Sing For Me
by: Lilah Aoki



Look at me
(olhe pra mim)
And listen close
(e ouça com atenção)
So I can tell you how I feel before I go
(Então poderei dizer como eu me sinto antes de ir)
Just a year
(apenas um ano)
It's not much time
(não é muito tempo)
For me to show you I am proud that you are mine
(pra mostrar à você que estou orgulhoso por você ser minha)


Suas mãos curiosas fazem o primeiro som quando, finalmente, consigo abrir meus olhos. Está nublado e as nuvens fazem conjunto aos meus sentimentos. Não pode ser chamado de dor, pois não sinto mais o latejar dos cortes e nem mesmo consigo recordar-me de como é sentir o gosto do sangue escorrendo pela minha boca. Meu corpo em convulsão demorou a ser cessado, lentamente tomado pelo que agora eu chamaria de frio. Nada me incomoda, apenas estar longe. Apenas não estar com você.

Com suaves sopros, é como se a sua imagem ficasse menos embaçada. Admiro suas mãos enquanto descansam sobre seus joelhos, você, sentada nesse sofá pardo, convivendo com a claridade de sua janela. Seria melhor se estivesse em plena escuridão, ao menos saberia que existe algo sob toda essa camada negra. A luz, porém, lhe envolve num cenário ilusório, onde não se pode esconder nada. E não há nada, é o que você está pensando.

Coloco minhas mãos em meu rosto, mas não consigo mais saber como são as lágrimas. Posso me lembrar do gosto, salgadas, mas elas não caem.

Suas pernas esticam-se e você caminha pelo cômodo, encarando os quadros na parede, mirando a cena instalada no outro lado da janela que, em parte, está coberta por cortinas brancas e limpas. O aroma do outono, a estação do ano que costumava ser a sua favorita, entra pelas frestas levado pela brisa intrusa e morna. O objeto que você segura treme em conjunto com seu corpo, porque você ainda se lembra de como tudo aconteceu no ano anterior. Naqueles sessenta segundos do dia vinte e três de setembro de dois mil e doze.

Você não consegue esquecer.

I wish I had known
(eu queria ter sabido)
The future in my heart
(que o futuro em meu coração)
Was just about to start
(estava prestes a começar)


Seu olhar recai sobre o jardim, as talhas de madeira apodrecendo sobre o gramado verde. Estão lá desde a última vez em que as toquei e você me disse que ficaria feliz se esculpíssemos um suporte para a foto do recital. E você conhece todas as falas ditas naquela tarde, todos os gestos produzidos. Você sabe que faríamos um desenho tão bonito quanto este que pode ser visto na caixa de madeira nas suas mãos. Que pode ser sentido. A ponta de seus dedos passeiam pelas curvas lisas e envernizadas. Seu tato consegue lê-las.

Estico minha mão para te tocar, mas não lhe alcanço.
Say tomorrow
(diga amanhã)
I can follow you there
(vou poder seguir você lá)
Just close your eyes
(apenas feche os olhos)
And sing for me
(e cante pra mim)
I will hear you
(eu vou ouvir você)
Always near you
(sempre perto de você)
And I'll give you the words
(e eu vou te dar as palavras)
Just sing for me

E o silêncio que você transmite chega a fazer-me imaginar meu corpo sendo cortado em pedaços. Você não sorri, apenas volta ao sofá e larga a caixinha de madeira sobre o móvel. Seus passos na escada são apressados e, ao chegar ao nosso quarto, você se depara com o despertador, que soa alto. Nove e trinta e cinco. Busca pelo casaco bege claro e o veste. Desce as escadas e se depara com o calendário. Vinte e três de setembro de dois mil e treze.

É como se minhas mãos também tremessem mas, quando olho para elas, estão imóveis ao lado de meu corpo, enquanto assisto as pessoas lhe cumprimentarem. Você apenas acena com a cabeça, sorrindo fracamente, e quando dá as costas, os murmúrios ressurgem. Dizem ter pena, dizem querer encontrar um meio de te ajudar, mas nada fazem.

Nunca fizeram.

Abre a porta do carro e tira de lá o felpudo protetor de orelhas, que tem a mesma cor de seu casaco, e guarda as chaves no bolso, caminhando para fora do jardim. São trinta passos até o ponto de ônibus mais próximo, rumo que eu tomava quando acordava e apressava-me para não chegar atrasado ao trabalho. E você dizia que eu deveria ter despertado mais cedo para acompanhá-la ao ensaio do recital.

Porque você cantava e queria que eu estive lá para te ouvir.
Every lock
(cada tranca)
On every door
(em cada porta)
I put them there to try and hide you from the world
(eu as coloquei lá para tentar esconder você do mundo)
And you kicked
(e você chutou)
Yeah you screamed
(sim, você gritou)
You never understood you're everything to me
(você nunca entendeu que você era tudo pra mim)

Você se senta no primeiro banco antes da porta central do ônibus, encolhendo-se do vento gelado que adentra o veículo, e fita a nossa rua distanciar-se conforme os sons da cidade crescem. A mistura tão urbana de ruídos só a deixa ainda mais próxima de querer deixar-se ser tomada pelo choro. O som é abafado quando você coloca o protetor sobre os ouvidos, prendendo o seu cabelo no aro do objeto, porém, as sensações ainda são as mesmas.

O motor. O rangido do metal da porta. O som do freio no primeiro farol vermelho.

