Sugestão: Coloque para tocar o rainy mood e deixe por toda a fiction. Também sugiro a música I Will Let You Go - Daniel Ahearn para acompanhar o fim da fic, mas é opcional.
Chove.
Ouço o barulho de cada gota sobre o teto. Começou devagar, poucos pingos, pouca frequência. Tive que manter meus olhos fechados para conseguir me focar no barulhinho singular das gotas d'água. À medida em que eu me concentrava nos pingos, no espaço de tempo entre eles, as batidas aceleradas de meu coração se acalmaram, equiparando-se à calmaria dessas pequenas gotas de chuva. Levanto-me, serena, ainda de olhos fechados, e abro a janela de meu quarto. Inspiro profundamente. O cheiro da chuva ajuda a acalmar a parte de mim que ainda se mantinha nervosa.
Agora a chuva é mais intensa. O espaço de tempo entre um pingo e outro é menor. Ouço um trovão, mas isso não me assusta. A chuva me faz bem. Coloco minha mão direita para fora da janela e o gelado dos pingos que caem sobre ela me estremece por um minuto, mas logo depois me acostumo àquela sensação e, de alguma forma, isso acaba por me acalmar ainda mais. Retiro minha mão e a contemplo, molhada e com o anel que ele me deu. Olhar para o anel faz a calmaria instalada em mim, assim como as batidas do meu coração, descompassar. . Eu não sei o que fazer a respeito dele. Não sei por quanto tempo olho para o anel, lembrando dos últimos meses e de tudo que aconteceu. Não percebo os minutos passando, somente sinto as lágrimas caindo por meu rosto. Eu o amo, não amo? E o correto é ficar com ele. São muita lágrimas agora, e equiparam-se às gotas de chuva caindo lá fora. Não quero chorar, não novamente, mas, a essa altura, é inevitável. Como posso esquecer tudo o que aconteceu, tudo o que ele significa na minha vida, tudo que ele me fez?
7 semanas antes
Sexta-feira, 19 horas. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios quando eu me olhei, pela última vez, no espelho de meu quarto. Eu estava pronta. Meu vestido novo era impecável, minha maquiagem estava feita, os sapatos combinavam. Toda a produção em tons de azul, a cor favorita dele. Eu me arrumava pensando somente nele, em agradá-lo. Fazia sete meses que estávamos juntos. Eu o amava e, por amá-lo, queria sempre ser o melhor para ele. Eu vivia em torno de .
Havia passado tão rápido! Parece que foi ontem que nos conhecemos na plateia daquela peça de teatro. Se eu não tivesse derrubado metade da água de minha garrafa na camisa dele, talvez nunca tivéssemos nos falado, apesar de estarmos sentados lado a lado naquela fileira F do teatro. Talvez, se eu não chegasse atrasada, entrando no teatro junto ao segundo sinal antes da peça começar, eu não tivesse corrido à procura do meu lugar e, desastrada como sempre, tropeçado em meus próprios pés e derrubado a garrafa de água que, obviamente eu havia esquecido que deveria fechar, nele. E talvez ele não sorrisse para mim, dizendo que aquilo não importava e, pegando os guardanapos que eu, desesperadamente, passava para ele, enxugasse sua camisa. Talvez ele não risse para mim enquanto algumas pessoas das fileiras de trás me mandavam ficar quieta e sentar. Talvez não soltássemos risinhos nervosos juntos. Talvez ele não me oferecesse uma carona ao sair da peça, a qual nós dois amamos. Talvez ele não me ligasse no dia seguinte, nem no próximo. Talvez ele não me pedisse em namoro durante aquele jantar no meu restaurante favorito, duas semanas depois. Talvez eu não suspirasse pelos cantos como uma adolescente em seu primeiro amor. Talvez eu não estivesse aqui agora, sorrindo feito boba ao espelho enquanto espero ouvir o som da buzina de seu carro à minha porta.
Ele chegou, finalmente, e eu desci correndo as escadas, ansiando por vê-lo logo. Dei um beijo rápido na bochecha de meu irmão e gritei um tchau apressado à minha mãe, mal ouvindo suas recomendações de juízo e pedindo que mandasse um beijo ao . Minha mãe o adorava, e era a fã número um do nosso relacionamento. Abri, saí e fechei a porta de casa num rompante, quase caindo de meu salto durante o ato. Virei-me, já colocando um sorriso em minha face e olhei para o carro, enquanto seu dono saía. Esperei por seu sorriso deslumbrado ao meu ver, o que, por mais que eu achasse que não merecia, sempre me lançava.
