Escrita por: Alice A.
Betada por: Anny C.


- Dr. null, por favor, comparecer á emergência geral leito doze. Dr. null, por favor, comparecer á emergência geral leito doze.
- E lá vamos nós novamente – O homem null e de estatura mediana suspirou – Qual é cara, faltam cinco minutos para acabar meu plantão, tudo que eu consigo pensar é em um banho demorado e minha cama quentinha.
- Isso que dá ser um dos melhores médicos da área.
- O povo daqui come meu coro Anaju, acho que essa transferência não foi muito boa – A mulher riu.
- Vai logo lá seu reclamão, antes que tenhamos alguém com uma advertência na mão – O homem suspirou mais uma vez fazendo manha e seguiu seu caminho.
Fazia quase dois meses que null null resolveu retornar para sua cidade natal, recebeu uma proposta irrecusável para trabalhar no hospital central e ser um dos médicos chefe de um dos setores mais importantes do lugar.
null sempre dedicou sua vida á medicina, se preparou para isso desde os 10 anos, interessou-se pela área depois de ter feito um curativo no joelho ferido de sua irmã mais nova, então assim que o colegial acabou ele foi aceito em uma das melhores faculdades do país e não pensou duas vezes antes de deixar sua cidade para trás. Cursou por 6 anos o curso de medicina e quando acabou, fez dois anos de residência, então arrumou um emprego no mesmo hospital onde fez sua residência e depois de três anos trabalhando no lugar, recebeu aquela proposta. E ali estava ele, sendo feito de escravo, ganhando muito bem, ele não podia negar, mas a coisa era cansativa apesar de null amar o que faz.
- O que temos?
- Aparentemente, vitima de assalto – Ele fez uma expressão de choque e Anaju riu.
- Como foi que você chegou aqui tão rápido?!
- Nunca ouviu falar em elevador, bonitinho? – Piscou - Você deveria tentar.
- Eu estou tentando manter a forma, okay? E acho que vou te transferir, você está muito abusada – A loira revirou os olhos como se não acreditasse naquilo e, veja só, ela realmente não acreditava.
Fazia poucos meses que Anaju Rinald havia se formado em enfermagem e ingressara no hospital, ela fazia parte da equipe de null; e não somente isso, em poucos dias os dois já poderiam se considerar grandes amigos, foi impressionante como a amizade fluiu naturalmente por ali, não forçaram nada e quando viram já estabeleciam um relacionamento nada profissional, mas nada de romance entre os dois também.
- E quando eu ia parar para um lanchinho, me arrastaram pra cá porque disseram que nós dois fazemos uma dupla imbatível. – null riu.
- Então Srta. Anaju, a ficha do paciente, por favor.
- Claro Dr. null, e na verdade é da paciente – A mulher entregou a prancheta para o null e ele a folheou enquanto entrava no leito doze. Milagrosamente as coisas estavam calmas por ali.
- Fratura fechada no braço esquerdo e em três dedos da mão direita; inchaço na pálpebra esquerda e bochecha também esquerda; inchaço na lateral esquerda da cabeça; cortes superficiais na barriga e braços, e um corte mais profundo na panturrilha direita...
- Examinei os cortes e eles são estranhos, parecem ter sido feitos com unha, ou algo não muito amolado. – null olhou para Anaju e logo depois voltou a olhar para frente aproximando-se da maca onde a mulher se encontrava.
- null null... – Leu no papel e franziu o cenho, logo depois olhou para a mulher franzina que estava encolhida e com uma expressão de dor. Voltou a olhar para Anaju que lhe estendeu alguns raios-X – Como se sente Srta. null?
- Com dor – Respondeu com sua voz baixa. null se sentia idiota ao perguntar essas coisas para seus pacientes, mas as normas mandavam que ele o fizesse.
- Suas fraturas não são graves, gesso por algumas semanas irá resolver, também não precisa se preocupar com os cortes. Alguns analgésicos amenizarão a dor e precisamos bater uma ressonância magnética para nos certificar que está tudo bem com sua cabeça. – Observou-a atentamente tendo a impressão que a conhecia e sabia muito bem quem ela era, mas aquilo não poderia ser, porque a null null que ele conhecia era cheia de vida e feliz; e aquela que estava em sua frente estava aparentemente abaixo do peso e abatida, seus cabelos eram sem vida e sua pele pálida, não poderia ser ela de forma alguma.
A mulher olhou para null pela primeira vez e deixou uma expressão de surpresa chegar até seu rosto e foi então que null finalmente soube. Aquela era realmente null null, sua ex-namorada.
Dizem que amores de colegial não duram, no caso de null realmente não durou, mas não foi porque ele não quis, mas sim porque null não quis. Ele levou um grande e doloroso pé na bunda, ele realmente gostava da garota, mas os sentimentos dela por ele não eram tão fortes assim, então eles terminaram e no dia seguinte ela estava com Joe, o famoso arrasador de corações. Usava calças que praticamente deixava sua bunda de fora, fumava nos corredores da escola mesmo que isso fosse proibido, seu boletim era mais vermelho que sangue de menstruação, arrumava confusão todo dia, fazia orgia pelo menos uma vez por mês e era um completo fora da lei, e pior, todas caiam de amores por ele. null foi uma das garotas e ela teve a sorte – ou não – de ser correspondida. null ficava extremamente decepcionado quando via os dois juntos, sabia que aquele cara não era para null, mas não podia falar nada, ela jamais o ouviria, depois do término parecia até mesmo que null não mais existia para ela. Fazia tanto tempo que null não via null que era quase impossível de contar, ele apenas se lembrava de que duas semanas antes das aulas acabarem, null não ia mais para a escola, o null lembrou-se de ter achado isso muito estranho porque null sempre fez o estilo estudiosa. Na época ela estava no primeiro ano e null já estava no último. E então agora ela estava ali, simplesmente em sua frente e null não sabia o que falar e sentiu-se grato quando null tomou a vez.
- Meu Deus... null?
- Quanto tempo, null – Sorriu meio incerto.
- Sim, eu... Pensei que você tivesse ido embora da cidade.
- Fui, mas voltei.
- E você realmente tornou-se médico... – A mulher olhou para o corpo do homem e logo em seguida voltou a olhar para ele.
- Eu disse que realizaria meu sonho – Sorriu de lado - Bom, agora vamos cuidar de você e depois acho melhor você fazer um boletim de ocorrência.
- Ahh não precisa – Falou rápido – Eu... Os ladrões não levaram nada de muito valor e não resolverá de nada eu dar queixa. – null assentiu e olhou de lado para Anaju.
Com a ajuda de Anaju, o Dr. fez todos os procedimentos necessários e quase uma hora e meia depois null praticamente não sentia dor alguma.
- Você vai precisar ficar em observação por algum tempo já que levou uma pancada na cabeça – null disse enquanto checava o medicamente de null.
- Mas eu me sinto bem – A mulher estava meio sonolenta devido aos remédios.
- Geralmente as consequências de uma pancada não se manifestam na hora que a pessoa a sofre, por isso ficar em observação é estritamente necessário – A mulher suspirou.
- E quanto tempo eu tenho que ficar aqui?
- Quatro dias, no mínimo – Ela mais uma vez suspirou e fechou os olhos - Agora descanse, você precisa.
- Obrigada null – O homem notou que a mulher havia adormecido e saiu dali com o pensamento em sua aconchegante casa, mas também em null.

