a chance de ficar longe dele pelo máximo de tempo possível, eles o faziam. A mãe dele sempre quis ter outro filho, mas o pai sempre dizia que não queria outra peste feito o .
- As pessoas mais pacientes do planeta. – ele revirou os olhos. – Vamos admitir, eu era um capeta.
- Eu não usaria esse termo, mas se você o diz.
- E você? Meio que sumiu do mapa, não tinha mais contato com ninguém a não ser as meninas.
- Na verdade eu não queria mais contato com você, e pra isso eu tive que sacrificar algumas coisas, tipo a amizade com o .
- Você sacrificou minha amizade com a dele também. Minha amizade com ele nunca mais foi a mesma depois que você foi embora.
- Não é como se eu tivesse atravessado o atlântico e fugido, eu só ignorei vocês.
- Nos excluiu, isso sim. Éramos seus únicos amigos aqui e em um dia você está com a gente no baile de formatura, no outro está em Londres sem nenhum tipo de contato comigo e com ele. Continuar amiga da Moira, Jenna e Eleonor não trouxe nada de bom para mim e ele. Elas nunca diziam nada sobre você, apenas que você estava bem.
- Era a verdade, eu sempre estive bem.
- E com um namorado.
- Do que você tá falando? – disse sem entender nada. Como eles sabiam sobre o garoto que eu acabei namorando?
- Teve uma vez que e eu ficamos insistindo para que uma delas falasse algo mais sobre você, e aí a Moira disse que você estava namorando e estava muito feliz longe de nós dois. Isso foi à gota d’água para o . Ele resolveu pegar firme na faculdade, e sempre dizia que queria se dedicar ao futuro dele e esquecer você. Até começou a namorar uma garota que era um completo oposto do que você era.
- Como assim? – exclamei surpresa. 1, Desconhecida 0.
- Você sabe, ela não se parecia nada com a bobinha que conhecemos anos atrás.
- Haha, engraçadinho. – fiz uma bolinha com um guardanapo e taquei nele.
- O bom é que eu não sei que merda aconteceu com ela. – ele deu de ombros.
- E ele?
- O que tem?
- Como ele está? Vocês ainda se falam, essas coisas.
- Às vezes. – ele deu de ombros. – vive viajando para esses países mais pobres ajudar com comida e essas coisas. Ele é tipo um ambientalista, não sei como se chama.
- Espera aí. A mãe dele disse que ele trabalhava com umas campanhas de publicidade e essas coisas. – disse com um sorrisinho torto nos lábios. Típico dele enganar a família para fazer coisas que ele “não deve” fazer.
- , minha querida. – começou o antigo . – Que mãe quer ver o filho trabalhando em algo que tecnicamente não rende dinheiro? Você tem que concordar comigo, ir pra África ajudar a cuidar das pessoas não dá nenhuma merda de dinheiro.
- Mas e a faculdade, a mãe dele disse que ele fez publicidade.
- Como você é ingênua, meu Deus. – ele disse com um pouco de dificuldade pelo tanto que gargalhava. Eu era a única que não via graça nisso? – A mãe dele nunca foi à formatura dele porque o não deixou, ele convenceu a mãe dele a não ir, mas o pai dele foi.
- O pai dele sabe disso tudo? – perguntei surpresa.
- Sim. Ele quem ajuda com as mentiras do nosso amiguinho. Ele se formou em biologia, ou algo desse tipo, ai ele vai fazer pesquisas nesses países, então acaba ajudando com outras coisas. quem vai acabar com a fome na África. – ele disse orgulhoso.
- Uma hora ela vai descobrir.
- E rezaremos para que demore. Eu não quero nem ver quando ela descobrir. Adeus, família . Mas e aquele cara que você está namorando, o Bruce.
- Não estou namorando ele. – disse emburrada.
- Sexo casual, hum. – ele colocou a mão no queixo e ficou me encarando como se pensasse na merda que iria dizer. – Quem diria, tendo sexo casual. Sempre pensei que você morreria virgem.
- Como você é agradável, .
- Tô brincando com você, dinossauro. – ele disse rindo. – Lembra quando eu te chamava assim? Foi naquela época que você assistiu Jurassic Park e ficou apaixonada por dinossauros.
(In)felizmente conversamos sobre o passado, mais precisamente antes do estúpido, na época em que éramos um trio de amigos, e não um grupo. Ficamos a manhã inteira por lá jogando conversa fora até Bruce me enviar uma mensagem e me convidar para almoçar com ele em uma lanchonete perto do escritório onde ele trabalhava.
O lugar parecia algo saído diretamente dos anos 60, e era realmente muito bonitinho. Encontrei-o em uma mesa lendo o cardápio como se fosse à receita da cura para o câncer. Tenho que admitir que a imagem a minha frente parecia algo surreal. O cara que eu conheci parecendo um adolescente, agora usando camisa social com os primeiros botões aberto e cabelo milimetricamente penteado. Nada de olhos vermelhos por causa da bebida ou coisas do tipo, apenas um advogado muito gostoso.
- Oi. – me sentei na cadeira à frente dele. – Você viu meu amigo por ai? Um cara alto, cabelo despenteado, roupas despojadas e tatuagens nos braços.
- Não vi não. – ele fingiu desapontamento. – Mas se você quiser tem um cara de terno e gravata aqui, está bom para você? – ele sorriu.
- Pode ser. – dei de ombros e sorri.
Pedimos um lanche enorme com milk-shake e eu brinquei com ele dizendo que isso não era comida de adulto, recebendo de volta um “isso é comida de adolescente, e você ainda parece uma” com um sorriso enorme no rosto.
Ele começou a contar sobre o trabalho e sobre as coisas que ele era obrigado a fazer, e eu infelizmente fui dirigida ao meu futuro agora incerto. Daqui duas semanas eu voltaria para Londres, mas não seria a mesma coisa de antes. Eu não teria mais que me matar fazendo trabalhos. Agora eu tinha que pensar no meu emprego, no que eu realmente teria de fazer dali para frente, e isso era algo que eu não queria pensar, mesmo sendo direcionada há isso toda hora. Tem horas que eu queria era desistir de tudo e viajar o mundo, e nem pensar em trabalhar, mas é nessas mesmas horas de desapego que eu me lembro de que eu não tenho dinheiro, e meus pais estão longe de serem ricos e me proporcionar tamanha felicidade.
Bruce teve de voltar ao trabalho, e eu voltei para casa andando na maior lerdeza do mundo. Quando cheguei tive de ouvir minha mãe insistir sobre eu estar saindo com alguém, porque eu não parava em casa. Isso porque fiquei a semana toda trancafiada com ela. Eu não fazia ideia do que diabos eu e Bruce tínhamos, saímos algumas vezes e transamos, não sei se era uma ficada ou qualquer outra coisa.
Procurei sobre trabalho com Artes Visuais, desisti após fechar a aba do sétimo site que eu já visitara. Procurei sobre qualquer coisa que me fizesse esquecer sobre a minha fatídica vida, e acabei não encontrando nada de interessante.
Dormi a tarde toda, e quando acordei havia milhões de mensagens tanto de Bruce quanto das meninas. Acabei que não respondi nenhuma delas, e desci para sala assistir o futebol com meu pai. Ele também acabou me perguntando o porquê de eu sempre dormir fora, mas não disse nada sobre eu possivelmente estar me encontrando com alguém. Mamãe ficou enchendo o saco, e perguntando sempre sobre o horário que eu iria sair, e que dia iria voltar, já que não parava mais em casa. Eu amo minha mãe, amo muito, mas eu odiava quando ela começava com isso sobre eu estar saindo com alguém. Ela e meu pai começaram a discutir, e meu pai sempre ao meu lado, dizendo que se fosse algo sério eles já saberiam, e que eu só estava saindo pra curtir um pouco com minhas amigas, enquanto ela lutava pela tese de que eu estava me encontrando com alguém, e que esse alguém não devia ser boa pessoa para que eu não o apresentasse a família. Quando ela insiste em um assunto, ela fica nele até que ela decida que podemos finalizá-lo, o que sempre deixou papai e eu muito irritados. Tentei contar até dez muitas vezes, mas eu simplesmente não conseguia me concentrar, então apenas gritei que estava saindo com um cara e que sempre que dormia fora eu estava na casa das meninas, e não na casa de um homem como ela pensava. Meia parte era verdade, eu estava saindo com um cara, mas eu não dormia na casa de nenhuma das minhas amigas, mas esse era um detalhe que não faria importância.
Depois que eu subi para o quarto, ela foi atrás de mim com a maior cara de arrependimento, mas não disse nada, apenas foi verificar se eu estava chorando ou algo do tipo, o que não aconteceu, então ela simplesmente disse que eu poderia jantar no quarto se eu quisesse. A verdade era que ela queria que eu jantasse no quarto para ela não ser obrigada a se desculpar pelo que fez. Como se eu desse alguma importância a isso.
Enviei uma mensagem para as meninas no grupo que tínhamos em um aplicativo, contando sobre o ocorrido. Jenna rapidamente disse que eu devia apresenta-lo a minha família, enquanto Eleonor disse que isso ainda era muito cedo, já Moira, do contra como sempre, disse que eu não devia apresentá-lo porcaria nenhuma porque eu deveria curtir minha vida e não me apegar a alguém, ou pior, entrar em um relacionamento. Eu queria muito seguir o conselho de Moira, mas o de Eleonor me parecia muito melhor para a situação, já que agora meus pais sabiam sobre O Alguém, e seria apenas questão de tempo para que eles começassem a insistir em conhecê-lo, da mesma forma que fizeram quando comecei a namorar um cara da faculdade.
“Aconteceu alguma coisa? Porque não respondeu minhas mensagens? Estou com saudades”.
Pensei em contar a Bruce sobre a pequena briga familiar, mas me limitei apenas a dizer que meus pais estavam com problemas em casa e eu não tive tempo para respondê-lo por ter ficado muito ocupada. Ele entendeu, é claro, e disse que queria conversar comigo, mas que tinha de ser no fim de semana, pois ele não achava que um lanche no horário de almoço dele seria o correto para nossa conversa. Apenas respondi que tudo bem, e disse que não infelizmente não poderia encontrá-lo durante essa semana, já que estaria com meus pais, o que era uma puta de uma mentira.
“Quer sair hoje à noite? Tomar uma cerveja, conversar um pouco?” enviou-me.
Conversar? Mais do que conversamos hoje de manhã? Como ele ainda poderia ter tanto assunto assim? Talvez ele quisesse contar sobre a vida dele, já que durante a manhã nossa conversa foi basicamente sobre . Respondi que tudo bem, e ele pediu para que eu o encontrasse em um bar que eu nunca tinha ouvido falar, e até disse que eu poderia chamar “a vadia e as lésbicas” se eu quisesse. Chamá-las assim seria um costume que jamais perderia, isso era um fato.
Enviei uma mensagem a elas, e Jenna rapidamente ligou confirmando, e alegou que não me deixaria a sós com o monstro . Moira disse que eu devia estar doida, mas minutos depois enviou uma mensagem dizendo que horas ela deveria passar para me buscar. Eleonor não disse nada, mas Jenna falou que passaria na casa dela, então provavelmente ela iria.
Tomei um banho e fiz questão de me agasalhar, mesmo que depois eu tirasse as mil camadas de roupa, mas nunca se sabe como vai estar o clima inglês. Moira demorou tanto para passar em casa, que eu acabei jantando com meus pais e até cogitei a ideia de não ir mais. Tentei ligar para ela milhares de vezes, e obviamente só dava caixa postal. Depois de mil tentativas, e uma quase desistência eu ouvi uma buzina soar incessantemente na frente de casa, e sai correndo.
- Caralho, Hayes, demorou por quê? – perguntei brava e ela revirou os olhos.
- Johnny estava em casa, e acabamos discutindo. – ela disse como se não fosse nada demais. Para Moira nada no mundo parecia importar. – Terminei com ele.
- Por quê?
- Chato pra caramba, ele não queria que eu saísse hoje, e ficou falando um monte de merda na minha cabeça. Odeio cara assim, você sabe. Eu tenho uma vida, e ele acha que é o dono dela.
- Então vamos te achar um cara novo.
- Isso aí. – ela gritou, e por pouco não bateu em um carro que estava estacionado.
Chegamos ao tal lugar e encontramos Jenna e Eleonor conversando com e mais alguns caras, bonitos por sinal. Fizemos as devidas apresentações e nos levou até uma mesa para que começássemos a encher a cara.
Jenna dizia de cinco em cinco minutos que eu devia chamar Bruce para ir até lá e beber com a gente, mas eu neguei em todas às vezes. Não estávamos namorando nem nada, como disse, era apenas sexo casual, então eu não precisava chama-lo para qualquer coisa que eu fosse fazer, do mesmo jeito que ele também não precisaria fazer o mesmo.
me levou para conhecer todos os cantos do lugar, e insistiu para que fossemos até a pista de dança, mas e dança me faziam recordar do meu fatídico baile de formatura. Moira e dois amigos de estavam em uma dança meio sensual, e é claro, atraindo olhares famintos de muita gente.
Voltei à mesa com e tomamos vários shots de tequila, enquanto Jenna e Eleonor estavam em uma conversa chata com os outros caras. Eu não sabia definir se estava sóbria ou já tinha atingido um nível alcoólico muito alto, apenas continuei virando copos e mais copos de bebidas.
Em certo ponto da noite, senti uma das mãos de massagear minha coxa, e seguir caminho até próximo a minha intimidade, deixando-me levemente excitada. Puxei-o até a pista de dança onde Moira ainda se encontrava com os dois homens, agora ambos se dividindo entre beijar seu pescoço ou boca.
Now listen I think you and me have come to the end of our time,
(Agora ouça, acho que nós chegamos no fim de nossos tempos) What d'you want some kind of reaction?
(Você quer algum tipo de reação?) Well, OK, that's fine,
(Bem, ok, tudo bem,) Alright, how would it make you feel if I said you that you never ever made me cum?
(Tá bom, como se sentiria se eu dissesse que você nunca me fez ter um orgasmo?) In the year and a half that we spent together ,
(Em um ano e meio que passamos juntos,) Yeah, I never really had much fun.
(É, eu nunca me diverti muito.)
All those times that I said I was sober,
(Todas aquelas vezes que disse que estava sóbria,) Well I'm afraid I lied,
(Bem, eu acho que menti,) I'd be lying next to you, you next to me,
(Eu estava deitada ao seu lado, e você ao meu,) All the while I was high as a kite.
(Todo o tempo eu estava alta como uma pipa.) I could see it in your face when you give it to me gently,
(Eu podia ver no seu rosto quando termina comigo gentilmente) Yeah, you really must think you're great,
(É, você deve mesmo achar que é foda,) Let's see how you feel in a couple of weeks,
(Vamos ver como você vai se sentir em duas semanas) When I work my way through your mates.
(Quando ficar com cada um dos seus amigos.)
Estávamos em uma dança tão sem sincronia que se eu não estivesse na situação em que me encontrava, eu estaria rindo muito. Minhas costas batiam de encontro contra o peito de a cada movimento que fazíamos, e eu fazia questão de esfregar minha bunda em seu membro. Suas mãos tocavam a pouca pele exposta de minha cintura, enquanto seus lábios tratavam de dar fortes chupões em meu pescoço.
I never wanted it to end up this way,
(Eu nunca quis que as coisas terminassem assim,) You've only got yourself to blame,
(Você só pode culpar a si mesmo,) I'm gonna tell them that you're rubbish in bed now
(Vou contar pra eles que você é ruim de cama.) And that you're small in the game.
(E que você é pequeno no jogo.)
I saw you thought this was gonna be easy,
(Vi que você achou que seria fácil) Well, you're out of luck.
(Bem, você está sem sorte.) Yeah, let's rewind, let's turn back time to when you couldn't get it up,
(Sim, vamos voltar à fita, vamos voltar pra época que você brochava,) You know what it shoulda ended there,
(Sabe, deveria ter terminado lá) That's when I shoulda shown you the door.
(Foi aí que eu tinha que ter te mandado embora) As if that weren't enough to deal with,
(Como se aquilo já não fosse o suficiente,) You became premature.
(Você se precipitou!)
Virei meu corpo de frente ao seu, e logo seus lábios ferozmente se colaram ao meu em um beijo selvagem. Uma de suas mãos desceu toda a extensão das minhas costas até se espalmar em minha bunda. Beijávamo-nos com uma selvageria sem tamanho, e no estado de êxtase que eu estava, só queria saber quando iríamos estar sem roupas e com ele dentro de mim.
I'm sorry if you feel that I'm being kinda mental,
(Que pena se sente que estou sendo meio louca) But you left me in such a state.
(Mas você me deixou em um estado péssimo) But now I'm gonna do what you did to me,
(E agora farei o que você fez comigo,) Gonna reciprocate.
(Eu vou tornar mútuo!)
You're not big, you're not clever,
(Você não é grande, nem esperto) No, you ain't a big brother
(Não, você não é gente boa) Not big what so ever.
(Nada grande)
- A gente vai pra algum lugar, ou essa música vai se tornar sua trilha sonora? – sussurrei em seu ouvido.
- Você está meio saidinha, não? – ele riu.
- Eu tô excitada, isso sim. – mordi o lóbulo de sua orelha. – Anda logo, . – pressionei minha pélvis contra a sua. – Vamos para algum lugar antes que eu tire minhas roupas aqui e seja presa por atentado ao pudor.
- Pelo visto você não vai ser a única. – ele sorriu malicioso.
I'm sorry if you feel that I'm being kinda mental,
(Que pena se sente que estou sendo meio louca) But you left me in such a state.
(Mas você me deixou em um estado péssimo) But now I'm gonna do what you did to me,
(E agora farei o que você fez comigo,) Gonna reciprocate.
(Eu vou tornar mútuo!)
You're not big, you're not clever,
(Você não é grande, nem esperto) No, you ain't a big brother
(Não, você não é gente boa) Not big what so ever.
(Nada grande)
Ele me puxou até a mesa que ocupávamos e falou alguma coisa para um dos amigos dele, que logo o entregou uma chave. Caminhamos com um pouco de dificuldade até o estacionamento já que parecia meio improvável que parássemos de nos agarrar. me prensou contra um carro preto, e logo abriu as portas traseiras, me puxando para lá junto dele. Empurramos o encosto do banco, e o local ficou espaçoso o suficiente para que ficássemos ambos nus e transbordássemos luxúria e excitação.
Muitas coisas se passavam pela minha cabeça enquanto estava nua e ofegante deitada ao lado de , o parceiro sexual mais improvável para mim. Uma delas era: ou eu estava acostumada com homens de grande porte, ou as garotas que diziam que era um Deus do Sexo não sabiam realmente o que era sexo. Não que seu ‘amigo’ fosse do tamanho de um mindinho, longe disso, era só que ele não me fez chegar ao alto nível que eu tinha com Bruce, ou com outros caras.
Pra começo de conversa, suas preliminares não eram lá aquelas coisas maravilhosas, e ele chegou ao orgasmo quase que mais rápido que um menino virgem de treze anos. Talvez as garotas da escola não passassem de um bando de mal comidas e se contentassem com o primeiro pênis que as adentrasse.
Disse qualquer coisa a , qualquer coisa que me livrasse da situação constrangedora em que eu me encontraria caso eu ficasse mais um minuto ao lado dele, e entrei de volta ao bar.
Os amigos de ainda se encontravam por lá, assim como as meninas. Eleonor e Jenna estavam de conversinha uma com a outra, e Moira conversava com um cara que com certeza não estava naquela mesa quando chegamos mais cedo.
Assim que ambos me viram, Moira deu um sorrisinho malicioso para o cara, que me olhou de forma encantadora. Ela sussurrou algo para ele que assentiu com um sorriso maravilhoso por baixo da barba. Mais um cara com barba à lá Christian Bale. Se eu não estivesse tão a fim de ir para casa, até pensaria em ficar por lá e conversar com o tal cara, e perguntar se ele gostaria de passar aquela barba por cada canto do meu corpo.
- Moira, eu tô indo. – dei-lhe um sorriso torto.
- Ah, , por quê? – ela choramingou.
- Tô cansada, já nem sei mais nada do que tô fazendo.
- Deixa disso, . – ela disse brava. – Eu queria te apresentar pra alguém. – ela inclinou a cabeça um pouco para o cara.
- Moira. – rosnei. Já não era de hoje que ela adorava me apresentar para as pessoas. – Deixa pra outro dia. Tchau pra vocês.
Acenei para o carinha e sai apressada de lá assim que vi entrando. Tudo bem que geralmente quem foge depois da transa são os canalhas, e as vadias que não querem compromisso, no meu caso eu nem sabia o que era. Só queria ficar a uma considerável distancia de .
Quando cheguei em casa eram três da manhã, e por alguma sorte do destino, meus pés destrambelhado me guiaram em segurança até o meu quarto sem fazer qualquer tipo de barulho.
Chequei meu celular e vi diversas mensagens de Bruce perguntando onde eu estava e porque não atendia as ligações dele. Já estamos na fase de cobranças sem nem estarmos em um relacionamento. Respondi a ele que tinha saído com as garotas e deixei o celular no mudo, típica mentira de meia parte da população.
Já fazia uma semana desde que eu estupidamente acabei transando com em um carro, e ainda continuava a ouvir piadinha de mau gosto vindo das minhas amigas. Moira insistia em me apresentar para o cara que estava com ela no bar, e eu continuava a mentir dizendo que não podia.
Sete dias foram o suficiente para que Bruce resolvesse que queria algo mais sério comigo, e do nada ele apareceu na porta da minha casa, e me pediu em namoro na frente dos meus pais. Ambos chegamos à conclusão de que não nos amávamos, mas segundo ele, tínhamos uma química incrível que quem sabe se tornasse amor. E por falar em amor, descobri por intermédio da minha mãe, com uma ajudinha da senhora , que estava na cidade mais cedo que o previsto. Acabou que eu não fiz esforço algum para que nos encontrássemos, e talvez fosse até melhor agora que eu era uma mulher comprometida.
Acabei também encontrando , e por uma ajudinha do destino ele não se lembrava de muita coisa da tal noite, então eu apenas confirmei as lembranças dele, não colocando o fator sexo no meio da coisa.
Eu já estava com as minhas coisas totalmente arrumadas para voltar a Londres, mesmo com minha mãe querendo saber por que eu estava voltando alguns dias antes do previsto. A verdade é que não havia motivo algum, eu apenas queria voltar, arranjar um emprego e quem sabe colocar minha vida finalmente no rumo certo. Bruce e eu ainda não tínhamos conversado direito sobre a minha volta, mas eu tinha certo pressentimento - bom, por sinal -, de que ele iria querer manter tudo à distância.
- , as meninas já chegaram. – papai chamou-me.
- Já estou descendo, pai.
Era óbvio que eu tinha me esquecido do almoço de “despedida” que minha mãe insistiu em fazer. Papai disse que era coisa de mãe, e que ela estava inconformada por eu realmente estar voltando a Londres quando eu poderia ficar por Manchester perto deles.
Desci as poucas malas para a sala, e mamãe ficou me encarando com um olhar triste. Dei-lhe um sorriso amarelo e fui em direção ao quintal onde minha mãe arrumou a mesa. Diferente da minha festa de formatura, a festa de “despedida” só tinha minhas únicas três amigas, Bruce e os pais de . É claro que meu coração bateu um pouco mais rápido ao vê-los ali, pois, se eles estavam na minha casa, provavelmente o filho deles iria aparecer por lá também.
Fui obrigada a passar o resto do dia com comentários sobre meu trabalho, o que eu iria fazer em Londres, se eu e Bruce iríamos morar juntos, entre outros. Eu queria gritar um grande “foda-se” a todos e apenas subir para o meu quarto e chorar as mágoas por não ter aparecido na minha casa. Com certeza foi uma ilusão a mãe dele pensar que ele iria querer me ver depois de tanto tempo, e é claro, depois de eu ter ignorado os sentimentos dele por mim.
- Quem será que está embaixo dessa cabana de edredom? – Bruce perguntou com uma voz melosa. Ultimamente era apenas isso que ele fazia. Falar comigo como se eu fosse um cristal precioso que podia se quebrar.
- É só alguém que quer sumir da face da Terra.
- O que tá acontecendo? – ele tirou o edredom de cima de mim.
- Nada.
- Qual é, . Eu te conheço há pouco tempo, mas sei que tem alguma coisa te incomodando.
- Não tem nada, Bruce. Sério. – dei-lhe um sorriso forçado. – Eu só estou meio chateada.
- Com o quê?
- Esse é o problema, eu não sei. Talvez seja só saudade da minha casa.
- Mas aqui é sua casa.
- Esse lugar deixou de ser minha casa há muito tempo, agora é só a casa dos meus pais e nada mais.
- Você não deveria estar depressiva assim. Cadê a alegre que eu conheci? – ele sorriu.
- Tá por ai, em algum lugar do mundo. – resmunguei.
- Anda. – ele me puxou. – Vamos descer. Daqui a pouco você tem um trem pra pegar.
Fui arrastada até o andar debaixo e acabei (in)felizmente pegando metade da conversa da mãe de com a minha.
- ... Eu ainda não perdi as esperanças.
- Muito menos eu. – mamãe disse. Ela olhou para a escada e viu Bruce e eu descendo, ficando um pouco assustada. – Aí estão vocês. As meninas já foram, mas disse que na semana que vem irão para Londres te ver.
- É, tínhamos combinado mesmo. – sorri. – E o , senhora , por que ele não veio?
- Ah, querida, o tinha algumas coisas para resolver, mas disse que sentia muito por não poder vir. – ela disse de um modo estranho.
Fui até a varanda fumar, e Bruce me seguiu até lá como uma sombra. Ele parecia inquieto com algo, e eu não queria perguntar por que diferente dele eu não era inconveniente em relação a isso. Continuei a fumar e ele ficava se mexendo, e hora ou outra sussurrava algo bem baixinho para si mesmo, ou até puxava os cabelos.
- O que foi? – resmunguei.
- Quem é ? – ele perguntou bravo.
- É um amigo de infância, por quê?
- Vocês... Vocês chegaram a ter algo? – bem que queríamos, mas não.
- Não, por quê?
- Sua mãe e a mãe dele estavam falando sobre vocês dois. Sobre como formavam um casal bonito.
- Nós nunca chegamos a ser um casal.
- E você... Nunca pensou na hipótese? – ele arqueou uma sobrancelha. É claro que já, seu idiota, eu era/sou apaixonada por aquele garoto/homem, como não pensaria na hipótese de namorar ele? – Quero dizer, nunca sentiu nada por ele? – eu sinto algo por ele, mais do que por você.
- Não. – menti descaradamente.
- Mesmo?
- Por que eu mentiria, Bruce?
Eu poderia fazer uma lista de por que eu mentiria para ele, mas não era como se eu quisesse que nossa primeira briga fosse por causa de um cara que eu não via há cinco anos. Em apenas poucas semanas que eu convivi com Bruce, era fácil de notar que ele era um homem ciumento, e arrisco até dizer possessivo. Como um pessoa pode ter ciúmes de alguém que nunca viu, e que eu não me encontrava a anos.
Depois de toda uma tarde ao lado do meu namorado e meus pais, a tão esperada hora de embarque para Londres havia chegado, com direito há muitas lágrimas da parte da minha mãe, que insistia para eu ficasse em Manchester. Tentei falar com ela sobre eles se mudarem para Londres comigo, mas ela apenas disse que outro dia falaríamos sobre tudo isso. Papai apenas disse que seria questão de somente algumas semanas até ele conseguir convencê-la a realmente pensar sobre mudança.
- Você vai me visitar? – sussurrei para Bruce que me abraçava apertado.
- É óbvio que sim, . – ele disse alegre.
- Sempre? – perguntei indecisa e na esperança de que ele negasse.
- Sim. – ele me beijou. – Agora é melhor você ir lá e dar um abraço apertado na sua mãe antes que ela realmente ache que eu roubei a filhinha dela.
Trocamos um último beijo e andei até minha mãe que se debulhava em lágrimas. Ela me abraçou apertado, do mesmo jeito que fazia quando eu era criança e estava com alguma coisa me incomodando.
Papai se juntou ao abraço, e diferente de muitas das outras vezes, ele fez algo que não surpreendeu apenas a mim, mas a minha mãe também. Ele chorou feito uma criança.
- Logo, logo estaremos lá com você, princesa.
- Promete, pai?
- Eu prometo, meu amor. Prometo.
- Você sabe que eu vou esperar, não sabe? – perguntei divertida.
- Sim. E tome cuidado.
- Eu sempre tenho cuidado, pai.
- Não é só com os londrinos que eu quero que tenha cuidado. É com esse cara, Bruce.
- O que tem ele? – perguntei apreensiva. Não que meu pai fosse um homem cheio dos alertas, ele apenas o fazia quando achava que era realmente importante, e para fazer isso em relação a uma pessoa era porque tinha sim importância a ele.
- É só ciúmes do seu pai, querida. – mamãe sorriu, porém também tinha um ar apreensivo.
- Mesmo?
- Não. – papai negou sério. – Só não gosto do jeito dele.
- Pai.
- É melhor você ir, querida, e assim que chegar nos ligue.
Despedi-me de todos eles, e embarquei. Caminhei até meu assento, e talvez por sono, ou ilusão, pensei ter visto o cara do bar que falava com Moira, acompanhado de , ambos em uma conversa aparentemente interessante.
Coloquei uma música qualquer para tocar em me iPod e comecei a ler um dos inúmeros livros de autoajuda que minha mãe insistia em dizer que me ajudaria com a autoconfiança na hora de uma entrevista de emprego. Papai e eu achávamos que era besteira e perda de tempo e dinheiro nesses livros, mas Eleonor disse que um deles acabou ajudando-a a aceitar a sexualidade dela em tempos sombrios que ela não conseguia se conformar que gostava de mulheres.
Durante as três horas de viagem, eu pensei ter visto o mesmo homem passar por mim diversas vezes, o que acabava chamando minha atenção e fazendo eu me perder durante a leitura. Talvez fosse realmente o cansaço que estava me abatendo, ou somente algo da minha cabeça.
Assim que cheguei no centro de Londres, tomei um taxi até o meu prédio, e quase acabei dormindo nos poucos minutos de percurso.
Encontrei algumas pessoas conhecidas no hall do prédio, porém me limitei em um Oi seco e subi em disparada ao meu apartamento que me surpreendeu com o grau de poeira que conseguiu adquirir em poucas semanas.
Resolvi checar os emails que eu tanto ignorei durante minhas semanas de folga, e muitos deles eram sobre propostas de emprego. Em Manchester. Muitas delas eu não fazia ideia de como foram parar na minha caixa de entrada já que eu não me lembrava de ter enviado nada a eles. Respondi algumas, e fiz uma rápida ligação aos meus pais, apenas para dizer que eu tinha chegado bem.
+++
Você tem um email em sua caixa de entrada.
De: Moira Hayes Para: mim Sem Assunto, kkkk.
Você ainda tem aquelas cartas que o mandou para você? Se sim, você precisa, necessita ler elas. É tipo questão de vida ou morte, sem brincadeiras.
A propósito, já estou com saudades de você sua idiota, e só faz duas semanas que nos vimos. Estou planejando ir a Londres com as garotas porque tenho assuntos sérios a tratar com você.
Beijos, a loira mais linda do planeta aka Moira (:
De: mim Para: Moira Hayes RE: Sem Assunto, kkkk.
Devo ter, mas faz anos que ele me enviou aquelas cartas, qual o propósito disso agora?
Você sabe que eu odeio ficar curiosa, quero saber logo do que se trata a coisa séria que você tem a tratar comigo. E você é a segunda mais linda do planeta, Moira Hayes.
Beijos, .
Tive que fazer uma bagunça completa no meu closet só para conseguir tirar a caixa de bugigangas da parte alta da prateleira. Eu não mexia nela desde que me mudei para Londres e decidi abandonar certas coisas que não me faziam bem, e foi lá que eu deixei guardado por anos as cartas de e .
Diversos motivos passavam pela minha cabeça, mas nenhum deles parecia bom o suficiente para Moira querer que eu lesse as cartas. Um deles poderia ser que ela tenha conversado com durante essas semanas em que ele está em Manchester, e ele tenha questionado sobre as cartas, ou dito coisas a ela referente às mesmas, mas ainda não pareciam concretos suficientes para ser “caso de vida ou morte” até porque Moira Hayes é um exagero em pessoa.
Havia cerca de dez cartas de , e eu suspeitava que a maioria fosse como os bilhetinhos e mensagens que costumávamos trocar na adolescência. Separei-as por data, e comecei pela primeira que tinha uma letra meio de qualquer jeito e com rasuras.
