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Capítulo 1


O sol, que batia em meu rosto, estava entrando pela pequena fresta destampada pela cortina de meu quarto. O despertador estava tocando com aquele ruído que eu detesto, abomino, ODEIO. Eram seis horas da manhã. Desta vez, diferentemente dos outros dias, desliguei-o calmamente e levantei-me rápido da cama. Hoje seria um dia muito especial.
Andei, tonteando por ter levantado muito rápido, e fui até o meu banheiro. Tirei minhas roupas e fui tomar banho, um banho quente e rápido. Quando terminei, me enrolei na toalha e escovei meus dentes. Soltei os meus cabelos castanhos que estavam presos num coque, pois estava com preguiça de lavá-los, e penteei-os rapidamente. Voltei para o meu quarto e vesti as minhas roupas íntimas. Depois coloquei o meu uniforme, que estava bem passado, graças a minha mãe. Voltei ao banheiro para passar um pouco de corretivo nas olheiras e um pouco de pó. Quando terminei, peguei minha bolsa, o meu par de tênis e desci.
Fui até a cozinha, a onde minha mãe, Leticia, e o meu pai, Billie, estavam tomando café.
- Bom dia, – minha mãe veio me cumprimentar.
- ? – estranhei – você nunca me chama pelo nome, eu hein. – disse enquanto eu me sentava.
- Eu sei, mas é que um nome tão bonito não pode ser desperdiçado. – ela deu uma explicação qualquer, e eu pude perceber. Por isso, levantei as duas sobrancelhas, duvidando do que ela acabara de dizer – Na verdade eu acordei de mau humor hoje. – agora ela havia sido franca.
- Bom, diferente de você – eu comecei a falar – acordei com o melhor humor possível.
- E posso saber o porquê? – meu pai era um cara legal, mas era esquecido. Eu já tinha contado pra ele o que iria acontecer hoje desde quando eu fiquei sabendo da novidade.
- Ai, Billie – minha mãe sentou-se ao meu lado, reclamando – ela já disse mil vezes.
- Mas é que eu esqueci, poxa.
- Enfim – interrompi, antes que começasse uma discussão desnecessária – hoje é o primeiro dia de aula no 3º ano do ensino médio, o melhor ano da sua vida, antes da sua faculdade, um ano de escolhas e dificuldades. – eu comecei com uma introdução ridícula só para enrolar um pouco – E não é só isso. – continuei – hoje o e o vão começar as suas aulas no Northumberland – eu comecei a dizer, totalmente animada, o real motivo de eu estar com tão bom humor.
O e o eram gêmeos fraternos, mas tinham algumas semelhanças, como o cabelo, e o sorriso, com todos os dentes certinhos. Mas os olhos e o nariz eram diferentes. O tinha olhos e o , . O nariz do primeiro era um pouco mais arrebitado do que o outro. E não é só fisicamente, os dois são muito diferentes na personalidade. é mais solto, mais extrovertido, tem bastante amigos, é mulherengo, enquanto é mais fechado, gosta de ler, simpático, mas tímido. Enfim, eles eram diferentes.
Nós somos amigos desde os nossos sete anos. Nos conhecemos por acaso, na festa de aniversário deles. Ok pode parecer estranho, mas vou explicar. Eu tenho uma prima que é como uma melhor amiga, a . Ela tinha uma melhor amiga, a , que tinha outra melhor amiga, a . Essa conhece e o desde que nasceu, pois suas mães são melhores amigas. Ela não queria ir à festa dos dois sozinha, então chamou a , que chamou a que me chamou. Então nos conhecemos, entendeu? Confuso eu sei.
Desde aquele dia, viramos melhores amigos. Nós seis. Andávamos para todos os lados juntos. Passávamos feriados, natal e ano novo, juntos. Nós nos considerávamos praticamente primos. Ou até irmãos.
Só que o destino nos separou, aos poucos. Há três anos atrás, eu recebi uma proposta para estudar no Northumberland, uma escola normal que dava aulas extras de música ou teatro. Quem era bom poderia cursar sua faculdade, a melhor faculdade de artes do país. Eu adorava cantar, falavam até que eu tinha uma voz boa, mas era tudo por diversão. Mas a proposta me animou e me interessou tanto, que acabei aceitando. Foi difícil, eu tive que mudar de cidade. Eu morava em Nova York, mas a escola era em Los Angeles. No dia em que se separamos, prometemos manter contado, por MSN, a moda da época. E até conseguimos. No ano seguinte, a e a tentaram a sorte: fizeram o teste para tentar entrar na mesma escola que eu. Nossas mães fizeram um acordo, queriam manter todo mundo junto. Conseguiram. No ano passado, foi a vez de . Ela conseguiu. e até então, nunca tinham tentado.
É estranho pensar que todos nós tínhamos vozes boas. É estranho mesmo. Mas, enquanto eles estavam em NY, fizeram aulas de canto. Com exceção da , todas entraram para ter aula extra de música. Ela escolheu o teatro.
Com as nossas conversas diárias, nós quatro conseguimos convencer os gêmeos de entrar para a escola também. queria ser músico, era o maior sonho dele. Cantar e tocar para ele, é o paraíso. Ele conseguiu, sem dificuldade nenhuma. E sem aula nenhuma. Ele se recusou a participar daquilo na época. Depois de um tempo se arrependeu, mas foi recompensado. Iria para Los Angeles com o seu irmão, que resolveu apenas fazer a prova para entrar para o colégio. Não queria cursar nem teatro e nem música. Tímido, fazer o quê.
Resumindo, eles eram meus melhores amigos que moravam em NY, se mudaram para LA no começo da semana, mas eu não os vi, porque estava viajando, e hoje, no primeiro dia de aula, iria finalmente me reencontrar com eles. Nós seis. Juntos. Novamente. Era por esse motivo que eu estava tão animada. E foi isso o que eu expliquei para os meus pais, enquanto tomava um cappuccino.
- Eu sabia que eles se mudaram, tá bom? – meu pai tentou se explicar – eu sou amigo da mãe deles.
Verdade, esquecide contar. Os pais dos gêmeos eram separados. Separaram-se quando eles nem tinham um ano de vida ainda. O pai dele tinha envolvimento com drogas, mas era uma boa pessoa.
- Eu também – minha mãe disse se levantando – a Patrícia é tão generosa e tão simpática, sinto a falta dela. Por isso vou levar a para a escola hoje.
- Nossa, pra quem está de mau humor e está me chamando pelo nome, isso é um progresso. – eu disse brincando.
- Não enche o meu saco se não você vai a pé. – ela ameaçou e eu a obedeci. Coloquei a caneca vazia na pia e peguei uma maçã que iria comer no caminho. – Vamos , não quero me atrasar. Só quero dar um beijo e um abraço na Pattie.
- Calma, mãe. – resmunguei enquanto colocava o meu tênis. – Tchau pai. – disse assim que terminei, recebendo um beijo dele na minha bochecha.
- Tchau filha, vai com Deus. Juízo e manda um abração no e no .
Falei que ele podia contar com isso e corri para a saída, antes que a minha mãe me matasse. Entrei no carro pelo lado do banco do passageiro com a minha mãe já dando a partida. Assim que eu fechei a porta, ela deu ré, saiu da garagem, manobrou e foi com toda a velocidade na direção da portaria do condomínio no qual eu morava. O meu bairro era um bairro chique, e tinha muitos condomínios de casa. A , a e a moravam no condomínio vizinho. e começaram a morar num outro que era próximo ao colégio.

Cheguei à entrada do Northumberland com um frio gigantesco na minha barriga. Eu os via todos os anos, no natal e no ano novo, mas aquele tinha sido diferente. Eles não puderam viajar devido à mudança, tinham que resolver algumas coisas em Nova York. E nós, em LA. Ou seja, havia um ano que eu não os via. Estava com saudades.
Sai do carro e a minha mãe me disse que ia ficar do lado de fora da escola. Eu assenti com a cabeça, dando uma mordida na maçã que estava quase acabando. Joguei o resto dela no lixo. Passei pelo portão principal tremendo. Logo me dei de cara com o pátio extenso e com os dois prédios: a escola, que ia do ensino fundamental até o ensino médio, e a faculdade. O prédio da escola, obviamente, era o maior, devido ao fato de ter que suportar salas para as onze séries diferentes. E foi para lá que eu me direcionei.
Ouvi uma voz feminina fina chamando pelo meu nome. Já sabia que era a . Me virei para trás e pude ver ela correndo com um papel na mão. Ela tem cabelos longos e pretos, meio ondulados, meio lisos, é uma mistura dos dois. Ela tem uma altura média e era magra. Tinha o corpo de uma modelo. - , você não sabe na injustiça que fizeram. – ela chegou em mim toda cansada.
- Que aconteceu? De que injustiça você tá falando?
- Nos colocaram em salas diferentes – ela disse berrando. – olha. Em salas diferentes – então esfregou o papel na minha cara.
Realmente, o meu nome não estava naquela lista. Fiquei muito chateada, mas logo reparei um nome familiar lá: .
- – gritei, puxando-a para mais perto de mim – você está na sala do A deu um berro mais alto do que o meu e começou a pular de alegria.
- Alguém que preste na minha sala. – ela disse rindo – eu odeio o povo dessa escola.
- Eu também, mas não fale isso muito alto.
Nós éramos populares na escola, todo mundo nos adorava. Tínhamos uma reputação a manter. Não poderíamos simplesmente falar que grande parte daquela escola não nos agradava por serem totalmente fúteis.
- Adivinha quem está na sua sala? – levei um susto ao escutar a voz da muito próxima do meu ouvido. Me virei e ela estava com um sorriso de orelha a orelha. – EU
Sorri, nitidamente animada por ela ter caído na minha sala.
- Alguém que preste na minha sala. – repeti a fala da , só para a ouvir. Aliás, ela estava com a do lado dela, que disse que caiu na sala apenas com o .
Conversamos um pouco, ainda faltavam quinze minutos para o sinal tocar. Em alguns minutinhos, pude ver duas cabeças familiares andando em sincronia passando pelo portão principal. Eram eles.
- Gente – chamei pela atenção das minhas amigas – é o e o ali?
- Acho que sim. – disse, forçando um pouco a vista para ver se enxergava melhor.
- São eles sim – exclamei, com toda a felicidade do mundo.
Sai correndo em direção a eles, que abriram o maior sorriso ao ver que eu não estava sozinha e as minhas amigas estavam atrás de mim, correndo também.
- Que saudades – disse assim que abracei .
- Eu tava morrendo de saudades de você, sua sapeca. – ele disse, passando a mão no meu cabelo – você não mudou nada. Só o cabelo... Tá mais ondulado que o normal.
- É, pois é... Algumas mudanças básicas. – eu ri, mexendo nas minhas mechas – E você tá diferente. Mudou o penteado do cabelo. Não tá mais tão bagunçado como antes. Me virei para o , que estava com um sorriso maior que o rosto.
- – o abracei rapidamente – que saudades de você, garoto.
- Eu também estou com saudades, . – ele disse me apertando – há quanto tempo eu não recebo uma dica sobre as garotas. Esse daqui – disse apontando para o irmão – só sabe falar de “chegar na gata e pegar de jeito”. Eu tenho saudades de conversar com uma garota, sabe? – O apenas mostrou o dedo, enquanto ia abraçando a .
- Você é muito gay, .
- Você que é tarado demais, .
- Ah, que saudades que eu tava disso. – disse a , com uma cara boba, descontraindo o momento e fazendo todos rirem.

Capítulo 2


Em alguns momentos da nossa vida, chegamos a pensar que tudo está errado, que o destino só quer que você se ferre. Em outros, parece que ela está totalmente ao seu favor, te proporcionando felicidade e te iludindo mostrando que a vida é maravilhosa. O segundo momento estava acontecendo comigo. Depois de três anos, eu estava vendo aqueles seis amigos unidos novamente, como se nada tivesse acontecido. É claro que muita coisa aconteceu. Temos muitas histórias e muitos segredos guardados. Agora teremos muito mais.
O e o estavam prestes a fazer 17 anos, o que para eles era algo mágico, só não tão mágico como fazer 18 anos. Eles estavam mais soltos do que nunca. Até mesmo o parecia um pouco menos tímido. Mas isso é o de menos.
Três semanas depois que as aulas começaram, eu já estava totalmente interagida com a minha turma. Eles eram legais. A , para variar, já tinha chamado a atenção de muito menino. Talvez seja porque ela tem um corpo violão. Muito peito, muita bunda. E ela é magra. O rosto dela é perfeito. Ela é perfeita. Ela tem cabelos pretos na altura do ombro, repicados, com uma pequena franja lateral caindo sob seus olhos, que eram castanhos claros, bem claros. Seu nariz era fininho e seus lábios rosados por natureza, o que chamava atenção, já que tinha pele clarinha. Não culpo os meninos por a acharem maravilhosa. Mas ela abusava. Ela adorava ter toda essa atenção e ficava com todo garoto que olhava para ela. Todos mesmo. Eu já chamei a sua atenção, mas não adiantou. Ela era assim. E a fama dela de pegadora já estava crescendo.
Eu estava na mesma de sempre. No topo da popularidade. Não quero me gabar, não sou muito de ligar para essas coisas, mas acontece. A , do mesmo jeito que eu disse para ela, explicou que isso acontece porque eu era bonita e sabia cantar muito bem. Eu não acreditava nisso. Eu não me achava bonita. Corpo magro, um pouquinho de peito, um pouquinho de bunda, cabelos castanhos longos e ondulados. Meus olhos eram azuis (a única parte do meu corpo que eu gosto), meu nariz era fino também e meus lábios carnudos demais. Não gostava deles. Mas, eu era assim. E tenho que concordar, muitos meninos gostavam disso. Eu era paquerada toda hora. Muitos meninos se declaravam para mim. Mas diferentemente da , eu não ficava com eles, por dois motivos: o primeiro motivo era porque eu simplesmente não queria ficar com eles. O segundo porque, se eles se declaravam para mim, é porque eles gostavam de mim, e eu ficar com um menino que gosta de mim, mas não é recíproco, é iludir. E se existe uma coisa que eu odeio, é iludir as pessoas. Então, não. Eu não ficava com qualquer um.
A era a versão feminina do : tímida. Adora ler. Não fala com quase nenhum menino, mas com todas as meninas. Aliás, os únicos amigos meninos dela eram os gêmeos. Ela tinha um pouco de popularidade por andar com a gente. Ela era baixinha e magrinha, cabelos castanhos e bagunçados, propositalmente, e ela tinha um rostinho meigo. A também tinha um rostinho angelical. Ela era um anjo. Ela era ingênua para falar a verdade. Tinha medo de tudo e de todos. Ela era bonita também e namorava um menino chamado Daniel desde o finalzinho do ano passado. Eles eram fofos juntos. E ela acreditava que ele era o amor da vida dela, que eles iam casar e ter dois filhos, morar numa casa simples, mas grande. E ela tinha toda certeza do mundo que ia ser atriz.
Esses eram os meus amigos, cada um com sua personalidade. Alguns com personalidades iguais, outros com personalidades totalmente diferentes. E isso que me agradava.
O começo do terceiro ano não foi tão complicado. Regras e mais regras. Trabalhos e mais trabalhos. O modo como o meu colégio funcionava era totalmente diferente. Das 7 a.m. até 12:10 p.m. era aula normal. Das 12:10 p.m. até 1:10 p.m. era o tempo que tínhamos para almoçar (quem faria aula extra depois), e das 1:10 p.m. até 4 p.m. eram as aulas extras de música e de teatro para quem participava. - No final dos semestres, fazemos apresentações. É a semana de arte do Northumberland. Vai de segunda até domingo. Com apresentações de teatro e música da 8ª série até o 3º ano do ensino médio. – a orientadora Monroe começou a explicar - Das segundas até as quintas, seriam as apresentações teatrais, com as respectivas séries. Nas sextas, as apresentações musicais do ensino fundamental. Nos sábados, ensino médio. E nos domingos, faculdade. A diferença é que na faculdade de música e teatro, temos apresentações a cada três meses, que servem praticamente como provas. Alguma dúvida?
A sala inteira ficou em silêncio, demonstrando que todos haviam entendido o recado. Eu tinha que ouvir isso todo ano, desde que eu me mudei para cá, na 8ª série. Já tinha passado por tudo aquilo que ela dissera. Exceto pela faculdade, que eu iria começar ano que vem. Logo quando ela saiu, começou a aula de Biologia.
Outras duas aulas começaram depois dessa e eu não queria prestar atenção em nenhuma. Ou talvez não conseguisse. Na segunda aula, o professor trocou um garoto chamado Henry de lugar. Ele passou a sentar atrás de mim, tomando o lugar da . Ele era novo também, e só veio para estudar e não para cursar nada que tinha haver com artes. Ele era bonito. Muito bonito. Era alto, forte, seus músculos realmente chamavam a atenção. Tinha um rosto perfeito, olhos verdes e cabelo escuro. Ele era perfeito. Suas bochechas eram rosadas. E quando ele sentou atrás de mim, pude sentir o cheiro maravilhoso do perfume dele. Já disse que adoro perfume de homem? É realmente uma coisa de outro mundo. O Henry era de outro mundo.
- Senhorita , você pode responder a minha pergunta? – o meu professor de Química me acordou do transe. Eu, sem entender nada, disfarcei:
- É que... – olhei para a lousa para ver se tinha alguma dica. Pude ver que ele estava fazendo uma revisão de toda a matéria que aprendemos desde que começamos a ter aula de Química, no fim do Ensino Fundamental. – Eu não entendi muito bem a sua pergunta...
- Eu perguntei o que é uma ligação covalente?
- Er... – eu coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e comecei a batucar na mesa, quando uma voz masculina sussurrou atrás de mim:
- Compartilhar elétrons.
Eu hesitei em responder, mas pude perceber que o Henry estava apenas tentando me ajudar, então eu disse, meio em dúvida:
- É quando os átomos compartilham elétrons?
O professor disse que eu estava correta e começou a falar os elementos químicos. Eu virei um pouco pra trás e encontrei o Henry sorrindo para mim. Meu Deus, como ele era lindo.
- Er... Obrigada por ter me ajudado. – agradeci, perdida diante daquele sorriso branco. Ai , para com isso.
- Magina, amigo é pra isso, né?
Eu fiz que sim com a cabeça e me virei para frente.
Cinco minutos se passaram e a aula acabou. Era a hora do intervalo. Me levantei da cadeira e fui em direção à porta. Senti uma mão quente me segurando. Um arrepio percorreu pelo meu corpo inteiro.
- Qual é o seu nome mesmo? – Henry perguntou, ainda mais sorridente do que antes. E ainda mais lindo, se é que isso é possível.
- . – estendi a minha mão pra ele – você é o Henry né?
- Sim – ele não ignorou a minha mão estendida e apertou a sua contra a minha, balançando em forma de cumprimento. – Prazer em te conhecer.
- O prazer é todo meu – eu disse, dando uma risadinha baixa em seguida.
Quando ele saiu, já pude ouvir a voz da me zoando, deixando claro que ela viu a cena toda:
- Hum... Não sei você, mas eu senti um clima.
- Para com isso, . Não tem clima nenhum.
- Para com isso você. Ele é um gato. Eu acho você deveria investir numa amizade.
- Por quê? Ele nem é tão bonito assim. E ele só tentou ser gentil.
- Sei, soprando a resposta no seu ouvido e depois te cumprimentando. – ela deu um sorriso malicioso – , nem eu e nem você somos bobas. Ele quer ser seu amigo. E você o acha bonito sim. Todo mundo acha. Porque ele É bonito. Fazer uma nova amizade não mata ninguém, sabia?
- Ok, ok. – eu concordei apenas pra ela parar de me irritar, enquanto saía, finalmente, daquela sala. – um novo amigo não faz mal.
- Essa é a minha garota!
Descemos para o pátio e lá encontramos a , o , a e o conversando, numa rodinha. Fomos para a direção deles.
- E aí, gente! – cheguei, pegando um pouco do Doritos que o estava comendo – Alguma novidade?
- Nada de interessante – disse a , com uma voz baixinha, com ar de tédio.
- O já fez muitas amizades – disse, rindo – principalmente amizades femininas.
- Mas já? – perguntei surpresa, levantando a sobrancelha.
- É, sabe como é né. Eu meio que atraio as garotas. – ele disse, brincalhão.
- , você não pode falar nada. – a tinha que tocar no assunto Henry de novo. Até comecei a achar que ela que estaria interessada nele.
- Cala a boca. – foi tudo o que eu disse. A galera ficou me olhando com uma cara de interrogação e me vi obrigada a explicar – um menino novo da minha sala tentou ser gentil comigo, só isso.
- Ele soprou a resposta de uma pergunta de Química no ouvido dela. – a disse, com o mesmo sorriso malicioso de dez minutos atrás. – e ele é um gato.
- Quem é esse? – o perguntou.
- Um tal de Henry. – o procurei no meio da multidão de alunos que estavam aglomerados pelo pátio gigantesco daquele lugar. – Ele está em algum lugar por aí.
Eles olharam um pouco para os lados, mas logo desistiram.
- E você, – tentei mudar de assunto – que amizades femininas são essas?
- Ah, uma menina chamada Melissa e outra chamada Emma.
- É a Melissa e a Emma que eu to pensando? – a se virou para a , a única que estava ciente totalmente do assunto, já que era da sala dele.
- Elas mesmas. – confirmou.
- Eu não estou acreditando – disse a , indignada. – eu não gosto nem um pouco dessa Emma. Ela pensa que sou eu. Ela me copia em tudo.
- Ah, você que acha isso – tentou a contrariar – Ela é legal. E a Mel também.
- Que isso, já tá a chamando de Mel? – me virei pra – quanta intimidade, hein?
- É que eu sou amiga do , né – ela tentou se explicar – daí eu me aproximei delas. Elas são gente boa.
- Tá bom, então.
Melissa e Emma são duas garotas super metidas e populares. Elas são melhores amigas desde sempre. Ambas são filhas de pais milionários e isso dá uma certa atenção na escola. As duas são bonitas também, Melissa tem o cabelo castanho bem longo e liso e a pele bronzeada naturalmente, o que faz seus olhos verdes claros ganharem atenção. Emma é ruiva e tem o cabelo enrolado. O seu rosto apresenta sardas, não são muitas, mas dão algum charme. Seus olhos são castanhos claros. Resumindo: elas são bonitas e fodidamente ricas.
Conversamos sobre diversos assuntos, entre eles sobre as futuras apresentações de final de semestre que faremos. Estamos desde três semanas atrás, quando as aulas começaram, colocando os assuntos em dia. Os namoros que tivemos, as amizades boas ou ruins e algumas histórias engraçadas. Falando em namorado, o Daniel chegou no meio da conversa e roubou a . Eles ficaram namorando o resto do intervalo inteiro. Quando o sinal tocou, enrolamos um pouco para subir, até que o inspetor praticamente nos empurrou para as escadas que dariam nas nossas salas.
Chegando à sala, sentei-me rapidamente, pois a aula já havia começado e eu não queria receber uma bronca da professora de Gramática.
- Chegando atrasada? – a voz dele pairou em meus ouvidos, baixinha novamente – o que você estava aprontando?
- Na-nada demais – droga! Gaguejei ao respondê-lo – apenas com preguiça de subir.
- Sei... – o Henry disse, duvidando da minha resposta.
- O que você acha que eu estava fazendo?
- Nem queira saber.
A resposta dele me intrigou. Como assim, “nem queira saber”? O que ele achava que eu era? Uma vagabunda? Uma drogada? Seja lá o que for, eu realmente não queria saber. Só queria o provar o contrário. Então, resolvi ficar quieta e fingi que eu não entendi o que ele havia falado. Me virei e voltei a prestar a atenção na professora.
As outras duas aulas, depois dessa, foram de Matemática e Geografia. Tentei prestar atenção, mas eu não conseguia, pois o Henry sempre ficava puxando assunto comigo. Se fosse um cara normal, isso teria me irritado profundamente. Mas o Henry era o Henry, então eu estava gostando. Vez ou outra eu percebia que a estava rindo da minha cara. Eu não liguei, até que o professor de Geografia deu uma bronca na gente. Daí sim, a riu muito mais. E isso me incomodou.
- Até amanhã, . – ele disse assim que o sinal do fim da aula acabou.
- Até amanhã.
A chegou ao meu lado e deu um “oi” baixinho pro Henry, que respondeu da mesma forma. Saímos da sala juntas e cruzamos com o e com a rindo sobre algum assunto que eles estavam falando.
- E aí, aonde nós vamos almoçar? – a perguntou.
- Eu não vou almoçar com vocês. – disse – eu não faço aula extra, lembra?
As aulas extras começariam hoje. Se eu não tivesse tão acostumada, estaria ansiosa.
- Ah, é verdade. – eu me lembrei – mas da próxima vez, almoça com a gente, só para fazer companhia.
- Ok, eu vou pensar no seu cado. – concordou com a ideia – mas agora eu tenho que ir. Tchau, até amanhã. – ele disse e depois se despediu com beijinhos na bochecha de cada uma.
A chegou abraçada com o Daniel.
- O que vocês estão fazendo aqui parados no corredor? – ela perguntou – vamos descer.
Concordamos e descemos. No meio da escada, eu reparei que faltava alguém.
- Espera! Cadê o ?
- Ah, ele tá lá com a Mel e a Emma. – a disse, balançando os ombros.
A revirou os olhos e colocou o dedo próximo a boca, insinuando que iria vomitar. Todos riram.
- Amor, eu vou almoçar. – a avisou ao Daniel quando saímos do colégio. – Você me liga mais tarde?
- Ligo sim. – ele respondeu, dando um selinho nela. – Até amanhã, galera.
Todas responderam “até” em uníssono. Encontramos algumas pessoas no caminho, que vieram falar rapidinho com a gente. Procuramos algum lugar para comer, que estivesse um pouco menos lotado. No meio do caminho, encontramos , que disse que estava com alguns amigos novos, incluindo as duas “xexelentas”, como dizia a .
O lugar que estava menos lotado era um self-service. Comemos rapidamente, já que tinha uma fila enorme de pessoas que estavam querendo almoçar também. Depois de lá, fomos até uma doceria, pois a queria comer um Kit-Kat. Eu peguei um para mim também e entramos novamente no colégio.
- Alguém me explica esse negócio de aula extra de música? – disse o , visivelmente ansioso – o que nós vamos fazer lá?
- No primeiro dia de aula, cada um canta um trecho de uma música. – eu comecei a explicar – nos outros dias, os professores ajudam, individualmente, a melhorar nosso tom, principalmente com quem é iniciante. Depois de alguns dias, aprendemos a como escrever um verso simples. E treinamos com instrumentos. Você pode escolher o seu, mas os principais, e obrigatórios, são o violão e o piano, pois eles geralmente são os que dão o ritmo à música. Só isso.
- Só isso? – ele perguntou irônico – isso é tudo o que eu queria. E isso é só uma aula extra. Imagina na faculdade? O que a gente vai fazer?
- Dizem que a faculdade geralmente lança muita gente para a fama – a disse – e isso é verdade. Então eles ensinam como se virar na pressão da mídia, a aperfeiçoar seus talentos, para ser uma artista completa. Essas coisas do tipo.
- Legal. – ele disse animado – essa escola realmente é sensacional, como vocês sempre me disseram.
O sinal tocou, a entrou no salão do teatro e nós quatro subimos para a sala de música.

