5 Dias


Escrita por: Jou Battista
Betada por: Lila Zardetto


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Meu nome é .
Você pode estar pensando que esta é mais uma história de amor verdadeiro, cheia de dramas e declarações. Na verdade, é mais ou menos isso. Mas não começou de um jeito tão demorado quanto você pode estar pensando. Na verdade, o amor acontece mais rápido do que você pode imaginar. Eu poderia escrever mil páginas sobre ele, sobre nós, que não demorou para acontecer. Mas eu posso tentar resumir em cinco dias. Com certeza não seria uma perda de tempo.

• Dia 1.
08h. Atrasada, claro. Novamente. Tenho que aprender a dizer não para as minhas amigas quando elas vem com aquele papo de que eu preciso me divertir. Logo durante a semana, quando no dia seguinte eu tenho que acordar cedo para ir para o trabalho. De algum jeito estranho, o efeito do álcool e da festa me tira a atenção e não consigo ouvir o despertador tocar. Tomei um banho rápido e coloquei a minha melhor roupa. Era hoje. Hoje eu teria a reunião que definiria a minha vida. Ah, eu sou jornalista e colunista da revista Maxsting (uma mistura de Maxwell e Hastings, vamos chegar lá), e tive que escrever um artigo de duas páginas sobre a revista de economia do meu quase futuro chefe, Maxwell. É hoje, daqui a exatamente 20 minutos, vou me encontrar com ele para mostrar o que eu fiz. E se ele não gostar, bom, então estou ferrada. Dá para imaginar o quão nervosa eu estava.
Cheguei no café onde eu teria que me encontrar com ele e corri para sentar aonde ele estava; de início achei que ele iria levantar da mesa e me espancar, mas depois de um tempo comecei a ter certeza. Seus olhos mostravam raiva, parecia que ele estava ali aquele tempo todo porque era obrigado, senão ele já teria me demitido. Dei o meu melhor sorriso, tentando não parecer louca. Porque, claro, eu não tive tanto tempo de arrumar o meu cabelo, e nem de passar maquiagem. Coloquei a pasta em cima da mesa, abri, e tirei minhas escritas de lá, passando para frente para que ele pegasse. Mas ele apenas continuou me encarando como se quisesse que eu caísse morta no chão.
- Sabe quantas xícaras de café eu tomei até você chegar, srta. Scofield? Sete xícaras. - Eu não diria que ele fora um rude, a voz dele parecia calma, mas os olhos... Sentia que a qualquer momento me atacariam com um laser.
- Ah, me desculpe. Éu acordei um pouco tarde por conta d...
- Não me interesso em saber dos seus problemas ou do que fez você dormir demais. Mas você assinou um acordo, . Se eu não gostar deste artigo, ou melhor, se eu odiar este artigo, você está ferrada. Eu estou ferrado. Todos estamos. Tenho três dias para entregar, jamais acharia alguém para escrevê-lo novamente antes da data. Ou seja...
- Ah, desculpe senhor, mas me escolheram por uma razão, eu me acho capaz e acredito que fiz um bom trabalho. - Ele levantou as sobrancelhas e deu de ombros pegando os papéis em sua frente, enquanto eu dava bebericadas em meu café, ansiosa. Quanto mais ele rolava os olhos para lá e para cá lendo minhas palavras sobre a empresa dele, meu coração batia mais rápido.
e eu nunca tínhamos nos falado, na verdade. Eu já tinha visto ele e ele já olhara para mim uma vez, mas não nos conhecíamos. E devo dizer que esta não foi a maneira mais legal de conhecer uma pessoa, tive minha prova de que todas as pessoas que disseram que ele era ignorante estavam certas. Mas, ele era o cara. Sim, bonito, alto, musculoso. Dono das duas revistas mais famosas de NY. E, seria meu novo chefe. Se eu fosse promovida, é claro.
- Hm... - Ele disse colocando os papéis na mesa enquanto eu quase cuspia todo o café que tinha na boca. Ele me encarou novamente, e apontou para o papel. - Não está ruim, . Vou mandar para a editora, e seu artigo vai estar na revista semana que vem.
Será que eu estava sonhando? Não podia acreditar. Sempre gostei da revista pela qual eu trabalhava, principalmente porque era o andar de baixo da melhor revista de todas, Maxwell. E eu, euzinha, fui promovida para o andar de cima. Eu não poderia me sentir mais feliz que isso.
