Fria...
Simplesmente fria é o que eu me tornei. Me afastei de tudo o que eu podia, afastei de mim sentimentos que poderiam ser puros e perfeitos, afastei de mim o passado, tentando deixar de lado a única pessoa que queria ao meu lado no momento final de minha vida.
15 anos após o seu adeus, 15 outonos, 15 invernos e ele ainda não voltou.
O tempo passou rápido, minha esperança também foi junto, voou com as folhas do outono, sobraram apenas aquelas folhas secas que insistem em ficar caídas no meu quintal para me fazer lembrar dos momentos felizes que passei com ele, para me lembrar que ele não vai voltar, e que depois de quinze anos eu ainda não amei novamente.
Em devaneios olho para a paisagem, as folhas das árvores estão em tons de amarelo e laranja mostrando que o outono está voltando, e com ele o frio e as lembranças. O vento faz com que os galhos da árvore do meu quintal batam na janela, e com o barulho despertei dos meus pensamentos, é assim todo outono.
Joguei a coberta branca de volta a cama, e desci as escadas para preparar um bom café e torradas, e enquanto desço as escadas encontro Mia, minha gata branca
- Bom dia, Mia, talvez queira um pouco de leite, não?
Ela miou em tom de resposta, ainda tenho a impressão de que ela fala comigo.
Andei até a cozinha acompanhada dela, peguei sua tigela vermelha e pousei sobre a mesa de vidro ao lado do vaso de lírios, abri a geladeira e peguei uma leiteira no armário, fui até o fogão, despejando um pouco de leite na leiteira, ascendi o bocal do fogão e esquentei o leite para Mia, voltando até a mesa e despejando o leite na tigela, colocando-a no chão a seguir.
Enquanto Mia tomava seu leite fui preparar um café forte com pouco açúcar e torradas amanteigadas.
Após o café, olhei para o relógio da cozinha, iria me atrasar se não fosse logo tomar um banho. Subi as escadas, entrei no banheiro do meu quarto e tomei um belo banho quente. Assim que saí da banheira senti o frio passar pela minha pele me fazendo tremer ligeiramente. Troquei de roupa, vestindo uma calça jeans clara, uma blusa de mangas compridas branca e as minhas sapatilhas da mesma cor da blusa, peguei a jaqueta preta e a minha bolsa na mesma cor. Me despedi de Mia passando a mão em seu corpo peludo, peguei as chaves do carro e saí pela porta.
Entrei na garagem, e quando ia saindo avistei a senhora Miles, uma senhora simpática que morava ao lado da minha casa
- Bom dia, !
A senhora Miles me cumprimentou como de habitual
- Bom dia, senhora Miles, como vai?
- Vou bem, querida, não se atrase e aqui tem um lanche, você precisa se alimentar hein?!
Eu sorri e ela me entregou o pacote marrom - como de costume - e me deu um beijo estalado na bochecha.
Ania Miles era a minha vizinha há 13 anos, tenho essa casa desde que nasci, meus pais me deixaram a casa assim que faleceram há 10 anos e a Senhora Miles cuida de mim há muito tempo, fazendo então o papel de mãe. Ela sabe o meu horário, o horário das minhas consultas, para onde eu ia viajar a trabalho do laboratório, cuidava de Mia quando eu estava longe e me apoiava desde o meu diagnóstico preocupante. Seu marido morreu tragicamente em um acidente de carro há mais de 30 anos e ela nunca se casou novamente, morando então sozinha com seus três gatos. Todo dia me levava um lanche assim que eu saia de casa, e fazia o jantar na minha casa para jantarmos juntas. A senhora Miles era meu anjo, e sempre cuidava de mim mesmo eu tendo 32 anos.
Despedi-me dela e segui para o laboratório, enquanto dirigia vi em um outdoor a foto da banda dele, iriam fazer um show em Moscou amanhã. Tentei não me distrair pensando na possibilidade de encontrá-lo, mas foi impossível, e quase causei um acidente na entrada de Fryazino.
Depois de 25 quilômetros e quase uma hora para chegar a Moscou eu tinha mais 20 minutos para chegar até o Laboratório de Pesquisas Genéticas ou me atrasaria, e por sorte ou por coincidência Moscou hoje estava menos caótica e mais sossegada e não foi difícil chegar até o laboratório.
Estacionei o carro, me identifiquei na entrada do prédio, peguei o elevador até o 6° andar, falei com Oksana sobre o projeto para uma vacina mais forte para a Hepatite, já que na Rússia é tão comum quanto achar uma matrioska, e com isso as pessoas estão ficando mais fracas e não estão podendo aguentar a doença, morrendo antes mesmo do tratamento fazer efeito, e a vacina comum já não ajuda mais e nós cientistas estamos desenvolvendo novas vacinas para combater a mortalidade no país.
x-x-x-x
Jornada de trabalho acabada por hoje, e finalmente sexta feira, amanhã talvez vá trabalhar, Oksana disse que me ligaria de caso o Nikolai não fosse, o que seria certo, ele provavelmente não iria.
Voltei para casa, abri a porta e senti um cheiro delicioso vindo da cozinha, a senhora Miles devia estar preparando algo delicioso
- CHEGUEI!
Berrei e logo Mia veio rodear meus pés pedindo colo. Joguei o casaco e a bolsa com as chaves no sofá que estava ali perto, peguei Mia, ajeitando a mesma em meus braços, e esta miou baixinho e lambeu meus dedos, como sempre fazia quando eu chegava em casa
- , venha aqui um instante, querida.
Fui para cozinha com Mia nos braços, cheguei a cozinha e Ania estava preparando algo, devia ser strogonoff.
- Pois não?
- Isso acabou de chegar para ti, um rapaz veio pessoalmente entregar e disse pra você ler atentamente.
- Ok, vou para o quarto tomar um banho e os remédios.
- Esqueceu-se novamente não foi?
- Sim, perdi o horário de tomá-los.
- A senhorita sabe que não deve fazer isso.
- Eu sei, Ania, mas hoje foi uma loucura, talvez consigamos terminar a vacina.
- Isso é uma boa notícia. – ela sorriu. – Agora vá tomar um banho, o jantar logo fica pronto.
Eu sorri e subi correndo as escadas, e quando ia abrir a porta do meu quarto senti uma dor muito forte, me apoiei na porta e respirei vagarosamente, e quando abri os olhos já não enxergava direito, entrei no quarto com dificuldade e vi distorcidamente o remédio na cômoda, peguei o frasco e fui para o banheiro, tirei do frasco dois comprimidos e abri a torneira da pia, engoli os comprimidos e tomei um pouco de água, sentei no chão e esperei alguns minutos a dor passar e lentamente minha visão voltou ao normal.
Levantei dali, me despi, abri a torneira da banheira, vendo o vapor da água rapidamente subir, e quando a banheira já estava razoavelmente cheia fechei a torneira e entrei na mesma, sentindo o conforto da água quente. Lembrei-me da carta, saí da banheira e peguei-a no chão do meu quarto, voltando para a banheira novamente.
Já mergulhada na água, rasguei o envelope branco, e retirei uma folha dobrada, abri-a e comecei a ler.
“...
Como vai?
Espero que bem...
Bem, faz um bom tempo, eu sei, mas as oportunidades foram poucas para te encontrar. Eu sei, 15 anos é muito tempo, mas entenda, não é fácil quanto parece ser ir para Rússia te ver.
Sei que te prometi ligar, mandar cartas, e te ver sempre que possível, e bem, seu número seu endereço e sua casa não são mais os mesmos e sei também que você se mudou, então seu endereço se perdeu, seu número não existe e nós não nos falamos mais.
Eu sei que é estranho eu dizer isso, mas sinto sua falta, e queria te ver, estou em Moscou, como deve ter visto, a banda fará um show, e gostaria que você fosse.
No envelope tem dois ingressos, queria te ver novamente, .
Por favor, vá, não me abandone mais uma vez.
Bill Kaulitz.”
Não me abandone mais uma vez?
Ele sumiu, sumiu MESMO, nos anos em que eu estive na Alemanha ele sequer veio me ver, e sei que ele estava no país, sei que estava na cidade, sei que estava na sua casa, mas não prestou para vir me ver, seria mais fácil dizer que não queria me ver e não ignorar o fato de que eu morava ao lado de sua casa! Eu o via com outra em seu quarto e que sentia sua falta e pensava que me amava como eu o ainda amo.
Lágrimas escorreram pela minha face, irônico, só quando você está para morrer é que as pessoas aparecem querendo de te ver.
Merda.
Ania gritou lá de baixo dizendo que o jantar estava pronto.
Sai da água, joguei o envelope em cima da cama, eu não iria ao show.
Troquei de roupa e desci, Ania já estava na mesa; sentei-me, fizemos as preces, ela me serviu e comemos em silêncio
- Ania, o rapaz que veio aqui disse o nome?
- Sim, querida, parece-me que era Bill, disse que te conhecia.
- Ah sim, conhece.
- Ele não fala russo?
- Não, ele é Alemão
Disse dando outra garfada no strogonoff.
- Conheceu ele quando morou em Leipzig?
- Sim.
- Ah sim, parece ser bom rapaz, tem mantido contato com ele?
- Não, ele sumiu e agora voltou querendo me ver.
- Por que sumiu?
- Porque ele tem uma banda, e quando eu era vizinha dele ele precisou se mudar para Berlim e eu nunca mais o vi.
- Nem mesmo quando morava lá?
- Não, Ania.
- Que pena, querida.
Murmurei apenas um “pois é”, não queria dar corda para este assunto continuar, eu nem sequer tenho vontade de falar sobre isso, esse assunto apenas aguça o ódio que eu guardo no peito.
Acabamos o jantar, limpamos a cozinha e fomos assistir televisão, e quando menos eu esperava o telefone tocou, fui atender esperando ser a Oksana.
- Alô?
- ?
Uma voz masculina soou do outro lado. Gelei, honestamente não esperava ouvir essa voz, não tão rapidamente.
- Sim.
- Sua voz mudou.
- Pois é, a sua também.
- Tudo bem?
- Sim, Bill, e com você?
- Estou com saudades.
Fiquei muda, não tinha resposta para essa fala dele; ele pareceu perceber e logo completou
- Posso te ver?
- Por que, Bill? Por que depois de tanto tempo você resolve que quer me ver? O que te fez mudar de ideia?
- Eu... – ele suspirou. – Queria conversar.
- Não temos nada em comum para conversar, Bill.
- Eu sei.
- Então?
- Não seja dura, .
- Me dê algum motivo para mudar de postura então!
- Eu não tenho.
E desligou o telefone.
Desliguei também e voltei para a sala.
- Aconteceu algo, querida?
- Não, não, está tudo bem.
Sorri pra Ania e a mesma retribuiu. Voltamos à atenção para a TV e logo o programa acabou, a senhora Miles disse que iria dormir, e a levei até a porta, despedindo-me.
- Fica com Deus, querida, e acorde bem.
Ela dizia isso, pois sabia da grande possibilidade de eu não acordar no dia seguinte.
x-x-x-x
Dormi mal, sonhei com ele, tive flashbacks de nós dois, de quando estávamos juntos, de quando ele mentia dizendo que me amava. Acordei diversas vezes e rodei na cama tentando pegar no sono novamente, perdi mais uma noite entre tantas por causa dele.
Meu celular tocou, era Oksana dizendo que o Nikolai não foi e que precisava de mim.
Tomei um banho, comi algo, alimentei a Mia, e fui para o laboratório.
Antes de subir perguntei a Branka se ela deu meu endereço para alguém, e como eu suspeitava ela disse que um homem moreno e bonito pediu os meus dados e disse que era um velho amigo. Bem eu não iria brigar com a nova recepcionista, ela não tem culpa do Bill ser realmente um velho amigo, ou costumava ser mais que isso.
O laboratório ficava sempre tão silencioso aos sábado... Não, essa não é a primeira vez que eu venho trabalhar no final de semana, sempre acho o que fazer no laboratório aos sábados, não tenho motivo para ficar em casa mofando, não tenho muito tempo e prefiro usar ele para o bem.
Com o silêncio ouvi meu celular tocar, abri minha bolsa peguei o pequeno aparelho.
- Alô?
- Você vem?
- Para onde?
- Para o show, por favor, .
Eu respirei fundo e ele voltou a falar
- Você não vai precisar ficar no meio dos fãs.
- Não sei .
- Por favor, eu só peço isso.
O que fazer quando seu coração dói com palavras imploradas pelo telefone?
- Você não tem o direito de me pedir nada.
Você as responde com frieza.
- Mesmo assim eu irei te esperar, .
Ele desligou o telefone e eu voltei a fazer o que estava fazendo, mas não conseguia terminar, odeio quando a minha concentração se vai por motivos fúteis, mas que merda!
Às vezes eu chego a confundir, talvez não seja amor, talvez seja apenas a dor do abandono, as mentiras que na época soavam como sentimentos verdadeiros; talvez eu não seja forte o suficiente para assumir que aquilo não era amor, eram apenas resquícios de uma aventura adolescente, mas eu sabia que não era, ao menos não para mim.
Bill ficava martelando em minha cabeça, por que todo esse tempo ele não veio atrás de mim, eu mudei de casa, sim mudei, mas por quatro anos eu permaneci no mesmo lugar que ele conhecia, agora após quinze anos ele aparece? Em 2007 ele sumiu. E volta agora? Para que, Senhor?
Talvez eu deva aceitar a proposta, talvez eu precise saber o que ele tem para falar, mesmo que isso seja um martírio para a minha pessoa, eu preciso saber das mentiras que ele vai contar, preciso ver até onde sou capaz de aguentar ou até onde ele é capaz de ir.
Eu vou encontrá-lo nesse maldito show.
x-x-x-x
Voltei para casa, o show começaria dali duas horas, e ele queria falar comigo, e eu não queria ficar para ver o show, então liguei para ele dizendo que iria uma hora antes do show começar, ele disse que não havia problema, então voltei para casa rapidamente. Olhei no relógio: cinco horas da tarde, às seis me encontraria com ele.
Corri para o banheiro, abri a tornei para encher a banheira e fui escolher a minha roupa.
Após o banho voltei pro quarto e Mia estava sob a roupa que eu separei.
- Mia, sai daí!
Vesti um vestido de lã de cor creme e preto, meia calca grossa preta e um peep toe preto, prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto, maquiagem preta e bem feita, perfume habitual, e batom rosa.
Por fim me olhei no espelho e me perguntei o porquê dessa produção toda, por ele?
Pra quê?
Olhei para o relógio, tinha meia hora pra sair da cidade, chegar em Moscou e chegar atá a casa de shows.
Desci correndo as escadas e Ania já estava lá em baixo com Mia e seus gatos.
- Já vai, querida?
- Sim, estou até atrasada!
- Então vá, e tome cuidado!
Acenei para ela e saí de casa correndo. Entrei no carro, liguei-o e acelerei.
x-x-x-x
Em Moscou eu cheguei já com atraso de vinte minutos e ainda tinha que atravessar aquele caos e chegar ao outro lado da cidade.
Consegui, pelo menos cheguei lá.
Desci do carro e um senhor - que devia ser o segurança da banda - se aproximou do carro e falou comigo em russo perfeito
- A senhorita é Kietriz?
- Sim, sou eu.
- O senhor Kaulitz te aguarda.
Assenti com a cabeça.
Era tão estranho ouvir o sobrenome dele depois de tanto tempo.
O senhor me levou até uma sala, que eu presumi ser um camarim.
- Ele estará aqui em minutos.
- Ok.
A porta se abriu, meu coração disparou e por fim Tom entrou.
- !
Tom correu para me abraçar, éramos tão amigos e ele sim veio atrás de mim, sempre que tinha tempo me ligava.
- Tive saudades!
- Pois é, pequena, como você está?
- Bem, e você, Tom?
- Bem melhor agora né?
Eu sorri e ele me abraçou novamente e me levou para fora do camarim.
- Ele já vem, depois a gente se fala, anjo.
Deu-me um beijo estalado na bochecha e saiu.
Eu não aguentava mais de ansiedade, o coração batia rápido, as mãos estavam ainda mais geladas, sentia borboletas no estômago e a garganta estava seca...
Logo ouvi passos e olhei para o lado e o vi. O ambiente parecia silenciar-se a cada passo que ele dava, não havia ruídos e nem a multidão de fãs lá fora era ouvida por mim, o mundo pareceu parar e até meu coração pulou algumas batidas.
Bill estava vindo em minha direção, tão diferente, tão mais adulto, ele olhava para o chão como se procurasse palavras para me dizer.
- Bill...
Suspirei e ele olhou para cima com um sorriso fraco e me abraçou, meus braços permaneceram estáticos para baixo, não tive reação e ele percebeu que eu não iria devolver o abraço, mas não por falta de vontade, mas sim por ter essa proximidade repentina dos nossos corpos.
