Fic by: Anna R. | Beta:


Picking up the pieces of my heart left on the floor Like it was written in the stars That I was meant for something more Now I'm the one man I'll be fighting everybody's war Will I survive? I must survive...
Dragon Ball - McFly


Manhattan, NY - 11/09/01 08:54 AM

- Alô? 991? É uma emergência! Rápido... - a moça implorou, fechando os olhos com força e se sentando na calçada da rua. Seus olhos verdes esmeralda estavam vermelhos e irritados pelo choro excessivo dos últimos minutos.
- Moça, eu vou pedir para que você se acalme, muitas ambulâncias, bombeiros, viaturas da polícia e a Guarda Nacional estão nos arredores do World Trade Center... - a mulher disse, inutilmente, tentando acalmá-la do outro lado da linha.
- Não dá para eu me acalmar sabendo que tem pessoas que eu conheço lá dentro e que podem morrer a qualquer instante - retrucou.
- Lamento, todas as linhas estão ocupadas, tenha um útimo dia - e desligou.
Agora estava só. Ela, no meio de um mar de pessoas ao redor do World Trade Center, que agora tinha a Torre Norte com um avião atravessando-a. E se ele não saísse de lá? Como seria perder ? Vê-lo morrer lenta e dolorosamente intoxicado pela poeira, a torre cedendo e caindo, ou então se jogando do prédio?
Era melhor não imaginar aquilo, seria uma perda incalculável.
De repente, o celular na mão da mulher começou a tocar. Olhou para o visor e então um sorriso discreto tomou conta do seu rosto.
- Oi, amor - disse tentando não aparentar o choro de segundos atrás.
- Oi, . Sinto muito em não ter te ligado hoje mais cedo... - disse do outro lado da linha.
- Por que sente muito?
- Eu ia te ligar para avisar que eu ia sair mais cedo para te acompanhar no jogo de golfe beneficente, mas... - parou de falar, mas logo voltou, fazendo com que a moça se acalmasse. - Eu fiquei com medo do que poderia acontecer... Fiquei com medo de que tivéssemos outra briga, fiquei com medo de te desapontar outra vez...
- Você nunca me desapontou, - completou.
- Mas... Eu te amo tanto, . Queria apenas ser aquele que cuida de você em todos os momentos, que nunca iria te abandonar, aquele que... Aquele que poderia construir uma vida e te fazer feliz.
- , para, por favor - ela pediu olhando para cima, vendo o prédio com o avião pegando fogo.
- Eu lamento tanto, eu só queria poder te dar o melhor de mim... Não te abandonar dessa forma brutal.
- Você vai sair dessa, eu acredito que você vá sair dessa.
- Amor, eu preciso desligar, as equipes de resgate estão pedindo para nós termos calma. Eu tenho fé de que posso sair daqui, eu tenho... Mas ao mesmo tempo não quero te iludir. Foi útimo conhecer você, .
- , espera! - mas o pedido foi em vão, ele já havia desligado.
Então, aquele era o adeus? Era assim que aquilo iria acabar? Nunca se sabe. voltou a chorar em seu canto, e então ouviu um barulho alto, parecido muito com a de uma... Turbina. As pessoas se viraram para trás, e então viram outro Boing chegando.
- Se afastem! - os bombeiros gritaram.
As pessoas saíram correndo aos montes, desgovernadas. Aquele era o fim. Milhares de nova-iorquinos estavam ali, pessoas inocentes. Qualquer um poderia ter sido pego... Qualquer um. E então, quando estava em um canto protegido, veio a segunda colisão. A Torre Sul fora a segunda pega no ataque do dia onze de setembro de dois mil e um.
As torres gêmeas iriam cair, mas o caos iria reinar...

