Corra. Sem saber para onde vai, porque as luzes estão desligadas, e tudo que você pode ver são as estrelas. O seu caminho vai se abrindo, e o chão vai quebrando, criando abismos em sua frente. O trem está chegando perto. Já encontrei meu coração, e usei a minha mão para te segurar, porque você me levanta e me ajuda a andar, quando tudo que vejo é escuridão. Eu tenho medo de ficar sozinha, a solidão me puxa para dentro; e eu me rendo. Isso não pode acontecer, você não pode deixar acontecer. Tá tudo nublado, e tudo que enxergo é você, e no momento está bom assim, somos o que somos. Somos um medo dentro de outro, e há tanta coragem e determinação. Há esperança, entre fé, tentando achar algo semelhante. Parecemos um amor que está sendo construído aos poucos, mas que já faz parte um do outro. Só as estrelas sabem pelos caminhos que passamos e o quanto foi difícil pular os obstáculos. Algo está partido aqui dentro, e eu tento encontrar a minha alma; talvez eu esteja ficando louca. Talvez você seja maravilhoso, e eu uma rosa cheia de espinhos. E com o tempo você ficará machucado. Talvez eu seja uma controladora, e quero cada peça colocada do meu jeito, mas nenhuma se encaixa se você não estiver por perto. E eu tento encontrar uma brecha para fugir, eu me assusto quando encontro, porque talvez eu não queira sair. Você me prendeu aqui, e eu me pergunto o motivo. Porque talvez o amor seja maior do que os medos que sentimos. Ou talvez porque você não consiga ficar longe de mim. E eu estou aqui tentando entender como; mas você me achou enquanto eu caía, e me segurou. De uma forma ou outra você sempre estará no meu caminho, como um anjo da guarda, iluminando cada entrada que esteja escura, para que eu possa passar, assim como eu fiz quando entrei no seu coração; e dali eu não quero mais sair. Mesmo que ele pare de bater. Não me deixe sair.
O quarto estava escuro e tudo que eu podia ver eram as luzes da cidade pela janela, os barulhos dos carros de alguma forma era um conforto, já que a solidão pairava no ar, como um abismo. O silêncio era o que enchia aquele espaço vazio, frio e sombrio. Como se minha mente estivesse presa naquela cama para todo o sempre. Eu estava condenada a ter meu corpo inerte colado naquele colchão, que era a única coisa que parecia me acolher, de fato. Eu podia ouvir os sussurros que flutuavam pelo corredor, e paravam em frente à porta, e tinha vontade de ver o que estava acontecendo, mas a dor adentrava meu peito e perfurava até minhas entranhas fazendo-me chorar. A dor da saudade, da ausência. Meus pensamentos sempre arranjavam um atalho quando perdidos, e voltavam para o mesmo ponto da onde eu tentei fugir. Ele. De certo modo, o amor sempre está nas maiores formas de loucura. E mesmo que eu tente negar, meu coração implora para que eu tome coragem e volte atrás na minha decisão; porém não é isso que meus sonhos me aconselham a fazer. A verdade é que, já é tarde demais para dar passos para trás. Desaparecer.
Eu queria muito sumir.
Talvez seja a hora de eu simplesmente morrer. Talvez seja a hora para jogar toda a culpa em cima de mim. Talvez, mas não. O que eu devo esperar, afinal? Quando não se tem sentimentos reais aqui dentro, nos quais eu posso me apoiar quando eu estiver caindo. Ao menos eu sei que eu sinto. E a dor vai corroendo cada parte do meu peito, se desfazendo das minhas fraquezas. As lágrimas estão em meus olhos, mas elas não querem cair. Tudo vai mudar. Nada vai ser a mesma coisa. As lacunas na minha alma que eram preenchidas por pouco amor que eu queria receber estão abertas, e meu coração está parando aos poucos. Há tanta indiferença, que vai se acomodando até nas minhas entranhas, fazendo-me parecer uma pedra de gelo. Mas eu sou assim. Talvez eu só precise de um abraço, mas sobrevivo na solidão profunda junto aos meus amigos imaginários. Junto ao invisível chamado escuro, e as amargas sensações de vazio. Eu não sei, talvez amanhã a saudade bata na porta, e me mate com facadas no peito; mas por enquanto estou aqui tentando raciocinar. A verdade é que eu nunca consigo acreditar quando algo inacreditável acontece; não aceito tão bem quando alguém me deixa. Leva uma parte de mim que eu deixei que pertencesse a ela. Agora sou pela metade assim como sofro. Tudo pela metade. E eu não corro atrás nem que eu dependesse disso para viver. Eu não tenho medo de sofrer para sempre, de uma forma ou de outra a dor me acolhe. Não sinto que preciso disso para sorrir. Eu posso continuar com meus passos pesados pelo caminho sombrio da vida, fingindo que estou bem. Ninguém vai notar, ninguém vai saber, ninguém vai me ajudar. E vou deixar a dor se acumulando no espaço apertado do meu coração, até ele explodir. Só Deus sabe o que vai acontecer quando explodir. E eu espero que atinja muita gente que me machucou algum dia, ou que não acreditou em mim. Sofro porque eu quero sofrer, mas às vezes não há como negar, que ser feliz também agrada.
