Autora: Hannah Cancio | Beta: xGabs Andriani




Despertei em minha cama sozinha na manhã daquele dia, os lençóis cobrindo apenas parte do meu corpo, todo o resto estava nú e quente, afinal era um dia de sol e sempre que isso acontecia na minha cidade, o calor chegava a ser insuportável, mas depois de tanto tempo de chuva ninguém por ali poderia reclamar.
Fiquei um tempo de preguiça na cama até acordar de verdade.
Aconcheguei-me em um roupão felpudo e saí pelo quarto procurando uma roupa para me trocar, porque mesmo que eu gostasse a sensação do roupão, preferia ficar com algo mais fresco e de qualquer forma eu não poderia ficar daquele jeito meio indescente, principalmente hoje que eu sabia que os novos vizinhos chegariam para a mudança e muito provavelmente me veriam da janela ao lado, porque a minha própria estava praticamente escancarada.
Então me arrumei o mais rápido possível e fui até a janela, os olhos um poucos sensíveis pelos raios de sol para fechá-la.
Olhei para baixo espionando os novos vizinhos.
Reparei no caminhão de mudança, mas nada além disso. Parecia que já estavam todos acomodados ou pelo menos dando uma vistoria melhor a casa.
Não foi nenhuma surpresa ouvir o arrastar da madeira de uma janela sendo aberta, a janela em frente a minha, a surpresa foi completamente diferente dessa. Também não posso dizer que foi uma surpresa muito agradável.
Não consigo acreditar que de mais de 7 milhões de pessoas no mundo, justo ele foi aparecer na minha vida daquele jeito... do outro lado da janela do meu quarto, me encarando tão espantado e incrédulo quanto eu o encarava. Era realmente ele. Com as sobrancelhas grossas, os cabelos rebeldes como se um vento veloz tivesse passado entre sua maciez, as maçãs do rosto altas e coradas e os olhos aos quais eu amava me perder. O amor que arruinou minha vida.
Meu coração bateu fora do compasso, como se eu tivesse engolindo um sapo, ou qualquer outro ser coaxante, dando um pulo tão doloroso que cheguei a fazer uma careta de desconforto. E então, o vazio apenas me preenchia ou talvez todas as memórias que há tempos não paravam mais de me atormentar, memórias essas que eu dividia com ele. Afinal, não existia ninguém mais que ocupasse tanto minha mente quanto o rapaz em minha frente, que agora passava as mãos no cabelo em um gesto nervoso, como é típico dos garotos.
, o rapaz que ocupara a maior parte da minha adolescência era agora o meu vizinho, o que faria tudo voltar a tona. Só esperava que o mesmo não tentasse me fazer uma visita depois de me ver ali, ou tentasse fazer qualquer outro tipo de coisa.
Girei o pequeno anel de ouro que se encontrava na minha corrente,os olhos angustiados percorrendo todo o rosto do meu vizinho que, assim como antes, parecia fazer o mesmo comigo, como se estivesse em um daqueles jogos bobos das aulas de artes que temos que copiar os movimentos do parceiro a sua frente. A única diferença de para mim, era que o seu olhar em vez de carregar angústia, carregava um brilho ao qual eu não conseguia identificar. Era como... saudade.
Dei uma última vislumbrada em todo o seu esplendor e resmunguei baixinho com a falta que sentia de todas aqueles coisas boas que havia me proporcionado, do modo como me deitava em seus braços no tapete felpudo da sala de estar, de como sua risada ficava tão próxima de mim que chegava a estremecer meu corpo gerando um prazer tão intenso quanto aquele ao qual acontecia quando nos uniamos em um só. E agora só tinha o vazio, nada além de imagens, nada além de lembranças que por mais felizes que fossem só me faziam chorar. Principalmente a mais dolorosa de todas elas, a que me vinha constantemente sem me deixar respirar tranquila.

"Estava quente naquela quarta-feira de dezembro,tão quente que por toda a casa, ventiladores e arcondicionados estavam ligados sem um minuto de pausa desde o amanhecer. Estava tão quente que era quase insuportável ter que usar roupas, tanto que andava por aí com suas vestes de banho...mas afinal, isso não era um problema já que estava sozinha em casa. Seu namorado havia acabado de ligar dizendo que não poderia lhe fazer uma visita essa tarde, pois estava ocupado demais com o trabalho e provavelmente teria de ficar até muito tarde na empresa cuidando dos negócios. Ela tinha vergonha de lhe dizer que aquela já era a décima vez que ele desmarcava algo com a garota com a mesma desculpa.