09:15 AM

Faixas amarelas com os dizeres "DON'T CROSS" foram colocadas para impedir que as pessoas se aproximassem do local e para facilitar o trabalho dos bombeiros, que cada vez mais sentiam que aquele seria um dia com várias baixas. Não era simples para resgatar aquela quantidade absurda de pessoas em tão pouco tempo, não seria possível. E aqueles que estavam nos andares superiores aos atingidos pelos aviões? Não achariam acesso tão facilmente. Haveria pessoas que morreriam intoxicadas, pessoas queimadas pelo fogo, pessoas que se jogariam dos edifícios a qualquer momento. Era uma questão de tempo. E no caso, quanto mais conseguissem adiar a queda das torres, melhor seria. Mas as estruturas não foram construídas para aguentar tal impacto. E com o incêndio, o peso do avião...
Aquelas pessoas tinham tanto pouco tempo para se despedir de tanta coisa. Dizem que é nas últimas horas de vida que a pessoa reflete sobre o que deveria ter feito em vida, sobre o que não deveriam ter feito e principalmente do que deveriam ter dito...
, uma moça nova-iorquina de vinte e cinco anos, loira, olhos verdes esmeralda, que mais parecia com uma daquelas Barbies. Era alta e magra, mas não se vestia de jeito nenhum como uma Barbie. Usava tênis Chuck Taylors de cano longo, roxo, uma jeans velha rasgada na altura dos joelhos e uma blusa velha do Black Sabbath. Os cabelos loiros não eram mais loiros, e sim pretos escuros, realçando ainda mais os olhos verdes e fazendo com que parecesse ainda mais branca do que o normal.
nasceu em Coney Island, fez o médio em uma escola pública de Manhattan e conseguiu uma recomendação para a Brown. E foi lá onde conheceu . Loiro, alto, dos olhos azuis que deixavam a moça inquieta. Era forte e, por incrível que pareça, inteligente. Os dois estavam na mesma turma de economia. Ele achava as aulas interessantes, já ela estava ali por não se interessar por nenhuma outra área. Era melhor nos esportes acadêmicos, pensava. Os dois nunca chegavam a um acordo, sempre discutiam e brigavam. Até que um dia a chamou para um encontro, nada demais, era apenas um cinema com uma pipoca barata, mas, no fim das contas, quem poderia dizer que aquilo daria tão certo? Foi amor na certa.
Em pouco tempo adquiriram uma relação séria, os dois não sabiam como e nem por que, mas o que sentiam um pelo outro era maior do que qualquer coisa. Assim que se formaram, os dois já eram empregados com empregos remunerados. Foi por acaso que decidiram que iriam se casar. E foi festa. Naquele dia onze fazia exatamente dois anos de casamento... Ela - que nesse tempo já havia desistido há muito da economia - começou a se dedicar ao golfe, onde virou uma eximia esportista. Passou a arrecadar milhões de dólares com jogos beneficentes, que doou para instituições como o abrigo de crianças no subúrbio de Manhattan, ou para o asilo da parte alta da cidade. E ele continuou na economia, mas mudou um pouco o rumo quando foi convidado para trabalhar com uns colegas no World Trade Center.
O dinheiro que entrava era excedente, mas os dois não reclamavam. Usufruíam dele para visitarem os lugares mais interessantes da cidade. Restaurantes, bares, lojas, centros comerciais, parques, cafés, museus... Afinal, em Nova York tudo é uma festa!
A cidade era linda em dias de sol, atraindo milhares de turistas de todos os cantos do mundo todos os anos. O Wall Street, principal centro financeiro dos Estados Unidos, localizava-se na ilha. A cidade era uma das mais famosas do país, sempre sendo retratada em filmes, séries e livros. Nova York nunca parava nem um segundo sequer, havia um movimento constante para lá e para cá, pessoas indo trabalhar, pessoas indo passear, mendigos indo arranjar abrigo e famosos deixando a cidade ainda mais acesa do que o normal.
Mas naquele dia estava sendo o contrário. As pessoas saíram do trabalho, as crianças foram liberadas da escola mais cedo, todos garantiram que suas famílias e pessoas queridas estivessem longe do local, sã e salvas em casa, onde acompanhariam aquele dia pelas TVs.
- Como uma pessoa conseguiria ficar em casa com algo desse tipo acontecendo? - uma pessoa perguntou.
- Eu ficaria, honestamente. Você não vê? Estão com medo, medo do pior! - um homem exclamou em resposta.
- Pior somos nós que temos alguém importante dentro de uma daquelas torres. Não sabemos se estão vivos, se estão mortos... Só podemos ter fé nesse momento - um senhor de cabelos grisalhos brandiu no meio da multidão.
- Pior, meu senhor, são aqueles que vão perder ou já perderam a vida inocentemente por algo tão estúpido como o terrorismo - disse inutilmente, sendo ignorada pelo senhor. - Se os países colocassem suas diferenças de lado, se houvesse mais paz e menos guerra, quem sabe nesse momento o World Trade Center não estaria nesse estado...
As pessoas mais próximas da entrada conseguiram ver os bombeiros chegando com sobreviventes, muitos na multidão se amontoaram para ver se eram seus conhecidos. Era em momentos como aquele que você não devia esperar nada. E foi o que fez, se aproximou da entrada e ficou novamente sem esperanças.
- Por favor, se afastem! - o policial gritou irritado. - Olhem, sei que o que estão passando é complicado, acreditem, mas se vocês, toda vez que saírem sobreviventes, se amontoarem aqui na entrada, vão dificultar ainda mais o nosso trabalho, e não é isso o que queremos. Quanto mais sobreviventes tiverem, melhor será para todos nós. Nem todos os familiares de vocês, amigos, ou conhecidos conseguirão sair de lá, por isso tenham em mente isso e se preparem para o pior. Não quero que se sintam piores, mas não posso enganar vocês dizendo que todos vão sair daquelas torres com vida. Vários já foram pegos pelo avião que atravessou a torre, ou foram intoxicados; alguns, como podem perceber, já ameaçaram uma saída pela janela. Ou seja, tenham paciência, avisem quem puderem, qualquer coisa. Espalhem o que está acontecendo para que as pessoas tenham conhecimento de que hoje não será um dia normal em Nova York, que o trânsito vai ficar pior mesmo, que haverá um estardalhaço, várias mortes, gritos e que saíam de perto da área do World Trade Center o mais rápido possível. Obrigado.
As pessoas se aquietaram em seus cantos e facilitaram o trabalho dos policiais que interrogavam os sobreviventes que saíam das torres de instantes em instantes. Mas aquele mero discurso não havia acalmado em nenhum sentido. Ela sabia já de tudo que o policial havia dito, já estava se preparando para o pior, porém sua cabeça não queria aceitar a hipótese de perder o seu marido assim tão tragicamente. Não conseguiria viver sem ele, simplesmente não existia um mundo, uma vida para ela na qual ele não estivesse junto.
E então teve uma ideia, mas precisaria de ajuda para conseguir o que queria. Talvez, se pedisse ajuda para alguém distrair os policiais... Mas onde arranjaria uma pessoa com tamanha obstinação para conseguir aquilo?
Não sabia, mas naquele momento valia tudo ou nada, mas a mulher só tinha uma certeza. Ela iria invadir o World Trade Center apenas com alguns minutos antes dele poder desabar de vez.

