Pequeno Infinito
Escrito por: Marcella Ribeiro | Beta: That

Não sou formada em matemática, mas sei de uma coisa: existe uma quantidade infinita de números entre o 0 e 1. Tem o 0,1 e o 0,2 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores do que os outros...
(A Culpa é Das Estrelas – John Green)
Domingo, uma boate qualquer, 23:45

– Caralho, , será que você pode fazer a porra do favor de parar de beber da merda do meu copo? Tu tá acabando com minha cachaça, colega!
A garota sorriu do surto da amiga, que não deixava de ter razão. já havia acabado com pelo menos quatro dos seis copos que sua melhor amiga pedira pra si. Mas não era realmente sua culpa se queria beber até cair no dia de seu aniversário, ou era?
Já se sentia um pouco tonta e bastante enjoada. Nunca fora muito forte para bebidas, e não achava que estava em uma situação boa.
Era a porra do seu aniversário e a única pessoa que lembrou foi sua melhor amiga! Como poderia estar feliz? Mesmo que não gostasse de aniversários, dane-se! Ela estava fazendo 18, dezoito, DE-ZO-I-TO anos e apenas UMA pessoa se lembrou disso.
Ela tinha mesmo razões pra encher a cara, ainda mais considerando toda a pressão que vinha sofrendo para escolher um futuro (que deveria ser, no mínimo, promissor), como se a própria opinião do que queria para SEU futuro não fosse nem de longe importante.
Droga.
Ela estava com vontade de mandar todo mundo ir tomar naquele lugar. Talvez fosse apenas a bebida fazendo efeito.
Talvez não.
Mais uma vez bebeu do copo da amiga, nem ligando pros resmungos que a mesma soltava ocasionalmente. não tinha nem mesmo motivos pra estar reclamando, tinha acabado de reencontrar um garoto que estudou com ela no jardim de infância e, bom... Ele estava totalmente gato, até disse à ela que não deveria desperdiçar a oportunidade, mesmo que por dentro estivesse se remoendo de desgosto e, não queria admitir, um pouco de inveja.
Era a droga do aniversário dela, mas cadê que um cara super gato retornava de suas lembranças mais antigas e lhe oferecia uma bebida?
– Cansei disso. – bateu o copo da amiga na mesa, mas nem estava mais escutando, já estava atracada com o gostosão da night.
Droga! De novo!
se levantou e, meio cambaleando, se dirigiu até a pista de dança. Não fazia ideia de qual era aquela música que estava tocando, nunca foi de estar totalmente ligada às tendências musicais. Mas não importava que ela não soubesse o nome daquela música ou quem era o artista, ela precisava liberar toda aquela energia negativa que estava sentindo, e se não podia liberá-la socando a cara de alguém, liberaria ali, no meio da pista, dançando desengonçadamente.
Já estava lá no meio de olhos fechados e balançando os braços acima da cabeça sem a menor coordenação. Riu ao lembrar que, nas histórias que lia, a mocinha sempre jogava o cabelo de forma sensual, rebolava até o chão e deixava os homens loucos, babando... Excitados.
Bom, esse não era o caso de . Talvez ela não fosse a mocinha, afinal. De repente aquela era a história de e o sarado em quem ela havia esbarrado, e era apenas uma coadjuvante em toda a porcaria de enredo.
Deu de ombros enquanto dançava, o que resultou em algo ainda mais estranho, que a fez rir novamente.
Saiu remexendo o quadril pra um lado e para o outro, intercalando pulinhos e gritinhos agitados. Sabia que se abrisse os olhos encontraria várias pessoas a encarando como se fosse doida, mas quem liga? Não ela.
Continuou com sua dança esquisita até que sentiu alguém cutucar seu ombro.
– Acho melhor você ir embora.
– Sai pra lá, , tô me divertindo!
Continuou dançando de olhos fechados, sem nem dar bola pra amiga. Até que sentiu um cutucão novamente. Odiava que a cutucassem, por isso ignorou. Era melhor do que virar um tapa na cara da amiga, certo?
– Assim... meu nome não é .
Foi aí que ela se deu conta do quão bêbada estava. Aquela era uma voz de homem! Ah, se soubesse que tinha confundido a voz dela com a de um homem, ela estaria ferradíssima.
Abriu os olhos e virou para o lado, e seus olhos se encontraram com duas íris extremamente bonitas pertencentes à um cara um tanto magrelo demais. Por que pra papai do céu mandava um deus grego e pra ela um palito tatuado? Que porcaria!
Sorriu docemente pra ele.
– Desculpe, fofura. Você até que é gatinho, mas eu só tô querendo dançar um pouco, então vê se para de me cutucar, ok?
Fechou os olhos novamente e escutou uma risada muito perto de seu ouvido.
– Olha, meu nome é John, e a sua amiga pediu pra que eu te levasse pra casa.
Ah, claro... Tudo bem...
Espera.
É O QUÊ?
É O QUÊ? – é, ela não se contentou em deixar aquilo apenas em pensamentos.