Sentou-se no chão da sala com o seu cachorro no colo e ficou observando o modo como o ventilador ia calmamente para lá e para cá jogando seu vento pela sala e em como tudo na sua vida estava começando a correr tão depressa, diferente do objeto de análise.
Ela tivera de largar a faculdade e seu namorado vivia visitando o apartamento dela, ajudando com tudo que estava ao alcance dele, menos lhe dando tempo para respirar ou tempo para apenas ficar com ele de bobeira na cama com o lençol embolado em suas pernas entrelaçadas. Ele vivia no trabalho e ela estava tão estressada com tudo, tão cansada de tudo.
Com um suspiro pesado e carregado de angústia, ela se levantou dando um susto no cachorro e caminhou até o banheiro para olhar seu reflexo inchado, o reflexo de seu corpo inteiro. A barriga já era evidente, mas não ao ponto dela parecer uma melância como ás vezes lhe contava que um dia seria, o que era bom, já que queria escondê-la por trás de uma blusa larga qualquer em meio a zona do seu quarda roupa. Nem que fosse de , nem que ela parecesse uma mendiga, mas aos 16 anos, tentava so máximo evitar todos aqueles olhares de repulsa sobre si e o seu bebê.
Ela mesmo que jovem não tinha vergonha da verdade, porque de qualquer modo fora uma gravidez planejada e ela não poderia sentir mais orgulho do serzinho que crescia saudável dentro de si. definitivamente já o amava mais do que a si mesma e sabia que faria de tudo para o bem da criança.
Colocou um shorts por baixo da regata branca de seu namorado e tomando todo os cuidados possíveis saiu de casa atrás do mesmo, tentando fazer uma surpresa para o rapaz, principalmente porque se faziam meses que não sabiam o que era diversão. Chegou finalmente a empresa e encontrou lá o porteiro Zacarias que lhe deu passagem para o local onde ficava o escritório de . Ele a deixou com um sorriso forçado e um aceno simpático como se dissesse que qualquer problema ela poderia chamá-lo.
A garota não estranhou as luzes apagadas porque muito possivelmente era o último a sair, tendo todos os outros funcionários cumprido sua carga de trabalho daquele dia, então foi se guiando cegamente pela escuridão até encontrar a sala onde deveria estar o namorado, com a porta entreaberta e a luz lá de dentro rasgando a negritude do resto do ambiente.
E então ela viu, viu o que preferia nunca ter visto, porque doía tanto quanto ser atropelado por um trem, doía tanto quanto ser marcado a ferro quente ou qualquer coisa tão trágica como essas. sentiu aquele vazio horrível que ficaria ali com ela como um velho amigo, era como se a mesma tivesse acabado de receber o beijo de um dementador, algo capaz de sugar toda sua alma, toda vida que havia dentro de si, restando apenas aquele corpo cheio de fios que lhe davam somente forças para correr o mais rápido que conseguia. Mas talvez não rápido o suficiente para que ele, o traidor, abrisse os olhos arregalados de prazer por trás de toda aquela pele nua que cobria praticamente todo o seu rosto,a pele de uma mulher nua e a descobrisse ali, tão atordoada quanto qualquer pessoa na sua situação poderia estar.
Só então ela conseguiu dar algumas passadas trôpegas para logo depois correr, passando veloz por entre as paredes do labirinto que era aquela maldita empresa e nada mais passava por sua mente a não ser o fato de que precisava sair dali apenas por fugir de todo o sofrimento, apenas por correr.
Foi então que a pior coisa que poderia ter acontecido depois de ter pego , o amor de sua vida, transando com outra: ela tropeçou pela escadaria de mármore que a levaria até os portões onde Zacarias a observava já conformado, provavelmente confidente de seu namorado, fazendo a rolar escada a baixo para o que antes imaginava ser a representação de sua liberdade.
Não se sabe ao certo por quanto tempo ela rolou pelo piso frio e duro, porque em sua percepção foram incontáveis minutos, tão longos quanto o tempo em que ficava presa dentro de uma sala de aula com seu ex professor de química quando menor (aula que mais odiava, mais até mesmo que a tão temível matemática). Mas para todos os outros ao seu redor, foi tão rápido que não seriam capaz de impedir aquele desastre.
veio algum tempo depois, as roupas amarrotadas, o cabelo mais bagunçado que o normal e o rosto vermelho e suado. Foi só nesse momento que ele a viu perto dos pés do porteiro, inconsciente e com algo vermelho ao seu redor, o que só depois de clarear sua mente confusa ele percebeu que era sangue, tão vívido e brilhante, tão chocante e horripilante.