09:33 AM

estava se preparando, já havia planejado tudo com uma senhora de setenta anos que iria fingir um desmaio para que todos ao redor se distraíssem e a moça pudesse adentrar no complexo. Aquele, sem dúvida, seria um dos momentos mais complicados de sua vida, ela ainda nem havia falado com os parentes, mas deixou a identidade com a mesma senhora que iria lhe ajudar. Não tinha tempo a perder, era tudo ou nada.
Valia a pena por .
e a senhora se entreolharam, estava na hora de colocar o plano em ação. foi para a lateral, no canto mais oculto e próximo da faixa amarela. A senhora se aproximou do policial.
- Desculpe, meu bom moço, mas você pode me dizer quantas pessoas devem ter aproximadamente dentro dos edifícios ainda? - ela perguntou.
- Sinto muito, senhora, mas esses são dados que ainda não foram confirmados pela imprensa e nem pelos bombeiros ou a polícia. Não posso lhe dar nenhuma informação, eu gostaria, mas realmente não posso falar nada - o policial deu de ombros.
- Ah, olhem, tem algo caindo! - de repente uma mulher exclamou na multidão apontando para cima.
Todos seguiram a direção na qual a moça apontava e puderam ver um homem caindo de uma altura incalculável. Deveria ser mais de cinquenta metros. Alguns na multidão começaram a gritar, a senhora não sabia se olhava para o homem caindo ou para , mas, quando finalmente optou por olhar para , viu que a mesma já não se encontrava mais ali. Ela havia entrado. A senhora sorriu, mesmo sem saber se deveria ficar feliz ou não, aquela jovem partira para a morte certeira. E então houve um baque surdo no chão. O homem havia saído do prédio... Mas sem vida.
A senhora voltou-se para o céu e segurou com mais força ainda a bolsa que a moça havia deixado com ela.
- Que Deus lhe proteja - disse por fim.