Já estava de olhos abertos novamente, encarando o rapaz com espanto. não tinha feito isso com ela, tinha? Não era possível! Não estava tão encalhada ao ponto da amiga ter que lhe arranjar um cara, não é? Ela até se achava bonitinha, não poderia estar assim tão decadente.
– Bom – o rapaz, ou John, voltou a falar, e exibia um sorriso de canto, mesmo que aparentasse cansaço. – Eu sou amigo do Derek...
– Quem diabos é Derek? – nem ao menos deixou que ele terminasse de falar. Algo em sua mente dizia que interromper as pessoas não era educado, mas ela não ligava. De novo.
Viu John revirar os olhos.
– Derek, aquele cara enorme que encontrou com a e tava engolindo ela desde que chegamos.
– Ahhh sim.
Ficaram na mesma. No meio da pista de dança, encarando um ao outro.
– E onde está a filha da mãe da ? – ela perguntou finalmente, olhando em volta à procura da traidora.
– É por isso que ela pediu que eu te levasse – ele revirava os olhos novamente, agora com as mãos nos bolsos e uma cara nada satisfeita – Ela já foi. Com o Derek.
– Ai meu caralho, viu! – a garota lentamente passou a mão pelos cabelos e tentou acertar sua roupa. – Não que eu tenha um, obviamente, mas ai meu caralho, viu!
John riu. Não estava a fim de cuidar de uma garota bêbada porque Derek o tinha cobrado um favor de muito tempo atrás, mas ela era divertida, pelo menos.
– E então? Você vai? – ele perguntou e ela o analisou novamente.
Muito magro. Mas que porra de sorriso era aquele? Que porcaria, por que fizeram ele com um sorriso tão bonito?
Droga!
– Eu acho que eu posso ir sozinha. – ela disse, já saindo da pista de dança, irritada por não poder nem liberar as malditas energias negativas.
– Não, eu te levo – ele insistiu, agora se sentindo um tanto penalizado pela história que havia contado sobre ela – É seu aniversário, não vou deixar que você vá pra casa sozinha, seja assaltada, estuprada e morta.
Ela se virou no meio do caminho e dirigiu um sorriso a ele. Como era possível que um desconhecido estivesse sendo legal com ela enquanto todos os seus amigos – e seus familiares, pasmem! – haviam se esquecido de seu aniversário?
– Já deve ter passado da meia noite, então hoje não é mais meu aniversário, de qualquer forma. – ela disse, tentando se fazer de difícil. Afinal, podia estar em frente a um cara com um sorriso lindo, mas... Ah, nem sabia por que estava se fazendo de difícil!
– Olha, eu não me importo de te levar, sério.
John estava cansado, e adoraria poder falar pra Derek que havia levado em casa sendo que não tinha. Mas não podia deixar uma garota daquelas – bonita e bêbada, bem bêbada – andar sozinha por aí àquela hora.
– Ah, tudo bem, então vamos.
Ele achou estranha a mudança repentina, mas ela sabia que não poderia ficar se fazendo de difícil pra sempre. Não o conhecia direito, ele podia muito bem deixá-la ali e ir embora. E isso não seria legal.
Foi caminhando até a saída da boate com John ao seu lado.
– Então, eu já me apresentei – ele disse sugestivamente – Mas você não.
Então ela parou e olhou pra ele.
– Puta que pariu, além de pedir pra um desconhecido me levar pra casa, a vadia da não se deu nem ao trabalho de te dizer meu nome? – bufou – Tô bem de amigos mesmo, hein?!
John ria novamente.
– Na verdade, ela me disse seu nome, . Mas é que as pessoas costumam se apresentar e tal... É educado, sabe?
Foi a vez de revirar os olhos.
– Ok, vamos começar de novo. Eu sou o John. – ele disse, quando viu que ela não ia falar nada, mostrando um daqueles sorrisos de canto. – Mas pode chamar de Johno.
. E pode me chamar de mesmo, desconhecidos não têm o direito de me chamar pelo apelido.
Ele riu enquanto ela continuou andando sem falar nada. Estava concentrada demais em andar e não cambalear pra falar qualquer outra coisa.
– Hmm, – ouviu John chamá-la.
– O quê?
– O estacionamento é pra esse lado. – e apontou o lado certo.
– Ah, eu sabia que era! – ela respondeu e tomou o rumo que ele apontou, fazendo John balançar a cabeça como se desaprovasse.
– Você não devia abusar muito da bebida, sabia? – ainda caminhavam lado a lado, ele com as mãos nos bolsos e ela tentando lembrar se seus braços sempre ficavam balançando daquele jeito estranho ao lado do corpo.
– E você não devia aceitar levar desconhecidas em seu carro sem ganhar nada por isso, mas você vai do mesmo jeito, não vai? – ela retrucou e ele sorriu de lado, ainda em silêncio. É claro que ele ganharia algo: não ficaria devendo mais nada pro Derek, mas a garota tinha sido esquecida no dia de seu aniversário, ele ficou com dó.
Acionou o alarme do carro e entrou, esperando que fizesse o mesmo. Ela ficou um tempo parada pensando em como aquele carro parecia ser grande demais e entrou.
– Pra onde, senhorita? – ele perguntou, com a maior pose de taxista tarado.
– Para as estrelas! – ela exclamou, e logo riu da própria idiotice. – Segue reto toda vida que a gente chega.

