Autora: RaphaellaR. | Beta: xGabs Andriani



Meus pés não conseguiam acompanhar os passos dos dois homens que seguravam meus braços com força e me guiavam para algum lugar, no qual não tinha a menor ideia de onde era, pois minha cabeça estava coberta por um saco de malha grossa. Esses sujeitos fediam a suor e isso logo me indicava que o mandante do meu rapto era alguém, digamos, da pesada. Talvez um mercenário, ou até mesmo alguém da polícia que quisesse manter a descrição, usando pessoas de baixo calão. Não faço a mínima do que queriam comigo. Até onde me lembrava, há alguns meses atrás, acordei em um hospital com 90% da minha memória perdida. O barulho de um arranhar no piso de cimento, me mostrou que acabávamos de atravessar por uma grande porta de ferro maciço. Fui colocada sentada em uma cadeira de armação de aço e a mesma era presa ao chão por parafusos grosso. Pude sentir isso quando o solado de minha bota se passou sobre eles. Minhas mãos e pernas foram amarradas e o saco foi tirado de minha cabeça com brutalidade, dando lugar a uma faixa de couro, que prendeu minha testa contra o encosto, me impossibilitando de olhar para qualquer lado, a não ser para frente, onde tinha uma longa mesa de madeira. Um lustre em forma de cone vinha por cima do centro da mesa, apenas a iluminando e, mais uma vez, se tornando impossível de ver algo além naquele ambiente. Varias pastas foram jogadas diante de mim e depois alguns arquivos e fichas foram retirados de dentro delas conforme eu ia vendo as informações que me eram mostradas: fotos, papéis e documentos. Senti minha cabeça latejar, jorrando memórias esquecidas. Por mais incrível que pareça, permaneci calma. Então fechei os olhos e comecei a bater meu pé direito no chão em um ritmo lento, com pause de um segundo. Todo estava em silêncio e o cara que jogava as evidências sobre as outras, parou. Ele deveria estar me observando, assim como o resto. O som se propagava pelo lugar, em um baque seco.
– Pare com isso! – berrou alguém, mas não lhe dei ouvidos. – Abra os malditos olhos e comece a dizer onde escondeu as informações! – um sorriso se formou em meus lábios. – Nós temos ordens para fazermos o que for preciso para que você nos diga o que queremos.
– Infelizmente não posso lhe ajudar, perdi a memória em um acidente. Você sabe disso, está escrito em seus papéis. – voltei a abrir os olhos. – Não posso fazer nada em relação a isso.
O que ele estava querendo era um microchip, no qual guardava um segredo que era capaz de destruir o estado e, quem sabe talvez, até começar uma grande guerra entre as potências mundiais. Estava começando a me lembrar de algumas coisas, e uma delas era que me chamava , trabalhava para a CIA e há cerca de um ano estava infiltrada em uma missão de alto risco. Se alguém descobrisse sobre minha existência, certamente seria morta. Foi aí que encontrei uma maleta que mantinha o chip em segurança. Consegui quebrar sua codificação e por fim revelar o que era de tão precioso para ser tão bem guardado. Era preciso contar isso a alguém, pois quando dessem falta que o microchip teria sumido, certamente viriam atrás de mim. Então, falei tudo o que tinha descoberto para . Ele não era confiável, na verdade era um falsificador de todo ou qualquer tipo de documento, mas eu confiava nele piedosamente, éramos amantes. Com medo que pudessem achar o chip em qualquer lugar que fosse escondido, decidi levá-lo comigo para onde fosse, o implantando em meu pescoço, bem atrás de minha orelha. E foi aí que tudo deu errado. O que era para ser simples se tornou um tanto quanto complicado. A anestesia que tomei, deu algum tipo de reação em meu corpo, ocasionando minha perda de memória. Não sei bem se esse foi mesmo o motivo para que isso tivesse acontecido, ou se eu tinha pedido ao médico para que isso fosse feito. Ainda não conseguia me lembrar dessa parte. Não sei bem, mas a cada vez que olhava para aquelas fotos e documentos que estavam sobre a mesa, algo novo surgia em minha mente e tudo começava a se encaixar. A circunstância atual é: tinha que sair dali, exatamente naquele momento!