So everybody come and rock your thing
Take you down to the early days
When the champagne flow like a river stream...
O trem sempre demora a chegar quando estamos com pressa, a vida sempre nos coloca de trás para frente, ou de cabeça para baixo. Há várias pessoas aqui, na espera de que algo bom aconteça em cinco segundos, esperança que invade bons corações, e agonia que adentra corações covardes. Posso sentir a tensão nos olhos de quem esteve chorando durante a noite. Ninguém quer estar aqui, ninguém quer acordar cinco da manhã e ir para um lugar de que não gosta, trabalhar para pessoas que odeiam, passar o dia longe da família, preocupados se os filhos estão a salvo. O trem chega e nos leva para um pesadelo distante, o qual ninguém gostaria de viver. Lá dentro está quente e todos tendem a deixar o amargo mau humor tomar conta de seus rostos; sem se importarem com o quão feia fica a expressão de ódio em seus olhos. Por que as pessoas não podem se contentar com o simples? Olhei pela janela, para tentar pelo menos ignorar as pessoas com a alma machucada, e pedi para que tudo aquilo sumisse da minha frente. Lá estava o jardim onde estive há duas semanas, onde tudo se desmontou. Se não olho para pessoas frias e sem vontade de viver, então olho para um enorme jardim que sugou todas as chances de eu ser feliz. Droga. Reclamo da infelicidade das pessoas, mas sou tão infeliz quanto elas. Esse lugar tira qualquer chance de sorrisos que alguém possa ter. Qual é o objetivo de fazer um jardim ao lado de uma ferrovia, afinal? Todos precisam de uma boa vista quando estão em um lugar apertado em movimento, onde todos tentam se segurar para não esbarrar nos seus companheiros de viagem. Ninguém quer se tocado por estranhos, isso já seria como estar traindo seus maridos, para as mulheres, é claro. Os homens não se importavam nem um pouco. E isso não é muito difícil de se acreditar.
Descendo daquele trem fantasma, ao lado de muitas outras pessoas que suspiravam aliviadas soltando fumaça pela boca, me deparei com uma figura familiar. Todos iam para caminhos diferentes, cada um seguindo sua direção. Eu não tinha muita vontade de ir, mas a obrigação tomava conta da minha mente, fazendo-me decidir por fazer a coisa certa. Encostei-me na pessoa que imediatamente reconheci, e dei um pequeno sorriso aliviada por não ter que andar até lá sozinha.
– Estava esperando por você. – enfiou suas mãos por meus braços, sua mania era irresistível. Minhas mãos estavam no bolso do casaco, o frio fazia com que andássemos praticamente coladas.
– Odeio ir à escola. Por que temos de fazer isso?
Era normal reclamar às seis da manhã, já estava acostumada com as birras que minha grande amiga fazia todos os dias, mas algo me dizia que eu estava sem ânimo para conversar.
– Ah, vamos , não me diga que ainda está triste por causa do ?
– O que você acha?
A fumaça saía pela minha boca cada vez que eu tentava respirar. Não sei qual é a necessidade de tanto frio, se ao menos eu estivesse na minha cama, eu não acharia tão ruim assim.
– Já tem duas semanas.
– Duas semanas não são o bastante para fazer-me esquecer alguém que esteve comigo por um ano.
não se abatia por tons rudes, na verdade ela achava sexy quando eu a tratava mal, ela mesma me disse isso fazendo-me gargalhar até sentir dor na barriga. E eu sentia falta de rir daquele jeito.
– , você precisa se animar. Sério, o cara já seguiu em frente e você fica se lamentando. – Ela disse me envolvendo mais em seu corpo que tremia de frio.
O caminho até a escola não era tão longo quando estava calor, de alguma forma o frio congelava nossas pernas fazendo com que andássemos lentamente.
– Ele está muito bem sem mim, não está?
Infelizmente eu já sabia a resposta para esta pergunta inoportuna; mas tinha jeito para abrir meus olhos quando eu estava totalmente perdida em minhas escolhas.
