Finalizada em: 23/02/2018




Capítulo Único



Londres, Inglaterra – 1888

A luz que ainda restava do sol banhava o horizonte em um tom alaranjado. O mesmo tom das chamas daquele dia. O terror daquela data era algo que ninguém poderia tirar de mim. O dia em que minha vida perdeu todas as cores. Logo depois, o branco e o preto cobriram nosso encontro, onde mal a lua se atrevia a brilhar.
- Jovem Dama? – a voz dele disse atrás de mim – A carruagem real chegou e o Sr. Madson está ao seu aguardo.
- Mande-o entrar, – virei-me, desviando o olhar da grande janela e vendo-o sair.
Chequei minha imagem no espelho, ajeitei o vestido e saí, descendo as escadas, no caminho parei e olhei o enorme quadro pendurado. O rosto pacífico e sorridente de minha mãe e a face sombria de meu pai. Aquele quadro precisaria ser removido dali.
- Condessa – disse o homem bem vestido curvando-se.
- Sr. Madson. Deixe-me apresentar meus servos – estiquei o braço para os quatro parados ao lado da porta – Esse é Barton, nosso Chef, – apresentei o loiro com um palito entre os dentes que sorriu cordial – Fyn, nosso jardineiro, – apontei para o loiro mais baixo – e Marylin, nossa empregada – a ruiva se curvou e sorriu, seus olhos brilharam por detrás dos óculos.
- Que bela equipe a senhorita tem, Condessa.
chegou prostrando-se ao meu lado.
- E meu fiel mordomo, .
O homem pareceu hesitar por um momento diante do meu mordomo. Ele tinha esse jeito de intimidar quem acabava de conhecê-lo. Não, não um jeito, uma força da natureza.
- Sr. Madson, quero saber exatamente a razão de minha visita à casa da rainha, sendo que nem a própria estará lá.
- Condessa, temo que se esqueceu de sua obrigação com a rainha – franzi o cenho diante de tal atrevimento – Vossa majestade solicitou a presença de sua fiel escudeira, ela estando lá ou não, é seu dever obedecê-la. – bufei.
- Ótimo. Vamos, .
Entramos na espaçosa carruagem e observei a paisagem.
- Ainda não sei o assunto a ser tratado nessa “reunião”.
- Ninguém sabe, Condessa. O mordomo da rainha irá ler a carta com as instruções quando todos estiverem presentes.
Lancei um olhar rápido para , seus olhos vermelhos brilharam e ouvi sua voz dizer:
Obedeça como a bela serva da Rainha que és.
Mas que maldição.
Continuamos o caminho até a mansão da rainha quando a carruagem parou e saiu primeiro me estendendo uma mão para que eu pudesse sair logo em seguida. Fomos caminhando por dentro da casa até chegar a uma porta que ocupava a parede gigantesca. A rainha realmente tinha esse complexo de querer tudo o maior possível, mesmo sendo pequenina. Ri sozinha.
O servo abriu a grande porta, revelando uma sala maravilhosamente bem decorada e uma comprida mesa onde vários homens e algumas mulheres estavam sentados impacientes. Todos viraram seus rostos em minha direção.
- Espere aqui, isso não vai demorar – falei baixo para assim que entramos.
- Sim, minha Lady.
- Está atrasada, Condessa – o homem velho disse.
- Não, não estou. Os outros que estão adiantados – sorri. Seu rosto ficou vermelho de irritação.
- Vamos logo com isso. – a mulher vestida em vermelho disse tediosa.
- Bem, já que a Condessa Adeine decidiu finalmente nos honrar com sua presença vamos começar – o mordomo da rainha disse.
Angelo era o oposto de e ao mesmo tempo, ambos tinham uma estranha semelhança. Era pálido como ele, porém seus cabelos eram brancos e seus olhos eram um roxo profundo, enquanto tinha cabelos e olhos avermelhados. Mas uma coisa era idêntica: seu olhar misterioso e a beleza estonteante.
Sorri irônica para ele que logo rompeu o selo da carta.
Todos aqueles na mesa o olharam enquanto lia a carta, aqueles homens e mulheres, os “Cães de Guarda” e as “Escudeiras” reais.
- Muito bem, as instruções de Vossa Majestade são bem claras. O assassino conhecido como “Jack, o estripador” tem tirado seu sono, e ela deseja que esse caso seja resolvido o mais rápido possível para a segurança de seu povo. Para a solução desse caso, os selecionados devem acompanhar de perto a investigação junto com a Scotland Yard.
- E quem são os selecionados? - o velho perguntou ansioso.
Tsc, homem irritante.
- Condessa , Sr. Lau Ling e Madame Red.
- O QUÊ? – lá vem... – Como Vossa majestade coloca uma criança dessas, - apontou para mim - em um caso de homicídio violento? Ora, me perdoe, mas ela só pode estar louc… - ele foi calado com um tapa bem-merecido pelo mordomo da rainha. Sorri. As coisas estavam até bem divertidas hoje.
- Não ouse em nenhuma hipótese falar desse jeito. Afinal de contas, a família tem sido leal à família real por gerações, embora seja nova para tal cargo, é suficientemente madura e tem a confiança de Vossa Majestade – disse enquanto colocava sua luva de volta – Por enquanto é só. Boa sorte, . – jogou-me a carta, olhando-me com um sorriso suspeito.
Levantei-me para sair.
Um garçom tirava o vinho da mesa, mas o velho rude esbarrou nele fazendo o vinho ir ao chão… ou quase lá se não fosse por e suas habilidades diferenciadas. Todos olharam a cena, espantados com sua rapidez.
- C-como você…? – o velho dizia.
- Como mordomo dos , é apenas natural realizar um feito desse tipo – sorriu – Madame Red, Sr. Ling, fiquem à vontade para irem à mansão quando lhes for conveniente.
Torci o nariz.

Não quero me importunem,

Quando já estávamos na porta ele colocou a mão sobre minha cabeça como se fosse um cachorrinho.

Ordens da Rainha, minha dama.

(...)


