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Capítulo 1 - The Cliff


Estamos na calorosa Malibu, em mais um Halloween, e a cidade inteira está extasiada com isso - comprando doces para as crianças, desempacotando suas fantasias e enfeitando suas casas para atrair as pessoas até elas. Mas não está nem se importando; hoje é seu aniversário de 18 anos e ela já tinha tudo planejado para esta noite, suas amigas virão buscá-la para aproveitar as grandes noites da cidade. Fazer 18 anos é a maior realização para qualquer garota depois de sua quinceañera. É quando ela se torna independente dos pais e pode tomar suas próprias decisões sozinha, podia crescer fora do cubo de sua casa e conviver com o resto do mundo sem se preocupar em voltar às oito horas, e de ligar para sua mãe quando estivesse indo para casa.
, eu estou saindo com o seu pai, ok? Vamos comprar os doces para o Halloween. — Melissa, a mãe de , sempre foi uma mãe super protetora e sempre fez questão de garantir que tivesse tudo o que desejasse.
— Tudo bem, podem ir. Eu vou chamar as meninas para a gente se arrumar para a festa. — Disse enquanto pegava sua caixa de esmaltes e maquiagem.
— Mas a festa é só a noite, minha filha.
— Eu sei, mas o meu aniversário é o dia todo, certo? — sabia como convencer sua mãe a atender seus pedidos. Melissa se derrete pela filha e não consegue dizer não para ela, seu marido Ernesto, pai de , sempre disse que ela mima essa menina demais, mas ela não consegue dizer não para .
— Tudo bem, só não baguncem a casa.
— Sim, senhora.
ligou para suas amigas, e , e as convidou para passar o dia em sua casa, antes da grande festa dessa noite começar. ligou sua caixa de som no máximo e colocou Taylor Swift para tocar enquanto fazia suas unhas dos pés e olhava seu feed de notícias ao mesmo tempo. Todos estavam lhe enviando mensagens de feliz aniversário e desejando felicidades, boa saúde e etc. Só mais duzentas mensagens comuns de aniversário, mas uma lhe chamou atenção, foi a de seu melhor amigo, . e eram amigos desde o fundamental e faziam todo o tipo de coisas juntos, festas de familiares, amigos, em exames de sangue ele ia junto de , pois ela tem um medo incontrolável de agulhas. é apaixonado por , mas nunca teve a coragem de dizer isso à ela, ele prefere esconder seus sentimentos ao invés de arriscar sua amizade. está lendo a mensagem de quando, de repente, a campainha toca. Ela desce na ponta do calcanhar para não borrar suas unhas, abre a porta, e e gritam de felicidade e a agarram, desejando feliz aniversário. fecha a porta e olha para suas unhas, todas borradas.
— E lá se foi mais um esmalte cor de rosa. — Brinca ela.
— Não se preocupe com isso, a gente refaz suas unhas. — Disse .
— Sim, hoje você é a rainha do dia então aproveite, majestade. — brincou, elas subiram até o quarto de e começaram a se preparar para a grande festa desta noite. — Tá ansiosa pra surpresa de hoje? — perguntou curiosa, havia prometido uma grande surpresa para esta noite e ela está mais do que empolgada pra descobrir o que é.
— Estou. Pra falar a verdade, estou um pouco nervosa! — Revelou com um frio na barriga.
— Por quê? — As meninas perguntaram em coro.
— Porque o é louco por mim desde a quarta série, eu estou com medo de que ele queira se declarar esta noite.
— Mas ele já fez isso, certo? — perguntou, confusa.
— Não, ainda não. — riu.
— Então como você sabe que ele gosta de você?
— Porque ele deixa isso bem óbvio. — revirou os olhos. — Sabe, ele é sempre muito atencioso e carinhoso, um simples amigo não me mandaria três buquês de flores de aniversário.
— Tem razão, ele é louco por você. — Disse em um tom sarcástico. lhe tacou um travesseiro e ela caiu para trás, as três caíram na gargalhada. continuou fazendo o cabelo de e suas unhas do pé enquanto ela fazia suas unhas da mão.
Os pais de chegaram em casa com os doces e com os enfeites para o Halloween deste ano. Umas simples cabeças de abóbora não era o bastante para eles; a casa dos tinha que ser uma grande perfeição para combater com a casa da frente, os Miller. Os Miller são os arque rivais dos , bom, particularmente só as filhas deles: e são inimigas mortais desde a terceira série quando ganhou o papel principal em uma peça da escola e era apenas a sua substituta, desde então uma tenta ser melhor do que a outra em tudo e sempre acaba vencendo, deixando com raiva e ódio correndo por suas veias.
, desça aqui, por favor. — Melissa, com sua voz fina e doce, aclamou por sua filha com uma caixa na mão.
— Oi mãe, o que foi? — Perguntou descendo as escadas, ela viu a caixa na mão de sua mãe e abriu um leve sorriso no rosto. pegou a caixa e abriu, era um lindo colar de pérolas brancas, da cor das estrelas. Sua mãe estava a olhando com um enorme sorriso em seu rosto e seus olhos estavam molhados com as lágrimas querendo fugir de seu rosto.
— Nos meus 18 anos sua avó me deu um anel de diamante lindo, era algo único, que só eu tinha, assim como você. — deu um forte abraço em sua mãe e caiu em prantos. Sua mãe, acima de tudo, é sua melhor amiga, ela é sempre a pessoa que está do lado de em todos os momentos e nunca a crucifica quando ela está errada e sempre está de braços abertos quando a filha quiser desabafar ou apenas chorar nos ombros de alguém.
— Valeu mãe, agora eu vou ter que fazer a maquiagem de novo. — Brincou enquanto limpava o rímel de seus olhos. — Obrigada pelo colar, te amo. — deu outro abraço em sua mãe e subiu para terminar de se arrumar para sua festa desta noite.

A festa de iria acontecer na boate de — o melhor amigo dela — e ele a prometeu uma grande surpresa quando chegasse lá. A menina estava ansiosa, mas ao mesmo tempo nervosa! sempre foi apaixonado por ela e tem medo que esta surpresa seja algum tipo de declaração e que isso estrague sua amizade. Já são quase nove horas e as três meninas ainda estavam terminando de se arrumar para a festa, estava fazendo chapinha no cabelo e estava tentando encolher seus peitos para eles entrarem no vestido. já estava pronta, apenas esperando e olhando as meninas, pensar que elas já passaram tantas festas do pijama naquele quarto e que, depois de hoje, elas irão se separar e ir pra universidades diferentes. ganhou uma bolsa de estudos em Princeton por 4 anos para estudar fotografia e vai se mudar para Nova Jersey em poucos meses, vai se mudar para Connecticut e estudar em Yale, já vai continuar na California, em Stanford para ser mais específica. Viver sem aquelas meninas seria a morte para , mas uma amizade como a delas pode aguentar a distância de alguns quilômetros.
São dez e meia da noite e acabara de passar pela porta da boate com seu lindo e curto vestido e salto incrivelmente alto e brilhante acompanhada de suas amigas — que também estavam bastante adequadas para a ocasião; de repente todos os olhares se voltaram para as meninas, como se elas fossem as abelhas-rainhas do local.
— Meninas, muito obrigada por terem vindo comigo hoje. — estava eufórica, a prometeu uma grande surpresa à meia noite e ela estava empolgada para ver o que lhe iria acontecer.
— Não tem o que agradecer, a gente ama você ! — Disse . é a amiga mais próxima de desde sempre, compartilham esmaltes, brincos, bolsas e até um ombro amigo quando alguma delas precisa. Nos últimos meses tem se mantido um pouco distante com os seus preparativos para Yale, mas ela sempre encontra um tempinho especial para passar o dia com sua amiga.
Já são quase meia noite e todos estão dançando e bebendo como se não houvesse o amanhã, está empolgada com a surpresa que preparou, mas tem um problema: Abreu é a maior inimiga da desde sua existência, as duas são vizinhas e tenta ser melhor do que em tudo, mas sempre fracassa. avistou ao fundo do salão bebendo um coquetel ao lado de dois meninos da classe mais velha, olhou para ela e deu um sorriso e acenou, acenou de volta mas logo desviou o olhar.
— Ei, está pronta? — perguntou.
— Quase, mas você não vai acreditar quem está aqui. — empurrou para o banheiro feminino. — A .
— O que ela está fazendo aqui? — perguntou nervosa.
— Não faço ideia, mas alguma coisa ela vai aprontar, hoje eu não tenho tempo e nem disposição de aturar brincadeirinha de Halloween de Abreu.
— Relaxa, eu vou atrás dela e não vou deixar ela chegar perto de você na hora da surpresa. — e saíram do banheiro e se espalharam pelo salão, parou em frente ao palco e se sentou ao lado de e tentou a segurar no sofá.
, tudo bom? Quanto tempo! — sentou ao lado de e tentou puxar assunto.
? Você está falando comigo, por quê? — perguntou desconfiada.
— Ah, hoje é o aniversário da e se você está aqui é porque vocês estão se dando bem né, então por que a gente não pode tentar ficar bem também?
— Claro, mas agora é hora da surpresa e eu quero ir lá ver. — levantou e a puxou de volta para o sofá.
— Dá pra ver daqui, e é bom que a gente bate um papo e se conhece melhor enquanto isso. — sorriu para que devolveu com um sorriso falso e sarcástico. começou a falar e todos os outros convidados se mantiveram em silêncio.
, hoje você está iniciando uma nova etapa na sua vida e eu não podia estar mais feliz por você. Ter você como amiga com certeza é a melhor coisa que me aconteceu na vida inteira e é por isso que eu lhe preparei isso hoje. Está pronta? — acenou com a cabeça. — Então é 3, 2, 1… — De repente todas as luzes do salão se apagaram e não se via mais ninguém, o apagão durou 2 minutos e todos ficaram desesperados. Pela forma com que a multidão se desesperava, aquilo não fazia parte da surpresa. Quando tudo reacendeu, sentiu que algo estava faltando no local — e desapareceram da festa. Rapidamente, , e se retiraram da boate e começaram a procurar por em todos os cantos mais próximos, mas não a encontraram. correu até um abismo escondido por trás de algumas árvores, assim que chegou lá avistou e seus dois acompanhantes parados olhando para baixo, assim que ela percebeu sua presença correu pelas árvores antes que ele a pegasse. parou na beira do precipício e olhou para baixo, estava tudo escuro, as meninas o alcançaram mas pararam um pouco atrás. sentou-se no chão e começou a chorar, as meninas, sem entender nada, se sentaram ao lado dele.
— O que houve? — perguntou, enquanto acariciava seu cabelo.
— Eu não acredito que a tenha a jogado daqui. — Disse , limpando as lágrimas de seu rosto.
— Aquela vadia conseguiu o que ela queria, acabar com a . — socou a grama e a apertou com toda a força da sua mão, seus dedos se encheram de terra.
— Eu pensei que essa raiva da fosse coisa de escola, de competição de popularidade, nunca achei que ela ia levar isso tão à sério. Que tipo de ser humano faz isso? — também começou a chorar enquanto olhava para baixo.
— Ela não é um ser humano, é um animal... — levantou e virou-se em direção as árvores com lágrimas escorrendo de seu rosto — Uma vaca!

olhou para o abismo e só viu escuridão, ele era imenso, com pouco mais de 20 metros de profundidade, a escuridão era tanta que ninguém conseguia ver o que tinha lá embaixo, nem mesmo na luz do sol. Os olhos de estavam ardentes, vermelhos, como nunca estiveram antes, seu ódio correu por seu sangue, ela não conseguia nem olhar para aquele precipício e imar que abaixo dele estava o corpo de , não conseguia acreditar que chegou a esse ponto tão baixo, assassiná-la em seu aniversário, uma brutalidade que apenas uma pessoa de coração frio faria. Sua vontade era de jogar ali, naquela queda que aparentava ser mortal, mas apenas aparentava.