– Eu fui a culpada de tudo isso ter acontecido.
– Infelizmente, aquele cretino está ótimo. E você não foi a culpada. Não tem culpa de nada. Essas coisas acontecem.
A escola já estava cheia quando chegamos, parecia um formigueiro de gente, aquela multidão acostumada com a mesmice das longas semanas que se passam mas não se acabam. Meu coração palpitava quase saindo pela boca por saber que a qualquer momento eu o veria, mas me contive e adentrei aquele lugar infeliz junto de , que sorria alegremente andando pelo corredor. Nunca soube como ela conseguia sorrir àquela hora da manhã, fazia-me sentir uma depressiva mal humorada. Eu não costumava ser assim, aquela mesmice aleatória era insignificante para mim quando eu estava ao lado dele. Mas tudo pareceu não ter sentido após isso. Jamais terá. Sentei-me na última cadeira da fileira ao lado da janela, os alunos lá fora se preparavam para praticar seus esportes na aula de educação física, e eu sabia bem quem estaria lá. caminhou até a quadra junto de seus amigos, cumprimentou algumas pessoas com toques de mão e brincou com seus colegas de lutinha. Sempre tão infantil, mas ele parecia bem, e feliz. E podia ser egoísmo da minha parte, mas, a felicidade dele me deixava brava, como se ele não tivesse o direito de ser feliz sem mim, portanto o caso era o contrário, eu não tinha o direito de ser feliz sem ele. O caso era que eu não conseguia aceitar que ele seguiu em frente, depois de um ano namorando e duas semanas separados ele já estava bem, enquanto eu estava ali destruída pensando no quanto ele me fazia falta. A aula passava mais rápido quando eu não prestava atenção, os professores tagarelavam lá na frente e eu apenas ficava encarando o grande relógio acima do quadro, esperando ansiosamente a hora do intervalo.
Era bom sair da escola e vê-lo me esperando do lado de fora, sentia-me completa e segura, seu corpo me envolvia em um abraço apertado, e mesmo que estivéssemos tão perto eu ainda sentia saudade. Esperávamos sair para irmos até a ferrovia juntos, e ao chegar lá ficávamos abraçadinhos encostados no poste, esperando aquele maldito trem chegar, e todos os dias eram assim.
– Como foi a aula?
Ele dava beijos em meu rosto sorrindo.
– Foi chata. A professora passou mais cinco páginas de dever.
– Ela quer matar você, amor.
– Espero que sim.
– Mas o que seria de mim sem você?
Ele fez um bico de menino manhoso que costumava fazer para me deixar com pena. Eu odiava quando ele o fazia, embora fosse a coisa mais fofa do mundo.
– Você seria feliz.
– Claro que não! Jamais. – Disse apartando-me em seu corpo quente.
Seu abraço era confortável e eu me sentia em casa, ele era grande então eu cabia perfeitamente ali, encostada em seu ombro, sentindo o cheiro de perfume em seu pescoço.
– Você não vai pegar esse trem.
– Ah não, já o perdi ontem, preciso ir.
E lá estava ele fazendo o bico novamente.
– Por favor? Pega o segundo que vier?
– Mas vai demorar, amor.
– Você não me ama?
Revirei os olhos, agoniada, como eu sempre fazia ao ouvir uma chantagem emocional.
– Claro que eu te amo.
– Então fica.
– Está bem...
E então ele selou nossos lábios em um beijo quente e reconfortante.
– Terra chamando. – dizia balançando suas mãos na frente do meu rosto fazendo-me "acordar". – Vamos amiga, intervalo.
A multidão de pessoas se espalhava pelos corredores da escola, todos iam para seus respectivos cantos, junto de seus grupos. E eu que achava que todos tinham que ser amigos na escola quando eu era pequena, mal sabia que isso jamais seria possível. Algumas meninas passavam e nos olhavam de cara feia, não que elas pudessem fazer algum tipo de milagre para ficarem bonitas, mas elas pareciam nos odiar profundamente, sem motivo. Sentamos na arquibancada ao lado da escada como sempre fazemos, ali era o nosso lugar de nos esconder e ficar longe de todos. Eu não costumava passar todo o intervalo com o , já que ele tinha os amigos dele e eu tinha , mas mesmo assim ele sempre vinha me dar um beijo, coisa que eu estava sentindo muita falta naquele momento.
– Olha lá, ele não deveria nem ser capaz de jogar futebol. – resmungou no ouvido encarando alguém na quadra. Olhei para trás para ver quem era e infelizmente era . Por que ele estaria feliz a ponto de jogar futebol? Ele não devia estar ali.
