Estrondosos os copos se chocando contra o mármore do balcão e alvoroçados os homens por mais pediam. Por mais bebida, por mais cigarros. Incineravam seu dinheiro em porcarias finitas, observados de perto por . Seus olhos fagulhavam na direção de seus amigos, porcos bêbados ou lobos sedentos que observavam as dançarinas da boate enrolarem-se como cobras em seus mastros. Sentia certa repulsa pelo que via. Compaixão sem qualquer admiração por aquelas que a isso se submetiam e uma vontade, por enquanto sob controle, de acertar um murro em cada canalha que àquilo tanto parecia adorar. Os mais fortes dirigidos aos amigos que não o deram escolha senão os levar até ali.
As taças tilintavam, e o sossego não passava de um borrão, um sonho distante.
– , – Dannenhauer gritava do outro lado do local, sua imagem turva oculta por uma nuvem de fumaça – venha cá!
O jovem, provavelmente o único sóbrio daquele local, olhara o amigo completamente fora de si erguer um copo de whisky aos ares, como se o convidasse para uma rodada. Algo naquela cena – talvez o olhar perdido para outra dimensão de Dannenhauer – transformara a caótica que a caracterizava num relance de pura comédia, olhares sem direção e um sorriso abobado. apostava que, não somente o sangue afogado em álcool, Daniel Dannenhauer possuía também os pulmões carregados de fumaça de ervas. Obrigou-se a fazer o que fora solicitado.
– Oi, amorzão. – Daniel jogou o braço ao redor do amigo numa tentativa de intimidade transformada em apoio aos trôpegos movimentos que dava. – Por que fica lá sozinho? Não te criei assim, neném. – sem respostas, o moreno arregalou os olhos numa expressão apavorada. – Não criei, criei?!
– Não, cara. Não criou. Eu só não posso beber, e essa merda fede a vômito e baba de incompetentes que não conseguem uma mulher.
– Uh-oh, muito obrigada, coração! As palavras doem, sabia? – fingindo falsa ofensa, Daniel entornava outra dose.
– Cale a boca e beba. Vou dar uma volta.
– Ótimo, azedo. Aproveita e dá uma volta próxima ao palco, quem sabe algo lá não te anima?
O mais jovem fez questão de ignorar a sugestão, passando as mãos ligeiramente sobre o balcão em busca de algo que lhe satisfizesse. Não parecia tão fácil quando tudo que via era álcool, álcool, álcool, mais álcool, água... E o estande de cigarros. Numa troca rápida de dinheiro por prazeres – dos que menos se manifestavam naquele local –, caminhou devagar de volta ao seu local de origem.
Quando convidado pelos colegas e amigos a sair, imaginava algo completamente diferente. Fora levado até ali na promessa de esquecer alguns de seus problemas mais presentes. Acontecimentos recentes e outros triviais, considerados por si, próximos a um patamar de eternidade. O trabalho o sugava, a saudade e a solidão o arrasavam. E a cena a que era submetido trazia tão mais à tona as futilidades mundanas com as quais era obrigado a conviver. Era como respirar a ignorância e expirar sua frustração filtrada naquele mesmo instante.
Observar as prostitutas rebaixando-se a níveis desumanos mostrava o quão aquilo não era para ele. A sensação de impunidade o atormentava e a vontade de intervir soava mais alto que a música de baixíssimo calão que provinha sabe-se lá de onde – sensação essa que aumentava exponencialmente à medida que via uma jovem de idade beirando os 20 anos aproximar-se vinda por detrás das cortinas. Ao longe, pôde a ver tomando o lugar que sua colega cedia, com expressão acabada. Era justificável. se manteve preso a ela com a força de um imã de neodímio. Impossível desconectar-se. Impossível largá-la. Inexplicavelmente irresistível a admirar.
Com expressão séria, visivelmente extenuada e enjoada por estar ali, movia-se lentamente como se tentando novamente se acostumar àquele seu amigo, o mastro.
