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Tudo estava indo muito bem, a noite estava silenciosa, havia poucos carros pela pista àquela hora, poucos bares ainda estavam abertos, inclusive o que estávamos. , meu marido, e eu. Tudo estava a mil maravilhas, não bebemos muito, apenas dançamos. Aquelas músicas ao vivo não eram boas, mas dava para o gasto.
me pegava por trás, me girava, e me segurava forte em seus braços. Após dois anos namorando e dois anos casados, ele ainda me deixava arrepiada, e ainda fazia-me sentir aquele choque pelo corpo. Posso até dizer que ainda me perdia em seus olhos claros, que me olhavam com tanta intensidade.
Saímos do bar quase duas horas da manhã, sempre íamos lá nas sextas para passar o tempo e relaxar um pouco depois semana conturbada no trabalho. Adorava o que eu fazia, me dava muito prazer, mas me cansava mais do que eu podia imaginar, dando-me um mau humor inexplicável, que eu claramente descontava em . Mas ele não se importava, na maioria das vezes ele me ignorava quando eu dava meus surtos; me deixava sozinha comigo mesma, e mesmo eu brigando com ele por não ficar do meu lado, eu sabia que o certo era respirar fundo e ter um tempo só para mim, afinal, ele não merece ser tratado mal por conta de meu trabalho.
A mesma coisa acontecia com ele; exigiam muito dele na empresa onde trabalhava, e ele chegava cansado todos os dias em casa. Nossa vida não era a melhor e nem a pior de todas; estávamos perdendo o tempo que tínhamos para nós mesmos quando nos conhecemos. Talvez porque dávamos muito do que tínhamos no nosso emprego, e nos esquecíamos de viver o nosso amor. Embora fôssemos um casal, só agíamos com um nas sextas, e nos finais de semana, onde passávamos o dia todo juntos e fazendo coisas que casais normalmente fazem. Queríamos mudar isso, mas não podíamos mudar tendo um emprego, e também não podíamos deixar de trabalhar porque precisávamos pagar nossas contas. Tudo se descomplicava nas sextas feiras, nada era melhor do que estar ao lado dele, enquanto ele dava toda a atenção que podia para mim. Éramos só eu e ele.
No carro, sempre brincava comigo, colocava uma música do , que ele sabia que eu adorava, e cantávamos alto até chegarmos em casa. Mas naquela noite, ele encostou perto do meio fio e desligou o carro. De início, achei que ele ia falar algo ruim, mas apenas me olhou e deu um sorriso malicioso. Ficamos nos encarando por alguns segundos, como dois estranhos. Até que ele resolveu abaixar o volume do som. Ele sempre fazia isso quando queria conversar sério; e sempre que ele queria conversar algo sério eu já imaginava o pior.
- Ei, eu estava pensando... - Ele parou de falar e fechou os olhos. Bom, talvez não fosse algo ruim, somente algo difícil de falar.
- No que?
Ele me fitou por alguns segundos, seus olhos pareciam lacrimejar. Ele tinha medo de dizer o que estava pensando. Segurei em sua mão e sorri para ele. O que pareceu deixá-lo um pouco mais seguro.
- No que esteve pensando, amor?
Ele respirou fundo e fechou os olhos novamente, apertando minha mão na sua.
- Ahm... Talvez pudéssemos ter um filho. - Ele soltou as palavras rapidamente, me deixando espantada. Nunca havíamos conversado sobre filhos, na verdade nunca consegui tocar no assunto, não era fã de crianças, sempre achei que ele abominava a ideia. - Digo, estamos juntos há quatro anos... Quase cinco. E nunca nem pensamos nisso, acho que está na hora de começarmos a formar a nossa família.
Não consegui conter o meu sorriso, e as lágrimas que se formavam em meus olhos. Não acreditava que estava ouvindo aquilo de , talvez por não me sentir pronta, mas me sentia segura por saber que seríamos uma família. Ele me beijou, um beijo suave e carinhoso, logo depois sussurrou que me amava.