Você agradece mentalmente por chegarem logo e desce depressa, com as mãos nos bolsos, o sapato molhado por conta da poça d'água na calçada. Respira fundo, sentindo a garganta congelar com o ar frio.
E seu corpo estremece, como em todas as vezes em que esteve ali.
I just hope you know
(eu só espero que você saiba)
The future in your heart
(que o futuro em seu coração)
Is just about to start
(está apenas prestes a começar)

Você me encontra com facilidade, o caminho decorado na memória, cravado em concreto e placa de bronze. Encontra alguns conhecidos que sorriem e a cumprimentam e, dessa vez, você apenas acena com a mão. Eles partem, sabendo que será sempre assim, todas as vezes em que virem você.

Porque desde aquele dia, ninguém mais soube como era a sua voz.

No looking back when I am gone (Sing for me)
(sem olhar para trás quando eu me for - cante pra mim)
Follow your heart its never wrong (Sing for me)
(seguir seu coração nunca será errado - cante pra mim)
No looking back when I am gone (Sing for me)
(sem olhar para trás quando eu me for - cante pra mim)
Don't second guess the note you're on
(não adivinhe a nota onde você está)

"É uma espécie de trauma, é comum nesses casos."

As cordas vocais são duas fibras musculares situadas na laringe. E as suas estão perfeitas, mas você decidiu não mais utilizá-las. Como se tivesse desaprendido a falar, não mais demonstra reações audíveis. Você não quer.

Durante meses viveu rodeada de pessoas que insistiam em criar conexões fortes o suficiente para fazê-la abrir-se verbalmente, em vão. E nem eu mesmo conseguia recordar-me de como ela era, a voz que eu dizia adorar ouvir, o tom que eu insistia em ter dentro de meus ouvidos enquanto assistia você, seus olhos se fechando e se abrindo, direcionando as palavras cantadas diretamente à mim.

"Você não pode viver assim, !"

Muitos repetiam.
Mas muitos não entendiam que o que havia se perdido não era o seu dom.

Out of time
(sem mais tempo)
All out of fight
(sem mais luta)
You are the only thing in life that I got right
(você é a única coisa na vida na qual eu acertei)

O seu recital fora o primeiro da manhã.

Sentado na platéia, eu consegui notar que você estava se esforçando para agradar aos jurados, mas, mais que isso, estava se declarando à mim. Pedindo desculpas pelas brigas passadas, agradecendo por eu estar ali. Usando aquela canção para me fazer entender que você era tudo o que eu precisava.
E eu retribuí com minhas palmas que, mesmo misturadas ao som das palmas de todos naquele auditório, conseguiam atingir você em cheio. Você procurou por mim e curvou-se na finalização.

E seus olhos estavam marejados.
Seu coração estava marejado.

Porque, de alguma forma, você sabia que seria o nosso último dia juntos.

Say tomorrow
(diga amanhã)
I can follow you there
(vou poder seguir você lá)
Just close your eyes
(apenas feche os olhos)
And sing for me
(e cante pra mim)
I will hear you
(eu vou ouvir você)
Always near you
(sempre perto de você)
And I'll give you the words
(e eu vou te dar as palavras)
Just sing for me
(apenas cante pra mim)

Suas mãos curiosas fazem o primeiro som quando novamente consigo abrir meus olhos. Ainda está nublado e as nuvens fazem conjunto aos meus sentimentos. Não pode ser chamado de dor, pois não sinto mais o latejar dos cortes, mas agora consigo recordar-me de como é sentir o gosto do sangue escorrendo pela minha boca. Meu corpo parece querer entrar em convulsão, lentamente tomado pelo que agora eu chamaria de frio. Nada ainda me incomoda, apenas não estar com você.

No segundo seguinte, porém, você se senta no gramado úmido, sem se importar com as manchas que serão formadas no tecido da sua roupa. Você fita a minha foto no túmulo, os olhos correndo pelas datas nele escritas. Seus ombros murcham e você relaxa seu corpo, espantando a tensão que lhe tomara desde que havia acordado.

Com suaves sopros, é como se a sua imagem ficasse menos embaçada. Admiro suas mãos enquanto descansam sobre seus joelhos, você, convivendo com a claridade dessa manhã. Seria melhor se estivesse em regressão, ao menos saberia que ao voltar para casa poderia encontrar-me no jardim, terminando o molde para a nossa última foto. A luz, porém, lhe envolve num cenário ilusório, onde não se pode esconder nada. E não há nada, é o que você está pensando.

Não há nada que possa te fazer pensar que eu não estava ali.

Porque eu estava.

Coloco minhas mãos em meu rosto, mas não consigo mais saber como são as lágrimas. Posso me lembrar do gosto, salgadas, mas elas não caem.
Não as minhas.

Tento tocar o seu rosto e, dessa vez, eu o sinto. Pele morna e macia, rosada por conta do tempo. O outono de brisa leve que, naquele horário, se parece muito com uma tarde de primavera. Você não diz nada, apenas fecha os olhos e os punhos, como se fosse difícil demais fazer o que pretendia.

E nós dois temos certeza de que ainda é possível buscar a felicidade, assim como fazem todos os mortais.

Porque eu estou do seu lado. Dentro deste um ano, eu sempre estive.

E você sempre soube.
Porque você está cantando para mim.

Just close your eyes
(apenas feche os olhos)
And sing for me
(e cante pra mim)

fim.

nota da autora: Ahhh, teve show do Yellowcard e eu não fui, infelizmente (mas eu surtei do mesmo jeito vendo online xD). Ouvindo essa música, de repente me deu vontade de escrever, aí saiu essa songfic aí. Meu comeback com songfics, neah? Fazia tempo que eu não escrevia algo assim ^^
Bom, deixem suas opiniões, okay? E obrigada por lerem até aqui *-*



Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avise por email. Se deseja saber quando essa fic vai atualizar, visite esta página. Obrigada. Xx.


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