A mulher com a qual ele estava veio logo depois, com seu vestido tão desarrumado quanto as roupas de seu amante e soltou um soluço assustado assim que encontrou aquela cena. Já preparada, ela sacou seu celular e discou o número da emergência. Quase gritando ela pedia que viessem o mais rápido possível, pois havia uma moça grávida caída com muito sangue ao seu redor.
O porteiro afastou o namorado da jovem quando esse tentou se aproximar para chorar em cima do corpo da mesma, porque com o pouco que aprendera dos seriados de medicina que assistia durante seu trabalho, nunca deveria mexer em um corpo inconsciente, pois a ação poderia causar ainda mais estrago a ele. E definitivamente, nenhum dos três ali queria nada a mais do que já havia ocorrido.
Eles esperaram impacientes pela ambulância, chorava silenciosamente, a garota loira que ligara para os paramédicos estava sentada no primeiro degrau do topo da escada sem tirar os olhos de . Zacarias fazia de tudo para conter que ainda tentava se aproximar da garota ao qual traíra sem pensar nas consequências, afinal esse era o seu pior defeito e aquele que a namorada mais odiava.
Logo mais a sirene foi ouvida e uma maca já levantava o corpo da grávida em direção a ambulância para então chegar ao hospital, tudo isso com ao seu lado, que agora segurava sua mão escorregadia pelo sangue contido ali. O estômago do rapaz embrulhava só de pensar, só de imaginar como tinha definitivamente estragado tudo daquela vez. Ele nunca se perdoaria por isso e tinha certeza que pensava o mesmo que ele."
Depois de um tempo, luzes apareceram na visão embaçada da garota e com um leve movimento de cabeça, todo seu corpo doeu, parecendo estar sendo moído com um daquela martelos para moer carne. Seu cérebro pareceu prestes a explodir e espalhar todos seus miolos pela sala incrivelmente branca e todas as lembranças de momentos antes dela apagar lhe vieram tão forte quanto a dor de cabeça, fazendo-a se lembrar do tombo, da escadaria, da dor, do vazio e do escuro.
Seu coração começou a bater mais rápido e mais assustando quando notou as consequências que aquilo poderia trazer a toda a sua vida.
Um médico muito bonito entrou no quarto ao lado de uma enfermeira baixinha e gorducha de cabelos ruivos.
A mulher sorriu com afeição para a jovem que não conseguir lhe oferecer o mesmo pela dor que sentia com o pequeno gesto. Assim a menina simplesmente levantou os olhos até o médico, um rapaz alto de com olhar sério por trás de um óculos de grau.
Ela deu uma tossida para chamar sua atenção, esperando as notícias. E foi o que ele fez com a voz calma.
- Você deve se lembrar que caiu de uma escada e com isso acabou adquirindo algumas lesões e...
- Desculpa, mas eu só quero saber que o meu bebê está bem. - o interrompeu com a voz angustiada.
- Nós tivemos que fazer uma cesária de emergência... - Dr. , como estava escrito em seu crachá, pausou com um suspirou e fechou os olhos para continuar. - Mas, infelizmente, era um feto muito jovem, estava pouco desenvolvido e agora com alguns traumas pela sua queda... não conseguimos salvá-lo, eu sinto muito.
O doutor me encarou com tristeza, como se estivesse realmente arrependido de não ter feito mais pelo filho daquela bela jovem .E de fato estava, ele queria ter feito, precisava ter feito mais, porém não conseguira e agora tinha de dar a sua paciente uma notícia tão desastrosa quanto aquela. Só pelos olhos dela, ele compreendia todos os sentimentos horríveis que passavam por dentro da mesma.
- Você pode sair daqui assim que fizer todos os exames e receber alta, mas ainda tem, é claro, um tempo em que ficará por aqui e durante isso pode receber visitas. - o doutor comentou já não olhando-a mais, com vergonha demais para fazer isso. -Eu sinto muito... - sussurrou um pouco depois para a parede e saiu do quarto atordoado.
- A senhorita quer que eu chame seu namorado? Ele não está no hospital, mas eu parderia ligar para ele se você quisesse. Você quer, querida? - perguntou-lhe a enfermeira assim que Dr. saiu daquele ambiente.
Foi neste momento que percebeu que ele nem ao menos se importara o sufuciente para estar lá quando ela acordasse, para lhe confortar sobre a morte do filho dos dois e que mesmo que os dois soubessem que não o escutaria, ele nem ao mesmo se dignou a implorar desculpas pelas coisas desastrosas que fez, coisas imperdoáveis.