- Quanto tempo.
Típica frase de abandono.
Não respondi, fiquei vidrada na pessoa que o tempo modificou. Suas expressões joviais ainda estavam presentes em seu rosto, a “juba” deu lugar a um moicano baixo, a maquiagem era a mesma, só as unhas não que eram mais pintadas. Ostentava um sorriso incrivelmente lindo no rosto, estava mais maduro já que eram 32 anos que carregava nas costas
- Tudo bem?
- S-sim e você?
- Estou melhor agora. – eu sempre odiei essa frase. - Você está diferente, não tem mais o cabelo vermelho e curto, nem está mais tão radical.
- Amadureci.
Isso soou mais duro do que precisava ser.
- Pois é...
- Então, Bill, o que tinha para falar comigo?
Fui direta ao assunto, não precisávamos adiar aquilo, não consegui olhar para ele, afinal, ainda sentia a dor de ser deixada para trás como se eu não fosse nada, ou fosse algo que ele não precisasse, então não iria ter que levar nas costas uma pessoa que ele não iria amar mesmo.
- Eu queria explicar porque em todo esse tempo eu não te procurei.
O silêncio entre nós deu lugar a minha gargalhada inevitavelmente sarcástica.
- Explicar o que? Que eu não era, e não sou nada pra você? Explicar que foi melhor assim? Eu sei que foi melhor assim, Bill.
Ele abaixou o olhar depois dessa minha frase irônica, e sei que o machucou internamente, pois ele me olhou com o típico olhar vazio e sem afeição alguma.
- Você ainda está magoada não é?
O que é mágoa mesmo?
- Bem, , tenho que te pedir desculpas, mas eu não podia me aproximar de você...
Ele suspirou.
- Me dê um motivo para tal, Bill
- Eu dou, mas promete que vamos nos ver outra vez?
- Por quê?
- Só assim eu conto, conto tudo o que você quiser saber, conto para ti tudo o que senti com isso e como estou me sentindo agora.
- Você não sente nada, Kaulitz.
Ignorando a minha última frase ele colocou um sorriso sacana no rosto, ele sabia muito bem que eu sou curiosa e iria querer saber daquela história direito
Suspirei, não iria negar, eu quero saber MESMO o motivo pelo qual ele me abandonou, não voltou e me fez perder o tempo vindo até aqui.
- Onde?
O maldito abriu ainda mais o sorriso.
- Te pego amanhã às quatro da tarde.
- Amanhã?!
- Sim, algum problema?
- Não, nenhum.
- Ok, então combinado.
Ele veio me dar um beijo no rosto do qual eu desviei e fui em direção a saída, e antes de chegar a porta olhei para ele e friamente disse
- Não desperdice meu tempo, ele é precioso.
Pela última vez olhei para aquela face tão conhecida e tão anônima para mim, ele estava magoado, sim, estava, minhas palavras o feriram como um punhal pregado em seu peito e que era cravado cada vez mais a cada palavra que eu falava, já que em momento algum esbocei um sorriso.
Eu poderia ter voltado, aceitado suas desculpas, dado um beijo nele, um abraço apertado, dizer que estava tudo bem, que eu ainda o amo como nunca amei ninguém, mesmo depois de quinze anos, ir para cama com ele, matar a saudade daquele corpo, do seu toque perfeito, mas se eu fizesse isso, eu não seria a , seria a que ele conheceu e disse que amou à quinze anos.
morreu assim como está morrendo.
Peguei a estrada de volta a Fryazino, eu estava tonta novamente, provavelmente era pelo fato de que eu não posso ficar ansiosa ou sentir emoções extremas e essa noite foi explosiva para mim, minha cabeça doía tanto ao ponto de parecer uma enxaqueca crônica.
Aqueles vinte minutos pareciam não querer passar ou estavam demorando propositalmente, a estrada estava vazia, nada de congestionamento, levaria até menos de vinte minutos para chegar até Fryazino, mas o relógio do carro teimava em não mudar os minutos, eu acelerava mais do que o permitido, precisava do remédio, precisava dos analgésicos e ainda estava longe, mas que droga!
Estava a quase 150km/h e a cidade parecia não chegar, e logo meu celular começou a tocar uma música forte, tateei minha bolsa até achá-lo, quando o peguei atendi sem ver quem era no visor.
- Alô?
- , está tudo bem querida?
- Sim, Ania, estou bem, só com enxaqueca, mas devo estar chegando.
- Cuidado, querida, você sabe que essas estradas a noite são um perigo!
- Sim, sei, mas já estou chegando.
Constei assim que vi a entrada da cidade.
- Ok, estou a sua espera criança.
- Ok.
Desliguei o celular e voltei à atenção a estrada, e uma forte luz tomou o meu campo de visão e uma buzina alta me assustou e logo percebi que se tratava de um caminhão e que eu havia invadido a mão contrária da estrada, consegui desviar a tempo do imenso caminhão indo para o acostamento.
Parei o carro, respirei fundo, passei a mão na testa e olhei no retrovisor. Ótimo, sem nenhum movimento, então em uma manobra voltei a pista no sentido de Fryazino.
x-x-x-x
Assim que cheguei a cidade foi questão de minutos chegar até minha casa, coloquei o carro na garagem e entrei em casa sendo abordada por Mia, e me apoiando na parede ou em móveis Ania me encontrou
- !
Ela me pegou antes que meu corpo batesse contra o chão.
Ania me levou até o quarto, lá peguei o frasco que estava no mesmo lugar e fui para o banheiro tomar as malditas pílulas.
Voltei para a cama com dificuldade, arranquei os sapatos, e fiquei lá olhando fixamente para o teto esperando a minha visão turva sumir.
Alguns instantes depois tudo voltou ao normal, e Ania questionou-me<.br>
- Está bem?
- Sim.
- Pode conversar?
- Sim.
- Como foi?
- O que?
- Com o belo rapaz.
- Deveria ter sido pior<.br>
- Conversaram bastante?
- Não, ele tinha um show para fazer, mas amanhã ele vem me buscar.
- Que bom, querida!
- Pois é... – resposta automática para quando eu não quero mais falar sobre o devido assunto.
- Bem, comeu algo?
- Não.
- Então venha, precisa se alimentar!
Não discuti, apenas a segui até a cozinha, ela preparou um prato de sopa para mim, e eu com cautela para não me queimar tomei a sopa.
Ania ainda estava ali no canto da cozinha, eu me levantei, lavei o prato e o restante da louça e ela estava com aquela expressão de “me conte”.
- Pode perguntar, senhora Miles.
- , por que me parece que você não gostou da volta repentina desse rapaz?
- Porque eu não gostei.
- E por que não?
- Tudo o que ele faz é me fazer sofrer.
- E você não quer falar sobre isso, certo?
Cocei a cabeça e fiquei sem graça.
- Certo.
- Não vou insistir, mas ele sabe que você está doente?
- Não, e nem precisa saber, ele vai embora logo e eu não quero ele saiba.
Ela preferiu não contestar e me deu um beijo na testa, chamou seus gatos, se despediu de Mia, disse sua habitual frase e voltou para sua casa.
x-x-x-x
Porque é que ele ainda causa esses efeitos em mim?
Eu não dormi essa noite também, e parece que enquanto esse maldito estiver por aqui eu não vou descansar.
Era cedo, provavelmente seis da manhã.
Mia ainda dormia, e eu resolvi deixá-la em paz, peguei então um edredom no guarda-roupa e desci para a sala para ver TV, não sentia fome, mas fui preparar algo para comer.
Optei por cereal açucarado e leite com achocolatado, peguei uma colher e fui me sentar na sala.
Hoje estava extremamente frio, não que aqui fosse quente, mas hoje estava muito frio para uma manhã de um outono recém começado.
Ouvi pingos baterem contra o telhado, pousei a tigela com cereal em cima da mesa de centro da sala e me levantei indo em direção a grande janela da sala, onde eu tinha a visão perfeita da rua.
Sim, tinha começado á chover, era incrível, mas chovia.
Sorri, fazia tempo que eu não via chover dessa maneira e eu adorava chuva, por alguns momentos pensei em ir tomar um belo banho de chuva, mas não posso me resfriar, já que isso pioraria meu estado.
Deixei a cortina aberta para assim ver a chuva cair, voltei a comer meu cereal e ver um desenho qualquer de passava na TV.
Terminei o cereal e fui até a cozinha para lavar a louça, Mia desceu as escadas e veio rodear meus pés, e então fui esquentar o leite dela.
Voltei para o sofá, e resolvi ver algo interessante, mudei de canal e achei a MTV e lá deixei num programa musical e estava passando um grupo Local, que até era interessante, e a música parecia estar no final, já que após ela veio outra, e um helicóptero apareceu sobrevoando o mar, olhei para o nome, sarcasticamente o destino me apresentou enfim a banda dele, era Tokio Hotel.
Não, eu não conheço as músicas, nunca tive interesse na banda, até tinha quando eles começaram, mas após isso, perdi a total vontade de vê-lo cantar. A música parecia ser bem antiga, Bill estava com o penteado antigo, com mechas brancas no cabelo e com a cara de 17 anos de idade, a época que eu e ele namorávamos.
Deitei no sofá, me cobri com o edredom e fiquei ali pensando nos nossos momentos, dos mais fofos aos mais íntimos, de suas carícias até seu toque explorador, de seus beijos românticos até os mais quentes.
Desliguei a TV, nem quis mais ouvi-lo, muito menos pensar nele, então virei ao contrário ficando de frente para a janela olhando a chuva cair, e Mia logo pulou no meu colo miando e pedindo carinho.
x-x-x-x
A manhã passou rápido, a chuva só ficou mais forte, e parecia que viria uma tempestade, Ania veio até em casa no instante que a chuva diminuiu a intensidade.
- Bom dia, querida!
- Bom dia, Ania!
Ela me deu um forte abraço e perguntou se eu comi, tomei os remédios, se eu dormi bem e por fim, se eu realmente estava bem.
Respondi todas suas perguntas e ela logo começou a fazer o almoço, teríamos hoje o Borsch e muita vodka bem gelada.
Já era quase meio dia quando a campainha soou, eu estava no quarto trocando de roupa quando ouço a Ania berrar.
- , é para você!
Assim que terminei de trocar de roupa desci correndo as escadas e tive um grande susto que me fez ficar parada no ultimo degrau.
- AH NÃO ACREDITO! - berrei extraordinariamente alto e eles vieram ao meu encontro. -Quantas saudades eu tinha de vocês, meninos!
Eles me abraçavam fortemente, quase me deixando sem ar e depois de me soltarem cada um me deu um beijinho estalado e depois olharam para mim.
- Você mudou muito, !
Gustav comentou me olhando de cima a baixo, eles me conheceram quando eu tinha 15 anos, cabelo vermelho, estilo bem metal, sempre maquiada, e era um pouco menor que o Gus, e agora tenho os olhos sempre limpos, com - ás vezes - um rímel, cabelos na cor castanho claro natural, quase um e oitenta de altura e 32 anos.
- Eu disse que ela tava diferente e mais linda!
Disse Tom dando um mega sorriso, e vi que ele também tinha abandonado os dreads e os substituiu por um cabelo preto curto e liso, reparei nisso hoje, porque ontem Tom estava com uma touca que não me permitia ver seus cabelos, Gus não mudou nada e nem cresceu e já Gê tinha o cabelo bem mais comprido do que eu lembrava.
- E então, meninos, ficam para o almoço?
- Claro!
- Tem comida na sua casa não, passa fome?
Gê rebateu a resposta de Tom e eu ri.
- Eu não sou passa fome!
- É, e eu deveria te mandar pra algum país com fartura de comida!
- Haha besta!
Gus e eu víamos a discussão de homens com mais de trinta anos e víamos crianças de 10.
- E então, qual são as novidades?
- Gê casado, Gus encalhado e eu namorando.
- Conta-me outra, Tom, você namorando?
- É ué, qual o problema?
-“ Tom kaulitz não se apaixona nunca”.
Eu disse engrossando a voz e fazendo a pose de poder do Tom, como ele fazia quando tinha os seus 17 anos
- Velhos tempos.
- Casará?
- Vou pedir ela em casamento.
- Ou a mãe dela né Tom!
- Viu, tinha algo muito errado pra estar certo, Tom.
- Ah, Tom só namora com a garota porque às vezes pega a mãe dela.
- Você não muda, sinceramente, e quantos anos têm a pobre?
- Vinte.
Eu ri, foi inevitável.
- E a mãe?
- 35
Eu ri novamente.
- Gravidez na adolescência?
- Sim, lembra-se da Bianca? – Georg me perguntou.
- Quem?
- A Bianca Hens que estudava com a gente?
- Ah, a piranha?
- Ela mesma. – Tom concordou.
- É a filha dela?
- Sim, a Tania, coitada da menina, se iludiu com o Tom e agora tem essa decepção.
Gustav lamentou as asneiras do amigo.
- E você, Gus, namoro?
- Acabei faz um mês.
- Oh...
- Tava na hora.
Ele sorriu, é, pelo visto ele não gostava dela.
Ania se aproximou do grupo e no exato momento Tom me perguntou.
- E você, , namoro, homens, casamento?
- Ela tá solteira desde que voltou para cá, rapaz.
Ania entregou de bandeja a resposta para Tom, o que fez todos me olharem incrédulos.
- O que foi?
- Nada? Ninguém? Homem? Mulheres? – Mulheres?
- Não, Tom, ninguém, não namorei, não amei.
- E também não esqueceu o outro rapaz que é parecido contigo.
Ania novamente intrometeu o bico na conversa, introduzindo mais uma vez em meu coração o fato de que eu ter nunca esqueci o Bill
- ...
Tom disse lamentando, ou me consolando, não sei definir pelo tom de voz dele.
- Está tudo bem! – enfatizei mais do que deveria dando o ‘ar’ de felicidade instantânea e então sorri, ou tentei.
- Bem, o almoço está pronto.
Ania se retirou e eu acompanhei todos até a cozinha, cada um se sentou em uma cadeira e Ania serviu o Borsch, uma sopa de beterraba com carne e outras coisas mais.
O cheiro era delicioso, dava até para sentir o cheiro das ervas, os meninos adoravam esta sopa cremosa quando comiam em casa na Alemanha.
- Como é que se chama isso mesmo, ?
- Borsch
- Isso!
Tom fez a carinha de desenho japonês, super fofa.
A vodka foi servida por Ania que estava animada em ver todos comendo sua deliciosa sopa com tanto gosto que só faltava pular, ela adorava cozinhar para as pessoas, infelizmente ela era igual a mim, sozinha e só cozinhava para a vizinha.
- Boa essa vodka não?
- Sim, é das melhores.
Respondeu Ania orgulhosa ao comentário de Georg.
- Pensei que o outro rapaz viria também.
Ania tem sempre que tocar no nome de Bill, Tom limpou a boca e disse.
- Ele e precisam conversar a sós, por isso ele virá mais tarde.
Ania sorriu e me olhou, a senhora tinha um olhar de satisfação no rosto.
x-x-x-x
Os meninos se foram depois beber quase dois litros de vodka Russa, estavam já alterados e eu fui levá-los até o hotel, onde eles se despediram de mim sem se preocupar com nenhum paparazzi ou fã.
- Até mais ver, !
Disse Tom ao me abraçar.
Voltei para a casa, Ania já não estava mais lá, subi até o quarto para procurar alguma roupa para vestir essa tarde, já que Bill estaria aqui daqui uma hora.
Separei uma calça jeans clara, uma scarpin preto, uma blusa de lã em cor creme e preto.
Entrei no banheiro para um rápido banho, troquei de roupa e voltei ao banheiro para fazer a maquiagem, coisa simples, batom claro, soltei o cabelo e estes formaram leves ondas por todo seu comprimento.
Olhei para aquela imagem diante do espelho, eu estava realmente ficando mais pálida a cada dia que se passava, meus olhos estavam cada vez mais fundos, tenho medo disso, porque sempre cuidei da minha aparência e tenho medo de não poder olhar no espelho e ver a minha imagem, uma pessoa saudável, e sim uma garota doente com má aparência e abatida.
Suspirei e sai do banheiro apagando a luz, peguei a minha bolsa, desci as escadas e no final dela ouvi a campainha, era ele.
Terminei de descer as escadas, passei a mão em Mia e fui abrir a porta.
Ele estava encostado no batente da porta de forma sexy e provocativa, e assim que eu abri a porta olhou-me e sorriu.
- Olá, .
- Olá, Bill, entra.
Não negarei que esse ‘’ me faz mal.
- Claro!
Ele entrou, ofereci á ele uma xícara de chá, algo para beber e o mesmo aceitou apenas um copo de água.
Mia rodeou os pés de Bill, mas porque afinal?
