CAPÍTULO 1
"Um homem bom, de coração puro..."
A mão pequenina sumiu na aspereza dos dedos do pai. ergueu o rostinho, sorrindo sem os dois dentes incisivos centrais, e voltou o olhar para a plantação dourada de trigo à sua frente. O sol, a pino, fazia cintilar os ramos de ouro que oscilavam, calmamente, à brisa matinal suave. O homem ergueu a menina, com os braços totalmente esticados, e a fez girar, estendida, como uma estrela, fingindo voar. As gargalhadas ressoavam por todo o trigal; a alguns passos atrás repousava a toalha quadriculada que a mãe havia se disposto a preencher com sanduíches e copos coloridos, com suco.
"Sustente-a mais um pouco, querido!" A mulher pediu, curva, enquanto ajustava as lentes da câmera fotográfica. Ela sorria enquanto ouvia o som do obturador, junto ao riso infantil da filha – aquilo a enchia de felicidade.

"Viverá eternamente..."
Ela fitava o marido, contente, ao ver sua filha lendo, pela quarta vez, o mesmo conto breve de Rapunzel. As sílabas hesitantes desaguavam em pronúncia fascinante, ainda que um tanto trôpega: as letras formavam então palavras na boca da menina.
"Papai, vou ser feliz para sempre, como as princesas?" Tão amável era sua inocência... O pai sorriu, chamando a esposa para mais perto, e beijou a mulher, selando lábios momentaneamente. Os olhos de brilharam com uma admiração exultante, ao perceber as bochechas de sua mãe ganharem um tom rubro.
"Você não precisa ser uma princesa para ser feliz, ." O olhar carinhoso acompanhava a confusão que dominava, aos poucos, a face da criança. "Mas, quando encontrar a felicidade, esta será eterna. Se buscá-la sincera e incansavelmente, será sua para sempre."

"Viverá eternamente... em nossos corações." Concluiu o celebrante, dobrando, cautelosamente, os escritos a serem depositados no bolso interno de seu paletó.
Não chovia, mas tinha certeza de que as nuvens choravam por dentro, como ela então fazia. Uma fina lágrima derramou-se de cada um de seus olhos, silenciosa, e pode sentir o toque de em seu ombro esquerdo, receoso quanto ao modo de reagir. Ele beijou os cabelos da namorada, conservando a gentileza e o respeito ao seu espaço, e entrelaçou os dedos de ambos, em um gesto de companhia.
A viúva, ao lado, lutava contra os soluços ansiosos por escapulir, os olhos fitos na escultura simplista e pentagonal em mogno; sua mente estava transtornada, incompreendida, repleta de perguntas que dificilmente poderia, um dia, vir a responder.
Os vizinhos, Srs. Leben e Srs. Braver; alguns amigos íntimos, Srs. e Srs. Clink; e familiares do falecido estavam presentes no funeral que já se encerrava. Os murmúrios de despedida eram sutis e sinceros: "Meus pêsames", apenas. Bastariam estas condolências?

***


CAPÍTULO 2
"É tudo o que temos a lhe entregar, Srta. Aireach" alegou Michael Hopkins, passando a um pequeno envelope pardo, de fibra cara e pesada. Ela contemplou a diminuta dobradura de papel em suas mãos por algum tempo, alheia à pressa do advogado que tinha à frente.
"Obrigada, Sr. Hopkins" disse, simplesmente, e deixou a pequena sala com elegância, ainda que o desapontamento gritasse dentro de si.
Os sapatinhos azul natier de encontravam o piso de madeira com impacto ritmado e espontâneo, guiando-a pelo corredor do complexo empresarial. Sua herança material recém-adquirida estava segura na carteira Gucci que carregava com segurança exagerada, e a claridade enfática vinda da rua a cegou por alguns instantes.
Era 24 de julho de 2012, Londres presenciava o dia mais quente do ano; a data anunciava, também, que haviam se passado seis meses desde a morte suspeitosa de George Aireach. Até a presente data, e Elle não faziam ideia da veracidade dos resultados da autópsia daquele homem que um dia fora, respectivamente, pai e marido: algo vago sobre eletrocussão. Não sabiam muito sobre nada além do óbvio e, de repente, a ignorância começava a incomodar. Elle Aireach deteve-se e conteve-se com o pouco que sabia, temendo magoar-se ou contrariar a historia de algum modo, mas não . havia esperado seis meses para enfim receber algo indeterminado que seu pai lhe deixara e, agora, sentada no banco de seu Vauxhall Corsa, sentia-se vítima de uma piada de péssimo gosto. Acomodou a carteira no porta-luvas e dirigiu os poucos quilômetros, penosos pelo congestionamento devido às Olimpíadas, até sua casa, distraída.
Já no estacionamento, ainda no carro, furtou o pequeno envelope e trouxe-o para perto de si, imediatista. suspirou longamente e então retirou o cartão que ali dentro jazia, aparentando nada mais que um cartão de visitas bem ornamentado. "George Aireach, arquiteto" diziam as letras em ótima caligrafia.
O choro, em um misto de decepção e raiva, ameaçou pronunciar-se; o nervosismo fazendo unhas desfibrilarem o papelão grosso: touché.
focou melhor a pontinha amassada do cartão e puxou com cuidado a camada superficial. A letra era inconfundível, embora deveras pequena: ela sabia que pertencia ao seu pai. O coração, até então desapontado, agora batia descompassado dentro do peito.
Ao meu tesouro, a mais suave música e o mais singelo brilho de esperança onde sempre será noite. Dos mesmos cantos suplicantes por Ulisses, convido a experimentar, tomando como último bordão o sol de primavera. Há caminhos tortuosos para cada estrada que decidimos seguir; ponha em mãos cartas de amor e erga-se ao topo merecido.
Seis meses.
Seis meses de espera e ela não entendia absolutamente nada.
Deixou a garagem, com emergência súbita, e subiu os degraus da entrada de sua casa: ela devia ter alguma coisa em seu quarto. O calor fazia-se sentir sob os shorts em couro negro; estava cada vez mais desesperada por um pouco de sossego em seu lar. Ela gemeu quando sentiu que a chave emperrara e foi capaz de ouvir um riso divertido, baixo, vindo de algum lugar.
"Surpresa!" Anunciaram, em uníssono, Debbie Brown, Sarah Hope, , Marshall Clink e Elle Aireach, assim que a porta foi fechada. A mão direita de ainda ocupava-se em segurar a maçaneta e, por um ou dois segundos, ela não soube do que se tratava aquilo tudo, até, por fim, avistar um enorme bolo e a música irritantemente clichê ensaiar pela sala. Duas velas denunciavam a idade que lhe passara despercebida: 23 anos. O tempo parecia correr e exigir que o acompanhássemos.