- Sim, por favor. Chame a minha mãe, eu preciso muito falar com ela, mas não deixe entrar, eu não quero ele aqui dentro. Nunca ele. - respondeu simplesmente, a careta de desagrado ainda em seu rosto, tanto pelo movimento quanto pelo o que havia lhe acontecido.
A senhora concordou com um aceno compreensivo, aconchegou o traveseiro de e saiu dali, deixando a garota sozinha, completamente sozinha agora. Sem seu bebê, seu anjo, aquilo que ela mais amava no mundo e faria de tudo para manter a salvo, aquele quem ela não pudera salvar de seu pai e de si mesma.
Foi naquele quarto que ela jurou nunca perdoar por todo o mal que ele a havia lhe causado em tão pouco tempo. De qualquer forma, ela sabia que mesmo que quisesse, não conseguiria perdoá-lo por aquilo. E esperava que ele também soubesse e não insistisse em algo que já estava enterrado a sete palmos abaixo dos confins do mundo.
Alguns momentos depois sua mãe entrou no quarto, um olhar e dois sentimentos que faziam um contraste forte entre o outro, dor e alívio. Muito provavelmente já sabia da notícia do pequeno das duas, o netinho já tão mimado dela. Mas feliz por ver sua filha ali, bem... fisicamente.
A mulher se sentou na poltrona ao lado da maca onde a filha estava deitada e segurou com delicadeza a mão da mais nova, esperando ouvir o que quer que fosse, pois não existia outro motivo de tê-la chamado ali se não fosse para conversar sobre um assunto importante.
- Isso tudo é culpa do .
Foi um comentário tão ríspido, como um resmungo que a mãe da garota pensou ter ouvido mal, portanto fez um careta de incompreensão. A filha repetiu.
- Mas,o que foi culpa do , querida? - sua mãe questionou, a voz um tanto mais aguda.
- Isso, esse desastre todo... é tudo culpa dele. Foi ele quem estragou a minha vida, foi ele quem matou meu filho! - explicou com o coração apertado, os olhos pinicando e muito provavelmente a ponto de marejarem.
- O que? - sua mãe se indignou, negando com a cabeça. - Não, não. Você deve estar enganada. não seria capaz de fazer uma coisa dessas. Quero dizer, ele te engravidou muito rápido, é verdade, e isso é um tanto quanto ruim, conta muitos pontos negativos pro caso dele na minha opinião. Mas depois o rapaz se tornou tão prestativo, sempre indo te visitar para ajudar com as coisas em casa e sempre trabalhando.
- Mãe, não importa tudo o que ele já fez, porque é o culpado. - insistiu sem ter forças o suficiente para contar toda a verdade. Não queria ter que reviver tudo o que passou.
- Eu não consigo acreditar, querida. - ela continua negando com a cabeça, ainda acariciando a mão da filha, porém sem encará-la.
- MÃE, O ME TRAÍU! - suspirou com uma lágrima escorrendo pela sua bochecha, rolando como se queimasse sua pele ao admitir aquilo e doeu quase tanto como o momento em si. - Eu o vi, quando eu fui visitá-lo em sua empresa ele estava transando com um loira desconhecida. Eu só pensei em correr e nada mais. Doeu tanto, mãe. Por isso eu cai, porque eu estava correndo, por causa de .
- Eu sinto tanto, querida. Eu nem acredito que o que conhecemos foi capaz de fazer uma coisa dessas com você - então as duas se abraçaram e lágrimas corriam sem cessar do rosto de . Ela estava tentando espelir todos os sentimentos ruins de seu coração, sem conseguir muita coisa, mas pelo menos ela podia chorar, pelo menos ela podia se expressar.
- Ele me traiu... - balbucionou sem muita conexão, assim que a mãe soltou-a e segurou seu rosto delicado entre as mãos, olhando-a com compaixão.
- Eu te amo, nunca se esqueça disso. Vou estar aqui por você.
- Não vou esquecer, mamãe. Eu prometo.
- Eu tenho que ir. Seu pai deve estar ansioso para entrar nesse quarto e provavelmente vai querer te dar um daqueles abraços esmagadores dele... tenho que avisá-lo para tomar cuidado. - deu um beijo na cabeça da garota e saiu.
Ela ficou sozinha de novo... completamente sozinha"

Já se fazia muito tempo e nenhum dos dois foi capaz de trocar uma só palavra depois daquele dia, porque nós dois sabíamos que o culpado da morte de nosso filho fora ele mesmo, sendo eu quem o carregava para lá e para cá. Foram as escolhas deles que me fizeram perder um parte de mim.