“, você não faz ideia de como eu me arrependo por não ter te convidado para ir ao baile comigo durante as milhares de oportunidades que eu tive. Talvez arrependimento maior tenha sido pedir obrigar a se desculpar com você pelas idiotices que ele te disse. Eu devia ter deixado quieto, e não ter falado na cabeça dele por horas.
Eu devia ter feito muita coisa nesses anos que eu me apaixonei mais que eu fiquei mais apaixonado ainda por você e perguntava a Deus o que você tinha visto no e que eu não tinha. Até cogitei a ideia de você ter uma queda por idiotas.
Fazem apenas duas semanas que você se foi, mas parece que fazem anos porque sem você ao meu lado é como se eu não fosse o mesmo completo e faltasse algo. Você.
Eu te amo, , e tudo isso até parece algo de qualquer filme americano e idiota, assim como o estúpido baile, mas é apenas um garoto que ficou na zona de amizade por anos quando que podia ter arriscado a mesma amizade e conquistado a garota”.
“Três semanas e minha vida mudou mais do que na última vez. Antes eu me sentia rejeitado e era um pouco mais fácil aceitar, mas quando eu descobri que estava sendo literalmente ignorado por você, foi como se eu tivesse morrido e meu corpo não tivesse sido enterrado. Minha mãe sempre dizia que ignorar uma pessoa é um sentimento pior do que rejeição, e é claro, eu não acreditei até provar desse sentimento”.
“Qual é o problema em você me responder, ? Provavelmente você já tenha encontrado mais um idiota para ser seu novo e já esteja morrendo de amores por um desgraçado que será seu novo . Faça bom proveito”.
“Desculpe pela última carta, eu estava alterado. Literalmente. insistiu para que eu saísse com ele, e novamente me fez provar do arrependimento. Por favor, não me ignore, me rejeite, mas, por favor, não me ignore. Eu posso passar o resto da vida sendo só seu amigo, mas não posso passar o resto da vida não sendo seu amigo”.
“Eu te amo em todas as formas explicáveis e inexplicáveis, possíveis e impossíveis de amar uma mulher”.
“Feliz aniversário. É o primeiro que passamos longe um do outro, assim como o meu aniversário esse ano. Você acredita que eu nem me importei? É como se eu estivesse me acostumando a ficar sem você, mas eu ainda sinto frio. Lembra quando brigávamos e eu dizia que inexplicavelmente eu ficava com frio até o momento em que voltávamos a conversar? Eu estou em um frio eterno. Você é como meu eterno inverno, ”.
“Sempre pensei que era quase impossível uma pessoa ficar mais bonita do que já é, mas parece que você consegue isso. Viajei para Londres e encontrei você aos beijos com um cara em um café perto da sua faculdade. Isso partiu meu coração, saber que você está seguindo a sua vida sem nem se lembrar da minha existência enquanto eu não consigo olhar para o rosto de uma pessoa sem imaginar o seu. Talvez amores de anos demorem anos para serem esquecidos. Talvez minha punição por te amar seja não ser amado por você”.
“Você estava tão linda na frente da casa dos seus pais junto com Moira, Eleonor e Jenna, que eu achei melhor apenas apreciar sua beleza. Ponderei por diversos minutos se eu deveria ir até lá e falar com você, mas você parecia tão feliz, e eu não queria ser o destruidor dessa felicidade. Se nem responder minhas cartas você quer, imagine falar comigo pessoalmente, mas eu vou te esperar, , eu vou te esperar por toda a minha vida, pois isso é um amor verdadeiro. Você vê o amor da sua vida ser feliz ao lado de outra pessoa e inconscientemente você fica feliz com isso porque a pessoa que você ama, que daria a sua vida está feliz”.
“Depois de meses sem qualquer tipo de resposta, meses de rebeldia sem causa, eu resolvi seguir em frente. Encontrei uma garota, ela é totalmente o oposto de você. Não é delicada, não se abate fácil com as coisas, não tem uma risada que me faz querer rir junto, e não quer ser amiga dos meus amigos como você era, mas uma coisa vocês têm em comum. Ambas não me amam.
Queria que você pudesse conhecê-la. A que eu costumava conhecer diria que eu não podia usá-la para esquecer uma pessoa, mas a nova talvez pense que esse é o melhor a se fazer. Pelo menos eu não estou sendo o único a usar uma pessoa para esquecer um amor passado. Ela também, e uma coisa maravilhosa nisso é que ela entende como me sinto. Ela entende que rejeição é melhor que ser ignorado. Queria que você pudesse pensar assim. Queria que você estivesse na minha cama nas minhas noites de inverno eterno no lugar dela”.
“Da mesma forma que eu sempre pensei que ficaríamos do lado um do outro para sempre, eu também acabei pensando que lutaria por você para sempre, mas já se passaram nove meses da minha obsessão por você, de noites em claro pensando no quão idiota eu fui por ter deixado diversas oportunidades de ser o homem da sua vida.
Cansei de perguntar sobre você para Moira, tentar descobrir informações suas, te seguir nas ruas quando possível e imaginar você e sua nova vida. Em diversas divagações eu nunca me imaginei sendo desistente, mas Sophie, minha namorada, me fez perceber uma coisa: você não merece o meu amor, um amor verdadeiro, você merecia , um completo idiota com você que não se importava com seus sentimentos, e com nada referente a você.
Então é isso. é oficialmente um desistente. Eu desisto de você, e espero com todas as forças da minha vida que você não se arrependa de ter me ignorado, me afastado e, principalmente, ter sido a minha ruína. A quem eu quero enganar, eu realmente desejo do fundo meu coração que você se arrependa do que fez comigo, e do que fez com você. Vai ser muito tarde quando você perceber a merda que fez com todos a sua volta, mas essa é a vida, você faz o que acha ser certo quando na verdade está fazendo tudo errado, assim como eu fiz.
Quero também que saiba que meu inverno ainda continua. Eu posso estar no verão da América do Sul, mas ainda sinto frio, ainda sinto sua falta, mas cansei de ser seu. Cansei de esperar. Cansei de você. Depois de um tempo eu finalmente consegui achar alguém que me ama, e esse amor é recíproco, porém não é igual ao que eu sentia por você.
Adeus, ”.
A última carta era a que se encontrava mais amassada e com manchas, porém era a que tinha a letra perfeitamente boa. Era a que mais tinha sentimento, bons e ruins. A que me fez me sentir pior do que eu me senti por todos esses anos. Ele não disse o que gostava em mim como a maioria costuma fazer, ele apenas disse que me ama. Não comparou com nada, exceto que agora eu era seu inverno, do mesmo modo que ele parecia ser o meu.
Divaguei por horas após a leitura das cartas. Se eu tivesse lido e respondido a primeira carta, será que estaríamos juntos? Se eu não tivesse o ignorado, será que estaríamos juntos? Se eu tivesse permanecido em Manchester, será que estaríamos juntos? Se eu tivesse me atentado aos detalhes, será que estaríamos juntos? Eram muitos ‘se’, muitos ‘talvez’, e poucas coisas concretas. Uma delas era que o “desejo” de se realizou. Eu me arrependi do que fiz com ele. De tê-lo ignorado, e não apenas rejeitado. Me arrependi de deixá-lo no meu passado como o meu melhor amigo.
Como disse, eu acabei com a amizade deles dois assim que me desliguei de ambos, e isso era outra coisa que eu me arrependia. Éramos os três tão amigos, e agora, eu era uma intrusa na amizade que parecia tentar reestabelecer.
De: mim Para: Moira Hayes Cartas.
Se você queria que eu chorasse até desidratar após ler as cartas que me enviou, parabéns, você conseguiu, agora eu não vejo um bom motivo para eu ter lido-as, exceto que isso aumentou mais ainda meu arrependimento.
.
Por dias, eu não obtive uma resposta de Moira e de nenhuma das meninas. Perguntei aos meus pais sobre elas, mas eles apenas disseram que elas estavam ocupadas. Eu sabia que tinha algo errado, mas eu não queria saber o que era.
Mamãe comentou brevemente que foi visitá-la, e para minha felicidade (ou não), ele não estava acompanhado de garota alguma.
Não era como se eu tivesse “apagado” todos os vestígios físicos de , eu apenas os escondi. Assim como seu número de telefone. Peguei meu antigo celular na caixa onde eu ainda insisti em manter as cartas, e procurei pelo número de . Após o terceiro toque que quase me fez desligar o telefone e me matar com a faca da cozinha por ser tão idiota, eu fui atendida.
- ? – sua voz era diferente. Mais máscula, rouca, porém eu ainda podia ouvir e saber que era o mesmo doce e carinhoso que sempre falava comigo. – , é você? – ele disse em tom de desespero. – Eu sei que é você, por favor, me responde. Você não pode ficar anos sem me dar notícias e do nada me ligar e ficar em silêncio. Eu só te peço que, pelo amor de Deus, você me responda, me deixe ouvir sua voz, saber que isso não é mais uma brincadeira da minha mente conturbada que só sabia pensar em você, só diga algo pra provar para mim mesmo que não é os dias sombrios de antes que voltaram. Por favor, , minha , me responde.
- E-eu... Eu sinto muito, . – lágrimas pesadas rolaram pela minha bochecha, e meu tom de voz possivelmente me denunciava porque do outro lado da linha eu pude ouvir chorar baixinho.
- Obrigado por me responder. – ele suspirou – Está frio do lado de fora, mas dentro de mim não mais.
- Me desculpe. – choraminguei. – Preciso desligar.
Pude ouvir sua voz implorar para que eu não desligasse assim que afastei o celular da orelha, pude ouvi-lo gritar e pedir para que eu falasse com ele, mas eu não podia fazer isso com meu coração. Não quando a única coisa que agora me ajudava dormir era reler suas cartas no fim da noite e chorar até que o sono viesse.
- , para de me enrolar, o que tá acontecendo com você? – Bruce perguntou furioso. Seu rosto está adotando um leve tom de vermelho, e eu sabia que a qualquer momento ele iria explodir em ira.
- Nada, Bruce, não é nada, só não estou mais a fim de ir para lugar nenhum esse fim de semana.
- Para com isso. Até ontem você estava super empolgada e agora do nada, você resolve que não quer mais ir?
- Amor, é só uma inauguração, não é nada demais.
- Pra você nada referente a mim importa, não é? – ele gritou. – Até a Moira vai, não? – ele olhou para minha amiga que continuava sentada no sofá como se não se importasse com nada.
- Se a não for eu também não vou. – ela deu de ombros.
- Problema de vocês então, eu vou, não querem ir, não vão, só que depois não vem tentando me agradar, , eu já não caio mais nessa. – ele disse bravo e saiu batendo a porta.
- Seu namorado tem sérios problemas, você sabia? – Moira disse divertida. Para ela cada briga minha com Bruce era o ponto alto da vida dela.
- Sim, eu sei, você me alertou sobre isso um ano atrás. – bufei.
- E você não me ouviu. Porque ainda está com esse cara, ? Ele é um saco.
- Você parecia gostar dele antes.
- Não, eu simpatizava com ele, e a palavra está no passado, o que significa que não simpatizo mais.
- Tudo isso porque uma ex-namorada enciumada te disse que ele era possessivo e agressivo. Você não devia acreditar em tudo o que te dizem, amiga.
- A ex-namorada que você diz ser enciumada é a irmã do meu ex-namorado...
- Também possessivo. - lhe interrompi.
- Porém não agressivo. – ela sorriu cínica. – Eu aposto que se eu não estivesse aqui ele iria querer te bater.
- E eu ia bater de volta. Eu não sou nenhuma donzela indefesa, Moira, eu sei me cuidar.
- Mas eu tenho medo, . Esse cara é patético e você sabe disso. Ele ainda tem ciúmes do só porque ele descobriu as cartas.
- Não é pra menos. O que você faria se seu namorado ainda guardasse cartas de uma garota se declarando para ele?
- Nada. , isso é passado, não me importaria, e não devia importar para ele. O problema é: você o deixa entrar na sua mente e saber que você gosta do .
- Claro que não. – retruquei.
- Deixa de ser idiota. Você deixa sim. Ele me ouviu comentar que ia nessa inauguração, e agora você não quer ir, e como um bom entendedor ele ligou os fatos. Você não quer ir por medo de encontrar por lá.
- Você é um pé no saco, sabia? – gritei.
Eu simplesmente odiava quando Moira estava certa. E também odiava quando ela insistia em implicar com Bruce.
Desde que a irmã de Johnny, que foi ex-namorada de Bruce, contou a ela que ele era possessivo demais, e muitas vezes a agredia, ela passou a constantemente me alertar sobre ele. Ela já estava pensando em se mudar para Londres há muito tempo, mas depois que descobriu sobre isso, foi mais um motivo para que ela mudasse, e assim o fez, se mudando a duas ruas de distância da casa onde meus pais agora viviam.
A mudança dela foi mais um motivo para ajudar a convencer minha mãe em mudar-se para Londres, e em partes eu agradeci a mudança de Moira, porém ela estava em casa todas as vezes que Bruce vinha me ver, o que acontecia com frequência e me deixava mais cansada ainda. Como se meu trabalho já não fosse o suficiente para esgotar minhas energias.
A inauguração era de uma boate no centro da cidade que pertencia a um amigo de Bruce, e ele tinha conseguido entradas VIPs para nós e Moira. Admito que eu estava empolgada em ir, porque todas as vezes que meu namorado vinha me ver, eu era obrigada a ficar trancada em casa, mas depois que Moira abriu a boca grande e disse que comentou com ela sobre a inauguração, e para ajudar Bruce ouviu e ficou no meu pé sobre eu estar amiguinha de . Quem dera eu estivesse, porém a amiguinha dele no momento era Moira. Eles agora se falavam com tanta frequência que eu sentia inveja dela por ser covarde e não tomar uma atitude em relação a ele, tanto que eu ainda não tinha visto-o, e Moira disse que não iria ajudar, e muito menos mostrar-me uma foto para eu saber como ele estava depois de quase sete anos sem eu ver alguma foto de em sua fase adulta.
Não que eu estivesse extremamente curiosa, eu estava apenas em um nível médio de curiosidade.
Moira disse que ele ligou para ela logo após minha ligação a ele um ano atrás, mas que depois disso ele não insistiu em saber mais nada sobre mim, e sempre que falava meu nome, ele mudava de assunto.
O mesmo não acontecia quando Moira e eu tocávamos no nome dele. Eu fazia milhões de perguntar e insistia em querer saber algo mais, mas ela ficava calada e desconversava.
Moira apareceu no meu quarto depois de me deixar quase trinta minutos com meus pensamentos loucos e bizarros, que eram grandes problemas para mim e para as pessoas ao meu redor.
- Ainda acho que você deveria ir, . – ela acariciou meus cabelos e senti meu corpo ficar mais relaxado. – Provar para aquele babaca do seu namorado que você não se importa que seu ex vá estar lá e que ele também não tem que se importar com isso.
- Ele não é meu ex. – corrigi. – E eu não quero ir. Perdi a vontade.
- , você mal sabe como o está agora, quais são as chances de você esbarrar nele?
- Muitas, tendo em conta que é uma boate e tem muitas pessoas.
- Ok. – ela bufou. – E quais são as chances de você esbarrar nele e reconhecê-lo? – ela tinha razão referente a isso, e eu não queria que ela tivesse.
- Quase nulas...
- Tendo em conta que isso já aconteceu, mas você não notou... – ela sussurrou baixinho e eu quase não entendi.
- Oi?!
- Enfim, se vocês se encontrarem ele irá te reconhecer, mas você não. E como eu te disse, ele não quer saber de você, então se ele te encontrar não vai falar nada...
-... Apenas ficar estático e me encarando como um lunático.
- Você sabe que o não é assim.
- Moira, a imagem dele encarando e eu no baile de formatura ainda é vivida na minha mente, é como se fosse ontem que ele estava do outro lado do salão olhando-nos como se quisesse nos matar.
- Agora ele tem mais motivos ainda para querer isso.
- Como assim? – perguntei exasperada.
- Ué, ele sabe que você e transaram, ele descobriu no dia seguinte à sua ligação, por isso ele disse que não quer mais saber de você.
- E como ele descobriu? – choraminguei. A última coisa que eu queria era passar uma imagem errada para , e agora ele devia achar que eu era uma puta que dava pro primeiro que visse.
- Querida, e são melhores amigos mesmo com todo o estrago do passado. É óbvio que ele ia contar pro . Aposto que ele fez isso apenas para se gabar.
- Mas como ele... Como ele se lembra?
- Me poupe, por favor, .
- Argh, que merda. – choraminguei. – não podia descobrir.
- Calma, . – ela me abraçou apertado. – Não é o fim do mundo. Tenho certeza que transava com milhares de garotas mesmo quando estava em um relacionamento sério.
- Espera. – encarei-a. – Estava?
- Ah, não te contei. – ela sorriu maliciosa. – Eles terminaram tem alguns meses.
- Mas eles estavam juntos há anos, quantos eram mesmo?
- Eram cinco por aí. me disse que há um ano e pouco o relacionamento tinha virado algo de idas e vindas. Ela queria que ele ficasse mais tempo ao lado dela, parasse de viajar muito e essas coisas. Disse até que ela ficou possessiva demais depois que ela se tocou que estava começando a se apaixonar por ele...
- E isso levou mais ou menos?
- Uns nove meses depois que eles começaram a namorar ela começou a dar indícios de paixonite. – Moira sorriu com nojo. – Vocês mulheres são muito idiotas.
- Desculpa ai, macho alfa. – ri.
- Até Eleonor e Jenna conseguem ser tontinhas apaixonadas. Sorte que o bichinho do amor passa longe de mim. – ela ergueu os braços.
- Parabéns, Moira Hayes.
Continuamos nossa conversa (fofoca) sobre a vida amorosa do , mas Moira só sabia o básico, nada muito a fundo. Disse que nunca comentou com ela que amava Sophie, o me deixou feliz com o pensamento de que ele possivelmente pudesse ainda ter sentimentos por mim.
Bruce apareceu horas depois, mas não estava mais bravo, o que foi um alivio para mim e Moira que decidiu ir embora, pois o clima por lá já estava mais ameno. Nenhum de nós dois tocamos no assunto da inauguração, e muito menos sobre ele ter ouvido minha conversa com Moira sobre ir à festa.
Era quase nove horas, horário que tínhamos programado para sair de casa e ir à inauguração, mas Bruce não disse nada, apenas ficou deitado no sofá comigo assistindo Game of Thrones. O clima por lá estava muito diferente de como estava mais cedo. Meu namorado estava sendo carinhoso e muito atencioso comigo, o que só acontecia depois que discutíamos. Eu podia pedir para ele lamber o chão sujo que ele faria isso sem remediar, apenas para que eu ficasse numa boa com ele.
- Eu não consigo acreditar nisso. – ele bufou. – Arya estava perto de encontrar a mãe e o irmão e acontece essa merda. E essa neta do Charles Chaplin – ele riu. – Belo piercing.
- Adorei, acho até que vou fazer um desse. – ri.
- Vai ser a última coisa que você vai fazer na sua vida. – ele beijou-me.
Acordei com o corpo quase congelando. Eu tinha ouvido no noticiário que hoje faria um frio quase insuportável, mas não desse jeito, quase me deixando com hipotermia. É claro que dormir nua e coberta apenas por um lençol não ajudava muito na minha situação, e para ajudar, Bruce não estava ao meu lado para aumentar a temperatura do meu corpo.
Muitos casais de namoro à distância fazem de tudo para agradar o parceiro. Café na cama, passeios românticos, entre outras bobagens, porém com o meu namorado era diferente. Nos primeiros meses de namoro, eu recebia tudo isso, mas depois eu só tinha café na cama na manhã seguinte a uma discussão, e passeios “românticos” geralmente era ir a algum pub encher a cara de cerveja. Minha mãe dizia que eu não tinha do que reclamar porque ele era perfeito para mim, e se eu tivesse um namorado que ficasse todo meloso comigo sempre, eu estaria enojada e querendo suicídio. Eu devo concordar em partes com todos que dizem que eu sou ingrata por não estar contente com Bruce, mas é só que às vezes eu queria que fizéssemos alguns desses programas melosos de casais apenas para sair da rotina de sexo, cerveja, briga, sexo, festas, cervejas, briga. Era tudo tão monótono que muitas vezes eu fingia estar no meu período menstrual só para não ter que dormir com ele. Algumas vezes eu até achava que ele desconfiava, mas Moira dizia que ele saia atrás de alguma puta grátis pra transar enquanto eu estivesse na TPM.
Se tinha alguém nesse mundo que torcia mais que eu para acabar o namoro com Bruce esse alguém era Moira, com uma ajudinha de Jenna e Eleonor. Elas gostavam de Bruce e eu juntos, diziam que fazíamos um casal bonito, mas quando Moira Hayes abriu a boca grande para contar o que a irmã de Johnny disse a ela, as meninas passaram a odiar ele de um modo mais discreto que Moira, que diferente de fingir gostar de Bruce, muitas vezes o ignorava e fingia que ele nem existia.
- Bom dia, amor. – Bruce apareceu com a toalha enrolada na cintura.
- Bom dia. – sorri.
- Melhor você ir tomar banho e estar na sala me esperando em dez minutos. – ele disse enquanto procurava alguma roupa na sua parte do closet.
- Por quê?
- Vamos sair. – ele sorriu.
- Para onde?
- Clichê demais eu dizer que é segredo? – assenti. – Ok, então... Vamos fazer um passeio.
- Passeio onde? Seja especifico.
- Não sei, vamos andar por ai, ir a algum parque ver as crianças montando bonecos de neve.
- Mas eu estou com preguiça. – murmurei.
- Deixe de preguiça e levanta essa bunda da cama. – ele se sentou ao meu lado. – Anda, , vai ser legal, e temos que aproveitar, eu vou embora amanhã cedinho.
- Ok. – bufei.
Quando coloquei os pés no chão pensei que ficaria colada por lá de tanto frio. Talvez um passeio com esse frio e neve não seria uma das melhores coisas a se fazer no momento.
Tomei um banho rápido e me agasalhei tanto que fiquei parecendo criancinha que a mãe arruma para ir à escola em dias frios.
Bruce estava na sala digitando algo no celular, e assim que me viu guardou-o rapidamente, e se eu fosse o tipo de namorada controladora, arriscaria dizer que ele estava fazendo algo suspeito.
No caminho, passamos em uma cafeteria e comemos muitos muffins com chocolate quente. Aproveitei para encher meu namorado pelo fato dele não gostar muito de ir ao Starbucks e sempre preferir ir a pior cafeteria do mundo ao invés de ir até lá. Bruce dizia que lá era lugar de gente rica que gostava de fingir ser hipster quando na verdade estava indo a cafeteria mais batida do mundo para comprar o café mais barato que tinha só para que pudesse tirar uma foto e colocar no Instagram.
Depois de um café reforçado, e lamúrias minhas para que ficássemos lá dentro por causa do aquecedor, Bruce insistiu que fossemos a Oxford Street para que ele pudesse comprar o presente de aniversário de casamento dos meus pais. É claro que eu só me lembrei disso porque ele acabara de dizer, do contrário só acabaria descobrindo quando chegasse a casa deles para o jantar.
Andamos por quase toda a Oxford Street atrás de um presente que agradasse Bruce e ele pudesse considerar bom o suficiente. Ele estava empenhado em achar o presente perfeito para os meus pais, enquanto eu apenas assentia ou negava quando ele mostrava algo. Não que eu não quisesse dar algo legal aos meus pais, eu apenas não estava no clima de comprar, e o frio não estava ajudando em nada.
Estávamos passando por uma agência de viagens, e como uma luz no fim do túnel, eu me lembrei da vontade que minha mãe tinha de viajar para a França.
- Amor, podemos dar uma viagem a eles, o que você acha? – sussurrei contra seu peito, o qual eu abraçava firmemente na tentativa nula de esquentar meu corpo.
- Tudo bem. – ele sorriu. Desde nossa primeira loja atrás de algo, Bruce simplesmente fechou a cara após eu desaprovar todos os presentes mostrados por ele. Tudo em nosso relacionamento estava uma merda por causa dele, mas eu não fazia o mínimo esforço para conserta-lo, e não ajudar Bruce a escolher algo só piorava as coisas.
Logo entramos e uma moça de olhos claros e cabelo lilás – muito bonita por sinal -, veio nos atender. Ela me encarou dos pés a cabeça e pude notar seu olhar de desprezo para cima de mim, mas é claro que ela secou meu namorado com um sorrisinho malicioso na maior cara de pau.
Ela nos atendeu bem, e pareceu ter ficado subitamente feliz quando lhe contamos que a viagem era para os meus pais e não para nós dois.
- E quais serão os nomes que estarão nas passagens? – ela perguntou sem tirar os olhos do monitor.
- Valerie e Gregory . – Bruce disse.
- ? – ela me encarou com um sorriso desdenhoso. – Já ouvi falar desse sobrenome, e como ouvi.
- Sério? – Bruce perguntou surpreso. – Não é um sobrenome muito comum, né, amor? Talvez você deva conhecer alguém que conheça a ...
- Ah, então você é a famosa ? – ela me olhou com desdém mais uma vez. – Já ouvi muito sobre você. fala sobre a querida até dormindo. – mas é claro. A vadia era a namorada do , como eu pude me esquecer?
- ? – Bruce me encarou surpreso. – Pensei que vocês não se falassem há muito tempo.
- E não falam. – ela disse. – E então, qual vai ser a forma de pagamento? – ela sorriu cínica.
Vaca. Primeiro ela fala sobre um assunto que faz Bruce ficar bravo e irritado, e é claro que ela notou o desconforto dele, e depois muda totalmente de assunto. Ficou óbvio para mim que ela devia achar que a culpa do fim do namorico dela com era minha.
Fiquei um pouco incomodada por ela me conhecer, e saber quem eu era, enquanto eu apenas me toquei quem era a vadia, depois dela ter dito sobre . Pelo menos ela não percebeu que Bruce ficou irritado ao ouvir o nome do “rival”.
Quando chegamos em casa no fim da tarde, logo após almoçarmos em um restaurante, Bruce seguiu caminho até o meu quarto e se trancou por lá. Ouvi o barulho de coisas caindo, mas apenas permaneci na sala assistindo televisão, ignorando-o totalmente. Se eu fosse até lá, provavelmente ele iria me fazer mais perguntas estúpidas sobre , discutiríamos, e talvez ele até fosse embora.
Ele apareceu na sala com suas duas malas e as deixou perto da porta. Por milésimos de segundos eu rezei para que ele dissesse que estava indo embora e me deixasse sozinha com meus pensamentos odiosos.
- Você... Pra que as malas? – apontei-as com o queixo.
- Resolvi arrumar elas agora para ter mais tempo com você. – ele sorriu. – Eu tenho que sair cedo amanhã e não quero te acordar. Você anda tão cansada ultimamente.
Era óbvio que tinha algo errado nisso. O clima estava propenso para uma grande discussão, mas ele apenas queria passar mais tempo comigo, e isso me fez ficar um pouco arrependida de querer que ele fosse embora.
Meu namorado ficou todo carinhoso comigo, e em momento algum citou o ocorrido de mais cedo, parecia até que era outra pessoa que estava ao meu lado.
Depois do banho, resolvi aproveitar que Bruce se voluntariou para fazer o jantar, e escrevi um email para as meninas, já que enquanto meu namorado estivesse por lá, seria impossível fazer qualquer ligação telefônica sem que ele pegasse pelo menos duas frases da conversa.
De: mim Para: Eleonor Collins, Jenna Sullivan, Moira Hayes. Ex-namoradas.
Bruce e eu fomos comprar um presente de aniversário de casamento para os meus pais, e acabamos optando por uma viagem, nada de estranho até ai.
Quando entramos, por infelicidade do destino, a atendente era ninguém mais que a ex-namorada do . A vadia me encarou com um desprezo que se ela tivesse raios lasers eu estaria morta agora mesmo. É claro, a parte estranha é: a puta falou sobre e Bruce ficou meio estranho após isso.
Mais estranho ainda foi que quando chegamos em casa ele não comentou nada sobre isso, será que ouve algum tipo de troca na agência de viagens enquanto eu analisava a ex do meu ex amor?
Cheguei do trabalho completamente sem energia até para abrir a porta. Fui obrigada a fazer mais de dez banners para uma campanha publicitária em menos de três horas, o que me obrigou a pular meu horário de almoço para que a porcaria do trabalho ficasse pronta no horário certo. Ainda por cima tive que ouvir Bruce brigar comigo no telefone por quase vinte minutos enquanto dirigia de volta para casa, e agora tinha Moira que me mandou mensagens de texto o dia todo para que eu fosse com ela a uma festa no dia seguinte.
Festa era a última coisa que eu queria nesse momento. Eu precisava de um bom banho, um balde enorme de frango frito com refrigerante, e mais de doze horas de sono pesado sem qualquer tipo de incomodo. Eu podia aproveitar a viagem dos meus pais e dormir no fim de semana na casa deles que ficava em um lugar muito mais calmo que meu apartamento no centro da cidade, mas isso resultaria em uma Moira me acompanhando no meu “descanso”, e pedindo incessantemente que fossemos a maldita festa.
Desliguei meu celular e coloquei meu email no modo férias, só para o caso de qualquer pessoa tentar contato comigo durante meu fim de semana. Tomei um banho muito demorado, e fiz um chocolate quente bem quente para que me ajudasse a dormir. A fome tinha se esvaído do meu corpo, e eu agradeci por isso, já que não estava no momento com vontade alguma de ligar a algum restaurante pedindo comida, não a essa hora da noite.
Acordei assustada com o telefone da casa tocando de forma mais aguda e irritante do que nunca. Foi estúpido da minha parte ter esquecido de desligar o telefone fixo para que ninguém mesmo tentasse contato comigo. Assim que cheguei para atendê-lo o maldito caiu na caixa postal, para ajudar, é claro.
“ , que porra é essa de não atender minhas ligações e as de mais ninguém? O merda do seu namorado já me ligou um milhão de vezes, e a próxima vez que ele ligar, vou dizer que você está transando com um super modelo gostoso que você conheceu na rua, se você não quiser que isso aconteça me ligue AGORA. A propósito, vou passar na sua casa as oito para irmos à festa, esteja apresentável, e sim, você pode ir de jeans já que está frio pra caramba. Leve camisinha, te amo”.
Eu realmente não teria alternativa a não ser ir com ela. Tudo bem que eu já tinha tido minhas merecidas doze horas de sono levando em conta que já eram quatro da tarde, mas eu ainda queria descansar e não estava com vontade de sair do conforto e calor da minha casa para o frio cortante que fazia lá fora.
Liguei meu celular e fui bombardeada com mais de cem mensagens. Metade delas eram de Bruce e Moira querendo me esfolar viva por não atendê-los, enquanto as outras eram de alguma colega do trabalho contando alguma fofoca, ou da minha mãe falando sobre como estava a viagem.
Fiz alguns trabalhos domésticos que estavam sendo adiados há dias, e resolvi adiantar um pouco do trabalho até o horário em que eu me rastejaria até o banho pra encarar uma Moira brava. Tomei um banho rápido que por um motivo desconhecido eu consegui me atrasar, e coloquei um jeans com moletom e tênis. Eu tinha passe livre da minha amiga para esse tipo de roupa hoje.
- Está pronta? - Moira perguntou assim que eu abri a porta.
- Estou, vamos logo.
- Que desânimo, . Anime-se amiga, você tá livre, nada de namorado hoje.
- Estou livre de namorado há semanas.
- Que seja. - ela deu de ombros. - Hoje quero te apresentar a um amigo meu.
- Moira. - repreendi-a. - Eu tenho um namorado caso você se lembre, e eu não quero conhecer ninguém.
- Esse você vai querer, agora anda logo.
O caminho até a festa foi absurdamente irritante. Ela só sabia falar do tal amigo, e do quanto eu iria amar conhecê-lo. Não me disse o nome dele, nem a profissão, só ficou ressaltando as características físicas, e dizendo o quanto eu iria amá-lo. Logo que chegamos pensei até que estávamos em uma festa adolescente no maior estilo Skins, mas assim que entramos me toquei que parecia mais uma festa de adulto com participação de um monte de adolescentes. Moira me arrastou como um bonequinho até o fundo da casa, e andou em direção até um cara que estava sentado sozinho em um banco.
- Até que enfim, pensei que não viria mais. - o homem disse assim que paramos em frente a ele. Ele me olhou com um sorriso maravilhado, e eu quase derreti bem ali. Talvez fosse aquela maldita barba no maior estilo Christian Bale que o deixava meio irreconhecível, mas no fundo eu sabia que já tinha visto ele em algum lugar, ou talvez fosse apenas coincidência.