– Que droga, por que tenho que estudar na mesma escola que ele?
– Você não teria outras opções já que esta é a única escola nessa região.
– Você me anima tanto...
Falei ironicamente comendo um pedaço de biscoito.
– Esse é seu maior defeito, você deixa as pequenas coisas te derrubarem. Você só tem dezessete anos, , tem muita coisa pra viver. Por que não pode simplesmente seguir em frente?
– Estou tentando.
– Então tente mais. Vamos a alguma festa hoje à noite?
Ela disse empolgada apertando minhas mãos.
– Tudo bem.
Sabia que se eu não aceitasse, ela me faria ir de qualquer jeito e não pararia de falar disso nem um segundo sequer, então aceitei, deixando-a mais animada ainda. podia ser a pessoa mais louca e falante do planeta, mas ela sempre tem tempo e paciência para meus dramas. No começo não entendi como uma garota como ela se sentia bem sendo amiga de uma pessoa como eu. Ela devia ser aquele tipo de garota que faz parte do grupo das líderes de torcida e anda perto de pessoas populares, mas ao invés disso ela ficava ao meu lado, mesmo eu sendo uma pessoa totalmente invisível e distante do resto da sociedade.
– Ele não vai estar lá, né?
revirou os olhos e me deu um leve tapa no braço.
– Não importa. Se ele estiver, você vai mostrar pra ele que está muito bem sozinha.
Após o intervalo acabar, voltamos até a sala para curtir a aula de filosofia; apesar de tediosa, nos fazia refletir sobe coisas que não podíamos entender. me olhava a cada cinco segundos sorrindo e erguendo as sobrancelhas. Acho que seu sonho era que eu a acompanhasse em uma dessas festas da escola um dia. Aonde todos os alunos se encontram para beber e dançar. Sempre achei desnecessário, porque depois de uma semana vendo todas essas pessoas, em uma sexta feira quero descansar os meus olhos e não vê-los novamente. Mas tudo bem, eu iria fazer esse esforço por , mesmo sabendo que ele poderia estar lá, e no pior dos casos, com alguma menina.
So everybody come along with me
Go down the river and wash your feet
To where the people live a life that's sweet
And a place that's ripe with the jungle heat...
A rodovia estava vazia, por incrível que pareça, eu era a única da escola que tinha de pegar um trem para ir pra casa, porque todos moravam perto. morava logo ali então me deixou lá e foi para casa, pois precisava preparar uma roupa para a noite. Sentei-me no banco e encarei os trilhos. Será que doeria muito se eu ficasse parada ali no meio e deixasse com que o trem passasse por cima de mim? Será que seria muita covardia deixar que aquilo tirasse minha vida por vontade própria?
Tento entender o que você significa aqui dentro do meu coração confuso; um labirinto sem portas e sem janelas, onde não há saída. Há vários versos nos quais posso te encaixar, mas nenhum deles consigo rimar. Já tentei te encontrar nos meus pensamentos, te envolvendo em um nó infinito de sentimentos; porém nada foi o bastante para fazer-te ficar. Ficar, não comigo - mas em mim. Porque meu coração vomita você para fora sempre que tento te amar. E os lados negativos ganham essa batalha entre o meu coração e minha mente, e todos os obstáculos nos caminhos nos quais estivemos, e estamos agora. Porque não há mais uma saída, amor. Não há mais esperanças de que um dia isso vai dar certo, como estava dando em outros tempos. Outros momentos. As pessoas mudam, elas crescem, os sentimentos acabam; ou se fortalecem. A linha que nos junta se separa, e todas as promessas são quebradas. Porque a vida é assim.
O frio fazia-me tremer, o céu estava nublado, e as flores do outro lado dos trilhos me deprimiam, estavam murchando, estavam tristes. Quem me regaria para eu crescer novamente? Quem cuidaria de mim para eu ser de novo, uma bela rosa? Ninguém. O trem não chegava e o tempo parecia não passar. Levantei-me e andei caminhando reto pelos trilhos. Não faria mal algum ir congelando até chegar em casa. Minhas pernas já doíam quando percebi onde eu estava.
O jardim estava florido, mais do que o normal, mais bonito do que a última vez que estive aqui, andei entre as flores e me deitei no chão, e o céu não era mais bonito como costumava ser.
O céu estava um azul claro, doce. O sol que raramente aparecia estava lá iluminando a pequena cidade gelada. Eu estava ali sentada no chão observando as flores e estava ao meu lado de cabeça baixa. Eu não estava feliz. Nem um pouco. As lágrimas caíam dos meus olhos como se não fossem acabar nunca mais e eu não sabia o que dizer. Nunca fui boa com as palavras, e sempre respondia tudo com um "não sei". Eu poderia ter lutado mais, tentando mais, me esforçado mais. Porém meu corpo não obedecia aos meus comandos.