***


Os arranhões faziam desenhos rosados no peito nu de , em movimentos cuja suavidade equiparava-se à do afago aplicado nas costas de ; o carinho sutil a deixava arrepiada, deitada ao lado da figura máscula a encarar o teto. Ela apoiou-se em um dos cotovelos, admirando a beleza no rosto do homem, e atraiu a atenção para si.
"Parece pensativo" comentou, delineando, então, com as unhas, os ângulos de um maxilar perfeito. Beijou-lhe o pescoço demoradamente e afastou-se, em busca de uma resposta. sorriu, encurtando a distância entre os dois, e virou-se para ela; suas testas encostavam-se.
"Hoje é o seu aniversário" ele sussurrou, esperando sentir o cenho da namorada franzir-se sob o seu, e lá permaneceu, apenas observando as respirações cruzarem-se. Por fim, levantou-se do emaranhado de lençóis e buscou o violão bem conservado, duvidoso quanto à procedência de suas próximas ações. Sentou-se ao pé da cama, posicionando bem o instrumento em seu colo. Observou a mulher acomodar-se melhor, curiosa, segurando com os braços as cobertas de algodão cru contra o tronco. "George havia me pedido que lhe ensinasse algumas notas quando esse dia chegasse. Não entendi bem por que, mas..." Ela assentiu, em um misto de nostalgia e empolgação, exigindo que começasse. "Um violão comum é composto por seis cordas tencionadas. Se puder perceber, cada uma tem uma espessura distinta, isso define o som. As três mais agudas e mais finas são chamadas de primas, na ordem, Mi, Si, Sol; já as mais graves e espessas são chamada de bordões, respectivamente, Ré, Lá, Mi..."
"Você disse bordões?" o interrompeu, lembrando-se de algo importante, e, subitamente, fez-se esperançosa. "Pode me emprestar uma folha de caderno, amor?"

***


CAPÍTULO 3
Meados de agosto salientavam o mesclar de estações londrinas: o Verão estava chegando ao fim.
"Filha, poderia vir até aqui?" Pediu Elle, do topo da escada dobrável que posicionara próxima ao bar. levou pouco mais que um minuto para chegar até a bancada desmantelada a qual, um dia, fora capaz de reconhecer. Ergueu os olhos para o alto, onde a mãe posicionava duas telas emolduradas, a óleo. "O que acha, , ficam bem aqui? Há mais um quadro, mas tenho apenas dois braços..."
"Está perfeito, mãe" ela respondeu, simplesmente, ao afastar-se um pouco. "São pinturas... confusas, onde as encontrou?" Entregou à mais velha três pregos e a observou martelá-los contra a parede. As tintas haviam sido espalhadas completamente sobre a lona firme; as cores marcantes desenhavam figuras únicas e complicadas. Era uma arte rude e delicada, perfeita ao contraste da sóbria parede grená.
"Dispus-me a limpar o porão, acredita?" Pendurou cada adorno com uma calma aparentemente inesgotável, desceu os degraus, recolheu a escada e admirou a disposição dos quadros. "Acabei encontrando algumas peripécias de seu pai." Um sorriso, tímido, surgiu no rosto de Elle Aireach, e ela voltou-se à filha mais uma vez: "por que não vem comigo?"

