“I can't make my own decisions or make any with precision. Well, maybe you should tie me up so I don't go where you don't want me.
Era final de setembro quando tudo começou. Eu estava em casa com meus pais, finalmente reunidos, afinal, o divórcio foi proposital pra manter certa distância. Como consequência, o júri decidiu que ficaria com meu pai. Minha mãe não teria condição de cuidar de uma menina problemática de nove anos (na época), sendo que ela mesma admitiu tomar antidepressivos. Isso por causa da morte de meu irmão mais novo, Caleb. Maldito dia em que resolvemos deixa-lo ir ao parque, sozinho... Foi horrível. Só de lembrar, não sei bem o que sinto. Acho que não sinto mais nada, não sei se posso sentir algo por alguém, se é que existe alguém vivo.
Aos nove anos de idade aprendi a matar. Matar por justiça. Matar, esquartejar, dilacerar. Com nove anos, aprendi a ser um monstro. Por bem ou mal eu tive que fazer tudo o que fiz, não havia escolha. E ainda não há. Ainda estamos sob vigia daqueles doentes, e enquanto resistirmos eles irão nos pressionar à morte. Eles não têm dó, não têm coração. Eles não querem saber se você tem família ou se você é alguém importante. Eles te matam. Por quê? Porque só quem é doente também pode continuar vivo. Ninguém tem o direito de sobreviver. Não aqui.
Lembro-me de quando minha mãe me contava sobre a segunda guerra mundial e o quanto os parentes dela sofreram naqueles tempos. Sangue judeu corre em minhas veias. Mas não, esse não é o motivo pra guerra de agora. A guerra de agora luta contra outra coisa.
O governo americano anunciou, naquele dia, pela televisão uma suposta invasão russa à sala de segredos do vaticano. Eu sempre fui contra aquilo lá e achei o máximo quando vi. Quando vi, apenas. Mal sabíamos que o que os russos planejavam eram obter as fontes de poder que eram escondidas ali. Bizarro, eu sei. Mas é verdade. Havia algo dentro do vaticano que ninguém sabia e foi apenas a Rússia invadir pra todos descobríssemos.
De primeira mão, os cientistas disseram que iria ser algo bom pra humanidade, que faria bem, que curaria doenças. O vaticano e todos os fiéis se revoltaram, foi uma rebelião e tanto. A exposição do tal líquido fez com que descrentes da palavra do Papa o bebessem e isso, com certeza, foi a pior burrice de todas. Não sabemos como, ou em quanto tempo ao certo, mas foi rápido demais. Doentes, monstros, criados pelo próprio homem.
Hoje tenho 17 anos, e continuo morando na minha casa. Morando não, me refugiando aqui. Eu e meu pai. E tem sido assim desde meus nove anos. Nada em relação a isso mudou, mas o mundo? Ele foi destruído. Não há mais internet ou programas de televisão. Não há mais filmes sendo lançados, nem meus desenhos pra ver. A tecnologia, apesar de ter avançado bastante desde 2013, não ajudou em muita coisa. Usamos energia solar pra sobreviver nessa casa e, que minha boca caia se isso acontecer, se um dia isso aqui for invadido estaremos ferrados! Não temos pra onde ir, não sabemos se há mais gente viva por aqui. Apenas sabemos que os que sobrevivem são os russos, pois são eles quem controlam toda essa gente semimorta.
A única coisa que me mantém viva, é meu pai. Ele é meu escudo, minha força, meu protetor. Ele tem sido um verdadeiro herói. Perdi a conta de quantas vezes ele salvou minha vida e ainda me ensinou coisas e mais coisas. Ele é assim e sempre vai ser. Não o vejo tão mal desde que isso tudo começou. Ele está triste e eu sei que é por minha causa. Nós devíamos ter salvado ela, eu devia tê-la deixado ir embora. Mas eu estou tão podre por dentro que nem sei mais se existe sentimento bom por outras pessoas se não pelo meu pai. Eu queria poder dizer que sinto muito...