- Meu Deus, como você é dramático. - Moira disse toda afetada. - , esse é o...
- . - ele sorriu mais ainda e deu uma piscadela. Alguém diz a esse homem que desse jeito não irei durar até o fim da noite. Moira o olhou surpresa, talvez pelo gesto ou qualquer outra coisa, mas não disse nada.
- . Vai lá pegar uma bebida pra gente. Agora. - Moira disse autoritária. Ele deu de ombros e entrou na bagunça da casa. - Ele é um gato, né?
- Sim. - sorri.
- Eu até tentaria algo com ele, mas ele gosta mais de pessoas do seu tipinho.
- Como assim meu tipinho? – disse fingindo estar ofendida.
- Mulheres como você, . Enfim, você deveria investir.
- Eu tenho namorado, esqueceu?
- Você enche a boca pra falar daquele projeto de Bruce Springsteen, mas para mim aquele cara já deu o que tinha que dar. O cara acha que é seu dono. Do que ele tem medo quando te proíbe de sair? De que você ache um pinto mais novo que o dele? Esse cara toma Viagra, na boa.
- Moira. – rosnei.
- Que foi? - ela disse como se não tivesse acabado de dizer um pacote de bobagens.
- Só porque ele é uns dez anos mais velho que eu, não significa que ele precise tomar Viagra.
- Ainda não. – ela sorriu maliciosa. - Ele deve estar comendo um monte de puta irlandesa enquanto você fica ai com culpa só de conversar com um cara.
- Não estou culpada de nada. - defendi-me.
- Mas vai ficar. Não queria fazer isso, mas serei obrigada. – ela bufou. - Lembra quando você não fez nada na época em que o se declarou pra você, e tempos depois ficou morrendo de arrependimento? - eu assenti. - Isso vai meio que acontecer de novo se você não der uns pegas nele. - ela apontou para onde vinha andando com algumas garrafas de cerveja na mão. - Vamos fazer uma aposta milionária essa noite. Te pago 200 libras se você chifrar aquele advogado babaca e feio, e dormir com o .
- Moira.
- Que foi? Vai perder o dinheiro?
- Vou. Da última vez que você fez isso acabou que o cara virou meu namorado.
- Essa é a real intenção dessa vez. - ela sorriu maliciosa assim que apareceu.
- Aqui. - ele sorriu e me entregou uma long neck. - Esse lugar tá um inferno, Moira.
- Por quê? - ela disse despreocupada olhando o movimento por cima do ombro.
- Tá um calor infernal aqui, e estamos no inverno.
- É o calor sexual que vocês estão emitindo um pelo outro. - ela nos apontou e ele deu uma risadinha.
- Moira. - rosnei.
- Vou te colocar a par da situação, . - ela deu um longo gole e nos encarou seriamente. - Nossa querida está em um relacionamento infeliz com um homem quarenta anos mais velho que ela...
- Onze. - corrigi.
- Ele é advogado e vive viajando, tipo você, e acha que a é o cachorrinho dele e que deve ficar trancada em casa longe de qualquer contato com o sexo masculino.
- Hum. - ele assentiu. - E porque você não mete o pé na bunda desse cara? – ele perguntou com um sorriso divertido nos lábios.
- Eu gosto dele. – dei de ombros. - E ele nem é tão assim como a Moira diz, ela só não vai mais com a cara dele como antes.
- Mentirosa. - ela disse com um tom de voz elevado. - Você não gosta dele...
- Que seja, não viemos aqui discutir minha vida amorosa...
- E sim a sexual. - ela me interrompeu.
- Argh, tô me arrependendo de ter te ouvido.
- No dia seguinte quando você acordar ao lado dele, irá me agradecer. Agora se me dão licença vou passear por ai.
Ela saiu rebolando e mexendo com alguns caras, e um deles seguiu-a casa adentro. Acabei puxando assunto com sobre o que ele trabalhava, e ele me contou que viajava o mundo, mas não aprofundou muito, alegando que o meu trabalho devia ser muito mais interessante que o dele. Moira acabou voltando com uma garrafa de uísque, e ficamos os três bebendo, e Moira sempre parecendo mais bêbada que os outros. Conversamos sobre diversas coisas, e bebemos todo tipo de bebida que minha amiga chapada trazia de dentro da casa. A cada copo de álcool eu ia esquecendo-me cada vez mais de que tinha um Bruce na minha cola, me proibindo de conhecer pessoas interessantes como , e foquei na beleza magnífica que o cara a minha frente tinha. Eu queria saber se por baixo daquela camisa havia um corpo que parecia ser moldado por Deus, com músculos e todo definido, se tinha tatuagens - que (in)felizmente se tornara meu fetiche. No momento de bebedeira, enquanto ele ria de algo que Moira disse, eu daria um rim para estar a sós com ele em um quarto, arranhando cada partezinha das costas dele, enquanto ele me levava aos céus por orgasmos múltiplos e maravilhosos, coisa que eu não estava ganhando muito nos últimos tempos. Queria poder ter aquela barba arranhando meu pescoço enquanto ele me dava chupões que deixariam marcas em meu pescoço. Na situação quase desesperada em que eu me encontrava, eu já devia estar com a calcinha molhada, e de mamilos rígidos.
- É, acho que alguém aqui bebeu demais. - ele tentou tirar uma garrafa das mãos de Moira, que a puxava de volta com toda força. - Coopera comigo vai. Você bebeu demais, é melhor irmos embora.
- Chato. - ela gritou.
- Vocês vieram de carro? - ele perguntou para mim, mas eu não consegui responder por que parecia estar hipnotizada nos olhos dele. Ele deu uma risadinha e se aproximou de mim. - Sonhando acordada? - ele sussurrou com a voz rouca em meu ouvido, e por um segundo pensei ter tido um orgasmo com aquela voz rouca e sedutora. Como uma boa retardada eu consegui apenas assentir, e ele deu um riso fraco. - Sabe que não precisa ficar sonhando quando eu estou aqui, pronto pra realizar o que você quiser. - ele mordiscou minha orelha, e passou a mão levemente em minha coxa exposta.
- Nada de sexo aqui. - Moira gritou. - Vamos embora, toma a chave do carro. - ela resmungou e saiu a nossa frete batendo o pé.
- Ela nunca vai mudar. - disse rindo e eu assenti, sem desviar meu foco do modo em que ele ria. - Antes de irmos preciso fazer um coisa.
- Tudo bem, te espero no...
puxou-me pela cintura e grudou seus lábios aos meus. Nosso beijo tinha uma mistura de desejo e... Saudade. Não sei por que mais era isso que eu sentia. Ele mordiscou meu lábio e sorria durante o beijo, o que eu achei muito bonitinho. Moira apareceu brava, estragando totalmente o clima e nos arrastou até onde seu carro estava estacionado. Ela se jogou no banco de trás e acho que cochilou porque não disse nada. colocou sua mão em minha coxa e fazia desenhos abstratos nela, e hora ou outra descia sua mão próxima a minha intimidade, me deixando mais excitada ainda. A cada sinal fechado que éramos obrigados a parar, ele vinha e me dava um longo beijo, e muitas dessas vezes fomos interrompidos por buzinas dos outros carros. Assim que estacionou o carro em frente à casa de Moira, ela desceu e gritou que ele podia ficar com o carro e me levar para minha casa, ou para dele, como preferíssemos. Optamos silenciosamente pela casa dele, para mim porque seria mais fácil de fugir no dia seguinte, para ele eu não fazia ideia. Assim que paramos em um semáforo ele ligou o radio e começou a tocar 22 da Lily Allen, que era uma música que eu adorava quando adolescente, e ele pareceu perceber porque ficou me encarando com um sorriso no rosto.
Ele estacionou o carro na garagem de um prédio bem chique no centro da cidade, assim que ele entrou no elevador e apertou o botão que indicava o 22º andar, nossos corpos se colaram feito imãs. Assim que o elevador parou saímos feito dois foguetes, e ele abriu a porta de um dos apartamentos com um pouco de dificuldade, dando um chute em seguida para fecha-la. jogou carteira e chaves em cima de um aparador, e colocou-me sentada nele, aproveitando para subir minha blusa, enquanto eu graças aos céus consegui tirar a camisa dele durante o beijo. Ouvimos um pigarro atrás de nós e ele sibilou um droga, bem baixinho, e por um segundo pensei que fosse alguma namorada dele, mas antes fosse. O tal dono do pigarro era ninguém mais ninguém menos que o pai de , o que me obrigou a encara-lo perplexo. Empurrei para o lado e desci de cima do aparador, arrumando minha roupa.
- Érm, senhor ... – encarei o dono do pigarro de forma surpresa.
- Amor, quem é? já chegou? - senhora saiu da cozinha com uma bacia em mãos e deu um sorriso enorme logo que me viu.
- . - ele disse baixinho, e com a voz tremula. - Eu posso...
- Um minuto. - levantei o dedo na direção dele, e ele calou-se. - Você vai se explicar como ou ? – gritei irada.
- O que está acontecendo? - senhora perguntou com a voz beirando ao choro.
- Eu vou explicar à senhora. Seu querido filho , mentiu para mim, pena que não foi mais do que ele ainda deve mentir para a senhora.
- , calma a gente pode conversar? - disse nervoso.
- Não, , a gente não pode conversar. Você sabia desde o início quem eu era, não? - eu esperava que ele negasse, mas infelizmente ele assentiu. - Moira sabia disso tudo?
- Sabia, mas ela só queria me ajudar a...
- Te ajudar a mentir para mim? Por que você não chama seu amiguinho para te ajudar também? Ou você se tornou ?
- Eu sinto muito, sinto muito mesmo, não era para você ter descoberto assim...
- Então eu só iria saber depois que você transasse comigo e eu me sentisse usada?
- Claro que não. - ele gritou.
- Por anos eu fiquei obcecada em te encontrar e sonhava em como seria o dia que nos reencontrássemos, mas se eu soubesse que seria assim, com a pessoa que antes eu confiava a minha vida, mentindo para mim, eu jamais teria cogitado essa ideia idiota.
- , vamos lá pra dentro, a gente conversa com calma, tudo bem? - ele disse tentando passar uma imagem tranquilizadora, mas no fundo eu sabia que ele estava era realmente querendo chorar. Por isso eu tinha a sensação de já tê-lo encontrado antes, a aparência física dele mudou, mas não os traços marcantes que ele sempre teve. - Por favor, eu te imploro...
- Não implore pra que eu te ouça. Ficamos anos sem nos ver e nossas vidas foram perfeitas, então, vamos continuar com isso. Finja que eu morri pra você. - peguei a chave no aparador e abri a porta. - E antes que eu me esqueça. Dessa vez eu realmente estou te dispensando. Pode dizer a todos que realmente te dispensou, porque agora é oficial , eu não quero você. Não quero saber mais da sua existência. Vou fingir que nunca te vi na minha vida, e que você não passa de mais um lixo na face da Terra.
Bati a porta com uma força que eu não fazia ideia de onde veio, apenas fiz. Corri até o elevador e antes que a porta fechasse, eu vi a figura de sem camisa na minha frente, com lágrimas escorrendo por seu rosto e se perdendo em sua barba mal feita, que infelizmente o deixava diabolicamente, lindo. Entrei no carro de Moira e a primeira coisa que pensei em fazer foi ir até a casa dela tirar satisfações, mas eu não queria mais saber de mentiras, e dirigi até o único lugar em que eu teria conforto e paz, onde eu encontraria alguém que seria completamente honesto comigo, e ficaria do meu lado. Fui até a casa dos meus pais, me esforçando para não chorar e chegar viva até lá.
Assim que entrei na casa, subitamente me lembrei de que não teria ninguém por lá, e isso apenas aumentou meu desespero. Eu queria poder chorar no ombro de alguém. Desabafar sobre o ódio que eu estava sentindo de Moira e , mas eu não tinha ninguém para isso. Jenna e Eleonor estavam longe, meus pais também, Bruce nem pensar, a não ser que... . Ele podia ser minha única opção.
Peguei meu celular e disquei o número dele. Fazia algum tempo que eu não falava com ele, e por sorte conseguimos manter a “amizade” após nossa noite juntos no carro dele.
- ? – ele disse sonolento.
- Ah, , que bom que atendeu. – disse chorosa. – Eu preciso conversar com alguém, onde você está?
- Eu estava indo para a casa do , ele me ligou dizendo que eu precisa urgentemente ir pra lá...
- NÃO. – gritei. – Vem até a casa dos meus pais, por favor.
- , me diz o que aconteceu? Você está bem? Você tá sozinha aí? Seus pais não tinham viajado?
- , por favor. – choraminguei.
- Calma, , eu estou indo.
Continuei chorando por mais longos minutos, e até cheguei a pensar que iria desidratar ou explodir de tanto ódio.
A campainha começou a tocar freneticamente, e assim que abri a porta fui agarrada por braços fortes e quentes.
- Calma, tá tudo bem. – disse enquanto fechava a porta. Andamos até o sofá e ele me fez deitar a cabeça em seu colo enquanto ele acariciava meus cabelos. – Respira, . Respira fundo e me conta o que aconteceu.
- O . – choraminguei. – Aquele maldito... Ele... Argh, que ódio.
- O que ele fez? – perguntou exasperado.
- A Moira insistiu para que eu fosse a uma festa com ela, aií ela me disse que tinha um amigo para me apresentar, e quando cheguei lá era o , mas eu não fazia ideia de que era ele porque ele está muito diferente, e ele se apresentou com o nome de , ai fomos até a casa dele, mas os pais dele estavam por lá, e eu... Eu descobri a mentira deles dois. Eu não acredito que a Moira fez isso comigo. Não acredito que o fez isso comigo.
- Eu sempre disse que a Moira era uma vadia.
- ia ter coragem de dormir comigo enquanto eu pensava que ele era outro cara, como ele pode fazer isso comigo? – encarei . – Ele dizia que me amava, e mais um monte de coisas e agora ele faz isso comigo.
- Então foi por isso que ele disse que hoje ele iria corrigir certos erros do passado.
- Corrigir? – perguntei brava. – Ele só piorou. Eu não quero mais olhar na cara dele. Foi infantil o que ele fez, infantil e errado.
- , é melhor você se acalmar, ok? Você ficar nervosa não vai adiantar nada.
- E me acalmar também não. – gritei. – E pensar que anos atrás você era culpado pelo meu choro e estaria aqui no seu lugar. A vida é engraçada mesmo, vocês estão em papeis invertidos enquanto eu ainda continuo sofrendo por homem. Ambos uns canalhas.
- Sim. – ele sorriu triste. – Mas... – foi interrompido pelo meu celular que estava em cima da mesinha de centro. Deixei-o que continuasse a tocar, eu não iria atender. – Você não...?
- Que ele exploda.
- Posso?
- Sim. – pegou o celular e colocou-o no viva-voz enquanto eu ouvia vozes esgoeladas do outro lado.
- . , eu sinto muito. – Moira disse chorosa do outro lado. – Me deixa falar com ela. – ouvi alguém dizer. – Não, , você não vai falar com ela. – a garota gritou. – , eu não sabia o que ele estava pensando... Cala a boca, , você já fodeu tudo, não adianta consertar.
- Nem você adianta pedir desculpas ou tentar consertar a sua parte nessa merda toda. – disse bravo. – Você não devia ter ajudado nessa merda toda. Vai dizer que não viu se apresentando a com meu nome?
- Vai à merda, . Eu não sabia o que ele pretendia, mas eu pensei que ele fosse contar a ela.
- Claro que ele ia, depois de comer ela e fazer ela se sentir como uma puta, igual a você.
- Você não sabe de nada, . Agora me deixa falar com a .
- Ela não quer falar com você. – ele rosnou.
- Para de tentar responder por ela, você fodeu com ela à adolescência inteira e agora quer tirar seu pau fora da história.
- Quando eu dormi com a ela sabia muito bem quem eu era, ok? Eu não me apresentei com um nome falso, e nem enganei ela...
- Vai. Se. Foder. Não banque a vítima, agora passa pra .
- A vítima? – ele disse sarcástico. – A única vítima aqui é a idiota da que não sabe quem são as pessoas ao redor dela. – ele gritou e eu encarei-o perplexa. – Você já contou a ela como foi sua maravilhosa noite com no dia em que ela foi embora?
- . Eu. Quero. Falar. Com. A. . – ela gritou. – Para, , você não vai falar com ela.
- Nem você, sua vadia. Vão a merda vocês dois. Aproveita e dorme com ele, já que o queridinho perdeu a foda da noite. Você gosta mesmo de restos, Moira Hayes, aproveita.
Ele desligou o celular e me obrigou a ir tomar um banho enquanto ele iria fazer um chá.
Então era isso... Moira Hayes, uma das minhas melhores amigas dormiu com o cara que era apaixonado por mim bem no dia que eu fui embora. E vivia enchendo minha cabeça sobre o quanto eu deveria ter dado uma chance a ele. Imagine se eu tivesse respondido as cartas dele, será que ela teria me contado que transou com ele? É claro que não.
sempre teve razão. Moira era mesmo uma vadia. Uma vadia falsa ainda por cima. não tinha necessidade alguma de me contar isso, não éramos melhores amigos mais, e não trocávamos segredos ou coisas do tipo, mas eu fazia isso com Moira e era quase uma obrigação da parte dela me contar sobre ter dormido com . Tudo bem, isso possivelmente podia ser mentira já que ela não disse uma palavra sequer sobre o assunto.
Meu corpo estava dolorido e cansado. Minhas pálpebras pesavam e minha cabeça latejava tanto que parecia estar a ponto de explodir. Eu só queria ir para a minha cama e fingir que esse dia nunca aconteceu. Que Moira não transou com o cara que eu era apaixonada, que não me enganou, e que estava sendo um ombro amigo que jamais fora a minha vida toda.
Se fosse apenas para esquecer esse maldito dia, eu até aguentaria ficar ao lado de Bruce por um dia todo, ouvindo-o reclamar das coisas e tendo mais alguma discussão idiota.
Acabei me lembrando de que o carro da vadia estava estacionado na frente da casa dos meus pais, e que caso ela resolvesse vir junto com investigar onde eu estava, eles podiam encontrar o carro e começar a encher o saco.
Enrolei-me na toalha e vesti um dos meus pijamas que eu ainda tinha no quarto que meus pais fizeram para mim, e fui até a cozinha, encontrando falando ao celular com alguém enquanto fazia algo no fogão.
-... Dê um tempo a ela, cara. – ele disse impaciente. – Você acha que é certo o que vocês dois fizeram?... Tudo bem, a Moira só queria “ajudar”, mas assim que você disse que se chamava ela deveria ter interferido... E que horas você pretendia contar?... Viu, nem você sabe. Ela é mulher, , ela tem sentimentos. Você mais do que ninguém sabe como a é. Ela se magoa fácil, e quero só ver agora você conseguir o perdão dela... Eu não vou falar onde estamos... Então procure pela merda do carro, você não vai achar... – ele virou-se para mim e deu um sorriso fraco. – Eu tenho que te dizer uma coisa, cara. Enquanto você vai se matar para encontrar ela e se desculpar, eu vou estar aqui, me aproveitando da situação pra ficar com a sua garota, a mudou, é bem capaz de querer se vingar – ele olhou para mim e soltou um riso – Uma segunda vez. Tchau, . – ele desligou o celular e desligou o fogão, andando até mim.
- Então você vai ser meu consolo? – perguntei com um sorriso torto.
- Nem se você quisesse. Não vou me aproveitar de você, . Você poderia me implorar agora mesmo, mas eu faria o possível para não ter nada com você.
- Obrigada. – abracei-o. – Eu nunca pensei que você estaria do meu lado para ouvir minhas merdas.
- Nem eu.
- Vou abusar da sua boa vontade só mais um pouquinho. – semicerrei os olhos.
- Pode falar.
- Preciso que leve o carro da Moira até a casa dela. Eu me esqueci de que essa bosta tem aquela parada de rastreador por satélite.
- Ok. – ele sorriu. – Você quer que eu fique aqui com você?
- Não precisa. – sorri. – Mas você podia ir consolar e aproveitar para dar uma surra nele.
- Claro. – ele riu. – Então eu vou indo. Seu chá está no fogão, e qualquer coisa que precisar é só me ligar, entendeu?
- Sim. – assenti.
Entreguei a chave a ele, e seguiu até a casa de Moira, e quem sabe até a casa de também. Eu mal tinha percebido que ele havia vindo de taxi, o que era bom, porque seria um caminho meio longo a se fazer.
Tomei meu chá, e me deitei na cama dos meus pais em um eterno choro de desgraça que parecia não cessar nunca, assim como a dor no meu peito.
Como se já não bastasse ser apunhalada pelo cara que eu possivelmente ainda nutria sentimentos, fui apunhalada por uma das minhas melhores amigas, uma das mulheres que eu confiei meus segredos, que eu me abria sobre a merda do meu relacionamento, de como me arrependia profundamente por não ter corrido atrás de enquanto era tempo, sobre as coisas que me atormentavam, e de como ela havia feito o mesmo comigo. Mas isso não era apenas a única coisa que não saía da minha cabeça. Eu queria saber se Eleonor e Jenna sabiam disso, da apunhalada que Moira Hayes cometeu comigo. Possivelmente sabiam, ou não, mas isso não era algo que eu queria me preocupar, agora. Queria apenas sumir e tirar a dor de mim, apagar minha mente, apagar tudo. , Moira, , Jenna, Eleonor, Bruce. Apagar tudo e todos por apenas um dia. Esquecer os problemas, ser um ninguém.
Era isso. Eu já havia passado dos vinte, atingido uma cota de problemas, relacionamentos problemáticos, amigos falsos e uma vida demente. É triste, porém seria a mais pura verdade se alguém aparecesse agora e dissesse que minha vida já estava acabada com apenas vinte três anos de idade.
Eu tinha tudo, ou quase tudo. Um emprego, não era uma carreira, algo de sucesso, mas era algo que eu gostava de trabalhar. Um namorado, não era dos melhores, mas me fazia feliz quando eu quisesse. Um amor do passado que me magoou. Uma amiga falsa. Duas amigas que foram enganadas pela amiga falsa. Um amigo que era quase um inimigo que, de repente, virou alguém que eu podia chorar sem que me julgasse por motivos idiotas.
Durante quatro longos dias eu consegui: contornar a situação com Bruce dizendo que havia perdido meu celular; fugido de todas as tentativas de contato que Moira fez; colocado meus pais a par da situação e aceitarem de volta na minha vida; descoberto que Jenna e Eleonor também não sabiam sobre Moira e ; ganho como meu segurança pessoal para qualquer lugar que eu fosse além do trabalho. Entre tantos ganhos, a única coisa que eu não consegui foi evitar ter na frente do trabalho e apartamento vinte e quatro horas por dia. Ele parecia uma sombra, ou pior, um encosto. Eu saía de casa para ir trabalhar e ele estava no estacionamento me esperando. Saía do trabalho para almoçar ou ir para casa e ele estava encostado no meu carro me esperando. O único lugar que ele não se atrevia a ir era a casa dos meus pais. não era idiota, ele sabia que meu pai deveria estar a par da situação e com muita raiva dele. Eu só queria saber até quando isso ia durar, já que no dia seguinte Bruce estaria vindo a Londres.
Durante quatro longos dias eu ignorei pela segunda vez. Deixava-o falando enquanto fingia que ele não estava tagarelando besteiras ao meu lado. Eu tinha de ter um autocontrole dos infernos para não abraça-lo e dizer que sentia falta dele, mas talvez essa saudade tenha sido substituída pelo sentimento de traição. Se ele achava que ser ignorado era pior do que ser rejeitado, ele deveria experimentar o sentimento da traição. De ser enganado por pessoas da sua confiança.
Eram três horas da tarde e por ter conseguido terminar todos os meus projetos, pude ir embora mais cedo e, é claro, dar de cara com não uma, mas duas surpresas no estacionamento. Bruce estava mais perto do elevador enquanto estava encostado no meu carro, como fazia há quatro dias.
Corri até meu namorado e por cima do ombro vi encarando-nos perplexo. Eu desejava com todas as forças do universo que fosse embora, mas ele parecia estar colado ao meu carro, apenas esperando que eu fosse até ele.
- Eu estava com saudades... – Bruce disse contra a pele do meu pescoço. – Então, resolvi fazer uma surpresa para você.
- E eu adorei. – dei-lhe um selinho. – Mas como você sabia que eu sairia mais cedo?
- Não sabia. – ele sorriu. – Eu já estou aqui tem uns dez minutos e você saía as quatro, então achei melhor esperar até que você aparecesse.
- Sorte a sua que eu saí mais cedo.
Trocamos mais um beijo apaixonado (!?) e caminhamos até o meu carro que ainda tinha colado feito um adesivo. Ele encarou nossos dedos entrelaçados e soltou o ar com força. Bruce encarou-o desentendido e em seguida encarou minha expressão de puro tédio ao ter que lidar com .
- Até quando, hein? – disse impaciente. Bruce nos olhou sem entender, mas permaneceu quieto.
- Já disse que só saio daqui quando você tiver uma conversa decente comigo.
- E eu já disse que não tenho nada pra conversar decentemente com você. Se toca... – parei abruptamente quando fui falar seu nome. Bruce não poderia saber que o cara que estava ali era . -... Eu. Não. Quero. Saber. Das. Suas. Explicações. Agora você pode me dar licença que eu preciso ir embora.
- ... – ele segurou meu braço quando eu fui abrir a porta do motorista.
- NÃO, . Me esquece, por favor, me deixa em paz. Some da minha vida mais uma vez, é a melhor coisa que você faz da sua vida. Você já estragou tudo uma vez e agora estragou de novo.
- Eu estraguei, ? Você quem estragou.
- Espera. – Bruce parou entre nós dois. – Então você é ?
- Sou. – disse hostil. – E quem é você?
- O namorado dela.
- Namorado? – ele disse sarcástico. – Haha, se é assim que você trata seus namorados, não quero nem imaginar como será com seu futuro marido, .
- , do que esse idiota está falando?
- Se tem algum idiota aqui, esse cara é você.
- Vocês vão brigar aqui, no meu trabalho? – gritei. – Bruce, você é mais do que isso, se rebaixar ao nível dele pra brigar...
- Não foi isso que você disse quando eu briguei com o na escola por causa de você.
- Agora esse está no meio? – Bruce disse bravo. – Vamos embora, .
- Você pode sair da minha frente, ?
- Com todo o prazer, madame. – ele disse com desdém. – Quando você não estiver escoltada pelos seus seguranças e quiser falar comigo, você sabe onde me encontrar.
saiu batendo o pé feito uma criancinha contrariada enquanto Bruce ficou quieto durante todo o caminho até minha casa. Ele não disse uma palavra sequer e eu, obviamente, achei isso muito estranho. Todas as vezes que apenas ouvia o nome de ele já começava a discutir comigo, jogando coisas inexistentes na minha cara, e porque agora que ele finalmente conheceu o “rival”, resolveu se calar?
Quando chegamos, Bruce foi direto para a cozinha e notei que suas malas estavam na sala. Como sempre, liguei a televisão para fingir que não o estava ouvindo caso ele quisesse brigar.
Eu estava preparada para uma briga, mas Bruce estava decidido a me surpreender desde o dia em que fomos comprar um presente para os meus pais. Ele se sentou ao meu lado no sofá e ficou abraçado comigo o tempo todo. Ora ou outra ele fazia algum comentário sobre o que passava na televisão, mas não comentava sobre o ocorrido no estacionamento.
- Bruce? Amor, está tudo bem? – perguntei apreensiva. Ele podia estar sereno, mas eu ainda tinha medo que ele explodisse.
- Sim, por quê? – ele me encarou.
- Você está quieto.
- Tá tudo bem. – ele sorriu.
- Não quer conversar sobre mais cedo?
- Você quer conversar sobre isso? Tem algo a me contar? – ele disse calmamente, como se pensasse no que iria dizer.
- Não...
- Se você não tem nada a dizer e não quer conversar sobre isso, eu também não quero. – ele me beijou. – Eu percebi que se eu quero ficar com você, em um relacionamento feliz e duradouro, nós não podemos ficar brigando por idiotices, , não é assim que a vida das pessoas vai para frente. Você mesma já me disse que nunca teve nada com aquele cara e que ele é passado na sua vida, então eu não vou mais insistir nisso. Acredito em você.
- Obrigada. – abracei-o. – Obrigada por ser compreensivo comigo. Eu sou mesmo um desastre, não sei por que você ainda insiste em mim.
- Talvez seja porque eu te amo. – ele disse calmamente. Essa era a primeira vez que ele dizia que me amava em um ano e pouco de namoro. Nunca sentimos essa necessidade de dizer, talvez porque para nós isso parecia algo banal de tanto que as pessoas usavam, ou talvez porque eu não sabia se o amava assim como ele me amava, mas parecia que meu namorado já tinha se decidido.
- V-você... Disse isso mesmo? – perguntei envergonhada.
- Disse. – ele respondeu incerto. – É, eu disse. – ele disse convicto dessa vez. – Eu te amo, .
- E-eu...
- Você não precisa dizer isso só porque eu disse. – ele segurou meu rosto entre suas mãos. – Não é o seu tempo ainda, você não precisa dizer isso, .
- Mas...
- Amor, eu te amo, mas você não é obrigada a dizer isso, entendeu? – assenti. – Ainda é cedo para isso, mas... – ele deu de ombros. – Eu simplesmente disse. Você gosta de mim, não gosta?
- Claro que...
- Então isso é o suficiente. Você não precisa me amar enquanto eu tenho amor por nós dois. – ele sorriu.
Fiquei tão feliz por ele não necessitar de um “eu te amo” que poderia até andar pelas paredes. Pode ser egoísmo estar com alguém sem amor, mas eu gostava dele. Apesar dos pesares, como ele mesmo costumava dizer, tínhamos uma química. Completávamo-nos. Eu gostava de passar meu tempo com ele, falando mal das pessoas, tomando cerveja e jogando videogame. Gostava de ouvi-lo planejar um futuro sozinho, com a esposa, e gostava mais ainda quando ele não me incluía nisso pois sabia que ambos ainda éramos algo incerto. Eu era mesmo um total desastre. Tinha um homem que me amava ao meu lado, mas só tinha meus pensamentos em um cara que só desgraçava tudo.
Durante nossa “tarde de sossego”, minha mãe ligou e Bruce atendeu, então foi meio óbvio que ela nos obrigou a ir para um jantar na casa dela, como se isso não acontecesse todas as vezes que Bruce vinha a Londres.
- , querida, vem me ajudar aqui na cozinha. – mamãe chamou-me.
- No que serei escravizada? – perguntei.
- Ãn? Ah, nada. – ela olhou ao redor, como se checasse se realmente éramos as únicas na cozinha. – Queria conversar com você. É sobre o .
- Ah, merda. – bufei. – O que tem ele? Vai me dizer que aquele imbecil veio aqui? Como se já não bastasse ele me perseguir em todos os lugares, agora ele atravessou a zona de perigo?
- Não, querida, ele não veio aqui. – ela sorriu triste. – Eu encontrei com ele no mercado, e... Conversamos.
- Sem querer ser grossa, mas sendo, eu não quero saber dele, quero fingir que ele...
- não fez de propósito, querida.
- Ah, não? – perguntei irônica. – Mãe, ele ia me levar pra cama fingindo ser outra pessoa. – sussurrei.
- Mas não levou. Ele disse que não falou quem realmente era por medo de você fugir dele, filha. Quem sabe se você der uma chance dele se explicar.
- Mãe, Bruce e eu estamos muito bem e eu não quero ter que ouvir merda nenhuma do que o vai me dizer. Agora, se eu não tenho utilidade aqui, com licença.
+++
Uma parte de mim dizia que era um erro ter ouvido minha mãe e marcado um encontro com , mas outra parte dizia que eu deveria ser racional e pelo menos ouvir o que ele tinha a dizer e, quem sabe, depois procurar por Moira e ouvir a parte dela da história.
Desde o dia em que eu fugi da casa de , eu consegui me livrar dela com a ajuda de e dos meus pais, mas eu sabia que não poderia fazer isto para sempre tendo em vista que ela me ligava todos os dias, enchia minha caixa postal com mensagens, me enviava sms toda hora e lotava meu e-mail com mensagens repetitivas.
Minha mãe disse que eu não deveria ignorá-los e sim ouvir o que eles tinham a dizer, mas que eu deveria fazer isso primeiro com , já que de uma forma ou de outra, Moira fora falsa comigo quando resolveu não me contar que dormiu com horas depois de um vir para Londres.