– Você tem certeza disso, ?
– Não sei... Eu...
– Droga, você é tão indecisa. Só diz o que você quer que eu vou embora, e desta vez eu não voltarei mais.
Aquelas palavras perfuraram meu coração e o fizeram sangrar como nunca antes. Eu já havia tomado a decisão. Não voltaria atrás com a minha escolha. Amei ele com todo o meu coração, mas ele estava afastando-se de mim, e não havia muito o que fazer. Já havíamos tentado muitas vezes, e nada parecia resolver o nosso problema. Ou melhor, o meu problema. Sou burra, indecisa, e talvez eu estivesse cometendo o maior erro da minha vida. Mas ele não merecia alguém como eu, alguém que não sabe o que sente, alguém que não pode se entregar totalmente a ele, alguém que não pode fazer mil e uma coisas por ele (como ele faz por mim). Ele precisava ser amado por alguém melhor do que, e eu daria essa chance a ele. Ele seria livre, eu não o prenderia mais em um amor indeciso como o meu.
– ... Me fala. Fala na minha cara que acabou de verdade, que não me ama mais, que não me quer e que não quer tentar de novo, e eu irei embora.
– Acabou. Eu não quero tentar de novo.
– Ok.
Ele se levantou.
Ele se levantou e deu um passo para a frente, e mais uma lágrima insistia em cair dos meus olhos. Levantei-me e parei atrás dele, queria segurá-lo, queria abraçá-lo, queria pedir para que ele não fosse, mas eu não podia.
– Eu te amo... – Ele disse baixinho. – Essa provavelmente será a última vez que você escuta isso de mim.
Ele se virou e olhou em meus olhos, e selou nossos lábios, e depois nossos corpos. O abraço dele me acolheu e então, ele se foi. Levando um pedaço de mim, o pedaço que eu deixei que fosse dele. Um pedaço que faltava para eu ser feliz, e eu não o tinha mais.
Me dei conta de que horas eram depois de meia hora deitada ali, quando ouvi o barulho do trem passando, tinha de ir para casa almoçar e dormir, até chegar a hora da grande festa que eu não queria ir. Mas algo chamou a minha atenção quando eu me levantei; o vento bateu em meus cabelos arrepiando-me dos pés a cabeça, e eu pude enxergar uma silhueta de um corpo atrás de uma das árvores. Havia alguém ali, ou me observando, ou caçando formigas. Talvez fosse alguém querendo zoar com a minha cara, ou uma pessoa que não tinha mesmo o que fazer. Virei-me para o outro lado indo até a trilha e começando o meu caminho, quando ouvi alguém gritar o meu nome.
E lá estava ele.
Atrás de mim, em cima daqueles trilhos. Meu coração doía tanto que eu podia senti-lo rasgar a minha pele querendo pular para fora.
– Oi. – Ele disse enquanto se aproximava de mim.
– Oi.
Um silêncio constrangedor se instalou ali, e ele estava bem na minha frente, com um rosto triste e um meio sorriso forçado na boca.
– Você vai à festa hoje?
– Sim.
– Como você está?
– Bem...
Ele abaixou a cabeça e passou as mãos no rosto.
– E você?
Ele tentou sorrir, mas os seus olhos o entregavam. Tudo que eu queria era cair em seus braços e pedir para que ele voltasse para mim, mas não poderia fazer isso.
– Eu... Estou bem.
– Eu tenho que ir, se não eu não chego em casa tão cedo.
Falei ajeitando meu cachecol em meu pescoço, ele assentiu e sorriu para mim.
– Tudo bem. Nos vemos na festa.
Tentei dar o melhor dos sorrisos, mas sem sucesso, apenas movi um pouco a boca e dei as costas para ele.
Passos e mais passos, eu só queria voltar correndo e abraçá-lo.
Querido.
Desculpe, amor, se te fiz sofrer.