~*~

null andava pelos corredores empalidecidos do hospital, a inseparável prancheta estava em sua mão enquanto ele concentrava-se em alguns papeis. Entrou no lugar onde null encontrava-se e aproximou-se da cama observando-a sentada e olhando distraidamente para a televisão que mostrava um noticiário qualquer.
- Bom dia. – O médico disse e a mulher o olhou sorrindo fraco.
- Bom dia.
- Pronta para receber alta?
- Mais que pronta.
-Mas tem um porém. - null fechou a expressão e null riu – Você precisará fazer alguns exames de sangue para ver se sua saúde está realmente boa, notei suas pupilas meio esbranquiçadas, sua boca constantemente seca e sua aparente magreza excessiva.
- Claro que está, isso não é nada demais.
- Mesmo assim requererei o exame.
- Eu posso me recusar a fazer?
- Eu posso me recusar a assinar sua alta? – Ergueu uma sobrancelha e null bufou.
- Ta, eu vou fazer esse exame.
- Eu não vou precisar te acompanhar, certo?
- Não.
- Certo, então vou marcar um retorno pra você daqui a vinte dias e se você não aparecer eu mando te caçar – null riu.
- Juro que vou ser uma boa garota.
- Sendo assim você está oficialmente liberada – Assinou o papel e sorriu olhando para null, ela sentiu-se aquecer, o sorriso de null sempre fora lindo e extremamente verdadeiro, desde o colegial, e aquilo sempre fez null se sentir muito bem e por incrível que pareça, ela se sentiu bem novamente naquele momento.
- Dr. null, por favor, comparecer imediatamente ao leito sete. Dr. null, por favor, comparecer mediatamente ao leito sete – Ouviu o alto falante - que tanto lhe tirava a paciência - ecoar pelo lugar.
- O dever me chama. Continue a tomar os remédios por duas semanas e daqui uma semana venha retirar os pontos da panturrilha.
- Tudo bem. E mais uma vez, obrigada.
- Imagina, não fiz mais que minha obrigação – Lançou mais um sorriso para a mulher e foi cumprir suas obrigações.

(...)

- Dia corrido? – Anaju aproximou-se de null, que andava rapidamente pelos corredores do hospital.
- Você não imagina o quanto. Às vezes me sinto um carro de formula um – A mulher riu.
- Sabe, eu estava chegando quando vi aquela sua paciente sair, null, não é? – null assentiu – Um cara de índole estranha estava esperando-a em um carro velho, ela não pareceu muito feliz em vê-lo e ele não foi nem um pouco gentil.
- Acho que você escolheu a profissão errada, deveria ser colunista em alguma revista de fofoca, ou paparazzi – Anaju beliscou o braço de null e o null resmungou.
- Só estava comentando, vocês pareciam íntimos.
- Espera – null parou e ergueu a cabeça inflando a narina logo em seguida – Que cheiro é esse? - Anaju franziu o cenho estranhando a pergunta – Ahh sim, o cheiro do ciúme – A loira não conseguiu prender o riso, era impressionante como ela sempre caia naquilo.
- Você é muito imbecil. Não é ciúmes, eu só comentei.
- Eu e null fomos namorados no colegial, só que eu levei um pé na bunda e cada um seguiu com suas vidas – Anaju abriu a boca em choque.
- Olha, acho que ela se arrepende muito disso, porque você é um homem lindo e um médico bem sucedido, e ela, bem... Acho que está precisando de uma transformação, tipo nascer de novo – null não conseguiu conter um riso.
- Anaju, vai trabalhar vai.
- Eu elogio e nem me agradece. Ingrato! – Beliscou levemente o braço do rapaz e saiu deixando-o rindo sozinho.

Vinte dias haviam se passado e null estava novamente naquele hospital, mas agora se encontrava na sala de null, sentada de frente para a mesa dele e enquanto ele analisava alguns papeis, a mulher o analisava. null tornou-se um homem realmente lindo, não que na época do colegial ele não fosse, mas era magricelo demais e tinha cabelos meio cumpridos, agora o homem mostrava um porte atraente e um corte de cabelo moderno. Seu rosto quadrado combina perfeitamente com suas feições e null achou incrivelmente linda a expressão de concentrado dele.
- Seus exames não foram nada positivos, apontaram uma grande falta de ferro no sangue, falta de vitamina B e uma grave anemia. Você tem dificuldades para se alimentar? – Olhava serio para a mulher e atentamente como se quisesse se certificar de que ela não mentiria. null mordeu o lábio, mas não desviou o olhar.
- Um pouco, geralmente não sinto fome, não que eu tenha problemas alimentares, mas tenho algumas preocupações, então...
- Entendo. Bem, precisaremos tratar isso com urgência e vou te encaminhar para uma nutricionista – Ela suspirou – Nada de suspiros frustrados por aqui mocinha, é da sua saúde que estamos falando – Ela sorriu e null percebeu que era um sorriso sem brilho que combinava perfeitamente com a pessoa que null havia se tornado, completamente apagada.
- Se não tem outro jeito...
- Você vai ter que comprar alguns remédios e vai passar na recepção e marcar seu acompanhamento com umas das nutricionistas, e recomendo que você siga todas as regras dela.
- Sim senhor – null entregou alguns papéis para null.
- Então acho que é isso, agora você está completamente livre de mim. Pretende dar uma festa quando? – Ela riu e null notou que naquele sorriso sim, havia o brilho da velha null.
- Engraçadinho – Semicerrou os olhos – Agradeço por tudo que você fez por mim, de verdade null.
- Que mania de ficar agradecendo.
- Fui bem educada, okay? – Levantou-se arrumando a bolsa no ombro e segurando os papéis – Já vou indo.
- Foi bom te rever, apesar das circunstâncias.
- Digo o mesmo – A mulher sorriu de lado – Tenha um bom dia.
- Você também.