***


Caixas catalogadas, postas umas sobre as outras, apinhavam o recinto. Uma pequena mesa deslocada exibia alguns objetos avulsos que atraíram a atenção de : um volumoso caderno de anotações, cinco postais, fotografias envelhecidas e uma concha.
"Não sei por que ele deixou essas coisas separadas de todo o resto, mas não quis perturbar" confessou Elle, baixinho. Apanhou a concha e aproximou-a da outra. "Ouça, meu bem" pediu, saudosa, e a obedeceu. Parecia estar ouvindo um mar distante, compartimentado naquele pequeno copo de cascalho coral; as ondas quebravam, irreais, e a embalavam em calmaria. "Tropeçamos nisto no primeiro Verão que passamos juntos, em Camber Sands... Seu pai era tão romântico! Costumava dizer que o oceano era o produtor da mais bela e suave sonoridade, que era música a seus ouvidos, acredita?" Elle exibia um sorriso terno e saudoso, alheia aos pensamentos gritantes da filha.
"Mãe, será que eu poderia ficar com o caderno e os papéis?" E corrigiu-se, pelo receio de sua interlocutora: "Apenas por algumas noites, quero dizer."

***


Anotações ocupavam cada centímetro da escrivaninha de Aireach; eis o que havia descoberto: precisava resolver um enigma. George Aireach fora sempre poético, mas poemas não seriam tudo a ser deixado para trás. Era algo a mais.
Frases e palavras estavam grifadas em diferentes cores; setas orientavam a leitura complicada. O caderno póstumo marcava um conto da Filosofia: a lenda de Ulisses. É dito que as sereias lhe cantavam os maiores convites ao conhecimento, ofertavam a sabedoria inteira, completa; origem do primeiro pecado, tentadora.
A mais suave música, a seu pai, era o som das ondas quebrando. "O mais singelo brilho de esperança". Singelo, segredo... secreto. O brilho era um lampejo, um vislumbre; esperança referia-se ao consolo virtuoso. Onde seria eternamente noite? Onde o oceano ressoa...
O último bordão, o último apoio. Mas bordão era corda de som grave; a última seria Mi... B. O sol de Primavera, D, última prima. Formavam o número 36. A página que correspondia aos algarismos continha apenas um endereço telefônico incompleto. estava prestes a arrancar os cabelos. Analisou novamente os escritos, apelando para códigos intertextuais: Brompton Road. A numeração circulada deveria ser mantida? Então ela tinha um endereço, mas estava ciente da dificuldade pela qual passaria até chegar até ali. Estaria decidida?
"Ponha em mãos cartas de amor" lhe ocorreu. Uma das fotografias havia sido marcada em seu verso: Se não for isso, não sei o que é amor. Era uma cópia idêntica àquela que ocupava o criado-mudo de . Ela abriu o porta-retratos e descobriu uma carta de copas; aparentava ser parte comum de um baralho qualquer. Onde guardavam os jogos de mesa?
Quando finalmente encontrou a caixa de cartas, descobriu um pequeno aparelho dotado de luz: luz negra. sabia que pareceria aos próprios olhos se não estivesse, ela mesma, vivendo a situação real. Apertou um botão e iluminou a carta, revelando um nome próprio e conhecido: Savannah Braver.

***


CAPÍTULO 4
"Então é isso que ganhamos com todas as greves e os boicotes?" Debbie Brown torcia o rosto em uma careta para o pacato bolinho colorido à sua frente: custara-lhe dois euros. "Eu realmente não entendo nada disso. Espero me formar o quanto antes, para processar essa cozinha!"
"Ah, vamos, Debbie, não seja tão dura com o bolinho!" Marshall Clink riu à medida que pronunciava as próprias palavras. A estudante encarou-o por algum tempo, desafiadora, provavelmente esquecendo que havia deixado o Direito de Oxford para trás: estavam todos na UAL agora, a University of The Arts London. Ele balançou a cabeça, ainda divertido, e voltou-se para as pessoas do outro lado da mesa, preocupando-se com um olhar em especial. "Está tudo bem, ?"
"Garota, estamos falando com você!" Emma Stevens a sacudiu, já irritada por não ter sido ouvida. Aireach não respondeu de imediato; estava ocupada demais filtrando e buscando informações sobre algo indeterminado. Emma repetiu o gesto, desta vez mais energético, e conquistou a atenção vaga da colega. "O que há com você?"
"Nada, nada, eu..." Pestanejou brevemente, retomando o foco da visão, e tentou sorrir: sem sucesso. "Prova de Geometria Básica na terceira aula, vocês sabem como é estressante..."
"Eu sei como é, , mas você não." O tom de voz de Marshall era um tanto urgente ao interrompê-la. "Ah, qual é! Sempre adorou Matemática e eu ouvi dizer que o Sr. Ferris nem vai pontuar os alunos pelo teste, é apenas uma espécie de revisão maluca. Você está estranha há três semanas, então, se fosse possível, gostaríamos da verdade." Os ocupantes da mesa aplaudiram seu objetivismo. Ela apenas fitou-o longamente, tentando buscar respostas para a pergunta.
"Minha vizinha viajou." Imobilidade e tensão se dissiparam com gargalhadas pouco discretas, mas seu amigo ainda a fitava, sério, esperando justificativas. "Eu nunca me preocupei em saber se a Sra. Braver viajava, ou se ela era uma dona de casa exemplar e, agora, justo quando preciso dela, ela... some. Simplesmente desaparece." pôs a última garfada de tortilla em sua boca, respirando fundo, como se tal ação aguçasse o paladar para o prazeroso sabor, e, em seguida, levantou-se, trazendo a bandeja vazia consigo. "Ah, e, Clink..." Ele a olhou, confuso. "Não estou estranha há três semanas; estou estranha há vinte e sete dias."
E deixou o refeitório.