Capítulo 3


A sala era branca e grande e no meio estava se formando uma rodinha com os alunos. Encostados na parede estavam os seguintes instrumentos: violões, guitarras e baixos. De um lado, perto da janela extensiva, estava um piano branco. Do outro, ao lado oposto da janela, estava uma bateria vermelha. Em outra parede, tinha um conjunto de quatro prateleiras, com instrumentos pequenos, como, por exemplo, uma flauta. Ao lado delas, se encontrava um teclado elétrico. Típico de uma sala de música.
- Cara, – começou a falar, encantando pela sala – isso é surreal!
- Por quê? – perguntou – é só uma sala de música.
- Porque talvez eu nunca tenha entrado numa sala de música? – ele respondeu como se fosse óbvio – Olha quantos instrumentos tem aqui! Tem violão, piano e até uma bateria! Isso é tudo o que eu precisava!
- E por acaso você sabe tocar bateria? – eu perguntei, desconfiada.
- Mas é claro! – ele respondeu – eu aprendi com a banda da igreja lá de Nova York. Os caras não tocam só música sobre Deus, eles tocam de verdade! É uma banda completa e me ensinaram tudo. Pensei que você soubesse.
- Eu não sabia. – falei.
- Nem eu. – comentou – eu pensei que o seu máximo fosse o violão mesmo e que o piano fosse só uma coisinha ou outra.
- Em que mundo vocês vivem? – ele perguntou com humor.
- Oi gente! – a Melissa chegou ao lado do .
- Você faz aula de música? – perguntou incrédula.
- Comecei a fazer esse ano. – ela respondeu apoiando o braço no ombro do , que abaixou a cabeça rindo envergonhado – alguém me convenceu.
- O QUE? – a gritou – Como assim?!
- , menos, por favor – a falou baixinho para ela.
- Bom dia, alunos! – o professor de música disse quando passou pela porta de entrada. – Quem ainda está de pé, queiram se sentar aqui na rodinha?
Era o mesmo professor de sempre. Ele era muito legal. Ele usava dreads no cabelo, tinha uma barbinha e usava roupas largas.
- Eu sou o Paul, professor de música de vocês. – ele começou a se apresentar – eu irei ensinar a tocar os instrumentos principais: violão e piano. Quem sabe tocar qualquer um dos outros instrumentos, pode escolher na hora de fazer a música. Muitos não os escolhem, pois quase ninguém forma uma banda no colégio ainda, normalmente isso acontece na faculdade. Vocês podem escolher o destino de vocês, certo?
- Prô, quem vai cuidar das nossas vozes? Vai ser a Alison, como sempre? – uma garota loira, com a voz rouca perguntou.
- Sim, será ela sim. – ele afirmou – pra quem não sabe, já deu para perceber que eu não sou cantor. Eu sou músico. Alison é da minha banda também, que temos por diversão, e ela é a vocalista. Daqui a pouco ela chega aqui. Agora eu quero conhecer cada um dos que eu ainda não conheço. São poucos hein. Quem está começando a aula hoje?
O , a Melissa, um garoto e uma garota levantaram a mão.
- Certo. – ele observou – Qual é o seu nome? – ele perguntou, apontando para o .
- .
- Você entrou esse ano no colégio?
- Sim.
- Em que escola você estudava antes?
- Eu morava em Nova York, senhor.
- Sério? – ele levantou as sobrancelhas – Que interessante! Você sabe tocar algum instrumento?
Ele fez que sim com a cabeça e respondeu que sabia tocar violão, piano e bateria. O professor pediu que ele pegasse o violão e tocasse para ele.
A professora Alison entrou na sala nesse momento. Ela era alta, magra, estava usando uma regata verde e uma saia longa branca. Estava com o cabelo preto preso num coque improvisado por uma caneta.
- Quero que você cante alguma coisa também. – ela se pronunciou – Oi, eu sou a professora Alison, quem vai cuidar da voz de vocês.
Todos a cumprimentaram e voltaram à atenção ao , que estava voltando a se sentar, agora com o violão no colo.
- O que você vai cantar? – Paul perguntou.
- With You, do Chris Brown.
- Ok, manda ver.
Então ele começou a cantar os primeiros versos, enquanto tocava ao ritmo da música.
“I need you boo (Eu preciso de você, amor)
I gotta see you boo (Eu tenho que te ver, amor)
And there’re hearts all over the world tonight (E há corações no mundo todo esta noite)
Said the hearts all over the world tonight (Disse que há corações no mundo todo esta noite)”


Ele tinha realmente uma voz muito boa. Era suave e calma, linda. Fazia tempo que eu não o ouvia cantar.

“Hey, little mama (Ei, garota)
Oh, you're a stunner (Você é maravilhosa)
Hot little figure (Formas excitantes)
Yes, you're a winner (Sim, você é uma vencedora)
And I'm so glad to be yours (Eu estou tão contente de ser seu)
You're a class all your own and (Você tem sua própria categoria e)
Oh, little cutie (Oh, gatinha)
When you talk to me (Quando você fala comigo)
I swear the whole world stops (Eu juro que o mundo todo para)
You're my sweetheart (Você é minha querida)
And I'm so glad that you are mine (E eu estou tão contente de você ser minha)
You are one of a kind and (Você é uma espécie única e)
You mean to me (Você significa para mim)
What I mean to you (O que eu significo pra você)
And together baby (E juntos, querida)
There is nothing we won't do (Não há nada que não faremos)
Cause if I got you (Porque se eu tenho você)
I don't need money (Eu não preciso de dinheiro)
I don't need cars (Eu não preciso de carros)
Girl, you're my all, and (Garota, você é meu tudo, e)”


Eu não era a única que estava gostando. Tantos os alunos, como os professores, estavam prestando muita atenção. Vez ou outra, os meus colegas viraram para quem estavam do lado e sussurravam: “Ele canta muito bem”. Isso estava me agradando.

“Oh, I'm into you (Oh, eu estou na sua)
And girl, no one else would do (E garota, ninguém mais faria)
Cause with every kiss and every hug (Porque com cada beijo e cada abraço)
You make me fall in love (Você me faz ficar apaixonado)
And now, I know I can't be the only one (E agora eu sei que não posso ser o único)
I bet there heart's all over the world tonight (Eu aposto que há corações no mundo todo esta noite)
With the love of their life who feels (Com o amor da sua vida que sentem)
What I feel when I'm (O que eu sinto quando estou com você)
With you, with you, with you (Com você, com você, com você)
With you, with you, girl (com você, com você, garota)
With you, with you, with you (com você, com você, com você)
With you, with you, oh girl (com você, com você, oh garota)”


- Está ótimo! – disse a Alison, enquanto batia palma, como todos da sala. – Qual é o seu nome?
- . – ele respondeu, todo sorridente.
- , você canta muito bem, cara. – ela disse – a onde você estava esse tempo todo?
- A gente disse pra ele vir pra cá! Eu, a e a dissemos! – a comentou, apontando para ela mesma e para nós duas.
- E fizeram bem! Parabéns cara! – a professora disse.
Depois disso, a Melissa e os outros dois alunos novos se apresentaram. Cada um cantou uma música e eles sabiam cantar bem também. Exceto a Melissa. A voz dela era boa, mas ainda precisava melhorar. E foi isso o que Alison falou para ela.
O Paul perguntou quem sabia tocar violão e a maioria já sabia. A outra parte só queria cantar. Com isso, dividiram a aula em duas partes: da 1:10 p.m. até as 2:40 p.m. seria aula de canto. Das 2:40 p.m. até as 4 p.m., seria a parte dos instrumentos. Assim, quem não queria aprender a tocar nada, poderia ir embora mais cedo, do mesmo modo de quem não queria cantar, poderia chegar mais tarde.
A aula foi resumida em pessoas se inscrevendo na parte que queria e em algumas explicações básicas de como a aula funcionaria. Nada de interessante. Eu já sabia aquilo de cor.
A Melissa ficou o tempo inteiro grudada no , e a parece totalmente irritada com aquilo.
- Olha os dois ali. – ela sussurrou para mim e para a – Ela não desgruda dele.
- E qual é o problema? – perguntei – tá com ciúmes?
- Lógico que não, ! – ela respondeu rapidamente, revirando os olhos – é que ela é dissimulada, falsa, ridícula, metida. E se ele realmente começar a gostar dela? Como fica?
- Ah, se liga, ! – a começou – você realmente acha que o um dia vai se apaixonar por alguém? Se isso acontecer, vai demorar muito ainda.
- Verdade... – concordei – Ele só tá jogando charme pra cima dela, e ela o mesmo com ele. Ele gosta de ficar com um monte de garota, ele só tá querendo ficar com ela. Deve achar ela bonita e só isso.
- É pode até ser. – a começou a analisar os fatos – Mas se ele começar a gostar dela de verdade eu mato ele. E mato ela também. Não quero ninguém sofrendo.
- Olha quem fala – falei baixinho, mas infelizmente ela ouviu e disse que era pra eu explicar – É que você fica com todos os garotos que te olham! Você nem sabe se ele está afim ou não de você! Vai que ele realmente gosta de você. Ficar com ele é tipo iludir.
- Lógico que não! – ela se exclamou – para de ser ingênua, garota! Estamos no século XXI.
- Nossa, que sensível – a brincou e nós começamos a rir.
A aula terminou e o se despediu da Melissa, que deu-lhe um beijo na bochecha. A , para variar, revirou os olhos e resmungou alguma coisa que não deu para entender.
- Que foi? – ele perguntou para ela ao chegar perto da gente.
- Nada não, amorzinho. – ela disse tentando parecer calma enquanto passava a mão no cabelo do garoto, que, pela cara que fez, não estava entendendo nada. Aquela foi uma cena engraçada. – Vamos? - Vamos – respondemos em uníssono.
Saímos do colégio e a mãe da já estava nos esperando.
- Ei, vocês querem uma carona? – ela perguntou. Nós dissemos que sim, se não fosse atrapalhar. Apesar de já termos idade para tirar carta, ainda não tínhamos feito. Apenas e tinham carros, e ele dividia com o irmão. O olhou para o lado e eu também, para ver para onde estava olhando. Era para a Melissa, que estava o chamando.
-Er... Eu vou a pé, não precisa se preocupar. – ele disse.
- , sua casa é perto daqui, mas nem tanto. E o já foi embora e levou o carro junto. Vamos, pode vir, você não vai me atrapalhar.
- Não, eu quero ir a pé mesmo – ele inventou qualquer desculpa – eu tenho que comprar umas coisinhas que a minha mãe pediu no caminho, não se preocupa.
- Mas...
- Deixa ele ir! – a interrompeu a mãe da – É bom um garoto né, faz as coisas que a mãe pede.
Eu ia começar a rir, mas me segurei. Percebi que a fez o mesmo.
O agradeceu sem som, apenas mexendo os lábios. A deu apenas uma piscadinha para ele.
- Tchau, senhora Brooke. – ele se despediu da mãe da minha amiga e andou em direção a doceria que fomos mais cedo, que era aonde a Melissa se encontrava.
- Vamos? – ela perguntou. Todas nós entramos no carro e começamos a contar como foi o primeiro dia na aula de música.



Capítulo 4


Em um mês, as coisas estavam boas. Quer dizer, ótimas. Eu e o Henry nos tornamos bons amigos. Quando era para fazer alguma atividade em dupla, sempre fazíamos juntos. Isso deixou a um pouco enciumada, mas ela entendeu, já que, na cabeça dela, isso ia dar em um ótimo romance. Eu teria a mandado calar a boca, se eu não estivesse realmente envolvida. Pois é, eu estava gostando dele. Ele era tão lindo, tão simpático, tão fofo que eu não aguentei. A nossa amizade era uma coisinha boba, não passava da sala de aula. Eu não tinha o celular dele e ele não tinha o meu. Não nos seguíamos nas redes sociais. Era só na sala de aula mesmo. Isso me decepcionava, devo confessar, mas já estava bom o bastante.
Algumas meninas comentaram com a que estariam com inveja boba, de brincadeira, é claro, de mim por causa da minha aproximação com ele. Outras me chamaram de vadia. É a vida.
Quem estava se saindo bem no colégio eram os gêmeos. As meninas caiam em cima deles, os achavam lindos. , por ser mais solto, tinha as garotas aos seus pés. E o estava até ficando menos tímido. Eu não posso negar, eles realmente eram bonitos. recebeu broncas de alguns professores, porque ele faz gracinha demais durante a aula. Ele sempre foi assim.
Mas voltando ao assunto eu e Henry, eu tinha 80% de certeza de que ele também estava a fim de mim, tudo graças a :
- , presta atenção. – ela começou a falar assim que entramos no meu quarto, depois da escola numa sexta-feira – O Henry não é de conversar com as garotas e você sabe disso, porque tem muita idiota tentando chamar a atenção dele e ele as ignora completamente.
- Tá, mas...
- Posso terminar? – fiz que sim com a cabeça e ela sentou-se na minha cama – Um cara como aquele não ia simplesmente falar com você e querer fazer todos os trabalhos em dupla com você. , ele recusou a fazer com os amigos dele. Acorda. Eu não quero te iludir nem nada, muito pelo contrário, eu quero que você saiba que tem uma pequena chance, repito: pequena, dele estar gostando de você também.
- Tá e como eu posso saber disso? – perguntei, com medo e esperança ao mesmo tempo.
- Ah... – ela se levantou e começar a andar de um lado para o outro. – eu posso perguntar... – eu percebi que ela ficou com medo da minha reação. E com razão.
- O que?! – gritei – Você é louca?! Não faz isso, por favor.
- E por que não?
- Porque não cara. Ele sabe que nós somos amigas, vai parecer que eu pedi pra você perguntar pra ele.
- Lógico que não, eu dou um jeito.
- Ah, não sei não, ...
- Você confia em mim ou não? – e ela ficou me olhando com uma cara tão tensa que respondi que sim só pra ela parar de me encarar. – Então eu vou perguntar. Segunda feira, sem falta.
- Ai, meu Deus, ok.
Fiquei morrendo de medo da resposta dele a partir desse dia. só pediu para que eu me acalmasse. Eu não conseguia. Estava mais do que óbvio que eu realmente gostava dele.
O final de semana passou correndo e nada aconteceu. Eu fiquei na internet os dois dias inteiros e pude perceber, via Twitter, que o e a Melissa estavam mais próximos do que nunca. Será que ele também estava gostando de alguém? Foi isso o que eu resolvi perguntar pra ele no WhatsApp. Ele me respondeu que só estava a fim dela, que queria a chamar para ir ao cinema. Ok, era a primeira vez que isso estava acontecendo. estava conversando com uma garota antes de ficar com ela. Como isso era algo bom, respondi imediatamente que era uma ótima ideia. Legal, eu estava bancando a cupido e não conseguia resolver os problemas do meu coração.
O domingo se passou e chegou a tão esperada segunda-feira. Eu estava com bilhões de borboletas no estômago. Cheguei à escola um pouco atrasada, então já subi direto pra sala de aula. Quando sentei, o professor de História estava escrevendo algo desinteressante na lousa, então peguei o meu celular escondido e mandei uma mensagem para a . Rezei pro celular dela estar no vibra e, graças a Deus, estava. E ela me respondeu rapidinho:
“Já perguntou ou vai perguntar na hora do intervalo?”
“Nossa, mas que apressadinha hahaha calma, eu vou perguntar no intervalo, relaxa aí”.
Como eu poderia relaxar? Ela estava adiando a minha ansiedade. Mandei outro sms pra ela:
“Beleza, então nem desce comigo, pra ele não suspeitar de nada. Eu vou te chamar pra descer e você vai falar algo do tipo ‘Ah, eu preciso pegar uma coisa aqui, vai descendo’ ou sei lá, inventa algo. Daí você pergunta ok?”
Dessa vez ela demorou um pouquinho pra responder, já que a matéria favorita dela era História e o professor começou a explicar uma coisa que aconteceu na década de sessenta. “Tá bom, tá bom, patroa”.
Guardei o celular e resolvi prestar atenção nas aulas, para ver se o tempo passava mais rápido. E por incrível que pareça, funcionou. Chegou a hora do intervalo e aquelas borboletas no estômago resolveram fazer uma festa.
Como havíamos combinado, eu chamei a para descer e ela deu outra desculpa:
- Eu já vou, tenho que perguntar uma coisa pro professor. Vai descendo, eu posso demorar.
Assenti e saí da sala. Henry ainda estava lá, tirando uma dúvida. Foi quando eu entendi o porquê da desculpa feita pela .
Quando cheguei ao pátio, largou a turma inteira na rodinha e veio falar comigo.
- Convidei. – foi a única coisa que ele disse.
- E...?
- E ela aceitou. – ele disse com uma cara de pavor.
- E...? – repeti a minha pergunta, sem entender a reação dele.
- E agora eu vou sair com a Melissa. – ele falou tão rápido que eu demorei pra assimilar as palavras.
- E você tá assustado por quê?
- Eu não sei, é a primeira vez que eu convido uma menina pra sair, assim, na lata.
Eu comecei a rir da cara dele e ele ficou incomodado.
- Ei, para de rir, não é engraçado. – ele disse, dando um tapinha de leve na minha cabeça.
- É sim – eu disse, no meio de gargalhadas. – O rei dos pegadores não sabe chamar uma garota pra ir ao cinema com ele. – e comecei a rir mais ainda e ele me acompanhou.
- Ah, talvez eu esteja gostando dela - eu parei de rir imediatamente – O que foi?
- Você está gostando de uma garota? – eu perguntei séria e ele assentiu devagar com a cabeça – Eu preciso agradecer essa Melissa, ela conseguiu fazer uma coisa que eu estou tentando há muito tempo: Fazer você se apaixonar por alguém.
- Ei, eu não estou apaixonado – ele me corrigiu – eu apenas tenho uma queda por ela.
Ele estava me confessando tudo aquilo longe dos nossos amigos, então percebi que ele queria manter isso em segredo. “Guardar o segredo principalmente da ”, pensei.
Falando em , ela já tinha passado por nós e estava com o resto do grupo. Aquelas borboletas convidaram mais gente pra festa.
- Eu preciso falar com a – expliquei pro – depois a gente se fala.
Sai correndo em direção a minha amiga e a puxei.
- E aí?
- Nossa, nem pra disfarçar né, ? Eu hein – ela reclamou, enquanto ia soltando o braço dela de mim.
- Me fala logo.
- Ok, ok. – ela disse, nos afastando mais do grupo – ele também está gostando de você.
Espera. O que ela disse?
- Como é? – perguntei, incrédula.
- Isso mesmo.
Abri o maior sorriso que eu já havia feito na minha vida.
- Me explica essa história direito – gritei.
- , pelo amor de Deus, tenha modos. – ela pediu brincando, como se fosse a minha mãe. – Quando ele parou de falar com o professor eu o puxei. Daí ele ficou me olhando com aquela cara tipo “wtf?” e daí eu falei “Posso conversar com você?” daí ele “Pode, ué”. Ai eu falei que eu percebi que vocês dois estavam próximos e resolvi perguntar, logo de cara, se ele estava a fim de você. E ele simplesmente me respondeu “sim” e saiu andando. Eu fiquei parada lá igual a uma idiota. E o professor ainda perguntou , você não vai descer?” e eu continuei parada. Eu acho que ele pensou que eu estava a fim do Henry.
Eu comecei a rir. Efeito da alegria que eu estava sentindo e por causa do que tinha acontecido.
- Só isso? – perguntei, parando de rir.
- Sim, infelizmente. Eu ia incentivá-lo a te convidar pra sair, mas não deu certo.
- Ah, não acredito. – me lamentei – que bosta.
- Pois é, seu futuro ficante/namorado/marido é muito apressadinho.
- Cala a boca. – a empurrei de leve e voltamos pra rodinha. estava tão feliz quanto eu. Eu o entendia e ele, mesmo sem saber, estava me entendendo.
Voltei para a sala mais feliz do que nunca e quando eu vi o Henry já sentado em sua cadeira me olhando fixamente, um arrepio percorreu pelo meu corpo inteiro e eu sorri para ele, como resposta. - Posso saber o motivo da sua alegria? – ele perguntou, com aquela voz rouca que eu adorava tanto.
- Em breve você descobrirá. – respondi, com aquele ar de suspense que ficou com a gente até o final dessa aula.
Quando tocou o sinal, avisando que era para os professores se retirarem e trocarem de sala, o Henry me puxou para um cantinho da sala e disse:
- Aquela sua amiga, a tal da , me perguntou se eu estou a fim de você.
Gelei. Era o que aconteceu comigo naquele momento. Eu gelei. Não sabia o que fazer e o que falar. Aliás, eu fiquei muda.
- E eu respondi que sim. – ele acabou de confirmar a razão da minha felicidade. Por dentro, eu estava berrando de alegria, mas por fora, parecia uma estátua.
Olhei para o outro canto da sala e vi que a estava do mesmo estado que eu. E olha que ela nem ouviu o que ele disse.
- A-ah é? – perguntei, gaguejando, é óbvio.
- Não se faça de desentendida, . – ele se afastou um pouco de mim, mas logo voltou para mais perto – Eu vi você mandando mensagem pra ela.
Bosta. Bosta, bosta, bosta, bosta e bosta. Eu esqueci que ele estava sentado atrás de mim, mas como eu pude esquecer uma coisa dessas? Eu comecei a rir. Sei lá porque eu fiz isso, talvez por nervosismo.
- O que foi? – ele perguntou, não entendendo nada.
- É que eu to com vergonha. Ai meu Deus.
- Não precisa ter vergonha. Eu estou aliviado de que você corresponde. Imagina, uma menina como você, linda e popular, gostar de um novato como eu? Desconhecido nessa escola gigante? É raro isso acontecer. Pelo menos na vida real, porque em séries, filmes e livros, isso acontece direto.
E era verdade. Uma coisa bem típica de se acontecer. Eu queria beijá-lo nesse momento, porque aquele sorriso lindo no meio dos lábios dele estava tão convidativo, mas a professora de Sociologia chegou na sala e acabou com todo o encanto. Voltamos para os nossos lugares.
No resto das duas aulas, ele ficou passando a mão no meu cabelo e nas minhas costas. De vez em quanto eu sorria de forma boba involuntariamente. Do nada, eu senti o meu celular vibrar e fui ver o que era. Era uma mensagem da :
“O que está acontecendo? O que aconteceu aquela hora? Vocês estavam quase se beijando de tão próximos e a sala inteira percebeu isso”.
Arregalei os olhos pensando na vergonha que a gente deve ter passado, mas eu não liguei, ele estava a fim de mim. Eu joguei meu celular de volta na minha bolsa, sem responder a mensagem. Apenas olhei pra direção da , que estava me olhando curiosa, e pisquei com um só olho para ela, sorrindo depois.
Quando tocou o último sinal, mostrando que estava na hora de ir embora, o Henry jogou um bilhetinho na minha mesa. Estava escrito:
“Fuja dos seus amigos e me encontra no final da rua.”.
Eu dei uma risadinha baixa e vi que ele já tinha ido embora. chegou do meu lado querendo explicações e eu falei tudinho pra ela.
- Pode deixar que eu te ajudo – ela falou quando eu contei do bilhete que ele me mandara – eu falo que você ficou com dor de barriga, sei lá.
- Tá bom, você se vira com a desculpa. Eu vou lá ok?
- Ok. – ela disse rindo da minha cara de desespero.
Andei rapidamente, me desviando das pessoas que estavam pelo meu caminho. Desci as escadas e passei pelo extenso pátio com o rosto abaixado, sem querer que alguém notasse a minha presença e viesse falar comigo. Saí da escola e fui direto ao final da rua, para o lugar que ele estaria me esperando. Ele estava na esquina, mas com alguns amigos. Comecei a andar devagar e ele fez sinal, disfarçadamente, para que eu continuasse andando. Virei a esquina e continuei andando. Era uma longa descida. Quando estava no meio do caminho, ele me chamou.
- – ele disse ofegante – desculpa por isso, eles me encontraram e começaram a falar um monte de bobagens sobre qualquer assunto que não me interessava.
- Ah, tudo bem – eu falei, rindo baixinho.
- Então, a onde a gente estava? – ele disse sussurrando enquanto dava uma risadinha fraca. Ele se aproximou de mim e me encostou na parede de uma casa.
- Acho que aqui – sem conseguir esperar, coloquei a mão na nuca dele e finalmente o beijei.
No começo foi um beijo calmo, mas depois, tomou um pouco de velocidade. Deu para perceber que nós dois estávamos desejando aquilo.
Terminamos o beijo com um selinho e continuamos próximos por alguns segundos, apenas nos olhando.
O meu celular começou a tocar e um constrangimento tomou o lugar. Era a me ligando.
- Er... Eu tenho que ir – peguei a minha bolsa que havia caído no chão – você sabe, eu tenho aula de música hoje.
- Sim, é claro. – ele disse, passando a mão no cabelo – a gente se vê amanhã?
- Sim. – concordei e quando eu ia começar a andar, ele me puxou para mais um beijo. Dessa vez, rápido.
- Tchau – eu disse, quando nos separamos.
- Tchau.
Sai andando, subindo a rua e atendi o celular, que tocava pela segunda vez.
- O que foi, ? – perguntei impaciente.
- Caramba, mas que caganeira hein? Não sai desse banheiro.
- , para de me encher o saco. – eu reclamei, virando a esquina – Eu não estava no banheiro.
- Onde você estava então?
- Depois eu te explico. – falei rápido – Em que restaurante vocês estão?
- Na hamburgueria, vem rápido. Já fiz o seu pedido.
- X- salada com um guaraná?
- Isso mesmo, vem logo. Tchau – e ela desligou antes que eu pudesse me despedir. Eu fiquei tanto tempo assim com o Henry? Seja lá quanto foi, era melhor eu me apressar, já que, graças a , todos estavam pensando que eu ainda estava no banheiro.