- Podíamos começar a tentar agora, não acha? —Sorri para ele maliciosamente e ele retribuiu o sorriso, tirei o meu cinto e fui para perto dele, passando as mãos em seu abdômen forte e sarado, coloquei meu outro braço em volta de seu pescoço e puxei o seu cabelo, e ele me beijava apaixonadamente como se necessitasse daquilo, enquanto puxava minha cintura para mais perto. Naquele momento, um impacto aconteceu, pude ouvir um estrondo gigante ecoando nos meus ouvidos, senti o meu corpo sendo jogado para frente, e meus braços soltando o corpo de , pude sentir ainda suas mãos tentando me segurar. E de repente, tudo ficou preto.
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O quanto você pode esperar na vida?
Minha mãe está me dando forças; talvez ela possa me dar respostas. Eu tenho mesmo que ficar aqui deitado, sem fazer nada? Sem poder ajudá-la, sem poder fazê-la voltar para mim.
O quanto eu devo sofrer nesse momento?
O quanto devo ter fé?
Inquieto e agoniado com toda essa tensão que todos carregam num hospital, o cheiro já está me dando gastura. Me sinto aflito, como se qualquer palavra que um médico disser possa me quebrar em questão de segundos, em mil pedaços. Queria me levantar dessa cama, mas meu corpo não obedece aos meus comandos. Não tenho forças para me mexer, não vou ter força enquanto eu não ouvir que ela está bem.
—Em coma? Como assim, em coma?
Eu sei que tinha que abaixar o meu tom de voz, pois todos naquele quarto olhavam para mim, os olhos cheios de pena; e de medo. Não queria que sentissem pena de mim. Na verdade eu não dava a mínima para o que eles pensavam. Levantei-me me no mesmo instante que o médico me deu aquela notícia horrível. Minha mulher, minha esposa, a razão de eu ser feliz, estava em uma cama, inerte. Não podia nem ao menos saber que eu estava ali com ela. Corri o mais rápido possível, ignorando aquelas pessoas enquanto eles vinham atrás de mim gritando o meu nome. Eu estava bem, na verdade. Alguns machucados, uma dorzinha aqui e ali, mas eu podia me mexer, eu não estava em coma. Eu podia me levantar e ficar ao lado da pessoa que eu mais amava no mundo.
E ela estava lá, vê-la daquele jeito partia mais meu coração. Havia um tubo em sua boca que a ajudava a respirar, seu rosto estava arranhado, com cortes, suas mãos estavam machucadas também, mas a aliança estava em seu dedo; o que medeu um pingo de esperança de que ela ficaria bem. A encarava tentando achar o mínimo de possibilidade de ela se mexer, mas ela não movia sequer um dedinho. Ela não estava mais ali, somente o seu corpo. Milhares de coisas se passaram pela minha cabeça, e uma dessas coisas seria...
Como eu ficaria em um mundo onde não tivesse ela?
nunca gostou de ficar em fila de super mercado, achava desnecessário ter que esperar todas aquelas pessoas comprarem um monte de coisa que não comeriam. Ele comprava o básico, o que ia precisar; e ainda sim achava que a ideia de pedir tudo por telefone não era ruim.
Após deixar as suas compras no carro, reparou em uma moça sentada no meio fio a alguns metros de distância; ela parecia um tanto familiar, e com certeza estava tendo dificuldades para deixar todas aquelas coisas na sacola rasgada. Imediatamente, sem pensar no que estava fazendo, dirigiu-se até ela e perguntou se ela precisava de ajuda. , era seu nome, aceitou sem hesitar, sorrindo docemente para ele. Ele colocou as coisas na sacola e ofereceu-lhe carona, já que tinha uma leve impressão de que os dois moravam no mesmo bairro. Ela, que já estava acostumada a vê-lo todos os dias de manhã quando ele saía para caminhar, não pôde dizer que não; porque realmente não conseguiria ir andando com aquelas sacolas.