Ela NÃO é de rodear os pés de quem ela não conhece
- Ele parece que gostou de mim, afinal qual é o nome dele?
- Dela, é Mia.
E de fato Mia gostou de Bill, pois quando o mesmo sentou-se no sofá, Mia pulou em seu colo, e ele sorriu acariciando Mia como se ela fosse um pedaço de algodão.
Entreguei-lhe a água e ele virou o copo num só gole.
- Mais?
- Não, obrigada.
Ouvia risos de Bill, e eles inundavam meus ouvidos como uma sinfonia da qual eu sofri todos os dias para esquecer, e ouvir isso depois de 15 anos era como pular numa piscina gelada num calor de 41 graus Celsius, agradável e extremamente perfeito.
Não pude deixar de sorrir, lavei o copo e ouvi passos atrás de mim.
- Vamos?
- Sim.
- Algum lugar em preferência?
- Não, nenhum, vai dirigindo?
- Bem, não conheço nada por aqui, ia te pedir para ir dirigindo.
- Ok.
Dei ali a conversa por encerrada, e ele entendeu, ouvi um miado atrás de mim.
- O que foi?
Ela me olhou com aquele olhar de ‘desculpa’
Não entendi, mas peguei-a no colo, e a mesma pulou para o colo do Bill.
- Bem, ela realmente gostou de mim.
- Pois é.
Mia saiu do colo dele e se aconchegou no sofá, nós saímos pela porta indo em direção a garagem, abri a mesma e entrei no carro, sai com ele da garagem e Bill entrou.
- Moscou?
- Aqui não tem nada de bom?
- Ter tem, tem um Shopping, tem um lindo jardim por aqui, tem restaurantes, lojas de doces.
- Bem, poderíamos ir comer algum doce, depois ir visitar esse jardim.
- Claro.
Acelerei o carro, a loja de doces ficava no centro, e eu morava no final da cidade, então levamos uns 20 minutos para chegar lá.
x-x-x-x
- Um bolo de nozes e um café forte com pouco açúcar e sem creme.
Disse em russo para a garçonete, Bill queria apenas um café e eu um pedaço do bolo de nozes que é uma delicia.
- Então, , o que tem feito?
- Trabalhando apenas.
- E trabalha com o que?
- Genética e Imunologia, sou uma cientista.
- E como anda a vida.
- Normal.
- E o que seria normal?
- Estou vivendo.
Ele abaixou o olhar e voltou a me encarar.
- Ainda bem.
- Não enrola mais, Kaulitz, por favor, me diz.
- Te dizer o que, ?
- O motivo pelo qual você não cumpriu sua promessa<.br>
- Não podia te ver.
- Eu sei disso.
- Sabe?
Ele me olhou assustado.
- Sim, você já me disse isso Bill.
A garçonete trouxe os nossos pedidos.
- Obrigada.
Ela sorriu e se afastou, dei uma garfada no bolo e Bill tomou um gole do seu café.
- Sim, eu disse.
- Então?
- Eu queria me aproximar, mas não podia.
- Ah sim, e por que apareceu 15 anos depois?
- Porque queria te ter de volta.
- Perdeu seu tempo, Bill.
- Eu sei que você ainda está muito magoada comigo, com tudo, mas acredite, foi para o seu bem.
- Meu bem? Bill, acorda, meu bem era estar com você e olhe agora, olhe o mal que você me fez e não é só mágoa, chama-se ódio também.
Ele nada respondeu, apenas olhou diretamente em meus olhos e eu pude ver que ele estava seriamente magoado.
- Eu sei, estou vendo.
- Então.
- Desculpa, , não pretendia te causar tanto mal.
- Mas causou, devia ao menos ter tido a discrepância e de me dizer que não queria mais, que não me amava e que não queria mais me ver
- Mas isso é mentira!
- Como é? E onde está a mentira?
- Nada foi como pareceu ser, . – ele disse calmamente, mas duro o suficiente para transparecer a sua suposta mágoa
- Bill, me dê a droga de um motivo por isso ter acontecido.
- Seu pai.
- E o que ele tem á ver com isso?
- Ele me afastou de ti.
- Meu pai?
- Sim.
- Isso está indo longe demais.
- , escuta, eu não quero te perder novamente, eu estou na Rússia por você, quero te ter novamente, preciso de ti, ainda te amo.
- Por que eu não consigo acreditar nas suas palavras? Elas são falsas, podres e cruas demais para meu coração aceitá-las como verdadeiras.
Disse baixo, mas alto o suficiente para ele me ouvir, Bill então se levantou da mesa, e num movimento rápido colocou sua mão em minha nuca e me puxou para um beijo.
Empurrei Bill, peguei minha bolsa e corri, mas Bill correu atrás de mim, e mesmo que eu tentasse fugir, ele sabia onde eu morava.
Senti as lágrimas descerem pelo meu rosto, e logo senti um corpo colado ao meu, chorei em seu ombro, empurrei-o novamente e entrei no carro, ele foi pagar os pedidos e logo voltou com uma caixinha e dois copos de café.
- Trouxe para viagem.
Fiquei em silêncio, nem mesmo olhar para ele eu conseguia, apenas liguei o carro e acelerei, o caminho foi em total e extremo silêncio, não havia nadaa ser dito, já que a suposta culpa dele ter me abandonado era do meu pai, então o que eu iria dizer a ele, ou o que ele teria para dizer a mim?
Não conseguia mesmo conter as lágrimas, minhas mãos estavam grudadas fortemente no volante, meus olhos fixos nas ruas, e eu estava mal, muito mal mesmo.
Bill pareceu notar isso, pois levou seu polegar até minha face e não deixou mais uma lágrima cair, minha cabeça estava voltando a doer e eu precisava chegar em casa, acelerei ainda mais o carro, Bill apenas me olhou assim que eu olhei para seus olhos.
- Vá devagar,
Seu pedido foi mais uma súplica, parecia ter medo de velocidade, mas não dá, tinha que chegar em casa rapidamente.
- Não dá.
A cidade nunca pareceu tão grande, e os minutos tão lentos, o tempo aprecia parar e isso passou a me incomodar.
- Bill, por favor, fale
Ele pareceu se assustar.
- Falar?
- Sim, qualquer coisa, só me distraia.
- B-bem, o que você quer que eu diga?
- Qualquer coisa, rápido, pode ser sobre o seu passado.
Precisava distrair meu cérebro com algo, já que parecia que isso não iria terminar, isso estava levando uma eternidade, Bill abriu e fechou a boca diversas vezes e por fim proferiu algo.
- Prefere saber das turnês e da banda ou minha vida pessoal?
Senti uma pontada forte na cabeça e fechei os olhos, apertando-os e voltei á abri-los.
- Vida pessoal.
- O que exatamente?
- Depois de mim veio alguém?
Ele me olhou e eu logo percebi que estávamos em casa, puxei o freio de mão e desci do carro trazendo a chave comigo e com certa brutalidade e pressa entrei em casa deixando a porta aberta, subi rapidamente as escadas sentindo Mia passar pelos meus pés, entrei no quarto com muita urgência, peguei o frasco laranja e me dirigi para o banheiro, ouvi passos e logo Bill estava atrás de mim, enchi um copo de água e virei dois comprimidos na boca e em seguida a água.
- Para que é isso?
- Para dor.
Passei por ele, tirando os sapatos e me jogando na cama, com um travesseiro sob a cabeça, estava doendo demais, parecia que iria desmaiar a qualquer momento.
- Não respondi sua pergunta.
- Pois é.
Respondi com a voz abafada pelo travesseiro.
Retirei o travesseiro do rosto e o vi sorrir de canto e logo uma voz.
- , querida?
- Aqui em cima!
Ouvi passos pesados, porém lentos, subirem as escadas, olhei em direção a porta e lá estava Ania com uma expressão preocupada
- Oh querida você está aí, estava preocupada, vi seu carro aberto e a porta da casa também, aí quis saber como você estava.
- Estou bem, Ania, e bem. - levantei da cama e fiquei entre Bill e Ania. - Ania esse é Bill Kaulitz, Bill essa é Ania Miles, minha vizinha e segunda mãe.
Bill cumprimentou-a com um beijo no rosto e a mesma retribuiu.
- Bem, vou descer e preparar algo para o jantar.
Eu sorri agradecendo, e ela desceu, Bill se sentou na cama e eu olhei para ele, e meu sorriso foi-se, ficamos nos olhando por algum tempo, em seus olhos havia dúvida e parecia que ele queria me perguntar algo, o meu era de extrema frustração por tê-lo ali após 15 anos.
- Diz-me, me abandonou de livre e espontânea vontade ou doeu um pouco?
Eu sei que estava sendo insensível, mas por um lado queria saber mesmo se doeu o quanto ele diz, e por outro me sacrificava por ser tão dura com ele.
Ele abaixou a cabeça, voltando a me olhar, com um olhar um tanto quanto marejado, e voltou a abaixar a cabeça.
Ele não me respondeu como eu imaginei que iria fazer e por fim finalizei, levantando-me da cama.
- Foi o que eu pensei, nem minha falta sentiu.
Ele levantou a cabeça bruscamente e se levantou vindo em minha direção, seu olhar era frio agora. Suas mãos agarraram meus ombros fortemente.
- Não sei por que você prefere duvidar de quem diz que sente tua falta e não consegue ser feliz e aceitar o fato de que eu ainda penso em você.
Disse isso e saiu do meu quarto rapidamente esbarrando em mim bruscamente, e eu apenas fechei a porta do quarto e me joguei no chão chorando.
Afinal qual era a minha intenção? Magoá-lo para fazê-lo sentir tudo o que eu senti ou me sacrificar e me flagelar com o sofrimento dele?
Ouvi a porta se abrir e olhei para a mesma, tendo uma visão de ponta cabeça de Ania.
- Por que o garoto saiu chorando? E por que a senhorita está no chão com essa cara de choro? O que aconteceu?
Ela se sentou no chão com alguma dificuldade devido sua idade, e me fez deitar sob seu colo, recebendo assim um carinho gostoso em minha cabeça.
- Ah, Ania, eu não sei qual são as minhas intenções com Bill.
- Afinal, o que ele é seu?
- Meu ex-namorado.
- E voltou por quê?
- Bill disse que foi meu pai quem o afastou de mim quando ele saiu em turnê com a banda dele, e agora quer voltar prá me reconquistar, não sei.
- E por que você não deixa, querida? Essa pode ser sua última chance de ser amada. – Ania suspirou pesadamente - , por favor, tenta.
- Não quero me envolver sabendo que tudo tem um fim, Ania.
- Não pensa nesse fim, ele te ama, se não ele não iria sair daqui aos prantos, não é?
- Mas, Ania...
- Nada de “mas”, querida, se dê a chance de ser feliz pela última vez.
Ela disse por fim, e eu vi que não precisávamos de mais nenhuma palavra ali, ela continuou o carinho e eu por fim enxuguei as lágrimas e levantei de seu colo, ajudando-a a levantar.
Descemos as escadas juntas e ela foi para a cozinha e eu para o carro procurar a minha bolsa.
Achei o que estava procurando e tranquei o carro, entrando em casa e sentindo Mia passar pelos meus pés.
Fui até a cozinha, coloquei a bolsa na mesa para procurar o meu celular, achei o aparelho e fui procurar o numero que Tom anotou em um papel, era o número de seu celular, procurei pelo pedaço de papel e por fim achei-o pregado por um imã na porta da geladeira. Disquei o numero dele, e chamou duas vezes antes de sua voz rouca e abobalhada atender.
- Tom, é , eu preciso falar com o Bill.
- Ele ainda não chegou, .
- Eu sei, quero o número dele.
Tom me passou o numero, e eu o anotei no papel abaixo do número de Tom, encerrei a chamada e disquei o numero do Bill, e este atendeu.
- Alô?
- Bill?
- Sim, ?
- Bill, posso... – engoli o orgulho a seco. - te ver?
- Para que?
- Apenas preciso te ver.
Ele suspirou e logo me disse para encontrá-lo no hotel às nove horas da noite.
- Ok, Bill.
Ele desligou o telefone e eu fui tomar um banho.
x-x-x-x
Devidamente vestida, desci para jantar junto de Ania, e avisando a mesma que iria sair. Ela disse que tomaria conta da casa até eu voltar, e eu prometi ligar se algo inesperado acontecesse.
Entrei no carro, o hotel ficava no centro, uns 15 minutos e estaria lá.
O trânsito estava mais tranquilo, se bem que por aqui nunca está agitado...
A ida até o hotel foi tranquila, e reparei que havia alguns fotógrafos por aqui, com certeza é pelo Tokio Hotel.
O manobrista foi estacionar o carro e eu fui até a recepção, perguntei em qual quarto Bill Kaulitz estava, ela disse que não estava autorizada a dizer isso.
- Por favor, ele sabe que eu estava vindo.
- Desculpa, senhorita, mas isso é informação confidencial.
- Por favor?
- Ela está comigo.
Ouvi uma voz grossa atrás de mim, e por alguns segundos achei que fosse ele, e quando me virei Tom Kaulitz em pessoa sorria para a moça e para a minha pessoa.
Ele apoiou sua mão direita no meu ombro e me levou até o elevador
- Tá aqui por ele?
- Sim
- Vai voltar para ele?
- Não, Tom, só preciso saber por que ele me deixou.
- Simples, para seu bem.
Ele disse isso tão calmamente que parecia ser tão verdadeiro.
Logo que eu ia abrir a boca para dizer algo o elevador apitou avisando que chegamos, olhei para ver qual era o andar, e este era o terceiro.
- Quarto 95.
- Obrigada!
Disse assim que sai correndo do elevador, procurei o quarto 95 e o achei do lado esquerdo no final do corredor.
Parei na frente ao quarto, respirei fundo me recompondo e dei duas batidinhas, e em inglês ele disse que eu poderia entrar, quase sem fazer algum ruído eu entrei, disse um “com licença” e caminhei mais um pouco até encontrar Bill sem camisa sentado em uma poltrona com os pés apoiados no criado mudo, um cigarro estava acesso entre seus dedos e ele logo soltou a fumaça ainda de olhos fechados.
- . – assim que me viu levantou-se apagando o cigarro e terminando sua bebida de cor escura e só então reparei em seu corpo definido.
- Oi, Bill.
Aproximei-me e olhei seu tronco nu, ele ainda era bem branquinho, mas possuía tatuagens, eu só me lembrava de uma que fica na nuca. Bem cuidado e com um porte bonito, foi o que ele se tornou.
Bill seguiu meus olhos até seu dorso nu.
- D-desculpa, , eu coloco uma camis... – eu o interrompi.
- Não, não precisa.
Sentia seu olhar penetrante sendo direcionado a mim, vagarosamente levantei meu olhar e olhei profundamente em seus olhos.
- Por que veio, digo, você possuía uma posição dura, fria e sem vida perante a mim, o que te fez mudar de ideia?
- Quero que me explique tudo, por favor.
- Sente-se, a história é longa.
Ele ofereceu a poltrona em frente a que estava sentado para que eu me sentasse, assim fiz, retirando o sobretudo preto antes.
- , bem eu disse que foi seu pai, e bem, ao certo não sei dizer o porquê dele estar te protegendo, mas deve ser algo muito grandioso para ele fazer isso.
- Diga, o que ele te fez?
- No dia que eu iria viajar, ele se ofereceu para nos levar até o aeroporto, lá ele me puxou para um canto e disse para que eu me afastasse de você, para que eu te esquecesse e que quando eu voltasse para não te procurar.
- E se você não fizesse isso, o que ele te faria?
- Te trancaria em um colégio interno, em um lugar onde nem sua mãe saberia.
- Só isso?
- Não, eu não iria me afastar apenas com esse preço.
- E o que mais?
- Quando voltei, em 2008, fui direto para a sua casa, sabia que você voltaria da escola a qualquer hora, toquei a campainha e seu pai me atendeu de uma maneira bruta, disse que mandou eu nunca mais voltar, e bem ele me bateu, quando eu disse que te amava, ele disse que não adiantaria, você não me amava da mesma maneira mais.
- Mas isso não pode ser verdade.
- Pois bem, ele me jogou na calçada e jogou em mim o colar de anjos que eu te dei, disse que para o seu bem era melhor eu me afastar ou ele realmente acabaria contigo. Ele chegou a me oferecer dinheiro para que eu me afastasse, mas eu não o fiz, ele mantinha você dentro de casa, não é mesmo?
- Sim.