09:45 AM

A poeira e a fumaça formavam uma nuvem tóxica no local. A moça estava subindo as escadas com certa rapidez, mas já conseguia sentir certa fraqueza, seus pulmões não iriam resistir por muito mais tempo, infelizmente. Porém, já havia conseguido subir no mínimo uns vinte lances de escada. Ainda faltavam alguns para conseguir alcançar o andar onde trabalhava, mas ao mesmo tempo tinha medo de chegar lá e se deparar com um corpo sem vida, ou talvez ele já tivesse se jogado pela janela.
Os pensamentos fizeram a moça estremecer de medo e dor. Já não sabia mais se queria realmente continuar vivendo.
E, então, viu alguns dos colegas de trabalho de seu marido passar do seu lado, correndo. Decidiu que iria chamá-los para perguntar sobre , se realmente deveria continuar subindo, ou se deveria esperar ali tempo suficiente para que a Torre Norte desmoronasse sobre ela.
- Edgar! Clide! Por favor, algum de vocês pode me dizer se o ainda está lá em cima? - perguntou insegura.
- , o quê raios vocês está fazendo aqui?! O World Trade Center vai cair, o pessoal que ainda tava nos andares superiores decidiu que pular era a melhor alternativa de morte! - Edgar exclamou tentando se recuperar do choque. - Olhe, saia daqui, é melhor, o vai conseguir sair dessa, ele disse que já estava vindo para nós dois, volte para baixo, os bombeiros vão terminar o serviço.
- Ele disse isso mesmo? - ela perguntou olhando fundo nos olhos do homem. - Ele disse isso mesmo, Edgar?
- Ele...
- Fale logo a verdade para ela, ela merece saber a verdade, Edgar. - Clide disse com um olhar reprovador. - Olha, o estava preso em uma das salas com outras duas pessoas, uma na qual acabou de pular, acho que você deve ter visto, e a outra estava com uma perna machucada. Conseguimos tirar o dali, mas o outro homem não conseguia passar, e... O disse que não iria sair dali sem ajudar o homem. Então, eu receio que você consiga chegar lá, . Mas, como amigo, vou te pedir pra fazer a cabeça do seu marido para que os dois saiam daqui o mais rápido possível. Está virando um caos. Têm pessoas presas em todos os lugares e o tempo está se esgotando. Eu falei com o pessoal da Torre Sul, parece que lá não vai aguentar por muito mais tempo. Por isso, corra.
- Obrigada, Clide! - agradeceu sentindo o coração disparar de nervoso. Era tudo ou nada.
Já estava recomeçando a sua corrida quando Clide lhe chamou:
- Ei, não esqueça, quadragésimo andar, vire a direita e você vai achá-lo tentando abrir a porta da sala. Boa sorte, .
- Obrigada - a mulher repetiu.
E continuou o seu caminho, passando pelas pessoas que desciam correndo e tossindo. Então, quando viu a plaquinha avisando que havia chegado ao seu destino, respirou fundo - o suficiente para se engasgar com a fumaça do local - e lhe fazer vomitar. Limpou a boca com as costas da mão e continuou andando.
Correu e passou por várias outras pessoas. Até que viu as costas dele. Era , era o seu marido!
- ! - ela gritou e ele se virou. E então um sorriso tomou conta do rosto dos dois.