Capítulo 2 - Nightmare


Um precipício, 20 metros de profundidade, uma queda brutal que devia durar 20 segundos, mas acabou durando um pouco mais que isso. estava inconsciente enquanto seu corpo caía abismo à baixo, totalmente recurvado e seu cabelo voando acima de suas orelhas, ela abriu os olhos e se apavorou, tentou olhar para baixo mas não conseguia enxergar nada além do seu corpo, ela esticou os braços e tentou tocar em algo mas não havia nada. Terra, cimento, ferros, nada que ela pudesse segurar, apenas uma imensa escuridão. não conseguia se lembrar de nada da última noite e nem de como ela havia parado naquele lugar e nem aonde iria cair.
Até que a escuridão criou cores e tudo ficou tão rápido, ela fechou seus olhos e esperou que seu corpo atingisse a água, ela caiu lentamente, abriu os olhos e com toda a sua força deu impulso para cima e nadou para a terra firme. deitou-se ao chão assim que tocou a areia mas logo foi acudida por um rapaz, um menino jovem e forte, mas ela não o conhecia.
— Você está bem? — Perguntou ele. Ela ficou o encarando por longos minutos tentando reconhecê-lo, aliás ela conhecia quase toda a cidade. — Tudo bem? — Ele perguntou novamente.
— Sim, tudo. — tentou se sentar mas seus ossos doíam e ela não conseguia se mover sem ajuda.
— Parece que não, deixe-me ajudá-la. — O rapaz pegou em seus braços e a carregou para longe do mar. Ela estava vermelha de timidez, tentava falar mas as palavras não saíam por sua boca, ela apenas olhava para o rapaz e seus olhos verdes enquanto ele a levava até o ponto dos salva-vidas.
As coisas pareciam diferentes desde o que se lembrava, a tecnologia mais avançada, a moda, até mesmo a água do mar parecia mais clara, eles entraram no ponto salva-vidas e ele parecia bem maior por dentro do que se lembrara.
— Então é assim que o ponto salva-vidas é por dentro? Parece bem maior do que quando eu entrei pela última vez. — Brincou , o rapaz não entendeu a piada e a colocou na cama. — Então, qual o seu nome? — Ela perguntou.
, e o seu?
, muito prazer.
— O prazer é todo meu, mas então… De onde você caiu? Foi uma queda bem alta.
— Eu não sei exatamente, eu não me lembro de nada da noite passada e quando eu abri os olhos tudo estava escuro e depois o céu se abriu e eu caí na água. — riu, não o culpou porque nem ela acreditaria nessa história. — Espera, eu caí na água, meu celular estava no meu bolso. — Ela retirou seu Galaxy S4 do bolso e se espantou.
— Nossa, mas que celular é esse? Parece coisa do milênio passado.
— Que, como assim? Estamos em 2014 este celular é um dos mais novos. — riu novamente. — Qual foi a piada?
— Você é engraçada, mas esquece, onde você arrumou essa coisa?
— Espera, como assim?
— Agora já perdeu a graça, , este celular parece algo pré-histórico, onde você arrumou isso? — ficou confusa, ela olhou para as paredes e tudo parecia tão novo, algo mais moderno, os relógios de parede eram todos digitalizados em uma tela futurística que ela costumava ver em alguns filmes de ficção científica.
— Onde você comprou este relógio? Que irado, parece coisa do futuro. — olhou para o relógio e a encarou com uma cara de confuso.
— Numa loja de 1,99. De onde você veio? — Perguntou ele.
— Malibu, não é onde nós estamos? — Ela perguntou confusa.
— Claro que estamos, garota o que houve com você? — saltou da cama e andou até a praia e olhou para todas aquelas pessoas, ninguém parecia familiar, nada parecia familiar, todos usando celulares 50 vezes mais avançados que o dela e com roupas totalmente diferentes de tudo o que ela já viu na história da moda, parou do seu lado, confuso, e perguntou:
— Eu nunca te vi por aqui, de onde você veio? Realmente! — olhou para ele mas não conseguia dizer nada que pudesse explicar toda a história, até que um dirigível sobrevoou sobre a praia com a seguinte frase: “Ingressos para o Show de Final de Ano esgotados, a transmissão televisiva acontecerá as 22 horas do dia 31 de dezembro de 4059 pela Oddcast TV”.
— Espera, que dia é hoje? — Perguntou ela assustada, olhou em seu telefone.
— 31 de outubro de 4059, agora é sério, o que houve com você? — 4059, se espantou, será que era realmente possível? Como ela sobreviveu por tanto tempo e como ela chegou lá? começou a correr pelas ruas e foi atrás dela, assustado com a situação.
estava correndo descalça pelas ruas de Malibu — ou o que deveria ser Malibu — o chão estava quente por causa do sol e seus pés começaram a queimar, mas ela continuou correndo como se alguém estivesse a seguindo — e realmente estava . Ela chegou ao centro da cidade e se espantou com a vista, os carros estavam tão rápidos que ela só conseguia ver seus vultos passando, os aviões e dirigíveis dominavam o céu azulado e ensolarado da grande Malibu e os comércios estavam cada vez mais estilizados e evoluídos do que no “seu tempo”. finalmente a alcançou, ele parou um pouco atrás da garota e a observou admirar a paisagem, parecia uma criança quando entra no parque de diversões pela primeira vez, ela estava deslumbrada com a vista e como sua cidade havia evoluído, mas para tudo isso era muito estranho. Ele se aproximou de e tocou em seu ombro, ela se assustou.
— Que susto, nunca mais faça isso. — Disse enquanto retirava a mão dele de seu ombro.
— Garota, o que foi que te deu? Você caiu do céu misteriosamente, tem um celular que parece ter sido fabricado há uns 2 mil anos atrás e usa roupas com tecidos totalmente antigos, quem é você?
— Eu sou , eu sou de Malibu e ontem era o meu aniversário de 18 anos e hoje quando eu abri os olhos eu estava aqui, não me pergunte como, apenas me ajude. Eu tenho que voltar pra casa, não posso ficar aqui. — olhou para confuso, sem acreditar ou desacreditar no que ela acabara de dizer.
— Olha, eu até consigo acreditar nessa história por conta do seu telefone ou das roupas que parecem bastante pré-históricas para mim. Mas como você pretende voltar para sua casa?
— Eu não sei ao certo, mas eu vou descobrir.
— E enquanto isso, aonde você vai ficar? — não tinha nenhuma ideia de como ela iria se manter nesse lugar, ela não poderia morar na rua, mas onde ia ficar? Até que ela teve uma ideia.
— Posso ficar na sua casa, se você não se incomodar.
— Tudo bem, se quiser nós vamos lá agora, eu só preciso pegar minhas coisas na praia.
— Pode ser.

Eles foram caminhando até a praia em um silêncio constrangedor, mesmo tentando fluir algum assunto o clima continuava ruim, além do mais, eles mal se conheciam. ficou olhando a paisagem, admirando as casas e tentando assimilar tudo aquilo com a cidade em que cresceu, mas ela não conseguia ter lembranças daquele lugar por conta da grande diferença, mas é claro, 2 mil anos se passaram — acredite se quiser . não conseguia tirar os olhos de , apesar de suas roupas parecerem ‘pré históricas’ demais e seu estilo bem cafona para ele, sua beleza era algo notável que ele admirava acima de tudo. Ao chegar na praia, pegou seus óculos de sol e seu telefone, percebeu que ele estava sozinho na praia e se assustou, como um rapaz como ele fica sozinho? Em 2014 isso seria um crime, e foi aí que ela se lembrou: não estamos mais em 2014.
— Minha casa não é muito longe daqui, nós podemos ir a pé, tudo bem? — Perguntou , concordou com a cabeça e eles foram andando naquele silêncio mais que constrangedor, até que tentou puxar assunto — Então, você tinha algum namorado lá no seu tempo? — olhou pra ele e riu, mas ele não entendeu. — O que há de engraçado?
— Nada, é que… eu lembrei de uma pessoa. — olhou pra baixo e continuou andando.
— Seu namorado?
— Não, bom, ele gostava de mim, mas eu nunca dei bola. O nome dele era , ele fazia tudo para me agradar, mas eu não queria correr o risco de estragar a nossa amizade. E você, não vi ninguém com você na praia. Tem namorada?
— Sim, quero dizer, não mais.
— Por que não mais? — A curiosidade de aumentava a cada palavra que dizia.
— Bom, eu tinha uma. O nome dela era na, nós estávamos bem há algumas semanas atrás, mas aí ela achou outro e me largou. — riu, ao que parece sua namorada não era tão importante como achou que fosse, era só um romance adolescente sem nenhum compromisso. — Chegamos.

entrou na casa de , não era grande, mas era bonita, o suficiente para ele morar sozinho, mas não para abrigá-la por muito tempo. foi até a ducha na área externa para tirar a areia do corpo, logo em seguida fez o mesmo. pegou algumas roupas emprestadas com sua vizinha. Depois de tomarem banho, eles se sentaram no sofá e ficaram se olhando por algum tempo, a situação ficou tão bizarra que eles caíram na gargalhada. se preocupou em ocupar muito espaço e muito tempo na casa de e ele percebeu a aflição em seu rosto.
— O que está te preocupando? — Perguntou ele. — Se for o quarto, não se preocupe, eu posso dormir no sofá. — se sentiu desconfortável em ter que colocar nessa situação, afinal, a casa é dele.
— Você não precisa me abrigar aqui se não quiser. — pegou na mão de e a olhou por um longo tempo, até dizer:
— Eu quero! — ficou vermelha, a timidez preencheu todo o seu corpo e ela não conseguia ao menos se mexer, eles ficaram parados se olhando por vários minutos com as mãos seguras umas nas outras. Quando eles se deram conta, logo se afastaram e caíram na gargalhada de novo.
— É sério, você não tem obrigação de me abrigar aqui, não quero te atrapalhar.
— Atrapalhar em quê? Eu moro sozinho, não tenho namorada e aliás, onde você iria ficar?
— Eu não sei, eu dou um jeito, é só você me falar. — colocou a mão na boca de para ela parar de falar, suas bochechas ficaram vermelhas.
— Não se preocupe, eu já hospedei muitos amigos aqui e várias vezes eu durmo no sofá, já estou acostumado. E mais, minha irmã se mudou daqui tem um tempo. Tem um quarto sobrando. Pode ficar tranquila, vai ser um prazer ter você aqui e, claro, te ajudar a voltar ao seu tempo. — tinha se esquecido disso, por um momento ela se esqueceu de que tinha que achar uma forma de voltar, mas como? Bom, se ela veio parar em 4059, ela consegue voltar, correto? É muito confuso para ela pensar nisso agora, sua cabeça estava explodindo de dor e ela estava cheia de água nos ouvidos. foi até a cozinha e ficou sentada no sofá tentando descobrir o que de fato estava acontecendo.
O fato dela simplesmente estar no futuro não basta, tem que haver uma explicação lógica para isso. estava concentrada olhando seu reflexo pela tela da televisão — que estava desligada — até que ela reparou numa marca em seu ombro, ela chegou mais perto para tentar descobrir o que é mas não conseguiu identificar, correu até o banheiro e olhou para a marca no espelho, era pequena e parecia a marca de agulha em seu braço, a memória dela se clareou e as imagens vieram rápidas em sua cabeça, ela gritava por socorro enquanto uma garota enfiava uma agulha em seu braço e dois rapazes a seguravam, ela ouviu as palavras: “Só eu posso ser a abelha-rainha, vadia.” mas não conseguia identificar a voz de quem as falava, ouviu o alvoroço e subiu correndo para o banheiro, ele encontrou pressionando suas mãos na pia, seu rosto parecia assustado, nervoso e ela parecia conturbada.
— Está tudo bem? — Ele perguntou ao fundo, virou-se para trás e colocou a mão na marca da agulha em seu braço.
— Está sim, eu só tive uma tontura. Não foi nada. — Ela sorriu para ele, não parecia convencido com a história porém optou por não dizer nada, ele apenas desceu as escadas e voltou a fazer o almoço.
continuou olhando para a marca de agulha no espelho e tentou se lembrar de mais coisas. Por mais que ela forçasse, não conseguiu lembrar de mais nada. A marca de agulha era grande, o que significava que ela lutou para não ser atingida. Ela abaixou a cabeça e sentiu algo pinicar em seu braço, a marca de agulha em seu braço estava se estendendo e formando uma frase, ela se desesperou, ligou a torneira e tentou se limpar mas nada adiantava. Por fim, a marca de sangue em seu braço formou a frase: “Até o inferno, vadia”.