***


Remexeu-se na cadeira. Fez os dedos estralarem - duas vezes. Alongou o pescoço. Suspirou. Descansou o corpo na cadeira dura e de péssima ergonomia da Kingston University. Sentiu desconforto. Remexeu-se na cadeira. Fez os dedos estralarem - duas vezes. Alongou o pescoço. Suspirou...
", está me deixando louca! Pare, por favor" suplicou Sarah Hope, sentada ao seu lado. Era a segunda semana de aulas sobre a monografia que deveria estar pronta e entregue em onze meses e, até então, seguia distraído durante o curso. A maneira monótona com a qual a Srta. Boulevard explicava parágrafos não atraía em nada a atenção dos alunos, ainda embriagados por memórias e bronzeados das férias de Verão. A turma de Engenharia Aeroespacial reduzira-se a um quarto de seu número inicial; no processo conclusivo, a classe unira-se à de Engenharia Mecânica, por isso Hope estava ali. Os cabelos impecáveis, curtos, louros e cacheados, destoavam com o tom nada angelical de seus olhos bem delineados; o rosto suavemente rosado atribuía-lhe uma fragilidade ingênua que sua personalidade dispensava. "É a , não é?"
"Há quase quatro semanas que não nos vimos, Sarah... Acha que fiz algo de errado, acha que..." Sua voz então passou a um sussurro: "Acha que eu não deveria ter falado sobre o George?"
"Ei, não se culpe por ter dado a aula requisitada pelo pai de sua namo... De sua ." Deleitou-se em um sorriso maroto, embora malicioso. "Mas você bem que poderia se culpar por ter trazido o assunto à tona logo após uma noite pesada. Você pôs a perder uma longa madrugada de amor, , como pode?" O riso silencioso estimulou o amigo, mas este apenas revirou os olhos. "Já tentou conversar com ela, ao menos?"
"Se eu ao menos a encontrasse em casa, mas ela nunca está lá quando preciso e meus pais estão regulando minhas voltas, não me pergunte por quê. Não atende ao telefone durante o dia, depois da faculdade, e, quando ligo à noite, parece estar ocupada ou cansada demais com qualquer outra coisa." Suspirou, derrotado, remexendo o estojo; escolheu um bom lápis e dispôs-se a rabiscar algumas coisas em uma folha solta de sua apostila. "Acha que ela está me evitando, Sarah?"
"Você é bem dependente da minha opinião, não é mesmo?" Observou o desenho que começava a ser formado, admirada com o desdém de quanto àquilo a ser feito com as mãos, e centrou-se mais uma vez, retomando sua linha de raciocínio. "Eu acho, , que você poderia, muito bem, considerar ser mais criativo, ao invés de fazer dramas de menininha." Ele a olhou, ansioso por mais de suas bondade e meiguice raras. "O que mais quer de mim? Quer que eu admita o quanto os invejo por serem perfeitos um para o outro, como eu os tenho como exemplo de amor pré-datado e que um namoro cheio de paixão de dois anos e meio não deve ser posto a perder por, sei lá, TPM ou falta de esforço?"
puxou a amiga para si, esmagando-a em um abraço lateral, e o movimento brusco fez os pés de metal carcomido arranharem o piso ruidosamente. As bochechas, até então pálidas e sem graça, da Srta. Boulevard ganharam um tom ácido de vermelho, ao ser interrompida. Fitou os dois de modo acusador, mas a sineta estridente fez sua queixa ruir. Todos correram em direção à estreita porta de saída, e uma Aireach confusa e bidimensional jazia sobre a carteira antes ocupada por .

***


", me desculpe, sei quão importante é nossa conversa, mas tive que resolver algumas outras coisas antes de nosso encontro, também a pedido de seu pai." Savannah Braver aparentava ter alcançado os quarenta e cinco havia pouco tempo; devia ser apenas dois anos mais nova que George Aireach. Ela não muito falou, apenas entregou um velho livro sem título, em capa dura e cuidadosamente talhada. As duas mulheres entreolharam-se, entendidas, e soube que já era tempo de ir para casa.

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CAPÍTULO 5
Vegetais. Um livro extenso e empolgante sobre vegetais. No entanto, se George Aireach já conhecia a decisão voraz da filha quanto à formação em Design, por que lhe deixaria um livro de pesquisa científica sobre folhas e funcionamento de plantas?
afagou a última página do documentário empoeirado, extasiada. Havia ministrado seu tempo de modo espetacular, alternando capítulos científicos com exercícios matemáticos e resumos de Historia e Sociologia, e, ao fim do décimo primeiro dia, concluíra a leitura - frases e fatos importantes foram devidamente grifados e reescritos em rascunhos bem organizados. Descobrira coisas fascinantes sobre autótrofos: testes mostravam comportamentos e reações emocionais, níveis de estresse de acordo com o que lhes era apresentado; uma inteligência alternativa que vinha sendo escondida havia décadas, agora, estava bem ao seu alcance. O conhecimento ansiado por Ulisses era parte dela.
Uma data estava gravada no último rodapé da obra: seis de outubro. Seria dali a quatro dias. Ela resolveu esperar.