Segunda-feira, uma rua qualquer, 01:45

– John, você pode parar o carro só um pouquinho? – pediu com a voz estranha, o que fez o rapaz tirar os olhos da rua e fitar a garota por alguns momentos.
– Por quê?
– Eu... Eu... – ela já estava sentindo o enjoo característico. Tinha que ser agora, antes que saísse junto com sua fala – EU VOU VOMITAR!
John freou na mesma hora e praticamente empurrou pra fora de seu carro. Qual é, ele era novinho!
abriu a porta no maior desespero e por pouco não vomitou no próprio colo. John fez uma careta ao ouvir o vômito caindo no chão. Aquilo era nojento. Mas de repente depois de vomitar a garota ficasse melhor, menos bêbada. Pelo menos com ele isso funcionava.
Cinco minutos se passaram até que se sentiu segura o suficiente pra achar que tudo o que tinha que colocar pra fora já tinha colocado. Voltou a sentar-se direito no carro e fechou a porta. Quando encarou John, ele ainda estava com aquela cara de nojo, o que a fez sorrir.
– Preciso beber água.
Ele assentiu. Mas onde acharia água pra garota? Estava tudo fechado!
Até que uma luz se acendeu em sua cabeça e ele virou-se pra trás, procurando algo nos bancos traseiros.
– Você tem água aí? – ela perguntou esperançosa, e ele fez um gesto com a mão que tanto poderia ser um sim como um não. Ou talvez fosse apenas um gesto de “cale a boca”.
John voltou à posição anterior sorridente, e tinha uma latinha de coca nas mãos.
– Ah não, nem pensar que eu vou tomar isso! – ela disse, cruzando os braços – Deve estar super quente, sabe-se lá quanto tempo isso ficou aqui.
– Não foi tanto tempo assim – a expressão dele ainda estava sorridente. Aquilo era a única coisa que tinha pra tomar, então só tinha duas opções: ou tomava coca quente ou continuava com o gosto de vômito na boca.
Ele tinha certeza que ela tomaria a coca.
– Anda, toma! – ele insistiu – Não vou ficar no mesmo carro que uma garota com bafo de vômito, me desculpe.
Ela revirou os olhos e encostou na latinha, somente pra sentir a temperatura.
– Coca quente é a pior coisa. – resmungou e ele riu. Estava se divertindo com a possibilidade de vê-la fazer careta ao tomar aquela coisa quente. – Tudo bem, eu tomo. – ela disse por fim. – Mas você abre.
Ele deu de ombros e preparou-se pra abrir a lata. já sorria por antecipação.
Ouviu o tzzzzzzz característico e logo John estava dando pulos, tentando conter o líquido que caía em sua roupa. Era óbvio que aquilo ia acontecer, como ele não tinha percebido?
– Porra, ! – ele gritou quando o gás do refrigerante pareceu acabar e o líquido parou de sobrar. – Olha o que tu fez, cara!
Ela ainda ria dele.
– Pronto, agora estamos quites.
E, sorrindo, pegou a lata (que estava toda molhada por fora) e deu um gole pequeno.
– Eca.
John riu da careta dela, mas ainda estava bravo. Por sorte a coca não tinha caído no banco de seu carro, mas sua blusa e suas calças estavam encharcadas. Ele tinha certeza que pareceria que tinha se mijado. Merda!
– Toma mais, vai – ele mandou, de cara amarrada – Só assim vou me sentir vingado.
Ela obedeceu e logo seus olhos já estavam lacrimejando. Era horrível.
– Agora podemos ir, moça? – ele perguntou e ela assentiu.
– Sim, capitão. Para o infinito e além!
Ela definitivamente tinha que parar com a bebida.