Capítulo 3 - Wildfire


estava em seu quarto quando ouviu uma cantoria lá embaixo, ela desceu e se sentou em uma das cadeiras da bancada da cozinha e começou a reparar em , ele estava sem camisa apenas usando um daqueles aventais de chefs de cozinha e estava vestindo seu short de praia. Ela ficou sentada admirando a forma com que ele se dava bem com as panelas, cantarolava enquanto cozinhava, uma música agitada com algumas pausas no refrão que remetia há algo como ouvia de David Guetta ou Calvin Harris no seu tempo. deu uma pequena gargalhada e se virou para ver quem era, ele desligou o fogão e virou-se para ela — já sem os fones de ouvido — ela sorriu.
— Não sabia que você gostava de espionar as pessoas. — Brincou ele.
— Só aquelas que me interessam. — o encarou com um leve sorriso maroto e ele soltou uma risadinha para ela, ela nunca havia reparado o quanto ficava bonito com um sorriso no rosto, eles ficaram se encarando por longos segundos até ele soltar uma palavra.
— Está com fome? — se distraiu em seus olhos e nem prestou atenção na pergunta. — Fritei ovos para o almoço.
— Oh… claro, mas eu não estou com fome, obrigada. — largou as panelas e voltou a prestar atenção em , ela parecia entediada, preocupada com o que aconteceria a partir de agora.
— Quer saber, você parece estressada. Vem, vou te mostrar um lugar. — Ele a puxou pelo braço.
— Me mostrar o que? Eu já conheço Malibu inteira.
— Você conhecia Malibu, há 2 mil anos atrás. — De repente o sorriso no rosto de sumiu.
— Falei algo errado?
— Não, é que eu ainda não consigo acreditar… — sentou-se na bancada e apoiou os braços no balcão. — Como eu vim parar aqui? E o mais importante, como eu vou sair daqui? — Ela virou-se para , esperando que ele lhe desse alguma resposta. procurava por algo para dizer, mas nada vinha em sua mente. Ele estava tão confuso quanto ela nisso tudo. — Esquece, nem eu tenho respostas para isso. — abaixou sua cabeça no balcão e começou a choramingar, passou a mão em sua cabeça e acariciou-a.
— Ei, você não pode ficar aqui parada, chorando. Eu sei que você quer respostas, mas elas não vão aparecer se você continuar sentada aqui. — levantou a cabeça e olhou para , ele passou a mão em seu rosto e limpou suas lágrimas. — Vamos lá, têm muitas coisas nesta cidade que você ainda precisa ver. — Ele estendeu sua mão para ela e apontou para a porta, segurou sua mão e levantou.
Eles foram até onde costumava ser o parque da cidade, ficou olhando tudo no caminho, era tudo tão novo — tudo tão surreal —, as pessoas pareciam mais alegres do que ela se lembrava e as lojas mais modernas e avançadas. Os carros eram tão rápidos que raramente você conseguia enxergar a placa de algum deles. estava dirigindo enquanto olhava a paisagem pela janela, uma coisa não mudou em Malibu: o sol! O dia estava tão ensolarado que se sentia em casa, quando ela saía com e colocava o corpo para fora do teto solar, sentir o calor do sol em seu rosto e o vento balançar seus cabelos — era uma sensação tão prazerosa —, aquilo lhe fazia bem. Fazia com que ela esquecesse de tudo o que estava acontecendo, de todos os problemas e do simples fato dela estar há 2 mil anos do seu tempo. De repente parou o carro perto de uma quadra de futebol, ele desceu e ela o acompanhou. olhou para aquele lugar, todas as árvores lindas e bem cuidadas, flores em volta de todo o local e todas aquelas pessoas felizes dançando em volta da fonte — não existe guerra neste lugar —, todos em paz com seus companheiros e amigos, a diversidade é completamente aceita nesse lugar, não existe racismo, não existe homofobia, não existe mais tragédia. e estavam admirando o céu lindo e azulado, um azul com tanto contraste como nunca visto antes, era como se estivessem enxergando a fórmula da paz apenas naquele céu ensolarado. tocou as mãos de e as segurou, eles olhavam ao redor e observavam as pessoas cantando e dançando à sua frente, todos felizes e se abraçando, como se fossem um só.
De repente, Tanusha Alabama — uma amiga de — veio correndo em sua direção, ficou admirada com sua beleza, sua pele tão negra, seus cabelos escuros e sedosos, seus olhos castanhos brilhantes e seu corpo de modelo de passarela, ela era linda e parecia ser bem confiante disto.
— Ei , senti sua falta no treino de ontem. — Tanusha e treinam vôleibol juntos desde a oitava série, eles são os melhores, levaram os times masculino e feminino a 5 vitórias consecutivas nas estaduais e estão treinando para conseguir segurar o título.
— É que eu tive uns problemas para resolver. — se enrolou nas palavras. Tanusha olhou para baixo e viu suas mãos seguras as de .
— Entendo. Ela faz parte dos problemas também? — Quando e se deram conta logo se afastaram e tentaram agir naturalmente, mas não soou nem um pouco sútil.
— Não, quer dizer…
— Não precisa se explicar . — Tanusha riu. — Mas não pode faltar os treinos toda semana por causa de mais uma ficante. — Os olhos de arregalaram, ela não queria passar a imagem errada na sua “nova cidade”.
— Nós não estamos ficando. — Tanusha olhou para e a olhou de cima a baixo, ela avaliou a garota como se estivesse fazendo um raio x em seu corpo, constrangendo-a.
— Mas é claro que não, você não é o tipo de garota que ele costuma levar para cama. — encarava Tanusha com reprovação em seu rosto, ela entendeu o recado mas mesmo assim não se manteve calada. — Você é do tipo que ele gosta de levar mais à sério, boa sorte. — Tanusha saiu as gargalhadas e largou com a bomba nas mãos.
— O que ela quis dizer? — perguntou confusa.
— Deixa pra lá, ela não sabe o que diz. Vamos até ali tomar um sorvete. — empurrou para um lugar bem longe de Tanusha, se surpreendeu ao descobrir que, apesar de tanta tecnologia, ainda existem sorveteiros com barracas nas esquinas.
Ela se sentou no banco e voltou a observar todas aquelas pessoas felizes, jogando água uns nos outros, crianças brincando de pega-pega, os pássaros cantando em volta das pessoas e tudo mais que tinha mudado nesta cidade. sentou ao seu lado e percebeu o sorriso em seu rosto.
— Você parece feliz. — Ele disse.
— E estou. É divertido olhar para essas pessoas, todos se divertindo sem levar a vida muito à sério. Isso nunca aconteceria se ainda estivéssemos no meu tempo.
— Você tem certeza de quer voltar? — olhou para confusa. — Quer dizer, aqui é sempre assim. Tranquilo, relaxante e as pessoas se divertem umas com as outras. Você tem certeza de que quer voltar aos tempos de guerra e de discórdia? — parou para refletir sobre tudo, mas apesar de estar adorando a nova Malibu, ela ainda sente falta de sua casa.
— São nesses tempos de discórdia que estão os meus pais, os meus amigos, a minha família. Eu não sei o que aconteceu depois que eu vim para cá, não sei se eles acham que eu estou morta, ou se talvez nem lembrem que eu exista. Você não ia querer se manter longe da sua família não é? — não respondeu a pergunta, ele largou seu sorvete de lado e bufou, tentando esconder a tristeza de seu rosto. — O que foi? — Perguntou .
— Minha família me abandonou há 4 anos. — virou seu rosto para o lado para não deixar que o veja chorar. — Minha mãe morreu quando eu tinha 8 anos e meu pai é um alcoólatra obsessivo. Quando eu fiz 14 anos, minha casa virou um caos, meu pai estava cada vez pior e todos exigiam que eu cuidasse dele, por ser mais velho. Mas eu não sabia o que fazer, eu era só uma criança. — olhou para , ela estava com um olhar de pena em seu rosto. detesta quando as pessoas o enxergam como alguém vulnerável porque ele se sente inútil. — Deixa pra lá.
— Continua… — implorou.
— Não, eu não gosto quando as pessoas sentem pena de mim. — jogou seu sorvete na lixeira e foi até o carro.
— Quer ir embora? — perguntou.
— Não, pode continuar curtindo. Vou só tirar um cochilo no carro e já volto. — se afastou e foi até o carro na mesma rapidez que Tanusha teve para se aproximar de assim que ele saiu.
— O que houve com ele? Parecia triste. — Ela perguntou curiosa.
— Eu não sei, ele começou a falar da família e ficou assim.
— Então foi isso. — Tanusha desviou seus olhares para e lembrou de não ter se apresentado à garota. — Desculpa, eu sou a Tanusha. E você é?
, mas você pode me chamar de .
— Muito prazer, . — Tanusha olhou novamente para o rosto de , a deixando constrangida novamente.
— Olha, isso já está ficando esquisito. — Disse , Tanusha riu de si mesma.
— Me desculpa é que você me parece familiar.
— Ah, impossível! Deve ser só impressão sua.
— Não, eu sinto como se já tivesse te visto em algum lugar.
— Acredite em mim, não tem como você ter me visto. — jogou seu sorvete na lixeira e foi até o carro de .
Tanusha ficou sentada refletindo, não lhe era estranha. Seu rosto era muito familiar, seu jeito também não parecia novo para ela, mas ela preferiu ficar calada. entrou no carro de , ele estava sentado no banco do motorista olhando para o céu com a janela fechada, ele olhou para ela e deixou suas lágrimas caírem no banco do carro.
— Você disse que ia tirar um cochilo. — passou a mão em seu rosto para limpar as lágrimas, o rosto de era liso e sua mão deslizou facilmente sobre ele. O rapaz tocou sua mão e a beijou, fazendo-a ficar envergonhada.
— Já te disseram que você é uma garota sensacional?
— Não mude o assunto.
— Mas eu estou falando sério. Poucas pessoas se importam comigo desse jeito. E você mal sabe quem eu sou.
— Você também é um cara de ouro. Eu caí do céu de um lugar que nem eu sei de onde foi e você me acolheu, acreditou em mim e está cuidando de mim. Eu sou muito grata por isso! Eles ficaram se olhando por algum tempo, seus rostos foram se aproximando um do outro, fechando os olhos lentamente e quando eles estavam chegando ao ápice foram surpreendidos por um alvoroço de pessoas correndo e gritando em volta do carro de . Eles não sabiam o que estavam acontecendo, mas optaram não sair do carro por conta do desespero da multidão à sua volta. Quando a multidão diminuiu à sua frente, pôde perceber que estavam caindo chamas do céu, algumas faíscas pequenas, outras grandes que poderiam matar uma pessoa. Ela cutucou e amostrou o fenômeno sobrenatural que estava acontecendo e eles ficaram olhando as faíscas caírem até que uma caiu sobre o vidro do carro de e fez uma rachadura em seu carro.
— Acelera logo isso e tira a gente daqui. — Disse desesperada.
— Se eu sair com o carro posso atropelar as pessoas aqui atrás. — Exclamou . Eles ficaram parados por tempos olhando as faíscas caírem do céu sem poder sair com o carro.
Nunca houve tantas pessoas no parque de Malibu como naquele dia, justamente naquele dia, quando o que talvez seja o primeiro sinal do apocalipse havia acontecido. Alguns minutos depois da chuva de faíscas, e saíram do carro para ver os estragos que elas haviam causado. Tinha algumas pessoas mortas com alguma parte do corpo queimada ou com ele todo chamuscado, algumas pessoas se jogaram no lago para se defender das faíscas e estavam se secando depois que a chuva ‘sobrenatural’ aconteceu.
, venha ver isso. — se aproximou de e reparou no gramado do parque todo destruído, as faíscas deixaram marcas no chão e quando prestou bem atenção, se espantou.
As marcas dos detritos formavam uma frase no chão, não era apenas uma frase, era uma mensagem. não conseguia acreditar no que acabara de ler, seus olhos estavam arregalados e suas mãos trêmulas. Sem nenhum tipo de reação, ela apenas ficava parada olhando para aquela frase pensando em como algo assim possa ser possível. percebeu o espanto da garota e disse:
— Pelo menos eles sabem que você não está morta. — A fala de não a confortou nem um pouco, apenas a deixou mais nervosa. O rapaz olhou bem para ela e notou sua aflição, sem saber como ajudar ele pergunta: — Qual o problema?
— O problema todo é… Quem sabe?