~*~

Folga, finalmente folga, dois dias de folga, dois dias intermináveis de folga... null quase chorou ao receber a noticia, ele mal sabia o que era ter uma vida fora daquele hospital.
- Volta aqui sua pestinha! – Corria atrás da garotinha pelo grande espaço verde que era o parque. A menininha gargalhava alegremente tentando correr e olhar pra trás ao mesmo tempo e soltou um gritinho esganiçado ao ser pega de surpresa.
- Ahh papai, assim não vale – Resfolegou nos braços do homem – Você é super-herói, super-heróis são rápidos – null riu, achava a filha á coisa mais mordível do mundo quando falava super-herói, saia algo parecido com, supe-éloi.
- E você é a super princesa e está muito fracote hoje – A garotinha fechou a expressão e null riu depositando um beijo em sua bochecha rosada.
Colocou a menina no chão e voltou á correria, claro que ele não corria rápido, apenas para que a filha pensasse que estava em vantagem. Deu a volta em uma árvore, mas sem querer tropeçou no pé de uma pessoa que estava sentada por ali. Virou-se para pedir desculpa e sorriu ao reconhecer a pessoa.
- Hey null – A mulher lhe mostrou um sorriso gentil e deixou de lado o livro que lia.
- Olá, senhor desatendo – Ele riu e olhou para o lado.
- null, venha cá! – A garotinha parou e voltou correndo para perto do pai, abraçando suas pernas – O que foi que eu disse sobre se manter perto de mim?
- Desculpe papai – O null voltou a olhar para null e viu sua expressão abismada.
- null, essa é minha filha, null – Sua expressão ficou mais abismada ainda e ela olhou para a mão esquerda do rapaz aparentemente procurando alguma aliança que poderia ter passado despercebida por ela e null notou o gesto – Não sou casado – Ela corou.
- Olá null, muito prazer – A garotinha lhe mostrou um sorriso e voltou o olhar para o pai.
- Papai, quero sorvete.
- Claro minha princesa, vamos lá – Pegou a pequena no colo – Hey null, quer vim com a gente? – A mulher o olhou meio incerta, mas levantou e logo depois assentiu sorrindo, então os três foram para uma sorveteria que ficava ali no parque mesmo.
- Nossa null, tem mais sorvete na sua blusa do que na sua boca – A garotinha riu enquanto seu pai tentava – em vão – limpar sua roupa. null sorria discretamente achando fofo o cuidado que o homem tinha com a filha.
- Eu estou com sono.
- Percebi. Ninguém mandou você acordar á seis da manhã. Vem cá – Pegou a criança no colo e a ajeitou ali. null olhou para null e sorriu, logo depois fechou os olhos e suspirou.
- Os olhos dela são lindos, bem expressivos – A mulher disse terminando seu sorvete e null sorriu acariciando a bochecha da criança que já parecia dormir profundamente.
- Iguais aos da mãe dela.
- Vocês não pensam em se casar? – null riu e a olhou tendo a atenção da mulher voltada para ele.
- Não estamos juntos, se quer fomos namorados – null ergueu uma sobrancelha – Conheci Naomi, mãe de null, quando fazia residência, então viramos amigos. Quando a residência acabou resolveram fazer uma festa de comemoração, agora imagine, mais de cinquenta médicos em uma casa, completamente bêbados. Eu fui um desses médicos, é claro. Acordei na tarde do dia seguinte completamente nu e tendo Naomi no mesmo estado ao meu lado – Riu – Ficamos aterrorizados, mas tínhamos a esperança de não ter acontecido nada porque como duas pessoas completamente fora de si poderiam ter transado? Não lembrávamos nada! Então dois meses depois Naomi me procurou completamente horrorizada, disse que sua menstruação estava atrasada, seus seios doíam, ela ficava tonta constantemente e comia tudo o que via pela frente, como médica ela já sabia o que estava acontecendo, então ela fez o exame e bem... Deu positivo. Naomi ficou arrasada, há anos ela estava se preparando para entrar nos médicos sem fronteiras e havia passado em todos os processos de seleção, iria viajar no fim do mês, mas ela não poderia mais ir. Ela não pensou em nenhum momento interromper a gravidez e eu lhe dei apoio total. Então null nasceu e Naomi achou melhor fazermos um teste de DNA para ter certeza que eu era realmente seu pai porque tudo poderia ter acontecido naquela noite. Fizemos e deu positivo, claro. Quando null completou três meses Naomi decidiu ingressar novamente nos médicos sem fronteiras, eu lhe dei todo o apoio e eu decidi que cuidaria de null, disse para Naomi que ela não deveria se preocupar com absolutamente nada, claro que foi doloroso deixar a filha pra trás, mas o sonho dela sempre foi ser útil e ajudar quem precisa.
- Ual – null piscou – E ela não voltou a ver a filha?
- Ela sempre arruma um jeito de vim no fim do ano, nem que seja para passar apenas um dia com null. Ano passado ela conseguiu vim no meio do ano e ficou quatro dias com a filha, tudo indica que ela conseguirá aparecer também esse ano. E também desde que null era bebê, Naomi fala com ela por telefone e pelo computador, mesmo que null não entendesse nada e mal falasse, ela ficava alegre quando ouvia ou via a mãe – null sorriu.
- Entendo.
- E você?
- O que? – null franziu o cenho estranhando a pergunta.
- Não sei nada sobre o que aconteceu com você e já te contei quase minha vida toda – A mulher engoliu em seco e desviou o olhar.
-Quando acabou o colegial eu entrei para faculdade e comecei a cursar pedagogia. Você se lembra que eu disse que meu sonho era trabalhar com crianças? – Sorriu fraco e null assentiu – Então... Mas quando eu estava no último ano tive que trancar a faculdade por causa de alguns... Problemas.
- E você faz o que agora?
- Nada de interessante – null olhou em seu relógio – Eu tenho que ir – Levantou-se e null a imitou.
- Eu levo você, estou de carro.
- Ahh não, eu... Vou passar em um lugar antes de ir pra casa – O homem percebeu o vacilo em sua voz, mas preferiu não falar nada. null abriu a bolsa e começou a contar algumas moedas que encontrou ali, mas null a parou.
- É por minha conta – A mulher abriu a boca para pronunciar algo, mas o homem não permitiu – E nem adianta retrucar – Ela bufou e riu.
- Tudo bem. Até qualquer dia – Tomou a liberdade de depositar um beijo terno na bochecha dele.
-Até.

~*~

null andava pelas ruas carregando um saco da famosa Starbucks, era fim de tarde e já era para ele estar em casa e ele até tinha ido, mas ao chegar lá se deparou com null, ela olhou para suas mãos, cruzou os braços e disse “Você não trouxe nada da Starbucks?” o mais engraçado era que ela mal conseguia pronunciar a palavra e ele sempre ria daquilo. Então ela cruzou os braços e disse “Para de rir e vai comprar, por favor” controlou a risada e dizendo um “mandona”, saiu para comprar algo na bendita Starbucks.
Dobrou a esquina e viu null andando mais à frente, apertou o passo e aproximou-se da mulher.
- Hey! – Ela levou um pequeno susto e olhou para o homem, logo em seguida sorriu.
- Ta me seguindo é?
- Acho que você que está me seguindo – null semicerrou os olhos.
- Você está aqui na cidade á quanto tempo? – Ele ergueu a sobrancelha.
- Quase quatro meses.
- O engraçado é que no inicio nem nos víamos, agora não paramos de nos esbarrar. Okay, você definitivamente está me seguindo – Ele riu.
- Essa é a terceira vez que nos esbarramos e a primeira nem conta porque você estava debilitada em um hospital.
- Sei... É festa? – Apontou para a sacola.
- Pedidos de null, aquela garotinha sabe ser mandona quando quer e ela come, come além do normal. Já até fiz alguns exames nela com a suspeita dela ter dois estômagos, mas estava tudo certo – null gargalhou e null gostou daquele som que para ele estava tão esquecido – Hey, vamos lá em casa? – null o olhou incerta – Eu exagerei mesmo nos pedidos e vamos precisar de ajuda. Vamos, eu sei que você quer – O homem deu um empurrãozinho na mulher e ela voltou a rir.
- Ta, mas não posso demorar.
Continuaram a caminhar até o prédio onde o homem morava, logo chegaram e a null impressionou-se com a elegância do lugar. Entraram no elevador e ele apertou o ultimo botão, o que dava na cobertura. Os dois conversavam distraidamente assuntos sem importâncias. Chegaram até o andar que null morava e null percebeu que ali havia somente uma porta, o homem a abriu e permitiu a passagem dela. Ela olhava abismada para o apartamento de dois andares e com vista panorâmica da cidade por causa da grande parede de vidro que havia na sala. Aquele lugar com certeza era maior que sua casa e muito mais bonito também, ou melhor, não tinha nem comparação.
- Finalmente papai – null apareceu emburrada e null riu.
- Cadê a educação null?
- Oi tia null – Sorriu para a mulher e aproximou-se dela, então pegou em sua mão e a puxou – Vem vê meu cachorrinho – null fitou a bolinha de pelo branco que dormia encolhida sobre o tapete felpudo e escuro – Ele não é fofo?
- A coisa mais fofa, assim como você – A criança sorriu contente pelo comentário da mulher.
- Irmãozinho, estou de saída – null observou a garota que descia as escadas. Ela a olhou e null sorriu meio tímida.
- null, você se lembra da null?
- Claro. Como vai? – null não sabia se era impressão sua, mas null não pareceu muito contente em vê-la.
- Bem, obrigada. E você?
- Estou levando – Deu de ombros – Volto mais tarde irmãozinho – Depositou um beijo na bochecha do rapaz e se despediu da sobrinha. Saiu do apartamento sem olhar na cara de null.
null retirou a comida de dentro da sacola e colocou sobre a mesa de centro vendo null logo atacar um brownie.
- Pode ficar á vontade null – A mulher pegou um bolinho qualquer.
- Me chama de null, quando você me chama de null parece que está brigando comigo. – null riu.
- Tudo bem. E vem cá, você está seguindo as ordens da nutricionista? Eu tive uma conversinha com ela e parece que você não ganhou peso.
- É difícil engordar, okay?
- Claro que não, é só abrir a boca e comer – null disse como se fosse obvio e null riu.
- Eu me sinto enjoada.
- Isso é porque seu estomago não aceita tão bem a comida já que aparentemente você fica grandes intervalos de tempo sem comer, mas com o tempo acostuma. – null assentiu.
As horas foram arrastando-se enquanto null e null conversavam e riam de algumas palhaçadas que null fazia. A noite logo chegou e null prendeu-se na visão que a parede de vidro proporcionava da cidade bem iluminada.
- Deve ser muito bom morar aqui. – Ela comentou.
- Sim, os lugares importantes ficam perto daqui, os vizinhos são ótimos e o apartamento maravilhoso. Aliás, eu nem mostrei ele pra você.
- Verdade, mas vai ter que ficar pra uma próxima porque agora tenho que ir, nem percebi as horas passarem.
- É, quando as pessoas estão desfrutando da minha maravilhosa presença, elas esquecem que tem uma vida. – null revirou os olhos e o empurrou levemente, fazendo-o rir. null abriu a porta e a mulher passou para o corredor –
Quer que eu te acompanhe até lá em baixo?
- Não precisa. – Aproximou-se dele e lhe dei um beijo no rosto sentindo seus lábios formigarem – Tchau null – Olhou para a garotinha que sorriu e acenou.
- Tchau – null se despediu e viu null entrar o elevador.