Segunda-feira, capô do carro, 2:38

– Não, sério. Como é possível que você não esteja com a chave da sua casa? – John parecia indignado. Não era pra menos, estava morrendo de sono, cansadíssimo e, no entanto, estava ali, ainda com , simplesmente porque a garota não estava com a chave da própria casa!
– Não é minha culpa – ela tentou se defender, ajeitando-se melhor no capô do carro, onde eles decidiram ficar quando se contentaram (ou não) com o fato de que realmente não estava com a chave, já que dentro do carro estava um calor dos infernos – Eu saí sem bolsa, e a estava com uma, então... É óbvio que ela ficaria com a minha chave, não é?
John bufou.
– E por que você não lembrou da porcaria da chave quando ainda estávamos naquela maldita boate?
já estava ficando estressada com ele.
– Olha, John, se você quiser ir embora, pode ir. Eu não me importo.
Cruzou os braços e fez bico, bem no estilo criança. Ele revirou os olhos.
– Não vou te deixar aqui sozinha...
– Então faça o favor de parar de reclamar! – ela o interrompeu e ele, finalmente, ficou quieto.
Encostaram-se melhor no vidro do carro e ali ficaram por pelo menos meia hora. Já tinham tentado ligar para , mas a garota não atendia o celular. Derek a mesma coisa, e não tinha ideia de quando a garota perceberia que tinha deixado a amiga pra fora de casa.
E o pior, seus pais estavam viajando, então ela estava sozinha, literalmente trancada pra fora de casa e ao lado de um magrelo desconhecido.
Suspirou longamente e olhou pro lado. John estava de olhos fechados.
– Se eu tiver um aniversário pior que esse, acho que me jogo de uma ponte. – resmungou sozinha.
Ouviu a risada de John e se assustou.
– Idiota, achei que você estivesse dormindo!
John abriu a boca para falar algo, mas foi interrompido pelo grito de .
– Aaaaaaaaaaaaaaaaaah, uma barata, uma barata, uma barata! – ela ficou histérica, e John se assustou com ela, procurando a barata que ele não via.
– Aonde? , porra, para de gritar. Aonde tá a barata?
A menina olhou pra ele – ainda gritando - com nojo.
– No seu cabelo!
– O QUÊ?!
E então John estava balançando a cabeça loucamente, parecendo ter mais medo de baratas do que ela. ainda gritava um pouco e dava pulinhos no mesmo lugar. Até que a barata veio pra cima dela e ela se jogou pra trás.
E, obviamente, caiu no chão.
Suas costas estavam doendo, mas ela estava gargalhando.
John desceu do capô e foi até ela preocupado, mas ela gargalhava sem conseguir parar.
– Você tá bem? – ele perguntou.
– Não... – e ria loucamente – A sua... Cara – mais risos – Hilária!
E caiu na gargalhada novamente.
John acabou rindo também. A barata tinha sumido, então ele apenas ajudou a se levantar e ambos sentaram no capô do carro novamente, ainda rindo.
– Com certeza esse foi o seu pior aniversário – John declarou e ela deu de ombros. Já estava chorando de tanto rir.
Secou algumas lágrimas de seu rosto e sorriu pra John.
– Pelo menos eu ainda posso rir da sua cara.
– Ei! – ele reclamou – Quem é que estava gritando que nem louca por causa de uma mísera barata?
– E quem é que fez a mesma coisa? – ela retrucou e ele voltou a rir.
– Esse vai ser o nosso segredo, ok? – disse e ela riu novamente.
– Você acha mesmo que eu vou perder a chance de espalhar para o mundo que John... Como é seu sobrenome mesmo?
– O'Callaghan.
– John O'Callaghan gritou como uma menina quando viu uma barata?
– Você é má, .
Já tinham parado de rir definitivamente. Outro silêncio se instalou entre os dois, que no meio dele se encaravam e soltavam umas risadinhas ao lembrar de todos os fatos daquela noite.