Capítulo 5


Henry era o tipo de garoto que toda menina sonhava em ter como namorado. Apesar de nós não termos oficializado o nosso namoro, eu sentia que éramos um casal. Eu sentia isso pela sintonia, pelos nossos corações acelerados, pela nossa conexão. Desde aquele dia, na esquina, nós ficamos várias e várias vezes. Eu já tinha contado pros meus amigos que estávamos ficando. Ele também já havia contado aos amigos deles. Na realidade, a escola inteira já estava sabendo.
Mas eu não era a única fofoca. O e a Melissa estavam – se preparem - namorando! Isso mesmo, eles estavam namorando de verdade. Pelo menos era o que a Melissa dizia. O , para variar, não falava que era um namoro sério e sim, que eles estavam ficando, apenas.
Quem não estava gostando nem um pouco dessa história era a . A galera até comentou que acha que ela está gostando dele. Será? Bem, as atitudes dela em relação à ficante/namorada do deixavam bem claro. Mas eu acho que não, pois ela era a versão feminina dele.
Casais à parte, as coisas na minha casa não iam nada bem. Eu era filha única, então tinha que aturar, sozinha, meus pais brigando o dia inteiro. Eu não entendi direito o motivo, mas parecia ser ciúmes. De quem com quem? Não sei, não dava para saber. Eu não queria saber. Sempre que a briga começava, colocava meus fones de ouvido e ligava a música no último volume.
Eu tenho muitas teorias. Uma delas é que a música é capaz de desconectar o ser humano do mundo real. Enquanto aumentamos o volume, o mundo real diminui.
O solo de guitarra em Give Me Novacaine, chegava a ser ensurdecedor devido ao volume em que eu coloquei para tocar. Eu não ligava. Precisava me desconectar à minha maneira. Quando chegou no refrão, eu percebi que a letra dizia exatamente o que eu estava sentindo.
“Drain the pressure from the swelling, (Drene a pressão do inchaço)
This sensation's overwhelming, (Essa sensação é insuportável)
Give me a long kiss goodnight and everything will be alright (Me dê um longo beijo de boa noite e tudo ficará bem)
Tell me that I won't feel a thing (Diga que eu não vou sentir nada)
So give me novacaine (Então me dê anestesia)”

Ironia é que na música tem uma parte que diz: “Tell me that i won’t feel a thing, so give me novacaine” e essa música era como a minha anestesia, a anestesia que eu precisava naquele momento. Billie Joe e a sua mania de cantar o que eu estou sentindo.
Bufei irritada quando percebi que aquilo estava me aproximando da realidade e não me afastando. Levantei-me da cama e peguei meu celular. Cogitei em ligar para Henry, mas ainda não me sentia totalmente à vontade para falar dos meus problemas familiares. Liguei, então, para . Eu adorava conversar com ele, sempre me deixava mais animada. Cada amigo meu tinha um jeito diferente de cuidar de mim: a era na parte dos conselhos, a , na parte amorosa, a , a tirar pensamentos ruins da minha cabeça, a me fazer ver o mundo com um olhar de poeta e me fazia rir.
- Alô? – a voz sonolenta do garoto chamou a minha atenção e fui ver que horas eram: quase uma da manhã e tínhamos aula no dia seguinte.
- Você estava dormindo? – perguntei envergonhada – eu posso ligar outra hora então.
- Não, pode falar.
- Tem certeza? Não tem proble...
- , - ele me interrompeu – você não costuma me ligar a uma da manhã, fale o que aconteceu.
- Meus pais estão brigando de novo.
Ele ficou um tempo em silêncio, até pensei que ele tinha pegado no sono de novo, então falei “alô?” só para ter certeza de que ele ainda estava consciente. - , você acha que eu sou infeliz? – ele perguntou, finalmente.
- Mas o que isso tem a ver com...
- Só me responde... – ele me interrompeu impaciente – você acha que eu sou infeliz?
- Não, nunca achei isso.
- Meus pais são separados desde que nascemos. Eu tenho uma vida dupla. E eu continuo feliz. – ele parou para bocejar e depois prosseguiu – algumas coisas acontecem na nossa vida para o bem. Eu não estou falando que os seus pais vão se divorciar, mas se for o caso, vai ficar tudo bem. Vai ser saudável para eles, como também vai ser para você. Não vai mais ter brigas todos os dias, você não vai ficar nervosa com isso e você vai ter duas casas, dois quartos e ainda vai ter um pai e uma mãe que te amam na mesma intensidade de antes.
Eu demorei um tempo para assimilar as palavras de . E se os meus pais se divorciassem? Seria tão bom como ele diz ser? Eu nunca o vi chateado com essa história, mas ele cresceu assim, então era diferente. É... as coisas poderiam ser piores para mim. Ou não.
- ? – ele perguntou me tirando dos meus pensamentos – Você ainda tá aí?
- Sim... er, muito obrigada. – agradeci.
- De nada... – ele fez mais uma pausa e depois continuou – pode me fazer um favor?
- Claro. O que você quer?
- Que você me deixe ter pelo menos seis horas de sono – ele disse resmungando de forma engraçada – você também tem que dormir, menina. Se não amanhã vai encher o saco de todos, ou porque perdeu a hora e chegou atrasada, ou porque suas olheiras estão roxas e sua cara extremamente pálida.
Ele me conhecia muito bem. Se eu não dormisse, isso certamente iria acontecer. Eu comecei a rir.
- Ok, ok. – disse depois de ter conseguido um pouco de ar – Muito obrigada, mesmo.
- Imagina, disponha sempre. – ele ficou mais um tempo quieto e depois falou – Eu te amo.
- Eu também te amo. Boa noite.
- Boa noite. – e ele desligou depois disso.
Eu fiquei com um pouco de dó do por ter o acordado no início da madrugada, mas eu fiquei pensando no que ele me disse, sobre os meus pais e até pensei que não seria tão ruim assim. Mas não queria pensar nisso, não queria sofrer antecipadamente, então coloquei o meu pijama, escovei os dentes e fui dormir.


No dia seguinte, como previsto, eu cheguei atrasada na escola por ter perdido a hora e estava com muita olheira e com a cara pálida. Não deu tempo nem de passar uma base, um pó. A minha mãe que iria me levar e ela estava muito mal humorada, nem pensei em contestá-la.
Entrei na sala e a primeira aula era de Química. No começo tentei me concentrar, mas aquelas fórmulas, aquelas moléculas, aqueles elementos estavam bagunçando a minha mente de uma forma extraordinária. Além disso, a briga dos meus pais, o que havia me dito e o Henry passando as mãos nas minhas costas estavam me deixando mais distraída ainda. E eu estava morrendo de sono, só para lembrar.
Eu simplesmente não conseguia ficar de olhos abertos ou ficar numa posição menos constrangedora em que não parecesse que a minha cabeça estava prestes a despencar. Não me importei com o professor e nem com a matéria nova e dormi.

O sinal do final daquela aula soava forte e alto na minha cabeça, o som das trinta vozes diferentes presentes naquela sala pareciam ecos e eu estava me sentindo tonta.
- Ei, princesa. – uma voz totalmente agradável e aconchegante passou pelos meus ouvidos – acorda.
- Não a trata assim, se não ela continua dormindo – agora uma voz irritante e muito conhecida tomou o lugar da outra. – acorda sua vadia dorminhoca, vagabunda, nem pra prestar atenção na aula né.
- , cala essa sua boca. – disse enquanto fazia esforço para levantar a minha cabeça que estava apoiada em meu moletom. – eu não dormi essa noite.
- Por quê? – Henry, o dono da primeira voz, perguntou preocupado.
- Insônia – menti. Não queria espalhar os meus problemas familiares. Isso me incomodou, pois o Henry e eu estávamos muito próximos, porém eu não me sentia a vontade para contar a ele tudo.
- Algum motivo? – ele estava se importando comigo, mas eu não queria que ele desse tanta importância assim.
- Não, só falta de sono mesmo. – menti novamente.
- Então tá bom. – ele passou as mãos pelos meus cabelos e depois disse – se precisar de mim, para qualquer coisa, eu estarei aqui.
- Eu sei disso – então me aproximei dele e dei um selinho rápido para ninguém ver.
- Ew, sem melação na minha frente, por favor. – Ops, a viu e fez uma cara de nojo.
- Só porque você está encalhada não quer dizer que eu também tenho que estar.
- , olha o respeito comigo. – ela disse fingindo estar muito brava. Nós três rimos e a professora de Inglês chegou para começar a sua aula.

- Ai, ai... Não consigo acreditar que em menos de três meses vamos viajar! – comentou com os olhos brilhantes ao nos encontrarmos no intervalo.
- Sozinhos dessa vez! Sem pais, sem regras, será perfeito. – completou.
- Sim, mas meus pais já estão enchendo o saco me falando sobre “cuidados especiais”, como se eu fosse fazer muita coisa inapropriada. – virou os olhos.
- , eu adoro o fato de a sua bisavó ter sido rica antes de morrer.
- Ai que horror, .
- O que foi? Ninguém gostava dela, todo mundo queria o seu dinheiro.
- Pode até ser.
- Eu ainda preciso resolver alguns problemas do passaporte. – falei.
Estávamos conversando sobre a nossa viagem das férias de verão. A bisavó de e de era super rica. Ao chegar ao auge da riqueza, comprou uma mansão no Hawaii. Mas era uma mansão gigante, com vários quartos, salas, sala de música, biblioteca, vista pra praia, na verdade era pé na areia. Maravilhosa. Quando teve sua filha, a Regina, mãe de Pattie, resolveu que levaria ela e seus irmãos para a mansão todas as férias. Quando completassem dezioito anos, eles poderiam viajar sozinhos. Naquela época, isso era meio absurdo, portanto demorou um pouco para acontecer. Porém, antes da bisa morrer, ela deixou a mansão como herança para seus filhos. Os irmãos de Regina não se importaram muito com isso, queriam vender a casa para conseguir um dinheiro fácil, porém a avó dos gêmeos pensou que seria melhor passar a ideia adiante. Teve uma única filha, a Pattie e até seus dezoito anos de idade, levou ela e seus amigos para a mansão. Depois de atingida a idade, eles viajaram sozinhos. Foi assim que ela começou a namorar com Edward, pai de e . Levando essa hereditariedade adiante, está na nossa hora de viajar. Nós não completamos dezoito anos, mas eles liberaram antes depois de nossas súplicas.
- Eu vou levar a Melissa – disse , com um sorriso maroto.
- Mas nem pensar – retrucou – se você acha que eu vou ficar duas semanas com aquela coisa e vocês dois de mimimi pro meu lado, mas nem que me pagassem milhões.
- Por quê? – ele virou pra ela com a cara fechada – , qual é o seu problema com a minha namorada?
- Eu não vou com a cara dela, só isso.
- Não julgue sem conhecer, ela é legal. – disse baixinho, provavelmente com medo da resposta da menina.
- Cacete , lá vem você dando uma de santinha. – disse se levantando – eu não gosto dela e pronto. Eu tenho o meu direito de não gostar dela. – ao terminar, saiu andando pelo pátio do colégio.
- O que deu nela? – perguntou.
- Eu to falando pra vocês, ela tá agindo muito estranho ultimamente, será que ela tá gostando do...
- Não, não deve ser isso. – interrompeu – Vai ver ela realmente não gosta da Melissa, ué.
- Mas , - começou – ela disse que não quer ver vocês cheios de melação na mansão, tenho certeza que ela está gostando de você.
- Até porque eu também não gosto muito da Melissa e nem por isso eu fico falando um monte de coisa. – comparei – Até porque, novamente, você que tem que gostar dela. Até porque eu também tenho namorado.
- Mas por que vocês não gostam dela? – perguntou.
- É verdade, por que vocês não gostam dela? – repetiu a pergunta de modo grosseiro.
- Ah... Nem tem um motivo concreto... Eu já não ia com a cara dela antes, mas eu devo agradecer já que você parou de ser tão...
- Galinha? – arriscou , com um pouco de humor.
- Eu ia dizer pegador pra não soar tão mal, mas já que você disse: sim, um galinha.
- Por que vocês não vão à merda e param de me irritar? – reclamou bravo enquanto se levantava rapidamente e se retirava do local.
- Vou repetir a minha pergunta: o que deu nele? – perguntou rindo.
- Eu acho que ele ficou bravo de verdade – analisei – vou atrás dele.
E corri em direção ao mesmo caminho que ele fazia, que pelo o que pude perceber, era sem rumo. Gritei seu nome pelo menos umas três vezes e ele não olhou para trás. Percebi que estava chamando atenção das pessoas do pátio, então corri um pouco mais rápido e o alcancei.
- Me larga. – ele mandou baixo, desvinculando o braço de minhas mãos.
- Não, quero falar com você. – insisti, pegando o braço dele de novo.
- Me larga, . – ele falou mais alto – não quero falar com você. Não agora.
- Mas o que foi que eu fiz? – parei de andar atrás dele e cruzei meus braços.
Ele se virou para mim, me olhou por cinco segundos sem piscar e finalmente disse numa explosão só:
- Porra! Quando eu to solteiro, vocês ficam falando que eu tenho que arrumar uma namorada, daí quando eu arrumo uma namorada vocês implicam com ela e ainda me chamam de galinha na minha cara! – depois de gritar, ele olhou pro lado e percebeu que estava formando uma roda cheia de alunos curiosos.
- , fala mais baixo, por favor. – disse me aproximando.
- Eu falo no tom que eu quiser, agora sai daqui que eu não estou a fim de...
- , me escuta cara! – o puxei para mais perto de mim – me desculpa, eu só estava te zoando um pouco, não pensei que você fosse levar a sério, eu...
- É que vocês ficam relembrando do meu passado, eu estou cansado de vocês ficarem falando que eu sou galinha e essas coisas. Têm caras que acham isso legal, mas se você acha que eu sou um deles, eu sinto muito, mas você não me conhece. – ele falou mais baixo dessa vez, mas ainda dava para os curiosos escutarem.
-, me desculpa, por favor. – eu implorei, torcendo para que não começasse a chorar – eu não sabia que você se sentia assim, pra mim a gente não falava muito disso, eu sinto muito ter te magoado, mas você é muito importante para mim, não fica bravo comigo, por favor. – falei quase sussurrando – mas que droga, você é o meu melhor amigo.
Eu não suportei. Me senti uma fraca idiota ao perceber que as lágrimas começaram a cair sobre meu rosto. Abaixei a cabeça rapidamente, na esperança de ninguém perceber que eu estava chorando. me olhava estático. Retribui o olhar e quando ele percebeu que o meu olho estava vermelho, ele rapidamente me abraçou.
- Merda, eu não consigo ficar bravo com você. – ele reclamou rindo – Não consigo te ver chorando.
- Eu sou fraca, que vergonha de mim.
- Não, não, não, não. – ele passou a mão no meu rosto molhado. A essa hora as pessoas já tinham se espalhado, mas ainda olhavam de longe – Não é vergonha chorar. O choro é a melhor forma de limpar a alma, de relaxar. É uma forma natural de se esvaziar, esvaziar a dor acumulada. Não precisa se envergonhar.
- Obrigada. – enxuguei meu rosto com a mão – Você é o melhor amigo que alguém pode ter.
- Aw, que linda. – ele me abraçou forte e depois deu um beijo na minha testa.
- A Melissa não vai ficar com ciúmes?
- Não tem porque, aliás, eu nem sei a onde ela está.
- Ih, abre o olho, bonitão! – brinquei.
O sinal tocou e agora teríamos aula de educação física. A minha sala fazia essa aula com a sala do , então descemos para a quadra juntos.
- Está tudo bem então? – chegou perto de nós e perguntou.
- Sim. – ele se afastou de mim. – Vamos ao vestiário? - perguntou ao irmão.
- Claro, vamos lá.
Entrei no vestiário feminino, que tinha cabines com chuveiros e do outro lado, banheiros. Perto da janela, na parede adjacente às cabines, estavam os armários. Peguei o meu uniforme, que era uma legging azul bebe e uma camiseta de manga média amarela clara e branca. Essa era a roupa nos dias mais frios. Nos dias de calor, era shorts da mesma cor que a legging e camiseta de manga curta amarela e branca também.
As meninas e os meninos faziam a aula em quadras diferentes. Hoje, para as meninas, teria a vôlei. Para os meninos, futebol.
A aula correu super bem nos quinze primeiros minutos. Houve uma interrupção do professor dos meninos, que disse que um aluno se machucou gravemente. Todas correram em direção à outra quadra e vi que era o aluno machucado.
- O que aconteceu, prô? – perguntou Melissa, esticando o “prô”.
- Acho que ele quebrou o pé. – ele se agachou perto de – você consegue mexê-lo? – perguntou ao garoto.
- Não. – disse num gemido de dor.
- Chamem a enfermeira, então. – disse Ian, um menino da outra sala.
- Eu chamo! – e a subiu correndo as escadas e foi para a enfermaria.
- Amor! – Melissa berrou – zinho, tá doendo muito?
- É claro que tá! – retrucou – ele quebrou o pé, sua anta!
- Não precisa se exaltar, .
Ela bufou irritada e foi atrás da . Eu e a continuamos paradas, não sabíamos o que fazer.
- Como isso aconteceu? – perguntou.
- Ele estava com a bola e eu fui tentar pegar, só que eu sem querer pisei no tornozelo dele e ele caiu, virando o pé. – David, um menino da minha sala, se explicou. – Eu juro que foi sem querer.
- Relaxa ai, cara – disse com a voz falhada – essas coisas acontecem.
, e a enfermeira, Dona April, chegaram rapidamente.
- Meu caro, aonde dói? – a senhora perguntou.
- No tornozelo, dói muito! – respondeu.
- Se eu fizer isso – ela disse, virando um pouquinho de nada o pé do garoto – dói? - Como resposta, ele berrou de dor.
- Posso tirar seu tênis? – fez que sim com a cabeça e a enfermeira o fez. Ao tirar a meia, deparamos com uma visão horrível de um pé muito roxo. Virei o rosto, tampando os olhos, não queria ver aquilo. A maioria depois disso saiu de perto e foi para as arquibancadas. – Sim, precisamos levá-lo ao médico urgentemente. – Dona April levantou-se – alguém me ajuda a levar o aluno até o meu consultório? – David e se solicitaram – Alguém avisa ao diretor, peça para ele chamar uma ambulância e ligar para os pais do .
Melissa saiu correndo fazer a tarefa e levou Emma com ela.
Enquanto levavam para a enfermaria, Henry chegou por trás de mim e me abraçou na cintura.
- Imagina se fosse eu? – ele sussurrou próximo ao meu ouvido – Você cuidaria de mim?
- É claro que sim – falei virando-me para ele e dando um selinho rápido – mas o também é meu amigo, preciso cuidar dele também.
- Ah, que peninha... – ele sorriu de canto – porque eu ia te convidar para passar a tarde na minha casa.
- É mesmo uma pena, mas eu realmente preciso cuidar dele.
- Pra quê? Ele tem uma namorada.
- Eu sei, mas...
- Já sei você não quer ir... – ele se soltou de mim e olhou para o lado – tudo bem.
- Não, não é isso – me aproximei e passei a mão em seus cabelos – eu adoraria ir, mas pode ser outro dia?
- Que tal amanhã? – ele me abraçou novamente – eu tenho todas as tardes livres, meus pais trabalham até a noite.
- Tudo bem então – concordei – amanhã depois da escola?
- Sim, peço pro meu motorista nos buscar – ao dizer isso, ele me deu um beijo e eu interrompi depois de um curto tempo:
- Você tem um motorista?
- Sim – ele sorriu de canto – digamos que os meus pais prosperaram em seus empregos.
- Ui, que namorado chique eu tenho – falei e o beijei novamente.
- Chega de namoro vocês dois. – a professora gritou – o jogo continua. Os meninos e as meninas vão jogar juntos já que o professor está ajudando a enfermeira. Vamos lá, queimada meninas contra meninos.
- Eba, vou te queimar. – falei brincando e corri para o lado das meninas.
O jogo começou e foi bem curto devido ao pouco tempo que restou. Nos trocamos rapidamente no vestiário e voltamos para a sala de aula.

’s POV
- Como você está? – Melissa, que estava sentada na cadeira ao lado da cama do hospital, perguntou enquanto passava as mãos em meus cabelos.
- Ainda está doendo um pouco... – respondi – vou ter que ficar duas semanas com o pé engessado e outras duas semanas usando a bota.
- Que azar... Mas você vai conseguir fazer a apresentação de final de semestre?
- Acho que sim, não importa o que falarem, vou ensaiar com o pé quebrado mesmo.
Eu não queria perder a minha primeira apresentação, que estava para acontecer daqui quase dois meses. Queria me empenhar cem por cento nisso, queria fazer algo bem feito, pois minhas chances para entrar na faculdade não seriam muitas, já que entrei nesse ano no Northumberland. Queria mostrar que eu era capaz, por isso não iria desistir. Expliquei isso para Melissa, que me olhou admirada e me deu um selinho demorado.
- Aw – ela suspirou – que orgulho de você. – sorri como resposta e entrelacei minha mão na dela.
- Essa escola é muito importante para mim.
- Para mim nem tanto, só uma escola normal.
- Mas e as aulas de música que você está frequentando?
- Ah, eu só estou fazendo porque você me pediu.
- Sério? – meu queixo chegou a cair, eu estava indignado – como assim, Melissa?
- Por quê? O que tem?
- Você canta bem, também. – e era verdade. Pelo menos para mim. - Pensei que você estivesse lá porque você queria estar lá.
- Ah não... – ela abaixou a cabeça – na verdade, eu estou gostando, mas não é o meu sonho.
- Qual é, então? – ao perguntar isso a ela, que olhou para cima com olhos brilhando.
- Queria ser médica. – ela respirou fundo, olhou nos meus olhos e continuou – queria poder cuidar das pessoas, ajudar na área de saúde do Estados Unidos... Contribuir com alguma coisa, sabe? – ela fez uma pausa – As aulas de música são pura diversão. Medicina é o que eu realmente quero fazer.
Olhei encantado para ela durante uns cinco segundos e depois declarei:
- Você é maravilhosa. Eu acho que eu te amo.
Ela me olhou estática e eu pude perceber que ela ficou vermelha.
- Ai, me desculpa. – falei envergonhado.
- Não, repete.
- Ah não, Mel. – eu estava realmente começando a ficar muito envergonhado.
- Repete, por favor.
Suspirei e finalmente repeti:
- Eu te amo.
Dessa vez, ela me olhou com os olhos brilhando mais forte do que quando falava sobre medicina. Ela me abraçou forte e depois me deu um beijo calmo.
- Eu também te amo.

