O céu estava deslumbrante, pintado em cores de um clichê dos filmes de caubói. Sentei-me em uma pedra ali mesmo, no topo daquela montanha, e fiquei vendo as nuvens, como elas se pareciam com montanhas no céu e a proximidade entre elas e as montanhas de verdade. Senti-me um merda por não ter levado uma câmera comigo. Assim, não poderia mostrar a dádiva que era esse pôr-do-sol para a minha própria dádiva, minha . Ah, como eu sentia falta dessa menina!
A cabana onde eu estava hospedado não era tão longe das montanhas, facilitando aos turistas o acesso rápido às belezas daquele lugar repleto de uma natureza intocada. Arrastei-me até o banheiro, a fim de tomar um banho quente e bem longo. Tirei minhas roupas e as deixei jogadas em cima do vaso sanitário. Assim que entrei debaixo da ducha, deixei meu corpo nu se arrepiar com o choque térmico da água quente em contato com meus braços e peito gélidos. Acabei levando mais tempo que o necessário de baixo do chuveiro, pois deixei os meus pensamentos viajarem mais de três mil milhas até chegar à minha pequena. Seus olhos castanhos, seus cabelos macios, seus lábios rosados, seu cheiro... Tudo nela me agradava. Pisquei algumas vezes, tentando acordar desse transe, e caminhei para fora do banheiro.
O quarto estava confortavelmente quente, em contraste com o ambiente do lado de fora, então pude ficar apenas enrolado na toalha até decidir qual roupa usar. Optei por uma calça de moletom velha e uma camiseta preta qualquer. Vesti-me e caminhei até o telefone. Disquei o número já gravado em minha mente, na expectativa de ouvir aquela voz rouca que fazia meu coração pular para fora do peito, mas, ao invés disso, tudo que podia ser escutado pelo fone era aquele “tu, tu, tu” irritante. Quando sua voz se fez audível, meu coração disparou numa velocidade gritante e numa força impressionante.
— Eu não posso atender no momento. Deixe seu recado após o bipe.
Suspirei alto dentro do quarto solitário e me joguei na cama, sentindo o vazio jogar um copo de água fria nas minhas expectativas. Olhei de esguelha para a escrivaninha abarrotada de papéis e canetas. Lembrei-me da última carta que eu havia mandado, com uma foto do cenário mais incrível que já havia visto. Deixei minha mente vagar por aí e acabei adormecendo quase instantaneamente.
O sol entrava pelas janelas abertas de meu quarto, trazendo consigo um agradável cheiro de frutas frescas. Abri os olhos vagarosamente, espreguiçando-me em seguida e passando as mãos em meus cabelos, ajeitando-os. Levantei-me da cama, caminhando lentamente até o banheiro e parando ao lado da estante que havia ali para pegar uma camisa e uma bermuda. Joguei minhas roupas da noite anterior em um cesto de baixo da pia e me enfiei debaixo do chuveiro, sentindo a água gelada relaxar os meus músculos. Os dias eram insuportavelmente quentes, mas o frio era cortante às noites. Saí do banho e me vesti rapidamente, saindo do banheiro logo após vestir minha camiseta. Sentei-me à escrivaninha, decidido a escrever uma carta para a minha pequena, contando-lhe tudo sobre o incrível pôr-do-sol do dia anterior.

[N/A: Dê play.]

“Querida , comecei a escrever.
“Há exatas três semanas, eu saí de casa e voei mais de três mil milhas para longe de você: a única mulher que me faz querer voltar para o conforto de seus braços no mesmo minuto em que ponho meus pés para fora de casa.”
Sorri ao me lembrar do momento em que eu estava prestes a entrar no avião, com minhas mochilas aos meus pés e os braços de minha pequena ao redor de meu pescoço, os seus lábios se encontrando com os meus. Nossas línguas dançavam, acompanhando o ritmo de nossos batimentos cardíacos.
“Ontem eu vi um pôr-do-sol incrível, amor. Queria ter tirado uma foto, talvez duas, talvez até mais de duas, mas não havia levado nada comigo. Fiquei me sentindo um pedaço de merda ambulante por não ter conseguido compartilhar aquela cena magnífica com a pessoa que mais me importa no mundo: você.
Aquele momento foi impressionante, porém teria sido extremamente perfeito se você estivesse lá segurando minha mão. Queria que visse com os seus próprios olhos a perfeição da natureza, as cores quentes se fundindo em vários tons alaranjados, as nuvens tão parecidas com montanhas no céu, a proximidade entre elas e as montanhas reais.”