- Outra mulher assassinada em Whitechapel ontem – eu disse após dar um gole em meu chá do lado de fora da mansão – Não é um simples caso de homicídio.
- Foi realizado de forma extremamente violenta. - Lau disse com a boca cheia de bolo. Rolei os olhos.
- Seu corpo foi estraçalhado de uma maneira nunca vista antes. – disse atrás de mim.
- Teve coragem de olhar os corpos, Condessa? – senti um tom de desafio em sua voz.
- O que está insinuando, Lau?
- A escuridão e aroma de tal cena são tão fortes que consomem as pessoas daquele mundo. Você pode acabar ficando louca. Está pronta para algo assim, ? – sua mão tocou meu rosto como se estivesse dizendo a uma criança que é seu primeiro dia de aula.
- Estou aqui para acabar com a aflição dela. Não me faça perguntas desnecessárias – afastei sua mão com um tapa.
Depois de todos se dispensarem, fomos até a cena do crime mais recente. Várias pessoas estavam no local tentando observar alguma coisa. Ratos curiosos.
- Pobrezinha - disse uma senhora bem vestida ao lado de seu marido procurando ver algo da cena.
- Se ela não estivesse nessa vida, nada teria acontecido - o marido disse. Rato hipócrita.
- Ei, moça – um dos investigadores que estava dispensando a multidão disse quando eu não me mexi para sair – Desculpe, não pode entrar. Vá para casa, seus pais devem estar preocupados.
- Onde estão os restos da vítima? – lançou-me um olhar surpreso e vi sorrir ao meu lado.
- Abberline! - uma voz de dentro gritou e o homem se virou para ver seu superior saindo do local – O que faz aqui, Condessa ?
Balancei a carta com o selo real e seu olhar tornou-se incrédulo. Peguei os relatórios em sua mão, analisando-os.
- É, nada de útil – tomou os papéis de volta.
- Nós da Scotland Yard vamos resolver o caso, não precisamos da intromissão dos servos da rainha.
- Esplendido. Vamos, .
Murmurou um “Sim” e saímos.
- O que está fazendo? - Madame Red perguntou ao meu lado.
- Vamos ter que achar outra fonte de informações.
Caminhamos até o fim da rua e paramos em frente ao Undertaker.
- Que lugar é esse? – Lau perguntou.
- O administrador dessa funerária é um dos conhecidos da Jovem Dama. – disse abrindo a porta.
- Undertaker, está aí? – perguntei, meu olhar se desviou para o caixão apoiado na parede, o sujeito alto de cabelos compridos acinzentados saiu dali com sua comprida roupa preta. Ouvi madame Red soltar um gemido de medo desnecessário.
- ! Que prazer revê-la. Em que posso ajudá-la desta vez? Outro trabalho particular? – sorriu suspeito. Red e Lau me lançaram um olhar assustado, rolei os olhos. Não é possível que acreditem nesse cara.
- Preciso qu…
- Sei muito bem o que veio fazer aqui – levantei uma sobrancelha.
- Sabe?
- Sei – disse confiante – Veio adquirir um caixão de luxo.
Olhei para e massageei as têmporas. Céus, eu estava cercada de idiotas.
- As mulheres assassinadas, Undertaker. O que sabe sobre os corpos?
- Ah, elas tinham belas curvas.
Dê-me paciência!
- Sabe do que estamos falando – disse sério com a mão em meu ombro.
- Quanto essa informação irá custar? – Lau perguntou.
Undertaker chegou bem próximo ao seu rosto.
- Não quero o dinheiro de sua rainha! - colocou o dedo em seu peito. Afastou-se de Lau e colocou um braço em meus ombros – Agora, Condessa, temo que saiba meu preço.
Suspirei.
- – chamei e ele logo tirou o pequeno saco de seu paletó. O homem pegou-o rapidamente, abrindo e jogando uma bala na boca.
- Um saco de… balas? - Red perguntou confusa, sua situação era compreensível.
- Um dos poucos prazeres dessa vida curta e amarga – disse ele saboreando o doce.
- Agora diga o que sabe – disse .
- Muito bem, as vítimas foram cruelmente estraçalhadas por uma lâmina grossa e incrivelmente afiada – todos os jornais sabiam disso, não era uma informação que ajudaria se está em todos os lugares.
- Devolva as balas – estiquei a mão.
- Não terminei! Todas foram violentadas de formas diferentes, mas havia uma única coisa em comum que os jornais não mencionaram. A falta de algo.
- Falta? – Lau perguntou.
- Sim, falta. Os olhos para ser mais específico.
Torci o nariz.
- Seus corpos foram cruelmente mutilados, mas os olhos foram tirados com uma precisão incrível. O assassino irá atacar novamente. É como se fosse um vício, e não irá parar até ser forçado. Pode por fim nisso, Nobre da Escuridão, Condessa ?
- Porei fim em tudo àquilo que mancha o jardim da Rainha, sem exceções. E usarei quaisquer meios necessários.

(...)