Capítulo 4 - Flight Lamps


Já se passaram sete dias desde que Malibu foi atingida por um evento sobrenatural — uma chuva de faíscas atingiu o parque da cidade. — Depois daquele dia, não ousou mais tirar os seus pés de casa. Ela tinha medo de que algo ruim a acontecesse, por um lado pode ser bom que as pessoas saibam que ela não está morta, mas por outro lado, se fosse algo bom, tal pessoa não tentaria a chamar atenção com uma tragédia tão brutal como a de sexta-feira passada.
estava dormindo em seu quarto e quando abriu os olhos não conseguia enxergar nada, ela estava em uma sala totalmente preta sem nenhuma iluminação em sua volta. Ela se levantou e começou a bater nas paredes, implorando por ajuda, mas ninguém respondeu. Ela encosta sua cabeça na parede e para de bater lentamente. De repente, sente algo escorrendo por sua mão direita, quando se dá conta do que é, se afasta rapidamente da parede e nota a frase “Eu irei te perseguir até o inferno, ” estampada com sangue na parede. dá um grito e levanta de sua cama desesperadamente quando se dá conta de que tudo não passou de um pesadelo.
— Está tudo bem? — pergunta ofegante, aliás, como alguém conseguiria subir aquela escada sem se cansar? — Ouvi você gritar.
— Não, está tudo bem. Eu só tive um sonho ruim. — coloca as mãos sobre sua cabeça e se senta ao seu lado. Ela fica com a cabeça abaixada por um longo tempo em silêncio até que resolve se deitar.
— Você ainda está pensando no que aconteceu na semana passada?
— Como poderia não estar? É óbvio que essa pessoa está afim de me atingir. — Disse enquanto cobria seu edredom em suas pernas.
— Mas, que tipo de pessoa conseguiria fazer tal fenômeno acontecer?
— Essa é a questão. — fez cara de confuso. bufou. — Se em 4059 nós não temos nenhum tipo de misticidade, como alguém do meu tempo teria?
— Então você acha que foi alguém daqui?
— Não. Foi alguém de lá, isso eu tenho certeza. Mas eu estou dizendo que se já existia misticidade no meu tempo e ninguém suspeitava, imagine aqui onde luzes de neon são consideradas algo “ultrapassado”.
— Então você tem medo que alguém daqui tenha algum tipo de ligação com a pessoa que causou a chuva de fogo?
— Exatamente, mas… Eu ainda não tinha chegado a este ponto. Como adivinhou?
— Eu não sei. Eu simplesmente ouvi você dizer. — ficou confusa. Ela deitou sua cabeça no travesseiro e voltou a dormir. voltou para a sala de estar e continuou assistindo a maratona de seus programas favoritos.
O dia amanheceu e ainda estava em sua cama com profundas olheiras criadas nesta noite de insônia. Ela estava coberta com seu edredom, sentada, ainda pensando no que aconteceu. entrou no quarto e a encontrou parada encarando um ponto fixo no chão. Ele bateu na porta três vezes para chamar sua atenção.
— Estou indo para o treino de vôlei. Quer alguma coisa antes que eu saia?
— Quero. Ir com você! Sou apaixonada por vôlei.
— Eu até te levaria, mas o treino de hoje é fechado. Só para aqueles que vão competir nas estaduais. — entortou a boca, demonstrando sua decepção. — Mas eu posso te levar no treino de quarta feira.
— Tudo bem então. Bom treino!
— Obrigado. — saiu do quarto e foi para o seu treino. desiste de tentar dormir e vai para a sala assistir a um programa de televisão. Tudo tão novo, atores que ela nunca ouviu falar, os programas mais liberais, relações homossexuais não pareciam ser um tabu por aqui. desligou a televisão e foi até a varanda.
Ela sentou-se na antiga cadeira de balanço da falecida avó de e ficou observando as pessoas. A casa de fica em frente à um pequeno lago e todas as crianças estavam brincando juntas, acompanhadas de seus pais que — em sua maioria — foram lá para pescar. Algumas coisas nunca mudam, sempre imaginou que no futuro as pessoas não se comunicariam mais socialmente, fora da internet. Mas parece que a tecnologia não afetou completamente o mundo, é notável o número de pessoas nas ruas, brincando, correndo, ou apenas deitando na grama e relaxando na beira do lago. Depois de alguns minutos prestando atenção nas pessoas a seu redor, caiu no sono na cadeira.
Enquanto isso, tinha acabado de chegar em seu treino e estava calçando seus sapatos para começar a se alongar. Por conta dos últimos acontecimentos, ele faltou aos 3 mais importantes treinos para a preparação do campeonato estadual e estava com medo do que seu professor iria dizer.
— Olha quem apareceu. — olhou para o lado e viu Tanusha vindo em sua direção, enquanto amarrava seu cabelo. Ela sentou do seu lado e apertou os cadarços de seus sapatos. — Sua namorada deixou você sair de casa? — Tanusha brincou.
— Para com isso. — riu. — A não é minha namorada.
— Não foi isso que pareceu lá no parque. — Rapidamente, se lembrou da chuva de fogo. Será que Tanusha viu? Ela estava lá quando tudo aconteceu? Ele preferiu não perguntar. — Nós somos apenas amigos. — Disse enquanto começava seu alongamento. — E mais, não implica com ela. Ela já está abalada o suficiente com tudo que vem acontecendo.
— Tudo bem. Ela parece ser uma garota legal. — Tanusha também começou seu alongamento. Ela começou a olhar para , ele estava um pouco assustado. Ela nunca o viu tão abatido antes. — O que houve? — Ela perguntou.
— Oi? Nada! Só estava aqui pensando.
— Na chuva de fogo? — desviou seu olhar para Tanusha, ela estava com um sorrisinho maroto em seu rosto. — Não se preocupe, eu vi no jornal essa manhã que todas as pessoas que conseguiram sair vivas de lá sobreviveram.
— É, mas e aquelas que não conseguiram sair?
— Bom, infelizmente não podemos fazer nada quanto a essas. — interrompeu seu alongamento e sentou-se no banco. Ele nunca tinha visto tantas pessoas mortas ao mesmo tempo, tanta tragédia acontecendo. Isso tudo mexeu com ele. — Você estava lá quando aconteceu? — Ele fez “sim” com a cabeça. Tanusha sentou ao seu lado e o abraçou.
— Eu nunca vi tanto desastre antes. Tantas pessoas feridas, desesperadas, correndo. — Uma lágrima escorria pelo rosto de , Tanusha a limpou.
— Eu sei como você se sente. Eu também estava lá.
— E você não se machucou?
— Não, eu fui uma das pessoas que pulou no lago quando tudo aconteceu. — se aliviou.
— E você, como se salvou?
— Eu apenas fiquei dentro do carro. Não tinha como sair de lá com tantas pessoas correndo. A estava comigo na hora. — percebeu no olhar de Tanusha que ela estava intrigada com alguma coisa. — O que foi?
, carros não são a prova de fogo. Como você e a sobreviveram a isto sem nenhuma lesão? — ficou intrigado, Tanusha estava certa. Uma das faíscas atingiu o vidro de seu carro, mas apenas o rachou. E com o impacto, deveria ter a quebrado e queimado seu carro por dentro. Mas não foi bem assim que aconteceu.
— Agora que você falou, eu realmente não sei. — O professor chegou e Tanusha voltou a fazer seu alongamento.
— Me ajuda nesse exercício? — Perguntou ela.
— Claro. — agachou-se na frente de Tanusha para que ela apoiasse a perna em seu ombro e foi levantando aos poucos.
— Tá bom, agora troca. — Ele agachou-se novamente e fez a mesma coisa com a outra perna. não conseguia se concentrar no treino de hoje, apenas pensando no que Tanusha disse. Eles estavam fazendo um exercício de manchete em dupla quando ele se distraiu e deixou a bola atingir sua cabeça.
! O que tá acontecendo? Você está muito disperso hoje. — Disse o professor Stevens.
— Desculpa professor. Estou um pouco distraído hoje. — O professor pegou a bola da mão de e começou a andar em círculos a sua volta. Tanusha ficou parada olhando tudo acontecer.
— Senti sua falta nos últimos treinos. O que houve? Desistiu do vôlei?
— Jamais. Eu só tive alguns problemas, mas já estou resolvendo. — Stevens parou de rodear e devolveu a bola à Tanusha.
— Espero, não quero ter que cortar um jogador tão bom quanto você nas vésperas das estaduais. — Stevens assoprou seu apito indicando o final do treino. Tanusha veio correndo até .
— Você ouviu isso? É melhor você largar essa garota e voltar a ter foco nos treinos. — ignorou Tanusha, pegou sua mochila e foi correndo para casa. ela o gritou, mas ele não ouviu. Quando chegou em casa, largou sua mochila no sofá e procurou por pela casa inteira.
? — Ela não respondia. Ele subiu as escadas, entrou em seu quarto e a encontrou lendo um de seus livros, deitada em sua cama.
— Me desculpe, é que eu não tinha nada para fazer aí entrei aqui e achei esse livro interessante.
— Ele riu.
— Está tudo bem. Só que eu preciso falar com você.
— Claro, pode falar. — Ele sentou-se em sua cama e olhou para por alguns segundos antes de fazer a pergunta.
, como nós sobrevivemos a chuva de fogo? — Ela ficou confusa.
— Como assim?
— Me diz exatamente o que nós fizemos quando a tempestade começou.
— Nós ficamos dentro do carro.
— Exato! — Disse ele com euforia. — Carros não são a prova de fogo. Segundo a lógica, o fogo deveria atingir a frente do carro, quebrar o vidro com o impacto e nos queimar lá dentro. Mas…
— Mas não foi isso que aconteceu. — Ela interrompeu-o, assustada. — Então, como nós sobrevivemos a isto? Por que nenhuma das faíscas danificou o carro? Justamente o seu carro!
— Eu não sei. Isso não faz sentido. — levantou da cama e começou a circular pelo quarto. — A pessoa que fez isso, queria te atingir. Então por que só o carro em que você estava não foi atingido?
— Isso está confundindo a minha cabeça. — levantou da cama e foi em direção ao banheiro para lavar o rosto. seguiu-a.
, pense bem. Essa pessoa podia ter acabado com você naquele momento. Então porque não o fez?
— Talvez porque você estivesse comigo. A briga é comigo, não com outros.
— Mas essa pessoa não pensou nisso quando matou dezenas de pessoas naquele parque. — concordou com a cabeça. — Isso não faz sentido, talvez aquilo tudo tenha um propósito maior. — ficou em silêncio por alguns minutos, enquanto pensava.
— Talvez tudo isso tenha um propósito maior! — Disse ela.
— O que? — desceu as escadas e sentou-se na bancada da cozinha enquanto pegava uma garrafa d’água na geladeira.
— A chuva de fogo não foi a única coisa estranha que aconteceu. Você já se perguntou por que eu vim parar aqui? Justamente nesse tempo? Justamente no mesmo lugar onde eu cresci a vida inteira? — fez ‘não’ com a cabeça. — Exatamente. Talvez eu não tenha caído aqui por acaso, algo estava predestinando que eu deveria vir aqui e encontrar você. Mas eu não sei porquê.
— Isso é muito confuso para a minha cabeça.
— Para mim também, mas pense. Como uma garota de 18 anos consegue simplesmente atravessar 2 mil anos e cair do céu? Na minha época nem existia máquina do tempo.
— Mas aqui também não.
— Ah desculpa, é força do hábito.
— Então você está me dizendo que alguma força do universo fez tudo isso para nos unir?
— Claro. Veja, depois que tudo aconteceu nós ficamos mais próximos um do outro.
— Tem razão. — O silêncio predominou por alguns momentos, até que voltou a falar. — Então, você ainda pretende voltar para casa?
— Mesmo com tudo que está acontecendo, sim. — guardou a garrafa d’água na geladeira e saiu da cozinha, sem dizer uma palavra. —
— Não, tudo bem. Eu não posso te forçar a ficar num lugar que você não quer. — Ele subiu as escadas e entrou no seu quarto, ela foi atrás.
— Não é que eu não queira ficar aqui, eu adoro o que esse lugar se tornou e eu adoro você. Mas, pensa na minha família. Eu ainda não sei onde eles imaginam que eu esteja.
— Eu entendo e eu faria o mesmo no seu lugar. Mas é que eu não quero te dizer adeus. — tocou o rosto de e se aproximou. — Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. — Eles aproximaram seus rostos e se beijaram. Quando seus lábios se tocaram, foi como uma eternidade para os dois, nenhum deles queria se afastar ou acabar com aquele momento. Foi algo único e marcante, foi uma das sensações mais prazerosas que eles já haviam sentido. Quando se afastaram, lhe deu um forte abraço e deixou uma lágrima escorrer por seu rosto.
— Eu também não quero te dizer adeus. Eu queria poder levar você junto comigo. — abriu os olhos e se afastou de .
— E por quê não pode? — Ele perguntou.
— É verdade, por quê não posso? Eu não sei como eu entrei aqui, mas se eu descobrir como sair não terá nada que te impedirá de vir comigo.
— Sim e eu não tenho nada a perder mesmo.
De repente alguém tocou a campainha e desceu para ver quem era. Quando ele abriu a porta, viu Tanusha com a mesma roupa que foi ao treino, suada e exausta da longa caminhada. Ele a convidou para entrar e a serviu um copo d’água.
— O que veio fazer aqui? — Perguntou ele enquanto ela bebia sua água.
— Você saiu correndo do treino, quero saber o que houve.
— Não foi nada, eu só queria resolver umas coisas com a . — Tanusha olhou para trás e viu parada na porta da cozinha acenando para ela, Tanusha acenou de volta e levantou para cumprimentá-la.
— Oi , como você está?
— Bem, e você?
— Bem, obrigada. — As duas ficaram se encarando por alguns segundos e tentou quebrar o gelo da situação.
— Tanusha, você só veio aqui por isso? — Tanusha desviou seu olhar para ele.
— Na verdade não. Eu vim te dizer que a Margareth Miller voltou pra cidade. — se espantou com o nome.
— Espera, você disse Miller? Tipo, descendente da Miller? — perguntou curiosa.
— Se estivermos falando da assassina Miller, então sim. — “Assassina”, aquela palavra martelou em sua cabeça.
— Como assim, assassina? — continuou com as perguntas intermináveis.
— Ela foi presa aos 18 anos depois de tacar uma menina no precipício, dizem que ela fugiu da cadeia, se casou com um italiano e anos depois foi morta pela polícia. — olhou para e ele sem entender nada, retribuiu os olhares.
— Acho que eu já sei como vim parar aqui. — Disse enquanto se sentava no sofá, Tanusha e a acompanharam. — Esses dias eu tive uma espécie de visão de uma pessoa injetando uma substância em mim e gritando comigo. Acho que foi ela.
— Espera aí, ela quem? A ? — Tanusha se intrometeu. — Não é possível, essa garota morreu há uns dois milênios.
— Pois é, e eu também. — Tanusha se espantou, mas continuou a falar.
e eu éramos inimigas desde sempre, ela queria tudo o que eu tinha e morria de inveja da minha vida. Então qual era a solução dela? Me matar.
— Tá, isso eu entendi. Mas nada explica você ter caído do céu naquele dia. — Disse .
— Espera aí, como assim? — Tanusha levantou desesperada do sofá gritando. levantou e tocou em seu ombro.
— Senta um pouco aí, preciso te contar uma história.
Depois de algumas horas, Tanusha estava impressionada com tudo o que acabara de ouvir. e a fizeram prometer não contar nada disso para ninguém. Quando ela saiu da casa de já eram mais de 8 horas da noite. e se sentaram no sofá e resolveram assistir a uma maratona de filmes.
— Você não tem aula amanhã? — perguntou.
, eu já tenho 18 anos. Me formei na escola faz tempo.
— Eu sei mas, você não faz faculdade?
— Eu tentei no ano passado, mas não acostumei com a ideia. Minha vida agora se define ao vôlei e se eu não der certo nisso, não darei em mais nada. — levantou-se do sofá e foi até a cozinha.
— Aonde vai?
— Vou por uma pipoca no microondas para assistirmos ao próximo filme.
Alguns filmes e três baldes de pipoca depois, já eram mais de meia noite e eles não estavam com o mínimo sono. Um outro filme estava para começar quando desligou a televisão.
— Ué, não quer mais assistir? — Perguntou ela enquanto ele levantava do sofá.
— Não. Agora eu quero te levar ao parque. — Disse ele, estendendo a mão.
— Da última vez que você quis me levar ao parque não deu muito certo.
— Eu sei, mas dessa vez será diferente. — segurou sua mão e foi com ele até o carro. No meio do caminho ela reparou em todos os lugares fechados, as únicas coisas abertas eram os bares e as boates da madrugada.
— Por que nós estamos indo ao parque esta hora? — Perguntou ela.
— Logo você irá saber. — estacionou o carro, abriu a porta do carro para e foi com ela até o banco do parque e se sentou.
— O que estamos fazendo aqui? — Perguntou ela. não tirava seus olhos do céu.
— Todo ano, no início de novembro, o Sr. e a Sra. Hunter soltam 20 lanternas no céu e eu sempre paro para ficar as olhando voar. Isso me relaxa.
— Não são 20. — disse.
— Como assim? — perguntou curioso.
— O Sr. Hunter solta vinte às meia noite e a Sra. Hunter solta mais vinte uma hora depois. Nós chegamos atrasados.
— Como você sabe disso?
— É porque esse era um ritual da família da . — abaixou a cabeça e começou a chorar. era sua melhor amiga de todos os tempos e ela não faz a mínima ideia de onde ela esteja ou se ainda se lembra da sua existência.
— Me desculpa, eu não te traria aqui se soubesse disso. — a abraçou e acariciou seu ombro.
— Tudo bem, a culpa não é sua. Mas de uma coisa você tem razão. Isso me relaxa bastante.
— Então, você vai ficar pra ver as outras 20?
— Sim. É a primeira vez que eu vejo elas daqui. Sempre via pela janela da casa da .
— Então essa vez será especial. — beijou o rosto de e virou para ver as lanternas voarem. A Sra. Hunter soltava uma por vez, para dar um contraste no céu. Quando ela lançou dez das lanternas, colocou uma música em seu telefone e chamou para uma dança.
— O que está fazendo?
— Não será especial se a garota não dançar com seu par. — Ela segurou sua mão e eles começaram a dançar juntos, rodando por todo o gramado do parque. Essa foi a primeira vez, desde que chegou nesse lugar, que ela conseguiu relaxar. Sem nada de sobrenatural ou de estressante acontecendo, era apenas ela e , juntos, curtindo um ao outro. Foi a única que vez que ela tirou da cabeça a vontade de sair de 4059.
Quando a Sra. Hunter terminou de lançar as lanternas, eles ainda estavam dançando, aproveitando o brilho que elas deram para a noite. O local esta tranquilo e calmo, até Margareth Miller aparecer. — Margareth e já se relacionaram uma vez, mas ele terminou com ela por ser muito obsessiva e ciumenta. — Ao ver a cena, Margareth bateu palmas bem forte para atrair atenção dos dois.
— Bravo! — Disse ela em tom sarcástico. — O velho truque da noite das lanternas, você não consegue pensar em algo melhor?
se espantou com a aparência da garota. Ela era exatamente como a . Loira, olhos escuros e personalidade forte. Do jeito que ela detestava.
— Margareth o que você está fazendo aqui? — perguntou nervoso. A garota empurrou e se aproximou do rapaz.
— Você não achou que eu fosse ficar em Nova Iorque para sempre. Ou achou? — olhou para , ela estava desconfortável com tudo isso. Margareth olhou para ela e também se espantou. — Você! — Ela sussurrou.
— O que disse? — perguntou.
— Eu? Nada. Apenas estou admirando quem é a sua vítima da vez. — Ela foi andando até . Margareth chegou tão perto, que conseguia sentir sua respiração em seu rosto. — Ele vai usar você até o momento em que ele se cansar.
— Margareth. — tentou a segurar, mas ela se defendeu.
— E quando ele se cansar, todo mundo vai lembrar de você apenas como outro capítulo do livro de safadezas dele.
— Margareth! — gritou, mas a garota não parava de falar.
— E depois de duas semanas, ele não vai lembrar do seu nome e nem de como foi gostoso tirar a sua virgindade.
— Agora chega. — pegou Margareth em seus braços e a jogou no lago. Ele abraçou bem forte e a consolou. — Não acredita nela, ok? Eu não sei de onde ela tirou essas coisas. — Ele sussurrou.
o apertou muito forte. Ela não estava constrangida com o que acabara de acontecer, apenas chocada com a semelhança dessa garota com . Ela pode até ser descendente dos Miller, mas não tem como serem tão parecidas dessa forma.
— Vamos para casa. — suplicou. ligou o carro e a levou para casa. ainda está chocada com o que acabou de acontecer.
— Desculpa. Eu achei que seria divertido. — Disse enquanto dirigia.
— Tudo bem. Eu me diverti hoje, antes dela chegar. Claro. — ainda pensava no rosto de Margareth. Dezenas de gerações se passaram, e ela tinha que se parecer justamente com a sua pior inimiga?
— Você pareceu muito abatida com ela hoje. Não precisa ter medo dela.
— Não era medo. É que… Esquece.
— Fala. — olhou para e viu a curiosidade em seu rosto.
— Quando nós chegarmos em casa eu falo.
continuou dirigindo. As ruas estavam vazias, aliás, eram quase duas horas da manhã. Nem mesmo os bares estavam abertos. Quando eles chegaram em casa, foi direto para o quarto se deitar, porém, não a deixou dormir.
— Chegamos em casa, agora você vai me dizer o que aconteceu. — bufou. Ela não queria preocupar com mais uma de suas loucuras. Mas ele já se envolveu demais nesse assunto, não tem porque esconder uma informação tão pequena como essa.
— Tudo bem, mas talvez você não entenda. — se sentou na cama de e a esperou começar a falar. — Quando vi a Margareth, eu levei um susto. E eu também sei que ela levou um susto quando me viu. E não foi apenas porque eu estava com você.
— O que foi então? — perguntou curioso.
— Ela é exatamente igual a . E ela me conhece.
, você percebeu como isso não faz sentido? E mais, elas são da mesma família, é óbvio que teriam traços parecidos.
— Me diz alguma coisa nessas últimas semanas que está fazendo sentido? — se manteve calado. — Você diz isso porque nunca viu a . Elas são idênticas. E você viu o jeito como ela me olhou? Tá na cara que ela me conhece.
— Então você está dizendo que...
, Margareth e podem ser a mesma pessoa!