~*~

Ahh que maravilha, quem era o louco que estava batendo na porta dele daquele jeito atrapalhando seu sono tão precioso? Ele estava á quase vinte quatro horas sem dormir e mal se aguentava em pé. null levantou-se cambaleando e saiu do quarto descendo as escadas logo em seguida. Notou que uma chuva torrencial caia e o céu estava totalmente escuro em plena uma e meia da tarde, segundo seu relógio de parede. O homem estava praticamente com os olhos fechados quando se aproximou da porta e a abriu, então algo molhado e tremendo mais que um chihuahua – péssima comparação – chocou-se contra seu corpo abraçando null pela cintura. Ele despertou totalmente e logo reconheceu null.
- null, meu Deus, o que houve? – Ela chorava, chorava e tremia e null não sabia o que fazer. Conseguiu afastar um pouco a mulher e olhou para seu rosto arregalando os olhos logo em seguida – O que aconteceu?! –
Desesperou-se. O rosto da mulher estava machucado e escorria sangue de sua boca.
- Ele! Foi ele, é sempre ele! – Sua voz saiu tremida tentando se sobressair sobre o choro.
- Você tem que se acalmar null.
Conseguiu arrastar a mulher para o andar de cima e entrou em seu quarto levando-a para o banheiro.
- Primeiro toma um banho, vou pegar algumas roupas da minha irmã pra você.
- Não... Não... Eu...
- Shiii – null aproximou-se da mulher e segurou seu rosto com cuidado – Você está tremendo inteira e está muito gelada, isso pode te fazer muito mal e um banho quente vai ajudar. Lave esses machucados com cuidado que eu vou tratar deles assim que você terminar – null depositou um beijo na testa de null e saiu do banheiro.
O homem caminhou até o quarto da irmã e pego uma legging escura, uma blusa bata e um casaco qualquer, sabia que qualquer outra roupa ficaria larga em null. Voltou para o quarto e deixou as roupas em cima da pia, o box era feito de vidro fosco por isso null não se importou em entrar ali, mas logo saiu e encostou a porta. Resolveu tirar suas roupas que estavam encharcadas por causa do abraço de null e trocou por uma seca. Caminhou até o banheiro que havia no corredor e pegou uma caixa de primeiros socorros que ficava em uma das prateleiras voltando para seu quarto logo em seguida e sentando em um sofá cinza escuro e confortável que ficava no canto de uma janela. Fitou a chuva que atingia com violência o vidro e se perguntou o que poderia ter acontecido de tão grave para null estar naquele estado. Sabia que a mulher passava por problemas e os problemas deveriam ser bem cabulosos, era só olhar para null que se percebia isso. Ouviu o barulho da porta e olhou para a mesma observando a mulher aproximar-se devagar e encolhida. Sentou ao lado de null em silêncio, e com o mesmo silêncio o null começou a cuidar dos machucados, passou apenas um antisséptico com o auxilio de um algodão e colocou um band-aid no canto de sua sobrancelha esquerda onde havia um maior ferimento. Guardou tudo de voltou na caixa e deixou-a de lado. null observava através da janela, seus pensamentos pareciam estar longe e null apenas a fitava com calma.
- Acho que a culpa disso tudo pertence somente a mim, a ninguém mais. – Ela disse com a voz fraca e sem tirar os olhos da janela – Quando temos medo de uma escolha, não significa que somos covardes, significa apenas que queremos saber o que é o melhor para nós, por isso que muitas vezes damos pra trás e parece que somos medrosos, mas não, internamente apenas sabemos que aquilo não é o melhor. Eu estava consciente quando fiz minhas escolhas, sabia que era o errado e queria mudar aquilo, queria fazer ser o certo, mas as coisas não são fáceis. Quando me envolvi com Joe, achei que ele mudaria, mudaria por mim e seriamos felizes. – Sorriu cínica – No fundo eu sabia que ele jamais deixaria de ser aquilo que ele era, mas mesmo assim queria lutar por ele, sendo que não havia luta nenhuma. Meus pais não aprovavam meu relacionamento porque sabiam que eu iria sofrer, aliás, eles já sabiam que eu sofria, mas eu não ligava, apenas brigava com eles e dizia para eles pararem de se intrometer na minha vida. Então quando completei dezoito anos, fui morar com Joe, meu pais foram totalmente contra, minha mãe chorou implorando para que eu não fosse, mas ela não podia fazer nada para me impedir, então eu fui – Suspirou – E se minha vida com ele já era ruim, a situação só fez piorar de vez. Ele nunca me respeitou, ele nunca respeitou á ninguém, virava as noites na rua, andava com péssimas pessoas e começou, começou a me obrigar a fazer coisas que eu não queria. – Engoliu a seco – Mas mesmo assim eu continuei achando que valeria apena permanecer com ele. Então eu acabei engravidando, fui pega totalmente de surpresa e não contive o pranto, mas achei que com a noticia do bebê, Joe finalmente caísse na real. Mas ele não caiu, ele não ligou, pra ele não fez diferença nenhuma. Meus pais logo souberam da noticia, ficaram horrorizados, mas disseram que se eu largar-se Joe, eles cuidariam de mim e do bebê. Eu não aceitei, então nós brigamos, a discussão mais feia que já aconteceu entre nós, eles disseram então que era para eu esquecer que era filha deles porque eles se encarregariam de se esquecer de mim – Naquele momento null já chorava, suas lágrimas jorravam como cachoeira em um percurso incessante – Os meses foram se passando, Joe comprou uma casa no subúrbio da cidade para nós, em um bairro não muito bom. Com seis meses de gestão ele queria me obrigar a fazer uma coisa que eu não estava disposta á aceitar, antes eu até tolerava, mas minha barriga estava grande e poderia fazer mal para o bebê, então em um surto de raiva ele me empurrou da escada, tentei proteger minha barriga, mas era em vão. Eu gritei, sentia muita dor, uma sensação horrível se apossou da minha barriga como se estivesse algo fora do lugar. Joe não ligou. Então por conta própria eu consegui me levantar e uma alma caridosa me ajudou na rua a chegar ao hospital. Tiveram que fazer uma cesárea de emergência, a queda havia sido muito grave – null resfolegou sufocando-se com suas lágrimas – Era... Era uma menininha null, meu anjinho, minha garotinha! Ela lutou bravamente por quase uma semana, eu a via sofrer, eu a via querer ficar comigo como se soubesse que eu precisava dela, mas ela partiu, e era incrível como pela manhã o céu estava horrível, completamente nublado e na hora da partida da minha garotinha ele estava completamente ensolarado como se estivesse feliz por recebê-la. – Cobriu o rosto com as mãos soluçando alto – Meu mundo acabou. Eu queria partir assim como minha pequenininha, mas eu não tinha força e naquele momento finalmente eu havia caído na real, Joe não valia apena, não valia nada. Eu sai do hospital e fui direto pra casa dos meus pais, bati na porta e uma mulher estranha me atendeu, então ela disse que era a nova moradora dali, que os antigos proprietários venderam a casa e ela não sabia pra onde haviam ido. Fiquei desolada, eu não tinha pra onde ir, Joe me obrigou a me afastar de todos os meus amigos e sem alternativa voltei para aquele lugar. E as coisas apenas pioravam, ele me agredia, continuava a me obrigar a fazer o que eu não queria, ele é sadista, impõe dor, sofrimento pra sentir prazer e fazia isso comigo. Os abusos ficavam cada vez piores e ele... Ele me obrigou a ter relações com quatro homens ao mesmo tempo. Nunca me senti tão suja, me sentia um lixo, a pior pessoa que vagava por essa terra, eu era apenas um corpo ferido carregando um espírito destroçado. E então você apareceu – Em meio às lágrimas a mulher conseguiu sorrir, um sorriso fraco, mas mesmo assim um sorriso – E você fez eu me sentir como eu me sentia quando era adolescente, toda aquela áurea infantil e feliz que sempre te cercou, me deu a vida novamente e eu queria ser aquela velha null, de sorriso fácil e coração feliz, eu quero ser ela novamente null, porque eu não aguento mais essa vida.
O homem estava estático, lágrimas também corriam por suas bochechas. Então ele aproximou-se de null e sentou-a em seu colo, a mulher afundou seu rosto no pescoço do null e desencadeou um pranto sofrido ali. null a abraçou com força querendo lhe passar segurança e sentia a mulher tremer por inteiro. Afagava seus cabelos com delicadeza e tentava controlar suas lágrimas.
- Eu... Não sei nem o que te dizer, null – Esperou pacientemente até que a mulher se acalmasse um pouco – Temos que ir á delegacia.
- Eu tenho... Eu tenho medo – Soluçou. null a afastou e segurou o rosto da mulher sentindo um aperto no peito ao vê sua expressão desolada.
- Eu estou aqui com você, eu vou te ajudar e te proteger, mas antes que eu queira te ajudar, você primeiramente tem que querer isso. Você não disse que quer ser a velha null? – Ela assentiu – Então você tem que denunciar esse monstro, null. Você tem marcas dos abusos dele, pode muito bem fazer a denuncia, e algum vizinho pode testemunhar também, com certeza alguém deve ter ouvido alguma coisa – null assentiu.
- Tem... Um casal.
- Então, você está esperando o que?! – A mulher suspirou – Vamos lá, prometo que não vou sair do seu lado.
A mulher levantou-se e null fez o mesmo, segurou firmemente em uma de suas mãos e os dois saíram do quarto. Logo estavam no carro do null enfrentando a chuva enquanto null dizia o caminho de sua casa, ou melhor, de sua antiga casa. Por sorte o homem tinha um guarda-chuva no carro e foi com ele que conseguiram se proteger parcialmente da chuva enquanto caminhavam até a casa onde os vizinhos de null moram. Tocaram a campainha e para o alivio de ambos, logo foram atendidos. null conversou com o Sr. e a Sra. Willians e os dois aceitaram sem pestanejar acompanhar ela até a delegacia já que o casal outrora já insistiu para a mulher fazer o que agora ela fazia. Todos entraram no carro de null, foram até a delegacia mais próxima e, por incrível que pareça, foram atendidos rápido.
- Ele também tem vídeos no celular, gosta de gravar tudo o que faz. – Fazia quase duas horas que null estava sentada na frente daquele policial, havia mostrado seus machucados, outras marcas que havia em seu corpo - inclusive as iniciais do nome e sobrenome de Joe que ele próprio havia feito com uma faca do lado direito de seu quadril – e contado tudo o que tinha passado. O policial também ouviu o que os vizinhos tinham a dizer e eles disseram que haviam presenciado o cara agredindo null no quintal e constantemente ouviam gritos da mulher. A conversa toda foi gravada e null saiu da delegacia com a certeza de que os dias de Joe andando livremente por ai estavam contados.