- O que acha que é? Um oftalmologista? - Lau perguntou, bufei alto.
- É mais provável que seja apenas um assassino a sangue frio, nesse caso precisaremos de uma isca – ouvi a voz de enquanto olhava a carta em minhas mãos, de repente todos se calaram. Levantei os olhos e todos na carruagem me encaravam.
- Não!
Chegamos à mansão e tudo que eu queria era uma banheira quente.
Fyn passou correndo pelo salão com uma rede em mãos, sendo seguido por Barton e Marylin.
- ?
- Há alguns ratos na propriedade, Jovem Dama.
- Era só o que faltava. Cuide disso.
- Sim, minha lady – curvou-se e saiu.
Caminhei devagar enquanto lia a carta até minha sala, assim que cheguei coloquei a carta na pasta junto com todas as outras numa gaveta da mesa e virei-me vendo na porta.
- Problema resolvido – sorriu orgulhoso.
- Ótimo, agora faça uma lista dos suspeitos de Jack.
- Sabe que vai ter de ser a isca, não é? – deixou o prato com um pedaço de torta em cima da mesa, peguei um pedaço jogando-o na boca.
- Eu te mato por dizer aquilo. O que deu na sua cabeça? Sua função é me proteger, não colocar em perigo.
- Achei que tinha dito que “usaria quaisquer meios necessários” – usou minhas palavras contra mim – Não confia em minha habilidade de protegê-la? – seu rosto estava mais perto do meu, olhei-o com fúria, ele apenas sorriu e passou um dos dedos coberto pela luva próximo ao meu lábio, tirando o glacê e colocando-o em sua boca – Não deixaria nada acontecer com a Jovem Dama.
- Faça o que eu mandei, – desviei-me.
- É meu trabalho.
- Ah, mas uma coisa – virei-me – O quadro no salão...
- Sim? – franziu o cenho.
- Tiro-o de lá. Eu sou a líder da família de agora em diante. – houve um longo período de silêncio, sorriu e fez uma breve reverência.
- Como quiser, minha Lady. Os convidados estão no quarto de hóspedes.
- Maravilha – murmurei irônica.
Caminhei até o quarto com atrás de mim que trancou a porta enquanto eu me dirigia para trás do biombo e tirava o vestido. logo apareceu para desamarrar os laços do espartilho branco, aproveitei para olhar os jornais que estavam ali ao lado, enquanto ele fazia a tarefa rotineira.
- Undertaker estava certo, em nenhum momento a imprensa mencionou que as vítimas estavam sem seus olhos - murmurei.
- Talvez os policiais omitiram esse detalhe para não piorar a situação. Vocês são sensíveis a esse tipo tragédia - disse terminando de desfazer o laço.
- O que quer dizer? - virei-me e tirei o espartilho ficando apenas de camisola branca, se dirigiu ao banheiro para encher a banheira.
- As mulheres, prostitutas, ninguém ligava para elas, estavam à margem da sociedade. No entanto, precisaram de uma morte trágica não-resolvida para ter atenção da burguesia. E sua . Pobres coitados, mal sabem que todos terão o mesmo fim.
Se ela não estivesse nessa vida, nada teria acontecido.
Assim que ele terminou de encher a banheira veio até mim tirando a peça que faltava para me deixar nua e se retirou deixando a porta do banheiro semi aberta.
Entrei na banheira cheia e com espuma, deixando só a cabeça e uma mão segurando o jornal para fora. Cada jornal falava um pouco das vítimas e havia uma foto de cada. Em sua grande maioria prostitutas, uma ou outra eram mencionadas como sendo jovens do subúrbio. Cabelos escuros, outros claros, entre 16 e 28 anos de idade. Joguei os exemplares longe. Não havia nada, nada que as interligasse. O assassino parecia ter escolhido aleatoriamente, sem um propósito, sem uma ordem.
Seja lá com quem estamos lidando, não vai ser uma tarefa fácil. Temia estar certo.
Olhei para meus dedos enrugados após um tempo meditando. Terminei o banho, e percebendo o movimento pela brecha da porta veio até mim com uma toalha enrolando em meu corpo. Me dirigi até penteadeira e soltei o cabelo para penteá-lo enquanto ele esvaziava a banheira.
- Junte os convidados em minha sala, e mostre os jornais, veja se eles acham alguma semelhança entre as vítimas – tentei pentear a parte de trás do cabelo, mas ele estava muito embaraçado. se aproximou, tomou minha escova e começou a penteá-lo.
- Já analisei, não há nenhuma conexão. Talvez um traço de personalidade, só saberemos se falarmos com as famílias.
Não era uma boa ideia, as famílias estavam abaladas, elas iam começar a recordar, cair no choro e serem inúteis. Mas quem sabe pudesse conseguir alguma coisa...
- Fale com um parente ou conhecido das duas primeiras e da última vítima. Depois me diga o que descobriu.
Encarei-o pelo espelho, ele assentiu sem tirar os olhos avermelhados de meus cabelos, seguindo o percurso da escova em suas mãos. Observei a marca em meu ombro direito. Como se fosse um carimbo, aquilo que selava nosso contrato. Lembrava as bordas de uma rosa, porém seu desenho era negro. Quem via pensava que era só alguns rabiscos, não um símbolo importante, e permanente.
Vi tirar uma das luvas brancas com os dentes e colocar a mão em meu ombro direito, as costas de sua mão com o mesmo símbolo, porém menor. Seus olhos brilharam com aquela cor rosada e sua pupila afinou-se como a de um gato.
- Está pensando em abandonar o caso?
- Jamais – sua mão agora afastava os cabelos do meu ombro – Ainda está claro, vá logo.
- Sim, minha lady – se abaixou encostando seus lábios quentes na pele fria e molhada de meu pescoço, quando se endireitou seus olhos voltaram ao “normal” e ele saiu porta a fora, desaparecendo na escuridão.
Me delonguei um pouco no quarto terminando de ler os jornais, coloquei um vestido simples e um casaco comprido, afinal, meus convidados não eram tão importantes que não pudessem me ver sem as casuais vestimentas finas. Amarrei parte do cabelo e saí em direção á minha sala.
- ... não sei, Red. Aquele mordomo é suspeito, mas não acho que mataria alguém – ouvi a voz de Lau, parei antes de entrar, observando ambos conversando pela porta semi aberta.
- Não foi o que eu quiser dizer. Só acho estranho como ele fica com como se fosse uma sombra.
- Eles têm algum tipo de ligação – deu de ombros – Não pode culpar o homem só porque ele é leal.
- É, tem razão. Porém, a lealdade tem um preço caro. – Madame Red não sabia o quanto estava certa – Ele está com desde sua volta há um ano, e suspeito que até antes.
- O que aconteceu antes?
- Não sabe? – negou com a cabeça, confuso – Há três anos a verdadeira mansão ardeu em chamas. O mestre anterior morreu na tragédia junto com sua esposa, os pais de .
- Verdadeira mansão?
- Alguns meses antes da volta da herdeira dos , a mansão foi reconstruída, uma réplica perfeita da anterior, inclusive as rachaduras. Ninguém sabe onde ela esteve, e se recusa a falar sobre isso. Ela era tão alegre quando criança, e quando voltou, dava para ver a escuridão em sua aura. E o mordomo suspeito está ao seu lado desde então.
Meu passado é algo para ficar onde está, mas nunca o esquecerei. Ele é o motivo de tudo. Ele é a vingança que eu completarei em breve.
- Suspeito mesmo é o mordomo da rainha. Ela também sumiu desde a morte do rei, mas ele continua dando suas ordens, acho até que ela pod...
Abri a porta antes de Lau terminar a frase, aquele assunto já estava demorando. Ambos me encararam assustados.
- C-condessa, estamos falando sobre a rainha e...
- Olhem os retratos das vítimas e me digam se há alguma semelhança – joguei os jornais com as fotos sem cores. Claro que eles não achariam nada útil, mas pelo menos teriam o que fazer.
- Temo que teremos que falar sobre a sugestão de seu mordomo cedo ou tarde, . – Red murmurou.
Madame Red era uma das poucas que me conhece desde pequena, foi muito próxima de mamãe e papai.
- Temo que sim. – suspirei alto.
- Alias, ele disse que ia sair, onde foi? – perguntou Lau.
- Mandei-o falar com as famílias para ver se descobre alguma coisa que ligue as vítimas.
- Tipo que todas possuem olhos escuros? – olhei para Red – Veja.
Reparei nas fotos espalhadas sobre a mesa, ela estava certa, as mulheres eram bem diferentes entre si, mas tinham aquela característica em comum.
- Mas no que isso tem a ver?
- Não sei, Lau. Mas se o assassino tirou os olhos das mulheres, é provável que haja uma semelhança entre eles.
Encarei os dois, já sabia no que aquilo ia dar. Continuamos falando sobre os detalhes do caso, pelo menos aquilo que os jornais falaram, por mais algum tempo.
- Com licença – disse entrando com o carrinho de chá.
- Você?! – Red exclamou surpresa – Achei que tinha...
- Falar com as famílias? Sim, e como meu serviço extra foi terminado, tomei a liberdade de retornar logo e preparar o chá. – disse confiante.
- E os suspeitos? – perguntei bebendo o chá.
- Fiz uma lista com os nomes e os álibis de cada um para a noite dos assassinatos – Mostrou os rolos de papéis em suas mãos.
- Diga o que quiser, , mas não fez nem uma hora que... – antes dela terminar a frase, ele logo abriu um dos rolos e começou a lê-los.
- Duque Bailey, estava nas redondezas, porém os amigos confirmaram sua presença em um bar. Dr. Hewwit é especialista em cirurgia ocular porém teve o álibi confirmado pelos outros médicos do hospital. William Somerset já foi acusado de contrabando, mas estava em um motel nas noites dos últimos assassinatos... – ia falando e lendo seus papéis em uma rapidez impressionante, deixando Red de boca aberta e se Lau tivesse olhos maiores, diria que estavam arregalados.
Sorri orgulhosa. Quando terminou, enrolou os papéis e deixo-os em um canto da sala.
- Diante dessas investigações pude limitar a lista á alguém e um lugar que confere com a descrição.
- Você não é apenas um mordomo, é um funcionário da inteligência militar, não é? – perguntou admirada. Ri baixo sem humor.
- Não, sou apenas um mordomo digno de servir á família .
- Sobre as vítimas, . O que descobriu?
- Eram muito diferentes em personalidade, mas todos descreveram uma única coisa igual. – olhei-o esperando continuar – Olhos escuros e brilhantes.
Então era isso. O padrão.
- Conheço alguém com olhos assim – Madame Red virou-se e encarou-me com um sorriso cínico.
- Deixemos isso para a amanhã. – levantei e saí da sala. Já socializei demais para um dia.

(...)


O nome do sujeito que considerava o mais suspeito de ser nosso Jack era um tal de Visconde de Druitt, já ouvi seu nome algumas poucas vezes. Havia boatos de festas especiais secretas em sua casa, onde apenas os mais chegados participavam. Para meu alívio, a festa dessa noite era um baile de máscaras, então apenas precisei de uma peruca loira, um vestido rosa e um chapéu, e ninguém iria reconhecer a Condessa ali.
- Ouvi boatos que ele está envolvido em magia negra. – Red murmurou enquanto guiava a carruagem para a mansão de Druitt.
- Então isso significa que ele pode estar fazendo rituais por sacrificar as mulheres e tirar seus olhos nessas festas secretas.
- Talvez... Vamos repassar tudo: Red vai entrar comigo dizendo que sou sua sobrinha que está visitando o país, será meu tutor e Lau ficará atento a qualquer movimento suspeito do lado de fora. Entendido?
Todos assentiram. A carruagem parou e tomei ar antes de descer pegando na mão de . Para o evento desta noite trocou sua vestimenta de mordomo para um terno mais casual e colocou óculos redondos finos.
Não pude deixar de reparar como ele ficava bem com aqueles óculos.
Obrigado, jovem dama.
Olhei-o com os olhos arregalados e o rosto vermelho. Maldito.

