Para mim, aquele dia era só mais um dia comum como todos os outros. Eu simplesmente odiava o halloween, não só porque as pessoas davam uma de idiotas e ficavam se fantasiando e batendo na porta dos outros pedindo por doces e tentando assustar todo mundo, mas eu odiava principalmente por todos fazerem uma festa enorme por causa de nada, tudo isso não passava de superstição. O pior de tudo é que meu namorado simplesmente ama o halloween e, nesses quatro anos que estamos juntos, ele sempre faz questão de me levar pra alguma festa na casa dele, mesmo sabendo que eu não suporto esse tipo de comemoração besta.
Havia chegado em casa de um dia super cansativo do trabalho, além de ser uma quarta-feira entediante e cheia de coisa pra fazer. Todos na empresa estavam super empolgados para que chegasse logo a tão esperada noite de Halloween. Joguei minha bolsa de qualquer jeito em cima do sofá e logo em seguida fiz o mesmo comigo, me sentia deslocada por não gostar dessa data, minha casa era a única da rua que não estava enfeitada, minha sala na empresa era a única que não tinha pequenas abóboras com caras estranhas em cima da mesa, e eu creio que era a pessoa mais desanimada de Nova Iorque, porém, nem mesmo esses fatores me faziam mudar de ideia em relação ao Halloween. Mesmo com preguiça, estiquei meu braço e consegui alcançar, sem muito esforço, o telefone da minha casa. A luzinha da secretaria eletrônica piscava insistentemente, e até aquilo estava me incomodando. A primeira mensagem que escutei foram apenas 15 segundos de puro silêncio, a não ser pela respiração que vinha do outro lado da linha, não sei por que, mas aquilo fez com que eu ficasse mais estressada. Então a segunda mensagem começou, e a voz que eu escutei fez com que um sorriso saísse involuntariamente da minha boca, era incrível como mesmo após quatro anos, eu era a mesma boba em relação ao .
“Hey amor, aqui é o , bom... Eu liguei para o seu celular, mas parece que você esqueceu ele no silencioso de novo, como sempre. – escutei uma risada abafada. – Eu queria falar com você pra te avisar que a festa de hoje, infelizmente, foi cancelada. Depois te explico o por quê, a história é longa e eu sei que você gostou da notícia, só espero que você tenha comprado doces pra hoje, se não vai receber muitas travessuras. – Agora ele riu mais abertamente. – Era isso, babe, mais tarde eu te ligo. Amo muito você.” Não posso negar que adorei mesmo a notícia, agora eu poderia descansar e não teria que “fingir” que gostava daquele tipo de festa, pode-se dizer que me conhece melhor até do que eu mesma. Juntando uma coragem repentina, me levantei e coloquei uma lasanha congelada no micro-ondas – realmente não estava disposta a cozinhar – logo em seguida subi as escadas e entrei no meu quarto. Tomei um banho rápido e coloquei uma calça de moletom cinza e uma blusinha branca de manga. Assim que terminei de comer minha lasanha, lembrei que meu celular continuava no silencioso e fui até minha bolsa, que ainda estava jogada no sofá. Peguei meu celular e, quando fui ajeitar suas configurações, percebi que além de quatro chamadas perdidas – todas do – havia uma mensagem de um número desconhecido. Primeiramente eu estranhei. não era muito de mandar mensagens e ele era a única pessoa com quem eu conversava pelo celular, tirando o pessoal da empresa. Sem falar que aquele número não era mesmo dele. Assim que abri a mensagem, tomei um susto. Isso só poderia ser uma brincadeira, não é?
“Oi, , sabia que você fica linda com essa blusa branca e essa calça cinza? Na verdade, acho que você fica bonita de qualquer jeito. Xx”. Assim que terminei de ler, tentei achar alguém bisbilhotando através da janela ou até mesmo dentro de casa, mas não consegui achar nada. A casa estava em um completo silêncio e a única parte iluminada, além da sala que eu estava, era a cozinha. Eu nunca fui muito de me assustar com algo, mas isso realmente estava me assustando. Quem será que estava me mandando mensagem em pleno dia de Halloween? Não que isso torne a coisa toda mais assustadora, mas convenhamos que essa pessoa deveria estar perguntando sobre os doces dela ao invés de estar assustando uma mulher comum como eu. Caminhei devagar até a porta e verifiquei se estava realmente trancada, só por precaução. Não que eu estivesse realmente me sentindo ameaçada com aquilo, mas como diz aquele ditado, “melhor prevenir do que remediar”. Decidi deixar essa história pra lá, devia ser só alguém sem ter nada o que fazer tentando pregar uma peça em mim. Voltei à cozinha e abri a geladeira, às vezes fazia isso quando ficava nervosa, é uma mania estranha, eu sei, mas em todos os meus 21 anos eu fui assim, e nem quando morava com meus pais isso era diferente. Já que tinha jantado há pouco tempo, peguei um pouco do suco que tinha feito e coloquei em um copo, me encostei na bancada de mármore e comecei a tomar. Quando já estava na metade, ouvi um barulho indicando que havia chegado uma mensagem no meu celular, torci mentalmente para que fosse .