Capítulo 5 - Sensations


— Isso é impossível! — Exclamou .
— Escuta o que eu estou te dizendo! Elas são a mesma pessoa, ela me olhou com ódio, da mesma maneira que a me olhava antigamente.
, isso não faz sentido! — se retirou e foi até a cozinha beber um copo d’água.
Há algumas horas, testemunhou a presença de , quer dizer… de Margareth. Acontece que a garota é exatamente igual a sua arqui-inimiga. Tudo bem que elas vêm da mesma linhagem, mas depois de dezenas de gerações, porque ela se parece justamente com sua inimiga?
— Então tudo bem. Vamos fazer assim, você me mostra uma foto da Margareth e eu te arranjo uma da e aí nós comparamos.
— Aonde você vai achar uma foto de dois mil anos atrás? — Disse enquanto bebia seu copo d’água.
— Se na minha época as pessoas já achavam fotos de vários ditadores alemães, vai ser bem fácil achar fotos de uma garota do século XXI.
— Século XXI. Você fala isso como se fosse algo moderno. — Debocha ele.
— Querido, agradeça ao meu século pela invenção dos smartphones. — Ela se defende.
— Tudo bem, vamos parar com essa discussão boba. Você procura uma foto da e eu procuro uma da Margareth. E aí nós vemos se elas são ou não a mesma pessoa.
— Ótimo. — Diz ela.
sai em busca de uma foto da na internet enquanto procura alguma foto de Margareth em um baú no seu porão. Quando ele finalmente encontra volta para a sala com uma pequena caixa cheia de fotos e bijuterias antigas.
— Encontrei uma foto minha e dela de antigamente. O que você achou?
— Nada, por enquanto. — Diz ela enquanto vira-se da cadeira. — Sempre fui ótima com computadores, só que…
— No seu tempo? — Brinca ele.
— Isso. — Ela conclui. — Eu não sei nem como digitar nisso aqui. Você tem um teclado aí?
— O que é um teclado? — Ele pergunta. se espanta. — Tô brincando. Eu tenho um guardado, mas prefiro usar a tela touch screen. É uma tecnologia tão antiga, pensei que já existia no seu tempo.
— Pois é, mas não existia. Pega logo o teclado, por favor. — pega seu teclado na gaveta e o pluga em seu computador.
— Pronto, madame.
— Obrigada. — começa a pesquisar o nome de no Google e procura por fotos. Depois de alguns minutos, ela encontra uma foto de para o anuário da escola. — Encontrei. — Grita ela, , que estava dormindo no sofá, se espanta.
— Finalmente. — Diz ele enquanto leva a foto de Margareth até o computador.
A semelhança delas é tão notória que até a própria se espanta. Os olhos, a boca, as maçãs do rosto, até o corte das sobrancelhas eram iguais.
— Realmente, elas são idênticas. — Diz ele.
— Até eu estou espantada. — Diz ela, boquiaberta.
— Mas, tem uma coisa que eu não consigo entender… — começa a andar pela sala com a mão na cabeça.
— O quê? — pergunta.
— Se a Margareth é a , ou vice-versa, eu não sei. Mas, se elas são a mesma pessoa, por que ela se envolveu comigo?
— Ela usou você, assim como fez a vida toda. De alguma forma ela soube que eu viria para cá e veio atrás de mim.
— Isso é tudo muito confuso. — senta no sofá e coloca as mãos na cabeça. senta-se ao seu lado e o abraça.
— Eu sinto muito por ela te envolver nisso tudo.
— Tudo bem. — coloca a mão sobre a perna de . — Eu escolhi te ajudar, não foi? — balança a cabeça. — Então é isso que eu vou fazer. — sorri.
— Você realmente não existe. — dá um beijo na bochecha de e sobe as escadas.
Logo após, a campainha toca. vai atender e se depara com Tanusha, do outro lado da porta com óculos de sol e uma bolsa.
— Tanusha, o que faz aqui? — Pergunta .
— Vim convidar você e a para fazer um passeio pelo centro. Que tal?
— É uma boa ideia, vou falar com ela. Enquanto isso, me espera aqui na sala. — foi atrás de no quarto, enquanto Tanusha os esperava no sofá.
. — bate na porta.
— Oi, pode entrar.
— A Tanusha está aqui, nos chamou para dar um passeio. Vamos?
— Parece uma boa, mas eu não estou me sentindo muito bem hoje, acho melhor ficar em casa.
— Tem certeza? Não prefere que eu fique com você? — Ele pergunta, preocupado.
— Não, tudo bem. Pode ir, não quero estragar o seu passeio. — Ela sorri.
— Você quem sabe. Vou deixar meu telefone com você, qualquer coisa você liga pra Tanusha.
— Ok, pode deixar que eu ligo. — coloca o telefone em cima do criado-mudo e dá um sorriso pra . Ele beija sua testa e desce para acompanhar Tanusha no passeio.
— E aí, vamos? — Ela perguntou.
— Vamos, mas a não está se sentindo muito bem hoje então preferiu ficar em casa.
— Ah, que pena. Tudo bem, deixa pra próxima.
— É. Vamos então.

***

e Tanusha estavam dando uma volta no centro, tomando um sorvete cada e conversando bastante. Tanusha estava muito animada com o próximo campeonato estadual de voleibol, mas, infelizmente, não estava tanto assim. Nas últimas semanas, sua única preocupação era com , e como fazer ela voltar para casa. Por mais que ele saiba que não tem nada haver com essa história, ele sente que tem a obrigação de ajudá-la, é como se ele estivesse ligado a isso tudo.
— E aí, tá animado? — Tanusha pergunta.
— Com o quê?
— Como assim “com o quê?” Com o campeonato, oras. Vai dizer que você esqueceu?
— Ah, claro que não. Estou muito animado, esperei por esse campeonato o ano inteiro.
— Você não parece muito animado pra mim. — Ela retruca.
— Tanusha, não começa. É óbvio que eu estou animado, até parece que você não me conhece.
— De uns tempos pra cá, não tenho conhecido mesmo.
— Já chega desse assunto. Se você me chamou aqui para ficar me questionando é melhor eu voltar para casa.
— Não, tudo bem. Não está mais aqui quem falou. — Eles continuam caminhando em um silêncio mórbido. Até que Tanusha engata outro assunto.
— Você não tem medo de deixar a sozinha em casa? — Ela pergunta. Na verdade, esse era o maior medo dele, mas ele não podia demonstrar.
— Até que não, quer dizer, sempre que eu vou aos treinos ela fica sozinha e nada acontece. Por que deveria temer?
— Bom, porque dessa vez nós temos a Margareth na cidade. — De repente, se assustou. Ele não podia deixar sozinha com Margareth a solta na cidade, mas também não podia voltar para casa e não mostrar confiança em .
— Margareth não teria coragem de aparecer lá em casa.
— Eu não duvido. — E nem ele.
— Vamos parar para almoçar? Estou morrendo de fome. — desvirtua o assunto.
— Claro, também estou. Tem um restaurante daqui há umas duas ruas. Dá pra ir andando.

***

Enquanto isso, estava em seu quarto assistindo televisão. Na verdade, a televisão estava apenas ligada. Mas ela não conseguia pensar em outra coisa a não ser a forma que voltaria para casa, ainda mais agora que descobriu que está interferindo em seu caminho. O que mais a preocupa é que se está aqui, pode não ter sido ela que causou aquela chuva de fogo na praça há algumas semanas.
desce para preparar seu almoço. Ela pega o telefone de e coloca qualquer música para tocar. De repente, ela ouve um barulho vindo de trás dela e se vira rapidamente, mas não enxerga nada. Ela larga os utensílios na cozinha, vai até a escada e se esconde atrás dos degraus, mas é surpreendida quando uma pessoa a pega pelo pescoço e começa a sufocá-la. Ela tenta se defender, mas não consegue encostar-se ao agressor. Ela arranca sua touca e se depara com Margareth, ou melhor dizendo, . dá um chute na barriga de e ela vai ao chão. Ela segura a rival pelos braços e pressiona suas pernas, evitando com que ela se mexa.
— Por que você está aqui? — não responde a pergunta. — Fala! Como você descobriu que eu iria cair nesse milênio? Como você chegou até aqui?
sente as mãos de se desintegrarem de seus braços e aos poucos ela foi desaparecendo como um monte de cinzas. Assustada, se levanta e procura pela adversária por todos os cantos, mas não a encontra. Aliviada, ela põe as mãos sobre o sofá e respira fundo, mas é surpreendida quando volta e enfia uma faca em seu estômago.
— Eu falei que iria te seguir até o inferno, vadia. — arranca a faca do estômago de e foge da casa de o mais rápido possível. cai ao chão e por lá fica, com o sangue jorrando à sua volta. Ela tenta pegar o telefone de , mas lembra-se que o colocou em cima da bancada. Sem forças para se arrastar até a cozinha, ela deixa uma lágrima escapar de seu rosto e tenta pedir socorro, mas sua voz não saía. Depois de diversas tentativas, desiste de pedir por ajuda e apenas espera a sua morte chegar.