Olhava abaixo e, sedentos, uma dúzia de homens debruçava-se sobre o palco. Ela possuía a ojeriza no olhar e a relutância era palpável.
“Não vai dançar, vadia?! Pago pra isso”. Sem dono aparente, a frase jogada ao ar fora dificilmente digerida por e sequer ele poderia imaginar para a garota. Estava estática, com expressão aparentemente incrédula. A situação daqueles homens era deplorável e ainda assim não fazia a dela nenhum pouco melhor. E fora rápido. Tão rápido que mal teve o jovem ao longe tempo de entender a cena, mas não era tão difícil compreender o horror. O homem que nem sequer merecia a designação de humano cuspira aos pés da jovem.
– Obrigada, senhor. – observada de perto por vários, a garota desceu do palco ficando frente a frente com aquele. Pouco era ele mais alto que a jovem, mesmo que ela houvesse arrancado os saltos dos pés há segundos. Num movimento rápido e muito provavelmente impensado no momento, seu joelho tomara um destino cruel para com o outro. se deixou contorcer de dor em compaixão ao que agora doía-se com o olhar em chamas e costas curvadas.
– Sua... Vagabunda inútil! – cuspia as palavras no rosto da jovem que, com um sorriso realizado no rosto, deliciava-se com as risadas e com o coro de bêbados que ovacionavam a cena ao redor.
– Fico grata pela gentileza. E ao meu serviço, – abaixou o nariz observando a área afetada com desdém. – você pode pagar na saída. Passar bem.
estava estático. A diversão tomava-lhe os pulmões e a empolgação era das maiores. Jamais havia visto algo que o orgulhara tanto e em que nada tinha relação. A simpatia instantânea que sentira em relação a ela agora urrava cintilando em sua mente algo mais, como uma profunda adoração.
Enquanto perdia-se no momento, observou-a correr às pressas por entre curiosos e alheios. Era opaca em meio à confusão do momento típica daqueles lugares, mas seu andar era certo como o mundo aos seus pés. Levara a mão à cabeça, desmanchando rápida e brutalmente o rabo-de-cavalo que prendia seus cabelos. Num movimento seco, friccionou fortemente o braço contra a boca para livrar-se do vermelho vibrante que cobria seus lábios. Fora imensamente infeliz com isso.
Pouco importava a imagem acabada, a expressão enjoada e o olhar frio, era magnífica. Emitia luz própria, calor. Era quente como o verão tropical e isso em nada combinava com a pele quase translúcida. Emitia toda sua radiação por uma pele visivelmente gélida e isso era o que mais o atormentava. Tão sem sentido, tão desconexo. Forte como o aroma de nicotina e colônias que resumiam toda imundice do lugar era a insanidade a que ela o conduzia.
Ao dar-se por conta, a perdera de vista para a área exterior do local. Não era suficiente. A distância era desconfortável, sua maior inimiga naquele momento. Precisava dela, de sua presença, tanto quanto precisava de oxigênio em seus pulmões. E foi numa luta corporal exaustiva e sem fim visível que ele alcançou a porta do local.
O vento cortante causou-lhe imenso desconforto ao adentrar suas narinas. A premissa do inverno era óbvia e isso pouco o agradava. À medida que caminhava, ouvia as batidas da boate diminuírem consideravelmente. Tomaram lugar, então, as risadas altas e sujas de grupos de homens bêbados espalhados por todo perímetro do local.
Desesperançoso e acreditando piamente na fuga definitiva da jovem, pôde observá-la à leste. Sentada num degrau de acabamento mal feito, que provavelmente dava entrada à uma ala de funcionários do estabelecimento, a garota observava o nada. Parecia afogada em si mesma. Talvez questionava atos passados que a levaram até ali – um local digno de nada senão repudia. Talvez, também, ações impensadas ou um destino verdadeiramente cruel. Tudo aquilo simplesmente não importava mais, haja vista a situação na qual se encontrava. Sozinha, no vento outonal que lhe rasgava por inteira, estando somente com um diminuto vestido de braços desnudos. Para piorar a situação, um rapaz aproximava-se a passos lentos acreditando veemente que ela ainda não o notara. Tolo.
