Ah, a violência.
Brigas, guerras, destruição, sangue. A impulsividade inerte na agressividade. As complicações movidas pelo comportamento humano.
O que seria do amor sem a violência?
VII
- A mulher do próprio irmão! - esbravejam. - Como pôde?!
Ares queria ter a resposta para tal pergunta. Mais que tudo, gostaria de poder afirmar-lhes algo. Para irritá-lo. Para irritá-la. Para irritar-se.
Mas não. A questão continua aberta, assim como esteve por milênios.
VI
A vergonha.
Quão ingênuos foram ao acreditar que suas acaloradas noites permaneceriam em segredo?
Hefesto avisara Afrodite que ficaria fora e ambos acreditaram. Tomaram essa como sua chance e, nem ao menos um dia depois, já se encontravam nos braços um do outro.
Agora, todo o Olimpo os observa. Riem da situação dos amantes enquanto estes, inutilmente, debatem-se, tentando se soltar dos milimétricos fios da rede de bronze.
V
Os braços de Ares envolvem a figura da deusa e ela se recosta sobre seus músculos. Entrelaçados entre si, adormecem.
Seu sono é tão profundo que não notam quando a claridade os atinge, iluminando seus corpos.
Ao longe, Hélio, o deus do sol, é tomado de inveja do guerreiro. Havia sucedido em roubar a mulher que tantos desejavam sem que Hefesto ao menos desconfiasse.
Ou, pelo menos, por enquanto.
VIII
- Achas que ela é tua? Está apaixonada por outro! – Perséfone o alerta.
Tomado pela raiva, Ares indaga quem seria tal homem.
- Adônis, é claro. Filho de Mirra com seu pai! – a deusa responde em tom sonhador.
Alguns exclamam que a própria esteja interessada em Adônis, mas Ares não se importa. Só o que se passa por sua cabeça são imagens de sua amada nos braços de outro homem.
IV
Dividir sua intenção é insuportável.
Requer todo o autocontrole que Ares nunca possuiu.
Ele a deseja para si, quer torná-la apenas sua, mas assim como Afrodite insiste em continuar com sua natureza sedutora, também mantém sua atenção devidamente focada no marido.
Enquanto isso, do outro lado do salão, as mãos de Ares formam dois punhos e ele tenta não se precipitar.
IX
O sangue escorre pelo corpo do rapaz e Ares sorri, seus olhos refletindo o mesmo tom avermelhado.
Um pobre garoto, pequeno mortal, querendo competir com ele pelo desejo de Afrodite.
Serve-lhe bem a morte.
X
- Como pudeste?! – ela exclama e, por um segundo, Ares não reconhece seu tom de voz.
Então, percebe. É o mesmo timbre cortante que Afrodite acostumara-se a usar para se dirigir ao marido, e não aquele doce canto que dirigia ao amante.
- Eu o amava!
De certa maneira, as palavras são piores do que qualquer golpe que já recebera em batalha. Ardem mais que a mais afiada das navalhas contra sua pele.
- Tu deves me amar! – a resposta escapa antes que Ares possa se interromper.
Meio segundo depois, uma palma se conecta ao seu rosto.
- Não ouses me dizer a quem amar.
I
É um ultraje!
Como esperam que a mais bela das deusas se case com o aleijado do Olimpo?
Nada, nada a convenceria de tal destino. Mas não está em suas mãos aceitá-lo. Outros já fizeram sua decisão.
Ela, a deusa do amor, seria dita a quem amar.
II
- É teu irmão.
Seus lábios estão traçados em um sorriso doce, mas seu tom é zombeteiro. Com apenas um movimento, Afrodite se vira, balançando seus longos cabelos.
Ares a segue com os olhos antes de ir ao seu encontro, segurando-a pelo braço, fazendo-a encará-lo com uma de suas sobrancelhas erguidas.
- E daí? – o deus pergunta.
Ela se solta do contato e, com um último olhar, continua seu caminho.
A maneira como seus lábios se repuxam e sua expressão transborda malícia é resposta suficiente para o deus.
III
O ritmo é incessante e, pela primeira vez, ela tem a sensação de que finalmente encontrara um homem que pudesse aguentar sua intensidade.
O suor mistura-se aos gemidos de prazer e, a cada segundo que se passa, ambos têm a certeza de que esse não será seu último encontro.
Fim
Nota da Autora: Alô, alô. Posso tirar um momento para agradecer? Obrigada BellaSullivan por ter feito a capa e Carol Mello por betar. E um obrigada master para Danya, Dricks, The, Lola, Nina, Mary e Carol, por ler antes e dar pitaco!
Essa fic foi um experimento em vários sentidos. Primeiro, pelo casal principal (eu admito: não sou muito fã nem de Ares, nem de Afrodite). Segundo, pelo estilo de escrita. É a primeira vez que eu tento escrever com trechos curtos, organizados de um jeito não cronológico.
Ah, e uma explicação é necessária: existem várias versões sobre qual foi o deus responsável pela morte de Adônis. Por que Ares então? Pelo seguinte motivo: em todos os mitos, foi um javali que matou Adônis. Coincidência ou não, o javali é um dos símbolos do deus da guerra.
Bom, é isso. Espero que tenha gostado e, qualquer coisa, você me acha aqui.
Nota da Beta: Qualquer tipo de erro encontrado nessa atualização, contacte-me por e-mail. Fique por dentro das fanfics que foram enviadas e as que ainda estão pendentes por aqui. Obrigada, espero que gostem da fic. XX