O salão estava repleto de pessoas com máscaras, algumas dançando, outras conversando e bebendo. Assim que entramos algumas cabeças se viraram por curiosidade, mas seus olhares permaneceram em nós, ou melhor, nele.
- Por que mesmo que você veio? – perguntei emburrada. Estar ali disfarçada já era muita palhaçada.
- Porque não posso deixar a jovem dama por aí sozinha, posso? – respondeu sorrindo - Afinal, - se inclinou para ficar na minha altura - Eu tenho que proteger o que é meu.
Virei as costas para ele tentando realmente acreditar que essa situação é real. Começamos a dar uma volta pelo salão tentando encontrar o Visconde, percebi que Red não estava mais ao nosso lado – Onde está Madame Red?
Olhei em volta vendo o ponto em vermelho cercada por vários homens em um divã. É, ela realmente está no clima de festa. ajeitou os falsos óculos e murmurou um “Tsc Tsc”.
- O Visconde parece mais belo que nunca essa noite – duas mulheres falavam ao lado. Segui seus olhares para o homem vestido em branco com cabelos platinados do outro lado do salão.
- Vamos, – na mesma hora a orquestra como a tocar e os homens e mulheres se juntaram para dançar.
Maravilha!
Como iríamos chegar nele agora sem ter que passar por esse monte de gente?
- Vamos nos juntar à dança e tentar chegar mais perto do Visconde.
- Dançar em público? Com você? – eu disse enquanto ele me levava para a pista pela mão.
- Nesta noite sou apenas seu tutor, minha posição social permite-me dançar com a jovem dama em público – sorriu. Sua mão desceu para minha cintura e a outra levantou minha mão numa posição de valsa. Começamos a nos mover no meio das pessoas, era a única chance.
Nos primeiros cinco segundos de dança pisei no pé de , ficando vermelha logo em seguida. riu e começou a me direcionar, tornando a dança mais fácil onde eu apenas tinha que acompanhá-lo.
- Precisa de algumas aulas de dança, o que acha aos sábados?
- Quieto. Estamos nos aproximando, continue – sussurrei. Apesar de ele ser quase dois palmos mais altos que eu, estava até que gostando de sentir o corpo de junto ao meu. Nunca tínhamos ficado tão próximos assim num local público.
Fomos nos movendo, contudo as pessoas em volta também, de forma que tivemos que fazer desvios para não trombarmos. Estávamos nos afastando do destino.
Meia hora depois eu estava ofegante em um canto. Meia maldita hora indo e vindo, para lá e para cá, sem resultados. E para completar a cereja no bolo: o visconde sumiu de nossa vista.
- Que desalinhamento, acabar desse jeito. – disse me trazendo uma bebida. Recuperei o fôlego e voltei a me concentrar na movimentação do salão.
- Com licença, nunca os vi por aqui, são visitantes? - uma mulher de cabelos escuros e olhos claros veio a nosso encontro. Embora ela estivesse falando com “nós”, seu olhar estava focado apenas em .
- Minha aluna veio visitar sua tia em Londres e eu a acompanhei, a senhorita é? - perguntou e a mulher respondeu o nome que eu esqueci alguns segundos depois.
O cretino ainda fez questão de levar a mão dela até os lábios.
Eu vou te matar.
Ouvi palmas lentas atrás de mim, virei-me encontrando os profundos olhos azuis do Visconde cercados pela máscara branca.
- Que bela apresentação, senhorita. – disse cordial.
- Me acompanha numa bebida? – perguntou à mulher e assim que ela assentiu eles se retiraram.
Maldição...
- B-boa noite, Visconde Druitt.
- Imagino que esteja se divertindo, pequena Dama – “pequena” é o seu...
- Estou muito animada de estar participando de um baile tão maravilhoso. Na verdade, venho querendo falar com o Visconde há muito tempo – ele fez uma cara de surpreso e esboçou um sorriso malicioso – Beber e dançar está me deixando entediada.
Seu sorriso alargou-se.
- Que dama voluntariosa – sua mão desceu para meu quadril – Poderíamos tentar algo mais divertido. – sua mão foi descendo...
Nota mental: mandar arrancar sua mão quando tudo acabar.
“Vamos , aguente, aguente...”.
- O Visconde conhece algo mais divertido? – fingi uma inocência forçada.
- Naturalmente, pequena Dama. Posso compartilhar contigo – seu polegar levantou meu queixo e sua voz era pura malícia.
- Ah é? Conte-me. Estou incrivelmente interessada – sorri e ele retribuiu o sorriso e alguns segundos depois estávamos em um quarto escuro, ele afastou a cortina que dava para outra sala escura.
- Este lugar é incrivelmente divertido e maravilhoso – tinha algo muito suspeito em sua voz.
Acho bom ter ficado de olho para onde ele me levou…
Antes que eu pudesse pensar em mais alguma coisa, um pano cobriu minha boca e meu nariz, senti o cheiro de clorofórmio antes de apagar.