***

Durante o passeio, eles pararam em um restaurante para almoçar. O lugar estava lotado, sábado à tarde, as famílias estavam todas reunidas para o almoço, felizes, conversando, enfim, tudo aquilo que não tinha.
— Está tudo bem com você? — Tanusha pergunta.
— Está, só que eu olho para estas famílias e sinto saudades da minha mãe.
— Você pensa muito nela?
— Ultimamente eu não tenho pensado em nada que não seja a . — Tanusha revirou os olhos. — O que foi? Pensei que você gostasse dela.
— Eu gosto, mas isso já está se tornando obsessivo. Você não tem nem se concentrado nos treinos por causa da e dessa história.
— Mas é claro que eu estou concentrado. — Ele retruca.
— Tem certeza? Então me diz, quando é o primeiro jogo do campeonato? — Ele fica sem resposta e volta a comer. — Não era essa a resposta que eu esperava. — bate com o garfo em cima do prato e começa a gritar:
— O que você quer que eu diga? Que eu não estou concentrado nos meus treinos porque estou ocupado demais ajudando a minha namorada a encontrar uma máquina do tempo? É isso? — Ele olha em volta e se depara com todas aquelas pessoas assistindo à cena. começa a sentir um mal estar muito forte no estômago, quase comparado a uma cólica. — Tanusha, me tira daqui.
— Você tem duas pernas, consegue andar sozinho.
— Eu estou falando sério. Meu estômago está doendo muito, não consigo me mexer. Tire-me daqui. — Tanusha se levanta da cadeira e apóia em seu ombro e o carrega para fora do restaurante.
A dor de aumentava cada vez mais durante o percurso, Tanusha o carregou até sua casa. Ao chegarem lá, eles encontram estirada no chão, com uma poça de sangue em volta.
— Meu Deus! — Tanusha grita, logo em seguida, desmaia.
Rapidamente, Tanusha pega o telefone e aciona uma ambulância. Logo em seguida, ela corre até a cozinha e pega um pano para tentar interromper o sangramento de . Lentamente, ela vê os olhos de se fecharem e se desespera. Seria esse o fim que essa a história teria? Não parecia certo, não parecia justo. Mas, a essa altura do campeonato, a situação de parecia irreparável e sua vida podia estar no fim.



Capítulo 6 - Syringes


Duas ambulâncias chegaram. Dois homens colocaram na maca e a carregaram até um dos carros e logo em seguida levaram para o outro carro, Tanusha subiu na ambulância onde estava e foi com ele até o hospital. - já acordado - gritava de dores no estômago, uma sensação parecida com a de alguém pressionando a sua barriga. No outro carro, faziam exatamente isso com , pressionavam sua barriga para estancar o sangue enquanto a mesma se encontrava com tubos no nariz para a manter respirando. Ao chegar no hospital, Tanusha deixa e vai até o quarto de , os médicos não a deixam chegar muito perto, mas ela a observa da porta e nota que os médicos estão tentando estancar o sangue de no mesmo lugar onde sente dor. Tanusha vai até o quarto de e percebe que ele ainda sente muita dor no estômago, ainda no mesmo lado.
— Qual é a sensação? — Ela pergunta.
— Parece que estão amassando o meu estômago, nunca senti tanta dor. — Ele diz.
— Que estranho, você nem levou uma pancada, ou tiro, ou algo parecido. O que será que pode ser?
— Assim que eu souber eu te digo. — Diz ele, que logo em seguida volta a gritar de dor. — Se você quiser ir para casa, tudo bem. Não quero que fique cansada.
— Claro que não, eu vou ficar até aqui com vocês.
— Senhorita… — A enfermeira, que se aproximou logo em seguida, chamou por Tanusha. — Seus amigos vão ficar em observação por um longo tempo, é melhor mesmo que você vá para casa.
— Tudo bem, mas eu volto amanhã para vê-los. — Tanusha se retira do hospital, ainda preocupada e intrigada com tudo o que está acontecendo.
Enquanto isso, algumas horas depois, acorda em seu quarto, já com o ferimento de seu abdômen fechado, e repara na enfermeira no canto do quarto.
— Ei, enfermeira. Onde estão meus amigos? — Ela pergunta.
— A sua amiga foi para casa e disse que volta amanhã e o seu amigo está em observação no quarto ao lado. — A enfermeira responde, sem se desconcentrar do que faz.
— Em observação? — se espanta. — O que houve com ele?
— Ele estava desacordado quando levamos a maca até você e alegou estar com fortes dores no estômago. Mas já está tudo bem, ele está dormindo agora.
— Que bom.
— E você como está? — A enfermeira pergunta.
— Me sinto melhor, mas ainda um pouco tonta.
— É por conta do sedativo, você devia descansar mais um pouco, ainda está anoitecendo.
— Acho que é isso que farei. — Diz enquanto se ajeita na cama do hospital, a enfermeira sai do quarto e apaga as luzes, deixando com que ela descanse em silêncio.

***


Na manhã do dia seguinte, Tanusha estava se organizando para ir a mais um treino de preparação para os jogos estudantis de voleibol. Ela sentou-se no sofá para calçar seus sapatos, amarrou seus cadarços com apenas um nó e os colocou dentro dos tênis. Pegou seu celular e procurou por uma playlist na sua seleção de músicas, colocou os fones de ouvido e saiu de casa.
Durante a sua corrida até o centro esportivo, Tanusha estava distraída com os fones de ouvido, sentindo o vento bater em suas orelhas e o sol refletir em seus olhos negros. Conforme o tempo foi passando, Tanusha foi se aproximando do centro esportivo, quando avistou uma pessoa conhecida do outro lado da rua. Ela estava longe, mas Tanusha tinha certeza de que a conhecia. Ela atravessou para o outro lado da calçada e foi andando em direção a pessoa que, ao enxergá-la, virou a rua às pressas.
Tanusha apertou o passo e começou a correr atrás da pessoa que também começou a correr, assim que percebeu que estava sendo seguida. Correndo cada vez mais rápido, Tanusha ia se aproximando da pessoa e esticou o braço na tentativa de segurá-la, mas sem sucesso. Continuou correndo até se ver presa em um beco sem saída, a menina parou e, ao perceber que não poderia mais fugir, virou-se para Tanusha e a encarou. Foi então que ela teve a certeza de quem era.
Tanusha se aproximou, apertando os punhos e, ao chegar perto da menina, segurou seus dois braços e os apertou, nervosa.
— Foi você quem fez isso com ela, não foi? — Ela gritava, alterada.
— Eu não sei do que você está falando. — A menina tentava soltar seus braços das mãos de Tanusha, mas não conseguia.
— Sem enrolações, Margareth! — Tanusha gritava. Margareth apenas ria da situação, debochadamente. — Foi você quem atacou a ontem à noite, não foi?
? — Margareth fingia não saber de quem se tratava.
— Não faça a sonsa comigo, garota. Você sabe que ela está namorando com o e isso te deixa com raiva.
— Ah, essa é a … — Margareth brincava com Tanusha, como se ela estivesse na vantagem da situação. — É, confesso que fiquei com um pouco de raiva, mas eu não seria capaz de atacar alguém. Não por causa do .
— E por outras razões? — Tanusha pergunta. — Você atacaria? — Margareth virou o rosto, rindo da cara de Tanusha, ela volta a olhar profundamente nos olhos dela e abre um sorriso sarcástico ao falar.
— Provavelmente. — Tanusha rapidamente soltou os braços de Margareth e recuou em três passos.
— Você é louca. — Disse ela, logo em seguida indo embora e seguindo seu caminho para o treino de vôlei.
Margareth sempre teve traços esquizofrênicos dentro de si, e isso nunca foi surpresa para ninguém, mas, pensar que ela possa ter esfaqueado é brutal demais — até mesmo para ela. O treino de Tanusha durou duas horas e meia, mas ela mal conseguia se concentrar pensando na conversa que teve com Margareth e em e , que ainda estão internados no hospital. Deixá-los sozinhos a assusta, mesmo que tenha uma equipe de médicos e enfermeiros os vigiando, eles não estão nos quartos o tempo todo e coisas podem acontecer quando eles deixam seus pacientes sozinhos.
Tanusha saiu do treino às pressas e foi direto ao hospital, correndo. Depois de uns quarenta minutos de chão, ela chega ao hospital e vai direto até o setor onde e estão internados, ela olha adentro dos dois quartos e não vê ninguém além dos enfermeiros, e dos pacientes em questão. Ela respira fundo e volta até a recepção para pegar seu cartão de visitante. Logo depois, vai até o quarto onde está internada e a encontra acordada, olhando para o alto. Ela se aproxima e encosta na mão da amiga, que toma um leve susto.
— Ai, é você. — diz, aliviada.
— Quem você achou que fosse? — Tanusha pergunta, desconfiada.
— Ninguém, deixa pra lá. — vira o rosto para o lado.
— Hm… Como você está? — Tanusha desvirtua o assunto.
— Melhor… — responde. — Mas ainda sinto algumas dores de vez em quando.
— Só tenta não se mexer muito. — Tanusha aconselha. Enquanto conversava com , ela não conseguia parar de pensar no confronto com Margareth mais cedo, pensando na possibilidade de ter sido ela quem esfaqueou , ainda que ela não saiba o motivo. Tanusha estava se coçando para perguntar toda a verdade a , mas decidiu poupá-la de mais esse estresse.
— Tá tudo bem? — perguntou. — Parece aflita.
— Não, estava pensando no estadual. — Tanusha desconversou. — Vou dar uma passada no quarto do , ver como ele está e depois vou para casa tomar um banho. Mais tarde volto.
— Tudo bem, mas, antes de ir, volte aqui e me diga como ele está? Estou preocupada. — implorou.
Tanusha balançou a cabeça e foi até o quarto de , ele estava deitado, brincando com os dedos. Ela deu três batidas na porta antes de entrar e só o fez quando ele sinalizou que podia.
— E aí, como você está? — Ela perguntou.
— Bem melhor do que ontem. — brinca.
— Que bom, isso significa que você vai ter alta em breve? — Tanusha pergunta, curiosa.
— Ainda não, eu disse ao médico que de vez em quando sinto algumas dores e ele pediu uma série de exames. — revirou os olhos.
— Qual o problema?
— Você sabe que eu não simpatizo com agulhas… — Ele disse.
— É verdade, mas vai ficar tudo bem, relaxa. — Tanusha tranquiliza.
— E os treinos, como estão?
— Puxados. O estadual está chegando, então o treinador está pegando mais pesado.
— Imagino. Queria eu treinar para o campeonato, mas estou aqui.
— Ei, pare com isso. Em breve você estará de volta a ativa, e ainda vai dar tempo de competir.
— Isso se o técnico não me substituir antes.
— Claro que não, você é o melhor jogador do time masculino. Ele só te substituirá se você não tiver alta a tempo.
— Quando é o estadual?
— Daqui a um mês e meio.
— Tenho um mês para levantar dessa cama.
— Relaxa, você vai sair dessa o mais rápido possível. — Tanusha passa a mão no cabelo de , acariciando-o. — Agora eu vou para casa, preciso tomar um banho. Mais tarde eu volto para vê-lo.
— Ei… — Tanusha já estava de saída quando a chamou. — Como está a ?
— Melhorando. — Disse Tanusha, sorrindo. Ela saiu do quarto e já estava de saída, quando foi interrompida por um médico.
— Você é a amiga de e , certo? — O médico perguntou.
— Sim, sou eu. Algo errado? — Ela perguntou, preocupada.
— Com seu amigo não, mas não posso dizer o mesmo de .
— O que houve com ela? — Tanusha estava ficando nervosa.
— Sua amiga sofreu um sério ferimento no fígado, graças aos nossos equipamentos, conseguimos fazê-lo funcionar artificialmente por um tempo, mas eles não estão fazendo mais tanto efeito e ela voltou a sentir dores.
— Você está querendo dizer que ela vai precisar de um transplante, é isso?
— Sim, exatamente. Mas o processo não é tão fácil, principalmente porque o sangue dela é O negativo.
— Raríssimo de se encontrar… — Tanusha completou.
— Sim. Você se importa de fazer alguns exames para ver se seus sangues são compatíveis?
— Nem será necessário. Eu sou A positivo.
— Então precisaremos correr atrás de um doador, rápido.
— E se não conseguirmos?
— Bom, os equipamentos ainda conseguem estabilizar a dor dela por algumas semanas, mas não podemos contar com a sorte.
— Então, quer dizer que se não encontrarmos um doador o mais rápido possível, a não sobreviverá? — Tanusha pergunta, com as mãos trêmulas.
— Certamente não.
— Então precisamos achar um doador logo. Você conhece alguém que tenha o sangue compatível com o da sua amiga?
— Conheço, e, por coincidência ou não, está internado no quarto ao lado. — Disse ela, logo, seus olhares se voltaram para , deitado na cama do hospital, acariciando os próprios dedos. O médico olhou para ela, preocupado, pois não sabe se está em condições de fazer doações de sangue neste momento, e se ele não estiver, a vida de poderá correr um imenso risco.