No caminho, conversaram como se já se conhecessem. Descobriram que tinham muitas coisas em comum, e sem pensar novamente, a convidou para jantar em sua casa qualquer dia. aceitou, não podia recusar uma amizade, já que vivia sozinha naquele lugar pois tinha se mudado a pouco tempo. Depois de deixá-la em casa e vê-la sorrir para ele daquele jeito tão tranquilo e agradecê-lo pela carona, ele percebeu que aquele momento fora um dos melhores da sua semana. Teve a oportunidade de conhecer uma garota incrível, que mostrara para ele em dez minutos de conversa que poderia ser uma boa amiga, ou até mais que isso. Mas pouco tinha se relacionado seriamente com uma mulher antes, e o que tinha, se machucou. Não achou que havia chances de algo sério acontecer entre ele e , mas quando deitou sua cabeça em seu travesseiro, não parou de pensar nela nem por um segundo.
Lágrimas caíam pelos meus olhos sem poder controlá-las, segurava forte nas mãos de como se aquilo pudesse fazê-la voltar. Não sabia o que iria acontecer, ou se ela ficaria bem. Mas naquele momento eu só conseguia pedir a Deus, para que ele não a tomasse de mim. Jamais me apaixonei em toda a minha vida antes dela aparecer. Nunca pensei que alguém poderia me amar como ela amou. Nunca pensei que iria encontrar o amor da minha vida. Achava isso uma besteira; mas ela não. E ela me mostrou que na vida, sempre podemos dar a volta por cima, e em todas as voltas, encontraríamos o amor. Eu a encontrei naquele dia, num estacionamento de um supermercado, e depois de dar a ela uma carona, eu soube que jamais conseguiria me afastar. Jamais conseguiria tirá-la de perto de mim.
Quando eu disse isso a ela, ela me pediu que nem tentasse, porque nem que eu tentasse ela me deixaria ir. Soube que ela tinha que ser para a vida toda; e eu não deixaria ela ir embora por nada neste mundo, nunca deixei. Nunca deixei que nada atrapalhasse o que tínhamos. Me arrependo amargamente por ter deixado o meu emprego tomar tanto do nosso tempo, e por ter deixado o emprego dela tirá-la tanto tempo de mim. Agora ela está aqui, nesta cama, e não sei quanto tempo vai demorar para abrir os olhos, olhar para mim, e me ouvir dizer o quanto eu a amo.
- Você já está aí há três horas, querido, vá comer alguma coisa. —Minha mãe falava e falava em meu ouvido, mas eu não conseguia escutá-la, ou pelo menos entender o que ela dizia. Meu corpo estava fraco, e eu não sentia vontade de levantar daquela maldita poltrona e nem de sair daquele quarto.
- Não agüento, mamãe. Não posso sair daqui, sinto que se eu sair, algo vai acontecer com ela.
- Filho, já tem duas semanas, você tem que agir. Tem que se levantar, ela vai ficar bem.
Dito isto, levantei-me em um pulo, como se meu cérebro tivesse vontade própria, e não pude mais me controlar. Tudo estava desabando. Todos aqueles momentos de calma e controle; e todas as lágrimas que eu segurei para não cair naquelas duas semanas. Tudo estava vindo à tona; e ela estava ali deitada sem abrir os olhos, sem ao menos mexer alguma parte do corpo.
- Será que você não entende? Eu não vou sair daqui, mãe. Eu não vou deixá-la. Eu não vou! -Minha mãe deu um pulo para trás assustando-se com o tom de minha voz que estava mais alto que o normal. Não conseguia parar de chorar, minha mãe veio até mim e abraçou-me suavemente. Estava tudo desmoronando, e eu não sabia o que fazer para controlar aquela dor.
- Sinto muito, vou trazer algo para você comer.
Ela disse e saiu, e eu não vi alternativa a não ser voltar para a poltrona e ficar observando cada célula do corpo de . Ela tinha que acordar; tinha que voltar.
- , o que está fazendo? Vamos, acorde. Não é possível que ainda está dormindo, são três da tarde. — disse tentando animar a garota que estava estatelada na cama e nem se movia. —Vamos, amor, acorde! —Sacudia ela sem nem um pingo de delicadeza e a menina gemeu cansada e deu-lhe um tapa no braço.
