’S POV
- PARABÉÉÉNS, ! – Entrei em meu apartamento e um monte de gente me recebeu com esse coro de parabéns. Puxa, as notícias correm rápido.
Meu apartamento estava lotado de balões, tinha um cartaz de “Parabéns pela sua peça” e tinha até um bolo.
- Puxa pessoal obrigado mesmo. Mas como vocês ficaram sabendo?
- O linguarudo não consegue guardar segredos. – falou abrindo uma garrafa de champanhe.
Vocês devem estar boiando, né? Eu explico. Eu sou um dramaturgo, ou seja, escrevo peças de teatro. E finalmente uma das minhas peças será estrelada em um teatro muito importante de Londres.
Esta peça é um musical, e eu queria a mulher perfeita para ser a personagem principal. Por isso no dia seguinte fui ao teatro municipal ver se encontrava alguma coisa.
Estava pesquisando atrizes famosas havia mais ou menos 4 horas. Estava cansado, não tinha encontrado nenhuma boa o suficiente. Quando estava quase desistindo, uma caixa em cima de uma prateleira chamou minha atenção. Peguei-a e quando abri vi alguns papéis e várias fitas antigas de rádio. Nos papéis estavam escritos:
-
- 22 anos (nascida em 30 de janeiro de 1898)
- Atriz e cantora de rádio.
Procurei alguma foto mas não encontrei nenhuma. Então peguei as fitas e coloquei no rádio para ouvir. Parecia uma novela que se passava pelo rádio, já que naquela época não havia televisão. Era uma comédia, confesso que dei algumas boas risadas. Até que a tal começou a cantar. Dude, que perfeita. Se ela fosse viva hoje em dia, com certeza seria minha atriz principal. Olhei pros lados e não havia ninguém. Peguei a caixa e coloquei dentro da minha mochila, saí de fininho.
Passei vários dias ouvindo a novela antiga só pra ouvir a voz da . Sei que isso pode soar ridículo, afinal nunca me apaixonei por mulher nenhuma, mas eu estava simplesmente louco com ela. Como eu queria ter nascido naquela época. Procurei na internet se tinha alguma foto dela, mas não achei nada.
Passaram-se uns três meses e todo dia eu ouvia as fitas da . Os guys me encarnavam muito. Diziam que eu estava apaixonado por uma mulher que nem existe mais. Mas o que eu posso fazer? A voz de anjo dela me encantou.
Um belo dia estava ouvindo a rádio enquanto fazia meu jantar, e um professor de uma Universidade estava dando uma entrevista sobre um livro que ele havia publicado, chamava-se: As viagens pelo tempo.
- Então professor, o senhor realmente acha que é possível viajarmos através do tempo?
- Claro que sim, meu caro, depende da sua fé e o quão grande é a sua vontade de fazer essa viagem.
- Como assim professor, poderia nos explicar?
- Bom, há uns sete anos atrás, eu vi um filme falando sobre a descoberta do Brasil, e me interessei muito pela história, resolvi pesquisar mais a respeito. E fiquei tão fissurado na história que eu realmente queria ter vivido naquela época para poder ver com meus próprios olhos esse marco histórico. Até que me deu uma louca e eu tirei tudo que havia de tecnologia do meu quarto e coloquei coisas somente daquela época, me vesti como as pessoas daquela época e fiquei no meu quarto durante muito tempo. Fechei meus olhos e repetia sempre a mim mesmo que eu estava no Brasil no dia 22 de abril de 1500. Eu estava tão certo de que estava lá, que quando abri meus olhos, eu estava em uma praia linda e muitos indígenas do meu lado, eles olhavam espantados para os navios que se aproximavam. E foi quando me dei conta, que eu consegui viajar no tempo.
- E como o senhor voltou?
- Essa é uma boa pergunta, eu não tenho certeza, mas acho que foi porque eu me esqueci de tirar meu celular do bolso, e eu não poderia ter nada das coisas que temos aqui. E quando eu o tirei do meu bolso, eu voltei para o meu quarto. Fiquei apenas alguns segundo lá, mas até hoje eu tenho certeza de que não havia sido um sonho.
- E o senhor nunca quis tentar mais uma vez?
- Não, porque eu sei que se eu voltasse, não iria mais querer voltar.
Eu desliguei o rádio e fiquei atônito com o que ouvi. Será que esse homem ficou louco? Terminei de fazer meu jantar e nem prestei muita atenção enquanto “assistia” a um programa de TV qualquer. Fui dormir com aquela frase na minha cabeça: “depende da sua fé e o quão grande é a sua vontade de fazer essa viagem.”