Capítulo 7 - Bloodtests


— Não sei se isso será possível. — O médico retruca.
— Por que não? O senhor acabou de dizer que ele está bem.
— Sim, mas continua em observação. Não posso arriscar a vida de um paciente para salvar a de outro.
— Entendo. — Tanusha fica cabisbaixa.
— Não se preocupe, nós encontraremos um doador para sua amiga. — O médico tenta acalmá-la.
— É, espero que sim.
— Bom, nós fizemos alguns exames com os dois. Quer ficar com os resultados?
— Não, não será necessário, obrigada. — Tanusha se retira do hospital, ainda cabisbaixa.

***


No caminho para casa, ela volta a pensar em todas as estranhezas que têm acontecido desde que entrou em suas vidas. A sua história e todos os atos sobrenaturais que aconteceram depois de sua chegada não fazem o mínimo sentido na cabeça de Tanusha. Pensando nisso, ela recorre a uma pessoa que pode lhe ajudar a descobrir tudo o que está acontecendo.
— Deixa eu ver se entendi, você está me dizendo que todos esses eventos sobrenaturais estão acontecendo por causa dessa garota? — Jill, amiga de Tanusha, pergunta.
— Sim, pelo menos eu acho. — Tanusha responde confusa.
— Isso não faz o menor sentido.
— Como se o fato dela ter caído do céu fizesse algum.
— Tem razão. E o que espera que eu faça? — Ela pergunta novamente.
— Eu não sei, você é a cientista, eu só quero entender o que está acontecendo ao meu redor.
— Você disse que ela e o seu amigo têm o mesmo tipo sanguíneo…
— Sim, O negativo. Por quê?
— Você tem foto deles aí? — Jill perguntou. Tanusha rapidamente pegou seu telefone e procurou por uma foto que havia tirado deles dois na casa de , no dia em que ela descobriu toda a história.
— Aqui. — Ela mostrou a foto para Jill.
— Estranho… — Jill se mostrava focada examinando a foto.
— O que é estranho?
— Eles têm o mesmo tipo sanguíneo e são fisicamente parecidos, além de parecerem ter exatamente a mesma altura.
— O que quer dizer? — Tanusha se perdeu em meio a tantos raciocínios.
— Amiga, nem gêmeos siameses têm tantas características em comum. Existe algo errado.
Tanusha se propôs a ajudar Jill a descobrir, de fato, o que está acontecendo. Jill a pediu para levar os resultados dos exames de sangue de ambos, e também uma amostra dos dois, como um fio de cabelo, por exemplo. Assim que saiu da casa da amiga, Tanusha voltou correndo ao hospital para pegar os resultados dos exames, assim que chegou, freou bruscamente contra a recepção, assustando a moça que estava atrás do balcão.
— Oi, então, eu sou amiga do e da , o médico responsável por ele havia me perguntando se eu queria ficar com os resultados dos exames de sangue que eles fizeram e eu disse não, mas, veja só, acabei mudando de ideia. Tem como você pegá-los pra mim? — Tanusha jogou as palavras para fora mais rápido do que seu fôlego conseguira aguentar, e consequentemente ficou com uma pequena falta de ar. A recepcionista lhe ofereceu um copo d’água, enquanto a respondia.
— Sinto muito, senhorita, mas acho que houve um terrível engano. Como você não é parente próxima dos pacientes, o médico nem poderia ter lhe oferecido os resultados, eu não posso entregá-los na sua mão.
— Eu disse que sou amiga? Eu quis dizer prima. — Tanusha tentou enganar a recepcionista, falhamente.
— E você quer que eu acredite que os dois caucasianos são primos de 1º grau de uma afrodescente?
— Você sabe que isso é racismo, não sabe?
— Vou pedir perdão quando me trouxer os registros que provem seu parentesco com os pacientes. Caso contrário, nada de exames para você. — Enquanto a recepcionista falava, outra havia adentrado ao balcão, em busca de algumas fichas na gaveta ao fundo, assim que ela encontrou o que queria, levou diretamente ao quarto do paciente em questão.
— Quer saber, deixa pra lá. Arranjarei outro jeito. — Tanusha se retira da recepção e vai até a área dos quartos dos pacientes. — Se eu não vou conseguir estes exames agora, pelo menos os fios de cabelo eu vou pegar.
Tanusha entra no quarto de primeiro e, por sorte, o encontra dormindo. Ela se aproxima devagar da sua cama e puxa um dos seus fios de cabelo com força, ele rapidamente acorda, assustado.
— Tanu, já voltou? — Ele pergunta, alegre.
— Cheguei a pouco, minha casa está um tédio.
— Você disse que ia para casa tomar um banho, por quê está com a mesma roupa? — Tanusha arregalou os olhos, ela nem havia notado o quão rápido o tempo passou.
— É, você me pegou. Não tive coragem de deixá-los sozinhos. — Mentiu.
— Imaginei. — solta um sorriso. — E a , como está? — Ele pergunta, Tanusha aproveita a deixa para sair do quarto.
— Ainda nem fui no quarto dela. Pensando bem, vou lá agora e depois volto e digo como ela está. — Ela sai acelerada do quarto com o fio de cabelo de na mão, mas desacelera o passo quando chega em frente à porta do quarto de . Ela estava lendo um livro que a enfermeira havia lhe emprestado, concentrada que era, não viu Tanusha adentrar o quarto. Logo, se assustou quando sentiu um toque em sua perna.
— Ai, é você.
— Eita, quem imaginou que fosse? — Tanusha pergunta, para tentar parecer natural.
— Não sei, mas com todas essas coisas acontecendo, vá saber. — sorriu e voltou a prestar atenção no livro.
— Do que fala o livro? — Tanusha pergunta, se aproximando cada vez mais de .
— É sobre uma jornalista que se torna uma foragida depois de expor todo o plano de uma máfia no seu jornal.
— Hm… corajosa. — Tanusha senta-se na beira da cama de e começa a acariciar sua cabeça. Ela acha estranho, mas não diz nada. — Estão te tratando bem aqui? — Tanusha pergunta.
— Sim, não fui maltratada nem nada do tipo, se é isso que está te preocupando. — ri, Tanusha aproveita para arrancar um fio de cabelo de sua cabeça, fazendo a gritar logo em seguida.
— Nossa, tem certeza que estão te tratando bem aqui? Tem cada nó imenso nesse cabelo. Quer saber, eu vou em casa buscar um hidratante e um pente, não é porque você está internada que tem que ficar feia. — Tanusha estava quase deixando o quarto quando começou a falar.
— Eu não posso usar nada de fora do hospital, ordens do médico.
— Oh… — Tanusha começa a pensar numa resposta rápida para sair do cômodo. — Eu vou ver o que consigo arranjar por aqui, então. — Ela deixa o quarto antes mesmo que possa responder, ao passar na frente do quarto de , ele acena, mas ela segue andando rapidamente sem olhar para trás.

***


Assim que saiu do hospital, voltou correndo à casa de Jill com os fios de cabelo que conseguiu arrancar dos dois.
— Você não pensou em embrulhá-los? — Jill pergunta.
— Não, eu fui correndo pra lá assim que saí daqui. Fiz mal?
— Não, tudo bem. Se for realmente o que eu estou pensando isso não vai atrapalhar em nada. E os exames, onde estão?
— Eis o problema. A recepcionista não quis me liberar os exames, porque eu não sou parente próxima.
— Imaginei que isso fosse acontecer.
— Só as amostras lhe servem?
— É… — Jill coça a cabeça e começa a andar pelo ambiente de um lado para o outro. — Elas ajudam bastante, mas sem os exames eu não conseguirei chegar a nenhum resultado concreto.
— Se quiser, eu posso voltar lá a noite e pegá-los.
— É muito arriscado…
— Não tem problema. — Tanusha a interrompe. — Eu preciso saber exatamente tudo o que está acontecendo com esses dois.
— E como vai fazer para pegá-los sem ser vista?
— Já pensei em tudo isso, fique tranquila, te trago os exames à noite. — Tanusha deixou a casa de Jill mais uma vez e, antes de voltar ao hospital, foi a sua casa tomar um banho e trocar de roupa.

***

Anoiteceu, e Tanusha está de volta ao hospital. Ela disse aos médicos que dormirá no quarto de e eles permitiram. Todas as recepcionistas já haviam ido embora e só estavam presentes os médicos de plantão e os pacientes em observação. Primeiramente, ela foi ao quarto de , com o sono pesado que tem, nem percebeu que ela saiu do quarto. Tanusha abriu a gaveta ao lado da cama de e procurou pelo resultado do seu exame de sangue, encontrou rapidamente e logo colocou em sua bolsa. Saiu de fininho e foi até o quarto de , que também estava dormindo. Tanusha andava devagar pelo quarto, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordá-la, abriu a gaveta silenciosamente e começou a procurar pelo exame, estranhamente, a gaveta de estava mais cheia do que a de , o que dificultou a busca. Não encontrou na gaveta de cima, logo abaixou e procurou na de baixo. De repente, a porta começou a grunhir.
— Pensei que fosse dormir no quarto do seu amigo, senhorita. — Tanusha se virou e deu de cara com o médico responsável pelo quadro de , a cara dele não era muito boa. Sem ter o que responder, ela ficou estática, o encarando, tentando arranjar uma resposta convincente para dá-lo.
— De fato, eu vou. Mas eu não estou conseguindo pegar no sono, então vim aqui em busca do livro que a vi lendo hoje mais cedo. — O médico olhou para o canto do quarto e encontrou o livro em cima de uma mesinha, pegou e entregou-o na mão de Tanusha.
— Da próxima vez que quiser algo, me peça. Não entre no quarto de outros pacientes sem a minha permissão.
— Tudo bem. — Tanusha pegou o livro e esperou o médico sair do quarto para se retirar. Ele abriu a gaveta de e começou a vasculhar, ela se manteve calada. Avistou que o médico havia retirado um documento da gaveta, olhou bem para o papel e percebeu que era o exame de sangue que ela estava procurando.
— Vamos? — Ele perguntou, parado em frente à porta.
— Claro. — Tanusha sai do quarto e volta ao aposento de , o médico segue adiante pelo corredor com o exame de nas mãos. Tanusha joga sua bolsa no sofá do quarto e se senta ao lado, com as mãos na cabeça. — O que eu vou fazer agora? — Ela pensa, sem os exames de , a pesquisa de Jill pode não chegar a resultado nenhum.