- Muito obrigada sr. Maxwell. Muito obrigada. 0 Não via a hora do meu corpo pular em cima da mesa e ir abraçá-lo. Mas acho que ele me odiaria mais ainda se eu fizesse isso.
- Pode me chamar de . - Ele sorriu para mim e guardou a pasta na bolsa dele. E de repente, um silêncio constrangedor se instalou ali. - Então , você gosta de trabalhar na Maxsting?
- Ah, eu adoro, Amanda é ótima. E é um lugar agradável. Sou apaixonada pelo meu trabalho. De verdade.
- Acho que o trabalho está te deixando um pouco louca.
- Ah?
- Você é meio doida. Parece... Vou mandar o artigo para eles, como eu já disse, e então te dou notícias depois.
- Ah, sim claro. Ok. Ok, eu vou esperar.
Ele se levantou fazendo-me levantar e ficar ao lado dele. Ele me olhou de cima a baixo e sorriu erguendo sua mão para que eu apertasse.
- Vou indo, . Foi um prazer.
- O prazer foi todo meu. Todinho meu... - Ele me olhou e fez uma careta na qual não pude detectar se era ódio ou se ele me achava mesmo maluca, mas teria muito tempo para descobrir. Assim que ele me deixou sozinha pude sentir minhas veias pulando para fora da pele. Yay. De Maxsting para Maxwell, eu estava indo bem. Nem imaginava que iria conseguir chegar tão longe.
Quando duas empresas se juntam, vira um estouro. Eu estava saindo da faculdade quando descobri que Amanda Hastings estava se juntando com Maxwell (eu disse que chegaríamos aqui), e não por motivos românticos, mas negócios. Eles são irmãos por parte de pai, e decidiram se juntar para ganhar dinheiro, pelo menos é por esta razão que eu – pessoalmente - acho que eles se juntaram. Mas rendeu bastante, e adoro trabalhar com a Amanda, que além de linda e estilosa, sempre tenta abrir portas para suas colunistas, como fez comigo. Subir um andar foi a melhor coisa que ela fez por mim. Com milhares de jornalistas dentro daquela sala enorme, ela escolheu a mim para fazer o artigo para o . E mais, ele gostou.
Não posso deixar de citar o que aconteceu depois dessa pequena reunião. Virei a esquina correndo, pois já estava atrasada para o trabalho, eu tinha que escrever três páginas sobre liquidações das novas lojas de NY, e meus saltos não estavam ajudando. Não havia necessidade de eu ter ido de carro até o café, até porque é perto do edifício onde trabalho, e aonde deixei o meu carro. Foi um erro, claro. Porque quando eu virei a esquina dei de cara com a pessoa que eu tentei manter longe de mim por quase dez anos. Stewart. Meu ex namorado. Na verdade, super ex namorado. Namorei ele quando tinha 14 anos, depois terminei. Depois namorei de novo quando tinha 16, fiquei um ano com ele, terminamos quando eu tinha 17. Um namoro conturbado? Não. Na verdade éramos aquele típico casal adolescente super apaixonado. Por parte dele mais do que da minha, óbvio. Eu tinha planos, e de acordo com meu coração, não estava entre eles. Então não deu certo e todas as promessas que fizemos um pro outro foram quebradas. E agora, dez anos depois, dou de cara com ele, enquanto estou atrasada para o trabalho. É como dizem, sempre tem algo para estragar a sua felicidade, não importa quão pequena ou grande ela é.
Óbvio que agi normalmente, como se eu nem soubesse quem era. Mas ele me olhou como me olhava a dez anos atrás, ou ele estava muito bravo. Na verdade depois de cinco segundos me encarando, acho que os olhos dele estavam piores do que os de quando me viu chegar atrasada. Enfim, desastre. Qualquer pessoa sabe o quanto é ruim encontrar um ex de muito tempo. Não que eu não tenha tido outros namorados depois, mas não foram tão duradouros. Ou, como posso explicar? Tão românticos e apaixonados. Talvez porque eu deixei de ser uma adolescente e passei a ser uma mulher. Que estuda e trabalha demais, e não tem tempo para amores. É isso. E nossa conversa não passou disso:
- .
- .
Um pequeno sorriso surgiu na boca dele e depois disso eu já sabia o que iria vir, e então, como sempre, fugi deste grande problema.