(...)
- Obrigada Sr. e a Sra. Willians, eu não sei nem como agradecer.
- Que isso querida – A mais velha acariciou o rosto de null e sorriu ternamente como uma mãe – Só em vê você se livrando desse homem horrendo já é um grande pagamento pra mim – null segurou na mão da mulher.
- Não se preocupem, a identidade de vocês serão preservadas.
- Não nos importamos com isso, o importante é que de agora em diante você ficará bem – O homem de aparência bondosa piscou. null sorriu e viu o casal entrar na casa deles.
A chuva havia dado uma trégua, mas tudo indicava que ela logo voltaria.
- Agora acho melhor você ir arrumar suas coisas, vai que aquele cara volte – null disse e null assentiu. Andou até a frente de sua casa e retirou a chave de baixo de um vaso com flores mortas, abriu a porta e entrou vendo null fazer o mesmo.
O homem adquiriu uma expressão de desgosto ao observar o interior da casa, quase não havia moveis por ali, as paredes estavam descascadas, havia infiltração e o lugar era pouco iluminado. null subiu as escadas e null a seguiu; entrou no quarto que supôs ser dela e viu-a caminhar rapidamente até o guarda-roupa sem portas. Observou o quarto assim como fez com a sala notando uma algema presa à grade da cama que parecia enferrujada e mais algumas coisas espalhadas que ele preferiu não saber o que eram. Suspirou se perguntando como null aguentou viver daquela forma por tanto tempo, ela merecia muito mais que aquilo, nunca fez mal a ninguém, sempre foi uma boa aluna e merecia tudo de melhor que a vida poderia lhe dar. O null viu a mulher sentar na cama e suspirar.
- O que foi null?
- Eu não tenho pra onde ir.
- Você vai pro meu apartamento.
- null, você já fez tanto por mim. – A mulher o olhou com olhos lustrosos – Eu não posso aceitar mais isso.
- Não só pode, como vai – Disse convicto – E se você já arrumou suas coisas, nós podemos ir.
null pegou uma pequena bolsa onde tinha guardado suas roupas e dois calçados, tudo o que estava naquela bolsa era tudo o que ela tinha. Não levava produtos de beleza porque há muito tempo já não tinha vaidade, não levava nenhum objeto significativo porque nada ali significava alguma coisa, por ela aquela casa e tudo que tinha dentro virariam cinzas, inclusive suas memórias.