Capítulo 6


- Vamos? – perguntei para ao encontrá-la em sua sala, no fim da aula.
- Vamos, só deixa eu me despedir do meu namorado e você do seu também – e ela disse apontando para Henry, que estava atrás de mim.
- Nós já não nos despedimos? – brinquei.
- Só quero te lembrar de que amanhã você vai para a minha casa depois da aula. – ele falou enquanto entrelaçava suas mãos nas minhas e me dava um beijo na testa.
- Eu não vou esquecer, relaxa.
- É bom mesmo. – ele me deu um beijo rápido e depois disse: - tenho que ir agora, vou encontrar os meninos e vamos fazer alguma coisa aí.
- Ih... Posso saber pra onde vocês vão?
- Nós também não sabemos, mas não vai ser nada demais. – ele explicou – até amanhã – e me deu outro beijo rápido.
Bufei frustada e me virei para trás, vendo que a ainda estava se despedindo do Daniel.
- Gente, vamos – ela) chegou correndo – o horário da visita é à uma, vamo logo.
O casal se separou e fomos correndo para a saída do colégio. O carro de estava estacionado mais ou menos um quarteirão do Northumberland e nos dirigimos até lá. Entramos no carro e logo ela deu partida.
Cinco minutos de silêncio foram quebrados por mim ao contar meus planos para amanhã.
- Vou na casa do Henry amanhã.
- Hum... – sorriu maliciosamente – olha lá hein, toma juízo.
Ao chegarmos ao hospital, fomos para a recepção. A recepcionista, que aparentava ter uns vinte e poucos anos, pediu para esperarmos até a outra visita saísse de lá, já que só é permitido três visitas por horário. Sentamos nas cadeiras e comecei a mexer no meu celular. Recebi algumas mensagens do Henry e o respondi imediatamente. Ficamos conversando por um tempo sobre coisas bobas, nada demais. Pattie, o e a Melissa saíram de um elevador e vieram nos cumprimentar.
- Como ele está? – perguntei.
- Ele está ótimo, já tirou a radiografia, quebrou o tornozelo, mas não terá que colocar pino, apenas enfaixar o pé e depois usar a bota. Ele está em observação, por isso só vai embora mais tarde. – a mãe dele respondeu.
- Podemos visitá-lo? – perguntou.
- Sim, ele tá esperando vocês. – comentou.
Então entramos no elevador e fomos até o terceiro andar. Chegando lá, vimos várias portas fechadas e uma meio aberta, pude ver que aquela era a de .
foi na frente, abriu a porta com tudo e gritou:
- SURPRESA!!
- Meninas! - ele berrou e se levantou da cama, pulando numa perna só – pensei que vocês fossem me abandonar aqui.
- Até parece – deu um tapa na cabeça dele – E aí, como você está se sentindo?
- Aleijado e com muita inveja de vocês por terem duas pernas boas. – todos nós rimos com sua confissão.
- Lá na escola não falam de outra coisa – falei.
- Sério? – franziu a testa - Estão falando o que?
- “Gente, o gato do tá com a perna quebrada” “Gente, eu tava lá, que cena horrível, coitadinho” “Aquele playboy se fodeu, hahaha” - nós começamos a rir.
- Ah, estou popular porque quebrei a perna. – ele comentou.
- Meu filho, você está popular desde o momento que você entrou naquela escola. – expliquei – as meninas tem uma queda por você, ainda não percebeu isso?
- Lógico que não, ele só tem olhos pra Melissa. – falou rindo e se incomodou um pouco com o que ela disse, devido à conversa de hoje mais cedo e da possibilidade dela estar gostando dele.
- Gente, e a ? Porque ela não veio? – ele então mudou de assunto.
- Ela não podia, tem aula a tarde. – explicou a ausência da amiga.
- Ah... Entendi.
- Com licença? – um homem alto de jaleco e uma prancheta na mão, o que indicava que era o doutor, entrou no quarto depois de duas batidas na porta – E ai, , quanta menina bonita te visitando hein? Você tem sorte.
- Obrigada – eu e as meninas respondemos em uníssono.
- Mas o que você está fazendo fora da cama? Você tem que ficar com o pé para cima – o doutor advertiu e se deitou, colocando a perna quebrada em cima de um montinho de travesseiros. – Você já pode ir para casa.
- Então porque você pediu para eu me deitar de novo, doutor? – ele reclamou.
- Porque a vida é assim e se você quer tirar esse gesso em um mês, tem que deixar sua perna para cima direto.
bufou irritado e o doutor disse que ele tinha que tomar um remédio e ele o fez. Depois que o médico foi embora, conversamos sobre mais algumas coisas e dentro de quinze minutos, uma enfermeira chegou com uma cadeira de rodas e descemos até a saída do hospital.

No dia seguinte, depois da aula, eu e o Henry descemos um pouco a rua e ele explicou que o seu motorista sempre para na rua de baixo, porque na rua da escola é muito trânsito.
Me deparei com um carro gigante e branco. O tal motorista não usava uniforme, como eu imaginava, e aparentava ter uns trinta anos. Aliás, ele era bem bonitinho.
- Marcus, essa é a minha namorada, a . – ele me apresentou e o homem me cumprimentou pegando a minha mão e beijando-a.
- Muito prazer, .
- Prazer.
- Ok, agora chega – Henry fez uma cara de bravo e eu apertei as suas bochechas, porque tinha ficado muito fofo.
- Que fofo você fazendo cara de bravo.
- Para com isso, . – ele pediu entre risadas.
Depois de uns vinte minutos de viagem, chegamos ao um lugar cercado de árvores e com um portão muito grande na nossa frente. Marcus colocou o braço pra fora do carro e digitou uma senha para abrir o portão.
Quando adentramos o local, mais árvores e uma casa gigantesca ao fundo. Fiquei de boca aberta ao me deparar com aquilo. A casa parecia ter uns três andares e uns vinte cômodos. Vendo assim, por fora. Imagina por dentro!
- Você mora aqui? – perguntei indignada.
- Moro. – ele confirmou.
- Meu Deus, seus pais são donos do que? – perguntei enquanto saia do carro.
- De uma rede de lojas de roupas, espalhas não só aqui no Estados Unidos, mas em outros países também. Minha mãe é estilista. – ele explicou.
- Por que você nunca me contou isso? Vou conseguir desconto por ser namorada do filho da dona, olha só. – entramos na casa.
- Ah, você só quer se aproveitar, né? – ele me agarrou e me prendeu na parede da sala.
- Eu não... – falei baixinho – mas é bom saber dessas coisas.
- Você está com fome? – ele me largou e foi até a cozinha. – posso pedir para a Rose preparar alguma coisa para você.
- Agora não... Estou bem.
- Mas eu não. – ele abriu a geladeira e berrou: - Rose! Estou com fome!
Quando ela chegou à cozinha ele olhou para ela com uma cara estranha e falou:
- Prepara qualquer coisa para mim, porque eu estou morrendo de fome – ele mandou.
- Você quer um misto quente? – a senhora perguntou de forma calma, mas ele respondeu num tom contrário do dela.
- Eu disse qualquer coisa, vai logo. – ele sentou-se à mesa da cozinha e mexeu no celular. Aquela atitude dele havia me incomodado um pouco, então resolvi me intrometer:
- Er, Rose? – ela se virou para mim – Oi, eu sou a , sou a namorada do Henry. – estendi a minha mão para ela – Se você quiser, eu preparo para ele, não se preocupe. Você deve ter outras coisas para fazer né.
- O que é isso, ? – Henry olhou para mim incrédulo – É o trabalho dela, é para isso que ela está aqui. Para me servir.
Então pera. Ele tinha uma empregada só para ele e não para a casa? Para mim o nome disso é babá, mas tudo bem, eu fiquei quieta e falei baixinho que ela podia fazer outra coisa e comecei a preparar o misto.
- Henry, você foi muito grosso com ela. – falei.
- Agora você é a minha mãe? – ele perguntou com a voz alta.
- Não, mas ela faz tudo para você, deveria pelo menos agradecer né.
- Ai tá, tanto faz. – e ele voltou a mexer no celular.
Coloquei o lanche na sanduicheira e depois no fogão, para esquentar. Liguei-o e esperei que o queijo derretesse. Ao terminar, coloquei o prato na mesa.
- Er, obrigado. – Henry agradeceu, meio sem graça pela minha bronca.
- Eu só fiz isso uma vez, na próxima você agradece à Rose.
Depois de ele comer, subimos para o seu quarto, que era uma suíte gigantesca. Ele entrou no banheiro e escovou os dentes. Sentei na cama dele, que era de casal, e fiquei admirando o cômodo, que foi pintado de cinza claro e tinha muitos violões e skates jogados pelos cantos. Ao sair do banheiro, fechou a porta do quarto e veio à minha direção.
- Enfim, sós. – então ele me beijou de forma um pouco desesperada, mas logo pegamos o ritmo. O beijo começou a ficar intenso e ele me deitou na cama dele. Isso fez com que facilitasse para ele passar as mãos nas minhas coxas e apertasse a minha cintura. Passei minha mão pelos cabelos dele, dando leves puxadas. Minha outra mão se encarregava de passar pelo abdômen dele por cima da blusa. E que abdômen! Mas foi quando ele tirou as mãos da minha coxa e colocou por baixo da minha blusa, levantando-a, que eu me liguei do que estava acontecendo.
- Henry – o chamei, mas ele continuava beijando meu pescoço – Henry – nenhuma resposta – Henry, me escuta!
- O que foi? – ele perguntou impaciente.
- É que... – fiquei envergonhada – estava bom, mas é que eu ainda não estou preparada pra esse tipo de relacionamento.
- Como assim? – ele se levantou e sentou ao meu lado.
- É que... – abaixei a cabeça envergonha e soltei logo de uma vez. Ele era o meu namorado, eu precisava ser sincera com ele, não é? Eu acho que sim. – eu sou virgem.
- Ah – ele levantou as sobrancelhas e se sentou corretamente – tudo bem então. Se você quer um tempo para se preparar para isso, então te darei um tempo.
- Obrigada – me sentei também e ele me deu um abraço – obrigada por me compreender.
- Imagina. – ele passou as mãos no meu cabelo e depois perguntou. – Vem cá, vamos tomar um sorvete. Tem um delicioso lá na cozinha.

O resto do dia tinha sido perfeito. Depois do sorvete assistimos um filme e eu acabei adormecendo no colo dele. Ele ficou fazendo carinho em mim o tempo inteiro. Apesar do tratamento rude dele na hora do almoço, ele era um bom garoto.

De noite, a veio para a minha casa e ficamos conversando sobre os nossos namorados.
- Eu acho que eu finalmente estou apaixonada – confessei.
- Sério? Aw amiga – a se levantou e me abraçou – Que lindo isso.
- Sim... – suspirei – e hoje quase... Quase rolou, sabe?
- O que?! E por que não rolou?
- Sei lá, não me sentia preparada.
- Mas , você acabou de dizer que você está apaixonada. Se você o ama, deixe acontecer.
Fiquei pensando no que ela disse o tempo todo. Fui dormir pensando nisso. E se eu realmente estivesse apaixonada? E se ele fosse o cara certo?

Uma semana se passou e Henry tinha me tratado muito bem durante a mesma. Ele estava diferente comigo, eu não entendia muito bem o que, mas estava diferente. Ele estava muito mais cuidadoso comigo, muito mais grudento também.
Hoje teria aula de educação física novamente e iria ficar na arquibanca devido a sua perna. Ele optou ficar na quadra das meninas, provavelmente a pedido da Melissa. Ficava lá sentado torcendo e gritando a favor da sala dela e isso irritou um pouco a . Novamente estava pensando na hipótese dela estar gostando do . Será? Resolvi perguntar para ela depois da aula, no vestiário.
- , posso te fazer uma pergunta?
- Claro! – ela permitiu enquanto tirava sua blusa e colocava o uniforme normal.
- Você está gostando do ?
- Claro que não, da onde você tirou isso? - ela arqueou as sobrancelhas conforme seus olhos se arregalaram.
- É que você fica toda brava quando ele tá com a Melissa ou quando falamos dela. – falei baixinho, com medo da resposta dela.
- Claro que não, nunca me apaixonaria por um melhor amigo, imagina que rolo. – ela riu – que horror, seria como me apaixonar por um irmão.
Ri também e terminei de me trocar. Depois dessa, teria a última aula do dia, de Matemática.
Quando o sinal do fim da aula tocou, quem faz aula de música iria se encontrar para acertar algumas coisas sobre os ensaios para a grande apresentação, então fomos almoçar em algum lugar perto da escola.
Depois de comermos, eu e as meninas descemos a rua a procura de sinal para ligar para a mãe dela.
- Mas que bosta! – ela reclamou – não tem sinal em lugar nenhum. No de vocês tem?
- No meu não. – falei.
- Nem no meu – checou.
- No meu tem, mas é só um pouquinho, tenta aí.
Chegamos ao final da rua e viramos a esquina.
- Achei sinal! – berrou e discou o número de sua mãe.
Enquanto ela falava ao telefone, me virei, entediada e vi a pior cena de toda a minha vida. Meu mundo estava desmoronando. Eu não conseguia ver mais nada a não ser aquilo. Minhas pernas ficaram fracas e eu senti que ia desmaiar a qualquer momento. Por fim, senti lágrimas saindo do meu olho.
- Ai meu Deus! – exclamou ao ver a mesma cena que eu – , vamos embora daqui.
- , desliga esse celular! – gritou. - Não posso, eu estou... – então ela se virou e também viu a cena – mãe, depois eu te ligo.
- , vamos embora daqui – insistia em tentar me mover, mas eu estava estática. Não piscava. Não falava nada. A dor ao ver o Henry beijando outra garota me impedia de qualquer realizar qualquer ação.



Capítulo 7


A mente humana é capaz de inventar uma história que é aceita pelo ser, do mesmo modo que é capaz de perceber a realidade, mas fazer com que pensemos que é tudo um sonho, ou melhor: um pesadelo. Há também cenas que gostaríamos de vivê-las novamente ou sentir aquela emoção captada num passado muito distante. Como há cenas em que só de pensar, nos dá uma vontade de desistir da vida, mesmo sabendo que tudo um dia irá passar. O azar que temos é que esse dia demora muito para chegar.
A cena em que eu estava vendo se encaixava perfeitamente no aspecto da realidade dura e cruel, do sentimento que demorará horas desesperadoras para se extinguir. O porquê disso? A minha mente inventou a história de que existia fidelidade da outra parte do relacionamento, não apenas da minha. E com certeza essa emoção eu não gostaria de viver novamente.
Não contei quantos segundos fiquei parada olhando o meu namorado beijando outra garota, cuja eu não era capaz de reconhecer, no momento, mas sei que se não foram muitos, foram então demorados segundos de pura agonia e indignação.
- , vamos sair daqui. – insistia em me puxar e eu insistia em continuar parada.
- Não – respondi depois de um tempo – quero ver quem é ela.
- Para quê? – Mari me virou, colocando-me de costas para “a cena” – Isso só vai piorar a situação, só vai te deixar pior.
- Isso não tem a mínima importância – me soltei e virei pros dois novamente, que ainda estavam aos beijos – ele me traiu e a dor que eu estou sentindo é tanta que não vai fazer nenhuma diferença. – comecei a chorar compulsivamente – E ele ainda teve a cara de pau de fazer isso perto da escola, no nosso lugar. No lugar onde a gente ficou pela primeira vez. Eu estou apaixonada por ele, esse é o pior.
Olhei para o lado e vi que a estava tirando fotos.
- O que você está fazendo? – perguntei, entre um soluço e outro.
- Coletando provas, é sempre bom ter algo que pode ser usa... – ela parou de falar de repente e abaixou o celular.
- O que foi? – e perguntaram ao mesmo tempo.
- , você não vai querer saber quem é a garota...
- Por quê? – olhei para “a cena” de novo e os dois já tinham parado de se beijar, mas ainda estavam muito próximos.
A minha indignação aumentou mais ainda quando vi que a tal da garota era a Emma, melhor amiga da Melissa, namorada do , que por esse motivo tinha se aproximado da gente, então ela sabia perfeitamente que eu estava namorando o Henry. Na verdade, ela nem precisaria ser melhor amiga da namorada do meu melhor amigo, já que a escola inteira já estava sabendo do nosso relacionamento.
- , pelo amor de Deus, vamos sair daqui – finalmente obedeci a , porém depois de Henry ter me visto chorando, do outro lado da rua.
- – ele gritava enquanto corria atrás de mim – , espera.
- Esperar o que? – parou de andar e nós continuamos subindo a rua, ainda podendo escutar o que ela dizia, pois sua voz estava muito elevada – O que você quer falar pra ela? Que foi a Emma que te agarrou? Que você está arrependido? Que você fez sem pensar? Ah, me poupe. O que está feito está feito. Você é um idiota. Nada do que você falar vai mudar a cabeça da . Se você pensa que ela é idiota, você está muito enganado. – ela se encontrou com a gente já na rua da escola, sem ser seguida pelo Henry.
- Eu quero me matar – sussurrei – como eu pude ser tão idiota? Tão retardada?
- Calma, – Mari colocou o braço em volta de mim – até ai qualquer um teria se iludido. Ele parecia ser o namorado perfeito, estava te tratando tão bem esses dias.
Pausa para outra teoria minha: quando o seu namorado, que não é de ser todo romântico ou grudento, do nada começa a ter essas características, suspeite. Já ouvi muitas histórias, já vi filmes, séries e novelas cujo namorado começa a tratar muito bem a namorada e ao contrário do que pensamos, ele está a traindo. Pois é, eu suspeitei um pouco, mas como havia dito, da mesma forma que a mente humana inventa histórias aceitas por nós, há histórias verídicas que os olhos vêm, mas a mente que não aceita. Foi exatamente isso o que ocorreu comigo. Eu não aceitava a hipótese dele estar me traindo, apesar de eu ter essa minha teoria.
- Eu sei – comecei a chorar mais ainda e as pessoas já estavam vindo em minha direção perguntando o que aconteceu – nada – respondi grosseiramente, sem me importar com os outros e sai correndo.
- ? – gritou meu nome confuso quando eu passei por ele e por Melissa. Jurava ter visto um sorriso no rosto dela, mas preferi ignorar. – , o que aconteceu? – a voz dele se aproximava.
Continuei correndo sem olhar para onde estava indo. Ouvi um barulho ensurdecedor de uma buzina e alguém me puxou com muita força.
- , você está louca? – me segurava e me olhava aflito – O que aconteceu pra você estar chorando e ter saído correndo sem ao menos olhar que estava prestes a ser atropelada por um ônibus?
Senti um vento forte quando o tal ônibus passou por trás de mim. Me virei e olhei para ele e minha vista ficou embaçada e as minhas pernas, bambas. Não aguentei e cai no meio do asfalto quente. E no meio da rua, voltei a chorar compulsivamente.
- , levanta daí – tentava me levantar. Meu corpo estava mole demais e ao mesmo tempo muito pesado. Ele estava com muletas e isso impediu que ele me erguesse. – Alguém me ajuda! – ele gritou para as meninas, que estavam na calçada. Logo, fui levantada e levada para um banco.
- Alguém pode me dizer o que aconteceu? – perguntou desesperado.
- A viu o Henry beijando a Emma – pude ouvir explicando baixinho para o garoto.
- Como assim? A Emma?
- Sim.
- Foi no nosso lugar... – comentei com a cabeça baixa, ainda chorando.
- Mas... Onde ele está? – a raiva estava exposta nos olhos e na voz de .
- , não vai fazer besteira, por favor – supliquei – ele é mais forte e você está de muleta.
- Eu não vou brigar com ele – ele explicou enquanto passava as mãos no cabelo – eu só quero conversar. – então ele saiu andando rápido à procura do Henry.
- Ele vai fazer merda – constatou ao olhar o garoto se distanciando – Nada de aula hoje. Vou te levar pra casa.
- Não – me levantei, ficando tonta por um tempo, mas depois me recompondo – temos uma reunião importante.
- A e vão e nos contam tudo depois, não é? – elas assentiram – Vou te levar pra minha casa, não tem ninguém lá a essa hora. Você não está com cabeça pra nenhum tipo de aula, nem mesmo de música.
Concordei. pegou a minha bolsa que estava jogada no chão e a colocou no ombro, ficando com duas. Sorri fraco com a situação da minha amiga, pois era uma cena engraçada de se ver. Nos despedimos e fomos até o carro dela.
No caminho, encontramos Melissa com fone de ouvido. Ao me olhar chorando, deu o mesmo sorriso que eu tinha visto anteriormente. Aquilo me deu vontade de vomitar e eu comecei a pensar em muitas coisas ruins, mas eu já estava com muito problema. Se quisesse, tiraria satisfação com ela depois.
Não tivemos dificuldade em chegar rápido na casa. Em quinze minutos, já estava deitada na cama da , chorando igual ao um bebê.


’s POV Não precisei procurar muito pelo Henry, ele estava na entrada da escola com uma felicidade até exagerada para a situação.
- Henry – o chamei – posso falar com você?
- É claro – ele se afastou dos amigos e se aproximou de mim – fala.
- Só quero deixar claro que a minha amiga não é idiota.
- Se você for falar da , já pode ir embora, porque vai entrar por um ouvido e sair pelo outro. – ele respondeu cinicamente, com uma cara de tédio.
- Cara, – alterei a voz – o que você ganhou enganando a ?
- Bom, ganhei o que ela não me deu. – e um sorriso malicioso apareceu em sua face.
- Como assim?
- Ah cara, vai me dizer que não sabe que a sua melhor amiga é virgem. – ele disse rindo – ah, espera um pouco. Vocês ficaram anos separados, não é mesmo? Aposto que nem sabe que a sua amiguinha é conhecida como puta nessa escola. Só que a puta, nesse caso, é santa.
Fiquei quieto olhando para o chão. A ? Conhecida como puta? O Henry se aproveitando dela por causa da fama dela? Então tudo o que ele queria era... Sexo?
- Você é um otário – e finalmente o empurrei contra a parede. Mas tinha razão: ele era mais forte do que eu. Logo depois ele puxou as minhas muletas, fazendo com que eu caísse no chão e sentisse muita dor.
- Você vai bater em mim? – soltou uma risadinha – olha o meu tamanho e olha o seu. Você não manda em mim. E você ainda está com o pezinho quebrado, aw – ele finalmente me largou e sussurrou – sua bicha.
Ao final de tudo, ele pegou sua mochila e entrou num carro branco. Meu pé estava doendo muito e recebi ajuda de alguns alunos que estavam em volta. David pegou a minha mochila e entrou na escola comigo. Eu já estava atrasado para a aula de música.

Capítulo 8


’s POV

Acordei com o barulho do telefone tocando. Estava deitada numa cama que não era minha e não estava no meu quarto. Esfreguei as mãos nos meus olhos, pisquei algumas vezes e reconheci o local: estava no quarto de . Ela atendeu ao telefone, parecia ser a mãe dela.
Levantei-me da cama e vi que em cima do criado mudo estava o seu diário. Ele estava aberto. Não achei que teria problema eu dar uma folheada, aliás, eu sou a melhor amiga de . A página estava marcada por uma caneta. Abri-a e comecei a ler. Estava contando sobre o final de semana passado. Percebi que ela não gostava de escrever diariamente e sim nos dias em que acontecia algo importante. Dizia o seguinte:

“Querido diário, Todos os meus amigos estão comprometidos. Ok, nem todos. A e o não estão, mas eles estão tão próximos que acho que daqui a pouco estarão também, apesar de eu achar super estranho dois melhores amigos namorarem. Enfim. O está namorando a Melissa (não gosto nem um pouco dela, gostaria de dizer isso novamente). A está com o Henry (ele é gato, mas me parece estranho, devo confessar).”.

A achava o Henry estranho? Ela nunca me contou isso. Eu não poderia perguntar o porquê, ela teria que saber que eu li o diário dela, então resolvi tentar descobri isso depois. Voltando para o diário:

“E a continua com o Daniel. Só eu que não gosto de namorar? De ficar comprometida? Eu acho que só devemos pensar em compromisso com mais idade. Dos 16 aos 19 anos, acho que nós, adolescentes, não temos maturidade o bastante para se comprometer com uma pessoa. Pelo menos, eu não tenho. Se eu tivesse um namorado, o trairia na primeira semana. É difícil beijar uma só boca por muito tempo. Que coisa horrível. Temos mais que aproveitar a vida. Depois dos 25 anos, daí eu penso em arranjar um marido rico, forte, sarado, alto, moreno. Daí eu penso nisso. Por enquanto quero curtir a vida. Aliás, fui a uma festa esse final de semana. Foi sensacional. Fiquei com três garotos. Não é que eu seja vadia, ou nada do tipo, mas tenho que aproveitar. Eu acho que se te acham bonita, aproveite agora, você não terá esse corpinho para sempre. Mas não é só isso. Não gosto de ficar me lamentando por um garoto. Se eu namorasse e terminasse, ficaria muito triste e deixaria de viver a vida. Quando eu fico com um garoto, eu sei que no dia seguinte eu não vou estar triste. E a minha vida continua. Não deixo de vivê-la. Nunca. Isso é tudo o que importa.”