***


"Angie ?" Elle surpreendeu-se com a visita inesperada, embora estivesse animada com a presença de uma amiga antiga. Cumprimentaram-se, seguindo o protocolo de amabilidade. "A que devo a honra, meu bem?"
"Vim conferir se você estaria disponível para um passeio, e então?" Angie levou, ao todo, três minutos para arrancar seu Toyota Corolla com Elle a bordo; era uma pessoa bastante persuasiva.

***


certamente tinha a melhor mãe do mundo. Adentrou a casa com cuidado excessivo para não fazer barulho algum, e cruzou o corredor em direção ao quarto de , descalço. A luminária parecia estar acesa, deixando a luz escapar pelos vãos da porta. O amassar e guardar de papéis começou e cessou em poucos momentos, substituído pelas molas do colchão rangendo sutilmente sob o peso da mulher. Ele ousou invadir o recinto, risonho.
"!" exibiu um lindo sorriso, repentinamente radiante. aproximou-se da cama de casal bem forrada, satisfeito em ser recebido tão amavelmente. Ela ajoelhou-se e colou seus troncos com ansiedade. "Tem de me perdoar, querido, estive tão ocupada nos últimos tempos, com pesquisas extracurriculares e..." Não foi capaz de prosseguir, com o indicador de seu namorado pressionando seus lábios.
"Não suma desse jeito, ouviu?" E a beijou.
A princípio, beijou-a ternamente, mastigando os lábios com os seus, a fim de desfrutar cada boa sensação que lhes corria por inteiro, e, quase imperceptivelmente, velocidade e calor ganharam intensidade; pareciam desesperados um pelo outro. afastou-se, relutante, e correu até a porta, para trancá-la. Virou-se para o par de pupilas dilatadas que a encarava, abraçou mais uma vez e, sem mais perder tempo, os derrubou nos travesseiros, rindo da própria urgência.
Sarah Hope certamente ficaria orgulhosa daqueles dois.

***


CAPÍTULO 6
O Vauxhall Corsa azul marinho percorreu toda a Brompton Road, até o número indicado na pequena caderneta: 164. A motorista respirou fundo algumas vezes, preparando-se para o que quer que fosse, e desceu do carro, caminhando até um container discreto cuja numeração coincidia com a esperada. Um painel exibia botões de diferentes cores; escolheu 3, 6 e a figura de uma flor - ilustrava a Primavera. Uma porta se fez visível a seus olhos e, ao empurrá-la, deparou-se com um pequeno aposento e outra porta: havia uma grande concha adornando-a - a concha... Abriu-a e quase caiu no vão, onde havia apenas uma escadaria - que a levaria até onde sempre é noite.
desceu degrau após degrau, ciente de que estava seguindo o caminho certo, e assustou-se quando todas as luzes de um escritório imenso acenderam-se, ofuscando-a. Gráficos, imagens, recortes de jornais e alguns resquícios de experimentos químicos ocupavam as paredes, conjuntos às prateleiras recheadas de livros, cadernos, fichários e pastas. Ela não era capaz de decidir-se entre medo e fascínio.
Acima da poltrona aparentemente confortável em um canto da sala, havia algo como uma pintura engraçada: uma cereja - o topo! escalou a cadeira até o quadro e, quando o retirou, as luzes enfraqueceram, enfatizando a retroprojeção no outro extremo do escritório: era seu pai.
"Filha, sei que não deixei as coisas muito claras, mas preciso que entenda quão confidencial é essa operação. Enquanto dito o que deve fazer, quero que as faça, tudo bem? Vá até a segunda gaveta e abra o fichário cuja capa diz 'agentes'. Analise com cuidado mais tarde, tudo bem? O livro que deixei com você tem complemento em um exemplar fúcsia na terceira prateleira à sua esquerda; pegue-o e traga até a escrivaninha. Quero que esteja inteirada do assunto antes de recorrer às fichas de meus colegas de trabalho. Entenda a importância de manter o sigilo sobre tudo o que for descoberto, não queremos o pânico público. Aprenda e absorva cada palavra dos documentos; é importante, apenas, que saiba. Eles só precisam que você saiba." As luzes voltaram e o retroprojetor implodiu dramaticamente.
As lágrimas ameaçaram transbordar dos olhos de , mas ela apenas alcançou os objetos ordenados, guardou-os na maleta do pai e, curiosa, leu um dos gráficos mais coloridos: Relatos de Leigos Sobre Óvnis. Ela engasgou e, confusa, deu-se conta de que deveria sair dali o quanto antes. Subiu as escadas com dificuldade, saiu do container e ouviu algo despencar atrás da porta. Tentou abrir passagem outra vez, mas o sistema já não respondia.