Capítulo 8 - Unanswered Questions


A madrugada cai em Malibu e Tanusha ainda está no quarto de no hospital, pensando em alguma maneira de pegar o exame de sem ser vista por nenhum dos médicos. Ela está deitada no sofá do quarto, com a cabeça em um dos apoios de braço e as pernas no outro. Mesmo com o quarto fechado, dá para ouvir os médicos do plantão conversando do lado de fora, isso incomodaria os pacientes caso parte deles não estivesse sedado e a outra parte não tivesse um sono tão pesado, ela gostaria que o caso de fosse o primeiro. Seu ronco é tão alto que atrapalha seus pensamentos e dificulta a possibilidade de pensar em um plano para pegar o bendito exame das mãos do médico. De repente, Tanusha observa a maçaneta da porta se mexer e a mesma abrir devagar e se ajeita no sofá ao ver que a enfermeira adentrou ao quarto.
— Te acordei? — A enfermeira pergunta, educadamente.
— Não, estava só descansando. — Tanusha responde, passando a mão em seu cabelo, endireitando-o. — Aconteceu alguma coisa?
— Não, só vim saber se está precisando de alguma coisa. Você está?
— Não, não estou, obrigada.
— Tudo bem, se quiser tomar alguma coisa tem água e café na recepção. — Disse a enfermeira, já deixando o quarto. Tanusha volta a se deitar no sofá, ainda pensando numa maneira de pegar os exames de .
As horas vão se passando e Tanusha acaba pegando no sono depois de tanto esquentar a cabeça, ela acorda com uma conversação alta vindo da recepção. Já são quase quatro e meia da manhã e ela então resolve tomar a água que a enfermeira havia lhe oferecido um pouco mais cedo. Ela abre e fecha a porta do quarto devagar para não acordar , embora ele tenha sono pesado. Caminhando até a recepção com o rosto cansado, ela nota um alvoroço entre os médicos, que estão nervosos por alguma razão. Logo aperta os passos e se escora na parede do corredor tentando não ser vista, na tentativa de descobrir o que está acontecendo.
— Sumiram? — Um dos médicos pergunta alterado.
— Sim, fui até o quarto do paciente para buscar os exames e eles não estavam lá. — O outro médico diz. Os olhos de Tanusha se arregalaram, pois rapidamente ela supôs que estavam falando dos exames de .
— Mas você acha que eles foram roubados? — Eles continuam discutindo o assunto.
— Não posso afirmar nada, mas acho que foi aquela moça que está dormindo no quarto do paciente hoje quem os pegou. — Tanusha começou a se tremer enquanto ouvia. — Eu a vi entrando no quarto da outra paciente que também é sua amiga, ela estava revirando as gavetas, disse que estava procurando um livro, mas eu não digeri muito bem essa desculpa.
— Mas ela pegou os exames da outra paciente?
— Não porque eu os peguei antes, mas acho que essa era a intenção.
— Que estranho. Mas onde você os guardou?
— Iria guardar no meu consultório, mas não encontrei as chaves, então deixei aqui na recepção.
— Então é bom que garanta que essa moça permaneça no quarto.
— Eu fui lá agora a pouco e ela já estava no terceiro sono, agora vai até o amanhecer.
— Assim seja. — Os médicos se retiraram da recepção e foram até seus consultórios, Tanusha aproveitou a oportunidade para revirar as gavetas da recepção em busca dos exames. Revirou todas as gavetas, bagunçou todos os papéis e não encontrou nada, então resolveu vasculhar a pilha de documentos em cima da mesa das recepcionistas, onde encontrou enfim os exames, depois de uma longa procura.
Ela saiu do balcão da recepção e voltou para o quarto de para buscar sua bolsa, onde estavam os outros exames. Ao chegar ao quarto, arrancou sua bolsa de cima da mesinha e guardou os outros exames lá dentro. Saiu do cômodo e tentou ir embora do hospital sem que os médicos percebessem sua saída, quando percebeu que a recepção estava vazia, correu para fora do ambiente depressa. Sem olhar para trás, foi correndo até a casa da Jill, sem se importar que fossem quase cinco da manhã. Ela tocou a campainha da casa da amiga, que a atendeu de camisola com os fios de cabelo desarrumados.
— Você sempre atende a porta deste jeito? — Tanusha pergunta.
— Eu sabia que era você. — Jill responde.
— Como?
— Você é a única inconveniente que tocaria a campainha de alguém as quatro e quarenta e sete da manhã. — Ela responde, no seco.
— Hm… posso entrar? — Tanusha pergunta, exibindo os exames em suas mãos.
— Já está aqui mesmo. — Jill sai da frente da porta para que ela possa entrar.
Tanusha entra na casa de Jill e já entrega os exames, mas ela os joga em cima da mesinha de centro.
— Não vai analisá-los? — Tanusha pergunta, alterada.
— Alto lar, eu disse que te deixaria entrar, mas não disse que ficaria acordada. Se quiser descansar tem um sofá ali. — Aponta ela, voltando para seu quarto.
O sol nasce na cidade e Tanusha se levanta, ela abre seus olhos lentamente e estica seus braços, se espreguiçando. Quando se senta no sofá, foca seus olhares para a mesinha de centro onde estavam os exames, agora vazia, ela rapidamente se desespera.
— Jill. — Ela grita, mas ninguém responde. Tanusha procura pelos exames por todo o cômodo, embaixo do sofá, atrás das almofadas, mas não os encontra. — Jill. — Ela grita novamente. Jill, então surge no fundo do corredor já com seu jaleco e com os exames nas mãos, Tanusha respira aliviada.
— O que houve? — Ela pergunta, ofegante.
— Nada, não encontrei os exames em cima da mesa e achei que tivessem entrado aqui durante a noite para roubá-los.
— Não precisava ter se preocupado, eu liguei alarmes na casa toda, se um galho de árvore tivesse rachado a minha janela você teria ouvido uma sirene mais alta e irritante do que a da polícia.
— Enfim, já analisou os exames? — Tanusha volta para o foco principal.
— Analisei. — Jill se mantém em silêncio após a resposta.
— E então… — Tanusha exige uma resposta, impacientemente.
— Espera um instante, têm outras pessoas interessadas no que eu encontrei nesses exames.
e surgem dos corredores, sem muletas, sem cadeiras de rodas ou qualquer outro equipamento que os segurassem para os manterem de pé.
— O que está acontecendo? ? Os médicos disseram que você precisaria de um transplante. — Tanusha se desespera.
— Os médicos não decidem se ela precisa de um transplante ou não, a mente dela decide. — Diz Jill, deixando todos com os rostos apáticos e confusos.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — pergunta, confusa.
— Fique tranquila, . — Jill orienta. — Te garanto que você é a mais beneficiada no que tenho pra te contar. — Todos os olhares se voltaram para Jill, que naquele momento era a única que tinha todas as respostas em mãos, mas, que respostas?



Capítulo 9 - Coming Home


Todos estavam sentados esperando que Jill contasse o que descobriu nos exames de e . A tensão no ambiente era visível em todos os olhares, principalmente nos desses dois, que não sabiam absolutamente nada sobre o que estava acontecendo. Mas a mente de Tanusha também estava com muitas pontas soltas, afinal, até poucas horas atrás seus dois amigos estavam internados em camas de hospital sentindo inúmeras dores, uma até precisaria de um transplante, e agora eles estavam sentados à sua frente, sem nenhum sintoma ou dor aparente. A curiosidade dela é maior do que a sua paciência, então ela resolve perguntar.
— Alguém pode me explicar como a se curou tão rápido de um ferimento profundo no fígado? — Jill vira seus olhares para Tanusha.
se cura de tudo o que ela quiser, enquanto ela ainda quiser. — As expressões de todos os presentes enfatizavam cada vez mais que eles estavam entendendo cada vez menos o que está acontecendo. — Vou direto ao ponto…
— Por favor! — ironiza.
— Seguinte, , você não está em 4059, nunca esteve. — As palavras de Jill entraram pelos ouvidos de , mas não fizeram o menor sentido em sua cabeça.
— Como assim? Eu estou aqui, não estou? — Ela pergunta.
— Não, você está deitada num leito de hospital, no mundo real, neste exato momento.
— Mundo real? — interfere.
— Vou ser mais clara. O que todos nesta sala sabemos é que caiu do céu após ter sido empurrada de um precipício, ainda em 2014. Mas, isto não é a verdade. — A expressão de e todos os outros se mostrava cada vez mais confusa.
— O que realmente aconteceu foi o seguinte: , você foi drogada com uma substância muito forte que injetaram nas suas veias e você chegou a ser arremessada de um precipício, mas seu corpo se prendeu entre duas pedras que estavam logo no início do mesmo, te deixando inconsciente. O efeito das drogas mais a pancada na cabeça foi o suficiente para te manter em coma.
— Coma? — pergunta.
— Sim. Você entrou em coma assim que bateu a cabeça e se mantém neste estado até hoje. E tudo o que você vivenciou até hoje não passaram de imagens que o seu subconsciente criou para te manter viva durante este tempo.
— E como você sabe disso tudo? — Tanusha pergunta.
— Porque está na hora da acordar do coma e o seu subconsciente me criou para dizer isto a ela. — Todos se chocaram com as palavras que estavam sendo ditas. Tanusha não digeriu muito bem a última parte, então se levantou e interrompeu o pensamento de Jill.
— Criação do subconsciente? Como assim? Você é minha amiga de anos. — Ela afirma.
— Tem certeza? Então cite alguma lembrança que nós temos juntas. — Tanusha não encontrou nenhuma resposta para dá-la. — Exatamente a resposta que eu imaginei. O subconsciente da quer que ela acredite que este mundo é real, então ele criou histórias convincentes para que ela acreditasse no que está vivendo. Criou até mesmo uma versão utópica dela mesma.
— Versão utópica de mim mesma? Quem? — perguntou.
— Esta pessoa bem ao seu lado. — Jill responde.
— A Tanusha? — Ela pergunta novamente, Jill revira os olhos.
— Você é mais lenta do que eu imaginei. Olhe pra quem está ao seu lado. — olha para , que revida os olhares. — Percebem as semelhanças? — Eles continuam se encarando, sem entender realmente o porquê. — Ambos são loiros, têm olhos verdes, gostam dos mesmos esportes, dos mesmos estilos musicais, literários e têm o mesmo pavor de agulhas.
— Então, o que você está dizendo é… — tenta adivinhar, mas não consegue concluir a frase.
— Você e o são a mesma pessoa! — Jill joga as palavras no seco, deixando todos perplexos. Tanusha cai sentada no sofá pelo espanto e Jill volta a falar. — O seu subconsciente recriou a cidade de Malibu exatamente como ela era aos seus olhos, apenas mudando algumas cores, mas é óbvio que você iria notar que a cidade não havia evoluído, logo, eles precisavam criar algo para te tirar o foco desse erro, então deram vida a uma versão alternativa de você mesma, com os mesmos gostos, a mesma beleza e o mesmo carisma, para que você se apaixonasse e não prestasse atenção em nada ao seu redor além dessa pessoa.
— Então basicamente eu não existo? — pergunta.
— Nem você, nem a Tanusha, nem eu e nem ninguém que ela conheceu neste mundo.
— Tudo bem, já estou começando a entender um pouco. Mas, porque você está me contando isto agora? — pergunta, confusa.
— Porque o seu quadro se agravou. Você está em coma há mais de um ano e não tem mostrado nenhuma evolução, pelo contrário. Lembra da chuva de fogo? Ou da briga com a Margareth em casa? Cada uma das tragédias que você vivenciou aqui foram uma demonstração de fraqueza do seu subconsciente em momentos onde você beirou a morte tanto aqui, quanto na vida real. Então você precisa acordar deste coma agora. — olhou para os lados e viu Tanusha e cabisbaixos, abalados com tudo o que acabaram de descobrir, ela também estava abalada, mas tinha uma decisão a tomar. Uma decisão difícil a tomar.
— Eu não quero voltar. — espantou a todos com sua resposta.
— Como? — Jill pergunta.
— Isso mesmo. Eu quero ficar aqui com o , não vou conseguir ser feliz sem ele. — Jill respira fundo e bufa.
— Olha, você pode até ficar e ser feliz com o , mas se esta felicidade durar 2 meses vai ser muito. — A expressão no rosto de rapidamente mudou. — , o seu quadro é grave e só tende a piorar. A droga que injetaram no seu corpo é forte demais, e apesar de já ter sido desintoxicada, te deixou com complicações sérias que devem ser tratadas em vida o quanto antes, e esse “antes” já está acabando. — abaixa a cabeça, tentando esconder seu choro, mas percebe.
— Mas eu não posso abandonar o , ele é o amor da minha vida.
— Vai… — De repente, interfere a conversa. Ele se levanta e vai até a frente de . — Você tem que ir.
— Como assim? — Ela pergunta. — Você não quer ficar comigo, é isso?
— Claro que eu quero, mas eu não posso deixar você morrer por minha causa. Eu nem existo. — Ele grita.
— Você existe pra mim, só isso basta. — Ela tenta convencê-lo, mas está convicto de que o certo é deixar sua amada partir.
— Você precisa ir. Além do mais, sua família está do outro lado te esperando acordar há mais de um ano, você não quer revê-los? — , então, fica dividida. — , eu te amo, e é exatamente por isso que eu sei que você deve voltar para o mundo real. — consegue convencer , que decide então acordar do coma.
— Tudo bem, eu vou. Como faço para acordar? — Ela pergunta a Jill.
— Beba isto. — Jill entrega uma bebida semelhante à água nas mãos de . — Isto irá sinalizar o seu subconsciente de que você está acordada e a levará de volta. — Assim que segura o copo, o vira sem hesitar. Ela o larga em cima da mesinha e vai em direção a Tanusha, dando-a um abraço.
— Obrigada por ter sido minha amiga esse tempo todo. — Ela diz. Tanusha se mantém calada e apenas curte o abraço.
Logo em seguida, anda até e acaricia seu rosto, ele segura sua mão e beija a mesma.
— Você foi à melhor coisa que me aconteceu em toda a minha vida. — Ela diz. esboça um sorriso, ainda segurando suas mãos, ele a dá outro beijo e deixa uma lágrima escorrer pelo seu rosto antes de dizer…
Você é a minha vida! — Eles se abraçam fortemente por alguns segundos até que sente o corpo de se dissolver em volta dela mesma, assim como tudo no local estava se desfazendo e virando poeira.
De repente o ambiente ficou escuro, da mesma forma que estava quando ela caiu no mar pela primeira vez, porém, desta vez, ao invés de cair, estava subindo de volta para o mundo real. Um filme sobre tudo o que ela viveu em 4059 passa por sua cabeça, os pequenos momentos com , até mesmo os momentos de aflição, ficarão marcados em sua memória eternamente.
Um clarão se forma, pressionando os olhos de , fazendo com que ela tenha que fechá-los. E assim que os abre, o ambiente já era outro. O teto e as paredes eram brancas, o cheiro era agradável e um barulho constante ecoava de algum lugar, até que ela ouve uma voz ao fundo dizendo: “Ela acordou?”, era sua mãe, que logo se aproximou da filha para ver se ela realmente havia aberto os olhos. Assim que ela se aproximou, viu assustada, sem emitir nenhuma reação, porém, acordada. , e também estavam no quarto, seus rostos demonstravam felicidade e alívio ao ver a amiga finalmente acordada, após um ano com os olhos fechados. Sua mãe gritou pelos médicos que rapidamente vieram a atender. Ao ver os médicos checando seus batimentos e perguntando coisas como: “Se consegue nos ouvir, pisque uma vez”, então se dá conta de que saiu de 4059. Ela respira fundo, aliviada, pois finalmente está de volta a sua casa, onde nada sobrenatural acontece e ela poderá viver feliz e tranquila ao lado de quem lhe ama e tanto torceu pela sua recuperação.



Fim!


Nota da autora: (05/01/2017) Sem nota.


Nota da Beta: Meu Deus, eu esperava tudo, mais tudo mesmo, mas não esperava esse final, tudo parte da cabecinha dela, fiquei realmente surpresa. Eu tô muito passada hahaha! Enfim, eu amei o desfecho da fanfic, esse mistério todo... Muito bom, parabéns!
Quero te agradecer, Lexie, por ter confiado sua história a mim, amei a parceria que construímos esses meses! Já sabe, se tiver um novo projeto não hesite em me chamar para betar! <3

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