– Acha que somos idiotas? – perguntou o homem se aproximando e colocando suas mãos sobre meus braços amarrados sobre os da cadeira. – Onde estão as informações? – seus olhos estavam estreitados e o bafo de cigarro dele me deixava enjoada.
– Cara, é serio, não sei de nada. – prendi minha respiração para não sentir aquele odor horrível que o homem exalava e depois fechei os olhos.
Me concentrei em tudo ao meu redor, pude ouvir três tipos de respirações diferentes e ao escutar o eco que a sola de minha bota fazia ao bater no chão, podia calcular que aquele lugar não tinha mais de 2m². A perna direita da cadeira estava frouxa, se usasse um pouco de força nela, certamente iria se soltar. Meu tronco não foi preso, isso facilitaria minha soltura, agora o mais complicado seria conseguir soltar meus braços, eles tinham sido bem presos, e sem eles, não conseguiria pegar o canivete que estava dentro de minha bota. Teria que improvisar.
– Não sinto a circulação em minhas mãos, alguém poderia afrouxar um pouco? – pedi as abrindo e fechando constantemente.
Não tive resposta, mas alguém veio e fez o que pedi. No exato momento em que senti folga na corda, puxei meu braço e dei uma cotovelada no rosto do sujeito que me soltara. Puxei minha perna direita, dando um solavanco forte na cadeira, mas ela permaneceu onde estava e com isso não só o lado direito se soltou do chão, mas também o esquerdo. Tirei a faixa de couro de minha cabeça e me abaixei pegando o canivete em minha bota, já soltando uma de minhas pernas. Chutei a mesa, que virou, e depois soltei meu outro braço. Levantei para ter como me movimentar melhor. Um homem veio para cima, joguei o canivete para o ar e o peguei em outra posição, na qual não permitiria que eu mesma me cortasse com ele em qualquer jeito que fosse. Sua lâmina cortou a carótida do cara que iria me atacar, fiz isso de forma rápida e inesperada. Me abaixando no exato momento em que ele iria me socar e ao levantar, cruzei com canivete em seu pescoço, fazendo seu sangue jorrar em meu rosto. Ele colocou a mão no corte, mas o líquido escorria por entre seus dedos, então deu alguns passos para trás e se encostou na parede escorando nela até atingir o chão. Alguém me deu uma chave de pescoço, me sufocando, enquanto o outro cara que quebrei o nariz, já se punha de pé e vinha em nossa direção. Com minha única perna solta, esperei que ele se aproximasse o suficiente e então chutei seu joelho, o fazendo cair. Meu canivete ainda se encontrava em minha mão e o ar já começava a me faltar. Com agilidade, cravei ele no braço do homem, o rasgando. Consegui soltar minha outra perna e a única coisa que fiz, foi sair correndo até a grande porta de ferro. Ela realmente era bem pesada, mas consegui abri-la o suficiente para que meu corpo passasse. Me deparei em um corredor extenso e suas paredes estavam coberta por plástico fosco, algumas lâmpadas fluorescentes piscavam e outras estava queimadas, atrapalhando um pouco minha visão. As informações em minha mente estavam em completa desordem, mas nem por um segundo parei para tentar pensar com clareza, apenas tinha que sair daquele lugar, que era um verdadeiro labirinto. Não sabia por quanto tempo entrei e passei por corredores intermináveis, mas por fim, consegui chegar em algum lugar. Um metrô desativado. Subi as escadas que daria para fora dele, mas a grade estava trancada com uma corrente e cadeados pelo lado de fora. Tentei arrombar, só que foi em vão. A única coisa que fez foi barulho, denunciando onde me encontrar. Escutei passos, fiquei quieta, talvez não me achassem. Tarde demais. No fim da escada o homem já me apontava uma arma e seu braço escorria sangue, que estava pingando no chão.