Quando acordei na manhã seguinte, eu estava decidido a tentar, me matar não iria. E eu precisava ver o rosto da dona da voz mais perfeita do mundo. Comprei várias coisas de 1920, até troquei algum dinheiro pela moeda da época, comprei roupas e fui decidido pra casa. Tirei tudo de moderno que havia e substituí pelas coisas que encontrei. Deitei na minha cama e fiquei horas repetindo que estaria na década de 1920. Fiquei tanto tempo repetindo as mesmas palavras que acabei adormecendo. Quando acordei vi que ainda estava no meu apartamento. Fiquei irado. Passei o dia inteiro no quarto tentando. Fiquei tentando por uma semana, e foi aí que me liguei: faltava um detalhe, para qual dia eu teria que ir? Olhei de novo na caixa a procura de informações e vi uma notícia dizendo que a estrela estaria no hotel Accor no dia 27 de junho de 1920.
Fui para meu quarto e coloquei meu terno, um chapéu e uma bengala. E mais uma vez repeti que estaria no Hotel Accor ano de 1920 no dia 27 de junho. Mais uma vez adormeci.
Quando acordei, um cheiro estranho estava no ar, parecia mais puro. Abri meus olhos e o quarto estava diferente, mobiliado diferente. Levantei-me correndo e abri as cortinas, sim, eu consegui. Consegui viajar no tempo.
Saí e vi que estava em um hotel, era o hotel Accor. Desci para a recepção para me informar sobre minha musa.
- Com licença senhor. já esteve por aqui? – Perguntei para o atendente que estava atrás do balcão.
- Sim, senhor.
-E em que quarto ela está?
- Não posso informar isso, senhor.
- Entendo, valeu pela ajuda, parceiro. – Vi que ele me olhou confuso e me consertei – digo, obrigado, senhor.
Eu teria que me policiar para falar como as pessoas daqui, não queria passar por um cara todo esquisitão. Enquanto andava para os jardins, não sei porque, mas me senti um pouco deslocado. Acho que eram minhas roupas. Parecia que eram um pouco mais velhas do que as dos outros homens. Mas nem liguei.
Todas as pessoas que passavam por mim eu perguntava se tinham visto . Mas ninguém sabia me informar, afinal, ninguém sabia qual a aparência da atriz. Avistei um senhor varrendo a entrada do hotel, devia ser um funcionário.
- Com licença, senhor, o senhor sabe onde posso encontrar ?
- E o que o senhor quer com a senhorita ?
- Eu preciso muito falar com ela.
- Eu não deveria falar nada, mas o senhor parece ser boa gente. Ela deve estar ensaiando pra peça de hoje à noite. Ela vai estrelar pela primeira vez em uma peça de teatro.
- E onde ela está ensaiando?
- O teatro fica perto do lago. Mas por favor, não diga a ninguém que lhe dei essa informação, eu poderia perder meu emprego.
- Não se preocupe, senhor. E muito obrigado.
Saí procurando pelo teatro, não foi muito difícil de achar. O problema seria encontrá-la. Como deveria ser sua aparência? Será que é bonita? Será que é loira? Morena? Ruiva? Baixa? Alta? Gorda? Magra? Pela voz dela, deve ter a aparência de um anjo. Mas isso não importa, só preciso conhecer logo a dona da voz que tem estado presente em meus sonhos esse tempo todo. Pode parecer ridículo, mas eu estou apaixonado por uma mulher que nunca vi, somente sei como é sua voz. Caramba , o que deu em você? Ah, que se dane, preciso encontrá-la logo.
Quando entrei no teatro havia muitas mulheres, de todos os tipos. Qual será a minha amada? Andei pelo teatro todo, mas não reconheci a voz de nenhuma. Até que decidi sentar em uma das cadeiras da plateia e esperar. Estava tão entretido olhando pro nada, que nem me ligue quando uma voz linda começou a encher o ambiente. , só pode ser ela. Fui levantando minha cabeça lentamente e olhei para o palco, só havia uma mulher em pé ali. E minha imaginação não fazia jus à sua beleza. Nenhuma mulher que eu conheço pode ser comparada com ela. É a imagem da perfeição. Ela tem a pele igual a um pêssego, branquinha e rosada, olhos castanhos claros, parecendo o mel mais refinado. É magra e um porte muito elegante, todas as curvas na medida certa. A boca cheia e rosada faziam delicados movimentos ao cantar, e seu cabelo loiro estava preso em um coque, senti vontade de passar minha mão por seus cabelos e sentir a textura, com certeza deviam ser macios igual a textura de sua pele. Fiquei tão absorto olhando para ela que nem me dei conta quando ela parou de cantar. Só percebi quando o salão se encheu de aplausos, me juntei às palmas e ela abriu o sorriso mais lindo do mundo, era do tipo de sorriso que dá vontade de sorrir só de vê-lo, dentes brancos e perfeitos. Precisava falar com ela.