Já escrevi tantas coisas para você, que já não sei o que dizer. Eu poderia resumir todos os milhares de textos que já fiz, mas não conseguiria repeti-los. Eu só queria dizer que eu sinto a sua falta, mais do que eu imaginava que sentiria. Na verdade apenas sinto um vazio enorme no meu peito, uma indiferença que chega a perfurar os meus órgãos, e uma solidão que esmaga meus pensamentos. Meus sentimentos estão virando pó. Porque você se foi. E você se foi por minha culpa. Eu nunca soube amá-lo direito, por completo. Sempre houve dúvidas. É claro que eu sentia algo forte por você, de fato; mas, eu sou tão indecisa quanto você imagina, ou até mais. Eu sou tão confusa que acabo não interpretando certo o que eu realmente sinto ou não sinto. Talvez eu achasse que você não merecesse, sabe? Sempre quis que você fosse feliz com alguém que pudesse te completar, e te amar totalmente e incondicionalmente. Sempre quis ser capaz de fazer qualquer coisa por você. Mas eu sou presa a essa angústia de não saber o que sentir, ou o que falar. No momento em que eu te mandei a última mensagem, em diante, eu só pude chorar o dia todo pensando nos momentos bons que você me deu. E em todas as coisas que você fez. E no quanto você me amou. Nunca ninguém vai me amar assim, nunca vou encontrar alguém que me faça tão feliz. Mas assim que as coisas têm que ser. Talvez algum dia eu seja capaz de esquecer você, ou não. Talvez algum dia a gente se encontre. Nunca vou me perdoar por ter te feito sofrer tanto, como fiz. Não consigo viver sabendo que você chorou tantas vezes por mim e eu não fiz nada para mudar isso e te fazer sorrir. Na verdade, acho que eu não mereço ninguém. Ninguém que me ame e que fique do meu lado. O jeito mesmo, é ficar sozinha. E quem sabe um dia voltar a amar alguém de novo... Não duvido nada que eu vá ficar para sempre com essa dor no coração. Mas tudo na vida passa. Você vai crescer, vai conhecer pessoas novas, e vai se apaixonar de novo, eu sei que vai. Eu espero que sim. Porque você merece ser feliz. Mas bem, é inútil eu tentar fazer com que meus dias sejam bons sendo que mal falo com você, pois você era quem completava os meus dias, mesmo que por mensagem. Então não faz mal algum eu escrever pra "você", afinal você nunca irá ler. Quando eu disse que seria eu e você para sempre, não disse necessariamente que passaríamos o resto da vida juntos, mas sim, que meu coração ficará sempre junto ao seu mesmo que separados. E será mesmo, eu e você para sempre. Emocionalmente ou não. Será. Nem que eu encontre alguém e me case, nem que você encontre alguém e se case. Nem que tenhamos filhos com nossos respectivos marido e esposa. Você sempre será um dos que eu mais amei. Porque na verdade, até hoje, não tive muitas opções para amar, além de você e o você sabe quem. Na verdade eu não acho que algum dia eu cheguei a me apaixonar por ele. Ou por você. Talvez eu não saiba o que é paixão. Mas eu sei o que é amor, e eu te amei, por partes (do meu jeito), mas amei. Espero que você se esqueça disso, espero que um dia você se permita esquecer de mim, e consiga. Porque viver com memórias e lembranças de coisas que perdemos nos prende num passado que não queríamos fazer parte. Eu sei bem como é. Me esqueça, vai te fazer bem. Mas eu nunca irei esquecer de nós.
A cama estava quente, e eu me colei nela como estive fazendo por duas semanas. A tristeza não poderia ir embora do meu corpo. Sempre me senti sozinha, e a solidão era minha única amiga. E agora, mais que nunca, me sentia solitária. Ele não tinha o direito de vir falar comigo depois de semanas agindo como se fosse a pessoa mais feliz do mundo, a questão é que uma hora eu explodiria se ele não falasse. A voz dele ainda estava em meus ouvidos e aqueles olhos tristes ainda faziam carinho em meu coração. E se houvesse alguma chance de eu voltar para ele, eu teria que lutar contra todas as minhas decisões. Eu sempre desisti de tudo e todos, eu sempre cansei das pessoas que me queriam bem. Talvez esse fora o maior problema que enfrentaria para o resto da minha vida, mas ele quem me fazia passar por cima disso. E eu nunca pensei que entre todas as pessoas ao meu redor, eu atingiria ele de alguma forma. De acordo com os milhares de transtornos que eu tenho em meus pensamentos, eu não me dou nada bem com a tal solidão, mas às vezes ela me fazia sentir mais viva do que os próprios amigos que eu tinha. O celular tocou me acordando de meus pensamentos, e percebi que já eram quase sete da noite. Não muito difícil de adivinhar quem me ligava.
– Já está pronta, princesa? – A voz animada de quase me deixara surda, levantei-me da cama direto para o closet afim de achar algo ao menos decente para usar.
– Ele falou comigo hoje.
– Não brinca! O que?
Vestido preto; não, muito vulgar. Calça jeans e blusa vermelha; não, é uma festa, pelo amor de Deus.
– Perguntou se eu estava bem e se eu ia à festa.
