One Last Breath
História por B. Gonderi | Revisão por Cocó
Capítulo Único.
– Lamento muito, Sra. , mas infelizmente ele não resistiu.
Aquelas malditas palavras ainda ecoavam dolorosamente em sua psique.
Seus olhos, levemente doloridos, abriram-se lentamente e encararam qualquer ponto fixo existente no teto, covardes demais para consultarem o relógio posicionado no criado-mudo e, consequentemente, ao lado da fotografia dele. Pela primeira vez em alguns meses, não despertara daquela forma metódica e preguiçosamente prazerosa.
Não pôde deslizar sua mão pelo colchão macio e tocar qualquer quantidade de pele quente e macia exposta.
Não pôde encostar a ponta gélida de seu nariz languidamente em seu pescoço, inalando o odor gostoso que exalava daquela anatomia.
Não pôde afagar seus cabelos, ouvindo murmúrios incompreensíveis denotando o quão bom aquele carinho era.
Não pôde ouvir sua voz levemente rouca murmurar um “bom dia” e selar seus lábios rapidamente, mas igualmente bom quanto um beijo demorado.
Não pôde encarar aqueles olhos assustadoramente intensos.
E, principalmente, não pôde segredar-lhe o quanto o amava.
sentiu um nó formar-se em sua garganta e seus olhos já estavam úmidos mais uma vez; aquela sensação angustiante da perda a corroía minimamente, dilapidando cada recanto de seu interior.
Não podia imaginar como sua vida seria sem ... Sem aquele a quem amava desesperadamente.
Imprimiu as suas pernas à ordem de se locomoverem, aquele quarto emanava lembranças felizes demais para que ela pudesse suportar, seria uma tarefa dantesca não derramar nenhuma lágrima enquanto estivesse em seu aposento. Ela daria qualquer coisa para que aquele cálido silêncio fosse deturpado por sua risada melodiosa... Ou simplesmente pelo ruído de sua respiração.
Caminhou cambaleante até a sala de estar.
Estava alienada em seu mundo infeliz há dois dias, sem realizar qualquer atividade básica como tomar banho e comer; o corpo pesado demais para efetuar qualquer tarefa que não fosse expelir sua dor em grossas e pesarosas lágrimas. Sentou-se abruptamente no sofá, fitando cantos daquele recinto displicentemente. Seus olhos fixaram-se num molho de chaves disposto na mesinha de centro e, de repente, o estoque de oxigênio advindo daquele ambiente dissipou-se, pois, naquele momento, não respirava.
Aquelas chaves eram de . E uma delas de seu apartamento.
Sem trocar de roupa ou pelo o menos calçar um sapato, saiu em disparada em direção ao seu carro. Dirigiu o mais rápido que pôde, sentia um frêmito incontrolável de estar no lugar onde a essência dele se aglutinava. Em alguns minutos, já estacionava frente ao prédio luxuoso localizado no centro da cidade.
Com as mãos levemente trêmulas, girou a gélida maçaneta. E encarar aquele ambiente tornara-se uma atitude extremamente ousada para a sua fobia.
Ele fizera questão de decorar o imóvel, denotando o homem de gostos refinados que sempre personificara. Observou os quadros - que ele pintara -, dispostos estrategicamente na parede cinzelada, com o intuito de quebrantar a austeridade. Seus batimentos cardíacos estavam tão descontrolados que a qualquer minuto poderia rasgar sua caixa torácica.
Desenrolando o novelo de seus conflitos, subiu lentamente as escadas. Deteve-se quando visualizou a porta entreaberta do quarto de . O rangido das dobradiças ecoou como uma suave melodia aos seus ouvidos, o silêncio fleumático a incomodava exacerbadamente.
Observou a penumbra que encobria os móveis, sem coragem para ligar o interruptor ou abrir as janelas, parecia menos agonizante dessa forma. Abriu o guarda-roupa e retirou de lá a camiseta favorita dele. O cheiro amadeirado estava concentrado e preferiu imaginar que ele havia acabado de retirar de seu corpo aquela vestimenta. Inalou a quantidade máxima que podia daquele perfume, queria que aquele odor delicioso se fixasse em sua memória.
Retirou uma caixa preta, sentando-se na cama. E as lágrimas, que antes estava tentando a qualquer custo não derramar, rolaram livremente por sua face. Ele havia guardado milhares de fotos.
Ela analisava paulatinamente cada imagem, revivendo cada momento ali encontrado. Um sorriso triste fora esculpido em seus lábios ressecados.
Após examinar todas as fotos, um embrulho com os dizeres “Para a ” chamou sua atenção. Encontrou um DVD e ainda indecisa o colocou no aparelho. A imagem de um sorridente preencheu a tela.
– Ei, cara, isso já tá gravando? – ele perguntou afoito para o amigo.
– Claro que está – o respondeu rudemente.
rolou os olhos discretamente e pigarreou, antes de prosseguir.
– Hey, ! Tenho que ser rápido, pois estou fazendo isso enquanto você toma banho. Seu aniversário está bem próximo e eu queria te presentear com algo especial este ano, afinal é o primeiro de muitos que passaremos juntos.
Você não sabe o quanto eu estou nervoso, eu tinha até escrito e decorado um pequeno texto mais apropriado para declarar nesta ocasião, mas eu esqueci completamente... Está vendo? É isso o que você faz comigo. Desperta um lado da minha personalidade que eu não sou capaz de entender ou desvendar. Seu efeito sobre mim é como o de uma droga. Meus anseios em te ter tornam-se cada vez mais selvagens. E eu acho que é um vício incurável... E eu não quero nunca me livrar dele.
Bom, eu só queria dizer pra você o quanto é especial para mim. O quanto o seu sorriso é lindo, o quanto eu adoro deslizar minhas mãos por sua pele macia, o quão prazeroso é me deliciar com o tônus de seus lábios, o quanto eu amo dormir com você em meus braços, sentindo o seu cheiro.
Você é a única pessoa que me tem completamente.
Eu sei que você acha que pronunciar um “Eu te amo” hoje em dia é demasiadamente clichê e que nós tínhamos combinado de só usarmos essas três palavras em ocasiões especiais, mas não existe hora certa de te dizer isso. Na verdade, eu tenho vontade de expor meu sentimento a cada minuto que passo ao seu lado. Eu devo ter feito algo muito bom para Deus ter me dado um presente como você, . Obrigada por existir e se interessar por um idiota como eu.
Sem você nada disso teria sentido.
Eu te amo. Nunca se esqueça disso.
– Ei, você está chorando, ? – ele ria abertamente.
– Claro que não, . Só um cisco que caiu no meu olho, você ficou maluco?
A tela ficou preta.
As lágrimas que caíam dos olhos vermelhos de rolavam ainda mais grossas e os soluços, antes quase inaudíveis, eram emitidos em mistura aos gritos proferidos em prol da dor cruciante.
Ela não poderia viver sem . Descartou imediatamente qualquer premissa desvairada que indicava o contrário. Guardou cuidadosamente os objetos e saiu do apartamento. Foi em direção ao seu carro.
Decidida, acelerou na velocidade máxima. Freou o carro, fazendo com que deslizasse pela estrada, desgovernado. Ao atravessar a pista, fora surpreendida por um caminhão. Nesse instante soube que era tarde demais. Fechou os olhos ante o impacto, prevendo, paradoxalmente feliz, que aquele seria o seu fim.
– Espere-me, . Eu já estou indo – murmurou, antes de sentir um baque forte. E então tudo ficou escuro.
O amor os manteria unidos.
Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu. Achou algum erro em One Last Breath? Avise-me via email ou pelo ask.fm. xx