Abri os olhos devagar, minhas mãos estavam amarradas atrás do meu corpo, assim como os pés descalços. Estava sem o casaco curto que cobria o vestido tomara que caia, a marca estaria exposta se não fosse pelo cabelo solto da peruca loira. Três homens bem vestidos apareceram e pude observar a sala, parecia um porão e esse cheiro de mofo não ajudava.
- Ora... Ora, nossa pequena Dama acordou – um deles disse.
- Ela é bonita, podemos jogar um preço maior.
Espera, o que?
- Vamos tirar a mascara para ver melhor.
Não! Me debati, mas ele me agarrou pelos cabelos puxando-os. O que não esperava era que fossem sair em sua mão. Ele me olhou surpreso e puxou a máscara com tudo. O outro começou a rir escandalosamente. Reconheci o sujeito como o velho rude da reunião na casa da rainha.
- Ora quem temos aqui. Condessa , ah não, não, não. Mascovic, leve a Condessa para minha casa, vamos ganhar muito mais do que a entregando para Druitt. – ordenou ele e o outro homem logo saiu.
- Maldit... – outro me amordaçou antes de terminar o insulto, logo depois colocou uma venda e me levantou bruscamente pelo braço.
Fui guiada cegamente subindo vários lances de escadas até algum tipo de corredor, até que comecei a ouvir vozes baixas e uma mais alta. A do Visconde.
- ... é decisão dos clientes o que fazer. – torci o nariz várias vezes deixando finalmente a venda cair de um olho e pude observar onde estávamos.
No andar de baixo havia umas quarenta pessoas e havia também um palco, onde uma mulher estava numa jaula, sentada e vendada enquanto o Visconde a apresentava como um... Leilão.
Aquilo era um leilão do mercado negro. Aqui devia ser onde vendiam os olhos e multilavam os corpos. Droga!
Senti uma forte batida na cabeça, e apaguei de novo.
Dessa vez, a sala era clara, e o mesmo homem imundo estava sentado fumando um charuto na cadeira de frente para mim, e eu continuava amarrada no chão. Devia ter me livrado dele assim que senti o cheiro de rato dele.
- Ah o submundo Inglês – ele disse aparentemente percebendo que eu havia acordado – A liga dos Lordes malignos que geração após geração cuida do trabalho sujo para a família real. As Escudeiras e os Cães de guarda da rainha que reprimem todos aqueles que se rebelam. Quantas famílias você destruiu, ? – senti a trilha de sangue escorrida pelo meu nariz.
- Você está por detrás disso, Azuro Venere? Velho arrogante. – ele riu e se levantou.
- É bem difícil participar do mercado negro, da comissão dos Lordes e ser líder da Máfia Italiana nesse país. Vocês só pensam em chá.
- Você é ridículo. Acha que poderá esconder isso da Rainha? Você nunca mais porá os pés nesse país novamente – me olhou desafiante, dei um sorriso maldoso – Isso se sair vivo desse nosso encontro.
- A Rainha! A Rainha! A Rainha! Todos tem esse complexo de Édipo com a Rainha. Recebendo ordens de um fantasma. Somos muito bobinhos, não é? – segurou meu queixo. Aquele assunto estava se prolongando demais.
- Se eu não retornar, meu servo tem ordens para matar todos que me colocam em perigo – sorri confiante. Seu rosto tornou-se fúria. – Desculpe, mas creio que ratos sarnentos devem ser eliminados.
Ele se levantou e apontou uma arma para mim.
- Não subestime os adultos, pirralha! Meus servos estão cobrindo cada centímetro dessa casa. Sei que a chave do depósito de ópio está com você! Fale com seu servo e mande trazê-la e te deixarei ir – colocou o telefone em meu ouvido. Isso não ia dar certo.
- Alô? – Madame Red atendeu.
- Red, procure , diga a ele que tem um trabalho á resolver – o homem me deu um tapa na cabeça.
- Espere ele está aqui. – respondeu ela. O homem pegou o telefone de volta colocando em sua orelha.
- Al...
- Escute bem! Estou com a sua patroa aqui – patroa? Mas que termo mais chulo, tinha que ser um rato – Você vai me trazer a chave do depósito do governo, ou a garota morre.
- Não sou eu que vai se dar mal – sorri. Logo senti um soco no rosto e meu pé em meu estômago.
- Calada! – gritou ele.
- A Jovem Dama tem importunado você? Ele ficou tenso com a calma na voz de .
Soltei um “Miau”.
- Entendido. Irei buscá-la imediatamente – desligou.
Cuspi o sangue no carpete.
- Parece que vou ter o que eu quero – ele riu.
- Não foi isso que ouvi – me deu outro chute me deixando virada para cima em uma posição desconfortável em cima dos meus braços.
- Suas frases sempre começam com “Não”. Você é mesmo uma garotinha mimada que ama contrariar os outros e se sentir superior, não é?
Fuzilei-o com os olhos. Esse velho não tinha nenhum direito de falar assim de mim.
- E o que é isso? – tirou os cabelos do meu colo revelando a marca – Que garotinha levada, seus pais sabem que você é uma prostituta tatuada? Ah espere, eles não sabem – riu escandalosamente.
A fúria tomou conta de mim. Dei-lhe uma cabeçada e ele ficou tonto por um segundo antes de me retribuir um soco e outro chute. E saiu da sala.
Depois de alguns minutos ouvi uma gritaria e sons de tiros vindos de todos os lados da mansão. Sorri sozinha. Ele estava aqui.
O velho voltou espantado, eu diria que até mais branco. Depois de mais alguns gritos e tiros o silêncio tomou conta do local. Venere estava com a arma apontada para a porta, logo ela se abriu lentamente, revelando meu mordomo com suas roupas de criado cotidianas.
- Vim resgatar minha dama – fez uma breve reverência e o homem riu.
- Estou surpreso, estava pensando que tipo de homem monstruoso ia aparecer. Você é mesmo um mordomo diferente – observou.
- Não, sou apenas um mordomo e tanto – sorriu.
- Não tenho intenção de perder tempo com você, então... – foi até mim e colocando a arma em minha cabeça – Entregue logo a chave e deixarei sua amada dama livre. Foi apenas para isso que aguentei ficar naquele conselho bobo. Você trouxe, não é?
- Sim – disse ele tirando a chave do bolso.
- Ótimo.
Foi ouvido o som de um tiro, uma bala lhe atravessou a cabeça, depois vários outros e logo o corpo de estava no chão.
Deixei escapar um gemido, e abaixei a cabeça, não estava esperando por essa. Três homens apareceram na porta, felizes com seu feito. O homem riu aliviado.
- Parece que eu ganhei. O oponente tinha uma carta na manga, . Fui um pouco duro com você, mas qualquer coisa é mais importante que um criado, não é? – encostou o cano da arma em meu queixo levantando-o. Encarei o corpo de no chão.
- Ei, por quanto tempo pretende ficar aí perdendo tempo? – murmurei sem tirar os olhos dele. O homem ficou tenso ao meu lado – Descanse depois.
- Ora... Ora – disse ele se levantando.
- I-Isso é impossível! – gritou o velho, os três homens que atiraram arregalaram os olhos e deram curtos passos para trás.
se levantou, torceu o pescoço e cuspiu as balas na mão.
- Vou lhes devolver isso – os homens sacaram as armas, mas foi mais rápido e jogou-as com as mãos, atravessando as testas dos sujeitos armados.
Venere apertou meu pescoço e pressionou a arma nos meus cabelos.
- Ah, minhas roupas estão esburacadas – disse ele analisando a vestimenta. Eu já estava perdendo a paciência.
- É porque você fica brincando com mulheres por aí – cuspi o sangue novamente.
- Parece que não te trataram muito bem, jovem dama.
Que observador!
- S-Se você chegar mais perto eu atiro! – gritou ele. Céus, o hálito dele fedia.
- Depressa, ou vou me atrasar para o jantar - falei.
- Se eu chegar mais perto ele vai matá-la – parou.
- Seu maldito, está tentando quebrar o contrato?
- Claro que não, minha jovem dama. Sou seu leal servo afinal de contas – colocou a mão direita no peito esquerdo.
- Do que diabos vocês estão falando?! – gritou novamente, comecei a respirar pela boca.
Chega!
- Isso é uma ordem, salve-me agora! – gritei e a marca em meu peito brilhou tomando o tom de vermelho. Seus olhos transformaram-se naquele rosa brilhante e a pupila afinou-se como de um gato no sol.
- Calada! – Venere gritou ainda mais alto, e puxou o gatilho.
Virei meu rosto para o homem.
- Por que ela não morreu? – sussurrou para si mesmo, assustado. - Está procurando por isso? – disse atrás do homem com a bala entre o indicador e o polegar – Que grosseria a minha, deixe-me devolve-la. Dito isso ele colocou a bala no bolso do paletó do homem, e o logo o braço que estava apertando meu pescoço se torceu e o homem urrou de dor caindo no chão. me abraçou tirando meu corpo ainda amarrado do chão e colocou-me na poltrona no canto da sala.
- O jogo não foi divertido dessa vez – chiei.
- Ei! Espere! Seja meu guarda-costas, darei dez vezes o que ela está te pagando! – o velho disse se arrastando enquanto rasgava as cordas como se fosse um fio qualquer.
- Perdão, senhor Venere, não tenho interesse num lixo como você – sorri com sua fala – Pela chave do contrato que minha mestra carrega, sou seu leal cachorrinho. – apoiei minha cabeça na mão, entediada.
- Fim de jogo, Venere.