– O que você disse?
– Que sim, oras. Para as duas perguntas. Ele parecia mal.
Vestido branco com algumas flores; não, muito chá da tarde.
– Ele provavelmente está fingindo. Quem ele pensa que é?
– Machuquei ele.
Saia cintura alta rodada preta, top preto e sandália de salto. Parecia perfeito.
– Todos se machucam na vida. Não é como se você estivesse muito feliz por ter terminado.
– Ok, tudo bem. Chega. Ele não pode fazer parte de todas as nossas conversas.
– Isso que eu venho tentando te dizer há um ano. Passo pra te pegar oito horas em ponto. E é melhor você estar maravilhosa.
Assim que desligamos o celular fui tomar um banho quente, não sabia como iria sobreviver com aquela roupa no frio que estava fazendo, mas eu levaria um casaco. Talvez fosse emo demais ir toda de preto, mas não era uma roupa ruim, e destacava bem minhas curvas, já que eu não tinha um corpo tão feio por conta da academia. Aliás, com certeza me obrigaria a dançar, o que me faria suar e sentir calor.
'O peso do seu adeus me dói a alma, e dificilmente consegui a fraca absorção de todas aquelas palavras. Eu e minha mania de deteriorar tudo, não é mesmo? Minhas intenções eram as melhores, eu garanto. Mas nem sempre são as que nos fazem sentir bem. E me pergunto se ainda passo pela sua cabeça, ou se já me deletou completamente de seus pensamentos. Meu coração está enlutado, cheio de dor. E você não está aqui para tirar isso de mim. E agora eu também não sinto que preciso disso.'
chegou às oito em ponto como dizia que faria, e eu já estava embaixo do prédio esperando. Não estava tão frio como eu imaginava, e a lua iluminava o céu fazendo-me, pela primeira vez depois de duas semanas, amá-lo novamente. Meu corpo queria aquilo, eu podia sentir. Eu estava conseguindo, finalmente, ter algum sucesso nas minhas tentativas de esquecê-lo, apesar de que ao cair na cama todas as lembranças atacavam minha memória. Mas é como minha mãe sempre diz, o tempo pode não curar, mas ele te faz pelo menos parar de lembrar, alguma hora. Por mais que eu seja uma pessoa tênue, e meu coração clame por carinho e atenção, eu sabia que ficar sozinha era o que eu devia fazer. Ninguém precisa estar em um relacionamento para se sentir amada, feliz e bonita. Ele por exemplo, já estava conseguindo viver a vida sem mim. E eu tinha que conviver com isso todos os dias.
O salão estava cheio de gente, todos dançando, cantando, falando alto e com suas garrafas de bebidas na mão. Caminhei até o balcão junto a e pedi apenas um refrigerante, enquanto ela se entupia de vodka. Logo me abandonando, juntou-se a um menino que aparentava ter a mesma idade dela, um pouco mais alto e tão animado quanto. Eles dançavam e se esfregavam um no outro; e logo já estavam com suas bocas grudadas. Tomei em paz o meu refrigerante desejando que aquilo acabasse logo. Ninguém me convidaria para dançar, ninguém puxaria papo comigo. Embora tivesse passado o caminho todo elogiando a minha roupa e dizendo o quanto eu estava linda, não acreditava que algum menino ali olharia para mim. Olhei ao redor procurando alguém que eu sabia quem era, só não queria admitir para mim mesma o quão estúpida eu estava sendo. E eu o encontrei. Infelizmente o encontrei. Ele estava com um copo de bebida numa mão enquanto a outra acariciava as costas da menina a qual ele estava quase engolindo. Eles se beijavam como se necessitassem daquilo mais do que qualquer coisa. Ele a pegava e a encostava em seu corpo ferozmente como se a quisesse ali mesmo, como se não tivesse ninguém ao redor os assistindo. Meu estômago revirou e parecia que tudo que eu havia comido e bebido aquele dia ia sair pela minha boca antes que desse tempo e eu sair correndo para fora dali. Mas nada aconteceu, ao em vez disso, vomitei todas as mágoas que eu tinha pelos olhos, sem me importar se ele veria ou não. Aquilo se passou tão rapidamente, mas eu via tudo em câmera lenta. Ele disse para mim que nunca iria querer nada com aquela garota, prometera pra mim que não falava mais com ela, após um episódio vergonhoso ter se passado e ele ter admitido descaradamente que falava com ela de uma forma não amigável, muito mais que amigável na verdade. Mas perdoei, porque acreditei nele. E agora ele estava ali enfiando sua língua na boca dela. Levantei-me daquela cadeira e corri para fora daquele lugar à procura de ar. Todas aquelas pessoas estavam me sufocando, aquela música alta não me deixava pensar direito. Eu não queria pensar direito. Ele me perguntou se eu estaria na festa para ficar pegando outra na minha frente? Isso não era justo. Por mais que eu merecesse, não era justo. Sentei-me em um banco em frente ao grande salão onde todos estavam felizes e respirei fundo olhando para a lua. Após alguns minutos consegui parar de chorar e tentei reorganizar os mil pensamentos que se passavam em minha cabeça. Limpei o rosto com o meu casaco e tentei em vão tirar o borro de maquiagem de baixo dos meus olhos. E quando olhei para o lado, ele estava ali, me olhando.