estava pensando que ele provavelmente nunca mais iria querer vê-la na vida. E não era pra menos.
– No que você está pensando? – John interrompeu seus pensamentos.
– Que pergunta mais clichê, Johno.
– O que você tem contra os clichês, hein?
– Estou pensando que o meu aniversário não está assim tão ruim – mentiu, respondendo a primeira pergunta dele e ignorando completamente a segunda. – E você, no que está pensando?
– Que o seu aniversário foi ontem.
Ela empurrou ele. Era pra ter sido algo fraco, como uma brincadeira, mas foi forte demais e John se desequilibrou e se agarrou à primeira coisa que achou.
E a primeira coisa eram os peitos de .
Quando ele finalmente voltou a posição normal, viu onde estavam suas mãos.
– Então, John, você já pode tirar a mão daí. – ela disse sabiamente e ele arregalou os olhos.
Tirou as mãos dali rapidamente, sentindo seu rosto esquentar. Não tinha sido sua intenção.
, foi mal, eu... Não queria, eu...
Foi interrompido pela gargalhada de .
– Tudo bem, eu sei que foi sem querer – ela disse, ainda rindo da cara dele – Vamos só esquecer isso, tá?
Ele assentiu e ficou quieto. Que situação!
ainda ria internamente do garoto, agora olhando pro céu bonito e estrelado daquela noite. Era estranho que quisesse vê-lo mais vezes?
Não o céu, claro. Mas John.
– O que você gosta de fazer? – ele cortou o silêncio novamente, agora tentando tirar da cabeça os últimos momentos. Ainda estava envergonhado. Não que não tivesse gostado, mas né...
– Escrever – ela respondeu prontamente. Não revelava isso pra muitas pessoas, mas não se importou de dizer isso pra ele – Gosto de escrever histórias.
Ele sorriu ao ouvir isso.
– E como são elas?
– Cheias de clichês – ela respondeu sorrindo.
– Pensei que você tivesse algo contra os clichês. – ele disse.
– Não, na verdade. Eu gosto deles. Mas e você? – olhou pro rapaz sentado ao seu lado – O que gosta de fazer?
– Escrever – ele respondeu e ela franziu a testa.
– Sério?!
– Sim – ele olhou pra ela, estavam mais perto agora – Mas não histórias – explicou.
– E o que você escreve?
– Poesia, às vezes. Mas gosto de músicas. Adoro escrever músicas.
Isso a tinha surpreendido.
– Cante um pedaço de uma música que você fez então. – ela pediu, ainda sem acreditar.
Ele não cantaria se fosse outra pessoa, mas a probabilidade de esbarrar com novamente era mínima. E, por algum motivo, ele queria cantar pra ela.
Before I go please know i'm trying – ele começou, a voz um pouco rouca no início – Trying to be a better man. Before I leave please don't get angry, just dry your eyes and take my hand.
Fez uma pausa para limpar a garganta antes de continuar.
I will make this right, oh I will try. Jenny, don't you cry, close your eyes, everything is gonna be alright, you're so young and still so free.
Agora fez uma pausa pra ver a reação de , e se sentiu feliz ao ver que ela estava sorrindo.
Jenny, take my hand, understand, I will try to be a better man. Without you there is no me. Jenny...
– Uau. – foi tudo o que ela disse.
– Gostou? – ele perguntou. Era um pouco inseguro quando se tratava de suas músicas. E de sua voz.
– Muito – ela respondeu. Agora estava encantada. Até demais. – Quem é Jenny? – perguntou – sua namorada?
– Não – ele sorriu pra ela. Por que todo mundo pensava isso? – É minha mãe.
– Uau – ela disse de novo – Sua mãe deve ser uma mãe muito orgulhosa. E sortuda.
Ele sorriu pra ela e deu um peteleco em seu nariz.
– Valeu. – estavam muito perto de novo. Ambos encostados no vidro do carro, praticamente virados um para o outro. – Mas agora eu quero ouvir algo que você escreveu. – pediu.