- Saia daqui, . Me deixe dormir! —Virou-se para o outro lado da cama e enterrou a cabeça no travesseiro.
- Tudo bem, eu só achei que você ia querer saber o que eu comprei para você.
- Vaza.
- Bom, já que hoje é um dia especial, pelo menos para mim, para você pelo jeito não, comprei uma coisa para fazermos à noite, e então sairíamos agora para você comprar um lindo vestido, mas...
recebeu um travesseiro no meio da cara, e se afundou novamente na cama, se aninhando em uma posição confortável. Mas não iria desistir.
- Tudo bem então, já que você não liga para o meu aniversário, e não quer ir ao show do comigo, vou arrumar alguma menina por aí para me acompanhar...
abriu os olhos imediatamente e virou-se para , que estava parado ao lado da cama, com uma mão no bolso, e a outra com dois ingressos para o concerto do na mão. A garota ficou boquiaberta, não sabia o que dizer, apenas sorriu e pulou em cima de , pedindo desculpas entre os beijos, e desejando a ele um feliz aniversário.
- Caramba , você ama o mais do que ama a mim. — disse seguindo-a até a cozinha.
- Quem disse que eu amo você?
preparou as panquecas que o tanto amava para um lanche, olhou para o relógio e marcava 10:40 da manhã. Ela olhou de relance para que saboreava suas panquecas e depois olhou para o relógio novamente.
- , você não me disse que eram três da tarde?
deu um sorrisinho maroto para ela, e levantou os braços alegando ser inocente. revirou os olhos e se jogou no sofá.
- Não é porque você está ficando idoso, que eu tenho que acordar cedo, bonitinho. - Ela disse fechando os olhos.
Abri os olhos devagar tentando entender o que estava acontecendo; por que tanto barulho no quarto, por que todas aquelas pessoas, por que os médicos estavam levando para fora. Levantei-me em um segundo, pronto para ir atrás, mas minha mãe me conteve.
- Está tudo bem, ela acordou. Estão a levando para examiná-la.
Aquelas palavras esquentaram cada parte do meu corpo, senti que estava pegando fogo. Sentia meu corpo tremer e minhas pernas vacilarem como se eu fosse cair a qualquer momento.
- Por quanto tempo eu dormi?
- Você pegou no sono de manhã, são nove da noite, tem quinze minutos que ela acordou. Está tudo bem, filho. —Minha mãe sorria, mas não podia conter as lágrimas. E novamente eu caí em prantos, mas desta vez de alívio, e chorei no ombro da minha mãe.
estava maravilhosa, e tentava respirar fundo para conter o nervosismo. Jamais pensara que iria se casar, seus amigos diziam que ele estava cometendo um erro, pois depois disso não tinha mais volta: ele estaria preso. Mas não tinha nada de errado em estar preso a uma pessoa que você ama.
Ele tinha uma teoria, se você está infeliz com a pessoa que ama, então ela vai deixá-lo livre para ser feliz. E se você é feliz com esta pessoa, não há porque se sentir triste por estar presa a ela. era tudo que precisava, principalmente com aquele lindo vestido branco, que ia até seu joelho, seus lindos cabelos castanhos estavam jogados sobre seus ombros, com um monte de cachos, e ela deu uma volta para que ele pudesse vê-la direito. Ele nunca se sentiu tão feliz como naquele momento; ele a teria para o resto de sua vida.
Os dois juntaram as mãos e foram juntos para dentro da igreja, não tinha tantas pessoas, eles queriam algo simples, apenas os amigos e a família. Nada extravagante, nada de buquê e músicas. Só eles dois indo juntos até o altar. Fizeram seus votos e promessas, e logo depois de um grande suspiro, disseram "sim" juntos e se beijaram. Depois, veio a lua de mel, é claro, e os dois realizaram seus sonhos de consumo visitando a França. Passaram uma semana lá aproveitando cada segundo naquela cidade maravilhosa, Paris. Logo depois, voltaram para casa; e prometeram um para o outro, que além de marido e mulher, seriam para sempre melhores amigos, e que nada e nem ninguém jamais destruiriam isso.