***


Um livro técnico sobre vida extraterrestre - nada do que já ouvira falar sobre. As pesquisas sobre plantas agora mostrava outros pontos: resquícios de seres de composto vegetal haviam sido submetidos a inúmeros testes, mostrando resultados preocupantes para a ignorância humana; os organismos postos em análise possuíam capacidades fascinantes de percepção e razão. Os relatos anônimos de ter visto naves espaciais estavam bem guardados nos cofres de organizações, como CIA e OTAN, a pedido de governos internacionais. A NASA vinha abafando informações sobre objetos sobrevoando a atmosfera terrestre a 15 mil quilômetros por hora, enquanto não era sabida a real intenção daqueles discos voadores - as ligações com companhias aéreas não encontravam explicações suficientemente satisfatórias para tranquilizar testemunhas.
A enxaqueca era insuportável à conclusão de dados científicos absurdamente reais: uma nova data marcava a última página: 21 de dezembro. parecia saber demais para manter-se calma. Abandonou a capa fúcsia onde escondia todo o material de pesquisa, em uma gaveta de fundo falso no armário - o pai justificara a arquitetura como "um bom lugar para juntar economias". Ela puxou o fichário, incapaz de aguardar um minuto que fosse para prosseguir a leitura, e apavorou-se com a realidade óbvia dos dados.
Eram nomes de 24 cientistas ingleses envolvidos em projetos que incluíam a pesquisa de óvnis, cada um com sua respectiva ficha. folheava, indecisa, os papéis marcados com grandes letras vermelhas: arquivado. Jack Wolfenden, Stephen Oke, Jonathan Wash, Avtar Singh-Gida, Michael Baker, Trevor Knight... Descrições improváveis de suas mortes: suicídio por asfixia, acidente de planador, queda de ponte, envenenamento com monóxido de carbono, suicídio por afogamento... O último agente, cuja página não trazia a tinta cor de sangue, chamava-se George Aireach.
Mas ele havia sido devidamente arquivado.

***


CAPÍTULO 7
"Você devia falar com ela, Clink" o shopping, apinhado de consumidores desesperados pelas liquidações, atrapalhava a conversa dos dois. A pressa em adquirir itens de piscina, quando os agasalhos se faziam necessários, fazia pensar que a ânsia em comprar resumia-se ao ato; a moda das próximas estações não mais aceitaria estampas em néon, cujos descontos variavam de cinco a setenta por cento. Eram apenas produtos futuramente rejeitados. "Não complique muito as coisas simples, por favor."
"Eu não sei o que dizer, ! E não há nada de simples em..." Ele corou, encabulado pela falta de argumentos. "Eu só não sei o que fazer."
"Estamos aqui por algum motivo, não é mesmo?" Marshall voltou os olhos para as poucas sacolas e o sorvete que segurava, reprovando-a. "Certo, estávamos. Agora só estamos perambulando como dois indulgentes. Bem, me diga, o que lhe faz gostar dela?"
"Bem, tudo!" Os olhos negros de Marshall Clink ganharam um brilho especial, o sorriso metálico formando-se graciosamente. O tratamento ortodôntico o deixaria em paz dali a algumas semanas, ele mal podia esperar. "Não é que algo me faça gostar dela, Aireach, é ela quem me faz... isso." Ele apontou as sardas que ganhavam cor pela mera lembrança. sorriu para ele com ternura, chateada por guardar tantos segredos, e os guiou até o estacionamento: teria outra consulta em uma hora.

***


"Não é nada de machismo, ; admita que fica tudo mais pesado quando a parte feminina toma a iniciativa! Lembra quando começou com o ?" O nervosismo de Debbie Brown a deixava inquieta, passeando pela quadra de tênis onde costumava treinar. O clube havia encerrado as atividades, já se preparando para as temporadas de baixa temperatura, mas a bela vista do pôr-do-sol não seria desperdiçada enquanto Debbie tivesse seu cartão de livre acesso. "Tudo bem, não responda. Vocês já namoravam no berço, não posso determinar quem pronunciou o primeiro 'dah dah', mas..." acompanhava os passos da amiga com os olhos, calada, prestando atenção ao monólogo rotineiro. "Eu fico preocupada, sabe? E se ele não gostar de mim? E se ele já estiver apaixonado por outra pessoa? Lembra quando ele ficou a fim de Alicia Stone? Será que ele ainda gosta dela? Ela continua cada vez mais bonita - muito mais que eu, afinal, ela é ruiva, e ruivas são sempre tão... ruivas. Acha que eu deveria tingir os cabelos?
Castanho é um tom tão genérico; umas luzes, talvez?" Ela finalmente sentou-se, abraçando as pernas bem torneadas, e suspirou longamente. "Eu não deveria me prender a hipóteses, certo. Devo então me arriscar? E se eu perder tudo o que tenho? Tudo bem, nada de hipóteses. Fala alguma coisa!"
"'Aproveite o dia e dispense o amanhã'. Esqueci quem disse isso, mas estou certa de que é algo válido. Por que não combina algo com ele mais tarde? É sexta-feira, não é?" O telefone de Debbie tocou, a deixando elétrica. Uma mímica anunciou que era Marshall Clink do outro lado da linha, e deitou-se sobre a grama, apoiando a nuca sobre as mãos, ciente de ter feito sua parte.