Ela negou com a cabeça.
John fez uma cara de indignado.
– Como não?! Eu acabei de cantar uma música que escrevi, é justo que você me fale um trecho do que você já escreveu!
– John – ela disse astutamente – Você já me viu dançando toda desengonçada, já me viu vomitando, me fez tomar uma coca quente, revelou seu lado mocinha pra mim e ainda pegou nos meus peitos. Acho que estamos quites, não é?
– Ei! – ele reclamou, meio rindo e meio envergonhado – Você disse que era pra esquecermos disso!
Ela riu.
– Não dá pra esquecer da sua cara, desculpe!
E lá estava ela de novo, rindo pra caramba.
John ficou indignado.
– Você não vai me falar um trecho de uma história sua?
Ela negou novamente, ainda rindo.
Ele se aproximou dela e, rapidamente, começou a lhe fazer cócegas.
Enquanto ela ria descontroladamente, pensou que aquele era um outro clichê. E que era engraçado que eles estivessem ao mesmo tempo fugindo e abraçando os “clichês da vida”.
– John, para! – ela já estava sem fôlego de tanto rir. Mas John parecia rir mais que ela, por causa das caras que ela fazia e simplesmente porque ouvir a risada dela lhe dava vontade de rir.
– Só paro quando você me falar algo que escreveu!
– NÃO! – ela gritou enquanto ria. – Por favor, por favor!
Ele parou de fazer cócegas nela. Ele mesmo já estava com a barriga doendo de tanto rir.
Ela suspirou profundamente e olhou pra ele.
– Você é um idiota.
Mas ele era um idiota que estava próximo demais novamente.
arrumou a blusa que estava vestindo, simplesmente porque não conseguia encarar John por muito tempo.
– ele chamou e ela voltou a olhar pra ele.
– Não pode me chamar pelo apelido, lembra?
– Acho que depois de tudo isso, eu posso sim. – ele respondeu. E ela suspirou novamente. Já podia sentir todos os pelos de seu corpo se arrepiando por causa da proximidade.
– John – ela chamou.
– Hmm...
– Você tá muito perto.
– Eu sei.
E então ele a beijou, simplesmente porque parecia o certo a fazer.
E ambos sentiam que era o certo a fazer.
A mão dele estava embrenhada no cabelo de , e a dela na nuca dele, o puxando pra mais perto. John já estava praticamente em cima dela, e não sentia a menor vontade de se afastar.
Quando finalmente se afastaram, ainda ficaram muito tempo apenas se encarando, enquanto sorrisos iam e vinham.
John já estava se aproximando novamente, mas o interrompeu.
– Faz uma música agora. – ela pediu, sua voz um pouco rouca – Um trechinho só.
– Nem pensar – ele respondeu, mas estava sorrindo.
– Por favor, é meu aniversário – fez bico.
– Você mesma disse que não era! – ele retrucou e ela fez cara feia.
John a encarou por mais alguns segundos e então suspirou, cedendo.
Mas como criaria uma música ali, agora?
Pensou um pouco e então sorriu.
You can lock me out, yeah baby throw away that key, because all I know is this is where I wanna be. You can rough me up, you can break me down, baby don't stop now. Oh, you can use me up till it all runs out, baby don't stop now.
Sorriu quando terminou. Tinha certeza que ela ia gostar. Até, claro, ela falar algo.
– Você não criou essa letra agora – ela acusou. Não seria humanamente possível.
Ele ia protestar, mas a cara de culpado surgiu antes que ele pudesse evitar.
– Tudo bem, não criei agora – admitiu – Mas em minha defesa, pareceu combinar totalmente com o momento.
– Ah, é?
– Sim – E ele cantou novamente – Baby, don't stop now.
E então fez o que ele teria feito se ela não tivesse começado a falar: se aproximou novamente e a beijou.