– O que quer aqui?
não respondeu. Suspirando, irritada, virou-se pela primeira vez para observá-lo. Parecia verdadeiramente intrigado e, de certa forma, exalava preocupação com o que via. Os olhos verdes fixos nela de uma maneira sem interesse carnal num primeiro momento – coisa que, há muito tempo, ela não via. Seus olhos circundavam por sua pele completamente arrepiada, os cabelos intensamente desalinhados.
– Ei, você. – chamara sua atenção, sem reação obtida. Agora ele estava parado. Ainda a observava. Parecia absorto em pensamentos e delírios sobre o que quer que fosse. Parecia conectado demais às imagens. – Você fala?
Piscou uma, duas vezes. Olhara nos seus olhos mais uma vez. Brilhavam à luz que piscava premeditando sua queima, possuindo uma tonalidade verde intensa.
– Oi. – disse por fim.
– Oi. – a jovem levantou-se, disposta e ciente do que provavelmente a esperava. caminhou os passos que restavam para chegar a ela e sentou-se ao seu lado. Confusa, ela fez o mesmo.
– Por que está aqui?
– Eu trabalho aqui.
– Digo, – observou o lugar ao redor, a lâmpada que acendia e apagava em tempos iguais. – aqui fora, no frio. Ah, por sinal, desculpe-me pela falta de consideração.
Levantou-se, tirou o casaco de lã e o depositou sobre os ombros da garota, que a princípio relutou, negando sua necessidade. Por fim, cedeu aos seus apelos.
– Me falta paciência pra trabalhar hoje. – a ênfase carregada de desdém empregada por ela causou um pouco de surpresa por parte dele. – Era o casamento de minha irmã e ela fez questão de não me convidar. Eu preferiria mil vezes estar numa cama desejando a morte e condenação por minha vida a estar aqui, no mais honesto do serviço, dançando para estranhos. – as palavras eram derramadas sem reflexão, sem hesitação e tão duras quanto o chão no qual estavam sentados. Eram, pois, muito mais sinceras do que qualquer outra coisa, exceto pelo seu olhar sem rumo. – Meu nome é , e o seu?
– . Bonito discurso. Fico feliz por ter vindo até aqui.
– Aposto que, depois dessa, desvalorizei o preço de mercado de meus serviços. A menos, claro, que você fique quieto. – parou por um momento, refletindo sobre o que disse. – Por favor, fique quieto. – rira, então, anasalado, sem qualquer graça.
apenas sorria.
– Fiquei um pouco preocupado quando te vi sair naquele estado. Aquele gordo maldito merecia, porém nunca se sabe.
– Jamais.
O silêncio que se seguiu poderia causar desconforto em muitos, mas, naquele momento, com a brisa em seus cabelos e o perfume suave de que adentrava suas narinas, pôde respirar e existir, pela primeira vez em semanas, com tranquilidade.
Ao tatear involuntariamente pelos bolsos do casaco do rapaz, achou algo que sabia que muito a satisfaria. Sacou a caixa de Dunhill do bolso, tirando de lá um cigarro. apenas a observava sem esboçar qualquer reação aparente.
– Se você não se importa, eu gostaria de um isqueiro.
Ao deparar-se com o pedido, tudo que pôde fazer foi rir.
– Eu acendi os meus lá dentro com um isqueiro do bar, mas se você quiser, no bolso do outro lado tem uma caixa de fósforos. – entre risos deliciados, viu-a observá-lo incrédula e, muito provavelmente, ofendida. – Falo sério! Há tempos eu não fazia isso, só me restaram eles.
Numa risada sem vontade, colocou o cigarro pendente entre os lábios e retirou de um dos bolsos uma caixa de fósforos. Balançou-a no ar, observando o jovem fixamente nos olhos. Os seus, azuis-cristalino, pela primeira vez com algum traço de vida e humanidade remota, observavam a diversão nos dele. Riram.