Levantei-me da cadeira e fui em direção ao palco enquanto ela descia do mesmo.
- Oi com licença, , por favor, eu preciso falar com você.
- E quem o senhor pensa que é pra falar com a senhorita com tanta intimidade? – Um homem corpulento e de uns quarenta anos veio falar comigo parecendo um pouco rude.
-Ah claro, me desculpe, não me apresentei. Sou . – Estendi minha mão para o homem que a ignorou.
- E o que quer com a senhorita ?
- Assuntos particulares, e quem é o senhor?
- Sou o empresário da senhorita. E se nos der licença, ela não tem nada o que falar com o senhor. Venha, , você precisa descansar para a apresentação desta noite.
Então ela se afastou com ele e mais pra frente ela me olhou e deu um meio sorriso. Acho que eu a agradei.
Saí do teatro e procurei pelo homem que havia me dado a informação sobre . Ele estava perto do lago alimentando os patos.
- Oi de novo, senhor.
- Oi, senhor, conseguiu encontrar a senhorita?
-Sim, consegui, valeu mesmo pela ajuda.
- O senhor é um homem estranho.
- Sério? Por quê?
- O senhor se veste como os homens do início do século, fala de uma maneira esquisita, anda de uma forma diferente. É gozado.
- Sei, é que eu sou um pouco avançado mentalmente. – Falei-lhe rindo.
Ele me olhou com uma sobrancelha arqueada como quem não acredita no que eu falei. Mas não dei atenção.
- Eu não me apresentei, senhor. Me chamo . – Disse-lhe estendendo minha mão.
- Arthur Collier. – Ele disse apertando minha mão.
- Então Arthur, sabe me dizer qual o quarto da ?
- O senhor trata todas as pessoas pelo primeiro nome?
-Sim, é como gosto que me tratem, pode me chamar só de . Tem algum problema nisso?
- É incomum, nem todas as pessoas gostam disso. E acredito que a senhorita não está acostumada com esse tipo de tratamento.
- O senhor se incomoda?
- Pra falar a verdade, não.
- Tudo bem então. Mas você ainda não me disse qual o quarto da .
Ele voltou a olhar pra frente e alimentar os patos.
- Vamos, Arthur, estou envelhecendo aqui.
-Como assim?
- Nada, deixa pra lá. Mas me conta, Arthur, por favor. Ninguém irá saber.
-Tudo bem, eu conto. Ela está no quarto 114, mas tome cuidado, o empresário dela está no quarto ao lado, e é muito protetor com ela. Dizem as más línguas que ele a treina desde os 15 anos para ser uma atriz famosa e ganhar muito dinheiro, e assim que estivesse no auge da carreira, ele iria casar com ela.
- Mas ela não o ama, ele é muito velho.
- Essa história de amor não importa, senhor. Ele é um homem poderoso, e tem muito a oferecer a ela. Com certeza irá aceitar a proposta de casamento dele.
- Bom, muito obrigado de novo pela informação, Arthur, agora eu preciso ir. Tenho que vê-la.
Fui quase que correndo para o hotel. Quando cheguei no corredor de seu apartamento, andei bem devagar pro brutamontes do empresário dela não ouvir. Abri a porta do quarto 114, graças a Deus estava aberta. Entrei e encontrei sentada em uma penteadeira, escovando seus longos e ondulados cabelos. Mais uma vez senti vontade de passar minha mão por eles. Ela finalmente sentiu minha presença e olhou pra trás assustada.
- O que o senhor está fazendo no meu quarto? – Mesmo eu sabendo que ela estava me dando uma bronca não pude me impedir de me deliciar com sua doce voz.
- Eu precisava falar com você.
- O senhor não me conhece pra me tratar por você. E sua mãe não o educou dizendo que é errado entrar no quarto de uma dama?
- Perdoe-me pelo atrevimento, mas achei que se seu empresário me visse aqui não deixaria eu falar com voc...digo, com a senhorita.
- E o que o senhor tem de tão importante para falar comigo?