... Mas não sei se consigo.
- , acorda! Tem alguém aqui, vamos!
Abri os olhos desesperadamente, verifiquei se as facas no cinto, carreguei rapidamente as duas Hk USP match de 9 mm e as coloquei no cinto.
- Conseguiu ver algo?
- Até agora nada, nenhum sinal de invasor ou de doente.
- Pai, tem mesmo alguém aqui?
- Eu ouvi, , juro!
- Vamos, deite-se, ficarei de vigia aqui.
- Filha, e se for um russo?
- Farei o que for preciso...
Coloquei meu pai no sofá e fiquei ali, admirando os olhos daquele velhote que tanto amo. Quando de repente a porta da sala foi chutada e pessoas começaram a entrar pessoas. Sete pessoas. Três homens adultos, um adolescente, duas mulheres e uma menina nova. Todos armados. Eles com as armas deles e eu com as minhas. Meu pai também segurava sua arma em seu colo, apontando para o que parecia ser o líder do grupo. Meu Deus era um grupo! Pessoas vivas, finalmente, pessoas vivas!
O adolescente deu um passo à frente, então eu logo o avisei:
- Mais um passo e eu explodo essa casa com apenas um tiro. – Assim direcionei minha mão esquerda para a bomba que estava perto da clareira.
- Calma lá! Pra quê se exaltar, garotinha? – disse um adulto que segurava facas.
- Vocês invadem minha casa e esperam que eu reaja como? Sorrindo? Mas quem caralhos são vocês?
- Perdão por isso, pensamos que estivesse fazia. Estava tudo apagado. – vez da mulher loira se pronunciar.
- Filha, se acalme. Talvez eles só estejam precisando de ajuda.
- Nós não precisamos de ajuda. – disse o menino.
- Então porque vocês estão aqui? – Direcionei minhas armas para o grupo novamente, afinal, eles estavam nos intimando!
- Por favor, vamos manter a calma. – o líder então sem pôs em ordem – Nós estamos procurando por qualquer coisa que nos seja útil em nosso refúgio. Não voltaremos aqui caso vocês nos ajudem com algo.
- E se nós não tivermos nada pra vocês? Farão o que? – Intimei sem medo algum.
- Pague pra ver.
Maldito menino, mereceu o chute que dei em sua boca. Eu até ia bater mais se não tivessem nos separado. Nossa que vontade! Ele merecia muito mais! Ridículo, quem ele pensa que é?
- Filha, precisamos conversar...
- Sobre o que, pai?
- Sobre eles... Você sabe, princesa, o que eles querem...
- Pai, sem chance, não temos o que dar a eles! Estamos quase sem comida, e o sistema solar já era!
- Por isso mesmo...
- Espera aí... Em que ponto você quer chegar?
- Não temos muita coisa, mas temos você. Você é forte. Luta muito bem, caça muito bem. E pode ser muito útil a eles.
- E onde você entra?
- Eu vou junto, filha. Mesmo doente irei, você sabe como estou. Ficaremos juntos!
- Pai... Eu não sei. – sentei no braço do sofá e olhei nos olhos dele. – Nós podemos muito bem ficar aqui. Vamos sobreviver como todos esses anos! Não precisamos ir, não precisamos deles pai. Eu não confio naquele garoto.
- É... Todos perceberam. Coitado, filha! Nós vamos e se não for bom damos um jeito de fugir. Certo? Agora vá arrumar suas coisas. As minhas eu arrumo.
- Tá bom, pai. Mas eu ainda não concordo com isso.
Sai da sala, deixando lá todos aqueles invasores malditos e meu pai. Subi pra pegar minhas roupas e minhas preciosas armas. Eu separei todas as munições, as balas, as facas, as armas que roubamos de um departamento de polícia do centro da cidade e algumas que achamos com o tempo. Estava tudo pronto. Menos minha mente, que ainda se recusava a ir. Claro que minhas Hk USP ainda estavam em minhas mãos e eu não as tiraria de perto nem que me pagassem. Afinal dinheiro não vale nada.