Eu estava nervosa com tudo isso. Seria a primeira “conversa” que teríamos depois de quase dez anos sem eu vê-lo. Em outra ocasião eu estaria muito mais nervosa, mas no momento a minha raiva tirava um pouco do nervosismo e me ajudava a não agir como uma adolescente na frente dele.
Tínhamos marcado de nos encontrar em um parque perto do meu apartamento assim que eu voltasse do trabalho e eu fiz o possível para sair mais cedo. Acabou que cheguei dez minutos antes do horário previsto e pude avistar de longe e Sophie conversando. Talvez eles ainda estivessem juntos ou eram apenas amigos, eu não fazia ideia, mas ainda achava estranho (e um pouco incômodo) eles estarem juntos.
Ambos me avistaram sentada em um banco e caminharam até mim. Foi nessa hora que minhas mãos suaram e eu fiquei com a temperatura alta embaixo de três casacos de moletom em uma temperatura de -1ºC.
- Oi. – Sophie disse sem o seu conhecido sorriso esnobe. Tudo bem, eu só a vi uma vez, mas foi suficiente para me fazer criar antipatia para cima dela.
- Oi. – sorri nervosa.
- Precisei trazer reforços caso você não acredite em nada do que eu vou dizer. – disse nervoso. – Vocês querem ir a algum lugar?
- Sim, eu ‘tô morrendo de fome. – Sophie disse descontraidamente e nem pareceu a mulher que me atendera semanas atrás. - Conhece algum lugar bom por aqui? – ela sorriu para mim.
- Ér... Claro. – sorri nervosa. – Tem um café a duas quadras daqui.
- Perfeito.
Ela andou entre e eu e não parava de tagarelar sobre uma garota que ela estava saindo. Confesso que fiquei feliz em saber que eles não estavam juntos e mais feliz ainda em ver que estava feliz por ela estar esquecendo-o, pelo menos foram essas as palavras que saíram da boca dele.
Sophie escolheu uma mesa em um local quente e confortável, com poucas pessoas ao redor, e logo pediu um café com donuts.
Ficamos os três nos encarando sem saber o que dizer até que ela quebrou o silêncio constrangedor.
- Vão ficar olhando um para cara do outro até quando? – ela disse impaciente. – Diga a ela o que você tem a dizer, , aposto que assim como eu, ela também tem coisas a fazer do que ficar olhando para sua cara.
- Hum... Ok. – ele bufou. – Primeiramente eu queria te pedir desculpas pelo dia em que fomos à festa e...
- Começou mal, . – ela interrompeu e ele bufou mais uma vez. – Ela provavelmente veio ouvir o que você tem a dizer, não ouvir suas desculpas que você já deve ter dito inúmeras vezes. Mude o disco, inove, a maioria dos caras são assim e pelo que eu me lembro, você não é um clichê.
- Sophie. – ele disse impaciente.
- Você podia começar pelo porquê mentiu para mim aquele dia. – dei de ombros.
- Isso, . – ela sorriu vitoriosa.
- Eu... Eu não sabia como você ia agir. Aquela vez em que você me ligou e depois meio que fugiu de mim me deixou sem esperanças alguma e eu meio que me aproveitei de que você nem fazia ideia de quem eu era, pra sei lá, recomeçar. – ele disse sem jeito.
- Eu sabia que já tinha te visto em algum lugar, mesmo com essa barba... – estilo Christian Bale que poderia ter passado pelo meu corpo se não fosse seus pais. – Mas eu não tinha certeza.
- Você me viu em diversos lugares. – ele sorriu. – Muitas vezes em festas da sua faculdade, na sua formatura, aquele dia no pub em que você ficou com o , quando você se despediu do namorado na estação de trem e passou por mim no vagão. Eu sempre estive atrás de você, sempre.
- E por que... Por que nunca tentou falar comigo?
- Medo. – Sophie disse. – Qual é, , você rejeitou ele uma vez, é claro que ele ficou com medo de uma segunda rejeição.
- Mesmo assim. – retruquei. – Você podia ter feito algo.
- E eu fiz. – ele disse exasperado. – Eu te livrei de muitas coisas, se você quer saber e te ajudei em muitas delas. Eu sempre estive ao seu lado, sempre que eu tinha um tempo livre eu dava um jeito de ficar perto de você. Pode parecer estranho, mas eu meio que fotografava você sempre. Só para ter você perto de mim quando eu viajava.
- Isso é bizarro, . – Sophie disse com a boca cheia. – Esse foi um dos motivos por termos terminado. é obcecado por você. Ele dizia seu nome dormindo, na hora do sexo – notei ficar um pouco corado – A todo o momento. Vivia me comparando a você, dizendo o quão diferente éramos uma da outra e, no fim, eu acabei me apaixonando por ele enquanto só tinha olhos para você. Era sempre , , .
- Tudo bem. – resmunguei. – Agora tem uma coisinha que não sai da minha cabeça. Por que você dormiu com a Moira?
- Porque eu fui um idiota. Eu acreditei quando me disseram que tinha ido a sua casa e vocês transaram e fiquei com ódio por ter esperado tanto tempo você enquanto você se entregou a ele mais uma vez.
- Então quer dizer que... – Sophie tentou segurar o riso. – Perdeu a virgindade com essa Moira?
- Sim. – ele bufou. – Mas foi só uma vez...
- Você só perde a virgindade uma vez, . – dissemos juntas.
- Quero dizer... Só foi uma única vez que ficamos juntos. Faz tempo e eu nem me lembro de mais nada.
- Eu ainda não consigo acreditar que você tenha transado com uma das minhas melhores amigas horas depois de eu ter viajado.
- Você transou com meu melhor amigo, o que tem a dizer? – ele disse em um tom acusador.
- Ei, garanhão. – Sophie interviu. – Aposto que ela estava bêbada para ter dormindo com aquele mal amado, muito ruim de cama, por sinal. – ufa, não era só eu quem pensava assim. – Ela não falava mais com você há anos, então não cobre nada dela quando o errado aqui é você, pelo menos, hoje.
- Ok, ok. – ele resmungou. – E por falar em cobrar – ele me encarou sério. – Por que me ignorou? Não deu notícias, fingiu que eu nem existia?
- Porque eu era uma adolescente burra. – suspirei. – Eu nem sei ao certo porque quis me afastar de você e nem por que não respondia suas cartas, mas... Talvez tenha sido bom em partes, não? Você dormiu com a minha melhor amiga.
- Nós não tínhamos um relacionamento, .
- Você nunca começou um...
-... Você nunca me deu a oportunidade de começar um. – ele corrigiu-me. – Se você tivesse me respondido, poderíamos ter ficado juntos.
- Mas eu não respondi. Pronto, é isso. Eu não fui atrás de você, não apenas te ignorei como te rejeitei e me arrependo por isso. Feliz? – disse exasperada.
- Ainda não. – ele sorriu travesso e se levantou da cadeira a minha frente. Foi como uma cena de filme em que se passa em câmera lenta com uma música bonita ao fundo. Eu podia ver tudo em câmera lenta, mas meu coração estava disparado a ponto de sair do peito. se abaixou um pouco até ficar com o rosto na altura do meu e me beijou. Um beijo com muita mais saudade, carinho e romance. Parecia até o beijo que tínhamos trocado anos atrás no nosso baile de formatura e não o que demos na festa. – Agora estou feliz. – ele sorriu.
- AI. MEU. DEUS. – Sophie disse em um grito, atraindo alguns olhares para nós. – Esse beijo foi tão fofo. – ela sorriu. – Mas, , ela tem namorado, então, não rola fazer com ele algo que você não quer pra você.
- Deixa disso, Sophie, foi só um beijo. De muitos. – ele sussurrou a última parte e eu sorri sem graça.
- Fofos. – ela nos deu um sorriso iluminado mais uma vez. – Agora sem querer ser estraga prazeres, mas você tem uma viagem para daqui algumas horas.
Não dissemos mais nada após isso, apenas pagamos a conta de Sophie (ela nos obrigou a fazer isso) e cada um seguiu seu caminho, em partes. Sophie foi para casa dela enquanto insistiu em me levar até meu apartamento. Eu pensei que ele me acompanharia até o hall do prédio, mas ele disse que não saberia onde era o meu apartamento caso algum dia quisesse me fazer uma visita. Quem era eu para recusar uma visita dele? Ainda mais agora que ele estava melhor do que antes. Muito mais bonito, alto, forte, muito mais sorridente, com uma barba sexy e voz rouca, muito diferente do que não sabia se tinha saído ou entrado na puberdade.
A subida no elevador não foi constrangedora como eu pensei que seria. Fora até muito agradável com segurando minha mão e fazendo desenhos nela com o polegar.
- É aqui. – apontei para a porta do meu apartamento.
- Gostei do lugar. – ele olhou ao redor.
- Eu também gosto, é perto de muitos lugares.
- Sim. – ele sorriu. – Posso... Te contar uma coisa? – ele disse meio sem jeito.
- Claro.
- Eu sabia que você morava aqui. – ele sorriu envergonhado. – Eu morei no apartamento ao fim do corredor por dois meses enquanto estava tendo que fazer umas pesquisas.
- Você... – olhei-o perplexa. – Você sabia?
- Sim. – ele deu de ombros. – Eu precisava de um lugar pra ficar enquanto estava por aqui, aí me lembrei de que você morava aqui e o apartamento estava vago...
- Você me perseguiu. – disse atrapalhada enquanto ria.
- Em partes. – ele disse envergonhado.
- Relaxa, estou te zoando. – coloquei a mão em seu ombro. Eu continuei rindo, mas parei no mesmo instante que ele me prensou entre a parede e seu corpo.
- Como estamos na situação que estamos, vou deixar você rir de mim. – ele sussurrou em meu ouvido e senti um arrepio na espinha. passou a barba um pouco grande pelo meu pescoço e quando chegou com seus lábios aos meus, seu celular tocou, fazendo-o bufar. – Eu preciso ir. – ele disse um pouco chateado. – Devo voltar daqui umas duas semanas, ou menos. – ele deu de ombros. – A gente... Pode se ver quando eu voltar?
- Claro. – sorri. – Você sabe onde me encontrar.
- Até porque eu coloquei um rastreador no seu celular alguns anos atrás.
- Sério? – perguntei surpresa.
- Brincadeirinha. – ele mordeu minha bochecha.
- Então... A gente se vê daqui alguns dias.
- Estarei contando os minutos. Literalmente. – ele me deu um selinho.
- Você não será o único. – juntei nossos lábios em um beijo calmo e suas mãos envolveram minha cintura em seus braços fortes. O tempo parecia passar mais lentamente em cada movimento nosso e se minha consciência não me alertasse sobre muitas coisas, eu teria o puxado para dentro do meu apartamento e o feito terminar o que seus pais nos interromperam. Seu celular tocava desesperadamente e eu parti o beijo sem muita vontade de fazê-lo.
- Droga. – ele rosnou. – Eu preciso mesmo ir.
- ‘Tá tudo bem. – sorri.
- Eu te ligo quando voltar.
- Estarei esperando.
- Mas você pode me ligar enquanto eu ainda estou viajando.
- Pode ser. – dei de ombros. – Ah, . – ele deu um sorriso enorme quando o chamei pelo apelido. – Não... Não apareça de surpresa por aqui.
- Por quê?
- Bruce pode desconfiar. E ele também não é seu maior fã.
- Ele não vai desconfiar de algo que não aconteceu... Ainda. – ele sorriu malicioso.
- Você não o conhece. Bruce é paranoico com essas coisas.
- Ok. – fiquei encostada na porta vendo-o caminhar lentamente até o elevador e quando o mesmo abriu a porta, ele colocou o corpo metade do corpo para dentro, ficando com o resto para fora. – Eu te amo, . – ele sorriu.
- Eu também te amo, .
Depois de me resolver com , aceitar as desculpas de Moira, feito Jenna e Eleonor se acertarem com ela também, eu ainda precisava me acertar com Bruce, mas eu não sabia quais eram os planos que ele tinha, levando em conta que eu também não tinha nenhum.
As meninas e eu sentamos e conversamos e todas as três chegaram à conclusão de que eu deveria terminar com Bruce para ficar com , mas eu não sabia se ele queria ficar comigo. Eu poderia terminar com Bruce e não querer nada comigo, e no meio disso tudo teríamos dois corações partidos.
Durante as duas semanas e três dias, eu e nos falávamos constantemente. Quando não podíamos estar conversando pelo celular, trocávamos mensagens, e a noite para mim e dia para ele, fazíamos chamadas de vídeo e ele me mostrava todas as fotos que ele havia feito, além de me mostrar sobre as coisas que ele estava pesquisando e os trabalhos humanitários que ele fazia. Conversávamos por horas a fio sobre diversos assuntos. me contou sobre ele e Sophie terem se tornado amigos mesmo depois de um término turbulento e ele insistia em querer saber sobre meu namoro com Bruce. Fui honesta com ele e contei tudo, todos os detalhes, e o que eu sentia quando estava com ele. não criticou minha atitude em ficar com alguém sem amor, tendo em vista que ele fez o mesmo na tentativa falha (obrigada, Deus!) de me esquecer enquanto eu apenas ficava com Bruce por gostar dele.
Bruce fora extremamente carinhoso comigo nas duas vezes em que eu fui para Manchester e nem parecia o meu “antigo” namorado. Eleonor disse que ele provavelmente estava sentindo o cheiro de uma possível ameaça que podia representar a ele e então achou melhor me tratar como um namorado melhor, só para o caso de eu pensar em terminar.
Estávamos as três no mesmo café que eu vim com e Sophie, aproveitando a trégua que o frio resolveu fazer e, é claro, ouvindo Jenna e Moira discutir sobre alguma coisa estúpida.
Eleonor tinha contado que estava saindo com uma garota, mas insistia em dizer que não era nada sério, então não tinha necessidade de nos apresentá-la a ela, ainda.
- Esse é o tipo de amiga que você não deve ser, Eleonor. – Jenna disse brava. Moira achava que era ciúmes, mas o relacionamento delas tinha acabado há anos e nenhuma recaída havia acontecido desde então. – Você tem que nos contar quem é essa garota, somos suas amigas.
- Como vocês são dramáticas. – Eleonor suspirou. – Na hora certa vocês vão conhecê-la, quando for algo sério, por enquanto é só um rolo.
- Rolo? – Moira gargalhou. – Para com isso, Collins, daqui a pouco a porra fica séria, querem apostar?
- Você ultimamente anda ganhando muito nas apostas, então, não. – Jenna disse. Ela encarou algo atrás de Eleonor e eu, mas depois disso apenas balançou a cabeça com um sorrisinho.
- ‘Tá flertando com alguém atrás de nós? – Eleonor perguntou em tom de divertimento.
- Acho que eu não faço o tipo dela. – alguém disse entre Eleonor e eu. Olhei assustada para o dono da voz e dei de cara com os olhos brilhantes de me encarando enquanto ele sorria. – Mas eu acho que faço o seu.
- Talvez. – sorri. aproximou seu rosto mais ainda do meu e colou seus lábios ao meu em um beijo rápido.
- Arrumem um quarto. Vocês são nojentos.
- Quietas. – ele resmungou visivelmente envergonhado.
- Como você sabia que estávamos aqui? – perguntei.
- Alguém – ele disse sorrindo para Moira. – Me mandou uma mensagem de texto avisando.
- Por nada. – Moira fez reverência.
Não precisamos insistir muito para que se sentasse conosco e Eleonor saiu rapidamente do meu lado alegando que não queria ser nosso castiçal.
Conversávamos sobre diversos assuntos e tentamos colocar a par de nossas vidas, assim como ele tentou fazer com a dele. Durante toda a conversa e incontáveis copos de chocolate quente, permaneceu segurando minha mão e acariciando-a com o polegar.
Notei que ora ou outra ele ficava me encarando por um tempo com um sorriso enorme no rosto e mesmo eu fingindo não perceber, era quase impossível não ficar corada quando se tinha um homem lindo e maravilhoso daquele te encarando de forma encantadora.
Estava ficando um pouco tarde e insistiu para que eu fosse na casa dele, para conhecer o local sem nenhum tipo de segundas intenções. Nós quatro sabíamos onde isso ia parar tanto que ficamos rindo da cara de indignação dele por um tempo.
- Não repare a bagunça. – disse assim que entramos em seu apartamento. – Eu não tive tempo de arrumar e minha mãe não queria vir para cá enquanto eu não estivesse aqui.
- Está tudo bem. – sorri.
- O que acha de um tour pelo apartamento? – ele me olhou sugestivo.
- Seria ótimo.
Passamos por cada cantinho da casa, desde a lavanderia até os quartos. Era um lugar muito maior que o que eu morava e talvez até bem mais aconchegante que o meu. Cada detalhe do lugar me lembrava do adolescente, aquele que adorava qualquer tipo de banda e era fascinado por fotografia, tanto que a parede do quarto dele, em que ficava sua mesa com computador e outros utensílios, era repleta de fotografias. Foi quase impossível não notar que eu estava na maioria delas, tanto adolescente acompanhada dele, quanto sozinha depois de adulta. Qualquer pessoa que visse tudo aquilo pensaria que é do tipo obcecado que fica checando os passos da garota 24h por dia, mas do meu ponto de visto ele era só um cara muito apaixonado.
Seus braços se enroscaram em minha cintura, puxando meu corpo de encontro ao seu. Ele apoiou o queixo em meu ombro e intercalava entre beijos fracos e chupões no meu pescoço.
- E pensar que eu esperei praticamente minha vida inteira para estarmos assim, só nós dois. – ele sussurrou.
- Você não foi o único. Ainda me culpo por não ter percebido que gostava de você antes de toda aquela confusão.
- Já parou para pensar que talvez fosse para ser assim? – ele me virou de forma que ele pudesse encarar-me. – Veja a Eleonor e Jenna. Elas namoraram por tanto tempo no colegial e agora são apenas amigas. Lembra como elas se amavam? Era quase o mesmo que nós dois.
- É diferente.
- Por que é diferente? Por que elas são mulheres? – ele disse divertido.
- Não. – bufei. – As pessoas não tem a mesma intensidade de amor que as outras, eu não acredito nisso.
- Eu sim. – ele deu de ombros. – Eu pensava em você todos os dias, a todo o momento. Eu via você em lugares impossíveis, foi aí que resolvi que se eu ia te imaginar em lugares impossíveis, porque não te ver nos lugares possíveis? Aí comecei a meio que te perseguir.
- Ainda não entendo por que você não tentou falar comigo. Tudo bem que você está muito diferente do bobinho do colegial e como está diferente, mas mesmo assim, devia ter tentado conversar comigo, me feito lembrar quem você era.
- E você iria conversar comigo amigavelmente se eu tivesse me aproximado?
- Sim... Eu acho.
- Eu não seria um cara apaixonado de verdade se não tivesse tentado, mas você era uma garota difícil, , parecia até que sentia, porque todas as vezes que eu tentava falar com você, você simplesmente me dava um passa fora e sumia por alguns dias. Eu até cheguei a pensar que você sabia que era eu, mas Moira disse que você não fazia ideia de como eu estava, então não passava de algo da minha cabeça.
- Talvez isso tenha sido para o nosso próprio bem. – sorri fraco. – Se tudo tivesse se resolvido antes, eu não voltaria a conversar com e jamais descobriria sobre Moira...
- E você não estaria com esse idiota do seu namorado.
- Sim. – encolhi os ombros. – Mas eu não quero falar sobre ele. – sussurrei em seu ouvido tentando parecer sedutora. – Quero falar sobre nós dois. e .
- Ótimo. – ele sorriu. – Porque eu também.
Parecia impossível, mas nossos corpos se colaram mais ainda e os segundos seguintes foram apenas roupas sendo jogadas pelo quarto e respirações ofegantes acompanhadas de movimentos lentos e prazerosos para ambos.
Podia ser o amor ou apenas o calor do momento, mas fora melhor do que eu imaginava. Melhor do que qualquer outro e se eu contasse isso a alguém, é óbvio que iriam me dizer que era o amor que me fez entrar nesse estado de felicidade imensa após termos “ficado” juntos.
Eu sabia que não era certo, e como sabia, mas não era como se eu fosse me arrepender depois porque isso estava fora de questão. Quando eu teria outra oportunidade de dormir com se eu recusasse-o agora? Talvez nunca. Não que eu não quisesse que isso tivesse acontecido hoje, porque eu queria muito, desde o momento em que nos encontramos na festa, mas um peso na consciência bateu assim que me lembrei de que ele poderia se sentir usado por transar com uma pessoa comprometida. Tentei pensar em Bruce e no quão arrasado ele ficaria quando soubesse, mas não era como se assim que eu o visse eu fosse correndo contar a ele porque eu não iria. Isso era algo que estava há anos luz de distância dos meus pensamentos.
A única coisa que eu queria era aproveitar o momento, o calor que os braços de ao redor do meu corpo nu emanavam, seu cheiro misturado ao meu, sua respiração tão descompassada quanto a minha e os beijos calorosos que trocávamos. No momento nada mais importava. Não existia Bruce e mais ninguém, apenas nós dois e o nosso amor.
+++
Fazia exatamente dois meses que e eu estávamos saindo e todos ao nosso redor sabiam disso, exceto Bruce. Era engraçado porque até meus pais sabiam disso, enquanto Bruce não, e o mais engraçado é que eles não falavam nada, exceto insistir para que eu terminasse com meu atual namorado sem que o mesmo descobrisse sobre a traição e ficasse fulo da vida. Acabamos que descobrindo que a garota de Eleonor era Sophie e ambas agora estavam quase começando algo sério, o que deixou todo mundo feliz com a notícia.
As coisas para mim não estavam nada fácil. Eu tinha que conciliar meu tempo com e Bruce, e de bônus o meu trabalho, então para que eu não me sentisse uma puta (mais do que já estava me sentindo), chegamos à conclusão de que Jenna fingiria ser namorada ou coisa assim de enquanto Moira e – improvável, todos sabemos -, fingiriam ser um casal, assim poderíamos sair todos juntos e Bruce não ficaria com ciúmes dos dois, se bem que ele fingia ignorar qualquer coisa em relação a . Eles se davam bem, mesmo Bruce não percebendo os olhares de ódio que nos lançava sempre que estávamos em uma situação mais amorosa. Por vezes eu cheguei a ficar incomodada com isso, mas disse que eu não precisava me chatear com isso pois ele sabia a quem eu realmente pertencia e que seria questão de tempo até meu atual namorado estar fora de jogo.
- Vou viajar no fim de semana. – disse contra minhas costas nuas.
- Para onde?
- Zimbábue. Eles estão fazendo uns trabalhos voluntários por lá e eu me inscrevi nele há alguns meses, mas pensei que eles nem chamariam mais já que passou tanto tempo.
- Talvez só agora eles tenham precisado. – virei meu corpo de frente ao seu. – Quem sabe eles precisem de um homem forte para ajuda-los.
- Forte e bonito, não se esqueça. – ele sorriu malicioso.
- Forte, bonito e egocêntrico. – dei um tapinha em seu ombro.
- Mas é claro. – ele sorriu. – Enfim, eu queria que você fosse comigo.
- Eu não posso, já te disse milhões de vezes.
- Você tinha dito que ainda não tinha tirado suas férias. – ele choramingou.
- Eu ainda não tirei porque Bruce quer ir viajar para a Califórnia e eu não quero ir. Adiar minhas férias é o único jeito de adiar qualquer viagem de quilômetros ao lado dele.
- Sou eu ou esse cara é um empata foda? – ele disse bravo. – Que merda, . Às vezes eu tenho vontade de esfregar a cara dele no asfalto até que aquela barba saia e ele fique com o rosto parecendo bunda de bebê.
- Não se atreva. – fingi estar brava. – Você não percebeu que eu tenho um fetiche por caras barbudos?
- Então teremos uma surpresa quando eu voltar. – ele sorriu.
- , se você fizer algo com a sua barba, eu vou te matar. – rosnei.
- Vamos comigo e eu não farei nada.
- ...
- Se você for, vai poder ficar de olho em mim e na minha barba e ver se estamos bem, e é claro, pode ficar de olho em outros lugares...
- Idiota. Você quer minha companhia no sentido malicioso ou no não malicioso?
- Eu quero você independente de qualquer sentido. – ele me beijou.
Continuamos nossa pequena discussão até sermos rudemente interrompidos por uma ligação de Bruce, o que fez levantar raivosamente da cama e sumir porta a fora.
- Oi, meu amor. – disse fingindo empolgação, mas eu não estava nos meus melhores dias de fingimento.
- Oi, linda. Você está onde?
- Érm... – pense rápido, . -... Estou na casa do , os pais dele vieram para uma passagem rápida e disseram que queriam me ver.
- Ah. – ouvi um suspiro baixo do outro lado da linha. – Eu vou pra Londres na quinta.
- Mas tínhamos combinado de que eu iria até Manchester ver você. – disse sem qualquer animação. De qualquer forma ele ainda estaria no meu maldito fim de semana.
- Eu sei, mas aconteceram algumas coisas e eu achei melhor ir até você.
- O que aconteceu? – perguntei exasperada.
- Nada grave, amor. – ele disse tranquilo. – Só estava pensando em umas coisas e achei melhor ir até Londres.
- Hum.
- Você podia combinar com seus amigos para irmos jantar naquele restaurante em Nothing Hill, o que você acha? Alguns colegas aqui de Manchester estão indo esse fim de semana a Londres e eu pensei que pudesse ser algo bem bacana.
- Claro, claro. – respondi entediada. Provavelmente ele iria querer empurrar algum amigo idiota dele para alguma colega minha de trabalho e isso não era a primeira vez. Tudo bem que uma das vezes resultou em um noivado que estava muito bem por sinal, mas eu não gostava de bancar a cupido. – Ah, droga.
- O que foi?
- vai viajar esse fim de semana.
- Isso é... Mal. – seu tom de voz denunciava que ele estava feliz por não poder comparecer. Bruce estava muito mudado comigo, não brigávamos mais e ele não ficava possessivamente com ciúmes de mim, mas ele ainda não gostava de .
- Sim. – apareceu no batente da porta vestindo uma bermuda enquanto comia uma maçã. Nunca um homem comendo uma maçã tinha sido uma imagem tão sexy para mim. Eu parecia até uma adolescente com fetiche pelo professor gato. – Bruce, eu tenho que desligar, mais tarde nos falamos.
- Tudo bem. Eu te amo, até mais.
- Até.
Desliguei o celular e o joguei na poltrona perto da porta. Por pouco ele não caiu fora dela. caminhou lentamente até mim e se sentou na ponta da cama, a uma pequena distância de mim.
- O que ele queria? – ele disse de costas para mim.
- Avisar que vai vir pra cá na quinta e pediu que eu combinasse com o pessoal para irmos jantar num daqueles restaurantes chiques em Nothing Hill.
- EU NÃO ACREDITO. – ele se levantou da cama com o corpo tremendo e começou a andar pelo quarto.
- O que aconteceu, ?
- Você é muito ingênua mesmo.
- , você pode me dizer o que ‘tá havendo?
- Eu ainda não sei o que ‘tá acontecendo, mas se ele fizer o que eu estou pensando, eu juro que te jogo nos meus ombros e fujo desse país com você.
- Pra que tudo isso? – gargalhei. Ainda era engraçado vê-lo com raiva.
- Vamos esperar até o dia do jantar para ver se eu não estou me precipitando. – ele começou a mexer nas cômodas e mesas atrás de algo e passou a fazer uma bagunça maior do que já estava. – Cadê meu celular?
- Tá carregando no seu laptop na sala, por quê?
- Vou cancelar minha viagem. Nem fodendo que eu vou viajar enquanto esse sanguessuga executa o plano dele. – ele correu até a sala e logo voltou com o celular em mãos. – Eu vou matar ele se ele fizer o que eu tenho quase certeza do que vai fazer e depois disso ainda fujo com você.
- , para de graça. – eu ri. – É apenas um jantar, o mínimo que ele pode querer fazer é tentar arranjar alguém para a Moira já que você não o convenceu sobre seu namoro com ela.
- É claro, minha linda. – ele me beijou. – O mínimo que ele pode fazer é arranjar alguém para minha namorada de mentirinha e o máximo você nem queira imaginar.
Os dois dias até a chegada de Bruce foram maravilhosos. e eu fizemos coisas típicas de casais clichês, e devo admitir: eu adorei.
Fomos ao cinema, e mais namoramos do que assistimos ao filme. Ele me levou para jantar em um restaurante bem distante do centro de Londres, e ficamos por horas a fio vendo as estrelas e falando sobre o que esperávamos do futuro. Eu me abri com ele e disse que realmente esperava que até meus trinta anos eu estivesse casada e planejando ter filhos. O casamento não era necessário, mas era necessário ter um relacionamento extremamente sólido, como se realmente estivéssemos casados. disse que ele esperava que com trinta anos já tivesse pelo menos um filho, e que até lá ele pudesse se abrir com sua mãe e contar a ela qual era o real trabalho dele.
Nesses dois dias tivemos nossa “primeira” discussão, e foi muito melhor do que brigar com Bruce e ouvi-lo falar merda na minha cabeça por horas, até eu me cansar e ir me desculpar com ele mesmo não estando errada. Eu disse a que ele deveria contar a mãe dele sobre o real emprego dele antes que fosse tarde demais, pois já tinham se passado quase sete anos, e ela achava que o filho trabalhava com publicidade, quando na verdade era um biólogo que trabalhava nas horas vagas em instituições que combatem a fome e doenças. Ele não concordou, é claro, disse que era melhor que ela não ficasse sabendo de nada, mas eu insisti, e acabamos brigando. Diferente do comum, percebeu que eu estava apenas tentando ajudar, e logo em seguida me pediu desculpas e nos reconciliamos. Nada de sexo como geralmente acontecia nas minhas discussões com Bruce. veio todo carinhoso, e disse que estava errado e que na hora certa ele contaria tudo a mãe dele, e depois ficou o tempo todo me tratando como um bebê.
Eu acabei achando coisa de momento quando disse que cancelaria a viagem para poder ir ao jantar no fim de semana, e só fui me dar conta que era verdade, quando cheguei na casa dele e ele estava ao telefone falando com o cara que organizava as viagens.
Quando Bruce chegou na quinta à tarde, ele convidou para saírem e tomar uma cerveja em um pub perto do meu apartamento, e ele deixou explicito que as namoradas estavam proibidas de irem. Como se eu e a falsa namorada estivéssemos com um pingo de vontade de comparecer e acompanhá-los em beber.
Quando contei as garotas sobre o jantar, nenhuma delas estava realmente com vontade de ir, mas fizeram isso apenas porque eu insisti, e muito. Na verdade nem eu queria ir, mas não teria nenhuma alternativa, e ele era meu namorado, então era como uma obrigação da minha parte ir.
Bruce dirigiu todo empolgado até Notting Hill, e não parava de falar coisas aleatórias das quais eu apenas assentia. Cinco minutos após nossa chegada, as meninas e chegaram. Era palpável a diferença entre Bruce e . Talvez eu estivesse acostumada com o Bruce tatuado e de regata, e por isso achava que ele ficava extremamente forçado quando usava camisa social tapando todos os desenhos. Já , além de ter uma beleza natural, ficava bem com qualquer roupa.
Cumprimentei as meninas e logo chegamos a nossa mesa, onde encontramos dois amigos de Bruce, que por sorte, estavam acompanhados. Ele nos apresentou a todos e logo fizemos nossos pedidos.
Moira separava e eu, e notei que a todo o momento ele me olhava um pouco nervoso.
Em certo ponto da noite, estávamos todos um pouco altos por causa do champanhe e alguns drinks, Bruce chamou a atenção de todos, fazendo ficar inquieto em seu lugar. Subitamente me toquei do que queria dizer sobre Bruce querer marcar um jantar com todos os meus amigos. Se não podia acreditar que meu namorado iria fazer o que estava prestes a fazer, eu muito menos. Era precipitado e estúpido o que ele tinha em mente. Tínhamos algo há muito tempo, mas isso não deixava de ser precipitado. A maioria das pessoas que fazem isso com tão pouco, logo acabam se arrependendo de tê-lo feito, e eu tinha certeza que conosco não seria diferente.
- Eu queria aproveitar o momento e aproveitar que todos vocês estão presentes para eu fazer isso. - Bruce disse com orgulho. Olhei rapidamente para todas as mulheres na mesa, e principalmente minhas amigas, estavam com as bocas abertas em surpresa. - Há um ano e pouco eu conheci uma garota incrível no pub do meu pai, e foi impossível não ficar fascinado por ela no momento em que ouvi sua voz perguntar se eu ia sempre lá. - as acompanhantes dos amigos de Bruce soltaram suspiros apaixonados, mas eu continuei encarando meu namorado sem esboçar reação. - No início, eu devo admitir que foi mais como uma atração por ela, mas em questão de dias eu comecei a realmente gostar dessa mulher, até acabar me apaixonando por ela. Eu sei que pode parecer idiotice nos tempos de hoje, e muitas pessoas nem fazem mais isso. - ele olhou-me de forma apaixonada. - Mas eu realmente queria fazer isso, porque uma garota como a merece isso. Uma mulher fiel, empenhada e maravilhosa em diversos aspectos merece um pedido formal. - ele respirou fundo e se aproximou mais um pouco de mim. - , você quer se casar comigo? – ele mostrou uma caixa com uma aliança.