~*~

- null, esse é o único quarto vago da casa, se importa de ficar nele?
- Mas é claro que não null – Olhou para o pequeno quarto impecavelmente limpo, as cores das paredes eram neutras, a cama, o guarda-roupa e a escrivaninha escuros. Ali também havia uma pequena janela coberta por bonitas cortinas floridas. Era um pequeno quarto de empregada, mas como a mulher que trabalha para null não dorme no apartamento, o quartinho estava livre.
null colocou sua bolsa em cima da cama e sentou-se no colchão macio, olhou para null e sorriu de lado.
- Eu nem sei como agradecer tudo o que você está fazendo por mim – O homem sentou-se ao seu lado e segurou suas mãos geladas.
- Você não precisa agradecer, eu não faço o bem esperando alguma recompensa por isso.
- Você sempre foi assim, bondoso até mesmo com quem não merece. – Suspirou – Me arrependo tanto de ter te magoado.
- Isso já passou null, faz muito tempo.
- Mesmo assim e agora mais que nunca, tenho certeza que tudo que passei e estou passando é castigo por ter feito aquilo com você.
- Meu Deus, como você fala bobagem – null semicerrou os olhos e balançou a cabeça em negação – Vou deixar você se instalar aqui, quero que você se sinta em casa.
- Eu juro que vou tentar sair daqui o mais rápido que eu puder, vou procurar um emprego amanhã mesmo e algum lugar pra morar. – null revirou os olhos e levantou.
- Fico me perguntando como pode sair tanta besteira da sua boca. null você não precisa se preocupar com absolutamente nada, pode ficar aqui o tempo que você quiser.
- null não quero te dar despesa, meu Deus eu já te dei trabalho demais!
- Enfim, a casa é sua. – Disse como se null não tivesse dito absolutamente nada. Ela bufou.
- Esqueci como você é teimoso e irritante. – Resmungou e ele riu – Então eu vou ajudar com null, sei que vida de médico não é fácil, então quando precisar eu estou aqui.
- Okay. – null sorriu e saiu do quarto.
O null foi até o quarto de null vê se ela estava em casa e encontrou a irmã arrumando-se na frente de um espelho.
- null... – Ela o olhou e sorriu.
- null está no balé, não se esqueça de pegar ela, não queremos uma mocinha furiosa andando por aqui. – null sorriu e sentou-se na cama dela.
- Senta aqui, eu preciso falar com você. – A mulher sentou-se ao lado do irmão – null vai ficar hospedada aqui por tempo indeterminado – O fraco sorriso que null carregava, sumiu.
- O que?
- Ela está passando por uma situação muito difícil e precisa de ajuda.
- Eu não sei se isso é uma boa null.
- null...
- Eu me lembro okay? Podia ter apenas 12 anos, mas me lembro perfeitamente de como você ficou arrasado quando ela largou você. Eu não quero que você sofra de novo. – null sorriu e abraçou a irmã de lado.
- Isso não vai acontecer, eu garanto á você. – Ela suspirou e abraçou o irmão – Sabe, me lembro como se fosse hoje quando a mamãe me contou que estava grávida, eu não disse que queria que fosse um menino como todo garotinho de cinco anos diria, eu disse à ela que queria que fosse uma menina para ela ser nossa princesinha, para eu proteger ela e que ela seria a melhor irmã do mundo. Eu não estava errado sobre nada que falei. – O homem viu os olhos da irmã lacrimejarem e sorriu carinhosamente depositando um beijo terno em sua testa.
(...)
- Conversei com a null. – null disse aparecendo na porta do quarto que null estava hospedada e vendo que ela tinha arrumado suas coisas.
- Eu não vou incomodar ela? Parece que ela não gosta muito de mim.
- É impressão sua. – Desconversou.
-Desculpe perguntar, mas por que sua irmã mora com você?
- Bem – O null encostou-se no batente da porta e cruzou os braços. Os olhos de null recaíram sobre seus braços cruzados e ela percebeu seus músculos saltados. Conseguiu com muito custo prender um suspiro – Meus pais resolveram viajar pelo mundo, eu e null já estamos criados, null não é mais bebê e os velhos decidiram que estava na hora de curtir a vida, então eles foram. null morou sozinha por algum tempo, mas assim que me mudei a trouxe para ficar comigo, além de fazermos companhia um para o outro, ela me dá uma ajuda com null.
- E o que ela faz?
- Formou-se em artes plásticas, trabalha em um estúdio perto daqui por isso fica fácil dela cuidar de null pra mim. Falando em null, tenho que buscá-la no balé. Vamos comigo? Assim você se distrai um pouco. – null aceitou e logo ela e null saíram do apartamento.
A chuva havia voltado a cair, mas estava mais fraca e o transito por incrível que pareça não estava caótico. null estacionou na frente de um estúdio de balé e pediu para que null aguardasse no carro. Logo ele estava de volta, colocou null em sua cadeirinha e entrou no banco do motorista dando a partida.
- Tia null é verdade que você vai morar com a gente?
- É sim princesa, por um tempo.
- Oba! – Ergueu os braços e null riu.
- E ela também vai cuidar de você quando eu e sua tia não pudermos fazer isso.
- Então eu não vou ter que ficar mais com a senhora Walter?
- Não. – null ouviu a filha suspirar alto e fechar os olhos em uma postura totalmente aliviada. O homem não conseguiu conter a gargalhada.
- A senhora Walter fede, tia null.
- null... – null a repreendeu.
- É verdade papai, você sabe, eu já vi você disfarçando tampando o nariz várias vezes.
- Você é impossível. – Prendeu a risada.
- E ela me obriga a comer chuchu, odeio chuchu. – Cruzou os braços emburrada e null revirou os olhos. O null bocejou, todo o cansaço que sentia mais cedo estava voltando.
Continuaram o caminho enquanto desfrutavam da dança sinuosa que incessantemente a chuva fazia.

~*~

null olhava o horizonte através da grande parede de vidro. Um dia havia se passado e ela não tinha noticia alguma de Joe, o homem não a procurou ou assim ela pensava, mas ele nunca a encontraria, null não tinha celular e Joe não sabia que null estava na cidade e muito menos que ele e null estavam próximos. Era fim de tarde e a gradiente de cores no céu era de tirar o fôlego de qualquer pessoa. null ouviu o barulho da porta e virou a cabeça vendo null entrar no apartamento, sorriu para o homem que lhe devolveu o sorriso e se aproximou dela. Os dois ficaram em silêncio, lado a lado apenas desfrutando da paisagem.
- Ele foi preso null, Joe foi preso. Me deram a noticia pela manhã, mas achei melhor falar pessoalmente. – A mulher não esboçou nenhuma reação – Realmente encontraram vídeos dos abusos no celular dele e em um computador, também encontraram os homens que participaram de alguns vídeos e eles foram presos também, e tudo indica que não sairão tão cedo, principalmente Joe, disseram que até iriam transferi-lo para um presídio em outra cidade depois que acontecer a audiência, e você não vai precisar participar já que seu depoimento está todo gravado. – Olhou para null e viu que ela estava cobrindo o rosto com ambas as mãos, seu corpo tremia e ele sabia que ela chorava mesmo que seu choro não fosse barulhento.
O homem a abraçou e sentiu null segurar com força sua cintura afundando o rosto em seu peito e molhando sua blusa com as lágrimas. Mas ele não ligava para aquilo, ligava apenas para aquela mulher magra e sofrida carregando mais idade do que realmente possuía.
- Obrigada null... Obrigada. – Disse em meio aos soluços. Ele acariciou os cabelos dela e segurou seu rosto com carinho sorrindo enquanto fitava seus olhos avermelhados.
- Sua nova vida começa agora null e espero que nessa você seja feliz. – Piscou.
null observava-se no grande espelho que havia na sala, olhava atentamente para cada defeito que o tempo proporcionou á ela. Suas roupas estavam largas, sua pele pálida, seus olhos sem vida, seus cabelos sem brilho, suas unhas enfraquecidas... Ela nunca se sentiu tão pra baixo, tão desprovida de beleza. Viu null se aproximar dela e a olhá-la pelo espelho.
- Que foi? – O null ergueu a sobrancelha e null suspirou.
- Eu sou horrível, um caco.
- Já disse que você fala muita besteira?
- Eu estou falando sério null, nem pareço aquela menina bonita do colegial.
- Mas isso é fácil de concertar. – Sorriu e ficou atrás de null tocando em seus ombros ossudos – Isso se concerta com boa alimentação e exercícios leves. – Tocou carinhosamente suas bochechas – Isso se concerta com um pouco de sol, muito liquido e a alimentação também ajuda. – Afagou seus cabelos com carinho – Isso se concerta em um excelente salão de cabeleireiro. – Logo depois passou o dedo indicador de baixo dos olhos de null sorrindo carinhosamente – E isso se concerta sendo feliz. – Ela sorriu e virou de frente para ele, abraçou o homem pela cintura e encostou a cabeça no ombro dele. null retribuiu o abraço e lhe depositou um beijo em sua testa.
- Já disse o quão maravilhoso você é?
- Você tem que parar de inflar meu ego assim.
- É serio. – Ela riu e o olhou – Não sei o que seria de mim se você não tivesse aparecido na minha vida.
- Você é muito especial pra mim null, jamais deixaria você na mão. – Piscou e null sentiu que sua felicidade estava realmente á caminho.