09:51 AM

- Como você chegou aqui? Está louca?! - exclamou indo ao encontro da mulher e lhe dando um abraço apertado e beijando a sua testa. - A polícia e os bombeiros estão barrando a entrada das torres, como você conseguiu passar? Está louca! Eu nunca deveria ter te deixado entrar aqui...
- E como você iria me impedir? - ela perguntou frustrada. - Estava ocupado tentando salvar o outro senhor no seu escritório... Você é um verdadeiro herói.
Os dois se separaram e sorriram timidamente. estava suado, sujo e com as mangas da blusa xadrez rasgadas. Seu estado estava péssimo, era como se tivesse envelhecido em apenas alguns minutos dentro daquele labirinto sem saída. Suas roupas de trabalho estavam imundas, seus cabelos loiros estavam colando na testa de tanto que estava suando. automaticamente colocou o cabelo dele para trás, fazendo com que o mesmo desse um sorriso torto.
Mesmo com todas as dificuldades que estavam passando, os dois conseguiam se sentir bem estando um do lado do outro. Porém, pararam com as carícias e se concentraram para tirar o homem da sala que ainda estava com a porta trancada.
- Como vamos tirá-lo daí? - perguntou prendendo os cabelos pretos em um rabo de cavalo, evitando que o mesmo ficasse na sua cara atrapalhando a visão.
- Eu estava empurrando-a para ver se ela cedia, até pedi ajuda para o Edgar e o Clide, mas aqueles maricas acharam melhor se mandarem daqui... Então, eu tentei fazer com que a porte cedesse com a ajuda de uma cadeira, e mesmo assim eu não consegui abrir. Eu não sei, eu até achei a chave no meu bolso agora a pouco, mas mesmo com ela a porta não quer abrir - o homem deu de ombros com uma expressão tristonha.
- Você sabe se o homem ainda está respirando? Se está tudo bem? Você manteve uma conversa para acalmá-lo?
- Qual é o ponto que você está querendo chegar, ? - indagou confuso.
- Céus, você é idiota ou o quê? - ela gritou com toda a força que ainda tinha nos pulmões. - Uma das coisas que eu aprendi foi que quando a pessoa está em uma situação de morte e está presa, insegura e sem esperanças, você deve continuar falando com ela, para ela não se sentir tão só, para continuar tendo esperança. Você ao menos perguntou se ele estava bem?
- Perguntei uma ou duas vezes, mas ele não está mais conseguindo falar, acho que a fumaça invadiu de vez a sala...
- Qual o nome dele? - perguntou por fim.
- É - respondeu passando as costas da mão na testa.
Deuses, o prédio estava tão quente que parecia estar beijando o sol. Se existia um inferno, sem dúvida, mais do que nunca, o mesmo era o World Trade Center no então momento presente.
A mulher respirou fundo, e encostou o ouvido na porta, encorajada por , que tinha uma expressão séria. Quando o fez, tentava ouvir algum barulho, algo parecido com uma tosse, ou uma respiração fraca, mas não conseguia ouvir nada. decidiu tentar algo chamando pelo homem.
- Sr. ? - disse insegura.
pressionou ainda mais os ouvidos contra a porta, porém ninguém respondia. O coração dela estava em disparada, com medo de que o homem já tivesse morrido. Apertou a mão de com força, e então, de repente, foi possível escutar uma voz.
- Sim? - uma voz respondeu do outro lado da porta, um tanto quanto distante da mesma.
- Ah, oi, eu sou a , , e vou te ajudar a sair daqui. Eu preciso saber, o senhor está bem? Está com algum problema? Como está a sua perna?
- Não sei, moça. Já não estou mais conseguindo respirar, sinto fortes dores de cabeça e não estou mais sentindo a minha perna faz algum tempo. Não sei se vou conseguir aguentar mais muito tempo, mas agradeço pela ajuda - o tal disse. - Olha, não sei se vocês vão conseguir sair daqui esperando por mim por tanto tempo, acho melhor desistirem de mim e se salvarem.
- Não, nada disso, nós vamos ficar aqui e te ajudar - a mulher falou em um tom encorajador.
- Ok - o homem assentiu.
desencostou o ouvido da porta e olhou para como se estivesse pedindo ajuda. E era isso mesmo que precisava, não sabia como salvar o homem, não sabia nem ao menos se conseguiria sair do prédio. Só havia uma certeza: precisava salvar aquele homem, mesmo que fosse a última coisa que fizesse ainda em vida. Os dois pegaram duas cadeiras e fizeram outra tentativa inútil de fazer a porta se abrir. Nada, de novo.
A mulher se sentou em uma das cadeiras e fechou os olhos. E agora? Como iriam sair dali em tempo?