- Eu tenho que ir... Foi bom ver você. Tenho que ir para o trabalho. - Falei olhando para o relógio no meu pulso e saindo de fininho do lado dele até eu começar a correr pela calçada até o grande edifício onde eu poderia me enfiar na minha linda cadeira, respirar fundo e depois talvez me jogar pela janela.
Uma conversa um tanto curiosa, pois eu imaginava que ele iria correr atrás de mim e vir com aquele papo furado de "nossa, quanto tempo, como você está diferente, se lembra de quando...", então, graças a Deus ele não fez isso.
Depois fiquei distraída demais para fazer três páginas falando de liquidação. Eu queria mesmo era saber como estava minha situação no andar de cima, e quando eles iam me mandar para lá.

• Dia 2.
7:20. Droga de despertador que não parava de apitar. Se tem uma coisa que me tira do sério logo de manhã, é barulho. Por isso odeio quando tem algum apartamento em obra. Ou algum prédio. Mesmo que esteja a 135553km de distância, se eu ouvir o barulho, eu fico estressada. Quem é que faz barulho 7h da manhã, afinal? O despertador, é claro. Levantei-me da cama parecendo estar com ressaca de uma semana, mas não havia bebido nada. Talvez. Fiz meu café da manhã, assisti ao jornal, tomei um banho, vesti minha roupa de mulher responsável e dedicada. Abri a porta da sala e... . Se tem outra coisa que me irrita logo de manhã, é visita inesperada. Principalmente quando é um ex namorado de dez anos atrás.
- O.. O que você está fazendo aqui? Como sabe onde moro? - Perguntei já fingindo que estava atrasada novamente, peguei as chaves do carro e fui até o elevador, e algo me dizia que ele estava vindo comigo.
- Isso não importa, eu só queria falar com você. Sei lá, finalmente achei você.
Constrangedor. Estávamos dentro do elevador, e ele me olhava com aquele sorriso. Aquele sorriso que diz mais que todas as letras do alfabeto. Devo ter jogado uma montanha na cruz, mesmo.
- Achou, não é.
- E aí? Como está? Indo para o trabalho? Você está trabalhando com o que? Se lembra de quando....
- OH! - Sorri sem graça ao sair do elevador, dando um pequeno berro. Olhei para o relógio e fingi que estava totalmente triste por ter que abandoná-lo ali. - Estou ótima, e sim, e sou jornalista, e não, eu não me lembro de quando... Agora eu tenho mesmo que correr, até mais.
A essa altura eu já estava bem longe, acenando e gritando tchau, enquanto ele ficou parado com as mãos nos bolsos da bermuda. Por um momento eu senti pena, até entrar no carro e lembrar que eu tinha trabalho. Eu não reclamava da vida que tinha, na verdade eu adorava. Sempre sonhei em ter o meu apartamento, meu emprego, meu carro, minha vidinha confortável. Que hoje eu tenho, e não poderia me sentir mais agradecida por isso. Talvez ser nerd não seja tão ruim quanto parece.
Chegando lá, mal pude entrar na sala onde todos ficavam, pois me puxou para o lado e me convidou para almoçar, ele precisava me dar as notícias sobre o andar de cima com mais calma. Meu coração quase saiu do lugar quando ele disse isso. Eu aceitei e fui para minha mesa, já ansiosa pela hora do almoço. Já não sabia se eu estava louca para saber as notícias ou se eu estava louca porque almoçaria com aquele rei da beleza. O não me interessava de jeito nenhum, na verdade achava ele grosso demais para alguém como eu. Eu posso ser um pouco doidinha às vezes e acho que ele tem muita vontade de me matar por isso. Já estou acostumada, não é a primeira vez que deixo alguém irritado, não... MAS, que ele era lindo? Ah sim, ele continua sendo.
Na hora do almoço saí voada do prédio para o estacionamento e ele já me esperava, encostado na sua BMW super produzida cinza. Usava aquele terno de bom moço, e tomava um copo de café. Talvez ele fosse viciado, então tudo bem, ele estava sempre tomando café. Entramos no carro e ele ligou o som. E umas das minhas músicas favoritas de todos os tempos, estava tocando.
Natasha Bedingfield - Pocketful of Sunshine.
Qual é? Essa é a melhor música do universo. E eu, sem querer, comecei a cantar. E fui me empolgando. Já dá para imaginar que eu estava dançando igual à Emma Stone em Easy A. Quando olhei para o ele estava me encarando, e inacreditavelmente, estava rindo. Muito. De repente estávamos gritando a música dentro do carro.