~*~

Os dias se transformaram em semanas e as semanas logo viraram meses. As mudanças em null eram perceptíveis, estava quase alcançando o peso ideal, sua pele não era mais tão pálida, seus cabelos estavam brilhosos e sedosos e seus olhos aos poucos voltavam a brilhar. Ainda estava no apartamento de null e por insistência dele, é claro. null e null desenvolveram uma amizade facilmente, a mais nova não implicava mais com null e até gostava da presença dela. null e null também se davam incrivelmente bem, a garotinha não desgrudava um minuto se quer dela e não era como se null achasse isso ruim. null era um caso á parte, o homem era simplesmente maravilhoso, arrancava risos facilmente dela, lhe comprava coisas mesmo null lutando para não aceitar, ela odiava aquela sensação de estar abusando da boa vontade de null, mas ele simplesmente fingia não ouvir suas reclamações e continuava a lhe encher de coisas. E null sabia que aquilo iria acontecer, sabia que se apaixonaria por ele de novo porque ele era único demais, extraordinário demais para não se apaixonar tão facilmente, foi assim no colegial, se conheceram, viraram amigos, null mostrou á null o quão maravilhoso era, ela se apaixonou e viveu bem ao lado dele até cometer aquela tremenda idiotice. Meu Deus se ela pudesse voltar no tempo ela jamais teria largado null, sabia que teria sido muito feliz ao lado dele, não tinha certeza se o namoro continuaria, mas achava que sim, ela e null mal brigavam, tinham gostos em comum e se davam super bem, mas null achava o relacionamento deles monótono demais, então foi atrás de algo menos clichê e se tivesse tido ideia do que aquele menos clichê significava, ela tinha vivido eternamente na monotonia. E tudo que ela vivia naquele momento era aquilo, mas null parecia não nutrir interesse por ela, ele a trata como uma velha amiga cujo ele ajudou muito, apenas isso, e null se sentia frustrada.
Era um sábado ensolarado e a mulher estava sentada no sofá lendo uma revista qualquer, ouviu a campainha e levantou-se arrumando o vestido florido e abriu a porta. Uma mulher com uma beleza extraordinária lhe sorriu, ela possuía cabelos longos, negros e ondulados, seus olhos azuis extremamente chamativos continham um brilho descomunal. Seu corpo com certeza é o sonho de consumo de qualquer mulher e seu sorriso é daquele tipo que chega aos olhos. Quem visse até pensaria que null era interessada em mulheres, mas não, ela apenas ficou impressionada demais com aquela beleza toda em forma de gente e de repente se sentiu como uma barata cascuda.
- Olá – Sua voz melodiosa soou pelo ambiente – O null está?
- Ahh, claro, claro, entre. – null deu espaço e a mulher entrou no apartamento olhando em volta.
- Desculpe, nem me apresentei. Me chamo Naomi – null sabia que aquela mulher se parecia com alguém, aquela só podia ser a mãe de null.
- Prazer, null.
- null está por aqui? – null abriu a boca para responder, mas não foi necessário porque logo a garotinha entrou correndo na sala.
- Mamãe! – O sorriso da mulher ampliou-se e ela abaixou-se recebendo a filha em seus braços e a abraçando forte.
- Meu Deus, como eu senti sua falta minha menina! Você está enorme. – Naomi levantou-se com a filha no colo e lhe deu um beijo na bochecha.
- Veja só quem está aqui.
- null! – A mulher colocou a filha no chão e aproximou-se do homem, ele a abraçou e a ergueu fazendo a morena gargalhar – Mas que isso, cada vez mais bonito.
- Ahh para, bondade sua. – Riram e se desvencilharam.
- Consegui uma semana de folga. – Sorriu contente – E estava pensando se null pode passar essa semana comigo já que estamos no período de férias.
- Mas é claro que ela pode.
- E falando nisso, nossa menina está um pedacinho do céu.
- Nem me fale. – null emburrou – Já vi que vou ter trabalho. – Naomi riu – null, será que você pode ajudar null com suas coisas?
- Claro! – A mulher lhe lançou um sorriso fechado e chamou null segurando em sua mão e subindo as escadas.
- Ela é linda. – Naomi sorriu sugestiva e null coçou a nuca sentando-se no sofá juntamente com a mulher.
- É uma amiga, está passando um tempo aqui.
- Amiga, sei. – Riu – Ahh espera ai, ela não é aquela sua ex-namorada do colegial? Vi fotos dela uma vez. – null assentiu – E ainda me fala que é uma amiga...
- Excelente memória. null andou tendo alguns problemas, acabamos nos reencontrando e eu á ajudei.
- E você não sente nada por ela?
- Bem... – Coçou a nuca – Ela foi minha primeira namorada, eu nunca realmente a esqueci.
- E você está esperando o que para investir? null null não estou te reconhecendo! – O null riu.
- É complicado.
- Então descomplica seu bobo, sei que você nunca a superou. Dizem que as segundas chances são sempre as melhores. – Piscou.
null e null logo voltaram. null puxou a filha e a abraçou.
- Se comporta meu amor. – A menina assentiu e fez um biquinho fazendo com que seu pai lhe desse um terno selinho – Naomi não a deixe comer muito chocolate porque a barriga dela incha. Se fizer frio não molhe o cabelo dela porque a sinusite ataca. Não a deixe ficar acordada até tarde e não dê tudo que ela pedir, por favor.
- Okay mamãe, o papai aqui vai cuidar bem dela – A mulher disse ironicamente arrancando risos de null e null e deixando null com a expressão emburrada.
O null levantou-se e foi até a porta com Naomi e null, se despediu delas e logo depois fechou a porta.
- Você não me disse que Naomi é tão linda.
- Ah, isso é só um detalhe. – “Abanou o ar” e null riu. Então null a observou notando como ela estava linda e se parecia com aquela namorada que ele tanto amou e dedicava todos os seus dias. Suas expressões estavam mais maduras, é claro, e ela ainda carregava vestígios de uns tempos sofridos, mas nada que o tempo não mudasse.
- O que foi? – Percebeu que as bochechas dela estavam coradas e sorriu de lado.
- Só estava reparando como você me parece viva. – Foi a vez de null sorrir.
- Eu me sinto viva, e isso é muito bom .– Ele aproximou-se dela e tocou sua bochecha carinhosamente.
- Isso me deixa extremamente feliz null, você é incrível demais para se deixar abater pela vida. – Ela sorriu encantada e levou sua mão até a mão do null. Percebeu que aos poucos ele se aproximava e por um instante sentiu-se tensa. Seu coração batia rapidamente e um frio apoderou-se de sua barriga enquanto olhava para os olhos tão penetrantes de null. Não tardou para que os lábios do null tocassem ternamente o dela, um toque suave, mas que proporcionou para ambos sensações violentas. Logo as línguas se encontraram, os corpos se juntaram e a magia aconteceu. Logo as respirações se descompassaram, a excitação cresceu e o calor apareceu.
null rompeu o beijo ofegante e o olhou para null vendo-a abrir os olhos aos poucos.
- Achei que me quisesse apenas como amiga.
- Repetia isso tentando me convencer, mas nem por um momento acreditei de fato nisso. – null sorriu, um sorriso quase maior que seu rosto, então null voltou a beijá-la, gostosa e profundamente.
O homem começou a andar e null sentiu seus calcanhares baterem levemente contra os degraus da escada. null abaixou-se um pouco sem desgrudar seus lábios dos da mulher e segurou em ambas as coxas dela erguendo-as e fazendo-a contornar sua cintura com as belas pernas. Subiu alguns degraus e a prensou contra a parede de vidro. Um leve gemido escapou pelos lábios da mulher enquanto null espalhava lascivos beijos por seu pescoço. Com um pouco de dificuldade o null conseguiu subir as escadas e entrou em seu quarto. Depositou o corpo de null com delicadeza na cama e deitou-se por cima dela voltando á beijá-la imediatamente. A mulher logo sentiu seu vestido ser levantando e segundos depois ela encontrava-se apenas de lingerie. Abriu os olhos sentindo o olhar de null a queimar e observou os olhos do null vagar por seu corpo. Ele passou a ponta do dedo indicador por cada cicatriz existente ali, inclusive pelas iniciais do nome e sobrenome de Joe. O rapaz suspirou e arrancou a própria blusa, olhou para null e ela se sentiu a pessoa mais especial e amada do mundo.
É certo que ela possui traumas pesados, foi obrigada a manter relações com homens nojentos, fazer coisas nojentas, mas ela não sentia nenhum receio com os toques de null, sabia que ele nunca a machucaria, ele foi o primeiro homem que tocou em seu corpo, que a fez mulher e lá estavam os dois de novo e null mal esperava para sentir novamente todo aquele amor que eles sempre emanavam na hora do sexo, toda aquela cumplicidade que os envolvia. Mal via a hora de ser novamente de null null.