- Porque ele sabia que eu iria aparecer todos os dias, sabia que eu não desistiria, e eu não desisti, por dias ia lá, subia pela sua janela e nunca te encontrava, mas o encontrava, teve um dia que... – ele apertou os olhos, parecia não querer lembrar-se de nada disso, queria deixar trancafiado esse sentimento. – Teve um dia que ele foi até a minha casa, ele carregava uma pistola e ameaçou a minha mãe, eu cheguei com um dos meus seguranças, e o mesmo colocou seu pai para fora da minha casa e o pior, ele mandou alguém bater no meu padrasto e consequentemente no Tom que também estava junto.
Pedi para que ele desse um tempo para eu raciocinar. Ele parou de falar, mas continuou cabisbaixo.
Meu pai disse que Bill viera me procurar para dizer que estava tudo acabado, mas que na verdade era o contrário? Ele sempre foi dócil comigo, a poucas foram às vezes em que ele extrapolou em suas broncas, mas agir tão baixamente assim, não era do feitio dele.
- Bill, meu pai disse o que faria comigo?
- Não, mas ele era violento e você sabe disso, e da maneira em que ele ameaçou a minha mãe, imaginei que ele faria coisa pior a você, .
- Agora me explique, você voltou como? Como sabia que eu estava aqui?
Ele suspirou e levantou sua cabeça
- Minha mãe mantinha contato com sua mãe, certo? - eu assenti com a cabeça. - Quando seu pai fez o que fez, eu voltei para Berlim e não voltaria para Leipzig, e em 2010 acabei voltando lá, e foi quando fui te procurar soube que você havia se mudado e Tom me contou que após você terminar o colegial, voltou para a Russia, mas que não sabia para que cidade, foi quando perguntei a minha mãe se ela sabia de algo, ela disse que seus pais haviam morrido após alguns dias de você ter voltado para Rússia.
- Sim, isso é verdade, mas me diz, por que não ligou?
- Seu pai atendeu uma vez o seu celular e disse que me avisou, alguns minutos depois ouvi gritos vindo da sua casa.
Esse foi o dia pelo qual eu apanhei sem motivo.
- Ele te bateu não foi?
Senti uma lágrima cair, ele levantou meu rosto e limpou a lágrima com o polegar
-Sim, ele estava parcialmente embriagado e me bateu com suas mãos mesmo, ora ou outra achava algum objeto para jogar em mim, não só eu acabei com duas costelas fraturadas como muitas das minhas coisas foram quebradas por ele.
Ele me fez levantar e me abraçou, foi bom sentir aquele abraço quente, foi diferente, me senti segura como me sentia quando estava com ele.
- Preciso de você.
Ele sussurrou essas palavras no meu ouvido, por um lado fiquei feliz, eu já não tinha realmente motivo algum para guardar mágoa dele, mas não tinha motivos para ficar com ele.
Abracei-o mais forte ainda, sentindo sua respiração em meu ouvido, me fazendo suspirar, soltei-o e olhei em seus olhos e sorri, eu não sorria a muito, muito tempo mesmo.
Ele elevou sua mão até tocar minha face, e mais uma ágrima desceu e Bill não a deixou cair, beijou meu rosto impedindo da mesma vir ao chão, fechei os olhos ao sentir aquela aproximação. Seu polegar voltou a tocar minha face, ele fez o caminho até minha boca com ele, e sua outra mão foi até minha nuca, eu estremeci com tal ato.
- Bill...
Gemi seu nome, e ele pareceu não hesitar, senti seu hálito quente se aproximar do meu rosto e logo seus lábios estavam colados aos meus, um demorado e simples beijo. Ele descolou seus lábios e eu olhei diretamente em seus olhos, e vi um brilho incrível, como se fosse uma criança ansiando por um doce.
Dessa vez me aproximei mais dele, tocando seus lábios com meus dedos e voltando ao beijo, pedi passagem para aprofundar o beijo e ele cedeu, senti aquele piercing novamente, de uma maneira carinhosa. Senti falta desse beijo calmo e profundo dele.
Senti suas mãos passarem até as minhas costas e um arrepio surgir em toda a minha pele.
Não sei qual motivo, mas minhas mãos foram para a sua nuca e os lábios de Bill para meu pescoço, ofeguei contra seu peito, senti bater contra algo, Bill me prensou contra a parede, o mesmo desceu vagarosamente meu vestido cinza, eu retirei os sapatos e sua calça, Bill me conduziu até sua cama, beijando-me e distribuindo carícias ao longo do meu corpo.
Ele soltou meu sutiã e acariciou meus seios, eu abaixei sua boxer preta e beijei toda extensão de seu abdômen, senti suas mãos apertarem ainda mais minhas coxas e eu ofeguei novamente.
Senti a última peça que cobria meu corpo deslizar pelas minhas pernas e vagarosamente seu membro pulsante me invadir, e com movimentos lentos e precisos Bill gemia baixo em meu ouvido.
Nossos gemidos eram contínuos, e os movimentos mais rápidos, estava sentindo que estava chegando ao meu ápice e seus movimentos eram bem mais rápidos e fortes agora, senti meu corpo estremecer e soltei um gemido um pouco alto vendo um sorriso aparecer no canto de seus lábios, seu corpo amoleceu em cima do meu, Bill me deu um rápido beijo e deitou-se do meu lado, e trouxe-me mais para cima de si, fazendo com que eu deitasse sob seu peito, que subia e descia rapidamente e seus batimentos cardíacos estavam bem mais rápidos.
Sorri entrelaçando meus dedos aos dele.
- Nunca tive outro alguém, .
- Ania, vou dormir aqui.
Como eu havia prometido a Ania que iria ligar se algo extraordinariamente diferente acontecesse, eu liguei para ela por fim.
Bill já dormia, já era tarde, e eu estava sentada nessa poltrona prestando a atenção em cada detalhe de seu corpo e de sua face, de como ele ainda era sereno dormindo e de como seu corpo havia mudado, assim como suas atitudes.
Não vou negar que meu amor por ele aumentou após nossa noite, mas sei que no final tudo não vai ser feliz, afinal, minha história nunca possuiu e nem possuirá um final feliz.
Estava sem sono, pois é, insônia novamente, e infelizmente isso está se tornando rotineiro.
x-x-x-x
Senti uma leve brisa em minha face, e quando pensei que havia parado, a brisa voltou e logo uma risada baixa dele. Abri os olhos com muito custo e ele sorria divinamente para mim, e só aí fui perceber que havia dormido naquela poltrona, isso me renderá belas dores nas costas.
- , dormiu na poltrona?
- Pois é.
Levantei-me espreguiçando e ele aproveitou essa deixa para me pegar no colo como se eu fosse uma noiva.
Ele me levou até o banheiro, fechou a porta e a trancou, eu já estava no chão, e ele sorriu meigamente e veio em minha direção, me enlaçando em um abraço carinhoso, ele me fez entrar debaixo do chuveiro e logo abriu a torneira deixando uma água gelada cair a principio, logo ele regulou a temperatura e a água se tornou quente e confortável.
x-x-x-x
- Bill, preciso mesmo falar com você.
Disse enquanto enxugava meus cabelos e ele se vestia.
- Diz
Pensei e achei melhor não fazer isso agora, estamos nos dando bem, não quero estragar tudo justo agora.
- Preciso ir pro laboratório.
- E ele fica onde?
- Do outro lado da cidade.
- Te levo lá.
- Não precisa, estou com o carro estacionado por aqui, eu vou sozinha.
- Tudo bem.
Terminei de me secar, troquei de roupa vestindo o mesmo vestido cinza de ontem e desci com Bill para tomar um café da manhã, percebi que os olhares de Tom, Georg e Gus eram direcionados é nós, e até imagino o porquê.
Despedi-me de Bill entrando no carro e dirigindo até o laboratório, lá estacionei e peguei meu guarda-pó no banco de trás e entrei no laboratório, me identificando na portaria antes.
Assim que entrei no elevador vi Ania se aproximando, segurei as portas do elevador e Ania com um saco de papel na mão entrou no elevador, e eu deixei que as portas se fechassem.
- Bom dia, !
Ela sorria ainda mais que eu.
- Bom dia, Ania.
- Trouxe seu lanche, você precisa repor as energias.
Ela me entregou o pacote e me deu uma piscadela me fazendo corar levemente, o elevador parou no sétimo andar e eu sai, mas antes apertando o botão do térreo, para Ania sair do prédio.
- Até o jantar, Ania.
Ela me deu um beijo e eu fui para a minha sala.
x-x-x-x
Olhava para o relógio de hora em hora, sentia que o tempo aqui não passava e alguns dos meus colegas já percebiam minha dispersão e vieram perguntar se era por causa da doença e eu sorri e disse que não. Eu ficava pensando nele, na noite passada, eu pensava em seu sorriso e em seu carinho, isso me fazia querer correr para os braços dele, querer sair daquele laboratório o quanto antes, ele tinha razão quando me pediu uma chance assim, como a razão ele tinha um belo motivo, e isso me faz pensar o que é que meu pai pretendia com isso, se bem que ele sempre soube da minha doença, desde pequena eu apresentava sintomas, assim como as dores que possuo até hoje. Fiz por muitos anos o tratamento, tendo alguns anos da minha vida com a doença “congelada”, as células não avançavam em seu desenvolvimento, e há alguns meses descobri que o tratamento de nada estava adiantando, muito pelo contrario, estava me afetando de outras formas, parei o tratamento e continuei a minha vida, o médico só me receitou alguns medicamentos para evitar convulsões e parar a dor, alguns como vitaminas, mas fora isso, nada podemos fazer, infelizmente.
Ainda eram três horas da tarde, só saia daqui as seis, resolvi parar para comer algo, larguei os relatórios e sai da sala, indo direto para a cantina, minha cabeça estava latejando, esperava que não aumentasse a intensidade.
Encontrei Oksana no elevador e ela me acompanhou até a cantina, lá tomamos um chá gelado e comemos alguns pequenos salgados sortidos, de estomago cheio subi até a minha sala, percebi que já não conseguia enxergar muita coisa, tinha uma visão dupla, pisquei várias vezes e por fim minha visão voltou.
Uma hora depois.
Minha dor de cabeça já estava para uma enxaqueca, abri a bolsa e retirei alguns comprimidos para dor e os tomei, tendo um alívio depois de alguns longos minutos.
Voltei s fazer os relatórios sobre o sucedido com a vacina, parecia que as horas não iriam passar, e por fim Bill me ligou, me convidando para um jantar as seis e vinte, no restaurante do hotel onde ele estava hospedado, ele iria me esperar lá.
Algumas horas se passaram logo vi que no relógio marcavam seis e quinze, teria que correr. Assim fiz, desliguei os equipamentos, empilhei e guardei os relatórios, peguei minhas coisas e fui para o elevador enquanto digitava uma mensagem para Bill, o elevador chegou antes mesmo de eu digitar algo, e assim que eu entrei ele se fechou, apertei o botão do térreo, selecionei o remetente da mensagem e comecei a digitar:
“Não dá mais...
No meio da mensagem, junto com o barulho que anunciava que o elevador havia chego em seu destino eu tive uma dor súbita e caindo no chão assim que as portas do elevador se abriram e apaguei.
x-x-x-x
|.Bill.|
Meu celular vibrou, pensei ser ela, olhei para o relógio já eram seis e meia, dez minutos atrasada, isso não faz mal, o problema foi assim que eu recebi a mensagem.
“Não dá mais...
De: ”
Perdi meu chão, honestamente, e com fúria sai da mesa e consequentemente derrubei a taça de vinho, e corri para o quarto de Tom com lágrimas brotando nos olhos, lá avisei que voltaria para a Alemanha naquela noite, sem dar outras satisfações fui para o quarto, liguei para a recepção do hotel e pedi para que eles reservassem uma passagem de volta para Berlim.
Terminei de guardar minhas coisas e já no saguão me despedi dos outros que ficariam algum tempo por aqui, depois entrei em um taxi, rumo ao aeroporto, Não dá mais... Pois é, , obrigada pelo meu tempo perdido, obrigada pela ilusão, pela GRANDE bobagem que você me fez cometer.
O sol que brilhava naquele bosque ofuscava minha visão, olhei para os lados vi apenas árvores com folhas secas, olhei para baixo, vi que usava um all star preto, no pé direito estava escrito “Bill” e no esquerdo “”, automaticamente passei meus olhos para minhas unhas que possuíam um tom claro de azul, e acabei por prestar a atenção em minha roupa, um vestido branco liso. Sem entender comecei a correr, parecia não ter destino, apenas corria, cheguei a um lago, lá olhei meu reflexo, meu cabelo era vermelho cereja, comprido e ondulado, tinha novamente 15 anos. Eu tava revivendo o dia em que ele me “deixou”.
Corri novamente, agora parei abaixo de uma árvore, olhei para seu tronco e lá estavam nossos nomes entalhados dentro de um coração.
- ...
Ouvi um sussurro e olhei para todos os lados, nada, ninguém.
Tudo começou a rodar, e ficou desfocado, e quando a visão normal veio Bill estava de costas caminhando cabisbaixo e com as mãos nos bolsos, levei a mão ao rosto e ali havia rastros de lágrimas.
x-x-x-x
- Preciso de gelo!
O médico monitorava enquanto a mesma se debatia na maca, seu corpo suava, seus lábios estavam brancos e sua temperatura estava alta.
Enfermeiros logo chegaram com bolsas de gelo, colocando-as sob o corpo de .
Oksana assistia tudo pelo lado de fora do quarto de vidro, estava ansiosa, queria que a colega estivesse bem e estava com medo de ter feito a coisa errada ao ter mandando a mensagem ao destinatário selecionado por .
Ania estava chegando até o quarto onde sua amiga estava sendo medicada, sua preocupação era a gravidade do estado clínico da jovem, tinha medo que sua doença se agravasse e que a mesma tivesse menos tempo do que já tinha.
Por outro lado, já dentro do avião Bill estava impaciente, seu celular não para de tocar com o nome de “Tom”, não queria ouvir seu irmão, por mais certo que ele estivesse, Bill queria estar com a razão por alguns minutos.
Tom que já havia desistido de ligar para seu gêmeo resolveu mandar uma mensagem, assim ele veria o que Tom tinha para falar.
Foi anunciado que o vôo iria decolar, o celular de Bill piscou em cima de seu colo com uma mensagem no mínimo surpreendente, mas que não explicava o motivo pelo qual desistiu dele, logo outra mensagem, essa mais surpreendente ainda, deixou Bill estático e fez com que ele se levantasse e fosse falar com a aeromoça, pediu para sair do avião, mas tudo o que conseguiu foi ser forçado a se sentar em seu lugar e avisado que se voltasse a discutir seria preso, resolveu então esperar, quem sabe tudo não melhorava.
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Estava em casa agora, berrava pelo nome dele, tudo estava escuro, morto e queimado, parecia que minha casa tinha acabado de ser incendiada, subi correndo para meu quarto, lá tudo estava intacto, olhei pela janela e vi Bill com outra, era repugnante, era carnal, e tudo o que eu fiz foi correr novamente, dessa vez foi para o topo de um prédio, o vento fazia com que meus cabelos voassem, olhei para baixo e lá estava ele rindo de mim, sem pensar duas vezes eu pulei.
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Os batimentos de eram rápidos e falhos, os médicos estavam medicando-a e logo faria efeito, tentavam evitar uma convulsão devido a alta temperatura, aos poucos ela se acalmava, seu corpo amolecia, o pesadelo já tinha acabado.
Tom andava rapidamente pelo corredor, desviando das pessoas que ficavam em seu caminho, avistou Ania e Oksana paradas na frente do que seria o quarto de , apressou o passo e viu a apreensão no rosto das mulheres em sua frente.
- Como ela está?
As duas olharam para ele sem saber dizer, pois nenhuma das duas recebeu qualquer noticia da amiga. Pelas paredes de vidro eles viam enfermeiras e médicos medicando e observando a jovem, logo um dos médicos saiu do quarto retirando a máscara, olhou para os três.
- Família da senhorita Kietriz?
- Sim – mentiram.
- Bem, o quadro dela é crítico. Por enquanto ela está estável, ainda com a temperatura elevada, mas sem perigo de convulsão ou algo assim. Pelo diagnóstico dela isso será corriqueiro, mas por enquanto ela está bem, se quiserem vê-la...
Ele mais nada disse, deu apenas permissão para eles irem vê-la, esperaram as enfermeiras saírem e entraram no quarto, Ania foi a primeira a tocá-la, tirou algumas madeixas de seu cabelo que cobriam as bochechas e lhe deu um beijo, Oksana e Tom sentaram-se em poltronas que ali no quarto estavam, e logo Oksana falou para Tom da mensagem que havia enviado
- Que mensagem?
- Não sei se ela vai ficar brava, mas eu enviei a mensagem que ela estava digitando, já que ela tinha escolhido o destinatário eu só enviei.
- Foi então a mensagem que Bill recebeu...
Nenhum diálogo foi feito ali por um tempo.