Algumas deram gritinhos de felicidade, enquanto outras (Sophie, Eleonor, Jenna e Moira) ainda estavam estáticas. Eu? Eu estava querendo era sumir, isso sim.
Então era isso mesmo que quis dizer quando eu contei a ele sobre o jantar. Eu era mesmo uma ingênua por não ter percebido as reais intenções dele. Como ele podia fazer isso comigo? Pedir-me em casamento sem nem termos nunca conversado sobre isso? Cadê aquele cara que fazia planos do futuro, mas não me incluía neles por saber que ainda éramos algo incerto? Esse cara deveria ter ido pra puta que pariu e deixado esse maldito ao meu lado, só podia.
Eu queria mais do que tudo na minha vida negar. Dizer que não, ou falar que achava cedo e que deveríamos pensar melhor. Se estivéssemos na frente dos meus amigos eu obviamente faria isso, mas por azar, os amigos de Bruce vinham de brinde e eu sabia isso não seria nada legal de fazer na frente de “desconhecidos”.
As duas moças - que eu não tinha feito questão de decorar os nomes – me olhavam com tanta expectativa que eu estava a ponto de oferecer Bruce a elas sem chance de trocas. me encarava com uma expressão de tristeza misturada com fúria, o que me deixou triste, e talvez com um pouco de medo do que ele poderia fazer assim que ouvisse minha resposta.
- Érm... – mordi o lábio e Bruce continuou me olhando com expectativa. Talvez falar um não na frente de todos não seria tão ruim assim. – E-eu aceito. – sorri forçadamente e ele me puxou para os seus braços.
Quando juntamos nossos lábios em um beijo, a única coisa que eu conseguia sentir era repulsa. De mim mesma, é claro. Depois de meses, eu fui perceber que um dos dois estava sendo usado nessa história, e é claro que acharia que era ele, quando na verdade era Bruce.
O jantar prosseguiu com vários comentários sobre o casamento, se eu imaginava que ele iria me pedir hoje, entre outras baboseiras que eu queria apenas ignorar, mas por educação as respondi com a maior paciência do mundo.
permaneceu calado, e apenas conversa com Moira e com quem falasse com ele. Bruce por outro lado estava mais extrovertido do que nunca, e era só sorrisos. Eu vi que ele notou o desconforto de , e que ele estava se aproveitando disso quando começou a falar com sobre ele e Moira se casarem e essas coisas. Eu queria o mandar ir a merda e deixar meus amigos em paz, mas mais uma vez permaneci calada.
Depois de muito insistir, consegui fazer com que o jantar acabasse e fôssemos para casa. Fiquei muito chateada quando apenas deu um rápido beijo no meu rosto e foi embora sem nem me falar “Tchau”. Quando chegamos em casa fui direto para um banho, e fiz questão de retirar a aliança e deixá-la em cima da pia. Eu queria ficar limpa de tudo, e ela era uma das coisas que fazia eu me sentir como se tivesse nadado no Tamisa quando sujo.
- Acho que podíamos contar aos seus pais amanhã. – Bruce disse assim que me sentei ao seu lado no sofá. – Ei, cadê a aliança? – ele segurou minha mão direita.
- Droga. – bati a mão na testa. – Eu a tirei para tomar banho, está no banheiro.
- Ah. Enfim, o que acha de irmos até lá e eu fazer um pedido formal aos seus pais? – ele sorriu.
- Vamos lá. – bufei. Eu não estava com a intenção de ser grossa, mas seria necessário. – O que acha de conversarmos sobre isso? Sobre o pedido repentino sem ao menos termos cogitado a ideia de um casamento algum dia.
- Qual é, . Eu já vinha pensando nisso há muito tempo, mas não comentei com você, apenas isso.
- Apenas isso? – gritei. – Bruce, você deveria ter falado comigo sobre isso.
- Qual o problema nisso, ? Somos um casal, depois de um tempo de namoro, eles acabam ficando noivos quando as coisas dão certo para eles.
- Com a maioria dos casais é assim, mas não com a gente. Bruce, a gente vive brigando por motivos idiotas, e não tem nem dois anos que estamos juntos.
- Onde você quer chegar com isso? – ele segurou meu braço com certa força, mas eu não disse nada, não daria a ele o gostinho de um “Por favor, me solta, você está me machucando”.
- Eu quero chegar ao ponto de que eu não quero me casar, não agora. – gritei. Não com você, pensei.
- Não estou dizendo que vamos nos casar amanhã, muitos noivados levam anos até se tornarem em casamento...
- Bruce. – bufei. – Eu não quero se grossa, mas você não está entendendo merda nenhuma do que eu quero dizer.
- Então me explique, por favor. – ele soltou meu braço com mais força ainda e ficou andando de um lado para o outro na sala.
- Eu. Não. Quero. Ficar. Noiva. De. Alguém. Que. Eu. Não. Amo. – disse pausadamente.
- Oi?!
- Você ouviu, eu não te amo, Bruce.
- Quanto tempo mais você precisa para me amar?
- Não se pode obrigar uma pessoa a amar a outra.
- Você sabe muito bem sobre isso, não é? Você acha que eu sou algum tipo de idiota que nunca ia perceber que e Moira estão fingindo um namoro, mas eu percebi. – ele gritou.
- E o que eles dois têm a ver com o que eu estou dizendo? – fui para cima dele.
- Deixa de bancar a coitadinha. Você gosta daquele cara, eu sei disso. Eu li seus emails para ele, as cartas que ele te mandou anos atrás, os olhares que vocês trocam. Daqui a pouco vão transar na cama onde dormimos.
- Não diga como se essa fosse a sua casa.
- Porque nunca foi. Me diz, por que você não recusou isso no restaurante?
- Com que cara você ia ficar se eu recusasse seu pedido na frente das pessoas?
- Agora você se preocupa comigo? – ele disse cínico. – Vai se foder. Você é uma egoísta, isso sim. Todo esse tempo eu fui só como um caso de uma noite que se estendeu por anos até esse bostinha do começar a te atormentar.
- Cala a boca. – dei um tapa em seu rosto, e ele logo me acertou em cheio com outro, fazendo-me cair no sofá.
- Você já dormiu com ele? – Bruce prensou meu corpo embaixo do seu e segurou meus cabelos com força. – Já transou com ele aqui nesse sofá? Na cama, na cozinha, dentro do seu carro?
- Isso não é da sua conta. – rosnei. Ele puxou meu cabelo com mais força e eu dei um grito, fazendo-o segurar em meu pescoço como se fosse me enforcar.
- É claro que é da minha conta. A partir do momento que eu sou um possível corno nessa história toda, isso se torna um assunto meu.
- Quer saber? – tentei empurra-lo, mas ele apertou mais ainda as mãos em meu pescoço e eu senti uma ligeira falta de ar. – Eu transei com ele em todos os cantos dessa casa, e se eu pudesse teria ido a sua casa em Manchester e feito tudo isso lá com ele também.
- Vadia. – ele deu mais um tapa em meu rosto. – Você não presta, sabia?
- O sujo falando do mal lavado. – gargalhei. – Me poupe da sua hipocrisia, você é muito pior que eu, mas a única diferença é que você se deixou levar por um rabo de saia... – ele acertou meu rosto com mais dois tapas.
Comecei a estapeá-lo e logo estávamos os dois no chão brigando. Eu não media esforços para acertá-lo com socos e chutes, e ele o mesmo. Bruce não parecia se abater por eu ser mulher. Ele me batia como se estivesse em uma grande briga com um homem.
Eu já sentia o gosto de ferro na minha boca, mas não iria parar até ele parar e sair da minha casa.
Peguei meu laptop em cima da mesinha de centro e joguei nele, e foi tempo suficiente para que eu corresse e me trancasse no meu quarto. Bruce esmurrava a porta com toda a sua força, e eu desejei que houvesse uma escada de incêndio no prédio para que eu pudesse sair por ela e pedir ajuda.
Encontrei o telefone embaixo dos travesseiros e disquei o número de . Pensei em ligar para , mas nas atuais circunstancias não adiantaria nada.
- Oi, , tudo bem?
- . – choraminguei. – Por favor, você precisa vir aqui em casa. – disse soluçando. Pude ouvir o barulho de vidro sendo quebrado, mas não me abalei, por agora.
- , você tá bem? O que tá acontecendo?
- O Bruce... E-ele tá louco aqui...
- Eu tô indo para ai.
Tranquei-me no banheiro só para o caso de Bruce conseguir arrebentar a porta do quarto. Levou uns vinte minutos até eu ouvir vozes me chamando. Continuei trancada, e Bruce parou todo o escarcéu que estava fazendo. Ouvi uma gritaria na sala e mais barulhos de coisas sendo quebradas. O maldito ia destruir minha casa?
- , sou eu, . Abre a porta. – ouvi sua voz abafada. – Ele foi embora, pode abrir agora.
Sai correndo de lá de dentro e assim que vi meu amigo com um corte no lábio e a bochecha vermelha, corri abraçá-lo. Desabei no choro, mais do que qualquer outra vez na minha vida.
me levou para sala e vi Eleonor e Sophie tentando arrumar a zona de destruição que estava por todo o cômodo. Elas me fizeram tomar um banho e pegar algumas roupas para que eu fosse dormir na casa de Sophie. Segundo elas, a casa de qualquer um, exceto de Sophie, seria o primeiro lugar que Bruce me procuraria. Pedi a ajuda delas para arrumar todas as coisas de Bruce, e deixei-as todas na frente da porta de entrada. Caso ele aparecesse por lá, não teria motivo nenhum para entrar já que todas as coisas dele tinham sido postas para fora. queria que eu tacasse fogo nelas no maior estilo americano, e que fizesse isso na frente dele, mas nem com esse plano “brilhante” eu consegui sorrir.
Acordei com meu corpo completamente dolorido, e os olhos inchados de tanto chorar. Eu estava pior do que jamais estive em toda a minha vida. Os cabelos desgrenhados não eram nada perto do lábio cortado e a vermelhidão das minhas bochechas e as marcas pelos meus braços e pescoço.
Depois que chegamos à casa de Sophie, eles me disseram que todos eles partiram para cima de Bruce até consegui-lo por para fora. Por sorte a casa de Eleonor era caminho para a de , e no momento que ele passou por lá para ir até a minha, ele avistou as duas chegando, e logo fez com que elas o seguissem.
Eu contei a elas durante o caminho sobre toda a minha conversa com Bruce, e de como tinha dito a ele sobre , e assim que tocamos no nome do mesmo, a cara de nenhum deles foi boa. Talvez eles estivessem com raiva de mim por ter “aceitado” me casar com Bruce mesmo estando saindo com , mas eles deveriam entender a situação em que eu fui colocada. tentou dizer algo sobre isso, e eu sabia que não seria bom, mas Eleonor disse que ele devia calar a boca e me deixar em paz.
- Ei, dorminhoca, você está melhor? – Sophie entrou seguida de Eleonor e .
- Sim. – dei um sorriso forçado. – Exceto por essa cara destruída.
- Isso é o de menos. Sua casa está pior. – disse divertido, mas ninguém riu. – Brincadeirinha, gente.
- Devemos contar a ela? – Eleonor sussurrou para Sophie, mas não foi baixo suficiente para que eu não ouvisse.
- Contar o quê?
- Nada. – Sophie disse. – Não é nada. Agora não é hora de você se preocupar com isso. Vêm, daqui a pouco as meninas estão aqui.
- E o ?
Não obtive resposta de nenhum dos três, e imaginei que ele não estava sabendo de toda a confusão. Seria melhor, por enquanto, que ele ficasse “de fora” do que aconteceu.
Passamos a tarde toda trancafiados na casa de Sophie, e fazia piadinhas sobre isso, fazendo-me rir em algumas delas. Quem sabe o humor negro de me ajudasse a ficar melhor com toda essa situação.
Novamente eu tive que explicar toda a briga que aconteceu no meu apartamento, e fui obrigada a ouvir Moira dizendo que desde o início sabia que Bruce não prestava. Ela estava quase certa sobre isso, já que ele muitas vezes fora agressivo e possessivo comigo, mas eu também agi de forma errada traindo-o e não conversando corretamente sobre a questão do casamento.
Eu queria ligar para e pedir que ele viesse até a casa de Sophie, mas toda vez que eu tocava no nome dele, todos mudavam de assunto. Estava se tornando algo chato ficar cercada de pessoas me tratando feito uma boneca de porcelana. Eu apenas havia brigado – feio – com meu (ex)namorado, não era nada demais.
Depois de muito insistir, elas me deixaram ir até minha casa pegar algumas coisas, mas eu tive de prometer que não iria ficar por lá. Era pegar as coisas e ir para casa de alguém. Disquei o número de diversas vezes enquanto estava finalmente sozinha no meu apartamento destruído, mas ele não atendeu nenhuma delas. A verdade é que a chamada ia diretamente para a caixa postal.
As coisas de Bruce que estavam para fora do apartamento não se encontravam mais lá, e fiquei com um pouco de medo caso eu tivesse a má sorte dele aparecer por lá justamente enquanto eu estava tentando arrumar a bagunça.
Peguei algumas roupas para ir trabalhar na segunda, e minha bolsa com laptop, portfólios e a mesa digitalizadora. Por sorte, nenhum dano havia acontecido com o laptop quando o joguei em Bruce. Seria uma merda se isso acontecesse, afinal, ele era extremamente caro, e eu não ficaria nada feliz em ter que comprar outro quando teria que comprar outros utensílios domésticos que foram destruídos pelo meu ex.
Assim que tranquei a porta do apartamento, senti uma mão apertando meu braço, e logo me virando, fazendo-me dar de cara com Bruce. Se eu parecia um monstro pela manhã, ele estava um milhão de vezes pior. Suas olheiras que normalmente eram bem claras estavam escuras e mais fundas, e ele tinha um dos olhos roxo, e cortes no lábio.
- , a gente precisa conversar. – ele disse em tom de súplica.
- Não temos mais nada para conversar, Bruce. – tentei passar, mas ele me prensou na parede.
- Temos muito a conversar. Não podemos acabar assim, .
- Não me chame mais de . – rosnei. – Não me chame de forma alguma. Suma da minha vida.
- Você está percebendo a merda que você fez? – ele me encarou de uma forma quase psicótica. – Você se recusou a casar comigo, e o pior de tudo, me traiu, e eu quem sou errado? – por um lado era totalmente verdade.
- Sim, você quem é o errado. Bruce, tínhamos que ter conversado sobre isso antes, e a discussão de ontem não precisava ter acontecido se você tivesse entendido que eu não queria me casar. Eu tenho apenas vinte e três anos, não tô pronta pra isso, me desculpe se você esteve pronto o tempo todo.
- Desculpas? – ele riu cínico. – Eu posso até de desculpar pelo casamento, mas não pela traição.
- Que seja. – empurrei-o para o lado, e mal dei um passo quando ele me puxou novamente.
- É isso que você quer? Que terminemos assim?
- Bruce, uma hora ou outra eu ia terminar com você. – respondi exausta. – Eu amo o , é com ele que eu quero ficar, eu só estava... Tentando ajeitar as coisas para que pudéssemos terminar de forma amigável, mas pelo visto seria impossível.
- Há quanto tempo vocês estão saindo juntos? – ele me encarou profundamente e notei seus olhos marejarem.
- Uns dois meses, por aí.
- Você em algum momento chegou a pensar em mim? – neguei com a cabeça e uma lágrima escorreu pelo rosto dele. – Foi o que eu imaginava.
- Era só isso? Posso ir embora agora? – perguntei irritada.
- Sabe, , se tem uma coisa que eu realmente me arrependo é ter te amado como eu jamais amei garota alguma.
- Se arrepende de ter me agredido também? – arqueei a sobrancelha. – Eu acho que não, porque essa não foi a primeira vez, e se tivesse se arrependido da primeira não teria feito isso como das outras vezes.
- Mas é claro que eu me arrependo. – ele gritou. – Você me tira do sério, garota, não é minha culpa se você falou tudo o que falou.
- Falei porque você estava pedindo. Agora vai embora.
Empurrei-o com força para o lado e fiquei feliz pela minha vizinha estar desembarcando do elevador. Entrei correndo e achei que Bruce me seguiria, mas ele me deu as costas e andou em direção as escadas.
Dirigi até a casa dos meus pais, e fui tentando ligar para o caminho todo, mas ele não me atendeu, novamente. Deixei algumas mensagens de voz, e até liguei no telefone da casa dele, porém não obtive resposta.
Expliquei para os meus pais – sem detalhes, é claro – o motivo de eu ter saído do meu apartamento. Meu pai, obviamente, ficou muito bravo com o que Bruce fez, mas não disse nada mais, já minha mãe sabia que eu estava escondendo algo, e fez questão de me ajudar a arrumar minhas coisas no quarto.
- Filha, você sabe que pode contar qualquer coisa para mim, não sabe?
- Sei, mãe. – bufei. Ela iria começar com essa história de que ela sim é minha amiga, e que eu deveria contar as coisas a ela. – O que a senhora quer saber?
- A verdade. – ela se sentou na cama e fez sinal para que eu me sentasse. – Eu tenho certeza que tem algo mais nessa briga sua com o Bruce.
- Já te contei tudo, mãe.
- ...
- Eu contei a ele sobre o . – ela me olhou com os olhos arregalados, e abriu a boca para dizer algo mais eu a interrompi. – Ele estava pedindo por isso. Eu contei a verdade a ele, e foi ai que começamos a brigar.
- Ele te bateu?
- Não.
- Por que tem algo me dizendo que sim?
- Eu vou saber?
- Ok. – ela deu de ombros. – Já contou ao tudo isso?
- Ele não me atende, eu estava pensando em ir até a casa dele.
- Melhor não, querida. Talvez seja melhor você dar um ou dois dias para ele pensar. Se ele não está te atendendo, é bem provável que não esteja atendendo aos outros também, então ele não sabe ainda que você não está mais noiva.
- Não sei, mãe, estou com um pressentimento ruim. – deitei minha cabeça em suas pernas e ela mexeu em meus cabelos.
- Por que, querida?
- Sei lá, é só algo dentro de mim, não sei explicar, é como se algo fosse dar errado.
- Não é nada, meu amor, talvez você ainda esteja cansada. Melhor você dormir um pouco, eu te acordo para o jantar.
Arrumei a cama e fiquei deitada embaixo das cobertas, chorando, obviamente. Eu não parava de pensar em como estava se sentindo com tudo isso, e não queria nem imaginar. É claro que ele estaria pensando que eu era uma vadia que só usou ele todo esse tempo, e pensar que no início eu quase provei dessa mesma sensação. Tentei novamente ligar para ele, porém não recebi nenhuma resposta. Mandei mensagens, e até emails, mas nenhum meio de comunicação viável fez-me obter uma resposta da parte dele.
Minha única opção seria ligar para os pais dele, era bem provável que ele tivesse ido para lá. No lugar dele eu faria (e até fiz) o mesmo.
- Alô?
- Oi, Senhora , é a . – disse nervosa. Eu não sabia o quanto ela sabia sobre minha relação com o , e se ele estivesse lá, há essas horas ela já estaria sabendo de tudo. – está?
- Olá, querida. – ela disse normalmente. – O não está aqui.
- Não? – perguntei surpresa. Se ele não estava lá, e não estava com nenhuma pessoa que ambos conhecíamos, onde mais ele poderia estar?
- Não. Ele não te avisou?
- Avisou...?
- viajou ontem à noite.
- Ontem?
- Sim. Ele ligou aqui, e nos falamos muito rapidamente. Ele não disse para onde estava indo, apenas disse que iria viajar e que não teria nenhum jeito de entrar em contato com ele.
- Érm... Ãn... Tudo bem então.
- Aconteceu algo?
- Não, não. Muito obrigada. Até mais.
- Até, querida.
Só podia ser algum tipo de pesadelo dos mais horríveis, daqueles em que você acha que ele é real e não consegue acordar. Essa era a única explicação.
Era óbvio que ele ficaria chateado, mas não pensei que ele chegaria a ponto de sumir do mapa de forma que ninguém o encontraria. Não desisti de enchê-lo de recados e emails, continuei mandando até o sono vir, mas parecia que ele não estava ajudando, porque tudo isso só me deixava mais acordada do nunca.
estava fazendo comigo exatamente o que eu fiz com ele anos atrás. Ele estava fugindo sem me avisar, não apenas me rejeitando, mas me ignorando. Eu estava provando do meu próprio veneno, da minha rejeição e tudo o que fiz para ele, estava sendo mandando de volta, talvez de uma forma mais dolorosa.
Comecei a sentir um frio no corpo todo mesmo estando agasalhada e embaixo das cobertas. As janelas e portas estavam fechadas, não tinha porque eu ficar com frio se não estivesse com febre ou algo do tipo, mas eu tinha as minhas duvidas do que estava acontecendo. Eu estava no lugar de , sendo abandonada, rejeitada e ignorada. Eu fora rapidamente “apagada” da vida dele por causa de um cara que eu sequer nutria um sentimento maior. A dor sentida não era apenas física, era também psicológica, assim como a queda de temperatura que meu corpo sofreu.
Então era isso. tinha se tornado no meu inverno em pleno verão de sol que tínhamos tido por poucos meses. Eu não era a única que fora um inverno de frio cortante que trazia dor a cada ventania. Ele também era o meu, e isso doía mais do que qualquer tapa que eu recebi na noite passada. Mais do que qualquer ofensa dita por Bruce. Mais do que tudo no mundo.
Agora sim eu sabia qual era a sensação de ser ignorada, e ela não era nada agradável comparada a sensação de ser amada.
Seria clichê demais dizer que em um mês minha vida estava uma merda? Sim, seria, mas era a mais pura verdade. Em um mês muitas coisas mudaram na minha vida, e eu estava surpresa que em trinta dias eu pudesse ter mudado tanto. Para começo de tudo, eu me obriguei a mudar de apartamento, e agora morava no mesmo prédio que Moira, o que significava que ela vivia mais na minha casa do que na dela. Dediquei-me mais do que nunca ao meu trabalho, e graças a isso consegui uma promoção. Trabalhei bastante na questão de esquecer , mas me dei conta de que isso não seria possível; se eu não me esqueci dele por anos, porque agora esqueceria?
Não obtive qualquer notícia de Bruce, exceto uma ligação furiosa da mãe dele, que eu logo mandei pastar e contei a ela tudo o que o filhinho me fez, talvez ela não tenha acreditado, mas eu não queria mais saber dele e muito menos da família dele.
Por conta da carga enorme de trabalho, eu parei de fazer coisas rotineiras como uma rápida caminhada após o trabalho e aos fins de semana, e por conta disso acabei ganhando peso já que eu sobrevivia de comida congelada e fast food, e não era por preguiça, isso que acabava comigo. Eu não tinha tempo nem para cozinhar. Eleonor disse que tudo isso era por conta de , por eu estar fazendo coisas demais para não pensar nele, mas mesmo estando atarefada, ele ainda estava nos meus pensamentos.
Muitas vezes eu sonhei com nós dois vivendo felizes e com um filho, enquanto eu estava grávida de mais um. Era sempre o mesmo sonho. , eu, e dois filhos. O cenário era sempre diferente, mas os protagonistas dele eram sempre os mesmos.
Estava dez minutos atrasada para a consulta com Moira na ginecologista, e quando coloquei meus pés na sala de espera, vi minha amiga me fuzilar com os olhos por cima da revista em que lia. Sentei-me ao lado dela, e fui ignorada, então comecei a cutucar sua barriga, e depois de muitos cutucões ela começou a gargalhar.
- Idiota. – ela riu. – Onde você estava? Porque demorou?
- Eu acabei pegando trânsito quando sai do trabalho. – encolhi os ombros. – Já nos chamaram?
- Não, a consulta vai atrasar um pouco porque tem uma moça com ela fazendo uns exames.
- Hum.
- Tô meio nervosa com esse exame. – ela disse baixinho.
- Por quê?
- Minha menstruação não vem tem um tempo, basicamente desde o dia que eu e ... Transamos. – ela disse envergonhada.
- Oi?! – disse um pouco alto. – Vocês dois...? Não acredito. Você não me contou por quê?
- Vergonha, é claro.
- Agora eu quero saber tudo. – sorri. – Todos os detalhes.
- Argh. – ela bufou. – Diferente do que foi com você, pra mim foi muito bom, mas isso não podia ter acontecido.
- Qual o problema nisso, Moira?
- Ele é o , não precisa ter um motivo para ser um problema. Ele vivia me chamando de vadia e essas coisas, ai na primeira oportunidade ele vai lá e me faz dormir com ele.
- Então ele te obrigou?
- Não... Eu... E-eu meio que quis. – ela repuxou o lábio em uma careta fofinha e eu apertei suas bochechas. – Mas essa foi à única vez.
- Vai ficar tudo bem, deve ser só um atraso normal, vive acontecendo isso comigo.
- Imagine só, eu sendo mãe de um filho de .
- Seria bem fofo ver um bebê dando um jeito nas duas pessoas mais vadias que eu conheço. – sorri cínica.
Ela continuou a discutir sobre a possível gravidez, mas parecia que ela queria muito isso, já que tudo o que eu disse para tentar acalma-la não resolveu, e ela permaneceu falando até a médica nos chamar.
A médica fez as perguntas de sempre antes dos exames, e só me dei conta de quanto tempo não ficava com ninguém quando respondi a ela que não tinha relações sexuais a mais de um mês. De nada adiantaria já que eu também não queria ninguém que não fosse .
Fizemos todo o procedimento dos exames, e ela disse que ficariam prontos em duas horas ou menos, então Moira decidiu que queria ir até uma Starbucks. Lembrei-me de como Bruce odiava ir ao Starbucks e sempre dava o mesmo discursinho sobre o lugar.
Conversávamos sobre diversas coisas, e o que eu mais temia aconteceu. A conversa foi parar em um tópico delicado para todos nós: . Ele não tinha só cortado qualquer tipo de relação comigo. Ele fez isso com todos, principalmente com . Obtivemos poucas notícias através dos pais deles, e uma delas foi da mãe dele, dizendo sobre o filho ter mentido por anos sobre a profissão. Ela até perguntou se sabíamos, mas negamos, afinal, tinha dito a ela que ninguém sabia sobre isso, e ele até mentiu dizendo o próprio pai também não sabia. Fiquei contente em saber que ele finalmente se abriu com sua mãe e contou toda a verdade a ela, mas isso também me fez ficar triste já que eu não poderia estar ao lado dele e tentar fazê-lo se sentir um pouco melhor após uma briga com a sua mãe.
- Ficamos pouco tempo todos juntos, e eu consigo sentir falta disso. – Moira disse chateada.
- Isso é tudo culpa minha, sabe, eu não devia ter ficado com os dois, eu devia ter terminado com um para ficar com o outro.
- , não é culpa sua. – ela segurou minha mão. – Se tinha ficado chateado com o noivado, ele deveria ter esperado e depois ter ido até a sua casa para tirar satisfações com você, não fugir feito um adolescente. Eu fiquei brava demais quando ele me ligou no mesmo dia para dizer que estava indo viajar e não queria mais saber de nenhum de nós.
- O problema, Moira, foi que eu agi da mesma forma. Eu fugi anos atrás desse mesmo jeito, e a única diferença foi que eu não liguei para as pessoas para avisar que iria me distanciar. Eu apenas o fiz.
- Mas a situação é diferente, . Você só tinha dezessete anos, ele tem quase vinte e quatro, é um homem adulto, deveria ter pensado não apenas nele, mas em você. Como ele queria ter uma vida ao seu lado sendo que em um momento como esse ele apenas fugiu?
- Eu passei por um momento quase parecido com esse há uns quatro meses quando descobri de vocês dois, e o que eu fiz? Fugi de vocês dois.
- Você não vai admitir mesmo que ele agiu feito uma criançona?
- Érm... – mordi o lábio e encarei sua cara de interrogação. Ele agiu certo, talvez no lugar dele, eu faria o mesmo. Essa era a segunda vez que ele me “perdia” para pessoas diferentes, era comum ele ficar extremamente aborrecido e fazer burrices. – Ele não agiu feito uma criança, Moira.
Moira podia falar tudo o que quisesse de ruim sobre a atitude de , mas para mim ela parecia a certa, em partes. Eu queria que ele estivesse ali ao meu lado, sendo meu homem, com nós dois formando um casal, mas éramos apenas estações diferentes, dois tipos diferentes de inverno, e não apenas um verão. Nada fazia entrar na minha cabeça que ele estava errado, o sentimento de culpa que eu sentia me fazia abominar qualquer outra coisa que pudesse me fazer ficar com raiva dele.
Minha amiga estava tão eufórica com o resultado do exame, que não aguentava ficar parada por alguns segundinhos na cadeira. Aproveitei o momento para rir da cara dela dizendo que ela não estaria tão preocupada em estar possivelmente grávida se o “deslize” tivesse acontecido só uma vez. É claro que ela ficou nervosa demais, e negou mil vezes dizendo que foi apenas uma vez, até contar que outras QUATRO aconteceram depois dessa.
- Por que não faz um teste de farmácia se está tão ansiosa assim?
- É rápido? – ela perguntou com os olhinhos brilhando.
- Sim. Acho que uns quinze minutos. – dei de ombros.
- Você já deve ter feito muito disso né, sua safada.
- Claro. – respondi entediada.
Acompanhei-a até a farmácia, e ela me obrigou a comprar um para mim mesmo eu dizendo que sempre usava proteção. Utilizamos o banheiro da farmácia, e ficamos sentadas na calçada esperando os palitinhos aparecerem nos testes. Aproveitei para fumar um cigarro, e Moira ficou dizendo que se ela estivesse grávida, eu deveria parar de fumar perto dela. Isso foi mais um motivo que me fez achar que ela realmente queria estar grávida, sendo de ou não. Acabou que eu fiquei ansiosa também para saber o resultado do teste dela. Ver a cara que Moira faria ao vê-lo seria impagável. Depois de uns vinte minutos os palitinhos começaram a aparecer, e fiquei extremamente feliz quando apenas uma barrinha azul apareceu no meu, diferente do de Moira que apareceram duas.
Sua expressão foi um misto de felicidade com empolgação que a única coisa que ela conseguiu foi começar a chorar e chamar atenção das pessoas que passavam por nós.
- Parabéns. – abracei-a. – Você será mamãe, quem diria.
- Eu. Não. Acredito. – ela disse apertando-me contra seu corpo. – Eu vou ser mãe.
- Você não é a única que não consegue acreditar. Você? A Moira vadia e irresponsável está grávida...
- Do , mais vadio e irresponsável do que eu. – sua expressão de felicidade sumirá e dera lugar à tristeza. – Eu não acredito que de milhões de pessoas no mundo, eu, justamente eu, fui engravidar dele. Imagina quantas mulheres já passaram na mão dele, e justo eu tive o azar de ficar grávida.
- Calma, Moira, não é o fim do mundo.
- Como não, ? Olha pra minha cara e diz se aquele cachorro vai querer um filho. É claro que não. – ela gritou.
- Mas você quer, e é isso o que importa.
- Eu não vou criar um filho sem pai.
- Quanto drama, Moira. – bufei. – Às vezes pode até ser que ele queira ser pai também.
- OU NÃO.
- Você também não devia confiar tanto nesse teste. É algo de farmácia, e daqui a alguns minutos poderemos ir ao consultório e pegar o resultado oficial.
- M-mas... Eu queria ter esse filho. – ela abraçou a barriga.
- Então para de reclamar, entendeu?
Tentar acalmar Moira sempre foi uma tarefa difícil, por isso era sempre eu quem sofria e ela quem me acalmava. Por diversas vezes ela insistiu em ligar para , mas eu por sorte consegui impedir. Como eu disse, era apenas um teste de farmácia e muitas pessoas diziam que não podia se confiar muito neles, e era isso que ela deveria fazer. Em minha opinião, uma grande parte de Moira queria ter o bebê independente de que fosse o pai, mas a outra queria que o bebê tivesse um pai, talvez pelo fato do pai dela tê-la abandonado meses depois de nascer.