null sentia-se extremamente realizado, não conseguia sumir com aquele sorriso que havia se instalado em sua face. Estava deitado de barriga pra cima e null de bruços com metade do corpo por cima do dele. Um lençol escuro de algodão cobria parcialmente seus corpos nus e seus olhares não se desgrudavam por um minuto se quer.
- Senti falta disso.
- Eu também. – null o abraçou forte – Você me faz tão bem, Dr. null.
- É isso que os doutores fazem, deixam as pessoas bem. – Sorriu maroto e null riu.
- E agora? A gente faz o que? – null ficou um tempo em silêncio encarando o teto branco. Olhou para null e sorriu, depositou um selinho molhado em seus lábios e sussurrou:
- Agora reconstruímos nossa história e fazemos dela algo feliz.

Anos depois...

null pegou suas coisas em cima da cama e desceu apressadamente as escadas. A casa estava silenciosa, null estava no balé, null havia passado a noite na casa do namorado e ainda não havia dado sinal de vida e ela não fazia a menor ideia de onde null poderia estar.
Os anos foram bons com null, muito bons pra falar a verdade. Ela se sentia realizada, não se sentia mal ao se vê no espelho e transformou suas dores em histórias de superação. Um belo dia decidiu que iria fazer uma tatuagem para encobrir as siglas de Joe em seus quadris, por ali agora habitava uma linda fênix, pequena e delicada e nem parecia que de baixo dela habitava uma marca.
Com o apoio de null, null resolveu voltar para a faculdade e agora dava aulas para crianças em uma escola que ficava perto do bairro. Não se sentia mais uma intrusa naquela casa, muito pelo contrário. Ela e null mantinham um relacionamento excelente, a menina via a mulher como mãe e já havia dito aquilo a null e claro que ela ficou muito emocionada. null e null tornaram-se grandes amigas e a mais nova estava providenciando sua mudança para a casa do namorado, apesar de null e null insistirem para que ela ficasse ali. E falando no casal... null fez null feliz por todos os dias desde aquele beijo, constantemente a surpreendia, se declarava, a agradava, fazia ela se apaixonar todos os dias. Eles estavam noivos e faltavam apenas dois dias para o casamento e null nunca pensou que poderia ser tão feliz.
A mulher ouviu o barulho da porta e olhou para o noivo que havia acabado de entrar no apartamento.
- Hey, onde você estava? – Ele sorriu misterioso e se aproximou dela, pegou as coisas que ela segurava e colocou sobre o sofá, logo em seguida lhe deu um selinho.
- Eu tenho uma surpresa pra você. – null sorriu amplamente.
- Que surpresa? – O null foi até a porta e a abriu. null automaticamente levou a mão até a boca e sentiu os olhos lacrimejarem-se – Mãe... Pai... – Sua voz saiu embargada enquanto as lágrimas já rolavam por seu rosto.
O casal aproximou-se rapidamente da filha e a abraçou. null desabou em lágrimas, a saudade explicita por todos aqueles anos escorria por cada gota que saia de seus olhos.
- Minha menina. – A mais velha segurou o rosto da filha – Está tão linda.
- Mamãe, eu senti tanto, tanto a sua falta... A falta de vocês. – Olhou para o pai que também estava emocionado.
- Nós também minha filha, todos os dias. Procuramos por você, mas não a achamos, ficamos com tanto medo que tivesse acontecido algo de ruim.
- Nos perdoe null, por tudo de ruim que dissemos a você.
- Não papai, eu que tenho que pedir perdão pela forma que eu agi, se eu tivesse escutado vocês eu não teria passado por tantas coisas ruins. Me perdoa. – Voltou a abraçar fortemente os pais ficando incontáveis minutos daquela forma. null riu e afastou-se um pouco – Eu vou me casar.
- Nós sabemos meu amor, null nos contou tudo, até... Até sua perda – null baixou o olhar, mas logo depois voltou a olhar os pais.
- Como vocês me encontraram?
- Na verdade foi null que encontrou a gente com a ajuda de um amigo que é detetive. – null olhou em volta procurando o futuro marido e o encontrou em um canto da sala apenas olhando a cena. A mulher correu até o noivo e pulou em seu colo fazendo-o rir e segura-la.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo. – Espalhava múltiplos beijos pelo rosto e boca do rapaz – Meu Deus, como eu te amo! – Então o beijou profundamente enquanto as lágrimas desciam, sem se importar com a presença dos pais – Eu nem sei como te agradecer meu amor, nem sei.
- Você não precisa minha linda, ver você feliz desse jeito é uma recompensa e tanto. – null desceu do colo de null.
- Já que você me enche de surpresas agora eu tenho uma pra você. – Pegou as mãos do marido e colocou-as sobre sua barriga enquanto abria um sorriso que mal cabia no rosto – Parabéns papai. – null escancarou a boca e a olhou atônito ouvindo ao fundo que os pais de null ficaram tão surpresos quanto ele.
- Ahh meu Deus... Ahh meu Deus! – Pegou a mulher nos braços e a beijou fazendo-a rir entre o beijo – Eu nem acredito null! É serio?
- Claro que sim meu amor, a família vai aumentar.
- Eu amo você... Amo você mulher! – E então a sala foi preenchida por gargalhadas e a felicidade estava em todo canto e mal cabia ali dentro.
E era daquilo que ela sempre precisou, de alguém que curasse suas feridas e as transformassem em cicatrizes, cicatrizes que não incomodam e que não somem para lhe mostrar todos os dias o quão forte ela foi e ainda é. Agradecia todos os dias por ter o seu doutor ali, sempre a sarando, imunizando-a e lhe enchendo de vida todos os dias. E sua vida se seguiu daquela forma, com um passado cruel e um futuro curador embebido em um poderoso remédio chamado amor.


FIM



Nota da autora: Bem, sou um pouco nova nesse maravilhoso muito de fanfics, resolvi de uma hora pra outra postar minhas estórias aqui e essa é a terceira que envio, e espero do fundo do meu coração que vocês gostem e sejam bonzinhos comigo, sim? Não se esqueçam de comentar e qualquer coisa entrem no meu grupo no face. É isso. Au revoir!
Contatos:
Grupo no face: https://www.facebook.com/groups/333832020124072/
Twitter: @alicealmeidas
Minhas outras Fic’s:
- O preço da traição: ShortFic Outros/Em andamento
- Um lugar seguro para cair: LongFic Outros/Em andamento

Nota da Beta: Gente que coisa MAIS LINDA. Tinha momentos em que meu estomago parecia estar fazendo uma festa, sabe, pequenos espasmos involuntários só de ler essa lindeza hahaha Eu fiquei até emocionada, achei muito linda essa fic. Amei de coração e espero que também tenham amado. Parabéns por esse trabalho dona Alice. Não se esqueçam de comentar eim amores. Xoxo-Anny

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