- É que eu escutei umas fitas das novelas que a senhorita faz nas rádios, e senti que eu precisava conhecê-la. Aliás, a senhorita tem uma belíssima voz.
- Obrigada. – Ela disse sorrindo e corando ao mesmo tempo, senti que consegui tirar sua armadura.
- A senhorita poderia dar um passeio comigo? Para nos conhecermos melhor.
- Me desculpe, senhor , mas eu preciso descansar. Esta noite será minha estréia nos palcos.
- Por isso mesmo deve sair e se distrair. Se ficar neste quarto vai ficar pensando o tempo todo no espetáculo e não conseguirá relaxar. Acredite em mim, eu sou dramaturgo e lido muito com esse estresse antes de cada apresentação.
- Acho que pode ser uma boa ideia passear um pouco, mas tenho que estar de volta as cinco horas. E adoraria ouvir suas histórias de teatro. – Ela disse sorrindo lindamente.
- Beleeeza! – Falei sorrindo de orelha a orelha.
- Como disse? – Ela perguntou confusa.
- Nada não, deixa pra lá. Vamos antes que o seu empresário nos veja.
E assim seguimos para os jardins para darmos nosso passeio. Fazia uma bela manhã e não queríamos ficar nos salões do hotel.
- Então senhor me conte mais sobre sua pessoa.
- Ora, por que está sendo tão formal comigo? Me chame de .
- Tudo bem, . – Ela disse sorrindo e olhando para baixo envergonhada. – Conte-me mais sobre sua vida. – Ela disse levantando o rosto.
- Bom, deixe-me ver. Meu nome é . Tenho 27 anos, nasci em Londres. Amo crianças e animais. E meu maior sonho é ver uma de minhas peças fazendo sucesso. Basicamente é isso, minha vida não é muito emocionante. Agora é sua vez.
- Bom, eu me chamo . Tenho 22 anos, nasci na Itália e vim para Londres aos 14 anos. Meus pais mal tinham o que comer, então me entregaram ao James, meu empresário. Ele iria me transformar em uma estrela. Mas sinto-o diferente faz algum tempo. Dizem que ele quer se casar comigo.
- E você quer se casar com ele?
- Não, eu tenho meu sonho de casar com um homem que eu ame e ter muitos filhos.
-E assim será, basta você lutar por esse sonho. Não pode deixar-se se submeter a qualquer pessoa.
- Mas, , eu sou uma mulher, mulheres não tem muitos direitos. Você sabe.
- ... Posso chamá-la assim não é? – Ela assentiu sorrindo. – Você tem tanto direito quanto os homens. Eles se esquecem que nasceram de uma. Mas se você me deixar ficar ao seu lado, eu a defenderei de tudo e de todos.
Ficamos um tempão nos encarando, ela estava com os olhos marejados, fazendo-os ficarem ainda mais claros. Estávamos tão perto que eu podia contar as pequenas sardinhas que ela tinha no nariz, imperceptíveis se olhá-las de longe. Nossos narizes se encostaram e ela se afastou assustada.
- Éeer...estou com fome, você não? Já está na hora do almoço.
- Claro, vou levá-la para almoçar no hotel.
Fomos caminhando silenciosamente para o hotel. Durante esse período da manhã que passamos juntos, eu pude perceber o quão doce, gentil, extrovertida e ao mesmo tempo um pouco tímida ela é. Mesmo eu tendo que me policiar para não falar sobre coisas do meu tempo, eu podia ser eu mesmo com ela. Conversamos sobre meu trabalho, eu lhe falei sobre minhas peças e ela simplesmente adorou, disse que fariam sucesso.
Quando terminamos de almoçar, fomos andar de barco no lago. Ficamos conversando sobre qualquer coisa e rindo bastante. Ela tem o riso mais lindo do mundo. Pode parecer bobeira, um cara estar apaixonado por uma mulher que acaba de conhecer, mas eu sinto como se a conhecesse a minha vida toda. É tão fácil conversar com ela. Isso tudo pode parecer meio clichê, mas parece que finalmente eu encontrei meu lugar no mundo. Mesmo eu tendo meus amigos, eu sempre me senti um tanto deslocado. Como se eu não pertencesse àquela realidade, como se eu fosse muito antiquado para o meu tempo. Eu havia namorado várias meninas, era um pegador, mas chegava de noite e eu me deitava na cama eu me sentia vazio. A única mulher que eu me interessei de verdade me humilhou na frente de toda a escola. E eu me fechei, me relacionava com as mulheres, mas tinha medo de sentir algo mais. E com ela eu não precisaria ter esse medo, ela é diferente.