09:58 AM

se segurou em quando sentiu a torre balançar, e então os dois puderam ouvir vários gritos vindos do andar de cima, dos andares próximos e das pessoas que estavam lá fora. Correram para a janela para conseguirem ver o que estava acontecendo - por mais que ambos tivessem certa noção do que poderia ser.
A Torre Sul estava caindo, desabando por completo, indo abaixo. Quantas pessoas ainda deveriam estar tentando uma fuga dali? Quantas pessoas deveriam estar presas? Era um número que poderia variar, talvez nunca ser totalmente calculado.
Um jeito horroroso de se perder a vida, preso, encurralado, sem saída alguma. Um lugar aonde a dignidade e o orgulho iam para o espaço e você passava minutos, com sorte, talvez, horas. Não, não era sorte. Era o terrível azar de ficar horas na mão de um destino horrível com variações de uma possível morte que ocorreria em pouco tempo. A pessoa desistia de lutar para viver, simplesmente largava daquilo, se deixava levar para baixo.
- Você está pensando sobre isso de novo, não está? - perguntou, de repente, pegando de surpresa.
- Não, eu não estava - desconversou caminhando para o lado oposto àjanela.
- Sim, estava, eu posso perceber isso pela sua expressão...
- Pare com isso, . Ainda temos que tirar o daquela maldita sala, o nosso tempo está acabando, não percebe? Não dá para fazer tudo o que queremos com o nosso tempo ficando cada vez mais limitado! Estou começando realmente a pensar se não podemos simplesmente sair daqui, não vamos conseguir salvá-lo, ...
- Shh, se você não quer ficar aqui e ajudar uma pessoa que precisa, pode sair agora, ninguém está te impedindo, mas eu vou ficar. - disse por fim.
- Não precisa ser assim... - falou.
- Precisa. Ele é o meu melhor amigo de trabalho, não vou deixar o morrer, você está me entendendo? Por mais que ele seja teimoso, chato, às vezes muito irritante... é o meu melhor amigo e eu não saio daqui sem ele.
parou por um momento. ? Conhecia aquele nome? Oh, meu Deus, não era qualquer um que estava trancado dentro daquela sala.
- Você não me falou que era ele... - começou.
- , achei que você fosse se lembrar de quem era o "".