Take me away, a secret place, a sweet escape, take me away, take me away, to better days, take me away, a hiding place.
Eu poderia descrever o quanto é bipolar, todos dizem que ele tem dias bons e ruins, os dias bons são nos sábados, e os ruins são o resto. Mas naquele dia, ele estava animado. Talvez por ter me visto pagar o maior mico de todos cantando no carro dele.
Chegando no restaurante ele foi um completo cavalheiro, quem diria que ele seria menos rude comigo? Ele afastou a cadeira para que eu sentasse e se sentou ao meu lado. Eu não tinha ideia do que falar com ele. Enquanto o garçom não vinha nos atender somente nos olhávamos e depois para o cardápio, e ficou assim por um tempo.
- Então... Eles postaram seu artigo.
- É mesmo? - Falei com certo entusiasmo, tentando conter o sorriso que ia de uma orelha até a outra. Ele riu baixinho e assentiu com a cabeça.
- Você é a nova colunista da revista Maxwell. Parabéns .
- Ai meu Deus! - Eu meio que gritei, mas controlei a voz. Um dos empresários mais sucedidos de NY estava me contratando. - Obrigada.
- Eu queria me desculpar... Pelo jeito que te tratei no café aquele dia. Não foi minha intenção... - Ele disse abaixando a cabeça; nunca pensei que ouviria se desculpando com alguém.
- Ah não, não tem problema algum. Tudo bem, mesmo. Afinal você não é a primeira pessoa que me chama de louca.
- Ah, meu Deus, eu não quis dizer literalmente, eu...
- De verdade, sem problemas. Eu sei que eu posso ser meio...
- Sério , eu não quis dizer nada daquilo...
- Não se preocupe.
- Vamos ficar o almoço todo interrompendo um ao outro enquanto falamos? - Ele disse rindo fazendo-me rir também, e tomamos um gole de vinho. O garçom veio até a nossa mesa e pedimos o que queríamos. Não comi muito porque se não ele iria pagar caro, óbvio que ele passou cinco minutos brigando comigo para eu comer mais, porém nunca fui de comer muito e convencê-lo disso foi difícil.
- Então ... O que você faz quando não está no trabalho?
- Ah, eu... Nada. Nada mesmo. Eu só fico em casa vendo filme e lendo, ou eu escrevo. Ah e às vezes minhas amigas me convidam para umas festas malucas... Mas eu não faço nada demais. E você?
- Bom, eu não faço nada demais também. Gosto de ver filme, ficar em casa, mas sempre vou ao cinema quando tem filme novo. E não curto muito festas, mas vou em algumas. Amanha vai ter uma, aliás, já que é sexta feira.
- OH... Nunca imaginei que gostasse de cinema. - Não sei por que eu disse isso, mas simplesmente saiu da minha boca. Ele estava me olhando curioso, não com os olhos cheios de raiva, era outra coisa que eu não sabia.
- Você gostaria de ir comigo a essa festa, ? - Ele praticamente cuspiu as palavras da boca, falou tão rápido, como se estivesse tomando coragem para dizer. Eu fiquei sem reação, é claro, gaguejando como ninguém, tentando me controlar. As pessoas me chamam de louca quando faço isso. Mas me convidando para ir a uma festa e me chamando de realmente me deixava louca.
- Ah, como assim? Quer dizer, vamos falar de trabalho? Da revista?
- Não, Deus do céu. - Ele disse rindo. - Vamos como amigos, conversar coisas de amigos, e nos divertir. Qual é, é uma festa e quer falar de trabalho? - Sorri nervosa e neguei com a cabeça.
- Claro que não, eu vou sim.
Sorrimos um para o outro e ele pediu a conta. Conversamos sobre a revista e que eu teria que passar minhas papeladas e coisas para minha nova sala no andar de cima, e que a festa de sexta seria uma comemoração do meu novo trabalho. E que fora daquele prédio ele não seria meu chefe, seria meu amigo. Enfim, ele colocou a música novamente e cantamos juntos até chegar ao trabalho.
•Dia 3.