Assim que o trabalho foi terminado, saímos da mansão de Venere pelos fundos passando pelos corpos no salão, chegando a uma rua escura e estreita.
- O que aconteceu com o Visconde? - perguntei.
- Irá ser investigado assim que acordar.
- Então acabou - suspirei.
Nenhuma mulher ia ser morta tragicamente, nenhuma família ia sentir a dor de nunca mais ver alguém que ama, a dor de saber que aquilo que se foi jamais voltará.
- Madame Red e Sr. Lau já estão retornando para suas respectivas casas. - ótimo.
Saímos em uma rua menor ainda, entre as casas do submundo Inglês, um lugar bem escuro e quieto.
- Você não pegou a chave verdadeira do depósito, não é? - perguntei enquanto seguíamos nosso caminho. Aquele depósito tinha uma quantidade enorme de ópio apreendido, não poderia cair nas mãos de ninguém.
- Não. – tirou a chave do bolso e jogou-a para trás fazendo um som estridente. Só não mais estridente que o grito que foi ouvido. Um grito feminino de desespero, terror.
Trocamos olhares e saímos correndo em disparada para o local. Meu estômago doía e com os chutes que levei não duvidava minha barriga estar roxa.
Abri a única porta de madeira que havia no final do beco e me deparei com a cena mais perturbadora que qualquer um poderia ver.
“A escuridão e aroma de tal cena são tão fortes que consomem as pessoas daquele mundo. Você pode acabar ficando louca. Está pronta para algo assim, ?”.
Agora as palavras de Lau fizeram todo o sentido. Senti o braço de passar pelos meus ombros e sua mão cobrir meus olhos, mas ela não pode cobrir a visão que ainda rondava em minha mente.
Aquela mulher havia sido muito mais que assassinada, mais que mutilada, sua pele e pedaços de seu corpo estavam por todo o lugar. O sangue, aquela cor cobria todo o local, se eu olhasse apenas mais alguns segundos poderia sim ter ficado louca. E o cheiro… nunca pensei que a morte tinha um cheiro tão nauseante.
- – chamei-o gaguejando. Ele havia me levado mais para trás sem tirar a mão de meu rosto – Druitt não é o Jack.
- Pude observar.
- Entre lá, e procure o assassino – recuperei-me não permitindo que a fraqueza tomasse conta de mim. Tirei sua mão e me desviei do calor de seu corpo, voltando para a esquina.
- Ficará bem?
Para que ele disse aquilo?
Senti meu estômago embrulhar e minha garganta arder, logo estava curvada tirando tudo de mim. Senti raiva, raiva de estar machucada, raiva de não ter salvo aquela mulher e raiva de ter pensado que peguei o homem certo. Tomei fôlego e me endireitei.
- Ache-o, agora! - ordenei, ele assentiu e entrou naquele local novamente.
Olhei em volta e vi uma fonte pequena fonte com água. Segui para lá me sentando na beirada e jogando água no rosto.
- Uma bela moça não devia ficar sozinha à noite na rua – me virei bruscamente percebendo que aquela não era a voz de . Olhei para os lados encontrando apenas um par de pernas compridas sobre a luz da lua e o resto do corpo dentro da sombra, encostado na parede.
- Quem está aí? - perguntei confiante. O sujeito soltou uma risada de se arrepiar e desencostou da parede, vindo em minha direção.
Senti um frio na espinha ao ver o quão sinistro ele era.
Tinha compridos cabelos vermelhos, extremamente compridos, passando do quadril, da cor de sangue. Seus olhos eram um verde amarelado profundo, pelo sorriso que deu pude ver seus dentes pontudos e suas roupas, um casaco vinho comprido sobre roupas comuns, estava tudo coberto de sangue.
- Popularmente conhecido como "Jack" – sorriu mostrando os dentes afiados. Senti meu corpo se arrepiar, mas não disse nada, apenas andei em passos lentos para trás enquanto ele vinha em minha direção.
- Mas que belo par de olhos temos aqui. Escuros, quase , como os dela. Porém os dela eram alegres, os seus são... frios – sua voz divertida dizia com um pouco de melancolia.
Encostei-me à parede quando não havia mais saída.
- Acabei de levar minha foice, que pena, acho que teremos que ir até ela.
- ! - gritei a todo pulmão e meu peito ardeu com a luz da marca novamente. Ele olhou desafiante e quando apareceu os braços do homem de cabelos sangue envolveram meu corpo me jogando em seu ombro e comprimindo meus braços, num pulo ele já estava em cima de uma casa. O tipo de pulo que apenas consegue dar, metros.
Ele parou em cima do telhado e sorriu vitorioso, seus braços ainda me prendiam, ele era forte e alto, de modo que não consegui me soltar e ele começou a correr em uma velocidade impressionante. Eu só conseguia ouvir os passos apressados de atrás de nós.
Até onde eu consegui ver, o homem de cabelos vermelhos conseguiu despistar e pulou do telhado diretamente em uma janela, me soltando.
- O que você é? - perguntei assustada – Por que fez aquilo com todas as mulheres?
Ele sorriu e, céus, aquele sorriso era assustador.
- É a primeira vez que vejo alguém como você nesse mundo humano – segui o som da voz para o corpo parado na janela.
- Ora... Ora, mordomo. Você também não pode falar muita coisa.
- , esse cara é um... ?
- Não. – respondeu sabendo o que eu ia perguntar antes de me deixar terminar – Ele é um ser neutro na balança entre deuses e humanos, um Ceifador.
Encarei o homem novamente. Isso ainda não explica porque ele fez tudo aquilo com aquelas mulheres.
A sala onde estávamos parecia um quarto vazio, se não fosse pela escrivaninha e a estante cheia de potes de vidros com... Olhos. Senti a ânsia mais uma vez, mas me mantive forte. A sala era iluminada apenas pela luz da lua que entrava pela janela, uma coisa fez reflexo em meus olhos, segui o olhar para a parede do outro lado e lá estava ela. Uma foice. O comprido cabo de madeira escura com a lâmina que começava grossa e terminava em uma ponta afiada.
Então ele era mesmo um Ceifador de Almas.
- É a primeira vez que vejo um da sua espécie servindo como mordomo, que meigo, mas o que ganha com isso?
- Isso é entre mim e minha mestra.
- Pois bem, - se afastou de e logo tocou a foice. Me afastei assustada, aproximando-me de que encarava o Ceifador sério.
- O que ele vai... ? - murmurei.
- Ceifadores possuem uma foice para ceifar a alma das pessoas.
- É, está certo, mordomo. E a alma dessa garota parece muito interessante, dá para ver a dor escondida em seus olhos. Eu adoraria ver sua história quando ceifá-la - sua foice brilhou – Essa belezinha é capaz de retalhar qualquer coisa em seu caminho.
- O trabalho de um ceifador é, pacificamente perseguir e conduzir a alma das pessoas em direção à morte, assim como o trabalho de um mordomo é obedecer seu mestre como uma leal sombra. E por que abandonar um cargo tão respeitável?
- Você já se apaixonou, mordomo? - olhou para mim – Eu acho que não. Sua espécie não sabe o que é isso, a dor de ver o nome de sua amada na lista para a morte. Não. Ninguém sabe. - avançou com a foice para cima de mim, mas me empurrou com o braço jogando-me na escrivaninha com tanta força que a mesma se quebrou embaixo de mim e senti uma terrível dor nas costas e nas pernas.
segurava a foice com as duas mãos, impedindo-a de avançar contra si, mas o Ceifador continuava sorrindo, ele parecia ser muito forte.
- Ela tinha um sorriso tão belo, mas aqueles olhos revelavam tudo, toda a tristeza que se negava a mostrar. E sua mestra não é diferente, sua alma está suja. Seria um prazer para mim levá-la.
Tentei me levantar, mas a dor não permitia. Só havia uma coisa que eu podia fazer.
- , em defesa de Sua Majestade e em meu nome eu ordeno: mate o Ceifador! - gritei expondo a marca brilhante em meu peito que revelou as pequenas palavras em hebraico espalhando-se pelo meu ombro e clavícula. empurrou o Ceifador e puxou a luva branca com os dentes e mostrando a mesma marca brilhante junto com seus olhos.
- Sim, minha dama.
- Vejo que finalmente encontrei um oponente à altura. - avançou com a foice, entretanto desviava dela com uma precisão incrível, até que o ceifador apareceu rapidamente por trás, de modo que só teve tempo de segurar a foice em cima de seu ombro que entrou na parede atrás de si e ia descendo.
- Ah que esplêndido! - exclamou o Ceifador. Tentei me levantar novamente, sem sucesso. Olhei para o lado encontrando a estante com os potes, estiquei-me sentindo todos meus músculos gritarem e derrubei dois potes que quebraram ao primeiro contato com o chão. O Ceifador olhou assustado dando chance de escapar de debaixo da lâmina.
- Ora, acho que terei que guiar os dois para o caminho do Céu.
- Céu? - riu – Isso não funciona comigo. - continuou a desviar-se da lâmina que ia e vinha, apenas atingindo o ar.
- Você acha mesmo que pode me vencer, mordomo?
- Se minha mestra me ordenou vencer, é isso que farei.
- Um ser inútil como você não pode vencer um ser quase divino como eu. Sabe que até mesmo você, se for ceifado pela Foice vai ser eliminado. Não está com medo, demônio? - sorriu e colocou a mão sobre o peito esquerdo.
- Nesse momento, meu corpo, minha alma e até meu último fio de cabelo pertencem à minha mestra. Enquanto o contrato continuar, obedecer a suas ordens é meu dever como mordomo. - o Ceifador pareceu se irritar, levantou sua arma cortando o teto fraco de madeira e expondo o céu. Pulou para cima e parou no telhado da casa ao lado, respirava pesadamente e uma mão estava no ombro. Só então percebi que a lâmina havia pego sim em seu ombro. Ele logo seguiu o Ceifador para o telhado da casa ao lado, me arrastei até a janela vendo-os frente a frente.
- Seus olhos são repletos de uma impureza daqueles que amam absolutamente nada. Que desperdício. Afinal, você não é nada mais que um ser que difama almas puras com suas mãos e lábios. Será um prazer levá-lo – avançou, mas desta vez a foice passou no peito de , não profundamente, mas o suficiente para espalhar seu sangue. Ele se afastou ofegante.
- Mas que inconveniente, minhas roupas estão todas rasgadas – olhou para si.
- Você é um homem bem equilibrado para se preocupar com roupas numa situação dessas.
- Eu não queria ter que fazer isso, – disse cabisbaixo enquanto tirava o paletó. Irritado, Grell avançou novamente, segurou o paletó e fez ele se enroscar na foice de modo que ele ficasse coberta.
Sorri.
- O casaco é feito do tecido mais resistente de Yorkshire. Não queria ter que usá-lo – colocou a mão sobre a testa e balançou a cabeça – Entretanto, você já o estragou mesmo – Grell tentava desesperadamente tirar o casaco enroscado, mas não é tão fácil rasgá-lo – Bem então, tenho um pouco de confiança em lutas de mão limpa – estralou os dedos e avançou para cima do ceifador.
Recuperei as forças e me levantei ainda em dor, mas agora um pouco menos. Desci as escadas que achei fora do quarto e pude observar que uma fina chuva caia sobre o beco. Parei e coloquei as mãos sobre os olhos, olhando para cima vi o corpo do Ceifador caindo em minha direção, permaneci parada e voou dando um chute fazendo o corpo cair mais distante.
- Perdão, calculei mal a distância – curvou-se. Observei suas roupas rasgadas e manchadas em sangue.
- Você está em péssimo estado – comentei.
- Houve um pequeno inconveniente – sorriu. Pegou a foice caída no chão e tirou o pano que já fora seu uniforme – Se essa foice pode retalhar qualquer coisa, imagino que possa retalhar você também – disse tranquilo indo em direção ao homem de cabelos vermelhos, caído no chão com o rosto inchado.
- E-Espere! - pôs o pé em seu peito mobilizando-o.
- Jovem dama, embora esse ser repugnante seja um Ceifeiro, quase um deus da morte, está pronta para aceitar a consequência de matá-lo?
- Está querendo me fazer dar a mesma ordem duas vezes? - perguntei séria.
- Entendido – estava pronto para acabar com o Ceifador.
- Espere! Não quer saber quem matou seus pais?
Parei, mas quando ia falar alguma coisa um cabo de ferro veio em sua direção parando entre a foice e o corpo. Segui o cabo para um homem vestido em um terno bem arrumado, esse tinha cabelos curtos penteado para trás, e usava óculos, sua outra mão segurava uma prancheta.
- Perdoe-me a interrupção no meio de seu trabalho – disse ele – Sou da Organização de Despacho dos Ceifeiros – mas não é possível! – Vim para levar esse Ceifador de volta.
Ambos, e o homem, trocaram um olhar intimidador.
- Você violou as leis da Organização por eliminar aqueles que não estavam na lista. Vou ter que levá-lo para o julgamento no Submundo.
Quer dizer que não ia ter morte? Que tédio.
- Minhas profundas desculpas por qualquer inconveniente causado por isto – empurrou o ceifador assassino com o pé e curvou-se – Honestamente, abaixar minha cabeça para canalhas como você realmente joga na lama o título dos Ceifadores – murmurou baixo – Aqui está meu cartão.
- Humanos são vulneráveis a tentações, quando são forçados a caminhar pelo precipício infernal do desespero, eles irão com certeza pegar qualquer rota que aparecer diante deles – respondeu como se justificasse seu trabalho e jogou o cartão para trás, mas peguei e coloquei-o dentro do vestido. Poderia ser útil um dia.
- E aqueles que tiram vantagem disso e zombam dos humanos são vocês, demônios, não? - disse sério levantando os óculos.
- Não estou negando isso – deu de ombros. Bufei assoprando os fios molhados do meu cabelo .
- Bem, devemos retornar então – o homem disse puxando os cabelos vermelhos do outro no chão. que ainda estava com a foice em mãos jogou-a na direção do ceifeiro responsável. Ele apenas esticou a mão pegando a foice no ar pelo cabo.
- Esqueceu isso – sorriu .
- Ei, espere! - gritou o de cabelos vermelhos – O que você ganha por servir tão fielmente a essa humana qualquer?
Eu ri, alta e maldosamente.
- Algo que ninguém poderá oferecer – disse sorrindo.
- Minha alma.
O tal supervisor ajeitou os óculos e suspirou.
- Todos daquele mundo desejam uma alma pura, mas uma alma inocente que ardeu em desejo de vingança, essa é a mais valiosa – o segundo ceifador explicou certo.
- Você não ia trazê-la de volta por assassinar as outras, ceifador, nem honrará sua memória – eu disse lembrando o que ele disse sobre o nome da mulher em sua lista – Uma vez perdido, jamais retornará.
Ambos desapareceram na escuridão. limpou as mãos e se virou para mim.
- Devo me desculpar. A ordem não foi devidamente comprida. - disse se aproximando, me senti um pouco fraca.
- Tudo bem. Acabou. Dessa vez de verdade – murmurei me apoiando na parede atrás de mim. encostou as costas da mão em minha testa.
- Está um pouco febril. Devemos voltar para casa.
- Sim – me desencostei da parede e me senti tonta. A última coisa que senti antes de perder os sentidos foram os braços de .