- Em que você pensa tanto, ? – me perguntou sorrindo.
- , eu sei que é loucura, mas eu amo você.
Ela desfez o sorriso e abaixou a cabeça.
- Isso não pode acontecer, .
- Eu sei que você me conheceu hoje, mas eu escuto suas fitas à meses, e depois de ter passado esse dia com você, eu não tenho mais duvidas.
- , se o James ficar sabendo, ele mata você. Ele já fez isso com um rapaz que se interessou por mim. E eu não posso fugir dele, ele me encontraria e me mataria.
- Então fuja comigo. Eu posso defendê-la, protegê-la, amá-la. – Eu disse segurando seu rosto. Minha voz foi morrendo e nós fomos nos aproximando. Quando nossos narizes se tocaram ela disse:
- Não, , por favor. Eu não quero que nada de ruim aconteça com você.
-Shii shii. Nada vai acontecer, . Fique tranquila.
Fechei meus olhos e toquei nossos lábios. Ela estremeceu e fez um biquinho para encostar mais nossos lábios. Sorri com sua atitude, esse devia ser o primeiro beijo dela. Peguei-a pelo rosto e aprofundei o beijo e abri minha boca. Como pensei, ela me imitou. Coloquei minha língua bem lentamente em sua boca, ela timidamente colocou a dela também, fazendo-as se encostarem. Comecei um beijo calmo, e aos poucos ela foi relaxando. Nunca havia sentindo nada igual enquanto beijava uma mulher. Mesmo ela não tendo experiência alguma com beijos, esse sem dúvida foi o melhor da minha vida. Fui terminando lentamente de beijá-la e lhe dei vários selinhos antes de me afastar. Ela ainda estava de olhos fechados e um sorriso no rosto quando olhei para ela. Ela foi abrindo os olhos lentamente e abriu um sorriso ainda maior.
- Isso foi incrível, , eu...eu...nunca havia beijado um homem antes.
- E eu quero beijá-la muitas vezes mais.
sorriu acanhada olhando para baixo, quando ela levantou seu olhar as palavras simplesmente escapuliram da minha boca.
- Casa comigo, ?
Ela ficou atônita. Estava surpresa, eu peguei em sua mão e ela sorriu lindamente para mim. E dessa vez ela tomou a iniciativa e me beijou. Foi um beijo afobado, mas cheio de ternura.
- Espero que isso tenha sido um sim.
-É claro que foi. Mas James não vai permitir.
- Vamos fugir.
- Como?
- Hoje, depois da peça, você vai normalmente para o seu quarto. Quando for meia noite, eu vou esperá-la no saguão do hotel. Não leve muita coisa. Apenas o necessário.
- Tudo bem. Mas agora eu preciso ir, com certeza James está louco atrás de mim. Vou pedir para um dos empregados do hotel entregar-lhe uma entrada para a peça.
Eu levei-a até a entrada do hotel, não queria que James nos visse juntos. E fui atrás de Arthur. Ele estava saindo de uma porta de funcionários.
- Arthur, tem um minuto?
-Olá senhor , é claro.
- Arthur, eu já pedi para me chamar de . Mas enfim, eu preciso da sua ajuda. Você é meu único amigo aqui.
-Oh, senhor, eu fico muito honrado por me considerar seu amigo. O que você precisa?
-Preciso de um lugar para passar a noite. Eu e vamos fugir logo depois do espetáculo.
- Eu poderia ceder a minha casa senhor.
- Mas e você?
- Eu posso me virar.
- Não, você fica no meu quarto no hotel. Muito obrigado Arthur, não sei se um dia irei poder agradecer toda a sua ajuda.
- Não tem problema senhor. Nunca tive um amigo. É um prazer lhe ajudar.
Arthur me levou até sua casa e me deu as chaves. Voltei para meu quarto no hotel para me aprontar pro espetáculo. Quando deu a hora desci para ver a peça.
***
O espetáculo foi incrível. deu outro toque para a peça. Sua voz inebriava a todas as pessoas. Achei melhor não falar com ela enquanto James estivesse por perto. Então fiquei um tempo em frente ao lago pensando. O que será que estaria acontecendo na minha casa? Será que teriam chamado a polícia? Eu ia sentir falta dos dudes, mas não poderia ficar longe da . Estava tão distraído que não reparei nas pessoas se aproximando de mim, quando me virei para ver quem estava chegando, senti uma faixa tapando minha boca. Comecei a me debater para me soltar, mas os homens pegaram minhas mãos e as amarraram nas minhas costas. James parou na minha frente e sorriu maldosamente. Ele me deu um soco no estômago e me contorci de dor, enquanto ele ria.