***


CAPÍTULO 8
"Então é oficial?" Emma Stevens resmungou, enojada, ao ver o novo casal trocando cochichos, caminhando ao estacionamento norte. riu discretamente, desembrulhando o sanduíche de atum que fizera com a mãe mais cedo, naquela manhã, e não comera no intervalo. Os pensamentos pairavam no próprio relacionamento: sabia que seria difícil conciliá-lo com o curso e a monografia em andamento de , e estava esforçando-se ao máximo para manter intervalos cômodos entre seus encontros. Checou o relógio pela segunda vez em quinze minutos e enfim avistou a Harley-Davidson Black Line do namorado. Despediu-se de Emma, pôs o capacete colorido que pintara com , subiu na garupa, abraçando-o, e partiu sem conhecer o seu destino.

***


"Como começamos a namorar, ?" Ela perguntou, ao fim da tarde maravilhosa que haviam passado juntos. O crepúsculo cedia espaço a pontinhos brilhantes em um céu cada vez mais escuro. Ele sorriu, abraçando-a, enquanto os acomodava melhor no telhado de sua casa. O jantar logo estaria pronto.
"Eu soube que você era a escolhida assim que pus os olhos em você."
"Ah, por favor, , éramos crianças!"
"Não, não, você era uma criança; eu já tinha dez anos e me apaixonei perdidamente pela pirralha três anos mais nova." revirou os olhos, indignada, mas cedeu aos risos do homem. "Não importa como aconteceu, , apenas que aconteceu. Aconteceu e estou aqui, com você, correndo risco de queda fatal, enquanto meus pais preparam uma deliciosa Shepherd’s Pie."
"Acredita que estrelas cadentes possam realizar desejos?" O olhar estava perdido na imensidão noturna acima de suas cabeças.
"Houve uma grande explosão, uma vez. Uma explosão que por si só não gerou vida; precisou-se que átomos de hidrogênio unissem-se, para então formar novos elementos. É por isso que existem estrelas... lá átomos ficam juntinhos e, ao morrerem, fazem a estrela explodir, deixando um rastro de poeira estrelar" espiou a namorada e continuou: "essa poeira estrelar se acumula, forma planetas e lhes dá vida. Estrelas são incríveis, não duvido que realizem desejos."
"Seria egocentrismo de nossa parte, se pensássemos que estamos sozinhos em um universo repleto de estrelas..." corou, temendo soar ridícula, quando, na verdade, era fundamentada. "Li sobre isso em um artigo de astrofísica" justificou-se.
"Vem lendo os cadernos de seu pai?" A insinuação fez Aireach tornar-se estática, alarmada. "Tudo bem, eu também leio os cadernos do meu; quero dizer, eram os melhores alunos da classe, têm as melhores anotações que um estudante da Kingston University pode querer com uma monografia em andamento, mas por que você..."
"O jantar está servido!" Anunciou Frank , da cozinha. reprimiu um suspiro aliviado.

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CAPÍTULO 9
Ufologistas, matemáticos, físicos, astrônomos, astrólogos, religiosos, fofoqueiros... Todos com um único desejo: saber. Um estranho impulso inato de querer saber algo que deveria ser ignorado.
Ela gostaria de poder ter ignorado, mas sabia que não poderia. Conhecia realidades que poucos conheciam, mas não sabia em que aplicar. Então alienígenas existiam e as pesquisas e pesquisadores haviam sido esquivadas? Tudo bem. Mas e quanto à data? 21 de dezembro de 2012: um dia defendido há mais de vinte e cinco anos, das formas mais diversas. Algo aconteceria, mas a incerteza culminava todo o juízo de .
Enquanto rezavam, fugiam, se embriagavam, observavam ou simplesmente dispensavam o anúncio, a conhecedora apenas... esperava. E a espera era dolorosa: omitia algo grande todos os dias; segredos não têm a mínima graça se não são compartilhados com alguém.
Deitada no chão de seu quarto, sozinha, Aireach pensava em seu pai. Em como suportou tanto tempo, ainda com um sorriso espetacular no rosto; em como viveu sem preocupar-se, sem transmitir preocupação quanto ao futuro; em como a punha para dormir com historias de galáxias distantes...

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"As pessoas realmente pensam que o mundo vai acabar!" Sarah Hope estava exaltada com o noticiário da BBC. encolheu-se na cadeira, observando que tom ganharia a expressão de , ao seu lado, mas não pode esperar que risse.
"Ninguém pode afirmar o contrário, Sarah" não tinha a mesma intimidade que , mas possuía alguma - suficiente para um pequeno confronto. "Achamos que o sol nascerá amanhã porque é isso que ele vem fazendo desde... sempre. Apenas esperamos que amanheça, porque, como nos é comum, compreendemos coo regra. Os cálculos todos podem garantir que um asteroide não se chocará com a Terra daqui a cinco dias, mas o imprevisível não está sob nosso controle."
"Ora, veja quem vem fazendo as lições de casa!" Sarah sorriu, recheando seus scones com creme de leite e geleia de frutas vermelhas. Aireach torceu o nariz para a bolacha - parecia estar murcha - e voltou-se para o bolo borboleta que dividiria com . Acrescentou limão ao seu chá e bebericou, sentindo o calor inundar-lhe por dentro. A tradição vinha sendo esquecida por comodismo inglês, mas era preciso confessar quão boa era.