Meu olhos abriram levemente, e vi a mansão ardendo em chamas como naquele dia. Meus batimentos aceleraram, mas... Não, não era aquele dia.
Pisquei e pude observar melhor, eram apenas os vidros das janelas refletindo o céu novamente alaranjado, das mesmas cores das labaredas. Já estava amanhecendo, observei melhor assim que íamos nos aproximando, eu estava nos braços de sendo carregada como uma criança, mas era uma sensação boa, de proteção.
- Quando chegarmos, encomende vestimentas novas - murmurei enquanto levava minhas mãos até a camisa rasgada e manchada de sangue de , seu peitoral estava estava exposto, mas já não havia nenhum arranhão ali.
- Sim, minha dama.
- A propósito, o que aconteceu com aquela mulher da festa de Druitt? Não me diga que…
- Ela se retirou por um momento e não voltou mais, creio que tenha a visto antes de sair da casa do Visconde - falou calmo.
Antes de sair da casa do Visconde eu passei pelo leilão… A mulher da jaula? A que estava sendo leiloada?
- Você a viu e não foi resgatá-la? - perguntei, não em tom de bronca, mas em curiosidade.
- A jovem dama não me deu ordem alguma para resgatar alguém - parou de andar e me ajeitou em seus braços de modo que meu rosto ficou mais próximo do dele - Acho que as vezes se esquece de que não tenho interesse em nenhum outro humano, muito menos uma mulher - aproximou o rosto do meu e encostou seus lábios em minha bochecha - Eu ja tenho a minha.
- Jovem Dama! Bem vinda ao lar! - gritou Fyn vindo em nossa direção junto com a empregada.
- A mestra está machucada! - disse preocupada.
- Apenas tropecei, não precisam se preocupar – observei os três que me encaravam desacreditados – Que foi? Não acreditam em sua mestra?
- N-Não é isso é que... Suas roupas e as de estão rasgadas e... – disse Marylin.
- …? - chamei-o como dizendo para ele me soltar, mas ele só apertou seus braços ao meu redor.
- A jovem dama vai precisar de cuidados, conto com a ajuda de vocês.
Esse sujeito não existe. Cruzei meus braços.
- Jovem dama – chamou - Devo me desculpar, errei quando me comportei inapropriadamente para um mordomo da família .
Observei-o com o cenho franzido.
- Deixei o jantar atrasar.
Mereço...