Fiquei um tempo pensando no que eu tinha lido. Talvez eu devesse seguir o “conselho” de . Pelo menos por um tempo. Eu sei que fui traída, está doendo muito, mas como ela disse, a vida continua. Esse não é o fim do mundo.
Escutei subindo as escadas, fechei o diário, com a caneta marcando a página, e o botei a onde estava. Sentei-me na cama dela.
- Ah, finalmente acordou! – ela se sentou ao meu lado – como você está?
- Péssima – prendi o meu cabelo em um coque – parece que fui atropelada por aquele ônibus. E eu estou com dor de cabeça.
- Têm uns comprimidos na minha bolsa – ela se levantou e foi até a bolsa – vou pegar água pra você, procura ai pra mim – então ela jogou a bolsa dela em cima de mim.
Estojo, canetas jogadas, cadernos, livros, bilhetinhos que eu passava para ela, papéis de bala, um maço de cigarros, garrafa de água vazia, uma bolsinha de maquia... Espera um maço de cigarros? A fuma? Desde quando? Uma pontada em meu coração me fez querer chorar novamente. Não aguentei segurar nem por um segundo, já estava em prantos novamente. Não costumo fazer isso, é que eu realmente estava bem sensível.
- O que foi, amiga? – sentou-se ao meu lado, segurando um copo d’água.
- Você fuma? – perguntei entre soluços sem olhar para ela. Continuei de cabeça baixa.
Ela não me respondeu de primeira. Depois de uns quinze segundos de silêncio, eu olhei para e vi que ela estava extremamente pálida. Ela abria a boca rapidamente numa forma de encontrar algo para dizer, mas não obtinha sucesso.
- Me responde! – falei mais alto – Você fuma?
- Fumo!
- Por quê? – perguntei enquanto eu olhava fixamente para minha amiga. – Você sabe que isso faz muito mal à saúde. E isso é nojento.
- Eu sei disso – ela se levantou rapidamente e colocou o copo ao lado de seu diário, no criado mudo – Não precisa ficar me dando sermão, eu já sei que eu só estou me prejudicando, mas é vício! É um vício. Eu não posso parar. Eu não me sinto bem sem fumar.
- Então por que você começou? – me levantei também.
- Na verdade, na primeira vez... foi pra me sentir uma pessoa legal sabe... - ela estava se controlando para não começar a chorar – mas depois... depois tudo foi ficando difícil...
- O que foi ficando difícil, ?
- A minha vida! – ela sentou no chão e abraçou os joelhos.
- Como assim a sua vida?! – perguntei indignada – a sua vida é totalmente perfeita, !
- Não é! Você pensa que é, mas não é! – ela agora chorava compulsivamente – meu pai sumiu, esqueceu que eu existo. Eu o encontrei no shopping outro dia e ele não me reconheceu! Ele passou por mim e nem me olhou! E eu não pude fazer nada! Minha mãe não deixou... – ela suspirou olhando para o teto enquanto as suas lágrimas escorriam pelo seu rosto – Como se não bastasse... Ela disse que a culpa de tudo isso é minha.
Fiquei intacta olhando para . Ela estava de uniforme, todo amassado. Seu cabelo estava bagunçado e sujo. Sua boca estava vermelha e inchada. Seu nariz, a mesma coisa. Seus olhos estavam extremamente vermelhos e de lá saiam inúmeras lágrimas. Resumindo: seu estado estava deplorável.
- , vai tomar um banho. – me aproximei dela – Você está muito feia. – falei de um jeito engraçado para ver se a animava. Até que funcionou. Ela se levantou e foi até o armário, mas depois fez a pergunta que eu estava torcendo para ela não fazer.
- Eu desabafo sobre a minha vida... Assumo que fumo e tudo o que você me diz é ‘Vai tomar um banho’?
Fiquei um tempo pensando na minha resposta, até que elaborei uma que, para mim, era perfeita.
- Eu não posso fazer nada em relação a seu vício e a sua família. – vi que ela ia dizer alguma coisa, mas eu a impedi – Porém, eu posso dizer que todos passam por alguma dificuldade na família. – lembrei-me do que havia me dito há alguns dias sobre a “infelicidade” dele – Meus pais estão prestes a se divorciar, apesar de nunca terem me falado sobre isso. Os pais do e do são separados desde que os dois tinham dois meses! Mas não somos infelizes. – parei para tomar um ar e vi que prestava muita atenção. – A culpa do seu pai não se importar com você não é sua. Nem da sua mãe. É dele mesmo. Foi ele que escolheu isso. Você precisa ter uma conversa com a sua mãe. Se quiser, eu mesma falo com ela!
Ela me olhava com os olhos brilhando – dessa vez não eram lágrimas – e logo um sorriso abriu em seu rosto e ela veio me abraçar.
- , eu te amo tanto! – o abraço foi totalmente forte e prazeroso – Eu sei, às vezes faço um drama, mas o meu vício faz parte disso também. Eu prometo que vou tentar – ela deu ênfase no ‘tentar’ – parar de fumar. Por você.
- Não, não, não. – me desvencilhei dos braços dela e olhei seriamente em seus olhos – você não vai fazer isso por mim. Vai fazer isso por você!
- Sim, senhora! – ela imitou um soldado e começamos a rir muito. – Agora vou tomar banho, pois eu realmente estou feia.

’s POV Na aula de música tudo ocorria mal. Minha perna estava doendo muito, só não doía tanto quanto o dia em que eu quebrei. A Melissa estava do meu lado e não me deixava tocar o meu violão em paz, quer dizer, o violão da escola. Ela ficava rindo e bagunçando o meu cabelo enquanto falava coisas totalmente sem sentido. A apresentação seria daqui a dois meses e eu teria que me sair bem, já que era a minha primeira apresentação e isso diminuí as minhas chances de entrar na faculdade de música do Northumberland. Eu estava desesperado para falar a verdade.
- Atenção, alunos – Alison levantou-se de sua cadeira com uma cara séria – eu preciso que vocês mandem a lista com as músicas que vocês cantarão na apresentação, lembrando que podem ser músicas originais, desde que você mande a letra para mim ou para o Paul para podermos revisá-la e ver se não apresenta nenhum conteúdo impróprio.
Concordamos e assim fomos dispensados da aula. Melissa me ajudou e deixou o violão encostado na parede aonde havia outros violões. Saímos da sala e a minha mãe estava me ligando.
- Alô?
- Oi filho, eu já estou aqui na porta da escola. Venha rápido que eu estou cheia de trabalho para fazer. – a voz dela saia alta e autoritária. Já disse que a minha mãe grita muito no telefone? Aliás, eu acho que todas as mães gritam. Incrível isso.
- Ok mãe, já estou indo. – desliguei o celular e guardei no meu bolso.
- Ela já está aqui em baixo? – Melissa me perguntou.
- Sim.
- Posso ir com você pra sua casa? Assim eu cuido de você. – pela primeira vez aquela sugestão me incomodou. Eu já estava com outros planos, mas é claro que eu não ia dizer isso a ela.
- Não precisa. – respondi quando entramos no elevador, que só era usado em casos especiais, como o meu – o está lá e você tem muita lição para fazer, você estava reclamando disso até agora.
- Eu sei, mas...
- Não precisa, sério. – a interrompi e sai do elevador quando ele abriu já no térreo.
Fomos até o portão principal e pude ver e ouvir a minha mãe com o carro buzinando e gritando algo como “vem logo”.
- Tchau, amor. – Melissa passou as mãos pelo meu pescoço e me deu um selinho demorado. – até amanhã.
- Até. – sorri fracamente e fui até a minha mãe, que havia, finalmente, saído do carro para me ajudar.
- Mãe, me leva até a casa da ? – pedi quando já estávamos dentro do veículo.
- Por que você quer ir até lá? – ela perguntou desconfiada. A minha mãe acha que só porque eu e a nos conhecemos há bastante tempo, até mais do que o resto da galera, teríamos algum caso ou fossemos nos casar, mas não era só comigo, ela fazia isso com o também. Só que eu era diferente dele e isso todos já sabem, então ela realmente se preocupava comigo.
- Porque eu falei para ela que iria lá depois da aula de música pra ajudar com... – tentei pensar rápido em alguma desculpa, não queria falar que era porque eu estava preocupado com . Se eu falasse isso, minha mãe certamente perguntaria o porquê e eu não sei se posso contar. – o dever de casa.
- Mas filho, você está impossibilitado de ir, não era mais fácil ela ir até a nossa casa? – ela tem razão. Ok, hora de pensar em outra desculpa.
- Não tem ninguém para levá-la.
- E desde quando ela precisa de alguém para levá-la? – porra mãe, facilita as coisas para mim, obrigado. – Ela tem um carro.
- Mãe, só me leva para a casa dela, por favor. – falei impaciente. Dessa vez ela ficou quieta e foi assim todo o caminho.
- Vou te ajudar a sair – ela falou baixinho e saiu do carro, dando a volta e abrindo a porta do banco de trás. Pegou as minhas muletas e logo abriu a minha porta. Me levantou com cuidado e eu novamente senti uma dor forte no meu pé. Consegui me apoiar nas muletas e dei “um passo” para frente.
- Mãe, obrigado e desculpa pela minha impaciência – estava me sentindo culpado, odeio mentir para a minha mãe. Depois eu contava a verdade, depois que já estivesse melhor.
- Imagina, filho. – ela se aproximou e passou a mão na minha bochecha. – Eu te amo.
- Eu também te amo, mãe. – então ela me deu um beijo na testa e voltou para o carro.
– Que horas eu venho te buscar?
- Eu te ligo.
- Ok, tchau.
Despedi-me e segui até a porta de . Toquei a campainha. Demorou um tempo até abrir a porta.
- ! – ela disse me abraçando meio desajeitada – O que você está fazendo aqui?
Talvez eu esteja louco, mas ela realmente parecia muito melhor do que mais cedo. Qual é o poder da ?
- Eu vim aqui ver como você estava. – respondi como se parecesse óbvio.
- Aw, que fofo – os olhos dela brilharam com a minha resposta. Talvez seja a carência. – Vem, entra. Eu te ajudo.
- Você não tem noção de quantas vezes eu já ouvi essa frase hoje. – ri e ela me acompanhou, enquanto abria o caminho para mim e fechava a porta.
- Eu imagino. – ela disse serenamente.
A casa de era bem grande e reconfortante. Não era uma mansão ou coisa do tipo, era apenas uma casa grande. Tinha dois andares e um porão. Tinha a sala de estar com uma lareira, um degrau que separava da sala de jantar. Mais para frente tinha um corredor e do lado esquerdo, encontrava-se a sala de TV, que também era grande. Nela tinha um sofá grande e uma televisão LED grudada na parede. No fim do corredor era a cozinha, que era grande e tinha uma passagem para a área de serviço, que tinha uma escada que dava para o quintal e embaixo dessa escada encontrava-se o tal porão. Ok chega de descrições. Ficamos na sala de TV que era onde a estava comendo um pote de sorvete e assistindo a The Carrie Diares.
- ? – ela levantou-se rapidamente e foi até mim – o que você está fazendo aqui?
- Eu vim ver como está. – então o sorriso que estava estampado na cara dela se transformou na cara mais séria que eu já tinha visto fazer.
- Só a é o que importa? – eu tinha certeza que iria cair no chão devido ao desequilíbrio que ela causou ao se aproximar de mim. Se não fosse a , coincidentemente, eu teria me espatifado no tapete branco – E eu? Você não se importa comigo? – uma onda de preocupação tomou conta de mim. Será que ela estava falando sério?
A minha cara de “fodeu” deveria ser tanta que as duas começaram a rir. Não, rir não. Elas estavam gargalhando.
- O que foi? – perguntei totalmente confuso.
- A cara que você... – tentava dizer no meio da sua alta e contagiante risada - Que você fez foi a melhor! – até eu comecei a rir depois dessa.
- Porra, eu fiquei preocupado – reclamei quando consegui recuperar um pouco do meu ar. – pensei que você estivesse falando sério.
- Nós percebemos! – também ria sem parar e já estava ficando vermelha.
Depois que a crise de risada acabou e todos nós sentamos e tomando o resto do sorvete, eu finalmente perguntei:
- , você está melhor?
- Não muito. – ela suspirou pesadamente – eu só estou tentando não pensar nisso.
- Ah... Desculpa! – que vergonha, . Você vai à casa da garota para tentar reconfortá-la devido a uma traição e só piora as coisas. Você é um completo idiota.
- Não, está tudo bem. – ela se virou para mim e falou calmamente – eu percebi que não devo sofrer por alguém que não merece. Vou seguir em frente e viver a minha vida, sabe? – então ela deu uma risada baixa, olhou para o chão e depois se voltou para mim novamente – eu sei que tomar sorvete e assistir a uma série adolescente não vai me ajudar muito, mas... Acho que vou começar a seguir em frente amanhã. Temos provas chegando, a apresentação e uma viagem!
- Ah, e pode ter certeza que nessa viagem eu vou aprontar muito – intrometeu-se olhando para – e você vai me acompanhar.
- Talvez... – ela riu timidamente e prosseguiu – só não quero ficar sofrendo por ele. Então vamos mudar de assunto, por favor?
- Claro, vamos falar do , que estava do lado da , sentou-se próxima de mim. – Como vai o seu romance?
Revirei os olhos pra pergunta que ela fez e bufei.
- Não dá para ser outro assunto, não?
- Ué? – levantou as sobrancelhas – Mas já estão em crise?
- Nós não – confessei – eu sim.
- Por quê?
- Ah, acho que não sou bom para namorar. – ri com a minha própria resposta.
- Ah, qual é, ? – dessa vez quem revirou os olhos foi a – não era você que gostava dela pra caralho?
- Sim, eu gosto dela. – na verdade estava uma tremenda confusão. Nunca iria dizer para elas que eu falei para Melissa que eu a amo. Para falar a verdade, eu nem sei se a amo. Imagina a confusão que está na minha cabeça – Eu só não estou acostumado a ficar comprometido.
- Ah, isso não é uma coisa muito legal – levantou-se e pegou o pote onde estava o sorvete– devo concordar com você: namorar é confuso.
- Mas eu nunca disse isso.
- Mas pensou – como ela sabia? Por acaso a tem o poder de ler mentes? Mais um poder para a lista.
- Como você sabe? – perguntei.
- Você e eu somos iguais – ela respondeu quando voltou da cozinha. Provavelmente foi botar o pote na pia para lavar – só muda o sexo.
- Eu não sei se isso é bom. – brinquei e recebi um tapa leve na cara como resposta.
- Cala a boca, idiota.

Capítulo 9


’s POV

Passamos o resto da tarde fazendo simplesmente nada. Assistimos TV, comemos besteiras, conversamos sobre coisas aleatórias, assistimos mais TV. A mãe de já tinha chego do trabalho e nós continuávamos assistindo TV. Eu tenho um pouco de culpa nisso, já que eu estava imobilizado.
Lembrei-me que as duas haviam faltado na aula de música.
- Ei, eu preciso avisar uma coisa pra vocês, sobre a apresentação. – iniciei. As duas olharam pra mim e começaram a prestar atenção – na próxima aula vocês precisam mandar a lista com as músicas que vocês vão cantar.
- Puts... – bateu a mão na testa – tinha me esquecido disso! Vocês já sabem o que vão cantar?
- Ah... – bufou – eu vou cantar covers, preguiça de escrever músicas. Algum da P!nk ou da Aguilera.
- Ui e você vai ter voz pra isso? – desafiei. Eu sabia que a tinha potencial, já havia visto uma das apresentações dos anos anteriores, mas eu queria irritá-la um pouco. - Não duvide de mim, amorzinho. – ela forçou a voz como a de um bebê e apertou as minhas bochechas.
- Meninos – me virei para a mãe de , a senhorita Katie, que estava na porta da sala de TV – vocês vão jantar aqui, certo? – assentimos e levantou-se bruscamente da mesa, me assuntando e a mãe dela também.
- A pode dormir aqui?
- O quê? – ela se levantou também – Não, . Não precisa, eu não quero atrapalhar e eu nem trouxe roupas. – é, ela ainda estava de uniforme.
- Não seja por isso, garota. – bateu no ombro dela – eu te empresto as minhas roupas.
- É, pode dormir aqui, relaxa... – Katie pronunciou-se e voltou-se para mim – eu até te convidaria se você não tivesse com o pé quebrado, né?
- Não, tudo bem, eu entendo. Mas o convite pra jantar eu não vou recusar. – falei rindo e todas ali também riram.
- Ok – Katie retirou-se, mas logo voltou de novo – todos aqui gostam de temaki?
- SIM! – gritamos em uníssono e começou a bater palma extremamente animada. Uma fofa. Todos que eram amigos dela sabiam perfeitamente que ela é pessoa mais viciada em comida japonesa que existe.
- Com salmão, cebolinha e cream cheese? – sugeriu.
- Eu quero com maionese. – pedi.
- Beleza – Katie concordou – pode ser um pra cada um?
- Dois. – avisou.
- Dois? – arregalei os olhos – que gorda!
- Cala a boca, aleijado – recebi outro tapa leve na cara e todas riram.
- Ok, então um pra todos e dois pra ? – Katie perguntou e nós assentimos novamente. – Ok, já vou pedir.

Quando o temaki chegou, foi a maior festa. Comemos adivinha aonde? No sofá. Assistindo TV. Aliás, aquele temaki estava maravilhosamente delicioso. Eu preciso aprender a fazer isso. Meio gay? Ah, foda-se, eu vou ser um homem que cozinha comida japonesa. Frase irônica já que esse tipo de comida é totalmente crua, mas vocês entenderam.
- Isso daqui tá muito bom – falou com a boca cheia – Nada melhor do que comer pra aliviar a dor no coração. Principalmente temaki, to curada pra sempre.
Rimos de sua afirmação e continuamos comendo em silêncio. O único som era o da televisão, pra variar. A Katie também estava conosco.
Minha mãe foi me buscar uma hora depois da janta, mas ela e Katie ficaram mais uma hora conversando sobre a viagem que faríamos.
- Todos já pagaram a passagem? – minha mãe perguntou. Concordamos e ela continuou – Então já podemos pegá-la!
As meninas gritaram de alegria e falaram coisas do tipo “ah meu deus, a mansão inteira só pra gente” “o Havaí inteiro só pra gente” “Cara, eu preciso agora dessa viagem” “Vai ser a melhor de todas”. Eu, que já estava dentro do carro, apenas ri vendo a cena.
- Bom, eu já vou, tá ficando tarde. – minha mãe e Katie se despediram, depois ela se despediu das meninas e entrou no carro.
- Estou louco por um banho – comentei.
- A sua namorada não parou de ligar pra você – ela jogou o meu celular em cima de mim.
PUTA MERDA. 10 LIGAÇÕES NÃO ATENDIDAS. Eu estou literalmente fodido. Não sei o que é pior: dez ligações perdidas da mãe ou dez ligações perdidas da namorada. Ou melhor, da Melissa. Arrependi amargamente de ter deixado o celular dentro da minha mochila, que eu tinha largado no carro da minha mãe.
- Cacete, eu to na merda.
- Olha o linguajar, moleque. – minha mãe olhou séria pra mim e voltou a olhar para frente.
- Desculpa, mamãe. – gay, mas fofo. Eu sei ser um bom filho. É... Ás vezes. Eventualmente.

’s POV

Acordei com o despertador escandaloso da . Era aquele alarme infernal do iPhone. Coloquei o travesseiro na minha cabeça e resmunguei algo que nem eu mesma consegui entender. E a porcaria continuava tocando.
- , pelo amor de Deus! – gritei tirando o travesseiro da cara – desliga essa merda!
- Já vou, já vou – ela esticou o braço para o criado mudo ao lado da cama dela, que era onde estava o celular, mas ele caiu no chão.
- Ah, inferno! – levantei do colchão, peguei o celular e desliguei o alarme – Bom dia. – desejei grosseiramente.
- Ai, ... – resmungou – não quero mau humor hoje...
- Impossível, fofa – joguei o meu travesseiro na cara dela – levanta.
- Já vou, já vou...
Fui até o banheiro com o meu uniforme em mãos. Estava com preguiça demais para tomar banho, então apenas me vesti e fiz a minha higiene matinal. Prendi o meu cabelo num rabo de cavalo alto e peguei a maquiagem de emprestada.
- Anda logo! – pude ouvir a mesma reclamando do lado de fora do banheiro – eu estou apertada!
- Já estou indo! – gritei pra ela – Porque você não vai ao banheiro da sua mãe?
- Preguiça...
Quando terminei de me arrumar e saí do banheiro, pude ver que continuava deitada em sua cama.
- Bota preguiça nisso. – ela deveria estar prestes a dormir de novo e nem tinha visto que eu havia saído do banheiro, porque quando ouviu a minha voz, levou um susto e saiu correndo para fazer sua grande necessidade.
Peguei a minha bolsa e conferi o material que estava lá. Faltavam dois ou três livros da matéria do dia, mas nada que fazer dupla com não resolvesse. Encontrei um bilhetinho do Henry e isso me fez lembrar de tudo o que havia acontecido no dia anterior. A presença dos meus dois amigos tinha feito eu me esquecer da tristeza e esquecer que hoje terei que “enfrentar a fera”. A dor continuava ali, estava apenas escondida e mascarada pelos meus falsos sorrisos. Não ia ser um dia fácil.
- Ih... E essa carinha aí? – disse com a escova de dentes na boca, então ficou meio confuso, mas eu consegui entender. Me virei pra ela que continuava parada, como uma estátua.
- Escove logo esses dentes, garota! Não quero me atrasar. – na verdade eu nem queria ir para a escola, mas seria um tanto quanto ridículo. Eu tinha que mostrar que não estava ligando para o Henry. E para isso eu teria que ir pra escola, não é mesmo?
assentiu e voltou para o banheiro. Terminou de se arrumar, pegou a sua mala e descemos. O belo café da manhã nos esperava na cozinha.
- Caramba, hein mãe. – estava com as sobrancelhas levantadas e fazia uma careta engraçada – só faz isso quando a está aqui né? Tudo bem, eu supero.
- Eu sou especial, pensei que já soubesse disso – falei com humor.
- Tem requeijão e nutella na geladeira. – Katie avisou enquanto pegava pão e depois saía do cômodo. Nós nos entreolhamos e corremos para a geladeira.
- , você deveria dormir aqui todos os dias – comentou enquanto pegava a Nutella.
- Eu sei, não tem isso na minha casa também. – sentamos novamente e eu peguei passei Nuttella no meu pão. fez o mesmo.
Estávamos comendo em silêncio, quando ela fez uma pergunta:
- Você estava tristezinha naquela hora por causa do Henry né?
- Sim, mas... Não era nada.
- Nada é quando a pessoa tem tanto a dizer que fica com preguiça de falar. – ri baixo com a afirmação dela e comi o meu ultimo pedaço de pão.

Katie nos levou até a escola e foi direto para o trabalho. Senti uma mistura de sentimentos quando passei pelo portão principal. Medo, receio, ansiedade. Não sei bem o que era. Por sorte, a galera já estava lá. Direcionamos-nos a eles.
- E aí, pessoal – cumprimentou todos com o típico “high-five”.
- – ouvi me chamar – você está melhor?
- Um pouco sim... – virei para ele e falei baixinho, meio que começando uma conversa particular – por dentro eu quero me matar, mas não estou afim de demonstrar isso, então qualquer coisa eu estou ótima e totalmente feliz sem o Henry.
Ele riu e concordou.
- A Melissa tá puta da vida comigo – ele revelou – não atendi as ligações dela porque estava me preocupando contigo. Tudo culpa sua.
- Mas o que... – eu já ia começar a protestar, mas ele interrompeu com a sua risada.
- É brincadeirinha... Eu te amo, sua boba. – ele tentou me abraçar com um braço só, mas eu me afastei.
- Mas eu não. – falei brincando.
O sinal tocou e todos reclamaram. Chegou a hora. Eu teria que “enfrentar a fera” de uma vez por todas. Minha vida poderia mudar a qualquer momento. Eita, como sou dramática.
Na sala estava tudo normal. O Henry estava lá, sentado no lugar de sempre, que infelizmente era atrás do meu.
Até que as duas primeiras aulas correram bem. Eu pensava que o resto do dia seria ótimo, maravilhoso, mas iludida do jeito que eu sou, me enganei. Me enganei completamente.
Estava na hora da educação física. Entrei no vestiário para me trocar e pude ouvir Melissa e Emma conversando. Na verdade, elas estavam falando em voz alta de propósito.
- O que dizer sobre essas pessoas que pagam de puta, mas nunca deram na vida? – Emma perguntou pra sua amiga.
- Patético. – Melissa ria debochadamente.
Não entendi muito bem o motivo de elas estarem falando aquilo em voz alta, mas provavelmente era alguma indireta para alguém que não era eu, aliás, era a Melissa, nós éramos amigas, por isso eu ri do comentário delas. HÁ, me enganei de novo.
- Tá rindo do que, virgenzinha? – gelei quando vi Emma olhando fixamente para mim com o sorriso no rosto.
- Como é?
- Isso mesmo, essa indireta foi pra você. – as meninas que estavam no vestiário fizeram um “uh” em coro e eu não sabia mais o que dizer e nem fazer.
- Vão cuidar da vida de vocês. – começou – É aula de educação física agora, vocês estão precisando. Tá na hora de perder uns quilinhos, né galera. – a é a melhor amiga que alguém pode ter. Ela é a minha heroína. e também estavam no vestiário e só não riram do que ela disse por que estavam chocadas com que as duas vadias haviam feito.
- Mas gente – se aproximou – o sabe que a Melissa odeia a ?
- Ela não me odeia – expliquei – ela é amiga da Emma e ela sim me odeia.
- Ah, qual é. – me puxou – ela te humilhou, cara. O precisa saber disso. Se ele não ficar puto e terminar com ela, já era, você pode acabar com isso que você chama de melhor amizade.
- Lógico que não! – elevei a voz – Ele gosta muito dela, não vai acreditar na gente, mas eu não vou estragar a nossa amizade por causa de uma garota.
- intrometeu-se – ontem mesmo ele disse que estava em crise porque não sabia ficar comprometido, vai ser um motivo para ele terminar com ela. Ele fazendo isso vai ficar feliz e vai nos fazer feliz. É questão de juntar o útil ao agradável.
Todas concordaram e saímos do vestiário assim que eu terminei de me trocar.
Entramos na quadra e fomos direto para a arquibancada, onde estava sentado.
- A gente precisa falar com você, agora! – falou um pouco alto e chamou a atenção de Melissa, que estava perto dele.
- Ah ma... – ela ia dizer alguma coisa quando a professora soou o apito, indicando que o handball, meninos contra meninas, iria começar.