Era comum esse medo nas mulheres, mas ela não precisa surtar tanto por isso. poderia até assumir a criança e as responsabilidades da paternidade, mesmo não estando com ela, ou, ele poderia assumir as responsabilidades da paternidade e ficar com ela. Que eles ficassem juntos era algo que eu realmente queria, seria bem legal vê-los como um casal e com uma grande responsabilidade que a maternidade trazia, já que ambos eram o pior tipo de irresponsáveis já habitados na Terra.
O curto caminho até o consultório foi ruim o suficiente para que eu quisesse me enfiar embaixo do primeiro caminhão que aparecesse. Ela dizia que queria o filho, mas que não iria querer, e até acabei pensando que ela não queria a criança e usava a desculpa de que ele não iria querer. Moira disse que era coisa da minha cabeça, e só se acalmou quando a médica nos chamou até a sala dela, e colocou dois envelopes com nossos nomes na mesa.
- Vocês querem abrir, ou eu posso abri-los? – ela perguntou olhando mais para a Moira enérgica do que para mim.
- Eu quero abrir. – Moira disse exaltada.
- Pode abrir o meu, doutora. – dei de ombros.
Os olhos de Moira corriam pela folha. Ela não estava se importando com qualquer provável doença que os exames pudessem ter encontrado, ela apenas queria achar a folha que diria se ela estava grávida ou não, tanto que ela acabou a leitura primeiro que a médica, e logo começou a chorar.
- Érm... Caso eu estivesse grávida, apareceria aqui, não? – ela limpou as poucas lágrimas e entregou as folhas à médica.
- Sim. – ela assentiu. A médica pegou os exames de Moira e deu uma rápida olhada neles. – Aqui – ela apontou uma parte que dizia sobre essas coisas. – Diz negativo, então você não está grávida.
- Mas... Eu acabei de fazer um teste de farmácia e deu positivo.
- Moira, esses testes não são eficazes em 99,5% das vezes. Ele pode ter mostrado positivo, mas é apenas algo que utiliza somente da urina dos pacientes, diferentes dos laboratoriais que usam da urina e sangue.
- Mas...
- Calma, não é como se você não pudesse ter filhos. – passei o braço por seu ombro. – Pode ter outras vezes, amiga, é só esperar, e além do mais ainda é cedo demais para isso, você não acha?
- É-é verdade. – ela soluçou.
- Seu exame não mostrou qualquer tipo de irregularidade, querida. – ela sorriu. – Já o seu, dona . – ela me encarou. Na maioria das vezes que ela me encarava com um sorrisinho no canto do lábio, era porque um sermão sobre fumar estava vindo, e que eu deveria maneiras nos doces e no álcool. – Também não mostrou nenhuma irregularidade, mas vou te dizer o mesmo de sempre: pare de fumar, e cuidado com o álcool e o excesso de doces...
- Sim, sim. – bufei. – Já sei disso. – sorri de lado. – Mas é tudo muito mais forte do que eu.
- Mas agora é mais importante do que nunca. A nicotina e bebidas alcoólicas irão te prejudicar de agora em diante.
- Como? – perguntei entediada. Eu não era a pessoa mais indicada para esse tipo de suspense. Se eu tinha alguma doença ou coisa do tipo, que ela falasse logo, e não ficasse de ladainha pro meu lado.
- Você está grávida. – ela sorriu e minha boca se escancarou. Eu não duvidava nada que nesse momento meu queixo pudesse ter caído no chão e eu começasse a babar. – De sete semanas exatamente.
- Oi?! – só podia ser algum tipo de brincadeira. Eu nem era famosa para estar em um quadro do Punk’d. Cadê o apresentar para começar a rir da minha cara. – Só pode ser brincadeira. Eu não estou grávida.
- Não é isso que dizem seus exames.
- Mas minha menstruação veio normalmente esse mês.
- No pior dos casos, isso acontece, o que pode ser como um aviso de que sua gravidez pode ser de risco. A maioria das mulheres quando menstruam nas primeiras semanas de gravidez, têm complicações durante toda a gestação, e em algumas vezes, no parto também, o que pode não ser o seu caso.
- É claro que não. Eu não senti nenhum enjoo, nada do tipo.
- Cansaço? Dores musculares e de cabeça?
- Não...
- Claro que sim, . – Moira disse empolgada. Mas não é que a vadia deixou de ser mãe por alguns minutos para passar isso pra mim. – Nos últimos tempos ela andou reclamando de estar muito cansada, e cheia de dores. Quando chegava em casa do trabalho não queria saber de mais nada a não ser dormir.
- Mas é por causa do monte de trabalho que eu ando tendo. Não era nada demais. E meu teste da farmácia deu negativo... – choraminguei.
- Como eu disse para a Moira, esses testes não são totalmente eficazes, como aconteceu de dar positivo para ela, pode acontecer de dar negativo para você, e o resultado final ser totalmente o oposto.
- Mas... É... Eu não posso... Sete semanas são exatamente quanto tempo?
- Quase dois meses.
- É meio óbvio, não, ? – Moira segurou meu rosto. – Você está grávida. Do .
Tentei argumentar com elas duas de todas as maneiras possíveis e impossíveis, mas tudo estava contra mim. Por que Moira não podia estar grávida no meu lugar? Diferente de mim, ela teria um pai para o filho dela já que não tinha fugido pra qualquer canto do mundo sem dar notícias.
Ouvi recomendações diversas sobre como teria que ser minha alimentação dali em diante, e de que eu deveria começar o mais rápido possível com o pré-natal. Moira estava tão empolgada, enquanto eu só queria ir para casa e me suicidar, mas eu ainda tinha que passar pelo tópico de contar aos meus pais sobre a gravidez.
A maior parte das chances era de que quem era o pai do meu filho, enquanto no mínimo 5% indicavam Bruce. Algo em mim, o mesmo que escondeu a minha gravidez, dizia que era o pai, e que não havia chances algumas do idiota do Bruce ser, tanto que desde que comecei a ter Algo com , fiz o possível para não ir para cama com Bruce, e quando acontecia, eu fazia o possível para que eu estivesse protegida o suficiente na hora de ter qualquer coisinha com meu ex-namorado.
Tratei de expulsar Moira assim que botei os pés dentro de casa, e sem tripudiar, ela saiu. Fiquei deitada e comendo por horas a fio até decidir qual seria a melhor forma de contar aos meus pais, mas pelo jeito não havia a melhor forma, tendo em conta que eu era adulta, e sabia quem era o responsável pela minha gravidez. Parecia tão improvável ver pelo ângulo que eu via. Antes eu sonhava em me formar, arrumar um trabalho onde eu fizesse carreira, e logo após isso encontrar meu príncipe encantado e termos uma vida bem sucedida ao lado um do outro, mas a vida passou a perna em mim, e me obrigou a sofrer por amor antes de me formar, ter um trabalho no lugar de uma carreira bem sucedida, e perder meu príncipe encantado duas vezes em menos de dez anos, além de ser abandonada grávida pelo mesmo. Quanta ironia do destino. Quanta merda em tão curto tempo de vida.
Quem diria que aos vinte e três anos a minha vida seria uma merda, estaria acabada. Grávida e abandonada, sem qualquer tipo de defesas depois de ter ido embora. Além de estar grávida, eu tinha um problema maior. Como eu faria para encontrar o pai do meu filho e dizer que a mulher que ele ama/amava e foi abandonada pelo mesmo, estava esperando um filho dele? Eu até imagino o que eu diria... Se soubesse onde ele está.
+++
8 meses, 36 semanas depois.
Meu corpo e eu já estávamos cansados de habitar o sofá da casa dos meus pais há exatamente dois meses. Desde que contei a eles sobre minha gravidez, eu passei a ficar mais tempo na casa deles do que na minha, e com isso vieram Moira, Jenna, Eleonor, Sophie e . Eu sabia que precisava de cuidado dobrado agora seria mãe de gêmeos (isso mesmo, gêmeos, tudo para ajudar, é claro), mas minha família e amigos pareciam impossíveis de se conter. Eles discutiam a todo o momento sobre o nome dos bebês, e eu nunca opinava em nenhum, disse que o nome apareceria de forma sorrateira na minha mente, assim como eles apareceram na minha barriga.
Resolvi ser franca com meus pais e contar a eles de que era o pai. Eu podia ter dito que era Bruce, e eles não iriam me forçar de forma alguma a procurá-lo, mas isso apenas faria ficar mais furioso caso a notícia chegasse aos ouvidos dele. Pedi também para que ninguém contasse aos pais dele sobre isso, e eu fazia o possível para que eles não descobrissem, tanto que não os via desde que minha barriga parecia o dobro de mim.
e eu estávamos empenhados em tentar achar , mas isso estava mais difícil do que acabar com a fome e a guerra. Tentei – enquanto pude – extrair qualquer coisa dos pais dele, mas eles também não sabiam de nada, embora eu tivesse minhas dúvidas de que o Senhor não queria nos contar. Sophie ainda tinha a senha do email de , e tentou investigar em alguma conversa, qualquer mínima citação de um possível lugar, mas o email estava inutilizado desde o dia em que ele fora embora. Meus pais não serviam de ajuda alguma, mas o apoio que eles nos davam era suficiente, exceto meu pai – o menos provável de todos -, que ficava me enchendo e querendo me obrigar a contar aos pais de sobre a gravidez. Isso gerou inúmeras discussões entre ele e minha mãe, que dizia que se eu não queria que eles soubessem, que meu pai deveria respeitar minha decisão. Não era como se eu não quisesse que fosse pai, eu apenas queria que ele soubesse por mim, e não por outra pessoa.
Bruce descobriu da minha gravidez (como, eu não sei), e me obrigou a fazer um teste de DNA para saber se ele era o pai, e eu o fiz com muito gosto só para poder jogar na cara dele que não, ele não era o pai dos meus filhos. Durante um tempo ele ficou atrás de mim para que ele pudesse assumir a criança, o que fez com que eu entrasse com um processo judicial contra ele, pedindo por uma medida protetora para que ele ficasse a muitos metros de distância de mim e dos bebês assim que nascessem. Depois disso ele sumiu, é claro.
Eu já tinha preparado todo o enxoval dos gêmeos, e meus pais até tinham feito um quarto para eles, sem contar que até Sophie e Eleonor (que passaram a morar juntas) resolveram fazer um cantinho para eles. Era impossível não me sentir amada e acolhida por ter pais e amigos tão compreensíveis ao meu lado, mas nada era comparada a falta que fazia. Por dias eu imaginei a reação dele ao descobrir que seria pai, e até o momento nenhuma delas parecia perto de se realizar.
Já havia se passado tanto tempo desde que ele se fora, que Eleonor e Sophie agora moravam juntas e pensavam até em se casar, Jenna estava namorando uma garota francesa que ela encontrou em uma livraria e, Moira e estavam quase se acertando, isso é, se tirarmos as brigas constantes pelo nome dos meus filhos.
- Eu gosto de Shiloh. – disse. – iria gostar também.
- Mas Shiloh não é legal. – Moira contrariou. – Não é mesmo, ?
- Eu não sei de nada. – dei de ombros. Jenna abriu a boca para dizer algo, mas eu a calei. – E você também não sabe de nada. Por que não podemos assistir ao filme em paz?
- Porque precisamos de nomes logo. – Moira apertou minhas bochechas. – Robin é legal...
- John Robin. – sorriu para ela que logo fez cara feia. – Qual é, Moira? John Robin é o nome do carinha no filme do Batman.
- Por que não apenas Robin?
- Porque se vocês querem um nome, tem que ser algo que todos entrem em acordo, isso me inclui. – resmunguei. – E se vocês não me deixarem assistir ao filme, eu vou colocar o pior nome do mundo nele.
- Não existe nome pior que . – Moira disse baixinho.
- Obrigado. – sorriu. – John Robin e Shiloh. – ele sorriu orgulhoso.
- Nem em sonho que você vai escolher o nome do meu afilhado. – Moira deu um tapa nele.
- E quem disse que você vai ser a madrinha? – Sophie disse brava.
- Não é nem preciso alguém dizer isso. – Moira se impôs. – É obvio que EU vou ser a madrinha. – ela disse orgulhosa.
- Se você e fossem casados. – eu sorri maliciosa para ele, que logo entendeu onde eu queria chegar. – Ai até pensaria em você como madrinha, mas por enquanto apenas está cogitado como padrinho, a vaga de madrinha ainda está aberta.
- Você é uma vadia, . – ela rosnou.
- Esse posto é seu. – sorri cínica.
A briga continuou, e eu não consegui assistir ao filme, como sempre. Eu nunca conseguia fazer nada com eles todos por perto. Era sempre a mesma coisa, a mesma briguinha idiota. se divertia demais com isso, enquanto eu apenas fazia o suficiente para não ficar do lado de ninguém, exceto nas partes em que era possível insinuar o casal problema. Alaska (a namorada de Jenna) entrou toda desajeitada e um pouco ofegante na sala, e se Jenna não estivesse cochilando ao meu lado, iria dizer que tinha rolado qualquer ato sexual dentro do carro.
- Eu encontrei. – ela disse um pouco falha.
- Encontrou quem? – andou até ela.
- . Eu descobri mais ou menos onde ele está.
- Onde? – perguntei um pouco alto. – Ele está em Londres?
- Não, mas meu pai é amigo do pai dele, e hoje de manhã eu peguei uma conversa deles dois, e o pai do estava falando sobre ele, e disse que ele está em Amsterdã.
- Mas fazendo o... – tentou questionar. Eu não tinha tempo para questionamentos sobre que caralhos ele estava fazendo em Amsterdã.
- Quanto tempo dura um voo daqui até lá? – levantei-me com dificuldade do sofá.
- Sei lá, umas três horas. – ela disse.
- Ok. – arfei. – Preciso que alguém me ajude a arrumar as malas, e que você – apontei . – Interrogue o senhor sobre exatamente em que lugar ele está.
- ... Não vai ser fácil, você sabe.
- Fácil não vai ser quando eu tiver minha barriga aberta pra tirar meus filhos que anos depois irão perguntar pelo pai deles, então agora, vai. Diga a ele que eu estou grávida se for necessário, mas eu não vou ficar deitada nesse sofá e engordando mais do que eu deveria enquanto o pai dos meus filhos está por ai com um ódio eterno por mim.
- ... Calma, a gente precisa de mais informações, ele pode estar em qualquer lugar daquele país, e... – Moira veio até mim. – Você tem certeza? E se ele não quiser te ver, e disser que o filho não é dele?
- Eu tenho um exame de DNA que prova que o pai não é o Bruce, e se ele não quiser me ver, vai ser obrigado a dar uma boa olhada nessa barriga gigantesca.
- Você está meio desesperada, . – Sophie disse em tom de divertimento. – É melhor se acalmar ou essa barriga gigantesca não vai aguentar chegar nem no hospital.
- Engraçadinha você, não? – Moira provocou-a. – Eu quero ir de primeira classe.
- Quem disse que algum de vocês vai? – encarei-os que me olhavam de forma irônica.
- E quem disse que você vai sozinha? – perguntou. – Estamos juntos nessa, . Ele é meu melhor amigo, o que significa que você não é a única que novamente saiu perdendo nessa. Eu vou com você, e de primeira classe.
- Ok. – mamãe apareceu na sala com o telefone na mão. – Então quantas passagens na primeira classe eu devo comprar? – ela sorriu.
- Oito. – disse.
- Por que oito? – perguntei.
- Pelo tamanho dessa barriga, eu acho que ela precisa de um assento só para ela.
"I never thought that you
Would be the one to hold my heart
But you came around
And you knocked me off the ground from the start
You put your arms around me
And I believe that it's easier for you to let me go
You put your arms around me and I'm home
How many times will you let me
Change my mind and turn around?"
(Arms – Christina Perri)
Depois de insistir, fazer pressão psicológica (e até suborno da parte de ), eu não tive alternativa a não ser contar aos pais de sobre a gravidez para que eles me contassem onde estava. A mãe dele ficou extremamente magoada por eu não ter contado a ela antes, mesmo eu tendo explicado toda a situação, pude perceber certa mágoa entre nós. Como esperado, o pai de sabia onde ele estava, mas não contou à esposa para que ela não acabasse contando à minha mãe, e acabou que quem deixou escapar foi ele, então, ponto para as mulheres.
Compramos as passagens tudo de última hora (pra ajudar), e toda vez que íamos sair de casa acabávamos nos lembrando de algo que fora deixado para trás. Minha mãe nos obrigou a levar uma mala com a roupa das crianças, só para o caso deles se empolgarem demais ao ver o pai e resolvessem nascer. Papai disse que se eu voltasse para casa solteira e sem , eu estaria oficialmente deserdada e removida da família . Admito que fiquei morrendo de medo porque ele não parecia estar brincando.
Implorei para que e Moira não brigassem durante a viagem, e por poucos minutos no avião eu tive meu pedido atendido. Assim que pousamos no aeroporto, pegou um táxi e fomos até um hotel (eu não sabia o porquê deles quererem ficar em um) que ficaríamos hospedados. Obviamente que tivemos de nos dividir, e e Moira insistiram para ir comigo, o que me deixou com a obrigação de tirar sarro de Moira.
- Querida, não precisa dizer que quer ficar de olho em mim quando na verdade você quer ficar de olho em quem tá do meu lado. – sussurrei maliciosamente em seu ouvido.
- Por que você não vai se foder, ? – ela rosnou.
- Eu não posso, estou grávida, lembra? – sorri cínica.
No hotel foi tudo uma tremenda bagunça. Todos queriam ficar perto de mim para verificar se tudo estava em perfeita ordem comigo e com o bebê, mas no fim apenas pode ficar já que Moira não queria dividir o quarto – e a cama – com ele. Arrumei todas as coisas no quarto e tomei um rápido banho, apenas para tirar a sujeira urbana e deixar o corpo um pouco mais relaxado. Alaska logo apareceu por lá, e disse que como não a conhecia, ela tentar se aproximar dele, apenas para ver como ele estava e coisas do tipo. Eu não queria concordar, queria mesmo era ir logo direto ao ponto, mas segundo conselhos recebidos do pai dele, não andava muito receptivo desde nosso “término”, o que me fez ficar mais triste ainda.
Como havíamos chegado pela manhã, acabou que passamos toda a tarde no quarto do hotel, e depois fomos até a piscina tentar tomar um pouco de sol, o que não aconteceu de forma muito legal já que ele se escondeu de nós assim que colocamos nossos pés para fora da porta que separava o hall de entrada da área da piscina.
- Ei, o carinha da recepção disse que está tendo um show em um lugar aqui perto, a gente podia ir, sabe... Aproveitar enquanto estamos por aqui. – Sophie apareceu com um flayer nas mãos.
- Não estou muito a fim de sair. – Moira disse com a voz mole.
- Tá. – Sophie deu de ombros. – Então você fica. – ela sorriu cínica. – Vamos, ?
- S...
- Nada disso. – Jenna se impôs. – Você não pode ir a esses lugares, , será que esse troço gigante no seu corpo não te lembra de que você deve ter cuidados? Além de você, há mais duas vidas das qual você precisa cuidar.
- Deixa de drama, Sullivan, a fica trancada em casa e nós somos a única companhia que ela tem.
- Você está sendo irresponsável, Sophie. E você também será se acompanhar essa louca, .
- Mas...
- Eu acompanho a . – colocou o braço sobre meus ombros e Moira lançou-lhe um olhar mortal. É claro que tinha coisa nessa história de “não estou a fim de sair”. Justo ela quem mais farreia.
- Você? – Jenna riu descrente. – É mais fácil ela ir desacompanhada então.
- Quanto drama. – resmunguei. – Por que não vamos todos juntos, assim todos poderão ficar de olho na minha saliência? – massageei a barriga.
- Que seja. – Moira saiu bufando e começou a rir dela.
- Se ela acha que vou ficar correndo atrás dela na hora que ela quer, Moira Hayes está muito enganada mesmo. – ele disse todo orgulhoso de si. – Vou encher a cara e dormir com a primeira que aparecer, e fica sossegada, , não vou levar ninguém para o nosso quarto. – ele sorriu malicioso.
Todas elas ficaram me apressando para que eu saísse do banho e fosse escolher uma roupa, mas a verdade é que quando saí do banheiro, já tinha uma roupa escolhida para mim em cima da cama. Devia ser de praxe em qualquer lugar do mundo esfriar durante a noite, tanto que os dois casacos que eu vestia não eram suficientes para afastar a friagem do meu corpo.
O lugar estava mais para um pub que era frequentado por adolescentes, e me senti meio velha quando cheguei lá e avistei várias menininhas dançando perto do palco onde um menino de no máximo uns vinte anos tocava uma música lenta no violão. Quando fomos fazer os pedidos, eu não pude nem abrir a boca para pedir um refrigerante porque Jenna já havia me pedido um suco de laranja natural, ela deixou essa parte em grande destaque para todos da mesa. Fiquei feliz por ninguém – exceto – ter pedido qualquer tipo de bebida alcoólica, e eu sentia que meus amigos estavam em uma abstinência alcoólica junto comigo.
Sophie e Eleonor ficaram no maior amasso bem na nossa frente, o que só fez com que e eu nos lembrássemos de que éramos sozinhos, já que Jenna estava com Alaska bem do lado dela, enquanto Moira estava trancada e emburrada em um quarto de hotel, e estava sabe-se lá onde estava enfiado.
- Acho que a gente devia começar a se pegar aqui, . – disse alto para que as duas ouvissem. Sophie levantou o dedo do meio, e ele bufou. – Nojentas. Quanto desperdício de mulher, só por Deus.
- O lesbianismo não é de Deus, , é do capeta. – Alaska cutucou a costela dele.
- Só pode mesmo. – ele bufou. – Por que Deus não fez a Moira lésbica? Por que justo quatro gatas feito vocês?
- Porque ele guardou a Moira para você. – sorri.
- Falando em Moira, , desde quando você tem uma quedinha por ela?
- Desde que a gente ficou pela primeira vez. – ele deu de ombros. – Eu não tenho uma queda por ela. – ele corrigiu bravo. – E-eu... Eu gosto dela.
- Sério?
- Sim, o problema é que ela é meio... Louca e parece que não está nem aí pra mim, só sabe me esnobar na frente das pessoas, aí depois quando estamos sozinhos ela fica querendo se desculpar pelo que fez.
- Owwn, quem imaginaria, falando sobre amor justamente comigo...
- Que teve uma queda por mim, vale ressaltar. – ele disse orgulhoso.
- Como você é idiota, não? É impossível ser fofo, logo tem que ser um completo babaca. – bufei.
- Fofinha. – ele apertou minhas bochechas, mas logo parou o que fazia e assumiu uma expressão séria.
- O que houve, ? – Jenna perguntou.
- E-eu... Eu já volto.
Ele saiu correndo da mesa e se enfiou no meio de um monte de adolescentes que estavam em um aglomerado da pista de dança. Permanecemos a nossa conversa sobre e Moira, enquanto ele parecia que nunca mais voltaria levando em conta que já tinham se passado vinte minutos e nada dele voltar até a mesa. Eleonor acabou ficando um pouco preocupada e saiu atrás dele, e logo se foi uma atrás da outra, até sobrar apenas Alaska e eu na mesa.
- Eu vou ver o que aconteceu com todo esse povo. – Alaska fez menção de se levantar, mas logo todos estavam de volta à mesa. Vale ressaltar que todos – sem exceção – estavam com caras nada amigáveis. – Meu Deus, o que foi que aconteceu? esmurrou alguém?
- Quase. – Jenna bufou. – Acho melhor irmos embora, e está ficando tarde. Você precisa descansar, .
- Qual é, Jen, acabamos de chegar...
- Estamos aqui há mais de uma hora, e eu já perdi a vontade de ficar por aqui.
- Só mais vinte minutinhos. – implorei.
- Só mais vinte minutos, , apenas isso.
Eles todos continuaram com as caras emburradas enquanto Alaska e eu tentávamos fingir que não estávamos ao lado deles. Um moço – que me lembrou muito Bruce na primeira vez que nos vimos – subiu no palco e anunciou a entrada da banda The Turners, fazendo muitas meninas darem gritinhos histéricos. Os garotos deviam ser provavelmente algum tipo de McFly holandês para causar tanta euforia nas garotas. soltou um comentário desagradável que atraiu olhares raivosos de algumas das meninas. sendo .
Os garotos (ou homens, já que estavam longe de parecerem ter dezoito anos) foram subindo um a um, e quando o último deles subiu, senti como uma fisgada no peito. estava entre eles, usando uma jaqueta jeans cheia de bottons e uma camisa do Sex Pistols que eu me recordava de ter usado muitas vezes em sua casa, mas o que mais me surpreendeu foi que ele estava de cara limpa, e quando eu digo cara limpa quero dizer que ele estava sem barba, e me lembrou muito do adolescente e daquele com quem eu passei incríveis meses tendo um “relacionamento” às escondidas.
Ele direcionou seu olhar para nossa mesa, mais precisamente para mim, e notei a tristeza em seus olhos, e ela era a mesma que os habitou no dia em que eu fui embora, e era a mesma que apareceu quando eu aceitei o pedido de casamento de Bruce.
- Eu queria dedicar essa música a uma pessoa que está sentada em uma dessas mesas essa noite, e queria também dizer que sim, você deve levar para o lado pessoal a maior parte dessa letra que eu escrevi no dia em que você partiu meu coração pela segunda vez. – ele disse com rancor na voz, e todo meu corpo estremeceu ao ouvir a voz dele depois de meses.
I'm a puppet on a string
(Sou uma marionete em um fio) Tracy Island, time-traveling diamond
(Ilha Tracy, diamante de viagem no tempo) Could've shaped heartaches
(Poderia ter moldado corações partidos)
They've come to find ya fall in some velvet morning
(Eles vieram te encontrar caída em uma manhã de veludo) Years too late
(Anos depois) She's a silver lining, lone ranger riding
(Ela é um lado positivo, o cavaleiro solitário cavalgando) Through an open space
(Por uma área aberta) In my mind, when she's not right there beside me
(Na minha mente, quando ela não está bem ao meu lado)
I go crazy cause here isn't where I wanna be
(Enlouqueço, porque não é aqui que quero ficar) And satisfaction feels like a distant memory
(E a satisfação parece uma lembrança distante) And I can't help myself
(Não consigo me conter) All I wanna hear her say is "Are you mine?"
(Só quero ouvi-la dizendo "Você é meu?" Well, are you mine?
(Bem, você é minha?) Are you mine?
(Você é minha?) Are you mine? Alright
(Você é minha? Tudo bem)
Meus olhos estavam ardendo, e mesmo com o esforço para não chorar, lágrimas pesadas caíram de meus olhos, e logo eu estava quase tremendo de tanto chorar baixo. Eu não sabia se ele estava com ódio de mim, ou o que significava tudo o que ele cantava, mas eu apenas sentia vontade de chorar. Queria chorar por ter sido uma idiota e tê-lo abandonado quando eu devia ter ficado com ele, por ter sido uma vadia e não ter terminado com Bruce para que eu e ele pudéssemos ficar juntos. Quantas vezes nessa vida eu fui idiota com ele, enquanto não passou de um cara apaixonado que só faltava lamber o chão em que eu pisava? Quantas vezes mais precisaríamos ter nossos corações partidos para que no final ficássemos juntos?
I guess what I'm trying to say is I need the deep end
(O que quero dizer é que preciso me envolver profundamente) Keep imagining meeting, wished away entire lifetimes
(Continuar imaginando encontros, vidas inteiras desejadas) Unfair we're not somewhere
(É injusto não estarmos em algum lugar) Misbehaving for days (Comportando-nos mal há dias) Great escape, lost track of time and space
(Grande fuga, perdi noção do tempo e do espaço) She's a silver lining, climbing on my desire
(Ela é uma luz do fim do túnel, escalando o meu desejo)
And I go crazy cause here isn't where I wanna be
(Enlouqueço, porque não é aqui que quero ficar) And satisfaction feels like a distant memory
(E a satisfação parece uma lembrança distante) And I can't help myself
(Não consigo me conter) All I wanna hear her say is "Are you mine?"
(Só quero ouvi-la dizendo "Você é meu?") Well, are you mine? (Bem, você é minha?) Are you mine tomorrow?
(Você é minha amanhã?) Are you mine? Or just mine tonight?
(Você é minha? Ou minha só por esta noite?) Are you mine? Are you mine?
(Você é minha? Você é minha?)
Os vinte minutos podiam ainda não ter se esgotado, mas quem queria sair daquele lugar agora era eu. Apenas fiz sinal para a saída, e eles entenderam a que eu me referi. Eleonor pediu a conta, e logo estávamos andando em direção à saída. continuou cantando, então resolvi olhar para trás uma última vez, e seu olhar agora não era mais tristeza ou rancor, e sim surpresa. Sua boca estava aberta enquanto ele mecanicamente continuava a tocar seu baixo. Seus olhos foram rapidamente direcionados a minha barriga, e dei-lhe um sorriso fraco e triste, deixando-me ser puxada por .
Quando chegamos no hotel, fui rapidamente bombardeada por perguntas, quando na verdade era eu quem mais tinha a perguntar do que eles. Moira queria saber o porquê de meus olhos estarem vermelhos, enquanto os outros apenas ficavam perguntando se eu estava bem, todos com exceção de que estava sentado quieto em uma cadeira no lado oposto do quarto.
- Foi ele, não foi? – marchei até . – Quando estávamos na mesa e você saiu correndo, foi ele quem você viu? – ele assentiu ainda sem me olhar. – Por que você não me falou nada?
- Porque eu não queria que ele tivesse te visto, não agora, não hoje.
- E como deveria ser? – gritei. – Todos em um parque, fazendo um piquenique como bons amigos e eu logo dizia “olha , tá vendo essa barriga? Tem duas crianças aqui, e elas são suas, ok?”.
- Não, né, . – ele começou a puxar os cabelos e andar pelo quarto. – O que ele ia pensar se do nada visse você assim... Grávida? É claro que ele pensaria que era do Bruce.
- Ou não. – gritei. – sabia muito bem que eu não queria mais nada com o Bruce há muito tempo.
- MAS VOCÊ ACEITOU O PEDIDO DE CASAMENTO DELE.
- PORQUE EU NÃO TIVE OPÇÃO. – dei um soco em seu peito e ele segurou meus pulsos. – Eu não ia negar a merda do pedido na frente dos amigos dele. foi infantil fugindo daquele jeito sem nem me deixar explicar.
- Até que enfim você concorda que ele agiu infantilmente. – Moira gritou. – Agora tem como alguém me explicar que merda aconteceu?
- O que ele disse para você? – ignorei o que Moira disse, e continuei a gritar e tentar me soltar de .
- Não foi muita coisa, ele apenas perguntou como sabíamos que ele estava por lá, e eu disse que foi coincidência, mas ele não acreditou muito. Nisso as meninas começaram a aparecer, e ele começou a gritar que queria que fôssemos embora e que levássemos você.
- Ele estava muito magoado, . – Eleonor disse triste. – Disse que não queria mais te ver, e que não te ver significava não ter ver nunca mais, e que quebraria qualquer outro laço de amizade com quem mais fosse necessário se isso pudesse te fazer sumir da vida dele.
- E-ele... E-ele não pode fazer isso. – choraminguei. – Ele prometeu...
“- , eu vou ser seu amigo... - disse com um sorriso enorme. - Para sempre.
- Você promete? - perguntei.
- Sim, e você? Promete que vai ser minha amiga para sempre?
- Prometo. Você nunca vai me esquecer, ou me ignorar?
- Claro que não. Você também não vai fazer isso comigo, não é?
- Jamais. Você é meu melhor amigo. - abracei-o forte e pelo canto do olho vi nos olhar bravo”.
- As coisas mudam, as pessoas mudam. – Jenna disse. – A única coisa que nos resta é deixar que os pais dele digam a ele sobre sua gravidez.
- NÃO. – gritei. – Se é isso que ele quer... Que eu suma da vida dele, é isso que eu vou fazer, eu vou sumir. Agora será que vocês poderiam me dar licença? Eu quero dormir um pouco... E morrer.
Mesmo com a tristeza se abastecendo das minhas energias, e o cansaço sendo um dos sintomas comuns da gravidez, justamente hoje eu parecia estar impossibilitada de dormir. Eu tive um voo de três horas, nenhum descanso durante a tarde, uma noite tumultuosa e mesmo assim o sono não aparecia.
Eu fiz de tudo para que eu pudesse dormir, mas nada me ajudava. Liguei para os meus pais, li um livro, desenhei, ouvi música, fiquei feito uma estátua na janela, arrumei duas vezes a mala das crianças, tomei um banho na banheira, comi feito um porco, e nada de ficar cansada o suficiente para dormir.