- Oi, meu amor. - ele disse, abrindo seu sorriso maravilhoso para mim. - Tenho uma surpresa para você. - a expressão dele era tão feliz que não pude fazer nada a não ser espelhá-la.
- Surpresa, ? - falei com a voz doce. - Que surpresa, meu amor?
Ele ajoelhou-se à minha frente. Oh, meu Deus. Oh, meu Deus. Oh, meu Deus. Senti uma lágrima querendo cair.
- , quer casar comigo?
Era o final perfeito para a nossa história.
Continuo parada à janela. Retiro o anel de meu dedo anelar e o seguro entre o polegar e o indicador. Olho fixamente para ele e o coloco de volta. Não posso fazer isso com , não posso, de jeito nenhum. Fecho novamente os olhos e, de repente, uma angústia cai sobre mim. Fico sem ar novamente. Abro a porta de meu quarto num rompante e corro escada abaixo. Saio correndo para fora de casa. O desespero me bate, eu estava me sentindo sufocada dentro do meu próprio quarto. Preciso sair. Corro na chuva, sem medo, corro pela rua. Chegando à esquina da rua de minha casa, como se fosse à minha espera, como se soubesse que eu precisava, como se sempre estivesse estado ali, vejo-o. . Aquele que sempre esteve ao meu lado. , meu melhor amigo, estava ali, parado na maior tempestade que essa cidade viu nos últimos tempos e, ao me ver, apenas abriu seus braços para que eu me aconchegasse neles. Agarrei-me a ele como se minha vida dependesse disso, e dependia. Como sempre, só de sentir seu cheiro e ouvir seu coração batendo junto do meu no nosso abraço apertado, eu me sentia bem. Muito bem. Era ele quem sempre me ajudava, era ele quem sempre estava ao meu lado. Era ele o meu porto seguro. Ficamos um bom tempo abraçados, e eu não queria soltá-lo nunca mais.
- ? - ele falou baixo, porém firme. Afastei-me um pouco dele para poder olhar em seus olhos, olhos que eu conhecia muito bem e que, agora, não estavam com o brilho usual, que me acalmava e me confortava. Eu não conseguia decifrar a expressão intrincada dele. - Alguma coisa aconteceu? - o tom de voz dele aumentou, assim como a intensidade do brilho de seus olhos .
- , eu... Eu não sei o que fazer. - num suspiro falei, abaixando os olhos e encarando meus pés, os quais eram difíceis de focalizar por conta da chuva. - Ele me pediu em casamento, . - terminei sem conseguir olhar em seus olhos. - O que eu faç...
Fui interrompida pelo toque do meu celular. Coincidente ou propositalmente, era o próprio, . Encarei a tela do celular por um momento antes de atender. Pensei em e, de repente, eu não queria atender, mas se afastou um pouquinho de mim e apontou sugestivamente de mim para o celular, que ainda tocava e vibrava. Ele tinha razão. Eu precisava atender.
- A-alô? - eu não queria, mas minha voz falhou.
- ? , sou eu, . - a voz dele era suave e doce, como sempre.
- ? Ern... Oi. - falei com a voz fraca.
- Estou na sua casa, amor. Já conversei com a sua mãe e ela, inclusive, me ofereceu cookies, os meus favoritos. Precisamos conversar, . Você ficou tão distante de mim. Estou te esperando, meu amor. - a voz dele era triste.
- Você está na porta da minha casa, ? Na chuva? - perguntei, confusa.
- Não, meu amor. Estou, na verdade, sentado no seu sofá, junto de sua mãe e dos maravilhosos cookies dela. - Minha mãe o amava, havia feito cookies para ele e eu estava aqui, quase jogando o anel fora e fugindo dele. Meu Deus.
- . Não sei onde você está, mas estou te esperando, meu amor. Por favor, me desculpa, nós prec... - E aí a ligação caiu. O sinal estava péssimo, deveria ser a chuva.
- Bom. – após uns bons minutos que eu fiquei estagnada pensando no que fazer com a minha vida, começou a falar. - Agora que você vai voltar ao , acho que é a hora de eu te dizer que eu estou indo embora em sete dias. - ele falou de uma vez, encarando-me fixamente.
- Você... o quê? Embora? Como assim embora, ? - encarei-o, surpresa. - Você vai para a casa do seu pai? Visitá-lo, isso? - eu falava rapidamente, o desespero batendo. não podia ir embora, não no sentido literal.