Roupas, roupas, roupas. Roupas por toda parte. Não tinha ideia do que vestir. De manhã no trabalho eu transferi todas as minhas coisas para o andar de cima, minha sala era uma gracinha, e só me olhava de relance e dava um pequeno sorriso de lado, avisando-me que tínhamos compromisso. Passei meu endereço para ele por email e ele respondeu: "Espero que se divirta bastante hoje, te pego as 21h". Ah, eu também . Eu também.
Chegando em casa percebi que estava em crise de roupas bregas. Só tinha roupa de ir para o trabalho ou de ficar deitada o dia inteiro vendo filme em casa. Resolvi ligar para e para sara, já que elas eram tão fãs de festas.
- Não é possível. Você trabalha para uma revista de moda e é tão brega assim, ? - jogava na minha cara todas as roupas que eu tinha como se eu fosse um lixo para roupas bregas. Até que ela pegou um vestido e ficou boquiaberta segurando-o no ar.
- Este aqui! Este está perfeito, vista.
- Não vou parecer uma vadia?
- Ah, me poupe srta. Scofield, mas você está saindo com Maxwell e tem que estar fabulosa. - bufou em meu ouvido enquanto me apertava em um abraço. Por que amigas tem que ser tão pegajosas às vezes?
Vesti o vestido que ela mandou e calcei uma sandália de salto alto - que eu odiava - mas era muito bonita. O vestido era o que eu comprei para minha formatura, mas acabei usando outro, mal sabia se ainda cabia em mim, mas ficou perfeito. Era um vestido preto apertado que ia até um pouco acima do joelho e deixava minhas costas à mostra. As meninas me sentaram em uma cadeira e me maquiaram, era uma maquiagem leve para noite. Maquiagem para noite nunca é leve. Me olhei no espelho com medo de estar parecendo uma palhaça, mas elas não fizeram um trabalho tão ruim assim, a maquiagem estava legal. E eu me senti bonita. Depois de uns gritinhos e elogios, a campainha tocou.
- Ta legal, fiquem aqui, não destruam a casa e não saiam enquanto eu não for. - Falei baixinho e elas assentiram. Me sentia uma adolescente saindo com um gatinho da escola e contando para as amigas. Talvez o espírito adolescente nunca saiu do meu corpo. Abri a porta e ele estava lá com as mãos no bolso, usando um terno (como sempre) e com um sorriso um tanto malicioso em seu rosto. Arrumei o meu vestido e saí de casa. Fomos até o elevador sem falar nada, mas ele ainda estava com aquele sorriso.
- Está muito linda, . - Ele disse olhando para mim admirando cada pedaço meu de cima a baixo. - Vestido bonito.
- Obrigada, você também não está mal. Está vestido diferente hoje, o que deu em você? - Falei ironicamente sorrindo e ele soltou um pequeno riso.
- Você é engraçada.
A porta do elevador se abriu e nos direcionamos até o carro dele. Conversamos sobre gostos pessoais e descobri coisas sobre ele que eu nunca imaginava. Principalmente que ele gosta de série adolescente. O que eu admiro bastante, porque eu ainda assisto pra matar a saudade. Enfim, ao chegar na festa ele me levou até uma mesa e nos sentamos, com um papo muito bom sobre comidas, e bebemos vinho. Agíamos como adolescentes se conhecendo aos poucos e não falamos de trabalho nem uma vez.
- Você quer dançar? - Ele se levantou e falou no meu ouvido, me puxando para o salão onde todos estavam dançando.
- Não danço muito bem. - Falei fazendo careta. Ele me posicionou em sua frente e começamos a nos mexer. E ele começou a rir de mim, enquanto eu tentava dançar pelo menos um pouco.
- Ah, você é boa, não se preocupe. - Ele disse rindo e pegando na minha cintura. Revirei os olhos e passei meus braços pelo pescoço dele. A música não era calma, estava mais para eletrônica, mas estávamos tentando alguma coisa. Nos mexíamos como crianças desastradas e ríamos um do outro. As pessoas ao nosso redor nos olhavam e riam da nossa felicidade imitando uns dos nossos passos, e aquilo realmente virou uma festa.
- Nunca me diverti tanto numa festa. - Ele disse pegando na minha cintura e me encostando mais no corpo dele. Sorri sem graça. - É sério, acho que aquele negócio de depender da companhia é verdade. Você é bem legal e divertida. E dança muito mal. - Ele disse bem alto por causa da música e riu fazendo-me rir com ele. Pegamos mais algumas cervejas e vinho e bebemos. Infelizmente já era quase 1h da manhã e tínhamos que ir embora porque a festa tinha acabado. Ele me deixou em frente ao meu prédio e desceu comigo me levando até o portão.