- Pronto pai?
- Eles já foram. Você vem no outro carro conosco.
- Como assim? Cadê meu pai? Pra onde vocês o levaram?
- Calma paranoica, ele está bem. Só que ele foi mais rápido que você e acabou indo mais cedo pro refúgio. Feliz? – qual é o nome desse menino? Nossa ele quer apanhar mais!
- Idiota, me deixa! Vamos? Quero ir logo... Por favor.
- Tá bom. Pegou tudo? - Quando eu ia responder, ele se pronunciou novamente. - Tudo e mais um pouco...
- Que foi, garoto? Você ficou lá me olhando guardar todas as armas? Que inclusive eu não hesitaria em enfiar aquelas balas e facas em você.
- Já chega né? Vocês deviam se beijar ao invés de se matar. – Disse a menininha mais nova que até então estava quieta.
- Charlie? Você falou? Zoe, a Charlie falou! Merda, mas falou...
- Não falei merda, falei a verdade. Vocês ainda vão se amar. Querendo ou não.
- Vamos embora, por favor.
O carro era velho, tipo aqueles que vendiam em 2012 e estava estacionado bem na frente de casa. Não havia ninguém na rua, como sempre. Um quase deserto, se não fosse pelos mortos no chão, pelas janelas das casas abandonadas rangendo com o vento que estava forte por sinal, estava escurecendo e precisávamos andar logo.
Quem lê pensa que o caminho foi rápido e prático, mas não, não foi. Foi uma merda na verdade. Tivemos que parar umas três vezes pra pequena Charlie vomitar. Intoxicação alimentar. Eram pra ela os remédios. Ela não falava por causa disso. Charlie e são filhos do líder. era o maldito e mesmo odiando-o por dentro, tomei postura e respeitei o silêncio de Charlie. Fora isso, o caminho estava pouco limpo. Havia sim doentes na beira da estrada de terra, mas eles (a maioria) não podiam sequer andar. Uns até chegavam perto, mas nada mais que isso.
- , você vai precisar ter muita força quando ela ficar sabendo.
- Charlie, eu não posso fazer nada.
- Você é o único que pode, ela diz que te odeia, mas não odeia. Eu tenho certeza de que não.
- Charlie, vá se deitar, eu cuido da menina. E vê se para de delirar.
Não havia passado nem dez minutos que chegamos ao refúgio dessas criaturas e já vi de tudo aqui. Crianças, homens, mulheres, idosos. Nenhum outro adolescente. Mas o que me preocupava mesmo era o fato de meu pai ainda não estar ali. O carro deles não estava lá, ele ainda não havia chego. Ah pai, cadê você? Estou me sentindo um nada aqui. Tanta gente estranha me olhando como se eu fosse um alien. não para de me olhar também. Garoto estranho, eca. Chegaram!
- Por que vocês demoraram tanto? – perguntei ao Jordan, o das facas.
- Doentes.
- O que? – Abaixei pra chamar meu pai, apoiando meus braços no carro – Onde ele está?
- Sinto muito, .
- O que aconteceu lá? – perguntou.
- Tínhamos parado pra pegar algumas coisas em uma casa que parecia cheia. E estava cheia, cheia de doentes. Eles nos atacaram. Conseguimos fugir, seu pai também, . Mas ele não resistiu aos ferimentos. Agora precisamos cuidar do Jordan que também se feriu um pouco e depois... <
- Mentiroso.
- Oi?