– Não achei que você iria se importar. – Ele disse sentando-se ao me lado.
– Não me importo.
– Então o que foi?
Olhei para ele com uma cara que ele sabia muito que dizia "É sério mesmo?" e ele se rendeu com um pequeno sorriso.
– Me desculpa.
– Por que? Eu não tenho o direito de sentir ciúmes de você, ou brigar com você por estar perto de alguém ou beijando esse alguém. Eu que tenho que pedir desculpas.
– Eu também choraria se a visse beijando outra pessoa.
Ele segurou minha mão forte na sua e começou a passar seus dedos por ela.
– Mas a questão é que, , ficamos um ano juntos, e tudo acabou, e de repente você começou a me evitar. Eu não conseguia mais falar com você porque você sempre fugia. E... Você deve saber o quanto foi difícil pra mim ter que passar essas duas semanas tentando tirar da minha cabeça a pessoa que sempre esteve ali.
– Achei que você já tinha seguido em frente.
Ele riu debochando do que parecia mesmo ridículo de se dizer.
– Eu posso até seguir em frente, , mas não consigo parar de te amar de um dia para o outro. Você já está me esquecendo, não está? Se eu pudesse sumir para sempre eu sumiria para você conseguir isso mais rápido, só que eu não posso parar de estudar.
Ri com ele e entrelacei meus dedos nos seus, fazendo-me lembrar da sensação boa te tê-lo preso a mim.
– Não estou não.
– Podemos ser amigos? Por favor?
– Sempre seremos amigos, .
– Ok.
Então deitei minha cabeça em seu ombro e ficamos ali olhando para o nada apenas aproveitando a companhia um do outro. E naquele momento eu pude perceber que não era para ser. Entende, mesmo que nos amássemos muito, mesmo que não conseguíssemos esquecer um ao outro, mesmo que nossas mentes quisessem voltar ao passado, nossos corações queriam uma vida nova. Seguir em frente. Porque depois de um final sempre começa algo novo. E talvez quem sabe num futuro muito próximo, depois de estarmos formados, sem a escola nas costas para nos atrapalhar, quem sabe, não é mesmo? Aconteça. Porque quando alguém é importante para você, mesmo que não tenha segundas intenções no amor, ela sempre ficará no seu coração. Não importa o quanto você tente jogá-la fora da sua vida, ela fez parte de um capítulo da sua história. E toda a minha história vai ficar naqueles trilhos, naquela velha ferrovia. Perto daquele rio. E dentro daquele enorme jardim cheio de flores encantadoras. Ela vai estar lá me esperando caso eu queira voltar, assim como ele sempre vai me esperar também.
– Aliás, você está muito linda.
– Obrigada.
O tempo passa, mas tudo parece indiferente para mim, ainda sinto a falta dele. Ainda nos falamos às vezes. Mas eu estou bem, sinto-me bem. A dor com o tempo vai se amenizando, apesar de que ainda tem um enorme vazio no meu peito, porém eu sei que consigo ser forte para passar por isso. Nem tudo é para sempre. E se for para acontecer, vai. E se for para eu conhecer alguém novo e me apaixonar de novo, então eu vou. Porque nunca sabemos o dia de amanhã, o melhor é aproveitar cada momento sem deixar que a tristeza nos atrase.
cause imma go down on a railroad track, and I ain't going back, no.
Fim
Nota da autora: Essa história é baseada em fatos reais, no caso está acontecendo comigo. E término de namoro nem sempre é fácil, então resolvi escrever sobre. Porém mudei, claro, muitas coisas para que não parecesse tanto com a minha vidinha besta. Eu sei que ficou meio sem sentido, porque se não ia ficar enorme, mais do que já está, então deixei de fora várias coisas. A música não tem nada a ver também com a história mas eu quis deixá-la porque ela me inspirou. Enfim, vou entender se vocês odiarem, foi mais um desabafo do que uma história. Mas eu realmente espero que vocês tenham gostado, beijao <3