(...)


- Abberlin! O que está fazendo? O caso foi resolvido, deixe esse fio de cabelo aí, não importa mais.
- Não posso aceitar isso, senhor! Não somos a Scotland Yard que está aqui para proteger os cidadãos?
- Nosso país tem uma longa e profunda história, e tem partes do submundo em que não devemos nos envolver. Esse caso foi resolvido através das leis desse submundo.
- Mas temos que descobrir o que aconteceu!
- Entretanto, uma vez que você consiga irá se arrepender disso. Seria melhor nunca descobrir. Vá para casa Abberlin, isso já acabou.

(...)


Observei o horizonte através das janelas de vidro mais uma vez, repassando tudo o que aconteceu no dia anterior.
"Uma vez perdido, jamais retornará."
Ninguém deveria passar pela dor de perder alguém que ama. É a dor mais egoísta que existe, pois não dói o fato da pessoa perder a vida, dói saber que nunca mais a veremos, que nunca mais sentiremos sua presença. E logo esqueceremos seu rosto, esse é o egoísmo que a morte nos dá.
Vingança não irá trazê-los de volta, mas irá poupar outros de sofrer. Sofrer como eu sofri. E esse é meu objetivo, encontrar todos que me humilharam e me fizeram sofrer, e também vou achar quem acabou com as minhas cores.

“- Me soltem! Tirem suas mãos de mim! - eu gritava em plenos pulmões, mas eles apenas continuavam me segurando. Todos cobertos com aquela roupa branca e me deixando sem nenhuma. E então aquela brasa apareceu, para me queimar, me marcar como um deles. Mas eu fiz o que tinha de fazer, e daquele dia em diante, minha marca foi outra. Aquela que me liga com meu objetivo e a chave para ele."

- Não vai reportar a verdadeira identidade de "Jack" para a Rainha? - perguntou Lau atrás de mim. Ele não sabia quem era o real Jack.
- Não há necessidade disso, seu desejo era simplesmente para que o caso fosse concluído – respondi sem me virar.
- Você nunca mostraria sua fraqueza por pedir ajuda, mas saiba que isso também é uma fraqueza, . Você é uma escudeira da rainha e se orgulha disso.
- Já não está na hora de você ir, Lau? Tem sempre a opção de voltar para seu país também – virei-me encarando seus pequenos olhos.
- Não pretendo deixar seu país tão cedo – chegou mais perto - Não vai se livrar de mim tão rápido, Condessa – afastou-se e caminhou em direção a porta – Continue me mostrando coisas de grande interesse!
Encarei novamente a janela.
- O chá está pronto – disse entrando silenciosamente.
- Temos que ir a um lugar antes – me virei.

A lápide tinha a inscrição do nome da última vítima de Jack. Era triste ver o quanto estava nova. Coloquei o buquê de flores na terra em frente.
ainda me olhava em dúvida, se perguntando por quê me importei em vir aqui, no túmulo de uma desconhecida.
- Minha última convidada – disse Undertaker ao meu lado. não disse nada, mas a dúvida podia ser vista – A mulher era uma imigrante, não acharam ninguém para cuidar de seu corpo. Por isso a gentil Condessa pediu-me para prepará-la e foi tão longe para arranjar-lhe uma cova. - seu dedo tocava minha bochecha como dizendo que foi um ato fofo, bondade minha.
Mas não era.
- Naquela noite, se tivéssemos priorizado salvar a vida desta mulher, não teria que ser feito nada disso. Entretanto, priorizei capturar Jack – e falhei – Mas já acabou, o sofrimento da Rainha Victória foi dissipado.
- Victória, hã? Não consigo gostar muito dela, ela apenas observa do alto deixando todas as coisas difíceis com você, Condessa.
Como em um jogo de xadrez. Só que nesse jogo apenas o tabuleiro é da rainha. Sou eu que movo as peças.
- Esse é o dever que nossa família tem carregado – segurei o colar em meu pescoço, a esmeralda herdada há tantos anos. Não fiz questão de usá-la durante o tempo em que passei fora, ela era a única coisa que me restou, não ia arriscar perdê-la – Passado de geração em geração, assim como a Pedra da Esperança – apertei o colar.
- Esse pingente, conecta você à rainha através de uma palavra chamada "Lealdade" – ele agarrou a gola de meu vestido me puxando e aproximando-se. Qual era o problema desse cara?! - Só espero que esse colar um dia não corte sua cabeça fora.
Largou o vestido e me desequilibrei para trás encontrando o tronco de . Undertaker fez uma reverência quase que forçada e retirou-se. Olhei a lápide pela última vez.
- Gentileza - repetiu . Mas que insolência!
- Não me faça ser repetitiva, não foi gent...
- Foi – olhei-o com fúria – Se não foi, foi fraqueza.
- Calado! – dei meia volta – Não se esqueça, , - fui andando em direção ao portão – Seu dever é me proteger com sua vida, se tornará meu poder e irá me proteger de tudo. E eu irei usá-lo com um de meus peões. - virei-me - É por isso que lhe ordeno: não me traia e não saia do meu lado!
Ele sorriu orgulhoso, esticou o braço esquerdo, colocou-o pra trás, ajoelhou-se com a mão direita no peito e seus olhos brilharam com aquele tom de vermelho que mostrava sua verdadeira natureza.
- Sim, minha dama!



Fim.



Nota da autora: Lá estava eu revendo meu anime favorito de dois anos atrás e pensei: “Hum... interessante” e deu nisso. Provavelmente vai ter um O Mordomo II e um III, mas isso vai depender da minha paciência. Então... That’s all Folks!




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