’s POV

O que será que elas tinham de tão importante para me dizer? Confesso que fiquei aflito a aula inteira. O que me distraiu foi a partida muito boa e acirrada de handball que estava rolando.
A aula estava quase acabando e o jogo estava empatado quando esbarrou com Henry e caiu no chão. A professora apitou indicando a falta. Isso não ia acabar muito bem.
- O que eu fiz prô? – ele gritava alterado – Ela que esbarrou em mim.
- Ah, se liga! – revidava – Todo mundo viu que você pulou na minha frente tentando pegar a bola, faz parte do jogo, mas eu me machuquei. – isso era verdade. O Henry que resolveu marcar a , não foi um esbarrão sem querer.
A professora soou o apito novamente e gritou algo como “Cinco minutos. Vestiário” que indicava que aula havia acabado. As meninas correram na minha direção e eu pude ver que isso chamou atenção de Melissa, que veio em seguida.
- , precisamos falar com você urgentemente! – falou ofegante.
- O que aconteceu?
- Você precisa terminar com a Melissa – foi “direto ao ponto” e eu fiquei totalmente confuso.
- O quê? – perguntei – Por quê?
- É, por que ele tem que terminar comigo? – Melissa se intrometeu com a cara totalmente fechada.
- Porque sim! – berrou – não dá pra falar isso agora.
- Dá sim! – falei irritado – O que está acontecendo?
- Ela humilhou a na frente de todas as meninas – finalmente falou.
- Ela o quê? – eu realmente não estava entendendo mais nada.
- Eu o quê? – Melissa perguntou indignada. – Eu não fiz nada!
- Ah, fez sim, nem me venha com mentira – estava quase se jogando em cima dela, mas foi impedida pela .
- Eu não fiz não! – ela gritava – a única que fez foi a Emma, se liguem.
- Fez o que?! – berrei, fazendo todas ficarem quietas – O que está acontecendo?
- Eu posso dizer o que está acontecendo – Henry se aproximou e eu percebi que todos os alunos das duas salas estavam observando a discussão. estava totalmente aflita, mas me foquei no que supostamente a Melissa teria feito.
- Então explique. – pedi secamente.
- Claro...
- Puta merda, fodeu – escutei falando. Isso mesmo. estava falando palavrão. O negócio deveria ser MUITO sério. estava ficando vermelha. Mentira, ela estava roxa. Sei lá, uma mistura de cores.
- É o seguinte, meus caros colegas. – Henry olhou para todo o ginásio – O que aconteceu foi que a Emma contou para todas as meninas o maior segredo de – então ele fez uma pausa dramática. Suspeitei do tal segredo, mas ele não faria isso – que ela é virgem – é, ele fez isso.
Então eu pude ver todo o ginásio com os olhos arregalados e cochichando coisas paras as pessoas que estavam ao lado. Vi que estava pálida dessa vez, mas seus olhos estavam totalmente vermelhos.
- Isso mesmo. – ele balançava a cabeça para cima e para baixo freneticamente. Aquele cara era louco. – A garota mais desejada do colégio é pura. Que os jogos comecem. – ele se virou para a saída e deu dois passos – Ah – ele voltou - e que a sorte esteja ao seu favor. – depois de ter falado o slogan da saga Jogos Vorazes, tornando o prêmio de uma competição totalmente fútil, Henry saiu da quadra.
Me virei para onde a estava antes, mas ela já tinha ido embora. Maldito pé quebrado, queria sair correndo atrás dela e a abraçar muito forte, mas o que me restou foi Melissa, que também estava um tanto quanto assustada.
- Melissa? – a chamei e ela virou-se para mim – Você sabia disso?
- Eu sabia, mas foi porque a Emma me contou. – ela sentou-se ao meu lado – Eu não humilhei a , eu nunca faria isso com ela.
Pensei um pouco no que tinha acabado de acontecer e finalmente falei:
- Você deveria escolher melhor as suas companhias.



Capítulo 10


’s POV

Quando ouvi a voz de Henry se intrometendo na discussão que as meninas estavam tendo com a Melissa e com o , eu já previa que algo desastroso iria acontecer. Eu só não esperava que ele fosse tão corajoso. Eu deveria ter saído antes, mas fiquei lá esperando ele contar para as duas classes que estavam na quadra e com certeza isso viraria fofoca na escola inteira. Então eu escutei: “ela é virgem” e “a garota mais desejada do colégio é pura”. Simplesmente não aguentei. Meus olhos estavam lacrimejando e com certeza estavam vermelhos, assim como o meu rosto. Eu estava ficando corada e não era por timidez. Talvez vergonha, mas muita, muita, muita mesmo, raiva. Eles não poderiam me ver daquela forma, eu não me entregaria tão fácil. Na verdade, eu não sabia se deveria continuar parada ali ou fugir e ficar sozinha em algum canto daquele inferno chamado Northumberland. Optei pela segunda opção. me chamou e tentou me segurar, mas eu não queria estar ali. O pátio ainda estava vazio, o sinal não havia tocado. Comecei a correr sem rumo, acabei parando na lanchonete. Não podia ficar ali, logo aquele lugar ia estar lotado. Corri em direção à saída, provavelmente o portão estaria trancado e teria muitos seguranças em volta que não me deixariam sair, porém aquele lugar era o mais vazio no momento, ninguém ficava lá no intervalo. Sentei na grama e abracei meus joelhos. Comecei a chorar como nunca tinha chorado antes. Era um choro forte e compulsivo, tinha a impressão que a minha cabeça ia explodir a qualquer momento. Os meus pulmões enchiam-se e esvaziavam-se freneticamente.
O sinal tocou e aquilo irritou os meus ouvidos. Coloquei as mãos nas orelhas como se fosse fazer aquilo parar. Quando finalmente parou, olhei para frente e via, de longe, o pátio lotar. Abaixei minha cabeça novamente e parei de chorar, apenas fiquei quieta, com os olhos fechados, mergulhando nos meus pensamentos.
As vozes das meninas conversando sobre o mesmo assunto no qual eu pensava estavam se aproximando. Cada vez mais perto, até eu sentir alguém sentando ao meu lado.
- ? – era , não fica assim. – ela envolveu os braços em volta de mim e me puxou para um abraço. Eu não ignorei.
- , é uma coisa tão boba. – comentou.
- Verdade – concordou – Metade das pessoas que estavam lá também é virgem.
- Você não precisa ter vergonha – agora voltara a falar – Tem tantas pessoas na sua idade que ainda nem beijaram e elas estão felizes...
- Mais ou menos, né. – abaixou a cabeça e começou a rir sozinha. É, nunca dera o seu primeiro beijo e ela estava ali, bem e aceitava isso. Às vezes.
- Mas você não foi humilhada na frente de todo mundo. – estava irritada, não adiantaria elas me falarem aquilo, continuaria com a mesma opinião.
- Tá bom, mas não leve isso tão a sério. – sentou-se na minha frente – Pode ser que hoje e amanhã todos estarão comentando sobre, mas semana que vem todos já terão esquecido. Você sabe como é fofoca de escola, nunca dura.
O fato era que eu não esqueceria daquilo. E esquecimento não mudaria o fato de que eu era virgem. Talvez eu realmente esteja exagerando fazendo esse drama todo, mas cara, era o meu segredo. E o mundo atual só sabe falar disso. A pressão sobre isso aumentou muito e já passara de ser algo raramente comentado. Tanto é que serviu como desculpa pro Henry ter me traído. Ai que ódio.
- A minha reputação na escola tá tão ruim assim pras pessoas tornarem isso uma fofoca? – perguntei.
- Não mesmo – respondeu.
- Você é uma garota adorável, . – passou as mãos no meu cabelo, ainda preso. – Todos te adoram. Se tiver alguém que vai ficar com má reputação, esse alguém é o Henry.
- E nós podemos ajudar... – levantou as sobrancelhas e começou a olhar por nada. De repente, começou a rir. – Não só podemos como vamos ajudar. - O que a senhora está tramando? – perguntou, querendo rir também.
- , lembra quando eu tirei as fotos dele com a vadia da Emma? – eu assenti e ela continuou – Então... O Northumberland inteiro está prestes a ver quem o Henry realmente é.
- Tá, mas... Como você vai espalhar essas fotos?
- , já ouviu falar numa rede social chamada Facebook? – como era uma pergunta retórica, prosseguiu – Ela é capaz de tirar a privacidade de qualquer pessoa não é mesmo? Então, vamos tirar a de Henry mostrando o porquê ele traiu a e sendo assim, arruinando a reputação de “novato-gostosão-sonho-de-qualquer-garota”.
- Adorei – levantou-se toda animada. fez o mesmo.
- Mas espera – alguma coisa me dizia que aquilo não ia dar certo – Ninguém vai acreditar que essa foto foi tirada ontem.
- É para isso que existe 3G, fofa. – tirou o celular do bolso (ela já estava com o uniforme normal) e entrou no facebook – as pessoas podem ver depois da escola, mas a data da publicação vai ser sempre a mesma. O horário também. É só eu postar agora e como ele está dentro da escola, não pode ser tirada hoje, ou seja: só quando vocês estavam namorando. Problema resolvido.
- Não sei não...
- Ah, qual é ? – perguntou irritada – Você não vai fazer nem um pingo de vingança? Vai ficar ai sofrendo até quando? A vida continua. Você precisa mostrar que vai sair por cima nessa história.
- E a forma de fazer isso é postando essas fotos. – continuou. – Se você quiser, eu posto.
- É claro que você vai postar – falei – você não vai usar a minha conta, não quero.
- Tá, tanto faz. – batucou os dedos nas costas do aparelho enquanto mordia os lábios – Vai se trocar que o 3G tá lento. Eu vou atrás de sinal, depois encontro vocês.
Assentimos e levantei-me com dificuldade e fui até a quadra. Demos a volta por trás do pátio para as pessoas não me verem naquela situação em que eu me encontrava. Chegando ao vestiário – graças a Deus estava vazio - me troquei rapidamente, soltei meus cabelos e os penteei e passei um pouco de maquiagem. Respirei fundo antes de voltar para o pátio.
Por enquanto tudo normal. Algumas pessoas que estavam na quadra naquele momento me olhavam, porém não estavam com cara de deboche. Outras estavam. Henry estava conversando com os amigos, que não perceberam a minha presença. Senti uma mão no meu ombro e me assustei.
- Calma – era o – está tudo bem?
- Ah não, vamos para a cantina – me puxou, mas eu voltei.
- Mais ou menos. – respondi o , que me olhava confuso.
- , estou com fome.
- , estou conversando com o – a imitei.
- Mas não devia.
- Por que não? - nós dois perguntamos ao mesmo tempo.
- Porque ele simplesmente não terminou com a Melissa depois do que ela fez. – aproximou-se do grupo, ainda mexendo no celular.
- E por acaso, eu devia? – a pergunta de saiu em um tom mesclado de irritação e confusão.
- É claro – , e responderam ao mesmo tempo.
- Não, lógico que não – eu não estava entendo porque elas estavam agindo assim – , me desculpa, eu não estou entendendo nada.
- Nem eu. – ele respondeu irritado.
- A Melissa humilhou a cuspiu as palavras.
- Não foi ela, foi a Emma. – defendeu.
- Ele tem razão – concordei – Ela só estava lá, nada saiu da boca dela. Além do mais, o Henry foi quem me humilhou de verdade e nós já estamos com um plano de vingança.
- Plano de vingança?
- Sim, vamos postar as fotos dele com a Emma ontem. – explicou. – Desculpa, você tem razão, a Melissa não tem nada a ver.
- É claro que tem – respondeu contrariada, ainda mexendo no celular – mas isso não importa. A foto foi publicada com sucesso. E o melhor de tudo: no grupo do 3º ano. Facilita, já que as pessoas terão acesso direto pelas notificações. – ela ria – Opa! "Duas pessoas curtiram a sua foto".
- Ui, meninas malvadas – fez sua piada e todas riram. Menos eu. Eu estava tensa, não sei bem o porquê. Não sabia se vingança era o certo a se fazer.
- "Dez pessoas curtiram a sua foto" – falou enquanto mostrava o celular para mim e para as meninas.
- Já tem tudo isso? – perguntei assustada.
- Vai ter muito mais, pode ter certeza. – ria – Os comentários nem começaram ainda.
- Vou curtir também. – então pegou o celular no bolso. Se eu tentasse fazer isso com muletas, já teria caído. Sou desastrada.
- Quando você vai tirar esse gesso, hein? – perguntei.
- Vou tirar o gesso nesse final de semana – ele respondeu lentamente, pois estava entretido em curtir a foto polêmica – Depois vou colocar a bota e vou poder andar por ai sem essas muletas.
- Não vai doer?
- Não sei, vou testar. Se doer, volto com as muletas. – ele bufou – vamos rezar para não doer.
Juntei as minhas mãos como se fosse fazer uma oração e ele começou a rir.
- curtiu a sua foto – falou – Comenta também, comece uma discórdia.
- Não, não precisa – tentei insistir, mas ele já estava digitando algo.
- Prontinho. – ele riu olhando para a tela. Cinco segundos depois e também estava rindo.
- , eu te amo – ela o abraçou e voltou a rir. Peguei o celular da mão dela e vi o que ele comentou: “Que a sorte esteja ao SEU favor.”. Comecei a rir também e falei para ele:
- Você sabe que a Melissa vai brigar com você, né? Você acabou de ofender a melhor amiga dela.
- Faz parte – respondeu ainda rindo – Ela vai ter que aceitar que você é a minha melhor amiga a mais tempo do que ela é a minha namorada.
- Ai, seu fofo – passei a mão em seus cabelos lisos e macios e o abracei. – Obrigada.
- Pode contar comigo sempre. – ele sussurrou no meu ouvido – Para qualquer coisa. – me arrepiei e me desvencilhei dele antes que ele percebesse. Olhei para os seus olhos cor de mel e senti vontade de chorar. Alguém realmente se preocupava comigo. Eu podia contar com ele. Com ele e com todos os meus amigos. Até o , que acabara de chegar na rodinha eu abracei. Ok, eu estava sensível. Ele me olhou confuso, mas retribuiu o abraço. O sinal tocou e novamente aquele barulho agudo me assustou.
- Ah e eu não comi – bateu os pés no chão – Tá me devendo um salgado, .
- Problema é seu. – ri baixo e seguimos para as escadas.

As aulas foram normais. Prestei total atenção em todas e não precisei me importar com olhares e comentários baixinhos sobre mim. Eu estava ignorando. Era a melhor coisa a se fazer.
Em uma das aulas, tive que sentar com de novo por causa do livro. Mas continuei prestando total atenção na matéria.
Quando a aula chegou ao fim, peguei a minha bolsa e sai rapidamente da sala. Desci correndo as escadas e pude ouvir pedindo para eu esperar.
- Não dá pra esperar. – atravessei o pátio em questão de segundos e logo estava passando pelo portão principal.
- Você tá fugindo do que? – perguntou quando me alcançou.
- Eu também não sei. – ri da minha situação – Acho que estou com medo do Henry ver a foto e vir brigar comigo ou algo do tipo.
- O que nós te dissemos sobre sair por cima na história? – ela riu.
Estávamos atravessando a rua quando Henry passou correndo por nós e parou na nossa frente.
- , que porra é essa? – ele virou o celular para a mostrando a foto que eu odiava ver.
- Essa porra é uma foto sua beijando a Emma. – ela disse com indiferença.
- Ah, não brinca? – ele bloqueou o celular e o guardou no bolso – Pra que isso, ?
- Henry, eu realmente não estou a fim de falar com você. – me puxou pelo braço e desviou do garoto, que nos seguiu.
- Tá bom, mas por que postar essas fotos?
- Simplesmente porque você merece. – ela jorrava indiferença e eu estava achando engraçado, pois Henry realmente aparentava desespero – Agora nos dá licença?
- Vocês vão se ver comigo. – ele ameaçou apontando para nós duas.
- Henry, querido, estamos paradas no meio da rua, não estou a fim de morrer atropelada, principalmente sendo você a minha última lembrança. – disse rindo, olhando para . Henry finalmente saiu da nossa frente.
- Caramba, . – batia palma – estou realmente orgulhosa de você.
- Você me inspirou.
- Aw, quanto amor – ela me abraçou – eu quero ver essa novamente. Tem que sair por cima.
- Mas eu não disse nada demais. – coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha – e ele é bem covarde. Você viu como ele estava desesperado?
- Eu vi – pegou o seu celular – E não é pra menos, a foto já teve trinta curtidas e o comentário do teve dez. Além de outros comentários, todos ao seu favor.
Até que essa vingança não era tão ruim. É claro que não era de minha natureza fazer algo do tipo, porém ver Henry todo cheio de cagaço até que foi bem divertido.

Chegando em casa, joguei as minhas coisas na minha cama e voltei para a cozinha, me preparando para um bom almoço. Peguei o meu celular e fiz questão de curtir a foto polêmica. Se for para eu sair por cima, não iria ignorar aquela postagem. Curtir a foto seria uma forma de mostrar que eu não estou me importando com Henry, muito menos com Emma e nem nada do que eles me fizeram, mas eu sabia que no fundo, aquela história estava me machucando muito. Eu disse para e para o que iria seguir em frente e depois que li o diário, eu sabia perfeitamente o que fazer: viver a minha vida. Porém não agora, esperaria as coisas acalmarem, a apresentação passar e a viagem chegar. Essa viagem tem que trazer coisas boas para mim. Por favor.

Capítulo 11


- Atenção, alunos – Alison batia palmas e assoviava ao mesmo tempo, tentando chamar a nossa atenção. Havia se passado uma semana desde o trágico dia. Hoje, na aula de música, teríamos que mostrar qual música iríamos apresentar, mas eu ainda não tinha uma escolha. – Façam uma fila aqui na minha mesa e me falem o que vocês vão cantar, por favor. – logo uma fila gigantesca se formou. Eu e continuamos sentadas em nossas cadeiras.
- , eu não acredito que você ainda não escolheu a música. – levantou-se e começou a andar de um lado para o outro – você é sempre a primeira a escolher, a que tem as melhores ideias para performance, mas ainda tá ai, sem saber o que fazer.
- Ai, – bufei irritada e tampei meus ouvidos com a mão – para de reclamar e me ajuda, pelo amor de Deus. – Ela parou de andar e ficou um tempo pensando. Depois, começou a pular e gritar ao mesmo tempo. – O que foi, garota?
- Eu tive uma ideia SEN-SA-CIO-NAL. – começou a bater palmas e eu perguntei o que era – primeiro você me promete que não vai reclamar? Que vai aceitar, sem nenhum problema?
- Ih... – já imaginava o que estava por vir, mas eu precisava de uma música – prometo.
- AH! – ela gritou novamente e atraiu alguns olhares – Olha, é o seguinte: você vai cantar Do What U Want da Lady Gaga. – ela me olhava mordendo os lábios.
- Mas nem fodendo! – descumpri com a minha promessa e levantei balançando de um lado pro outro a minha cabeça – você tá louca?
- Não! Eu estou perfeitamente bem – ela colocou as mãos na cintura – e você me prometeu que não iria reclamar.
- Eu sei, mas pode ser qualquer outra música, menos essa.
- Qual é o problema com ela? – parecia uma criança na minha frente. Uma criança bem mimada. – é uma música tão foda.
- Eu sei que é foda, mas a letra é...
- A letra é perfeita para o momento – ela me interrompeu.
- Não! – agora eu parecia uma criança mimada batendo os pés no chão – essa letra é pornográfica! Duvido que a Alison vá aceitar.
- Ai, para de ser exagerada, ! – ela bufou irritada e inclinou a cabeça para trás – A letra é normal.
- O que tá acontecendo aqui? – era o que já estava com a bota, então estava sem muletas.
- Era de você mesmo que a gente estava precisando! – virou-se para ele e perguntou – o que você acha da cantar Do What U Want?
Ele me mediu de cima pra baixo, como se nunca tivesse me visto, – provavelmente estava imaginando o desastre que ia ser eu cantando aquela música – pensou um pouco e logo falou:
- A música é meio provocante – eu já estava quase soltando um “eu disse!” para a quando ele continuou – seria bem interessante, principalmente com o Henry assistindo. A letra meio que se encaixa.
- Eu te disse! – voltou a pular de alegria – Eu estava pensando exatamente nisso! Eu vi o Henry conversando com um amigo dele na sala de aula e vi que ele vai assistir a apresentação, você cantando essa música seria A forma perfeita de sair por cima e terminar com aquela vingança sua. – a tal da foto polêmica vulgo minha vingança foi fofoca a semana inteira e totalizou cento e doze curtidas e oitenta e quatro comentários, por isso já achava o bastante, não precisava de nenhuma performance sensual ou nada do tipo.
- Sim – concordou – Seria mais foda ainda se você se apresentasse usando um corpete vermelho.
- ! – arregalei os olhos e bati no braço dele – eu não vou me apresentar de corpete. E também não vou apresentar essa música.
- Ah, vamos por favor – pegou nas minhas mãos e começou a balançar pra cima e pra baixo – vai ser muito foda, vai ser a melhor de todas. E sim, vai ter um corpete.
- Você está louca? – tirei os meus braços das mãos dela e sentei novamente – Não vou fazer isso.
- sentou-se ao meu lado – não vai ser nada vulgar. Só uma apresentação besta para o Henry ver o que ele perdeu te traindo.
- Sim. – concordou novamente.
- Que música você vai cantar? – perguntei pra ela.
- Trouble, da Pink.
- Ah – me levantei e parei na frente dela – e eu vou cantar uma música cuja cantora implora para abusarem sexualmente dela?
- Meu Deus, como você é exagerada! – ela esfregou a mão no rosto e voltou a olhar para mim – Ela não tá pedindo para ser abusada e eu não tenho um garoto bonitão para impressionar. , - ela virou para ele – você não ficaria impressionado se fosse o Henry?
- Eu ficaria muito – então ele ficou olhando para o teto e depois, como se tivesse saído de um transe, balançou a cabeça de um lado para o outro.
- O que foi? – perguntei.
- Imaginar o Henry ficando impressionado com a sua apresentação seria o mesmo que te imaginar... Daquele jeito.
- Ai meu Deus, ! – eu corei com aquela observação dele e tampei o meu rosto com as mãos – , eu não vou cantar essa música.
- Não escuta o , ele é um idiota pervertido. – os dois riam e eu ainda estava incomodada com a ideia deles.
- , e ! – Alison gritou para a gente e nós percebemos que não tinha mais ninguém na fila – Só faltam vocês!
- Bom, eu te dei uma ideia – levantou e foi em direção à mesa da professora com o – Só falta você aceitá-la.
Bufei. Ela tinha razão. Eu não pensei em mais nada e Alison não podia esperar mais, teria que mandar o repertório da apresentação hoje para o diretor. Era essa música ou nada. Apesar de preferir o “nada”, eu escolhi a Lady Gaga.
Aproximei-me dos dois, que me olhavam ansiosamente.
- E aí? – olhou para mim, segurando a risada. Ela me conhecia perfeitamente.
Peguei o papel onde tinha a lista dos alunos e fui até o meu nome. Completei a lacuna:
“Do What U Want – Lady Gaga”
- AE!!!!!!!! – ela berrou e abraçou o .
- Finalmente aceitou, hein.
- , você tá parecendo um little monster. – observei e ele colocou a mão na cintura e falou com a voz forçada:
- Meu bem, eu sou um little monster. – rimos demais e até Alison entrou na onda. – Mentira, galera. Eu só quero ver essa sua apresentação polêmica – isso me fez lembrar uma coisa:
- Alison – chamei a professora – se você achar a letra dessa música muito imprópria, eu posso trocar...
- Não! – ela me interrompeu – Eu adoro essa música. Eu adoraria ver uma das minhas melhores alunas cantando ela.
Legal. Olhei para e para e os dois seguravam a risada.
- Ok, ok. – empurrei os dois – eu vou apresentar essa música, já aceitei o fato. Mas com uma condição.
- Qual?
- Não vai ter corpete. – exigi e fez bico.
- Assim não tem graça.
- Verdade! – os dois eram cúmplices – eu vou pensar no seu caso.
E assim, a aula de música terminou.
Quando cheguei em casa, a segunda coisa que eu fiz – já que a primeira foi tomar um bom banho – foi colocar Do What U Want para tocar no YouTube. Ao abrir o vídeo, me deparei com a bunda da Gaga, já que era a capa do single.
- Ai, – pensei em voz alta – aonde você vai se meter?
Em seguida, abri a letra da música e comecei a acompanhar. Peguei o meu caderno e anotei a parte que eu iria cantar. Tratava-se do primeiro verso, pré-refrão, refrão repetido, – já que tirei a parte do R. Kelly, que era o segundo verso – ponte e refrão final. Quem iria tratar da música em si era o DJ da escola. Tinha que avisar para ele que precisava cortá-la. Arranquei as folhas que usei para isso e dobrei. Iria levar para a próxima aula de música, para Alison me ajudar a alcançar as notas da Lady Gaga. Ou pelo menos tentar. Ou criar a minha própria versão. Enfim, ela ia ver o que era melhor.
As próximas semanas serão de uma correria sem fim. Começara os preparos para o dia da apresentação, então nós, alunos junto de Paul e Alison, iríamos distribuir cartazes pelo bairro para comprarem o ingresso, que valia de 10 a 15 dólares. Os pais do aluno não pagavam. Teriam muitos ensaios. E eram bastantes pessoas para ensaiar. Além disso, começariam as semanas de prova. Resumindo: eu estava ferrada.