- Essa foi a noite mais divertida da minha vida, . - Ele sorriu tímido e olhou para baixo.
- Obrigada por me levar, eu estava precisando me divertir um pouco.
- Pensei que você saísse com suas amigas para festas assim.
- E eu saio, é que... Elas sempre me abandonam pra ficar com caras, e então...
Sorri e ele colocou uma mecha do meu cabelo que estava em meu rosto atrás da minha orelha, e aquilo com certeza me deixou vermelha igual um tomate.
- E você?
- Eu o que?
- Não fica com caras?
- Ah... Não mesmo. - Então o sorriso sumiu do rosto dele. - Quer dizer, eu fico. Mas não em festas... - Dei um riso sem graça e ele riu novamente. Estava começando a achar que ele me achava uma palhaça ou eu era bem engraçada mesmo.
- Você é meio doida, sabia?
- Uhum... Todo mundo diz isso, minha mãe, meu pai... - Então eu comecei a falar descaradamente. Efeito do álcool, eu juro. - Minhas amigas também dizem que eu sou doida e muito desastr... - Então os lábios dele estavam nos meus. Eu não entendi bem o que tinha acontecido, ele me pegou de surpresa. Colou a boca dele na minha e eu sem perceber retribuí ao beijo. Ele segurou minha cintura e me colou no corpo dele e eu abracei seu pescoço puxando seu cabelo. Que beijo foi aquele? Não imaginava que iria acontecer, já que ele deixou claro que sairíamos como amigos. Talvez ele estivesse realmente bêbado ou eu imaginando coisas; mas quando ele me soltou e me olhou com aqueles olhos e eu vi que estava cheio de desejos e que ele estava seguro, percebi que não tinha efeito de álcool na loucura, que ele realmente queria fazer. Sorri sem graça e a expressão no rosto dele ficou leve.
- Podemos almoçar juntos amanhã?
- Ah... Claro. Por que não?
- Te vejo amanhã. - Ele falou me dando um selinho e correndo para o carro. Subi para minha casa e com certeza meu sorriso era enorme. As meninas estavam no sofá assistindo filme, assim que me viram entrar pularam para aonde eu estava e esperaram eu falar alguma coisa.
- ELE ME BEIJOU! - Então começou a gritaria. Eu imaginava que quando fizesse 20 anos eu já seria uma pessoa mais responsável, e séria. Mas pelo jeito, com 26 eu ainda parecia ter 17. E eu adorava. Eu acho que nunca deveríamos crescer, e sempre guardar uma parte criança no nosso corpo.

•Dia 4.
Acordei quase 11h da manhã de um sábado frio, com certeza iria chover. Lembrei-me do meu pequeno almoço com o e pulei da cama. Tomei um banho rápido e vesti uma roupa simples, porém linda, já que não sabia onde ele iria me levar. Estava penteando o cabelo quando recebi uma mensagem, e era dele. "Almoçaremos na minha casa, não se arrume tanto, fiz batata frita, estou indo te pegar, gata."
Agradeci bastante por não ter me arrumado tanto. Coloquei um casaco, peguei minha bolsa e esperei que ele chegasse. Quinze minutos depois ele tocou a campainha. E foi a primeira vez que o vi sem terno. Ele usava uma blusa de frio azul e calça jeans, e seu cabelo estava bagunçado e arrepiado fazendo-o parecer ainda mais novo.
- Está bonita. - Ele disse sorrindo e me deu um selinho. O que? Aquilo já era um namoro ou... Ele era bem atrevido? Mas eu não me importei, os lábios dele ficavam perfeitos nos meus, só para constar.
- Você está fofinho com esta roupa, não é um terno. - Ele riu e fomos até o elevador. Quando saímos do prédio ele pegou na minha mão entrelaçando nossos dedos. E eu não me incomodei nem um pouco com isso. Eu não sabia o que eu estava sentindo, mas o jeito que ele me olhava era o contrário daquele dia no café, ele me olhava com doçura e parecia admirar cada parte minha. Esse eu tenho certeza que poucas pessoas conheciam.
- ? - Parei de andar e virei para trás dando de cara com . - Oi. Uhm... Desculpa incomodar, quem é esse?