- Não, . Eu não vou para a casa do meu pai. - ao contrário de mim, ele parecia calmo e controlado. - Você se lembra quando eu te disse há algum tempo, acho, que minha irmã mora no Canadá. Lembra dela, a Cassie? Ela foi para lá há cinco anos.
- Lembro, eu... Eu lembro. - eu falei devagar, tentando assimilar o que ele queria dizer.
- Então... Ela já me chamou várias vezes para visitá-la e eu ainda não fui, mas agora eu vou e... Comprei passagem só de ida.
Silêncio.
Eu não conseguia falar nada.
. Indo embora. . Esperando-me em casa.
Eu não conseguia absorver aquilo.
Por um segundo, todos os momentos passados com ao longo da minha vida – o que significa praticamente ela toda - vieram à minha mente. Ele não poderia ir embora, de jeito nenhum.
E logo depois todo o meu relacionamento com também voltou à minha mente. Como eu poderia acabar com aquilo?
Como eu ficaria sem meu melhor amigo? Eu... eu o amava e precisava dele. Muito.
E como ficaria sem ? Ele me dava segurança, ele me amava e fazia tudo por mim.
Minha cabeça girava. Eu ainda estava de costas para , então não sabia qual era sua expressão. Fechei meus olhos, concentrando-me nos pingos de chuva que, pouco tempo atrás, haviam funcionado muito bem na tarefa de me acalmar. Tentei ficar mais relaxada, mas não conseguia. Eu ouvia a respiração de atrás de mim. Como eu poderia deixá-lo ir embora? Eu precisava escolher o que fazer.
Abri os olhos e virei-me para ele. Vi-o ali, parado, na chuva, tremendo, por mim. Sofrendo. Eu estava o fazendo sofrer, e não sabia como parar com essa dor.
Tudo de que eu tinha consciência nesse momento eram os olhos acalentadores dele me olhando, as batidas aceleradas de meu coração e a decisão que eu estava tomando.
Como se estivesse ouvindo meus pensamentos, ele falou:
- Não vou mais esperar por aqui. Eu só queria vir te avisar que estou indo viajar pro caso de você sentir sauda... Pro caso de você querer saber. - eu ouvia o sofrimento em sua voz, espelho do meu sofrimento interior. - Então, , ade...
N/A: Se quiser, dê o play na música agora.
- Não. Não, não, não. Você não pode me deixar, , como eu vou ficar sem você? - eu estava, definitivamente, desesperada. Todo meu corpo tremia, em parte pelo frio cortante e pela chuva ininterrupta, em parte por ele estar indo embora.
- Como você vai ficar? - os lábios dele tremiam de leve, mas seus olhos estavam decididos. me encarava sem pestanejar. - Muito bem, . está te esperando com todo o amor, cookies e conta bancária, ele vai te abraçar e te esquentar, vai te comprar roupas novas, talvez uma casa nova. Sua mãe vai desfalecer em elogios e vai abençoar o casamento de vocês, você vai ficar feliz, não tem como não ficar.
- Eu preciso de você. - sussurrei baixinho, aproximando-me ainda mais dele.
Eu já estava entorpecida pelo frio, minhas roupas encharcadas e pesadas pela chuva, mas meu coração acelerou e um arrepio aferventou meu sangue por um momento ao olhar dentro de seus olhos . Eu não poderia deixá-lo, não agora.
- , não... - ele tentou me refrear, mas a minha necessidade era maior, e eu tinha certeza de que a dele era tão gritante quanto a minha.
Eu precisava de e ele de mim, pelo menos nesse momento, pelo menos dessa vez. Ainda que eu fosse voltar para casa e seguir meu destino. Ainda que eu voltasse para e comesse alguns cookies, abraçasse-o e ficasse completamente feliz, porque isso seria o mais correto. Eu voltaria para casa e o aceitaria de volta, pois ele me amava e iria nos ajudar. Melhoraríamos de casa e de vida, meu irmão teria um emprego na empresa do pai de . Futuramente, eu seria uma boa esposa, cuidaria dos filhos... Eu precisava fazer o que era correto.
Ainda que meu coração viajasse junto com para o Canadá.
Aproximei meus lábios dos dele, dormentes e frios como os meus, mas assim, próximos, com ar gelado saindo e se misturando, nosso hálito se combinava e gerava espasmos que percorriam nossos corpos e nos davam a certeza do quão certo e único era essa momento.