Segunda-feira, casa da , 7:14

– Então, eu... Acho que vou indo. – John disse, parado na soleira da porta de enquanto observava a cena de longe. Tinha acabado de chegar e tinha encontrado os dois dormindo abraçados no capô do carro de John.
O que era uma cena no mínimo esquisita.
não sabia por que estava triste de vê-lo ir embora. Com tanto cansaço pra sentir, ela ignorava isso e se sentia mal porque talvez não fosse mais vê-lo? Que idiota!
– Tudo bem – ela disse, mas não era o que realmente queria dizer. E ele percebeu.
– Você quer me dizer algo, ? – ele estava com um sorriso convencido no rosto.
– Um dia... – ela começou, sentindo uma repentina vergonha por saber que sua amiga – que inclusive ela queria matar por tê-la deixado tanto tempo trancada fora de casa – estava observando tudo.
– Um dia...?
– Um dia eu li em algum lugar que existem infinitos de vários tamanhos. – olhou pra ele, que ainda tinha um sinal de sorriso no rosto, mas agora também estava confuso. – E bom... Isso foi um infinito, não é? O que nós passamos. Quero dizer, vamos poder lembrar disso... – se explicou. – Porque foi um infinito pequeno, mas definitivamente um infinito.
– Claro que foi – ele disse apenas.
– Obrigada – ela disse, encolhendo os ombros – Pelo infinito. Foi... – especial, lindo, perfeito... – Foi legal.
Abriu um sorriso que não costumava abrir pra qualquer um.
– Ei – ele disse, dando um outro peteleco em seu nariz – Espero que não tenha sido seu pior aniversário.
Ela riu. Por que estava com aquela vontade de vê-lo novamente?
– Você... Quer sair qualquer dia desses?
Não, ela não estava fazendo isso! Estava? Tinha acabado de chamá-lo pra sair! Que droga, ela não queria parecer tão desesperada.
– Você acha que eu sou fácil assim, é? – ele disse de um jeito brincalhão – Pra me conquistar você tem que ralar muito, querida!
riu, mas tomou aquilo como um não. Deveria ter ficado quieta e apenas dado tchau pra ele. Era óbvio que, se ele quisesse, ele tomaria uma atitude, afinal, tinha pedido o telefone dela durante a madrugada, quando ainda estavam do lado de fora da casa.
Deu de ombros e sorriu pra ele.
– Tudo bem, vou sobreviver a esse fora – ele balançou a cabeça negativamente e deu um beijo na bochecha dela.
Caminhou até seu carro, mas antes que entrasse, dirigiu-se à ela uma última vez.
– Feliz aniversário, ... Um pouco atrasado.
Ela revirou os olhos e fechou a porta de casa. Nem teve tempo de pensar no que acontecera, porque já a estava atacando.
– E você e o John, hein? – perguntou.
Ambas estavam cansadíssimas, e estava se perguntando como diabos ainda tinha disposição para fofocar à uma hora daquelas.
– O quê que tem? – ela disse inocentemente, já caminhando até seu quarto e escolhendo um pijama. Depois de uma balada, vômito e passar literalmente a noite ao ar livre, ela precisava de um banho antes de dormir.
E ainda estava com as lembranças de John na cabeça, precisava se esconder no banheiro pra que a amiga não visse o sorriso bobo que surgia em seu rosto quando pensava no rapaz, que inclusive tinha acabado de lhe dar um fora e ir embora. Definitivamente, ela não deveria estar se sentindo assim.
– Como o quê que tem? – disse, encostada ao batente da porta do quarto de – Vocês estavam dormindo abraçados! O que aconteceu?
– Aconteceu... Muita coisa. – disse, e não conseguiu conter o sorriso.
– Hmm, vocês se pegaram de jeito, não foi?
Antes que pudesse responder, seu celular tocou.
Quem diabos liga pros outros àquela hora? Se fosse um dia normal, estaria dormindo!
– Alô. – atendeu de má vontade.
Oi – a voz que tinha acabado de ouvir lhe falou.
– John? – perguntou, estranhando.
Bom, é... A não ser que você conheça outra cara com uma voz sexy como a minha.
Ela revirou os olhos.
– Esqueceu alguma coisa sua aqui?
Não, eu... Só queria ter certeza de que você não tinha me passado o número errado.
tentou conter o sorriso ao ver o olhar atento de , mas outra vez falhou.
– Já viu que não. – ela disse. Qual é! Tinha acabado de levar um mini fora disfarçado, não podia estar toda alegrinha.
Então... Queria te falar... Sobre aquele encontro...
Ela não conteve a risada.
– Achei que você fosse difícil, Johno!
E eu sou – ele estava rindo também – Mas eu posso deixar a parte de ser difícil pras próximas vezes.
– Ah, então vão ter próximas? – ela já estava sorrindo como uma idiota de novo.
Sim. Se você quiser, claro...
O que ela poderia responder? “Por mim está ótimo!”, “claro, tudo bem” ou “é óbvio que eu quero”?
– Ah, pode ser... – optou por ser mais evasiva. Realmente não queria parecer desesperada.
Então tá. Tô chegando em casa agora, mais tarde eu te ligo, ok? E nem adianta não atender, eu sei onde você mora!
Mais risadas.
– Tudo bem, vou esperar. E atender.
Assim espero. Tchau, .
– Tchau, Johno.
Foi o fim da ligação.
largou o celular na cama e se preparou pra encarar .
– E então...? – a amiga incentivou. Estava se mordendo de curiosidade.
– Ele... A gente... Ah! – suspirou exasperada – Nós passamos a noite toda juntos e ele cantou pra mim e nós nos beijamos e ele pediu meu telefone e mais tarde vamos marcar de nos vermos de novo. E fim. Satisfeita?
estava sorrindo de um jeito malicioso. Sabia que costumava falar assim sem pausas quando estava nervosa, e isso só podia significar uma coisa.
– Pelo visto sua noite foi boa, hein?
– E o Derek? – lembrou-se do rapaz e mudou de assunto – O que aconteceu, sua safadinha?
– Ah, nada demais. – disse, dando de ombros. – Acho que no fim a noite passada não foi a noite da minha história de amor, sabe? Mas foi uma noite legal.
Deu uma piscadinha cheia de malícia e se despediu da amiga.
ficou sorrindo sozinha enquanto pegava seu pijama e se preparava pra ir tomar banho. Talvez aquela fosse finalmente a sua história, que ela tinha esperado tanto tempo pra acontecer. E John parecia bom demais pra ser de verdade.
Já estava tirando sua roupa quando ouviu o celular tocar de novo. Dessa vez era uma mensagem.
Abriu-a e não pôde deixar de sorrir.