- Como você pôde? Como vocês puderam?! Vocês não pensaram em como eu ficaria? Em como estou agora? Vocês não pensam que ele era o único motivo pra minha sobrevivência?! Vocês acham que sou burra, que eu não sei de nada. Que eu ao menos não ouvi nada. Eu ouvi, eu chorei, viu. E vocês, nem ao menos deixaram que eu me despedisse dele! Eu sabia que ele estava doente. Eu sabia disso e estava disposta a lidar com isso. Ele ia morrer nos meus braços e eu iria sobreviver. Mas não! Vocês o tiraram de mim! TIRARAM DE MIM! Que se foda se ele pediu pra que vocês fizessem isso, VOCÊS NÃO DEVIAM TER FEITO ISSO! Eu sei que vocês o deixaram na estrada. E eu sei que ele já está morto. Vocês deveriam ter pensado em mim como se eu fosse alguém querido, por que eu TAMBÉM TENHO SENTIMENTOS! Não sou um bicho qualquer que vocês podem obrigar a viver aqui, não sou assim, não sou de vocês. Não aguento isso. Não vou aguentar isso. E vocês sabem por quê? Porque eu não tenho mais razão pra viver. Eu matei minha mãe pra salvar ele. Matei meu irmão mais velho pra salvar ele. Matei meu melhor amigo pra salvar ele. Minha vizinhança inteira está morta, porque eu os matei, pra salvar meu pai. Eu fiz tudo por ele. Tudo foi sempre por ele. E agora, – me sentei no chão – eu não o tenho. Vocês deveriam nunca ter aparecido em casa. Nunca. Estava tudo bem até vocês chegarem. Eu não quero saber o quer vocês pensam, – sequei meu rosto com a camisa – vou embora amanhã.
- ...
- Não pai, deixe que eu vá.
correu até mim e eu juro que me senti fraca quando ele segurou meu pulso pra que ele não levasse outro murro. Senti-me fraca pela primeira vez desde meus nove anos. Nove nunca foi meu número da sorte, e pelo jeito não vai ser nunca. O que mais me incomoda nisso tudo é que ele queria isso. Meu pai pediu pra morrer. Pediu pra não se despedir e foi o único que me viu sofrer no quarto ao ouvir aquilo tudo. Eu pensei que ele não fosse fazer isso, ele estava com medo, ele disse. Mas o fez. E cá estou. Aos prantos, no colo de alguém que eu tentei matar há algumas horas atrás. Maldição.
- Sabe o que eu faço pra relaxar?
- Eu não quero relaxar.
- Não perguntei se você quer, perguntei se você sabe o que faço. Sabe?
- Não, . Não sei.
- Temos um antigo celeiro com doentes. Toda noite mato nove. – me olhou como quem se arrepende do leite derramado. – Esses estão em fase terminal. Não são mais humanos como pensamos. Então eu os mato. – ele se levantou e ficou de frente pra mim. – Eu também tive que escolher entre os que vivem e os que estão doentes. Acho que isso é normal agora... ?
- Que?
- Quer vir comigo? – assenti. – Pegue duas facas, por favor, em boas condições.
- Por que não armas?
- Fazem muito barulho e podem causar distúrbios nos doentes. Caso isso aconteça, eles enlouquecem. Não daremos conta de duzentos semimortos querendo nos matar, iríamos morrer.
- Então foi por isso que ela o atacou...
- Que?
- Nada, .
- Que seja, venha.
Seguimos pelo caminho feito com paralelepípedos até o celeiro que tinha em sua porteira uma imensa corrente de ferro. Nada sairia dali, ou por ali. me mostrou a escada ao lado, que dava a uma parte alta do celeiro, e foi por lá que entramos no lugar.
Aquilo fedia. Fedia morte. E gente desidratada. Tinha sangue espalhado por todo lugar. Os geradores davam iluminação ao lugar, mas não adiantava muito. Estavam horríveis e eu tenho certeza de que os conhecia.
- Eu e meu pai procuramos ajuda por nove anos e nunca achamos esse lugar...