Uma semana depois


’s POV

A semana estava uma loucura. Além dos ensaios para a apresentação, estávamos entrando em semana de prova. Eu ainda estava com a maldita bota, não via a hora de tirar aquilo. Voltando ao assunto provas, eu sou um cara que tem muita dificuldade em Gramática e tem em Matemática, matéria no qual sou ótimo, então vamos fazer uma troca de ajuda. Hoje ela veio na minha casa para estudar. A Melissa ficou com um pouco de ciúmes quando soube, mas eu a ignorei completamente.
Estávamos sentados na mesa, vendo regras do qual eu não faço a mínima questão de decorá-las, mas sou obrigado.
- Vamos fazer uma pausa? – implorei com os olhos brilhando, parecendo “O gato de botas” do Shrek.
- , você precisa decorar isso...
- Eu sei, mas é que estamos estudando há tanto tempo e ainda tem matemática, vamos fazer uma pausa pelo amor de Deus? – eu estava quase ajoelhando em seus pés e ela ainda me olhava com aquela cara autoritária. Ela ficava tão fofa parecendo uma pessoa séria.
- Tá bom, só porque você vai me ajudar depois. – então ela se levantou e foi para a cozinha.
- Ei, ei – chamei-a – onde você pensa que vai? Minha casa, minhas regras. Nada de invadir a minha cozinha, sua comilona. – me ignorou e entrou no cômodo. Eu levantei da cadeira e fui atrás dela, numa velocidade um tanto quanto rápida para a minha situação. Quando a alcancei e a puxei pela cintura, senti uma pontada forte no meu pé e então, cai no chão, gritando de dor. Como eu ainda estava segurando a , ela também caiu, ao meu lado.
- Que foi? – ela olhou para mim, desesperada.
- Meu pé – disse segurando minha perna – está doendo muito.
- Calma – ela balançava os braços sem saber o que fazer – onde está doendo?
- Perto do tornozelo – eu apontava para o local. agachou-se e pediu para eu apoiar nela. Passei meu braço pelo ombro dela e ela o segurava. Fui andando pulando num pé só até o sofá da sala de estar. Quando sentamos, ela perguntou se podia tirar a minha bota e eu disse que sim.
- Vou apertar aqui, você me diz se dói muito, tá bom? – assenti e ela apertou, delicadamente, o meu tornozelo. Doeu um pouco e eu fiz uma careta. Então, começou a passar a mão levemente, fazendo movimentos circulares. – tá melhorando?
- Um pouco – sorri fraco e ela fez o mesmo. Ela estava com o cabelo de um lado jogado e do outro, estava preso atrás da orelha. Seus olhos estavam atentos ao meu pé, coberto pela meia cinza que eu usava. Suas mãos estavam se movimentando tão delicadamente, com tanto medo de me machucar, que eu achei até graça. Ela percebeu que eu a encarava e subiu o olhar para mim. Eu fiquei um pouco envergonhado com o flagra, mas logo ela quebrou todo esse momento constrangedor:
- Você está com chulé.
- Não to não! – ri fraco – eu sou limpinho.
- Ah, não é não! – ela riu e parou de fazer o carinho no meu tornozelo – Precisa tomar banho.
- Ah, mas você está aqui, isso seria falta de educação... A não ser que você... – ela arqueou uma sobrancelha – eu preciso de ajuda pra tomar banho.
- Nem vem, você tem o seu irmão. – ela riu e pude ter certeza que ela ficou corada. Sei lá, pode ser coisa da minha cabeça, mas eu tinha certeza. – Na verdade, você consegue por o pé no chão, você correu até mim.
- Mas eu me machuquei depois... – agora eu que arqueei a sobrancelha. Eu estava bancando o pervertido na frente de , mas eu sempre fui assim. Aliás, era só uma brincadeira, não era? Eu acho que era. Foco, . Você tem uma namorada.
- , eu não vou te dar banho. – ela parou de rir e pareceu preocupada com o fato de eu ainda não conseguir tomar banho sozinho.
- Que pena – me levantei com pouca dificuldade e tentei colocar o pé no chão. Não doeu, nem um pouco. Realmente, foi uma pena.
- Viu? – ela apontou para o meu pé – minha massagem no seu tornozelo funcionou! Agora você pode tomar banho sozinho.
- Que coisa – fingi estar frustrado e ela deu aquela risada que eu tanto adoro – mas eu ainda preciso de ajuda para subir as escadas. – ela levantou e, do mesmo jeito que ela me levou da cozinha até a sala, ela me levou para o banheiro do meu quarto. – Pode me esperar aqui, já que eu também preciso de ajuda pra descer.
- Folgado pra caralho você né?
- Na verdade, sou necessitado.
- Vai tomar banho logo – ela se sentou na minha cama e ficou mexendo em seu celular. Tomei um banho de mais ou menos dez minutos e lá fiquei pensando em tantas coisas que me esqueci que ela estava no quarto me esperando. Saí do banheiro só de toalha, juro que foi sem querer.
- Opa – ela olhou para mim rindo e tampando os olhos com as mãos.
- É que eu me esqueci de pegar a minha roupa – expliquei envergonhado. E não era mentira, eu realmente tinha esquecido. – Eu já vou voltar pro banheiro, relaxa. – fui mancando até o meu armário e peguei uma boxer preta, uma bermuda jeans e uma camiseta azul. – Prontinho – avisei antes de fechar a porta do banheiro. Me vesti e sai de lá passando a toalha no meu cabelo. Aquele momento nem foi tão constrangedor assim. Como nos conhecemos desde pequenos, isso era até meio que normal. Mas sei lá, foi meio estranho.
O olhar dela parou em mim quando eu saí do banheiro e ela ficou um bom tempo me olhando.
- O que foi? – perguntei.
- Nada não. – ela balançou a cabeça e pegou a minha bota – quer ajuda pra por?
- Não, não precisa – joguei a toalha na minha cama e coloquei a bota – Vamos descer? Não sei se você sabe, mas ainda falta matemática.
- Ai que inferno! – bufou irritada e olhou para cima – Por que essa matéria existe?
- Não fala assim – me apoiei nela, quando já estávamos prestes a descer a escada – matemática é bem mais legal que gramática.
- Nunca mais fale esse absurdo.
Sentamos-nos à mesa, que estava abarrotada de livros e cadernos e começamos a estudar a matéria que para mim, era a melhor de todas. prestava muita atenção e se lamentava cada vez que errava um exercício. Ela estava ali, na minha frente, confiando nas minhas explicações. Apesar de estar cansada e estar de uniforme ainda, para mim ela estava muito bonita. Era tão bom ser amigo dela. Eu poderia explicar matemática para todos os dias.

Capítulo 12


’s POV Ficamos até o anoitecer estudando Matemática. Uma vez ou outra o aparecia e descontraia um pouco, ou nos ajudava. Ele estava no quarto dele estudando sozinho outra matéria. Ou achávamos isso, porque ele estava mandando mensagem pra... ? Dois nerds matando estudo? Ih... Aí tem! Ok, depois eu investigo esse caso, por enquanto o que importa é que ele me ajudou a resolver um problema que nem o conseguiu entender. Matemática é a matéria do capeta. Eu juro ódio eterno por ela. É sempre assim: você acha que está indo bem, que está entendendo e quando acha que vai acertar percebe que a resolução do exercício/problema é totalmente diferente do que você estava fazendo. Odeio. Repetindo só pra deixar bem claro: Odeio.
- Obrigada por ter tido paciência comigo – agradeci ao assim que terminamos de estudar.
- Tudo bem! – ele disse enquanto fechava o livro e guardava em sua mochila – eu gosto, então...
- Como você consegue?
- Adoro um desafio... – ele respondeu com um sorriso no canto do rosto.
- Ok, você é estranho. – falei com as duas sobrancelhas arqueadas e começamos a rir. – cadê a sua mãe?
- Ah, hoje ela vai sair com um cara aí... – ele fechou a cara.
- E você tá com ciúmes? – perguntei.
- Mais ou menos... Eu estou feliz que ela esteja dando um rumo na vida dela, conhecendo novas pessoas, mas sei lá... Tenho medo dela se machucar. – ele ficou um tempo calado e depois perguntou – E o seus pais?
- O que têm eles?
- Eles vão se divorciar ou não?
- Não sei... – me direcionei até o sofá e me sentei – eles não mais estão brigando tanto, mas as coisas não são mais como antes, entende? - Entendo.
- Aliás, eu me lembro do que você me disse... Naquele dia que eu te acordei... – ele juntou as sobrancelhas tentando lembrar de que dia eu estava falando.
- Ah! – ele levantou as mãos – lembrei! E você está pensando como eu?
- Estou tentando!
- – ele se sentou ao meu lado – qualquer coisa que você precisar, qualquer coisa mesmo, dúvidas, conselhos, ajuda, um abraço, qualquer coisa, você pode contar comigo, tá? – assenti com um sorriso – Você sabe que eu estarei sempre disposto.
- Obrigada – o abracei fortemente – você é demais!
- Eu sei disso.
- Convencido... – me afastei dele e levantei – já aumentei demais o seu ego hoje né? Já está bom o bastante.
- Só mais uma vez. – ele pediu rindo.
- Não. – fui em direção à cozinha já olhando para trás para ver se ele me seguia de novo, o que aconteceu. – estou com fome!
- Vamos pedir uma pizza? – ele sugeriu e eu concordei – ! – ele gritou e eu tampei os meus ouvidos com as mãos.
- Ai, fiquei surda agora – falei brincando e recebi um dedo do meio como resposta. – olha os modos, garoto.
- Ai, certinha – ele me puxou pela cintura, por trás, e me pegou no colo e começou a me girar.
- Para com isso, ! – disse entre risadas e gritos – Você vai se machucar de novo!
- Será que as duas crianças podem parar? – estava parado no começo da escada. me botou no chão e eu fiquei vermelha. Não sei se foi de vergonha ou por causa da minha falta de ar. Com certeza, foi a segunda opção, já que a primeira é totalmente sem nexo e motivo. – Me chamou por quê?
- Vou pedir pizza – ele explicou enquanto pegava o telefone – Pode ser?
- Claro!
- Beleza – respondemos em uníssono.
Depois de meia hora, a pizza chegou e nós comemos assistindo TV e conversando. O resto da noite foi totalmente divertida.

Três semanas depois – Dia da apresentação


- Testem os holofotes! – um cara alto, bem magro, careca que vestia uma calça jeans e uma camiseta branca gritava para os funcionários que estavam arrumando a iluminação do palco. Chegou o dia. Estávamos ensaiando desde manhãzinha e tivemos uma pausa somente para almoçar, que era o que eu estava fazendo. Na verdade, eu apenas comi um misto que eu peguei na cantina da escola, não estava com muita fome.
- E ai, galera. – Alison chegou perto de mim e dos meus amigos – Estão muito nervosos?
- Um pouco – confessou .
- Eu to morrendo de nervoso – Melissa, que estava com a gente, comentou passando a mão na testa.
- Fica calma – a professora falou – vai tudo sair perfeitamente bem! – ela saiu, mas logo voltou – não esqueçam que vocês precisam ir para os devidos camarins duas horas antes de o show começar... Ah, para as meninas, se vocês preferirem, duas horas e meia.
- Porra – gritou indignado – duas horas e meia?
- Querido – me virei para ele – cabelo, maquiagem, roupa, preparo vocal, você está achando o que? Até vocês meninos vão ter que passar um pouco de maquiagem.
- Eu hein, não vou passar maquiagem nenhuma.
- Relaxa, bobo. É só uma base e um pó. – Alison explicou – Bom, encontro vocês mais tarde ok?
- Ok – respondemos em uníssono.
abraçou Melissa por trás, que estava quase desmaiando.
- Você está bem? – perguntei para ela.
- Estou – ela respondeu – é que eu tenho muito medo de me apresentar na frente dos outros, sempre tive esse problema.
- Não precisa se preocupar – comecei a explicar – todos que estão aqui só estão aqui por você. Ninguém vai te julgar. Até porque somos todos alunos, não profissionais.
- Exatamente. – concordou – além do mais, na hora de se apresentar, você esquece tudo e de todos e se entrega na música. Acaba saindo melhor do que você imagina.
Concordei com ela e comi o último pedaço do meu misto.
- Pessoal! – Paul subiu no palco e nos chamou pelo microfone – vamos fazer a passagem de som agora. Todos indo para trás do palco, por favor.
Obedecemos. Ele chamou um por um por ordem numérica e todos cantaram suas respectivas músicas. Depois da passagem, fomos liberados para irmos ao nosso camarim e descansar um pouco. Eu o fiz. Deitei no sofá pequeno que havia lá e acabei cochilando.
Fui acordada por .
- Ai meu Deus! – me levantei rapidamente e quase cai no chão devido à tontura que essa ação me deu – Estou muito atrasada? Dormi por muito tempo?
- Não, relaxa! – ela botou as mãos no meu ombro numa tentativa de me acalmar – Não deu nem meia hora que vocês foram liberados, pelo o que me disseram. Só estou aqui para saber como vocês estão.
- Ai que susto! – bati de leve no braço dela – nunca mais faz isso. – ela riu da minha reação e se sentou no sofá.
- Posso saber que apresentação polêmica é essa que você pretende fazer?
- Como assim? – perguntei indignada – Quem te disse sobre a música que eu vou cantar? – ela arqueou uma sobrancelha e eu rapidamente cheguei à conclusão – , acertei? – ela assentiu – Sabia! Foi tudo ideia dela, caso você queira saber.
- Já era de se imaginar que isso não surgiu da sua cabeça.
- Pois é! Não tem nada a ver comigo, mas eu não tive escolha.
- Mas vai ser legal, confia em mim.
- Eu espero – suspirei e duas batidas foram feitas na porta do camarim – pode entrar.
- Oi, garotas – era Alison – Só vim avisar que se você quiser ir se arrumando, já pode. Faltam duas horas e meia.
Respirei fundo e fui até o banheiro lavar o meu rosto.
- Bom, vou indo nessa. – se levantou – te vejo mais tarde. Estarei na primeira fileira e quero ver você arrasando!
- Pode deixar – fizemos o típico hi-five e ela saiu do camarim. Depois de uns cinco minutos, fiz o mesmo e fui atrás de uma maquiadora. Várias foram contratadas e tinham alunas voluntárias também. Chamei Ashley, uma menina com quem eu tinha um pouco de contado e sabia que ela fazia uma maquiagem muito boa.
- Como vai ser a cor da sua roupa? – ela perguntou assim que voltamos ao camarim.
- Roxa – respondi. Ela disse que ia passar então uma sombra roxa, bem de levinho, apenas para dar um brilho.
A maquiagem demorou dez minutos pra ficar pronta, mas valeu a pena. Eu estava linda, modéstia parte. Ela passou base, pó, caprichou no blush, sem parecer que eu tinha levado um tapa na cara ou coisa do tipo, só pra avisar. Rímel e delineador não estavam por fora. Nem o indispensável lápis preto. Passou a tal sombra roxa clara, que ficou muito linda. Por último, um batom clarinho, cor de boca. Ela passou um gloss sem cor por cima para dar um brilho. Precisava arrumar o cabelo agora.
- Depois dê uma retocada no batom, porque até você se apresentar, ele já vai ter saído um pouco. – assenti - Eu vou chamar o Peter para você. – ela sorriu de canto e eu arregalei os olhos, rindo.
Peter era um cara gay muito adorado pelas garotas. Ele era muito bonito e muito estiloso. Ele sempre arrumava o cabelo das meninas nos dias de apresentação. E ele era muito engraçado. Ele não demorou para vir até mim e deu três batidas na porta.
- Pode entrar – cantarolei e ele botou a cabeça pra dentro do camarim.
- Mas gente – ele botou a mão na boca – que cabelo é esse? – ele entrou e fechou a porta – Vamos dar um jeito nisso, imediatamente!
- Pensei que você fosse demorar – falei, me sentando na cadeira na frente do espelho – tem muita garota te querendo. – ele juntou as sobrancelhas e me olhou sério – como cabeleireiro.
- Ah, ta. – ele suspirou aliviado, mesmo sabendo que só estava zoando – Querida, por você eu cancelo qualquer compromisso.
- Ui, que especial.
- Menina, eu não te contei – ele gritou enquanto penteava o meu cabelo. – tem um cara novo lá no meu prédio né... Um tal de Rob.
- Hum... – sorri maliciosamente – e ele é bonito?
- Nossa, um deus grego – ele suspirou – mas isso não é o melhor.
- O que é então?
- Descobri que ele joga no mesmo time que eu, se é que você me entende!
- Ah, mentira! – deixei o meu queixo cair propositalmente.
- Sério! – ele bateu a mão em sua perna e começou a rir – Tive a mesma reação que você.
- Comece uma amizade! – sugeri
- Com certeza! – ele riu e pegou a chapinha – vou passar uma chapinha básica aqui no seu cabelo e depois vou enrolar o seu cabelo em bobes, pra deixar os cachos mais definidos ok?
- Tudo bem.
- E a sua vida amorosa? – ele perguntou enquanto passava a chapinha.
- Ih, tá uma merda. – bufei.
- Por quê?
- Eu comecei a namorar um garoto no começo do ano, mas ele me traiu com a melhor amiga da namorada do meu melhor amigo e é isso aí.
- Ai que confuso. – ele ficou um tempo quieto e depois continuou – ele é muito idiota. Uma garota linda como você... Se eu fosse hétero, nunca te trairia.
- Aw, obrigada Peter... Eu quero que você veja a minha apresentação hein! É muito importante que você veja.
- Mas é claro que vou ver!
- Que bom... É uma apresentação especial pro Henry.
- Esse Henry é o seu ex?
- Sim.
- Ai, não vai ser clichê né? – ele já estava colando os bobes no meu cabelo.
- Claro que não. – eu olhei para o espelho e sorri maliciosamente – nada clichê. – a ideia de cantar Do What U Want agora estava me parecendo uma boa. Nada como uma conversa com Peter.
Depois que ele terminou de colocar os bobes no meu cabelo, ele disse que era pra eu soltar antes de a apresentação começar, assim na hora que eu subisse no palco, os cachos já estariam mais soltos e o meu cabelo não ia ficar parecendo ao daquelas mulheres do século XIX. Ri do comentário dele e fui pegar a minha roupa.
Era um vestido paetê roxo que ia até uns dez centímetros acima do joelho. Ele tinha mangas que iam até um pouco abaixo do cotovelo e um decote um tanto quanto generoso. Era sexy e ao mesmo tempo não vulgar. Não era um corpete vermelho, como e queriam, mas já era uma coisa. Eu mandei fazer e foi um pouco caro, mas é que eu não achei nada parecido em nenhuma loja. E era exatamente o que eu queria. Vesti e olhei o relógio: faltava uma hora.
Peguei o meu chinelo e o coloquei. Não queria usar meu salto preto agora, só iria colocá-lo na hora de me apresentar mesmo. Não gosto de usar salto. Só em ocasiões especiais. Sai do camarim e fui até o de . Bati na porta e ela me mandou entrar.
- Oi amiga. – a cumprimentei e ela olhou para mim.
- Meu Deus, que linda essa roupa! – ela abriu a boca e me mediu – Adorei!
- Sério mesmo? Pensei que você fosse brigar comigo por não ser um corpete.
- Eu tava te zoando né, idiota. – ela riu sem tirar os olhos da minha roupa – dá uma voltinha. – a obedeci e ainda parei fazendo pose. – muito gata. O Henry vai adorar.
- E a sua roupa? – mudei de assunto – como vai ser?
- É um short jeans de cintura alta e uma blusa preta com a manga do mesmo comprimento que a sua e que deixa a barriga aparecendo um pouco.
- Quero te ver vestida logo – ela estava só de roupão. O cabelo e a maquiagem já estavam prontos.
- Já vou me vestir... Eu estou com preguiça mesmo.
- Anda logo! – a apressei – daqui a pouco vamos ter o aquecimento.
- E esse seu cabelinho ai? – ela apontou pra ele – tá parecendo a Dona Florinda.
- Eu vou soltar depois né, dard. – a empurrei até o sofá, onde a roupa dela estava separada – se veste logo.
- Tá bom, mãe. – ela zoou enquanto tirava o roupão.
- Fiu fiu – assoviei e ela colocou o dedo na boca.
- Sou muito sexy, eu sei. - ela terminou de se vestir e fez o mesmo que eu: colocou um chinelo. – Vamos chamar a e irmos para o aquecimento.
Fomos até o camarim dela e seguimos para o aquecimento. Melissa e já estavam lá. Alison começou com os exercícios respiratórios e prosseguiu com os vocais. Durou mais ou menos meia hora. O diretor musical apareceu onde estávamos reunidos e avisou:
- Dez minutos para o show começar. Os primeiros a se apresentar, já vão para perto da entrada do palco, por favor.
Assim, e foram, já que eles eram o segundo e a quarta a se apresentarem, respectivamente. estava no meio termo e eu era a penúltima. A ordem das apresentações estava aleatória, não me perguntem como eu não me perdi.
- Cinco minutos! – o diretor gritou novamente.
- Ai, acho que vou vomitar. – Melissa declarou, rindo.
- Espero que isso aconteça – sussurrou e eu a ignorei.
- Melissa – chamei-a – Relaxa.
- Eu não consigo! – ela andava de um lado pro outro – você não está nervosa?
- Eu estou, todos estão, mas lembre-se do que eu te disse hoje mais cedo: você não é profissional e ninguém vai te julgar.
- Mas você pode dizer isso, você é bem melhor do que eu.
- Não, ninguém é melhor do que ninguém aqui, agora fique calma.
- É, relaxa. – chegou por trás dela e fez massagem em seus ombros – eu também to nervoso pra caralho.
- Viu? Todos ficam nervosos, com medo de errar, mas no final, tudo acaba bem.
- Um minuto – e o diretor grita novamente – Todos em suas determinadas posições. O primeiro a se apresentar, ao meu lado agora!
E uma menina ruiva que cantava muito bem e tinha grandes chances para a faculdade se posicionou e entrou no palco assim que deram o sinal.
- Tenho que ir até o meu camarim soltar o meu cabelo, já volto! – eles assentiram. me puxou e pediu:
- Volte rápido para me ver cantando.
- Eu vou – sorri e sai correndo até o meu camarim. Tirei todos os bobes e aproveitei e já peguei o meu salto. Ia deixar ao meu lado para acelerar as coisas. Voltei correndo e cheguei a tempo de darem o sinal para entrar no palco. Fiquei nervosa por ele. Era a sua primeira apresentação, sabia como ele estava nervoso.
Adivinhem? Ele sentou num banquinho e começou a cantar Hey There Delilah . Quase comecei a chorar quando vi que era essa a música que ele iria cantar. Pode parecer clichê, mas essa era a nossa música. Não digo minha e dele, mas sim minha, dele, do , da , da , da , de toda a galera. Era a música que nos descrevia ao longo desses três anos separados.
Hey there Delilah (Olá Delilah)
What's it like in New York City? (Como são as coisas aí em Nova York?)
I'm a thousand miles away (Estou a mil milhas de distância)
But girl tonight you look so pretty (Mas menina, esta noite você está tão bonita)

Yes, you do (Sim, você está)
Times Square can't shine as bright as you (Times Square não consegue brilhar tanto quanto você)
I swear it's true (Eu juro que é verdade)
Hey there Delilah (Olá Delilah)
Don't you worry about the distance (Não se preocupe com a distância)
I'm right there if you get lonely (Estou bem aí, se você se sentir sozinha)
Give this song another listen (Ouça essa canção novamente)
Close your eyes (Feche seus olhos)
Listen to my voice it's my disguise (Escute minha voz, ela é o meu disfarce)
I'm by your side (Eu estou ao seu lado)
Oh it's what you do to me (Oh, é o que você faz comigo)
Oh it's what you do to me (Oh, é o que você faz comigo)
Oh it's what you do to me (oh, é o que você faz comigo)
Oh it's what you do to me (oh, é o que você faz comigo)
What you do to me (o que você faz comigo)

e vieram me abraçar e elas estavam tão emocionadas como eu.
- Eu juro que não entendo a fofura desse garoto – comentou.
Rimos baixo e voltamos a prestar atenção na performance dele. Assim que ele terminou de cantar a música, recebeu milhares de palmas. Eu fiz o mesmo e comecei a gritar “Uhu” junto das meninas. Ele saiu de lá segurando o violão e foi abraçado pela Melissa primeiro. Depois ele veio até nós e abraçou as três ao mesmo tempo.
- Adorei a sua apresentação, seu lindo. – disse com os olhos marejados.
- É por isso que você não queria falar que música que você ia cantar. – concluí. Ele sempre ensaiava separado dos outros alunos. Em casos como este, isso era possível.
- É óbvio – ele sorriu – era uma surpresa para as garotas mais chatas que eu conheço.
Mais um garoto se apresentou e logo chegou a vez de . Ela cantou Blow da Ke$ha e fez a plateia se animar muito com o refrão agitado. Também, não é pra menos. Toda vez que ela cantava “This place is about to blow” ela levantava as mãos e começava a pular e todos faziam o mesmo. Ela pode ser tímida, mas na hora de se apresentar, ela sabe animar o público.
- Bem que ela disse que ela se entrega a música – Melissa chegou perto de mim e falou baixo – queria ser igual a ela.
- Você consegue! – tentei a convencer. Ela seria a próxima, então se posicionou.
voltou toda elétrica e cansada.
- Wow – ela gritou antes de pegar uma garrafa de água e beber metade dela – foi muito divertido.
- Você arrasou, cara. – a abracei.
- Ai, sai – ela se afastou – tá calor. E eu sei que eu arrasei.
Deram o sinal para Melissa entrar no palco e ela cantou Burn, da Ellie Goulding. E ela foi muito bem. A plateia ficou bem animada e ela recebeu muitos aplausos.
- Eu disse que você ia conseguir – cheguei perto dela, quando ela voltou.
- Obrigada! – e então ela me abraçou. Não me senti muito confortável, eu ainda não gostava muito dela, muito menos depois do que ela fez junto da Emma, mas num dia como aquele, eu ignorei esse fato. Mais dois alunos se apresentaram e chegou a vez de . Ela cantou Trouble, da Pink. No começo, estava tudo muito calmo, as luzes baixas, mas na hora do refrão, tudo mudou e a plateia começou a gritar.