“Me diz... esse suco está tão gostoso quanto está aparentando? Não seja egoísta e divida ele comigo, estou com sede ): xx” Agora sim eu realmente estava em pânico, a única coisa que passou pela minha cabeça foi procurar novamente por alguém, mas obtive o mesmo resultado de antes. Então tentei discar para o número que havia me enviado essas duas mensagens, porém, a única coisa que acontecia era chamar até cair na caixa postal. Num surto de desespero, disquei o numero do só que ele também não atendia, não importava o quanto eu ligasse, depois ele tinha que ter uma desculpa muito boa pra não ter me atendido. Já estava tão irritada com , que tinha esquecido as mensagens. Até que meu celular emite aquele som novamente.
“Sinto te informar, , mas ligar para o seu namoradinho não vai resolver muita coisa. Antes mesmo que ele chegue, você já estará comigo. Xx”. Se isso fosse realmente uma brincadeira, já estava na hora de parar, pois já haviam passado mais do que dos limites. Eu estava desesperada. Como essa pessoa sabia a roupa que eu estava usando, o suco que eu estava tomando e, principalmente, pra quem eu estava ligando? Seja quem for, eu tinha certeza que estava me observando. E o pior de tudo é que o nem atendia a droga do celular! Estava tentando me manter calma, mas tudo só piorou quando escutei a cigarra tocar. Será que era a pessoa que estava me observando e ela veio aqui pra me matar? O que eu fiz de tão mau pra essa pessoa? Eu estava tão absorta em meus pensamentos e no medo do que a tal pessoa poderia fazer, que nem sequer me movi. Porém, aquele som ecoou mais uma vez, e a minha curiosidade não me permitiu ficar parada. Caminhei apavorada até a porta e olhei pelo olho mágico, para minha sorte, ou não, eram apenas crianças fantasiadas. Uma menina de aparentemente 7 anos estava de bruxa, um menino que parecia ser mais velho uns 2 anos do que a menina estava vestido de pânico, e outra garotinha, que aparentava ter a mesma idade do menino, estava de noiva cadáver. Abri a porta lentamente e eles gritaram juntos: “Gostosuras ou travessuras”. Apesar de não gostar de halloween, eu sempre tenho doces em casa nessa data, afinal, não é legal ver a cara de decepção das crianças, e também não é muito agradável sofrer com as travessuras delas. Pedi pra elas esperarem e fui até o armário da sala, onde peguei alguns pirulitos e chicletes e depois entreguei a eles.
– Muito obrigada, senhorita! – A bruxinha me falou.
– Não há de que! Bom Halloween pra vocês. – tentei parecer simpática, já que ainda estava em pânico.
– Um bom Halloween pra você também! E tenha cuidado com os monstros que estão a solta. Ouvi dizer que o scareween matou três pessoas ano passado – a outra menina falou com inocência.
– É, e eu ouvi falar que ele escolhe três vítimas a cada Halloween e envia mensagens, sendo que todas são mulheres. – O menino me falou.
– Isso é verdade? – Perguntei, já sentindo o pânico voltar ao meu corpo.
– Claro que é! E eu ouvi dizer também que elas morreram porque chamaram a polícia. – Claro! A polícia, como eu não pensei nisso antes? – Então, se você receber alguma mensagem, é melhor se esconder, porque chamar a polícia não vai adiantar. – o menino continuou.
– Não se preocupem, eu estou bem. Acho melhor vocês irem as outras casas antes que os doces acabem. – falando isso, eles me agradeceram novamente e saíram correndo em direção à casa vizinha.
Eu só posso estar ficando louca. Quem em sã consciência acreditaria em uma história de terror boba de umas crianças em pleno dia de Halloween? Com certeza alguém que estivesse recebendo mensagens estranhas como as que eu estava recebendo iria acreditar. A essa altura, já tinha perdido todo o meu sono, então liguei a televisão da sala e me sentei no sofá, tentando ficar em uma posição que me desse vantagem de alguma forma caso alguém resolvesse invadir minha casa e eu tivesse que correr. Um minuto depois, o toque de mensagem do meu celular me avisou mais uma vez que alguém havia me enviado uma mensagem.
“Crianças legais aquelas, não? Elas te contaram a história que andam falando por ai sobre mim? Xx”. A cada segundo eu ficava mais desesperada. Comecei a chorar e a ficar com a respiração falha de nervosismo sem perceber. Estava com muito medo do que pudesse me acontecer, afinal, havia algo me observando. Com a última esperança que me restava, liguei novamente pra , que como se ouvisse meus pensamentos, me atendeu no segundo toque.
– Oi, amor! – ele falou ofegante, como se tivesse corrido pra atender o celular.
– ! Por favor, me ajuda. – comecei a falar e minha voz saiu estranha devido ao choro e ao desespero.
– O que aconteceu, ? – Ele falou preocupado.
– Eu não sei, tem alguém mandando mensagem pra mim, eu acho que quer me matar, por favor, , faz alguma coisa! Eu tô desesperada! – Falei já aos prantos.