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Minha cabeça estava latejando, estava ouvindo alguns barulhos no fundo, acho que eram máquinas, tinha certeza que estava em um hospital, já que o cheiro era pavoroso.
Meus olhos estavam pesados e eu logo os abri vagarosamente me acostumando com a claridade, virei a cabeça para o lado e vi Tom ali sentado em uma poltrona, com sua cabeça encostada em sua mão, que estava apoiada pelo cotovelo na poltrona, seus olhos pareciam estar fechados, olhei para cima e vi o teto branco, e pro meu braço, vendo então agulhas nele e o soro e cima. Mexi-me na cama e senti meu corpo doendo, gemi baixinho e vi Tom olhar rapidamente em minha direção e esboçar um sorriso, e eu fiz o mesmo, mesmo sentindo meus lábios arderem por estarem secos demais.
Ele se levantou e logo seu sorriso se perdeu
- Disseram que isso foi apenas uma crise da doença que você tem, mas fiquei me perguntando... – ele fez uma pequena pausa. – Eu não me lembro da ter me dito que estava doente. – meu sorriso morreu e ele me olhou seriamente – O que você tem, ? Qual a sua doença?
Eu olhava no fundo dos olhos de Tom, não sabia o que falar, até porque não é uma noticia que se dá a um amigo, assim de cara.
- Não quero falar sobre isso.
- Ok, aí quando você morrer eu vou ao seu enterro chorar, mas sem saber o que foi que te matou. – seu olhar esboçava tristeza e ele coçou a nuca. – Você não acha isso um tanto egoísta? Você aí deitada nessa cama, e eu aqui preocupado, um cara que sai de lá da Alemanha pra chegar até aqui pra te ver, e descobre que sua amiga está doente e simplesmente não poder fazer nada, porque os médicos não podem dizer por que a paciente assinou um acordo para que os médicos não revelassem, eu não confio em ninguém pra me contar o que você tem, aliás quem poderia me contar só sabe que você tá doente, mas o que você tem é um mistério, e quando eu vou direto na fonte você diz que não quer falar sobre isso? Tudo bem , , volto para a Alemanha ,me encontro com o Bill e se ele me perguntar o que você tem eu digo “ela não quer falar sobre isso”, ou pior eu digo a ele “ela morreu, Bill, e não quis falar sobre isso”.
Ele disse tão rápido e tão frio que eu mesma me senti mal.
- Tom...
Seu nome saiu em um sussurro
- Tudo bem, quando você quiser você conta!
Ele se sentou na mesma poltrona e eu apertei meus olhos deixando as lágrimas caírem, é egoísmo sim, e não tiro a razão dele, só espero que ele entenda, não queria que ninguém descobrisse, eu já tinha todo um esquema para quando me encontrassem morta, não quero ter que dar satisfação, não quero lembrar o que tenho, só quero continuar a viver esse pouco tempo que me resta e ser feliz, sem que ninguém saiba ou fique com pena de mim.
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|Bill.|
Aterrissei na Alemanha, quero voltar, preciso voltar.
Peguei o celular e liguei para Jost, ele disse que eu deveria ter voltado antes, meu visto expirou e eu só posso voltar para lá depois de validá-lo, ou seja, em três dias.
Voltei para casa, deixei as malas lá e fui para o bosque, aquele bosque eu a conheci, aquele bosque no qual eu a pedi em namoro, e no qual eu me despedi.
Esse bosque era significativo para mim, sinto-me vivo lá...
Achei o pequeno lago no centro dele, olhei pra meu reflexo na água e percebi também que o sol se punha, eu caminhei mais um pouco, já que estava perto da “nossa” arvore.
Olhei e lá estava, desviei de alguns galhos e logo cheguei perto do tronco largo daquela arvore velha, passei a mão onde nossos nomes foram escritos a 15 anos atrás, “Bill&”, não poderia ficar assim, tão simples... Tirei do bolso um canivete e lá fui terminar de escrever...
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- Tom?
Ele estava me ignorando a horas, não iria falar comigo de maneira alguma.
- Tom, por favor vai?
- Quando você resolver compartilhar do seu diagnóstico, talvez eu volte a falar com você.
- Ótimo, Tom, fica assim, só lembra, tenho tão pouco tempo pra ficar correndo atrás de ti.
- E prefere o que? Ficar aí deitada respirando? Belo jeito de aproveitar seu tempo.
- Se sua imaturidade tivesse passado a alguns anos, talvez eu estaria falando com você ao invés de ficar apenas respirando.
- Além de ser egoísta me chama de criança, por que é que eu me importo mesmo?
- Porque você me ama.
Peguei um dos travesseiros que estava na minha cama e joguei nele, o mesmo riu e segurou o travesseiro, jogando em mim novamente, eu ri e assim começamos uma “guerra de travesseiros”
- Temos 15 anos novamente, Tom?
- Parece que sim!
Ele se levantou e sentou-se do meu lado.
- Não quero te perder .
Disse ele enquanto passava o polegar em minha face.
- Não vai, eu estarei sempre aqui.
Desenhei um coração com meu indicador em seu peito, ele sorriu e pegou minha mão dando um beijo nela
- Bill foi embora,
- COMO?
- Ele recebeu uma mensagem sua dizendo que não dava mais, ficou furioso e foi embora.
- Mas eu nem tive tempo de enviá-la, Tom!
- Eu sei, a Oksana enviou por engano e ele como tá em crise foi embora!
- Em crise?
- Sim, porque depois que ele soube de seus pais te procurou feito cachorro abandonado, e disse que ia lutar por você, e depois da noitada ele achou que estava tudo bem, não é?
- E estava!
- Aí veio a mensagem e fodeu tudo.
Por mais que eu quisesse voar no pescoço da Oksana ela não tem culpa, então deixa estar.
- E como eu posso recuperá-lo?
- Eu vou contar prá ele.
- Então ele volta?
- Acho que sim.
Ele coçou a nuca e se levantou.
- Preciso ir, , mas volto logo.
- Ok, vá...
Ele virou as costas e eu senti uma pontada forte na cabeça e o ar faltou, perdi o foco...
x-x-x-x
Passei acho que uma hora tentando escrever naquele tronco, a madeira era dura e eu não levo jeito pra isso, já que quem escreveu da outra vez foi ela e não eu, mas estou conseguindo, estou terminando a última letra, falta pouco e só um retoque... Assim que terminei a letra senti um aperto no coração e me apoiei na árvore respirando vagarosamente, mas tava difícil estava doendo...
x-x-x-x
que estava bem até horas atrás, agora se contorcia na cama com dor na cabeça, sua face estava vermelha e Tom não sabia o que fazer, chamou por socorro e os médicos logo chegaram ao quarto, pediram para Tom se retirar e o mesmo fez.
- A pressão arterial dela está alta, pode ter um infarto!
Tom estava parado com as mãos na parede de vidro enquanto observava médicos e enfermeiras reanimando sua amiga, o mesmo sentia-se mal, queria vê-la bem, agora não poderia ser a hora de ela ir, e mesmo não sendo religioso rezou para que uma força maior desse alguma chance para viver algum tempo a mais.
O mesmo já estava mal, pensava no pior quando os médicos deixaram o quarto...
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Desencostei da árvore e cambaleando fui até a entrada do bosque, respirei fundo e calmamente e voltei andando para casa, é tudo tão engraçado, por quinze anos eu não amei outro alguém, e ela era o que eu jurava ser passageiro, que era um amor de adolescente, engano meu, foi e será meu eterno amor, ela diga o que quiser, pois nada vai mudar o que eu sinto, nada.
Peguei meu celular e fui ligar para Tom, chamou algumas vezes e ele logo atendeu, sua voz era preocupante
- Aconteceu algo?
- teve uma breve parada cardíaca, mas está bem.
- Como assim, Tom?
- Bill, escuta, está muito doente, e tem pouco tempo, me promete, por favor, que vai fazer o tempo que resta os melhores dias da vida dela?
- O que ela tem?
- Me promete, Bill?
- Prometo.
- Não sei o que ela tem, só sei que piora a cada dia, seu estado já é terminal.
Deixei o celular cair, não podia acreditar que depois de 15 anos eu a reencontro e ela está morrendo, eu estava em choque, não conseguia acreditar, o destino é tão filho da puta.
Após alguns minutos eu voltei a pegar o celular e Tom havia desligado, fui até o final do meu quarto e liguei o ráadio em uma estação qualquer e logo Bon Jovi começou a tocar, fui caminhando lentamente até a varanda, abri a porta de vido e olhei aquela paisagem alemã, senti lágrimas molharem minha face, respirei fundo e gritei, berrei o mais alto que eu podia e que meus pulmões aguentavam. Senti um vazio em meu peito, era frustrante saber que ela estava morrendo e eu infelizmente não podia fazer nada, eu vou honrar minha promessa, mas não sei se terei forças para vê-la morrer a cada dia. Assim que seus olhos fecharem e não puderem ver mais nada, assim que seus lábios perderem sua cor e assim que seu coração deixar de bater, eu morrerei. Romântico e meloso, eu sei, mas dói só de pensar em não te ver, .
Dois dias depois.
Consegui abrir meus olhos lentamente, meu corpo doía, mas a dor parecia se acumular na minha região torácica. A luz inundou meu campo de visão e isso fez com que tudo ficasse desfocado. Ouvi alguém dizer meu nome, foquei naquela pessoa, pisquei algumas vezes e consegui ter minha visão de volta. Era Ania. Ela sorria, mas ostentava uma expressão de preocupação e tristeza, tentei falar, mas minha garganta estava seca. Com muito custo, eu consegui erguer um pouco minhas costas.
- ?
Eu olhei para Ania que passou a mão em meus cabelos, e sorri indicando que estava tudo bem. Olhei para o lado e em uma mesa havia água, apontei para ela e, com voz baixa e rouca, pedi por um pouco daquele líquido. Ania me entregou um copo com um pouco de água, engoli aos poucos e pigarreei, respirando devagar. Em seguida, tentei falar, minha voz saiu como em um sussurro.
- Olá.
Sorri timidamente e ela respondeu com um ‘oi’.
- Não foi dessa vez, Ania – fiz uma careta de reprovação e ela riu baixinho.
- Como se sente?
- Fui atropelada?
- Não, minha querida.
- Pois me sinto como se um caminhão tivesse me atropelado e passado por cima de mim.
Sorri e ela gargalhou
- , querida, sente dores?
- Só na minha caixa torácica. Mas, fora isso, estou bem, sem dores na cabeça ou tonturas.
- Você nos deu um susto!
Eu sorri, sei que desmaiei, mas o que mais aconteceu?
- Me coloque a par de tudo, por favor?
- Sim, claro! Você teve um aumento brusco nos batimentos cardíacos, e uma breve parada cardíaca. Creio eu que suas dores no peito são devidas à massagem cardíaca. Você está dormindo desde então.
- Há quantos dias?
- Dois. O Tom esteve todo o tempo, isso ocorreu quando eu e Oksana havíamos saído, lembra?
- Me lembro de desmaiar depois que Tom saiu.
Algumas horas depois, disseram que eu faria uns exames para checar meu estado. Se eu estivesse estável, sairia ainda essa noite, mas, se apresentasse alguma anomalia, teria de ficar aqui. O médico então chegou e pediu para que Ania nos deixasse a sós.
- Boa tarde, .
- Boa tarde, Nikolai.
Sim, Nikolai, além de ser meu amigo, era meu médico há alguns anos. Era ele que estava cuidando do meu “tratamento”.
- Diz, vai. Eu aguento
A expressão dele não era boa, e eu sabia que as notícias também não seriam lá aquela maravilha.
- Suas dores aumentaram, certo?
- Sim, com mais frequência e com maior intensidade. Agora explique.
Eu conhecia os métodos do Nikolai. Ele perguntava, enrolava e, por fim, mascarava sua doença com palavras, digamos, bonitas e carinhosas. Sempre colocando esperança nos coraçõezinhos desesperados, porém, quando a paciente é realista e sabe o que lhe espera mais para frente, ele prefere dizer tudo de uma única só vez, sem rodeios e palavras mascaradas.
- , os analgésicos não estão tendo efeito algum, e sua dor é tão intensa que eleva sua pressão arterial, cardíaca e sua temperatura corporal.
- O que é perfeitamente normal para a minha doença, certo?
- Sim, esse é o comportamento aceitável do seu organismo
- Mas...?
- Mas quanto tempo será que seu corpo aguenta? Quero dizer, você está frágil e seu organismo não é mais resistente, garanto que você não aguentaria mais uma febre.
- Quais são as alternativas?
Nikolai abaixou a cabeça. Isso só tem um significado: Fim da Linha.
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Meu visto saiu hoje, ainda era de manhã, e agora estou aqui no aeroporto pra tentar comprar uma passagem para Moscou. Tom disse que ela tinha piorado muito, mas não me disse o que ela tem, isso me frustrou e me fez ficar afobado para voltar. Como já são cinco da tarde e talvez eu demore a conseguir uma passagem e o voo também não é rápido, então, considerado todos esses obstáculos mais a lotação do aeroporto, chegarei lá amanhã...
Finalmente, consigo chegar a um guichê para comprar uma passagem para Moscou, depois de quase três horas na fila, o mínimo que eu deveria conseguir era embarcar, mas enfim...
- Uma passagem para Moscou, na primeira classe.
Paguei pela passagem e fui para a fila do check-in. Isso levaria uma vida!
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Passei a noite toda aqui no hospital, porque Nikolai não quis me dar alta. Não consegui pregar os olhos, tenho pavor de hospitais e Tom passou a noite aqui comigo. Conversamos e discutimos um pouco, ele confirmou que Bill nunca mais teve outra, e ríamos feitos dois bobos até ele pegar no sono e roncar demais. Acordei-o, brevemente, e o mandei se deitar na cama. Como eu já não estava usando todo aquele equipamento fora o soro, fui me sentar na poltrona que ele estava. Tom está me dando forças tanto quando Ania, mas ele sabe do que eu preciso, sabe de quem eu preciso.
Tentei relaxar, mas a única coisa que eu consegui foi cochilar antes do Nikolai chegar e rir do Tom jogado na cama.
- Ele, pelo menos, gosta das camas de hospitais.
Eu sorri e ele se abaixou para ficar na minha altura.
- Vou te examinar rapidamente e te dar alta. Tome as vitaminas, e no quesito dor, mande fazer esses comprimidos. Quando for muito forte, você aplica na veia, ou seja, chegue hoje na sua casa, descanse, e depois dilua quatro comprimidos em meio copo de água, e, quando tiver dores fortíssimas, aplique 5ml, ok?
Assenti com a cabeça, esperando ele me examinar. Liguei para Ania e ela veio até o hospital. As enfermeiras retiraram o soro, e eu acordei o Tom com uma injeção nas suas partes traseiras bem delineadas e redondas. Disse que recebi alta e ele iria me levar em casa, não quis que eu dirigisse.
Ania estava assinando os papéis por mim e pegando a receita com o Nikolai enquanto eu e Tom estávamos indo para o carro.
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Finalmente, em solo Russo, voltei para o Hotel que estava hospedado e meu quarto ainda estava em meu nome. Ótimo.
Deixei as coisas no quarto e perguntei para Tom onde era o hospital, a dificuldade foi tanta de falar com Tom que eu estava até disposto a ir perguntando de casa em casa, de hospital em hospital onde Kietriz estava.
Pedi o carro do Gê emprestado, e fui até o hospital cujo nome eu tinha problemas em pronunciar.
Lá perguntei sobre , me disseram que estava no andar 5 quarto 2234. Imagine quantos quartos haviam aqui...
No elevador, minha ansiedade estava aparente, queria sair dali, queria encontrá-la. Olhei para o painel que indicava os andares e estávamos no segundo, eu iria abrir aquelas portas com as mãos, se for possível.
O elevador pareou no terceiro andar e um médico entrou, suspirei e o elevador voltou a subir. Finalmente quinto andar. De longe, avistei Ania. Ela assinava algo e eu corri para falar com ela.
Ela ostentava uma expressão de que havia chorado, logo pensei no pior.
- Bom dia, Ania. E a , cadê?
Perguntei, olhando para os lados. Ela então colocou a mão em minha face e, com a voz rouca, disse:
- Ela se foi
Se foi? Como se foi? Eu esmurrei o balcão e uma enfermeira se assustou.
- Quando?
Olhei pra ela, segurando as lágrimas.
- Há uns 3 minutos.
Ela me deixou ali, andando em direção ao elevador. E, por fim, ela berrou:
- Venha, rapaz, ela quer te ver.
Arqueei minha sobrancelha e fui a passos rápidos na direção dela. Entramos no elevador e fomos até o estacionamento. Lá seu carro estava estacionado, entramos no mesmo e eu estava impaciente, logo seu carro parou e eu vi o de Tom estacionado na frente e a porta da casa dela aberta. Mesmo antes de ela parar totalmente o carro, eu saí dele e corri para a porta da casa dela, berrando seu nome. Ela então apareceu e correu escada abaixo, eu a abracei com toda força que eu possuía.