Meu corpo estava pesado naquele sofá; apenas esperando. Na verdade, tudo que tenho feito nessas três semanas é esperar. está no quarto, felizmente ela saiu do hospital, apesar de que ainda tem umas visitas de uns médicos que vem examiná-la para saber se está tudo indo bem. Ela está tomando medicamento, e ainda não pode se movimentar, por isso tem que ficar em repouso. E infelizmente, ela não se lembra de mim. Não se lembra de quem sou. Ou do que viveu comigo. Na verdade, ela não se lembra de nada. Nada do que aconteceu com ela antes do acidente. Nada do que viveu na vida. O que é bastante frustrante, não só para mim, mas para ela. Os médicos falaram que isso pode ser temporário, basta eu esperar para que ela esteja 100% curada, que as memórias vão voltando aos poucos. E eu, como um bom marido, terei que ajudá-la a recuperar a memória. Sem ajuda, e sem apoio ficará difícil, e mais demorado ainda para ela se lembrar.
Havia uma caixa cheia de fotos nossas, dela, da família, dos momentos que ela teve, principalmente ao meu lado. Peguei e fui até o seu quarto, com a intenção de mostrar para ela. Talvez ela se lembre de algo, pensei. não gostou da ideia de dormir comigo no nosso quarto, já que não sabia quem eu era. Eu disse a ela que eu era seu marido, e todos confirmaram, inclusive a aliança em seu dedo. E ela só chorou. Acredito que ela queira se lembrar de mim, e sei que deve ser horrível não ter nada dentro de sua memória. Mas se estou aqui, é por ela, e vou ajudá-la a se lembrar de tudo.
Ela estava deitada de lado observando os quadros na parede. Ao perceber que eu estava entrando, sentou-se na cama e esperou que eu sentasse ao lado dela com a caixa. Sentei em frente a ela e botei a caixa entre nós. Ela me observava como se me conhecesse e tivesse admirando algo em mim; mas ela não sabia quem eu era. Seu rosto estava machucado, mas alguns arranhões em seu braço já estavam cicatrizando. Ela sorriu para mim e eu para ela. Seu rosto estava triste, e seus olhos não correspondiam ao meu sorriso como faziam antes.
- Se importa se eu te mostrar algumas fotos? —Ela negou com a cabeça. Então eu tirei a primeira da caixa, e dei a ela. - Tiramos está um dia depois de nos conhecermos, no jantar na minha casa. Eu a convidei depois de lhe dar uma carona. Você estava com umas sacolas e não conseguia levar. Você estava linda... Continua linda... - não tirava os olhos da foto. Mas sorria docemente. Tirei outra foto da caixa e mostrei a ela. Ela segurou e observou. - Neste dia você estava tentando dormir, e eu não queria deixá-la. Então fiquei tirando fotos de nós dois, depois disso você me bateu muito e me fez apagar todas, mas guardei essa. - Ela riu para mim, e seus olhos se encheram de lágrimas.
Tirei outra foto e ela segurou.
- Esta foi no meu aniversário, fomos ao show do . Você adora esse cantor, então levei você. Foi divertido, e você chorou em quase todas as músicas. - sorriu para mim enquanto as lágrimas desciam em seu rosto. - Esta aqui foi no Natal. Estávamos com nossas famílias. Foi o primeiro Natal que passamos em nossa casa. E nós fizemos a comida, o que nos deixou bastantes orgulhosos de nós mesmos. - Rimos juntos, e ela segurou a minha mão.
- Queria muito me lembrar de você, . Tenho certeza de que te amava. Não há dúvidas aqui dentro, mas não me lembro de nada dessas coisas. - E ela chorava, e chorava. E eu não podia fazer nada para controlar. A dor que ela sentia, eu queria tomar para mim. E se ela nunca mais se lembrasse de quem sou? E se ela não conseguisse me amar novamente como amou da primeira vez? Tudo iria por água abaixo.