– , se acalma, ok? Faz o seguinte, se esconde que eu tô indo pra sua casa.
– Certo, eu vou me trancar no quarto. – respondi, já subindo as escadas e indo em direção ao corredor.
– Não! Vai pro sótão e fique escondida lá! – ele disse.
– Mas, , faz muito tempo que eu não entro lá, deve estar todo empoeirado! – respondi ainda desesperada.
– Não discute, ! Vai pra lá, daqui a cinco minutos eu tô chegando ai, por favor, faz o que eu te pedi, amo você. – e então ele desligou.
Vou confessar que não sou muito fã do meu sótão, mas se o disse que era melhor ficar lá, é pra lá que eu vou. Puxei a escada que levava até a entrada do sótão e subi. Assim que achei o interruptor e acendi a luz, tive uma surpresa. O sótão estava todo enfeitado para o Halloween, havia abóboras com aquelas caras desenhadas por todo chão, e aranhas falsas também por toda a parte. Em cima de uma mesinha, no lado direito, tinha um pote que continha vários tipos de doces. A poeira e as teias de aranha eram verdadeiras, certamente devido ao meu medo de subir ali sozinha e limpar o sótão. No meio daquele pequeno espaço, havia um colchão forrado com um lençol branco e posicionado na frente do mesmo, estava , de tênis, calça jeans e uma blusa pólo. Suas mãos se encontravam dentro do bolso da calça e em seu rosto reinava um sorriso convencido que o deixava mais lindo, se é que isso fosse possível. Foi só meus olhos encontrarem os dele que eu sabia que estava segura.
– ? O que você tá fazendo aqui? E o que significa isso? – perguntei ainda em choque devido a surpresa.
– Agora você acredita que o halloween pode ser assustador? – ele perguntou com um tom convencido e não se moveu nenhum milímetro.
– Foi você que fez isso tudo? – perguntei calmamente, achando hipoteticamente impossível ele ter conseguido fazer aquilo.
– Não fica com raiva de mim, mas foi sim. E tenho que admitir, assustar você foi muito fácil. – Apesar de estar com seu tom convencido, parecia nervoso.
– ! Eu não acredito que você fez isso comigo! Eu fiquei desesperada de verdade, sabia? – falei gritando e gesticulando exageradamente.
– Me desculpa, amor! Mas é que eu já não aguentava mais você falando que não acreditava em halloween e que isso era uma besteira. Agora eu sei que, no fundo, você acredita. – Ele falou e veio caminhando em minha direção, logo em seguida me abraçou e deu um beijo em minha testa.
– Você quase me matou de susto, não faça isso nunca mais! – disse em um tom choroso, o fazendo gargalhar.
– Pode deixar, princesa, eu já te provei o que tinha pra provar. – falou e me levou até o colchão, fazendo com que ficássemos sentados um de frente pro outro.
– Como você fez tudo isso? Como você sabia o que eu tava fazendo? – perguntei já mais calma e curiosa.
– Simples, eu comprei um chip de telefone novo, usei minha chave daqui, entrei e fiquei escondido, então era fácil saber o que você estava fazendo. O sótão eu decorei ontem a tarde quando você estava no shopping, eu sabia que você não viria pra cá.
– E aquelas crianças? Que história de scareween era aquela e como foi que elas sabiam de tudo? – falei, lembrando subitamente das crianças fantasiadas.
– Ah, sim! Eu fiquei morrendo de medo que meu plano desse errado e você chamasse a polícia, então eu prometi 10 dólares pra cada um se eles contassem a lenda do scareween pra você, que era o homem das mensagens. Foi bom saber que eles fizeram o trabalho direitinho. – logo que falou, ele fez uma pose pensativa.
– Não acredito que você manipulou crianças só pra me assustar! – disse indignada.
– E quem disse a você que foi só pra te assustar? – perguntou com a mesma cara convencida de antes.
– Se não foi por isso, foi pelo que então? – Fiz a mesma cara que ele estava fazendo.
– Pra te assustar, pra tentar mudar sua concepção sobre o meu querido Halloween, pra você perceber que lá no fundo acredita no Halloween, e... – Ele disse enumerando e logo em seguida fazendo uma pausa.
– E o que, criatura? – Perguntei rindo, e então se ajoelhou sobre o colchão, pegou minhas mãos e olhou bem no fundo dos meus olhos.
– E pra saber se você quer casar comigo. – Falou sério.
Durante os quatro anos que namorei , ele sempre procurou um jeito de me surpreender. Confesso que essa vez superou todas as outras. O que era pra ser um dia tedioso, virou um dia anormal e, apesar de ter passado pelo dia mais desesperador que já sofri até hoje por causa de , ele me fez ter duas certezas: uma de que ele é o homem da minha vida, e a segunda que, a partir de hoje, o Halloween é o melhor dia do ano pra mim.
Nota da Beta: Caso tenha algum erro nessa fanfic, não use a caixinha de comentários. Entre em contato comigo pelo twitter ou pelo e-mail. Obrigada. Xx
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