-Você não vai se sair bem dessa meu caro. Nós vamos embora esta noite. E quando você acordar amanhã, já teremos partido. Nunca mais nos achará.
E esta foi a última coisa que ouvi quando levei uma pancada na cabeça e tudo ficou escuro.
***
Acordei com a claridade no meu rosto. Estava no estábulo do hotel. Sentia fortes dores pelo meu corpo. Me levantei com dificuldade devido as cordas que amarravam minhas pernas e minhas mãos. Peguei uma faca que tinha em cima de uma bancada e consegui me soltar.
Acho que nunca corri tanto na minha vida. Cheguei muito rápido no quarto da . Entrei sem bater, mas estava arrumado e não havia vestígios de suas coisas. Acabou ela se foi.
Me sentei na cama e comecei a chorar. Não ouvi ninguém entrando, apenas senti uma mão em minha cabeça. Olhei para cima e vi Arthur.
- Por que está chorando ?
- Ela se foi Arthur. Não a verei nunca mais.
- Rapaz, deixe de drama. Ela está na minha casa.
- Na sua casa?
- Sim. Ontem ela ficou arrasada quando você não chegou no local combinado. E eu a levei para minha casa, pois seria perigoso para ela voltar com o James.
- E ele? Onde ele está?
- Ele se foi. Eu disse que ela havia pego um trem logo de manhã. E ele partiu.
- Arthur, você é um gênio. Mais uma vez fico lhe devendo uma.
Dei um beijo na sua testa e saí correndo para a casa dele. Com certeza teria que me explicar para ela. Entrei na casa de Arthur e ela estava sentada no sofá.
- Ah meu Deus, você está bem? O James te machucou?
- Não eu estou bem.
- Eu fiquei tão preocupada com você. Estava com medo de ele ter te matado.
- Tudo bem, eu estou aqui agora.
Eu peguei seu rosto com minhas mãos e fiquei admirando sua beleza. Ela ergueu o rosto e ficou me encarando também. Então eu a beijei. O beijo começou calmo, mas logo foi se tornando urgente. Eu soltei o cabelo dela e passei minhas mãos por ele. Era muito macio.
Sem cortar o beijo, fui nos levando até a cama. Deitei-a e tirei suas sandálias. Fiz massagem em cada um de seus pés, sem quebrar o contato visual. Me levantei, e antes de subir na cama tirei meus sapatos e minha meias. E a beijei. Ela agarrava forte meu cabelo enquanto eu passava minhas mãos pelos lados de seu corpo. Lentamente fui abaixando as alças de seu vestido, beijei todo o seu colo e seus braços antes de abaixar por completo o vestido. Acho que nunca fiquei tão maravilhado com o corpo de uma mulher. Seus seios eram redondos e empinados, com os mamilos rosados e intumescidos pela excitação. Beijei rapidamente sua boca antes de descer e beijar-lhe todo o corpo. Quando cheguei em seus seios, eu delicadamente beijei-os e passei minha língua pela aréola de seu mamilo. Comecei a chupar seu seio enquanto desabotoada minha camisa e jogava-a no chão. Passei para o outro seio e fiz o mesmo, enquanto me livrava da minha calça dessa vez. Fiquei apenas de cueca. Voltei para cima de beijei-a.
- Sua roupa debaixo é diferente das ceroulas que os homens usam.
- Ãhn, é a última moda em Paris.
Voltei a beijá-la e senti que ela estava tensa. Fui passando minha mão por seu corpo até chegar em sua intimidade. Ela estava muito úmida. Comecei a estimular seu clitóris com meu dedo bem devagar. Ela arfou. Eu gostei do som que ela fez. Me deixou ainda mais duro. Comecei a beijar seu pescoço e orelha, dei alguns chupões que ficariam marca, mas ela não pareceu se importar. Então a penetrei com um dedo, depois de alguns movimentos penetrei-a com mais um. Ela pareceu ficar um pouco incomodada, então diminui a velocidade até ela se acostumar. Quando ela relaxou, coloquei mais um dedo e de novo diminui o ritmo até ela se acostumar. Quando ela estava bem relaxada tirei meus dedos e percebi que tinham um pouco de sangue misturado com a excitação dela. Eu tirei sua virgindade com meus dedos. Chupei mais um pouco cada um de seus seios e beijei seus lábios. Suas unhas me arranhavam e ela soltava gemidos fracos.