Odiosamente e inconscientemente, comecei a me lembrar dos bons tempos que tive na escola, dos poucos meses que fiquei com , e até tentei imaginar em qual das vezes em que ficamos juntos eu acabei engravidando.
“Mesmo ao longe eu podia ouvir o barulho das ondas se quebrando nas pedras que estavam por perto. O vento bagunçava meus cabelos, e da menininha que estava ao meu lado, enquanto mais à frente o menino brincava de enterrar coisas na areia. Ouvi o barulho de um carro estacionando no cascalho, e logo as duas crianças correram até o local de onde vinha o som. Minutos depois apareceu, ele estava com uma beleza angelical, algo que eu jamais pudera imaginar, e em seu colo estava a mesma garota, sem um rosto definido, e agarrado em uma de suas pernas, o menino ria enquanto era levantando enquanto caminhava. De mãos dadas com ele estava uma mulher de cabelos negros e pele morena, com um belo, porém triste, sorriso.
- Érm... Oi. – ele disse nervoso.
- Oi. – não me obriguei a sorrir ou ser educada e cumprimentar a mulher ao lado dele. – As coisas deles estão ali – apontei duas pequenas malas no fim da escada a qual eu me sentava.
- E-está tudo bem com você? – ele gaguejou.
- Sim. – respondi seca. – Quero os dois aqui no domingo à noite.
- Eu pensei em trazê-los aqui na segunda depois da escola.
- O acordo judicial diz que você os pega aqui na sexta à tarde e os trás no domingo à tarde.
- Mas eu só vejo vocês... Quer dizer, só os vejo de quinze em quinze dias.
- Isso não é problema meu.
- . – ele deixou a mulher e as crianças para trás e caminhou até mim. – Por favor. – ele disse baixinho. – Não estou pedindo isso por mim, estou pedindo por eles.
- Você me ajudou quando eu pedi ajuda por eles? – rosnei. – Não, , você apenas fingiu que nenhum de nós existíamos, e depois viu a cagada que fez e resolveu correr atrás dos seus filhos depois de quanto tempo mesmo? Ah, dois anos. – sorri cínica.
- Eu sinto muito, , já te pedi desculpas por isso, agora qual é o problema em deixá-los ficarem um tempinho a mais comigo? – ele disse quase chorando.
- Você poderia passar quanto tempo quisesse com eles se não tivesse abandonado-os e me obrigado a fazer o que eu fiz.
- Eu não fiz por mal. – ele choramingou.
- Não? – perguntei sarcástica. – Fez por que então? Por raiva de mim?
- , por favor. Eu os deixo na escola segunda, e depois você pode ir buscá-los então.
- Crianças. – chamei a atenção dos dois que pareciam descontentes em ter a mulher falando com eles. – Peguem as coisas de vocês e entrem pra dentro.
Os dois rapidamente pegaram as malas e entraram em casa sem nem se despedirem do pai, que me olhava boquiaberto.
- Não acredito que você fez isso. – ele gritou. – De novo isso, ? Qual o problema deles ficarem um tempo a mais comigo? Eu sou o pai deles, eu te ajudei a fazer eles, não se esqueça.
- E foi só para isso mesmo que você prestou, , para fazê-los. Agora pegue sua esposa e suma da minha casa antes que eu tenha que chamar a polícia para você mais uma vez.
- Eu. Não. Saio. Daqui. Sem. Meus. Filhos. – ele rosnou. – CRIANÇAS, VAMOS LOGO SENÃO CHEGAREMOS ATRASADOS. – ele gritou, mas nenhum dos dois saiu de trás da porta de vidro. – Andem, vamos.
Os dois negaram com a cabeça e entraram em casa.
- , é melhor irmos. – a mulher disse calma. – Se a não quer, é melhor não insistir, discutir com ela só vai piorar a situação.
- Que bom que pelo menos você entende. – sorri para ela. – É melhor você se mandar daqui.
- Você vai se arrepender, . – ele disse e as lágrimas caiam por seus olhos.
- Se tem uma coisa que eu me arrependo é ter ido até Amsterdã atrás de você. Eu devia era nunca ter te contado que estava grávida, eu te...”
- Cala a boca, seu idiota, você vai acordar ela. – ouvi Eleonor gritar.
- Então me deixa falar com ela.
- Não, , ela precisa descansar.
- Ela pode descansar depois que conversarmos.
- NÃO. – gritou. – Dá um tempo, cara. Você queria que ela sumisse, e agora quer falar com ela, faz quanto tempo que vocês não se falam? Um ano? O que custa você esperar até ela acordar?
- Eu vou ficar sentado lá embaixo esperando.
Pude ouvir os passos dentro do quarto, e logo depois a porta sendo fechada. Permaneci com os olhos fechados, e me esforcei o suficiente para que eu voltasse a dormir, e é claro, que sumisse.
Quando acordei e olhei o relógio, já eram mais de meio dia. Eu estava totalmente descansada, mas meu corpo parecia que não queria sair da cama tão cedo. Tomei um demorado, e coloquei uma calça e blusa de moletom, eu não estava com a mínima intenção de sair do quarto hoje, não quando tinha um possivelmente furioso comigo no hall de entrada. Permaneci no quarto assistindo televisão, até e Sophie entrarem batendo a porta.
-... Ele quem escolheu assim, e ela concordou... – disse, mas interrompeu a si próprio quando me viu na cama.
- Oi. – sorri. – Ele ainda esta lá?
- Érm... Quem?
- Não se façam de idiotas. , eu ouvi vocês discutindo.
- Ah. Ele ainda está. – Sophie deu de ombros. – Quer que eu o chame?
- P-pode ser.
Os dois sumiram do quarto por uns dez minutos até entrar pela porta sendo escoltado por todos os nossos amigos. Ele ficou olhando intensamente para minha barriga, e continuou estático no meio do quarto, acabei até pensando que ele devia ter parado de respirar, ou coisa assim. Fiz sinal para que eles nos deixassem a sós, e pareceu não notar que éramos apenas eu e ele no local.
Lutei contra uma força maior que tentava me fazer sair da cama e ir atrás dele, mas fui forte e continuei sentada, esperando inutilmente que ele fizesse algo, qualquer coisa. Que me xingasse ou até me agredisse, mas que não ficasse parado encarando minha barriga.
- Você não quer sentar? – perguntei impaciente. Fui direcionada ao sonho da noite passada, do qual eu tratei tão secamente e com um ódio quase palpável. Se aquele sonho era algum tipo de aviso, eu iria fazer o possível para que ele não se tornasse real.
- Como...? Érm, quando? – ele gaguejou as palavras.
- Acho melhor você sentar, assim podemos conversar melhor e eu irei responder todas as suas perguntas. O que acha? – sorri, e ele me encarou. Dei um espaço para ele ao meu lado na cama, e ele logo se sentou, mas tomando cuidado para não ficar muito próximo de mim.
- Esse filho...
- Esses. – corrigi. – São gêmeos. – respondi sorridente.
- Gêmeos? – ele arqueou as sobrancelhas. – Uau. E-é, e então, eles são filhos do Bruce?
- Não.
Respirei fundo duas vezes antes de contar toda a história a ele, que me ouviu calado sem me interromper em um momento sequer. Caso ele o tivesse feito, eu teria surtado e deixado à situação nas mãos de qualquer pessoa.
- Então você terminou com ele no mesmo dia? – assenti e pude ver um sorriso no canto do seu lábio. – E depois de um tempo você descobriu que estava grávida... De mim? – logo que assenti seu sorriso aumentou, mas logo murchou. – Por que você não me procurou?
- , eu não fazia ideia de onde você poderia estar. Procuramos você de toda forma, mas seus pais estavam empenhados em esconder o filhinho deles. A coisa que eu mais queria no mundo era ter te contado, acho que foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça quando eu descobri da gravidez.
- Mesmo?
- Sim. – assenti. – Eu queria que você estivesse ao nosso lado – alisei a barriga – E visse o crescimento deles junto comigo, pudesse acompanhar cada ultrassom, me ajudasse a comprar o enxoval e até a escolher os nomes.
- ... E-eu sinto muito. Mesmo. – ele disse com os olhos marejados. – Eu não devia ter feito o que fiz, mas foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça. Eu fui egoísta, não pensei em você e em mais ninguém, só queria saber de mim mesmo, eu tava cego de ódio, eu pensei até em matar vocês dois. – ele riu – Dá pra acreditar?
- Um pouquinho. – semicerrei os olhos. – Eu sei que eu não te mereço, , e não vim aqui atrás de uma terceira chance. A única coisa que eu quero é que você dê uma chance a eles dois, nossos filhos não têm culpa dos meus erros.
- E você algum dia imaginou que caso eu descobrisse que era pai, eu iria simplesmente ignorar isso? – ele perguntou ofendido.
- Não. – gritei. – Mas eu não sei até onde vai a raiva que você está sentindo por mim.
- Eu não tenho raiva de você, . – ele passou a mão pelo meu rosto. – Eu ainda me sinto meio magoado com tudo isso, mas eu não te odeio ou coisa do tipo.
- Isso me deixa mais tranquila. – respirei aliviada.
- Quando eu imaginei esse dia, nós dois nos encontrando novamente, ele acontecia oito anos depois, você estaria casada com aquele idiota e cheia de filhos, enquanto eu não passaria de um cara amargurado e abandonado.
- Eu não vou te abandonar. – abracei-o como pude. – A não ser que você faça isso com os meus... Nossos filhos, aí eu vou ser obrigada a tomar medidas drásticas.
- Promete que não vai me abandonar? – ele perguntou com a voz mole e meio chorosa.
- Prometo. – beijei sua bochecha.
- Você... Você pensou em algum momento na hipótese de criarmos eles juntos? – ele me encarou e vi suas bochechas coradas.
- Mas é claro que sim. – respondi exasperada.
- Quero dizer... Juntos, de juntos, como um casal.
- Pensei nisso a todo o momento, mas não quero isso agora.
- Como? – ele perguntou surpreso. – Você não...?
- Não é que eu não te queira, porque eu te quero, e como quero, eu só quero te ter de uma forma, como posso dizer... Mais honesta. Eu quero fazer por merecer o seu amor, quero provar a você que eu te amo, e que em momento algum tive a intenção de te usar ou magoar. Eu quero conquistar o seu amor...
- Mas você já o tem... – ele choramingou.
- Eu sei, mas... Quero tê-lo de uma forma mais honrosa, entende? Fazer você amar a , e não a adolescente. Eu quero te provar que somos a mesma pessoa, e que você merece ser amado por mim de uma forma, sei lá... Inimaginável.
- Você é doidinha, sabia? – ele riu. – Mas ainda te...
- Não diga. – coloquei o indicador em seus lábios. - O que acha de começarmos do inicio?
- Por mim tudo bem. – ele sorriu, mas logo sua expressão mudou para algo um pouco triste e indeciso. – Só tem um pequeno problema. – ele mordeu o lábio.
- Qual?
- Eu... Eu estou namorando, ficando, não sei direito, com uma garota e... Eu gosto dela. – abri a boca surpresa, eu pensei em diversas coisas para falar, mas nenhuma parecia boa o suficiente. – Eu não a amo, , apenas gosto dela, entende? Gosto da companhia dela e essas coisas. Não é nem um pouco comparado ao que tínhamos, mas é que... Eu não sei se quero terminar com ela. – como isso era possível? Ele quase acabou de dizer que me amava e agora dizia que gostava de outra. Tudo bem que amar e gostar de uma pessoa é algo bem diferente, admito que no início eu também gostava de Bruce, mas... Eu era a mãe dos filhos dele, como ele podia pensar em ficar com outra, me amar, e querer nossos filhos? Discutir com ele não me levaria em nada, ou talvez quem sabe faria meu sonho da noite passada se tornar uma triste realidade.
- Érm... Ta tudo bem. – dei um sorriso forçado. – Você tem que pensar com calma nisso, é o melh...
- . – ele segurou meu rosto entre suas mãos. – Eu não quero que você fique triste com isso. Eu não disse que não quero ficar com você, porque isso é uma das coisas que eu mais quero, só que o problema é que eu meio que também quero ficar com a Jude. – então era esse o nome dela. Jude. Será que ela era mais bonita do que eu? É claro que sim, e devia ser mais bonita ainda sem uma barriga enorme igual a minha.
- Está tudo bem, . – utilizei de uma força interna quase inexistente para que eu não chorasse na frente dele. – Eu entendo... Eu acho que entendo.
- ...
- , eu já disse que tudo bem, não disse? – ele assentiu triste. Talvez que quisesse que eu me rastejasse aos pés dele e não o deixasse escolher quem ele queria. – Eu vim aqui para te contar sobre minha gravidez, e não pedir ou te obrigar a ficar comigo, essa decisão não está mais sob meu domínio há muito tempo, ela é toda e completamente sua.
- Mas eu não consigo fazer isso sozinho, você não entende? É difícil para eu escolher entre a mulher que eu amo e que vai ser mãe dos meus filhos, e uma garota que eu gosto e que me faz bem demais.
- Então pense em mim apenas como a mulher que você ama. Ser mãe dos seus filhos tenho que admitir, é uma grande influência para a sua decisão, e não quero que você se sinta obrigado a ficar comigo só porque estou grávida, você entendeu?
- A-acho que sim. – ele deixou uma lágrima cair. Ao meu ponto de vista, isso parecia uma desistência, da minha parte, e eu não gostava de ser uma desistente.
- Tudo bem. – respirei fundo. – Eu preciso arrumar algumas coisas e marcar a minha data de volta para Londres. – sorri. – Se você me...
- Já estou indo. – ele sorriu triste.
Ele se levantou de forma lenta e deu um beijo demorado na minha bochecha, e pude sentir algumas lágrimas escorrerem não apenas pela bochecha dele, mas pelas minhas próprias. Ambos estávamos tristes com a decisão que não havíamos tomado, mas eu queria que ele ficasse comigo, e não que ficasse com nossos filhos levando-me como algum tipo de obrigação.
Tenho que admitir que horas depois de pegar meus filhos no colo pela primeira vez, um sentimento ruim me abateu. Quando eu olhei fundo nos olhos de Shiloh e percebi que eles eram idênticos aos do pai, assim como do irmão gêmeo Robin, me dei conta de que em algum momento da vida eles iriam perguntar sobre o pai, e eu não faria ideia do que responderia. Talvez eu contasse a eles aquela história manjada de que ele nos abandonou quando descobriu, ou eu poderia contar a verdade dependendo da idade. Quem sabe eu não poderia dizer que não fazia ideia de quem ele era. Isso era algo que demoraria a acontecer, e se as coisas continuassem da forma que estavam, talvez eles nem se preocupassem com isso tendo em conta de que , meu pai e o senhor eram verdadeiros pais a eles dois, principalmente .
Ele finalmente se acertou com Moira, e deve agradecer aos meus bebês. Minha amiga acabou ficando tão emocionada ao ver os gêmeos pela primeira vez, que abraçou e começou a chorar dizendo que queria ter muitos filhos com ele. Já ouvi em algum lugar que os bebês tem poder.
Os pais de ficaram extremamente desapontados com a atitude dele, e mesmo eu implorando a mãe dele que ela não fizesse nada, a mulher não me ouviu, e desde o dia que eu fui obrigada a contar a ela sobre aquele fatídico dia em Amsterdã, ela não fala mais com o filho. Eu preferia optar pela omissão dos fatos e achar que ela não queria mais saber dele porque ele cometeu muitos erros e enganações com ela. O pai dele também não foi uma das pessoas mais compreensivas com ele, e agora não fazia tanta questão de lembrar que tinha um filho. Meus pais ficaram extremamente decepcionados, e evitavam ao máximo falar sobre ele, assim como a maioria das pessoas ao meu redor.
Por incrível que pareça, Bruce apareceu no meu apartamento para ver as crianças, e eu meio que me abri com ele contando sobre tudo o que me falou. Essa foi a primeira vez que eu vi Bruce literalmente furioso, e eu pensava que já o tinha visto bravo. Ele disse que uma pequena parcela de tudo isso era minha culpa, mas que eu devia me esforçar para esquecer isso, e fazer meus filhos felizes independente do pai deles ser um completo idiota e não querer participar da vida de duas crianças lindas e maravilhosas, palavras dele.
Eu ainda ficava meio sem jeito quando me perguntavam sobre o pai deles, e sempre que isso acontecia e estava perto, ele dizia que os bebês não precisavam de um pai quando tinham um padrinho como ele. Como Moira cumpriu o acordo, ela conseguiu a vaga de madrinha, mas acho que todos sabiam que isso aconteceria, tanto que nenhuma das minhas amigas ficaram magoadas com a escolha.
Decidi que iria dedicar a minha vida aos meus filhos e ao meu trabalho, tanto que enquanto estava no hospital, resolvi fazer uma lista de coisas que eram prioridades na minha vida, e em nenhum momento ter um relacionamento com alguém apareceu por ela. Por conta de todos os desastres amorosos, eu provavelmente fiquei fragilizada com isso, e no momento encontrar alguém não iria ajudar a curar feridas que apenas os meus filhos poderiam cicatrizar.
Nas poucas semanas que se passaram, não tentou qualquer tipo de contato comigo, e isso me deixou magoada já que eu tinha esperanças de que ele voltasse atrás em sua decisão. Durante uma das visitas da família até meu apartamento, eu consegui ouvir minha mãe e a mãe dele conversando sobre nós dois, e aparentemente a mulher estava muito triste e devastada com a decisão tomada pelo primogênito. Ela dizia que se pudesse, o obrigaria a participar da vida dos filhos, pois, independente de qualquer coisa que aconteceu com nós dois, mesmo não tendo dado certo entre nós, ele deveria pensar que alguma coisa boa saiu disso tudo, e isso era nossos filhos.
Partia meu coração em mil pedaços todas as vezes que eu olhava nos olhos dos meus filhos e via os de . Sophie disse que eles eram a mistura perfeita de nós dois. Os olhos e lábios dele, e um pouquinho do meu nariz e a cor dos cabelos. Mesmo com todos sempre dizendo isso, eu apenas conseguia ver neles a miniatura do homem que partiu meu coração e abandonou aos meus filhos.
Guardei tanta raiva de , que muitas vezes sentia nojo de mim mesma por um dia tê-lo amado. A cada vez que alguém me perguntava dele, mais e mais ódio eu criava por ele dentro de mim. Mas uma coisa boa eu tinha tirado de tudo isso. Dois pequenos verões, que mesmo sem muita noção da vida, não sabiam o quanto me faziam felizes.
2 anos depois.
- Robin, devolve o livrinho da sua irmã. – gritei da cozinha ao ouvir Shiloh chorar. Estava sendo assim o dia todo. Robin pegava as coisas da irmã apenas para fazê-la chorar.
- Não. – ele gritou.
Andei batendo os pés furiosamente até a sala e encontrei os dois brigando, novamente. Eu estava com minhas energias esgotadas. Com o alto cargo que agora eu tinha na agência da qual trabalhava, eu podia fazer todos os projetos e trabalhos em casa, mas eu ainda precisaria tomar conta dos gêmeos que não paravam quietos por um segundo. Eu não achava justo pedir que minha mãe ou a senhora viesse até minha casa para que olhasse as crianças enquanto eu trabalhava, já que ambas tinham passado da idade de correr atrás de pentelhos há muito tempo.
Minhas amigas tinham seus próprios problemas, e nem por isso eu devia manda-los até elas quando eu precisasse ficar sozinha para trabalhar. Os filhos eram meus, portanto, minha responsabilidade, e do pai é claro.
Como eu temia, A Pergunta chegara mais cedo do que eu imaginava. Por me ouvirem chamar pelo meu pai, Shiloh perguntou onde o pai dela estava, e para ajudar, estávamos todos na casa dos meus pais em um almoço, e eu fiquei completamente sem jeito de responder, e logo me ajudou, dizendo que apenas crianças especiais como ela e o irmão não tinham um pai, mas que eram presenteadas com tios e tias maravilhosos como eles. Quando ele disse isso, meus olhos logo se encheram de lágrimas e eu me pus a chorar. Eu jamais imaginaria que seria como um protetor para mim, e até como um pai para os meus filhos. Talvez fosse assim que Deus quisesse a minha vida, dos avessos. Meu maior inimigo se tornando meu melhor amigo, e meu melhor amigo se tornando meu maior inimigo.
Dei um jeito para que os gêmeos fossem brincar um longe do outro, evitando assim, uma possível briguinha entre eles e mais puxões de cabelos e tapas. Voltei à cozinha para terminar de guardar as compras, e logo Shiloh apareceu com meu celular na mão.
- Tia Sophie. – ela entregou-me o celular com um sorriso nos lábios.
- Ah, é? – sorri. – Como você sabe? – abaixei-me para ficar do seu tamanho.
- A foto, mamãe. – ela me abraçou. Toquei na tela para atender o celular, e uma Sophie afobada disparou a falar.
- Ei, ei, ei. Sophie, se acalma e fala devagar porque eu não entendi nada.
- Ok. – ela respirou fundo. – Eu acabei de chegar do trabalho, e o estava parado aqui, encostado na porta do meu apartamento.
- Como? – perguntei exasperada.
- É, eu também achei estranho isso, mas ai ele disse que foi no seu antigo prédio e disseram que você tinha se mudado, mas que não sabia para onde tinha ido, e ele disse também que ficou com medo de ir até a casa dos seus pais e ser morto pelo seu pai.
- Seria o melhor presente da minha vida.
- O da minha também, mas a questão não é essa. – ela disse calma. – Ele... Ele disse que queria ver as crianças, queria saber se estavam bem, e como estavam.
- E o que você disse? – gritei, e Shiloh me olhou assustada.
- Disse que você tinha perdido os bebês, mas ele falou que não adiantava eu mentir porque ele sabia que você tinha tido-os, e que você não falava sobre ele para os dois.
- Mas como... Como ele pode ficar sabendo dessas coisas? A mãe dele não teria falado tudo isso, teria?
- Não, eu perguntei isso também, mas ele disse que a mãe dele não quer saber que ele existe. , eu meio que tenho um palpite sobre quem tenha falado com ele.
- Quem você acha? – perguntei curiosa. – Você acha que foi o ?
- Se tivesse sido ele, provavelmente um dos dois não estariam mais entre nós, mas... Eu acho que foi o Bruce.
- Claro que não, Sophie.
- , pensa comigo. Ele ficou furioso quando descobriu que não queria as crianças, e... Ele é advogado, é obvio que ele tem contatos e deve ter descoberto onde estava e foi procura-lo.
- Mas pra que? Qual a razão?
- Isso eu não sei, mas talvez possa ter colocado um detetive atrás de vocês.
- Pode ser. – dei de ombros. – Ele disse algo mais?
- Sim. – ela respondeu apreensiva. – Ele disse que se você não deixa-lo ver as crianças, ele... Ele vai à justiça.
- Então que vá. – rosnei. – Ele não vai chegar perto de nenhum deles. – olhei Shiloh brincar com meus dedos dos pés. – Eu não vou deixar, ele não vai chegar perto dos meus filhos.
- Amiga, se acalma. Eu vou te ajudar com isso, ok? Você podia tentar falar com Bruce, ele pode te ajudar com isso.
- Mas e se foi ele quem falou com o ?
- Coisa boa não deve ter acontecido. , você acha que o Bruce foi falar amigavelmente com ele? É claro que não.
- Tudo bem. – respirei fundo.
- Vamos esperar e ver no que vai dar, ok?
- Ok.
+++
Acabamos descobrindo que fora realmente Bruce quem iniciou contato com , e descobrimos também que não fora algo amigável, já que meu ex-namorado ainda se encontrava cheio de ódio do antigo rival. Bruce apenas foi atrás do pai dos meus filhos para jogar na cara dele as coisas das quais ele estava perdendo, e de que não adiantaria me procurar e tentar recobrar o tempo perdido, porque eu estava extremamente protetora em relação à e as crianças.
A Senhora ficou extremamente brava quando o filho apareceu na casa dela em uma das minhas visitas com as crianças. Estávamos todos no quintal, e do nada ouvimos uma gritaria vindo da sala, e logo apareceu todo arranhado e ofegante no quintal, enquanto a mãe o puxava para dentro da casa. Robin e Shiloh ficaram encarando-o assustados, e logo correram para o colo do avô. Ele até tentou andar até as crianças, mas meu pai e o arrastaram para longe dos dois. Foi difícil explicar tudo aquilo a duas crianças pequenas, ainda mais quando minha mãe me fez dizer a eles que aquele homem era o pai deles. Shiloh começou a chorar dizendo que mentiu para ela quando disse que a mesma era especial por não ter pai, enquanto Robin perguntou por que ninguém o deixou lá.
Depois de duas semanas desse inesperado contato com , ele se tocou que Bruce estava certo quando disse que eu não o deixaria ter contato com as crianças, e é claro que ele realmente recorreu à justiça. Fiz Bruce me contar onde estava morando, mas ele não foi homem o suficiente para me atender quando comecei a esmurrar sua porta, então ele mandou a namoradinha para que fizesse isso por ele.
evitou qualquer contato comigo, ou com pessoas próximas a mim por exatamente um mês, e justamente no dia em que eu recebi a intimação que dizia na mesma sobre a vontade dele em participar da vida dos filhos, e eu não deixar, foi que ele apareceu na minha casa, dizendo que queria falar comigo amigavelmente. Eu o fiz ir embora, ameaçando chamar a policia, mas ele disse que não adiantaria nada disso, pois em breve ele estaria mais perto dos filhos do que eu queria.
- E a decisão final é: – o juiz disse enquanto lia o papel que mudaria minha vida e a dos meus filhos. – , pai de Robin e Shiloh , deverá pagar novecentas libras de pensão sobre cada filho, para a mãe . Foram também concedidas ao mesmo, visitas quinzenais as crianças assim que registrado em cartório que é o pai.
Tentei de tudo para que isso não acontecesse, mas durante todo o processo judicial aberto por , às crianças foram submetidas a exames de DNA, e uma semana depois do resultado final do processo, com ambos já registrados como Robin e Shiloh , o canalha apareceu todo sorridente acompanhado da namorada para pegar os meus filhos.
- Oi. – ele apagou o sorriso do rosto e ficou meio sem jeito quando comecei a encarar a mulher ao seu lado. Era notável o desconforto em que ela estava por ter que participar daquela situação.
- Não pense que tudo isso que aconteceu muda alguma coisa, . – rosnei. – A culpa por tudo o que você disse e fez, vai te perseguir a cada vez que você presenciar algo que essas duas crianças fizerem.
- Eu to tentando reparar meu erro, você podia dar um desconto.
- Tentando reparar? – gargalhei. – , nada nesse mundo vai reparar isso. Eu quase perdi essas crianças por sua culpa. Eu passei oito meses sem qualquer complicação na gravidez, mas foi só eu encontrar você e ser humilhada, que logo tudo de ruim que podia ter acontecido a mim, aconteceu. Você foi a pior coisa que aconteceu na minha vida, e a que vai acontecer na deles também.
- Eu não vou estragar tudo de novo. – ele disse baixinho e pude notar tristeza em seu tom de voz. – Eu prometo.
- Não é a mim que você tem que prometer. É a eles. – apontei para a porta de vidro onde os dois estavam encostados, e encaravam e a mulher.
- Tudo bem. Agora eu posso ver eles? – caminhei até a porta e a abri, mas nenhum dos dois fez qualquer movimento. Olhei dentro do cômodo, e vi meus pais e os pais de que encaravam ao longe toda a cena.
- Venham. – sussurrei baixinho e com um sorriso forçado. – Vocês não querem conhecer ele? – ambos negaram com as cabeças. – Crianças, por favor. – abaixe-me. – Ele... Ele quer conhecer vocês, vocês vão gostar dele. – disse baixinho e com lágrimas nos olhos. A verdade era que ver meus filhos se negarem a fazer qualquer contato com o pai me deixava feliz, mas era também como minha obrigação de mãe, pedir que eles fossem com o pai.
- Eu não quero, mamãe. – Robin chorou e a irmã pegou em sua mãozinha. – Eu quero ficar.
- Robin, meu amor, é só por algumas horas, hoje mesmo você vai estar em casa com a mamãe e seus avós.
- Promete? – Shiloh choramingou.
- Eu prometo. – dei um beijo no topo de suas cabeças, e coloquei a pequena mala nos ombros. Seriam poucos horas, o juiz disse que inicialmente seria isso até as crianças se acostumarem com a presença dele. Segurei em suas mãozinhas e caminhei até , que voltara a sorrir. – Vão lá crianças.
- Mamãe. – Robin se agarrou em minha perna. Praticamente joguei a bolsa para , que a entregou para a mulher.
- Filho, você é um homenzinho, não é? – ele assentiu. – Você acha que o tio vai gostar de ver você chorando? – ele negou. – Sua irmã vai estar com você, vocês...
- Mas ela também não quer. – ele apontou para Shiloh que derramava algumas poucas lágrimas.
- Você podia ir junto. – a mulher disse.
- NÃO. – e eu dissemos em uníssono.
- Robin, você já parou pra pensar que ele pode morar em uma bat-caverna bem legal? – perguntei com um falso sorriso e os olhos do meu filho se encheram com o mesmo brilho que eu costumava ver nos olhos de .
- Você tem uma bat-caverna? – ele perguntou a que me olhou confuso.
- Ele tem sim. – a mulher disse sorridente. Pelo menos alguém entendeu. – Você é a Shiloh, não? – ela se agachou na altura da menina. – Você gosta de bonecas? – ela assentiu. – Eu tenho um monte delas, você pode escolher quantas quiser.
- Mesmo? – Shiloh perguntou com os olhinhos brilhando, e um sorriso enorme no rosto.
- Sim.
- Você não vai ficar triste, mamãe? – Shiloh perguntou.
- Mas é claro que não, meu amor. – abracei-a. – Se você estiver feliz, eu também vou estar, lembra? – ela assentiu. – Então é melhor vocês irem logo. – os dois correram na direção de , que sem esforço algum pegou os dois no colo e os levou para o carro. Pude vê-lo coloca-los na cadeirinha, e logo entrar no carro.
- Érm... – a mulher disse um pouco envergonhada. – Me desculpe, mas me obrigou a vir.
- Está tudo bem. – dei de ombros. Não era culpa dela que o namorado fosse um idiota.
- Você deve achar que foi minha culpa ter dito tudo aquilo para você em Amsterdã, mas quero que saiba que desde aquele dia eu insisto para que ele crie algum tipo de vinculo com as crianças. – ela disse um pouco magoada. Eu nem fazia ideia de que eles estavam juntos naquela época. – Eu sei como é ruim crescer sem pai. Meu pai abandonou minha mãe quando eu tinha quatro anos, e eu tive que morar com meus avós, sei como se tornaria difícil para eles não ter a presença do durante o crescimento, mas sei mais ainda o seu sofrimento em ter que ver ele convivendo com seus filhos depois de tudo o que ele disse. – ela limpou uma lágrima dos olhos. – Enfim, também não quero que pense que estou esperando ocupar o seu lugar de mãe na vida deles, pelo contrário, apenas quero ajuda-los a aceitar .
- O-obrigada. – sorri depois de ouvir tudo o que ela disse. Talvez ela estivesse sendo sincera comigo ao dizer tudo aquilo, ou não.
- Eu espero que sejamos boas amigas, . – ela sorriu. – Apesar dos pesares, ouvi muitas coisas boas ao seu respeito. – olhei-a surpresa, mas ela não esboçou reação alguma a isso. – Você tem alguma recomendação? Eles possuem alguma alergia a alguma coisa ou comida?
- T-tem um caderninho na bolsa que está escrito todas as alergias e coisas que eles não podem comer.
- Tudo bem. Traremos eles dois lá pelas sete, está tudo bem pra você?
- Sim. – dei de ombros.
desatou a chama-la para que eles fossem embora, e eu fiquei na varanda vendo-os levar meus filhos. Tudo bem que seria por algumas horas, mas meu coração apertava só em pensar que talvez em alguns anos eles pudessem estar trocando a minha casa pela dele. Os “eu te amo, mamãe” por “eu só amo meu pai”. Minha mãe disse que isso era paranoia materna minha, que eu estava muito superprotetora pra cima deles, e que eu deveria parar com isso que logo eu estaria de volta, mas é claro que eu só sosseguei quando eles apareceram às sete horas em ponto, ambos rodeados de sacolas com presentes. Senhor me alertou que ele poderia tentar comprar o amor das crianças, enchendo-os de brinquedos e outras coisas, mas que meus filhos eram espertos o suficiente para não se deixarem levar, e mesmo tendo apenas dois anos, eles já estavam aprendendo sobre o que é certo e o que é errado, e que ter seu amor comprado, era uma coisa que eles logo entenderiam.