New Jersey, Summer, 1981

- Nós já estamos chegando? - a menina com olhos verdes, impaciente, sentada no banco traseiro do carro, perguntou.
- Ainda não, falta pouco, meu anjo... - o pai, Brian, respondeu já conhecendo aquela velha história.
olhava para a janela, tinha um olhar vago, um tanto quanto sonhador. Olhava para as placas e a paisagem com certo brilho no olhar. Gostava de se ater aos detalhes dos locais por onde passava: pessoas, céu, árvores... Então, parou de olhar para a janela, estava com aquela cara, sim, aquela cara de tédio novamente.
- Já estamos chegando? - perguntou insistente.
- Ao McDonald's? Ah, sim, estamos, querida. Depois que passarmos do McDonald's, chegamos lá - o pai respondeu com um sorriso no rosto.
A garotinha percebeu a falsa felicidade no pai, sabia o que era...
- Pai, você não precisa ficar assim... A mamãe está em um lugar melhor agora. Foi o que a vovó me disse no funeral.
- Ah, querida... Já faz muito tempo... Eu estou há muito tempo tentando te dizer isso, mas não sei como te contar a novidade... - o mais velho deu de ombros.
- Conta, ué. É melhor contar do que guardar para si mesmo.
O pai parou o carro na beira da estrada e virou para trás, mirando a garota de cinco anos. Tinha medo de lhe contar... Não, não era medo, era vergonha mesmo de admitir que estava noivo de outra mulher. O funeral de sua antiga esposa havia ocorrido não fazia nem cinco meses.
- Que vergonha! Pai, para de me olhar, to ficando sem graça, olha para o outro lado... - disse.
- Desculpa, filha... - desculpou-se virando para o outro lado. - Mas... O que você acha de ter uma mãe nova?
- Mas a minha mãe é única, pai - a menina protestou sem entender.
- Filha... Papai está noivo de uma outra mulher.
- Como...?
- É, o papai se apaixonou por uma mulher, e os dois têm muito em comum, já fazia um tempinho que queria te contar...
- Você escondeu isso de mim - a menina cruzou os braços, cabisbaixa. - Não precisa mais falar nada, me leva pro McDonald's...
- Tudo bem, filha... - o pai concordou tristonho.
O mais velho voltou ao volante, dirigindo em um ritmo inconstante, o clima no carro estava tenso. A menina estava com raiva, mas não sabia muito bem o que era aquilo, então classificou como uma infelicidade. Já não queria mais chegar ao destino, sabia que tinha algo a ver com a nova mãe. Não tinha mais vontade de ficar olhando para a janela, e sentia medo de sentar cara a cara com o pai no McDonald's, só queria sumir, poder voltar no tempo e salvar a sua mãe daquele incêndio. Sentia falta da mãe, por mais que escondesse e tentasse viver como uma criança normal da sua idade, mas não conseguia. Para passar o tempo alugava todos os livros que via na biblioteca pública de Nova York. Via filmes com temas mais pesados e tinha um pensamento amplo sobre a morte.
Sem perceber o carro havia parado, e já estava se encaminhando para uma mesa dentro daquela filial no meio da estrada do McDonald's. Seu pai estava na fila indo comprar um McFish e um cheeseburguer com batata pequena para ela. Desviou a atenção para o pequeno ser que estava do seu lado.
- Oi! O meu nome é , e o seu? - o garotinho, que devia ter uns sete anos, disse.
- Eu me chamo ... Você é estranho.
- Ah, eu sei, sempre dizem isso na escola para mim. Pode me chamar de se quiser.
- ? Apelido legal. Mas por que você veio falar comigo? - perguntou.
- Não sei, achei que você precisava de ajuda, parecia triste, então eu vim aqui para dar um oi.
- Você é estranho...
- Você já disse isso.
- Mas eu gosto de você.
Por algum motivo a companhia daquele menino doido agradava . Era como se sentisse que os dois seriam amigos. Sorriu para o menino e ele retribuiu.
- , nós estudamos na mesma escola, já reparou nisso? - indagou.
- Não, nunca... Vou começar a reparar agora.

10:03 AM

- , você tá aí? - choramingou. - Nós vamos tirar você daí, eu tive uma ideia.
pegou um grampo de cabelo e colocou na fechadura, tentando fazer com que a porta abrisse dessa vez. E, então, para a felicidade de jovem, a porta abriu.
- Rápido, abre! - exclamou.
- Eu to indo! - a mulher respondeu.
Quando empurrou a porta pode ver no parapeito, pronto para pular pela janela do prédio. Aquele era o fim. Ele tinha lágrimas nos olhos e estava virado para a porta.
- ... - sussurrou.
- Eu sinto muito - foi o que disse antes de se atirar metros abaixo.

10:10 AM

, um dos melhores antigos de infância dela, colega de trabalho de seu marido, fora outro levado pelo onze de setembro. De repente, tudo parecia estar desabando, e estava mesmo. A Torre Norte iria desabar a qualquer momento e era possível ouvir os gritos agoniados das pessoas trancafiadas nos andares acima.
- Temos que correr, ! - exclamou puxando a mulher para longe dali.
- Ok, nós vamos conseguir - a mulher disse tentando convencer a si mesma daquilo.
Os dois saíram correndo em disparada na direção da escada de emergência, porém o teto decidiu ceder, bloqueando a passagem. Não havia saída dessa vez.