– Acho que não é tão esperta assim. – disse ele começando a subir os degraus. – É uma pena não poder mesmo te matar, adoraria fazer isso e da forma mais dolorosa possível. – destravou sua pistola. – Mas não tem problema algum em te machucar. – levantei os braços em forma de rendida.
– O que pretende fazer? – quis saber e tive minha resposta logo em seguida. O barulho do disparo foi ensurdecedor.
Me joguei escada a baixo levanto o homem comigo. O tiro tinha pegado de raspão em meu ombro e aquilo estava queimando. Quando chegamos ao final, fiquei imóvel, afinal, não tinha graça alguma bater em saco morto. Senti sendo puxada pelos cabelos, levantando meu rosto e depois fui solta. Assim que meu corpo foi virado para ser tirado do chão, abri os olhos, administrando como estava a real situação. O que estava em meu alcance era socar as bolas do cara e correr até o extintor de incêndio que estava pendurado na parede a cerca de três metros de nós. Foi exatamente o que fiz. Peguei o grande objeto vermelho e sem hesitar, apertei o gatilho, fazendo aquele gás branco deixar o sujeito confuso ou, pelo menos, esse era o propósito, no qual não deu muito certo, já que ele se levantou e começou a atirar. Não fui acertada, mas o pobre extintor não teve a mesma sorte. Cheguei perto o suficiente para acertar a cabeça dele com o objeto em minha mão e usei toda a minha força para jogá-lo no chão. Continuei batendo nele até que escutei o trincar de ossos, só ai que parei. Estava ofegante, então me joguei de joelhos no chão e comecei a procurar a arma do homem, não estava com ele, apenas encontrei um pente cheio. Olhei ao redor e a localizei a alguns metros de nós, ela deve ter caído quando eu o acertei. Fui até ela e a peguei, estava completamente descarregada, mas isso não era problema. A carreguei com o pente novo que achei. Voltei até as escadas e dei um tiro na corrente, e depois nos cadeados, conseguindo finalmente abrir aquela maldita grade. Guardei a pistola no cós de minha calça e a cobri com minha camisa. Quando cheguei ao lado de fora, o dia estava claro e se qualquer pessoa me visse no estado que me encontrava, no mínimo surtaria. Tinha que me limpar e ligar para , o número dele era o único que aparecia em minha memória. Quanto tempo será que eu havia sumido? Avistei uma cabine telefônica do outro lado da rua, a atravessei correndo e entrei nela, fechando a porta logo em seguida. Não tinha moedas, teria que ser uma ligação a cobrar, tomara que ele atendesse. Disquei os números rapidamente, e assim quando ele atendeu, desligou. Porcaria, tentei mais algumas vezes, até que ele decidiu aceitar a ligação.
– Nossa, finalmente! – falei rindo. – Pensei que por fim tiraria o telefone do gancho e não atenderia mais.
? – indagou um pouco confuso. – Pensei que estivesse morta! – em sua voz tinha alegria.
– Ainda não. – brinquei. – Preciso da sua ajuda. – encostei na parede de vidro da cabine suja.
– O que foi dessa vez? Precisa de documentos e passaporte falsos? – sugeriu dando uma risada. – Ou precisa de outros serviços meus?
– Cale a boca. – sorri quando certas lembranças, que para mim eram novas, apareceram em minha cabeça. – Preciso que me busque.
– Essa é nova. Te buscar aonde? – lhe passei o endereço de onde estava. – Sério? Isso fica do outro lado do país, vou demorar no mínimo dois dias para chagar aí! – começou a reclamar sobre várias coisas que não se relacionavam a nada com o que eu tinha lhe pedido.
! – o interrompi. – Só dessa vez, juro que depois disso você nunca mais vai me ver. – soltei o ar com pesar, não queria ficar longe dele.
– Olha, não tem como ir te buscar, mas posso te mandar dinheiro para vir para cá. – sugeriu, e essa era a única maneira que me restava, eu acho.