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CAPÍTULO 11
estava chorando havia horas, nos braços de , contra a própria vontade: não queria deixar transparecer fraquezas óbvias, mas não pode fingir força e dureza por mais um momento que fosse. Os soluços preenchiam um vazio de incompreensão: ela estava exausta. A fisionomia de estava contorcida como por dor, murmurando sílabas desconexas.
", e... E se for verdade?" Ela o fitou por algum tempo, com os olhos avermelhados, à dúvida muda de seu namorado a fizeram explicar-se: "E se o mundo acabar mesmo amanhã?"
Ele ajeitou as costas contra o espelho da cama, trazendo para mais perto, e sorriu, maravilhado com a meiguice da mulher.
"Ainda assim, não será o nosso fim" disse, abraçando-a fortemente; ela, então perdida nos braços de , retribuiu o carinho, aliviada. Ele beijou-lhe a testa e os ajustou sobre o colchão: adormeceu em poucos minutos.

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Algo a fez despertar à meia noite: era hoje.
Seus olhos flutuavam no mar de cores vibrantes que envolviam seu corpo. Ao lado, dormia, a respiração calma fazendo seu peito subir e descer periodicamente: ele parecia brilhar. ouvia sons, mas não eram comuns, externos... Era uma experiência rara, mas ela não tinha medo algum. As luzes formaram uma figura alta, estranha, que começou a aproximar-se da humana, vagarosamente. Ela sentia-se diminuta perante a magnitude diante de si. Uma mão luminosa tocou a bochecha, fazendo-a cerrar as pálpebras, e uma sequência de imagens passou como um filme cuja protagonista era ela mesma. Memórias as quais ela mesma tinha esquecido em algum lugar distante das lembranças: Elle com a filha nos braços, ninando-a; a avó bronqueando, com bom humor, por não ter esperado o bolo esfriar; George pondo-a nas costas, como faria um macaco com seu filhote; Bonnie Gatis jurando que seriam amigas para sempre; o dia de despedidas no nono ano; Jason Cooper lhe dando seu primeiro beijo... , pequeno e entediado, esperando que o pai o apresentasse à filha de George Aireach; a convidando para o baile de formatura, o sorriso amável e gracioso estampando-lhe o rosto.
O calor afastou-se de , fazendo-a encarar mais uma vez o jogo fantástico de cores – parecia o que o pai retratara em telas. A compreensão era dada por imagens e zumbidos; uma voz que parecia ser ouvida dentro de si garantia-lhe que não estava só, e ela acreditou piamente. A paz dominava os sentidos, progressivamente... Tons em dégradé narravam historias fascinantes, ela quase as podia tocar.
O planeta pareceu tremelicar e, então, tudo apagou-se. Uma voz gutural se fez audível a todos, internamente. Era um som que não se ouvia, se sentia, e inspirava afeto, enquanto boa parte de Londres permanecia inconsciente. As luzes coloridas dançavam à frente de Aireach, encantando-a, mas era hora de despedir-se: havia outros lugares a serem visitados. Deitou-se, abraçando , e sentiu a energia dispersar-se, minguante.

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CAPÍTULO 12
"Bom dia" saudou , beijando-lhe brevemente os lábios. "Parece que o mundo não acabou, não é?" sorriu e escondeu o rosto no pescoço do namorado, sabendo que ele estava errado. Levantou-se, puxando-o consigo, e colou os corpos, já de pé. Entrelaçou os dedos nos dele e ergueu as mãos sutilmente, trocando o peso de uma perna para a outra em um ritmo lento.
"Foi assim que me apaixonei por você" ela sussurrou, tocando-lhe o nariz com o seu. Ele riu um pouco, espalmando a mão esquerda na lombar de , e os pôs em sincronia, começando a cantarolar, baixinho.
"I've got sunshine on a cloudy day..." satisfez-se por ele recordar aquele momento e uniu as bocas, indiferente à neve que marcava o início do inverno londrino.
Ao redor do casal, um arco-íris serpenteava, tornando as cores do ambiente mais notórias, intensas. Sorriram, durante o beijo, e sentiram-se completos, no paraíso, aproveitando o primeiro movimento de eternidade.

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Nota da autora: Caros leitores, leitoras, aves e tartarugas,
Escrevi um especial em quatro dias e meio e devo pedir desculpas pela estranheza final - pelo comprimento temporal, não devia ter sido uma historia curta. Tive que fazer muitas pesquisas para escrever isso aqui - e saber quais as melhores faculdades de moda, quais os acompanhamentos do chá da tarde, quais os carros mais comuns em Londres...
Agradeço à mamãe, por ter liberado os ouvidos e as ideias para mim, a B, pelo discurso sobre estrelas, a Sidney Sheldon, por ter feito uma pesquisa sobre vida extraterrestre em um livro excelente (Juízo Final), e a você, por ter lido!
Daqui a seis dias, vocês podem procurar por "Outra Vez", em andamento, do McFLY. (Está sendo reescrita, portanto...)
Feliz Natal e um novo mundo para vocês!
Beijocas,
Vic


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P.S: A opção "descontar na autora através dos comentários" foi desativada pela eminente injustiça que representa.


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