- Senti sua falta, Bill.
Ela disse em meu ouvido antes de eu dar-lhe um beijo longo e delicioso.
Quando nos soltamos, ela ficou olhando em meus olhos e sorrindo. Parecia estar medindo cada centímetro de minha face para nunca mais esquecer, Tom e Ania nos encaravam com um sorriso bobo no rosto.
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Bill apareceu na porta de casa, parecia que eu ainda não havia o visto depois de 15 anos; ele estava tão radiante parado ali na porta. Eu desci tropeçando em meus pés, e matar nossa saudade foi inevitável, agora estávamos deitados no gramado do meu quintal e ele me falou sobre a mensagem.
- Mas essa não era a verdadeira mensagem.
- E qual seria?
Eu fui até o seu ouvido e disse:
- Não dá mais para esperar até essa noite, preciso de você.
Ele sorriu e beijou a ponta do meu nariz.
- Fui um tonto.
- É, Bill, foi.
Ele começou a fazer cócegas em mim e eu ria feito uma descontrolada, depois ele roubou um beijo meu. Era tão bom tê-lo por esse tempo que eu podia, era como se fosse uma missão cumprida.
- Vou tomar um banho, preciso tirar esse cheiro de hospital de mim.
Tomamos um banho juntos, e ele decidiu que iria dormir em casa. Estávamos assistindo um filme qualquer na TV e ele logo deu a ideia de irmos ver as estrelas, peguei alguns cobertores e fomos deitar sobre a grama novamente.
Sentir o calor que emanava do corpo dele era extremamente bom, me aquecia e me completava, eu me sentia amada e sei que ele se sentia assim.
- ?
Tirei a minha atenção das estrelas e olhei para seus olhos que ostentavam curiosidade.
- Sim?
- Esses dias, quando eu estava na Alemanha, Tom me disse uma coisa e eu fiquei curioso para saber, afinal é importante.
- O quê?
- Qual é a sua doença?
- Bill, não é agradável falar sobre isso.
- , eu preciso saber
Respirei fundo, eu não iria conseguir escapar de Bill, ele iria querer saber a todo custo a minha doença.
- Diz?
- Tenho câncer, Bill, em fase terminal.
Bill abriu a boca várias vezes e nada disse, sua expressão era de choque, ele deve ter imaginando que eu tinha algo não tão grave, não é?
- E-e-e quanto te-tempo você tem, ?
- Tinha um ano, mas, como a doença se agravou, devo ter por volta de cinco meses.
Bill se assustou ainda mais, assustou com o tempo que eu tenho e com a minha frieza ao dizer.
- Mas deve ter outra maneira?
Ele parecia estar desesperado, isso era perturbador, como eu posso dizer a ele que eu estou morrendo de qualquer maneira?
- Não, não há.
- Cirurgia?
- Bill - olhei em seus olhos e o obriguei a fazer o mesmo - Não tem como remediar, está avançado. Não existe cirurgia e o tratamento eu já fiz. Não posso parar a doença, Bill, não mais! Olha, eu já me conformei com isso agora preciso que você se conforme e aceite que eu vou morrer, que minha vida acabou, que a minha missão eu cumpri. Preciso que você faça isso por mim, Bill - vi lágrimas escorrerem de seus olhos - Não chora, Bill, temos mais é que aproveitar esse tempo. Fazer quinze anos render em cinco meses, por favor, esquece minha doença.
Abracei-o, que já chorava descontroladamente.
- Por que agora ? Por que com a gente? Por quê?
Ele sussurrou em meu ouvido. Eu não tinha pena de mim, nunca tive. Sempre desejei que, se fosse pra eu morrer, que eu morresse de uma vez. Nunca tive medo da morte. Até agora. O destino brincou e caçoou de mim, ele fez Bill sumir e me fez adoecer, e quando minha doença havia estacionado, bem que o destino poderia me dar Bill de volta, mas não, esperou 6 anos para tal, esperou eu estar com os dias contados, com a vida sumindo para me devolver o amor.
Bill me fez lembrar o dia em que eu descobri o que eu tinha, nunca havia chorado tanto em toda a minha vida. Passei em fase de depressão, pois meu câncer não era o benigno, eu tinha 17 anos. Chorei descontroladamente por dois meses, eu tinha perdido meus pais e estava ficando sem vida. Houve uns anos em que minha doença havia estacionado, fiquei bem por dois/três anos, e ele voltou a progredir. E agora, nesse estágio final, só preciso dele do meu lado. Não posso mudar isso, não posso parar e nem tirar a doença de mim, afinal um tumor cerebral é irreversível.
Deitamos na grama, e Bill chorava como um adolescente, ele até soluçava. Eu não conseguia esboçar sentimento algum, talvez porque eu realmente já estava acostumada com a ideia de que eu não teria o que fazer. Eu tinha aceitado o fato de que eu não viveria muito, eu já sabia disso, e já chorei muito, agora não tenho mais o que fazer além de viver intensamente e morrer feliz.
Aos poucos, ele se acalmou e olhou em meus olhos.
- Casa comigo?
- Bill, não... Eu - parei para olhá-lo; possuía a face vermelha e os olhos inchados pelo choro - Bill, eu vou morrer, não quero te deixar sozinho!
- Por favor, , eu quero te fazer a mulher mais feliz do mundo. Eu te amo e já mostrei isso, casa comigo?
Eu assenti com a cabeça e lhe dei um beijo longo e calmo, nos separamos e ele perguntou:
- Onde está o tumor?
- No cérebro, eu tenho um tumor Cerebral em estágio final. Com isso, possuí coágulos e já está atingindo minha parte neurológica, logo ficarei sem movimentos e sem fala.
- , eu...
Eu coloquei o meu dedo indicador em seus lábios.
- Shh, não diga nada, só... - respirei fundo - Me ame como eu sempre te amei, me faça feliz e esqueça o que eu tenho, já que agora em diante tudo ficara visível.
Ele assentiu com a cabeça e me abraçou forte.
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Setembro passou voando e o outono pegou uma força incrível; a paisagem já é amarelada com tons de laranja, o frio já está batendo e o clima está calmo, como sempre. Bill marcou a data do casamento, não seria em igreja alguma, por mais que ele quisesse, eu não tenho familiares, e, se tiver, não tenho conexão com eles; só Ania e Oksana iriam nesse casamento já que, de amigos, eu só tenho a banda. Seria um casamento no civil, simples e rápido e seria daqui dois dias. Bill ainda dorme, são apenas sete da manhã. Para ele, cedo, mas eu ainda tenho que trabalhar e, pensando em tudo, estou vendo a minha imagem no espelho. Essa está magra, pálida, sem vida, parece até anoréxica. E só eu vejo assim, sei que logo tudo vai piorar, então...
Saí do banheiro, fui para o quarto vestir algo e logo desci para tomar café e deixar o café pronto para ele. Mia novamente rodeou meus pés, eu lhe desejei um bom dia feliz e fiz carinho na mesma, indo preparar o café da manhã.
Pronta e arrumada, pego as chaves do carro e abro a porta. Ania estava a caminho da minha casa, ela já havia se acostumado com a presença de Bill, já que o mesmo estava morando em casa, e os meninos na casa dela, devia ser uma confusão, mas enfim...
- Bom dia, minha querida.
- Bom dia, Ania.
Disse, retribuindo o abraço que ela havia me dado.
- Como se sente?
- Por enquanto sem dor<.br>
- Dormiu bem?
- Sim, sim.
Ela sorriu e me entregou um lanche, como toda manhã.
- Ele está dormindo?
- Tá sim, logo acorda. O café da manhã está na mesa, Ania. Coma, tem pão fresquinho.
Ela sorriu e nos despedimos, voltaria a vê-la só às sete da noite.
Como de rotina, atravessei Moscou e cheguei até o laboratório. Depois do pequeno “acidente”, hoje seria meu primeiro dia de trabalho, mas eu estava pra pegar licença daqui alguns meses.
- Bom dia, Oksana.
Ela sorriu e me abraçou.
- Tudo bem?
- Sim, algum recado de trabalho?
- Não, só os fornecedores que estão na sala com Nikolai. Talvez eles a chamem, o Ivan está lá também, e talvez o Alexander.
- Tudo bem, já estou indo.
Entrei em minha sala, vesti o jaleco, prendi o cabelo e segui para a sala de reuniões. Como a vacina havia ficado pronta, precisávamos de pessoas do governo para distribuir, já que a vacina é totalmente gratuita.
Abri a porta de vidro, a sala estava cheia, todos olharam para mim.
- Bom dia, senhores,
- Bom dia, Doutora
Sentei-me e Nikolai me passou tudo sobre o que havia sido dito sobre a distribuição. Finalmente, conseguimos uma data, daqui uma semana a Rússia irá receber a nova vacina para Hepatite.
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- Bom dia, Ania.
Bill cumprimentou a senhora, indo tomar café com a mesma e os gatos. Os outros rapazes chegaram um pouco depois para o café da manhã, hoje a Senhora Kaulitz estaria chegando para o casamento do Filho, ela já estava por dentro de todos os fatos ocorridos, alias todos estavam, todos sabiam o que tinha.
O dia passou lentamente. não via a hora de poder voltar para casa, mesmo tendo todo seu trabalho terminado, ela precisava preencher papéis e mais papéis e, além de tudo, precisava descansar, o que era impossível de se fazer no trabalho. Deu uma pausa para o pequeno almoço e seus remédios. Bill havia ligado a ela dizendo que sua sogra já estava hospedada em sua casa, e havia chegado bem. estava morrendo de vontade de rever a mãe dos gêmeos, sentiu uma imensa saudade dela, já que, além de sua vizinha, era uma segunda mãe.
Por fim, olhou no relógio, eram seis e meia. Pegou suas coisas, desligou tudo e saiu do prédio para, finalmente, ir descansar em casa.
Ao pegar a direção do carro, sentiu um leve cansaço e, dirigindo ao longo da rodovia que ligava Moscou a Fryazino, percebeu que não estava conseguindo prestar cem por cento de atenção no que fazia. Estava se distraindo facilmente, o que não acontecia com tão fácil assim.
Não tardou e uma hora depois estava em sua casa, sendo recebida aos beijos e abraços pelo seu noivo e sua sogra. Ania estava terminando o jantar e os meninos fazendo bagunça como se fossem crianças de sete anos.
O jantar foi servido e se sentia tão bem na companhia dos amigos, se sentia completa e preferia nem lembrar que não veria isso novamente, queria apenas se divertir ali, queria guardar os bons momentos para si e os maus deixá-los voar com o vento.
Simone e limparam a cozinha enquanto colocavam o assunto em dia, mas uma pergunta ela precisava fazer:
- Dona Simone, por tanto tempo eu me perguntei o motivo pelo qual meu pai não queria Bill ao meu lado, e a única pessoa que saberia me responder seria a senhora, certo?
Ela sorriu e passou a mão na face de .
- Sim, eu sei o motivo. Sua mãe deixou escapar alguns anos atrás. Sabe, , seu pai tinha muitos defeitos, mas o pior era a proteção, sei que isso poderia ser uma qualidade, mas ele fazia parecer um absurdo. Desde muito pequena, você sempre foi mais doente, sempre estava em hospitais, ou por gripe forte ou por viroses, seu pai te protegia muito, aí você cresceu e ficou um tanto rebelde e, quando se relacionou com Bill, para seu pai foi o fim. Ele tinha medo que Bill te magoasse ou fizesse algum mal, porque ele julgava você como uma fraca, mas ele não viu como você era forte. Uma vez você teve desmaios seguidos, você lembra? - assentiu - Sua mãe levou você Ao médico, se eu não me engano, e lá foi constatado que você tinha um nódulo, mas sua mãe não lhe disse, queria que você curtisse sua adolescência e quando fosse a hora você iria descobrir, porém seu pai queria todos longe de ti, pois sabia da sua doença e tinha medo de te perder. Por um lado foi egoísmo, já que só ele queria aproveitar você e os outros não podiam. E o namoro de vocês dois se tornou mais forte e Bill conseguiu uma banda e uma gravadora - ela fez uma pausa e sentou-se em uma cadeira enquanto ouvi-a atentamente - E eles teriam que viajar para fazer shows e para seu pai foi egoísmo da parte de Bill, pois ele estaria realizando o sonho dele, mas você não tinha lugar nele, o que não era verdade, então ele fez o que fez para afastar vocês. E tá aí, depois de 15 anos, Bill descobriu a verdade e veio atrás de você.
respirou fundo e se lembrou dos momentos com seu pai, como ele a proibia de sair, se divertir e ter amigos, e foi por isso que a trouxe para Rússia novamente, para afastá-la do mundo.
Não havia nada mais a ser dito, agora era tempo de esquecer o passado para viver o pouco tempo no futuro.
Tudo estava calmo naquela casa, todos dormindo até mesmo ele, mas não, não conseguia fechar os olhos, era tamanha ansiedade que sentia seu coração bater aceleradamente quando pensava no dia seguinte, onde se casaria com o homem da sua vida.
O carro parou e o futuro casal desceu dele, sendo seguido de seus parentes e alguns amigos. O olhar deles brilhavam como um sol em uma manhã de verão, seria um momento memorável para todos que ali presenciavam aquele lindo casamento, simples e perfeito.
A Felicidade já não cabia mais dentro do peito de , o que a fez derramar algumas lágrimas. Trocaram alianças e beijo, quando, finalmente, foram para o almoço que seria realizado no quintal da casa de . Ele era perfeito e amplo para receber ao menos vinte pessoas, apesar de seus convidados não chegarem a esse número.
Ao chegar em sua casa, trocou seu vestido longo e branco por um mais curto em tom amarelado com flores. O dia, mesmo frio, parecia uma linda tarde de primavera.
e Bill chegaram ao quintal onde havia uma linda decoração, os convidados aplaudiram o novo casal e logo o almoço foi servido.
Era por volta das cinco, os convidados foram embora, e o casal poderia passar o resto da noite desfrutando o poder da paixão, o calor emanado e a sincronia de dois corpos.
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Era lindo vê-los sorrindo daquela maneira, pareciam um casal normal, como se nenhum problema fosse abalá-los. E, quem pensava assim, tinha até uma certa razão, os problemas que viriam a seguir seriam apenas uma brisa perto da ventania que seria a vida dela. Com o agravamento da sua doença, a jovem viveria suas horas em hospitais, pois o problema não era só a dor, e sim a deterioração de seu cérebro e a perda de movimentos, fala e sentidos. Isso sim era doloroso, vê-la morrer aos poucos e, infelizmente, não poder batalhar para vencer, apenas guerrear em vão.
- Bill?
disse, ambos estavam na cozinha, ele cozinhava para ela e, assim que ouviu ser chamado por ela, virou-se com uma espátula em mãos.
focava sua visão em um ponto qualquer, parecia ter se desligado. Bill chegou perto da mesma e estalou a ponta de seus dedos, prestou a atenção no moreno e sorriu.
- O que foi, Bill?
- Você me chamou
- Claro que não!
Bill franziu suas sobrancelhas e voltou a cozinhar, até ouvir um barulho e olhou para trás, havia caído no chão, desmaiada.
Ouvia-se a sirene da ambulância soar pela rua quase deserta, Bill entrou na ambulância e logo o paramédico fechou a porta, seguindo com urgência para o Hospital.
Bill corria junto da maca onde sua esposa estava sendo levada, mas foi barrado ao entrar na emergência, e foi se sentar em uma das poltronas da sala de espera. Após um mês de casados, essa era a primeira vez que Bill presenciava um ataque da doença de , era perigoso, porém rotineiro.
Ele permaneceu por alguns minutos sentado esperando por notícias, sabia que poderiam não ser boas, já que o primeiro atendimento feito na ambulância a jovem estava com a pressão arterial alta assim como seus batimentos cardíacos, fora uma pequena hemorragia nasal.
Uma enfermeira parou em sua frente e ele só entendeu seu sobrenome ser pronunciado em russo perfeito, pediu para que a mesma falasse em inglês e a mesma tentou, dizendo apenas que ela estava bem. O moreno entrou no quarto da bela moça e lá passou a noite acordado enquanto ela dormia calmamente.
Amanheceu. Ela acordou disposta e animada, viu seu marido ali desconfortável dormindo em uma poltrona pequena e sentiu pena dele. Ele passou a noite lá, ao lado dela, e isso seria corriqueiro e a mesma não queria que o marido passasse por tanta tensão, que queria mesmo era acabar com sua vida, e estava decidida a fazer isso.