- Viemos pra há um ano, eu acho. Tudo acabou no centro, . Não restou nada. Nem ninguém. Quem restou são esses que aqui estão. Nós criamos isso aqui. Não existem mais países em guerras. Quem não morreu está doente, e se não está doente está numa situação como a nossa. Não existe mais Rússia e comando russo sobre a medicação. Eles morreram. O vaticano virou um inferno. A população enlouqueceu com as descobertas sobre as coisas da igreja. Como você não sabe disso?
- Tudo acabou em 2013 pra gente. Eu tinha nove anos. Não tive mais nenhuma informação sobre nada nem ninguém. Só de quem morava perto. E mesmo assim, os matei. , posso te perguntar uma coisa?
- Fale...
- Quem você escolheu?
- Ahn?
- Você disse que teve que escolher entre vivos e doentes... Quem escolheu?
O menino respirou fundo e prosseguiu:
- Minha irmã. Matei minha mãe na frente dela. E ainda acho que foi a pior coisa que fiz.
- Histórias parecidas. Dê-me uma faca, por favor.
- Pegue essas. Já estão separados os nove da noite. Você sabe o que fazer.
- Ok.
Descemos até uma cela que ficava ao lado daquela em que os nove sortudos do dia iriam morrer. Sensação boa essa em poder matar pelo bem da pessoa. Já não sinto remorso ou pena. Não sinto nada. Sou de pedra. E é assim que vai ser até eu morrer. Fazia tempo que eu não enfiava faca na cabeça de alguém, a última foi minha mãe. Minha mãe... E lá se foram mais nove. E minha fome por mais nove vinha conforme via trazer os corpos para serem incinerados. também não demonstrava ter sentimento por outras pessoas se não pela família dele. Charlie e Mark, seu pai. Família.
- , onde posso me lavar?
- , hoje você ficará comigo.
- , eu preciso me lavar!
- Meu quarto tem caixa d’água. Não gaste água a toa.
- Sim, senhor. – ridículo.
Tenho que explicar algo: ficar perto de doentes não te faz doente. Você apenas é contaminado quando uma ferida sua é exposta e sangue do indivíduo atinge você bem ali, naquela maldita ferida. Ou, caso o doente esteja em faze terminal, ele te tira os órgãos. Um só não é forte o suficiente pra isso, mas eles nunca estão só. Sempre em bando de caça. Sobre os doentes, é isso aí. Sobre partir amanhã: Estou decidida e não espero por nenhuma ajuda deles.
estava concentrado em alguma coisa, num livro de história antigo enquanto eu ouvia o que as pessoas conversavam em baixo de sua casa. Havia umas cinco ou seis falando sobre uma hipótese de infecção que uma menina acabara de mostrar a eles. A menina não devia ter nem quatorze anos, tinha os cabelos claros, a pele também e a ferida dela ficava bem no braço. Zoe, se me lembro bem, estava fazendo um curativo nela. Bom, pelo menos ela estaria a salvo de ser infectada.
Já era tarde, provavelmente umas três da manhã e nós ainda estávamos acordados. Mesmo estando protegidos naquele lugar, era difícil colocar a cabeça no travesseiro e dormir. Meu pai me vigiava enquanto eu estava dormindo e é melhor eu ser forte agora. Eu não dormiria, não hoje, não aqui. Ainda mais com um cara que há pouco me enchia a cabeça de ladainha. Parando pra pensar: até que ele não era tão idiota quanto pensei. Mas ainda assim tenho minhas opiniões sobre aquela criatura.
Tudo estava silencioso. Até que se assustou com algo que eu não percebi. Ele levantou e correu pra parte de baixo da casa e seu pai estava lá. Eles conversavam algo que eu não consegui entender até chegar lá. Seu pai estava nervoso. E falava algo sobre Charlie ter sumido e não ter visto.
- Já olharam na fogueira?
- Já olhamos em tudo, , em tudo!
- Mas não é possível que ela tenha saído da cama dela, saído de casa, sem ter feito barulho! Pai, nós estávamos acordados! Pelo amor de quem ainda tem, será que você olhou no quarto dela?