Parei de escrever por um momento, deixando a mente voar pelos caminhos sinuosos que me levavam sempre à mesma rua, mesma casa, mesma garota.
, peço que me perdoe por ter esquecido a câmera em casa, até mesmo ter deixado o celular em algum lugar na mesinha ao lado da cama, e não ter tirado uma fotografia desse lindo pôr-do-sol. Nessas últimas semanas, tenho enviado diversas fotos de coisas aleatórias, e talvez até sem importância alguma, e logo no cenário mais lindo eu faço uma burrada dessas. Perdoe-me, amor.
Bom, agora que já lhe contei tudo o que eu tinha que contar, preciso lhe dizer o quanto estou ansioso por amanhã. Mal vejo a hora de vê-la outra vez, de sentir os seus beijos, sentir seu corpo se encaixando ao meu como um quebra-cabeça. Eu a amo tanto, pequena. Não quero nunca mais ficar tão longe de você. Nunca mais. Apesar de achar que a saudade aumenta a vontade, não irei mais a lugar nenhum sem você comigo. Ou seja, da próxima vez que eu sair, você irá junto.
Com amor,
.”

Assim que terminei de escrever, virei-me para a janela, por onde o sol entrava com força total e sem nenhuma piedade, e me levantei. Coloquei minha carta em um envelope endereçado à minha e me encaminhei até a pequena caixinha em que o correio pegava as correspondências.
Após deixar a pequena carta em seu devido local, voltei correndo para o meu quarto, a fim de arrumar as minhas coisas para amanhã não precisar fazer nada. Nós pegaríamos o avião no pequeno aeroporto da cidadezinha onde estávamos na madrugada do dia seguinte e o tempo parecia ter parado. O lugar era incrível, sim, mas nada era páreo para a minha saudade. Deus, como eu queria que os ponteiros do relógio se mexessem com mais velocidade!
O sol já brilhava intensamente quando chegamos ao aeroporto. A viagem havia sido longa e eu estava exausto. Vasculhei o terminal com os olhos, procurando-a, mas me lembrei de que não havia dito quando chegaria. Saí do aeroporto, olhando para os lados para ver se eu encontrava algum táxi, e, quando esse apareceu, coloquei minhas malas no bagageiro e me enfiei no carro.
Ross, o motorista, era um cara bacana. Nós conversamos durante o percurso. Contei-lhe que havia uma pessoa me esperando e ele acelerou para que eu chegasse mais cedo e pudesse ter mais tempo com a minha menina. Assim que Ross estacionou na frente daquela casa tão conhecida por mim, dei-lhe o dinheiro sem nem me preocupar em receber o troco e pulei para fora do carro, pegando as minhas malas. Andei lentamente até o pequeno portão e o abri. Reparei que havia correspondências na caixinha do correio. Abri-a e vi minha carta mais recente. Sorri sozinho e fechei a caixa. Respirei fundo e continuei minha caminhada até a porta, parando bem em frente a ela e tocando a campainha.
Passos foram dados e, quanto mais próximos eles ficavam, mais minhas mãos tremiam. Os segundos pareciam se estender infinitamente e eu já estava começando a suar também. Olhei para trás, para os lados, para cima... Quando finalmente ouvi o barulho da porta sendo destrancada, respirei fundo mais uma vez e fechei os olhos. Mas, quando os abri, o que vi me surpreendeu. Não era minha na porta, porém a sua mãe.
— Jude, o que você faz aqui? Está tudo bem? — perguntei, claramente confuso.
— Entre, meu filho — Jude disse, seus olhos se inundando em lágrimas. — Nós precisamos conversar. Você ficou fora por tanto tempo... Como foi a viagem?
— Hum, foi ótima. Jude, aconteceu alguma coisa? Diga-me, por favor! — exclamei. O meu coração batia com tanta força que parecia querer sair por minha boca ou abrir um buraco em meu peito. Agora eram os meus olhos que se enchiam de lágrimas.
— Sim, . É melhor você se sentar — a senhora gesticulou para que eu me sentasse em uma das poltronas que estavam vazias e o fiz. Se minhas mãos já tremiam antes, agora elas pareciam ter vida própria. — Há dois dias, eu vim aqui para vê-la e, quando abri a porta, a vi caída no chão. Não sei o que ela fez, ou o que tomou, ou se aconteceu algo, mas quando liguei para a emergência eles disseram que eu havia chegado tarde demais.
Naquele momento eu soube que, assim como a vida de minha amada, a minha se esvaía junto com as lágrimas que insistiam em descer por minhas bochechas, queimando por onde passavam. Levantei-me, apressado, e saí daquela casa. Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Não podia ser verdade. Forcei-me a não chorar, enquanto corria para o mais longe que o meu fôlego e minhas pernas me permitiam, mas chorei mesmo assim. Minha pequena não estava mais no mesmo plano que eu.
O que fazer agora? Minha vida não tinha mais sentido. Eu não tinha motivos para continuar. Vi várias árvores passando por mim, não vi mais nenhuma casa, não vi mais nada. Sentei-me no chão e desisti de prender as lágrimas. Chorei tudo que havia para chorar e fechei os meus olhos. Senti uma brisa fraca bater em meu rosto, um alívio momentâneo, e, depois, não senti mais nada.



Fim





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