Ele acordou e, ao vê-la ali, pensativa e acordada, sentiu um alívio em seu peito. Aproximou-se da mesma, beijando seus lábios e lhe desejando um bom dia. Naquela tarde, Nikolai havia dado alta para a moça, e o casal pôde ir para casa, tranquilo.
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Passaram-se os cinco meses de vida que guardava como expectativa. Ela acordou atônita, queria se divertir, assim como todo dia que acordava, queria fazer algo diferente, e hoje queria ir ao parque de diversões de Moscou. Passou o dia atormentando Bill, que apenas sorria ao vê-la falar como uma pequena criança, e era o que ela havia se tornado com o passar dos anos, uma pequena e bela criança.
Anoiteceu e terminava de se arrumar, iria ao parque de qualquer maneira, e Bill prometeu levá-la.
- Vamos, !
Ele berrara lá do primeiro andar. Ela desceu as escadas, vestida como uma adolescente: usando calça jeans, camiseta e all star, era bom vê-la dessa maneira. Ania já os esperava na porta da casa para lhes desejar uma boa noite e uma boa diversão.
- Divirtam-se e, por favor, Bill, cuide dela.
deu um beijo estalado na bochecha da senhora e entrou no carro, puxando Bill.
Em quarenta minutos, fizeram uma viagem até o parque. Bill esperava enquanto tinha ido comprar os ingressos para entrarem no parque. Minutos depois, a aprece segurando dois deles, entregou um para Bill e o arrastou para o portão de entrada, correndo até a montanha russa. Ela nunca teve medo, mas Bill sentia um calafrio só de ver o brinquedo.
A fila andou e logo era a vez do casal, deram as mãos e sentaram-se no carrinho, após berros ensurdecedores da parte de Bill, algumas subidas e muitas voltas, o passeio acabou e ria da cara do marido. Ele tinha pânico nos olhos, e ele escolheu a próxima atração: roda gigante. Essa era excepcionalmente enorme e, após a primeira parada, ficou abismada a ver a altura que estavam e Bill deslumbrado com a vista que tinham do pequeno lago e o céu estrelado. Se aproximou do ouvido da esposa e sussurrou um breve “eu te amo”, a mesma depositou vários beijos pela face do moreno.
Ao fim desse brinquedo, decidiu que Bill iria ganhar um urso de pelúcia para ela. Foram, então, ao jogo de tiro ao alvo. Bill pagou pelas “balas” e tentou sete dos 10 tiros. Nada acertou. Impaciente, atirou os últimos três e, em sua última tentativa, derrubou um dos palhaços. Conseguiu um pequeno urso, que, para ela, estava de bom tamanho. Ele era branquinho e ela o apelidou de Billy.
A noite se passou rápido, e era naquele dia que faziam meses de casados.
Era março do ano seguinte, havia se aposentado, o motivo era sua doença, Bill conseguiu seu visto permanente na Rússia devido sua esposa, moravam juntos finalmente. A banda deu um tempo, mesmo sendo contra a vontade de , e Bill tinha uma boa notícia para dar a ela: hoje iriam sair de férias.
- Para onde, Bill?
- Vamos voltar para Leipzig, algum problema?
- Não, claro que não, quando vamos? Tenho saudades daquela cidade.
, de alguns meses para cá, passou a falar pausadamente como se precisasse pensar muito nas palavras que precisava proferir. Os médicos acharam até um milagre a moça apenas ter um pouco da fala afetada, já que os cinco meses que foram estipulados já acabaram e ela ainda permaneceu viva.
- Amanhã pegamos um voo, já comprei as passagens e partimos às nove da manhã. E pode levar a Mia, se quiser, e a Ania vem junto.
- Comprou para ela também?
- Sim, minha mãe a quer em casa. As duas têm quase a mesma idade e ficaram bem amigas.
Bill exibiu um lindo sorriso e se jogou em seus braços, beijando-lhe toda a face e parando em seus lábios, dando início a um beijo romântico e calmo. Caíram na cama, abraçados, e Bill fazia carinho no corpo da amada enquanto essa vagarosamente adormecia. Bill deu-lhe um beijo em sua bochecha e adormeceu também ao seu lado.
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Malas prontas, casa trancada e todos no carro, estavam indo pegar o avião. Ania estava animada, pela primeira vez iria sair do país; estava ansiosa para voltar à cidade na qual vivenciou sua infância e Bill com saudades de sua terrinha natal.
O voo foi tranquilo. Ania parecia se divertir muito nas alturas, hora ou outra chamava Bill para ver as nuvens ou alguma coisa diferente no céu e Bill se divertia com a senhora animada ao seu lado. Demorou um pouco para os três pousarem e chegarem até a pequena cidade natal do moreno. Não sabiam as horas, apenas sabia que já era madrugada e precisavam descansar.
Bill os levou até sua casa onde passariam essa temporada de férias. Simone aguardava os três com muita ansiedade e não via a hora de sua nora e sua amiga chegarem e poder rever seu filho amado.
Simone abriu as portas de sua casa, vendo o lindo sorriso de seu filho e logo tratou de abraçá-lo fortemente e o mesmo repetiu com as duas. Entraram na casa para escapar do frio que fazia em Leipzig e descansarem, mas Simone prometeu que contaria as novidades e os acontecidos assim que todos acordassem. E, até lá, provavelmente, o restante da banda estaria marcando presença.
se sentia cansada fisicamente, mas não deixaria isso abalar sua ida até a cidade alemã. Iria passear e rever tudo, iria recordar os bons momentos ao lado de seu marido e sua doença que esperasse agora.
Já no antigo quarto de Bill, os dois permaneciam deitados na cama do mesmo, Bill fazia carinho nos cabelos de enquanto a mesma brincava com a mão e os dedos do moreno.
- Bill, tem alguém morando na casa dos meus pais?
Bill olhou para ela e sorriu de canto.
- Não, eu acho que não. Não me lembro de terem colocado à venda essa casa. Deixaram para você.
- Ótimo! A piscina deve estar por lá e limpa, já que fica lá dentro.
- É, eu me lembro.
O rapaz sorriu malicioso, o que fez rir e ficar vermelha rapidamente.
- Pois é, to sem sono. Eu vou lá.
Disse ela, se levantando e vestindo-se.
- Como? Agora? Lá?
- É, oras, Bill, a casa é minha, certo? Uma pequena invasão não vai dar em nada!
Ela disse, animada. Bill se levantou também e vestiu-se. Por fim, ele abriu sua janela que tinha a visão perfeita da piscina instalada dentro da casa vizinha. Era só descer pela escada ao lado de seu quarto e entrar na casa vizinha, e foi o que fez antes mesmo de Bill terminar sua linha de pensamento. Sua esposa corria para a cerca da casa do marido e logo atravessou-a, correndo. Bill então desceu a janela de seu quarto e correu ao encontro de , que o esperava sorrindo. tinha suas manhas para abrir aquela porta de vidro e por fim conseguiu. Retirou sua roupa, ficando apenas de roupa íntima e pulou na piscina como uma legítima adolescente esquecendo-se de seus trinta e dois anos. Queria mais é pular na água, suja ou não, queria fazer isso. Quando subiu à superfície, viu Bill com o tronco nu e calça jeans escura, observando apenas ela na água e sorrindo angelicalmente. Logo tratou de retirar sua calça jeans e pular na água também. Estava gelada, mas ele iria esquentar seu corpo. Puxou pela cintura e lhe deu um beijo longo e sedutor enquanto abaixavam-se vagarosamente, continuando o beijo embaixo d’água. enlaçou suas pernas na cintura de Bill enquanto o mesmo apertava-a em seus braços. Quando o ar se fez necessário, subiram e sorriram um para o outro, se sentiam super jovens ali, naquela piscina, que estava sendo iluminada pela lua. Sentiam-se em um verdadeiro filme, onde só lá acontece esse tipo de ‘amasso’.
- Eu te amo, Kaulitz.
Bill sorriu ao ouvir isso de sua esposa e nada disse. Seus olhos mostravam o quão grande era seu amor pela russa, sempre fora e sempre irá ser. Beijou novamente seus lábios e o beijo tornou-se mais abusivo e quente. Bill percorreu toda a extensão da coluna de sua esposa e logo voltou para desabotoar o sutiã da mesma; sorriu em meio ao beijo e logo a peça foi parar na borda da piscina. Bill desceu os beijos até o colo de e a mesma sorriu com isso. Bill sempre fora carinho nessas horas, nunca abusivo e inconveniente. , que estava agarrada ao corpo do marido, sentiu sua ereção aumentar e tratou logo de descer de seu colo e retirar aquela peça que tanto impedia o próximo ato. Por fim, retirou a última peça de seu corpo, logo se grudou ao corpo do marido, e Bill a levantou, posicionado-a em seu colo. Ela sabia provocá-lo e ele gostava e muito dessa atitude dela. Precisava unir os corpos ainda mais e só havia um jeito. Bill penetrou vagarosamente sua esposa e a mesma curtia o momento, sentindo seu corpo sendo preenchido por Bill. não conseguia pronunciar palavras concretas e em alemão, sempre gemendo algo em russo, o que fazia Bill sorrir com isso.
Aumentaram a velocidade e a intensidade de seus movimentos, gemiam coisas desconexas e, após um tempo, prolongando o orgasmo, deixaram-se levar e logo gemiam mais alto e os movimentos eram mais rápidos e intensos. Bill ainda estava dentro de sua esposa e sussurrou no ouvido dela que a amava, a mais pura verdade.
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Voltaram molhados para a casa do moreno, sorriam feitas duas crianças bobas que acabaram de voltar de uma festinha de aniversário, os dedos estavam entrelaçados e a cabeça de apoiada no ombro do marido. Bill ajudou-a a subir a escadas e pular a janela, logo estavam tomando um banho quente juntos e explorando o corpo um do outro novamente.
Caíram exaustos na cama e nada demoraram a dormir, colados um ao outro.
As cortinas estavam abertas, fazendo com que os raios solares invadissem o pequeno quarto. abriu seus olhos e viu aquela linda manhã ensolarada, olhou ao seu lado direito, Bill dormia ainda profundamente. Era cedo, ainda eram seis da manhã e o sol tinha acabado de nascer. Um vento gélido entrou pelo quarto, passando pelo corpo delicado de , fazendo sua pele arrepiar. Era indício de que o outono chegou mais uma vez.
jogou as cobertas para o lado e forçou suas pernas a andarem. As coisas haviam piorado muito. já havia perdido quase todo movimentos de suas pernas e braços, andava muito pouco, ela não tinha mais forças, seu corpo estava frágil e magro, sua pele bem mais pálida e ela sabia que a escolha havia sido dela. Com os movimentos brusco de , Bill acabou por acordar
- Preciso ir ao banheiro.
disse com a voz chorosa e Bill sorriu, beijando-lhe sua testa. Era doloroso para ele, a via morrendo a cada dia, era como se ele estivesse com um punhado de areia nas mãos e, pouco a pouco, ela escorregava por entre seus dedos, não importando o que ele fizesse para ajudar. Bill levantou-se da cama e a pegou no colo, levando-a até o banheiro. Lá, supervisionou cada pequeno movimento dela, pois seu corpo era tão frágil que uma queda causaria um contusão.
Após alguns longos minutos, Bill desceu com sua esposa nos braços e deixou-a com Mia na sala, enquanto preparava o café da manhã, o que não tardou a acontecer. Bill levou uma bandeja para e a mesma se recusou a comer, mas aceitou o café forte. Assistiram um pouco de TV e pediu para que Bill a levasse até o quintal e o mesmo fez. deitou nas folhas amareladas que o vento derrubou e ficou olhando o céu. Ela tinha saudade de quando passava a tarde assim, ouvindo boa música e de mãos dadas com Bill. As mãos dadas ela já tinha, só faltava a música...
- Bill?
- Sim?
- Me ajude a levantar.
- Por quê?
- Quero pegar um CD no meu baú.
- Eu te levo
- Não, eu quero andar sozinha.
Bill relutou, mas deixou. Por mais que o mesmo estivesse atrás de sua esposa, ela não o deixava tocá-la, queria se sentir independente por uma vez na vida. Ela rastejou escada acima e por fim pegou o CD. Demorou um bom tempo, mas ela conseguiu e sorria orgulhosa por isso.
Pediu a Bill que colocasse o CD pra tocar, e logo Bill reconheceu aquela melodia que não ouvia há tanto tempo.
"The stars will cry
The blackest tears tonight
And this is the moment that I live for
I can smell the ocean air
And here I am
Pouring my heart onto these rooftops
Just a ghost to the world
That's exactly
Exactly what I need"
A melodia era calma, inicialmente, e ficava agressiva conforme passava. Ele aumentou o volume, aumentou muito o volume e berrava o refrão da música a pleno pulmões enquanto ainda estava deitada.
"From up here the city lights burn
Like a thousand miles of fire
And I'm here to sing this anthem
Of our dying day"
Essa era a música que gostava de escutar com Bill, ela adorava a música e se sentia super bem cantando-a. Parecia até que sua doença havia sumido, ela estava confiante e forte aquele dia, estava agitada e queria fazer mil e uma coisas, e isso cortava o coração de Bill, pois vê-la tão forte e tão confiante e saber que ela não resistirá mais por tanto tempo era como se uma faca lhe cortasse em dois. Era doloroso para ele vê-la assim e doloroso para ela encarar os fatos. Mas ela encarava, de cabeça erguida e vontade no coração; ela queria viver, ela queria ter mais tempo, ela queria uma família, ela queria esperança, ela queria dar o filho que Bill sempre sonhou.
Bill estava ao seu lado; olhando o céu, os passarinhos voavam rapidamente e o clima já estava mais frio, bem mais frio/
- É outono novamente
- Sim, semana que vem fará um ano que eu te reencontrei.
virou para o lado e sorriu.
- Sim, fará um ano.
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A semana passou rápido, estava guerreira como nunca, andava um pouco mais do que de costume, ela estava mais feliz que nunca e Ania percebeu isso em um dia em que as duas tomavam o chá da tarde no quintal da casa da mais nova.
- Andei percebendo que a senhorita está mais radiante esses dias.
- Estou, sim.
- Tem algum motivo em especial?
- Tem, sim. Eu vou morrer daqui algum tempo, e estou em sentindo tão bem, minha missão foi cumprida.
- , não diga isso.
- Ania, não negue, é verdade. Eu já não ando mais, preciso de cadeiras de rodas, falo vagarosamente, não durmo muito, não estou comendo;
- Mesmo assim, você é guerreira, você vai vencer, .
- Eu já venci.
sorriu, era um sorriso orgulhoso, cheio de felicidade e sinceridade, e Ania sabia que sua jovem amiga estava falando com o coração.
Bill chegou naquela noite com novidades. Ele tinha ido para uma reunião com a banda e deixou , a muito custo, aos cuidados de Ania. Já eram por volta das sete horas da noite quando seu marido marcou presença.
- ?!
- Aqui em cima!
Ele subiu as escadas, correndo, e viu sua esposa sentada na cama, apoiando seu tronco na cabeceira da mesma, e Ania numa poltrona na frente da porta. Ela deu um beijo em Ania e agradeceu e depois deu um beijo demorado e simples em .
- Tenho novidades.
- Diga!
A animação se fazia presente entre os três.
- Daremos um show aqui!
- Aqui em Moscou?
- Não, aqui mesmo, aqui em Fryazino!
- M-mas como?
- Bem, eu sei que você não está podendo fazer viagens longas e, pra comemorar nosso reencontro, queria fazer uma surpresa. E você nunca foi a um show nosso, então eu montei tudo isso. A banda concordou e o show é beneficente, o dinheiro será doado para um hospital do câncer de Moscou. E, bem, você é o elemento principal!
deixou as lágrimas caírem e até Ania se animou com a ideia, estava tudo planejado, seria uma aventura e tanto, e só desejava estar viva até lá.
A manhã estava nublada e muito fria. ainda dormia, porém Bill estava elétrico e extremamente ansioso para o show dessa noite. O show lhe deu dores de cabeça ao longo do mês; da data inicial o show foi adiado três vezes e agora iria acontecer, tinha de acontecer.
Era cedo, por volta da seis da manhã e Bill já estava tomando um bom banho quente. Ele iria a uma floricultura o mais rápido possível e compraria o maior e melhor buquê de flores que encontrasse. Com o maior cuidado para não acordar sua esposa, Bill saiu do banheiro e trocou-se rapidamente, pegou o carro e foi até a floricultura. A loja estava abrindo ainda, e Bill explicou o motivo pelo qual estava lá tão cedo. A dona da loja lhe deu um vaso que parecia um copo de vidro enorme que continham três Lírios em tom rosa claro e três Margaridas, Bill adorou o vaso e insistiu em pagá-lo, mas a dona da floricultura emocionou-se com a história do casal e lhe deu de presente.