- Está tudo bem. Não se preocupe com isso, vou ajudar você.
Deixei a caixa na cama para que ela pudesse olhar sempre que quisesse, e saí do quarto para preparar o jantar.
Quando olhei para trás, ela estava lá, na porta da cozinha, me observando.
estava tomando o seu amado café da manhã; e apareceu na porta da cozinha, encarando-a.
- Caramba mulher, você fica linda até quando acorda. - Ele disse pegando uma xícara com café. sorriu e pôde sentir suas bochechas esquentando. Impressionava-se com a maneira que ele a deixava sem graça mesmo depois de tanto tempo juntos.
- E você é sempre tão ridículo. Porém gostoso. - Ela falou arrancando dele uma gargalhada. E que risada gostosa ele tinha, fazendo-a rir com ele.
- O que vamos fazer hoje? — perguntou lambendo seus dedos sujos de manteiga.
- O que você sugere?
- Que tal a gente d...
- Se você falar dormir, eu mato você. — disse sério apontando o dedo na cara de , porém com um olhar brincalhão, fazendo-a rir. E que risada...
- Pelo menos se você me matar poderei dormir para sempre.
- Jesus, tenho a namorada mais preguiçosa da face da terra.
- Você não diz isso quando brinco com você na cama, babaca.
sorriu e deu língua para ela enquanto ela fazia uma careta para ele. No fundo eles completavam um ao outro.
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Eu estava parada na porta, de braços cruzados, assistindo ele cozinhar. Ele era tão delicado, gentil, atencioso, até com a comida. Cada gesto dele parecia calculado; fazendo com que tudo ficasse perfeito. Não me assustaria se até a comida fosse bonita. Ele ficou paralisado ao perceber que eu estava ali na porta. Deu um sorriso de lado e apontou para a cadeira. Sentei-me enquanto ele continuava a fazer a comida. Me sentia horrível por não conseguir me lembrar dele. Que tipo de pessoa eu sou, que esquece do próprio marido? Sei que não tenho culpa, muito menos ele. Sei que com o tempo talvez a minha memória volte. Mas e se tivesse sido ele quem bateu a cabeça e entrou em coma, será que ele esqueceria de mim? Impossível eu não me preocupar. O fato é que, não tem como não sentir algo por ele. Olho a aliança em meu dedo, e bem no fundo sinto que pertenço a essa casa, a essa vida ao lado desse homem; que por enquanto é um completo desconhecido para mim.
foi colocando os pratos e talheres na mesa, e depois colocou as panelas. Como eu imaginava, tudo organizado e bonito. Como ele. era um rapaz bonito, e decente; devo admitir que escolhi bem, e sou uma mulher de sorte. Mas talvez ele não seja um homem de sorte; pois eu ao menos me lembro dele. Comíamos calados, a comida estava deliciosa. Assim que terminamos ele se levantou e se retirou da cozinha. Não podia culpá-lo por estar frustrado com toda aquela situação, mas ele não podia ficar fugindo de mim. Fui atrás dele e ele sorriu chamando-me com a mão para sentar ao seu lado no sofá. Respirei fundo e me sentei, e ele segurou a minha mão.
- Você lembraria de mim? - Perguntei de cabeça baixa, não conseguia olhar para ele, mas sentia que ele sorria para mim.
- Eu não sei, , talvez. Olha, não é culpa sua. Amor, sua cabeça está machucada, você não pode se culpar pelo seu cérebro não se lembrar das coisas. Você não tem culpa alguma, ok? —Ele falava enquanto mexia em meus cabelos. Assenti e me deitei em seu peito enquanto ele me apertava em seu corpo.
- O que houve com os meus pais?