-Eu te amo. – Disse enquanto a penetrava devagar.
Ela ia dizer alguma coisa, mas quando meu membro fez força em sua entrada, ela mordeu os lábios e apertou os olhos. Parei de me movimentar e ela foi relaxando a mordida. Seus lábios estavam vermelhos e um pouco inchados. Pra mim ela estava ainda mais linda com os cabelos levemente despenteados e um pouco de suor cobrindo sua pele. Então penetrei-a fundo dessa vez. Seu peito afundou com a surpresa, ela abriu levemente a boca e apertou os olhos.
-Shii, relaxa meu amor, já vai passar.
Depois de alguns segundos ela foi relaxando e eu comecei a me movimentar lentamente dentro dela. Até que ela começou a gemer fraquinho de prazer. Fiquei maravilhado com o som. E fui cada vez mais rápido. Ela arranhava ainda mais minhas costas e mordia meus ombros. Suas pernas se cruzaram nas minhas costas e começou a gemer mais alto dessa vez.
- Eu te amo, . – Ela disse com a voz abafada.
Fiquei tão feliz com essa pequena frase que estoquei mais forte ainda, se é que era possível. Não aguentei mais e acabei gozando dentro dela. É praticamente impossível uma mulher gozar com a penetração logo na primeira vez. Então saí de dentro dela e abaixei perto de suas pernas. Fui massageando suas coxas e beijando-as. Abri lentamente suas pernas e passei minha língua por toda a extensão de sua intimidade. Ela arqueou as costas e agarrou os lençóis, mordendo sua boca. Comecei a penetrá-la com minha língua, mas não tirava os olhos de seu rosto, acho que ela estava com vergonha de me olhar, mas queria olhar em seus olhos quando a fizesse ter seu primeiro orgasmo.
- Amor, abre os olhos. – Falei e voltei a estimular seu clitóris em movimentos circulares.
Ela abriu os olhos e me olhou, estava corada, suada, despenteada e respirava com dificuldade pela boca. Não poderia imaginá-la mais linda. Penetrei-a de novo com a língua e senti sua intimidade se apertando ainda mais, ela estava perto do orgasmo. Voltei a fazer movimentos circulares em seu clitóris e penetrei-a com dois dedos. E ela chegou ao ápice, seus olhos fecharam e ela desabou em cima do travesseiro. Suguei todo o seu líquido com minha boca e a beijei. Depois deitei-a em meu peito enquanto fazia carinhos com as pontas dos dedos em suas costas. Depois de alguns minutos adormecemos juntos.
***
Coloquem essa música pra tocar pra dar o clima: http://www.youtube.com/watch?v=0G3_kG5FFfQ
Acordei sentindo um carinho em meu peito. Abri meus olhos e sorri ao ver enrolando os pelos do meu peito.
- Bom dia, linda!
- Você quer dizer boa tarde não é?
- É verdade, que horas são?
- São cinco horas da tarde.
- Então é melhor irmos andando. Estou morto de fome.
- Tudo bem.
Nos levantamos e começamos a nos vestir.
- Querido, por que você usa essas roupas tão antigas?
- Você não gosta? Elas são ótimas. Tem até lugar para colocar as moedas.
Falando isso eu abri o paletó e tirei algumas moedas que tinham dentro. Peguei algumas e comecei a olhá-las. Todas eram de 1920. Olhei de novo para e sorri. Quando abaixei de novo minha cabeça para guardar as moedas no bolso, vi uma moeda que não era de 1920, era um centavo de 2013. Na mesma hora que olhei para a moeda eu senti algo estranho acontecendo comigo, como se eu tivesse sendo sugado para outro lugar. Entrei em pânico.
- Querido o que está acontecendo? – perguntou desesperada super nervosa.
Eu comecei a ficar transparente e minha voz saía fraca.
- não se preocupe. Eu vou voltar. Eu te amo. – começou a chorar desesperada.
- , ...
Então tudo ficou muito claro, e depois tudo escuro. Quando abri meus olhos de novo estava deitado no chão do meu quarto na Londres de 2013.