I'm trouble (sou encrenca)
Yeah trouble now (sim, encrenca agora)
I'm trouble ya'll (sou encrenca, pessoal)
I disturb my town (eu perturbo a minha cidade)
I'm trouble (sou encrenca)
Yeah trouble now (sim, encrenca agora)
I'm trouble ya'll (sou encrenca, pessoal)
I got trouble in my town (eu tenho problemas na minha cidade)


Eu adorava aquela música e achava que combinava perfeitamente com o jeito doido da . Ela adorava a Pink e a usava como inspiração. Em todas as apresentações, ela cantava uma música dela. Era quase um ritual.
Assim que a música terminou, ela deu um grito e a plateia a aplaudiu ferozmente. Ela agradeceu e voltou para trás do palco.
- E aí, como me saí?
- Muito bem!
- Sensacional!
- Foi foda demais!
Todos comentavam de sua performance e eu já esperava aquilo. Digamos que ela é a garota com mais atitude a se apresentar naquela noite.
Mais quatro alunos se apresentaram e logo chegou a minha vez. Respirei fundo e me posicionei ao lado do diretor, que me deu o microfone. Deram o sinal e eu subi no palco.
É, o lugar estava lotado. Todos aplaudiram quando o meu nome foi chamado. A luz forte do holofote batia em meu rosto, mas aquilo não me incomodava. Eu adorava aquela sensação. A introdução de Do What U Want começou a tocar e eu olhava para a plateia a procura de uma pessoa. Logo eu a encontrei e desviei o olhar. Comecei a cantar:
I, I feel good, I walk alone (Eu, eu me sinto bem, eu ando sozinha)
But then I trip upon myself and I fall (mas depois eu tropeço em mim mesma e caio)
I, I stand up, and then I'm okay (Eu, eu levanto e então estou bem)
But then you print some shit that makes me wanna scream (Mas daí você quebra aquela merda que me faz querer gritar)
So do what u want, what u want with my body (Então faça o que quiser, o que quiser com o meu corpo)
Do what u want, don't stop, let's party (Faça o que quiser, não pare, vamos festejar)
Do what u want, what u want with my body (Faça o que quiser, o que quiser com o meu corpo)
Do what u want, what u want with my body (Faça o que quiser, o que quiser com o meu corpo)
Write what u want, say what u want about me (Escreva o que quiser, diga o que quiser sobre mim)
If you're wonderin' know that I'm not sorry (Se você estiver se perguntando, saiba que não estou arrependida)
Do what u want, what u want with my body (Faça o que quiser, o que quiser com o meu corpo)
What u want with my body (O que quiser com o meu corpo)

Chegou a hora do refrão e eu fiz questão de cantar olhando para Henry. Ele me olhava estático. Aproveitei a situação para começar a dançar da forma mais... Digamos assim, sensual que eu podia para o ritmo da música, mas ao mesmo tempo, seguindo o padrão “sexy sem ser vulgar”.

U can't have my heart and u won't use my mind, but (Você não pode ter meu coração e você não usará minha mente, mas)
Do what u want with my body, do what u want with my body (faça o que quiser com o meu corpo)
U can't stop my voice, cause u don't own my life but (você não pode parar minha voz, porque você não é o dono da minha vida, mas)
Do what u want with my body, do what u want with my body (faça o que quiser com meu corpo, faça o que quiser com meu corpo)


Como eu não iria cantar a parte do R. Kelly, repetiu o refrão e depois foi direto para a ponte:

Sometimes I'm scared, I suppose if you ever let me go (Às vezes tenho medo, eu acho que se você me deixar ir)
I would fall apart, if you break my heart (Eu ficaria em pedaços, se você quebrar meu coração)
So just take my body and don't stop the party (Então apenas pegue meu corpo e não pare a festa)

U can't have my heart and u won't use my mind, but (Você não pode ter meu coração e você não usará minha mente, mas)
Do what u want with my body, do what u want with my body (faça o que quiser com meu corpo, faça o que quiser com meu corpo)
U can't stop my voice cause u don't own my life, but (você não pode parar minha voz, porque você não é o dono da minha vida, mas)
Do what u want with my body, do what u want with my body (Faça o que quiser com o meu corpo, faça o que quiser com meu corpo)

’s POV
O sinal foi dado para entrar no palco. A partir desse momento comecei a prestar atenção em cada passo que ela dava. No começo da música, ela parecia tensa, mas quando chegou o refrão, vi que estava enganado. O que era aquilo? Ela estava inexplicavelmente linda e provocante, mesmo sem querer. A voz dela era forte e trazia confiança. Cada movimento que o corpo dela fazia estava sendo iluminado pelo holofote e seu cabelo balançava pelo ventilador que tinha no palco. Quando menos percebi, eu estava boquiaberto, babando por ela. A letra da música ajudava bastante a piorar a minha situação. Foi quando eu me toquei: a música serviria como vingança da , pois era uma indireta para Henry, não para ele “fazer o que ele quiser com o corpo dela”, mas sim para outra pessoa fazer o que ela quiser. Aliás, Henry não estava muito diferente de mim. Ele a olhava com desejo. Peraí, eu estava desejando a minha melhor amiga? Olhei para Melissa e agradeci a Deus e a Jesus por ela estar prestando atenção em . Voltei os meus olhos para ela e admirei cada centímetro do seu corpo. Foda-se, eu sempre a achei bonita. E era só uma coisa momentânea. Sendo ou não isso estranho, ela estava muito linda.
Quando a música acabou, ela foi muito aplaudida, muito mesmo. E ela abriu um sorriso que quase não coube no rosto. Ela agradeceu e saiu do palco. Foi recebida por mais aplausos e eu fiz questão de ir até ela e dar um super abraço.
- Cara! – disse girando ela – foi sensacional! Você estava muito gata. Quer dizer, você está gata. É claro que seria mais legal se você estivesse com o corpete vermelho que eu mandei você usar, – pausa para imaginar usando corpete vermelho – mas você continua muito linda!
- Aw, muito obrigada! – ela me abraçou de novo e passou a mão no meu cabelo. Deixei um sorriso bobo escapar, mas logo me recompus, pois Melissa estava “de olho em mim”. Não adianta, já disse pra vocês que eu não sei ficar comprometido, mas por enquanto não fiz nada de errado. A não ser dentro da minha mente. Mas será que dá para você parar com isso, ? Que merda. Odeio o fato de não conseguir controlar o que penso, principalmente com cantando Do What U Want. Afastei esses pensamentos da minha cabeça e voltei para a realidade, que, adivinhem: falava sobre a apresentação dela, mas dessa vez, o assunto era Henry.

Capítulo 13


’s POV

Terminei de cantar a música com um frio na barriga, com insegurança, mas, ao mesmo tempo, um alívio. Um sentimento de dever cumprido. Esse sentimento aumentou quando vi pessoas se levantando para me aplaudir. Abri o maior sorriso que consegui e agradeci. Deram o sinal para eu sair do palco e eu o fiz. Quando atrás do palco, todos me aplaudiram. veio até mim e me deu um super abraço, me girando no ar. Ele me elogiou dizendo que eu tinha sido sensacional, mas me lembrou do corpete vermelho. Tentei ao máximo não ficar corada, já que Melissa estava nos olhando com um cara de poucos amigos e eu não queria que ela pensasse besteira. Para disfarçar a minha vergonha, abracei novamente e depois fui para a roda onde as meninas estavam.
- Eu procurei pelo Henry na plateia – começou – e você tinha que ver a cara dele!
- Ele tava babando por você! – completou.
- Ah, não exagerem – eu não tava querendo enganar ninguém, eu também tinha o achado na plateia e vi que ele me olhava de um jeito meio... Diferente, se é que vocês me entendem, porém eu nunca ia confessar que tinha o procurado, então estava dando uma de desentendida.
- Exagerar? – Melissa se intrometeu na conversa, falando de um jeito meio cínico – Henry estava praticamente te comendo pelos olhos e ele não era o único – então ela olhou para , que arregalou os olhos e se defendeu em seguida:
- Eu?! – ele levantou as mãos – o que eu tenho a ver com isso? Eu não fiz nada!
- Ih – segurou a risada – , ...
- , você não está me ajudando – ele disse apontando pra Melissa, que estava com a maior cara de bunda que eu já vi na minha vida.
- Eu só to zoando, calma. Aliás, eu não tenho nada a ver com isso, você que se vire com a sua namorada, que parece que está vendo coisas, porque né... – O comentário dela de certa forma me incomodou, eu não sei bem o porquê, mas me incomodou.
O pensamento saiu da minha cabeça devido ao sinal do fim da apresentação. A última aluna já havia cantado, então chegou a hora de irmos todos ao palco e fazer o agradecimento. Chegamos lá e formamos uma fila horizontal, demos as mãos e nos curvamos. Subimos e recebemos muitas palmas, assovios, gritos e etc. É isso. A apresentação chegou ao fim. O dia que esperamos e nos preparamos por tanto tempo passou num piscar de olhos. Anotem aí mais uma teoria minha: Quando você fica muito ansiosa para algo, algum evento ou viagem, qualquer coisa que você se prepare durante dias, meses, ou até anos, quando chega o dia disso acontecer, passa muito rápido. É triste pensar que o planejamento ou a imaginação é capaz de durar muito mais tempo do que o momento real, ao vivo e em cores. Mas no final, sempre vale a pena.
- Vamos fazer alguma coisa hoje? – perguntei assim que saímos da mini arena do colégio e fomos para rua. Já tínhamos nos trocado. Não colocamos a roupa que ensaiamos, obviamente, mas sim uma roupa mais bonita, para noite.
- Sim, vamos sair para comemorar a sua vitória! – disse erguendo as mãos e segurando um copo imaginário, demonstrando um brinde.
- Minha vitória? Eu não ganhei nada, filha.
- Claro que ganhou! – ela disse indicando com o olhar algo que estava atrás de mim. Era o Henry. – Vou deixar vocês sozinhos. - e assim, ela e saíram e foram até .
Filha da puta. Eu não queria falar com ele, muito menos sozinha, mas a vida sempre dá dessas.
- Oi – percebi que ele estava meio tímido. Ou se fazia de tímido. Sei lá.
- Oi – respondi totalmente seca.
- Sua apresentação foi muito legal...
- Obrigada. – sempre mantendo o tom curto e grosso.
- Sério... – ele colocou as mãos dentro do bolso da calça e sorriu torto – Você estava muito linda – ele subiu o olhar para mim. Ai Deus, que pecado eu cometi para merecer isso? Por que ele tinha que ser totalmente lindo e maravilhoso, mas ao mesmo tempo tão babaca? Com muita dificuldade, mantive a pose de séria – Você está linda.
- Obrigada. – dei um sorrisinho, não consegui ficar totalmente séria. Era o Henry, não tinha como manter a sanidade perto desse homem.
- Então... – ele mexeu no cabelo e depois colocou a mão em sua nuca – estava pensando... Eu e os meus amigos vamos sair... Quer ir com a gente?
Ok, eu perdi toda a seriedade que eu estava mantendo, mas não era por paixão. Como assim ele teve a cara de pau, a gigantesca, enorme e horrorizante cara de pau de me convidar para sair? Comecei a rir muito alto. Rir não, gargalhar.
- Como é? – ele ficou me olhando confuso e isso só me fez rir mais – Não estou acreditando nisso.
- Por quê? É só um convite para jantar comigo.
- É esse o problema! – ele não estava facilitando pro meu lado, mas parei de rir um momento – Você acha mesmo que depois de tudo eu iria sair com você?
- É que...
- “É que” nada, Henry! – o interrompi – Você é ridículo. Você me humilhou na frente de todo mundo. Agora só por causa da minha apresentação você quer sair comigo? Que pena... Pelo visto, a sorte não esteve ao seu favor. – ele estava incrédulo. Senti pena dele, não por ter o tratado desse jeito, mas sim por achar que eu aceitaria que a sair com ele e os amigos dele. Dei as costas e fui até as meninas, que estavam com os olhos arregalados.
- O que foi?
- O que foi pergunto eu! – gritou – Primeiro: a sua apresentação, que está dando o que falar. Segundo: a Melissa com ciúmes do babando por você. Terceiro: o Henry vem falar com você. Quarto: você diz algo para ele que o deixou bem indignado. E você ainda vem aqui e me pergunta “O que foi?”?!
Comecei a rir e expliquei o que tinha acontecido:
- O Henry veio me perguntar se eu queria sair com ele e com os amigos dele, vocês acreditam?
- Eu acredito – respondeu – quer dizer, eu imaginava isso. Era exatamente o que eu queria que ele fizesse: você ia cantar uma música totalmente “oi, deixa eu te seduzir”, ele viria atrás de você e iria ser dispensado. Acertei né?
- Óbvio. Ele é ridículo, que vergonha de já ter sido namorada dele. Ai, credo. O problema é: ele é muito lindo.
- Sim, isso todos sabem – concordou – Até os meninos devem achar ele lindo, maravilhoso. - ela completou brincando.
- Ah, eu não acho. – chegou à conversa – E parabéns meninas, a apresentação de vocês foi demais.
- Obrigada – respondemos em uníssono.
- Vem cá – sorri maliciosamente – por que você não acha que ele é lindo e maravilhoso?
- Porque eu sou homem? – ele respondeu com uma pergunta, fazendo a resposta parecer óbvia. Não para mim.
- Sei... – mordi o lábio tentando segurar a risada – Não é porque a disse que ele é lindo e maravilhoso?
As meninas entenderam a que ponto eu queria chegar, afinal, eu fui bem direta. Já , ficou vermelha.
- Pode até ser, um pouco... Quem sabe. – ele balançou os ombros e pareceu não se importar muito com a minha observação. ficou mais vermelha ainda, se é que isso era possível.
- Oi, meninos! – era a minha mãe – Estamos pensando em sair todos para jantar, o que vocês acham?
- Ah, a gente tava querendo sair só nós hoje... – falei baixinho com medo de deixá-la chateada.
- Por mim, tudo bem! Desde que vocês me falem aonde vocês vão...
- Tem um clube aqui perto – se pronunciou – e algumas pessoas da escola vão para comemorar a apresentação, como sempre. Que tal irmos lá?
Concordamos e então passamos o endereço para minha mãe, apesar de eu saber que isso não ia ser preciso. pediu permissão para pegar o carro da mãe, que iria de carona com a minha,já que o carro que ele dividia com o estava em casa. Chamamos e Melissa disse que iria para o clube depois com a Emma.
pegou a chave do carro e entrou no banco de motorista.
- Ah, por que você vai dirigir? – fez bico e o irmão riu.
- Porque eu sou um bom motorista e você não.
- Ah, vai. Eu não dirijo tão mal assim.
- Dirige sim!
- Calem a boca vocês dois – gritou e eles prestaram atenção nela – Vocês nem sabem aonde fica esse clube, deixa que eu dirijo. document.write(Daniela) tomou o lugar de na frente do volante e sentou no banco do passageiro. Os gêmeos foram para o banco de trás e em seguida, entrou, me deixando do lado de fora.
- Ah, legal. Onde eu sento, agora? – perguntei irritada e virou para mim.
- Senta no colo da .
- Não, eu não quero ninguém no meu colo.
- Ah, mas ai eu vou sentar no colo de um dos gêmeos? Não dá né.
- E por que não? – perguntou – Qual o problema?
- Fica estranho...
- Ai, para de frescura, garota – abriu a porta do lado dele – Pode sentar no meu colo.
Bufei e fechei a porta do lado de . Dei a volta até o lado do e sentei no colo dele. Fechei a porta e em seguida, ligou o carro e começou a dirigir. Fui um pouco pra trás devido à aceleração e por causa disso, envolveu seus braços na minha cintura, me segurando.
- Vê se não cai. – ele disse olhando fixamente para mim. Apenas ri baixo e virei pra frente. – Ai – ele reclamou. Me virei de novo e vi ele tirando o meu cabelo do rosto dele – prende esse cabelo, vai.
- , está no seu colo e você tá reclamando do cabelo dela? – comentou nos olhando pelo retrovisor – quando foi que você virou gay? Porque, pelo o que eu soube você estava a pouco babando por ela.
- , você de boca fechada fica bem mais legal, sabia? – ele respondeu zoando e nós rimos.
- Você vai descer do carro, babaca. – ameaçou e ele ficou quieto.
ligou o rádio e colocou numa estação qualquer. Não demorou muito para chegarmos ao clube. Descemos do carro e entramos. O lugar estava lotando de gente da Northumberland, mas também tinha outras pessoas.
Eu e as meninas guardamos as nossas bolsas num lugar reservado para isso. Tinha que pagar cinco dólares, mas era melhor do que ficar segurando a bolsa no meio da pista. Dirigimos-nos para lá e entramos no ritmo da música eletrônica. Uma garota loira que usava uma roupa tão curta que quase dava pra ver o útero dela chegou no e começou a dançar, quer dizer, se esfregar nele. Ele ficou a encarando por uns segundos, mas depois saiu de perto dela.
- Não gosto de garota assim – falou quando se aproximou de nós.
- Então você não gosta de garota que chega no garoto? – perguntou levantando uma sobrancelha – Isso é machismo.
- Não é isso! Eu acho legal uma garota chegar num garoto, mostra que ela tem atitude, mas ficar se jogando e insistindo irrita.
- Pois é exatamente o que vocês meninos fazem com a gente. – eu comparei – A gente fala que não, mas vocês insistem... Insistem... Insistem... E insistem de novo...
- Tá, mas é diferente. – ele pegou o celular no bolso e avisou – Vou pra porta, a Melissa tá chegando. – assentimos e vimos que o falou alguma coisa no ouvido de e a tirou de perto de nós. Ninguém pareceu se importar com o ocorrido exceto eu. Acho que eles estão se gostando ou sei lá. Fico feliz por eles.
Alguns garotos chegaram na gente. Nenhum bonito ou interessante, para variar. já tinha ficado com um, que era razoável. Ah, a essa altura, o e a ainda não tinham voltado e o estava com a Melissa em algum canto.

's POV

- Ei, vamos para um lugar menos barulhento? – falou no meu ouvido enquanto colocava a mão em minha cintura. Assenti e então ele começou a andar na minha frente.
Nós nos aproximamos muito desde o começo das aulas. Trocávamos mensagens e sempre fazíamos ligações que duravam horas. Eu me sentia tão bem conversando com ele. Ele era tão fofo e engraçado. Quem eu quero enganar? Eu estava gostando dele e esperava que ele sentisse o mesmo. Eu sei que tem esse negócio de que se apaixonar pelo melhor amigo pode ser roubada ou algo maravilhoso. Não vou negar que sentia um medo muito grande desse meu sentimento estragar tudo. A mesma coisa clichê de sempre. Incrível como isso acontece tão naturalmente.
- Aqui está melhor – ele falou quando chegamos num lugar com uns sofás, não era como uma salinha, já que era aberto, no lado de fora do clube. Sentamos-nos em um dos sofás – Eu adorei a sua apresentação hoje... Acho que já disse isso né?
- Sim, mas obrigada. – ele sorriu de canto e olhou nos meus olhos. Aquela merda de par de olhos verdes me encarando com aquele sorriso perfeito. Que ódio. – O que foi? – perguntei quando eu já estava me sentindo incomodada.
- Você está muito linda hoje. – ele se aproximou de mim e depositou sua mão em minha nuca. – Você é linda.
Ok, eu não sabia o que fazer. Meu coração já estava batendo numa velocidade não muito saudável e eu mal podia respirar. foi se aproximando cada vez mais de mim até acabar com o mínimo espaço entre as nossas bocas. No começo, foi meio estranho, eu não sabia direito o que fazer e como fazer, afinal, era o meu primeiro beijo, mas depois eu já estava tão entretida que as coisas foram acontecendo naturalmente. Eu coloquei a minha mão na nuca dele e passei as mãos em seus cabelos. Ele segurava minha cintura e apertava mais os nossos corpos. Eu estava quase no colo dele quando paramos o beijo por causa da falta de fôlego. Continuamos bem próximos e eu estava muito envergonhada e não sabia direito o que fazer, então dei a iniciativa dessa vez:
- Vamos dançar? – levantei do sofá e estendi a mão pra ele.
- Claro – ele entrelaçou sua mão na minha e fomos juntos até a pista novamente.
Apesar da música bem agitada, nós ficamos com os nossos corpos grudados o tempo inteiro e nos beijamos mais e mais vezes. Sabe aquele negócio da amizade? Então, foda-se ela.

’s POV

Depois de muito tempo dançando, percebi que tinha um menino me olhando. Ele era loiro, alto, forte, realmente muito atraente.
- ... – chamei-a – vem cá.
- O que foi?
- Tá vendo aquele garoto de blusa azul, que está encostado no balcão do bar, loiro... – indiquei a direção e ela, discretamente, olhou para ele.
- Sim, e daí?
- Ele é bonito né? – perguntei.
- Óbvio. – ela riu e jogou o cabelo pro lado – Tá querendo né?
- Aham – sorri maliciosamente e ela se afastou um pouco de mim.
- Vai nessa – ela apenas mexeu os lábios e eu continuei encarando o tal garoto sem ser discreta. Assim que ele percebeu as minhas intenções, ele veio até mim.
- Oi, tudo bom? – ele disse no meu ouvido, para poder escutá-lo.
- Tudo e você? – fiz o mesmo.
- Aham. Qual é o seu nome?
- .
- Eu sou o Jared.
Então ele fez mais algumas perguntas básicas, se eu sou mesmo daqui e essas coisas só pra fingir uma conversa. Então ele me puxou pela cintura e finalmente me beijou.

’s POV

Estava à noite toda com Melissa, mas a verdade é que bem lá no fundo, eu estava incomodado. Por algum motivo, eu não queria estar com ela. Tá bom, eu sabia que motivo era esse. O problema não era ela e sim eu. Frase meio clichê, mas era verdade. A prova disso foi quando eu vi um cara chegando na . Pois é. Eu fiquei meio incomodado e passei a ignorar Melissa por um tempo. A situação só piorou quando eu vi os dois se beijando. Digamos que eu fiquei com muita raiva e descontei essa raiva em quem? Sim, na Melissa. Não, eu não fui grosso com ela e nem nada do tipo. Eu precisava me distrair. Beijei-a com todas as forças que eu tinha. Acho que ela foi pega de surpresa, porque demorou um tempo para corresponder o beijo. Eu só estava mais desesperado por distração e ignorei esse fato, mas continuava na minha cabeça. Precisava de mais.
- Quer ir pra minha casa? – perguntei, parando o beijo de repente. Melissa ficou meio tonta, mas logo me respondeu com outra pergunta:
- Não tem ninguém lá, né?
- Não – minha mãe tinha saído com os pais da . Merda, de novo essa maldita garota nos meus pensamentos – Vamos logo.
Enviei uma mensagem pro dizendo que fui embora com a Melissa e que quanto mais ele demorasse para ir pra casa, melhor seria. A chave do carro estava com um dos manobristas do clube. Avisei e paguei o necessário. Não demorou muito e o carro já estava na nossa frente. Abri a porta do passageiro para Melissa entrar e fechei assim que ela se sentou. Liguei o carro e comecei a dirigir. Liguei o GPS e coloquei o meu endereço. Não levou muito tempo e chegamos.
Ao entrarmos na casa, Melissa, que já tinha ido para lá algumas vezes, subiu as escadas e eu fui atrás dela. Entramos no meu quarto e eu acendi apenas o abajur que tinha ao lado da minha cama.
- E então... – ela sussurrou no meu ouvido e eu nem sabia direito o que estava fazendo, mas só sei que a empurrei em direção à parede e a beijei ferozmente. Minhas mãos deslizaram de suas costas até a sua bunda e eu a apertei. Melissa mordeu meu lábio inferior quando fiz isso e começou a arranhar minha nuca. A peguei no colo, fazendo cada perna dela ficar de um lado do meu corpo. Juntei nossos lábios novamente e fui até a minha cama. A deitei, ficando por cima dela e comecei a beijar seu pescoço. Ela levantou minha camiseta e logo a ajudei a me livrar da peça. Fiz o mesmo com a sua blusa. Apertei a cintura dela com uma mão e com a outra passava em suas coxas descobertas devido à saia curta que ela usava. Me livrei dela rapidinho também. As mãos dela pararam de arranhar as minhas costas e foram até o botão da minha calça. Em questão de segundos, nós dois estávamos apenas com roupas íntimas. Desci a minha boca até o colo dela e comecei a beijar ali. Ela puxava o meu cabelo e eu subi para voltar a beijar sua boca. Minha mãos passaram pelas costas dela até se encontrarem com o feixe do seu sutiã. Logo, ele não estava mais ali. Tudo o que eu fazia estava sendo feito no automático, eu não estava sentindo absolutamente nada de diferente em nada do que estava acontecendo. Abri a gaveta do criado mudo que tinha do lado da minha cama e peguei uma camisinha. Olhei no fundo dos olhos dela e percebi que ela sim estava sentindo algo naquilo. Ela me puxou para perto dela e falou:
- Eu te amo. – Merda, agora sim eu estava me sentindo um filho da puta. Para ela, aquela noite seria super especial, enquanto eu só queria que a garota que estava em baixo de mim naquele momento fosse . Mas agora não tinha mais volta. Eu precisava terminar o que eu havia começado. Respirei fundo e falei: - Eu também te amo. – e assim, continuei o que estava fazendo.


Continua...



Nota da autora: (30.08.15) OIIIII!!!! Ahhhh, finalmente o pp resolveu tirar essa história a limpo, não é mesmo? O que será que a Melissa vai dizer e fazer agora que ele pediu o teste pra ela? Será que ela vai falsificar outro exame novamente? Ou será que ela vai se render? E quando os pps vão se acertar, hein? Não falta muito, prometo! Hahahaha Bem, como vocês já sabem, eu AMO quando recebo comentários aqui, então podem falar o que quiserem o quanto quiserem, se preferirem me chamar no Twitter ou no Face, me chamem, contanto que me falem o que vocês estão achando! É realmente MUITO importante pra mim, ok? Aliás, agora existe o grupo no WhatsApp! Se você quiser entrar, me chame no tt ou no face (links aqui abaixo) e me mandem o seu número que eu te coloco lá! Conversamos muito sobre a fic e sobre outros assuntos também! GRUPO DA FIC NO FACEBOOK: clique aqui
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