- Obrigado, muito obrigado!
Bill, com certa pressa, beijou as mãos da senhora agradável e saiu correndo em direção ao carro, queria muito que ainda estivesse dormindo. Entrou em casa silenciosamente e subiu as escadas, suspirando ao ver sua esposa dormindo angelicalmente. Em passos largos, foi preparar o café da manhã com direito até panquecas. Terminou de preparar a refeição e subiu até o quarto, pousou a bandeja no criado-mudo e deu um beijo em sua esposa. sorriu ao vê-lo ali e abraçou-lhe, Bill sentou-se ao lado de para também tomar seu café.
- Amei as flores! Obrigada, Bill!
passou o dedo no mel que estava em cima das panquecas e passou no nariz de seu marido enquanto ria, depois beijou-lhe tirando todo o conteúdo doce do nariz do moreno.
- Eu te amo tanto, Bill, mas tanto.
Ela ostentava um olhar calmo, que transbordava paz e amor, Bill deu-lhe um beijo apaixonado e sorriu.
- Eu te amo muito, , muito mesmo.
Ali na cama, passaram tempo trocando juras de amor e beijos apaixonados até insistir em ir ao banheiro sozinha. Ela estava andando melhor, seus movimentos estavam melhores, ainda tinha dificuldade, mas estava muito bem.
O celular de Bill tocou, era Tom dizendo que um imprevisto aconteceu e pediu para que Bill fosse socorrê-lo. E assim Ania ficou tomando conta de enquanto Bill estava fora.
- Você não está bem, não é?
Ania perguntou ao ver a amiga no sofá, ela estava mal, mas fazia de tudo para esconder isso.
- Não, eu estou ótima.
- Engane outra, querida, eu cuidei de você ao longo desses quinze anos, sei quando você não está se sentindo bem.
pediu para que a amiga sentasse ao seu lado no sofá branco e foi o que a mesma fez. A jovem não hesitou em abraçar a amiga com força, deixando uma lágrima cair. Ania secou as outras que estavam por vir.
- O que foi, querida?
Essa apenas sorriu lindamente.
- Nada, só em bateu essa vontade de te abraçar.
A porta foi aberta e o coração de apertou. Era Tom. O mesmo olhou as duas abraçadas no sofá e o rosto de sua amiga levemente avermelhado assim como seus olhos verdes.
- Aconteceu algo, ?
- Não, não. Venha cá, Tom
A chamou o amigo e Ania deu espaço para o mesmo sentar-se. Sem ter pronunciado alguma palavra, abraçou o amigo, e ali Tom sabia que havia algo de errado, só não entendia o quê.
Se olharam por um momento e Tom não derramou uma só lágrima, queria se mostrar forte para a amiga, mesmo que a vontade de chorar estivesse ali, batendo na porta.
- Mas então, os meninos estão aí?
- Estão no carro. Eu só vim lhe entregar o passe livre pro show.
Tom deu um sorriso de lado e entregou o cartão para a amiga.
- Ok! Bem, eu vou ver os meninos.
E assim ela fez. Levantou-se com cuidado e andou vagarosamente até a porta, Gustav e Georg estavam na porta da casa da mesma.
- Oh, por que não entraram, hein?
Ela sorriu abertamente e abraçou os meninos. Nada disse, apenas abraçou-os. Ela precisava se despedir de quem mais amava, e eles faziam parte daquele grupo, porém o ser que ela mais amou, ama e irá amar ela não queria se despedir, não queria vê-lo chorar ou sua morte seria adiada mais um pouco e sua doença não estava mais esperando. Ela sentia que o fim tava chegando, poderia não ser hoje, poderia ser dali uma semana, mas teria de ser rápido, não podia mais aguentar.
Os meninos foram embora e sentiu-se aliviada e, enquanto Ania preparava o almoço, a jovem brincava com sua pequena gata, essa que passou a manhã toda deitada em um canto. Quando o almoço estava pronto, as duas sentaram-se à mesa e a gata voltou a se esconder no canto da sala de estar, especialmente hoje conversavam sobre tudo e riam. Ah! Como estavam felizes, já haviam até se esquecido do momento que acabaram de presenciar.
- Deixa que eu lavo a louça.
- Não, vá se trocar para ir ao show, querida, vá.
E assim ela fez. Foi até o guarda-roupa e separou a camiseta com o logo da banda; a camiseta era branca e o logo era preto, calça jeans clara, seu cinto de rebite e seu all star vermelho. Olhou para o relógio e ainda era cedo, então deixou a roupa na poltrona, sentia-se cansada e queria dormir um pouco então deitou-se na cama.
Passaram-se duas horas desde que a mesma deitou-se, havia dormido e não teve sonho algum, afinal aquele era apenas um pequeno cochilo. Não demorou a acordar e, com dificuldade, sentou-se na cama. Sua cabeça doía, então chamou por Ania.
A senhora subiu até o quarto da amiga e, ao vê-la, arregalou os olhos. estava pálida e suada, sinal de febre.
- , vamos medir a febre.
- Não estou com febre, só queria meu remédio, minha cabeça dói.
Ania não discutiu e deu-lhe o remédio e um copo de água que foi buscar na cozinha. voltou a deitar-se e, antes que a amiga deixasse o quarto, ela fez um pedido.
- Ania, vá descansar, depois nós nos vemos para irmos ao show, tudo bem?
esboçou um pequeno sorriso e Ania assentiu com a cabeça e desceu as escadas, indo para sua casa em seguida.
Não demorou a sentir dores mais fortes e agudas e soltar gritos abafados. Sua cabeça já havia doído assim e logo passaria, e foi o que aconteceu. Algum tempo depois, aquela dor passou e logo ela se sentiu melhor, mas não estava disposta a ir ao show. Pegou o telefone e discou o número de Bill. Quando sua voz doce atendeu, seu coração apertou.
- B-Bill?
- , meu amor, está tudo bem?
- Não, eu... eu to me sentindo mal.
viu no relógio que faltava meia hora para o começo do show.
- Você consegue vir?
- Não, eu estou mal mesmo. Mas você disse que o show será transmitido pela TV local, certo?
- Sim.
A voz dele já estava mais baixa e triste.
- Então eu verei o show pela TV e depois te ligo pra dizer o que eu achei, tudo bem?
- Sim, o que importa é sua saúde. Ania me disse que você não estava bem quando ela saiu daí.
- Você falou com ela?
- Ela me ligou e pediu para eu seguir o show sem você. Ela me disse que você estava mais mal do que o de costume, e eu...
- Calma, Bill, eu vou ficar bem. Foi só uma pequena recaída, mas ela está certa, eu vou ver o show pela TV e quero ver você naquele palco cantando pra mim, ok?
- S-sim.
- Então vá - olhou para o lado e viu aquele teste de gravidez que ela havia feito horas antes - E quando você voltar pra casa, eu tenho algo a dizer.
- Tudo bem, meu amor.
- Eu te amo.
Ela não o esperou dizer o mesmo, desligou logo o telefone e levantou-se da cama para pegar o termômetro. Se a febre aumentasse, teria de diminuí-la, pois seu corpo não tinha mais a capacidade de controlar a temperatura interna, fazendo-a desmaiar ou coisa pior. Seu corpo não resistiria a uma febre alta, não mais.
levantou-se após constar que sua febre era alta demais para ficar deitada na cama. Havia uma televisão em cima de uma mesinha com rodas e ela gostava sempre de ver TV enquanto tomava banho, mas há muito tempo esta estava encostada em um canto qualquer pegando poeira. Levou alguns minutos até lembrar que a guardou em seu guarda-roupa, onde ela cabia perfeitamente. Ao abrir a porta do mesmo, sentiu uma forte pontada em sua cabeça e, ignorando-a, arrastou a mesinha com a pequena televisão para fora. Era visível a tamanha dificuldade que a moça tinha para fazer movimentos bruscos e forçar a mesinha para frente. não conseguia movê-la como fazia antes, isto estava irritando-a, fazendo com que a mesma derramasse lágrimas de frustração e decepção e, principalmente, medo. Medo de não poder ver o show que o marido preparou especialmente para ela.
No caminho, sentiu a necessidade de pegar o teste de gravidez e levar consigo para o banheiro.
Demorou um bom tempo para que conseguisse deixar a televisão no banheiro. Caminhou mais um bocado e conseguiu encher a banheira de água gelada. Ela sentia o suor escorrer por seu corpo e sua dor de cabeça aumentar; ela não iria aguentar muito tempo, precisava mesmo do banho gelado, o medo que ela tinha é que o aneurisma proveniente de seu câncer se rompesse, pois causaria uma parada respiratória ou, com a febre alta, poderia ocorrer uma hemorragia. Havia tantos perigos para ela nesse momento, que listá-los não a faria voltar ao normal.
retirou a calça que vestia, ficando apenas com sua regata de algodão branca, e, com dificuldade, entrou na banheira. Sua respiração estava acelerada devido à água gelada, que cobria seu corpo, e a temperatura do ambiente também não era quente.
A televisão estava ligada e logo a emissora começou a passar trechos das músicas da banda, e mostrou também o palco, e uma entrevista exclusiva começou a passar.
Ela sentia sua cabeça cada vez mais dolorida, sentia seu corpo mole, já sentia um formigamento de seus membros talvez causados pela água gelada ou pelo desligamento. esboçou um leve sorriso ao ver Bill subir ao palco. Tocaram algumas músicas que fizeram com que ela se lembrasse de sua adolescência; o ritmo era bom e eles tocavam realmente bem, era uma surpresa para ela.
O coração de batia mais devagar agora, ela estava relaxada, não que sua febre havia cedido, mas ela se sentia relaxada, seu corpo não respondia mais, não conseguia mexer seus dedos com eficiência, a dor ainda era aguda, mas ela queria ver o show, ela precisava disso, ela precisava vê-lo e dizer para ele a grande notícia.
Passou-se uma hora. Ela constatou após olhar no relógio da parede. Ele ficava ali para lembrá-la que não podia ficar tanto tempo na banheira, pois, se a deixassem, ela perdia a hora no trabalho.
A banda estava entrando para tocar a última música. Essa ela conhecia. Era sua favorita, era Monsoon.
Bill posicionou e, quando a câmera deu um close em Bill, sorriu, deixando uma lágrima cair. Ele começou a cantar e a emoção era vista em seus olhos. Ele estava cantando para ela essa noite, apenas para ela. Não havia coro, as fãs não estavam cantando essa música, ou não prestou a atenção, ela ouvia apenas a voz dele.
No palco, Bill cantava todo seu amor por ela, ele sentia que precisava dessa declaração, ele sentia que ela estava vendo-o. Já era noite e as fãs acenderam isqueiros, como Bill havia pedido. Se não eram isqueiros, eram aparelhos celulares. A luz do palco era baixa e azul escura, havia pedaços de tecido que voavam com o vento, Bill tinha vontade de chorar a cada verso que cantava, era tamanha emoção que ele pediu para que os fãs cantassem o refrão.
sentia novamente as fortes dores e isso fazia com que ela se contorcesse na banheira. Ela estava agarrada com o teste de gravidez e não iria soltar. Ela soltava gemidos altos de pura dor, olhou para a televisão e viu Bill encarar a câmera e aquele olhar a fez derramar lágrimas. Ela não o veria mais e estava sentido isso, era como se a morte estivesse ao lado dela naquela banheira. A música se aproximava do final e ela também, olhou fixamente para televisão e viu a imagem de Bill. Sentiu o peso de seu corpo, respirava devagar, até outra pontada aguda atingir-lhe. A dor era inexplicável. Olhando para televisão, ela suspirou, a água parou de ser movimentada e seu corpo congelou.
Bill deixou algumas lágrimas rolarem pelo seu rosto e cantou o último verso de sua música. Viu um vulto num ponto distante e o encarou, viu ali a imagem de sua esposa sorrindo, sentiu um aperto no coração e acabou sua música sentindo um gélido vento bater em sua face. Agradeceu rapidamente seus fãs e correu para fora do palco. Encontrou Ania e perguntou por , foi informado que sua esposa estava em sua casa e não pensou duas vezes em sair correndo dali. Entrou em seu carro e pediu para que o irmão o acompanhasse e foi o que ele fez. Tom dirigiu e Bill pedia para que ele fosse mais rápido, pedindo a Deus para que, quando chegasse em casa, estivesse em sua cama, sorrindo e chamando por ele; deitariam nela e ele sentiria o calor emanado pelo seu corpo e as carícias dela. Só queria chegar em casa e vê-la, mas sentia que não seria assim,. O futuro era inevitável e ele sabia o fim, mas não queria aceitá-lo, sabia da doença dela, mas não queria encará-la, não era egoísmo era amor.
O carro mal parou e Bill correu até a porta da casa, deixando-a aberta. Subiu as escadas correndo e olhou o quarto, ela não estava. Ouviu o som da Televisão no banheiro, por momentos sorriu, ela estava viva.
- ? - Não houve respostas - , meu amor? - só o som da televisão era ouvido.
Com grande receio e em passos lentos, ele caminhou até o banheiro. Sua primeira reação foi gritar e ele gritou muito alto, mas as esperanças ainda não haviam acabado, precisava tocá-la e vê-la que estava viva.
Bill se aproximou do corpo de e a tirou da banheira, abraçou-a, apertando-a contra seu corpo. Ela estava gelada, seus olhos estavam abertos e sua boca pálida, assim como seu corpo. Bill desceu até o peito da esposa, seu coração não batia mais. Mais um berro, lágrimas e agora a solidão.
Tom estava ao lado do irmão. Ele tinha lágrimas nos olhos. Deixaria o irmão chorar por si e o abraçou. Ele precisaria desse apoio. Ele desceu os olhos até a mão esquerda de .
- Bill, o que é isso?
Apontou para a mão da esposa e, com cuidado, Bill tirou de sua mão o teste de gravidez.
- Éum teste de gravidez, Bill.
Bill assentiu. morreu grávida, grávida de seu único filho, Bill chorou ainda mais.
- Bill, venha, vamos chamar uma ambulância.
Tom, sem sucesso, tentou tirar o irmão de perto do corpo de sua cunhada. Saiu do quarto e ligou para o hospital.
Por mais que o choro não fosse mais escandaloso, Bill ainda chorava, ainda tinha a esperança de que fosse acordar, fosse levantar e dizer que o amava. Ele ainda tinha esperança.
x-x-x-x
Era irônico, mas o sol brilhava com intensidade, o dia estava mais quente e as folhas ainda caíam das árvores como gostava.
Bill estava em pé, segurando uma rosa negra e, amarrado nela com um laço branco, estava o teste de gravidez. Tom e os meninos pediram para tocar Monsoon e assim fizeram. Bill estava fraco e com óculos escuros, sendo amparado por sua mãe e Ania. O caixão descia lentamente enquanto os meninos tocavam, Bill não chorava mais, mas Tom não evitava as lágrimas. Quando o caixão finalmente chegou ao fundo da cova e todos já haviam ido embora, Bill ajoelhou-se, deu um beijo na rosa e, silenciosamente, se despediu de sua amada esposa, jogando sob seu caixão a rosa.
Alguns dias se passaram e Bill foi visitá-la. Era como se ele não pudesse ficar longe da esposa e realmente não podia. Sentia imensa falta dela, e se pegava a noite chorando e segurando algum pertence da . Berrava por seu nome várias vezes ao dia e desejava bom dia para sua foto. Ele sabia que isso passaria, algum dia ele melhoraria, mas não agora, não hoje, não ainda.
Em sua lápide, como de costume, estavam o nome e as datas e abaixo estava escrito uma palavra que tanto significava para ambos. Foi no outono que se separaram, foi no outono que se encontraram e foi no outono que tudo parcialmente acabou. E Osen expressa muito bem tudo isso. Bill se despediu, prometendo voltar no dia seguinte, e saiu andando, mas, antes, olhou para trás e uma brisa passou pelo seu corpo, fazendo aquelas típicas folhas alaranjada caírem e uma pousar no túmulo de sua esposa. Com um suspiro e uma folha em mão, deixou o local.
Um ano, passou-se um ano. Bill tomou uma decisão, não iria mudar o passado, mas marcaria seu futuro. E iria ficar em sua pele por muito tempo. Em um estúdio de tatuagem, Bill esperava ansiosamente para ser atendido, o que não demorou a acontecer. O tatuador evitava conversar com Bill, logo uma música melódica e calma passou a tocar no rádio. Em inglês, Bill perguntou o nome da música.
- Osen, igual sua tatuagem. Coincidência, não?
Bill deu um meio sorriso e olhou repentinamente para as palavras que o tatuador acabara de finalizar: Osen.
Uma folha estava tatuada ao lado do nome da esposa. Agora sim ele estava pronto para voltar sua vida e tentar ser feliz por ela. Só por ela.
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