When you're gone
{Quando você vai embora}
The pieces of my heart are missing you
{Os pedaços do meu coração sentem sua falta}
When you're gone
{Quando voce vai embora}
The face I came to know is missing too
{O rosto que eu conheci também me faz falta}
When you're gone
{Quando voce vai embora}
The words I need to hear to always get me through the day
{As palavras que eu preciso ouvir para conseguir passar o dia}
And make it ok
{E fazer tudo ficar bem}
I miss you
{Eu sinto sua falta}
We were made for each other
{Nós fomos feitos um para o outro}
I'll keep forever
{Para ficarmos juntos para sempre}
I know we were
{Eu sei que fomos}
Eu fiquei desesperado, chorava muito. Nunca tinha chorado tanto em minha vida. Passei apenas um dia e meio com ela, mas foram os momentos mais intensos da minha vida. Por um momento me peguei perguntando a mim mesmo se não tinha sido apenas uma coisa da minha cabeça, um sonho talvez. Mas não poderia ter sido, ninguém sofre tanto por um sonho e eu nunca poderia ter imaginado tal perfeição que ela era.
Fiquei vários dias tentando voltar para ela, mas de nada adiantou. Meu coração estava estilhaçado, nada que eu fazia melhorava a dor no meu peito. Não tinha nenhuma foto dela, então seria impossível encontrar o seu olhar acolhedor. Eu já tinha imaginado várias vezes como poderia ter sido a minha vida com ela, como seriam nossos filhos e em como seria bom chegar em casa depois do trabalho e encontrá-la me esperando, fazer amor com ela e dormir em seus braços todos os dias. Mas por culpa do destino ou um infeliz acaso da vida isso me foi negado. Estava perdido.
Shakespeare dizia que chorar é diminuir a profundidade da dor. Mas quanto mais eu chorava mais a dor em meu peito apertava e mais vontade eu tinha de chorar. Até que chegou um momento onde não existiam mais lágrimas. Eu chorava sem lágrimas, eu chorava com minha alma.
Depois de um determinado momento eu não conseguia nem ao menos imaginar coisas felizes, em meus pensamentos nasceram feridas negras causadas pela dor em meu peito. Meu coração chorava lágrimas de sangue, e alma nem sei se tinha mais. O sol batia claro e quente na minha pele como se zombasse do meu sofrimento, eu suava tristeza. Dizem que a dor nos ensina a viver, mas não esse tipo de dor, essa dor corrói nossos pensamentos e nosso corpo aos poucos, até a morte. Mas não quero que essa dor acabe, pois ela é a única coisa que me faz crer que nada do que aconteceu foi imaginação, não. Eu não quero viver sem Ela, ou sem a doce e simples memória dela. Só o seu nome era como facas ferindo ainda mais o meu coração.
Não ia mais ao trabalho, não comia e não dormia. Minha barba estava enorme, eu tinha olheiras profundas em meu rosto, não trocava de roupa desde que havia voltado. A única coisa que fui capaz de fazer foi ficar sentado na minha poltrona em frente a janela do meu quarto olhando pro nada e revivendo os momentos preciosos que passei do lado da mulher mais perfeita que existiu ou vai existir. Lembro-me vagamente de em alguns momentos ter querido levantar para ir ao banheiro, mas não tinha forças o suficiente para tal. Fiquei sentado ali. Depois de três dias, pelo que eu sei, nesse estado, meu apartamento foi arrombado. Umas pessoas que eu não consegui me forçar a ver quem era tentaram falar comigo. Mas eu não encontrava a minha voz para responder e nem queria. Depois de algumas horas, ou minutos, não sei, tinha perdido totalmente a noção do tempo, apareceu um médico, eles queriam me mandar para o hospital. Mas eu não queria sair dali, foi onde eu consegui realizar meu maior desejo que era conhecer a mulher que fez com que eu me apaixonasse somente com sua voz. Quando todos saíram do quarto comecei a me sentir sonolento pela primeira vez, e realmente estava fechando meus olhos. Comecei a sentir uma paz e tranqüilidade profunda me deixando cada vez mais sonolento. Até que fechei definitivamente meus olhos, e mergulhei na escuridão profunda para nunca mais sair dela.
***
Eu não sentia mais dor. Minha dor no peito tinha desaparecido. Nunca me senti melhor. Abri meus olhos e a claridade me cegou. Demorou um pouco para eu me acostumar com ela. Mas aos poucos consegui enxergar as coisas ao meu redor. Não tinha muita coisa para ver, eu estava em um lugar extremamente claro que não me permitia ver nenhum detalhe em particular. Não havia ninguém e nenhum objeto, casa, carro ou até mesmo natureza aos meus arredores. Quando comecei a me indagar sobre onde eu poderia estar, eu vi um ponto bem distante vindo em minha direção. Meu coração acelerou e eu sabia exatamente quem era: . Ela veio me buscar.
- Oi, querido. Finalmente. Você não sabe quanto tempo eu esperei para revê-lo.
FIM!
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