Num rápido movimento, deslizando a cabeça avermelhada do palito sobre a superfície áspera, buscando calor para acender-lhe, o viu pegar fogo. E tão rápido quanto o mesmo tornou-se chamas, antes mesmo de um sorriso e alívio tomarem conta de si, pôde o ver se apagar.
– Mas que…
rira mesmo que tentando conter-se.
– Notou a brisa?
– Na verdade, não. Seu casaco cumpre muito bem o trabalho. – mantinha os olhos na caixa, com indignação crescente. – Bom, eu realmente não esperava por isso.
E pôs-se a tentar novamente. Falhou. Virou-se contra a brisa e mais uma vez, sem qualquer sucesso. Virou-se a favor, escondeu-o, sufocou-o e apertou-o. Tentou por inúmeras vezes sem sucesso e algumas mais. a observava e ria, sem qualquer resquício de fôlego, deleitando-se com a cena. A garota, com o cenho franzido e, no literal, rosnando para o cigarro e o fósforo, estava à beira de um surto. Ele não se via fisicamente capaz de fazer algo senão rir.
– Quer parar de rir e me ajudar?
– Desculpa, eu… – então pôde observar novamente a garota, séria e absorta no seu próprio mistério. Apesar de toda resistência e implicância, visto a diversão que na cena ele encontrava, tudo que ela viu-se capaz então, fora rir. Riam como duas crianças, sem qualquer compromisso. Riam da tolice, da dificuldade do mais simples e do quão patético era tudo aquilo, desde o ato e insucesso até tudo que se relacionava com aquele momento.
levantou-se e rapidamente pôs-se ajoelhado em frente a ela. Puxou a barra de seu casaco, protegendo uma restrita área de todo vento que neles se enroscava.
– Cigarro, por favor.
– E fósforo demonizado?
– Sim, o satã também.
Rindo, entregou-lhe tudo que fora solicitado. Não demorou muito para que seu cigarro estivesse aceso, mas enquanto aquilo não ocorria, concentrou-se exclusivamente no momento. possuía o casaco aberto e o rosto completamente oculto naquele local. Sua face, perdida por entre os seios fartos de , numa troca intensa de calor corporal. A eletricidade que corria por entre eles parecia tão eterna, era tão intensa, tão insana… muito próxima do irreal. O jovem tentava focar no que pretendia. Juntava todas as forças que garantia ter em si para se concentrar-se no cigarro em suas mãos e no fósforo a ser queimado. Mas aquela pele era macia. Seu aroma, doce. E a serenidade ali encontrada contrastava perfeitamente com a voracidade e perigo que continha. O mar aveludado que recobria as chamas do perigo. Despertado pela luminescência à sua frente, a ligou à ponta do filtro e obrigou-se a abandonar o calor que o envolvia.
– Aqui. – entregou o envoltório de tabaco em suas mãos, rodopiando de volta aonde antes estava sentado.
Ainda alimentados pelo contato tão falsamente realizado, trocavam palavras silenciosas e tranquilizadoras. tragava calmamente, expirando a fumaça como se nada no mundo mais se valia de atenção. tinha seus olhos sobre a jovem. O filtro, agora colorido de vermelho vivo pelos restos batom que ela usava, era tocado e abandonado repetidas vezes, cada qual separada por uma profunda troca de ares. Era tão cômico o quão aquilo parecia limpar cada centímetro interno de si. O cabelo balançava acompanhando as rajadas da aragem que se propagava.
– Mas, então, – a jovem, por fim, manifestou-se. Sua tensão parecia ter se dissipado quase em totalidade. – não preciso te lembrar que me deve um cigarro aceso com dignidade, preciso?
rira com os olhos, ainda grogue pela divagação em que estava imerso. Ela o observava atenta com o cigarro entre os dedos.