Então fechei as cortinas com força, tanta que quase a arrebentei da parede, pensando sem parar que meu mais novo vizinho era aquele que havia criado os piores sentimentos que eu já havia experimentado. Desci as escadas seguindo até onde algumas vozes me levavam, decidindo ignorar o que acontecera a poucos.
-Bom dia, amor. Sua mãe acabou de chegar, ela está preparando alguns biscoitos. - meu noivo comentou com um sorriso imenso no rosto bonito e de barba mal feita, beijando minha testa com carinho no exato momento que apareci ao pé da escada.
Antes você poderia chamá-lo de Dr. , mas agora era apenas . Ainda com o olhar sério em conscentração, porém tão mais doce e feliz. E não havia como não ficar feliz também ao ver o modo como ele sorria para mim, tão cheio de amor. E eu juraria para você que o meu não era muito diferente.
Começamos a nos relacionar pouco tempo depois dele entrar naquele quarto de hospital que eu tanto odiava para me dizer as palavras mais difíceis de serem ouvidas em minha sincera opinião. Foi assim que saí do hospital que ele veio correndo em minha direção, com um sorriso tão bonito que na mesma hora eu senti tudo dentro de mim derreter. Ele me perguntou se queria sair com ele qualquer dia desses. Sinceramente, depois daquele sorriso, eu não poderia lhe negar mais nada. Eu também não queria, porque no dia em que saimos eu soube que seria ele o homem que me faria me erguer novamente, que preencheria o amargor da minha vida com toda seu amor.
Algumas semanas depois da nossa primeira relação (maravilhosa, diga-se de passagem) recebemos uma notícia, que fizeram o rapaz olhar pra meus olhos exatamente da mesma forma como fazia agora e com as mãos tremendo, e tomar as minhas para me propor outra vez algo ao qual eu não poderia e nem queria lhe negar.
Pensei se deveria contar tudo a e lhe previnir sobre o que ocorria na casa ao lado, mas, pensando um pouco melhor, percebi que não queria preocupá-lo. Nós estávamos tão bem, eu simplesmente não queria estragar tudo o que tínhamos construído.
- E SÃO TODOS MEUS! - saindo dos meus devaneios, ouvi Joanna berrar, minha meninha, tão filha de que parecia que apenas o mesmo havia contribuido na fórmula. Os mesmos olhos sérios, porém doces e o mesmo sorriso capaz de transformar seu mundo em algo melhor, mas principalmente o mesmo gênio brincalhão e sincero.
Ela estava sentada em uma cadeira disposta perto da bancada da cozinha onde eu podia ver os cabelos já brancos de minha mãe, alguém que eu sabia que estaria ali pela manhã porque a mesma tinha me avisado que queria surpreender a neta com algumas guloseimas, além de sua presença na casa, é claro.
- Ei, nem vem, gulosa. Eu também vou querer alguns! - brinquei com minha filha, bagunçando seu cabelo e a ouvindo resmungar.
- Você come por dois mamãe, assim não vai sobrar nenhum! - a menina reclamou inconformada e eu pude escutar a risada de atrás de mim.
O observei por cima do ombro enquanto ele me abraçava por trás e lhe dei um selinho desajeitado. Joanna nos olhou como quem tem nojo com um biscoito na boca já com a boca toda suja de farelos e minha mãe apareceu com outra fornada pronta, rindo da careta da neta. Logo eu ria também, com nos seguindo quase no mesmo momento enquanto eu sentia sua mão escorregar para minha barriga de 7 meses de gravidez de um menino.
E o ouvi sussurrar.
- Estamos todos bem.
Me lembrei de , me lembrei do meu falecido filho, me lembrei de quem era meu vizinho, me lembrei de todos os sentimentos que vinham junto com ele, mas sorri. Sorri porque ali, abraçada a meu marido, sorrindo para minha filha e sentindo os chutes fracos do meu menino, eu sabia que estava bem. E que mesmo que estivesse falando das memórias passadas, imaginava que seja lá onde meu pequeno anjinho estava, ele se sentia bem.
- Eu sei.


FIM



Nota da Autora: Oi pessoinhas viciadas em fanfics... só tenho a dizer: bem-vindos ao clube!
Então, essa é a minha short super sentimentalista para o especial de dezembro, que na verdade eu tentei juntar as duas opções que eram falar sobre vizinhos e uma lembrança. E o que saiu foi isso!
Eu preciso dizer que não sou muito boa nesse tipo de coisa, então vou terminando por aqui.
Isso é tudo pessoal!




Nota da Beta: Qualquer erro encontrado, não use a caixa de comentários para reclamações. Entre em contato comigo pelo email.


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