- É claro que já olhei. Ela saiu, , a porta estava aberta. Meu deus, cadê a Charlie?!
- Charlie? – Nisso vi que Charlie estava atrás de , no corredor escuro da casa. Ela não estava sozinha – Por onde esteve?
- Carol? – Percebi que essa era a menina da ferida que estava ao lado da pequena. Ambas não falavam nada e, sinceramente, estremeci. Charlie é sonâmbula, não sei essa Carol. Talvez todas as duas sejam, e foi por isso que Mark se dirigiu à filha calmamente, para não acordá-la.
- Vou levá-la para cima, cuidem da Carol.
e eu pegamos a menina e a levamos para fora da casa. Ela estava pálida. E havia coágulos de sangue em seus olhos. Jamais vi algo igual aquilo. A doença não deixava a pessoa assim, então, eu não sei o que era aquilo nela. Carol tinha a respiração lenta, e isso fez com que a colocasse deitada em seu colo.
- Carol, olhe pra mim, querida... – Falei com ela na esperança de que ela se recuperasse e conseguisse dizer algo – O que aconteceu com você?
- , pegue a faca.
- Mas ...
- PEGUE A FACA. – peguei uma média, corte afiado, mas eu não a usaria.
- ela não está doente, não tem por que mata-la!
- Não sabemos, , ela pode estar. Apenas segure isso e mantenha-se protegida.
- Certo, mas...
Foi tudo tão imediato que numa fração de segundo vi a prendendo contra o chão, enquanto ela se debatia para pegá-lo. Sem pensar muito, fiz o que me cabia.
estava assustado e confuso. Eu? Nem me pergunte. Eu não tinha mais cor. O que aconteceu com ela nos deixou paralisado, ali, na varanda da casa do menino. Um tremor percorreu meu corpo e eu apenas olhava praquela menina. Outra pra minha lista de mortos. Mas essa era diferente, ela não tinha nada. Não a doença comum, não tinha mesmo aquilo! Uma palavra que descreve naquele momento é: pavor. Eu estava apavorada. Totalmente. percebeu e se levantou; ele veio de encontro a mim e me abraçou. Como se estivesse tentando acalmar os ânimos, tanto os dele quanto os meus.
- , temos que avisar meu pai sobre isso aqui.
- Sim, é, é claro, ele precisa saber. – parei na porta da casa olhando para que já estava prestes a subir as escadas. – ?
- Oi?
- O que foi aquilo lá fora?
- Eu não sei, . Ela parecia estar bem.
- Não estava falando da Carol...
- Então, falava sobre o que?
Nisso uma pedra foi atirada pra dentro da casa. Não me acertou por sorte, mas passou perto. Pensei em sair pra ver quem era, mas logo recuei quando vi que subia desesperadamente as escadas. Fui atrás dele, afinal, quem não iria? As luzes estavam acesas, mas Charlie e Mark não estavam ali. Procuramos em todos os quartos e no banheiro, e nada. Voltamos então ao quarto de Charlie pra que pudesse fazer conexão com a base do refúgio.
“Zoe, meu pai e minha irmã sumiram. Por favor venham aqui o quanto antes. Algo horrível aconteceu com a Carol.”
E como resposta, ouvimos ruídos. Ninguém falava nada. Até que ouvimos passos.
”? , fuja! Fuja o quanto antes! O vírus da Carol se espalhou e todos estão surtando! Seu pai deixa sempre tudo separado no carro dele, , vá e leve a menina contigo! Vá! AAAAAH...”
- , olhe! – Apontei pra janela do quarto de Charlie e vimos lá o desastre.
- , pegue suas coisas, sua bolsa de arma. RÁPIDO.
- Estão comigo, . Onde está a chave do carro? Venha, , temos que ir!