- Ahn... - Ele me soltou, mas eu não saí dali. Sabia que seria uma notícia ruim, já que nenhum apareceu no hospital, que eu saiba. Então eu precisava ficar ali deitada junto a ele. -Bom, eles não estão mais aqui, . Morreram quando você era muito nova, em um acidente... Quem cuidava de você era a sua avó e seu avô. - Lágrimas caíam dos meus olhos e eu o apertei em um abraço. Ele fazia carinho em meu cabelo. - Sua avó esteve no hospital, mas o seu avô está doente, não pode andar, então ela tem que ficar cuidando dele. Mas ela disse que iria vir assim que pudesse, ou podemos ir visitá-la, se quiser.
- Ele vai ficar bem? - Sequei as lágrimas do meu rosto e olhei para ele. Pelo jeito que ele me encarava ele odiava me ver daquela forma, então me recompus e dei o meu melhor sorriso.
- Claro que sim, ele é um homem forte. Tão forte quanto você. - Ele disse dando um tapinha com o dedo em meu nariz, fazendo-me rir. Conversamos muito aquela noite, ele me contou muita coisa sobre nós. Por eu não me lembrar de nada, aquela podia ser a melhor noite da minha vida, até mesmo quando ele me roubou um beijo; e eu senti que era o certo, então o beijei de novo, e de novo. Como se fosse o meu primeiro. Deitamos juntos no sofá, e eu o abracei e deitei em seu peito. Fechei os meus olhos, e pedi que tudo aquilo continuasse bom.
- , você está brincando não está? - Eu praticamente gritava com ele, mas o sorriso na minha cara me entregava totalmente. Ele me segurou e me levantou em seu colo, e eu passei as pernas ao redor de seu corpo, me aninhando em seu peito. Nosso corpo se encaixava perfeitamente um no outro. E ele sorria para mim enquanto distribuía um monte de selinhos na minha boca e no meu rosto todo.
- Vamos para França, baby. — disse com uma voz sedutora e brincalhona e me jogou no sofá fazendo cócegas em minha barriga. Ele sabia que eu odiava cócegas, mas naquele momento eu só conseguia pensar no quanto eu tinha sorte por tê-lo para mim.
- Fomos para França, ? - Perguntei sem perceber ao abrir os meus olhos, que com certeza estavam arregalados, levantei-me em um pulo e sentei no sofá, ele percebeu que eu havia me lembrado de algo e praticamente pulou do sofá e se ajoelhou em minha frente segurando minhas mãos, balançando a cabeça rapidamente dizendo que sim. Sorri para ele enquanto as lágrimas caíam pelo meu rosto. - Você não tinha me contado isso. - Coloquei as mãos sobre o rosto a fim de conter as lágrimas, mas já não dava mais. Ele beijava minhas mãos e balançava a cabeça.
- Não, não contei. - Ele sorriu. - Foi na nossa lua de mel.
- Eu me lembro!
Rimos e rimos, e continuamos conversando para ver se eu me lembrava de mais alguma coisa. Mas nada apareceu na minha cabeça. Até que pegamos no sono, finalmente. Um do lado do outro no sofá.
Acordamos quase meio dia, olhamos um para o outro e sorrimos. Ele segurou o meu rosto.
- Caramba mulher, você fica linda até quando acorda.
- E você é sempre tão ridículo? - Falei me levantando do sofá. Quando o olhei, ele estava me olhando sorrindo mais do que antes. Um sorriso radiante que ia de uma orelha até a outra. Dei de ombros e fui em direção à cozinha. - Acho que sei fazer panquecas, você gosta?
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Essa é a minha mulher. E caramba, que mulher.
- Amo panquecas.
Falei seguindo-a até a cozinha. Ela fazia as panquecas enquanto eu a observava. De vez em quando ela olhava para mim e sorria. Aos poucos ela se lembraria de tudo que vivemos juntos, de todos os momentos de felicidade e de fraqueza. De todos os sorrisos, e lágrimas. Uma hora ela se lembraria do quanto nos amamos.
- O que vamos fazer hoje? - perguntou enquanto colocava os pratos de panquecas na mesa.
- O que você sugere?
- Que tal a gente dormir? - Ela disse e sorriu para mim. E que sorriso...