Cada singular gota da chuva é perceptível por nossos corpos sensíveis a todos os sentimentos que giram em torno de nós. O arrepio do nosso contato é ampliado pela água gelada caindo com mais força sobre nós. Nossos lábios se aproximam ainda mais, magneticamente e, de repente, não há mais nada em minha mente a não ser , seus olhos e as sensações que ele me provoca. Nosso beijo é intenso, apaixonado, sofrido e ansiado. Sentimo-nos bem, nós queremos estar juntos, precisamos estar juntos. Nosso beijo é desesperado, necessitado. É como se fôssemos ficar impossibilitados de ter qualquer tipo de contato em alguns minutos e precisássemos ficar o mais próximo possível e o mais intensamente juntos agora. O que não é mentira. Somente agora. O agora é tudo que importa, é tudo que temos, tudo que nos resta. Desesperadamente, nos amamos. A chuva, como se ainda fosse possível, aumenta e continua caindo sobre nós, lavando nossas almas de qualquer resquício de culpa e nos deixando viver esse momento.
Tão repentino quanto começou, nosso beijo se partiu. Nossas respirações estavam falhas e as tentativas de palavras eram desconexas. Eu sabia que estava sendo injusta com ele e comigo mesma, uma vez que dali a pouco eu voltaria para casa e o deixaria ir embora. Mas eu, simplesmente, precisava daquele momento, daquele único momento.
A nossa ligação era mesmo forte, porque palavras não foram necessárias para que ele compreendesse.
The smile you make
O sorriso que você dá Saying yes, meaning no
Dizendo sim, querendo dizer não Is so grey, so faint
É tão cinza, tão fraco The words stray in your mouth
As palavras se perdem na sua boca With an ache
Com dor
- Eu vou sentir sua falta a cada momento. Cada segundo, cada batida do coração. Vai doer insuportavelmente, mas eu preciso fazer isso. está lá me esperando, minha mãe conta com isso, não posso decepcioná-los. Me desculpe por estar sendo tão egoísta e te fazendo sofrer ainda mais, mas eu estou pensando na minha família. - falei de uma vez, antes que o ar me faltasse e as palavras fugissem. Eu sentia as lágrimas começando a cair, mas não me importava. Em algum momento durante a chuva, o torpor que havia deixado meus lábios dormentes espalhara-se por todo meu corpo, especialmente meu coração. Afastei-me lentamente de , mantendo apenas meus olhos presos aos dele.
Eu não suportaria dizer as palavras que marcariam e definiriam o adeus. Vi minha própria dor nos olhos dele ao passo em que eu me afastava. Um raio cruzou o céu, iluminando-nos por um momento. A minha distância dele já era considerável, mas forcei meus lábios a formarem palavras sussurradas, esperando que ele as compreendesse e sentisse, as quais eu pronunciaria pela primeira e última vez.
Eu te amo, .
Virei-me de costas a ele, apressando meus passos e quase caindo ao tropeçar numa poça que havia se formado. Agora eu corria, corria de encontro ao meu destino, deixando meu coração para trás.
And I will let you go...
E eu vou te deixar ir...
Fim.
Nota da Autora: Hm, oi! Espero que não estejam decepcionadas com a minha fic, porque eu até que gosto dela, apesar de achá-la meio nonsense. Enfim. Quero agradecer à chuva por chover e sempre me inspirar <3. E ao Rainy Mood por ser meu amigo de todas as horas e continuar me inspirando quando a chuva parava de chover. Agradecer à Nanda linda que fez essa capa perfeita, ao We Heart e ao nosso especial porque foi daí que Raining saiu. E um beijo especial à Vic, porque foi a lindeza master dela que fez Raining vir pro FFOBS <3
Espero que tenham gostado! Digam as opiniões, ok?
xx Bia
Nota da Beta:¹ É a segunda (ou seria terceira?) vez que eu leio, mas, ainda sim, consigo sentir a mesma emoção quando li pela primeira vez. Eu não canso de falar que preferia ter ficado com o melhor amigo, mesmo os cookies me consolando, mas a vida não é tão fácil, nem nas fictions. D: Essa foi a short mais linda que eu já li e eu não me canso, outra vez, de dizer isso. Eu não me surpreenderia se fosse short do mês! Parabéns, Bia Stark. Aguardo, ansiosamente, por Raining 2 no meu e-mail. :3
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