- ... – segurou meu rosto e olhou me com os olhos lacrimejando. Juro que pensei que ele fosse me beijar, juro! Mas não, ele não o fez. Ao contrário, ele abaixou a cabeça e pegou-me pela mão, levando me para o andar de baixo da casa. As chaves estavam na mesa central e ele apenas as pegou.
O cenário, que há pouco era pacífico, parecia de guerra. Árvores pegando fog, o celeiro estava aberto, pessoas corriam e essas coisas que, não sei, já não eram mais pessoas corriam e alguns rastejavam atrás de pessoas vivas. Um absurdo total.
- Aqui , pegue as chaves. O que tem no carro deve durar para alguns dias. Tem um mapa lá dentro. Não sei se está abastecido, mas tem três galões de combustível no porta-malas. – fez o mesmo que havia feito no quarto de Charlie, me segurou o rosto. Só que dessa vez, ele fez o que eu esperava. – Por favor, fique bem.
- O que? Não! , eu não vou sem você. Eu não conheço nada aqui. E agora você me beija e acha que pode se despedir assim? Não!
- , eu preciso achar meu pai e minha irmã. Não tenho escolha.
- Claro que você tem. Escolha me levar com você!
- ... – apenas o olhei – Nós vamos sair dessa casa e ir direto pro carro, tudo bem?
- Tudo bem. E assim o fizemos.
Years later...
Essa carta tem sido o motivo pelo qual eu acordo todo dia. Depois que ela se foi, há dois meses, eu fui parar em um complexo americano. Aqui, eles usam as pessoas ainda vivas para teste. Teste de cura. Teste de sobrevivência. E tudo o que eu não sei é como sobrevivo. Nosso filho foi tirado de casa, estou presa em uma cela. Não existem mais armas, ou facas. Só existe a mim e um líquido que eles chamam de cura.
Às vezes eu queria voltar naquele dia, o dia em que eu lhe dei o primeiro beijo. Só pra relembrar tudo o que passamos, sem precisar chegar no dia que ela foi tirada de mim. Minha vida dependeu da dela por anos. E sei que ela diria a mesma coisa. foi a mulher da minha vida. Ela me deu tudo o que eu não esperava ter. Deu-me amor, esperança, prazer e o que mais me importa agora, um filho lindo. Meu bebê. Meu coração de pedra, ela conseguiu amar esse coração de pedra. E eu, eu a amei mais que qualquer coisa. Ela preencheu a mim. Completou-me.
Nós lutamos muito, por cada dia, por cada comida, por cada um que passava em nosso caminho, encontramos muitas pessoas vivas. E foi assim que passamos esses dezoito anos. O vírus? Só piorava. Verdadeiros zumbis nas ruas, atrás de carne humana. Não havia mais bando, um comia ao outro sem piedade. se divertia em matá-los quando estavam comendo. Doentio, porém eram eles ou nós dois.
Se não fosse por conta de uma invasão russa. Se o vaticano não guardasse algo assim, nada disso jamais teria acontecido. Mas aconteceu e cabe a mim viver enquanto puder, fazendo o que for necessário.
Eu perdi minha família inteira tentando salvá-los e nada consegui. Nada! Não há cura, não há esperança. Estamos todos mortos, ou prestes a morrer. Do pior ou do jeito mais fácil. Já eu, , não tenho escolha. Eles me pegaram. “Todos os de sangue O positivo devem fazer o teste”. Sou o próximo. A próxima experiência desses que querem brincar de Deus, tentando curar algo que não se cura.
Eu só queria deixar claro que, minha vida, mesmo com toda essa merda foi ótima, porque eu vivi do lado de alguém que também estava no fundo do poço. E foi por nossa força que consegui chegar onde estou. Este era nosso plano desde que descobri que a base russa estava no complexo americano. E estou aqui, pronto pra acabar com isso.
Por você, .
Fim.
Nota da autora: Comentem aqui embaixo o que vocês acharam, por favor, suas lindas! Até a próxima! xx
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