New York, 1994

- Você é terrível, não aguento mais você, ! - gritou saindo do laboratório da faculdade irritada.
- Docinho, não é culpa minha se você não aceita admitir que eu posso ser tão inteligente quanto você. O seu orgulho te impede disso, não é? - o garoto loiro retrucou com um sorriso malicioso. - Nunca vou me esquecer de quando o professor Murphy me indicou para ser o seu tutor nessa matéria.
- Cala a boca, ! - grunhiu. - Eu sinto é nojo de você, por ser tão imbecil e exibido desse jeito!
- Oh, é mesmo? - ele se aproximou perigosamente dela, prendendo-a contra a parede. Os dois estavam cara a cara, seus rostos a apenas alguns centímetros de distância. - Eu sempre acho que o que você sente por mim é outra coisa...
A jovem virou o rosto para o lado e fechou os olhos. Não é que ele era bonito? Talvez não devesse sentir tanta raiva dele, mas sentia assim mesmo. Ele era tão exibido, idiota, nojento... Inteligente, bonito, forte, musculoso...
- Não sinto nada, não perderia o meu tempo adquirindo sentimentos por algo como você - ela rebateu empurrando o braço dele e continuando o seu caminho.

10:19 AM

- Você está pronta para isso? - perguntou.
- Sim - ela assentiu.
Os dois deitaram no chão do escritório e ficaram olhando para o teto, esperando pelo iminente fim. Estavam de mãos dadas, os rostos cansados e envelhecidos. Tinham medo de encarar a morte dessa forma tão brutal. A verdade era que simplesmente não havia medo maior para o ser humano do que a morte.
- Se pelo menos nós tivéssemos conseguido salvar o ... - começou.
- Amor, não tinha como, a alma dele já estava totalmente desgastada, ganhar alguns minutos de vida não mudaria muita coisa no quadro dele - declarou por fim. - Agora só nos resta esperar pela nossa vez... E eu que estou me sentindo mal, eu que tinha que morrer, não nós dois... , você poderia ter se salvado, constituir uma família, viver...
- Ei, ei, para de falar besteira. Eu não conseguiria viver em um mundo sem você, querido - ela sussurrou no ouvido dele, e, em seguida, tendo um acesso de tosse causada pela fumaça. - , se é para morrer, eu quero morrer do seu lado.
Ele sorriu para ela, mesmo sabendo que o grande final estava chegando, mesmo sabendo que não teria um futuro, filhos, viajar pelo mundo afora, estava feliz. Feliz por não se sentir mais tão sozinho. Feliz. E mesmo quando a Torre Norte cedeu e ele sentiu tudo cair e pairar no ar por alguns segundos, estava feliz por estar junto de alguém que amava naquele momento.

New York, 11 de setembro de 2001, 20:06 PM

"Hoje foi um dia duro para o povo estado unidense, outro atentado terrorista arquitetado pelo líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden. Bin Laden está foragido do radar da polícia norte-americana. O atentado chocou o mundo com tal brutalidade e a forma com que matou quase três mil pessoas, incluindo os terroristas. O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, divulgou em nota que irá reforçar a política antiterrorismo e quanto a perda foi grande para o povo dos Estados Unidos da América. Várias das pessoas que morreram hoje tentaram ajudar vítimas, entre elas bombeiros, policiais e trabalhadores comuns."
Tudo poderia acontecer em uma cidade tão grandiosa, brilhante, a cidade que nunca dorme. Mas naquela noite algo grandioso estava acontecendo no céu. Duas estrelas iluminavam o céu, os dois estavam bem, desde que estivessem juntos.

FIM



N/A: Hey, só passei para dizer que escrever essa short foi realmente interessante. Não estava pensando em nada com nada quando deu um click. “Por quê não escrever sobre o 11 de setembro? Afinal, é uma data que ficou na memória de todos.” Quero agradecer minhas amigas leitoras de fics (Lívia, Lulis, Ju, Shei, Thai, Carolinds, Brubs, Marina). Espero que tenham gostado, e qualquer coisa já sabem onde me achar: @thepinkukelele. Até a próxima. x




Atenção, qualquer erro nesta fic é meu e deve ser informado.

comments powered by Disqus