– E como vai me mandar esse dinheiro? Não posso fazer transição alguma com minhas contas e também, nem lembro a senha delas, e muito menos tenho o cartão, – olhei para o lado de fora vendo se alguém suspeito estava por perto. – e mesmo se tivesse, não teria razão para que eu estivesse te pedindo para vir me buscar.
– Então, não sei o que posso fazer por você. – aquilo me deixou irritada, pois que se fosse ao contrário, eu sem dúvidas, daria um jeito de ajudá-lo. – Desculpe. – não ousei responder, meus dedos puxaram o gancho do telefone, encerrando a ligação.
Saí da cabine e olhei o céu limpo, onde o sol radiava. Aquela rua era deserta. Tinha que arranjar alguma maneira. Estava perdida, sem um lugar para onde ir, guardando um segredo maior do que eu mesma. E se estavam atrás de mim, queria dizer que tinham algumas pessoas desesperadas e com medo que o sistema do país fosse destruído, tinham pessoas começando a cair, ou também pessoas com medo que as informações caissem em mãos erradas. E agora, não sabia mais no que acreditar, para onde seguir, a quem recorrer, mas tinha que continuar lutando e descobrir se era certo ou não levar tudo o que sabia a público. Pois a partir do momento em que eu abrisse minha boca, não iria ter mais volta. Minha existência era apenas a ponta de um iceberg gigantesco, eu era o começo de um fio de informações sem fim, que quem sabe, poderia erradicar até mesmo a raça humana. Me pergunto o porquê logo eu fui descobrir tal coisa. Por quê? Era muita responsabilidade e mesmo que devolvesse o microchip, seria morta no mesmo instante. Será que valia a pena? Devia ser por isso que minha memória foi apagada, devia ter pedido para que isso acontecesse. Tinha que apagá-la novamente e sair do país. Vi um carro estacionado rente ao meu fio, bem perto dali onde estava. Fui até ele e quebrei seu vidro, com a ajuda de uma pedra. Me sentei no banco do motorista e fiz ligação direta, fazendo o veículo ligar. Meu braço sangrava e ardia bastante. Dirigi até em casa e assim quando entrei, dei de cara com todo o lugar revirado. Não me importei com isso. Caminhei apressada até meu quarto, pegando a mala de viagem e jogando tudo o que consegui dentro dela. Depois me limpei, fiz um curativo em meu braço e troquei aquelas roupas imundas. Coloquei dentro de uma bolsa todos os documentos que iria precisar e todo o dinheiro que tinha escondido e agora lembrava onde. Joguei tudo dentro de meu carro, que estava intacto na garagem e liguei para o médico, apenas lhe informando que iria a seu consultório e precisava novamente de seu trabalho. Que era apagar todas as minhas lembranças.

The End



N/A: O que dizer sobre essa short? Para começar a escrevi para um concurso com o limite de 15 mil caracteres e como sou compulsiva em escrever, tive que me apertar dentro desse limite, quase mordendo meus dedos para eles se controlarem. Só que, a Jones aqui, só foi ler o regulamento depois de ter escrito e adivinhem só? Não podia ter violência. Irônico, não? Aí pensei, o que vou fazer com essa estória? Bem, vou postar para as meninas, quem sabe elas gostem. Tive como inspiração e base à música do Adam Lambert, aquele lindo de voz maravilhosa, Broken English. E bem, com “remember.” pensei em até escrever uma long com um romance policial, serial killer e tals, mas não sei se seria mesmo capaz disso e também, não faço ideia se vocês iriam gostar desse estilo, já que é completamente diferente dos que já escrevi, sem adolescentes apaixonadas e amores anônimos. Então é isso aí. Deixo apenas uma palhinha do que quem sabe um dia pode virar algo maior, mas não realmente a continuação dessa fic, já que ela se tornaria um ciclo vicioso, com a principal sempre apagando suas lembranças para não ter que carregar tal fardo. Agradeço a xGabs por ter se disponibilizado a betar, obrigada gata. Beijinhos e até a próxima.

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