“Sobre a história do nosso pequeno infinito... Acho que podemos melhorar isso.”

Jogou-se na cama e sorriu antes de responder a única coisa que parecia ser suficientemente razoável naquela situação.

“Oh baby, don’t stop now.”

FIM?

Comentários da autora:
Oi, oi, oi! :) Essa foi a minha primeira fanfic The Maine (tudo bem que não é a banda toda que aparece, só o John, mas consideremos...) e mesmo que não seja lá essas coisas, amo muito de paixão <3 Haha
Espero que tenham gostado porque eu, sinceramente, adorei escrever com John Super Magro Porém Gostoso O’Callaghan! LOL.
Btw, as músicas que ele cantou foram Jenny e Don't Stop Now, respectivamente, caso alguém não conheça :)
E by the way de novo, suuuuper recomendo o livro A Culpa é Das Estrelas, do qual tirei o nome pra fic e a citação que aparece no começo, porque John Green é outro John com quem vale à pena perder um tempo, garanto! \o/
E sem mais delongas, se alguém quiser ser fofa comigo e me dizer o que achou com mais detalhes, tem meu twitter e meu tumblr :D Obrigada por terem lido <3
Beijo, beijo! ;)


Qualquer erro nessa fic é meu, só meu. Reclamações por e-mail ou pelo twitter.

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