– Posso até conseguir algo assim, mas diga a verdade: algum cigarro já lhe rendeu uma história como essa? Ninguém vai te acender um com a classe que o fiz.
rira, talvez nervosa. Temia que estivesse certo e sabia que aquilo não seria suficiente.
– Você não faz o tipo de um lugar desses. Você é tão, não sei… limpo? – rira para si, encarando o pequeno cascalho que havia recém chutado ao incerto. – Qual a graça? Os porcos lá dentro não costumam conversar com estranhas a menos que procurem algo em troca, você sabe.
– Realmente, meus amigos são porcos bêbados e eu não tenho tanto poder de voz assim. Bem que queria. Mas como dizem: com doentes, mulheres decididas e bêbados não se pode discutir.
– Essa é nova pra mim.
– Pra mim também. – riram algumas vezes, seguidos pelo silêncio. – De qualquer forma, esperava uma perda de tempo maior do que a que tive.
– Devo levar como ofensa ou elogio?
– Fica a teu critério, .
Silêncio. Pedra ao ar. , ao ouvir os pedidos de desculpas de sobre a possibilidade de acertar algo que não deveria, tomou outra em mãos e a jogou com força para qualquer lugar que fosse. Risos e silêncio mais uma vez.
– Eu também esperava um turno bem pior. Até que esse foi interessante.
– Tirei tua oportunidade de ganhar alguns bons trocados, vê? Loucos seriam os que prefeririam outras. – pela primeira vez, viu-se verdadeiramente sorrindo com um elogio e, de alguma forma, com timidez presente.
Entre uma tragada e outra, ela o viu sorrindo.
– E acha que não posso cobrar por isso?
riu alto, como ainda não havia feito naquela mesma noite. sorria.
– Oh, uau, então esse é seu jogo? Charme, uma boa conversa e ar frio em troca de um cigarro e o sustento? Golpe baixo, minha cara.
abrira a boca para responder, mas viu-se interrompida por um grito provindo da esquerda de ambos. Ao mesmo tempo, puseram-se a observar. Mauren os observava nervosa.
– , o que está fazendo aí, garota?! – a mulher possuía longos cachos loiros, visivelmente falsos e mal cuidados, aos quais afofava com esmero. Deveria ter seus 30 anos e possuía mesma vestimenta que : vestido preto, justo e quase sem proteção nas coxas, um salto vermelho de altura recorde, jóias baratas espalhadas pelo colo e pulsos. – Descartes está louco atrás de você! Dê as caras logo ou vá se preparando. – jogando a cabeça para trás, pôs-se de volta ao inferno do qual provinha tão rapidamente quanto surgira.
Expirando pesadamente, a mais jovem pôs-se de pé. Jogou o cigarro ao chão e apagou com um breve deslizar do salto.
– Preciso ir. A noite é uma criança e a minha vem com chifres. – rira sem graça. não respondera. – Ah! E antes que eu esqueça.
Sacou dos bolsos a carteira de cigarros e a caixa de fósforos com um sorriso divertido no rosto e os entregou em mãos. Tateou mais algumas vezes o casaco em busca de algo. Era observada em silêncio. O rapaz acompanhou ainda calado enquanto a jovem teclava em seu celular com pressa. Não demorou muito para que uma nova melodia ressoasse próxima a eles, acompanhada por um sorriso de . Rapidamente, sacou de dentro de seu vestido, próximo ao busto, um celular sem grandes adornos. Ao desligar o do rapaz e entregá-lo, a música cessara, dando lugar a um riso deliciado.
– Bem melhor assim. Entro em contato para negociar a devolução de seu casaco e cobrar pela sua dívida.
E, num rodopio sutil, infantil e encantado – características que há muito não descreveriam qualquer coisa que proviesse da jovem –, partiu por entre paredes mal pintadas. Deixou, ali, seu aroma floral e quente, a terra rasgada por seus saltos e com fascínio, incontáveis perguntas e um desejo carnal que demoraria, mais do que se pudesse deduzir, a deixá-lo.