Encarei ele, depois olhei para minhas mãos juntas com as de , olhei para o , olhei para o de novo, e a única coisa que consegui fazer foi dar um pequeno sorriso.
- Sou Maxwell, estou saindo com . E você, é? —, ex da .
- Ex ex ex ex, bem ex. Tchau, . - Falei puxando até seu carro.
não falou nada durante o caminho. Nem quando entramos no prédio dele, no elevador, no corredor. Nem na casa. Ele me levou até a cozinha. Sentando-se na mesa onde tinha toda a comida, sentei-me na cadeira ao lado dele. E ele não falou nada.
- Então, você cozinha? - Sorri sem graça. E ele me encarou pensativo.
- Quem era aquele?
- Um ex namorado... De muito, muito tempo atrás.
- Ele está te perseguindo ou algo assim?
- O que? Não! Ele só é incrivelmente insuportável.
- Certo. Você ainda sente algo por ele?
- Com certeza não.
- E por mim?
Ele me olhou de um jeito carinhoso, passando seus olhos pelos meus, pela minha boca, minhas mãos em cima da mesa, depois meus olhos de novo. E eu não fazia ideia do que dizer.
- Eu não sei... . Eu adoro ficar perto de você, me sinto bem.
- Eu também.
Nos olhamos por alguns minutos e resolvi que tínhamos que falar sobre nós dois, afinal teríamos que falar uma hora ou outra, aquilo tinha que ser resolvido.
- O que você sente por mim, ? O que você quer? - Falei rapidamente fazendo-o corar. Ele me encarava tentando achar as palavras para responder.
- Eu gosto de você. Eu... Me diverti muito com você. Eu sinto que posso ser eu mesmo quando estou do seu lado. Você me fez rir, como ninguém nunca conseguiu. E... Você é doida, me fez sentir como um adolescente de novo. Quer dizer, eu... Eu sei que eu não deveria ter te beijado ontem, porque acabamos de nos conhecer, mas sinto que já somos amigos, quer dizer, nos demos muito bem. - Ele sorriu e pegou na minha mão. - Não paro de pensar em você desde o dia em que você deu a louca no meu carro, . - Ele continuou sorrindo, mas dava para ver que ele estava tímido. Eu não tinha mesmo o que dizer, estava sem palavras. Eu nunca ficava sem palavras.
- Eu acho que também gosto de você... - Sorri para ele.
- Isso é bom... Ah e, sim.
- Sim? O que?
- Eu cozinho. - Ele falou sorrindo e piscou para mim enquanto colocávamos comida nos nossos pratos. Comemos a comida deliciosa do , que eu fiquei elogiando por horas, e assistimos a um filme. Um tempo depois acordei abraçada com ele deitada no sofá. Ele estava vendo tv e mexia em meus cabelos. Sorri para mim mesma, aconteceu tão naturalmente que eu mal pude perceber que existia algo entre nós, que existia aquela magia, aquelas borboletas no estômago, aquela vontade de estar perto, aquele choque no corpo quando é tocada. Enfim, não pude ver porque estava decidida demais em tentar fazer alguma coisa dar certo, sendo que já estava tudo certo. Éramos adultos no trabalho, e adolescentes quando estávamos juntos. Passamos o dia todo no apartamento dele vendo filme, até ele me chamar para ir à praia. Fomos até a minha casa e eu peguei algumas roupas e um biquíni. Foi um dia perfeito.
À noite estávamos na areia deitados um do lado do outro vendo as estrelas. Ele segurava a minha mão como se sentisse medo que eu fosse embora.
- Você é tão bonita. - Ele disse, e quando eu olhei para ele, ele estava me encarando e sorrindo docemente.
- Você é tão cego.
- É sério, por onde você andou todo esse tempo? Por que não apareceu antes?
- Na verdade eu estive perto de você por muito tempo, você nunca me notou.
- Acho que eu estava ocupado demais sendo um chefe ranzinza e de mal com a vida.
- Ah é? - Gargalhei ao lado dele fazendo-o rir.
- Eu queria ter notado antes.
- Não faz mal. Estou aqui, não estou?
- Você está. - Ele sorriu e apartou minha mão na sua. - Dorme na minha casa?
- Ok. - Sorrimos um para o outro e fomos para a casa dele. Deitamos na cama e ele me abraçou, me apertando em seu peito. Podia ouvir o coração dele bater e batia muito rápido. Assim como o meu. E então, dormimos. Fiquei surpresa que o convite para dormir não tinha segundas intenções, não que eu fosse me importar, mas isso significava que ele queria algo sério, estou certa? Estava.