Passaram-se semanas, e logo meses desde que resolveu ser pai. No inicio Shiloh e Robin ainda ficavam meio apreensivos na hora de ir, mas quando voltavam para casa, era como se não tivesse quase implorado a mim para que ficassem. Algumas das vezes de que vinha pegá-los sem Jude, sua namorada, nós acabávamos brigando, e em uma dessas vezes eu não deixei que ele levasse as crianças. É claro que ele apareceu no dia seguinte implorando para que eu o deixasse passar o fim de semana com os gêmeos, mas eu continuei firme na minha decisão.
+++
Já haviam se passado quatro anos desde que me obrigou a deixa-lo conviver com as crianças, mas apesar de todo esse tempo, eu ainda sentia meu coração se apertar quando chegava o dia dele ir buscar meus filhos. As visitas mudaram de quinzenas para semanais, e logo ele estava indo visitar as crianças no meio da semana, indo busca-los na escola e os trazendo em casa, querendo me ajudar com as despesas de festas de aniversário e roupas mesmo pagando pensão, da qual eu não fazia questão de usar e deixava guardada no banco para emergências futuras.
As coisas em nossas vidas tinham se “normalizado”. Ele voltou a conversar com os pais, e os nossos amigos, mesmo que muitas vezes relutantes, o aceitaram de volta, mas não por completo. O relacionamento dele com Jude estava tão sério, que Shiloh chegou a dizer que o pai estava pensando em casamento. Admito que fiquei um pouco triste com isso já que me imaginei sendo a esposa anos atrás, e agora seria outra que ocuparia meu lugar, enquanto eu ainda continuava relutante em ter uma relação amorosa com qualquer outro homem.
estava duas horas atrasado, e isso irritou Robin e Shiloh que resolveram ir para o quarto e dormir. Se fosse qualquer outra pessoa com um emprego normal, eu até pensaria que ficou preso no trabalho por culpa de um chefe idiota, mas não era o que eu chamava de pessoa com emprego normal. Era estranho ele estar atrasado quando na verdade isso nunca aconteceu desde que as visitas se iniciaram. Ou ele estava no horário ou adiantado, mas nunca atrasado.
Não que eu quisesse que as crianças fossem embora logo, mas combinado era combinado, e Jenna e Alaska estavam me obrigando a ir com elas até uma pizzaria nova, e com o atraso de , isso se tornava o meu atraso também. Elas já tinham me ligado mais de cinco vezes, sempre questionando onde eu estava, enquanto eu já tinha ligado para e Jude mais de mil vezes, e a resposta era sempre a mesma. Caixa postal.
Três horas de atraso, e nenhum dos dois atendiam ao telefone. Liguei para as meninas e desmarquei meu compromisso com elas. Fui obrigada a ouvir diversos xingamentos de Sophie e Moira, que também iriam. Até piadinhas sobre eu estar indo passar a noite com . Dormir com ele era algo que não se passava na minha mente há muito, muito tempo. Desisti de qualquer aparição dele ou de Jude, e me preparei para inventar qualquer desculpa para as crianças no dia seguinte.
Acordei exausta e com uma preguiça imensa. Comecei a preparar o café, e quando me dirigi à geladeira, encontrei um bilhete.
“Querida, passei na sua casa bem de manhãzinha e peguei as crianças. Achei melhor que elas ficassem em casa durante essa turbulência que iremos passar agora que está no hospital, a propósito, ele insiste que você vá até lá. Beijos, Ronnie”.
O estranho não era a Senhora levado às crianças enquanto eu dormia, e sim estar no hospital. Minhas pernas fraquejaram e por pouco não cai. Minha mente vagou por diversas possibilidades, desde um acidente doméstico, até um acidente automobilístico.
Coloquei qualquer roupa, e durante o caminho até a casa dos pais dele, fui tentando entrar em contato com a mãe dele.
- Oi, . Você pegou meu bilhete?
- Sim. O que aconteceu com ele?
- É uma longa historia. – ela suspirou. – Acho melhor que ele te explique. Ele esta naquele mesmo hospital central.
- Tudo bem, eu... Eu estou indo para lá.
Desde que eu conheço , foram poucas às vezes em que eu o presenciei em uma cama de hospital. Geralmente quem ocupava esse lugar era eu, ou , dependendo da ocasião. Nunca era algo sério demais, às vezes era um dedo quebrado, ou corte, mas nada como algo que pudesse mata-lo, e foi nisso que eu fiquei pensando até entrar no hospital e ser recebida pelo pai dele.
- O q-que aconteceu com ele? – gaguejei. Meus olhos começaram a arder, e fiz força para não chorar. Por mais que eu tenha pedido a Deus que morresse, isso não era algo que eu realmente quisesse, era apenas coisa de momento, e nada mais.
- Ele bateu o carro, mas não foi nada demais... – ele suspirou. – Pelo menos isso não é nada demais, mas... Ele quer ver você. Estava crente de que você iria vir vê-lo.
- Não sei se quero vê-lo. – respondi relutante.
- , eu sei que você ainda está ressentida por tudo o que aconteceu, mas não faça isso você, muito menos por ele. Faça isso pelos seus filhos.
- T-tudo bem.
- É o quarto 22, siga por esse corredor. – ele apontou.
Caminhei até lá ainda relutante e sem forças. Meu coração estava apertado, e eu não queria abrir aquela porta e possivelmente encontra-lo semimorto. Quem sabe apesar de tudo o que ele me fez passar, todas as magoas, ofensas e julgamentos precipitado, meu coração ainda guardasse, por mínimo que fosse, um sentimento de amor por aquele que eu amei de forma quase incondicional.
Abri lentamente a porta, talvez como forma de adiar encontra-lo em uma cama de hospital, mas assim que o fiz, ele estava sentado na mesma, com roupas casuais e um pequeno corte na testa. Lentamente caminhei até ele, que secou todos os meus passos dados até estar a poucos centímetros de distancia do seu corpo.
- Você... Você está bem? – sussurrei.
- Aparentemente sim, internamente não. – ele disse com um pequeno sorriso no rosto.
- Seus pais disseram que você queria falar comigo.
- É. – ele deu de ombros. – Eu nem sei como começar a te contar, o discurso que eu planejei era para os meus pais, mas eles descobriram isso de outra forma, então, a única pessoa que resta a saber disso é você.
- Saber do que exatamente?
- E-eu tenho câncer. – ele disse normalmente, como se dissesse bom dia. Meu rosto não deixava a surpresa passar longe, era óbvio que ele estava brincando comigo. Comecei a rir, e ele me acompanhou, mas seus olhos ainda passavam uma imagem triste de si mesmo.
- Você está brincando, não está?
- Bem que eu queria, sabe, mas não. – ele mordeu o lábio. – Eu descobri isso alguns anos atrás, seis anos pra ser mais preciso. Foi bem na época em que você foi me procurar. – abri a boca para responder, mas ele colocou o indicador nos meus lábios. – Me deixa terminar, vai ser melhor se eu disser tudo isso de uma vez. – ele suspirou. – Eu tinha descoberto umas duas semanas antes, eu não contei pra ninguém, nem pros meus pais e muito menos pra Jude. Naquele tempo eu tava fazendo tudo por impulso, você não imagina como é pra um cara de vinte e cinco anos descobrir que podia morrer, eu fiquei louco, pensei que fosse morrer sem você ter meu sobrenome, e logo você apareceu falando tudo aquilo e a única coisa que eu pensei era que se eu ficasse com você isso seria mais um fardo pra você carregar além de ter que cuidar de duas crianças pequenas. Eu não queria que nossa vida fosse como naquele filme do Benjamin Button em que a mulher tem que cuidar do marido que vai envelhecendo, e também tem a filha pequena. Eu não queria ser novamente um fardo pra você. Mal tinha saído o diagnostico e eu já ia ser pai, ai disse todas aquelas merdas pra você. Depois de uns meses descobri que você tinha perdido as crianças no parto, e fiquei quase que aliviado com isso, mas triste ao mesmo tempo. Não fiquei aliviado porque finalmente você poderia cuidar de mim, mas fiquei pelo fato de que eles pelo menos não nasceriam para ver o pai morrer, porém saber que meus filhos tinham morrido sem eu nem ao menos poder saber que nomes eles teriam, isso acabou comigo, e foi ai que eu comecei a fazer o tratamento. Não foi nada pesado, não perdi cabelo e essas coisas, até estranhei, e logo o Bruce apareceu em casa dizendo que eu era um merda por ter te abandonado grávida, e isso me deixou pior do que eu podia imaginar. Fiquei mal por ter cogitado a ideia de você ter perdido as crianças, e eu ainda pensava que ia morrer. – ele deixou algumas lágrimas caírem. – Eu sabia que tinha que fazer você perdoar meus erros, e o maior deles não foi ter te abandonado, e sim abandonado o seus filhos, nossos filhos. Pensei que com isso eu faria você me perdoar, mas... Eu realmente te fiz muito mal. – abri a boca para dizer algo, e ele novamente me interrompeu. – Lembra quando eu disse que me arrependia de ter te amado? – assenti. – Era tudo mentira. – ele riu. – Foi esse amor que eu sentia por você, que depois de tempos deixou de ser recíproco da sua parte, foi ele quem me fez lutar, foi pensar que dele saiu àquelas duas coisinhas pequenininhas que eu tenho a sorte de dizer que me amam. – era impossível não chorar diante de tudo o que ele me dizia. E eu cheguei a pensar que o amor que eu sentia por ele era imensurável, ledo engano.
- ... – abracei-o. – Você não vai morrer.
- Morrer eu vou, você vai, as crianças vão, seus pais, os meus. Todos vamos morrer, alguns mais cedo do que outros.
- Eu quero dizer que você não vai morrer tão cedo, por culpa desse câncer maldito. – disse feito uma menininha emburrada.
- , não fique brava com ele como se você pudesse grudar na garganta dele e sufoca-lo até a morte. – ele disse divertido.
- Mas eu posso grudar na sua garganta e te sufocar até a morte, o que acha? – disse brava.
- Se eu ganhasse alguns beijinhos primeiros.
- ... Você sabe, eu não quero e não vou fazer isso com a Jude. Você não tem só a mim para cuidar de você, tem ela também. Ela te ama apesar de você ser um...
- Cancerígeno? – ele arqueou uma sobrancelha.
- Um idiota. – bufei. Pelo visto ele iria ficar brincando com o câncer.
- As pessoas não são o que aparentam ser, . – ele deu de ombros. – Tecnicamente, eu ter batido o carro foi culpa dela.
- Por quê? – perguntei curiosa.
- Ela encontrou uns exames antigos, ai discutimos e ela disse que não iria ficar comigo. Não por eu estar doente, mas por ela achar que eu não confiava nela. Ai ela começou a jogar umas verdades na minha cara. – ele disse envergonhado.
- Tipo?
- Que eu tentava encontrar você em qualquer mulher. – ele abaixou a cabeça. – Ela disse que eu não confiar nela era a gota d’água para o nosso relacionamento. Falou que cansou de me ouvir chamar por você durante o sono, que não era obrigada a substituir um lugar insubstituível que era você na minha vida, e ela disse que... – ele começou a chorar. – Ela disse que eu não merecia o seu amor, e muito menos você ou nossos filhos. Começou a jogar na minha cara que seria muito bem feito se eu morresse sozinho, porque depois do que eu fiz você passar isso era o de menos que podia me acontecer.
- Hey. – abracei-o apertado. Afaguei seus cabelos e tentei segurar minhas próprias lágrimas para que assim ele segurasse as suas. – Está tudo bem, talvez ela não te merecesse afinal, você é um cara incrível, é romântico, fofo, um ótimo pai, qualquer mulher daria de tudo para ter um homem como você.
- E você, ? Você daria de tudo por um homem como eu? – ele me encarou.
- Não. – neguei e ele abaixou a cabeça triste. – Eu não preciso de dois homens como você quando na verdade um já é suficiente para mim. O primeiro amor não é algo que apagamos fácil, talvez nem conseguimos apaga-lo, e é por isso que mesmo você sendo um idiota, e até um cancerígeno. – sorri. – Eu ainda consigo te amar. Não fizemos nossos votos, mas já parou pra pensar que nossa vida é quase como um casamento? Na alegria quando passamos nossa infância e adolescência juntos, quando fomos um casal por poucos meses, na tristeza quando eu te abandonei, e depois você me abandou e me deixou grávida, na saúde por eu ter ficado grávida e termos vivido tanto tempo ao lado um do outro, direta ou indiretamente, e agora na doença, até que a morte nos separe. – deixei as lágrimas caírem soltas por meus olhos. – Eu te amo, .
- Não mais do que eu te amo, . – ele sorriu. – Tem uma coisa que eu quero fazer a muito, muito tempo, e eu não quero mais perder um segundinho sequer pra que isso aconteça, só nessa brincadeira já se foram quase vinte anos.
- Estamos velho, não? – ri baixinho.
- Sim. – ele deu de ombros com um sorriso enorme do rosto. – Mas não tão velhos para isso. – ele levantou-se da cama e me colocou em seu ombro. Dei tapinhas em suas costas e pedi para que ele me soltasse, mas apenas ria. – Eu não vou pedir, porque você tem que aceitar. – ele abriu a porta e saiu carregando-me pelo corredor. – Pai, você pode comprar algumas passagens para Las Vegas? Eu e a vamos nos casar.
- Nós vamos? – arqueei a sobrancelhas. – Mas você nem pediu.
- , meu amor, eu não tenho tempo pra pedidos formais ou idiotas. Eu posso morrer a qualquer momento.
- Já está indo, senhor ? – um médico apareceu. – Começaremos seu tratamento a partir do mês que vem.
- Eu só posso morrer depois que me casar com essa mulher. – ele me chacoalhou.
- Pode ficar tranquilo que o senhor ainda tem muito tempo de vida. – o médico riu.
- Mesmo assim, eu não quero perder mais tempo. Já perdi tempo demais, já estraguei vidas demais. Eu só tenho uma vida pra usar e concertar meus erros, e quero fazê-la agora.
- Então vamos logo, filho. – senhor riu.
Ele continuou me carregando, e tive que estapea-lo forte para que ele nos levasse até meu carro. Ele insistiu em dirigir, e brinquei pedindo que ele tomasse cuidado para que não batesse outro carro. ligou para todos nossos amigos, pedindo que eles nos encontrasse na casa dos pais dele, e arrisquei talvez um pedido formal de casamento, mas depois de ser carregada por um hospital, com ele gritando que me amava, eu duvidava que isso fosse acontecer. Quando chegamos, estavam todos lá com a maior cara de enterro, talvez a senhora tenha contado a eles sobre a doença do filho. É claro que ela devia ter contado.
- Puta merda, que caras são essas? – permaneceu abraçado comigo, e fez sinal para que as crianças viessem até nós. – Alguém morreu?
- , para de graça. – a mãe dele choramingou.
- Mãe, eu to doente, não morto, ainda. – ele deu de ombros. – Agora, eu chamei todos vocês aqui, pra dizer que e eu vamos pra Vegas hoje, e quem quiser nos acompanhar será bem vindo.
- Vegas? – arqueou as sobrancelhas. – Você ao menos fez um pedido formal a ela? Sabe, , fomos melhores amigos por anos, e depois eu passei a te odiar, e agora to aprendendo a gostar de você de novo, mas se você não fizer um pedido formal a essa garota. – ele suspirou. – Eu vou ter que te matar.
- Do que vocês estão falando? – papai perguntou.
- e eu vamos nos casar. – ele sorriu.
- Eu não recebi um pedido ainda. – cantarolei.
- Tudo bem. – ele bufou.
- , você quer se casar comigo? – ele me encarou e quando abri a boca para responder ele me interrompeu. – Sim, que bom, eu também te amo, não precisa chorar. Você consegue ir até sua casa rapidinho e fazer sua mala e a das crianças?
- . – Moira o repreendeu. – E se ela quisesse recusar? Sabe, estamos entre amigos, ela pode fazer isso.
- Você não faria isso, de novo, faria? – ele perguntou feito uma criancinha.
- Não sei. – dei de ombros. – Talvez eu queira esperar estarmos sozinhos.
- Crianças, vocês vão dormir com a mamãe e o papai hoje.
- . – Sophie gritou. – Deixa de ser chato, garoto. Porque a presa? Ela não vai fugir.
- Eu não posso garantir isso, então, quero ser rápido. Garotas como a encontram o verdadeiro amor na adolescência, ficam noivas com vinte e dois anos, se casam aos vinte e sete, e aos trinta e três têm filhos, mas nesse caso foi tudo ao contrário, então. – ele deu de ombros. – Tenho motivos para querer ser rápido.
Fora realmente tudo muito rápido. Conseguimos um voo com conexão para a meia-noite, e deu tempo suficiente para arrumarmos as malas, e chegamos todos ao aeroporto com duas horas de antecedência. segurava avidamente na mão das crianças, enquanto tentava ficar abraçado a mim durante todo o percurso que fizemos até o avião.
Quando chegamos, ele, , Robin, seu pai e o meu, saíram para comprar a roupa dos homens, enquanto as mulheres foram comprar as delas, e eu as acompanhei. Antes de sair, ele implorou para que eu não comprasse um vestido porque ele quem queria comprar. Fiquei babando em quase todos os vestidos que víamos, e a tentação de comprar um era enorme. Comprei um vestidinho básico de gola para Shiloh, tendo em vista que ela se vestia como o irmão e ainda mantinha os cabelos curtos, mas por insistência dela, acabei levando a roupa.
Depois de três horas, estávamos todos em nossos quartos de hotel. tinha ficado firme na sua posição de não ficar sozinho comigo para que eu recusasse me casar com ele, e eu achei engraçado isso. Perguntei a ele diversas vezes sobre meu vestido, mas ele disse que eu só poderia vê-lo quando fosse usa-lo.
- A maquiagem está linda, . – Eleonor terminou os últimos detalhes. – Jenna, vai pegar o vestido no quarto do .
Minutos depois Jenna estava de volta com uma sacola de papel pardo, e retirou de lá meu vestido. Parecia até ilusão ou um sonho. Era isso mesmo? O vestido usado no clipe de November Rain estava naquela cama de hotel? Eu disse para que queria me casar com o vestido do casamento do clipe November Rain, e isso foi quando tínhamos quinze anos, depois nunca mais pensei nisso, e como ele podia se lembrar?
Moira deu gritinhos empolgados, e todas elas começaram a me ajudar a vesti-lo. Tomamos o maior cuidado com ele, mesmo sabendo que esse poderia não ser o mesmo vestido, mas só em saber que era idêntico, já me deixava mais eufórica do que nunca.
pediu que as mulheres fossem de limusine, enquanto eles iriam de taxi. Robin insistiu em ir com o pai, e eu fiz Shiloh ir junto porque eu sabia que no fundo ela queria estar no meio de um bando de homens ao invés de mulheres eufóricas, mas eu duvidava que não estaria enchendo a cabeça de todo mundo.
A capela era bem simplesinha, e me senti como no livro três de Belo Desastre quando Travis e Abby decidem se casar do nada, e tudo acontece tão rapidamente. Todas entraram primeiro que eu, enquanto meu pai ficou lá fora comigo, esperando até que eu pudesse entrar. Pelo menos nisso seguiríamos a tradição.
- Está nervosa? – ele perguntou enquanto segurava minhas mãos suadas.
- Bastante. – assenti.
- O pior já aconteceu há muito tempo. – ele deu de ombros. – Já estava na hora de algo bom acontecer entre vocês dois. Não que as crianças não sejam, mas quando digo bom, quero dizer algo de feliz para ambos.
- Pode ter certeza que vai acontecer. – sorri.
A mulher que trabalhava na capela nos deu sinal verde para entrarmos, e como quem cuidou de todos os preparativos do casamento, eu duvidava que seria algo formal depois dele mesmo ter escolhido o meu vestido – perfeito – de casamento. Assim que passamos pelo arco de flores, Arms da Christina Perri começou a tocar, e após alguns passos pude ver no altar, com seu pai e ao seu lado. Mamãe e as meninas estavam do lado oposto, e vi meus filhos sentados no banco, acompanhando-me andar. Papai entregou-me a , e sussurrou para ele, algo quase inaudível para mim.
Por sorte, não era ninguém vestido de Elvis ou Michael Jackson que iria realizar nosso casamento. Era apenas um homem comum usando um terno, vestido para um casamento formal em um lugar informal. Ele disse todas as coisas de costume, e algumas pequenas lágrimas brotaram em meus olhos, mas eu fiz um esforço para não chorar. Era como um sonho tudo isso. Eu, minha paixão adolescente, meus amigos, minha família, e meus filhos. Eu não precisava de mais nada no momento, apenas quem sabe, uma cura para o câncer do meu futuro marido.
me encarou com um sorriso no rosto, e pegou um papel velho e um pouco rasgado do bolso de sua calça.
- Eu escrevi isso há muitos anos atrás, quando pensei em te contar que gostava de você, mas ainda era um menino mais idiota do que sou hoje pra poder dizer essas palavras. Depois daquele dia, o dia em que eu me acovardei para te entregar isso, eu jurei a mim mesmo que o leria no dia do nosso casamento, e aqui estamos nós. – ele sorriu. - Acontece que sempre foi você. Foi você quando eu passei a ouvir as músicas da banda que te agradava. Foi você quando eu olhei para trás ao dizer o último adeus. Foi você quando fui dormir tarde da noite. Foi você quando nada parecia fazer sentido. E ainda é você.¹ – ele disse me encarando com um sorriso enorme nos lábios, deixando algumas lágrimas caírem por seu rosto, e tomei isso como uma permissão para deixar as minhas livres. - Eu me comprometo a amá-la seriamente, em todas suas formas. Agora e para sempre. Prometo que nunca vou esquecer que esse é um amor para toda a vida. E sempre sabendo na parte mais profunda da minha alma, que não importa que desafios venham a nos separar, sempre encontraremos um caminho de volta para o outro.² - ele segurou meu rosto próximo ao seu, e continuou a falar mesmo com as lágrimas fazendo-o gaguejar um pouco. - Farei da sua tristeza a minha tristeza. Quando você chorar, eu vou chorar, e quando você sofrer, eu vou sofrer. E juntos tentaremos estancar a maré de lágrimas e desespero e juntos vamos superar os obstáculos das esbarrancadas ruas da vida.³
- É uma pena eu ser uma esposa ruim e nunca ter escrito nada de fofo para você? – perguntei envergonhada e ele negou rindo. – Eu não sou assim tão boa com palavras como você é, mas eu acho que todo mundo aqui sabe como meu amor por você é infinito. Não vou tentar ser fofa e amável com você na frente das pessoas porque eu quero ser assim com você todo fim de noite quando formos nos deitar ao lado um do outro na nossa cama. Li uma vez que muitos casamentos se desgastam por isso... Falta de declarações onde os casais pensam que apenas um eu te amo é suficiente, mas para nós não vai ser assim. – sorri. – Quando você não tiver mais palavras lindas e adoráveis para me dizer, pode ter certeza que eu estarei lá para fazê-las, e também, não é como se a vida toda tivéssemos passado fazendo declarações um para o outro, certo? – ele assentiu. – Pra agora, pra hoje, acho que um eu te amo é o suficiente, mas para amanhã e depois, eu te amo vai ser uma palavra vaga perto de coisas que poderemos compartilhar juntos.
Todos bateram palmas diante de nossas palavras, e tomamos isso como um sinal para que finalmente eu pudesse trocar um beijo apaixonado com meu marido desde que nos reconciliamos no quarto 22 daquele hospital.
Voltamos para o hotel e fizemos nossa comemoração por lá mesmo. não parecia ansioso para consumar – o que já fora consumado – o casamento, e por isso não fez questão de pedir a ninguém para que deixassem as crianças serem seus novos hospedes. Ele me ajudou a tirar o vestido e a guarda-lo na mala que já estava pronta para o embarque na tarde do dia seguinte.
Arrumamos as crianças na cama, e vi que após desejarmos boa noite um para o outro, ele ficou velando meu sono, como se ele tivesse dormido por quase uma vida e agora poderia ficar acordado para sempre.
- Não vai dormir? – perguntei manhosa.
- Só depois de você. – ele sorriu. – Tenho medo de dormir e quando acordar tudo isso ter sido um sonho.
- Pode ter certeza de que não é um sonho, e se for, está sendo o melhor deles.
Depois de três anos ao lado de , ainda era como se fosse o nosso primeiro ano. Como se fossemos ainda um casal recém-casado que tinha medo dos problemas mesmo tendo passado por cima de todos os existentes.
No nosso primeiro ano ainda sim passamos por diversas dificuldades e até brigas. iniciaria seu tratamento, do qual ele ainda estava relutante porque a ideia de morte reinava na sua mente perturbada, e só depois que eu ameacei me divorciar dele (estávamos casados a apenas vinte e dois dias), que aceitou fazer o tratamento. Ocorreu tudo bem, e ele ainda permanece o fazendo, agora com menos frequência que antes. Outra briga que resultou em uma ameaça de divórcio – da parte dele, dessa vez -, foi quando ele queria que eu deixasse meu emprego para acompanha-lo em suas inúmeras viagens de trabalho. No primeiro mês quando ele me “ameaçou”, eu até fiquei com medo que ele realmente o fizesse, mas depois de Robin contar que ele estava brincando, deixei de me importar e cedi aos pedidos dos meus filhos para que fizéssemos isso.
Jude, a ex-namorada do mal – ou do bem, como preferirem -, descobriu sobre nosso casamento e de inicio ficou bem magoada porque ela pensava que depois de anos de namoro com , ele iria correr atrás dela e se arrepender de não ter contado a ela sobre a doença. Tolinha.
Bruce se casou com uma antiga namorada, a que alertou Moira sobre o lado psicótico dele, e tiveram um bebezinho lindo. ficou enciumado quando os encontramos na rua e começamos a conversar, mas logo parou depois de Bruce dizer algo que o aquietou.
“Eu não vou fazer contigo, cara, o mesmo que você fez comigo. Pode ficar tranquilo que não vou tentar roubar sua mulher, muito menos seus filhos, agora você pode sair da defensiva e tentar ser o que a tanto gosta?”.
Fiquei extremamente constrangida, mas fui obrigada a rir diante disso.
Depois de muita espera e briga, Moira aceitou se casar com , mas foi só porque ele começou a sair com outra garota mesmo estando com ela. Moira ficou furiosa, é claro, mas acabou percebendo que ele só estava fazendo aquilo para ela dar o braço a torcer e pelo menos uma vez na vida correr atrás dele.
Sophie, Eleonor, Jenna e Alaska se casaram e tenho que admitir, foi muito mais bonito que o meu casamento, e é claro, o delas também foi em Vegas, no mesmo dia, com direito a Elvis e Michael.
Com a mudança dos pais de para Londres, fomos obrigados a comprar uma casa que ficasse entre a deles e a dos meus pais, para o caso de querermos que alguém ficasse com as crianças para que pudéssemos ter um momento só nosso.
Nós praticamente não utilizávamos a casa de Londres, exceto nas rápidas folgas que tinha, mas em geral todo o trabalho dele era como uma folga eterna levando em conta as diversas viagens que fazíamos. Quem mais gostava de tudo isso era Robin e Shiloh, e quando fomos ao Camboja, ambos insistiram para que adotássemos uma criança (nessa época eles tinham acabado de descobrir sobre as diversas adoções de Angelina Jolie), mas preferiu que adotássemos um cachorrinho, mas como crianças nunca se contentam com pouco, fomos obrigados a levar três (um para Robin, um para Shiloh, e um para o irmãozinho que eles queriam ter).
Talvez por muitos pedidos e orações dos meus filhos (sempre que íamos dar boa noite, os dois fingiam estar rezando e pedindo a Deus por um irmãozinho), eu não resisti à tentação e parei de tomar qualquer remédio que impedisse uma gravidez. Depois de me ouvirem contar a sobre o que eu estava pensando em fazer, e ele ter concordado, os gêmeos saiam gritando aos quatro ventos diversos nomes para ambos os sexos.
Shiloh dizia que queria um irmãozinho para ser mais um para eles brincarem, enquanto Robin queria uma irmãzinha, pois alegava que Shiloh parecia-se mais com um garoto do que ele. Sim, eu ainda deixava minha menininha ter seu próprio estilo de vida e cortar o cabelo no maior estilo Joãozinho, e até a usar cuecas, coisa que ela decidiu fazer depois de um dia fazendo compras infantis.
Meus filhos ainda eram os bebezinhos de todos os nossos amigos, e insistiam para que todos eles tivessem um monte de filhos para eles poderem brincar. Como se dois deles não fizessem bagunça suficiente.
- Como está meu meninão? – me abraçou todo suado por conta de estar jogando futebol com os gêmeos.
- Ele está bem. – alisei minha barriga de quase nove meses.
- E como está a minha menininha? – ele me deu um selinho.
- Eu estou bem. – sorri.
- As crianças e eu estávamos conversando, e chegamos à conclusão de um nome que nós três gostamos.
- Mas já? – arqueei as sobrancelhas. – Eu mal pude dar minha opinião de qualquer outro nome que vocês já disseram.
- Segundo a Shiloh, você só poderia dar qualquer palpite se fosse menina, como não é, são os homens quem devem escolher o nome de outros homens.
- Meio machista da parte dela, não?
- , o padrinho dela se chama , é meio obvio que a convivência com ele a deixaria assim. – ele sorriu. – Enfim, nós gostamos de Bruce.
- Bruce Wayne?
- Não tínhamos pensando nisso, mas é mais porque as crianças estão naquela época de descobrir sons, e você sabe, alguém finalmente encontrou os vinis velhos que meu pai tinha no porão, e agora se dizem seguidores do Chefe.
- Eu gosto de Bruce. – dei um beijo em sua bochecha. – Mas não pense que você me engana com essa de que as crianças encontraram os vinis do Springsteen, eu sei que isso é por causa daquele Batman.
- Pode ser. – ele deu de ombros com um sorrisinho de canto. – Mas eu ainda gosto de Junior.
- Nem pensar. – retruquei.
- Você podia ter nomeado a Shiloh com .
- Não faz sentido.
- Ainda sim, eu gosto de Junior.
- NÃO. – as crianças apareceram na varanda, ambos mais suados que o pai.
- Já disse, é Bruce, pai. – Robin se sentou entre minhas pernas e ficou alisando minha barriga.
- Para de relar na barriga dela, seu porco, você vai sujar o bebê. – Shiloh tirou as mãos do irmão de cima de mim.
- Filha, o pai já disse que não acontece nada.
- Mesmo assim. – ela disse emburrada. – Eu não quero você tocando nele, você é sujo.
- Como se você não fosse. Olha a unha dela, mãe, está pior que a minha.
- Parem de implicar um com o outro e vão agora tomar banho. – dei um tapinha na bunda de cada.
e eu permanecemos na varanda, apenas olhando o movimento dos carros que passavam em frente nossa casa. Ele tinha tirado uma longa folga por conta da gravidez, e decidiu que era hora de finalmente aproveitarmos nossa casa.
- Parece que finalmente tomamos um rumo certo, não? – ele sussurrou em meu ouvido. – Estamos trabalhando com algo que gostamos, o homem da sua vida finalmente tomou atitude pra se casar com você, e agora estamos enchendo a casa com um monte de crianças.
- Você imaginava tudo isso quando tinha dezessete anos?
- Sim. Sempre que imaginava meu futuro você estava lá, linda, com filhos ao seu redor, um bebê na barriga, e um sorriso bonito como esse no rosto. – mesmo depois de anos, eu ainda me sentia envergonhada quando ele me elogiava. – Ainda parece algo inimaginável, mas finalmente você é minha.
- E você... É meu, para sempre.
- Você agora é todas as estações do ano pra mim. A primavera quando eu fico ao seu lado te enchendo de amor. O verão quando estamos sozinhos e o calor emanando dos nossos corpos. O outono quando o clima está entre um friozinho passageiro com um calor baixo onde podemos ficar juntinhos. E é claro, o inverno, porque nele você me deixa feliz por ser obrigada a ficar trancada comigo, me aquecendo, e também porque o inverno me deixava frio, me lembrava de você e de como eu fiquei com um coração quase congelado depois de ser ignorado e rejeitado pelo amor da minha vida, e apesar de você ser todas as estações do ano para mim, você para sempre vai ser meu eterno inverno, .
Um garoto e uma garota podem ser amigos, mas quando chegar a um ponto, eles vão se apaixonar. Talvez temporariamente, talvez por muito tempo, talvez tarde demais, ou talvez para sempre. (500 dias com ela)
Fim
Nota da autora: Depois de um tempão de hiatus finalmente terminei a fic. Quem quiser ter mais informações sobre a versão re-escrita dela é só se informar nos links abaixo. Beijão