• Dia 5.
Acordei com dando beijos em meu ouvido, e quase bati nele sem querer. Sentei-me na cama um pouco atordoada e havia uma bandeja com frutas, pão e café com leite numa xícara.
- Uh, então é assim que recebe suas visitas? - Ele riu enquanto sentava ao meu lado.
- Estou tentando ser romântico, coopera. - Rimos e tomamos café da manhã juntos, depois, ficamos mais um tempo deitados na cama. - Você é tão diferente, .
- Diferente como?
- Diferente do que eu pensava. Diferente das outras pessoas que trabalham lá. Diferente das mulheres que eu já conheci.
- Como você pensava?
- Sei lá... Que você fazia todas aquelas coisas só para agradar aos chefes, mas você faz porque gosta. E que você era maluca, você é. Mas é legal. E... Que você não se importava com as coisas, quando na verdade você realmente se importa. Então estava enganado.
- Muitas pessoas estão enganadas sobre você também, .
- Ah, com certeza não.
- Estão sim. - Falava enquanto mexia no cabelo lindo dele. - Todos acham que você é um ogro. Mas por dentro você é uma pessoa incrível.
- Você acha?
- Uhum.
Ele sorriu e me deu um beijo, era incrível como nosso corpo combinava, como os lábios dele ficavam perfeitos nos meus, como a mão dele encaixava com a minha.
Passamos a tarde de domingo vendo filme, perdíamos praticamente o filme todo porque ficávamos nos pegando no sofá. De noite, ele me levou para jantar num parque, o que foi um tanto constrangedor. Após a janta, tentávamos ir aos brinquedos, mas eu era muito medrosa. Dessa vez foi ele quem me fez sentir como adolescente, ele segurava na minha mão e dizia que eu não precisava ter medo, e íamos em todos que eu realmente conseguia. Foi um passeio que eu não fazia há muito tempo. Na roda gigante ficamos calados um olhando para o outro por um bom tempo.
- Eu amava esse brinquedo quando era mais nova, mas morria de medo de altura. - Ele me olhou curioso esperando eu continuar a falar. - Eu não era muito de sair de casa. Acho que perdi muito tempo sendo preguiçosa e medrosa, ao invés de ser adolescente. E agora eu não tenho mais tanto tempo para isso.
- Engraçado como as coisas podem mudar em cinco dias depois de você conhecer uma pessoa, não é?
Sorri para mim mesma. E cobri meu rosto com minhas mãos. Realmente muita coisa tinha mudado em cinco dias, eu mal saía de casa, não me divertia, não amava. Não sorria. Só trabalhava, e assistia filmes sozinha. Ele segurou a minha mão e me abraçou.
- Muito engraçado. Porque há cinco dias atrás eu era o cara que todos julgavam mal humorado, grosso. E depois que comecei a sair com você... Bom, vamos dizer que, estou mais de boa. - Rimos e ele me beijou. Dessa vez um beijo apaixonado. calmo, cheio de desejo. Incrível como as coisas podem mudar em alguns dias. era igual a mim, um adulto cansado de ser um adulto. Nunca devemos deixar que a nossa parte adolescente morra. Não podemos esquecer que mesmo que com o tempo fiquemos mais velhos, não podemos deixar de viver. Não podemos nos dedicar apenas a trabalho e esquecer que temos uma vida. E me ensinou em cinco dias como voltar a viver de novo, assim como eu ensinei a ele.
Bom, hoje completam-se três anos que estamos juntos, e felizes. Nunca esquecemos de sair para viver, mesmo que seja em dia da semana. Festas, parque, filmes em casa, cinema, sempre juntos e brincando como crianças. Porque a criança que fomos um dia nunca sai de dentro de nós, ela só fica escondida até você encontrá-la e mostrá-la ao mundo. Aliás, fiz muito sucesso na revista, e me tornei uma das gerentes, contrata por Maxwell. sumiu, ainda bem, depois que deu um chega pra lá nele. está noiva e está namorando, e estou muito feliz por elas. Então, um conselho para as minhas leitoras, nunca se esqueçam de viver! Scofield, revista Maxwell, como aprender a viver em 5 dias, 30 de abril de 2028.


FIM





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